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[1] Universidade de São Paulo (USP), Brasil; Núcleo Paradigma de Análise do Comportamento, Brasil [2] Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP), Brasil | Título abreviado: Pesquisa Aplicada do TDAH | Endereço para correspondência: Rua Cardoso de Almeida, 977 – Apto 151.
CEP: 05013-001. São Paulo, SP. | E-mail: janleonardi@gmail.com
Palabras-clave: trastorno por déficit de atención con hiperactividad, TDAH, análisis con-
ductual aplicado, revisión, Journal of Applied Behavior Analysis.
A análise do comportamento pode ser dividida ao longo do tempo e em diversos ambientes, além
didaticamente em três subáreas indissociáveis: o de se estender para outras respostas da mesma clas-
behaviorismo radical, seu braço filosófico, teórico se. É importante observar que a generalização não
e histórico; a análise experimental do comporta- deve ser meramente esperada, mas sim planejada
mento, encarregada de produzir empiricamente co- (Baer, Wolf, & Risley, 1968).
nhecimento sobre processos comportamentais bá- A análise do comportamento aplicada é utili-
sicos; e a análise do comportamento aplicada, que zada como ferramenta de avaliação e de interven-
diz respeito à intervenção planejada dos analistas ção em uma ampla variedade de comportamentos.
do comportamento (Carvalho Neto, 2002). Por ser Dentre eles, este artigo selecionou os comporta-
objeto deste artigo, apenas a última será apresen- mentos que compõem o diagnóstico psiquiátrico
tada abaixo. denominado Transtorno do Déficit de Atenção e
A análise do comportamento aplicada tem como Hiperatividade (TDAH).
objetivo a aplicação de princípios básicos do O TDAH é caracterizado por desatenção, hi-
comportamento com o intuito de produzir co- peratividade e impulsividade (Barkley, 2005). É o
nhecimento novo acerca de problemas práticos e transtorno psiquiátrico mais comum na infância,
modificar comportamentos socialmente relevan-tes, cuja prevalência situa-se entre 3% a 13% em crian-
ao mesmo tempo em que busca manter o rigor ças com idade escolar, sendo mais frequente em
conceitual e a integridade científica da análise membros do sexo masculino (Golfeto & Barbosa,
experimental do comportamento. Ela possui sete 2003). Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico
características definidoras. (a) Aplicada: significa que de Transtornos Mentais (American Psychiatric
os indivíduos, comportamentos e estímulos en- Association, 2002), os critérios diagnósticos para o
volvidos são socialmente relevantes. A análise deve TDAH envolvem dificuldade para manter a atenção
levar em consideração as mudanças a curto e longo em diferentes atividades, dificuldade de organiza-
prazos, tanto para o indivíduo quanto para o grupo ção, esquiva de atividades que exigem esforço cons-
social. (b) Comportamental: indica que a pesquisa tante, distração por estímulos alheios à tarefa e/ou
está comprometida com aquilo que o indivíduo faz e sintomas de hiperatividade, como remexer os bra-
não apenas com o que ele relata fazer. É o compor- ços e pernas excessivamente, correr em situações
tamento que deve ser observado e medido em suas impróprias, dificuldade para se envolver silencio-
propriedades. (c) Analítica: refere-se à identificação samente em atividades de lazer e falar em demasia.
das relações de dependência entre as respostas de O tratamento de primeira escolha da maioria dos
um organismo, os contextos em que ocorrem (con- casos de TDAH é o uso de drogas estimulantes, em
dições antecedentes), seus efeitos no mundo (even- especial o metilfenidato, que têm se mostrado efi-
tos consequentes) e as operações motivacionais em cazes no controle da hiperatividade, impulsivida-
vigor. (d) Tecnológica: denota que a aplicação deve de e desatenção (Faraone, Biederman, Spencer, &
ser operacionalizada, implementada e descrita de Aleardi, 2006; Faraone, Spencer, Aleardi, Pagano,
forma clara e detalhada, permitindo que qualquer & Biederman, 2004).
pesquisador da área consiga replicá-la e obter re- Embora o diagnóstico do TDAH e seu trata-
sultados semelhantes. (e) Sistemática conceitual- mento medicamentoso estejam cercados por uma
mente: significa que sua análise está embasada nos série de controvérsias (cf. Leonardi, Rubano, &
pressupostos filosóficos do behaviorismo radical e Assis, 2010), é de extrema importância analisar
nos fundamentos conceituais e metodológicos da uma literatura que esteja voltada para a investiga-
análise do comportamento. (f) Efetiva: exprime que ção dos processos comportamentais envolvidos no
a aplicação deve alterar o comportamento em es- TDAH e no seu tratamento farmacológico. Neste
tudo para melhor. É importante observar que são sentido, é fundamental identificar e manipular tan-
os participantes da intervenção e os membros da to os determinantes ambientais externos quanto os
sociedade que devem avaliar a mudança, e não o efeitos produzidos no organismo pelos fármacos,
analista do comportamento. (g) Generalizável: in- que exercem diferentes funções de estímulo (cf.
dica que a mudança comportamental deve persis- Poling, Byrne, & Morgan, 2000).
tir
Revista Perspectivas 2012 vol. 03 n ° 01 pp. 001-019 3 www.revistaperspectivas.com.br
Fundamentos Empíricos da Análise do Comportamento Aplicada para o Tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) 001-019
Em vista disso, o presente artigo tem como ob- ficada quanto mais puder ser pautada em resulta-
jetivo apresentar dados experimentais que forne- dos de investigações empíricas sistemáticas
çam subsídios para o manejo dos comportamen- acerca das variáveis a eles relacionadas.
tos envolvidos no TDAH com base em uma re-
visão das pesquisas do Journal of Applied Behavior TDAH e as Pesquisas Publicadas no JABA
Analysis (JABA) – principal veículo de publicação de 1968 a 2008
da análise do comportamento aplicada – de 1968 a Um panorama geral das pesquisas experimentais
2008, sob a premissa de que a análise funcional de sobre TDAH publicadas no JABA é apresentado na
quadros dessa natureza tornar-se-á tão mais quali- Tabela 1, cujas descrições encontram-se abaixo.
