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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

CÂMARA DOS DEPUTADOS


DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 56ª LEGISLATURA
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
(AUDIÊNCIA PÚBLICA ORDINÁRIA)
Em 27 de Junho de 2019
(Quinta-Feira)
Às 10 horas

O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Bom dia. Ao saudar todos aqui presentes, declaro aberta esta audiência
pública da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, destinada a debater o tema Atuação do Estado para evitar crimes
como o "Caso Rhuan", ou seja, como o Estado pode atuar para evitar futuros crimes similares ao ocorrido com o Rhuan.
Esta reunião decorre de requerimento de minha autoria, aprovado por esta Comissão.
Esclareço a todos os presentes que convidamos as autoridades necessárias para que nós debatamos o caso do menino
Rhuan, que teve a sua vida ceifada de maneira muito bruta, mas, lamentavelmente, a maior parte da grande mídia não
noticiou o caso.
Até o final da reunião, pretendemos discutir este caso e dar a ele a devida transparência, expondo-o à população brasileira,
para que não voltem a ocorrer casos similares. É óbvio que nós não poderemos trazer a vida do menino Rhuan de volta,
mas nós não podemos deixar que se apague a memória da vida daquele menino.
Dito isso, convido para compor a Mesa o Dr. Guilherme Sousa, Delegado da Polícia Civil do Distrito Federal, que atuou no
caso Rhuan; a Sra. Alinne Duarte de Andrade Santana, Coordenadora-Geral de Fortalecimento de Garantias de Direitos da
Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos;
e a Sra. Cláudia Regina Carvalho, Conselheira Tutelar do Distrito Federal, que também atuou neste caso. (Pausa.)
Esclareço que, em relação ao tempo concedido aos expositores, havia sido previsto um tempo menor, mas eu vou conceder
tempo maior, principalmente ao Delegado Dr. Guilherme. O tempo será de 30 minutos. Quando chegarmos ao final dos
30 minutos, eu avisarei.
As imagens e sons desta reunião estão sendo captados ao vivo pela Internet e também para posterior registro de áudio
e transcrição. A audiência pode ser acompanhada ao vivo na página da Comissão de Direitos Humanos no Facebook.
Solicito que falem proximamente ao microfone.
Após as intervenções dos integrantes da Mesa, abriremos a palavra aos Deputados presentes por 3 minutos. Em seguida,
devolveremos a palavra aos expositores para que façam suas considerações finais por 5 minutos.
Desde logo, devido ao adiantar do horário, vamos às nossas exposições.
Concedo a palavra ao Dr. Guilherme Sousa, Delegado da Polícia Civil do Distrito Federal, que atuou no caso Rhuan.
Dr. Guilherme, em primeiro lugar, eu já lhe agradeço, porque desde o momento em que o procurei, o senhor nos recebeu
na Delegacia de Samambaia, junto com sua equipe, esclarecendo-nos todas as dúvidas naquele dia em que ficamos mais de
uma hora e meia conversando. Eu saí da delegacia completamente chocado, não consegui almoçar, não consegui dormir
naquele dia. Após, quando recebi o inquérito, que solicitei, as fotos chocaram todos nós.

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Eu peço ao senhor que conte os detalhes do crime e o cenário do crime. Assim como o senhor comentou comigo naquele
dia, peço que o senhor conte aqui, na Comissão de Direitos Humanos, para todos nós, para o Brasil inteiro que está nos
acompanhando pela Internet, aquilo que o senhor comentou comigo na Delegacia. Conte tudo, não esconda nada. Já que
parte da grande mídia não disse, nós temos a obrigação moral, como Comissão de Direitos Humanos, de levar ao público
todas essas informações.

A palavra está com V.Sa.


O SR. GUILHERME SOUSA - Muito bom dia a todos. Eu agradeço o convite. Fico muito honrado de estar aqui presente
para expor o trabalho da Polícia Civil e para poder me manifestar a respeito disso. Quero expressar o meu respeito aos
Deputados e a esta Casa Legislativa. Eu quero dizer que muito me honra estar aqui, com toda a sinceridade, porque,
assim como esta Casa às vezes é injustiçada, a Polícia Civil e a polícia é também, em geral. Fazemos um trabalho que às
vezes não aparece, principalmente a polícia investigativa. Devido às deficiências que há, sociais, materiais e de recursos
humanos, esse trabalho não é reconhecido. Mas estamos lá, assim como os senhores, dia a dia, fazendo o nosso trabalho.
Então, repito: sinto-me muito honrado mesmo.
Agradeço especialmente ao Deputado Filipe Barros o convite; à Deputada Aline, muito obrigado; à Cláudia, Conselheira
Tutelar que trabalhou conosco e nos deu apoio; e à representante, Sra. Alinne, que conheci agora. Isso prestigia, dá valor
ao nosso trabalho e principalmente dá a grandeza necessária que deve ser voltada a esse caso grave, que comoveu a
todos, sem precedentes no Distrito Federal e, quem sabe, no Brasil, dada a gravidade dos atos executórios do crime que
o Deputado Filipe pediu para que eu detalhasse.
Quero perguntar se é isso mesmo que o senhor deseja, porque é um caso escabroso, um caso que envolve uma criança.
Como eu disse para a Deputada Aline, nós estamos aqui na Comissão de Direitos Humanos — é isso? — e nada expressa
mais a humanidade de uma sociedade do que uma criança. A criança é a mais alta expressão do ser humano, porque criança
representa alegria, renovação, gênese e esperança. E a esperança que me é depositada aqui e me foi depositada quando
minha equipe e eu fomos àquele local é a de que casos como esse nunca mais se repitam!
Pequenos passos, como o de estar aqui, de ser convidado pelos senhores, são um sinal de que as coisas estão mudando,
um sinal de que a Casa Legislativa e vários setores importantes podem mudar essa configuração social de um caso dessa
gravidade não ganhar a repercussão necessária. E quando eu digo repercussão, é justamente para que isso não se repita,
para que aquele caso seja visto com a repugnância que lhe é devida, para que crianças não sofram de novo. E eu tenho
certeza de que essa é uma das prioridades da Comissão de Direitos Humanos.
Sobre o caso...
O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Pode contar tudo, doutor.

O SR. GUILHERME SOUSA - Um breve histórico meu, antes de falar. Eu fui bombeiro por 12 anos. Eu sempre gosto
de repetir isso. Eu era socorrista. Nós chamamos de paramédico. Eu trabalhei 12 anos nessa área, então poucas coisas
me impressionam.
Graças a Deus, eu pude — e isto é um objetivo de vida meu — conhecer a natureza humana nas suas diversas nuanças, até
agora, porque a gente tem muito a aprender. E vi muita coisa no Corpo de Bombeiros: vi incidente envolvendo criança,
vi suicídio de criança, vi dramas sociais graves. Mas uma mãe fazer o que ela fez, eu nunca vi!
O crime foi cometido por Rosana e Kacyla. Eram duas mulheres oriundas de Rio Branco, no Acre, que tinham suas vidas
normais, ambas casadas, cada uma com seu respectivo marido. Tiveram dois filhos: a Luena e o Rhuan. Eram meninas que
estudavam, meninas de bem, como qualquer um de nós, como os nossos filhos. Resolveram se separar. Eram religiosas,
tinham formação religiosa normal, como qualquer outra pessoa que segue essa linha. Separaram de seus maridos, e Rosana
foi morar na casa dos sogros, que criaram o Rhuan — Rhuan é a vítima do crime.
Por que eu estou falando sobre morar na casa dos sogros? Quando ela vai morar na casa dos sogros, é esse o marco inicial
da mudança de comportamento dela, que vai desencadear no crime. Elas planejaram matar essa criança de 4 anos depois
de raptá-la da casa do sogro.
Eu vou me concentrar nos atos. Por que elas disseram que iam matar a criança naquele momento? Elas iniciaram um
relacionamento homossexual. Na nossa sociedade isso é normal, isso não tem nada a ver, isso não atrapalha em nada.
Iniciaram um relacionamento homossexual entre elas, resolveram que cada uma delas ia trazer as filhas para morar junto
com elas, e nesse momento ocorre a mudança de comportamento. A Luena, filha de Kacyla, era uma menina; Kacyla,
uma mulher; Rosana, uma mulher. E elas manifestaram o desejo de que Rhuan fosse uma menina. Rhuan não se adaptou
àquele tipo de rotina que tinha naquela casa, e aquilo gerou nelas uma insatisfação inicial. E a criança, por não se adaptar

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àquilo, passou a ser um estorvo, um embate para elas. Tudo isso que estou dizendo consta nos autos em depoimentos e
foi-me dito por elas próprias e por outras testemunhas.
Resolvem que vão matar Rhuan. Por quê? Porque a criança, segundo elas, atrapalhava o relacionamento, era um peso
para elas. Chegaram a dizer que essa criança as ameaçava de morte. Acusaram a criança de ter um comportamento sexual
reprovável, uma criança de 9 anos, segundo elas, que se masturbava demais. O legista nos disse que isso é impossível.
Esse é um dos motivos que fez com que elas matassem Rhuan. Elas saíram do Acre há 4 anos e percorreram diversos
Estados do Brasil. Em cada um desses Estados, elas praticaram alguns atos de maus-tratos contra o Rhuan: rejeição,
imposição de regras para que ele agisse como elas queriam, como uma menina, deixando o cabelo crescer, vestindo roupas
de mulheres. E a criança não se adaptava a isso.

