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a O Estagio Supervisionado e o professor de Geografia Alvis) lero) ata sc3 ue tr] alt Reg Bree] Re er] (Orgs.) r Conselho Editorial Profa. Dra. Andrea Domingues Profa. Dra. Ligia Vercelli Prof. Dr, Antonio Carlos Giuliani Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Prof. Dr. Marco Morel profa, Da. Benedita Cassia Sent'anna —_Profa, Da, Milena Fernandes Olive Prof Dr. Carlos Bauer Prof Dr. Narciso Laranjeia Teles ds, Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Manin 7 prof Dr. Cristévlo Domingos de Almeida Prof. Dr Romualdo Dias ~ Prof. Or. Eraldo Leme Batista Profa. Dra. Rosemary Dore Prof. Dr. Fabio Régio Bento Prof. Dr. Sérgio Nunes de Jesus Prof. Dr. Gustavo H. Cepolini Ferreira Profa, Dra, Thelma Lessa Prof. Dr. Humberto Pereira da Silva Prof. Dr. Vantoir Roberto Brancher Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt (©2019 Daniel Mallmann Vallerius: Hugo Gabriel Mata: Leovan Alves dos Santos Direitos desta edigdo adquirds pela Paco Editorial. Nerhuma pate desta obra pode ser epropriads e estocada em sistema de banco 1 proces i ‘em qualquer forma ou meio, sea eletbnica, de fotoctpia, grvacdo, ec, petmissio da edt CIP-BRASIL. CATALOGAGAO NA PUBLICACAO. SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RI £82 O estégio supervisionado eo professor de geografia: mcitiplos olhares! or- ganizacéo Danie! Mallmann Valleius, Hugo Gabriel Mota, Leovan Alves dos Santos. - 1, ed. - Jundiat [SPI: Paco, 2019. 324p,; 21cm, ISBN 978-85-462-1732-8 1. Estagistios (Educacio). 2. Professores - Formacao. 3, Pratica de ensino. | Vallerius, Danie! Mallmann. Il, Mota, Hugo Gabriel. Il, Santos, Leovan Alves dos Vanessa Mafia Xavier Salgado - Bibliotecaria - CRB-7/6644 19-57441 COD 370.71 DU 37.026 Paco! ie EDITORIAL Ay, Catlos Salles Block, 658 Ed, Altos do Anhangabai, 2° Andar, Sala 21 ‘Anhangabad - Jundiai-SP - 13208-100 11 4521-6315 | 2449-0740 contato@editorialpaco com br Foi feito Deposito Legal r Digitalizado com CamScanner Ee DIMENSOES E INTERFACES DA DOcEncI, ESTAGIO SUPERVISIONADO DE GEOGRAFIA ° |. O Estagio Supervisionado de Professores de Geografia: notas importantes e (des)pretensiosas Para o seu revelar Daniel Mallmann Vallerius' Olhares iniciais A formagiio profissional, em todas as éreas do conhecimento, é um proceso complexo e cheio de particularidades. Dentre os mais diversos desafios postos aqueles que optam por um curso de licen- ciatura — ¢, espera-se, 0 exercicio posterior da docéncia -, entende- mos que 0 estigio supervisionado ocupa um papel de inquestioné- vel relevancia, O espago por ele ofertado para a experimentagio do ato docen- te transcende as “amarras” curriculares ¢ configura-se “por excelén- cia, um lugar de reflexdo sobre a construgio ¢ o fortalecimento da identidade” (Pimenta; Lima, 2013, p. 34). Este também é 0 tempo- ~espaco que privilegia e propicia a conexio entre os ambientes uni- versitarios ¢ escolares além de contribuir para que o discente tenha uma percepgao mais factivel de uma futura realidade profissional. 1. Doutor em Geografia pela Universidade Federal de Gois com dourorado-san- duiche na Universidad de Sevilla (Espanha). Mestre em Geografia pela Universi- dade Federal do Rio Grande do Sul. Licenciado em Geografia pela UERGS com graduagio-sanduiche na Central Connecticut Srate University/EUA. Foi profes- sor da Rede Municipal de Educacio de Porto Alegre/RS ¢ de organizagoes de educagéo popular. E professor adjunto da Universidade Federal do Para (Campus Altamira), onde coordena o Pibid Geografia, o Laborarério de Pritica de Ensino de Geografia (LabPrat) ¢ os estagios supervisionadas de licenciatura. Membro do Niicleo de Ensino e Pesquisa em Educacao Geografica (Nepeg). Pesquisa na area de formacio de professores, estigio supervisionado ¢ educasio cidada. E-mail: . t 21 Digitalizado com CamScanner Daniel Mallmann Vallerius | Hugo Gabriel Mota | Leovan Alves dos Sony os np, Em resumo, trata-se de um espago rico © necessirio parg ‘1 a i fi 9 Vex. perimentagio de préticas ¢ construgao de reflexées que bali, f que balizars, posturas, atitudes © caminhos pedagégicos da trajetéria profes : oo: Sio. nal. Como nos diz. Richter (2013, p. 115): Esse momento da formagio docente representa uma etapa de suma importincia, por materia tica profissional do futuro lizar diversos elementos gue ajudaram a compor a pra professor, desde as bases tedricas de sua respectiva ciéncia, até sua relagio com 0 uso dos saberes pedagégicos na orga- nizacao do exercicio docente. Para além disso, 0 estégio docente carrega consigo a alcunha de ser um dos marcos mais importantes na confirmacao de ser ou nao um professor, aqui compreendido como alguém que se identifica com a profissio ¢ que a exerce ou no minimo almeja seu exercicio. O con- texto no qual o licenciando insere-se considerando varios outros fito- res ~ nem sempre mensurdveis — tornam os resultados desta experién- cia muito diversos. Nas palavras de Barbosa e Kaercher (2015, p. 55) Ao realizar o estagio docente surgiram as inquietacées, os questionamentos, os medos, Na pritica 0 sabor da expe- riéncia vivida, me fez perceber que era impossivel saber tudo, que estou em constante proceso de aprendizado ¢ que cada experiéncia de sala de aula, apesar de apresentar certas regularidades, € tinica, € singular, Esse momento importantissimo, mas complexo e conflituoso da minha formasio, fez com que eu deixasse adormecido 0 sonho da docéncia por um periodo. Neste sentido, reconhecendo a pluralidade ¢ a complexidade de elementos que compéem e perpassam o Estigio Supervisionado de professores de Geografia, & que se insere o presente capitulo. Trata- 2. Este texto € parcialmemte derivado da texe de doutorado intculada 4 ides “ ed Profssional cidadé ¢ 0 Estdgio Supervisionado de profesores de Geogrifits ‘fendida pelo autor junto a0 Programa de Pés-Graduagio em Geografa da Uni- versidade Federal de Goids no ano de 2017, 22 1 Digitalizado com CamScanner © Estigio Supervisionado e o professor de Geografia: maltiplos olhares remos aqui de pontuar alguns temas que julgamos relevantes para um olhar que contemple minimamente