Tabela 1
Panorama das Pesquisas sobre TDAH publicadas no Journal of Applied Behavior Analysis de 1968 a 2008
Gulley e analisar os efeitos dois meninos análogo comportamento disruptivo três doses diferentes de
Northup isolados de dro- (10 anos e (vocalizações inapropriadas, metilfenidato
(1997) gas estimulantes 11 anos) mexer/brincar com objetos
sobre comporta- e ficar fora do lugar); tarefas
mentos típicos do de leitura e de matemática;
TDAH interação social (adequada,
inadequada e ausente)
Stoner, Carey, analisar os efeitos dois meninos análogo respostas de matemática e de três doses diferentes de
Ikeda e Shinn isolados de dro- (9 anos e leitura, avaliadadas por meio metilfenidato
(1994) gas estimulantes 13 anos) do curriculum-based measure-
sobre comporta- ment; habilidades acadêmicas,
mentos típicos do frequência de tarefas comple-
TDAH tadas, acurácia da realização
de tarefas e comportamentos
adequados para aprendiza-
gem, medidos por meio da
Academic Performance Rating
Scale; respostas relativas a
desatenção e hiperatividade,
avaliadas por meio do Child
Attention Problems
Ardoin e analisar os efeitos cinco meninos análogo desempenho acadêmico metilfenidato e placebo
Martens isolados de dro- (10, 11, 12 e 13 (quantidade de digitos corretos
(2000) gas estimulantes anos) e uma por minuto em problemas de
sobre comporta- menina (11 anos) matemática); comportamen-
mentos típicos do tos disruptivos (abandono da
TDAH tarefa, vocalizações inapro-
priadas, brincar com objetos e
sair do lugar); auto-avaliação:
respostas a um questionário
que avaliava desempenho
acadêmico, comportamentos
disruptviso e efeitos colaterais
da medicação.
Pelham, instalação e sete meninos análogo; sala engajamento em tarefa; diferentes doses de metil-
Schnedler, manutenção de e uma menina de aula do comportamentos hiperativos fenidato e placebo; reforça-
Bologna e comportamentos (média de idade participante; avaliados por diversas escalas: mento de comportamentos
Contreras academicamen- de 8.3 anos) residência do Problem Behavior Ratings, adequados e extinção ou
(1980) te relevantes e participante Abbreviated Conners Teacher punição de comportamentos
diminuição de Rating Scale e Werry-Weiss- inadequados por parte de
comportamentos Peters Activity Scale professores, pais e experi-
incompatíveis mentadores
com esses
Kayser et al. instalação e um menino hospital comportamentos inadequados metilfenidato; dicas verbais
(1997) manutenção de (6 anos) (desobediência, agressão a e gestuais da tarefa acadê-
comportamentos outros e autolesão); distúrbio mica; atenção; acesso a ativi-
academicamen- do sono, sobretudo estereoti- dades prediletas; intervalos
te relevantes e pia durante sono para brincar
diminuição de
comportamentos
incompatíveis
com esses
Northup et al. instalação e quatro meninos análogo comportamentos disruptivos metilfenidato e placebo;
(1999) manutenção de (7 anos e 8 anos) (vocalizações inadequadas, repreensão/bronca do pro-
comportamentos sair do lugar e brincar com fessor; time-out; ausência de
academicamen- objetos); abandono da tarefa interação social; ficar sozinho
te relevantes e
diminuição de
comportamentos
incompatíveis
com esses
McDowell instalação e um menino residência do fluência (número de vocaliza- método de ensino “precision
e Keenan manutenção de (9 anos) participante ções corretas e incorretas por teaching”
(2001) comportamentos minuto de letras do alfabeto
academicamen- dispostas em cartões); b)
te relevantes e engajamento em tarefa e aban-
diminuição de dono da tarefa
comportamentos
incompatíveis
com esses
Powell e possibilidade de um menino sala de incomodar os outros, sair do possibilidade de escolha
Nelson (1997) escolher a tarefa (7 anos) aula do lugar, abandonar a tarefa, de tarefas acadêmicas da
a ser realizada participante ignorar regras, etc. disciplina de linguagem e
literatura
Ervin, DuPaul, possibilidade de dois meninos sala de engajamento em tarefas possibilidade de escolha de
Kern e Friman escolher a tarefa (13 anos e aula dos tarefas de redação; atenção
(1998) a ser realizada 14 anos) participantes dos colegas
Northup et al. instalação e dois meninos análogo ficar fora da cadeira para se atenção por parte do pro-
(1995) manutenção de (7 anos) e uma engajar em outros comporta- fessor ou dos colegas; 2
comportamen- menina (9 anos) mentos, como andar pela sala, minutos de tempo livre junto
tos típicos do converar com colegas, etc.; com um colega de sala de
TDAH por meio vocalizações inapropriadas escolha do participante
de atenção dos
colegas ou dos
professores
Jones, Drew e instalação e um menino análogo vocalizações inapropriadas, atenção do professor;
Weber (2000) manutenção de (8 anos) mexer com objetos não-rela- atenção do colega; ausência
