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CICLO DE POTÊNCIA E DE REFRIGERAÇÃO

Os ciclos de geração de potência retiram calor de uma fonte à alta temperatura.


Consideremos como sistema o gás contido num cilindro com êmbolo, como mostrado na
Fig 1. Vamos tirar um dos pequenos pesos do êmbolo
provocando um movimento para cima deste, de uma
distância dx. Podemos considerar este pequeno
deslocamento de um processo quase-estático e calcular o
trabalho, dW, realizado pelo sistema durante este
processo. A força total sobre o êmbolo é P. A, onde P é a
pressão do gás e A é a área do êmbolo.

Portanto o trabalho dW é: δ W = P.A.dx ( 1 ) Figura 1 - Exemplo de trabalho


efetuado pelo movimento de
fronteira de um sistema num
δW = PdV (2) processo quase-estático

1- A relação entre P e V é dada em termos de dados experimentais ou na forma gráfica


(como, por exemplo, o traço em um osciloscópio) Neste caso podemos determinar a
integral da Eq.1, por integração gráfica ou numérica.
2- A relação entre P e V é tal que seja possível ajustar uma relação analítica entre eles,
e podemos então, fazer diretamente a integração.
Um exemplo comum desse segundo tipo de relação é o caso de um processo
chamado politrópico, no qual PV n = constante, através de todo o processo. O expoente
"n" pode tomar qualquer valor entre -∞ e +∞ dependendo do processo particular sob
análise.

cons tan te PV n P V n
PV n = cons tan te = P1V1n = P2V2 n → P= = 1 1 = 2 2
Vn Vn Vn

Para esse tipo de processo, podemos integrar a Eq. 2, resultando em:

⎛ V − n +1 ⎞
dV
(
cons tan te 1−n
)
2 2 2


1
PdV = cons tan te ∫ n = cons tan te⎜⎜
1 V
⎝ − n + 1
⎟⎟
⎠ 1
=
1− n
V2 − V11−n =

P2 V 2n V 21− n − P1 V1n V11− n 2 P2V 2 − P1V1


1− n
→ ∫1 PdV =
1− n
(3)

Apostilas Ideal
Note-se que este resultado, Eq. 2, é válido para qualquer valor do expoente n, exceto
n = 1. No caso onde n = 1, tem-se;

2 2 dV V
PV = Constante = P1V1 = P2V2 , e portanto, ∫1 PdV = P1V1 ∫1 V
= P1V1 ln 2
V1
(4)

O processo politrópico conforme já descrito, expõe uma relação funcional especial


entre P e V durante um processo. Há muitas relações possíveis, algumas das quais serão
examinadas nos problemas apresentados no final deste capítulo.

Exemplo 1. Considere como sistema o gás contido no conjunto


cilindro - êmbolo mostrado na figura abaixo. Observe que vários
pesos pequenos estão colocados sobro o êmbolo. A pressão inicial é
igual a 200 kPa e o volume inicial do gás é 0,040 m3.

a) Coloquemos um bico de Bunsen embaixo do cilindro e deixemos


que o volume do gás aumente para 0,1 m3, enquanto a pressão
permanece constante. Calcular o trabalho realizado pelo sistema durante esse processo.
Como a pressão, neste caso é constante, concluímos pela Eq. 2;

∫1 dV = P (V2 − V1 ) = 200 kPa x (0,1 − 0,04 ) m 3 = 12,0 kJ


2
1W 2 =P → 1W 2

b) Consideremos o mesmo sistema e as mesmas condições iniciais e finais, porém, ao


mesmo tempo que o bico de Bunsen está sob o cilindro e o êmbolo se levanta,
removamos os pesos deste, de tal maneira que durante o processo a temperatura se
mantém constante.
Se admitirmos que o gás se comporta como gás ideal, obtemos:

PV = mRT
e notamos que este processo é politrópico com o expoente n = 1, pois a massa, m, do
sistema é constante, R é a constante do gás e sendo T constante, mRT = constante. Da
nossa análise anterior, concluímos que o trabalho é dado pela Eq. 4, Portanto:

2 V2 0 ,1

1W 2 = 1 P dV = P1V1 ln
V1
= 200 kPa x 0 ,04 m 3 x ln
0 ,04
= 7 ,33 kJ

c) Consideremos o mesmo sistema, porém, durante a troca de calor removamos os


pesos de tal maneira que a expressão PV 1,3 = constante, descreva a relação entre a
pressão e o volume durante o processo. Novamente o volume final é 0,1 m3. Calcular o
trabalho.

