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Conflito de narrativas políticas sobre o impeachment.

Edney Firmino Abrantes1


Resumo
Trata-se de um artigo sobre o conflito de narrativas políticas sobre o impeachment de
Dilma Rousseff do Partido dos Trabalhadores-PT no ano de 2014. O embate se dá entre
os narradores que sustentam a versão de um golpe parlamentar e outros que contradizem
esse argumento com a sustentação de um processo legal e fundamentado, ocorrido no
Congresso Nacional. Ambas as histórias são retratadas em forma de novelização, com
narradores, atores do cenário político da época como protagonistas e antagonistas, com
começo, meio e fim, passadas por intermédio de batalhas discursais na mídia em geral.
Palavras-chave: Comunicação, impeachment, política, conflito de narrativas.

Abstract
This is a summary article on the conflict of political narratives about the impeachment
of Dilma Rousseff of the workers ' Party-PT in the year 2014. The crash occurs between
the narrators wh1o hold the version of a parliamentary coup and others that contradict
this argument with the support of a legal process and based on National Congress. Both
histories are depicted in the form of novelization, with narrators, actors in the political
landscape of the time as protagonists and antagonists, with a beginning, middle and end,
passed through discourses battles in the media in General.
Keywords: communication, impeachment, politics, conflicting narratives.

1
Advogado e Cientista Político, Mestre em Ciências Humanas pela UNISA e Doutorando em
Comunicação Social pela UMESP. É autor do livro ”A construção e desconstrução imagética dos políticos
nas campanhas eleitorais”.
Agradecimentos: Agradeço a CAPES pela concessão da bolsa proporcionando a
realização de trabalhos acadêmicos.

