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Faculdade De Ciências Jurídicas E Gerenciais Alves Forte

JORGE ANTÔNIO DA COSTA CABRAL JUNIOR

CONSTRUÇÕES ECOLÓGICAS:
Maneiras de mitigar o desperdício de materiais e otimizar os custos da obra

Além Paraíba – MG
2017
JORGE ANTONIO DA COSTA CABRAL JUNIOR

CONSTRUÇÕES ECOLÓGICAS:
Maneiras de mitigar o desperdício de materiais e otimizar os custos da obra.

BACHARELADO EM ENGENHARIA CIVIL

Faculdade De Ciências Jurídicas E Gerenciais Alves Forte

PROFESSOR ORIENTADOR: CLAUDIO HENRIQUE MEURER DE RESENDE

Além Paraíba – MG
2017
JORGE ANTONIO DA COSTA CABRAL JUNIOR

CONSTRUÇÕES ECOLÓGICAS

Monografia apresentada a Faculdade de Ciências


Jurídicas e Gerenciais Alves Fortes – FACE-
ALFOR, mantida pela Fundação Educacional de
Além Paraíba – FEAP, como requisito parcial à
obtenção do título em Bacharel em Engenharia
Civil.

Banca examinadora:
_____________________________________________
Prof. Titular: Roque Hudson Silveira
_____________________________________________
Prof. Orientador: Claudio Henrique Meurer de Resende
_____________________________________________
Prof. Convidado: (Nome do Prof. Convidado)
__________
Nota

 Aprovado  Aprovado com restrições  Reprovado

_____________________________________________
Prof. Coordenador: Roque Hudson Silveira

Além Paraíba - MG

2017
Dedico este trabalho:
A Deus, pelo Dom da Vida,
Aos meus pais, por todo apoio e incentivo,
e a todos que de uma forma ou outra contribuíram
Para que eu pudesse concluir com êxito essa caminhada.
RESUMO

Atualmente a demanda por recursos naturais e crescente escassez destes recursos


tem feito crescer no ramo da engenharia a demanda por construções que ofereçam
compensações ecológicas. O presente trabalho tem por objetivo ilustrar construções que
utilizam materiais ecológicos e que a construção em si não impacta de maneira muito
significativa a natureza. As construções com cunho ecológico possuem essa
característica em todas as fases da vida útil do empreendimento sendo pensado em fase
de projeto até a demolição do empreendimento, sendo assim, o impacto causado ao
ambiente é pequeno se comparado a outros modelos construtivos. Aproveitar a mão de
obra dos próprios empreendedores também se torna uma alternativa para muitas
famílias que não possuem renda suficiente para efetuar a construção de sua moradia,
sendo assim, os projetos e metodologias de construção devem ser simples para que os
empreendedores, que não possuem conhecimentos adequados sobre os processos
construtivos, tenham capacidade de construir o empreendimento com ajuda técnica.
Também devemos ter uma preocupação com o aproveitamento da água das chuvas, da
energia solar e do reaproveitamento das águas residuais para amenizar o consumo de
recursos naturais e tornar a residência sustentável durante sua vida útil.

Palavras-chave: construção, ecológica, sustentável.


ABSTRACT

Currently, the demand for natural resources and its increasing shortage have
contributed to the growing call for engineers to develop projects that offer
ecological compensation measures. The present work aims to illustrate
constructions that use ecological materials that can limit the impact caused to
nature.
Eco-friendly building technics and materials have this characteristic. Utilized
throughout all project phases, from design to demolition, can greatly reduce the
impact caused to the environment. In addition, the creation of a workforce
employing homeowners themselves is also an alternative for many families that
lack the financial resources needed for the construction of their dwellings. Thus,
the methodologies and the construction projects require simplicity so that
homeowners, who do not possess suitable construction knowledge, can
become capable of building their own residences with technical support and
professional expertise.
We should also be concerned about the use of rainwater, solar energy and the
reuse of waste water to reduce the consumption of natural resources and make
a sustainable residence during its useful life.

Keywords: construction, ecological, sustainable.


Lista de Figuras

Figura 1 - Construção respeitando o relevo natural .......................................................... 9

Figura 2 - Fundações utilizando pedra ........................................................................... 12

Figura 3 - Construção em pau a pique ............................................................................ 15

Figura 4 - Técnica construtiva do pau a pique................................................................ 16

Figura 5 - Tijolos ecológicos .......................................................................................... 17

Figura 6 - Cura dos tijolos ecológicos ............................................................................ 18

Figura 7 - Máquina automatizada para produção de tijolos ecológicos ......................... 20

Figura 8 - Máquina manual para confecção de tijolos ecológicos ................................. 21

Figura 9 - Projeto de residência unifamiliar utilizando tijolos ecológicos ..................... 22

Figura 10 - Grauteamento dos tijolos ecológicos ........................................................... 24

Figura 11 - Componentes de um telhado verde .............................................................. 25

Figura 12 - Painéis solares e integração com telhado verde ........................................... 26

Figura 13 - Cisterna para a captação da água do telhado ............................................... 28

Figura 14 - Sistema de compostagem ............................................................................. 31

Figura 15 - Sistema de compostagem utilizando equipamento específico ..................... 32

Figura 16 - Materiais com grande potencial de reutilização .......................................... 33

Figura 17 - Lista de Materiais com características de utilização .................................... 34


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 7

2. CONSTRUÇÕES ECOLÓGICAS ........................................................................... 8

3. ELEMENTOS CONSTRUTIVOS ......................................................................... 11

3.1. FUNDAÇÕES ................................................................................................. 11

3.2. ESTRUTURAS ................................................................................................ 13

3.2.1. Construções de pau a pique ...................................................................... 13

3.2.2. Construções com tijolo ecológico............................................................. 16

3.3. TELHADOS DA EDIFICAÇÃO .................................................................... 24

3.3.1. Utilização de telhados verdes em residências ecológicas ......................... 25

4. TRATAMENTO DOS RESÍDUOS DA EDIFICAÇÃO ....................................... 29

4.1. TRATAMENTO DOS RESÍDUOS DURANTE A CONSTRUÇÃO ............ 32

5. CONCLUSÕES ...................................................................................................... 35

6. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 37
1. INTRODUÇÃO

A crescente procura por habitações no país fez crescer a necessidade de novas


construções e empreendimentos para atender a demanda por moradias, com isso,
diversos programas foram criados para facilitar o acesso da população as moradias ditas
“populares”, sendo assim, inúmeras empresas fornecem moradias com o auxílio desses
programas, porém não atingem toda a população e algumas famílias não possuem
condições financeiras de efetivamente participar desses programas. Outro aspecto
negativo é que com o aumento da procura por habitações populares o preço das mesmas
sobe significativamente e acaba gerando um desequilíbrio em diversas regiões do país,
sendo assim, as pessoas que deveriam ser beneficiadas pelos programas de habitação
começam a pegar, durante longos períodos de sua vida, a tão sonhada casa.