comportamen- cionados com a tarefa, sair do de atenção; atenção não-
tos típicos do lugar, etc. -contingente
TDAH por meio
de atenção dos
colegas ou dos
professores
Northup, instalação e três meninos análogo valor reforçador de diferen- metilfenidato e placebo;
Fusilier, manutenção de (7 anos e 9 anos) tes estímulos agrupados em bronca do professor; time-
Swanson, comportamen- categorias (itens comestíveis, -out; atenção dos colegas
Roane e tos típicos do itens tangíveis, atividades,
Borrero TDAH por meio atenção do professor, atenção
(1997) de atenção dos de colegas, evitar tarefas);
colegas ou dos
professores
Binder, Dixon autocontrole dois meninos sala de escolha de um doce menor reforçamento diferencial
e Ghezzi (3 anos e 5 anos) aula dos e imediato vs. escolha de um do tempo de espera pelo
(2000) e uma menina participantes doce maior e atrasado reforço; atividade durante o
(4 anos) período de espera
Neef et al. autocontrole 58 crianças análogo porcentagem de tempo droga estimulante (metilfeni-
(2005) (idades entre gasto para cada conjunto de dato, sais de anfetamina ou
7 e 14 anos), problemas de matemática; dextroanfetamina); quatro
divididas em porcentagem de seleções de dimensões (taxa, qualidade,
três grupos: 13 cada conjunto de problemas contiguidade e custo) de
com diagnóstico de matemática diferentes reforçadores
de TDAH sem
medicação; 21
com diagnóstico
de TDAH com
medicação; 24
sem diagnóstico
Neef, Bicard, autocontrole dois meninos residência porcentagem de tempo metilfenidato; quatro di-
Endo, Coury e (8 anos e dos gasto para cada conjunto de mensões (taxa, qualidade,
Aman (2005) 13 anos) e duas participantes problemas de matemática; contiguidade e custo) de
meninas (10 anos porcentagem de seleções de diferentes reforçadores
e 11 anos) cada conjunto de problemas
de matemática
Bicard e Neef efeitos de dife- quatro meninos análogo distribuição do responder em dois tipos de instrução
(2002 rentes tipos de (10 anos de esquemas de reforçamento (estratégica vs. tática)
instrução idade) concorrentes; sensibilidade à
mudança nos esquemas de
reforçamento; correspondên-
cia verbal-não verbal
Neef et al. efeitos de dife- três meninos análogo distribuição do responder em modelação e instrução
(2004) rentes tipos de com TDAH (10 esquemas de reforçamento (estratégica)
instrução anos, 12 anos e concorrentes; sensibilidade à
13 anos); duas mudança nos esquemas de
meninas (10 anos reforçamento; correspondên-
e 11 anos) e um cia verbal-não verbal
menino (11 anos)
sem TDAH
Northup, efeitos de dife- uma menina análogo vocalizações inapropriadas, fuga de tarefa com três
Kodak, Grow, rentes tipos de (5 anos) sair do lugar, destruir objetos variações na maneira de
Lee e Coyne instrução e agredir descrever a contingência
(2004) (dois tipos de descrição e
sem descrição)
Nota. O setting análogo indica um ambiente no qual apenas o participante e o experimentador estavam presentes (em geral, uma sala
da escola ou da clínica reservada para a pesquisa).
Embora o JABA seja o principal veículo de publi- em tarefas de leitura e matemática, além de cole-
cação para os interessados em estudar a aplicação tarem a pontuação em uma escala de desatenção
dos princípios comportamentais descobertos pela e hiperatividade preenchida pelos professores. Os
pesquisa experimental (Laties, 1987), alguns pes- resultados mostraram que, em pelo menos uma
quisadores investigaram apenas os efeitos isolados das doses testadas, a frequência de comportamen-
de drogas estimulantes sobre o comportamento de tos disruptivos e de interações sociais inadequadas
indivíduos diagnosticados com TDAH sem testa- diminuiu, ainda que a pontuação na escala tenha
rem intervenções comportamentais. sido muito variável, indicando inclusive melhora
Um exemplo é o estudo de Whalen, Henker, no repertório comportamental geral na ausência
Collins, Finck e Dotemoto (1979). Trabalhando do medicamento em um dos casos. O tratamento
com delineamento de grupo, esses pesquisadores farmacológico melhorou o desempenho nas tare-
compararam os efeitos do metilfenidato sobre o ní- fas de leitura e de matemática de uma das crianças
vel de atenção e a frequência de comportamentos- e não surtiu efeitos positivos para a outra, tendo
-problema (movimentação excessiva, fazer barulho, piorado ligeiramente em uma das doses. Em suma,
interferir em atividades alheias, atirar objetos, etc.) ao mesmo tempo em que uma ou mais doses de
em crianças com e sem hiperatividade. As crianças metilfenidato produziram melhora em diferentes
hiperativas apresentaram maior número de com- áreas de funcionamento das duas crianças, elas não
portamentos-problema e menor nível de atenção afetaram ou até mesmo pioraram outros aspectos
durante o uso de placebo, com diferenças nítidas de seus repertórios.