a amplitude deste tempo- -espago, de maneira introdutoria ¢ sem a pretensio de goti-los—a ntagio em tépico opcao pela apr {ntese ilustra essa intengio - ndo contribuir especialmente com os sujeitos (s mm eles pro- orientadores, supervis que estao em seus primeiros contatos com esta ctapa format Ainda, ressalta-se que haveriam tantos outros temas passiveis de serem abordados, porém a escolha recai em um mosaico que permita ao leitor um olhar sobre pontos que julgamos imprescin- diveis para uma compreensio inicial sobre o Estagio Supervisio- nado de professores de Geografia e algumas de suas particularidades ¢ potencialidades. a) Os sujeitos e os espagos do Estdgio Supervisionado O estagio supervisionado em Geografia possui scus sujeitos ¢ saber: 0 professor supervisor, seus espagos muito bem delimitados, a 0 professor orientador, o estagiirio, os alunos da escola, os colegas de classe, a propria escola ¢ a universidade, Cada um destes atores envolvidos no processo possui papel rel macio proposta no ambiro do estigio. E justamente nesta profusio ante na trajetéria de for- de sujcitos ¢ lugares envolvidos que reside uma das assertivas mais valiosas empregada neste momento, valendo-se da vox de Tardif (2002, p. 295) para apresenté-la: “ao transitar da universidade para aescola ¢ desta para a universidade, os estagidrios podem tecer uma rede de relacdes, conhecimentos e aprendizagens’. Entendemos que tais elementos certamente contribuem para a formagao profissional € pessoal dos estagiirios. Estagidrios estes que sio sujeitos particulares, com demandas, Icituras, experiéncias préprias, em um momento importante de sua formagio docente. Conhecer um pouco mais sobre eles também é desvendar uma parte dos potenciais caminhos fucuros do ensino da geografia escolar de nosso pais. Entendemos ser pertinente, possuir 23 ~ — Digitalizado com CamScanner >y Daniel Maltmann Vatlesus | Hugo Gabriel Mota | Leovan Alves dos Santos (0, BS.) uma visio mais ampla de tais sujeitos envolvidos nesta etapa de g cu processo formativo, bem como do pracesso em si. O contato proximo do estagidtio com a escola ~ aqui mencig. nada como 0 campo de atuagio do profissional ~ torna-se fund, mental, para que Ihe seja permitido interagir, conhecer, conversag observar a dinimica deste espago. A escola configura-se como eg, paco de interagio entre os diversos individuos que a constroem ¢ a produzem, Nao hé a palavra “nds” sem que se traga & baila um sentido de coletividade De forma semelhante, tanto a escola quanto o professor-super. visor devem, em conjunto, estar abertos & recepeao deste estagiirio, compreendendo seu papel formativo, ¢ subsidiando discussées, re. flexdes ¢ experiéncias mais proximas da realidade docente. Atin- gindo este patamar, os sujcitos ¢ espagos do estagio supervisionado estario confluindo para contribuir efetivamente com a formacio dos potenciais futuros professores de Geografia, b) Potenciais fragilidades do Estagio Supervisionado Neste mesmo texto, j4 reafirmamos a crenga na relevancia ¢ no longo alcance do estigio supervisionado para a formagio dos professores de Geografia no contexto Brasileiro, Contudo, alguns pontos denotam uma maior atenedo, no sentido de amplificar ainda mais a sua validade, Segundo a opiniéo de diversos autores, (Souza, 2005; Gui- maries, 2004; Freitas, 2014), as diretrizes curriculares atualmente empregadas na formagao de professores em nivel superior part 0 atendimento da educacéo bisica tem uma contribuigao limitada para a reflexao acerca da pratica de ensino na formagio destes pro- fissionais. Neste sentido, as principais queixas residem na manu- tengo do estégio como um campo distingo nos curriculos ¢ a 240 explicitagao da nogio de pritica na formacao docente (Souza, 2005 p. 4). Tal cenétio acabaria por fomentar indefinigdes sobre o papt! das priticas na formagio de professores de Geografia e fragilizan ¢ certa forma, a credibilidade no préprio curriculo da licenciatur®- 24 a | Digitalizado com CamScanner 0 Estigio Supervisionado e o professor de Geografia: maltiplos olhares Outras questées que também sio potenciais contribuintes em processos de fragilizacio do mesmo em algumas instituigées de en- sino sio apontadas por Oliveira (2014), para quem merece atengao a formagio dos professores que supervisionam o estdgio, que nem sempre possuem a experiéncia fundamental de ensino na educagao bisica: a falta ou a precariedade na efetivacio de uma pritica de pesquisa relativa 4 formacio profissional; as perspectivas da forsna- cio pela influéncia do mercado c 0 fato de pautar-se tao somente pelo cumprimento das horas na forma da lei. Para além do exposto, considera-se ainda que o devempenho acerca do papel conscientizador e transformador da realidade que 0 professor - aqui sendo abordado 0 de Geografia — possui, também esté implicito dentro das expectativas do trabalho a ser desenvol- vido no ambito do estigio supervisionado, 0 que por vezes, nem sempre é efetivado, Servem de fundamentagao para este argumento as palavras de Cavalcanti (2003, s.p): No meu entender, € preciso superar uma visio muito co- mum entre nés, professores formadores, de que o dominio de contetido da Geografia é a base da formacio profissio- nal. A atuacio profissional conforme esta sendo aqui dis- cutida exige uma formacio que dé conta da construgio ¢ reconstrucio dos conhecimentos fundamentais ¢ de seu significado social. Nao basta, assim, ao professor de Geo- grafia ter dominio da matéria, € necessirio tomar posicées sobre as finalidades sociais da matéria escolar numa deter- minada proposta de trabalho, é preciso que o professor sai- ba pensar criticamente a realidade social ¢ que se coloque como sujeito transformador dessa realidade. Diante deste cendrio, atender as expectativas endossadas pela vor desta autora vem a ser um dos principais desafios na construgo de um estagio supervisionado que atenda as expectativas dos sujei- tos envolvidos e da consolidagio de uma qualificacéo na trajetéria formativa dos professores brasileiros. 