Pensando nisso o presente trabalho propõe uma construção voltada para o meio
ambiente e com a mão de obra basicamente familiar, como vem sendo feito em diversas
regiões do pais, para dar moradias de qualidade e conforto para a população que não
tem acesso a determinados programas sociais ou não possui renda necessária para a
construção de moradias utilizando os sistemas convencionais de construção.

O trabalho vai abordar alguns tipos de construções diferentes, algumas já


conhecidas pela maioria das pessoas e outras um pouco mais modernas, que utilizam
diferentes técnicas de concepção e diferentes formas de obtenção dos materiais. Sempre
será escolhido o material que impacte menos o meio ambiente e que esteja disponível no
local sendo utilizado na construção do empreendimento.

Também será abordado alguns elementos construtivos que deverão auxiliar os


moradores a obterem água para usos não potáveis, como a água de chuva, que poderá
ser utilizada em diversas aplicações. Os telhados verdes que podem amenizar a
temperatura do empreendimento sensivelmente a partir da proteção vegetal colocada
acima da estrutura, entre diversas outras aplicações e vantagens.

Também será considerada a importância de uma utilização ecológica durante a


vida útil do empreendimento, sendo assim, será criado alguns mecanismos para o
tratamento dos resíduos orgânicos gerados pelos moradores durante a vida útil da
estrutura, o sistema de esgoto com sua destinação final entre outros.

7
2. CONSTRUÇÕES ECOLÓGICAS

Podemos definir como construções ecológicas as construções que utilizam


materiais retirados do local de construção, ou próximos a ele, que utilizem um pequeno
grupo de pessoas, geralmente os próprios donos do empreendimento, e que causem o
mínimo dano ao meio ambiente durante as etapas de construção até em sua utilização.

Corrêa (2009) destaca que “a noção de construção sustentável deve permanecer


presente em todo o ciclo de vida do empreendimento, desde sua concepção até seu re-
qualificação, desconstrução ou demolição”.

Isso significa que o empreendimento não deve ser somente sustentável na sua
fase de construção, mas permanecer com as caraterísticas de sustentabilidade durante
sua utilização e posterior demolição, sendo assim, os materiais retirados após sua
demolição poderão ser reaproveitados em diversas outras aplicações.

Há então uma preocupação com diversos aspectos para iniciar o projeto desse
tipo de edificação, como: o local de sua implementação, a posição do sol, dos ventos e
das chuvas, sua função durante sua vida útil e suas caraterísticas ergométricas.

O local de implementação da edificação deve atender aos tipos de materiais


utilizados pela mesma, sendo assim, será necessária uma sondagem do solo para
determinar as características do mesmo e dimensionamento das fundações de acordo
com os materiais utilizados e as cargas que serão previstas no projeto. Uma construção
utilizando a pedra como elemento de vedação necessitará de uma capacidade de carga
das fundações muito mais elevada do que uma construção utilizando blocos de argila,
sendo assim, o tipo construtivo é de fundamental importância para determinar o tipo de
fundação e o conhecimento da capacidade do solo vai ajudar no dimensionamento da
fundação.

Além da capacidade do solo a importância do conhecimento das características


do local de implantação deverão nortear os desníveis do projeto, quando forem
necessários, em construções com terrenos desnivelados, caso típicos de regiões
montanhosas, será necessário adequar o projeto ao relevo natural do ambiente, pois, um
corte e aterre seria prejudicial ao tipo de construção proposto no trabalho, devendo ser o
empreendimento adaptável as condições do relevo local. A Figura ilustra a construção
de uma casa utilizando materiais ecológicos construída pelo biólogo Evandro

8
Sanguinetto na cidade de Piranguinho, no sul de Minas gerais, obedecendo o desnível
do terreno sem alterar as características do local.

Figura 1 - Construção respeitando o relevo natural

Disponível em: < http://1.bp.blogspot.com/-


KoBxybnbhq4/USnQNMtaqCI/AAAAAAAADns/cqyjTYiMOEU/s640/Arquiterura+e+design+sustent%
C3%A1vel.jpeg>. Acesso em: 10 set. 2017

A verificação da posição do Sol durante o dia é um dos aspectos importantes


para qualquer tipo de construção devendo ser feito um estudo solar para conhecer a
movimentação do Sol durante os diversos dias do ano e seus efeitos na edificação.

Os projetos de arquitetura, independentemente de serem considerados


sustentáveis ou não, devem dispor o Sol da melhor maneira possível com o intuito de
ajudar na insolação dos cômodos e no conforto térmico ao longo do dia.

Quando se trata de uma construção ecológica o Sol tem um papel importante na


geração de energia elétrica, aquecimento da água e no aquecimento dos ambientes
internos da edificação.

A geração de energia elétrica e o aquecimento da água deverá ser feita por


painéis solares que poderão ficar no telhado do empreendimento ou em outra área, de

9
acordo com o projeto. Essa utilização do Sol para a geração de energia é de fundamental
importância visto que a maioria desse tipo de empreendimento geralmente é afastado
dos centros urbanos não dispondo de iluminação e energia elétrica, sendo necessário
criar alternativas para a geração de energia e aquecimento da água.

Porém a energia fotovoltaica no Brasil ainda é um assunto pouco difundido e,


por causa da pouca procura pelo sistema, ele não é encontrado a um preço acessível para
a instalação sendo necessárias outras alternativas para a criação de energia elétrica como
a energia eólica, que também não é facilmente encontrada, ou a roda d’água.