em relação às crianças sem hiperatividade. Apesar Na mesma linha de investigação, Stoner, Carey,
do enfoque sobre o fármaco, os autores testaram o Ikeda e Shinn (1994) pesquisaram os efeitos de di-
efeito de uma variável ambiental – ruído de um rá- ferentes doses de metilfenidato no desempenho de
dio ligado em volume baixo – durante as atividades matemática e de leitura de duas crianças. As tarefas
em sala de aula, o que gerou diminuição de atenção eram introduzidas depois de uma ou duas horas do
e leve aumento de comportamentos-problema. uso da droga, momento em que ela está no pico de
Gulley e Northup (1997) selecionaram os se- seu efeito comportamental. Ambos os participantes
guintes comportamentos de duas crianças com da pesquisa tiveram melhora no seu desempenho
diagnóstico de TDAH: comportamentos disrupti- acadêmico, mas, como no trabalho anteriormente
vos (vocalizações inapropriadas, mexer com obje- citado, houve muita variabilidade a depender da
tos e sair do lugar), interação social e desempenho dose. A partir disso, os autores mantiveram a dose
Além dos dados experimentais apresentados Northup et al. (1995) mostraram que a aten-
até o momento sobre os procedimentos testados ção dos colegas de sala e do professor contingen-
para instalação e manutenção de comportamentos te à emissão de comportamentos-problema tinha
acadêmicos, a possibilidade de escolher a tarefa a função de reforço. A atenção dos colegas resultou
ser realizada foi investigada em dois estudos. em uma porcentagem muito maior de comporta-
O primeiro é o de Powell e Nelson (1997). Em mentos-problema do que a atenção do professor,
uma condição, o aluno era obrigado a realizar uma provando ser um reforçador bastante potente. Com
tarefa designada para todas as crianças da sala de base nisso, os pesquisadores manipularam a aten-
aula e, na outra, podia escolher entre três tarefas ção do professor e dos colegas. Durante a aula, o
com conteúdos diferentes, mas com dificuldades e professor ignorava os comportamentos que gos-
tempos de duração idênticos entre si. Na primeira taria de suprimir na criança e concedia-lhe tempo
condição, comportamentos como atrapalhar os co- livre com um colega (de sua escolha) contingente
legas, sair de sua cadeira e ignorar a tarefa ocorre- à emissão de comportamentos incompatíveis aos
ram entre 35% e 80% dos intervalos observados; já comportamentos-problema. Com isso, a frequ-
na segunda condição, ocorreram entre 15% e 38% ência dos comportamentos indesejáveis diminuiu
dos intervalos. Esses resultados evidenciaram que substancialmente, chegando à zero em algumas das
a possibilidade de escolha de tarefas é uma técnica classes de comportamentos.
eficiente e eficaz no controle de comportamentos Nessa linha de investigação, Jones, Drew e
relacionados ao TDAH. Weber (2000) testaram três condições durante a re-
No outro estudo que avaliou o efeito da possi- alização de exercícios de matemática: (a) atenção
bilidade de escolha, Ervin, DuPaul, Kern e Friman do professor, (b) atenção do colega e (c) ausência de
(1998) identificaram que uma criança com TDAH atenção. Os dados demonstraram que a atenção do
abandonava a tarefa quando deveria fazer uma re- colega era a principal variável de manutenção dos
dação utilizando lápis e papel. A partir dessa avalia- comportamentos-alvo. Depois, os pesquisadores
ção funcional, duas intervenções foram combina- colocaram o aluno com TDAH para fazer tarefas de
das com o professor: permitir que o aluno utilizasse matemática na presença de um colega e, a cada 90
um computador nas redações longas e permitir que segundos, eles podiam brincar durante 30 segun-
ele discutisse o tema com um colega nas redações dos. Com isso, a frequência de comportamentos
curtas. Os resultados foram os seguintes: nas reda- inadequados caiu para menos da metade.
ções longas, o engajamento na tarefa foi de 67.7% Northup et al. (1997) testaram três condições
quando o aluno escreveu com papel e lápis e 96% com e sem uso de metilfenidato pelo mesmo par-
quando utilizou o computador. Nas redações cur- ticipante. (a) Bronca do professor: a criança era
tas, o engajamento na tarefa foi de 63.2% quando instruída a permanecer em sua cadeira e fazer ta-
trabalhou sozinho e de 91.4% quando pôde discu- refas fáceis de matemática. O professor emitia uma
tir o tema com um colega. Esses resultados foram repreensão verbal contingente à ocorrência de
replicados quando a intervenção foi removida e comportamento disruptivo e ignorava quaisquer
reinserida. outros comportamentos. (b) Time-out: a criança
Neef e Northup (2007) explicam que os com- era instruída a permanecer em sua cadeira, ficar
portamentos típicos do TDAH podem ser instala- quieta e fazer tarefas difíceis de matemática. Ela
dos e mantidos no setting escolar por atenção dos era avisada que a condição de time-out ocorreria se
colegas e dos professores. Broncas do professor, re- não se comportasse conforme a instrução. Quando
presálias da diretoria e reclamações ou risadas dos isso ocorria, sua cadeira era movida de forma que
colegas podem reforçar comportamentos de deso- se distanciasse da tarefa, dos colegas e do professor
bedecer ao professor, andar pela sala, atirar objetos por 30 segundos. (c) Atenção do colega: um colega
nos colegas, etc. Várias das pesquisas publicadas da sala de aula era instruído a prestar atenção no
no JABA investigaram o papel desta variável e de- comportamento da criança e a dizer alguma coisa
monstram seu efeito claramente, como será ilustra- quando ela falasse algo ou saísse de sua cadeira. Os
do a seguir. resultados foram os seguintes: a frequência de com-
portamentos disruptivos foi baixa nas condições de monitorava o comportamento dos pares e fornecia
bronca do professor e de time-out com e sem uso ajuda quando necessária. As duplas recebiam pon-
de metilfenidato. Com a atenção do colega, essa tos extras em esquema de intervalo randômico a
frequência foi muito alta sem o uso da droga e bai- cada cinco minutos se estivessem se comportando
xa durante seu uso. Esses resultados indicam que adequadamente e seguindo corretamente o proce-
a atenção dos colegas teve função de reforço para dimento. Ao fim dos 20 minutos, o professor regis-
os disruptivos e que a droga afetou positivamente trava o número de pontos obtidos por cada aluno.
