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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS

GABRIELA TIAGO DOS SANTOS

RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO

SANTOS
2018
RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO

Monografia apresentada como


requisito para a conclusão do curso de
bacharelado em Direito na
Universidade Católica de Santos -
UNISANTOS.
Orientador: Professor Álvaro
Messas.

SANTOS
2018
GABRIELA TIAGO DOS SANTOS

RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO

Monografia apresentada
como requisito para a conclusão
do curso de bacharelado em
Direito na Universidade Católica
de Santos - UNISANTOS.
Orientador: Professor Álvaro
Messas.

Santos, ______ de _________________de 2018.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________
Professor

____________________________________________
Professor
RESUMO

A presente monografia versa sobre a possibilidade da responsabilização


civil aplicada ao Direito de Família em casos em que houver configurado
abandono afetivo. Para tanto, mostra-se de fundamental importância explanar o
conceito de Família e sua evolução história, bem como os princípios
Constitucionais e Direitos Fundamentais que norteiam o Direito de Familia.
Desta forma, o direito a vida, integridade física, à dignidade da pessoa humana,
à convivência familiar, princípio da paternidade responsável, princípio da
afetividade, bem como os direitos e deveres decorrentes do poder familiar,
figuram papel essencial na formação e desenvolvimento de uma criança, e
quando estes são violados acarretam danos a quem de direito de forma
irreparável. Em consonância a isto, será alvo de estudo a responsabilização
civil dos responsáveis e seus pressupostos com o objetivo de compreender sua
aplicabilidade de forma coercitiva, preventiva e compensativa quando houver a
omissão do dever de cuidado. Desta forma, é questionado se em caso de
inadimplemento dos deveres dos responsáveis pela criança pode ser
considerado ato ilícito, sendo este pressuposto para uma compensação
pecuniária.
Palavras-chave: Direito de família. Responsabilidade civil. Abandono
afetivo.
ABSTRACT

This monograph deals with the possibility of civil responsibility for the
service of family law in cases that are configured as affective abandonment.
Therefore, the concept of Family and its history, as well as the Constitutional
principles and Fundamental Rights that the North of Family Law, are
fundamentally explanatory. In this way, the right to life, physical health, dignity
of the human person, family coexistence, the principle of responsible
parenthood, the principle of affection, the rights and duties of authority, the
essential role in training and development of a When they are violated entail
damage to those of irreparable right. In line with this, it will be the subject of a
civil accountability study, and will be compensated when there is an omission of
the duty of care. In this way, a question on the non-fulfillment of the duties of the
drivers of the child can be considered an unlawful one, being this
presupposition for a pecuniary compensation
Keywords: Affective Abandonment - Civil Liability - Family Power
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................7

1.ANALISE JURIDICA SOBRE FAMILIA NO BRASIL............................9

1.1 Conceito de Família...........................................................................9

1.2. Evolução Histórica..........................................................................10

1.3 O Código Civil de 1916 e o Pátrio Poder.......................................12

1.4 A Família sob a ótica da Constituição Federal de 1988...............14

1.5 Código Civil de 2002...................................................................16

2. PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA............................................19

2.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana..................................19

2.2 Principio da Solidariedade Familiar...............................................20

2.3 Princípio da Igualdade Familiar e o Direito a Diferença..............23

2.4 Princípio da Liberdade Familiar.....................................................24

2.5 Princípio da Afetividade Familiar...................................................25

2.6 Princípio da Convivência familiar..................................................27

2.7. Princípio do melhor interesse da criança....................................28

3 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL


............................................................................................................................29

3.1 Conceito de Responsabilidade Civil..............................................29

3.2 Teoria da Responsabilidade Civil..................................................30

3.2.1 Teoria Objetiva..............................................................................30

3.2.2 Teoria Subjetiva............................................................................31

3.4 Ação..................................................................................................32

3.4.1 Dano Material E Moral..................................................................32

3.4.2 Nexo de Causalidade....................................................................33


4. RESPONSABILIDADE CIVIL DOS GENITORES PELO ABANDONO
AFETIVO............................................................................................................35

4.1 Deveres dos Genitores na Formação dos Filhos.........................35

4.2 Transtornos Causados Pelo Abandono Afetivo...........................36

4.2.1 Guarda............................................................................................38

4.2.2 Regulamentação do Direito de Visita.........................................40

4.3 Abandono Afetivo............................................................................41

5.0 ANALISE JURIDICA.........................................................................43

5.1 Histórico das Decisões e Evolução Jurisprudencial Sobre o


Abandono..........................................................................................................44

5.2 Posicionamentos Negativo Relacionados À Compensação Por


Abandono Afetivo.............................................................................................44

5.3 Posicionamentos Positivos Relacionados À Compensação Por


Abandono Afetivo.............................................................................................45

6. CONCLUSÃO......................................................................................48

REFERÊNCIA..........................................................................................50
7

INTRODUÇÃO

A responsabilidade civil pelo abandono afetivo é tema de grande


controvérsia doutrinária e jurisprudencial, no qual tem por objetivo o estudo da
reparação do dano causado pelo Abandono Afetivo com a proveito da
Responsabilidade Civil. O presente trabalho monográfico apontará as noções
gerais acerca da responsabilidade civil focada no âmbito familiar, como base
para o estudo mais aprofundado sobre os danos causados pelo abandono
afetivo, ou seja, seria possível ou não a sua responsabilização.
Sendo assim, no primeiro capitulo será pontuado a visão do Código Civil
de 1916 do âmbito familiar, bem como as modificações que ocorreram na
sociedade com a Constituição Federal de 1988 e o que o Código Civil de 2002
trata quanto as novas estruturas familiares nos dias atuais.
Ademais, será observado no segundo capitulo os princípios norteadores
do Direito de Família, bem como aqueles que estão ligados a estrutura familiar
propriamente dita.
Seguindo o CRONOGRAMA, será analisada no terceiro capitulo a
responsabilidade civil, bem como seus elementos essenciais e o RESPALDO
no âmbito familiar.
A responsabilidade civil está presente em todos os ramos do direito civil,
passando pelo direito de família e abrangendo diversas hipóteses de atos
praticados no âmbito familiar que levam a lesões suscetíveis de reparação, as
quais podem ser de ordem pessoal ou material.
O Capitulo 4 será o ponto mais crucial da presente monografia, visto que
aborda a importância da discussão sobre o abandono afetivo nos dias atuais,
bem como as consequências causadas em decorrência do abandono.
Atualmente o Poder Judiciário teve um grande aumento de ações que
discutem a responsabilidade civil dos pais decorrente do abandono afetivo em
face de seus filhos. Ainda não há um posicionamento por parte dos tribunais ou
da jurisprudência quanto ao tema. O que pude observar no decorrer da
presente monografia é que muitos doutrinadores defendem a responsabilidade
civil do genitor pelo abandono afetivo, e que o sujeito deve se responsabilizar.
Em contrapartida os tribunais têm grande divergência quanto ao assunto, não
tendo uma linha de pensamento definida.
8

Apesar das divergências doutrinarias e jurisprudências quanto a


indenização em face dos danos causados pelo abandono afetivo, muitos
psicólogos e estudos apontam que a ausência afetiva dos genitores pode
causar a criança e ao adolescente sérios transtornos como depressão,
dificuldade em se relacionar, entre outras.
Por fim será observada as decisões antagônicas proferidas pelo
Superior Tribunal de Justiça, mostrando perspectivas positivas e negativas
sobre o tema. Há entendimentos que não reconhecem a responsabilidade do
genitor, não sendo passível de indenização. Em contrapartida, há
entendimentos que consideram a importância da punição bem como da
indenização em decorrência do abandono.
O presente tema, tem tomado voz nos dias atuais em decorrência à
perda de força da relação conjugal, sendo assim, o Poder Judiciário tem que
tomar medidas que assegurem os infantes, para que estes não sejam atingidos
pelos problemas afetivos de seus genitores.
Na presente pesquisa será utilizada a metodologia bibliográfica a partir
da análise doutrinária, jurisprudencial e artigos científicos.
9

1.ANALISE JURIDICA SOBRE FAMILIA NO BRASIL

1.1 Conceito de Família


A Família exerce papel fundamental na formação e desenvolvimento de
uma criança ou adolescente, sendo possível notar o reflexo no comportamento
e pensamento da convivência familiar na fase da vida adulta e na maioria das
vezes nas escolhas de cada indivíduo.

Observa o psicanalista Jacques Lacan:

Entre todos os grupos humanos, a família desempenha


papel primordial na transmissão da cultura. Se as tradições
espirituais, a manutenção dos ritos e de costumes, a
conservação das técnicas e do patrimônio são com ela
disputados por outros grupos sociais, a família prevalece na
primeira educação, na repressão dos instintos, na aquisição da
língua certamente chamada de materna.1

E ainda:

Ela estabelece desse modo, entre as gerações, uma


continuidade psíquica cuja causalidade é de ordem mental.2

Nesta banda, a importância do seio familiar se apresenta de forma


essencial e de grande importância psicológica, jurídica, social, no entanto, sua
conceituação mostra-se de difícil conceituação por culturalmente ser delimitada
a um exacerbado tenicismo.
Uma vez que a Família deixa de ser uma união de grupo de pessoas
que possuem finalidade econômica e de reprodução e se transforma em um
vínculo afetuoso e amoroso, surgem diversas representações sociais que
podem ser definidas por instituições familiares.
Apesar da difícil conceituação, a Constituição Federal de 1988
estabelece em seu caput família como a base da sociedade, gozando de
proteção especial do Estado.

1
LACAN, Jacques - Os Complexos Familiares – 2º Ed. 2008 - p. 125.
2
Ibidem, p. 126
10

A fim de compreender de forma efetiva o significado da palavra Família,


consulte-se o Dicionário Houaiss, que traz:

Família s.f. 1. Grupo das pessoas que compartilham a


mesma casa, especialmente os pais, filhos, irmãos etc.
2.Pessoas que possuem relação de parentesco. 3. Pessoas
cujas estabelecidas pelo casamento, por filiação ou pelo
processo de adoção. 4. Grupo de pessoas que compartilham
os mesmos antepassados.. 5. Grupo de indivíduos ligados por
hábitos, costumes, comportamentos ou interesses oriundos de
um mesmo local. 6. Grupo de indivíduos com qualidades ou
particularidades semelhantes.3

Portanto, em resumo, poder familiar é um conjunto de direitos e deveres,


segundo os responsáveis de fato ou de direito exercem sobre seus filhos, ora
crianças, ora adolescentes e ainda por todos os seus bens.

