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Advocacia nos Tribunais

Superiores

Brasília-DF, 2011.
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ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

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SUMÁRIO

Unidade I
Instância Ordinária e Instância Extraordinária 08

Capítulo 1 – Instância Ordinária e Instância Extraordinária 08


Capítulo 2 – Recurso Extraordinário – RE 09
Capítulo 3 – Recurso Especial 10
Capítulo 4 – Alcance do Juízo de Admissibilidade exercido pelos Tribunais de Origem nos
Recursos Extraordinário e Especial 12
Capítulo 5 – Pressupostos Recursais do Recurso Extraordinário e do Recurso Especial 13
Capítulo 6 – Esgotamento de Instância 16
Capítulo 7 – Súmula 284 do STF – Inépcia da Petição Recursal 18
Capítulo 8 – Análise da Fundamentação do Acórdão Recorrido 21
Capítulo 9 – Análise da Prestação Jurisdicional pelo Supremo Tribunal Federal 23
Capítulo 10 – Análise da Prestação Jurisdicional pelo Superior Tribunal de Justiça 24
Capítulo 11 – Prequestionamento 26
Capítulo 12 – Reexame e Revaloração do Contexto Fático e Probatório no Recurso Extraordinário
e no Recurso Especial 30
Capítulo 13 – Dissídio Jurisprudencial 36
Capítulo 14 – Agravo de Instrumento Contra Inadmissão de Recurso Extraordinário e de Recurso
Especial 38

Unidade II
Repercussão Geral 43

Capítulo 15 – Repercussão Geral 43


Capítulo 16 – Procedimento de Recurso Repetitivo 48
Capítulo 17 – Súmula Vinculante 50

Referência 51

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ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

ÍCONES UTILIZADOS NO MATERIAL DIDÁTICO

Provocação: Pensamentos
inseridos no material Atenção: Destaque do
didático para provocar a assunto referente ao
reflexão sobre sua prática conteúdo.
e seus sentimentos ao
desenvolver os estudos em
cada disciplina.

Reflexão: Questões Saiba Mais: Textos, trechos


inseridas durante o estudo de textos referenciais,
da disciplina para estimulá- conceitos de dicionários,
lo a pensar a respeito exemplos e sugestões para
do assunto proposto. lhe apresentar novas visões
Registre sua visão, sem sobre o tema abordado no
se preocupar com o conteúdo do texto. O texto básico.
importante é verificar seus conhecimentos,
suas experiências e seus sentimentos. É
fundamental que você reflita sobre as
questões propostas. Elas são o ponto de
partida de nosso trabalho.

Sintetizando e
Enriquecendo nossas
Referências: Bibliografia
Informações: Espaço para
consultada na elaboração
você fazer uma síntese dos
da disciplina.
textos e enriquecê-los com
sua contribuição pessoal.

Indo à Sala de Aula:


Para (Não) Finalizar:
Sugestão de ações e
Texto, ao final do Caderno,
atividades a serem
com a intenção de instigá-
desenvolvidas em sala
lo a prosseguir com a
de aula, com base nos
reflexão.
conteúdos trabalhados.

Atividades: Atividades
sugeridas no decorrer das Curiosidades:
leituras, com o objetivo Aprofundamento das
pedagógico de fortalecer o discussões.
processo de aprendizagem.

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ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

Apresentação

O presente material foi elaborado com o objetivo de auxiliar a atuação dos operadores de
direito no Supremo Tribunal Federal no Superior Tribunal de Justiça em relação à interposição,
respectivamente, do recurso extraordinário e do recurso especial, motivo pelo qual a abordagem
aqui utilizada é eminentemente prática, baseada principalmente na jurisprudência das Cortes
mencionadas e em relação apenas à admissibilidade destes recursos derradeiros, admissibilidade
complexa, diga-se de passagem, o que se pode deduzir do grande número de recursos que tem o
seguimento obstado na Instância Ordinária.

Além disso, entendemos oportuno abordar alguns pontos sobre o agravo de instrumento
interposto contra decisão que, pela admissibilidade ou pelo mérito, inadmite recurso extraordinário
e recurso especial, inclusive porque é prática comum tanto no STF quanto no STJ o julgamento do
mérito do recurso extraordinário e do recurso especial no agravo previsto no art. 545 do CPC.

Finalmente, são comentados os institutos da Repercussão Geral, do Procedimento de


Julgamento de Recurso Especial Repetitivo e da Súmula Vinculante em relação à admissibilidade dos
recursos extraordinário e especial, a fim de possibilitar ao operador do direito visão global quando
da interposição dos recursos derradeiros.

Bons estudos.

Boa prática jurídica.

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Autor

Ricardo Silva

Pós- Graduado em Direito Público(Instituto Processus) e Direito Processual


Civil( (Instituto Brasileiro de Direito Público) .

Instrutor Interno do Superior Tribunal de Justiça nos cursos de: Formação de


Servidores para Atuarem em Gabinetes de Ministros e Admissibilidade de
Recurso Extraordinário.

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ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

UNID. 1 INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA


EXTRAORDINÁRIA
Capítulo 1 – INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA

1.1 Instância Ordinária

Julga os recursos ordinários lato sensu, nos quais o interesse recursal está intimamente
ligado à ideia de sucumbência, pressuposto maior do direito de recorrer. No que importa
ao presente estudo, destacamos na instância ordinária os tribunais estaduais e os tribunais
regionais federais, dos quais sairão os julgados que poderão sofrer impugnação via recurso
especial e/ou recurso extraordinário.

Nesta instância prevalece o valor Justiça, buscando a parte a tutela do seu direito
subjetivo, supostamente violado.

O recurso na instância ordinária tem como finalidade imediata a satisfação da pretensão


do recorrente, enquanto seu fim mediato é a interpretação correta das normas que compõem
o ordenamento jurídico pátrio (Constituição Federal, Constituição Estadual, leis federais, leis
estaduais etc.)

A apelação, prevista nos arts. 513 a 521 do CPC, é o recurso ordinário por excelência.

1.2 Instância Extraordinária

Julga os recursos extraordinários, nos quais o interesse recursal está intrinsecamente


relacionado à sucumbência e à uniformização da aplicação da Constituição Federal e das
leis federais. Aqui trataremos apenas do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal
de Justiça, a quem compete o julgamento, respectivamente, do recurso extraordinário e do
recurso especial.

Nesta instância prevalece o valor Direito, sendo facultado à parte a busca da tutela
jurisdicional dos seus interesses, desde que demonstre a afronta ao direito objetivo
(ordenamento jurídico).

Numa visão teleológica, pode-se concluir que os recursos extraordinários têm natureza
política, entendida a política neste contexto como a função de colaborar na governabilidade do
País, em respeito ao Pacto Federativo e à Separação dos Poderes, previstos constitucionalmente.

Em síntese, o recurso na instância extraordinária tem como finalidade imediata, no que


pertine aos arts. 102 a 105 da Constituição Federal, a interpretação correta da Carta Maior e
das leis federais, enquanto seu fim mediato é a satisfação da pretensão do recorrente.

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UNIDADE 1 :: INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA

Os recursos extraordinários (lato sensu) podem ser divididos em recurso extraordinário


stricto sensu e recurso especial.

Capítulo 2 – RECURSO EXTRAORDINÁRIO - RE

2.1 Missão do Supremo Tribunal Federal

Ninguém melhor que o próprio STF para definir sua missão no contexto jurídico nacional.
Por isso, a transcrição abaixo de didático precedente da lavra do Ministro Celso de Mello.

A DEFESA DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA REPRESENTA


O ENCARGO MAIS RELEVANTE DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL.
- O Supremo Tribunal Federal – que é o guardião da Constituição,
por expressa delegação do Poder Constituinte – não pode renunciar
ao exercício desse encargo, pois, se a Suprema Corte falhar no
desempenho da gravíssima atribuição que lhe foi outorgada, a
integridade do sistema político, a proteção das liberdades públicas,
a estabilidade do ordenamento normativo do Estado, a segurança
das relações jurídicas e a legitimidade das instituições da República
restarão profundamente comprometidas.
O inaceitável desprezo pela Constituição não pode converter-
-se em prática governamental consentida. Ao menos, enquanto
houver um Poder Judiciário independente e consciente de sua alta
responsabilidade política, social e jurídico-institucional.
(ADI/2010 – Medida Cautelar – Min. Celso de Mello – DJU de
12/04/2002)

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ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

2.2 Conceito de Recurso Extraordinário

É um recurso extraordinário (lato sensu), de fundamentação vinculada, por meio do


qual se tutela o sistema jurídico, o direito objetivo, almejando a garantia da efetividade e da
uniformidade de interpretação da Constituição Federal no País, tendo em vista a análise de
questões eminentemente de direito.

2.3 Características do Recurso Extraordinário

• Não é instrumento de terceiro grau de jurisdição. Portanto, não é recurso que objetiva
corrigir injustiças.
• Sua utilização demanda o prévio esgotamento dos recursos ordinários.
• Visa somente à impugnação de questão constitucional de direito. É importante
destacar que o STF não conhece do recurso extraordinário por afronta a súmula dessa Corte,
pois súmula não é dispositivo constitucional.
• Não se presta para o reexame de matéria de fato, embora possa ter por fim a
revaloração da prova ou o reexame das questões constitucionais relacionadas ao direito
probatório, institutos que serão examinados mais adiante.
• Não possui efeito suspensivo, em regra. Contudo, excepcionalmente, pode obstar a
execução provisória do acórdão recorrido, mediante a utilização de medida cautelar.
• Sua admissão está intrinsecamente relacionada ao debate de questão constitucional
no Tribunal a quo (prequestionamento).
• Serve para o controle da aplicação dos conceitos jurídicos indeterminados previstos
na Constituição.

2.4 Hipóteses de cabimento do Recurso Extraordinário

Previstas no art. 102, III, da Constituição Federal, quando o acórdão recorrido:


a) contrariar dispositivo da desta Constituição;
b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição; e
d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

Capítulo 3 – RECURSO ESPECIAL – RESP

3.1 Missão do Superior Tribunal de Justiça

O Superior Tribunal de Justiça possui a função de interpretar a legislação


infraconstitucional, corrigindo ilegalidades cometidas no julgamento das causas, em última
ou única instância, pelos Tribunais Regionais Federais e pelos Tribunais de Justiça.

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UNIDADE 1 :: INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA

O Superior Tribunal de Justiça, no dizer


de alguns de seus Ministros, é um Tribunal
de Precedentes, que desempenha função
paradigmática, pois suas decisões servem
de norte a ser seguido pelas demais cortes
pátrias, propiciando, assim, a uniformização
da jurisprudência nacional. Nesse sentido,
veja-se a seguinte ementa de acórdão:

REGIMENTAL – DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA – INDENIZAÇÃO –


MATÉRIA SUMULADA. (...)
– A missão do STJ é unificar a interpretação da legislação
federal e não servir como terceira instância.
(STJ - AgRg no Ag 314.710/SP, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE
BARROS, PRIMEIRA TURMA, julgado em 05.03.2002, DJ 22.04.2002
p. 163) (grifo nosso)

3.2 Conceito de Recurso Especial

É um recurso extraordinário (lato sensu), de fundamentação vinculada, por meio do


qual se tutela o sistema jurídico, o direito objetivo, almejando a garantia da efetividade e
da uniformidade de interpretação da Lei Federal no País, por meio da análise de questões
eminentemente de direito.

O recurso especial é também chamado de recurso excepcional, recurso de superposição


ou recurso derradeiro.

3.3 Características do Recurso Especial

• Não é instrumento de terceiro grau de jurisdição. Portanto, não é recurso que objetiva
corrigir injustiças.
• Sua utilização demanda o prévio esgotamento dos recursos ordinários.
• Visa somente à impugnação de questão federal de direito. É importante destacar que
o STJ não conhece do recurso especial por afronta a súmula dessa Corte, pois súmula não é
direito federal.
• Não se presta para o reexame de matéria de fato, embora possa ter por fim a
revaloração da prova ou o reexame das questões federais relacionadas ao direito probatório,
institutos que serão examinados mais adiante.
• Não possui efeito suspensivo, em regra. Contudo, excepcionalmente, pode obstar a
execução provisória do acórdão recorrido, mediante a utilização de medida cautelar.
• Sua admissão está intrinsecamente relacionada ao debate de questão federal no
Tribunal a quo (prequestionamento).

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ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

• serve para o controle da aplicação dos conceitos jurídicos indeterminados (“prova


escrita”, “bem de família” etc.) e das cláusulas gerais (“boa-fé”, “função social da propriedade”,
“poder geral de cautela” etc.).
• não pode ser utilizado para reexame de cláusula contratual.
• sofre a incidência, no que for cabível, das súmulas do STF que regulem a admissibilidade
do recurso extraordinário.

3.4 Hipóteses de cabimento do Recurso Especial

Previstas no art. 105, III, da Constituição Federal, quando o acórdão impugnado:


a) contrariar tratado ou lei federal ou negar vigência a estes.
b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal.
c) divergir de acórdão de outro TRF, TJ ou do próprio STJ - dissídio jurisprudencial.

Capítulo 4 – ALCANCE DO JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE EXERCIDO


PELOS TRIBUNAIS DE ORIGEM NOS RECURSOS EXTRAORDINÁRIO E
ESPECIAL

O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal Justiça entendem que o juízo prévio
de admissibilidade exercido pelos tribunais de origem no recurso extraordinário e no recurso
especial alcança tanto os requisitos formais quanto o mérito destes recursos derradeiros,
aplicando-se, portanto, o teor da Súmula 123/STJ: “A decisão que admite, ou não, o recurso
especial, deve ser fundamentada, com o exame dos seus pressupostos gerais e constitucionais.”