os efeitos dessa variável ambiental (talvez alterando Com o intuito de aumentar a aderência ao procedi-
a saliência do estímulo antecedente “colega”, dimi- mento, cada classe foi dividida em dois times, cuja
nuindo o valor reforçador da atenção do colega ou pontuação era a soma dos pontos dos membros do
alterando o valor reforçador/aversivo da tarefa). time. Ao fim de cada semana, membros do time
No já citado trabalho de Ervin et al. (1998), foi com a maior pontuação final eram declarados os
identificado que a baixa frequência de engajamen- vencedores. Essa intervenção foi implementada por
to em tarefas de um adolescente ocorria devido à uma ou duas semanas e então alternada com uma
atenção despendida pelos colegas de sala de aula ou duas semanas de atividades regulares da sala de
para outros comportamentos. De posse dessa ob- aula. A introdução, a remoção e a reintrodução do
servação, os experimentadores combinaram duas procedimento descrito permaneceram durante dois
intervenções com o professor. (a) Ele avaliava os anos. Os resultados encontrados foram um grande
comportamentos do participante e este os seus pró- aumento no engajamento em tarefas acadêmicas e
prios comportamentos em uma escala de 0 (inacei- uma importante diminuição de comportamentos
tável) a 5 (excelente) em cada período de aula; ao inadequados em todos os participantes, além de
fim do período, eles comparavam suas pontuações: melhora do desempenho acadêmico em metade
se elas estivessem iguais ou a um ponto de diferen- dos participantes com TDAH.
ça, o participante ganhava fichas que poderiam ser Na pesquisa de Flood, Wilder, Flood e Masuda
trocadas por privilégios. (b) A atenção dos colegas (2002), colegas da sala de aula de crianças com
era suspensa por meio de um sistema que conce- TDAH colaboraram para a melhoria de seu engaja-
dia pontos positivos para os colegas da sala que mento em tarefas. O procedimento empregado foi:
não respondiam aos comportamentos de buscar o participante com TDAH e seu colega eram colo-
atenção e pontos negativos para aqueles que res- cados juntos para resolver problemas de matemáti-
pondiam. Com essas intervenções, a frequência de ca. O colega fornecia aprovação social contingente
engajamento em tarefas passou de 60% para pouco ao engajamento na tarefa (e.g., “Estamos indo bem
mais de 90%. agora”; “Toca aqui”) e dava dicas verbais para re-
Relacionadas aos estudos acima mencionados tomar a tarefa quando o participante desviava dela
estão as pesquisas do JABA que evidenciam que os (e.g., “Vamos continuar fazendo”). Se o participante
colegas de sala de aula de indivíduos com diagnós- não retornasse à tarefa, o colega rompia o contato
tico de TDAH podem ser uma ferramenta muito visual e a interação verbal até que ele retomasse a
útil nas intervenções comportamentais. tarefa. No geral, essa intervenção aumentou signifi-
Por exemplo, DuPaul, Ervin, Hook e McGoey cativamente o engajamento em tarefas e a quantida-
(1998) realizaram uma intervenção em sala de aula de de problemas de matemática completados pelos
com alunos de primeira a quinta série com e sem alunos com TDAH.
TDAH. Ela consistiu na formação de duplas de co- Como foi apontado no início do artigo, uma
legas nas quais um assumia a função de tutor e o das características do TDAH é a impulsividade.
outro de aprendiz. Três ou quatro vezes por semana, Com isso em vista, três experimentos do JABA se
os alunos trabalhavam juntos por 20 minutos uma debruçaram sobre o autocontrole, investigando va-
habilidade acadêmica específica, como matemática riáveis e implementando procedimentos a ele rela-
ou soletrar palavras. Acertos e erros eram informa- cionados.
dos e, terminado o período, tutor e aprendiz inver- Binder, Dixon e Ghezzi (2000) criaram um pro-
tiam seus papéis. Durante as sessões, o professor cedimento para ensinar autocontrole para crianças
com diagnóstico de TDAH. Durante a fase de li- relógio que mostrava quanto tempo restava para
nha de base, o participante era instruído a esperar resolvê-lo (30 segundos). Se o participante acer-
o maior tempo que pudesse para comer um doce, tasse o problema, ganhava um ponto. Se errasse,
mas podia escolher entre o doce maior ou menor. a frase “tente de novo” aparecia na tela e o relógio
Após a realização de duas avaliações em que os par- era reiniciado. Quando o participante acertava o
ticipantes demonstraram impulsividade (escolha problema ou quando não respondia até o tempo
do reforçador imediato, ainda que menor, em 100% esgotar, dois novos problemas apareciam na tela
das vezes), os pesquisadores realizaram um treino para o participante escolher. A tela também mos-
de autocontrole em que a criança era instruída a trava a quantidade de pontos acumulada para cada
escolher entre um pedaço pequeno do doce com conjunto de problemas, a “loja” em que os itens
acesso imediato e um pedaço maior com acesso (estímulos reforçadores) poderiam ser adquiridos
atrasado, mas agora com a possibilidade de brincar com os pontos e quando poderiam ser obtidos.