3 Digitalizado com CamScanner Daniel Mallmann Vallerius | Hugo Gabriel Mota | Leovan Alves dos Saniog ms ey Ressalta-se que este desafio se torna ainda maior nos tempos hy 7 0. dicrnos, onde grupos sociais defendem abertamente a limitagio q le uma agio pedagégica pautada sob o viés da criticidade, a ai, © com tena. (vem tio vladas) de atingira credibilidade da categoria prog - siona docente ~€ 0 estagirio precisa receberaorientagio eo supon, adequado para lidar com tais desafios da melhor maneira postive o) A relagao teoria-pratica no estdgio Nio sio raras as manifestagdes de que os cursos de licenciatura desconhecem os saberes da pratica ¢ “gastam” muito de seu tempo com questées voltadas essencialmente a dita teoria. Para contribuir com nossa discussio, evocamos Kaercher (2008, p. 12): Teoria demais ou pouca reflexio sobre a prética? Ha uma queixa apressada de que os cursos de licenciatura ‘teori- zam demais’, ‘tem pouca prética’, ‘ndo preparam o futuro docente”, Até pode ser verdade em muitos casos. Mas isso nao desautoriza o necessitio estudo, a busca de uma teo- rizagdo que embase solidamente nossa aio. Muitas vezes acreditamos que anos de pritica substituem a necessidade de refletir sobre a pritica. Fazer hé muitos anos nao implica fazer bem feito. Uma teoria que nao funciona nio significa que a teoria seja indtil ou que basta o empirismo. A reflexio sobre o que se fax é imprescindivel. Apesar de reconhecer que a pritica é essencial 4 formagao pro- fissional dos licenciados em Geografia, corroboramos com as pala- vras do autor ao acreditarmos que esta deve estar apoiada na tcoria, na busca de propiciar uma reflexao sobre o carter tedrico-pritico da profissio, sobre a prética pedagégica, o contexto educacional, as relacdes de trabalho, a relagao professor-aluno ¢ aluno-aluno, entre outros aspectos (Pires, 2014). No que concerne mais especificamente aos “espacos de pritica” considerados pelos curriculos dos cursos de licenciatura, Pimenta 26 Digitalizado com CamScanner -_—~—_~— CO Fstigio Supervisionado © 0 profereor de Geografia: maltiplos olhares ima (2013) alertam que 0 provavel reducionismo destes a uma perspectiva de uma pritica instrumental termina por desnudar os problemas na formagio profissional do professor, Estas autoras ain- dissoc autelam que daa io entre tcoria ¢ pritica af presente resulta em um empobrecimento das priticas nas escolas, 0 que evi- dencia a necessidade de explicitar por que o estagio é teoria e pritica (c nao teoria ou prética)” (Pimenta; Lima, 2013, p. 41). Assim, nao podemos perder de vista que 0 estigio é, sim, um espago onde a pritica possui muita relevincia, porém esta apenas se potencializa e fax deste um tempo-espaco qualificado quando transcorre em constante vinculagio com a teoria. d) Os desafios cotidianos do estagidrio Os desafios a serem enfrentados pelos discentes podem ser mui- to diversos, considerando os contextos das mais diversas ordens onde estio inseridos os sujeitos ¢ os espacos do estigio. Todavia, nossos olhares permite indicar alguns apontamentos que parecem co- muns a grande parte das realidades que conhecemos ¢ investigamos. Uma questao muito ¢ ressaltada nos relatérios finais produzidos pelos estagiarios e que foi muito verbalizada pelos licenciados com- preendidos em nossa pesquisa de tese foram os frequentes apelos para que estes “substituissem” o professor da disciplina de Geogra- fia na escola em cardter permanente. Com relagio ao exposto, cabe considerar que, no transcurso das atividades pertinentes ao estigio supervisionado, ¢ comum o aluno estagidrio construir aulas muito bem claboradas, repletas de recur- 505, planejamento ¢ leituras a serem seguidas, Toda uma sequencia claborada ¢ bem distribuida, As vezes, verdadeiros “espeticulos” causam aos alunos da escola-campo um robusto encantamento frente as novidades trazidas pelos alunos em formagao. Nao raro se ouve comentérios do tipo: “porque nosso professor nao faz assim?”, Contudo, ¢ alunos podem estar desconsiderando a situagio peculiar d ministrada pelo professor estagiirio, inclusive o ” Digitalizado com CamScanner os Pantel Mallmann Vallerius | Hugo Gabriel Mota | Leovan Alveg dos Say Inton, rg, tempo de planejamento daa ividadea ser desenvolvide, os recy : P : P 6s conhecimentos necessérios para seu desenvol ” Wviment 0. €0 apes Lisponivel © 0 apoig disponivel para o seu planejamento. al aparente“depreciagag trabalho do professor da escola implica no fato de que murs? NOS dos. fe, a0 sentirem que sero de alguma maneira, avaliados oy com, pa rados com e préticasteidas “por esse pesoal da unp z sidade”, apresentem alguma hesitago ou simplesmente Tecusem : a recebé-los em sala de aula. nova Importante é também mencionar a situagao dos alunos dos cur. sos de licenciatura que durante o transcorrer do estagio nas escolas Sao continuamente exigidos pelos professores para que tespondam Por questées voltadas a diditica, ao ensino ou 20s contetidos dg Geografia escolar. Além disso, aferimos pelos depoimentos dos dis. centes de estagio que, quanto mais ciente ¢ seguro da qualidade de sua atuacio profissional for o professor da escola que os supervisio- nha, mais contributiva acaba por ser a contribuigao deste para a ex- periéncia formativa do estagidrio, Professores inseguros terminam por vé-los como “concorrentes” € por vezes se autoconferem uma imagem de inferioridade (por estarem afastados da universidade, pela sua graduagao ter sido concluida ha muitos anos, por nio ter uma formacio especifica na area, por estar cansado e/ow insatisfei- to, etc.) que nio contribui para o licenciando — ao contra » Provor ca sentimentos de receio c inseguranga com 0 futuro profissional, A referida eventual desmotivagio também encontra, por vezes, cco na sala dos professores. E fato que em todas as areas do traba- Iho ha uma profusio de casos de profissionais insatisfeitos com os rumos tomados pelas suas carreiras — € a docéncia nao esté imune a isto. A subvalorizacao financeira, as condigdes de trabalho muitas vezes longe das ideais, a excessiva cobranga por parte das familias ¢ da sociedade, cargas hordrias extenuantes € o préprio relativo des- crédito da instituigao escola por alguns grupos sociais, em alguma escala, ajudam a explicar este quadro. A propria