Agravo regimental no agravo de instrumento. Competência do


Relator. Prequestionamento. Ausência. Precedentes. 1. O relator
tem competência para reexaminar o juízo de admissibilidade
emitido pelo tribunal de origem e para examinar, desde logo,
o mérito do recurso extraordinário. (...) (STF - AI 673982 AgR,
Relator(a): Min. MENEZES DIREITO, Primeira Turma, julgado em
14/04/2009, DJe-094 DIVULG 21-05-2009 PUBLIC 22-05-2009
EMENT VOL-02361-09 PP-01834) (grifo nosso)

PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL - EXAME DO


MÉRITO DO ESPECIAL PELO TRIBUNAL DE ORIGEM NO JUÍZO DE
ADMISSIBILIDADE PRÉVIO - POSSIBILIDADE - SÚMULA 123/STJ -
APLICAÇÃO DA SÚMULA 182/STJ NO AGRAVO DE INSTRUMENTO
DO ART. 545 DO CPC - FUNDAMENTOS DA DECISÃO DENEGATÓRIA
DO ESPECIAL NÃO IMPUGNADOS NO AGRAVO - PRINCÍPIO DA
DIALETICIDADE DOS RECURSOS - ARGUMENTOS PLAUSÍVEIS PARA
AFASTAR A INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ.
1. O Superior Tribunal de Justiça, interpretando de forma
ampla a Súmula 123 desta Corte, tem entendimento pacífico
quanto à possibilidade do exame do mérito do recurso
especial pelos tribunais da instância ordinária no juízo de

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UNIDADE 1 :: INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA

admissibilidade. (...)
(STJ - AgRg no Ag 1134471/RJ, Rel. Ministro PAULO FURTADO
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/BA), TERCEIRA TURMA,
julgado em 19/11/2009, DJe 30/11/2009) (grifo nosso)

Capítulo 5 – PRESSUPOSTOS RECURSAIS DE RE E RESP

5.1 Introdução

O exame dos pressupostos recursais aponta para a complexidade e formalidade relativa


ao exercício do direito de recorrer, notadamente em se tratando dos recursos extraordinário e
especial.

Na instância extraordinária impera, em relação aos requisitos de admissibilidade


recursal, a técnica, o rigor formal, como maneira de filtrar a subida de recursos, muitos
meramente protelatórios ou contrários à jurisprudência dominante do Supremo Tribunal
Federal e do Superior Tribunal de Justiça.

5.2 Pressupostos Genéricos de Admissibilidade Recursal

A doutrina majoritária classifica os requisitos de admissibilidade em:

5.2.1. Requisitos Intrínsecos (relativos à existência do direito de recorrer):

a) adequação – cabimento
- É a previsão normativa do recurso. No caso dos recursos extraordinários e
especial são as normas dos arts. 102, III, e 105, III, da CF.

b) legitimidade recursal
- Têm legitimidade recursal, segundo o art. 499 do CPC, a parte, o Ministério
Público e o terceiro interessado.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PROCESSO PENAL. LEGITIMIDADE


RECURSAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. CONSTITUCIONAL.
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. PRISÃO CIVIL. O
Ministério Público tem legitimidade para interpor recurso
extraordinário contra sentença que concede Habeas Corpus.
(...) (STF - RE 250917 / MG - MINAS GERAIS - Min. NELSON JOBIM
Julgamento: 29/06/1999 - Órgão Julgador: Segunda Turma) (grifo
nosso)

c) interesse de recorrer (gravame)


- Aqui se verifica o binômio necessidade e utilidade do recurso.

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ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

IMPOSSIBILIDADE DE COMPREENSÃO DA CONTROVÉRSIA.


INTERESSE RECURSAL. AUSÊNCIA. NECESSIDADE E UTILIDADE.
1. O exame de matéria constitucional refoge aos limites da
competência outorgada ao STJ na estreita via do recurso especial.
2. “(...) A noção de interesse, no processo, repousa sempre,
ao nosso ver, no binômio utilidade + necessidade: utilidade
da providência judicial pleiteada, necessidade da via que se
escolhe para obter essa providência. O interesse em recorrer,
assim, resulta da conjugação de dois fatores: de um lado, é
preciso que o recorrente possa esperar, da interposição do
recurso, a consecução de um resultado a que corresponda
situação mais vantajosa, do ponto de vista prático, do que
a emergente da decisão recorrida: de outro lado, que lhe
seja necessário usar o recurso para alcançar tal vantagem.”
(in Comentários ao Código de Processo Civil, volume V, Editora
Forense, 7ª edição, Rio de Janeiro, 1998, página, 295.)” (AgRg
no Ag n. 344.097/MG, relator Ministro HAMILTON CARVALHIDO,
Sexta Turma, DJ de 2.8.2004). (...)
(STJ - REsp 624.694/PR, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
SEGUNDA TURMA, julgado em 12.09.2006, DJ 09.10.2006 p. 278)
(grifo nosso)

d) inexistência de fatos impeditivos ou modificativos. Exemplos:


- desistência do recurso ou da ação
- reconhecimento jurídico do pedido
- transação
- renúncia ao direito sobre o qual se funda a ação
- depósito prévio de multa – deserção
- renúncia ao recurso

PROCESSO CIVIL - PEDIDO DE DESISTÊNCIA DA AÇÃO FORMULADO


APÓS A PROLAÇÃO DA SENTENÇA - IMPOSSIBILIDADE - DISTINÇÃO
DOS INSTITUTOS: DESISTÊNCIA DA AÇÃO, DESISTÊNCIA DO
RECURSO E RENÚNCIA.
1. A desistência da ação é instituto de natureza eminentemente
processual, que possibilita a extinção do processo, sem
julgamento do mérito, até a prolação da sentença. Após a
citação, o pedido somente pode ser deferido com a anuência
do réu ou, a critério do magistrado, se a parte contrária
deixar de anuir sem motivo justificado. A demanda poderá
ser proposta novamente e, se existirem depósitos judiciais,
estes poderão ser levantados pela parte autora.
Antes da citação o autor somente responde pelas despesas
processuais e, tendo sido a mesma efetuada, deve arcar com
os honorários do advogado do réu.
2. A desistência do recurso, nos termos do art. 501 do CPC,
independe da concordância do recorrido ou dos litisconsortes
e somente pode ser formulada até o julgamento do recurso.

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UNIDADE 1 :: INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA

Neste caso, há extinção do processo com julgamento do mérito,


prevalecendo a decisão imediatamente anterior, inclusive no
que diz respeito a custas e honorários advocatícios.
3. A renúncia é ato privativo do autor, que pode ser exercido em
qualquer tempo ou grau de jurisdição, independentemente
da anuência da parte contrária, ensejando a extinção do
feito com julgamento do mérito, o que impede a propositura
de qualquer outra ação sobre o mesmo direito. É instituto
de natureza material, cujos efeitos equivalem aos da
improcedência da ação e, às avessas, ao reconhecimento do
pedido pelo réu. Havendo depósitos judiciais, estes deverão
ser convertidos em renda da União. O autor deve arcar com
as despesas processuais e honorários advocatícios, a serem
arbitrados de acordo com o art. 20, § 4º do CPC (“causas em
que não houver condenação”). (...)
(STJ - REsp 555.139/CE, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA
TURMA, julgado em 12.05.2005, DJ 13.06.2005 p. 240) (grifo
nosso)

5.2.2. Requisitos Extrínsecos (relativos ao exercício do direito de recorrer):

a) tempestividade
O prazo para interposição e resposta nos recursos extraordinário e especial é de
15 (quinze) dias, nos termos do art. 508 do CPC.
No caso derecurso especial interposto de acórdão majoritário, observar o art.
498 do CPC:
Art. 498. Quando o dispositivo do acórdão contiver julgamento
por maioria de votos e julgamento unânime, e forem interpostos
embargos infringentes, o prazo para recurso extraordinário ou
recurso especial, relativamente ao julgamento unânime, ficará
sobrestado até a intimação da decisão nos embargos. (Redação
dada pela Lei n. 10.352, de 2001)
Parágrafo único. Quando não forem interpostos embargos
infringentes, o prazo relativo à parte unânime da decisão terá como
dia de início aquele em que transitar em julgado a decisão por
maioria de votos. (Incluído pela Lei n. 10.352, de 2001)

Recurso especial interposto antes do julgamento de embargos de declaração


precisa ser ratificado, nos termos da Súmula 418/STJ: “É inadmissível o recurso especial
interposto antes da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem posterior
ratificação.”

b) custas e porte de remessa e retorno


c) procuração
Devem constar dos recursos extraordinário e especial as procurações dos
advogados, com toda a cadeia de substabelecimentos, se for o caso.

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ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

AGRAVO REGIMENTAL. PETIÇÃO SUBSCRITA POR ADVOGADOS


SEM PODERES NOS AUTOS - SÚMULA 115. EMBARGOS À
EXECUCÃO.
- Na hipótese em que inexistam nos autos dos embargos
à execução cópia da procuração outorgada pela parte que
interpõe recurso especial, mas somente nos autos da ação de
execução desapensada, incumbe ao recorrente providenciar
o traslado do instrumento de mandato ou juntar nova
procuração, sob pena de incidência da Súmula 115/STJ.
- Na instância especial considera-se inexistente o recurso
interposto por advogado sem procuração nos autos.
(STJ - AGRG no AG n.755813/SP, TERCEIRA TURMA, Relator Ministro
HUMBERTO GOMES DE BARROS, DJ 10.09.2007 p. 228) (grifo
nosso)

Capítulo 6 – ESGOTAMENTO DE INSTÂNCIA

A expressão causa decidida, constante dos arts. 102, III, e 105, III da Constituição
Federal não deixa dúvida de que a interposição de recurso extraordinário e de recurso especial
demanda o prévio esgotamento de instância, o que significa a utilização, pelo recorrente,
de todos os recursos cabíveis perante o Tribunal de Justiça ou o Tribunal Regional Federal,
incluindo embargos infringentes, quando for o caso, sob pena de não conhecimento dos
recursos derradeiros.

Sobre o tema, oportuno assinalar duas súmulas editadas pelo STF e STJ pelosobre o
tema:

Súmula 281/STF:
“É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber, na justiça de
origem, recurso ordinário da decisão impugnada”.

Súmula 207/STJ:
“É inadmissível recurso especial quando cabíveis embargos infringentes
contra acórdão proferido no tribunal de origem”.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO - OBJETO. Consoante dispõe o artigo


102, inciso III, da Carta Federal, a decisão atacável mediante
extraordinário há de se mostrar de única ou última instância. DIREITO
INSTRUMENTAL - NATUREZA DAS NORMAS - ORGANICIDADE. A
regra direciona à natureza imperativa, e não dispositiva,
das normas instrumentais. Descabe a queima de etapas,
deixando-se de interpor recurso previsto, para, de imediato,
alcançar o crivo do Supremo. O acesso a esta Corte, via
extraordinário, pressupõe o esgotamento da jurisdição na
origem, fenômeno que não ocorre quando não observado o
artigo 530 do Código de Processo Civil, no que contempla a

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UNIDADE 1 :: INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA

adequação dos embargos infringentes.


(STF - RE 413195 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira
Turma, julgado em 06/06/2006, DJ 04-08-2006 PP-00046 EMENT
VOL-02240-05 PP-00943) (grifo nosso)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE


INSTRUMENTO. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. COOPERATIVA
DE TRABALHO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PROFISSIONAIS À
SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DE RORAIMA. APELAÇÃO QUE
REFORMA SENTENÇA DE MÉRITO, POR MAIORIA. NECESSIDADE
DO MANEJO DE EMBARGOS INFRINGENTES. NÃO ESGOTAMENTO
DAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. SÚMULA 207/STJ.
1. Caso em que o Estado de Roraima insurge-se contra o recolhimento
de contribuição previdenciária sobre os pagamentos efetuados aos
prestadores de serviços da saúde.
2. No caso concreto, o apelo da agravada foi provido, por
maioria de votos, para, reformando a sentença, julgar
improcedente o pedido, e o agravante não exauriu as
instâncias ordinárias.
3. O conhecimento do recurso especial esbarra no óbice da
súmula 207/STJ, segundo a qual: “É inadmissível recurso
especial quando cabíveis embargos infringentes contra o
acórdão proferido no tribunal de origem”. (...)
(STJ - AgRg no Ag 1245343/RR, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 08/06/2010, DJe 17/06/2010) (grifo
nosso)

Quanto a este tema, faz-se necessário observar, ainda, a redação do art. 557 do CPC
– muito utilizado nos Tribunais – dispositivo pelo qual os relatores decidem solitariamente
os recursos. Neste caso, diante de decisão monocrática é indispensável ao futuro recorrente
em sede de recurso especial ou recurso extraordinário a interposição de recurso de agravo
interno ou agravo regimental para o esgotamento de instância, mediante a publicação do
acórdão pelo órgão julgador.

É importante destacar a sistemática de julgamento do art. 557 do CPC, porque algumas


hipóteses podem levar à falsa impressão de ter havido esgotamento de instância como, por
exemplo, no caso do julgamento monocrático, pelo relator, de embargos de declaração
interpostos de decisão monocrática proferida com base no dispositivo mencionado. Nesta
situação, como os embargos declaratórios aderem ao decisum pelo efeito integrativo que
possuem, é imprescindível a interposição de agravo regimental, pois somente a prolação de
acórdão tem o condão de caracterizar a prestação jurisdicional completa, enquadrada na
expressão constitucional causa decidida.