Apostilas Ideal
Esse processo é politrópico, no qual n = 1,3. Analisando o processo, concluímos
novamente que o trabalho é dado pela Eq. 3, assim:

1,3 1,3
⎛V ⎞ ⎛ 0 ,04 ⎞
P2 = P1 ⎜⎜ 1 ⎟⎟ = 200 ⎜ ⎟ = 60 ,77 kPa
⎝ V2 ⎠ ⎝ 0 ,1 ⎠

2 P V − P1V1 60 ,77 x 0 ,1 − 200 x 0 ,04


1W 2 = ∫ P dV = 2 2 = = 6 ,41 kJ
1 1− n 1 − 1,3

d) Consideremos o sistema e o estado inicial dado nos três primeiros exemplos, porém
mantenhamos o êmbolo preso por meio de um pino, de modo que o volume permaneça
constante. Além disso, façamos com que o calor seja transferido do sistema para o meio
até que a pressão caia a 100 kPa. Calcular o trabalho.
Como dW= P.dV, para um processo quase-estático, o trabalho é igual a zero
porque, neste caso, não há variação do volume, isto é, dV=0.

O processo em cada um dos quatro exemplos está mostrado na Figura abaixo. O


processo 1-2a é um processo a pressão constante e a área 1-2a-f-e-1 representa
o respectivo trabalho.
Analogamente, a linha 1-2b representa o processo em que PV = constante, a linha
1-2c representa o processo em que PV1,3 = constante e a linha 1-2d representa o
processo a volume constante. O estudante deve comparar as áreas relativas sob cada
curva com os resultados numéricos obtidos acima.

Apostilas Ideal
EXERCICIOS DE APLICAÇÃO

4.1. Problema 1. Um cilindro, provido de um êmbolo sem atrito, contém 5 kg de vapor


de refrigerante R-134a a 1000 kPa e 140 ºC. O sistema é resfriado a pressão constante,
até que o refrigerante apresente um título igual a 25%. Calcular o trabalho realizado
durante esse processo.

Solução:
P = constante e trabalho de fronteiras

∫1 PdV = p (V2 − V1 ) = m p(v 2 − v1 ) , pois v = m


2 V
1W 2 = ⇒ V =mv

( )
1W 2 = 5 x 1000 0 ,00566 − 0 ,031495 = −129 ,175 kJ (realizado sobre o sistema)

4.9. Problema 2. O conjunto cilindro-pistão, mostrado na Figura abaixo, contém,


inicialmente, 0,2 m3 de dióxido de carbono a 300 kPa e 100ºC. Os pesos são, então,
adicionados a uma velocidade tal que o gás é comprimido segundo a relação pV1,2 =
constante. Admitindo que a temperatura final seja igual a 200ºC, determine o trabalho
realizado durante esse processo.

Solução:
Da equação 4.4 p/

PV n = constante (n ≠ 1) temperatura variou


2 P2V2 − P1V1
1W 2 = ∫1 PdV = 1− n

PV
Assumindo um gás ideal: PV = mRT ⇒ mR =
T
mRT2 − mRT1 mR (T2 − T1 )
1W 2 = = , mas,
1− n 1− n
PV 300 x 0 ,2
mR = 1 1 = = 0 ,16 m
T1 373 ,3
0 ,1608 (473,3 − 373,3)
1W 2 = = −80 ,40 kJ
1 − 1,2

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4.11. Problema 3. Um conjunto cilindro-pistão contém, inicialmente, 0,1 m3 de um gás
a 1 MPa e 500ºC. O gás é então expandido num processo onde pV = constante.
Admitindo que a pressão final seja igual a 100 kPa, determine o trabalho envolvido neste
processo.

Solução:
Como PV = constante, então é válido: PVn = cte. (politrópico) à T = cte. ⇒ n = 1

−1 V
1W 2 = ∫ PdV = ∫ C V dV = C ln 2
V1
V P 0 ,1 x 1000
P1V1 = P2V2 ⇒ V2 = 1 1 ⇒ V2 = = 1 m3
P2 100
V2 1
1W 2 = P1V1 ln = 1000 x 0 ,1 ln = 230 ,3 kJ
V1 0 ,1

4.15. Problema 4. O espaço localizado acima do nível d’água num tanque fechado de
armazenamento contém nitrogênio a 25ºC e 100 kPa. O tanque tem um volume total de
4 m3 e contém 500 kg de água a 25ºC. Uma quantidade adicional de 500 kg de água é
então lentamente forçada para dentro do tanque. Admitindo que a temperatura
permaneça constante no processo, calcular a pressão final do nitrogênio e o trabalho
realizado sobre o mesmo durante o processo.