universidade - ¢ seus respectivos cursos de licenciatura — seguramente nao se furt em trazer 4 baila tais temas ¢ admite os desafios a serem enfrentados pelos professores em geral. Digitalizado com CamScanner O Estagio Supervisionado ¢ 0 professor de Geografia: miiltiplos olhares Contudo, é na sala dos professores que estes pontos, outrora frios ¢ meramente temas de discusses, se materializam ¢ ganham homes, rostos ¢ hist6rias, provocando inquietagées nos estagidrios que acabam por ouvir, com certa frequéncia, perguntas como: “Mas voeé vai mesmo ser professor?”, “Vocé ¢ tio novinho, ¢ isso mes- mo que vocé quer da sua vida?”, “Nao da tempo de escolher outra coisa, 10? Ah, se eu tivesse a sua idade, jamais faria uma licencia- tura.” Salienta-se que estes discursos provém de uma minoria dos docentes, contudo, empiricamente, constata-se que em boa parte das escolas-campo visitadas existe algum profissional que evoca questionamentos de tal ordem aos estagiirios. Assim, 0 licenciado ha de ter tranquilidade em compreender que, por mais que existam pontos coletivos de convergéncia nas realidades dos membros de uma mesma categoria profissional, 0 que motiva ~ ou nao ~ cada individuo sio elementos subjetivos © muito particulares, nao existindo uma cartilha para a satisfagdo profissional (a nao ser aquela claborada pelo préprio sujeito, ¢ que diz respeito ¢ serve tio somente a cle proprio). E cabe salientar tam- bém que, assim como existem professores insatisfeitos com a esco- Iha profissional, ha tantos outros que, apesar das particularidades da profissio, se encontram plenamente realizados com a opgao pela docéncia — ¢ estes, inclusive, deveriam conversar mais com os esta- gidrios nas escolas sobre isto. Outro ponto que merece 0 nosso olhar ¢ a dificuldade recor- rente do estagidrio em conciliar o componente curricular em ques- tio com as demais disciplinas do semestre/periodo. Em especial nos primeiros estigios, os licenciandos demandam um periodo de adaptagio para incorporar os deslocamentos as horas semanais na escola dentro das suas atividades académicas habituais. Além disso, de uma maneira geral, no existe um espago de dedicagio exclusiva para a realizagio dos estigios supervisionados junto a grade cur- ricular dos cursos de licenciatura — 0 que é salutar, dado que isto permite uma interface mais préxima do estagidrio com os conheci. mentos abordados nas demais disciplinas, ¢ também nao aumenta 29 Digitalizado com CamScanner i riel Mota | Leovan Alves Daniel Mallmann Vallerius | Hugo Gal eS Sani Oy, 0 tempo indicado para a formacio inicial (em média 4 cursos de licenciatura em Geografia). Ha também de se cial atengéo com os cursos do periodo noturno, que atend, anos py, er espe em a uy Profissionay a realizacig publico que, majoritariamente, possui uma ocupacao durante o dia ¢ apresenta menor disponibilidade para do estigio supervisionado. Neste contexto, cabe ao professor orientador a sensibilidade de comprecnder que a vida do estagidrio nao se resume a esta (impor. @ Bestig para que otimize suas energias ¢ Consiga dedicar-se plenamente nao apenas ao cumprimento da carga hor. tia exigida, mas também ao ato de explorar tudo 0 que este momen- to de formacao pode Ihe oferecer. tante) etapa formativa — e cabe, também, ao estagidrio, individual do seu tempo, ©) As contribuigées do estdgio no delinear de uma identidade profissional Em sua formagio inicial, o futuro professor ser instigado a refletir sobre os contetidos ¢ saberes de sua respectiva ciéncia, os saberes da docéncia e sera apresentado a novas ideias, anscios ¢ utopias. Conhecerd pessoas que, em muitos cas tracando uma trajetéria semelhante e com © inquietagdes. temiticas, 10S, estarao partilhard experiéncias so ‘stigio supervisionado, reafirmamos, concentra-se o papel undar C it mental de “sse proceso. E nele que, muitas ; mais explicito e sistemético, os pri- eit0s contornos da profission alidade de um professor, Profissio~ Digitalizado com CamScanner Estagio Supervisionado e professor de Geografia: maltiplos olhares nalidade sta que se assenta sob o prineipio de que a experidncia no exercicio da sala de aula é parte importante da mesma ¢ acaba por complementar os saberes tedricos que o aluno de licenciatura apreende de sua formagio inicial e nos espagos extrauniversidade, Para que se compr inda a identidade profissional do docente, deve-se, contudo, ter em conta scus processos de (re)construgio per- manentes no decorter da vida, Assim, por mais que se valorize (e nés valorizamos!) a formagio inicial do sujeito como um momento € um espago relevante na constituigio da identidade profissional (e 0 estigio supervisionado, em particular), esta deve ser entendida como um produto (sempre ins cabado) de um processo, cujo inicio se d& antes da formagio em nivel superior ¢ que nao findaré a0 término de seu curso de graduagio. Esta seguiré em curso durante © exercicio de seu trabalho, “dependendo tanto dos julgamentos dos outros como das suas préprias orientagdes © auto definigées” (Gomes et al., 2013, p. 258). Resumidamente, portanto, reconhecemos que a identidade do docente nio estar acabada mediante a finalizagio de seu curso de graduagio de licenciatura em Geografia, mas se delineard no dia a dia da profissio, da experiéncia e do contato entre a escola, a sala de aula, e espacos de construgéo da profissio. E quanto mais qualifi cada for essa formacio inicial e mais bem orientado, aproveitado ¢ executado for os tempos ¢ espacos do estigio supervisionado, mais condigées ¢ possibilidades os futuros professores rerio de assumir posigdes identitérias condizentes com as dimensoes que esperamos € desejamos destes (Vallerius, 2017). fp) O Estdgio enquanto um espago de aproximagao entre a universidade e a escola | Outra caracteristica bastante particular do Estigio supervisio- | nado é a de estimular a cooperagio ¢ a articulagao entre a univer- sidade e a escola, além de permitir a experimentagio da docéncia € a exploragéo do conhecimento tedrico recebido nas disciplinas do 31 Digitalizado com CamScanner Daniel Mattnann Vallerius | Hugo Gabriel Mota | Leovan Alves dos Santos, Bs) curso de formagio, Na