AGRAVO REGIMENTAL. ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE SEGUNDO


GRAU. DUPLA FUNDAMENTAÇÃO (LEGAL E CONSTITUCIONAL).
AUSÊNCIA DE INTERPOSIÇÃO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
PRECLUSÃO DA QUESTÃO CONSTITUCIONAL. FALTA DE
ESGOTAMENTO DE INSTÂNCIA. SÚMULA/STF 281. A questão

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ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

constitucional que serviu de fundamento ao acórdão do


Tribunal Regional Federal da 2ª Região não foi atacada
no momento próprio. A decisão monocrática proferida nos
embargos de declaração não esgotou as vias recursais
ordinárias, porquanto ainda era cabível o agravo previsto
no art. 557, § 1º, do Código de Processo Civil. Súmula 281 do
STF. Agravo regimental a que se nega provimento.
(STF - RE 500411 AgR, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA,
Segunda Turma, julgado em 16/06/2009, DJe-148 DIVULG 06-08-
2009 PUBLIC 07-08-2009 EMENT VOL-02368-08 PP-01549) (grifo
nosso)

PROCESSUAL CIVIL - RECURSO ESPECIAL - EXECUÇÃO FISCAL


- COMPETÊNCIA - AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO E
FUNDAMENTOS SUFICIENTES PARA MANTER O ACÓRDÃO
RECORRIDO NÃO IMPUGNADOS: SÚMULAS 282 E 283/STF -
MULTA PREVISTA NO § 2º DO ART. 557 DO CPC - INAPLICABILIDADE
À HIPÓTESE DOS AUTOS (...)
2. O agravo interposto contra decisão monocrática do relator
que nega seguimento ao recurso de apelação não pode ser
considerado protelatório ou manifestamente improcedente
quando seu objetivo é o esgotamento das instâncias ordinárias
para o fim de interposição do recurso especial. (...)
(STJ - REsp 1188858/PA, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA
TURMA, julgado em 11/05/2010, DJe 21/05/2010) (grifo nosso)

Capítulo 7 – SÚMULA 284 DO STF

7.1 Introdução

Como na Instância Extraordinária, em relação ao recurso extraordinário e ao recurso
especial, busca-se o prevalecimento do valor Direito – aqui entendido como a uniformização
na aplicação dos dispositivos constitucionais e da legislação federal. Dessa forma, exige-
-se dos operadores do Direito a utilização de linguagem técnica, específica às finalidades
dos recursos derradeiros, com indicação objetiva, precisa, da suposta violação ocorrida no
julgamento efetuado pelo Tribunal a quo.

Tal requisito foi materializado na Súmula 284 do Supremo Tribunal Federal, com a
seguinte redação: “É inadmissível o recurso extraordinário quando a deficiência na sua
fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia.”

Esta súmula, aplicada à inépcia da petição do recurso extraordinário e do recurso


especial, contém em si várias hipóteses de incidência, pela ampliação do alcance de sua
redação, como se pode verificar a seguir, a partir da jurisprudência do STF e do STJ.

18
UNIDADE 1 :: INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA

7.2 Hipóteses de Incidência da Súmula 284/STF

• Quando da leitura das razões recursais não se consegue compreender a natureza da


controvérsia (escrita confusa, de difícil leitura).

Agravo no agravo de instrumento. Recurso especial. Fundamentação


deficiente. Apelação. Depósito prévio. Lei de imprensa. Inexigência.
Questões de ordem pública. Reconhecimento de ofício. Possibilidade.
- Inviável o recurso especial na parte em que a
deficiência na fundamentação impede a compreensão da
natureza da controvérsia. (...)
(STJ - AgRg no Ag 850819/MS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 07.05.2007, DJ 28.05.2007 p. 335)
(grifo nosso)

• Quando o recorrente, embora expresse seu inconformismo com o julgado, não indica
com clareza e objetividade em que consiste a suposta ofensa à Lei Federal. É como se o
recurso especial tivesse sido redigido como apelação, contendo mero pedido de reforma do
acórdão recorrido.

AGRAVO REGIMENTAL. ADMINISTRATIVO. MANDADO DE


SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. ARTIGO 575 DO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. FUNDAMENTAÇÃO
DEFICIENTE. ENUNCIADO Nº 284/STF.
1 - Em tema de recurso especial assentado na alínea
“a”, a parte recorrente deve explicitar os motivos pelos
quais houve ofensa à Lei Federal, pois a deficiência na
fundamentação do recurso faz incidir o enunciado nº 284 da
Súmula do Supremo Tribunal Federal.
(STJ - AgRg no REsp 661035/RJ, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI,
SEXTA TURMA, julgado em 17.05.2007, DJ 25.06.2007 p. 310)
(grifo nosso)

• Quando não há indicação dos dispositivos legais violados ou se alega, genericamente,


violação a determinado diploma legal, sem particularização de artigos.

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. ANÁLISE DE DISPOSITIVOS


CONSTITUCIONAIS. IMPOSSIBILIDADE NA VIA DO ESPECIAL.
PRESCRIÇÃO OFENSA AO DECRETO Nº 20.910/32. ARGUIÇÃO
GENÉRICA. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA Nº 284 DO PRETÓRIO EXCELSO. (...)
2. A ausência de particularização dos artigos de
lei supostamente violados inviabiliza a compreensão da
irresignação recursal, mesmo sob a alegação da existência
de dissídio jurisprudencial, em face da deficiência da
fundamentação do apelo raro. Incidência da Súmula nº 284/

19
ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

STF. (...)
(STJ - AgRg no Ag 901580/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA
TURMA, julgado em 25.10.2007, DJ 26.11.2007 p. 234) (grifo
nosso)

• Quando as razões do recurso especial não encontram ressonância no dispositivo


federal indicado (alega “x” mas indica dispositivo que fala “y”), vale dizer, os argumentos do
recurso estão dissociados dos artigos de leis apontados.

RECURSO ESPECIAL. RECORRENTE QUE NÃO DEMONSTRA A


ALEGADA VIOLAÇÃO DA LEI FEDERAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL.
LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. PENSIONISTA DE MILITAR
DO ANTIGO DISTRITO FEDERAL TRANSFERIDO PARA O ESTADO
DA GUANABARA.
1. Em sendo estranho às razões do pedido de reforma
o dispositivo legal tido como violado, tem incidência o
enunciado nº 284 da Súmula do Supremo Tribunal Federal,
segundo o qual “É inadmissível o recurso extraordinário,
quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a
exata compreensão da controvérsia.” (...)
3. Recurso especial improvido.
(STJ - REsp 425.236/RJ, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO,
SEXTA TURMA, julgado em 29.11.2007, DJ 07.04.2008 p. 1) (grifo
nosso)

• Quando as razões recursais não estão relacionadas ao tema decidido no acórdão


recorrido.

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO. OFENSA
À RESOLUÇÃO. NÃO-INCLUSÃO DESSA ESPÉCIE DE ATO
NORMATIVO NO CONCEITO DE “LEI FEDERAL” DO ART. 105,
III, DA CF. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO LEGAL
VIOLADO. RAZÕES RECURSAIS QUE NÃO INFIRMAM O ACÓRDÃO
RECORRIDO. SÚMULA 284/STF. (...)
4. Não pode ser conhecido o recurso especial na parte
que apresenta razões dissociadas do julgado recorrido.
Aplicável, também, por analogia, o óbice de admissibilidade
previsto no enunciado da Súmula 284 do STF: “É inadmissível
o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua
fundamentação não permitir a exata compreensão da
controvérsia”. (...)
(STJ - REsp 657.211/RS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 06.09.2007, DJ 01.10.2007 p. 214)
(grifo nosso)

20
UNIDADE 1 :: INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA

Capítulo 8 – ANÁLISE DA FUNDAMENTAÇÃO DO ACÓRDÃO


RECORRIDO

Na admissibilidade do recurso extraordinário e do recurso especial, a identificação


dos fundamentos utilizados nas questões analisadas pelo acórdão recorrido é de extrema
importância, pois, em alguns casos, não caberá a rediscussão da tese no Supremo Tribunal
Federal ou no Superior Tribunal de Justiça, vale dizer, a depender dos argumentos alinhados
pelo Tribunal a quo não se abrirá a via estreita do recurso extraordinário ou do recurso
especial para nova análise da questão.

Além disso, a bipartição, adotada em nosso sistema, do recurso extraordinário lato sensu
em recurso extraordinário e recurso especial traz profundas consequências para o sucumbente
na instância ordinária, pois este necessariamente deverá – sob pena de não conhecimento
de seu recurso – particularizar e enfrentar, um a um, os fundamentos constitucionais ou
infraconstitucionais do acórdão hostilizado, caso busque a reforma do julgado no ponto que
lhe foi desfavorável.

Vejamos, a partir de agora, as situações que podem ocorrer no exame


da fundamentação do aresto impugnado, a fim de visualizar como deverá ser,
em cada caso e se for necessária, a interposição do recurso extraordinário e do
recurso especial.

8.1 Questão com fundamento constitucional

Quer se trate de questão com fundamento exclusivamente constitucional ou


fundamento constitucional que resulte do cotejo das normas constitucionais com dispositivos
infraconstitucionais, não caberá recurso especial nestas hipóteses, mas apenas recurso
extraordinário.
TRIBUTÁRIO – AGRAVO REGIMENTAL – FUNRURAL –
COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS RURAIS – FUNDAMENTO
CONSTITUCIONAL DO ACÓRDÃO RECORRIDO – DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL PREJUDICADO.
1. Sendo analítica a Constituição Federal, pode o julgador decidir as
questões que lhe são submetidas tanto pelo enfoque constitucional
e/ou infraconstitucional.
2. O cabimento do recurso especial dependerá da ótica
adotada pelo acórdão recorrido na análise dos dispositivos
infraconstitucionais, não sendo tecnicamente adequado
admitir-se ou não o recurso em face da índole da “matéria”.
3. Acórdão recorrido que decidiu a questão sob enfoque
estritamente constitucional. (...)
(STJ - AgRg no REsp 475.986/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON,
SEGUNDA TURMA, julgado em 20.05.2004, DJ 30.06.2004 p. 299)
(grifo nosso)

21
ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

8.2 Questão com fundamentos constitucional e infraconstitucional


autônomos e suficientes

A premissa adotada aqui é que o acórdão, por exemplo, decidiu determinada tese
amparando-se simultaneamente na Constituição Federal e na legislação federal. Neste caso,
deve-se interpor obrigatoriamente recurso especial e recurso extraordinário. Não se adotando
tal procedimento, surgirão duas situações:

a) não interposição de recurso extraordinário - enseja a aplicação da Súmula 126/


STJ – “É inadmissível o recurso especial quando o acórdão recorrido assenta em fundamentos
constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte
vencida não manifesta recurso extraordinário” – em relação ao recurso especial, como se pode
verificar nos seguintes precedentes:

AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO.


PENSÃO POR MORTE. MENOR SOB GUARDA. ACÓRDÃO
RECORRIDO. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL AUTÔNOMO.
AUSÊNCIA DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO. SÚMULA 126/STJ.
1. Se o acórdão recorrido afirmou que, em razão de o
art. 227 da Constituição Federal não fazer distinção entre o
menor tutelado e o sob guarda, não se poderia considerar
derrogado o art. 33 da Lei n.º 8.069/90, pela Lei n.º 9.528/97,
a fim de afastar os direitos previdenciários em relação à
segunda categoria, é evidente a presença de fundamento
constitucional autônomo, pelo que, ausente a interposição de
recurso extraordinário, tem incidência a Súmula 126 do STJ.
(STJ - AgRg no Ag 777.573/RS, Rel. Ministra JANE SILVA
(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA TURMA,
julgado em 15.04.2008, DJ 28.04.2008 p. 1) (grifo nosso)

b) não interposição de recurso especial – Incidência, no recurso extraordinário, da


Súmula 283/STF: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta
em mais de um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles”.

PREVIDENCIÁRIO. CANCELAMENTO DE BENEFÍCIO. PERDA


DA CONDIÇÃO DE DEPENDENTE. FUNDAMENTOS
INFRACONSTITUCIONAL E CONSTITUCIONAL. SÚMULA 283 DO
STF.
I - O acórdão recorrido julgou legítimo o cancelamento do
recebimento da pensão pela ora agravante com apoio em
fundamentos infraconstitucional e constitucional. Manutenção
do fundamento infraconstitucional. Incidência da Súmula 283
do STF. (...)
(STF - RE-AgR 558027/PR - Min. RICARDO LEWANDOWSKI -
Primeira Turma – DJe de 13/06/2008) (grifo nosso)

22
UNIDADE 1 :: INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA

8.3 Questão com fundamento exclusivamente infraconstitucional

Esta é a hipótese por excelência de interposição de recurso especial.