Solução:

V H 2 O 1 = 500 x 0 ,001003 = 0 ,5015 m 3

V N 2 1 = 4 ,0 − 0 ,5015 = 3 ,4985 m 3

V N 2 2 = 3 ,4985 − 0 ,5015 = 2 ,997 m 3

3,4985
Considerando gás ideal T = constante PN 2 = 100 x = 116 ,7 kPa
2 2 ,997
2 V2
1 W2 N2 = ∫ PN 2 dVN2 =P1V1 ln
1 V1
2,997
1 W2 N = 100 x 3,4985 x ln = −54,1 kJ
3,4985

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4.2. Problema 5. O conjunto cilindro-pistão mostrado na figura abaixo, contém ar e
inicialmente está a 150 kPa e 400ºC. O conjunto é então resfriado até 20ºC. Pergunta-
se:
a ) O pistão está encostando nos esbarros no estado final? Qual é a pressão final no ar?

b ) Qual o trabalho realizado no processo?

Solução
P1 = 150 kPa; T1 = 400ºC = 673,3 K
T2 = T0 = 20ºC = 293,3 K

1 V1 V1 2
a ) Se o pistão para em 2; V2 = V1 → → x =2
2 1 1 V1
V1
2
Considerando gás ideal:

P1V1 P2V2 V T2 293 ,3


= ⇒ P2 = P1 x 1 x = 150 x 2 x = 130 ,7 kPa < P1
T1 T2 V2 T1 673 ,3

O pistão esbarra no final, pois, se P2 > P1 ⇒ a pressão externa P1, responsável pelo
movimento do pistão não seria suficiente para movimentá-lo.

b ) O trabalho realizado quando o pistão está se movendo a Pext = constante = P1

T
P1V1 = mRT1 ∴ P1 = mR 1
V1
∫1 Pext dV = P1 (V2 − V1 )
2
1W 2 =
1 1 R T1
V2 = V1 = m
2 2 P1

T1 ⎛ 1 ⎞ ⎛ 1⎞
1 W2 = R⎜ V1 − V1 ⎟ = RT1 x ⎜ − ⎟
V1 ⎝ 2 ⎠ ⎝ 2⎠
1W2 ⎛1 ⎞ ⎛ 1⎞
= RT1 ⎜ − 1⎟ = 0,287 x 673,3 x ⎜ − ⎟ = −96,6 kJ kg -1
m ⎝2 ⎠ ⎝ 2⎠

Apostilas Ideal
4.17. Problema 6. Um conjunto cilindro-pistão contém 3 kg de ar a 20ºC e 300 kPa. O
conjunto é então aquecido em um processo a pressão constante até 600 K.
a. Determine o volume final.
b. Trace um gráfico da linha do processo em um diagrama P-v.
c. Determine o trabalho no processo

Problema 7. Um cilindro com êmbolo móvel, como mostrado na


figura, contém 3 kg d’água no estado de vapor úmido com título
igual a 15% e pressão de 2,0 bar (estado 1). Esse sistema é
aquecido à pressão constante até se obter o título igual a 85%
(estado 2).
Pede-se:
a) Representar o processo em um diagrama P-V.
b) Calcular o trabalho realizado pelo vapor durante o processo.

Resposta a)

Resposta b)

Da definição de Trabalho termodinâmico devido ao movimento de fronteira, e sendo


a massa do sistema constante, temos:

Assim, para calcularmos o 1W2 precisamos determinar o valor do volume específico 1


e 2. Considerando a tabela de propriedades da água saturada para P = 2,0 bar temos:

VL = 0,0010605 m3 kg-1 VV = 0,8857 m3 kg-1

Da definição de título e da relação entre título e uma propriedade qualquer na região


de vapor úmido temos:

V=V L + X (V V - V L)

Apostilas Ideal
V 1 = 0,0010605 + 0,15 ( 0,8857 - 0,0010605 )
V 1 = 0,133756 m3 kg-1
V 2 = 0,0010605 + 0,85 ( 0,8857 - 0,0010605)
V 2 = 0,7530 m3 kg-1

Substituindo na expressão do trabalho, Eq.(1) temos:


1W2 = 2,0.105 x 3 x (0,7530 - 0,133756) [ J ]
1W2 = 3,715.105 [ J ] ou 1W2 = 371,5 [ kJ ]

Problema 8.Um cilindro com êmbolo móvel, como mostrado na


figura, contém 5 kg d’água no estado de vapor úmido com título
igual a 20% e pressão de 5,0 bar (estado 1). Esse sistema é
aquecido à pressão constante até se obter a temperatura de 200ºC
(estado 2). Pede-se:
a) Representar o processo em um diagrama P-V
b) Determinar o trabalho realizado pela substância
de trabalho contra o êmbolo, em kJ

Solução

Resposta a) ⇒

2
b) O trabalho devido ao movimento de fronteira é: 1W 2 =
∫1 PdV como P = constante,