1.2. Evolução Histórica

Nota-se que essa simples palavra pode ser interpretada de várias


formas e que nela contém diversos significados. Historicamente isto não ocorre
de forma diversa.
Em obra que se mostrou de fundamental importância para a
compreensão do instituto familiar, observa ENGELS:

O estudo da história da família data de 1861, com o


aparecimento do livro Direito Materno de Bachofen. Nesse
livro, o autor faz as seguintes afirmações: 1)nos tempos
primitivos, os homens viviam em total promiscuidade sexual; 2)
Esse tipo de relação excluía qualquer possibilidade de
estabelecer, com segurança, a paternidade, de modo que a
filiação só podia ser contada por linha feminina, segundo o
direito materno, e que isso ocorria em todos os povos antigos;
3), por conseguinte, as mulheres, como mãe, como únicos
genitores conhecidos da nova geração gozavam de elevado
grau de apreço e consideração chegando, segundo afirma
Bachofen, ao domínio feminino absoluto (ginecocracia); 4) a
transição para a monogamia, em que a mulher passava a
pertencer a um só homem, encerrava em si uma violação de
uma lei religiosa muito antiga (ou seja, efetivamente uma
violação do direito tradicional que os outros homens tinham
sobre aquela mulher), transgressão que devia ser expiada ou
3
Dicionário Houaiss. Disponível em <https://www.dicio.com.br/familia/> Acesso em: 29
de out. 2018.
11

cuja tolerância era compensada com a posse da mulher por


outros durante determinado período.4

Em efeito a isto, de forma histórica, não obstante os modelos de família


monogâmicos convivem em diversos países o modelo poligâmico, sendo
considerados culturalmente normais por sua densa tradição e religião
implantada na antiguidade.
Conforme doutrinas históricas, as relações familiares adquiriram seu
caráter de forma afetiva após vários anos, isto porque no próprio significado
que a palavra carrega é possível notar que se referia a indivíduos, na época
escravos, servos de um mesmo dono.
Famulus (escravo) possuía significado de conjunto de escravos
pertencentes a um proprietário. Esta palavra possuía a finalidade de atestar a
quantidade de sevos que um indivíduo possuía em seu patrimônio, de forma
tão urgente e pontual que designava também o poder da vida e até da morte
das pessoas nas mãos de seus patrões.
Em Roma, o significado e a simbologia do conceito de Família se
apresenta de forma diversa, sendo está o núcleo econômico, político, social,
militar, de cunho religioso e sempre seguindo um sistema patriarcal. Ou seja, a
figura paterna era a de maior autoridade, aliais, de absoluta.
Sendo assim, a figura jurídica do direito familiar em Roma consistia no
representante mais velho do núcleo de parentes, sendo sempre Homem,
exercendo a autoridade sobre os demais integrantes do lar.
O matrimonio, viuvez, menoridade, situação financeira ou qualquer outro
aspecto não influenciava na soberania das decisões a serem tomadas pelo
membro masculino mais velho.
Vale destacar a função das mulheres neste período, que além de
estarem submetidas à autoridade e poder exclusivos de seus maridos, ainda
eram submetidas a seguirem o que pode ser nomeado como mão forte. Esta
expressão significa que as esposas, após a convolação do matrimonio,
passava a ter autoridade de forma igualitária aos seus filhos, de forma a não
haver alteração em sua capacidade.

4
ENGELS, p. 18-19, apud, GAGLIANO, 2013, p. 47
12

A figura masculina, poderia ainda vender seus filhos ou entes


pertencentes ao núcleo familiar, se assim entendesse como o melhor a ser feito
não precisando prestar quaisquer esclarecimentos de sua vontade á sua
esposa, que como já citado, figurava-nos mesmos direitos que uma filha.
No Brasil, antigamente, era de fácil percepção a influência do Direito de
Família Romano, pois a figura masculina possuía autoridade na escolha de
profissão de seus filhos, no cônjuge que seria melhor para estes e ainda
poderia determinar se sua esposa poderia ou não laborar o que deveria vestir e
como deveria se portar de forma a honrar a entidade familiar.
Com a influência Cristã, o caráter citado até então começa a
enfraquecer, deslocando de um modelo autoritário a um mais democrático e
menos abusivo, chamado pelas doutrinadores e historiadores como família
germânica.
Os traços principais deste modelo são a sacralidade da família, a sua
importância como instituição, diminuição da autoridade patriarcal e uma maior
participação de todos os seus integrantes.
Evidentemente, o direito não fica alheio a todas as estruturas sociais
apresentadas, pelo contrário, o direito se adequa conforma a sociedade avança
de forma a limitar bem como garantir os direitos e deveres de todos. No Direito
de Família não é diferente, verificou-se em meio a cada realidade
demonstrada, uma necessidade em proteger o vínculo conjugal como fator de
coesão formal da família, ainda que em detrimento da realização pessoas de
cada um dos integrantes pertencentes a este núcleo.
Nesta banda, em todas as relações de família, era destacado o adjetivo
do sacrifício individual, que sempre contava com o apoio do Estados em suas
questões.
O vínculo conjugal possuía caráter insolúvel, e como pode ser notado
com o que fora explanado acima, o homem, ora marido e genitor, exercia o
poder familiar e autorizava a mulher, ora esposa a praticar certos atos da vida
civil.

1.3 O Código Civil de 1916 e o Pátrio Poder


13

O primeiro Código Civil Brasileiro foi elaborado em 1899, no entanto foi


inserido somente em 1916, com o advento da Lei 3.071 de 01 de janeiro de
1916, o qual sua retratação demonstra conservadorismo e um sistema
patriarcal, e a figura masculina como um indivíduo superior, de autoridade
incontestável e extremo poder no seio familiar.
Tal patriarcal idade poderia ser destacada logo de início, pela figura da
mulher casada se tornar após o matrimonio uma pessoa de incapacidade
relativa, deixando de possuir controle em sua profissão, em seus atos da vida
civil e demais comportamentos perante a sociedade que vivia.
Mulher casada ainda possuía um estatuto que versava sobre suas
obrigações e direitos perante a sociedade e dentro do ambiente familiar.
O artigo 223 do Código Civil Brasileiro dispunha que o marido possuía o
caráter de chefe da sociedade conjugal e que ele deveria comandar e
representar a família em todas as situações.
Vale ressaltar que neste código somente o matrimonio consistia na
família legitima, assim, a condição matrimonial levava a distinção entre os
filhos. Deste modo, os filhos concebidos fora da relação conjugal não possuíam
quaisquer direitos, e ainda contavam com denominações de forma a
constrangê-los como espúrios, incestuosos, ilegítimos.
Estes ainda não poderiam contar com o registro de seu genitor quando
este se encontrava casado, sendo de responsabilidade total e exclusiva da
mãe sustentar e auxiliar a criança ou adolescente em seu desenvolvimento.
Tal feito comprova-se inclusive com o termo bastardo, muito utilizado no
código citado.
No entanto, vale ressaltar que neste código o vínculo matrimonial
poderia ser desfeito, de forma que surgiu uma verdadeira competição entre o
casal no que se refere à guarda dos filhos menores.
Quando não era possível um acordo entre os cônjuges em relação à
guarda do infante ou adolescente, o juiz poderia se pronunciar a cerca do fato e
decidir quem ficaria com a guarda diante de duas regras especificadas: a) se a
sentença que decretasse o desquite reconhecesse um dos cônjuges como
culpado, os filhos menores deveriam ser entregues ao cônjuge inocente; b) se
ambos fossem reconhecidos como culpados, a mãe teria o direito de ter suas
filhas em sua companhia, bem como os filhos homens, até os seis anos de
14

idade. Depois desta idade, os filhos do sexo masculino seriam confiados ao


pai.
O primeiro grande marco histórico em nosso país que promovia um
rompimento da supremacia masculina foi, sem dúvida, o Estatuto da Mulher
Casada de 1962 que modificava alguns pontos em relação ao pátrio poder.
Embora o marido fosse considerado chefe da sociedade conjugal, a
mulher expressamente deveria exercer o papel colaborativo no que se referia
ao interesse conjugal e em relação aos filhos do casal.
Embora de forma sucinta, começou a ser reconhecida a figura feminina
na sociedade conjugar, claro, na condição de companheira e colaboradora,
mas sem dúvidas, demonstra um avanço que dificilmente seria considerado
historicamente.
Pouco a pouco a mulher foi conseguindo autoridade nos atos da
sociedade civil, bem como no âmbito do poder familiar.

1.4 A Família sob a ótica da Constituição Federal de 1988

Antes do século XIX as mulheres não possuíam qualquer direito, eram


criadas para cuidar do lar e dos filhos, enquanto os homens vivenciavam uma
cultura machista, na qual o marido era o único provedor do lar. A partir do
século XIX os direitos das mulheres foram modificados, lhes dando a liberdade
a voto, divórcio, educação e trabalho. Essas modificações no sistema, lhes
trouxe a oportunidade de deixar as tarefas do lar e buscarem igualdade entre
os gêneros.
Silvio de Salvo Venosa descreve a mudança desse panorama no
ordenamento jurídico
No direito brasileiro, a partir da metade do século XX,
paulatinamente, o legislador foi vencendo barreiras e
resistências, atribuindo direitos aos filhos ilegítimos e tornando
a mulher plenamente capaz, até o ponto culminante que
representou a Constituição de 1988, que não mais distingue a
origem da filiação, equiparando os direitos dos filhos, nem mais
considera a preponderância do varão na sociedade conjugal. A
Lei nº 4.121, de 27-8-72, Estatuto da Mulher Casada, que
eliminou a incapacidade relativa a mulher casada, inaugura
entre nós a era da igualdade entre os cônjuges, sem que,
naquele momento, a organização familiar deixasse de ser
15

preponderantemente patriarcal, pois muitas prerrogativas ainda


foram mantidas com o varão.5

A constituição Federal de 1988 foi a grande marca para as mudanças


nos direitos inerentes a homens e mulheres e a discriminação contra a família,
passando a proteger todos os entes da unidade, isso pode ser observado no
artigo 226.
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial
proteção do Estado.
§ 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração.
§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos
da lei.
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida
a união estável entre o homem e a mulher como entidade
familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a
comunidade formada por qualquer dos pais e seus
descendentes.
§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade
conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.
(Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 66, de 2010)
§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa
humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar
é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar
recursos educacionais e científicos para o exercício desse
direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de
instituições oficiais ou privadas.
§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na
pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos
para coibir a violência no âmbito de suas relações.

