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Antigo Sistema Colonial

Estrutura da colonização
[ Antigo Sistema Colonial ]
O Antigo Sistema Colonial consiste em um modelo característico da colonização da
América, compreendido entre os séculos XVI e XIX, que conformou-se de acordo com as
condições materiais e fenômenos concretos da vida colonial no Novo Mundo. Sua racionali-
zação pode ser utilizada como um caminho para apreender, de forma geral, o fenômeno co-
lonial em si, tal como ocorreu, por exemplo, no Brasil. Alguns âmbitos pertinentes para a
constituição de tal modelo são: seus principais agentes, relações de poder instituídas, aspec-
tos socioeconômicos, entre outros.
[ Colonizacao ]
Colonização é, em si, um conceito amplo, podendo consistir em um movimento de ocupa-
ção e povoamento de novos territórios. Já o Antigo Sistema Colonial, termo já consagrado
entre historiadores, refere-se especificamente ao momento pós Renascimento e anterior à
Revolução Francesa, durante a era mercantilista, estando em conforme com tal modelo eco-
nômico.

É possível interpretar a colonização do Brasil a partir do conceito de empresa colonial,


ao passo que as bases políticas, sociais, econômicas e geográficas, nas quais seria fundada
a colônia, estão alinhadas com as demandas do mercado Europeu, dos interesses da iniciati-
va privada e da Coroa.
[ Contexto ]
Formação das monarquias absolutistas (Antigo Regime) - Centralização política, estrutu-
ração administrativa interna.

Advento do mercantilismo e fortalecimento de uma classe burguesa empreendedora. (i-


niciativa privada submetida ao poder da Coroa).

Desenvolvimento do comércio continental europeu, majoritariamente terrestre com


grandes rotas comerciais Europa-África-Ásia.

Hegemonia comercial das repúblicas italianas e dos mouros sobre rotas comerciais con-
tinentais já existentes.

Advento do comércio marítimo e crescimento da relevância de territórios da faixa oceâ-


nica nesse cenário.
[ Pioneirismo Portugues ]
Centralização política em 1385, com a Revolução de Avis, coloca em voga um Estado cen-
tralizado e mercantilista que ampara a iniciativa privada.

O fim das Guerras de Reconquista, o intercâmbio cultural com o oriente, o espírito ex-
pansionista, o contexto de Contrarreforma e as novas técnicas de navegação.

O crescimento da importância dos portos ibéricos com o deslocamento do protagonismo


comercial da Europa para a faixa do Atlântico (posição geográfica favorável).

Busca por novas rotas comerciais e a criação de interpostos comerciais nas ilhas do
Atlântico e na costa ocidental da África.

Portugueses contornam a costa ocidental da África, criando feitorias, descobrindo ilhas


e progredindo em sua empreitada de encontrar uma nova rota comercial para as Índias.
[ Descobrimentos ]
Em 1488, o navegador Bartolomeu Dias consegue ultrapassar o Cabo das Tormentas (re-
nomeado como Cabo da Boa Esperança). Em 1497/1498 Vasco da Gama consegue chegar a
Calicute, e trazer, para Portugal, mercadorias compradas diretamente no Oriente.

Ainda com o objetivo de encontrar novas rotas comerciais para as Índias, em 1492, o na-
vegador italiano Cristóvão Colombo, patrocinado pela Coroa espanhola, chega na América.

Tratado de Tordesilhas (1494) - divide as novas terras descobertas entre portugueses e


espanhóis. Representa uma trégua entre as duas coroas e define, como pertencente a Por-
tugal, a área compreendida dentro de 370 léguas à Oeste da ilha de Cabo Verde.