∫1 dv = m P (v 2 − v1 )
2
então 1W 2 = m P

Da tabela de propriedades de saturação, para o estado 1, P1 = 5,0 bar (500 kPa)


obtemos

Vls1 = 0,0010926 m3 kg-1, Vvs1= 0,3749 m3 kg-1


V1 = Vls1 + X1 ( Vvs1-Vls1) = 0,0010926 + 0,2 ( 0,3749 - 0,0010926)
V1 = 0,0759 m3 kg-1

Da tabela de vapor superaquecido para P2 = 5,0 bar e T2 = 200oC, obtemos


V2 = 0,4249 m3 kg-1

Apostilas Ideal
Assim o trabalho entre o estado 1 e 2 resulta

m3
1W2 = 5,0 Kg x 500 kPa x (0,4249 − 0,0759 ) = 872 kJ
kg

A PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA PARA MUDANÇA DE ESTADO DE UM


SISTEMA

A primeira lei da termodinâmica é comumente chamada de "lei da conservação da


energia". Nos cursos elementares de física, o estudo da conservação de energia dá
ênfase às transformações de energia cinética e potencial e suas relações com o trabalho.
Uma forma mais geral de conservação de energia inclui os efeitos de transferência de
calor e a variação de energia interna. Esta forma mais geral é chamada de "Primeira Lei
da Termodinâmica". Outras formas de energia podem também serem incluídas, tais
como: energia eletrostática, energia de campos magnéticos tensão superficial etc.
A idéia básica, aqui, é que a energia pode ser armazenada dentro de um sistema,
transformada de uma para outra forma de energia e transferida entre sistemas. Para o
sistema fechado a energia pode ser transferida através do trabalho e da transferência
de calor. A quantidade total de energia é conservada em todas as transformações e
transferências.

Primeira Lei para Um Sistema Percorrendo Um Ciclo


A primeira lei da termodinâmica estabelece que, durante um processo cíclico
qualquer, percorrido por um sistema, a integral cíclica (somatório sobre todo o ciclo), do
calor é proporcional à integral cíclica do trabalho, matematicamente

∫δ Q = J ∫δ W (1)

Ou

∑ Q = J ∑W
ciclo ciclo

A unidade de calor e trabalho, para o sistema internacional, SI, é o joule ou seus


múltiplos. Outras unidades são freqüentemente usadas, tais como aquelas do sistema
prático inglês e do sistema prático métrico, respectivamente, BTU (British thermal units)
e a kcal (quilocaloria).

1 kcal = 4,1868 kJ 1 BTU = 1,05506 kJ

1 kcal = 3,96744 BTU

1 kw = 860 kcal = 3 412 BTU / h

1 hp = 641,2 kcal / h = 2 545 BTU / h

Apostilas Ideal
Primeira Lei para Mudança de Estado de um Sistema

A Eq. 1 estabelece a primeira lei da termodinâmica para um sistema operando em


um ciclo. Muitas vezes, entretanto, estamos mais interessados a respeito de um processo
que em um ciclo. Assim é interessante obter uma expressão da primeira lei da
termodinâmica para um processo. Isto pode ser feito introduzindo-se uma nova
propriedade, a energia total, a qual é representada pelo símbolo E.

Considere-se um sistema que percorre um ciclo,


mudando do estado 1 ao estado 2 pelo processo A e
voltando do estado 2 ao estado 1 pelo processo B.
Este ciclo está mostrado na Fig. 1.
Da primeira lei da termodinâmica temos;

∫δ Q = ∫δ W
Figura 1
considerando os dois processo que constituem o ciclo separadamente obtemos;

2 1 2 1
∫1 δ Q A + ∫ δ QB = ∫ δ W A + ∫ δ W B
2 1 2
(2)

Agora, consideremos outro ciclo, com o sistema mudando do estado 1 ao estado 2 pelo
mesmo processo A e voltando ao estado 1 pelo processo C como indicado na Fig 1. Para
este ciclo podemos escrever:

∫δQ + ∫ δ QC = ∫ δ W A + ∫ δ W C
2 1 2 1

1 A 2 1 2

Subtraindo a segunda (Eq. 2) destas equações da primeira, temos,

∫δQ − ∫ δ QC = ∫ δ W B − ∫ δ W C
2 2 2 2
B ou reordenando temos,
1 1 1 1

∫ (δ Q − δ W ) = ∫ (δ Q − δ W )C
2 2
B (3)
1 1

Visto que B e C representam caminhos arbitrários entre os estados 1 e 2 concluímos


que a quantidade ( δ Q − δ W ) é a mesma para qualquer processo entre o estado 1 e o
estado 2. Em conseqüência, ( δ Q − δ W ) depende somente dos estados inicial e final não
dependendo do caminho percorrido entre os dois estados. Isto nos faz concluir que a
quantidade, ( δ Q − δ W ), é uma função de ponto, e, portanto, é a diferencial exata de

Apostilas Ideal
uma propriedade do sistema. Essa propriedade é a energia total do sistema e é
representada pelo símbolo E. Assim podemos escrever.