PROCESSUAL CIVIL. (...) IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO


DA SÚMULA 126/STJ. INEXISTÊNCIA DE FUNDAMENTO
CONSTITUCIONAL AUTÔNOMO.
1. O julgamento do acórdão recorrido, emanado
do Tribunal a quo, estruturou-se apenas em questões de
natureza infraconstitucional, não se fazendo qualquer
menção a fundamento de índole constitucional que justificasse
a obrigatoriedade da interposição simultânea de recurso
extraordinário. (...)
(STJ - AgRg no Ag 784343/RJ, Rel. Ministra DENISE ARRUDA,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 15.02.2007, DJ 15.03.2007 p. 271)
(grifo nosso)

Todavia, quaisquer deles autônomos, ou seja, suficientes por si só para a manutenção


do entendimento adotado pelo Tribunal a quo, e a parte recorrente nas razões do recurso
especial impugna apenas um fundamento, é aplicável, por analogia, a já mencionada a
Súmula 283/STF.
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. (...) SÚMULA 283/STF. TUTELA
ANTECIPADA. INDEFERIMENTO. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS
LEGAIS. MATÉRIA PROBATÓRIA. SÚMULA 07/STJ. ARRENDAMENTO
RURAL. DESPEJO. NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. DESNECESSIDADE, DESDE
QUE NÃO SE PRETENDA ANTECIPAR OS EFEITOS DA TUTELA
INAUDITA ALTERA PARS. (...)
- Não pode ser conhecido o recurso especial que não
ataca fundamento que, por si só, é apto a sustentar o juízo
emitido pelo acórdão recorrido. Aplicação analógica da
Súmula 283 do STF. (...)
(STJ - REsp 979.530/MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 25.03.2008, DJ 11.04.2008 p. 1) (grifo nosso)

Capítulo 9 – ANÁLISE DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL PELO


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

O Supremo Tribunal Federal já pacificou o entendimento de que não cabe recurso


extraordinário para reexame de julgamento de instância inferior, no tocante à nulidade
do acórdão, por suposta violação ao art. 93, IX, da Constituição (AI n. 370.475 AgR/MG,
Rel. Ministra Ellen Gracie, 1ª Turma, unânime, in DJU de 27/09/2002, p. 100). Também há
jurisprudência no sentido de que decisão contrária aos interesses da parte não configura
negativa de prestação jurisdicional. Confira-se, a propósito, o seguinte julgado:

23
ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

1. Inviável o processamento do extraordinário para rediscutir matéria


processual, relativa ao prazo decadencial para a propositura de ação
rescisória.
2. Decisão fundamentada, embora de forma contrária aos
interesses da parte, não configura negativa de prestação
jurisdicional.
3. Agravo regimental improvido. (AI n. 435.587 AgR/SP, Rel. Ministra
Ellen Gracie, 2ª Turma, unânime, in DJU de 7/5/2004, pág. 27)
(grifo nosso)

Capítulo 10 – ANÁLISE DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL PELO


SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

10.1 Negativa de Prestação Jurisdicional pelo Acórdão Recorrido

Devido às dificuldades relativas principalmente ao prequestionamento – o que se verá


adiante –, é comum as partes argüirem, como preliminar no recurso especial, negativa de
prestação jurisdicional pelo acórdão recorrido, amparando-se geralmente nos artigos 128,
131, 458 e 535 do CPC.

Tal alegação é analisada pontualmente no Superior Tribunal de Justiça, a partir do


reexame do iter do recurso no Tribunal de Origem, para se constatar se a lide foi ou não
solucionada, com a adoção de fundamentação suficiente.

PROCESSO CIVIL. AGRAVO INTERNO. AÇÃO REVISIONAL DE


CONTRATO BANCÁRIO. AGRAVO IMPROVIDO.
Não há, efetivamente, violação do artigo 535 do CPC ou
negativa de prestação jurisdicional. Não se detecta qualquer
omissão, contradição ou obscuridade no acórdão embargado,
uma vez que a lide foi dirimida com a devida e suficiente
fundamentação, apenas não se adotou a tese da recorrente.
(STJ - AgRg no REsp 1013825/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 25.03.2008, DJ 11.04.2008 p. 1)
(grifo nosso)

Contudo, ao alegar que o Tribunal a quo não prestou a jurisdição de forma adequada,
o recorrente deve indicar na petição do recurso especial, de maneira clara e objetiva, sua
pretensão, detalhando, por exemplo, que teses deveriam ter sido examinadas. Se não o fizer
ou se sua alegação for genérica, como se de apelação se tratasse, incidirá a Súmula 284/STF.

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC.


DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF.(...)
1. Não se conhece de Recurso Especial em relação a ofensa
ao art. 535 do CPC quando a parte não aponta, de forma
clara, o vício em que teria incorrido o acórdão impugnado.
Aplicação, por analogia, da Súmula 284/STF. (...)

24
UNIDADE 1 :: INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA

(STJ - REsp 1184505/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,


SEGUNDA TURMA, julgado em 13/04/2010, DJe 19/05/2010)
(grifo nosso)

Caso o STJ entenda não ter o acórdão recorrido prestado satisfatoriamente a jurisdição,
incidindo, por exemplo, nas hipóteses do art. 535 do CPC – omissão, contradição, obscuridade
–, conhecerá do recurso especial neste ponto, julgando prejudicada a análise das demais teses
do especial, se houverem. Em seguida, será determinado o retorno dos autos ao Tribunal de
Origem para novo julgamento dos embargos declaratórios, para que a prestação jurisdicional
ocorra em sua plenitude.

PROCESSUAL CIVIL. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO ART. 535, INC.


II, DO CPC.
LEGITIMIDADE DA CÂMARA DE VEREADORES. CONTRIBUIÇÃO
PREVIDENCIÁRIA INCIDENTE SOBRE A REMUNERAÇÃO PAGA A
VEREADORES. OMISSÃO RECONHECIDA. RETORNO DOS AUTOS
À ORIGEM PARA SANAR VÍCIOS.
1. Há omissão no acórdão que deixou de analisar a questão
da legitimidade da Câmara de Vereadores para pleitear
concessão de segurança contra a cobrança de contribuição
previdenciária incidente sobre o subsídio pago a agentes
políticos (art. 12, inc. I, alínea “h”, da Lei n. 8.212/91, com
redação conferida pela Lei n. 9.506/97). Violação ao art. 535,
inc. II, do CPC reconhecida.
2. Ganha relevância o exame da matéria porquanto já
decidido nesta Corte, por meio do rito do art. 543-C do CPC
e da Resolução STJ n. 8/2008, que “a Câmara de Vereadores
não possui personalidade jurídica, mas apenas personalidade
judiciária, de modo que somente pode demandar em juízo
para defender os seus direitos institucionais, entendidos esses
como sendo os relacionados ao funcionamento, autonomia e
independência do órgão” (REsp 1164017/PI, Rel. Min. Castro
Meira, Primeira Seção, DJe 6.4.2010).
3. Imperioso o retorno dos autos à origem para que seja
proferido novo acórdão nos embargos de declaração,
sanando, assim, a omissão apontada.
4. Recurso especial provido.
(STJ - REsp 839.219/SE, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
SEGUNDA TURMA, julgado em 11/05/2010, DJe 31/05/2010)
(grifo nosso)

10.2 Multa por litigância de má-fé na Instância Ordinária

No STJ há divergência nos julgados sobre a possibilidade ou não do exame, em sede


de recurso especial, da tese relativa à existência ou não de litigância de má-fé, seja para
detectar sua ocorrência, seja para afastá-la. Isso porque alguns precedentes entendem que
a Súmula 7/STJ (“A pretensão do simples reexame da prova não enseja recurso especial”) –

25
ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

que será estudada mais adiante – impede o reexame da questão nesta instância. Contudo, há
precedentes que afastam este óbice para declarar, diante do caso concreto, a ocorrência ou
não de litigância de má-fé.

PROCESSO CIVIL. APLICAÇÃO DE MULTA POR LITIGÂNCIA DE MÁ-


FÉ. ARTS. 17 E 18 DO CPC. SÚMULA 7/STJ. ENERGIA ELÉTRICA.
CORTE. SÚMULA 83/STJ.
1. O recurso especial é inadequado à análise dos critérios
utilizados pelo magistrado para aplicar multa por litigância
de má-fé, disposta nos arts. 17 e 18 do CPC, quando necessário
o reexame do contexto fático-probatório dos autos. Incidência
da Súmula 7 do STJ. (...)
(STJ - REsp 994.328/RJ, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA
TURMA, julgado em 08.04.2008, DJ 22.04.2008 p. 1) (grifo nosso)

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. SERVIÇO DE TELEFONIA.


COBRANÇA DE “ASSINATURA BÁSICA RESIDENCIAL”. RESOLUÇÕES
N. 42/04 E 85/98, DA ANATEL, ADMITINDO A COBRANÇA.
DISPOSIÇÃO NA LEI N. 8.987/95.
POLÍTICA TARIFÁRIA. LEI 9.472/97. AUSÊNCIA DE OFENSA A NORMAS
E PRINCÍPIOS DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. MULTA
POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ AFASTADA. PARCIAL PROVIMENTO DO
RECURSO ESPECIAL. (...)
2. Merece prosperar o apelo em relação ao afastamento da
multa por litigância de má-fé imposta pelo Tribunal a quo em
sede de embargos de declaração. Inteligência da Súmula 98/
Superior Tribunal de Justiça. (...)
(STJ - REsp 1037915/SP, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 08.04.2008, DJ 24.04.2008 p. 1) (grifo nosso)

Capítulo 11 – PREQUESTIONAMENTO

11.1 Conceito

Segundo a doutrina pátria há três concepções distintas a respeito do


prequestionamento:

1) Prequestionamento é a manifestação do Tribunal recorrido acerca da questão


jurídica federal ou constitucional.

2) Prequestionamento é o ato da parte suscitar determinada questão constitucional


ou infraconstitucional que entende cabível à lide.

3) Prequestionamento é o prévio debate, suscitado pela parte, a respeito da tese


constitucional ou federal, seguido da manifestação expressa do Tribunal recorrido
a respeito.

26
UNIDADE 1 :: INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA

A primeira corrente é comum tanto ao STF quanto ao STJ. Contudo, a segunda corrente
é adotada somente pelo STF e a terceira posição aplicada apenas no STJ.

CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM


AGRAVO DE INSTRUMENTO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
SÚMULAS 282 e 356 DO STF. (...)
I - Inadmissível o recurso extraordinário se a questão
constitucional suscitada não tiver sido apreciada no acórdão
recorrido. Se a questão constitucional não vinha sendo
discutida, e nem foi suscitada em embargos de declaração,
não há falar em prequestionamento. Incidem, na espécie, as
Súmulas 282 e 356 da Corte. (...)
(STF - AI-AgR 660257 / SP - SÃO PAULO - Min. RICARDO
LEWANDOWSKI - Primeira Turma - DJe-107 DIVULG 12-06-2008
PUBLIC 13-06-2008) (grifo nosso)

PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO - TÉCNICA DE INTERPOSIÇÃO DE


RECURSO ESPECIAL - PREQUESTIONAMENTO - IMPOSSIBILIDADE
DE ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DE SÚMULA - IPC - CORREÇÃO
DOS DEPÓSITOS JUDICIAIS - DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO
DEMONSTRADO.
1. Não basta, para a configuração do prequestionamento,
que o Tribunal a quo mencione algum artigo de lei federal
em seu voto, devendo realizar, de modo fundamentado, juízo
de valor específico sobre a questão federal enfocada. Para
forçar o Tribunal a tanto, a parte tem a seu dispor o poder
(direito potestativo) de opor embargos declaratórios. (...)
(STJ - AgRg no REsp 542.993/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,
SEGUNDA TURMA, julgado em 06.11.2007, DJ 19.11.2007 p. 216)
(grifo nosso)

11.2 Espécies de Prequestionamento

a) Prequestionamento Explícito ou Prequestionamento Numérico


Ocorre quando a questão federal ou constitucional é analisada pelo acórdão
recorrido, com a enumeração dos dispositivos legais ou constitucionais que fundamentam seu
entendimento.

TRIBUTÁRIO – IMPOSTO DE RENDA DE PESSOA JURÍDICA –


DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS – IPC – ÍNDICES DE JANEIRO E
FEVEREIRO DE 1989 – REFLEXO LÓGICO - PREQUESTIONAMENTO
NUMÉRICO - NÃO EXIGÊNCIA.
1. O STJ não exige o chamado prequestionamento numérico
para o conhecimento da questão federal, ou seja, aquele em
que necessariamente o acórdão recorrido deve registrar o
artigo de lei federal que a parte quer debater. Basta que o
Tribunal de origem julgue a matéria federal, explicitamente,

27
ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

ainda que não indique o artigo de lei, que é facilmente


identificável. (...)
(STJ - AgRg no AgRg no Ag 416.406/MA, Rel. Ministro HUMBERTO
MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 01.04.2008, DJ
14.04.2008 p. 1) (grifo nosso)

b) Prequestionamento Implícito
Surge com o exame da questão constitucional ou infraconstitucional pelo Tribunal de
Apelação sem a enumeração dos artigos de lei ou da Constituição Federal que embasam seu
convencimento.

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. ANÁLISE DE DISPOSITIVOS


CONSTITUCIONAIS. IMPOSSIBILIDADE NA VIA DO ESPECIAL.
PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO. POSSIBILIDADE. SERVIDORES
DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. ADIN N.º 1.797-0/PE.
INAPLICABILIDADE. PRECEDENTES. (...)
2. Interposto o recurso especial pela alínea a do permissivo
constitucional, tendo a matéria objeto de irresignação sido
debatida no Tribunal de origem, é prescindível a expressa
menção dos dispositivos legais tidos por violados, é o
chamado prequestionamento implícito. (...)
(STJ - AgRg nos EDcl no REsp 963.168/RN, Rel. Ministra LAURITA
VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 03.04.2008, DJ 28.04.2008 p.
1) (grifo nosso)

c) Prequestionamento Ficto
Expressão utilizada em decorrência do entendimento do Supremo Tribunal Federal
consubstanciado na Súmula 356 desta Corte: O ponto omisso da decisão, sobre o qual não
foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar
o requisito do prequestionamento.