A sociedade que era patriarcal e tradicional, se viu obrigada a proteger


as famílias formadas através da união estável, pelo casamento e as
monoparental que eram aquelas formadas por qualquer um dos pais.
Além dos direitos garantidos as mulheres e a entidade familiar, as
modificações se estenderam aos filhos havidos ou não do casamento, ou por
adoção. 6

5
VENOSA. Silvio de Salvo. Direito civil: direito de família. V.6, 3.ed. São Paulo: Atlas, 2003, p.
29.
6
(DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 30-31.)
16

Maria Berenice Dias aponta:

Essas profundas modificações acabaram derrogando


inúmeros dispositivos da legislação então em vigor, por não
recepcionados pelo novo sistema jurídico. Como lembra Luiz
Edson Fachin, após a Constituição, o Código Civil perdeu o
papel de lei fundamental do direito de família. 7

A carta magna considerou três pontos no âmbito familiar sendo a


entidade, o planejamento e a assistência direta à família, dessa forma, trouxe
8
uma nova perspectiva ao âmbito jurídico da família.

1.5 Código Civil de 2002

A partir do Código de 2002 foram realizadas diversas alterações do


âmbito familiar uma vez que as mulheres passaram a ter direitos semelhantes
aos homens. O objetivo dessa alteração era manter uma igualdade social
independente do gênero.

Essas alterações não atingiram apenas as mulheres, mas também as


crianças que até então não eram protegidas por lei. Dessa forma, foram
instituídas leis de proteção ao menor, na qual os pais deixam de ter direitos e
poderes sobre a pessoa e seus filhos e passar a ter deveres e obrigações. O
artigo 227 da Constituição Federal é claro sobre tais deveres.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado


assegurar a criança e ao adolescente, com absoluta prioridade,
o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de qualquer forma de negligencia,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 

7
(DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 30-31.)
8
(PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. vol. V. 22. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2014. p. 42.)
17

Partindo dessa premissa, Maria Berenice Dias destaca que “não se trata
9
de um novo código, mas sim da reestruturação de um código antigo”.

A sociedade se modificou com o passar dos anos, o que era


considerado família tradicional se tornou obsoleto, dessa forma, as alterações
no Código de 2002 se dão em razão das modificações nos padrões familiares,
para que fosse possível dar amparo legal.

Maria Berenice, faz a seguinte analise sobre os novos modelos de


família:

Funda-se sobre os pilares da responsabilização, da


afetividade e da pluralidade, impingindo nova roupagem
axiológica ao direito de família. Agora, a tônica reside no
indivíduo, e não mais nos bens ou coisas que guarnecem a
relação familiar. A família-instituição foi substituída pela família-
instrumento, ou seja, ela existe e contribui tanto para o
desenvolvimento da personalidade de seus integrantes como
para o crescimento e formação da própria sociedade,
justificando, com isso, sua proteção pelo Estado.10

Segundo Maria Berenice Dias a família considerada tradicional, formada


por pai, mãe e filhos, instituída pela Igreja e reconhecido pelo estado, tem a
finalidade de preservar a moralidade familiar. Para o cristianismo, as únicas
relações que se enquadram em seu entendimento são aquelas proveniente do
casamento entre homem e mulher.

Diante dessa premissa, Maria Berenice diz:

“Essa conservadora cultura,


de grande influência no Estado, acabou levando o legislador,
no inicio do século passado, a reconhecer juridicamente
apenas a união matrimonial.” 11

9
CAHALI apud DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev.,
atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 31-32.
10
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 41.
11
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 32-33.
18

Desta forma, o estado consagrou que o principio que regeria o


casamento seria sua indissolubilidade, e seguindo os passos da igreja, o seu
rompimento só seria possível com a morte de um dos cônjuges.
Maria Berenice Dias, leciona as modificações a partir disso, que a
Constituição de 1988 trouxe:

O casamento era a única forma admissível de formação


da família. Foi o constituinte de 1988 quem emprestou especial
proteção a entidades familiares outras. Esse prestígio à família
atende aos interesses do Estado, pois delega a ela a formação
dos seus cidadãos, tarefa que acaba quase sempre onerando
exclusivamente a mulher. Há um certo descomprometimento
tanto do homem como das entidades públicas e entes
governamentais em assumir o encargo de formar e educar
crianças e jovens, único meio de assegurar o futuro da
sociedade. Por isso é que a Carta Constitucional consagra (CF
226): A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Estado. Em face disso, procurou o Código Civil deixar expressa
essa proteção ao proibir qualquer pessoa, de direito público ou
privado, de interferir na comunhão de vida instituída pela
família (CC 1.513). Desnecessária e pleonástica essa vedação,
pois, se fosse necessário impedir interferências, deveria dirigir-
se a todas as pessoas, fossem naturais ou jurídicas, sem
qualquer limitação.12

Com o reconhecimento constitucional, foi possível a formação de novos


grupos familiares, ou seja, a estrutura familiar informal, qual seja aquela
constituída fora do matrimonio legal

12
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 43.
19

2. PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA

2.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

O artigo 1, inciso III da Constituição Federal assenta o Principio Da


Dignidade da Pessoa Humana sendo este o princípio fundamental do estado
democrático de direito e da ordem jurídica. Tal princípio afere demais princípios
como cidadania, liberdade, autonomia privada, igualdade e solidariedade.
(Berenice pag 44). Deste modo, qualquer ato, conduta ou atitude que equipare
a pessoa a uma coisa disponível ou a um objeto, vai contra o princípio da
Dignidade.
Kant discorre que:
No reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma
dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se por em
vez dela qualquer outra coisa como equivalente; mas quando
uma coisa está acima de todo o preço e, portanto, não permite
equivalente, então tem ela dignidade. 13

A doutrina evidencia o caráter intersubjetivo do princípio da dignidade da


pessoa humana, ou seja, a existência de um dever de respeito no âmbito da
comunidade dos eres humano. Partindo dessa premissa, a família é vista como
espaço comunitário por excelência para realização de sua existência digna e
14
da vida em comunhão com as outras pessoas.
Nas famílias patriarcais, o homem, considerado chefe da família e
pessoa de maior poder era dotado de direitos que lhe dava cidadania plena,
direitos estes que eram negados ao demais membros da família. Diferente dos
dias atuais não era permitido a intervenção pública no espaço privado familiar,
dessa forma, para manter o equilíbrio do privado e do público é necessário a
garantia do pleno desenvolvimento da dignidade da pessoa humana que
integra a comunidade familiar, que ainda é duramente violada na realidade
social, principalmente no que diz respeito as crianças. Como mudança nos
paradigmas sociais, a Constituição Federal de 2002 traz em seu artigo 227 que
não é um direito oponível apenas ao estado, a sociedade ou a estranho, mas
13
LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva. P.60

14
Ibidem, p. 61
20

também é dever da família garantir as crianças o direito a vida, saúde, cultura,


dignidade, ao respeito, a liberdade e a convivência familiar e comunitária, além
de coloca-la a salvo de toda forma de negligencia, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
Na família tradicional, os direitos se modificaram. A partir do século XX,
nomeadamente com o advento do Estatuto da Mulher Casada de 1962, da lei
do divórcio de 177 e da Constituição Federal 1988 houve uma emancipação e
revelação dos valores pessoais, partindo dessa premissa os valores coletivos
da família e os pessoais de cada membro da entidade familiar devem buscar
permanentemente o equilíbrio.15

Paulo Lobo acrescenta:

Consumaram-se na ordem jurídica as condições e


possibilidades para que as pessoas, no âmbito das relações
familiares, realizem e respeitem reciprocamente suas
dignidades como pais, filhos, cônjuges, companheiros,
parentes, criança, idosos ainda que a dura realidade da vida
nem sempre corresponda a esse desiderato.
A convenção sobre os direitos da criança de 1990
declara que a criança deve ser preparada para uma vida
individual em sociedade, respeitada sua dignidade. O estatuto
da criança e do adolescente de 1990 tem por fim assegurar
“todos os direitos fundamentais inerentes a pessoa humana”
dessas pessoas em desenvolvimento conforme o art. 3º e a
absoluta prioridade dos direitos referentes as suas dignidades
de acordo com os artigos 4º, 15 e 18. O código civil de 2002
não faz qualquer menção expressa ao princípio, porem, por
força da primazia constitucional, este como os demais
princípios determinam o sentido fundamental das normas
infraconstitucionais. 16

Como dito anteriormente, o princípio da dignidade da pessoa humana


segundo lobo, está indissoluvelmente ligado a princípio da solidariedade.

2.2 Principio da Solidariedade Familiar

Dennis Erhard ressalta:


15
LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva. P.61

16
Ibidem, P. 62
21

A solidariedade, como categoria ética e moral que se


projetou para o mundo jurídico, significa um vínculo de
sentimento racionalmente guiado, limitado e autodeterminado
que compele a oferta de ajuda, apoiando-se em uma mínima
similitude de certos interesses e objetivos, de forma a manter a
diferença entre os parceiros na solidariedade. 17

Paulo Lobo faz uma menção de Paulo Bonavides em seu livro,


apontando que o princípio da solidariedade serve como oxigênio da
Constituição Federal, tendo em vista que a partir dela se espraia por todo
ordenamento jurídico, conferindo unidade de sentido e auferindo a valoração
da ordem normativa constitucional.
O princípio da solidariedade tem assento constitucional, tanto que seu
preambulo assegura uma sociedade fraterna. Tal princípio tem origem nos
vínculos afetivos, tendo em vista que como expos Erhard trata-se de um
conteúdo ético, uma vez que contem em suas entranhas o próprio significado
da expressão solidariedade, que se pode resumir em fraternidade e
reciprocidade18.
Esse princípio resulta da superação do individualismo jurídico, que por
sua vez é a superação do modo de pensar e viver sociedade a partir do
predomínio dos interesses individuais, que marcou os primeiros séculos da
modernidade, com reflexos até a atualidade 19.
O art. 3º inciso I da Constituição é a regra principal do princípio da
solidariedade
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil:
I - Construir uma sociedade livre, justa e solidária;

No âmbito familiar a solidariedade é o ato reciproco dos cônjuges e


companheiros, em especial quando diz respeito a assistência moral e material.
A conversão internacional sobre os Direitos da Criança inclui a solidariedade
entre os princípios observados.
17
(dennis erhard “segurança, diversidade e solidariedade” ao invés de “liberdade,
igualdade e fraternidade” revista brasileira de estudos políticos, Belo Horizonte: UFMG, n. 88, p
36, dez.2003)
18
(DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. P. 48
19
LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - ª ed. - Editora Saraiva. P.63
22

O Estatuto da Criança e do Adolescente traz em seu artigo 4º o dever


não só da família, mas também da sociedade em assegurar as necessidades
básicas de vivencia a criança e ao adolescente

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da


sociedade em geral e do poder público assegurar, com
absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida,
à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer
circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou
de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das
políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas
áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.

