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Aparecida de Goiânia, _____de_____________________de____________.

Nome:________________________________Turma: ____________
Professor (a): ________________________________________________________
Disciplina: ARTES
Desenho Pictórico e Linear ou desenhadas, estavam encerradas entre
fronteiras e obedeciam a regras rígidas
Para começar, é sempre bom lembrar da ditadas pela intelligentzia da época, em geral
história. Há mais de 35 mil anos antes de os doutores da Igreja.
Cristo, o ser humano começou a fazer seus
primeiros desenhos nas paredes das Foi quando Sandro Botticelli, um pintor
cavernas onde viviam. Esses artistas da pré- italiano, pintou o “Nascimento de Vênus”, por
história que decoraram abrigos e cavernas volta de 1483. Como se pode ver neste
exerceram seu talento no Paleolítico superior quadro, as figuras se encontram recortadas
sobre um período em torno de 25 mil anos: em relação ao fundo. Os objetos estão
do Auriaciano (ou Aurignaciano - 35 mil a.C.) separados entre si. Todos se voltam para o
ao Madaleniano (em torno de 13 mil anos centro, onde se encontra a deusa grega
a.C). Desde esses primeiros desenhos e Vênus e seu corpo nu, perfeitamente
pinturas, nós temos buscado ampliar nossos imaginado. Uma prova de que novamente,
conhecimentos sobre o mundo em que mesmo em meio à moral da época, o corpo
vivemos, e desenhamos e pintamos o que humano voltava a ocupar lugar de destaque
vemos desse mundo. no mundo das ideias, voltava a ter grande
valor.
O ser humano inventou a linha para traçar
seus desenhos, uma abstração que não Neste detalhe ao lado, podemos ver as linhas
existe na natureza. Mas ao traçar desenhos, traçadas por Botticelli, onde ele encerrou sua
seja no papel seja em outro meio qualquer, o Vênus. A pintura, em sfumato, é plana.
ser humano está descrevendo também, Sombras profundas, não há. A luminosidade
através do desenho, o mundo que o rodeia. parece deixar tudo plano, tudo parte de uma
ordem que não pode ser mexida.
Mas vamos dar um salto grande da pré-
história ao período do Renascimento italiano,
por volta dos séc. XIV e XVI. Nessa época,
se desenvolveu a arte de observação da
natureza, mas que pretendia ir além da
desordem das aparências para encontrar a
ordem subjacente no mundo. O modelo era a
antiguidade clássica da Grécia e de Roma e
seus ideais de Beleza e Perfeição. Naqueles
longínquos tempos, a beleza do corpo
humano era um ideal a ser buscado. Os
atletas se desenvolviam na cultura física, os
filósofos buscavam interpretar o mundo e Mas em seguida… as sombras desceram de
compreender a condição humana. vez sobre a terra, para susto de alguns. Mas
para os artistas, estas sombras trouxeram
No Renascimento, o lugar do ser humano no novas possibilidades de penetrar ainda mais
mundo voltou a ser valorizado. Não se fundo na realidade do mundo. No final do
pintava a realidade como ela era, mas século XVI, com o surgimento disso que ficou
buscando nela a Beleza e a Perfeição. Os depois conhecida como Arte Barroca, o
modelos humanos eram idealizados, as artista desejou mergulhar na multiplicidade
composições dos quadros deviam ser claras, das coisas, nos fluxos da vida, no
limpas, buscando a Simetria. Tudo isso dava movimento. Suas composições passaram a
à arte produzida nesse período uma ser mais dinâmicas, abertas. O movimento se
qualidade algo estática. As figuras, pintadas fazia presente nas artes, que agora
mostravam uma tendência a romper com no desenho, na pintura, na escultura, na
todas as fronteiras, mostrando uma arquitetura.
variedade de formas de expressão que eram,
inclusive, adaptáveis às culturas locais. O Em resumo, são na verdade duas visões de
Barroco, nascido na Itália, se espalhou pela mundo: uma, em que o mundo se encontra
Europa e pelo mundo. Aqui no Brasil, as encerrado entre linhas limítrofes e com
montanhas de Minas Gerais inspiraram o regras mais claras; a segunda, uma visão de
nosso maior artista barroco, o Aleijadinho. que tudo no mundo se relaciona e há que se
buscar ver a realidade como resultado de um
Caravaggio, na Itália, mergulhou conjunto de relações e que dá unidade a
profundamente nessa nova estética. Usou as tudo.
sombras mais densas a favor da luz, em
seus quadros. Montava suas composições O estilo Linear vê o mundo em linhas. O
em ambientes com pouca luz e era dali que sentido do objeto é buscado primeiro no
fazia com que emergissem as figuras. contorno dele e os olhos são conduzidos
através dos limites da forma. Limites firmes,
Até o começo do período do Barroco, nos ao qual tudo se subordina.
fins do século XVI, o desenho e a pintura
ocidentais seguiam o estilo linear, onde Exemplos de pintura e desenho linear:
predominava o uso de linhas - mesmo na
pintura - e as composições planas,
luminosas. Mesmo Leonardo da Vinci que em
um tratado sobre a pintura recomendava que
o artista não respeitasse os limites da linha,
ele mesmo pintava desta forma.
Michelangelo, o grande, inquieto e pródigo
artista do Renascimento também ele
respeitava as linhas. O mesmo aconteceu
com Sandro Botticelli, ou com Rafael di
Sanzio ou com outros grandes.