O importante é utilizar a natureza como forma de geração de energia e evitar o


uso de energia elétrica vindo de fontes não renováveis, como a energia elétrica vinda da
queima de combustíveis fósseis.

Com relação as chuvas a estrutura deve ser capaz de garantir a estanqueidade do


empreendimento, sendo assim, o empreendimento deve ser um abrigo seguro contra as
tempestades e ventos fortes que podem ser ocasionados pelas intempéries.

No projeto estrutural do empreendimento devem ser previstas as rajadas de


vento de acordo com a implantação da estrutura, pois, geralmente essas estruturas são
construídas em campo, longe das cidades, sendo a ação do vento de baixa turbulência
em seus elementos de vedação, com isso, um correto dimensionamento da estrutura
deve prever as ações do vento na mesma e os esforços oriundos do mesmo garantindo a
segurança do empreendimento e de seus habitantes.

As chuvas também são fonte de água para fins não potáveis, como utilização da
água para regar jardins, descargas no vaso sanitário e até utilização no banho, porém,
deve-se ter o cuidado de tratar a água adequadamente para que esses processos possam
ser utilizados, pois as águas das chuvas carregam em si impurezas dispostas na
atmosfera que podem ser prejudiciais à saúde, sendo assim, dependendo da sua
finalidade devem ser estudadas e tratadas.

10
3. ELEMENTOS CONSTRUTIVOS

Em construções ecológicas, que visam o aproveitamento de materiais naturais e


sua posterior reutilização ao término da vida útil do empreendimento, são geralmente
empregados materiais naturais de fácil reutilização e que possam ser trabalhados de
maneiras distintas servindo para diversos propósitos.

John (2010) destaca que “não existe material de construção que não cause
impacto ambiental”, sendo assim, é necessária uma análise técnica na qual comprove
que o material atenderá as funções de projeto causando o mínimo impacto ambiental,
simultaneamente, o material deve ser adequado ao desempenho técnico e ser
economicamente viável.

Veremos a seguir alguns materiais que são utilizados em construções


sustentáveis.

3.1. FUNDAÇÕES

As fundações são as partes da estrutura responsável pela distribuição das cargas


da estrutura para o solo, ter uma fundação bem dimensionada é fundamental para evitar
problemas estruturais, como o recalque diferencial. Dessa forma, deverá ser feita uma
análise do tipo de solo para se conhecer a fundação adequada para seu
dimensionamento.

Como o trabalho visa as construções ecológicas vamos considerar as fundações


feitas a partir de pedra. Esse tipo de fundação consegue suportar cargas de grande
intensidade e durabilidade.

Atualmente o modelo mais difundido de fundações são em concreto armado, que


nada mais é do que um tipo de pedra artificial que contém elementos de reforço, no caso
o aço. Porém, como se trata de fundações, podemos utilizar a pedra e fazer uma
analogia com as fundações de bloco de concreto, que nada mais são do que concreto
simples moldado in loco com área de contato com a superfície do terreno dimensionada
para suportar as cargas impostas pelo projeto, com esse pensamento, é necessária uma
fundação em pedras similar à de bloco de concreto que atenda as cargas características
do projeto.

11
Para melhor aproveitamento das fundações em pedra é comum elevar a fundação
acima do solo para melhorar a durabilidade das paredes, pois estas ficaram distantes do
solo impedindo a percolação da água nas paredes pelo efeito da capilaridade. A Figura
ilustra uma construção utilizando as pedras como elemento de dispersão de cargas para
o solo.

Figura 2 - Fundações utilizando pedra

Disponível em: <http://ciclovivo.com.br/public/img/noticias/images/casapetextrema8.jpg>

Além disso, as pedras podem servir de material para a confecção de elementos


de vedação, como paredes

12
3.2. ESTRUTURAS

Para construção de casas ecológicas podemos dispor de diversos tipos de


materiais para a construção das estruturas, sendo os mais comuns a madeira, a argila e
as pedras. Vamos abordar nesse trabalho apenas a construção de elementos estruturais
de vedação e para suportarem os pesos próprios do telhado e das estruturas dos painéis
solares, sendo assim, vamos utilizar modelos de construção onde a argila é a matéria
prima predominante.

As construções ecológicas têm como principal filosofia impactar o mínimo


possível ao meio ambiente, sendo assim, não se deve pensar em múltiplos pavimentos
nesse tipo de construção devido ao seu maior impacto no ambiente e sua maior demanda
por energia, sendo assim, deve-se pensar em construções de poucos pavimentos para
atender ao nosso sistema estrutural adotado.

Serão apresentados dois tipos de construções que podem ser utilizados com mão-
de-obra familiar que são as construções utilizando a técnica do pau a pique ou as
construções com tijolos ecológicos.

3.2.1. Construções de pau a pique

As construções em argila são denominadas popularmente como construções em


pau a pique, sendo uma mistura de argila com água que deverá ser moldada a uma
malha de madeira, ou bambu. Costuma-se acrescentar outros tipos de materiais a
mistura com argila para se conseguir propriedades de pega ou adensamento.

Para utilizar a argila nesse tipo de construção é necessária conhecer sua


trabalhabilidade, sendo assim, a argila deve ter uma consistência elástica quando úmida
para aderir bem a malha de madeira.

Para a construção da malha de madeira, ou bambu, é comum dispor de


quadrados com 15 centímetros de lado que deverão ser preenchidos com o barro
oriundo da mistura supracitada e esperar que este fique seco para poder dar o
acabamento.

