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Abstract
This is a summary article on the conflict of political narratives about the impeachment
of Dilma Rousseff of the workers ' Party-PT in the year 2014. The crash occurs between
the narrators wh1o hold the version of a parliamentary coup and others that contradict
this argument with the support of a legal process and based on National Congress. Both
histories are depicted in the form of novelization, with narrators, actors in the political
landscape of the time as protagonists and antagonists, with a beginning, middle and end,
passed through discourses battles in the media in General.
Keywords: communication, impeachment, politics, conflicting narratives.
1
Advogado e Cientista Político, Mestre em Ciências Humanas pela UNISA e Doutorando em
Comunicação Social pela UMESP. É autor do livro ”A construção e desconstrução imagética dos políticos
nas campanhas eleitorais”.
Agradecimentos: Agradeço a CAPES pela concessão da bolsa proporcionando a
realização de trabalhos acadêmicos.
Introdução
Trata-se de um artigo que demonstra o conflito de narrativas políticas sobre o
impeachment da Ex-presidente Dilma Rousseff ocorrido no ano de 2016 no Brasil.
Nesse sentido, o afastamento da Chefe do Executivo à época, ficou e ainda está
marcado, pela sustentação de versões que justificam os interesses tanto do lado da
situação, quanto da oposição.
No enfrentamento entre pessoas físicas e jurídicas, bem como intergrupos políticos e
não políticos e partidos políticos da então base governista e da oposição daquele
período, fizeram questão de marcar posição perante a mídia em geral, cada qual com a
sua versão, denominando o ato de impedimento de “golpe” e “não golpe.”
De lá para cá, uma sucessão de figuras defensoras do Partido dos Trabalhadores-PT e da
Ex-presidente Dilma, sempre que chamados a mídia, desferem o discurso do golpe
como forma de defesa e visão política daquele governo. Já os seus adversários,
expressam o contrário, negando que o fato político ocorrido não foi golpe e sim
impedimento justo e legal.
O impeachment, foi um acontecimento marcante no ano de 2016, pois, ao ser impedida
de exercer a função de Presidente da República Federativa do Brasil nesse fatídico ano,
pelo Congresso Nacional, as opiniões ficaram divididas nas Casas Legislativas.
O conjunto concatenado de atos legislativos deram início em 2 de dezembro do ano de
2015, devidamente instaurado pelo Presidente da Câmara dos Deputados à época,
Eduardo Cunha, sob o fundamento legal de “crimes de responsabilidade fiscal,”
vulgarmente conhecidos por crimes de “pedaladas fiscais,” como também pela edição
de decretos suplementares que autorizaram o crédito ao Poder Executivo sem que o
Congresso Nacional os ratificassem.
A peça processual que deu início ao ato administrativo para julgamento da Chefe do
Poder Executivo Dilma Rousseff, foi protocolizada pelos juristas Miguel Reale Júnior e
Hélio Bicudo e também pela advogada Janaína Pascoal na Câmara Federal. O rito
processual teve duração de 273 dias, com o encerramento na data de 31 de agosto do
ano de 2016, que resultou na sentença de cassação do mandato da Presidente do Brasil,
sem que a mesma tivesse os seus direitos políticos suspensos, diferentemente do ex-
Presidente Fernando Collor de Melo no ano de 1992.
As argumentações da defesa de que os crimes imputados a Dilma Rousseff na peça
exordial de acusação eram infundados tecnicamente, pois, outros ex-Presidentes,
anteriores a ela também haviam praticado os mesmos atos administrativos, como
também Chefes do Poder Executivo estaduais, enquanto no exercício da função de
governadores de Estado.
O conflito entre acusação e defesa no decurso do processo administrativo, se estendeu
mesmo após o julgamento e decisão por sentença que retirou a Ex-presidente Dilma
Rousseff do Poder, ou seja, transbordou a linha limítrofe jurídica, passando para outras
esferas de discussão.
A partir do exaurimento processual nas duas Casas Legislativas do Congresso Nacional,
o que vimos e ainda vemos, é um real conflito de narrativas que permeiam outras
esferas, outros campos, outros foros, que demarcam as versões do “golpe” e do “não
golpe,” com embates intensos na ágora do marketing político.
Nesse sentido, a percepção é clara de que os adversários, travam no campo do
marketing político, a disputa pelo poder para ver qual das narrativas será a vencedora,
emanando as contradições dos discursos do golpe e do não golpe, por intermédio de
conflitos de narrativas políticas que sustentam cada qual suas respectivas versões.