Introdução
Trata-se de um artigo que demonstra o conflito de narrativas políticas sobre o
impeachment da Ex-presidente Dilma Rousseff ocorrido no ano de 2016 no Brasil.
Nesse sentido, o afastamento da Chefe do Executivo à época, ficou e ainda está
marcado, pela sustentação de versões que justificam os interesses tanto do lado da
situação, quanto da oposição.
No enfrentamento entre pessoas físicas e jurídicas, bem como intergrupos políticos e
não políticos e partidos políticos da então base governista e da oposição daquele
período, fizeram questão de marcar posição perante a mídia em geral, cada qual com a
sua versão, denominando o ato de impedimento de “golpe” e “não golpe.”
De lá para cá, uma sucessão de figuras defensoras do Partido dos Trabalhadores-PT e da
Ex-presidente Dilma, sempre que chamados a mídia, desferem o discurso do golpe
como forma de defesa e visão política daquele governo. Já os seus adversários,
expressam o contrário, negando que o fato político ocorrido não foi golpe e sim
impedimento justo e legal.
O impeachment, foi um acontecimento marcante no ano de 2016, pois, ao ser impedida
de exercer a função de Presidente da República Federativa do Brasil nesse fatídico ano,
pelo Congresso Nacional, as opiniões ficaram divididas nas Casas Legislativas.
O conjunto concatenado de atos legislativos deram início em 2 de dezembro do ano de
2015, devidamente instaurado pelo Presidente da Câmara dos Deputados à época,
Eduardo Cunha, sob o fundamento legal de “crimes de responsabilidade fiscal,”
vulgarmente conhecidos por crimes de “pedaladas fiscais,” como também pela edição
de decretos suplementares que autorizaram o crédito ao Poder Executivo sem que o
Congresso Nacional os ratificassem.
A peça processual que deu início ao ato administrativo para julgamento da Chefe do
Poder Executivo Dilma Rousseff, foi protocolizada pelos juristas Miguel Reale Júnior e
Hélio Bicudo e também pela advogada Janaína Pascoal na Câmara Federal. O rito
processual teve duração de 273 dias, com o encerramento na data de 31 de agosto do
ano de 2016, que resultou na sentença de cassação do mandato da Presidente do Brasil,
sem que a mesma tivesse os seus direitos políticos suspensos, diferentemente do ex-
Presidente Fernando Collor de Melo no ano de 1992.
As argumentações da defesa de que os crimes imputados a Dilma Rousseff na peça
exordial de acusação eram infundados tecnicamente, pois, outros ex-Presidentes,
anteriores a ela também haviam praticado os mesmos atos administrativos, como
também Chefes do Poder Executivo estaduais, enquanto no exercício da função de
governadores de Estado.
O conflito entre acusação e defesa no decurso do processo administrativo, se estendeu
mesmo após o julgamento e decisão por sentença que retirou a Ex-presidente Dilma
Rousseff do Poder, ou seja, transbordou a linha limítrofe jurídica, passando para outras
esferas de discussão.
A partir do exaurimento processual nas duas Casas Legislativas do Congresso Nacional,
o que vimos e ainda vemos, é um real conflito de narrativas que permeiam outras
esferas, outros campos, outros foros, que demarcam as versões do “golpe” e do “não
golpe,” com embates intensos na ágora do marketing político.
Nesse sentido, a percepção é clara de que os adversários, travam no campo do
marketing político, a disputa pelo poder para ver qual das narrativas será a vencedora,
emanando as contradições dos discursos do golpe e do não golpe, por intermédio de
conflitos de narrativas políticas que sustentam cada qual suas respectivas versões.
Destacamos, de acordo com nossa pesquisa, que os dois lados caracterizam os seguintes
narradores:
A favor da narrativa do golpe temos: os grupos de jornais impressos Folha de São Paulo
e Estadão e o grupo midiático Globo. Artistas como o ator e atual Deputado Federal
eleito Alexandre Frota, Vitor Fasano e a atriz Suzana Vieira. Há ainda os jornalistas
Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo e Merval Pereira, bem como as instituições
privadas Federação das Indústrias de São Paulo-FIESP e por fim, os partidos políticos
PSDB e PMDB, atual MDB e atual movimento como o Movimento Brasil Livre-MBL e
outros.
A favor da narrativa do não golpe temos: os jornais estrangeiros Le Monde, The New
York Times, The Intercept, The Guardian e TV Al Jazira. Artistas como Raduan Nassar,
Chico Buarque, Marieta Severo e Gregório Duvivier. Intelectuais de peso como
Vladimir Saflate, Jürgen Habermas, Noam Chomsky e Boaventura de Sousa Santos.
Instituições como o Partido dos Trabalhadores-PT e vários outros considerados de
esquerda, a Central única dos Trabalhadores-CUT, Sindicato das Empregadas
Domésticas-SED e outros.
A forma de expor as histórias de cada lado, ao defender suas versões por meio de
narrativas políticas, se dá por intermédio de discursos, com enredos de novela, nos quais
demonstram um cenário político de acordo com os seus respectivos interesses, com
começo, meio e fim. Relatam os narradores, atuam os atores protagonistas e
antagonistas nos meios de comunicação, como por exemplo, jornais, revistas, televisões,
rádios e mídias sociais.

A narrativa é uma história com uma sequência temporal de eventos


(McComas & Shanahan, 1999) que se desdobram em uma trama
(Abell, 2004; Somers, 1992) que é preenchido por momentos
dramáticos, símbolos e personagens arquetípicos (McBETh,
Shanahan, & Jones, 2005), que culmina em uma moral da história
(Verweij et al., 2006). A narrativa, aqui entendida tanto como uma
categoria específica de comunicação e um método de organização
cognitiva (ver Herman, 2002, 2003a, 2009), funciona como um
dispositivo aparentemente universal para os indivíduos para aguçar
certos elementos da realidade, enquanto o nivelamento outros
(Gilovich, 1991). De fato, há evidências empíricas cada vez mais
persuasivas para apoiar tal afirmação como narrativa é encontrado
para ser o principal meio pelo qual os indivíduos organizam processar
e transmitir informações (ver, por exemplo, Berinksy & Kinder, 2006;
Gerrig & Egidi, 2003; Klein, 2003). (JONES, &. McBETh, 2010, 329-
330).

Isto posto, claro está a existência real do conflito de narrativas políticas a favor do golpe
e contra o golpe, medindo forças nos meios de comunicação de massa, prontos para
inserir a sua versão nos anais da história brasileira.