13
Ghavami e Barbosa (2010) destacam que o bambu está presente constantemente
nas paisagens brasileiras e em toda a zona tropical e parte da zona subtropical do
planeta, sendo assim, essa espécie vegetal possui um potencial enorme para ser
implantada na construção civil. Os autores ainda citam as características favoráveis da
utilização de bambu na arquitetura e na engenharia, como:

 Baixa energia de produção se comparada a outros materiais


como aço, concreto e madeira, o que pode resultar em baixo
custo da construção;
 Curto ciclo de crescimento com grande e constante
produtividade por bambuzal;
 Baixo peso específico, o que reduz o custo de seu manuseio e
transporte;
 Forma tubular acabada, estruturalmente estável para as mais
diversas aplicações construtivas, inclusive com tubos
hidráulicos;
 Resistência mecânica compatível com os esforços solicitantes
a que estaria submetido o bambu em estruturas
adequadamente dimensionadas;
 Aproveitamento quase total, e os poucos resíduos gerados
com seu emprego são biodegradáveis, reincorporando-se
facilmente à natureza;
 Possibilidade de se curvar o colmo (caule);
 Superfície lisa e coloração atrativa;
 Durabilidade dentro das expectativas normais de vida dos
materiais convencionais, relativamente às condições
ambientais onde é utilizado, seja ao ar livre ou envolvido por
outros materiais. (GHAVAMI; BARBOSA, 2010)

Segundo Ghavami e Barbosa (2010) o bambu possui uma enorme resistência,


tanto a compressão como a tração, está última podendo chegar a 300 Mpa, ou seja, mais
resistente do que uma barra lisa de aço de CA-25 e um pouco mais da metade de uma
barra de CA-50, sendo assim, pode-se considerar o material de elevada resistência.

Como toda a estrutura é feita com argila, obtida através do solo, é necessária
uma impermeabilização da mesma para evitar o contato com a água, principalmente a
água oriunda das chuvas, que pode fazer com que a argila seja novamente molhada e
perca sua consistência desagregando do molde de madeira.

Essa impermeabilização pode ser feita através da utilização de óleo


impermeabilizante, mantas ou até com revestimentos com maior espessura, porém, o
ideal é não sobrecarregar as estruturas que não possuem elevada capacidade resistente.

14
Deve-se proceder do mesmo modo em áreas internas molhadas, como banheiros e
cozinhas.

Também se deve ter um cuidado especial aos beirais dos telhados, que devem
garantir que as águas das chuvas não molhem as paredes externas, sendo assim, são
recomendados beirais de, no mínimo, 80 centímetros para evitar essa exposição as
chuvas.

A Figura ilustra uma parede executada com a técnica de pau a pique utilizando
bambu como malha.

Figura 3 - Construção em pau a pique

Disponível em:
<http://static.wixstatic.com/media/6e947a_74a143b9d44445f0bc41088de5a04ac7.jpg_srz_299_224_85_2
2_0.50_1.20_0.00_jpg_srz>.

Deve-se ter o cuidado com a construção de desempeno das paredes, pois, a falta
de retilineidade pode causar um mal-estar visual no usuário e o mesmo pode ter a
percepção de que a estrutura não está segura para a habitação, sendo assim, é necessária
a correção das paredes para impedir imperfeições.

15
Outro aspecto importante é com relação aos suportes das paredes, que devem ser
executados em uma distância máxima de 2 metros, criando painéis de bambu, conforme
ilustra a figura abaixo.

Figura 4 - Técnica construtiva do pau a pique

Disponível em: <https://1.bp.blogspot.com/-gRZMSYlItd0/VtC1hscmqcI/AAAAAAAAhSs/--


2rwH84HA8/s1600/pau_a_pique_01.jpg>. Acesso em: 12 set. 2017.

3.2.2. Construções com tijolo ecológico

Uma alternativa que está ganhando bastante espaço no mercado é o chamado


tijolo ecológico, ou o tijolo de solo-cimento, que basicamente é composto por argila
com o aglutinante cimento, ele pode ser confeccionado pelo proprietário da obra
utilizando os materiais citados, atualmente existem diversos tipos de equipamentos,
manuais e automatizados, para a confecção de tijolos ecológicos, sendo assim, encontra-
se facilmente a disposição para a venda do produto final ou dos equipamentos para sua
confecção, com isso, diminui-se sensivelmente os custos na aquisição de tijolos, o
consumo de argamassa para unir os elementos de vedação, a execução e a necessidade
16
de uma estrutura em concreto armado para distribuir o peso das estruturas. A figura
ilustra alguns tipos de tijolos ecológicos vazados.

Figura 5 - Tijolos ecológicos

Disponível em:
<http://www.tijolo.eco.br/static/media/uploads/fabrica/.thumbnails/tijolos_furados.jpg/tijolos_furados-
600x450.jpg>. Acesso em: 10 set. 2017.

Segantini e Alcântara (2010) destacam que a dosagem do solo-cimento


compactado depende da fixação de três variáveis: quantidade de cimento, quantidade de
água e massa específica aparente seca máxima. A fixação desses valores dependerá da
utilização do elemento em questão.

Pinto (1980, apud SEGANTINI; ALCÂNTARA, 2010) destaca que os ingleses


acham adequado usar teores de cimento capazes de conferir, aos sete dias de cura, uma
resistência a compressão igual, ou superior, a 1,75 MPA.

Segantini e Alcântara (2010) afirmam que a resistência do tijolo de solo-cimento


é superior ao do tijolo de barro cozido, e a qualidade do tijolo de solo-cimento é

17
bastante superior devido o material apresentar textura uniforme, dimensões regulares e
superfície planas.

Ainda de acordo com Segantini e Alcântara (2010) os tijolos ecológicos são


atrativos do ponto de vista ecológico pois não é necessário o processo de cozimento
para a obtenção dos mesmos, como é feito no tijolo de barro cozido. Nesse processo de
cozimento são consumidas grandes quantidades de madeira ou de óleo combustível,
como acontece no caso dos tijolos produzidos em cerâmicas e olarias. O processo que o
tijolo-ecológico necessita para a sua confecção é o processo de cura, esse processo que é
necessário em estruturas de concreto consiste na colocação de água após um certo
endurecimento do componente para evitar que as reações químicas cessem, para que o
aglomerante possa ter água suficiente para cumprir com suas funções químicas e
fornecer a resistência necessária ao material. A figura ilustra o processo de cura dos
tijolos ecológicos.

Figura 6 - Cura dos tijolos ecológicos

Disponível em: <https://ecomaquinas.com.br/media/wysiwyg/ecomaquinas/como-


curar/cura_manual.jpg>. Acesso em: 20 set. 2017.