Destacamos, de acordo com nossa pesquisa, que os dois lados caracterizam os seguintes
narradores:
A favor da narrativa do golpe temos: os grupos de jornais impressos Folha de São Paulo
e Estadão e o grupo midiático Globo. Artistas como o ator e atual Deputado Federal
eleito Alexandre Frota, Vitor Fasano e a atriz Suzana Vieira. Há ainda os jornalistas
Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo e Merval Pereira, bem como as instituições
privadas Federação das Indústrias de São Paulo-FIESP e por fim, os partidos políticos
PSDB e PMDB, atual MDB e atual movimento como o Movimento Brasil Livre-MBL e
outros.
A favor da narrativa do não golpe temos: os jornais estrangeiros Le Monde, The New
York Times, The Intercept, The Guardian e TV Al Jazira. Artistas como Raduan Nassar,
Chico Buarque, Marieta Severo e Gregório Duvivier. Intelectuais de peso como
Vladimir Saflate, Jürgen Habermas, Noam Chomsky e Boaventura de Sousa Santos.
Instituições como o Partido dos Trabalhadores-PT e vários outros considerados de
esquerda, a Central única dos Trabalhadores-CUT, Sindicato das Empregadas
Domésticas-SED e outros.
A forma de expor as histórias de cada lado, ao defender suas versões por meio de
narrativas políticas, se dá por intermédio de discursos, com enredos de novela, nos quais
demonstram um cenário político de acordo com os seus respectivos interesses, com
começo, meio e fim. Relatam os narradores, atuam os atores protagonistas e
antagonistas nos meios de comunicação, como por exemplo, jornais, revistas, televisões,
rádios e mídias sociais.
Isto posto, claro está a existência real do conflito de narrativas políticas a favor do golpe
e contra o golpe, medindo forças nos meios de comunicação de massa, prontos para
inserir a sua versão nos anais da história brasileira.
Narrativas do Golpe
Com toda essa pressão midiática que instigou boa parte da opinião pública, após os
movimentos de julho de 2013, não demorou dois anos e foi instaurado o processo de
impeachment contra a Presidente Dilma Rousseff em dezembro de 2015. O ex-
Presidente da Câmara Eduardo Cunha, aliado aos grupos de oposição, aceitou a
denúncia na Casa do povo e deu andamento ao feito.
O ato de aceitação da denúncia dos juristas Miguel Reali Júnior, Hélio Bicudo e a
advogada Janaína Paschoal foi devidamente fundamentada juridicamente, assim
sustentaram os envolvidos quando questionados pela mídia em geral. A presidente
Dilma foi afastada pelo período de 180 dias e seu Vice, assumiu interinamente.
O trâmite processual seguiu o rito instrumental correto. Tanto acusação quanto a defesa
tiveram a oportunidade de se pronunciar nos autos e fora dele, oralmente, nas duas
Casas Legislativas. Conforme a Constituição Federal da República Federativa do Brasil
de 1988, que reza em seu artigo 85, inciso, V, que, o Chefe do Executivo, responde por
crime de responsabilidade, quando supostamente pratica improbidade administrativa,
conforme infra:
Opinião pública
O intuito do conflito de narrativas sobre o golpe e o não golpe é fazer com que a opinião
pública seja convencida, ou por uma versão ou por outra. Quem vencer essa batalha de
argumentos e discursos, via marketing político e mídia em geral, tem a esperança de
entrar para a história como o vitorioso.
A opinião pública nada mais é do que um conjunto de considerações da população.
Essas opiniões se baseiam em assuntos de relevância como educação, economia,
política, dentre outros. A política se destaca, pois, esta é a arte de administrar os direitos
sociais da população, bem como é utilizada como um meio de conhecer as tendências
do público eleitor.
Os meios de comunicação são os termômetros utilizados para se conhecer a opinião
pública, seja por realização de pesquisas e seus diagnósticos ou por divulgação do
desenvolvimento de acervos de conhecimento que são importantes para a sociedade.
Nesse rumo, a influência de indivíduos ou grupos sobre a opinião pública lhes dá
respaldo para realização de seus objetivos com o apoio total ou parcial da sociedade.
Assim, a batalha de narrativas e seus conflitos políticos tendem a mexer com a opinião
pública.
Quem conseguir cativá-la, terá ao seu lado o respaldo necessário para garantir o seu
interesse. Recorremos aqui à obra Opinião Pública, de Walter Lippmann, para
fundamentar o que autor entende por opinião pública. Ele diz que a origem remota, mas
essencial da opinião pública é a experiência de uma nova sociabilidade, que tem a ver
diretamente com os públicos que a compõem e, consequentemente, com o
comportamento das pessoas.