Narrativas do Golpe

O intuito da narrativa do golpe é solidificar o entendimento de que o processo de


impeachment foi totalmente injusto. Primeiramente, foi instaurado pelo Ex-presidente
da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha que servia em conluio ao Partido da Social
Democracia Brasileira-PSDB que, não suportou a derrota nas urnas no pleito eleitoral
para a Presidência da República no ano de 2014 e foi questionar em Juízo no Tribunal
Superior Eleitoral-TSE.
O protocolo do PSDB foi fixado na data de 18/12/2014, sob o fundamento legal de
crime de corrupção, que proporcionou o financiamento da chapa Dilma-PT/Temer-
PMDB no decurso das eleições presidenciais do ano de 2014, tornando-a ilegítima. Isso
causou estranhamento por parte da mídia, por parte de grupos privados e políticos que
foram contra se questionar a festa da democracia como é chamada as eleições.
O questionamento se seu pela desconfiança nas urnas eletrônicas, em que o PSDB e o
candidato derrotado no ano de 2014, Aécio Neves, nas eleições presidenciais, alegaram
fraude no sistema que proporcionou a vitória da chapa Dilma/Temer.
Como o resultado foi o indeferimento do Tribunal Superior Eleitoral-TSE, que
confirmou a reeleição de Dilma Rousseff, o Partido dos Trabalhadores-PT, levou como
resposta para a mídia que o PSDB desrespeitou o Estado Democrático de Direito ao
questionar o resultado das eleições presidenciais de 2014 realizadas sobre os alicerces
da democracia.
Portanto, se deflagrou a partir daí, o primeiro discurso (daqueles que sustentam a versão
da narrativa do golpe) sobre uma tentativa de tomada de poder pelas vias legais do
PSDB perdedor naquele cenário eleitoral.
Com isso, o PSDB não satisfeito com a derrota no pleito eleitoral presidencial de 2014 e
com a rechaça do pedido de cassação da chapa Dilma-PT/Temer-PMDB pelo TSE, se
aliou ao Ex-presidente Eduardo Cunha do PMDB para protocolizar o pedido de
impedimento da Chefe do Poder Executivo Federal, para, via administrativa, pudesse
acontecer a instauração do processo de cassação no Congresso Nacional.
Nesse interim, o conluio foi reforçado por outras siglas partidárias que deram suporte a
esses interesses escusos que passaram a atuar nas duas Casas Legislativas do Congresso
Nacional, travando as pautas do cotidiano político nesses ambientes, deixando de
atender os pedidos e projetos do Poder Executivo que eram enviados para votação.
Além disso, a situação e sua base parlamentar na Câmara Federal e no Senado
denunciavam nas tribunas e na mídia que o então Presidente Eduardo Cunha aprovava
as famigeradas pautas bombas em desfavor do Poder Executivo, prejudicando os atos
presidenciais relevantes para a nação como aprovação do orçamento anual, para dar
continuidade a implementação do bem estar social a população por intermédio das ações
do Mais Médicos, da Minha Casa Minha Vida, Ciência sem Fronteira, Pronatec dentre
outros.
Devido aos trâmites acima citados, o governo Dilma Rousseff e Partido dos
Trabalhadores-PT, bem como a sua base de apoio no Congresso Nacional, foram
desgastados e já não tinha mais como caminhar dentro da normalidade. A crise estava
cravada e as turbulências ainda estavam por vir.
Dentro desse cenário caótico politicamente, e pela ingovernabilidade naquele período,
fez com que o Ex-vice-Presidente Michel Temer se aliasse a base opositora para que o
governo Dilma fosse de fato e de direito impedido de estar no poder, para que ele
pudesse galgar ao cargo mais importante da nação.
Com essa somatória de forças contrárias ao Partido dos Trabalhadores-PT e Dilma
Rousseff, se instaurou o processo de impeachment por crime de responsabilidade fiscal
e aprovação de decretos suplementares sem a ratificação do Congresso Nacional,
sentenciando a favor da retirada e impedimento da Chefe do Poder Executivo e seu
governo.
Assim, tal ato proporcionou a subida e assunção ao cargo de Presidente da República
Federativa do Brasil a Michel Temer, que logo tratou de descolar a sua imagem do
governo impedido, governando, com a ajuda do PSDB e os demais partidos políticos
que se aliaram para a queda de Dilma Rousseff, o que lhe rendeu a pecha de golpista e
também a tentativa de solidificação do discurso do golpe parlamentar.