18
Segundo a NBR 8491 (ABNT, 1984 apud SEGANTINI; ALCÂNTARA, 2010)
a resistência média a compressão dos tijolos não deve ser inferior a 2,0 Mpa aos sete
dias e a sua absorção de água média deve ser inferior a 20%. Sendo assim Segantini e
Alcântara (2010) dizem que os solos mais adequados para a confecção de tijolos-
ecológicos são os solos que possuem: 100% dos grãos passando na peneira 4,8 mm; de
10 % a 50% passando na peneira 0,075 mm; limite de liquidez menor, ou igual, a 45% e
índice de plasticidade menor, ou igual, a 18%. Com essas características é possível a
obtenção de um solo que possua um menor consumo de cimento e os tijolos resultam
em uma melhor qualidade.

Atualmente no mercado existem diversos tipos de prensa que são capazes de


moldar os tijolos ecológicos, podendo ser manuais ou automatizadas. Também é
possível confeccionar diferentes tipos de tijolos com uma só prensa, basta trocar os
moldes metálicos que acompanham o conjunto. A figura abaixo ilustra uma máquina
automatizada para a confecção de tijolos-ecológicos.

19
Figura 7 - Máquina automatizada para produção de tijolos ecológicos

Disponível em: <https://www.sahara.com.br/images/produtos/maquinas-de-tijolos-


ecologicos/prensa-de-tijolos-ecologicos-ativa.jpg>. Acesso em: 08 set. 2017.

Utilizando o argumento de que é possível utilizar a mão-de-obra dos


empreendedores podemos utilizar prensas manuais para a confecção dos tijolos-
ecológicos, essas não necessitam de energia elétrica para funcionar sendo necessária a
compressão do tijolo através de um impulso colocado sob a alavanca do sistema, a
figura ilustra uma máquina de tijolos-ecológicos manual.

20
Figura 8 - Máquina manual para confecção de tijolos ecológicos

Disponível em:
<http://www.engemaquinas.com.br/partials/thumb.php?mv=direita&mh=baixo&w=615&h=530&img=../i
magens/prensas-Modelo-Speed1/prensas-Modelo-Speed118604.jpeg>. Acesso em: 20 set. 2017.

Segantini e Alcântara (2010) destacam que o aprimoramento da fabricação de


tijolos tem contribuído para a racionalização das técnicas de construção, possibilitando a
elaboração de projetos com menor custo e maior qualidade, sendo assim, é possível
notar uma diminuição sensível nos custos da produção e também uma melhora na
qualidade dos materiais, sem falar na otimização da matéria prima e eliminação do
desperdício.

Os tijolos feitos com encaixes são os mais adequados para construções feitas
pelos próprios empreendedores, pois, são simples de serem manuseados e colocados em
seus respectivos locais, bastando um projeto simples de colocação das fiadas dos tijolos,

21
também proporcionam maior rapidez na execução das alvenarias. A figura ilustra um
projeto simples da colocação de uma fiada dos tijolos ecológicos.

Figura 9 - Projeto de residência unifamiliar utilizando tijolos ecológicos

Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-1Pco9D-


6zP8/UaBW6WFp_6I/AAAAAAAAAGo/FLluUj8FmGo/s1600/Planta_1%C2%AA_fiada.jpg>. Acesso
em: 25 set. 2017.

Segundo Segantini e Alcântara (2010) o sistema de tijolos com encaixe possui as


seguintes vantagens:

 Execução das edificações com aplicação das técnicas da


alvenaria estrutural;

22
 Redução da necessidade de rasgos nas paredes e do consumo de
tubulações nas instalações hidráulicas e elétricas, que podem ser
embutidas nos furos dos tijolos;
 Redução da necessidade de fôrmas, pois os furos coincidentes
dos tijolos possibilitam a execução de canaletas, vergas e colunas
grauteadas;
 Execução de paredes com tijolos aparentes, dispensando-se a
utilização de argamassas de aderência, emboço e reboco;
 Aplicação de argamassa de gesso ou massa única diretamente
sobre os tijolos;
 Possibilidade de assentamento de azulejos sem necessidade de
chapisco e massa grossa;
 Possibilidade de dispensa do uso de argamassa de assentamento
dos tijolos.

Com o sistema de encaixe é simples a superposição dos tijolos para a confecção


dos elementos de vedação e suporte das estruturas do telhado, sendo possível nesse
sistema a concepção de múltiplos andares, porém, como o escopo do trabalho é o de
utilizar a mão-de-obra familiar pensou-se em apenas um pavimento.

É comum especificar nos projetos a colocação dos grautes, das instalações


elétricas e hidráulicas para evitar o retrabalho nas estruturas pois, como se trata de um
material estrutural, não devem ser feitas modificações profundas no projeto que poderá
afetar outras etapas do mesmo.

Vale lembrar que o graute não funciona como um pilar de concreto armado, ou
seja, não possui a função primária de transmitir esforços de compressão para as
fundações, sendo assim, sua função principal refere-se a evitar a movimentação
horizontal das alvenarias, sendo assim, o graute é bastante fluído e não deve ser
considerado no cálculo como elemento estrutural. A figura ilustra a colocação de graute
em um furo da alvenaria.

23
Figura 10 - Grauteamento dos tijolos ecológicos

Disponível em: <https://i.pinimg.com/600x315/cd/be/d9/cdbed96a00c6f78e0b8d3c2100282b5e.jpg>.


Acesso em: 01 out. 2017.

3.3. TELHADOS DA EDIFICAÇÃO

Os telhados de uma edificação ecológica devem ser desenvolvidos para funções


elementares, como o da proteção da água das chuvas, insolação e outras funções que
telhados normais desempenham, porém, estes devem ir mais longe e proporcionar
outras funções interessantes para a edificação, como a colocação de painéis solares,
captação das águas pluviais ou sua utilização como telhado verde para integrar a
residência ao ambiente.

24
3.3.1. Utilização de telhados verdes em residências ecológicas

A criação de telhados com a função de reproduzir a vegetação local favorece a


manutenção do ecossistema local e minimiza o impacto causado ao ambiente, os
telhados verdes podem ser definidos, de acordo com Peck (1999, apud BEZERRA;
CURI, 2009), como estruturas de telhado que agregam em sua composição uma camada
de solo e outra camada de vegetação baseando seu sistema construtivo em técnicas de
aplicação em camadas.