Partindo dessa premissa a solidariedade em relação aos filhos responde


a exigência da pessoa de ser cuidada até atingir a idade adulta, ou seja, de ser
20
mantida, instruída e educada para sua plena formação social.
Paulo Lobo aponta determinados artigos do Código Civil que se
destacam como normas que passam pelo Princípio da Solidariedade familiar. O
art. 1.513 do Código Civil tutela a comunhão de vida instituída pela família,
somente sendo possível na cooperação entre seus membros. O art. 1.618 que
a adoção vem não do dever, mas sim do sentimento de solidariedade. O art.
1.630 que tange o poder familiar, que é menos poder dos pais e mais múnus
ou serviço que deve ser exercido no interesse dos filhos. Os artigos 1.566,
1.567 e 1.724 apontam a colaboração dos cônjuges na direção da família, a
mutua assistência moral e matéria entre eles e entre companheiros, que são
deveres hauridos da solidariedade. O art. 1.568 que dispõe que os cônjuges
são obrigados a concorrer, na proporção de seus bens e dos rendimentos para
o sustento da família. Os art. 1.694, 1.700 e 1.707 que dispõem o dever de
prestar alimentos a parentes, cônjuge e companheiros, que pode ser

20
LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva. P.64
23

transmitido aos herdeiros no limite dos seus bens que receberam, além de ser
irrenunciável, decorre da imposição de solidariedade entre pessoas ligadas.

2.3 Princípio da Igualdade Familiar e o Direito a Diferença

A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 5º traduz que todos são


iguais perante a lei.

Maria Berenice Dias assegura dizeres da Carta Magna de 1988, sendo:

Além de pontuar em seu preambulo, a Constituição


Federal reafirmou a igualdade entre homens e mulheres, visto
que estes são iguais em direitos, obrigações e deveres
referentes a sociedade conjugal nos artigos 5º, inciso I da CF e
artigo 226 §5º da CF), deste modo, a constituição considerou o
Princípio da Igualdade, além de se tornar o grande artífice do
princípio da isonomia no direito das famílias. O princípio da
igualdade não se limitou aos direitos entres homens e
mulheres, uma vez que vetou qualquer ato discriminatório em
face dos filhos havidos ou não do casamento ou por adoção
(art.227 §6º da CF). Em respeito ao Princípio da igualdade, o
artigo 1.565 §2º do Código Civil e o artigo 226 §7º da
Constituição Federal aponta a livre decisão dos cônjuges no
que tange o planejamento familiar, sendo vedada qualquer tipo
de coerção por parte de instituições privadas ou públicas. A
intervenção do Estado é limitada devendo ele propiciar
recursos educacionais e financeiros para o exercício desse
direito. 21

Maria Helena Diniz leciona que:

A partir desse princípio o poder marital desaparece


junto com a sociedade patriarcal, sendo substituído pelas
decisões conjunta e indivisas que devem ser tomadas entre os
conviventes ou entre os cônjuges, visto que atualmente faz se
obrigatório que ambos tenhas os mesmos direitos e deveres
referentes à sociedade convivencial ou conjugal. (art. 226 §5
da Constituição Federal) (artigos 1.5111, 1.565 a 1.570, 1.631,
1.634, 1.643, 1.647, 1.650, 1.651 e 1.724 do Código Civil).

Nos dizeres de Maria Helena Diniz o princípio da igualdade jurídica entre


os filhos, preceitua que:
21
(DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. P. 69
24

É possível o reconhecimento dos filhos havidos fora do


casamento. Independente dos filhos serem naturais, adotivos
ou legítimos não se pode haver qualquer distinção no que
tange nome, direitos, poder familiar, alimentos e sucessão,
bem como é vedado a revelação no ato do nascimento a
ilegitimidade pura e simples e também as designações
discriminatórias relativas à filiação. 22

Deste modo podemos considerar a importância de tal princípio que


vislumbrou a igualdade e respeito entre as diferenças no âmbito familiar,
trazendo inovações igualitárias na relação entre os cônjuges e entre os filhos,
além de pôr fim a desigualdades que perduraram décadas na sociedade
brasileira.

2.4 Princípio da Liberdade Familiar

Segundo lobo, podemos observar que

O princípio da liberdade é a livre arbitrariedade de


constituição, realização e extinção de entidade familiar, sem
imposição ou restrições externas de parentes, da sociedade ou
do legislador, ou seja, a livre aquisição e administração do
patrimônio familiar, o livre planejamento familiar a livre
definição dos modelos educacionais, dos valores culturais e
religiosos á livre formação dos filhos, desde que respeitadas
suas dignidades como pessoas humana; a liberdade de agir,
assentada no respeito a integridade física, mental e moral. 23

Como podemos analisar no início do referido trabalho, a família no


Século XIX era patriarcal, rígida e estática, onde mulheres e filhos não tinham
direito a liberdade de expressão, não era possível contrariar o modelo
matrimonial e patriarcal. Esposas eram submissas aos seus maridos bem como
os filhos eram submetidos ao poder paterno.

Maria Berenice diz

22
(Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 62-63. 70 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito
civil brasileiro, vol. 5: direito de família. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 63
23
LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva. P.69
25

A Constituição Federal ao instaurar o regime


democrático, revelou enorme preocupação em banir
discriminações no âmbito familiar. Todo tem a liberdade de
escolher o seu par, seja do sexo que for, bem como o tipo de
entidade que quiser para constituir sua família. A isonomia de
tratamento jurídico permite que se considerem iguais marido e
mulher em relação ao papel que desemprenham na chefia da
sociedade conjugal.

A partir do Século XX surgiram mudanças no exercício da liberdade


familiar, onde passou a prevalecer a democracia, dando liberdade e direitos as
mulheres e aos filhos, deixando de lado o autoritarismo da família tradicional.

Paulo Lobo assinala

Na Constituição Federal e nas leis atuais o princípio da


liberdade na família apresenta duas vertentes essenciais:
liberdade da entidade familiar diante do estado e da sociedade,
e liberdade de cada membro diante dos outros membros e da
própria entidade familiar. A liberdade se realiza na Constituição
Federal, manutenção e extinção da entidade familiar, no
planejamento familiar, eu é “livre decisão do casal” (art. 226 §7
da Constituição Federal) sem interferências pub ou privadas;
na garantia contra a violência, exploração e opressão no seio
familiar; na organização familiar mais democrática, participativa
e solidaria.24

2.5 Princípio da Afetividade Familiar

O princípio da afetividade é oriundo do Princípio da Dignidade da


Pessoa Humana.
Denomina-se Afetividade o amor, carinho e relações de cuidado e
preocupação entre indivíduos que pertencem a um determinado núcleo em
comum, seja ele de cunho familiar, ou não.
Como visto historicamente, a família seguia o modelo patriarcal, e que
todas as decisões no ambiente do lar eram tomadas pela figura masculina, sem
quaisquer participações dos demais participantes da unidade. Visto isso, a
família possuía cunho produtivo e reprodutivo, bastando haver avanços

24
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 39-40.
26

financeiros e patrimoniais, não sendo levado em consideração quaisquer


satisfações pessoais dos componentes deste núcleo familiar.
No entanto, ao decorrer do tempo, houve um declínio da entidade
patriarcal e o surgimento de uma sociedade que transformou a estrutura
familiar, podendo ser citado à inclusão da mulher no mercado de trabalho, uma
vez que esta não dependia de autorização para isto de seu marido, previsão do
divórcio e ainda a igualdade entre o homem e a mulher.
A afetividade assim ganhou espaço, chegando a ser considerado
elemento essencial para que ocorra uma boa estrutura familiar, caso assim não
o fosse, haveriam simplesmente pessoas relacionadas biologicamente,
totalmente descompromissadas que seriam insuficientes para fornecer o bom
desenvolvimento da pessoa, vez que não formam família.
Atualmente a palavra família está ligada automaticamente à afetividade
e sem ela a sociedade não reconhece o vínculo familiar pela sociedade.

Nesse contexto Rodrigo da Cunha Pereira afirma que:

A família faz sentido para o Estado na medida em que é


veículo proporcionador à promoção da dignidade de seus
membros, e por isso a ordem jurídica considerou a afetividade
como princípio, uma vez que em prol deste que houve a
individualização da família, ou seja, o afeto se tornou o
requisito elementar responsável pelo desencadeamento dos
efeitos jurídicos.25

A Constituição Federal Brasileira consolidou esse entendimento em seu


artigo 226, parágrafo 8º, ao determinar:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial


proteção do Estado. [...] § 8º O Estado assegurará a
assistência à família na pessoa de cada um dos que a
integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito
de suas relações.

Ademais, vale ressaltar que a grande consequência do princípio da


afetividade foi transformar o conceito literal de afeto, ligado apenas ao amor,

25
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios Fundamentais Norteadores para o Direito
de Família. Belo Horizonte: DelRey, 2006. p. 183.
27

para aquele que garante o cumprimento das funções parentais através do


cuidado e assistência aos filhos. E esse enquadramento de afetividade como
valor jurídico é um dever imposto aos pais para com seus filhos e também de
forma recíproca.
Diante o exposto sobre o princípio da afetividade e sua ligação com os
outros princípios, faz-se necessário esmiuçar de formar particular o princípio da
convivência familiar, uma vez que este, apesar de ser proporcionador da
afetividade, é um princípio regido por regras próprias e defendido explicita e
individualmente na Constituição Federal.