Narrativas do não golpe

Após as eleições presidenciais de 2014 iniciou-se o segundo mandato da vencedora no


pleito Dilma Rousseff. A plataforma vitoriosa apresentada naquele cenário político
aprovada pela maioria dos eleitores não iria vingar.
A crise econômica e financeira chegou forte no exato momento do desenvolvimento
inicial do governo reeleito, o que ocasionou um desgaste profundo na imagem da
Presidente. A ineficiência da Chefe do Poder Executivo Federal ao lidar com o Poder
Legislativo Federal era demonstrada a todo momento nos canais de comunicação
internos e externos.
Grupos partidários opositores se formaram nas Casas Legislativas Federais contra a
situação petista e sua base, dificultando os contatos e diálogos entre as lideranças. Virou
o ano de 2015 e, ainda surtindo os reflexos dos Movimentos de Julho de 2013, onde
milhões de pessoas saíram às ruas, de forma organizada, protestando contra a corrupção
como pano de fundo, mas, diretamente em face do governo Dilma, um paredão de
adversidades se formou antes da reeleição.
A mídia, maciçamente, passava em seus horários o movimento, bem como as
consequências de sua passagem, por um bom período de tempo, inclusive, nos horários
nobres da programação.
Na sequência, descreve Lattman-Weltman (2015), que as mídias sociais também
serviram de alavanca para a realização do movimento, bem como de inúmeros debates
entre os indivíduos usuários, criando espaços para discussões e manifestações virtuais.

[...] a popularização do acesso às redes e à vertiginosa oferta de


conteúdo informacional via Internet vem favorecendo a ampliação
exponencial da participação argumentativa de um universo cada vez
mais amplo e diversificado de indivíduos que anteriormente, por uma
série de razões, poderiam permanecer isolados uns dos outros, sem
espaço ou oportunidade de interação comunicativa e de
desenvolvimento. (LATTMAN-WELTMAN, 2015, p. 4).

Com toda essa pressão midiática que instigou boa parte da opinião pública, após os
movimentos de julho de 2013, não demorou dois anos e foi instaurado o processo de
impeachment contra a Presidente Dilma Rousseff em dezembro de 2015. O ex-
Presidente da Câmara Eduardo Cunha, aliado aos grupos de oposição, aceitou a
denúncia na Casa do povo e deu andamento ao feito.
O ato de aceitação da denúncia dos juristas Miguel Reali Júnior, Hélio Bicudo e a
advogada Janaína Paschoal foi devidamente fundamentada juridicamente, assim
sustentaram os envolvidos quando questionados pela mídia em geral. A presidente
Dilma foi afastada pelo período de 180 dias e seu Vice, assumiu interinamente.
O trâmite processual seguiu o rito instrumental correto. Tanto acusação quanto a defesa
tiveram a oportunidade de se pronunciar nos autos e fora dele, oralmente, nas duas
Casas Legislativas. Conforme a Constituição Federal da República Federativa do Brasil
de 1988, que reza em seu artigo 85, inciso, V, que, o Chefe do Executivo, responde por
crime de responsabilidade, quando supostamente pratica improbidade administrativa,
conforme infra:

Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da


República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente,
contra:
V - a probidade na administração;
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que
estabelecerá as normas de processo e julgamento.
Todo o embate entre acusação e defesa segue o rito da lei específica, Lei 1.079, de
1950, conforme descreve o julgado correlato abaixo:

O impeachment na Constituição de 1988, no que concerne ao


presidente da República: autorizada pela Câmara dos Deputados,
por 2/3 de seus membros, a instauração do processo (CF, art. 51, I), ou
admitida a acusação (CF, art. 86), o Senado Federal processará e
julgará o presidente da República nos crimes de responsabilidade. É
dizer: o impeachment do presidente da República será processado e
julgado pelo Senado Federal. O Senado e não mais a Câmara dos
Deputados formulará a acusação (juízo de pronúncia) e proferirá o
julgamento. CF/1988, art. 51, I; art. 52; art. 86, § 1º, II, § 2º,
(MS 21.564/DF). A lei estabelecerá as normas de processo e
julgamento. CF, art. 85, parágrafo único. Essas normas estão na
Lei 1.079, de 1950, que foi recepcionada, em grande parte, pela
CF/1988 (MS 21.564/DF). O impeachment e o due process of law: a
aplicabilidade deste no processo de impeachment, observadas as
disposições específicas inscritas na Constituição e na lei e a natureza
do processo, ou o cunho político do juízo. CF, art. 85, parágrafo único.
Lei 1.079, de 1950, recepcionada, em grande parte, pela CF/1988
(MS 21.564/DF).
[MS 21.623, rel. min. Carlos Velloso, j. 17-12-1992, P, DJ de 28-5-
1993.] (Grifo nosso).

O resultado final do processo aconteceu na data de 16 de abril do ano de 2016 quando


ocorreu de fato e de direito, a votação entre os parlamentares, em Sessão, na Câmara
dos Deputados, deflagrados 367 votos a favor da cassação e impedimento da Presidente
Dilma Rousseff e seu partido político, e 137 contra, garantindo a ida dos autos ao
Senado Federal.
Enfim, na data de 12 de maio do ano de 2016, os senadores da República votam pela
aceitação ou não dos autos no Senado Federal e por 55 votos a favor e 22 contra, deram
continuidade ao feito. Mas, no dia 31 de agosto do mesmo ano, sob o comando e
presidência do Ministro Ricardo Lewandowski, ora, Presidente do Supremo Tribunal
Federal, o julgamento final deflagrou 61 votos a favor e 20 contra, dando cabo ao
processo. A pesar da cassação, a Ex-presidente manteve os direitos políticos intactos.
Como se pode notar, todo o rito processual foi obedecido, os princípios constitucionais,
tanto para a acusação, quanto para a defesa também foram respeitados, sem ter ocorrido
qualquer tipo de mácula aos procedimentos administrativos e jurídicos. Em nenhum
momento houve sequer uma violação legal ou moral que viessem a prejudicar a situação
da Ex-presidente Dilma Rousseff do Partido dos Trabalhadores-PT. Essa visão,
inclusive, é vista como uma vitimização da impedida e de seu partido político para
justificar seus crimes praticados.

Opinião pública
O intuito do conflito de narrativas sobre o golpe e o não golpe é fazer com que a opinião
pública seja convencida, ou por uma versão ou por outra. Quem vencer essa batalha de
argumentos e discursos, via marketing político e mídia em geral, tem a esperança de
entrar para a história como o vitorioso.
A opinião pública nada mais é do que um conjunto de considerações da população.
Essas opiniões se baseiam em assuntos de relevância como educação, economia,
política, dentre outros. A política se destaca, pois, esta é a arte de administrar os direitos
sociais da população, bem como é utilizada como um meio de conhecer as tendências
do público eleitor.
Os meios de comunicação são os termômetros utilizados para se conhecer a opinião
pública, seja por realização de pesquisas e seus diagnósticos ou por divulgação do
desenvolvimento de acervos de conhecimento que são importantes para a sociedade.
Nesse rumo, a influência de indivíduos ou grupos sobre a opinião pública lhes dá
respaldo para realização de seus objetivos com o apoio total ou parcial da sociedade.
Assim, a batalha de narrativas e seus conflitos políticos tendem a mexer com a opinião
pública.

Quem conseguir cativá-la, terá ao seu lado o respaldo necessário para garantir o seu
interesse. Recorremos aqui à obra Opinião Pública, de Walter Lippmann, para
fundamentar o que autor entende por opinião pública. Ele diz que a origem remota, mas
essencial da opinião pública é a experiência de uma nova sociabilidade, que tem a ver
diretamente com os públicos que a compõem e, consequentemente, com o
comportamento das pessoas.