Até que elas vieram parar em Brasília, depois de percorrer quatro Estados. Elas foram para Ceilândia, uma cidade satélite
aqui perto, e depois para Samambaia, que é a minha área de atuação, área da minha delegacia. Lá elas moram há pelo
menos 6 meses. Resolveram que iam começar uma nova vida sem a presença da criança, porque a criança, saberíamos
mais tarde, apresentava problemas de saúde graves por conta de uma emasculação que havia sofrido 2 anos antes.
O que elas disseram? "Vamos matar o Rhuan no dia 31 de maio, à noite, depois que acabar a novela". Começaram
a planejar esse crime 1 mês antes. Como elas fariam isso? Rosana falou para Kacyla que pretendia matar a criança
envenenada, mas desistiram, porque o envenenamento poderia causar nela reações como vômito, e isso ia fazer sujeira.
Desistiram dessa forma de crime. Decidiram, então, que iriam matá-lo com uma facada no coração quando ele estivesse
dormindo, ideia da própria Rosana, a mãe da criança. Por quê? Porque essa seria a forma mais fácil de executar o crime.
Seria à noite, quando ela estivesse dormindo.
Escolheram o dia e, não satisfeitas em matar a criança, pensaram em como se desfazer do corpo. Como fariam?
Esquartejariam a criança. Mas isso era suficiente? Não. Elas pensaram: "Como é que nos vamos nos livrar dos pedaços
do corpo?" Vamos cozinhar a carne da criança. Por que cozinhar? Porque ela ficaria mais mole e ficaria mais fácil de
cortar, despedaçar e descartar no vaso sanitário. Essas foram as ideias que elas tiveram ao longo do mês de planejamento
do crime. E os ossos? O que fariam? Pegariam um martelo e, depois de cozida a carne e desprendida do osso, triturariam
os ossos com o martelo — eu encontrei esse martelo lá — e também jogariam no vaso ou enterrariam.
Como executariam o crime? Na manhã do dia 31 de maio, a Rosana, mãe da criança, foi até uma loja de Samambaia e
comprou uma faca de 14,90, disse ela. Vou falar mais detalhes: ela falou que achou a faca barata, comprou aquela faca
de 14,90. Lembram que tinham planejado de matar a criança e de assar, cozinhar a carne? Decidiram que iam assar em
uma churrasqueira. E aí a própria Rosana saiu da loja onde comprou a faca e comprou dois pacotes de carvão. O grau
de planejamento do crime delas foi tão detalhado, que elas pensaram o seguinte: "Dois pacotes de carvão não serão
suficientes. Já que não vamos mais ter a cama do Rhuan, porque ele vai morrer, vamos pegar as ripas onde fica o colchão
e vamos também separar, caso o carvão acabe". Quando eu cheguei à casa, vi aquelas ripas separadas. Naquele momento
eu não entendi, depois eu soube por quê. Isso foi de manhã. Isso foi feito pela Rosana, a mãe. Comprou a faca, comprou
os dois carvões.
Enquanto isso, Kacyla, a companheira dela, foi para uma entrevista de emprego. Ela trabalha em um salão, é cabeleireira.
Foi para uma entrevista porque planejavam deixar a casa no dia seguinte e começar uma nova vida, em um novo emprego,
sem o Rhuan, tranquilas e calmas.

Naquele dia, como ela sempre fazia, ela abriu a Bíblia, recortou um trecho, copiou e colou na parede. Era um trecho
aleatório, que nada tinha a ver com isso.
Noite do crime. Antes disso, a Kacyla recebia pensão da filha que morava com ela, da pequena Luena. Elas foram receber,
mas finalmente a pensão tinha sido suspensa. Lembrem-se de que o Rhuan não recebia pensão, portanto, este era outro
motivo que o tornava um estorvo para elas. A Luena recebeu pensão em todos os 4 anos, mas naquele dia, no dia da morte
da criança, a pensão não havia caído. Havia sido suspensa no dia 3 de maio. Se o Rhuan foi morto também por ser um
estorvo, a Luena agora já passaria ser. Daí eu digo a importância da nossa ação naquele dia, porque a Luena poderia ser
a próxima vítima. A Cláudia esteve comigo lá, ela sabe disso.
Os atos. Foram sacar, Kacyla foi sacar o dinheiro e não tinha. Talvez isso tenha sido o motivo, Deputado, para que ela
matasse naquele dia, porque elas não tinham ainda achado a casa para onde fugiriam.
Noite do crime. Acaba a novela. A faca estava comprada, a churrasqueira estava preparada. Rhuan vai dormir, Luena vai
dormir. Lá é uma casa de fundos, como essas casas comuns de periferia, com três cômodos: tem o quarto do casal — delas
duas — e mais um quarto, uma espécie de cozinha que funcionou como quarto, conjugada, que tinha a cama do Rhuan, a
cama da Luena e um colchão no chão. Por que eu vou falar isso, por que eu estou dizendo? Vocês saberão depois. Rhuan

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vai dormir na cama, Luena vai dormir na cama do casal e elas ficam assistindo televisão. Desligam a TV, e a mãe fica —
eu vou repetir as palavras dela: "Mato ou não mato? Mato ou não mato?", por uns 40 minutos. E a Kacyla, companheira
dela, falava, segundo ela, tentando demovê-la disso. Não é verdade. Entenderão por quê.
Resolvem matar. Pega a faca de 14,90. Rhuan está dormindo de barriga para cima. A mãe chega e dá uma facada no peito
da criança deitada de barriga para cima. Há uma cama do lado, outra cama do outro. O planejamento delas dizia que a
criança iria levar a facada e continuar deitada, e isso facilitaria tudo para elas, mas não. O que acontece? A criança leva
a facada — nisso tudo está a própria mãe fazendo mímica para mim, do que fez com filho —, a criança leva a facada,
levanta da cama, cai de joelhos de costas no chão — de joelhos de costas no chão! — com a facada, e ela, com a faca na
mão, dá um grito não tão alto e não tão baixo. São todas palavras dela. E aí o que ela faz? Ela não esperava essa reação.
Kacyla chega, a companheira chega para segurar criança. Ela disse para mim que não queria isso, mas ela chega com um
pano embebido com acetona para que criança apagasse mais rápido, segura no ombro a criança de joelhos no chão, de
costas para a mãe, que já tinha dado uma facada. Segura o ombro da criança e bota o pano umedecido no nariz e na boca
da criança, enquanto a mãe dá 11 facadas nas costas da criança.

Ela falou para mim: "Não, eu acho que eu dei duas ou três". Eu falei: "Você não se lembra?" Ela falou: "Não". Até porque a
criança, naquele momento, não tinha noção, doutor. O legista me mostra 11 facadas nas costas. Duas perfuraram o coração.
A Kacyla vira para mim e fala: "Doutor, quando ela tirava a faca do peito da criança pelas costas, eu ouvia o barulho
da faca saindo do osso dele". E ela, tirando, deu 11. Ela disse que se lembrava de 2 ou 3, mas ela deu 11 facadas no
próprio filho.
E aí eu vou falar um outro detalhe que eu acho o mais bizarro de todos. A criança está de joelhos, lembram? Kacyla está
segurando a criança com uma mão no ombro, e a outra com o pano no rosto da criança. A mãe está de costas esfaqueando
11 vezes. Antes de ele cair no chão — ela falou isso para mim —, ela segurou na cabeça dele antes, da criança, de costas,
lembrem... Perdoem-me, mas pediram esse detalhe e eu estou falando. Se estiver exagerado, por favor, me parem nisso.
A criança, o filho dela, de costas, ela pega o filho e arranca cabeça do próprio filho antes de ele cair no chão. Ela fazendo
mímica para mim: segurou a cabeça e arrancou com a faca. O legista... Eu fui ver o corpo da criança para ter certeza de
que essa dinâmica era verdadeira. No dorso, na cervical da criança, tem a marca da faca saindo por aqui, compatível com a
descrição dela. E ela estava viva ainda. A criança, o filho dela estava vivo ainda, enquanto era decapitado pela própria mãe.
Nisso, a Kacyla já soltou o ombro dele. Ela vira para a Kacyla e fala: "Vai preparar a churrasqueira, vai!" E a Kacyla,
nas palavras da Kacyla: "Eu fiquei atarentada, doutor. Eu fiquei nervosa, porque ela mandou eu segurar a cabeça dele.
Eu não quis segurar, mas aí eu peguei um balde branco..." Era um balde de pano sujo, e ela colocou a cabeça do filho
dentro. Kacyla sai da cena e vai para churrasqueira, que fica do lado do quarto onde dormia a pequena Luena, que tem até
uma pequena janela e é uma espécie de área de serviço. Vai fazer a parte dela, que é acender a churrasqueira. Enquanto
isso, Rosana, a mãe da criança, com a cabeça dele dentro do balde, o que ela faz? Perdoem-me. Ela faz o seguinte: ela
tenta arrancar... ela falou para mim que arrancou os dois olhos da criança. Ela não arrancou. Ela tentou tirar as órbitas,
que estouraram no crânio da criança. Eu só soube disso quando fui ver a imagem no IML. Ela disse que arrancou os
olhos da criança.
Lembra que ela arrancou a cabeça? Ela disse para mim que ela fez este movimento: ela pegou a cabeça e arrancou o rosto...
Arrancou o rosto do filho por baixo. Ela arrancou o rosto como se fosse uma máscara. Quando eu vi isso — o rosto estava
dentro de duas mochilas de criança que eu mesmo encontrei algumas horas depois —, eu tive a percepção de que aquilo
poderia envolver algum tipo de ritual, porque ela arrancou o rosto inteiro da criança. Virou uma máscara. O rosto ele é
disposto.... O Deputado viu, e eu acredito que alguns aqui viram. Virou uma máscara, uma espécie de troféu do próprio
filho. Ela tentou arrancar os olhos, não conseguiu. Estourou as órbitas da criança, arrancou o rosto. Eu perguntei: "Por
que você arrancou o rosto dele?" Ela arrancou o rosto inteiro. Cortou as orelhas e arrancou.

Mais tarde, eu soube por ela que ela começou por aqui (aponta para a testa). Ela foi muito minuciosa nisso. Isso até me
assustou, porque eu achei que podia ser um trabalho de especialista, pois o legista me disse que os pés estavam dissecados.
É um procedimento médico difícil de fazer. Não sou especialista nisso, mas, quando conversei com ele, fiquei preocupado
de que houvesse outras pessoas envolvidas, com esse tipo de conhecimento. Até porque também notei a lesão antiga da
emasculação. Mas vamos lá! E quando eu falo "notei", é "notamos", eu e minha equipe.
Arrancou o rosto da criança porque tinham também planejado arrancar a pele da criança para fritar. Fritar a pele da criança!
E a pergunta foi: "Por que fritar?" Qual o propósito de fritar a pele do menino?" Kacyla vira para mim — essa função era
da Kacyla, pois a mãe arrancaria a pele e a Kacyla, preparando a churrasqueira, fritaria a pele: "Não, porque a gordura
amoleceria a carne". Eu ouvi isso. Arrancou a pele.