Essas camadas são necessárias para a sustentação da vida dos vegetais que serão
introduzidos no telhado. A figura ilustra as diversas camadas de um telhado verde,
sendo elas a vegetação, que deverá ser nativa do local, o substrato, que também poderá
ser oriundo do local, o filtro, necessário caso o sistema seja adaptado para captar a água
das chuvas, a drenagem, necessária para conduzir a água das chuvas as poços de
armazenamento, a proteção mecânica, para evitar qualquer tipo de dano a estrutura, a
membrana antirraiz, para evitar que as raízes destruam a laje ou o telhado, a membrana
a prova d’água, para evitar a entrada de água na edificação.

Figura 11 - Componentes de um telhado verde

Disponível em: <http://2030studio.com/wp-content/uploads/2015/02/telhado-verde-camadas2.jpg>.


Acesso em: 07 out. 2017.

25
Como se trata de uma residência o telhado-verde não deve possuir vegetações
que possuam grande altura, sendo assim, deve ser limitado a vegetações rasteiras e de
pouca altura, pois o processo construtivo foi pensado em atender somente ao peso do
telhado e dos painéis solares, sendo assim, quando houver precipitação haverá também
o peso da água pluvial e, se a vegetação for muito alta, haverá um aumento de cargas
não previsto em projeto. A figura ilustra um telhado verde, composto basicamente por
gramíneas, integrado a um sistema de painéis solares.

Figura 12 - Painéis solares e integração com telhado verde

Disponível em: <https://br.habcdn.com/photos/business/big/20160726-153008-1242819.jpg>.


Acesso em: 07 out. 2017.

Percebemos que com esse sistema construtivo podemos obter a água pluvial com
suas impurezas já filtradas pelo substrato do telhado verde, sendo assim, podemos
utilizar 100% da água recolhida através do telhado, o que não é possível nos sistemas
convencionais de captação de águas pluviais, pois os mesmos necessitam de um tempo
mínimo para o início da captação da água das chuvas visto que as primeiras
precipitações carregam grandes índices de impurezas que não são filtradas pelo sistema,
sendo assim, uma parte importante da água pluvial é perdida.

26
A qualidade da água pluvial coletada em um telhado urbano é afetada
por diferentes fatores, tais como: condições ambientais do entorno
(proximidade de áreas industriais, grandes rodovias, presença de
pássaros ou roedores); condições meteorológicas (temperatura,
períodos anteriores de seca e padrões de chuva, intensidade da chuva);
material da cobertura do telhado (laje de concreto, telhas cerâmicas,
metálica, coberturas verdes); condições de coleta e armazenamento
(nível de sujeira do local, tempo de armazenamento da água no
reservatório, material que é feito o reservatório) e existência de
tratamento da água no processo de captação da água pluvial (emprego
de dispositivos de descarte de água dos primeiros instantes da
precipitação, de filtros para folhas, de processos de desinfecção por
radiação, ultravioleta, cloração, filtro lento de areia). O tipo de
tratamento, a ser conferido à água pluvial dependerá das
características da água coletada e do uso final não potável pretendido
no edifício. (IBIAPINA et. al., 2010, apud NETO, 2012)

A NBR 15527 (ABNT, 2007) normatiza os parâmetros para a utilização da água


das chuvas captada para utilizações para fins não-potáveis incluindo itens como:
descarga de bacias sanitárias, irrigação de gramados e plantas, lavagem de veículos,
limpeza de calçadas e ruas, entre outros usos. O objetivo da norma é estabelecer
requisitos mínimos para utilização da água das chuvas para fins não-potáveis e seu
tratamento para suas utilizações específicas, sendo assim são definidos diferentes
processos de tratamento para os mais diversos usos da água, cada utilização requer um
processo específico que deverá ser cumprido para atender as exigências da norma.

A utilização dessa água captada pode servir para a manutenção do telhado verde
e dos jardins, e também para os fins previstos em na norma citadas anteriormente,
porém, para as finalidades de utilização em bacias sanitárias deve-se ter um cuidado
muito especial pois a água da bacia sanitária pode entrar em contato com a pele humana,
e se a mesma não estiver corretamente tratada, pode causar algum tipo de problema de
saúde ao usuário, por isso, é necessário ter os cuidados de tratamento da água e
armazenamento.

Para a captação e armazenamento das águas pluviais podem ser utilizados


sistemas simples, compostos por tubulações e caixa de armazenamento, que podem ficar
aparentes ou serem soterradas, porém, recomenda-se deixar as caixas aparentes pois as
mesmas colocadas abaixo da terra necessitaram de bombas para fazer com que a água
retorne ao nível do solo e possa ser utilizada através de mangueiras. A figura ilustra um
sistema de captação simples, composto por caibros, tubulação e caixa armazenadora que

27
possui um registro inferior, uma mangueira, que pode ser desacoplada, e um extravasor,
caso o nível da água ocupe todo o volume disponível da caixa armazenadora.

Figura 13 - Cisterna para a captação da água do telhado

Disponível em: <http://casadacisterna.com.br/wp-content/uploads/2016/10/Foto.png>. Acesso


em: 27 set. 2017.

O ideal é fazer um estudo da pluviometria da região para o correto


dimensionamento do sistema de armazenamento de água.

Com a utilização do telhado verde o sistema seria um pouco alterado pois não
haveria o caibro, como ilustrado na figura acima, os tubos coletores levariam a água
direto para o sistema de armazenamento.

28
4. TRATAMENTO DOS RESÍDUOS DA EDIFICAÇÃO

Um construção ecológica deve ser pensada em manter o equilíbrio com o meio


ambiente desde sua fase de construção até sua demolição, quando as características de
projeto não existirem pelas ações de intemperes ou utilização da construção, sendo
assim, os diversos resíduos gerados pelos utilizadores do empreendimento devem ter
um destino ecologicamente correto e, durante a utilização da estrutura, deve-se ter o
cuidado de fazer com que esses resíduos sejam corretamente reciclados ou até
reaproveitados nas diversas atividades em que o empreendimento está submetido. Como
se trata da ideia de uma residência familiar os resíduos devem ser utilizados na horta,
em jardins, entre outras inúmeras aplicações.