visio de Pimenta ¢ Lima (2013, p, 199) 0 esta profissio docente: » também se traduz como uma oportunidade importante a Como componente curricular, 0 estigio pode nao ser uma completa preparagio para o magistério, mas é possivel, nes. se espago, professores, alunos ¢ comunidade escolar ¢ uni- versidade crabalharem questées bisicas de alicerce a saber: o sentido da profissio, 0 que é ser professor na sociedade em que vivemos, como ser professor, a escola concreta, a reali dade dos alunos nas escolas de ensino fundamental ¢ mé- dio, a realidade dos professores nessas escolas, entre outras. Nese contexto, a universidade deve ser capaz de atender a estas exigéncias com vistas a beneficiar os alunos em formagio além de proporcionar uma relagéo de confianga, respeito e reciprocidade en- tre seus préprios alunos ¢ os professores supervisores. Desta forma, a escola deve se preparar para receber esses alunos estagirios sem defensivas ow ressalvas, valorizando as novas priticas e com uma abertura ao didlogo para as experiéncias que se tem debatido nas universidades, Se elaboradas ¢ apresentadas com transparéncia, es- tas atividades produzirao benesses a todos os envolvidos que poss- velmente passardo a nelas vislumbrar um significado e os convocari a reflexdo das proprias priticas de ensino. Nossa experiéncia — tanto na condigio de professor da escola basica quanto na de orientador de estagios supervisionados ~ in- dica que nem sempre os estagidrios so vistos de maneira amistosa no espaco escolar, Conforme ji mencionado neste texto, ainda que seja uma minoria, ha profissionais nas escolas que acredi licenciandos vém para observé-los e ofertar julgamentos posteriores sobre a sua pratica pedagdgica. Também existe a critica de que a universidade dialoga pou co com a educagao basica, e quando o faz, muitas vezes chega com ideias pré-concebidas ¢ acabadas, entendendo a escola apes como um “laboratério” de receitas jé pensadas por quem nao esti mM que os 32. a Digitalizado com CamScanner O Estagio Supervisionado e o professor de Geografia: maltiplos olhares de fato, ali. It perfeitamente possivel entender a razoabilidade de tais pensares, dado que nao é sempre que a universidade e a esco- la conversam, de fato, com a efetividade ¢ a horizontalidade que deveri m. Porém, aqui também reside outra possibilidade que gio potencializa: levar os docentes da universidade (para além do orientador do estagio supervisionado) para o espago da escola € 08 professores da educagio bisica aos espagos da academia. Isso pode ser feito por meio de projetos especificos, agées pontuais ou atividades de formagio continuada. Seria proveitoso permitir que os professores da educagio bisica se envolvessem com as atividades académicas, desenvolvendo inclu- sive aulas, oficinas ou alguma outra atividade similar neste espago. Esta poderia vir a ser um modo de perceberem a valorizagio de seus conhecimentos. Ademais, os licenciandos teriam a relevante opor- tunidade de discutir a luz da pritica de seus pares. Tais processos seriam potenciais auxiliares na formacao dos su- jeitos neles envolvidos, podendo ainda contribuir para o estabeleci- mento de novas interfaces. Buscar esta compreensio pode aproxi- mar universidade e escola, uma vez que os professores em formagao trazem consigo uma visio do ambiente escolar, lugar este sempre repleto de particularidades ¢ abrigado em suas contiguas memé- rias, de algum modo construidas na relagao ensino-aprendizagem ¢ professor-aluno, temas que sio recorrentes durante as discusses no Ambito de sua formagio. g) Ocestdgio supervisionado, o Pibid eo Residéncia Pedagégica: interfaces e especificidades E muito comum — inclusive no ambiente escolar — os discen- tes que estio realizando o estagio, os discentes bolsistas do Pibid € 05 licenciandos vinculados ao programa Residéncia Pedagégica serem clasificados da mesma maneira (geralmente, como “estagid- rigs”). Até mesmo no ambito destes tiltimos dois programas, que geralmente trabalham com um mimero razoavelmente expressivo 33 Digitalizado com CamScanner a nie! Mallmann Valerius | Hu Gabriel Mota | Leovan Alves dos Say ANtOs (Oy, ee de licenciandos em uma determinada escola, & algo frequente 6 supervisores/preceptores escutarem de colegas as demandas sobre como devem proceder para também receberem estes “ Stagidriog” A confusio é natural e perdosvel, dada a compreensio de gy. que, Espera-se, todos os professores que estio atuando nas escolas req. lizaram seus estdgios supervisionados de docéncia, porém a par. ticipagio em programas como o Pibid ¢ 0 Residéncia Pedagégica derivam de contextos mais recentes ¢, por mais que tenham uma dimensio nacional eum alcance significativo, esto distantes de co. brira formacio da totalidade dos futuros professores. De tal manej- ra, acabam nao se fazendo presentes na meméria ou no imaginério de muitos docentes em atuagio nas escolas, Entretanto, é mister pontuar que, ainda que 0 estagio supervi- sionado, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciagao 4 Docén- cia ¢ 0 Programa Residéncia Pedagégica (ambos financiados pela Capes) compartilhem do potencial de aproximar os futuros licen- ciados do espago escola ¢ com a propria profissio, cada um destes Possui os seus propésitos, estrutura de implementacio ¢ funciona- mento ¢, de forma muito clara, objetivos distintos entre si. Por exemplo, no caso do estagio supervisionado, este se sustenta em uma legislacéo especifica, um caréter de obrigatoriedade nos curriculos e, por conseguinte, engloba de maneira indiscriminada todos os futuros licenciandos. Ja o ingresso do licenciado no Pibid (criado no ano de 2007 ¢ reformulado em 2018) ¢ no Residéncia Pedagégica (instituido em 2018) se da por meio de selegio (com critérios préprios de cada IES) ¢ hoje compreende, em sua grande maioria, grupos de até 30 discentes (24 bolsistas ¢ 6 voluntirios) em cada niicleo, sendo o Pibid voltado para licenciandos que estéo cursando a primeira metade do seu respectivo curso de graduacio €0 Residéncia Pedagdgica para discentes jé na metade final destes. ‘Também se faz relevante ressaltar que estes programas nio con- templam a todos