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Tentaram arrancar a pele do corpo, do restante. Viram que era muito difícil. Acharam que seria fácil, como se faz com
galinha. Também foi um exemplo dado pela Kacyla. Não conseguiram. Passaram a esquartejar a criança. Cortaram a
cabeça. Evisceraram, tiraram os órgãos internos: intestino, fígado. Ela falou para mim assim... Eu falei: "Vocês fizeram
algo com o coração?", o que seria comum num ritual. "Ah, não, não. Eu... a gente... eu vi o fígado dele". Ótimo! Tirou
isso, cortou os membros superiores e inferiores.
Lembra do martelo que seria usado para triturar os ossos? Pegaram a cabeça, a própria Rosana, tirou do balde, pegou a
faca de 14,90. Ela não especificou o local onde fez isso, mas, analisando o laudo do IML, eu vi que foi nesta têmpora
aqui (aponta para a têmpora). Ela pegou a faca, deitou a cabeça de lado e bateu com o martelo para tentar abrir o crânio.
Ela falou para mim que não conseguiu abrir o crânio do filho, desistiu. Só usou o martelo para tentar separar o fêmur da
pélvis. Foi onde ela usou o martelo, porque não conseguiram triturar.
Desistiram de tirar a pele toda da criança — e havia várias marcas disso no laudo, no pé, nos braços — porque era
muito difícil. Elas acharam que sairia como pele de galinha. Não saiu. Passaram a esquartejá-lo e entregar as peças para
a Kacyla, que estava lá na churrasqueira. Começou a fazer fumaça, começou a assar. Elas criavam cinco cachorros lá nos
fundos do... Os cachorros começaram a latir. A Rosana vira para mim... a Rosana, a mãe da criança.. A gente tinha uma
preocupação — nós, como investigadores, temos que esgotar todas as possibilidades — de verificar se não havia algum
tipo de canibalismo nesse tipo de ato. Não achamos indícios nenhum a respeito disso, mas era preciso que verificássemos.
E perguntando a ela a respeito disso, sobre a ausência de sinais, sobre ter visto um cesto escondido com sinal de carne
assada lá, e a churrasqueira sem esses... muito limpa, tudo muito limpo. Ela falou que não comeu a carne da criança, a
mãe, mas achou o cheiro agradável do churrasco. Ela falou isso para mim. Aí eu falei: "Desistiram de queimar?" "Porque
a carne, em vez de ficar mole, ficava muito dura, doutor. A carne ficou muito dura, a gente decidiu que ia enterrar". Já
tinham esquartejado, mas não tinham pá para enterrar.

Na casa ao lado acontecia uma festa de vizinhos em que as cadeiras eram dispostas na rua, e isso também as ajudou, por
causa do barulho da música, porque elas fizeram barulho batendo o martelo na faca enquanto tentavam quebrar o crânio
da criança, fizeram barulho quando tiraram o fêmur da pélvis, fizeram barulho quando prepararam a churrasqueira e os
cachorros começaram a latir. Depois saberão por que eu estou falando sobre barulho.
Ela pega, esquarteja a criança toda, separa o tronco, desiste de assar e fala: "A gente tem que se livrar. O que a gente
vai fazer? Não dá para enterrar, não tem pá. Vamos jogar no esgoto". Resolvem jogar no esgoto. Pegam uma mala,
colocam a cabeça e o tronco dentro da mala, a cabeça completamente desfigurada, sem a pele do rosto, sem os olhos. E
colocam dentro dessa mala.
A Rosana é quem fica a cargo de descartar isso. Enquanto isso, a Kacyla coloca os braços, os membros, o intestino e outras
partes do menor dentro de duas mochilas de criança, duas mochilas rosa. Na hora eu não me atentei a isso, mas estamos
falando de uma menina e de um menino. Por que duas mochilas rosa? Lembrem que eu falei que tinha um ingrediente de
forçar a criança a ser o que ela não queria? Duas mochilas rosa são um desses indícios.
Colocam a criança na mochila, a cabeça. Rosana sai com a mala na mão, passa por essa festa e vai procurar um esgoto,
um bueiro, para descartar a criança. Kacyla fica dentro de casa, terminando de embalar os restos mortais do Rhuan. Luena
está dormindo no quarto. Ela descarta. Alguém vê ela deixando essa mala lá, alguns jovens. Eu até falei para o doutor que
eu me sinto escolhido por Deus por estar ali, porque eu não era para estar em nada. Não era para estar naquele lugar, não
era para eu estar ali, eu estava de folga. De alguma maneira, Deus me colocou ali, em uma sucessão de atos que remontam
a uma semana antes, e até no mesmo dia. E eu me sinto... Eu acredito em Deus, então é assim que eu me sinto.
Eu estou indo embora de uma outra operação, e alguém fala, na hora em que eu estou indo embora: "Olha, um corpo
encontrado numa mala, dentro — não sabíamos se era uma criança ou o que era — de um bueiro". Aí eu falei com a
minha equipe: "Vamos lá?" "Vamos." Chamei a equipe. Graças a Deus! E fomos.
Eu cheguei e vi. Quando eu olho o bueiro... Ela já tinha fugido. Deixou e fugiu. E é um crime difícil de saber. Elas não
deixaram rastros. Elas fugiram do Acre para não entregar o pequeno Rhuan para a família, e elas não matriculavam a
criança em lugar nenhum, e nem a menina, para que não houvesse rastro, para que elas não fossem identificadas. Elas
percorreram quatro Estados do Brasil: Aracaju, em Sergipe, Maceió, Palmas e Goiás, e aqui em Brasília, justamente
para que não fossem, de maneira nenhuma, localizadas. Imaginem! E em todos os lugares a que eram elas iam, elas
abandonavam as casas. Graças ao aprofundamento da nossa investigação, nós descobrimos que elas fizeram um furto
numa cidade chamada Aragoiânia, aqui em Goiás. Eu não as responsabilizei porque não me cabia nesse momento, mas
já mandei para a Justiça de lá. São mais 4 anos para elas, se Deus quiser!
Mas, volto para cá. Elas fugiam desses locais. E o pequeno Rhuan era mantido dentro de casa, ao longo desses 4 anos, em
cárcere. Ele não saía. Os vizinhos não conheciam ele. Os vizinhos achavam que ele era a menina Luena. Lembram-se de

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um outro elemento agora, sobre a questão do gênero? Ele se vestia como a menina Luena, ele tinha o cabelo longo como a
menina Luena e ele era induzido a se comportar como a menina Luena. Ela falou para mim que, quando ela o emasculou
2 anos antes, na cidade de Anápolis, ela falou para mim que foi um desejo dele fazer isso.

Você quer que eu te fale um negócio? Eu vi a imagem da criança num almoço. Eu te falo que ela pode ter falado isso, sim,
para agradar a mãe. Era a única pessoa que ela tinha. Todas as pessoas, ao longo desses 5 anos, com quem eu conversei,
falaram que o Rhuan tinha um olhar triste. "O Rhuan tinha um olhar triste." E analisando aquelas imagens e fotos da
criança com a mãe, você vê que ela olha para a mãe como se fosse... "É a única coisa que eu tenho, então eu vou agradá-
la". E ele se vestia... Então, as pessoas achavam que não existiam duas crianças na casa, só uma, só existia uma criança na
casa. Conversei com todos os vizinhos. Rastreamos pelo menos quatro endereços em Estados diferentes, e ninguém disse
para mim que existia um menino na casa. Como isso é possível? Isso configura mais uma tortura em cima dele.
A criança é abandonada. Eu vou ao local do crime, vejo a cabeça da criança dentro do bueiro. Vejo que tem arcada dentária.
Não é um feto, não é uma mulher. E iniciamos a investigação. Vou poupá-los dos detalhes de investigação, porque isso
não importa para os senhores, a não ser que o doutor queria isso, mas acho que não.
Chegamos à casa. Aí descobrimos que essa senhora teria visto uma mulher com uma mala. Vou ao endereço, ao suposto
endereço onde tem... e várias outras frentes. Graças a Deus, calhou de eu encontrar esse lugar. Eu chego à casa — há
muitos mais detalhes que estes, mas o tempo não me permite falar, estou adiantando —, chego à casa, ela havia voltado
para casa. Entro furtivamente, como exige o meu protocolo, porque eu não sei com que tipo de pessoa estou lidando, ainda
mais diante do modo de execução do crime. Abro a janela, está tudo escuro, e vejo um vulto em pé, olhando para mim.
Era a Rosana, olhando para o nada, no momento em que eu entro. Invado a casa, a Kacyla acende a luz. Ela está parada,
olhando para o nada. Vejo alguns sinais, entro na casa. A pequena Luena acorda da cama em que ela estava. Olho para
o chão, a casa extremamente limpa, a casa extremamente limpa. O que me fez encontrar os corpos dentro duas mochilas
foi um pouco de sangue que tinha saído das mochilas. Ele empoçou, muito pouco. E aí, na hora, eu já descobri. Nós já
imaginamos que ali houvesse corpos. Abri a mochila e vi partes do osso, do cabelo.
No momento, eu achei que era um olho, mas era parte do intestino. Ela fala para mim: "Quem é?" À pequena Luena, eu
falo: "Meu amor, você vem para cá. Quem mais está na casa?" Ela não me fala quem é. Eu falei: "Você viu?" Ela me
pareceu que havia acordado naquele momento. Isolo a criança, para sair daquele cenário horrível, acreditando que ela não
tinha visto nada. Efetuo a prisão das duas, quando vejo que se trata de um corpo. Descubro que é uma criança, que é o filho
dela. Levo para a delegacia e vou fazer o interrogatório das duas, que durou 16 horas, porque essa história foi mudando.
Primeiro, tentaram acusar a criança. Ela falou para mim, dentro de casa, quando eu a entrevisto inicialmente, na primeira,
que o Rhuan era um menino difícil de lidar e a havia ameaçado de morte e com uma faca. Por isso, ela o matou. Depois,
ela me disse que ele era fruto de uma concepção decorrente de um estupro que ela sofreu do marido, com quem ela tinha
sido casada. É claro que tudo isso foi verificado e desmontado ao longo dos nossos dias de investigação no Acre. Isso
não é verdade.