com o pesquisador durante a espera. Se o item me- Inicialmente, foram realizadas quatro ou mais ses-
nor era escolhido, o participante tinha acesso ime- sões de linha de base, que tinham como objetivo
diato. Se o item maior era escolhido, a criança brin- avaliar se todos os participantes eram sensíveis às
cava com o pesquisador ou repetia a frase “Se eu quatro dimensões dos estímulos reforçadores. Em
esperar um pouco mais, vou ganhar o maior” até o seguida, foram realizadas sessões de avaliação com
experimentador falar para ela parar (momento em e sem uso de medicação, nas quais duas dimensões
que o reforço era liberado). O tempo de espera era do reforçador eram colocadas em competição de
aumentado em dois ou três segundos a cada duas forma randomizada. Todas as seis possibilidades
sessões. Durante esse treino, o reforçador maior e foram apresentadas: taxa versus qualidade, taxa
atrasado foi escolhido na maioria das vezes, inde- versus custo, taxa versus contiguidade, qualida-
pendentemente do tipo de atividade inserida du- de versus custo, qualidade versus contiguidade e
rante a espera (i.e., repetir a frase ou participar de custo versus contiguidade. As condições taxa ver-
alguma brincadeira). Em outras palavras, a intro- sus contiguidade, qualidade versus contiguidade e
dução gradual de atrasos em conjunto com ativida- custo versus contiguidade possibilitam avaliar im-
des interativas durante o tempo de espera produziu pulsividade. Os dados analisados foram a porcen-
autocontrole em todos os participantes. tagem de tempo gasto para cada conjunto de pro-
Em um trabalho que comparou o autocontro- blemas de matemática e a porcentagem de seleções
le de crianças com e sem diagnóstico de TDAH, de cada conjunto de problemas de matemática. No
Neef et al. (2005) manipularam quatro dimensões que diz respeito à porcentagem de tempo gasto, a
do estímulo reforçador: (a) Taxa, que se refere dimensão que mais influenciou o responder das
aos esquemas de reforçamento concorrentes para crianças com diagnóstico de TDAH foi contigui-
cada conjunto de problemas. (b) Qualidade, que dade, tanto na presença quanto na ausência do tra-
diz respeito à preferência por reforçadores avalia- tamento farmacológico, e qualidade para as sem
da previamente. Os cinco reforçadores prediletos TDAH. Nas seleções dos problemas, a dimensão
foram colocados na loja a e os outros cinco na loja que mais influenciou o responder das crianças
b. (c) Contiguidade, ou seja, se o acesso ao refor- com TDAH foi qualidade para as que não faziam
çador era imediato (ao fim da sessão) ou atrasa- uso de medicação e contiguidade para as que fa-
do (imediatamente antes da sessão seguinte). (d) ziam. Ainda, a dimensão que mais influenciou o
Custo da resposta, que se refere à dificuldade dos responder das crianças sem TDAH foi qualidade.
problemas de matemática. Uma ou duas sessões Em suma, os resultados desta pesquisa mostraram
foram realizadas por dia, de três a cinco dias por que as escolhas dos participantes com TDAH são
semana, e ocorriam da seguinte forma: dois pro- mais influenciadas pela imediaticidade do reforça-
blemas de matemática apareciam na tela de um dor do que por outras dimensões, o que caracteri-
computador e o participante podia escolher qual za impulsividade. Além disso, os dados encontra-
iria fazer. Em seguida, apenas o problema sele- dos sugerem que o tratamento farmacológico pode
cionado aparecia na tela junto com um pequeno piorar o autocontrole.
Neef, Bicard, Endo, Coury e Aman (2005) re- para obter a maior quantidade de pontos. Na fase
plicaram o procedimento do estudo anterior para de teste, as crianças não recebiam qualquer instru-
analisar, em delineamento de sujeito único, os efei- ção e cada ponto obtido valia 10 centavos de dólar.
tos de drogas estimulantes sobre a impulsividade As sessões de teste podiam ocorrer de duas formas:
de crianças com diagnóstico de TDAH. Os resul- (a) idêntica, onde os esquemas de reforçamento em
tados encontrados foram muito semelhantes: tan- VI eram os mesmos utilizados na fase de apren-
to na presença quanto na ausência do tratamento dizagem; (b) invertida, na qual os esquemas eram
farmacológico, a dimensão que mais influenciou o modificados. O objetivo dessa mudança era avaliar
responder da maioria dos participantes foi contigui- se o participante aprendia a responder de acordo
dade, ou seja, escolha de reforçadores imediatos em com as novas taxas relativas de reforço dos diferen-
detrimento de sua quantidade e qualidade, o que tes esquemas e determinar qual tipo de instrução
caracteriza impulsividade. (tática ou estratégica) produzia melhor adaptação
Outra variável que mereceu investigação foi o à modificação nos esquemas. O delineamento ex-
tipo de instrução apresentada aos participantes. perimental foi programado de forma que os dois
Quatro pesquisas que avaliaram o efeito de diferen- tipos de instrução eram utilizados nos diferentes
tes tipos de instrução sobre dimensões de classes esquemas de reforçamento, sendo que, quando o
de respostas de crianças com diagnóstico de TDAH responder ficava sensível aos esquemas e se esta-
foram publicadas no JABA de 1968 a 2008 e serão bilizava, eles eram alterados. Além disso, para ava-
apresentadas a seguir. liarem a correspondência entre comportamento
Bicard e Neef (2002) examinaram os efeitos de verbal e não verbal (i.e., para verificarem se o parti-
dois tipos diferentes de instrução sobre a distribui- cipante realmente fez os problemas de matemática
ção do responder em esquemas de reforçamento da forma que disse que os fez), os pesquisadores
concorrentes e a sensibilidade à mudança nesses pediram para as crianças falarem qual era a melhor
esquemas de quatro crianças com diagnóstico de forma de ganhar pontos. Esse relato foi caracteriza-