os cursos de licenciatura em Geografia (ao contré- tio do estégio), visto que o mimero de bolsas ofertado nos editais ¢ limitado ¢ a adesio/candidatura aos mesmos éopcional. Hi aindao oF = Digitalizado com CamScanner 0 Fstigio Supervisionado eo professor de Geografia: miltiplos olhares temporalid aspecto da jade destes programas (os nticleos em vigéncia aualmente compreendem periodo de 18 meses entre agosto/2018 janciro/2020), ficando a critério da Capes a continuidade — ou nio — dos mesmos. Uma particularidade do Pibid nos moldes atuais & contemplar, como ji mencionado, e: clusivamente alunos na primeira metade da graduagao, ou seja, discentes que, em sua ampla maioria, nio realizaram 0 estégio supervi nda ta particularidade per- as do programa, ao chegar ao primeiro estagio, Imente ma ionado. E: mite que os bolsi is estejam potenc seguros ¢ com maior conhecimento do espago-escola do que os colegas que nio tiveram a mesma expe- rigncia, Destaca-se ainda que o Pibid tem um histérico de bons ¢ relevantes resultados no Ambito da preparagéo & docéncia, Por sua vez, o Residencia Pedagégica contempla, justamente, os discentes que esto no periodo indicado para a realizagao do estagio, am- pliando significativamente a carga horiria dos discentes no espago escolar quando este ¢ 0 Residéncia sao realizados simultaneamente. Também neste sentido, deve ser ressaltado que tanto o Pibid quanto o Residéncia Pedagégica permitem ao discente que perma- nece vinculado a um dos programas durante todo o periodo de execugio dos atuais projetos (18 meses) uma imersio e uma vivén- cia junto ao espago escolar que nem sempre o estagidrio consegue edificar, dada a fragmentagio (Estagio I, Estdgio II, Estigio IL...) ¢ a carga horiria dos mesmos, além das demandas especificas que o estagio exige. Jano que diz respeito especifico ao Residencia Pedagégica, este possui, como um dos seus objetivos “Induzir a reformulagio do estigio supervisionado nos cursos de licenciatura, tendo por base a experiéncia da residéncia pedagégica’;” pressupondo que a sua relacio com o estégio supervisionado deve ser estrcita ¢ colabora- tiva, Indo mais além, edital de langamento do programa ressalra que a instituigdo de ensino superior que aderir ao mesmo precisa também “Comprometer-se em reconhecer a residéncia pedagégica 3. Conforme Ediral Capes n° 06/2018, p. 1. 35 Digitalizado com CamScanner __—___——<——h «1 Mota | Leovan Alves dos Santos Daniel Mallmann Valerius | Hugo Gabriel Mota | Leov: Ons) 9 do estigio curricular supervisionado” nsiderar nfo exaramente a demanda por 5 sim, uma cumpriment para efeito de on fo que abre margem para co uma articulagio com 0 estigio, ma pe on slo (parcial/rotal) do estigio supervisionado pel breve, apresentard scus primeiros resultados). a Enfim, tanto o Pibid quanto 0 Residéncia Pedagégica sio pro. ma qualificagao do futuro professor até mesmo com uma (necesséria) possivel substituigag programa (que, em gramas que visam somar para U ¢ contribuir, em alguma escala, Go entre a universidade as vive ea escola, porém nao devem se aproxima : no deve cias, as experiéncias © As ¢s- como substitutivos configurar c os estagios supervisionados pecificidades d de professores. Consideragées (nem tao) finais algumas contribuigées acerca de 1 do estigio supervisiona- alvez, para aqueles Neste capitulo, apresentamos pontos que julgamos relevantes no ambit do de professores de Geografia — em especial, t sujeitos que estao em vias de um primeiro contato com este periodo. Haveria tanto mais para se dizer ~ ¢ se revelar. Em nossa visio, 0 estigio é um processo que revela —e se re- cos de didlogo, revela a pos- yela! — no seu transcorrer. Revela es} sibilidade de experienciar na pritica situagdes outrora imaginadas, revela a complexidade (e a beleza) da docéncia. Revela elementos que quero carregar para a minha vida profissional — ¢ revela até, por vezes, o professor que nio desejo ser. De tal maneira, em um espago com tantos potenciais elementos passiveis a dedicarmos al- guns olhares, priorizamos 0 pontuar de temas que sio recorrentes ¢ destacam neste mosaico de experimen- em nossa atuagio ¢ que tages que constitui o estigio. Entendemos que a formacio inicial da licenciatura em Geogr fia oferta possibilidades muitissimo relevantes ( reveladoras) para 4 construcao de um futuro professor que tenha condigées de exercet na plenitude ¢ de forma competente a profissio que escolheu ~ € © estégio supervisionado se reafirma como um espago primordial 36 dl Digitalizado com CamScanner 0 Estagio Supervisionado e o professor de Geografia: miltiplos olhares para tal processo. E quando este é bem orientado, executado e vi- venciado, permite olhares que v4o muito além daqueles aqui colo- cados (des)pretensiosamente. Fica 0 convite: vamos além? Referéncias BARBOSA, Carla Melissa; KAERCHER, Nestor André. Didlogo entre quem gosta de educar ¢ uma educadora deseducada. In; TONINI, Ivaine Maria; et al. (org,). O ensino da Geografia e da Histéria: saberes ¢ faze res na contemporaneidade. Porto Alegre: Evangraf, 2015, v. 2, p- 55-67. CAVALCANTI, Lana de Souza. A formagio profissional em Gcografia. 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Introdugio Nos iltimos anos, © Estgio Supervision Ado tem py sant desde sua implementagio como ise u nhado des- iplin 1 Com Cang, ontorme ENBICD w® 12002 (Brasil, 20029), CNEZCp 20028) ¢.4 Resolugto CNE n" 22015, No je \ A hoe daria especifiea nos ettrsos de licene hatura (¢ as ditet a as ditetrizes "222002 (Br Abita da formags discussie por a importane! cial, destacando 0 estigio supervisionade na co asil, Me email 1 de fessores, 0 estigio tem sido campo de professores. 