De acordo com o verbete acima transcrito, numa interpretação a contrário senso, a


simples oposição dos embargos de declaração perante o Tribunal local, diante da omissão do
acórdão recorrido, tem o condão de prequestionar a tese constitucional, independentemente
do acolhimento ou não destes embargos.

I. Recurso extraordinário e recurso especial: interposição simultânea:


inocorrência, na espécie, de prejuízo do extraordinário pelo não
conhecimento ou negativa de seguimento do especial.
II. Recurso extraordinário: prequestionamento: a interposição
pertinente de embargos declaratórios satisfaz a exigência
(Súmula 356) ainda que a omissão não venha a ser suprida
pelo Tribunal a quo. Precedente (RE 210.638, DJ 19.6.98,
Pertence). (...)
(STF- RE 191454 / SP - SÃO PAULO - Min. SEPÚLVEDA PERTENCE
- Primeira Turma - DJ 08-06-1999 PP-00046 - EMENT VOL-01957-
04 PP-00824) (grifo nosso)

28
UNIDADE 1 :: INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA

11.3 Súmulas sobre Prequestionamento

• Súmulas do Supremo Tribunal Federal


- 282 - É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão
recorrida, a questão federal suscitada.
- 356 - O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios,
não pode ser objeto de recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento.

• Súmulas do Superior Tribunal de Justiça
- 98 - Embargos de declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento
não têm caráter protelatório.
- 211 - Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de
embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo.
- 320 - A questão federal somente ventilada no voto vencido não atende ao requisito do
prequestionamento.

11.4 Questões de Ordem Pública

Ordem pública é um elemento fundante da ordem jurídica, que existe para estabelecer
uma ordenação da vida social. Como na vida ocorrem mudanças a todo tempo, pode-se
concluir que ordem pública não é conceito estático, mas dinâmico e externo, que varia
conforme as circunstâncias de tempo e de lugar. É conceito conjuntural: não é genérico nem
absoluto.
Questões de ordem pública, cuja violação seja alegada no recurso especial ou
extraordinário, somente serão analisadas mediante seu prequestionamento no acórdão
recorrido:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE


INSTRUMENTO. ALEGAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA.
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA 282.
I - A questão constitucional impugnada no recurso extraordinário
não foi objeto de apreciação do acórdão recorrido, o que atrai a
incidência da Súmula 282 do STF.
II - Matéria de ordem pública não afasta a necessidade do
prequestionamento da questão. (...)
(STF - AI-AgR 633188 / MG - MINAS GERAIS - Min. RICARDO
LEWANDOWSKI - Primeira Turma - DJe-134 DIVULG 30-10-2007
PUBLIC 31-10-2007) (grifo nosso)

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA.
EX-PREFEITO. INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA. ANULAÇÃO DO
ACÓRDÃO RECORRIDO. EFEITO TRANSLATIVO DO RECURSO.
1. Até mesmo as questões de ordem pública, passíveis de conhecimento
ex officio, em qualquer tempo e grau de jurisdição ordinária, não
podem ser analisadas no âmbito do recurso especial se ausente o
requisito do prequestionamento. (...)

29
ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

(STJ - REsp 718.046/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA


TURMA, julgado em 08.04.2008, DJ 23.04.2008 p. 1) (grifo nosso)

Capítulo 12 – REEXAME E VALORAÇÃO DO CONTEXTO FÁTICO E


PROBATÓRIO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO E NO RECURSO ESPECIAL

12.1 Vedação ao Reexame do Contexto Fático e Probatório

Justamente por objetivarem a prevalência do Direito Objetivo, Ordenamento Jurídico,


através da uniformização da aplicação dos dispositivos constitucionais e da legislação federal,
o STF e o STJ, em sede de recurso extraordinário e recurso especial, respectivamente, utilizam-
se das premissas fáticas e probatórias construídas na Instância Ordinária, ou seja, nos Tribunais
Estaduais e do Distrito Federal e nos Tribunais Regionais Federais. Portanto, não é aceita mera
rediscussão da prova, sob o argumento de que foi ela injustamente analisada.

Tal entendimento é o supedâneo da Súmula 279 do STF (“Para simples reexame de prova
não cabe recurso extraordinário”) e da Súmula 7 do STJ (“A pretensão de simples reexame de
prova não enseja recurso especial”).

Contudo, desde que se respeite o contexto fático e probatório delineado


pelo Tribunal de Origem, teses relativas ao direito probatório são discutidas no
STF e STJ, como, por exemplo, licitude de determinada prova, ônus da prova,
presunções etc.

12.2 Valoração da Prova e Nova Qualificação Jurídica do Fato

Pode ocorrer que, delineadas as premissas fáticas e probatórias pela Instância Ordinária,
uma das partes não se conforme com a adequação legal promovida pelo acórdão recorrido,
interpondo recurso extraordinário e/ou recurso para, sem alterar os fatos delineados e sem
pleitear reexame de prova, conseguir na Instância Extraordinária, via recurso extraordinário
ou recurso especial, a valoração da prova ou nova qualificação jurídica dos fatos. Nestas
hipóteses busca-se, em verdade, a declaração de novas consequências jurídicas em relação a
fatos e provas sobre os quais não há controvérsia nos autos.

12.3 Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal


AGRAVO REGIMENTAL. DECISÃO QUE NEGOU SEGUIMENTO A
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 279 E 283
DESTA COLENDA CORTE.
Nenhum juízo de Direito Positivo foi externado pela instância
de segundo grau, mas, tão somente, um juízo de fato: o
acontecimento do mundo empírico ou factual em que se
baseou o pedido indenizatório não se verificou. Pretendido
reexame de questão de fato, e não de direito. Ainda que

30
UNIDADE 1 :: INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA

assim não fosse e que se tratasse de valoração de provas,


como pretende a parte agravante, haveria óbice à abertura
da via extraordinária. É que, nesta hipótese, a controvérsia
estaria restrita ao âmbito infraconstitucional. Precedentes.
(...)
(STF - RE-AgR 363782 / SP - SÃO PAULO - Min. CARLOS BRITTO -
Primeira Turma - DJ 27-10-2006 PP-00046) (grifo nosso)

Servidor estadual em estágio probatório: exoneração:


ausência de violação à garantia da ampla defesa (CF, art.
5º, LV), que não impede a livre análise e valoração da prova
pelo órgão julgador; e ao princípio da universalidade da
jurisdição, que foi prestada na espécie, ainda que em sentido
contrário à pretensão do agravante; questão, ademais, que
demanda reexame de fatos e provas, ao qual não se presta
o RE (Súmula 279). Ademais, assente a jurisprudência do
STF no sentido de que não é necessário aguardar o término
da ação penal para a imposição da sanção administrativa:
precedentes.
(STF- RE-AgR 428162 / RJ - Min. SEPÚLVEDA PERTENCE - Primeira
Turma - DJ 05-08-2005 PP-00076 - EMENT VOL-02199-09 PP-
01855) (grifo nosso)

ISENÇÃO DE CORREÇÃO MONETÁRIA (ART. 47, PARAGRAFO 3º,


III, DO ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITORIAS).
ALEGAÇÃO DE OFENSA A ESSE DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL EM
RAZÃO DE ERRONEA VALORIZAÇÃO DA PROVA.
- A VALORIZAÇÃO DA PROVA DIZ RESPEITO AO VALOR
JURÍDICO DESTA, PARA ADMITI-LA OU NÃO EM FACE
DA LEI QUE A DISCIPLINA, RAZÃO POR QUE E QUESTÃO
ESTRITAMENTE DE DIREITO. JA O REEXAME DA PROVA E
DIVERSO: IMPLICA A REAPRECIAÇÃO DOS ELEMENTOS
PROBATORIOS PARA CONCLUIR-SE SE ELES FORAM, OU NÃO,
BEM INTERPRETADOS - E, PORTANTO, QUESTÃO QUE SE
CIRCUNSCREVE AO TERRENO DOS FATOS. (...)
(STF - RE 122011 / MS - MATO GROSSO DO SUL - Min. MOREIRA
ALVES - PRIMEIRA TURMA - DJ 17-08-1990 PP-07871 EMENT
VOL-01590-01 PP-00174) (grifo nosso)

12.4 Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. (...) VALORAÇÃO DA PROVA. REEXAME


DE ELEMENTOS FÁTICO-PROBATÓRIOS. SÚMULA N. 7 DO STJ.
DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. SIMILITUDE FÁTICA INEXISTENTE.
ARTS. 541, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC E 255, § 2º, DO RISTJ. (...)
3. Aplica-se a Súmula n. 7 do STJ na hipótese em que a
parte recorrente, a pretexto de valoração de prova, visa
precipuamente o reexame de elementos fático-probatórios

31
ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

constantes da demanda.
4. A valoração da prova, em sede de recurso especial,
pressupõe a negativa de vigência ou contrariedade a
princípio ou norma legal pertinente ao campo probatório,
não podendo situar-se no simples propósito de análise das
circunstâncias fáticas que nortearam o acórdão recorrido
(REsp n. 695.127-DF, Terceira Turma, relator Ministro CASTRO
FILHO, DJ de 26.3.2007; e AgRg no Ag n. 661.517-SP, Quarta
Turma, relator Ministro BARROS MONTEIRO, DJ de 10.4.2006).
(...)
(STJ - REsp 823.256/RN, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
QUARTA TURMA, julgado em 19.02.2008, DJ 22.04.2008 p. 1)
(grifo nosso)

AGRAVO REGIMENTAL. QUALIFICAÇÃO JURÍDICA DAS PROVAS.


SÚMULA 7. INAPLICABILIDADE. CONTRATO. DESCUMPRIMENTO.
DANO MORAL. INADMISSÍVEL.
- É possível, em recurso especial, a valoração jurídica dos fatos
constantes do acórdão recorrido para a correta aplicação do
direito ao caso.
- Não cabe dano moral em caso de mero descumprimento
contratual.
(STJ - AgRg no REsp 761.801/RS, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES
DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em 03.12.2007, DJ
12.12.2007 p. 415) (grifo nosso)

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO – EXECUÇÃO FISCAL –


REDIRECIONAMENTO – RESPONSABILIZAÇÃO PESSOAL DO SÓCIO-
GERENTE DA EMPRESA – INDEVIDA APLICAÇÃO DA SÚMULA 7/STJ
– DISSOLUÇÃO IRREGULAR – PRESUNÇÃO.
1. Acórdão recorrido que deixou consignado que o Oficial
de Justiça, ao dirigir-se ao estabelecimento, verificou que
a empresa não mais funcionava normalmente. Contudo,
entendeu que o fato não era suficiente a demonstrar que
houve dissolução irregular da executada.
2. Hipótese em que cabe a valoração da prova, o que
afasta a incidência da Súmula 7/STJ, considerando inexistir
controvérsia de natureza fática, mas situa-se a discussão nas
conseqüências jurídicas advindas desses fatos incontroversos.
3. O STJ tem se posicionado no sentido de que a empresa
que deixa de funcionar no endereço indicado no contrato
social arquivado na junta comercial, desaparecendo sem
deixar nova direção, é presumivelmente considerada como
desativada ou irregularmente extinta. (...)
(STJ - AgRg no Ag 905.343/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON,
SEGUNDA TURMA, julgado em 20.11.2007, DJ 30.11.2007 p. 427)
(grifo nosso)

32
UNIDADE 1 :: INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA

12.5 Casuísmos e Controvérsias no Revolvimento Fático Probatório


no Recurso Especial

Não se pode negar que na admissibilidade do recurso extraordinário e do recurso especial


há uma “zona cinzenta” na qual certos requisitos de admissibilidade referem-se ao mérito do
próprio recurso e não somente aos pressupostos formais, como acontece nos demais recursos.
A título de exemplo, pode-se citar, no STJ, a Súmula 7. Por esta razão, determinadas teses que
aportam a esse Tribunal podem receber soluções distintas: enquanto alguns precedentes não
conhecem do recurso pela aplicação do verbete citado, outros entendem que a tese merece
ser conhecida e examinada pela Corte.

Pode-se, destacar, neste sentido, a questão relativa à inépcia da inicial, conforme os


precedentes abaixo, em sentidos opostos:

DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. (...)


1. Tendo a Corte de origem, com base no conjunto probatório
dos autos, firmado a compreensão no sentido de que a petição
inicial não seria inepta – uma vez que a regular constituição
do espólio (primeiro autor) restaria demonstrada, bem como
a condição de sua inventariante –, e, ainda, que não foi
comprovada a sublocação do imóvel, rever tal entendimento
demandaria o reexame de matéria fática. Incidência da
Súmula 7/STJ. (...)
(STJ - REsp 954.560/RS, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA,
QUINTA TURMA, julgado em 17.12.2007, DJ 10.03.2008 p. 1)
(grifo nosso)

SERRA DO MAR. ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL. DESAPROPRIAÇÃO


INDIRETA. INDENIZAÇÃO. AÇÃO DE NATUREZA REAL. PRESCRIÇÃO
VINTENÁRIA. SÚMULA Nº 119/STJ. (...)
3. Se o pedido não está sustentado em alegações de domínio
com descrição vaga e incompleta, não há que se falar em
inépcia da inicial. (...)
(STJ - REsp 591.948/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 07.10.2004, DJ 29.11.2004 p. 237) (grifo nosso)

O mesmo ocorre em relação ao argumento da ocorrência de julgamento extra petita,


o que se pode verificar nos julgados abaixo:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. (...)