Aqueles aspectos do mundo que têm a ver com o comportamento de


outros seres humanos, na medida em que o comportamento cruza com
o nosso, que é dependente do nosso, ou que nos é interessante,
podemos chamar rudemente de opinião. As imagens na cabeça destes
seres humanos, a imagem de si próprios, dos outros, de suas
necessidades, propósitos e relacionamentos, são suas opiniões
públicas” (LIPPMANN, 2008, p.40).

Como mencionamos que o conflito de narrativas políticas a favor do golpe e contra o


golpe são expostos na mídia em geral, se tornam espetáculos a parte. São relatados em
forma de novelização. Há narradores, atores protagonistas e antagonistas. São histórias
com começo, meio e fim. O intuito das partes é fazer valer a sua versão perante a
opinião pública, por pesquisas e pelos meios de comunicação de massa.
As personagens marcam posições, seja como vilões e heróis, com possibilidades de
ganhos e perdas relatados em discursos inflamados que são ventilados nos meios de
comunicação em geral.
Para AZEVEDO (2006), os meios de comunicação em massa como televisão e rádio,
são preponderantes para afetação da população sobre os assuntos políticos, mesmo
sendo este não muito desejado, salvo em épocas eleitorais, onde os debates e discussões
são acalorados, chamando a atenção da população de eleitores aos milhões.
Outro autor, CHOMSKY (2013), menciona a eficácia da manipulação da opinião
pública mediante os slogans e propagandas repetidas que as influencia, como se fosse
um rebanho desorientado, teoria esta de Lippmann.

Trata-se de saber se queremos viver numa sociedade livre ou sujeitos


àquilo que corresponde a uma forma de totalitarismo autoimposto,
com o rebanho desorientado marginalizado, distraído com outros
assuntos, aterrorizado, berrando slogans patrióticos, temendo por sua
vida e reverenciando o líder que o salvou da destruição, enquanto as
massas instruídas são enquadradas e repetem os slogans que se
esperam que repitam, e a sociedade entra em decadência
(CHOMSKY, 2013, p. 66-67).

As narrativas políticas tentam influenciar via meios de comunicação de massa à opinião


pública como se fosse um rebanho desorientado, abarcando, pela sua respectiva versão,
e de acordo com o seu interesse, a teoria do golpe ou do não golpe. A solidificação do
seu discurso ganha os indivíduos ou grupos, lhe dando suporte histórico, como também
a possibilidade de capital político para as próximas eleições.

Referencial teórico

A narrativa política tem o escopo de alterar o status quo, ou seja, realizar uma mudança
estrutural. As teorias narrativas conflitantes do golpe e do não golpe possuem a mesma
intenção, ou seja, vencer a discussão e impor a sua verdade. Enfim, a análise de
narrativas e mudança do paradigma são devidamente sustentadas, interdisciplinarmente,
por autores de peso nos estudos acadêmicos sobre o tema.

Brown e Stewart (1993, p. 101) argumentam que o estudo da mudança


de política deve se concentrar em “táticas empregadas pelos
defensores de políticas”. Como encontramos em narrativas, essas
táticas ou estratégias mudam dependendo da forma como a coalizão se
vê, como perdedor ou vencedor. Narrativas políticas concorrentes
incorporam estratégias, tais como a identificação de ganhadores e
perdedores, de quem se beneficia e quem sustenta os custos do
conflito político, o uso de símbolos de 15condensação, o
envolvimento de políticas substitutas bem como a utilização de
incerteza científica. Por sua vez, a escolha da narrativa como
estratégia é conduzida pela percepção do grupo, que se vê como á
frente ou atrás na questão política. Esta intersecção é uma área
inexplorada em que os dois campos [Análise de Narrativa & Mudança
Política] cruzam-se e reforçam-se mutuamente. Enquanto a teoria
tradicional de mudança política pode mostrar que os grupos agem
estrategicamente, nossa metodologia busca mostrar como os grupos
agem estrategicamente através de narrativas. (McBETH,
SHANAHAN, ARNELL, HATHAWAY, 2007, p. 90).