2.6 Princípio da Convivência familiar

Lobo define a convivência familiar como a relação afetiva diuturna e


duradoura entretecida por aqueles que compõem o âmbito familiar, em
decorrência dos vínculos de parentesco ou não, em um ambiente comum.
O artigo 5º inciso XI da Constituição Federal determina a casa sendo
asilo inviolável do indivíduo, desta forma, ninguém pode introduzir-se sem
autorização do morador.
Sendo assim, podemos entender que o lar é uma identidade própria de
cada individuo, fazendo-se necessário estabelecer tal proteção, não sendo
possível submete-la a espaço publica uma vez que ela é a base para a
convivência familiar se construa de modo estável mantendo a identidade
coletiva própria de cada família.
Ademais, ainda que os pais sejam divorciados, isso não deve atingir o
convívio familiar dos filhos com cada um dos cônjuges, não podendo o
guardião impedir o acesso ao outro com restrições indevidas, uma vez que a
26
convivência com o filho é um direito reciproco dos pais em relação aos filhos.

Por fim, lobo faz um importante adendo

O Poder Judiciário, no caso de conflito, deve considerar


a âmbito da família em cada comunidade conforme seus
valores e costumes. Grande parte das famílias brasileiras

26
LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva. P.74
28

consideram natural o convívio com avós ou tios, todos dentro


do mesmo âmbito familiar solidário,27

2.7. Princípio do melhor interesse da criança

O princípio do melhor interesse da criança deve ser observado como


princípio basilar do Direito de Família contemporâneo, pois encontra assento
constitucional preceituado no artigo 227 da Carta Magna de 1988. Tal princípio
enseja a prioridade na elaboração e na aplicação dos direitos no que tange as
crianças e adolescentes pelo estado, sociedade e pela família.
Paulo Lobo ressalta a inversão de prioridades que ocorreu na sociedade
e no direito, isso pode ser observado nas separações de casais. O pátrio poder
existia em função do pai, o interesse do filho era secundário, com tais
alterações o poder familiar existe em função e no interesse do filho, deve ser
28
considerada o seu melhor interesse.
A utilização do princípio do melhor interesse do menor deve atentar para
relatividades e subjetividades a serem verificadas no caso concreto, visando
sempre a proteção da parte menos favorecida na relação, a criança e o
adolescente, visto que são sujeitos de direito em condição delicada de
desenvolvimento e não objeto de intervenção jurídica e social.
Ademais, a Convenção Internacional dos Direitos das Crianças em seu
artigo 3.1 tange a consideração essencial em face dos interesses da criança. A
convenção estabeleceu que o menor deve ser protegido vastamente,
eliminando qualquer possível diferença entre filhos legítimos e ilegítimos, sendo
dever dos pais cuidar igualmente da educação e do desenvolvimento.
O artigo 227 da Constituição fundamenta o presente princípio
estabelecendo o dever da família, sociedade e estado em assegurar com
absoluta prioridade os direitos da criança e do adolescente. Ademais, os
artigos 4º e 6º da Lei 8.069/90 Estatuto da Criança e do Adolescente vertem
sobre tal princípio.29

27
LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva. P.75
28
Ibidem, P. 75
29
Ibidem, P. 76
29

3 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL

3.1 Conceito de Responsabilidade Civil

O Estado Democrático, buscando uma forma de apenar aquele que


causa dano a outrem considerou a Responsabilidade Civil para que essa
penalidade seja proporcional ao dano causado, que pode ser de ordem
material ou moral. Sendo assim podemos observar que a responsabilidade
deriva da previsão do próprio comportamento, demonstrando a
responsabilidade pela sua correção. 30
O artigo 927 do Código Civil expressa a obrigação daquele que causou o
dano, em repara-lo

Charles Bicca cita dizeres de Sergio Cavalieri Filho:

“Daí ser possível dizer que toda conduta humana que,


violando dever judicio originário, causa prejuízo a outrem é
fonte geradora de responsabilidade civil.” 31

Diante a relevância da Responsabilidade Civil, a Constituição Federal


assegura a indenização em face do dano moral ou material causado, conforme
expresso no artigo 5º inciso V e X da Constituição e nos artigos 186 e 927 do
Código Civil.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao
agravo, além da indenização por dano material, moral ou à
imagem; 
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra
e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;  
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.

30
BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.362
31
BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.362
- programa de responsabilidade civil 9º edição. São Paulo: atlas 2010.
30

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

A Responsabilidade Civil pode existir de duas maneiras, contratual e


extracontratual. A contratual é classificada como aquela que viola uma
obrigação contratual existente em um negócio jurídico, em contrapartida a
extracontratual viola as regras de convivência e de comportamento.
Ademais, para o reconhecimento da Responsabilidade Civil faz-se
necessários os seguintes requisitos para o reconhecimento sendo a conduta
antijurídica, o dano e o nexo causal. Cabe enfatizar que isso independe da
Responsabilidade Civil ser contratual ou extracontratual, objetiva ou subjetiva 32.

3.2 Teoria da Responsabilidade Civil

A responsabilidade civil é dividida em objetiva e subjetiva, sendo a


objetiva decorrente do risco da própria atividade, enquanto a subjetiva não
necessita da intenção de causar dano ou não, ainda que por negligência,
imprudência ou imperícia, deverá ser observada e efetivamente demonstrada.
Charles bicca posição 383. Sendo assim, Silvio Rodrigues expressa a
necessidade da ação ou omissão voluntário, culpa ou dolo, nexo de
causalidade e dano.

3.2.1 Teoria Objetiva

Como mencionado anteriormente, a Responsabilidade Objetiva visa


reparar o ato lesivo causado por outrem, nessa teoria basta o dano e o nexo de
causalidade, não se faz necessário a prova de culpa do agente.
Esta explicação é conceituada por Sergio Cavalieri nas seguintes
palavras:
Todo prejuízo deve ser atribuído ao seu autor e
reparado por quem o causou independente de ter ou não agido
com culpa. Resolve-se o problema na relação de nexo de
causalidade, dispensável qualquer juízo de valor sobre a
culpa.33

32
BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.388
31

O artigo 927 do Código Civil dispõe:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a


outrem, fica obrigado a repará-lo.

Dessa forma, em determinados casos a culpa é presumida e o


ônus da prova invertido, ou seja, será necessário apenas que o autor prove a
ação ou omissão e o dano causado pela conduta do agente.

3.2.2 Teoria Subjetiva

A Responsabilidade Subjetiva diferente da objetiva, exige a


comprovação de culpabilidade do agente para a produção do evento danoso.
Essa culpa será analisada conforme a negligência onde ele deixa de agir,
imprudência na qual ele age de forma imoderada e imperícia na ausência de
habilidade técnica para agir do agente.
Essa responsabilidade leva em conta as atitudes do agente, logo é
necessário a existência de culpa e dolo do agente para que haja indenização,
trocando em miúdos, quando este conhecer e querer o resultado ou quando
embora não o conhecesse e não quisesse, agir com imprudência, imperícia ou
negligência.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Acerca do tema, assevera Rui Stoco:

A necessidade de maior proteção a vítima fez nascer a


culpa presumida, de sorte a inverter o ônus da prova e
solucionar a grande dificuldade daquele que sofreu um dano
demonstrar a culpa do responsável pela ação ou omissão. O
próximo passo foi desconsiderar a culpa como elemento
indispensável, nos casos expressos em lei, surgindo a
responsabilidade objetiva, quando então não se indaga se o
ato é culpável.34

33
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 9. ed. rev. e ampl.
São Paulo: Atlas, 2010.p. 137
32

3.4 Ação

A responsabilidade Civil está atada a um ato que irá causar dano a


outrem, ou seja, há uma pretensão de atingir um objetivo. Uma vez que se
refere ao relacionamento em pessoas, a ação está conexa com a ética e,
portanto, com o direito.
O artigo 186 do Código Civil diz respeito a cláusula geral de
responsabilidade civil
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

O conceito legal de ato ilícito comporta tanto a conduta comissiva quanto


a omissiva, gerando responsabilidade civil.

Nos dizeres de Sergio Cavalieri Filho a responsabilidade civil:

A ação comissiva é a forma mais comum de


manifestação da conduta, consistente em um movimento
corpóreo comissivo, em comportamento positivo, como por
exemplo, destruição de coisa alheia, a morte ou lesão corporal
causada em outra pessoa. Mas com freqüência acontece de o
dever de conduta se formar numa inatividade, ou seja, numa
desistência da prática de atos que possam lesar os direitos e
interesses de alguém. Em ambos os casos, fala-se de ação,
entretanto no primeiro, ação comissiva e no segundo
omissiva.35

3.4.1 Dano Material E Moral

Não é possível falar em indenização, sem a ocorrência do dano, quando


a vítima não sofre nenhum dano não há o que indenizar dessa forma, o dano é
o conjectura de maior relevância da responsabilidade civil
O dano material, também chamado de patrimonial atinge o patrimônio da
vítima, podendo ser um patrimônio futuro podendo causar sua redução ou

34
STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. 7 ed. São
Paulo Editora Revista dos Tribunais, 2007.p. 157
35
CAVALIERI FILHO, Sergio - Programa de Responsabilidade Civil. 8 ed.-São Paulo:
Atlas, 2008, p.71
33

intervir no seu crescimento. Tal dano pode ser reparado diretamente ou através
de uma indenização em dinheiro.
O dano moral está previsto no artigo 5º incisos V e X da Constituição
Federal. Nesse âmbito o dano não ter caráter patrimonial, sendo assim todos
os danos imateriais. A ação de indenização por dano moral atinge a esfera
36
INTIMA da vítima, visando amenizar qualquer sofrimento causado.
Embora não se possa dizer propriamente em indenização, é possível
observar como compensação da vítima, em caso de lesão ou simplesmente
reparação.
Nos dizeres de Charles Bicca:

“Todos os pressupostos previstos para a


responsabilização civil do ofensor, são de total e clara
aplicação nas relações familiares, na qual muitas vezes
ocorrem as maiores violações à dignidade da pessoa
humana.’’37