1. O argumento adotado pela decisão atacada, no sentido de
ser necessário o revolvimento de matéria fático-probatória
para se concluir pela ocorrência de julgamento extra-petita
e, conseqüentemente, pela violação ao art. 460 do Código de
Processo Civil, o que encontra óbice na Súmula 7/Supremo
Tribunal Federal, não foi atacado pela agravante nas razões
do regimental. Dessa forma, mostra-se inviável a insurgência

33
ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

quanto a tal aspecto ante a deficiência em sua fundamentação,


a teor da Súmula 284/Supremo Tribunal Federal. (...)
3. Agravo regimental improvido.
(STJ - AgRg no REsp 334.789/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA
DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 29.11.2007, DJ
17.12.2007 p. 351) (grifo nosso)

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO (...)


2. Questão relativa ao julgamento extra petita que esbarra
no óbice da Súmula 7/Superior Tribunal de Justiça, uma vez
que questiona o recorrente as premissas fáticas abstraídas
pelo acórdão recorrido. (...)
(STJ - REsp 754.881/PR, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA
TURMA, julgado em 04.09.2007, DJ 26.09.2007 p. 203) (grifo
nosso)

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. (...)


3. Conforme já proclamou a Segunda Turma, ao julgar o
REsp 812.685/SC, sob a relatoria do Ministro João Otávio de
Noronha, “não há por que falar em julgamento extra petita
e, por conseguinte, em ofensa aos arts. 128 e 460 do CPC, se
o ato decisório recorrido guarda congruência com o pedido
consignado na petição inicial. (...)
(STJ - REsp 670.251/PE, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 21.08.2007, DJ 17.09.2007 p. 211) (grifo
nosso)

RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. (...)


3 – Malgrado não haja, na espécie, pedido expresso de
declaração de nulidade da cessão de quotas do capital social,
toda a exposição constante da inicial foi nesse sentido, motivo
por que não há falar em julgamento extra petita.
4 – Conforme lição do Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira,
no julgamento do Resp 284/480/RJ, “o pedido é o que se
pretende com a instauração da demanda e se extrai da
interpretação lógico-sistemática da petição inicial, sendo de
levar-se em conta os requerimentos feitos em seu corpo e
não só aqueles constantes em capítulo ou sob a rubrica “dos
pedidos”.” Assim, não há falar em inépcia da inicial, por
ausência de pedido, quando, através da simples análise dos
fundamentos deduzidos no corpo da petição inicial, constata-
se a postulação do autor. (...)
(STJ - REsp 440.211/ES, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES,
QUARTA TURMA, julgado em 21.09.2004, DJ 11.10.2004 p. 330)
(grifo nosso)

34
UNIDADE 1 :: INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA

12.6 Exceções à Súmula 7 do Superior Tribunal de Justiça

Em algumas situações, o Superior Tribunal de Justiça tem deixado de aplicar o princípio


que veda o revolvimento fático e probatório e, por motivos de política judiciária, analisa se
a aplicação da justiça foi realizada de forma equitativa pela instância ordinária, conforme se
pode verificar nos casos abaixo:

12.6.1 Valores arbitrados a título de dano moral

CIVIL. INDENIZAÇÃO. TRÂNSITO. ACIDENTE. MORTE. DANOS


MATERIAIS E MORAIS. PRESSUPOSTOS FÁTICOS. SÚMULA 7/
STJ. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. QUANTUM INDENIZATÓRIO.
RAZOABILIDADE. PENSÃO MENSAL. REDUÇÃO. (...)
2 - Aferir a existência de provas suficientes para embasar
condenação por danos morais demanda revolvimento do
material fático-probatório, soberanamente delineado pelas
instâncias ordinárias, esbarrando, pois, a pretensão recursal,
no óbice da súmula 7/STJ.
3 -Admite o STJ a redução do quantum indenizatório, quando
se mostrar desarrazoado, o que não sucede na espécie, em
que houve morte decorrente de acidente de trânsito, dado
que as Quarta e Terceira Turmas desta Corte têm fixado
a indenização por danos morais no valor equivalente a
quinhentos salários mínimos, conforme vários julgados. (...)
(STJ - REsp 713.764/RS, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES,
QUARTA TURMA, julgado em 04.03.2008, DJ 10.03.2008 p. 1)
(grifo nosso)

12.6.2 Honorários Advocatícios Excessivos ou Irrisórios

TRIBUTOS SUJEITOS A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO.


PRÉVIA DECLARAÇÃO. PAGAMENTO PARCELADO. DENÚNCIA
ESPONTÂNEA. AFASTAMENTO. TAXA SELIC. LEGALIDADE.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. REVISÃO. INVIABILIDADE. SÚMULA
7/STJ. (...)
III - A revisão de valor ou percentual fixado para a verba
honorária é inadmissível na via estreita do recurso especial,
pois tal fixação depende do exame de circunstâncias fáticas,
o qual é reservado às instâncias ordinárias. Incidência do
enunciado nº 7 da Súmula deste STJ. (...)
(STJ - AgRg no REsp 1020268/PR, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 25.03.2008, DJ 17.04.2008 p. 1)
(grifo nosso)

35
ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

12.6.3 Multa - Valores

PROCESSUAL CIVIL – CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR –


REEXAME DE PROVAS – SÚMULA 7/STJ – MULTA PREVISTA NO ART.
57, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CDC – REDUÇÃO.
1. Não há como prosperar recurso especial que demanda
revolvimento do conjunto fático-probatório dos autos.
Incidência da Súmula 7/STJ.
2. Multa prevista no art. 57, parágrafo único, da Lei 8.078/90
que, à luz dos fatos abstraídos pela Corte de origem, deve ser
reduzida, a fim de que atenda ao princípio da razoabilidade.
(STJ - REsp 750.665/PB, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA
TURMA, julgado em 11.12.2007, DJ 07.02.2008 p. 1) (grifo nosso)

Capítulo 13 – DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL

13.1 Conceito e Objetivo

Dissídio jurisprudencial é a expressão consagrada na doutrina e na jurisprudência para


nominar a divergência entre os julgados de Tribunais diversos.

Como o recurso especial tem por objeto a uniformização da aplicação da legislação


federal no Brasil, a divergência constatada entre precedentes dos Tribunais do País é causa de
sua interposição, conforme previsto na letra “c” do art. 105, III, da Constituição Federal.

13.2 Pressupostos de Admissibilidade

Aplicam-se ao recurso especial interposto por dissídio jurisprudencial todos os


pressupostos extrínsecos e intrínsecos de admissibilidade do recurso especial interposto pela
letra “a” do permissivo constitucional.

Afigura-se oportuno ressaltar outros pontos para o recorrente que optar pela interposição
do especial nesta modalidade:

a) O dissenso jurisprudencial que o Superior Tribunal de Justiça busca corrigir – em sua


missão de uniformização federal - refere-se a tribunais distintos, motivo pelo qual não cabe
recurso especial pela letra “c” do art. 105, III, da Constituição Federal se a divergência de
precedentes acerca da legislação federal ocorre dentro da mesma Corte. Este entendimento
deu origem à Súmula 13 do STJ: “A divergência entre julgados do mesmo tribunal não enseja
recurso especial.”

b) Como falado anteriormente, a petição dos recursos derradeiros – extraordinário e


especial – deve ser redigida de forma técnica, com indicação precisa dos fatos delineados na
instância ordinária e dos dispositivos que se reputa afrontados. Tal exigência se estende à
interposição do recurso especial na modalidade dissídio jurisprudencial, quando o recorrente

36
UNIDADE 1 :: INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA

deve apontar e particularizar os paradigmas, explicitando os argumentos no sentido da tese


defendida.

Não obedecido este requisito, incidirá a Súmula 284 do Supremo Tribunal Federal,
pelas deficiência das razões do recurso especial.

c) Ao fundamentar o recurso especial pela ocorrência de dissídio jurisprudencial o


recorrente deve demonstrar, preferencialmente, que o acórdão recorrido – proferido pelo
Tribunal a quo – encontra-se em discordância com a jurisprudência contemporânea do
Superior Tribunal de Justiça.

Não importa, para o recorrente, a existência de julgados de Tribunais Estaduais ou


Tribunais Regionais Federais no sentido de sua pretensão se o Superior Tribunal de Justiça,
aquele que vai decidir definitivamente a interpretação da legislação federal, tem precedentes
no mesmo sentido do acórdão recorrido. Neste sentido a Súmula 83 do STJ: “Não se conhece
do recurso especial pela divergência quando a orientação do Tribunal se firmou no mesmo
sentido da decisão recorrida.”

13.3 Comprovação da Divergência

Na interposição do especial pela letra “c” do permissivo constitucional, deve o recorrente


comprovar a ocorrência da divergência mediante a realização do cotejo analítico, detalhado
nos seguintes dispositivos legais:

- Parágrafo único do art. 541 do CPC:

Art. 541. O recurso extraordinário e o recurso especial (...)

Parágrafo único. Quando o recurso fundar-se em dissídio


jurisprudencial, o recorrente fará a prova da divergência mediante
certidão, cópia autenticada ou pela citação do repositório de
jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia eletrônica,
em que tiver sido publicada a decisão divergente, ou ainda pela
reprodução de julgado disponível na Internet, com indicação da
respectiva fonte, mencionando, em qualquer caso, as circunstâncias
que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.(Redação
dada pela Lei n. 11.341, de 2006)

- § 1º e § 2º do art. 255 do Regimento Interno do STJ:

Art. 255. O recurso especial será interposto na forma e no prazo


estabelecido na legislação processual vigente, e recebido no efeito
devolutivo.
§ 1º A comprovação de divergência, nos casos de recursos fundados
na alínea c do inciso III do art. 105 da Constituição, será feita:
a) por certidões ou cópias autenticadas dos acórdãos
apontados divergentes, permitida a declaração de autenticidade do
próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal;

37
ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

b) pela citação de repositório oficial, autorizado ou credenciado,


em que os mesmos se achem publicados.
§ 2º Em qualquer caso, o recorrente deverá transcrever os trechos dos
acórdãos que configurem o dissídio, mencionando as circunstâncias
que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.

Algumas conclusões podem ser abstraídas dos dispositivos acima:

a) simples transcrição de ementas não atende ao requisito da comprovação analítica da


divergência, sendo ônus do recorrente elaborar redação na qual demonstre, com o cotejo, ou
seja, com a comparação, porque o acórdão recorrido merece ser reformado para ser aplicado
ao seu caso o mesmo entendimento consagrado no julgado trazido como paradigma.

b) é possível a utilização de um ou mais acórdãos como paradigmas, inclusive com a


utilização de precedentes de tribunais diversos.

c) pode acontecer de o acórdão recorrido ter analisado várias questões federais que,
no entender do recorrente, merecem ser reformadas pelo Superior Tribunal de Justiça. Neste
caso, às vezes é difícil encontrar um julgado no qual tenham sido examinadas as mesmas
teses. Então, natural que sejam indicados pelos recorrentes dois ou mais precedentes que,
somados, contemplem as matérias desejadas, sendo todos, portanto, acórdãos paradigmas.
Neste caso, o cotejo analítico deverá ocorrer em relação a cada aresto indicado.

13.4 Outras Questões Relativas ao Dissídio Jurisprudencial

- Dissídio Notório
A expressão dissídio notório é comumente utilizada no Superior Tribunal de Justiça
quando a divergência entre o acórdão recorrido e os paradigmas indicados é tão evidente
que se torna desnecessário o cotejo analítico.
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL.
AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO LEGAL TIPO POR
VIOLADO. SÚMULA N. 284/STF.
CONCEITO DE LEI FEDERAL. IMPOSSIBILIDADE DE ALEGAÇÃO DE
DISSÍDIO NOTÓRIO NA HIPÓTESE. MANDADO DE SEGURANÇA.
EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. (...)
3. O caso não é daqueles que autorizam a mitigação dos
pressupostos do recurso em face de dissídio notório, eis que tal
benefício somente se verifica quando a divergência alegada
é perceptível de forma tal que se dispensa a formalidade do
cotejo analítico a que se refere o art. 255 do Regimento Interno
desta Corte, conquanto ainda permaneça a necessidade de
indicação do dispositivo legal tido por malferido, consoante o
disposto no art. 105, III, c, da Constituição da República. (...)
(STJ - AgRg no REsp 812.755/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/05/2010, DJe
27/05/2010) (grifo nosso)

38
UNIDADE 1 :: INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA

- Impossibilidade da caracterização de dissídio jurisprudencial em relação a


teses analisadas casuisticamente pelo STJ.
Exemplo 1: revisão dos valores fixados a título de dano moral.

Não são admitidos embargos de divergência quando o


dissídio apontado tiver por objetivo a alteração do valor
fixado a título de indenização por danos morais (AgRg nos
EREsp 881323/RN, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE
ESPECIAL, julgado em 15/10/2008, DJe 06/11/2008). (grifo nosso)

Exemplo 2: alegação de negativa de prestação jurisdicional.

Capítulo 14 – AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA INADMISSÃO DE


RECURSO EXTRAORDINÁRIO E RECURSO ESPECIAL

14.1 Introdução

Nas últimas duas décadas, à medida que o acesso à prestação jurisdicional se


intensificou para as massas com o fortalecimento da Constituição Federal de 1988, o número
de processos no Poder Judiciário aumentou assustadoramente, ocasionando, como era de se
esperar, sérios reflexos na admissibilidade do recurso extraordinário e do recurso especial.

Assim, o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça tornaram-se mais


exigentes em relação aos requisitos de admissibilidade dos recursos derradeiros, como
forma de evitar o colapso na jurisdição por eles prestada. Concomitantemente, estas Cortes
sinalizavam para os Tribunais Estaduais e Tribunais Regionais Federais que o exame prévio
dos recursos extraordinário e especial na instância ordinária deveria ser efetivado com rigor,
abrangendo não somente os requisitos formais, mas especialmente o mérito das demandas.