Logo mais, em 1500, os portugueses também aportam na América na expedição de


Cabral.
[ Igreja ]
A grande cisma, sofrida pela Igreja Católica, em decorrência de eventos como a Reforma
Protestante, fez com que ela migrasse da conjuntura de tolerância religiosa para um mo-
mento de total intolerância. Esse fato demonsta-se em acontecimentos como o Concílio de
Trento, a fundação da Inquisição e dos Tribunais de Santo Ofício, a conversão outorgada
de judeus, árabes e pagãos em geral que viviam em Estados católicos (caso das nações ibé-
ricas), entre outros eventos. Esses fatores, somados ao espírito expansionista das Cruzadas
e à necessidade de disseminação da fé católica, constroem o contexto de inserção da Igreja
Católica na América.
Padroado é um acordo, firmado entre a Igreja e o Estado monárquico espanhol, que es-
tabelecia uma relação entre ambos, na qual a Igreja subordinava-se ao Estado em diversas
instâncias. Tal medida foi necessária para a concretização do projeto evangelizador católico
na América, e foi aceita pela Igreja por alguns fatores essenciais.

Fatores do Padroado

A necessidade da Igreja de obter recursos para enfrentar ou barrar o avanço


do protestantismo podia ser suprida pelo Estado.

Para disseminar o catolicismo entre os povos da América era necessária


não só o aval da Coroa, mas também os seus recursos.

A submissão aos reis católicos da Espanha não era incomcebível, uma vez que
eles nutriam também interesses pela difusão da fé católica e mantinham rela-
ções com o núcleo da Igreja em Roma.
Atribuições do Estado para com a Igreja

O Estado era responsável por fornecer recursos - militares, financeiros, etc. -


para a Igreja em seu empreendimento de evangelização na América.

A Coroa passava a indicar os candidatos para cargos eclesiásticos, sobretudo


dos mais altos cargos, nos territórios sob sua jurisdição.

A criação de impostos gerais próprios para a Igreja no Novo Mundo (sendo


um exemplo, o dízimo).

Pagamento de salários para os membros do clero, o que permitia que eles pu-
dessem concentrar-se somente na realização de suas funções religiosas.

A comunicação entre membros do clero nos domínios espanhóis e os repre-


sentantes católicos em Roma deveria passar antes pelo Estado.
[ Ordens Religiosas na America ]
Franciscanos As primeiras ordens religiosas católicas que chegam na
America - listadas ao lado - instalam-se na região do México
Dominicanos (Império asteca), no período da conquista, e promovem diversos
Agostinianos debates referentes aos métodos de evangelização dos indíge-
nas, ou mesmo, se os nativos eram capazes de ser salvos pela
Mecedários conversão (de serem dotados de alma).

As ordens religiosas apresentavam uma maior flexibilidade e predisposição para migra-


rem com destino a lugares inóspitos, correr riscos e criar povoados no esforço de realizar o
processo de evangelização.

Os jesuítas (membros da Companhia de Jesus) chegam na América em 1572, por conta


de sua fundação posterior às demais ordens. Porém, eles se tornam os principais agentes do
processo de evangelização dos nativos e também os principais fundadores de reduções (po-
voamentos das missões).
[ Feitorias ]
Foram entrepostos comerciais estabelecidos, principalmente, na África e na Ásia, cuja
função principal era a de comerciar com os povos nativos, obtendo recursos locais e trans-
portando-os para abastecer os mercados da Europa. Tais postos caracterizavam-se por um
forte cunho militar, cujos insumos necessários para sua manutenção eram fornecidos direta-
mente pela Coroa e seus vassalos (sem economia local ou ocupação efetiva).

Foi esse modelo que esteve em voga na mentalidade dos europeus no momento do des-
cobrimento do Novo Mundo, e os interesses comerciais orientavam as expectativas dos co-
quistadores em relação às novas terras. O estabelecimento de feitorias tornava desnecessá-
ria a ocupação e colonização dos territórios do além mar.
[ Tratado de Tordesilhas ]
Tratado de Tordesilhas (1494) - divide as novas terras descobertas entre portugueses e
espanhóis. Representa uma trégua entre as duas coroas e define, como pertencente a Por-
tugal, a área compreendida dentro de 370 léguas à Oeste da ilha de Cabo Verde.

Os reis de Castela e de Portugal receberam o beneplácito do papa sobre o seu concerto


em relação à divisão do Novo Mundo entre si.