0 est npo de docentes ¢ pesquisiores que buscam pensar it da formagio inie nstrugio da profis- sionalidade docente, 1, Pou graduagto em Licenciatura Plena em Ceoptatia Pela Universidade do 10 de Professores (2002), mestra em Fducagio pela Faculdade de Educagso da USP (2007) © afia ica pela DG-FFLCH-USP (2012), Tem ey are publica e privada no estado do Rio de Janetro eno municipio de Sio Palo Pre sora Substicuta do CTUR-UFRRD. Ataalmente trabatha na Ueri-FEP a Depar tamento de Geografia com atu et de Ensino de Geogrs ta especializagio © no mestiade, principale Geogr Estado do Rio de Janeiro ~ Faculd, le de Format outora em Geog Perigncia come professora dh nna geaduagio, He HOS seguintes temas; Educagio culo © Diditica de Geografia, Coorde- ‘ormagio de Professor, € NPQ. E-mail: ducador, bachatel e licen radora Projetos Fapetj e d anaclaudia.sacramentogehormail.com>. Gedgrafol Jo em Geogea Federal Fluminense, mestre em Educagio pela Universi Jancito (2000) ¢ doutor em Geogra Humana ~ 2010), it pela Universidade Jade do Estado do Rio de sidasle de Sio Paulo (Geografia iéncia na educagio bisica ¢ ¢ Professor da Uerj. Mante nos cursos de graduagao © pos-gr Professores, onde pela Univ Tem expe io na Faculdade de Formagio de foi coordenador de graduagio e diretor. Destacamse em sua Producio os tem, 4o geogtifica, georafa ¢ lite- as: ensino de geografia, educagio geogeitica, geografia > 10 diditico- Mura, formagao de professores, ensino-aprendizagem, procedimentos d ‘Pelagogicos, metodologia de ensi > © pesquisa, Geografia e Pritica docente. “mail: . 275 Digitalizado com CamScanner | go Gabriel Mota | Ley jet Mallmanen Walters Huge Gabriel Mota | Leoyany AWE da pariel M2 Sern rns) Um importante papel do estigio supervisionada Teller, i Sano letie sony coria ¢ pritica no anode ge a capacidade de compreensio sobre : ambiente escolar, de a relagio © duandos x profissionalidade da docéncia, bem con Damo ¥ ientidag fe ensinar, Desta NO COnhecey Jo ato de ensinar, Desta forma, pensar ¢ © nos gh os saberes € dlaborar prit entos requet if eagnea e do significado dt docénci dentro para aléin do es + ele gio, © tratar també mbna py sia de um curse de \ Ate i acura Por iso, pesainatores come Pimentel (2010), sya (3012) ¢ Vallerias (2017), em suas teses de doutorao, investiga z 5 . ara uigdes de ensino apresentam os esti ios como as diferentes insti superviionados na Ficeneiatneas em Geografia, buscar as tens inicial docente. Fates estudos mostram a importincia nio 6 de comyprcender : : debater es relacionadas ao papel da Fungo do estigio a farmagie 2 fungio do estigio supervisionado, como também de enterr propria identidade profisional construida desde «form, versitéria, Assim, no Brasil, apesar de fortes d G40 nie ‘cusses sobre a for- macio inicial no campo da Geografia, os trabalhos ainda precisim cer mais desenvolvidos, uma vez que a pesquisa no campo sobre o Estégio Supervisionado se eferua com mais afinco a partir dos anos 2000. Assim, o abjetivo deste texto ¢ propor a discus jonado para a compreensio das tens6 Jo sobre o p+ sobre pel do estagio supervi a identidade do trabalho docente de Geografia na universidade, em especial a partir da experiéncia desenvolvida na formagio de profes- sores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro na Faculdade de Formacio de Professores, localizado no municipio de Sio Gongalo, a leste metropolitano fluminense, Rio de Janeiro. Este texto € parte do projeto de pesquisa intitulada As refirmas nas Politicas Piblicas Educacionais Brasileiras: 0 caso das Ciéneias Huumanas e da divciplina Geografia na Formagdo de Profesor. & nanciado pela Faperj por meio do Programa Jovem Cientistt do Nosso Estado nos periodos de 2018 a 2021. © projeto rem o inte na for de avaliar os impactos das reformas educacionais nacionai magio de professores de Geografia nos cursos de licenciatu’ "™ Estado do Rio de Janeiro, 276 Digitalizado com CamScanner co getisio Supervsionado © 0 professor de Geografa: mips oth othares Oo principio orientador do trabalho e seus subitens estao, por- ants delineados pela experiéncia curricular na formagao inicial caofessres, bem como por contribuigges de pesquisa recenes (Pe rama. O enfoque no desenvolvimento do texto transcore vos seguintes cixos: da compreensio do significado do etd pervisionado e sua importincia; da rlago tori pita na io da identidade do professor de Geografia, na apropriagio sot arti gio sU constr sp conhecimento geogrifico © pedagogico para o ensino de Geo- grafiana vivéncia do estigio; na responsabilidade que repousa sobre * estigio na formacao inicial e, por fim, a relagio da universidade com as escolas que atravessam essas experiéncias de supervisio de estigio. Ao dizer escola, referimo-nos i comunidade escolar da edu- cacio bisica que recebe e acolhe os estagirios nas escola piblicas no ambito do leste da regiéo metropolitana. O estagio supervisionado: algumas reflexes A discussio sobre a pritica do estgio supervisionado ganhou uma grande proporgao ao longo dos anos, principalmente nas ques- tes voltadas a superar a dicotomia entre a teoria ¢ pritica. A partir dela, pode-se dialogar acerca das concepgées diditico-pedagégicas eda prépria organizagio da escola, uma ver que os alunos estagid- rios vivenciam as diferentes dimens6es do que é a docéncia, nao s6 na sala de aula, mas no ambiente escolar como um todo. Para tanto, em nossa experiéncia, um pensamento que orienta o estigio é assumi-lo como uma atividade tedrico-pritica cujo intuito é promover no licenciando o desenvolvimento de habilidades ¢ c2- pacidades necessirias & docéncia, mas imprimir também a atitude do pesquisador que necessta refleti, questionar€ refazer 3 propria Pritica, Assim, 0 foco durante o estigio estd na vivencia no am biente escolar, para que, a partir dela, compreenda-se os farores ae constroem sua profssionalidade e a realidade escolat Nessa vive Gia constam: o fnventirio sobre a dindmica das escola (infracstrur "ura, logistia egesto);o perfil da comunidade escolar (diagnesico 277 Digitalizado com CamScanner jallmann Vallerius | Hugo Gabriel Mota | Leowary, Alves tog g Mog (6, Daniel M RN) solve os estudantes, corpo docente, demais profssion o seu entorno): as condigoes dle ensino-aprendinay (a aula proprianente a 08 ACH © raven ey praticadas e/ou acessiveiss as priticas docentes diversas as stn como saberes necessaries ao ser professor, Miday O evereicio hisico dos faturos graduandos 64 docd cente implica em muitos aspectos desde a formagio, a Ser dy aborcig costa. efleine a maeiizago dan, Do mea Mode, PrOMOvCE a aprengh i. zagem dos estudantes para que cles possam reconstenip (2008), a docéncia e é mister compreender as condigdes ¢ formas de S15 ideing Segundo Vei 4 telacionada AS concepieg dara entender tara ti simples pois requer a compreensio de processos cognitivos ¢ intelectuay, 2 s do que é ensinar ao outro, ou seja, é ensinar, instruir, um dererminado conhecimento. Esta nio € um, para desenvolver ¢ materializar uma concepcio de aula, Um dos focos do estigio & portanto, a Promogio do ato de ensinar ¢ aprender Geogra a na educagio escolar, o que acomte. ce vivenciando o ambiente escolar em sua complexidade, desde g agnssico inicial sobre a escola e sua comunidade, passindo pel dimensao curricular ai presente, até a pratica da regéncia. Tudo isso € tensionado pelo aprendizado com o professor titular da escola ¢ sob os olhares do docente supervisor do estigio da universidade. O Proprio estagio, assim, transcorre sob o diilogo de miltiplos sujei- tos ¢ vivéncias, 0 que requer transcender o ato de ensinar. Segundo Miranda (2008), 0 estagio, sendo um espaco de inves- tigacao, implica estabelecer relagdes de reciprocidade entre 0 ensino © pesquisa, sendo essa uma atividade substantiva ao desenvolvi- mento da capacidade criativa ¢ inovadora, que confere um sentido mais amplo ao ato de ensinar. Assim, é importante compreendé-lo nao como um momento de observagio ¢ descrigio das aulas do professor regente, mas como uma reflexio do papel docente ¢ de seus saberes constituidos em sala de aula. Ao trazer as narrativas dos ¢stagidrios, Santos (2012) nos mobiliza a pensar acerca da necessi- dade de uma discussio sobre a identidade docente de Geografia 8 partir do olhar critico desses estudantes, A autora ressalta: 278 — Digitalizado com CamScanner coestagio SuPer O estigio ¢ fonte primaria de valores identi neitar ai estar em constante interagio com o amb qual devers ambiente aprendizagem para a socializagio do conhee} . o| Am truindo um papel social na construgio da cid a id AO dla cidag ficagio de uma identidade docente. Santos, 2012 » 2012, p, Desta maneira, pode-s rvisionadco © © professor 'ssor de Ge OBrali MGltpIOs othares indiveis na constituisio do sujeito dacente, Pe c,0 escolar e a lento, cons. dee na edi- 88) fi ; . tmar a relevancia da Pratica-teoria na ana formagao do sujeito docente para que o mesmo Possa compreend, render o lugar de trabalho, 0 processo de construgio do conheci mento, a mediagio do ensino-aprendizagem, bem como a interagio en ‘io entre os sujeitos (professor aluno) numa dinimica na sal deal ena id aulae naiden- tificagao da geografia ai presente. Para tanto, a reflexio precisa se , A a7 pensada a partir do conhecimento da ciéncia geogrifica ¢ da peda gogia para que se produza a identidade do professor de Geografia. De acordo com Pimenta (2001), teoria ¢ pratica precisam estar totalmente vinculadas, de maneira que a compreensio da realidade social possa ser transformada, ou seja, para também interferir sobre ch, Este é 0 verdadero alcance entre teoria e prética, de modo que sea teoria nao se realiza, ela se torna divorciada da pratica. Portan- to, a unidade da teoria ¢ a propria pritica, Uma questio apontada por Pimenta; Lima (2004) é que muitas vezes as dsciplinas priti- «ase te6ricas sio trabalhadas separadamente, produzindo-se assim uma dicotomia. Isso traz dificuldades aos futuros professores que porventura fardo a relagao entre elas, justamente porque as univer- sidades precisam preparar melhor ¢ ade para atuar com a teoria e com a pratica. A universidade possui como tarefa dos graduandos para se tornarem futur as disciplinas praticas e teéricas que de futura na sala de aula. E no estagio qu céncia e nele é possivel compreender © ¢m uma sociedade que se transforma uma fungio social, por consequénci 4ssumir um compromisso com a soci ,quadamente 0s estagiirios fundamental a preparagio os professores, englobando fundamentar a atuaga0 e se conhece a arte da do- feado de ser professor A escola tem .s carecem de a, 8 mae dade para que poss seh vem signi rapidamente, eus professor 279 Digitalizado com CamScanner 10 Gabriel Mota | Ttovan Alves dos Sant, ius | Hug Daniel sfatimann Vatlerivs | © rendizagem ¢ incitar nos alunos a criticidade, Segung a aprendiza ; el (2009, p- 3)» Iver Piment periodo de descobertas, de primeiras sobre 0 que € ser professor, sobre o am, eas condigées que envolvem essa profs. que as atividades de estagio precisam a graduagao é um fexoes ¢ conflitos biente profissional sio. Compreende-se i dour deforma signficaiva nesse processo, Porém hg co limites impostos pela prépria organizagéo da disciplina, Tyne dos quaisgeram difcuades sentidas cano ples * i se “Tinos como pelos professores da escola bdsica. Sendo assim, 0 objetivo a ser alcancado com debate ¢ teflexig sobre teoriae pritica no estigio, consiste em adquirir conhecimenty da pritica pedagdgica ¢ desenvolvé-los sobre a aco educativa, 0 conhecimento pode partir da aplicagéo na prética & reflexao, para gue nesse movimento dinémico, possam ocorrer relagbes dialégicas entre ambas, resultando na construcao de conhecimentos novos, De um modo geral, as disciplinas tedricas com foco exclusive em seus objetos conceituais terminam por néo prepararem os alunos para a pritica a luz dos conhecimentos adquiridos. Aqueles quando realizam o cstagio, argumentam frequentemente que a teoria nio condiz. com a pritica, ¢ se justificam afirmando que a universidade nio prepara adequadamente seus alunos para compreender uma ¢ relacionar com a outra. Eles comumente reproduzem tal ideia em concordancia com os professores ¢ professoras mais experientes que encontram nas escolas. Alguns raros estagidrios relatam o constran- gimento de nao saberem enfrentar tal debate, seja pela inseguranca tedrica sobre a questo, seja para manter a boa relagao com os regen- tes na escola, Segundo Pimenta (2001, p- 92): A atividade tedrica é que possibilita de modo indissocié- vel o conhecimento da realidade e 0 estabelecimento de finalidades para sua transformacio. Mas para produzir tal transformacio nao é suficiente a atividade teérica; ¢ preciso atuar praticamente, ° Ma Digitalizado com CamScanner

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