TDAH. Para isso, conduziram sessões em que dois do como: (a) regra acurada, (b) regra não acurada
problemas de matemática apareciam na tela de um e (c) nenhum regra. Os resultados encontrados fo-
computador. O participante selecionava um dos ram os seguintes: quando os esquemas na fase de
problemas e apenas este aparecia na tela junto com teste eram idênticos aos da fase de aprendizagem,
um pequeno relógio que mostrava quanto tempo o responder de todas as crianças se adaptou aos es-
restava para resolvê-lo (30 segundos). Se o sujeito quemas em vigor. Quando eles foram modificados
acertasse, recebia um ponto em esquema VI, sendo e a instrução tática foi fornecida, o responder ficou
que cada problema tinha seu próprio esquema VI. sob controle da regra e mostrou insensibilidade
Se errasse, a frase “tente de novo” aparecia na tela aos novos esquemas. Quando os esquemas foram
e o relógio era reiniciado. Quando a criança acer- modificados e a instrução estratégica foi forneci-
tava o problema ou quando não respondia até o da, o responder se adaptou aos novos esquemas,
tempo esgotar, dois novos problemas apareciam na indicando sensibilidade. Esses resultados demons-
tela para ela escolher. Todas as sessões tinham uma tram que a regra foi uma variável de controle do
fase de aprendizagem, com duração de 10 minutos, comportamento e que seu efeito sobre o responder
e uma fase de teste, com duração de cinco minu- variou a depender do tipo de instrução. A análise
tos. Na fase de aprendizagem, os participantes re- dos relatos verbais dos participantes mostrou forte
cebiam uma instrução de como ganhar pontos ao correspondência entre o comportamento verbal e
responder os problemas de matemática. A instru- o não verbal, embora todos tenham emitido regras
ção podia ser de dois tipos: (a) tática, que especifi- incorretas nas reversões, o que indica forte contro-
cava o padrão exato de distribuição do responder le pela regra fornecida.
para obter o maior número possível de pontos nos Em uma pesquisa semelhante, Neef et al. (2004)
diferentes esquemas VI; (b) estratégica, que forne- compararam os efeitos da modelação versus a ins-
cia uma regra para que a criança conseguisse iden- trução estratégica sobre a distribuição do respon-
tificar o melhor padrão de distribuir o responder der em esquemas de reforçamento concorrentes
e a sensibilidade à mudança nesses esquemas de se dos relatos verbais dos participantes demonstrou
crianças com e sem diagnóstico de TDAH. O pro- que apenas metade dos participantes relatou com
cedimento utilizado foi idêntico ao do experimento acurácia seus comportamentos não verbais.
anteriormente relatado. Todas as sessões passavam Falcomata et al. (2008) compararam os efei-
por uma fase sem instrução, uma fase de interven- tos de dois tipos de instrução sobre a manutenção
ção (que podia ser via modelação ou via instrução de comportamentos adequados para o contexto
estratégica) e uma fase de teste. Na fase sem instru- escolar de crianças com TDAH. Inicialmente, foi
ção, as crianças faziam os problemas de matemática calculada uma média da latência entre a emissão
em esquemas concorrentes VI sem receber qual- de comportamentos adequados e a primeira ocor-
quer instrução, e os pontos obtidos não poderiam rência de comportamento disruptivo, valor que
ser trocados por reforçadores. Na fase de interven- foi utilizado como meta. Três condições experi-
ção via modelação, o participante se sentava ao mentais foram realizadas, nas quais foi utilizado
lado do experimentador, que descrevia suas ações um sistema de cupons que podiam ser trocados
enquanto solucionava os problemas no computa- por reforçadores de diferentes categorias: atenção
dor de forma que obtivesse a maior quantidade de do colega, itens tangíveis, itens comestíveis, aten-
pontos possível. Na fase de intervenção via instru- ção de adulto e fuga de tarefa. As condições foram
ção estratégica, o experimentador fornecia verbal- (a) Reforçamento com instrução especificadora da
mente uma estratégia que possibilitava identificar o contingência e com instrução incompleta. Na ins-
melhor padrão de distribuir o responder para obter trução especificadora da contingência, o partici-
a maior quantidade de pontos. Na fase de teste, o pante recebia a instrução “Sente e espere quieto que
participante era exposto a diferentes esquemas de talvez você ganhe um cupom”. Se ele atingisse sua
reforçamento em VI sem receber instruções, com meta de latência, o experimentador dizia “Parabéns
o intuito de verificar se a sensibilidade ao esquema por ter esperado quieto, escolha um cupom” e, se
obtida via modelação ou via instrução se manteria. emitisse comportamento disruptivo, ele dizia “Está
Finalmente, assim como no estudo anterior, os pes- na hora de checar sua programação e ir para a pró-
quisadores pediram para as crianças falarem qual xima atividade”. A instrução incompleta seguia o
era a melhor forma de ganhar pontos, relato que mesmo procedimento, com a diferença de que a
foi caracterizado como (a) regra acurada, (b) regra instrução era “Sente e espere quieto”. (b) Extinção
não acurada e (c) nenhum regra. Os resultados en- com instrução especificadora da contingência e
contrados foram: na fase sem instrução, todas as com instrução incompleta, em que o mesmo pro-
crianças demonstraram insensibilidade aos esque- cedimento de (a) era seguido, com a diferença que
mas de reforçamento. Na fase de intervenção, tan- o experimentador dizia “Está na hora de checar sua
to via modelação quanto via instrução estratégica, programação e ir para a próxima atividade” tanto
elas apresentaram sensibilidade aos esquemas, com se a criança atingisse sua meta de latência como
obtenção de quase 100% dos reforços disponíveis. se emitisse disruptivos. (c) Reforçamento com au-
Na fase de teste, os participantes que passaram pela mento na latência com instrução especificadora da