Eu a levo para a delegacia, levo todos os três. Fazemos a descoberta das cenas do crime, parte do corpo da criança. Vejo
a churrasqueira com resquícios do corpo da criança, limpa, mas com resquícios. Acho o martelo sujo de sangue, acho o
balde. Não vejo roupas do menino. Naquele momento, até então eu não sabia... Levo para a delegacia. Isolo a pequena
Luena. A Cláudia não estava, porque foi na madrugada. Isso foi entre 2 horas da manhã e o resto do dia. Mas começou às
2h40min da manhã. O Conselho Tutelar, naquele momento, ainda não tinha sido acionado. Isolo a criança, e damos um
papel para ela poder se distrair. E sabem qual é o desenho que ela faz? A Cláudia sabe disso, porque eu entreguei esse
desenho e pedi para juntar nos autos. A criança faz espontaneamente um desenho de uma delegacia — é uma criança muito
inteligente —, um carro de polícia, tudo isso com as inscrições, uma pista e uma criança deitada, com o cabelo grande.
Lembro que todos eles tinham cabelo curto, até a própria menina, menos o menino. Ela desenha uma criança deitada de
dorso, pés para fora, que são sinais de morte, e com as entranhas abertas.
Uma criança de 9 anos desenhou isso, uma criança que supostamente estava dormindo. O que eu deduzo nesse momento?
Que ela, de alguma maneira, viu o que aconteceu ali. As duas mochilas estavam de frente para o quarto onde ela dormia.
A criança provavelmente ouviu barulho do que acontecia, o próprio grunhido de dor do Rhuan, o momento em que a
mãe batia, tentando abrir o crânio. Os cachorros latiam, a fumaça entrava no quarto dela. Ela viu e, com medo, ela fingiu
que estava dormindo. Por isso ela pôde desenhar aquilo. Ela não viu as entranhas. O tronco da criança eviscerada foi
encontrado no bueiro, quatro quadras longe de onde ela morava. Então, essa criança, em tese, não teria visto isso, a não
ser que ela tenha visto o momento em que aconteceu essa evisceração. E aí ela me faz esse desenho.

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Ela desenha também três rostos. Na casa morava Kacyla, Luena, mãe e filha, Rosana e Rhuan, quatro pessoas. O desenho
que a Luena faz, nesse momento de distração em que eu estou ouvindo as mães, é de três pessoas. Ela não desenha o
Rhuan. E ela ainda fala para mim o seguinte: "Ele mereceu morrer".
(Não identificado) - Quantos anos ela tem?
O SR. GUILHERME SOUSA - Nove anos... oito anos, não é? "Ele mereceu morrer".
Deixem-me falar um negócio: você acha que uma criança fala isso espontaneamente? Não fala isso espontaneamente.
Ela foi induzida a pensar assim. Se ela foi induzida a achar que a morte do irmão era normal, você imagina ao que foi
induzida aquela criança ao longo de 4 anos!
A Luena desenha isso. Depois, eu a levo para uma Junta Especializada. Antes, o Conselho Tutelar realiza esse outro
atendimento, na pessoa da Cláudia e da equipe dela. Nós deixamos a criança tranquila... E ela encarando tudo com
naturalidade, tudo, como se ela tivesse sido preparada psicologicamente para a morte do irmão, para que ele não
pertencesse mais à família, como se ele não se encaixasse. Ela mesma disse isso. Ela disse isso pra gente. Ela falou assim:
"Não, ele não era... ele não se encaixava aqui". Ela é muito inteligente, não é? Ela fala com essas palavras.

Resumo da ópera: aconteceu isso, a criança foi encontrada dessa maneira. Nisso, nós começamos a fazer o flagrante.
Voltando para a cena do bueiro, por um acaso, nós percebemos que não havia sinais dos órgãos genitais da criança ali. E
a nossa experiência pede para que analisemos tudo de uma maneira ampla.
Naquele momento, eu desconfiava de ser uma morte ritualística, cuja característica é também a emasculação. E perguntei
para a Rosana: "Rosana, cadê os órgãos sexuais da criança?" Mas confesso para vocês que eu acreditava que ela tinha
colocado em outro ponto, ou assado, ou dado outro destino. Ela virou para mim, achando que eu tinha descoberto isso
— e eu não tinha descoberto —, ela fala para mim: "Não, a gente arrancou o pintinho do Rhuan 1 ano atrás". Eu falei:
"Como assim? Arrancou?" E ela: "É". "Vocês arrancaram como?" "É, nós arrancamos". "E por quê?" E ela falou: "Não,
porque ele queria ser menina". Eu falei: "E queria ser menina por quê?" Ela falou: "É, ele achava que só tinha menina lá
em casa. Ele queria vestir as roupas da Luena, e aí a gente decidiu fazer isso". Uma criança faz isso espontaneamente?
Lembram os outros sinais? Mais um.
Faço contato com o Estado de Goiás e descubro que ela realmente esteve em Anápolis. Descubro também, numa das
ocorrências, que ela esteve em Aragoiânia. E falo: "É compatível. A lesão é antiga". Aí ela me conta, se vendo fechada,
falou: "Doutor, eu queria que ele parasse de se masturbar demais, porque ele se masturbava muito". Eu falei: "Mas ele
tem 9 anos". Ela falou assim: "Não, mas ele era, várias vezes..." Isso não está nos autos, nem tudo está nos autos. "Várias
vezes eu fui na cama, e ele estava mexendo o lençol, manipulando o pintinho dele". Eu falei: "Mas uma criança estava
fazendo isso". Ela falou: "É". E tentou dizer que isso era influência do sogro e do pai, que tinha feito isso. Isso não existiu.
O que ela faz? Dois anos antes, visando transformar a criança numa menina, e também para que dificultasse o encontro
dela, já que procuravam um menino... Sendo uma menina, as pessoas não se atentariam que elas eram fugitivas. Ela, junto
com a Kacyla, pesquisou na Internet formas de cortar o pintinho da criança, o pênis dela, e retirar os testículos. Doparam
a criança, segundo elas, com dipirona. A gente não sabe dizer se isso é verdade, até porque parece que tecnicamente isso
não é possível, mas foi o que elas me disseram. Esperaram a criança ficar dopada, tiraram a roupinha dele. Kacyla é uma
cabeleireira. Usou um estilete de cabeleireiro, abriu o saco escrotal da criança e retirou com os dois dedos. Foi assim que
ela me falou. Isso foi a Kacyla, que não é a mãe, a pedido da Rosana. Segundo Kacyla, ela fez isso porque Rosana já
queria matar a criança naquele momento, e ela viu isso como uma alternativa para que ela não morresse ali. Retirou os
dois testículos da criança, cortou com o mesmo estilete o pênis da criança. Jogaram no vaso. Costuraram com uma linha e
agulha normal. Eu falei: "Não levaram no médico?" "Não". "Não deram nada?" Deram antibiótico, que elas compravam
clandestinamente, e passaram álcool para poder não infeccionar. Eu falei: "Mas como foi isso? Isso durou quanto tempo?
Como é que essa criança foi...?" Não souberam explicar. Só disseram o seguinte: que não precisou ir no médico, 15 dias
estava cicatrizado. E a pergunta que vem: como essa criança passou a fazer xixi? A resposta vem do laudo pericial do
legista. Quando elas extirparam o pênis da criança, a uretra, que é por onde passa a urina, ela se retraiu. E aquele canal, que
já é minúsculo, ficou mais ainda fechado. A criança, para fazer xixi, a partir daquele momento, ela sofria intensamente. A
bexiga dela tinha que armazenar, no máximo, até quase estourar — palavras do legista —, e aí, diante da pressão, saía por
aquele canal mínimo. E aquilo era uma dor intensa e cruel, que também se configura tortura. Isso foi ao longo de 2 anos.