O rei Francisco, da França, questiona a hegemonia ibérica sobre as novas terras desco-
bertas, bem como revolta-se com o beneplácito fornecido pelo papa; “mostre-me, no testa-
mento de Adão, onde está documentado que o mundo foi dividido entre portgueses e espa-
nhóis”. A França, então, fornece diversas cartas de corso e fomenta a pirataria contra as pos-
sessões ibéricas no Novo Mundo.
[ Corsarios ]
[ O Trato da America ]
A América apresenta-se como um ínfimo obstáculo para os exploradores espanhóis, que
buscam uma rota para as Índias; seu objetivo imediato foi encontrar uma passagem que
atravessaria o continente.

Fernão de Magalhães é o explorador que, a serviço da Coroa da Espanha, consegue traçar


uma rota para as Índias atravessando a América, mas tal rota não se apresenta como atrati-
va para os espanhóis.

Hernán Cortés, conquistador espanhol, ocupa e domina em 1521 a região do México, onde
vivia o povo asteca. Suas riquezas, metais preciosos e disponibilidade de nativos para servi-
rem como trabalhadores compulsórios serviram como atrativos para a América.
[ Constituicao da America Portuguesa ]
As terras na América não despertam nenhum interesse, visto as prioridades comerciais
dos europeus. Portanto, o Novo Mundo passa a desempenhar um papel de escala e reabaste-
cimento dos navios portugueses na rota para as Índias Orientais.

Os portugueses assentados na América, a priori, eram degredados, ou seja, pessoas exila-


das de Portugal, degenerados, que desempenharam um importante papel de mediar a rela-
ção entre europeus e nativos.

O primeiro contato entre portugueses e indígenas foi pacífico. Foi idealizada, a partir
daí, uma dinâmica na relação entre os dois povos; fomento da catequização dos nativos e
instituição da exploração dos recursos do território por meio do escambo, sobretudo o pau-
-brasil, tomado como monopólio régio português.
[ Mapa do Brasil Colonial ]
[ A Viagem de Martim Afonso de Sousa ]
O relativo descaso com as terras do Brasil, nas quais apenas era explorado o pau-brasil
(atividade que não fixava os colonos na terra, e, portanto, não garantia a efetiva defesa do
território) começou a reverter-se a partir da viagem de Martim Afonso de Sousa.

Assegurar a posse da Coroa sobre o território ultramarino era necessário, uma vez que
fosse preciso resguardar as novas terras caso nelas fossem encontrados metais preciosos.
Os fatores que ameaçavam tal posse eram, entre outros, populações indígenas hostis, explo-
radores espanhóis e corsários franceses.

Algumas medidas foram tomadas, sem sucesso, em prol da defesa do território. Uma
delas foi o envio de expedições, chamadas guarda-costas, enviadas ao litoral das novas
terras para capturar possíveis invasores franceses. Apesar de bem sucedidas, essas emprei-
tadas eram pouco expressivas e insuficientes, por si, para garantir a posse efetiva.
O rei D. João III adotou, a partir de 1530, as práticas em concordância com as ideias
de Diogo de Gouveia, um pensador humanista, que colocavam a ocupação efetiva do territó-
rio como uma alternativa para defender as terras da Coroa, ou seja, estabelecimento de co-
lonos no Brasil que pudessem defender suas próprias terras.

Em 1530, Martim Afonso de Sousa foi enviado com três objetivos principais: defesa do
território contra invasores franceses, explorar e assegurar a posse da região do Rio da Prata
e fundar pelo menos uma povoação permanente no litoral, que veio a ser a Vila de São Vi-
cente.
[ As Capitanias ]
O rei D. João III, em meados da década de 1530, determinou a divisão das notas terras
em várias capitanias hereditárias (15, no total), distribuindo o governo de tais porções de
terras aos vassalos da Coroa, que possuíam recursos necessários para empreender a ocupa-
ção, que teriam a obrigação de enviar navios e pessoas para o Novo Mundo no tempo certo.

A Coroa, portanto, absteve-se em muito do processo de ocupação inicial, que ficou à


cargo da iniciativa privada, subordinada ao poder real. Ofereceu, porém, as terras do Brasil
gratuitamente, além de diversos benefícios aos colonos e isenções fiscais. Os colonizadores
estavam, portanto, relativamente livres.