3.4.2 Nexo de Causalidade

O nexo de causalidade é o elo que liga o dano ao seu fato gerador, é a


ligação ou relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado, sendo
assim é necessário que exista entre ambos uma relação de causa e efeito, logo
a conduta ilícita do agente tem que ser o causador do dano.
O nexo causal é um elemento naturalista, ou seja, não é um elemento
exclusivamente jurídico pois decorre primeiramente de leis naturais. Pode-se
dizer que esse elemento é a correlação de causa e efeito em relação a conduta
e o resultado, logo é através desse elemento que se pode concluir quem foi o
causador do dano
No mesmo sentido, Carlos Roberto Gonçalves dispõe:

“É a conexão de causa e efeito entre ação ou omissão


do agente e o dano verificado. Vem expressa no verbo
“causar”, utilizado no art.186. Sem ela, não existe a obrigação
de indenizar. Se houve o dano, mas sua causa não esta

36
CAVALIERI FILHO, Sergio - Programa de Responsabilidade Civil. 8 ed.-São Paulo:
Atlas, 2008, p.71)
37
BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.398
34

relacionada com o comportamento do agente, inexiste a


relação de causalidade e também a obrigação de indenizar.”38

Nas Palavras de Sérgio Cavalieri o entendimento jurisprudencial é:

“A imputação da responsabilidade civil, seja objetiva ou


objetiva, supõe a presença de dois elementos de fato, sendo a
conduta do agente e o resultado danoso, e um elemento logico-
normativo, o nexo causal, que é logico porque consiste num elo
referencial, numa relação de pertencialidade entre os
elementos de fato. Sendo normativo em decorrência dos
contornos e limites impostos pelo sistema de direito. STJ. REsp
719.738/RS, Primeira Turma.” 39

A Responsabilidade Civil pode existir sem culpa, mas não há


possibilidade da sua existência sem o nexo causal, sendo assim, o nexo causal
é um elemento oportuno em qualquer espécie da responsabilidade civil.
Uma vez que o nexo de causalidade é indispensável entre o ato ou o
fato e o efeito danoso, é necessário apenas demonstrar o vínculo entre o dano
e o fato gerador, sendo assim, não há necessidade da demonstração do dano
de imediato. Na hipótese de ambos os genitores serem responsáveis ou
contribuírem para o dano causado, ambos serão responsabilizados. 40

38
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 7. ed.
São Paulo: Saraiva, 2012, v. 4.P. 54
39
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 9. ed. rev. e ampl.
São Paulo: Atlas, 2010.p. 49
40
CAVALIERI FILHO, Sergio - Programa de Responsabilidade Civil. 8 ed.-São Paulo:
Atlas, 2008, p.50
35

4. RESPONSABILIDADE CIVIL DOS GENITORES PELO ABANDONO


AFETIVO

4.1 Deveres dos Genitores na Formação dos Filhos

O artigo 229 da Constituição Federal determina de forma expressa o


dever dos pais em criar, assistir e educar seus filhos, portanto, a obrigação dos
genitores não se resume ao sustento dos filhos menores.

Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar


os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e
amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado
assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 

A Seção II do Código Civil art. 1.634 destaca tais funções e deveres do


poder familiar:
Art. 1.634.  Compete a ambos os pais, qualquer que
seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder
familiar, que consiste em, quanto aos filhos:               
I - dirigir-lhes a criação e a educação;
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos
termos do art. 1.584;                       

No Brasil a sociedade passou a olhar de uma forma mais específica e


cuidadosa em relação a atenção entre pais e filhos. Nós viemos de uma cultura
que não se privilegia a atenção máxima em face dos filhos, uma cultura que
muitas vezes o genitor ou genitora que paga pensão ao filho acredita que isso
lhe da o direito de não ter mais responsabilidades sobre o filho, o que muitas
vezes acaba atingindo o infante que está em um processo de desenvolvimento
e perde o contato, o vínculo, com aquele que deveria ser seu alicerce.
Segundo o Jurista Yure Soares a psicanalise divide o desenvolvimento
da criança em primeira infância, que vai de 1 ano a 5 anos, na qual é
fundamental a orientação e participação dos pais, logo a ausência de qualquer
36

um dos genitores na orientação da criança em aspectos básicos de


convivência, não só aspectos educacionais, faz com que a criança crie
futuramente algum distúrbio, bloqueio ou transtorno.
Ademais, os pais são o pilar na formação de seus filhos. A partir do
momento em que uma criança ou um adolescente tem um bom convívio
familiar e um lar estável, onde o diálogo e a comunicação prevalecem o seu
desenvolvimento será melhor.
Em decisão do STJ, expressa que não basta apenas o genitor pagar a
pensão alimentícia, há necessidade da convivência. Essa decisão do STJ tem
uma característica indenizatória, privilegiando o aspecto da negligência do
genitor em não conceder a orientação afetiva ao seu filho.
A importância dos genitores na vida de seus filhos, apresenta um
fenômeno social alarmante, ainda que seja difícil de observar, mas essa
ausência está ligada diretamente com o aumento da delinquência juvenil e o
grande número de menores na rua, uma vez que este não tem o suporte
familiar necessário.
. Nessa diretriz, Velásquez salienta:

O abandono, junto com a negligência, ausência de afeto


e dialogo são problemas comuns que atinge a maior parte de
crianças e adolescentes. 90% de menores infratores internados
vem de familiar desestruturadas, onde a agressão física e
emocional estava no lugar do diálogo, gerando problemas
emocionais e psiquiátricos pela ausência das figuras materna e
paterna. 41

Quando um jovem cresce em um ambiente sadio onde há o afeto e


atenção por parte dos genitores, este tende a desenvolver sua auto-estima.

4.2 Transtornos Causados Pelo Abandono Afetivo

A criança cuja qual seu genitor abandonou pode apresentar


comportamentos instáveis na sua fase adulta, seja social ou mental. Segundo
estudos clínicos e psicológicos, a expectativa gerada por uma criança que

41
VELASQUEZ, Miguel Granato, Hecatombe X ECA. Disponível
em <http://www.mpal.mp.br/index.php?
option=com_content&view=article&id=2848&Itemid=149> Acesso em 26 set.2018 
37

almeja afeto ou atenção, pode causar distúrbios de comportamento, de


42
relacionamento social, problemas escolares, baixa autoestima, entre outros.

Charle Bicca TRAZ nos dizeres de Isabela Crispino que:

“Já é pacífico, entre psicólogos e assistentes sociais, o


entendimento de que criança abandonada pelos pais, sofre de
trauma e de ansiedade, que irá repercutir em suas futuras
relações, fazendo-a perder sua confiança e autoestima.”43

Ocorre que muitas vezes essa lacuna deixada por um dos pais, é
preenchida na vida da criança através de outras figuras presentes em sua vida.
Os danos causados de ordem moral ou psíquica vão resultar de casa situação
vivida, aspectos como vulnerabilidade, idade, participação do outro genitor
serão relevantes. 44

Charles Bicca expõe

“Estudos comprovam que a figura paterna é


responsável pela transmissão de limites ao filho, bem como por
ensinar a diferença entre o certo e o errado, introduzindo a
criança de forma EFETIVA na sociedade.” 45

Um artigo publicado pela Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul


FALA que criança com ausência paterna tem duas vezes mais probabilidade de
repetir o ano escolas. 46
Ademais, podemos entender que o afeto faz parte da formação do
sujeito, sendo assim, a ausência do afeto pode trazer graves sequelas ao longo
da vida, uma vez que aquele que nunca foi amado, terá dificuldades em amar.

42
BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.940
43
Ibidem, P. 940
44
BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.954
45
BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.965
46
MONTEGOMEREY, M. “Breves Comentários”. Em: SILVEIRA, Paulo. Exercício da
Paternidade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998,
Bicca, Charles. Abandono Afetivo: O dever de cuidado e a responsabilidade civilidades por
abandono de filhos (Locais do Kindle 1101-1103). OWL Editora. Edição do Kindle.
38

4.2.1 Guarda

Como muito mencionado no presente trabalho, a sociedade sofreu


grandes mudanças no âmbito familiar. Até o século XIX o âmbito familiar era
patriarcal, na qual o homem era o preventor enquanto a mãe se submetia aos
cuidados do lar e dos filhos.
A partir do século XX esse conceito de família se modificou, tornando-se
arcaico e obsoleto. Dentre as principais modificações foi a possibilidade da
separação e do divórcio entre os cônjuges. Diante do exposto, o ordenamento
jurídico passou a observar a necessidade de regulamentar a situação dos filhos
nesses casos, ou seja, guarda e visitas.
Para fins dos deveres comuns dos cônjuges, a guarda visa o amplo
direito e dever de convivência família, considerada prioridade absoluta da
criança, conforme o artigo 227 da Constituição Federal, bem como a
manutenção do infante sob a ótica e amparo com oposição a terceiros, deveres
esses inerentes ao poder familiar conforme estabelece o artigo 1.630 do
Código Civil. 47

Art. 1.630. Os filhos estão sujeitos ao poder familiar,


enquanto menores.

Nos dizeres de Paulo Lobo

O princípio do melhor interesse da criança, trouxe-a ao


centro da tutela jurídica, prevalecendo sobre os interesses dos
pais em conflito. Na sistemática anterior, a proteção a criança
era baseada em qual dos genitores ficaria com sua guarda,
como aspecto secundário e derivado da separação. A
concepção da criança como pessoa em desenvolvimento e sua
qualidade de sujeito de direitos redirecionou a primazia para si,
uma vez que por força do princípio constitucional da prioridade
absoluta de sua dignidade e da sua convivência familiar que
não podem ficar comprometidos com a separação dos pais. 48

47
LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva.
P.146
48
LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva.
P.189
39

Conforme prevê o artigo 33 do Estatuto da Criança e do Adolescente é


dever dos pais prestar auxilio moral, material e educacional aos filhos. O não
cumprimento a tais deveres acarreta serias consequências, bem como a
substituição da guarda, a condenação a pagamento de alimentos podendo
resultar em perda do poder familiar concomitante com a responsabilidade civil
por danos morais em decorrência de violação aos direitos da personalidade da
criança e adolescente que se formam nessa fase 49.

Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência


material, moral e educacional à criança ou adolescente,
conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros,
inclusive aos pais.       
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato,
podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos
procedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por
estrangeiros.
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos
casos de tutela e adoção, para atender a situações peculiares
ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser
deferido o direito de representação para a prática de atos
determinados.
§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a
condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito,
inclusive previdenciários.
§ 4o  Salvo expressa e fundamentada determinação em
contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando a
medida for aplicada em preparação para adoção, o deferimento
da guarda de criança ou adolescente a terceiros não impede o
exercício do direito de visitas pelos pais, assim como o dever
de prestar alimentos, que serão objeto de regulamentação
específica, a pedido do interessado ou do Ministério Público.  