Acredito eu — eu não tenho como provar isso — que esse problema de saúde que foi gerado na criança talvez tenha
alcançado o ápice ali, fazendo com que elas tivessem que levá-lo ao médico, e aí se descobriria o que ela tinha feito.
Talvez isso também tenha motivado a morte dele.
Deputado, V.Exa. pode falar se eu estiver...
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Essa criança passou 2 anos sofrendo intensamente para fazer xixi. E só fazia quando o corpo não tinha como armazenar
urina. Ela foi espostejada — um termo médico —, completamente cortada, mas a bexiga estava cheia. Por quê? Porque
estava presa a urina lá. O médico legista falou que aquilo é de uma barbaridade sem precedente, sem precedente! Eu não
tenho conhecimento médico para poder falar a respeito disso, mas, pela descrição do legista... Você vê que um profissional
sabe do que está falando. Além de todo o sofrimento psicológico que essa criança viveu durante 4 anos, fisicamente ela
foi lesionada gravemente, porque as funções sexuais e urinárias dela foram completamente comprometidas para o resto
da vida. Então, se ela se mantivesse viva, os efeitos físicos seriam terríveis, além dos efeitos psicológicos.
E aí ela me confessa tudo isso. Costurou com linha e agulha, cicatrizou. Passaram a vestir a criança como uma menina. A
criança não se queixava, não chorava, não falava, não participava de um convívio social, porque elas impediam. Todas as
pessoas com quem falei, do Acre, até os vizinhos de lá, disseram que essa criança era alijada completamente do convívio
social. Por quê? Porque ela tinha medo de que descobrissem o que ela tinha feito com a criança. E se tornou tão insuportável
pra ela ter essa criança com esses problemas graves de saúde, que a única alternativa que ela teve foi matá-la, também.
Levamos ela para a delegacia e descobrimos mais esse crime. Descobrimos que ele tinha sofrido essa lesão. Descobrimos
que ele tinha passado por um sofrimento intenso ao longo de 4 anos. E ela me dizia — ela disse isso para mim! — que
odiava ele, que ele era um menino que a fazia lembrar coisas horríveis do passado dela e que ela não se arrependia de tê-
lo matado. A mãe disse isso para mim. Eu fiz outras oitivas com ela ao longo de dias, sem o conhecimento da população,
para que não houvesse uma invasão, até para entender um pouco mais isso. Fiz antes de ir para o Acre e depois. Ela
realmente não amava essa criança. Ela queria fazê-lo sofrer. Ele não correspondia às expectativas que ela nutria a respeito
dele. Ela queria, de alguma forma, se vingar dos sogros, se vingar do próprio pai. Queria que ele fosse o que ela planejou,
o que ela desejava — ela e a Kacyla —, que ele fosse uma menina. Tentou de todas as maneiras, até chegar ao extremo de
emasculá-lo, de transformá-lo numa menina. E, quando não houve alternativa para conseguir o seu objetivo, assassinou
a criança dessa forma que eu digo para os senhores. Eu acredito que não há mais detalhes a dizer, doutor, e peço perdão
aos senhores por dizer isso, porque eu tinha que detalhar. Eu queria que os senhores, a pedido do Deputado, na Comissão
de Direitos Humanos, tivessem noção de quão terrível o ser humano pode ser. E, por esse motivo, a Comissão de Direitos
Humanos tem sim que estar atenta, todos os setores da sociedade têm que estar atentos para que isso não se repita, para
que os humanos que realmente merecem — e me desculpem por falar assim — tenham o seu lugar e não sejam tirados da
sociedade, não sejam mortos para que outras pessoas como essa permaneçam no nosso convívio.

Eu agradeço aos senhores; eu agradeço a todos.


De novo, eu me sinto honrado por ter falado para os senhores.
O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Doutor, muito obrigado pelo relato, que, como disse, é pesado. Mas acho
necessário que demos a devida transparência para esse caso muito pouco divulgado pela imprensa nacional. É necessário
que divulguemos, para que casos como esse não voltem a acontecer.
Passo a palavra à Sra. Cláudia Regina Carvalho, Conselheira Tutelar do Distrito Federal, a quem agradeço a presença
nesta Casa. E, passando a palavra à senhora, eu gostaria que abordasse como encontrou Luena, o trabalho que o Conselho
Tutelar fez. Ontem, quando conversava com a nossa Ministra Damares Alves, ela comentou comigo o momento em que
Luena reencontra o pai. Isso me emocionou muito e eu gostaria que a senhora nos contasse essa história.
A SRA. CLÁUDIA REGINA CARVALHO - Bom dia a todos.
Agradeço o convite à Ministra Damares, à Alinne e a todos os senhores.
Feliz eu não estou por estar aqui neste momento e trazer este relato. Eu queria estar trazendo relatos de prevenção, do
olhar de todos em relação à infância e à adolescência do nosso País, que, pela nossa atuação, hoje se encontra abandonada.
Então, feliz não estou por estar aqui neste momento, mas estou agradecida, porque temos que falar para prevenir outros
crimes como esse.

Bom, eu recebi uma ligação às 4 horas da manhã do CISDECA — Coordenação do Sistema de Denúncias de Violação dos
Direitos da Criança e do Adolescente em que a 26ª Delegacia de Polícia fazia um chamado ao Conselho Tutelar de plantão
porque, naquela delegacia, havia uma criança de 8 anos cuja mãe havia sido presa. Chegando lá, primeiro, falei com a mãe,
assim que fui abordada por um agente, que disse que a mãe havia acabado de matar uma criança de 9 anos e que lá, numa
sala separada, havia uma criança de 8 anos que precisava de abrigo, pois não tinha nenhum parente no Distrito Federal.
Eles me levaram ao delegado, que relatou um pouco do crime, o Dr. Guilherme, e me levou até a mãe. Conversei um
pouco com a mãe da menina, a Kacyla, que relatou o crime de forma bem tranquila, com alguns detalhes, o que me
assustou bastante.

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Após isso, eu fui ver a menina. Ela corria na sala, agitada, ela se batia, ela se beliscava e dizia que o menino... "Ele morreu
porque ele merecia. Ele me abandonava." Era isso que ela dizia. Aí o delegado me trouxe alguns desenhos que a menina
fez, desenhos horrorosos, contando a situação do crime e a situação em que eles viviam, as quatro pessoas: Kacyla, Luena,
Rhuan e Rosana. No desenho — eu passei para Alinne, acho que ela vai exibi-lo —, há uma página em que está escrito
"escrevam"; na outra página, está escrito "escravam"; em outra página, "Papai, te amo"; na página seguinte está "Te amo,
pai"; e, na última página, está desenhada a cena do crime: a cama, o corpo dilacerado e as duas mulheres em forma de
coração com olhares bem macabros, assim como o dela também.
Vendo toda aquela situação, perguntei para ela se tinha parentes. Ela disse que não. Cheguei até a mãe, que confirmou
também que não tinha. A atuação seria abrigo. "Vamos levar para o abrigo, Central de Vagas". No trajeto, eu fui
conversando com o motorista: "Nossa, que situação! Que caso é este? Que fim de mundo". Ela vira para nós e disse:
"Eu preciso falar com vocês. Não quero que vocês falem só vocês dois, não. Eu quero falar: ele merecia, ele era mau. A
gente não queria ele com a gente". Eu disse: "Não, meu bem, não precisa falar, não. Você vai estar com um psicólogo
daqui a pouquinho. Você vai conversar. A gente não está preparado para isso". Mas ela, a todo tempo, nesse trajeto de
15 minutos, repetiu três vezes que a criança merecia. Aí foi que eu perguntei para ela: "Você estuda? Ele estuda?" Ela:
"Não, a gente não estuda". "Há quanto tempo você está em Samambaia?" "Dois meses". "Morava onde?" "A gente fugiu
do Acre. A gente já morou em vários Estados". Eu perguntei: "Já morou em Samambaia em outro lugar?" Ela: "Sim,
Samambaia Sul". "E outro lugar em Brasília?" "Ceilândia". "E vocês não estudaram?" "Não, a minha mãe não permite.
A gente não pode estudar".
Então, chegando à Central de Vagas, passei um pouco do relato, fiz o pedido de acolhimento emergencial e, devido ao
relato dela, decidi voltar até a delegacia. Nesse momento, falei um pouco com o delegado das observações que fiz: ela
estava de camisola e sem calcinha. Não perguntei para ela o motivo, mas pedi para falar novamente com a mãe e perguntei
para ela, questionei o porquê de a criança estar sem calcinha. No susto que levou, a primeira atitude de uma criança ou de
um adolescente é de se prevenir dessa forma. Ela disse que a criança não usava calcinha. Eu perguntei: "Como assim?" Ela
disse: "Se usa alguma roupa apertada na parte da barriga, ela vomita". Eu perguntei: "Vomita?" Ela: "Sim". Eu perguntei:
"O menino usava cueca?" Ela: "Não, nenhum dos dois, nem calcinha nem cueca". Eu perguntei: "Eles se tocavam?" Ela
abaixou a cabeça e confirmou. Eu perguntei: "Tinha abuso? Se tocavam nas partes íntimas?" Ela: "Sim, a gente permitia
que eles se tocassem". Aí ela disse: "Mas não tinha problema, não. Ele era autista. Ele tinha a parte sexual muito aguçada
desde o início. Mas não tinha problema, não. Ele não tinha mais o pênis". Aí ela relatou o que o delegado já passou aqui.