δ Q −δ W = d E
ou
δ Q = d E +δ W (4)

Observe-se que, sendo E uma propriedade, sua diferencial é escrita d E . Quando a


Eq. 4 é integrada, de um estado inicial 1 a um estado final 2, temos

1 Q 2 = E 2 − E1 +1 W 2 (5)

onde, 1Q2 é o calor transferido para o sistema durante o processo do estado 1 para o
estado 2, E1 e E2 são os valores inicial e final da energia total do sistema e 1W2 é o
trabalho efetuado pelo sistema durante o processo.
O significado físico da propriedade E é o de representar toda a energia de um
sistema em um dado estado. Essa energia pode estar presente em uma multiplicidade de
formas, tais como; energia cinética, energia potencial, energia associada à estrutura do
átomo, energia química, etc.
No estudo da termodinâmica é conveniente considerar-se separadamente as energias
cinética e potencial, as demais formas de energia do sistema são agrupadas em uma
única variável, já definida, a energia interna, representada pelo símbolo U. Assim,

E = U + EC + EP (6)

Sendo
1
EC = mV 2 e EP = m g Z (7)
2
onde, m é a massa do sistema, V é a velocidade, g a aceleração gravitacional e Z a
elevação em relação ao referencial adotado para o sistema termodinâmico.
A razão para trabalhar separadamente é que a energia cinética, (EC), e a energia
potencial, (EP), estão associadas a um sistema de coordenadas que escolhemos, e
podem ser determinadas pelos parâmetros macroscópicos de massa, velocidade e
elevação. A energia interna U está associada ao estado termodinâmico do sistema. Como
cada uma das parcelas é uma função de ponto, podemos escrever,

dE = dU + d(EC) + d(EP) (8)


A primeira lei da termodinâmica para uma mudança de estado de um sistema pode,
então, ser escrita como;

Apostilas Ideal
δ Q = dU + d (EC ) + d (EP ) + δ W (9)

Integrando a Equação 9 e admitindo que g é constante, obtemos

1 Q 2 = U 2 − U1 +
(
m V22 − V12 )
+ m g (Z 2 − Z1 ) + 1W 2 ( 10 )
2

EXEMPLO 1. Um automóvel, com massa igual a 1100 kg, se desloca com uma
velocidade tal que sua energia cinética é 400 kJ (veja Figura). Nesta condição, determine
a velocidade do automóvel. Admita que o mesmo automóvel é levantado por um
guindaste. A que altura o automóvel deve ser içado para que sua energia potencial se
torne igual a energia cinética especificada no problema.
Considere que o campo gravitacional é o padrão.

Solução: A energia cinética do automóvel é definida por


1
EC = mV 2 = 400 kJ
2
A velocidade do automóvel pode ser calculada a partir da energia cinética, ou seja,
12
⎛ 2 x 400 x 10 3 ⎞
12
⎛ 2 EC ⎞
V =⎜ ⎟ = ⎜⎜ ⎟⎟ = 27,0 m s -1
⎝ m ⎠ ⎝ 1100 ⎠
A energia potencial é definida por
EP = m g H
Admitindo que o valor da energia potencial é igual aquele fornecido para a energia
cinética no enunciado do problema,

EC 400 x 10 3
H= = = 37, 1 m
m g 1100 x 9, 81

Apostilas Ideal
EXEMPLO 2. Um sistema inicialmente em repouso sofre um processo no qual recebe
uma quantidade de trabalho igual a 200 kJ. Durante o processo o sistema transfere para
o meio ambiente uma quantidade de calor igual a 30 kJ. Ao final do processo o sistema
tem velocidade de 60 m s-1 e uma elevação de 50 m. A massa do sistema é de 25 kg, e a
aceleração gravitacional local é de 9,78 m s-2. Determine a variação de energia interna
do sistema durante o processo, em kJ.

Solução:
Conhecemos: Um sistema de massa conhecida sofre um
processo recebendo uma quantidade de trabalho e
transferindo uma quantidade de calor conhecidos. O
sistema está inicialmente em repouso e no estado final
tem velocidade de 60 m s-1 e elevação de 50 m.

Obter: Determinar a variação de energia interna do


sistema.