Referencial teórico
A narrativa política tem o escopo de alterar o status quo, ou seja, realizar uma mudança
estrutural. As teorias narrativas conflitantes do golpe e do não golpe possuem a mesma
intenção, ou seja, vencer a discussão e impor a sua verdade. Enfim, a análise de
narrativas e mudança do paradigma são devidamente sustentadas, interdisciplinarmente,
por autores de peso nos estudos acadêmicos sobre o tema.
Para tanto, é necessário demonstrar o supedâneo legal, por meio de narrativas políticas
com fundamentos legais e acadêmicos. Nesse sentido, utilizamos o referencial teórico
que evidencia esse conflito.
Por ser o conflito de narrativas políticas travadas por meio de uma disputa
administrativa e jurídica, necessário apontar os suportes legais como já descritos nos
pontos anteriores denominados: Das narrativas do golpe e Das narrativas do não golpe.
O impeachment foi instaurado nas duas Casas Legislativas federais, de acordo com os
seus respectivos Regimentos Internos. Posteriormente, os seus atos foram
religiosamente seguidos conforme o trâmite previsto na Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, fixada em seu artigo 85, inciso V.
Além do artigo acima mencionado, o rito processual do impedimento, deve se basear
em um conjunto concatenado de atos a serem seguidos pelas autoridades competentes
de acordo com a Lei nº. 1079 de 1950, caso contrário, serão considerados irregulares.
Entretanto, por ser este trabalho um estudo acadêmico, necessariamente, o referencial
teórico deve ser embasado em pesquisa e autores do gênero. Para tanto, seguem abaixo,
os suportes utilizados para a realização e construção dessa atividade intelectual.
Para STONE (2002), muitas das definições dos problemas relatados na política são
atribuídas às narrativas, haja vista, estas tem começo, meio e fim, que acaba envolvendo
algum tipo de mudança ou alteração na estrutura. Geralmente, tal história tem heróis,
vilões e vítimas, um cenário construído para as suas atuações e forças consideradas do
bem e do mal.
No entanto, FISCHER (1998), relata que a pesquisa qualitativa é relevante para se
entender a narrativa política como uma espécie de análise, seria um método capilar para
entendê-la dentro do processo político.
Nesse sentido, LOPES (2015) menciona que as narrativas são a essência da política. As
narrativas são resultados visíveis das diferenças das crenças políticas, conforme
McBETH, SHANAHAN & JONES.
Por fim, RADAELLI (1998), as crenças são importantes na sociedade, mas, as crenças
denominadas de fundamentais e secundárias podem ser aplicadas nos estudos sobre
narrativas políticas, inclusive, podem ser alteradas por essas mesmas narrativas.
Considerações finais
As narrativas políticas são relevantes aos indivíduos e grupos políticos para sustentarem
as suas versões de acordo com seus interesses. São histórias contadas dentro de um
cenário político, em forma de novela, onde se relata um discurso, defendendo a sua tese.
Há um começo, um meio e um fim, adequando as personagens reais ou fictícias, aos
heróis, vilões e vítimas. Os argumentos utilizados são tendenciosos para o bem ou para
o mal.
Essas narrativas políticas pretendem alterar ou mudar os paradigmas do status quo. É
necessário que a sua implementação seja realizada pelos meios de comunicação de
massa.
A sua veiculação na mídia em geral, (por meio do marketing político como
instrumento), faz com que atinja a opinião pública e esta seja influenciada pelos
discursos deflagrados. Com isso, é absorvida pela sociedade, entrando para os anais da
história como a narrativa política suprema capaz de alterar ou mudar o paradigma
anterior.
Esse é o retrato do conflito de narrativas políticas a favor do golpe e contra o golpe.
Desde a cogitação da instauração do processo de impeachment, as duas versões vem
travando forças nos meios de comunicação de massa.
Há um vencedor? Por enquanto ainda não, as versões continuam e ainda vão continuar
anos a fio, pois, ambos os lados não se dão por vencidos ou derrotados. Sempre que a
mídia proporciona espaço para um lado sustentar a sua versão, logo o outro lado se
posiciona contrariamente.
Por ser a história um conjunto de conhecimentos relativos ao passado da própria
humanidade, bem como de sua evolução, seja ela positiva ou negativa, que depende do
ponto de vista escolhido, este ainda não está sacramentado. Enquanto se tiver pessoas
ou grupos dispostos a contar as suas narrativas políticas de acordo com o seu interesse,
independente do lado, só o tempo demonstrará qual discurso se solidificará.
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