Mas Ticiano… não! A Escola Veneziana, à


qual ele pertencia, era a escola da pintura
cheia de cor, que ousou ir mais longe do que
a Escola Florentina, que praticava um
desenho e uma pintura mais lineares. Ticiano
foi um dos pioneiros do estilo pictórico,
rompendo os limites da linha, abrindo mão de
descrever os detalhes do que via em prol do
que era essencial aos olhos. A importância
de Ticiano na história da arte deve-se ao fato
de que ele deixou para seus contemporâneos
e para a posteridade uma concepção de
pintura verdadeiramente revolucionária, pois
foi ele quem libertou a pintura dos limites da Estilo Pictórico
linha e da forma, dando todo o poder às
cores. O estilo Pictórico, por seu lado, confere à
forma um caráter indeterminado. Busca o
Linear e Pictórico movimento que ULTRAPASSA o conjunto
dos objetos. As formas isoladas têm pouca
Em seu livro “Conceitos fundamentais de importância, pois vale a Unidade do todo, o
história da arte”, Heinrich Wölfflin explica de conjunto do quadro. O pictórico emancipa as
forma bastante didática essas duas massas do degradée do chiaro-oscuro e do
concepções da arte, que pode estar presente sfumato, um jeito de pintar que alisa as tintas
e cria uma sensação de profundidade através
da passagem suave das sombras para a luz, lento e meticuloso de pintor, busca expressar
ou vice-versa. No estilo Pictórico, o visível a fragilidade dos limites entre as formas, as
parece REAL aos olhos: o pintor reproduz a suaves e profundas distinções entre a luz e a
aparência do objeto / da Realidade. Mas isso sombra.
não significa superficialidade, já que a
aparência é o resultado de um jogo de forças O estilo pictórico mostra a realidade como ela
distribuído em camadas em diversos níveis é apreendida pelo olhar do artista. É a arte
de profundidade. O artista pictórico vê o do “parece ser”. A pintura, em seu conjunto,
mundo como massas, não como linhas. tem movimento, ritmo, amplitude além da
forma. O artista renuncia à ideia anterior
sobre a cor local. As cores servem ao
movimento. Elas são um novo ideal de
beleza. A sombra já não é dominada pelo
preto, mas por tons mais intensos. Luz e
sombra são parte da mesma coisa.

À distância, tudo está completo. Próximo, só


podemos enxergar as pinceladas do artista.
As raízes do Impressionismo do século XIX
na França já tinham sido lançadas pelos
artistas holandeses. Eles já haviam
descoberto o caráter pictórico da Natureza: a
beleza das roupas rotas de um mendigo, de
uma casa em ruínas, das águas inquietas de
praias e cachoeiras, das nuvens em perene
autocriação, das multidões se movimentando
nas feiras e praças…

As ideias de Heinrich Wölfflin se refletem


Rembrandt van Rijn (15/071606 - 4/10/1669) também nas do pintor realista norte-
Este artista holandês fez um esforço para americano David Leffel, que complementa: o
subtrair as figuras à zona tátil e eliminar o pintor não pinta “coisas”, pinta a luz nas
que sobra. Para ele, os contornos não são coisas. Ele não vê seu modelo como um
importantes. Cada detalhe está tão ligado ao conjunto de detalhes separados, mas em
contexto maior que dá a impressão de termos de movimentos de massa. Não pensa
MOVIMENTO contínuo. Rembrandt usava em características especificas como “boca”,
grossas camadas de tinta para mostrar o “nariz”, ou “olhos”; mas vê massas movendo-
movimento das massas em direção à luz. se para dentro e para fora. Vê movimento
Para ele quanto mais luz, mais densidade de entre a luz e a sombra, que vai dando
tintas. Na medida em que ele amadurecia em materialidade ao modelo. A realidade é a
idade e em produção artística, mais se referência permanente do artista. Ele não
tornava um exemplo de que o progresso na pinta o que não está lá, ou o que ele não vê,
concepção pictórica pode caminhar mas aquilo que para ele é significativo da sua
paralelamente em direção a uma crescente observação do mundo. Através do seu olhar,
simplicidade. ele mostra como “pensa” o mundo, qual é
sua atitude, sua capacidade de ver e de
O estilo pictórico é o despertar para um novo sintetizar o que vê
sentido da beleza, diz Wölfflin. Quando
Rembrandt pinta uma figura sobre um fundo Tudo isso para dizer o seguinte: eu sou parte
escuro, a luminosidade do corpo parece hoje dos que fazem pintura Realista e
emanar naturalmente do escuro do espaço. pictórica aqui em São Paulo, onde conheço
Franz Hals (1580 ou 1585 — 10/8/1666) não pelo menos quatro ateliês de pintura realista
queria reproduzir mais do que o olhar em plena atividade. Mas não só aqui. A
apreende do conjunto. Jan Vermeer pintura realista retoma um fôlego muito
(31/10/1632 - 15/12/1675) em seu trabalho importante em diversos lugares do mundo.
Só para citar alguns, do meu conhecimento e
experiência: Rússia, França, Espanha e
Estados Unidos. Nos EUA, onde ainda se
pratica a pintura acadêmica e começa a criar
grande força o Hiperrealismo, a pintura
realista conta hoje com os mais importantes
mestres, o que não deixa de ser curioso, uma
vez que a Guerra Fria produziu lá o
Expressionismo Abstrato em contraposição
ao Realismo. Muitos destes velhos artistas
norte-americanos, que ainda estão vivos e
produzindo muito, passaram por toda aquela
fase de perseguição do macarthismo que
identificava pintura realista com comunismo.

A pintura Realista pictórica é a coisa mais


apaixonante que existe para mim! Nada dá
mais prazer intelectual do que enxergar a
possibilidade de romper os limites, ir além
das formas, ultrapassar as bordas do mundo,
buscar o que há mais lá dentro, no fundo,
escondido dos olhos dos apressados.

Muitas vezes é necessário romper limites,


mas isso sempre exige coragem! Inclusive
para nadar contra a maré do Mercado.

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