Hipótese: 1- O sistema sob análise é um sistema fechado, constituído da massa de 25 kg

2- No estado final o sistema está em equilíbrio (velocidade uniforme) análise: a primeira


lei da termodinâmica (balanço de energia) para o sistema fechado é

1 Q2 = Δ E + 1 W 2 ou 1 Q 2 = ΔU + ΔEC + ΔEP + 1W 2

a variação de energia cinética e potencial é:

1
2
( ) 1
2
(
ΔEC = m V22 − V12 → ΔEC = (25 kg ) 60 2 − 0 2 m s -2 ) → ΔEC = 45 000 J

ΔEP = m g (Z 2 − Z1 ) → ΔEP = (25 kg ) (9,78 m s -2 ) (50 − 0) m → ΔEP = 12 225 J

substituindo os valores numéricos na expressão da Primeira Lei obtemos o valor de ΔU,

ΔU =1 Q2 − ΔEC − ΔEP − 1W 2 → ΔU = (− 30 kJ ) − (45,0 ) − (12,225 kJ ) − (− 200 kJ )


⇒ ΔU = −87,225 + 200 = 112,775 kJ

Apostilas Ideal
EXEMPLO 3. O fluido contido num tanque é movimentado por um agitador. O trabalho
fornecido ao agitador é 5 090 kJ e o calor transferido do tanque é 1 500 kJ. Considerando
o tanque e o fluido como sistema, determine a variação da energia do sistema neste
processo.
A primeira lei da termodinâmica é (Eq. 10)

1 Q 2 = U 2 − U1 +
(
m V22 − V12 )
+ m g (Z 2 − Z1 ) + 1W 2
2
Como não há variação de energia cinética ou de potencial, essa equação fica reduzido a

1 Q2 = U 2 − U1 + 1W 2

U 2 − U1 = −1500 − (− 5090 ) = 3590 kJ

Energia Interna – Uma Propriedade Termodinâmica


A energia interna é uma propriedade extensiva, vista que ela depende da massa do
sistema. As energias cinética e potencial, pelo mesmo motivo, também são propriedades
extensivas.
O símbolo U designa a energia interna de uma dada massa de uma substância.
Segundo a convenção usada para as outras propriedades extensivas, o símbolo u
designa a energia interna por unidade de massa. Pode-se dizer que u é a energia interna
específica, conforme fizemos no caso do volume específico.
U = U liq + U vap ou m u = m liq ul + m vap uv

Dividindo por m e introduzindo o título x, temos

u = (1 − x ) ul + x uv
u = ul + x ulv

EXEMPLO 4. A energia interna específica do vapor d’água saturado a pressão de


0,6 MPa e com título de 95% é calculada do seguinte modo:

u = ul + x ulv = 669 ,9 + 0 ,95 (1897 ,5) = 2472 ,5 kJ/kg


A Tab. A.1.3 apresenta os valores de u para a região onde o vapor está superaquecido, a
A.1.4 os valores referentes a região do líquido comprimido e a A.1.5 os valores
referentes aos estados onde o sólido e o vapor coexistem em equilíbrio.

EXEMPLO 5. Determine, para a água e nos estados indicados, as propriedades que


faltam (p, T, x e v):
a). T = 300ºC, u = 2780 kJ kg-1
b). P = 2000 kPa, u = 2000 kJ kg-1

Apostilas Ideal
Solução: As propriedades fornecidas nos dois estados são independentes e, assim,
determinam completamente o estado termodinâmico. Observe que nós precisamos
identificar a fase da água nos estados fornecidos e isto pode ser utilizado comparando-se
as informações fornecidas com os valores de fronteira.
a. A Tab. A.1.1 indica que uv = 2563,0 kJ kg-1 quando T = 300ºC. A água no estado
indicado no Exemplo se encontra como vapor superaquecido porque o valor de u
especificado é maior do que aquele referente ao vapor saturado a mesma temperatura. A
pressão neste estado deve ser menor do que 8581 kPa que é a pressão de saturação a
300 ºC. A Tabela A.1.3 indica que a energia interna específica da água é igual a 2781 kJ
quando T = 300ºC e p = 1600 kPa. A mesma tabela indica que u = 2776,8 kJ kg-1
quando T = 300ºC e p = 1800 kPa. Interpolando linearmente,
p = 1648 kPa
Observe que o título não é aplicável neste estado e que o volume específico,
calculado com uma interpolação linear na mesma tabela, é igual a 0,1542 m3 kg-1
b. A Tab. A.1.2 indica ul = 906,4 kJ kg-1 e uv = 2600,3 kJ kg-1 quando a pressão é
2000 kPa. O valor fornecido para a energia interna específica no item é maior do que o
de ul e menor do que o de uv. Assim, a água encontra num estado saturado líquido –
vapor onde a temperatura é igual a 212,4ºC. O título pode ser calculado por
u = 2000 ,0 = 906 ,4 + x 1693,8 ou x = 0,6457