Então, eu resolvi ir até a casa, porque a quadra em que eles moravam é bem conhecida. O Conselho tem bastante
atendimento ali naquela quadra. É uma quadra bastante vulnerável, abandonada, na verdade, pelo Estado. Decidi ir até a
casa, fiz um vídeo de quase 7 minutos, em que pude confirmar que realmente não havia cuecas nem calcinhas, não para
aquelas idades. Havia o abandono, a situação de escravidão e de maus-tratos. Inclusive não havia botijão de gás.
Conversei com alguns vizinhos, que confirmaram não conhecer o Rhuan. Disseram que tinham visto a menina uma vez
só levando o lixo, mas de forma bem escondida, e que a Rosana, às vezes, saía e pedia comida de porta em porta. Relatava
que tinha uma criança doente. Outro relato foi o de que um pastor estava atrás dela porque ela tinha pedido 400 reais para
uma criança que estava doente. Quando o pastor pediu para ir até a criança orar, ajudar de outra forma, ela não permitiu.
Mesmo assim, o pastor tinha dado dinheiro.
Eu decidi, então, voltar até a delegacia, porque encontrei um monte de cápsulas de remédios no quarto e também um tanto
de material de salão. Havia vários materiais de salão. Cheguei e relatei ao delegado. E nós tivemos o medo de a criança
ter sido dopada, e a situação do abuso. Então, nós pedimos um exame de IML. Ela fez exame toxicológico, que apontou
lesão corporal, de abuso — ato libidinoso, né? Fez os outros exames que foram necessários, até porque ela estava com o
pé muito rachado e sangrando — bem enrugado, rachado e sangrando.
Depois disso tudo, nós voltamos ao abrigo, pegamos a menina e levamos para fazer exame. Nesse trajeto do abrigo ao
IML, ela foi fazendo outros relatos do sofrimento da criança. Então, nós confirmamos a situação de maus-tratos. Ele
apanhava dela. E ela falou da cicatriz, que a mãe tinha feito a cicatriz. Era uma cicatriz na bochecha e outra na testa. E ela
disse que, há 2 semanas, ouviu a mãe dizer que ia se desfazer do menino, que ele ia sumir da vida delas. Entendeu?
Foi mais uma situação psicológica por que a menina passou. Aí entendemos a situação de agitação dela de se beliscar,
de se tocar, eu não sei, acho que para acordar, para ver que aquilo tinha acontecido. Quando eu disse para ela: "Olha, já
que você não tem parente no Distrito Federal, você está no abrigo provisório. Nós vamos ter que achar um parente seu".
Ela começou a chorar. Eu perguntei o porquê. Ela disse que tinha o pai, mas não queria ficar com o pai, que ela detestava
o pai. Eu perguntei: "Mas, e o desenho, quem é esse pai que está aqui, que você ama?" "É a minha tia Rosana." Foi o
que ela passou. Entraram em contato com o pai. No dia seguinte, o pai chega. Eu o levei até a delegacia e pedi para fazer
algumas buscas. Mas o sistema não ajudou. Aí decidimos levar o pai até a criança. Entrei em contato com o pessoal do
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abrigo, disse que estava com o pai — e o pai estava com a mãe dele, a avó da criança — e que precisávamos fazer esse
encontro, porque o pai tem a guarda e viria buscar a criança. O abrigo concordou, e, aí, já conversando com a criança, eles
me ligam durante esse trajeto e dizem: "A menina não quer o pai. Ela não quer. Ela fala que ele é presidiário e que ele
batia muito na mãe. Ela não quer de forma alguma". Eu disse: "Não, nós vamos chegar até aí e conversar com ela". Nós
ficamos conversando com ela por 2 horas. E até ela disse: "Não, eu vou ver ele, mas você vai ter que ficar junto". Então,
ela me colocou no meio, entre ela e o pai. Quando o pai adentra a sala, ela abaixa a cabeça. As 2 horas em que o pai ficou
falando com ela, entre uma hora e meia e 2 horas, ela não olhou para o pai. Aí, o pai teve a estratégia de mostrar a foto
dela no celular. Aí ela foi vendo aquela foto, ele mostrou um cavalo, algumas coisas, e ela foi lembrando. "Ah, então você
existia?" Foi isso que ela disse. Quando pedi para ela dar um abraço nele, ela não aceitou; pedi para tocar, ela não aceitou.
Eu fiz uma brincadeira com o "eme" da mão, foi aí que ela conseguiu dar duas ou três palavrinhas com ele. Aí — ele,
muito emocionado — pedimos para ele sair da sala e fomos conversar um pouco mais com ela, que precisava conversar
com pai, estar com o pai, que o pai ia levá-la. Ela não aceitou de forma alguma. Ela disse: "Se for para ver ele, eu quero
ver três vezes na semana só". Na hora nós respeitamos: "Tudo bem, não tem problema: três vezes na semana". Quando
saímos dessa sala, fomos para fora do abrigo, ela encontra a prima do pai e a avó. Ela corre e abraça a avó, beija e diz: "Eu
quero ir com você. Eu quero ir com você. Você veio me buscar?" "Vim. Vim buscar você. Você vai morar com a gente."
"Mas o pai vai estar junto?" "Vai." "Então, eu não quero. Então, eu não quero voltar com você".

Aí percebemos que não ia ser fácil. Voltamos para o pai e explicamos para ele a situação da alienação parental e que
não seria possível ele levar aquela menina, não naquele dia, naquele momento, que haveria todo um trabalho para ver a
situação do fortalecimento de vínculo ou trazer a infância dessa menina através vídeos, filmagens, fotos de casamento, a
mãe grávida, ela pequena no colo desse pai, mostrar o pai que ele foi nos 4 anos de vida dela. Ele concordou e marcamos,
a partir de segunda para haver as visitas, esses encontros, e ele trazer essas lembranças. Na segunda-feira não foi possível,
porque o delegado ia ouvir o pai e a menina estava tendo uma escuta especializada. Ele sofreu bastante, chorou, mas
conseguimos convencê-lo de que no dia seguinte isso iria acontecer.

Nós fizemos uma parceria com os Conselhos Tutelares de Sobradinho I e II. Gente, cuidar de criança e de adolescente
hoje está muito complicado! Temos que nos virar em mil para sensibilizar os órgãos, as entidades do que é necessário para
cuidar de criança e de adolescente. O Conselheiro Cesar, de Sobradinho I, nos deu apoio de 1 ou 2 dias. Nos dias seguintes,
foi a Conselheira Nice, de Sobradinho II. Gente, para conseguir sensibilizar, para achar um carro... Fábio, Coordenador da
COUNATA — Coordenação dos Núcleos de Apoio Técnico e Administrativo aos Conselhos Tutelares, não dormiu, assim
como eu. Nós passávamos a madrugada tentando contato com a administração, com o Governo, com a Secretaria para
liberar motorista, para destravar carro, para pôr gasolina no carro, porque a prima do pai mora no Lago Oeste e a menina
estava num abrigo em Taguatinga. E com as nossas demandas do dia a dia, disponibilizar um carro para esse atendimento,
acabamos cometendo outro crime, outra violação de direito contra a criança e o adolescente, porque as nossas demandas
em Samambaia estão de 30 a 40 dias. Estupros de criança está em primeiro lugar.
Tem que haver essa parceria entre cidades e entre conselheiros. Com muita sensibilização, isso aconteceu. Houve dias em
que conseguimos trazer o pai ao meio-dia. Então ele perdia o café da manhã e o encontro da manhã com essa criança.
Mas o trabalho foi bem intenso. Foram 12 dias de visitas, tanto no local, ficando o dia todo, quanto no externo. Chegando
ao abrigo, a criança virou para mim e disse: "Conselheira, eu quero morar com o meu pai no Acre. Quero morar com
o meu pai no Acre". Mas, antes desse pedido de morar, nós fomos à Promotoria e procuramos a Dra. Leslie para dizer
que o pai teria condições de levar a criança. A imprensa estava cobrando por que esse pai estava no Distrito Federal e
não ia embora com essa criança, não levava
Nós fomos à Promotoria, conversamos com a defensora, passamos tudo que tinha acontecido e o porquê de essa criança
estar no abrigo. Ela disse: "Não, vocês fizeram certo, respeitaram o direito da criança. Se essa criança viajasse sem esse
trabalho de fortalecimento de vínculo seria outro trauma, poderiam acontecer outros crimes. Essa menina poderia se
automutilar, numa viagem longa para o Acre, tentar fugir, se jogar do ônibus ou qualquer coisa dessas ou falar algo
contra o pai. Então, vocês estão corretos. Nós vamos permitir que a criança fique e pedir um recambiamento, porque,
da forma como está, essa criança não vai voltar com o pai".
Com esses 12 dias de trabalho... Nós também passamos para a Justiça a situação da guarda provisória do pai. A Justiça foi
muito sensível à situação e, juntamente com a Justiça do Acre, agilizou a situação da guarda definitiva. Quando a criança
disse que queria voltar com o pai, isso sensibilizou a Secretaria e o Governo e nós conseguimos a passagem de avião para
as três pessoas: o pai, a criança e a avó. No sábado, dia 15, os três viajaram para o seu Estado de origem.
Nós fizemos um trabalho maravilhoso. Antes dessa viagem, entramos em contato com o Conselho Tutelar do Acre, que
visitou a casa onde essa criança iria ficar, conheceu a madrasta e passou toda a situação. Estivemos também em contato
com Otília, da área psicossocial do Acre, e passamos para ela que essa menina teria um atendimento constante e imediato.
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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

Então, eles foram de forma bem calçados em relação ao atendimento que tinham que ter chegando ao Acre. Até hoje eu
tenho contato com a família, com a criança, converso. Ela está bem. A vaga de escola já está garantida, o acompanhamento
psicológico, o Conselho Tutelar, à disposição.
Eu só quero fazer mais um apelo a vocês de que o olhar para a infância tem que ser desde a gestação, tem que ser o quanto
antes. Esse trabalho em rede tem que existir. Nós ficamos, eu particularmente fiquei sem computador desde novembro do
ano passado. Só há 10 dias, com a chegada da nova Chefe do Administrativo, Sra. Dayse, foi que conseguiu trazer meu
computador de volta. A maioria dos nossos casos é sigilosa. Meu trabalho de novembro a maio está espalhado por outros
computadores. Nós trabalhamos de forma muito precária. Há dias em que nós não temos caneta, não temos impressora
funcionando. Não temos o básico. O olhar tem que ser 100% e desde a infância.
Hoje, em Samambaia, nós temos famílias atendidas pelo Conselho Tutelar, que não tem água potável para beber. Eu tive
que fazer uma vaquinha num grupo de mães de Águas Claras para pedir água potável, roupa e dinheiro para pagar uma
conta da CAESB que chega a quase 10 mil reais. Tentamos sensibilizar a cidade de Samambaia, mas não foi possível dado
o tanto de casos que nós temos. Os casos em relação à violência contra criança e adolescente são diários, principalmente
abuso e estupro.
É preciso um olhar. É preciso um olhar da Polícia Federal. Eu até pontuei que todos nós erramos, mas muito mais quem
está na estrada para proteger, porque essas mulheres passaram por quatro Estados, segundo elas, de ônibus. É preciso um
olhar nessas estradas. Quem é responsável por isso tem que ter esse olhar minucioso. Essas mulheres viajaram em ônibus
interestadual. Tem que haver esse olhar, tem que haver esse cuidado.
Nós precisamos olhar realmente, porque a proteção integral da criança e do adolescente não está acontecendo.
Bom dia.
O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Muito obrigado, Cláudia, pelo seu tempo, pelo seu testemunho nesta
Casa.
Passo a palavra à Sra. Alinne Duarte de Andrade Santana, Coordenadora-Geral de Fortalecimento de Garantias de Direitos
da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos, que também acompanhou o caso, acompanhou a família, para contribuir com o seu testemunho.
Logo em seguida passarei a palavra aos Deputados que estão inscritos. Aqueles que quiserem se inscrever basta sinalizar
com a mão.
A SRA. ALINNE DUARTE DE ANDRADE SANTANA - Bom dia, senhores e senhoras, é uma honra para nós
representar aqui a Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério da Mulher, da Família e
dos Direitos Humanos.
Parabéns ao Deputado Filipe Barros pela iniciativa, a esta Comissão, a todos os senhores e senhoras que tão atentamente
— e assustadoramente os rostos revelam — ouvem a barbárie que nós estamos ouvindo e que Cláudia assistiu. O delegado
esteve de perto. Mas, infelizmente, não se encerra neste caso.
Nós trabalhamos na pauta há cerca de 20 anos com criança e adolescente. Faço minhas as palavras do Dr. Guilherme,
quando ele diz que a vida nos faz aprender a infelizmente lidar com essas situações adversas, terríveis, mas com uma
resiliência um tanto quanto maior por conta de tantas dores que já vimos.