De nada adianta uma construção com finalidade ecológica sem que os


utilizadores possuam essas ideias, pois, se isso não ocorrer somente a etapa da
construção será realmente ecológica, sendo que na sua fase de utilização ela se
comportará como uma residência comum. Para tornar a residência também ecológica
durante sua utilização faz-se necessário que os ocupantes da mesma possuam
conhecimento sobre a construção e tenham acesso a noções básicas de educação
ambiental. Após a construção, pode-se pensar em soluções simples que faça com que os
moradores tenham rotinas e tarefas a desempenhar durante a vida útil do
empreendimento, que sejam criados espaços para que o mesmo possa desenvolver
atividades que reduzam o volume de lixo gerado, áreas onde seja necessária matéria
orgânica, como uma horta, por exemplo, entre diversas outras atividades.

A educação ambiental tem se mostrado a chave fundamental


para o sucesso dos programas de reciclagem, pois propicia a
aprendizagem do cidadão sobre o seu papel como gerador de
resíduos, atingindo escolas, repartições públicas, residências,
escritórios, fábricas, lojas, enfim, todos os locais onde os
cidadãos geram resíduos. (SHALCH et. al, 2002)

Russo (2003) diz que a reciclagem deve ser fomentada nos diversos níveis
sociais para que a matéria prima, que deu origem ao produto utilizado, possa ser
novamente utilizada e ter suas características renovadas em novos produtos ou
aplicações. Existem diversas vantagens para a reciclagem de resíduos como: diminuição
da deposição dos resíduos, diminuição do acúmulo de lixo em aterros sanitários,
melhora nas condições de saúde, diminuição de impactos causados ao meio ambiente,

29
economia de energia e de recursos naturais, entre diversas outras, incentivo a coleta
seletiva, entre várias outras.

Atualmente a coleta seletiva tem estado presente nas diversas cidades do país,
sendo assim, os moradores podem selecionar seus materiais, que não terão nenhuma
reutilização pelos mesmos, e destinar a coleta seletiva onde serão reutilizados ou
reciclados. Jardim (1995, apud SHALCH et. al, 2002) considera que essa estimulação
para a coleta seletiva deve ser pensada se houver na região mercado para o escoamento
desse tipo de material e salienta que se não houver mercado não valerá a pena o esforço
de separa-lo pois o mesmo será enterrado em aterro sanitário.

Para as residências ecológicas será criado um espaço destinado a compostagem


dos resíduos orgânicos para utilização como adubo. Segundo Kiehl (1979, apud
SHALCH et. al, 2002) são necessários dois estágios para realizar a transformação dos
resíduos orgânicos em adubo: a digestão que seria a fase de fermentação do material, e a
maturação onde a matéria atinge condições perfeitas para utilização como fertilizante.

Será necessária a criação, no próprio jardim da residência, de uma estrutura,


podendo ser esta em concreto, argila, ou material plástico, para fazer a compostagem da
matéria orgânica. Os moradores e utilizadores dessa residência devem saber
informações de como fazer esse processo e de quais resíduos podem sem colocados para
obter o composto, sendo assim, pode-se pensar em pequenos panfletos explicativos
colocados juntos ao local onde será feita a compostagem para dar informações de como
esta será feita e de quais maneiras o processo ocorre.

O panfleto abaixo pode ser utilizado como exemplo, na Figura ilustra diversas
informações de como a compostagem deverá ser feita e de quais resíduos devem ser
evitados para realizar o processo, além dos cuidados que se deve ter durante o processo
e sua duração.

30
Figura 14 - Sistema de compostagem

Disponível em: <https://i.pinimg.com/736x/23/5d/96/235d96d25df203c3e65001ebc72e6736--eco.jpg>.


Acesso em 08 out. 2017.

Em países desenvolvidos existem equipamentos que auxiliam na compostagem


de resíduos orgânicos residenciais para sua futura reutilização, a ideia é criar um espaço
no jardim da residência que utilize o mesmo princípio para diminuir o volume de lixo
gerado pela residência. A Figura ilustra um sistema canadense de compostagem feito
em material plástico e colocado próximo a área de utilização da compostagem, no caso
um pequeno jardim em uma residência.

31
Figura 15 - Sistema de compostagem utilizando equipamento específico

Disponível em: <https://canadasegundoosbrasileiros.files.wordpress.com/2015/04/earthmachine.jpg>.


Acesso em: 08 out. 2017.

4.1.TRATAMENTO DOS RESÍDUOS DURANTE A CONSTRUÇÃO

Durante a construção do empreendimento são desperdiçados diversos resíduos


que poderiam ser reaproveitados no processo. Mesmo se tratando de uma construção
ecológica, pensada em minimizar a utilizar de recursos e gerar o mínimo possível de
resíduos. Quando possível, os mesmos devem ser reutilizados nas etapas de construção,
caso não seja possível essa reutilização os resíduos devem ser encaminhados aos
destinos corretos de acordo com a legislação vigente no país. A Figura representa alguns
resíduos que são obtidos na fase de construção do empreendimento que possuem um
alto potencial de reutilização.

32
Figura 16 - Materiais com grande potencial de reutilização

Fonte: FERREIRA (2000)

Segundo Ferreira (2000) as vantagens desse tipo de reutilização são a economia


por dispensarem a compra de novos materiais para a mesma finalidade, a economia com
a redução do custo de remoção dos resíduos e o ganho ambiental. Percebemos que com
essa prática o custo da obra pode ser reduzido, porém, sem auxílio técnico na etapa de
construção essa prática não será viável, pois cabe ao responsável ter a imaginação de
realocar os materiais desperdiçados em outras utilizações dentro do empreendimento,
sem essa visão não haverá reutilização dos materiais e os mesmos serão encaminhados
de acordo com a legislação vigente.

Ferreira (200) destaca que os resíduos que podem ser utilizados são: blocos de
concreto, blocos cerâmicos, argamassas, tijolos, madeira, plásticos, papelão, metal,
entre outros. Para melhorar a visualização da reutilização desses materiais o autor criou
uma lista onde contém qual material pode ser reaproveitado e em qual finalidade. O
autor destaca que nessa lista há apenas resíduos onde as características dos materiais
não possuem boas condições de uso onde os mesmos sofreram avarias.

33
Figura 17 - Lista de Materiais com características de utilização

O resíduo pode ser reusado?