e o volume especifico é

v = 0,001177 + 0,6456 x 0,09845 = 0,06474 m 3 kg -1

EXEMPLO 6. Considere 5 kg de vapor de água contida no interior do conjunto cilindro


pistão. O vapor sofre uma expansão do estado 1 onde P = 5,0 bar e T = 240oC para o
estado 2 onde P = 1,5 bar e T = 200oC. Durante o processo 80 kJ de calor é transferida
para o vapor. Uma hélice é colocada no interior do conjunto através de um eixo para
homogeneizar o vapor, a qual transfere 18,5 kJ para o sistema. O conjunto cilindro pistão
está em repouso. Determinar a quantidade de trabalho transferido para o pistão durante
o processo de expansão.

Solução: - Esquema do problema e o esquema gráfico da solução no plano P-V


hipótese:
1- o vapor é o sistema termodinâmico fechado.
2- não há variação de energia cinética e potencial.

Apostilas Ideal
Análise:
O balanço de energia para o sistema fechado resulta

1 Q 2 = ΔU + ΔEC + ΔEP + 1W 2 , como dos dados do problema, ΔEC = ΔEP = 0 , então:

1 Q2 = ΔU + ∑ 1 W2 (1 )

onde, ∑ 1 W2 = Whelice + W pistão , substituindo na expressão (1)

W pistão =1 Q 2 − W helice − m (u2 − u1 ) (2)

Da tabela de propriedades superaquecidas do vapor de água obtemos para o estado


1 e 2.
u1 = 2707,6 kJ e u2 = 2656,2 kJ

substituindo os valores numéricos na expressão (2) temos:

W pistão = (+ 80 kJ ) − (− 18 ,5 kJ ) − 5 ,0 kg (2656 ,2 − 2707 ,6 ) kJ

W pistão = +355,5 kJ

EXEMPLO. Um recipiente, com volume de 5,0 m3, contém 0,05 m3 de água líquida
saturada e 4,95 m3 de água no estado de vapor saturado a pressão de 0,1 MPa. Calor é
transferido à água até que o recipiente contenha apenas vapor saturado. Determinar o
calor transferido nesse processo.

Apostilas Ideal
Sistema: A água contida no recipiente.
Estada inicial: Pressão, volume líquido, volume de vapor. Assim o estado 1 está
determinado.
Estado final: Algum ponto sobre a curva de vapor saturado. A água é aquecida,
portanto p2 > p1.
Processo: Volume e massa constante; portanto, o volume específico é constante. (ver
diagrama).
Modelo para a substância: Tabela de vapor d’água.
Análise: Primeira Lei:

1 Q 2 = U 2 − U1 +
(
m V22 − V12 )
+ m g (Z 2 − Z1 ) + 1W 2 ,
2
Como não há movimento a energia cinética é zero, há uma pequena variação no
centro de massa do sistema, porém admitiremos que não há variação de energia
potencial, como não há variação de volume, não há trabalho. Porém, neste caso a
equação da Primeira Lei se reduz a,

1 Q 2 = U 2 − U1

Solução: O calor transferido no processo pode ser determinado com a expressão


anterior. O estado 1 é conhecido, de modo que U1 pode ser encontrado. O volume
específico do estado 2 é conhecido (considerando o estado 1 e o processo) e sabemos
que o vapor é saturado. Deste modo o estado 2 está determinado (observe a Fig.) e
podemos obter o valor de U2.

Vliq 0 ,05
m1 liq = = = 47 ,94 kg
vl 0 ,001043
Vvap 4 ,95
m1 vap = = = 2 ,92 kg
vv 1,6940
Portanto
U1 = m1 liq u1 liq + m1 vap uvap

U1 = 47 ,94 ( 417 ,36 ) + 2 ,92 ( 2506 ,1 ) = 27 326 kJ


Para determinar a energia interna no estado final, U2, precisamos conhecer duas
propriedades termodinâmicas independentes. A propriedade termodinâmica que
conhecemos diretamente é o título (x2 = 100%) e a que pode ser calculada é o volume
específico final (v2). Assim,

m = m1 liq + m1 vap = 47 ,94 + 2 ,92 = 50 ,86 kg

Apostilas Ideal
V 5 ,0 m3
v2 = = = 0 ,09831
m 50 ,86 kg
Na Tab. A.1.2 determinamos por interpolação que, na pressão de 2,03 MPa, o
volume específico do vapor saturado é 0,09831m3 kg-1. A pressão final do vapor é, então,
2,03 MPa. Assim,
u2 = 2600,5 kJ kg-1 e U2 = mu2 = 50,86 (2600,5) = 132 261 kJ
Já podemos calcular o calor transferido, pois conhecemos as energias internas. Assim