Por isso, atualmente, a grande quantidade de recursos extraordinários e especiais


com seguimento negado no Tribunal de Origem e a necessidade de se abordar, no presente
estudo, alguns aspectos relevantes para que o recorrente consiga o exame de sua tese no STF
e no STJ, ainda que pela via do agravo de instrumento previsto no art. 544 do CPC.

14.2 Procedimento no Tribunal a quo

Proferida a decisão monocrática pelo Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal a quo


na admissibilidade do recurso extraordinário e do recurso especial, não cabe qualquer outro
recurso na Corte de Origem, além de eventuais embargos declaratórios, que também serão
decididos monocraticamente.

Da inadmissão parcial do recurso extraordinário e do recurso especial não cabe agravo


de instrumento, na forma das Súmulas 292 e 528 do Supremo Tribunal Federal, adotadas
analogicamente pelo Superior Tribunal de Justiça.

39
ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

Súmula 292/STF - Interposto o recurso extraordinário por mais de


um dos fundamentos indicados no art. 101, iii, da Constituição, a
admissão apenas por um deles não prejudica o seu conhecimento
por qualquer dos outros.

Súmula 528/STF – Se a decisão contiver partes autônomas, a


admissão parcial, pelo Presidente do Tribunal “a quo”, de recurso
extraordinário, que, sobre qualquer delas se manifestar, não
limitará a apreciação de todas pelo Supremo Tribunal Federal,
independentemente de interposição de agravo de instrumento.

Contudo, inadmitido integralmente o recurso extraordinário ou o recurso especial, deve


o recorrente interpor o agravo de instrumento previsto no art. 545 do CPC, que não poderá
ficar retido na Instância de Origem, ainda que intempestivo.

PROCESSUAL CIVIL. INDEFERIMENTO DE RECURSO ESPECIAL.


INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO. SEGUIMENTO DESTE OBSTADO
NO TRIBUNAL DE ORIGEM. USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. PRECEDENTES. DOUTRINA.
RECLAMAÇÃO ACOLHIDA.
- Nos agravos interpostos contra indeferimento de
recurso extraordinário ou especial, dirigido a tribunais
superiores, inviável o tribunal de origem exercer a
admissibilidade prévia, barrando-os em segunda instância.
(STJ - Rcl 1.029/SP, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 11/12/2002, DJ 24/03/2003 p.
135) (grifo nosso)

14.3 Julgamento no STF e no STJ

A seguir, veremos, de forma sistemática, como é efetuado o julgamento do agravo de


instrumento do art. 545 do CPC no STF e no STJ.

14.3.1 Requisitos Extrínsecos (relativos ao exercício do direito de recorrer) – No


primeiro exame deste recurso no STF e STJ serão verificados os seguintes pontos:

a) Tempestividade – 10 dias para interposição (art. 544, caput, do CPC);


b) Regularidade Formal – formação do instrumento:
b.1) Assinatura da petição do agravo pelo advogado – sob pena do não
conhecimento do recurso.
b.2) Correta formação do instrumento – é responsabilidade exclusiva das partes
fiscalizar a formação do agravo, não sendo aplicável na instância extraordinária o art. 13 do
CPC, a fim de autorizar a juntada tardia de peças. Julgados:

40
UNIDADE 1 :: INSTÂNCIA ORDINÁRIA E INSTÂNCIA EXTRAORDINÁRIA

AGRAVO INTERNO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. FALTA DE PEÇAS


OBRIGATÓRIAS. PROCURAÇÃO OUTORGADA AO ADVOGADO
DO AGRAVANTE E CERTIDÃO DE INTIMAÇÃO DO ACÓRDÃO
RECORRIDO. FORMAÇÃO. RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DO
RECORRENTE. (...)
2. É da responsabilidade exclusiva do agravante zelar pela
correta formação do instrumento.
3. “Na linha dos precedentes desta Corte, não se aplica o
art. 13 do Código de Processo Civil na instância especial,
descabendo destarte, diligência para suprir a falta de
procuração.” (STJ - AgRg no Ag 854.823/RS, Rel. Ministro PAULO
GALLOTTI, SEXTA TURMA, julgado em 19/04/2007, DJ 11/06/2007
p. 386) (grifo nosso)

b.3) Declaração de Autenticidade pelo Advogado do Agravante - O advogado


pode declarar como autênticas as peças do agravo de instrumento, nos termos da parte final
do § 1º do art. 544 do CPC.

c) Peças Obrigatórias ou Essenciais – Segundo o § 1º do art. 544 do CPC, o agravo


de instrumento deve conter as seguintes cópias:
c.1) acórdão recorrido – compreendido como o acórdão principal e posteriores,
além da decisão monocrática proferida com fulcro no art. 557 do CPC, bem como os embargos
de declaração e/ou agravo regimental e/ou embargos infringentes decorrentes;
c.2) certidão de intimação do acórdão recorrido – incluindo toda a seqüência de
acórdãos, para aferição da tempestividade do recurso extraordinário e do recurso especial.
No STJ há, sobre o tema, a Súmula 223 - “A certidão de intimação do acórdão recorrido
constitui peça obrigatória do instrumento de agravo”;
c.3) petição de interposição do recurso especial – nesta consideradas, logicamente,
as razões recursais;
c.4) contra-razões recursais ou certidão de decurso do prazo;
c.5) decisão agravada;
c.6) certidão de intimação da decisão agravada – para verificar-se a tempestividade
do agravo de instrumento; e
c.7) procurações dos advogados do agravante e do agravado, com toda a cadeia
de substabelecimentos – dispensa dos instrumentos aos Advogados Públicos.

A ausência de peça obrigatória ou essencial leva à incidência da Súmula 288 do STF -


Nega-se provimento a agravo para subida de recurso extraordinário, quando faltar no traslado
o despacho agravado, a decisão recorrida, a petição de recurso extraordinário ou qualquer
peça essencial à compreensão da controvérsia.

d) Peças Facultativas e/ou Necessárias – Qualquer outra peça ou documento que


a parte recorrente julgue interessante constar do instrumento, para possibilitar a análise
do recurso especial. Ex: inicial, sentença, apelação e respectivas contra-razões, petição
dos embargos de declaração e/ou do agravo regimental interposto, certidões relativas ao
julgamento do recurso no Tribunal a quo (adiamento do processo, pedido de vista, sustentação
oral etc.).

41
ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

A ausência de peças obrigatórias resulta no não conhecimento do agravo de instrumento


(art. 544, § 1º, do CPC), enquanto a falta de peças necessárias e/ou facultativas não impede
o conhecimento do agravo, mas pode impossibilitar a incidência do art. 544, § 3º, do CPC.

e) Dispensa do Preparo – não há necessidade de pagamento de custas ou despesas


postais, segundo o art. 112 do RISTJ c/c § 2º do art. 544 do CPC.

14.3.2 Requisitos Intrínsecos – Num segundo momento, são examinados estes


requisitos relativos à existência do direito de recorrer.
a) Cabimento – observar o princípio da taxatividade.
b) Legitimidade Recursal – observar sempre o interesse de recorrer.

14.3.3 Exame da Petição do Agravo – Se houver deficiência na fundamentação dos


argumentos do agravo, como, por exemplo, petição ininteligível, incidirá a Súmula 287/
STF – “Nega-se provimento ao agravo quando a deficiência na sua fundamentação, ou na
do recurso extraordinário, não permitir a exata compreensão da controvérsia”. Além disso, a
petição do agravo de instrumento deve impugnar especificamente, de forma robusta, todos
os pontos da decisão agravada. No STJ, caso não seja observado tal preceito, será aplicada
no agravo, por analogia, a Súmula 182 dessa Corte: “É inviável o agravo do art. 545 do CPC
que deixa de atacar especificamente os fundamentos da decisão agravada”.

14.3.4 Outras situações decorrentes do conhecimento do agravo de instrumento:


a) provimento do agravo de instrumento, para determinar a subida do recurso
extraordinário ou do recurso especial;
b) convolação do agravo de instrumento em recurso especial ou extraordinário, para
julgamento, na forma dos §§ 3º e 4º do art. 545 do CPC;
c) julgamento, no próprio agravo, do mérito do recurso extraordinário e do recurso
especial.

42
UNIDADE 2 :: REPERCUSSÂO GERAL

UNID. 2 REPERCUSSÃO GERAL

Capítulo 15 - REPERCUSSÂO GERAL

15.1 Fundamentos

- Emenda Constitucional n. 45/2004
- Constituição Federal: art. 102, § 3º
- CPC: arts. 543-A e 543-B
- Regimento Interno do STF: arts. 322-A, 328 e 328-A

15.2 Conceito

Repercussão Geral é cláusula geral ou aberta, de interpretação restrita do STF,


presente em questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, que
ultrapassem os interesses subjetivos da causa defendida em recurso extraordinário.

15.3 Natureza Jurídica

É o pressuposto de admissibilidade mais importante do recurso extraordinário, em


matéria penal, inclusive, conforme decidiu o STF na Questão de Ordem no Agravo de
Instrumento 664.567 – DJ 06/09/2007. Por isso o quórum qualificado específico exigido para
o reconhecimento da existência de repercussão geral, conforme previsão do § 3º do art. 102
da Constituição Federal.

15.4 Finalidades

a) delimitar a competência do STF, no julgamento de recursos extraordinários, às questões


constitucionais com relevância social, política, econômica ou jurídica, que transcendam os
interesses subjetivos da causa – objetivação do julgamento do RE; e
b) permitir que o STF decida uma única vez sobre cada questão constitucional não se
pronunciando em outros processos com idêntica matéria.

15.5 Vigência

Pressuposto exigível para os recursos extraordinários cuja intimação do acórdão


impugnado tenha ocorrido a partir de 03/05/2007, segundo decidido no STF na Questão de
Ordem no Agravo de Instrumento 664.567 – DJ 06/09/2007.

Os recursos extraordinários anteriores à sistemática da repercussão geral podem ser


sobrestados na origem, retratados ou considerados prejudicados. Contudo, não lhes será
exigida a preliminar de repercussão geral, conforme preconizado pela Suprema Corte no AI
– QO 715.423.

43
ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

15.6 Características

15.6.1 Cabe exclusivamente ao STF decidir sobre a existência ou não de repercussão


geral na tese defendida no recurso extraordinário, segundo a regra do § 2º do art. 543-A do
CPC.

15.6.2 Para recusa da existência de repercussão geral em tese de recurso extraordinário


é necessário quórum de 2/3 dos membros do STF, conforme § 3º do art. 102 da CF, o que
equivale a 8 (oito) Ministros.

15.6.3 Para se aceitar a existência de repercussão geral na questão constitucional


sustentada no recurso extraordinário basta a manifestação, neste sentido, de 4 (quatro)
Ministros, com dispensa da remessa do recurso ao Plenário, na forma do § 4º do art. 327 do
Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.

15.6.4 Presunção de repercussão geral – Ocorrerá sempre que o recurso extraordinário


impugnar decisão contrária à sumula ou jurisprudência dominante do STF, como preconizado
no § 3º do art. 543-A do CPC.

15.6.5 O Plenário Virtual – previsto nos arts. 323 e 324 do Regimento Interno do STF
– é o meio normalmente utilizado para, com apoio na tecnologia, agilizar-se a apuração dos
votos dos Ministros quanto à existência ou não de repercussão geral.

Na prática, ao receber eletronicamente o recurso extraordinário, o relator distribui manifestação


aos demais ministros, que terão o prazo comum de 20 dias para opinarem (caput do art.
324 do RI/STF). Decorrido o prazo de 20 dias sem manifestações suficientes para recusa do
recurso (7 votos), considera-se existente a repercussão geral da questão constitucional.

- Exceções ao Plenário Virtual:


a) Questão constitucional com presunção de repercussão geral, prevista no § 1º do art.
323 do Regimento Interno do STF; e
b) Teses onstitucionais novas ou sem jurisprudência dominante no STF podem ser
discutidas em Questão de Ordem no Plenário Presencial (AI–QO 664.567/RS, Min. Gilmar
Mendes; AI–QO 715.423, Min. Ellen Gracie).

15.6.6 A pedido ou de ofício, o relator poderá admitir, em decisão irrecorrível, a


manifestação de terceiros, denominados amicus curiae, conforme o § 6º do art. 543-A do
CPC e § 2º do art. 323 do RI/STF.

15.6.7 A decisão do Supremo Tribunal Federal que não reconhecer repercussão geral
no recurso extraordinário é irrecorrível, segundo o caput do art. 543-A do CPC.

15.6.8 Admitida a existência de repercussão geral na tese constitucional, haverá a


objetivação do julgamento do recurso extraordinário. Isto é, diferentemente dos julgamentos
do RE antes da existência da repercussão geral, serão examinadas não somente as teses dos
autos, mas todas as teses que se puder analisar sobre o tema em questão, esquadrinhando-se
todos os ângulos possíveis da questão constitucional. Essa conduta tem por escopo a economia
processual.

44
UNIDADE 2 :: REPERCUSSÂO GERAL

Encerrado o julgamento, será aplicado ao processo que serviu como representativo da


controvérsia somente o entendimento sedimentado sobre as teses que nele se encontram e
que tenham ultrapassado os demais óbices de admissibilidade do recurso extraordinário.

15.7 Análise no Tribunal de Origem

Anotadas as características da repercussão geral, imprescindível ter visão completa da


aplicação deste instituto no conhecimento do recurso extraordinário. Iniciaremos pelo exame
prévio de admissibilidade efetuado nos Tribunais de Origem, identificando as hipóteses que
poderão ocorrer em relação às questões constitucionais.