Quero pedir licença a vocês para ficar em pé, porque eu quero mostrar... Vou fazer... Muito do que quero relatar, do que
quero falar, inclusive como articulação com o Ministério dos Direitos Humanos, o que nós estamos fazendo, de que forma
nós Secretaria da Criança estamos atuando junto com os conselhos e com os órgãos competentes, muito do que eu quero
mostrar, vou passar bem sucintamente, foi falado pelos meus antecedentes. Mas eu quero mostrar para vocês.
Eu vou passar um relato de caso, então vou me levantar da mesa.
(Segue-se exibição de imagens.)
Prometo ser breve, só para sintetizarmos o caso Rhuan.
Na sexta-feira que antecedeu o crime... Na verdade, o crime aconteceu exatamente na sexta-feira, não é, Cláudia? Nós
estamos com uma agenda na Secretaria, pois nós estamos mapeando o País inteiro e queremos começar isso a partir do
DF e Entorno, para saber quais são as principais violações enfrentadas por crianças e adolescentes no nosso País. Nós
estávamos agendados na sexta-feira de manhã para visitar os Conselhos. Faz parte dessa ação a visita a todos os Conselhos,
porque queremos quer ver quais são as dificuldades, quais são os entraves, o que precisamos.

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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

E vamos precisar dos senhores e senhoras, porque trabalhamos com a equipagem do Conselho Tutelar, e isso se dá por
recurso de União ou por emenda parlamentar.
Quando ouvimos o discurso da Cláudia, entendemos a importância que tem o bom funcionamento de um Conselho Tutelar.
O trabalho desse Conselho fez toda a diferença, porque o delegado abre as portas, mas eles precisavam dar continuidade.
Concorda, Dr. Guilherme? E eu quero parabenizar a atuação desse e de todos os Conselhos, porque são pessoas que, às
vezes, ficam invisíveis aos nossos olhos. Às vezes, não temos noção do que um conselheiro tutelar está vivendo lá na ponta.
Eu estava com agenda marcada para Samambaia, que é o segundo Conselho, representante de Conselho, onde acontece...
É a cidade que mais índice de violação tem. Eu ia fazer uma visita a Samambaia na sexta-feira. Por conta da nossa agenda,
cai a minha agenda com Samambaia na sexta. Ligo para o Conselho e digo: "Eu não vou ter condição de fazer a visita".
Estavam previstas mais três visitas a três Conselhos no DF. Eu disse: "Por favor, reagendem aí para segunda-feira de
manhã. Minha prioridade é estar em Samambaia".
Para nossa infelicidade, na segunda-feira, eu estava no Conselho de Samambaia para acompanhar o caso Rhuan, e encontrei
Conselheiros guerreiros. Encontrei Cláudia, que já estava sexta, sábado e domingo envolvida com esse caso, um tanto
quanto assim já fora... Eu não sei se era ela, porque o corpo... Não sei como ela estava ali em pé. Eu sou psicóloga de
formação, sou neuropsicóloga. Eu chamei os coordenadores e disse: "Esperem aí! A gente vai atender e eu vou ouvir o caso
e a gente vai ver tudo que precisamos". E a Ministra pediu imediatamente o cancelamento da agenda também e foi comigo.
Nós estivemos juntas. Nós estamos acompanhando alguns casos. A Ministra Damares é extremamente implicada. E não
preciso dizer isso, vocês a conhecem muito bem. Mas, nesse caso, ela nos liga e diz: “Cancelem minha agenda. Eu vou
com você". E ela esteve lá junto conosco para ouvir os conselheiros, infelizmente, com essa agenda que não queríamos,
porque a intenção da agenda... Cláudia diz assim: "A gente precisa pensar em promoção. Essa é a nossa perspectiva".
Que não tenhamos mais audiências públicas para falar de uma morte tão trágica, de uma barbárie sem precedentes. Nós
somos pais, nós somos mães, nós somos tios e avós. Isso nos toca de alguma forma.

Então, minha primeira providência era chegar ao Conselho para dizer o que o Ministério pode fazer para fortalecer, porque
essa é a nossa prioridade, para fortalecer, repito, para promover ações de combate, de enfrentamento, de promoção à saúde,
à proteção da criança e do adolescente. E tivemos que chegar para o enfrentamento desse embate.
Encontrei Cláudia e solicitei aos coordenadores da Coordenação de Denúncias de Violação dos Direitos da Criança e do
Adolescente — CISDECA e da Coordenação dos Núcleos de Apoio Técnico e Administrativo aos Conselhos Tutelares
— COUNATA: "Por favor, eu preciso que vocês cuidem da conselheira agora. Ela está há três dias... Ela viu este corpo,
ela adentrou esta casa". Ela é uma mãe, ela é uma mulher, ela é um ser humano. Eu preciso cuidar agora de quem está
cuidando. Ela vai terminar o depoimento com o Dr. Guilherme, mas eu preciso que ela seja um pouco afastada para ser
cuidada também, porque ela não pode adoecer.
Os casos não param, gente, infelizmente. As situações não se encerram, as violências continuam acontecendo. E a gente
senta...
Eu queria começar só com esta imagem, porque ouvimos um relato tão duro, tão difícil. Mas eu queria começar com esta
imagem para dizer assim: uma vida foi salva. Que bom que Luena não foi a segunda vítima! Porque, como bem disse Dr.
Guilherme, Luena também estava no radar. Não nos enganemos, Luena seria a próxima vítima.
Quando encontrei essa criança, ela estava no que chamamos de estresse pós-traumático. Ela está na euforia: ela fala, fala,
fala muito, e ela fala com uma maturidade que não é peculiar da idade. Ela é uma criança “adultizada” precocemente, com
um discurso “adultizado”. Por isso Cláudia se espanta e diz: “Eu não tenho nem condições de ouvir!” Porque o discurso
é muito “adultizado” e assustador.
Mas eu quero começar com esta imagem de esperança, porque não temos mais Rhuan. Por quem clamar? O que fazer?
Mas nós temos Luenas por aí. As vítimas continuam sendo vítimas. E esta é uma imagem de uma nova perspectiva, de
uma nova esperança, de possibilidade de que essa vida tenha a dignidade de continuar vivendo, de viver, na verdade, a
plenitude da infância que ela merece e que está prevista na nossa Constituição como direito prioritário.
Não vou me deter muito nisto, só vou fazer o relato. Vou trazer um panorama geral: 1h30min, jovens veem mulher deixar
mala em bueiro. E vocês já ouviram um relato do Dr. Guilherme. É acionada toda uma rede: Polícia Militar Polícia Civil,
Bombeiros, a ordem... Não sei se está na ordem exata, Dr. Guilherme. Se não estiver, perdoe-me. Bombeiros, CISDECA.
E a CISDECA chama o Conselho Tutelar. E com o Conselho Tutelar acionado, como Cláudia bem disse, a criança é
encaminhada para um abrigo.

Gente, é muito difícil, não é o comum termos um trabalho de vínculo parental tão bem feito. Não é o comum. Quando
vocês ouvem esse relato da Conselheira de aproximação sucessiva desse pai com essa filha... Essa criança, a princípio,
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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

não queria tocar a mão desse pai. Ela rejeitava, porque a alienação parental não aconteceu em alguns meses, a alienação
parental aconteceu ao longo de mais de 5 anos. Essa menina tinha uma imagem deturpada do pai. O pai é um servidor, o
pai é um homem manso — não é, Cláudia? —, uma pessoa adocicada, amável.
E quero parabenizar o conselho, porque faz um trabalho fantástico nessa vinculação de pai e filho, e em 12 dias, porque,
para uma criança isso é recorde. Em psicoterapia, isto é recorde: uma criança, em 12 dias, desenvolver um vínculo
parental para, quando encontra pai e filha, abraçar... Eu recebi um vídeo, falamos com eles diariamente e o Ministério
tem acompanhado o caso muito de perto. Ontem ele me mandou um vídeo dela brincando com a barriga dele, beijando,
abraçando. Eu disse: "Gente, que coisa linda, a gente ver essa possibilidade acontecer!"
Eu quero chamar a atenção para isto aqui, que chamo de uma rota invisível. Vou endossar algumas falas anteriores para
fazer um questionamento: onde nós estamos? Por que a nossa rede não está funcionando com diálogo? E aqui quero fazer
um convite para todos nós, desde o lugar de cidadão: todos nós somos responsáveis por crianças e adolescentes. Não
é problema do pai quando vejo um direito da criança ser violado. É problema meu, porque estou sendo tão negligente
quanto, se vejo aquilo e me omito e viro as costas.
O percurso não foi pequeno. Elas passam por Maceió. Luena relata, Luena lê, Luena escreve. Eu me questiono quem
ensinou essa menina a ler e a escrever. Ela esteve numa escola. Quando vamos para o cadastro, não existe registro no
Cadastro Nacional, no MEC. Não existe registro de matrícula em lugar nenhum dessa criança. Eles não deixavam rastros,
mas ela disse que estudou numa escolinha, que só se lembra que tinha o nome por "José". E ali ela esteve, mas não podia
nem gravar.
Maceió, Aracaju, Anápolis, Goiânia, Palmas e encerra em Brasília. Essas crianças entraram em ônibus interestaduais.
Essas crianças... A nossa rede precisa, Deputado, se comunicar, porque já havia no Acre — confirme para mim, doutor, se
eu estiver equivocada — um registro de sequestro de duas crianças. A nossa rede precisa se conectar. Nós precisávamos,
através da Polícia Rodoviária Federal, saber, ter interlocução, porque, se funcionássemos, teríamos evitado a morte
de Rhuan. Talvez conseguíssemos. Mas não temos esses registros. Não temos essa comunicação. Não fazemos essa
intersetorialidade entre os órgãos.
Aqui fica um pedido e uma reflexão. Senhores que aqui estão com as leis e que podem fazê-las: precisamos repensar. É
preciso repensar: Saúde precisa conversar com Educação; Educação precisa conversar com Cidadania; Cidadania precisa
conversar com Polícia Rodoviária Federal. Os órgãos precisam conversar, para não termos mais casos como o de Rhuan.