1 Q 2 = U 2 − U1 = 132 261 − 27 326 = 104 935 kJ

A Propriedade Termodinâmica Entalpia


Ao se analisar tipos específicos de processos, frequentemente encontramos certas
combinações de propriedades termodinâmicas que são, portanto, também propriedades
da substância que sofre a mudança de estado. Considere um sistema que passa por um
processo quase-estático a pressão constante. Admitimos também que não haja variações
de energia cinética ou potencial e que o único trabalho realizado durante o processo seja
aquele associado ao movimento de fronteira.

1 Q 2 = U 2 − U 1 +1 W 2
O trabalho pode ser calculado pela expressão
2
1W 2 = ∫1 pdV

Como a pressão é constante,

∫1 dV = p(V2 − V1 )
2
1W 2 = p

Portanto

1 Q 2 = U 2 − U 1 + pV 2 − pV1

= (U 2 + pV2 ) − (U1 + pV1 )


A transferência de calor durante o processo é igual a variação da quantidade
U + pV entre os estados inicial e final. Temos uma nova propriedade extensiva chamada
de entalpia,
H = U + pV
ou por unidade de massa
h = u + pv
Exemplo. Calculemos a energia interna específica do refrigerante R-134a superaquecido
a 0,4 MPa e 70°C.
u = h − pv

u = 460,545 − 400 x 0,066484 = 433,951 kJ kg -1

Apostilas Ideal
Calcule a energia interna do mesmo refrigerante superaquecido a uma pressão de
0,6 MPa e 90°C, para uma massa de 0,85 kg.
A entalpia de uma substância, num estado de saturação e apresentando certo título,
é determinado do mesmo modo que foi utilizado para o volume específico e para a
energia interna. A entalpia do líquido saturado tem o símbolo hl, a do vapor saturado hv,
e o aumento de antalpia durante a vaporização hlv.

h = (1 − x ) hl + x hv h = hl + x hlv
Exemplo. Um cilindro provido de pistão contém 0,5 kg de vapor d’água a 0,4 MPa e
apresenta inicialmente um volume de 0,1 m3. Transfere-se calor ao vapor até que a
temperatura atinja 300°C, enquanto a pressão permanece constante. Determinar o calor
transferido e o trabalho nesse processo.
Sistema: Água interna no cilindro.
Estado inicial: conhecidos: p1, V1 e m → v1 é determinado em tabela.
Estado final: T2 e p2 (região de vapor superaquecido)
Processo a pressão constante
Análise:

Não há variação na energia cinética ou na energia potencial. O trabalho é feito pelo


movimento de fronteira. (processo quase-estático). A pressão e constante, temos,

∫1 PdV = P ∫1 dV = P (V2 − V1 ) = m(P2 v 2 − P1v1 )


2 2
1W 2 =

Deste modo a 1ª lei da termodinâmica, em termo de Q, é

(
1 Q 2 = m u2 − u1 ) + 1W 2
= m (u2 − u1 ) + m (P2 v 2 − P1v1 ) = m (h2 − h1 )
Solução: Existem vários procedimentos que podem ser seguidos. O estado 1 é
conhecido, assim v1 e h1 (ou u1) podem ser determinados. O estado 2 também é
conhecido, assim, v2 e h2 (ou u2) podem ser obtidos. Calcular o calor e o trabalho.
Usando a entalpia, temos:

V 0 ,1
v1 = 1 = = 0 ,2 = 0 ,001084 + x 0 ,4614
m 0 ,5
0 ,1989
x= = 0 ,4311
0 ,4614
h1 = hl + x hlv
= 604 ,74 + 0 ,4311 x 2133,8 = 1524 ,7
h2 = 3066 ,8

1 Q2 = 0 ,5 (3066 ,8 − 1524 ,7 ) = 771,1 kJ

1W 2 = m P (v 2 − v1 ) = 0 ,5 x 400 (0 ,06548 − 0 ,2 ) = 91,0 kJ

Apostilas Ideal
Portanto,

U 2 − U1 =1 Q 2 −1 W 2 = 771,1 − 91,0 = 680 ,1 kJ


O calor transferido poderia também se encontrado a partir de u1 e u2:

u1 = ul + ulv
= 604 ,31 + 0 ,4311 x 1949 ,3 = 1444 ,7
u2 = 2804 ,9
e

1 Q 2 = U 2 − U 1 +1 W 2
= 0 ,5 (2804 ,8 − 1444 ,7 ) + 91,0 = 771,1 kJ

Apostilas Ideal

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