intervenção via modelação obtiveram mais de 90% contingência e com instrução incompleta, em que o
dos reforços disponíveis, enquanto os que passaram mesmo procedimento de (a) era seguido, mas com
pela intervenção via instrução obtiveram valores aumento gradual na latência a cada meta alcançada
em torno de 70%, o que indica que a sensibilidade até um total de cinco minutos. Os resultados fo-
aos esquemas diminuiu. Em suma, os resultados ram os seguintes: na fase de reforçamento, todos
desta pesquisa evidenciaram que tanto a modelação os participantes atingiram suas metas de latência
quanto a instrução foram efetivas na produção de em ambas as instruções e, na fase de extinção, eles
sensibilidade aos esquemas de reforçamento, mas continuaram atingindo suas metas na condição ins-
que o responder estabelecido por modelação foi trução especificadora da contingência, mas não na
mais sensível a mudanças nos esquemas de refor- instrução incompleta. Na fase de reforçamento com
çamento, não havendo diferenças entre as crianças aumento na latência, a maior parte das crianças
com e sem diagnóstico de TDAH. Por fim, a análi- continuou atingindo metas crescentes de latência
na instrução especificadora da contingência e ape- cia na condição fuga (média de 4.5 respostas por
nas uma delas continuou as atingindo na instrução minuto), com média frequência na condição aten-
incompleta. Em síntese, os resultados mostraram ção (0.7 respostas por minuto) e que não ocorreu
que controle instrucional foi estabelecido na ins- na fase controle. O teste de comparação entre fuga e
trução especificadora da contingência para todos time-out mostrou que comportamento inadequado
os participantes, resultando na manutenção de ocorreu com alta frequência na condição fuga (mé-
comportamentos apropriados mesmo na ausência dia de 11.5 respostas por minuto) e em baixa frequ-
de reforço e que tal controle não foi alcançado na ência na condição time-out (média de 0.3 respostas
instrução incompleta. por minuto). O teste de comparação entre time-out
Northup, Kodak, Grow, Lee e Coyne (2004) e sem instruções mostrou que comportamento ina-
pesquisaram os efeitos produzidos por diferentes dequado ocorreu com baixa frequência na primeira
descrições de uma mesma contingência sobre com- condição (média de 0.5 respostas por minuto) e em
portamentos disruptivos. O participante era colo- alta frequência na segunda (média de oito respostas
cado em uma sala e recebia uma tarefa de tracejar por minuto). Em conclusão, a frequência de com-
(ligar pontos). Cinco condições foram avaliadas. (a) portamentos inadequados variou em contingências
Atenção: o participante recebia a instrução de que idênticas que foram descritas de formas diferentes.
deveria ficar sentado na cadeira e fazer sua tarefa A frequência foi alta quando a contingência foi des-
silenciosamente e lhe era dito que, se algum com- crita como “Descanso” e baixa quando a contingên-
portamento-alvo ocorresse (sair do lugar, destruir cia foi descrita como “Intervalo”.
objetos, falar, etc.), ele receberia uma bronca do
experimentador. (b) Fuga: o participante recebia a Considerações Finais
mesma instrução e lhe era dito que se algum daque- Os procedimentos utilizados e os resultados en-
les comportamentos ocorresse, haveria um peque- contrados nas pesquisas sobre TDAH publicadas
no período de descanso. A cada resposta inadequa- no JABA fornecem dados importantes sobre como
da, o experimentador dizia “Descanse um pouco” realizar uma análise funcional dos comportamen-
em tom de voz neutro e movia a cadeira do partici- tos, ou seja, sobre como identificar as diversas va-
pante de forma que ele se distanciasse da tarefa e do riáveis de controle em vigor, sejam estas operações
experimentador por 30 segundos. (c) Controle: o motivadoras, estimulações antecedentes ou conse-
experimentador ajudava o participante a completar quentes. Dado que a análise funcional é a base da
diversos quebra-cabeças simples e fornecia atenção compreensão de todo e qualquer comportamento
não contingente a cada 30 segundos na forma de e que é dela que deve partir qualquer proposta de
elogios e frases de aprovação. (d) Time-out: o parti- intervenção, as publicações do JABA aqui conside-
cipante recebia a instrução de que deveria ficar sen- radas são relevantes por estender a literatura sobre
tado na cadeira e fazer sua tarefa silenciosamente análise funcional para essa população.
e lhe era dito que se algum comportamento-alvo É importante apontar que a maioria dos estudos
ocorresse, haveria um intervalo. A cada resposta foi conduzida com crianças e adolescentes no am-
inadequada, o experimentador dizia “Intervalo” biente escolar – onde os comportamentos típicos
em tom de voz neutro e movia a cadeira de for- do TDAH aparecem com maior frequência – sem
ma que o participante se distanciasse da tarefa e do atrapalhar a rotina acadêmica. Embora procedi-
experimentador por 30 segundos (assim, a única mentos comportamentais geralmente sejam vistos
diferença entre esta condição e a condição de fuga como lentos e trabalhosos, as pesquisas apresenta-
era a forma de descrever a contingência). (e) Sem das neste artigo empregaram procedimentos com
instruções: o participante recebia a instrução de baixíssima necessidade de disponibilidade de tem-
que deveria ficar sentado na cadeira e fazer sua ta- po e pouca demanda de trabalho. Em sua maioria,
refa silenciosamente, sendo que o experimentador as avaliações e as intervenções comportamentais
ignorava qualquer comportamento do participante. foram práticas e bem-sucedidas, sem exigir grandes
Os resultados encontrados revelaram que o com- adaptações por parte dos alunos, dos professores e
portamento inadequado ocorreu com alta frequên- das instituições.
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