Para tanto, é necessário demonstrar o supedâneo legal, por meio de narrativas políticas
com fundamentos legais e acadêmicos. Nesse sentido, utilizamos o referencial teórico
que evidencia esse conflito.
Por ser o conflito de narrativas políticas travadas por meio de uma disputa
administrativa e jurídica, necessário apontar os suportes legais como já descritos nos
pontos anteriores denominados: Das narrativas do golpe e Das narrativas do não golpe.
O impeachment foi instaurado nas duas Casas Legislativas federais, de acordo com os
seus respectivos Regimentos Internos. Posteriormente, os seus atos foram
religiosamente seguidos conforme o trâmite previsto na Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, fixada em seu artigo 85, inciso V.
Além do artigo acima mencionado, o rito processual do impedimento, deve se basear
em um conjunto concatenado de atos a serem seguidos pelas autoridades competentes
de acordo com a Lei nº. 1079 de 1950, caso contrário, serão considerados irregulares.
Entretanto, por ser este trabalho um estudo acadêmico, necessariamente, o referencial
teórico deve ser embasado em pesquisa e autores do gênero. Para tanto, seguem abaixo,
os suportes utilizados para a realização e construção dessa atividade intelectual.
Para STONE (2002), muitas das definições dos problemas relatados na política são
atribuídas às narrativas, haja vista, estas tem começo, meio e fim, que acaba envolvendo
algum tipo de mudança ou alteração na estrutura. Geralmente, tal história tem heróis,
vilões e vítimas, um cenário construído para as suas atuações e forças consideradas do
bem e do mal.
No entanto, FISCHER (1998), relata que a pesquisa qualitativa é relevante para se
entender a narrativa política como uma espécie de análise, seria um método capilar para
entendê-la dentro do processo político.
Nesse sentido, LOPES (2015) menciona que as narrativas são a essência da política. As
narrativas são resultados visíveis das diferenças das crenças políticas, conforme
McBETH, SHANAHAN & JONES.
Por fim, RADAELLI (1998), as crenças são importantes na sociedade, mas, as crenças
denominadas de fundamentais e secundárias podem ser aplicadas nos estudos sobre
narrativas políticas, inclusive, podem ser alteradas por essas mesmas narrativas.

Considerações finais
As narrativas políticas são relevantes aos indivíduos e grupos políticos para sustentarem
as suas versões de acordo com seus interesses. São histórias contadas dentro de um
cenário político, em forma de novela, onde se relata um discurso, defendendo a sua tese.
Há um começo, um meio e um fim, adequando as personagens reais ou fictícias, aos
heróis, vilões e vítimas. Os argumentos utilizados são tendenciosos para o bem ou para
o mal.
Essas narrativas políticas pretendem alterar ou mudar os paradigmas do status quo. É
necessário que a sua implementação seja realizada pelos meios de comunicação de
massa.
A sua veiculação na mídia em geral, (por meio do marketing político como
instrumento), faz com que atinja a opinião pública e esta seja influenciada pelos
discursos deflagrados. Com isso, é absorvida pela sociedade, entrando para os anais da
história como a narrativa política suprema capaz de alterar ou mudar o paradigma
anterior.
Esse é o retrato do conflito de narrativas políticas a favor do golpe e contra o golpe.
Desde a cogitação da instauração do processo de impeachment, as duas versões vem
travando forças nos meios de comunicação de massa.
Há um vencedor? Por enquanto ainda não, as versões continuam e ainda vão continuar
anos a fio, pois, ambos os lados não se dão por vencidos ou derrotados. Sempre que a
mídia proporciona espaço para um lado sustentar a sua versão, logo o outro lado se
posiciona contrariamente.
Por ser a história um conjunto de conhecimentos relativos ao passado da própria
humanidade, bem como de sua evolução, seja ela positiva ou negativa, que depende do
ponto de vista escolhido, este ainda não está sacramentado. Enquanto se tiver pessoas
ou grupos dispostos a contar as suas narrativas políticas de acordo com o seu interesse,
independente do lado, só o tempo demonstrará qual discurso se solidificará.

Referências
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