Ademais, a proteção aos filhos é mais ampla no que tange a


regulamentação da guarda e a fixação da obrigação alimentar ao genitor não
guardião. Sendo assim. A proteção aos filhos nos dizeres de Paulo Lobo,
constitui direito primordial. 50

Paulo Lobo expõe:

49
LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva.
P.147
50
LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva.
P.190
40

Invertendo-se os polos dos interesses protegidos, o


direito a guarda converteu-se no direito à continuidade da
convivência ou no direito de contato. Os pais, resguardam os
respectivos poderes familiares em face dos filhos e ao
compartilhamento reciproco de sua formação51.

Há duas modalidades legais de guarda, sendo elas, guarda


compartilhada e guarda unilateral. A guarda unilateral ou exclusiva é atribuída
pelo juiz quando os genitores não chegam a um consenso, sendo descartada a
hipótese de guarda compartilhada. No caso de nenhum dos genitores possuir
condições de cuidar e zelar pelo infante, o juiz atribui a guarda unilateral a um
terceiro.52 No que tange a guarda compartilhada, essa sempre sofreu uma
rejeição por parte da doutrina e dos profissionais de direito, considerando que
só deveria ser aplicada no caso de ser uma opção dos genitores, em
decorrência dos conflitos durante a separação. 53 Ocorre que atualmente a
guarda compartilhada não é mais subordinada a um comum acordo entre os
pais, não havendo acordo a guarda será aplicada pelo juiz sempre que possível
conforme o art. 1.584 §2º do Código Civil. Havendo um comum acordo entre os
genitores a guarda compartilhada pode ser requerida ao juiz por ambos nas
ações litigiosas de divórcio, dissolução de união estável ou em medida cautelar
54
de separação de corpos preparatória de uma dessas ações.

Art. 1.584.  A guarda, unilateral ou compartilhada,


poderá ser:              
[...]
§ 2o Quando não houver acordo entre a mãe e o pai
quanto à guarda do filho, encontrando-se ambos os genitores
aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda
compartilhada, salvo se um dos genitores declarar ao
magistrado que não deseja a guarda do menor.     

4.2.2 Regulamentação do Direito de Visita

51
Ibidem, P.190
52
LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva.
P.192
53
Ibidem, P. 198
54
Ibidem, P. 199
41

O regime de visitas, além de ser um direito reciproco entre pais e filhos,


é a expressão do direito à convivência familiar, a maneira na qual os genitores
ajustarão a convivência do filho com o não guardião. Os encontros serão
regularmente estabelecidos bem como festas escolares e datas
comemorativas. lobo 196
O exercício de visita depende do que convencionado entre as partes, é a
contrapartida da guarda exclusiva, ou seja, a visita do genitor não guardião.
Cabe salientar que ele não se limita a visitar o filho na residência do guardião
ou no local que este designe, mas sim de ter o infante em sua companhia e
conservar sua manutenção e educação como consta no art.1.589 do Código
Civil. O direito de visitas, deve ser atribuído pelo juiz com muita cautela, de
modo que não prevaleça o interesse dos genitores em relação ao direito dos
55
filhos de ter contato constante com ambos.
A guarda, pode sofrer alterações no momento em que há dificuldade do
pai não guardião em visitar o filho, o que poderia ser caracterizado como
alienação parental.

Paulo lobo acrescenta uma decisão que garante:

“O pai tem o direito de visitar o filho e por sua vez,


o menor. No que diz respeito ao adolescente, este tem o direito
de aceitar ou não essas visitações, havendo fundadas razões
para essa repulsa” (TJDE, EI 381 1997) 56

Ademais, a doutrina brasileira, com fulcro em decisões judiciais tem o


entendimento que o direito de visita, na acepção de direito a convivência, não
se limita da pessoa do genitor não guardião, uma vez que os parentes do
infante não podem ter seu contato negado. A ideia dessa decisão, é para que
não afete o âmbito e a convivência familiar dos menores. Sendo assim, se o
juiz entender que a extensão atende efetivamente o melhor interesse da
criança, ele deverá assegura-la, visto que o principio que o rege é a norma
jurídica. 57

55
LÔBO, Paulo Luiz Netto - DIREITO CIVIL - FAMÍLIAS - 4ª ed. - Editora Saraiva.
P.196
56
Ibidem, P.197
57
Ibidem, P. 197
42

4.3 Abandono Afetivo

O Abandono Afetivo tem um aspecto jurisprudencial e doutrinário, com


diversas nuances de posicionamento. Há fontes na doutrina, que são a favor da
decisão do STJ, enquanto outras vão contra, por acreditarem que um genitor
não deveria ser obrigado efetivamente a querer estar ao lado do seu filho, ele
tem a liberdade de querer conviver com ele ou não.
Pelo STJ, de acordo com a decisão, o abandono ocorreria após o
nascimento do infante na qual o pai não teve o elo de convivência, pagou a
pensão mas não foi presente.
Na visão da Psicologia, a criança é um processo de construção de longo
prazo que requer compromissos afetivos permanentes”, de sorte que “a
58
negligência afetiva é muito danosa”
O termo Abandono Afetivo não diz respeito apenas o afeto, mas sim a
obrigação de cuidado que os pais têm decorrente do poder familiar para com
seus filhos, enquanto os filhos forem menores os genitores tem essa
responsabilidade conforme determina os art. 1.634 do Código Civil e art. 229
da Constituição Federal.
Art. 1.634.  Compete a ambos os pais, qualquer que
seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder
familiar, que consiste em, quanto aos filhos:                    
I - dirigir-lhes a criação e a educação;                 
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos
termos do art. 1.584;                         III - conceder-lhes ou
negar-lhes consentimento para casarem;        
IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para
viajarem ao exterior;                  
V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para
mudarem sua residência permanente para outro Município;
VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento
autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o
sobrevivo não puder exercer o poder familiar;                     
VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os
16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após
essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o
consentimento;

58
IENCARELLI, 2009, p. 166-167.
43

VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os


detenha;                      
IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os
serviços próprios de sua idade e condição.    
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar
os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e
amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.

Deste modo, o conceito abarca, todo o suporte moral que os pais devem
alcançar aos filhos, como a real participação em sua criação, a convivência, o
diálogo, a educação, entre outros fatores.

Nos dizeres de Tania Silva

“O ser humano precisa ser cuidado para atingir sua


plenitude, para que possa superar obstáculos e dificuldades da
vida humana”. 59

Como mencionado repetidas vezes no transcorrer do presente trabalho,


o abandono afetivo pode gerar graves problemas a criança e ao adolescente tal
como impotência, perda, desvalorização como pessoa e vulnerabilidade.
Quando os genitores deixam de exercer suas obrigações e deveres, agindo
com indiferença afetiva em relação ao infante, ocorre o abandono afetivo.
A Associação dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-SP),
apontou uma pesquisa que de cada 20 crianças registradas em São Paulo,
uma não tem o nome do pai na Certidão de Nascimento e uma pesquisa do
Datafolha revelou que 70% dos menores infratores internados na antiga Febem
não viviam com o pai. 60
O ordenamento jurídico pátrio não pode compactuar com essa realidade
e, acertadamente evolui no sentido de trazer o genitor para a relação familiar,
como se vê da recente Lei n. 13.058, de 22 de dezembro de 2014.

5.0 ANALISE JURIDICA

59
Tânia da Silva Pereira. Abrigo e alternativas de acolhimento familiar, in: PEREIRA,
Tânia da Silva; OLIVEIRA, Guilherme de. O cuidado como valor jurídico. Rio de Janeiro:
Forense, 2008, p. 309
60
Disponível em <https://destrave.cancaonova.com/as-tristes-consequencias-da-
ausencia-paterna/#sthash.YQDsliGW.dpuf> Acessado em 25 de out.2018
44

A partir das questões apresentadas, importante se faz a análise de


decisões judiciais pátrias sobre o tema, bem como nas instâncias superiores,
como naquelas em que não se reconhece o direito à responsabilização pelo
abandono afetivo, como nas em que reconhece tal possibilidade.

5.1 Histórico das Decisões e Evolução Jurisprudencial Sobre o


Abandono

Charles Bicca aponta em seu livro, alguns casos marcantes em


decorrência do Abandono Afetivo que resultaram em condenação por danos
morais. 61
A 2ª Vara Civil da Comarca de Capão da Canoa no Rio Grande do Sul,
condenou em setembro de 2003 um pai a pagar 200 salários mínimos em
decorrência dos danos psicológicos que sua filha sofreu após o abandono por
parte do genitor. O fundamento para tal decisão foi que educação não abrange
somente a escolaridade ou bens materiais, mais sim a convivência familiar, o
afeto, estabelecer paradigmas, bem como criar condições para que o infante se
desenvolva, ou seja, estar presente na vida do filho em todos os aspectos, não
apenas no que lhe é mais conveniente.62
No ano seguinte, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais condenou o
genitor a pagar R$ 44.000 (quarenta e quatro mil reais) ao filho. O principio
usado como amparo foi o Principio da Dignidade da Pessoa Humana e o
Principio da Afetividade, tendo em vista o abandono paterno que causou
sofrimento ao infante, bem como o privou do direito a convivência. 63
Há duas vertentes que entendem haver a possibilidade de indenização
por danos morais e outra que não reconhece essa possibilidade.

5.2 Posicionamentos Negativo Relacionados À Compensação Por


Abandono Afetivo

Em Março de 2006 o Superior Tribunal de Justiça entendeu não haver a


possibilidade de reparação de danos morais decorrente do abandono,
61
BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.1.340
62
BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.1.340
63
BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.351
45

considerando que a indenização pela pratica do dano moral enseja a pratica de


ato ilícito não cabendo a aplicabilidade dos artigos 159 do Código Civil de
1916. Ademais, segundo Charles Bicca, a decisão que foi interposto recurso ao
Supremo Tribunal Federal não teve seu mérito analisado com a fundamentação
64
de não haver ofensa a constituição
A 4º turma do STJ fixou jurisprudência em diz respeito ao não cabimento
de indenização por dano moral em face do abandono afetivo, independente dos
danos causados.
A justificativa da 4º turma é que no plano material a obrigatoriedade dos
pais representa a obrigação jurídica de prestar alimentos, guarda e educação
dos filhos, tendo como coima a perda do poder familiar, como obsta o art. 1638,
65
inciso II do Código Civil e art. 24 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

‘’RESPONSABILIDADE CIVIL. ABANDONO MORAL.