15.7.1 Tese constitucional já examinada pelo STF sob o enfoque do novel instituto, mas
considerada pela Corte Suprema sem repercussão geral: Pode gerar duas situações:
a) indeferimento liminar do recurso extraordinário (art. 543- A, § 5º do CPC);
b) inadmissão dos recursos extraordinários sobrestados (art. 543-B, § 2º, do CPC).

15.7.2 Tese já examinada e declarada pelo STF como questão de repercussão geral,
mas que aguarda o julgamento do mérito pelo STF: neste caso, haverá o sobrestamento do
recurso extraordinário, sem realização do juízo de admissibilidade (art. 328 e art. 328-A do
RI/STF).

15.7.3 Tese já examinada pelo STF, com repercussão geral e com análise do mérito:
aqui surgem mais possibilidades para o desfecho do recurso extraordinário:
a) acórdão em sintonia com o STF = recurso extraordinário prejudicado (art. 543-B, §
3º, do CPC);
b) acórdão contrário ao STF = possibilidade de retratação pelo Tribunal de origem (art.
543-B, § 3º, do CPC), com o surgimento de duas situações:
b.1) havendo retratação pelo Tribunal de origem, o recurso extraordinário fica
prejudicado por perda de objeto;
b.2) ocorrendo a manutenção do acórdão recorrido, será realizado o juízo de
admissilidade do RE (art. 328-A do RI/STF), podendo ocorrer a inadmissão do RE ou sua
admissão e remessa ao STF, para cassação ou reforma do acórdão recorrido (§ 4º do art. 543-
B do CPC).

15.7.4 Tese não examinada sob o ângulo da existência ou não da repercussão geral –
Nesta hipótese, o Tribunal a quo deve identificar se a tese do recurso extraordinário é matéria
isolada, existente em apenas um ou poucos processos, ou matéria repetitiva, constante de
múltiplos recursos extraordinários:

15.7.4.1. Tratando-se de matéria isolada, será efetuado o juízo de admissibilidade:


a) RE que não vence a admissibilidade = inadmissão;
b) RE que ultrapassa a admissibilidade:
b.1) tese nova, ainda não examinada no STF = admissão do RE e remessa
ao STF;
b.2) acórdão recorrido em sintonia com a jurisprudência dominante ou
Súmula do STF = admissão do RE
b.3) acórdão recorrido contrário à jurisprudência dominante ou Súmula
do STF (presunção de repercussão geral – art. 543-A, § 3º do CPC) = admissão do RE e
remessa ao STF.
45
ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

15.7.4.2. Sendo repetitiva a matéria, na forma do art. 543-B, § 1º, do CPC, ocorrerá:
a) seleção dos processos representativos da controvérsia e remessa eletrônica ao
STF;
b) sobrestamentos dos demais processos idênticos.

15.8 Análise no Supremo Tribunal Federal

8.1. Na Presidência do STF:


a) Os autos serão encaminhados à Secretaria Judiciária, que providenciará a
devolução, aos Tribunais de Origem, dos recursos extraordinários múltiplos, interpostos de
acórdãos posteriores a 3 de maio de 2007, relativos a matéria submetida à repercussão
geral;
b) negativa de seguimento aos recursos extraordinários e agravos de instrumentos
que, sujeitos à repercussão geral, não contenham a preliminar formal a sustentá-la.

8.2. Nos Gabinetes dos Ministros


a) Inclusão, no Plenário Virtual, de um único recurso extraordinário
de cada matéria para análise quanto à repercussão geral, podendo-se devolver os demais
processos de matéria idêntica;
b) negada a repercussão, o RE é inadmitido;
c) reconhecida a repercussão, o RE é colocado em pauta;
d) eventuais processos múltiplos que ainda sejam recebidos no Gabinete podem
ser devolvidos à origem.

15.9 Agravo de Instrumento Contra Inadmissão de RE

Podem ser sobrestados na Instância de Origem quando a matéria do RE tiver a


repercussão geral reconhecida ou estiver pendente de exame, não importando o motivo da
inadmissão do RE.

Após o julgamento do mérito da tese constitucional com repercussão geral pelo STF:
a) pode ser exercido o juízo de retratação, para se admitir o recurso extraordinário,
possibilitando a retratação do próprio RE pelo órgão julgador;
b) pode não ser exercido o juízo de retratação no AG, que será, então, remetido
ao STF.
c) poderá ser declarado prejudicado – inexistência de repercussão geral na tese
do RE.

15.10 Questão Constitucional Nova ou Sem Jurisprudência


Dominante no STF

A existência de repercussão geral pode ser discutida no Plenário Virtual ou em Questão


de Ordem no Plenário Presencial (AI–QO 664.567/RS, Min. Gilmar Mendes; AI–QO 715.423,
Min. Ellen Gracie).

46
UNIDADE 2 :: REPERCUSSÂO GERAL

15.11 Questão Constitucional com Jurisprudência Dominante no


STF

Poderão ser examinadas no Plenário Presencial, em Questão de Ordem, ponde poderá


haver os seguintes desdobramentos:
a) não reconhecimento da repercussão geral;
b) reconhecimento da repercussão geral e reafirmação da jurisprudência da Corte; e
c) reconhecimento da repercussão geral e não reafirmação da jurisprudência da Corte
– inclusão em pauta.

15.12 Presunção de Repercussão Geral

A parte não fica dispensada da preliminar de repercussão geral no recurso extraordinário


mesmo quando se tratar de acórdão recorrido com tese contrária à súmula ou jurisprudência
dominante do STF.

Há necessidade da reafirmação da jurisprudência pelo Supremo Tribunal Federal para


que os Tribunais de origem possam aplicar os efeitos da repercussão geral, quais sejam, a
retratação ou inadmissibilidade dos recursos extraordinários.

15.13 Efeito Suspensivo ao Recurso Extraordinário Sobrestado na


Origem

É do Tribunal de origem a competência para exame da concessão ou não de efeito


suspensivo a recurso extraordinário sobrestado na sistemática da repercussão geral (QO-MC-
AC 2.11, Min. Ellen Gracie).

15.14 Inexistência de Repercussão Geral em Matéria


Infraconstitucional

A Emenda Regimental n. 31/2009, modificando o art. 324 do RISTF, possibilitou


que o Relator levasse a julgamento, em Plenário Virtual, a discussão sobre a natureza
infraconstitucional de questão objeto de recurso extraordinário.

No julgamento do RE 584.608 RG/SP, a Corte reconheceu, conforme o voto da Relatora,


Min. Ellen Gracie, a inexistência de repercussão geral em face da impossibilidade de exame
de alegação de ofensa indireta à Constituição Federal em recurso extraordinário.

47
ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

Capítulo 16 - PROCEDIMENTO DO RECURSO REPETITIVO

16.1 Fundamentos

- Lei nº 11.672/2008
- Resolução STJ nº 8/2008

16.2 Conceito e Natureza Jurídica

O instituto criado pela Lei n. 11.672/2008 é um procedimento a ser aplicado nos


recursos especiais que tenham a mesma questão federal de direito.

16.3 Finalidades

a) evitar a subida de recursos especiais repetitivos para o Superior Tribunal de Justiça,


otimizando a prestação jurisdicional; e
b) oportunizar aos Tribunais Estaduais e Regionais Federais a possibilidade de, se for o
caso, retratarem seus julgados, harmonizando seu entendimento com a jurisprudência do STJ.

16.4 Vigência

A partir de 08/08/2008, com a publicação da Resolução 08/2008, que revogou a


Resolução 07/2007.

16.5 Características

16.5.1. Tanto o Superior Tribunal de Justiça quanto os Tribunais Estaduais e Tribunais


Regionais Federais podem entender pela existência de recursos múltiplos a ensejar a utilização
do procedimento da Lei n. 11.672/2008. Contudo, à semelhança do que ocorre no juízo de
admissibilidade do recurso especial, a palavra final neste assunto é do STJ.

16.5.2. A Lei n. 11.672/2008 não exige quórum para a adoção da técnica de julgamento
do recurso especial repetitivo, cabendo a cada Ministro do STJ a aplicação ou não do instituto
no caso concreto.

16.5.3. O Superior Tribunal de Justiça examina, nesta sistemática de julgamento,


apenas as teses que constam efetivamente do recurso especial representativo da controvérsia,
não havendo objetivação do julgamento para análise de outras questões relativas à matéria
federal.

16.5.4. O relator no STJ poderá solicitar, aos Tribunais Estaduais ou Federais, informações
a respeito da controvérsia do recurso especial e autorizar, ante a relevância da matéria, a
manifestação escrita de pessoas, órgãos ou entidades com interesse na controvérsia, a serem
prestadas no prazo de quinze dias.

16.5.5. O Ministério Público terá vista dos autos pelo prazo de quinze dias.

48
UNIDADE 2 :: REPERCUSSÂO GERAL

16.6 Análise no Tribunal de Origem

Analisaremos agora as situações que podem ocorrer nos Tribunais Estaduais e Federais
no exame da admissibilidade do recurso especial, em face da Lei 11.672/2008.

16.6.1 Tese na relação de Procedimento de Recursos Repetitivos constante do


site do Superior Tribunal de Justiça:

16.6.1.1 Tese não examinada quanto ao mérito pelo STJ = sobrestamento do recurso
especial (§ 2º do art. 543-C do CPC)

16.6.1.2 Tese examinada quanto ao mérito pelo STJ:


a) acórdão recorrido em sintonia com a jurisprudência do STJ = recurso especial
terá o seguimento negado.
b) acórdão recorrido contrário ao STJ = novo exame no Tribunal de origem (§ 7º,
II, do art. 543-C do CPC), com duas possibilidades:
b.1) retratação do acórdão recorrido = recurso especial prejudicado;
b.2) manutenção do acórdão recorrido = exame de admissibilidade
do recurso especial (§ 8º do art. 543-C do CPC): o recurso especial que não ultrapassar a
admissibilidade será inadmitido. O recurso especial admitido será remetido ao STJ.

16.6.2 Tese fora da relação do Procedimento de Recursos Repetitivos – Deve-se


verificar se há processos múltiplos:
a) havendo processos múltiplos, será realizado o juízo de admissibilidade para
admitir ou não o especial;
b) havendo processos repetitivos (§ 1º do art. 543-C do CPC):
b.1) serão selecionados autos representativos da controvérsia para
remessa ao STJ;
b.2) sobrestamento dos demais processos idênticos.

16.7 Análise no Superior Tribunal de Justiça

O relator identifica a questão federal como repetitiva em múltiplos recursos repetitivos


e, destacando um ou mais como representativos da controvérsia:
a) determina solitariamente aos Tribunais de origem o sobrestamento dos autos
que tratam da mesma matéria;
b) pode solicitar informações aos Tribunais Federais ou Estaduais a respeito da
controvérsia;
c) poderá admitir a manifestação de pessoas, órgãos ou entidades com interesse
na controvérsia – amicus curiae;
d) oportuniza vista dos autos ao Ministério Público Federal;
e) remete peças dos autos aos demais Ministros e inclui o feito em julgamento,
com preferência.
f) após o julgamento, determina a comunicação do resultado, com envio do
acórdão, aos Tribunais Estaduais e Federais.

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ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

Capítulo 17 - SÚMULA VINCULANTE

A súmula vinculante, importante instrumento de agilização da prestação jurisdicional em


nosso País, criada pela Emenda Constitucional n. 45/2004 – que introduziu o art. Art. 103-
A da Constituição Federal – e regulamentada pela Lei n. 11.417/2006, provocou alterações
também na admissibilidade do recurso extraordinário, quando o verbete é editado enquanto
aquele recurso aguarda o exame de admissibilidade no Tribunal Estadual ou Federal prolator
do acórdão recorrido.

Em tal caso, duas situações podem ocorrer:

Se o acórdão recorrido estiver em Se o acórdão recorrido estiver


sintonia com o enunciado da súmula contrário ao enunciado da súmula
vinculante, o recurso extraordinário vinculante, pode haver retratação
será inadmitido, conforme decidido no próprio Tribunal de Origem ou
no QO-RE 565.714, relatado pela então a remessa dos autos ao STF
ministra Carmem Lúcia. para aplicação do precedente.

50
REFERÊNCIAS

Referências

COSTA, Henrique Araújo. Reexame da prova em pecurso especial. A Súmula 7 do STJ. Brasília:
Editora Thesaurus, 2008.

CRISPIN, Maria Cristina Generoso Ribeiro Crispin. Recurso especial e recurso extraordinário.
Questões pontuais sobre a admissibilidade e a procedibilidade no Direito Processual Civil.
Brasília: Pillares, 2006.

DIDIER, Fredie Jr.; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil, 6.
ed. Salvador: Editora Jus Podium, 2009.

MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Recursos no Processo Civil. 5. ed. São
Paulo: Editora Atlas, 2006.

NERY, Nelson Jr.; Teoria geral dos recursos. 6. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2006.

PANTUZZO, Giovanni Mansur Solha. Prática dos recursos especial e extraordinário. Belo
Horizonte: Del Rey, 2004.

PINTO, Nelson Luiz Pinto. Manual dos Recursos Cíveis. 3. ed. São Paulo: Editora Malheiros,
2003.

PORTELLA, Glória Maria Guimarães de Pádua Ribeiro. Teoria crítica do recurso especial
(jurisprudência e doutrina). Rio de Janeiro: Lumen Iuris, 2004.

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ADVOCACIA NOS TRIBUNAIS SUPERIORES

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