As vantagens de empreender no Novo Mundo eram, sobretudo, a honra e os lucros prove-


nientes dessa tarefa, caso bem sucedida. Tinham obrigações para com a Coroa e com a
Igreja, e poucos conseguiram efetivamente prosperar no território.
As capitanias foram distribuídas por
meio do modelo de sesmarias. Apesar
disso, os donatários tinham a obrigação de
ocupar a terra e, em 3 anos, torná-la pro-
dutiva, caso contrário, poderiam perdê-la.
Dessa forma, é evidente que, apesar da
noção de iniciativa privada, a Coroa ainda
possuía total soberania sobre as terras do
Novo Mundo.

São Vicente e Pernambuco foram as


únicas capitanias que puderam prosperar
de alguma forma, e também foram as que
mais sofreram interferência da Coroa por-
tuguesa.
[ Ocupacao Territorial ]
A lógica de ocupação da América pelos portugueses é marcada por um “desdobramento”
para o Atlântico e pela conformidade com os interesses da Coroa e das demandas do co-
mércio europeu.

As áreas ocupadas foram majoritariamente próximas ao litoral, de preferência em portos


naturais para os navios portugueses e em terrenos menos acidentados com rios que aden-
trassem o território. Além disso, os locais escolhidos eram pontos favoráveis à defesa, como
no topo de montes e sobre a serra do mar.

Nesse contexto, o mapa hidrográfico do Brasil orientou, tal como alguns outros fatores,
o sentido que tomou a ocupação portuguesa na América, pois era necessário pensar no es-
coamento daquilo que fosse obtido no Novo Mundo para a Europa.
Por conta da distância geográfica em relação a Portugal, a América Portuguesa deman-
dava de uma nova lógica de ocupação e colonização diferente das feitorias na África e no
Oriente.

As demandas da nova terra eram, sobretudo: a estruturação de um corpo administrativo


e de uma economia estável regional, extração de mercadorias interessantes ao comércio eu-
ropeu, obtenção de mão-de-obra e de uma classe de colonos brancos assentados no territó-
rio que não fossem apenas militares e feitores.

Apesar das capitanias representarem grandes extensões de terra, o domínio efetivo por-
tuguês até décadas depois, com o Governo-Geral, estava restrito à uma pequena faixa litorâ-
nea, não linear e espalhada pela costa de seu território.
[ Economia ]
A necessidade da produtividade da terra se dá pois não era possível criar e respaldar for-
tificações no Brasil, fato que exigiria muito dos cofres da Coroa. Era necessário estruturar
de fato um povoamento e uma base econômica concreta.

Num primeiro momento, os portugueses, à imagem do sistema vigente de feitorias, prio-


rizavam a obtenção de artigos meramente extrativos, contando com a mão de obra nativa
para tal. A extração do pau-brasil, entretanto, não supre, por diversos fatores, a necessidade
da Coroa de ocupar o vasto território, por representar uma atividade semi-nômade e menos
atrativa para novos colonos.
A colonização da América em sua conjuntura não se mostra realizável sob o modelo de
feitorias, o qual os portugueses já conheciam. Entretanto, sempre orientou-se sob uma lógica
mercantil européia, e por isso, numa tentativa de assentamento no território, uma opção
viável foi a agricultura de artigos com alto valor agregado na Europa, tal como o açúcar.

Dessa forma, adotou-se um sistema de Plantation (ou análogo ao mesmo), e houve um


esforço para a criação de engenhos no território das capitanias portuguesas. A grande dispo-
nibilidade de mão de obra indígena também favoreceu com que a criação de grandes mono-
culturas pudesse ser estabelecida na América Portuguesa.

Houve também o crescimento de uma camada média da sociedade: os lavradores de


cana, que sem ter posse de um engenho, produziam cana-de-açúcar e vendiam aos senhores
de engenho, que por sua vez refinavam e exportavam o produto.
[ Figura do Engenho ]

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