REPARAÇÃO. DANOS MORAIS. IMPOSSIBILIDADE. 1. A
indenização por dano moral pressupõe a prática de ato ilícito,
não rendendo ensejo à aplicabilidade da norma do
art. 159 do Código Civil de 1916 o abandono afetivo, incapaz
de reparação pecuniária. 2. Recurso especial conhecido e
provido.(STJ - REsp: 757411 MG 2005/0085464-3, Relator:
Ministro FERNANDO GONÇALVES, Data de Julgamento:
29/11/2005, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJ
27/03/2006 p. 299RB vol. 510 p. 20REVJMG vol. 175 p. 438RT
vol. 849 p. 228).’’

CONSOANTE a jurisprudência atualizada do Superior Tribunal de


justiça, no julgamento do REsp 1.579.021/Rio Grande do Sul, é firme ao dizer
que o dever de cuidar diz respeito ao sustento, guarda e educação dos filhos,
desta forma, não há obrigação jurídica em cuidar afetuosamente de modo que
cumprido tais deveres não cabe dano moral indenizável.

5.3 Posicionamentos Positivos Relacionados À Compensação Por


Abandono Afetivo

64
BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.1.354
65
Disponível em https://marcelobarca.jusbrasil.com.br/artigos/588847314/o-abandono-
afetivo-na-atualidade Acessado em 26 out.2018
46

Charles Bicca em uma passagem de seu livro, destaca o


posicionamento favorável a indenização de Maria Berenice Dias, que disse:

A falta de uma resposta do Poder Judiciário chancela a


postura do genitor. Estamos sendo coautores de crimes de
abandono. Estamos rasgando o Código Civil que impõe ao pai
o dever não só de sustento, mas também de guarda, de
convívio. Além disso, há flagrante afronta à norma
constitucional que impõe tratamento igualitário entre filhos.
Este é um dos casos mais chocantes que já vi de confessada
omissão da responsabilidade e de abandono afetivo, e a justiça
não pode se omitir66

A 3º turma do STJ vai em direção contraria quanto ao entendimento da


4º turma do STJ, visto que considera haver cabimento de indenização por
abandono no momento em que os genitores não zelam pelo dever de cuidado
no que tange a obrigação referente aos cuidados e obrigação de convivência
como disposto no art. 186, 189 e 927 do Código Civil.
A Ministra Nancy Andrighi- REsp. 1.159.242/SP- cujo teor do acordão
elucidou que o abando afetivo é passível de indenização.

‘’CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. ABANDONO


AFETIVO. COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL.
POSSIBILIDADE. 1. Inexistem restrições legais à aplicação das
regras concernentes à responsabilidade civil e o consequente
dever de indenizar/compensar no Direito de Família. 2. O
cuidado como valor jurídico objetivo está incorporado no
ordenamento jurídico brasileiro não com essa expressão, mas
com locuções e termos que manifestam suas diversas
desinências, como se observa do art. 227 da CF/88. 3.
Comprovar que a imposição legal de cuidar da prole foi
descumprida implica em se reconhecer a ocorrência de ilicitude
civil, sob a forma de omissão. Isso porque o non facere, que
atinge um bem juridicamente tutelado, leia-se, o necessário
dever de criação, educação e companhia – de cuidado –
importa em vulneração da imposição legal, exsurgindo, daí, a
possibilidade de se pleitear compensação por danos morais por
abandono psicológico. 4. Apesar das inúmeras hipóteses que
minimizam a possibilidade de pleno cuidado de um dos
genitores em relação à sua prole, existe um núcleo mínimo de
cuidados parentais que, para além do mero cumprimento da lei,
garantam aos filhos, ao menos quanto à afetividade, condições
para uma adequada formação psicológica e inserção social. 5.
A caracterização do abandono afetivo, a existência de
66
BICCA, Charles – 1ª Ed.2015 – Abandono Afetivo, Ebook: P.1.360
47

excludentes ou, ainda, fatores atenuantes – por demandarem


revolvimento de matéria fática – não podem ser objeto de
reavaliação na estreita via do recurso especial. 6. A alteração
do valor fixado a título de compensação por danos morais é
possível, em recurso especial, nas hipóteses em que a quantia
estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou
exagerada. 7. Recurso especial parcialmente provido.’’
(Recurso Especial n0:1.159.242 REsp/sp, publicado no Diário
de Justiça Eletrônico em 10/05/2012.)67

O que cabe deixa claro, é que a indenização em decorrência do


abandono afetivo, não diz respeito a dar preço ao amor ou compensar a dor,
mas sim alcançar a reparação dos danos causados pela ausência daquele
genitor, e evidenciando que sua condita deve ser evitada.
Em concordância com os artigos 1638, inciso II do Código Civil brasileiro
e artigo 24 do Estatuto da Criança e do Adolescente combinado com
artigos 187 e 927 do código civil, fundamenta-se que é cabível indenização a
título de dano moral e/ou material por violação ao dever de cuidado à luz do
entendimento do Superior Tribunal de Justiça.

Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai


ou a mãe que:
[...]
II - deixar o filho em abandono;
Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão
decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos
casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de
descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que
alude o art. 22.    
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um
direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a
outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem.
  

67
Disponível em <https://marcelobarca.jusbrasil.com.br/artigos/588847314/o-abandono-
afetivo-na-atualidade> Acessado em 26 out.2018
48

6. CONCLUSÃO

O presente trabalho monográfico procurou demonstrar a importância e a


relevância do Abandono Afetivo tanto na sociedade quanto no âmbito familiar,
bem como o atual estágio da responsabilização civil pelo abandono afetivo na
doutrina e jurisprudência nacional. Para tanto, foi necessário apontar as
transformações que ocorreram no núcleo Familiar, visto que era um conceito
totalmente patriarcal. Em decorrência de tais modificações a proteção familiar
tomou proporções maiores, passando a observar mulheres e filhos igualmente,
e não apenas o homem.
O novo âmbito familiar se adequa nos princípios direito de família, bem
como a igualdade, o respeito as diferenças, visando atender o melhor interesse
da criança e do adolescente. Ademais, preserva princípios citados no decorrer
do presente trabalho e que são consagrados na Constituição Federal, tais
como principio da dignidade da pessoa humana e o princípio da afetividade.
O principal objetivo da Responsabilidade Civil é a reparação do dano
causado por outrem, restaurando assim o equilíbrio moral e patrimonial. Desta
forma, há necessidade do dano, bem como do nexo de causalidade entre ele, o
efeito e a conduta, como causa. A ausência do dano impossibilita a
indenização, sendo assim, no que tange o Abandono Afetivo é preciso
demonstrar que os danos causados a criança e ao adolescente foram e
decorrência da ausência por parte de qualquer dos genitores.
Por conseguinte, podemos definir o Abandono Afetivo quando a criança
ou o adolescente é privado da convivência com seus genitores, seja por
impedimento alheio ou por vontade própria de um dos pais em se abster da
responsabilidade, o que caracterizaria a ausência. Essa ausência por parte de
um dos genitores, caracteriza do dano, pois como muito mencionado na
presente monografia, a ausência dos pais gera sérios transtornos psicológicos
a criança e ao adolescente na fase adulta, além de violar o principio da
dignidade da pessoa humana.
É importante frisar que para a configuração de dano moral ENSEJAR
indenização, é necessário que a negligência parental decorrente do abandono
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tenha causado danos ao infante, na qual será determinado através de laudos


médicos e exames psicológicos. Isto posto, ficará evidente o nexo entre a
conduta e o resultado.
À vista disso, é necessário não só a discussão sobre o tema, mas como
o comprometimento da sociedade, da família e das autoridades competentes
de modo a evitar a deturpação e a mediocrização do instituto do dano moral em
decorrência do abandono afetivo. Diversos estudos por parte de psicólogos,
como apresentados no transcorrer da presente monografia, exibem o quão
sérios são os danos causados pelo abandono afetivo, como depressão,
dificuldade de se relacionar, entre outros. O presente tema não diz respeito ao
dever de amar, mas sim de zelar pelo infante, para que essa criança ou
adolescente possa vir a se tornar um adulto sem conflitos emocionais.
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REFERÊNCIA

Sérgio cavalieri filho. programa de responsabilidade civil 10ª ediçao –


2012
Direito Civil Familias. Paulo Lobo. Ed. Saraiva, 4ª Edicao 2011

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10. ed. rev., atual.
e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.

https://revista.esmesc.org.br/re/article/view/33/37

https://uvaroxa.jusbrasil.com.br/artigos/159444626/responsabilidade-
civil-no-direito-de-familia

https://marcelobarca.jusbrasil.com.br/artigos/588847314/o-abandono-
afetivo-na-atualidade

https://jus.com.br/artigos/22613/responsabilidade-civil-por-abandono-
afetivo-decisao-do-stj

http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,a-responsabilidade-civil-
decorrente-do-abandono-afetivo,589141.html

http://franzoni.adv.br/abandono-afetivo-dos-filhos/

https://app.saraivadigital.com.br/biblioteca/main

https://app.saraivadigital.com.br/leitor/ebook:600305

https://app.saraivadigital.com.br/leitor/ebook:580232

https://app.saraivadigital.com.br/leitor/ebook:580586

https://app.saraivadigital.com.br/leitor/ebook:580585
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Apelação


Civil 408550504. Relator Desembargador Unias Silva. Data da Publicação:
01/04/2004.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Recurso Especial 757411/MG.


Relator Ministro Fernando Gonçalves. Data da Publicação: DJ 27/03/2006.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.


Apelação Cível 70019263409. Sétima Câmara Cível. Relator Desembargador
Luiz Felipe Brasil Santos. Data de Publicação: DJ 08/08/2007.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Recurso Especial 1159.242/SP.


Relatora Ministra Nancy Andrighi. Data de Publicação: 24/04/2012.

Bicca, Charles. Abandono Afetivo: O dever de cuidado e a


responsabilidade civilidades por abandono de filhos (Locais do Kindle 1408-
1419). OWL Editora. Edição do Kindle.

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