Lista de Materiais Sim, para o
Não Sim, para outro fim
mesmo fim
Arame recozido X Reciclagem
Areia X
Brita X
Cal Bloco de entulho
Chapa de compensado Combustível
Cimento Bloco de entulho / Piso
Ferro para construção X Reciclagem
Tijolo maciço Bloco de entulho / Piso
Caibro de Madeira X Combustível
Telha cerâmica Bloco de entulho / Piso
Tubo de PVC Reciclagem
Tinta óleo X
Tinta Acrílica X
Esmalte sintético X
Adaptado de: FERREIRA (2010)

Com a reutilização desses resíduos podemos diminuir sensivelmente o consumo


de novos materiais para a mesma finalidade, percebemos assim, que mesmo que o
material não seja utilizado para a finalidade na qual foi concebido ele ainda contribuirá
com o empreendimento reduzindo o preço da aquisição de outros materiais.

O conhecimento do tipo de material e de sua utilização são de extrema


importância para seu correto manejo e utilização em obra, perceba que devemos tomar
cuidado com alguns materiais específicos, como as tintas, por exemplo, pois elas não
devem ser reutilizadas e devem ser bem armazenados pois podem contaminar o solo
caso haja algum tipo de vazamento em seu recipiente ou quando mal manuseadas.

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5. CONCLUSÕES

As construções ecológicas e sustentáveis são um pequeno início de um mercado


crescente na engenharia civil, cada vez mais vai se buscar por construções desse tipo
que mitiguem os desperdícios de materiais durante a fase de construção e que facilitem
a obtenção de água, energia, conforto térmico, entre outros, pelos moradores da
residência.

Em alguns países, principalmente na Europa, já existem leis onde habitações e


empreendimentos devem ser construídas com pensamento ecológico podendo optar por
diversos tipos de soluções, desde as mais simples, como telhados verdes, até as mais
tecnológicas, como a implantação de painéis solares para criação de energia elétrica.
Acreditamos que essa será uma tendência mundial e que em breve o Brasil vai
acompanhar essa crescente tendência por poupar os recursos naturais e criar alternativas
para a obtenção de alguns tipos, como água para utilização não-potável e a própria
energia elétrica, sendo assim, é um novo mercado que está começando a crescer e que
possui um potencial muito alto de se tornar uma forte tendência em um futuro próximo.

Na engenharia civil haverá a necessidade de profissionais qualificados que


dominem as técnicas de construção e os modelos ecológicos para elaborar projetos,
acompanhar a execução e orientar as pessoas sobre as maneiras na qual o
empreendimento deve ser utilizado, sem falar que após a vida útil do empreendimento o
mesmo deve ser reciclado ou reaproveitado da melhor forma possível sem impactar o
ambiente. Os profissionais devem se qualificar para essa nova realidade e buscar
alternativas economicamente viáveis para implantar nos empreendimentos sem
aumentar significativamente os custos da obra.

Com a crescente falta de recursos a reutilização dos mesmos é uma maneira


eficiente de evitar o desperdício e diminuir os custos da criação do empreendimento,
sendo assim, são necessárias pessoas que conheçam as técnicas e saibam reaproveitar
esses materiais que são gerados durante as diversas etapas da obra em si.

Também é necessário que os moradores do empreendimento tenham rotinas que


busquem a manutenção da residência de maneira sustentável, mesmo após sua
construção, pois, para uma construção ser efetivamente ecológica é necessário que a

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mesma mantenha essas características até a sua demolição, quando não será mais
possível utilizar a mesma.

Percebemos que a utilização da mão de obra dos próprios empreendedores é


necessária para diminuir os custos da construção da edificação, porém, os mesmos
devem ser treinados e acompanhados por profissionais especializados e alguns serviços
não poderão ser feitos pelos mesmos devido ao conhecimento técnico necessário ou ao
risco envolvido, porém, mesmo com todas essas limitações, ainda é possível reduzir
significativamente o custo com mão de obra, dependendo do tipo de projeto que será
empregado.

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6. REFERÊNCIAS

CORRÊA, Lásaro Roberto. Sustentabilidade na Construção Civil. UFMG, 2009.


Disponível em: <
http://www.cecc.eng.ufmg.br/trabalhos/pg1/Sustentabilidade%20na%20Constru%E
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construção civil. Minas Gerais, Instituito Centro de Capacitação e Apoio ao
Empreendedor, 2000. Disponível em:
<http://www.centrocape.org.br/arquivos/41a3307aa6853f2054ff37d758e3e69d.pdf>
. Acesso em: 08 out. 2017.

GHAVAMI, Khosrow; BARBOSA, Normando Perazzo. Bambu. In: Materiais de


construção civil e princípios de ciências e engenharia de materiais São Paulo:
IBRACON, 2010

JOHN, V. M. Materiais de Construção e o Meio Ambiente. In: Materiais de


construção civil e princípios de ciências e engenharia de materiais. São Paulo:
IBRACON, 2010.

PINTO, C. S. Evolução das pesquisas de laboratório sobre solo-cimento. 4. Ed.


São Paulo: ABCP, 1980. In: SEGANTINI, A. Anderson da Silva; ALCÂNTARA,
M.A. de Morais. Solo-cimento e solo-cal. In: Materiais de construção civil e
princípios de ciências e engenharia de materiais. São Paulo: IBRACON, 2010

RUSSO, Mário Augusto Tavares. Tratamento de resíduos sólidos. Universidade


de Coimbra, 2003. Disponível em:
<http://www1.ci.uc.pt/mhidro/edicoes_antigas/Tratamentos_Residuos_Solidos.pdf>.
Acesso em: 08 de out 2017.

SCHALCH, Valdir; LEITE, Wellington Cyro de Almeida; FERNANDES JÚNIOR,


José Leomar; CASTRO, Marcus Cesar Avezum Alves de. Gestão e
Gerenciamento de Resíduos Sólidos. São Carlos: Universidade de São Paulo,
2002. Disponível em:
<http://www.deecc.ufc.br/Download/Gestao_de_Residuos_Solidos_PGTGA/Apostil
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SEGANTINI, A. Anderson da Silva; ALCÂNTARA, M.A. de Morais. Solo-


cimento e solo-cal. In: Materiais de construção civil e princípios de ciências e
engenharia de materiais. São Paulo: IBRACON, 2010

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