Quando a rede funciona — tão logo soubemos, e soubemos porque íamos fazer a prevenção e infelizmente entramos no
enfrentamento —, entramos com o apoio que podemos dar na condição de Ministério. A Ministra pediu prioridade, como
tem pedido prioridade para muita coisa. Tudo é prioridade. E ela não admite que esses casos não sejam acompanhados
bem de perto. Desde então, nós estamos quase diariamente — não é, Cláudia? —, acompanhando esse caso.
Com relação à Luena, esta foi a foto, com o ar de que uma parte do dever foi cumprida. O que nos coube, o que pudemos
fazer na condição de Ministério — Conselho, fortalecimento, rede, Polícia Civil — aconteceu. Há a consciência de que
nós cumprimos com o nosso dever, todos, cada um ao seu tempo cumpriu com o seu dever.
Essa criança foi recepcionada no Acre, quando estávamos aqui ainda com a família, acompanhando e a entregando ao pai
e à avó. Eu tinha uma pessoa no Acre, um representante do Fórum Colegiado Nacional. Eu já estava com essa pessoa lá
no aeroporto aguardando essa família, porque, como a Cláudia citou, essa criança não podia chegar lá à toa, sem alguém
para direcionar.
O caso não se encerra aqui. Aqui, temos um novo começo, porque essa menina precisa ressignificar a vida dela. Pensem
os senhores: essa menina precisa agora construir uma nova história, mas existem muitas marcas, existem muitas dores. E
a minha sugestão — eu já entrei em contato com a rede do Acre, que vai estar pronta, já está preparada, e não vai fazer
um trabalho só com Luena. Ela precisa fazer um trabalho sistêmico. Ela vai fazer um trabalho para ajudar o Sr. Rodrigo,
que é o pai de Luena, ela vai fazer um trabalho com a Sra. Damiana, que é a nova madrasta de Luena.
Damiana, por anos, tentou engravidar e não conseguiu. Eu não consegui expor aqui a foto. Quando Luena chega ao Acre,
havia uma festa preparada para ela, talvez a primeira festa dela de verdade nesses 8 anos de vida. E essa madrasta a recebe
como se Luena tivesse nascido dela, e percebemos um carinho e um desejo e um cuidado que eu acho que até Luena está
impressionada, desacostumada.
Nós temos lá o Fórum Nacional do Conselho, que está acionado e está acompanhando o caso. Luena já está sim com a
matrícula. Como ela chega agora para o segundo semestre, vai começar a estudar a partir do recesso de julho. Nós pedimos
que fosse feita uma análise diagnóstica, porque não sabemos exatamente em que série essa menina pode ser matriculada.
Então, a escola está preparando um diagnóstico para ver em que nível essa menina está e adequá-la ao mais próximo
possível da idade/série. Luena está com a matrícula garantida. Está garantido o apoio psicológico dela e dessa família.
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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

Eu solicitei também uma avaliação de um pediatra, porque eu não sei quando essa criança passou por um pediatra. Toda
a rede está acionada.
Estamos acompanhando e continuaremos acompanhando o caso. E isso não tem prazo de validade, enquanto nós
estivermos. Somos transparentes e nos colocamos à disposição para qualquer um dos senhores e das senhoras nos
procurarem em qualquer situação lá na frente para lhes dizermos em que pé está. Nós estamos e vamos continuar
acompanhando.

Então, pelo menos os direitos principais dessa criança estão garantidos hoje. Nós podemos assegurar que essa criança está
com os direitos legais previstos assegurados. Hoje ela é criança e tem uma família. Ela está saindo para uma viagem de
barco para passar uns dias na cada da família da mãe do pai dela. Ela precisa ser criança e viver essa criança.
Quero concluir dizendo aos senhores e às senhoras que Luena manda um recado, e manda um recado para Alinne, manda
um recado para o Ministério, manda um recado para as senhoras e os senhores Deputados e manda um recado para a
Nação brasileira. Que esse pedido de Luena seja reverberado por onde quer que nós estejamos, que isso não fique aqui,
que nós não encerremos nesta Comissão, Deputado. Que esse clamor seja, de fato, atendido.
Eu quero encerrar com estes pedidos dela.
(Pausa prolongada.)
A SRA. ALINNE DUARTE DE ANDRADE SANTANA - Vocês vão assistir a este vídeo muito importante. Lucas vai
verificar com os técnicos, porque o som não saiu, infelizmente. A tecnologia, às vezes, falha conosco. Iríamos encerramos
com este vídeo.
Muito obrigada pela oportunidade.
Estou à disposição.
(Pausa prolongada.)
O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Obrigado, Sra. Alinne.
Lucas vai tentar solucionar com a equipe técnica. Vai dar certo.
Vou conceder a palavra aos Deputados inscritos e, assim que for solucionado o problema, nós passaremos o vídeo.
Desde logo, quero agradecer à Alinne e a todo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos o trabalho de
acompanhar esse caso, que choca todo dia todos nós.
A Deputada Aline é a primeira inscrita, mas não se encontra.
Passo a palavra para o segundo inscrito, Deputado Carlos Jordy.
O SR. CARLOS JORDY (PSL - RJ) - Bom dia a todos.

Quero saudar a Mesa e cumprimentar a Conselheira Tutelar, Cláudia Regina, o Delegado da Polícia Civil, Guilherme
Sousa, a Coordenadora-Geral de Fortalecimento de Garantias de Direitos da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança
e do Adolescente, Sra. Alinne Duarte, e meu amigo Deputado Filipe Barros, pela iniciativa e por agir de uma forma muito
profícua para fazer com que os direitos humanos realmente sejam respeitados no Brasil. V.Exa., Deputado, tem feito um
ótimo trabalho.
Eu acredito que nesse momento, em que o caso Rhuan tem sido tão deixado de lado pela mídia, não teve a repercussão que
deveria ter, iniciativas como essas são muito importantes. Nós temos o dever, como Parlamentares e homens públicos, de
fazer com que esse caso tenha a devida atenção para que casos como esse não ocorram mais. Eu fiquei realmente muito
chocado. Isso é um filme de terror. O que esse menino viveu é o pior filme de terror ao qual se poderia alguma vez assistir
na vida. Eu tinha noção do tamanho da gravidade do caso, mas não sabia de tantos detalhes bárbaros que uma mãe fez
com o próprio filho.
Diz o ditado: "Mãe é o nome de Deus nos lábios e corações das crianças pequenas". Esse garoto não teve o amor materno.
Isso é muito triste! Isso é muito triste! Todos nós aqui, que tivemos uma família, tivemos o amor de mãe e sabemos o
quanto isso é importante para a formação do nosso caráter, para a nossa formação. Pai e mãe são muito importantes, mas
acredito que, enquanto criança, o amor materno é a melhor coisa do mundo. Lembro-me da minha infância com minha
mãe, de todo o amor que ela me dedicou. Hoje, aos 37 anos, eu ainda o tenho da mesma forma.
Na explanação do delegado, ele disse, provavelmente porque estava no depoimento da mãe, que o garoto consentiu que
arrancassem seus testículos e seu pênis. Se isso for verdade, é uma demonstração de que ele queria o amor materno. Ele
só queria agradar a sua mãe. Ele queria fazer com que sua mãe o aceitasse. Isso é muito triste. Isso é algo abominável.
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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

Feitos todos esses comentários a respeito do caso, eu gostaria de fazer alguns questionamentos, porque muitas inverdades
têm sido ditas, muitas questões têm sido distorcidas.
Também gostaria de parabenizá-lo por estar se debruçando de forma tão detalhada sobre esse caso. Eu acredito que essa
é uma missão de Deus que você tem na sua vida, para que isso sirva de exemplo para o futuro. Eu sei que o delegado,
diferentemente do juiz, não faz um juízo de valor sobre o crime, sobre os fatos que chegam a ele. Ele colhe as provas, faz
a investigação, para, posteriormente, levá-las para que o juiz faça o juízo de valor. Mas, obviamente, não há como separar
o seu trabalho da sua percepção do caso. O que você enxerga a partir de todos esses fatos que chegaram a você?
Você citou aqui que esse menino era fantasiado de menina, vestido como uma menina, que ele teve os testículos e pênis
cortados. Disse que a menina foi forçada a acreditar que ele mereceu aquilo, que o comportamento masculino ou a figura
masculina era algo odiável. É evidente que esse é um caso de misandria por parte dessas mulheres, de ódio a homem.

A percepção que temos, nós Parlamentares que aqui estamos, é que isso é um crime que envolve a questão de gênero, é
um crime que envolve a ideologia de gêneros. Talvez por isso não esteja sendo noticiado pela grande mídia.
Eu gostaria de saber se o senhor tem essa percepção também.
Algumas pessoas têm falado que esse crime foi cometido por motivação religiosa. E você também disse aqui que ela
realmente tinha uma formação religiosa. Chegaram informações de que as duas tentaram criar ou fundar uma igreja no
Acre, uma igreja LGBT. Não vem ao caso a opção ou a orientação sexual delas ou o caso de tentar fundar a igreja, mas
eu gostaria de saber se realmente há um cunho religioso nesse crime.
Basicamente, acredito que sejam estes os questionamentos: se há uma questão de gênero nesse caso, se ele realmente
envolveu a ideologia de gênero, se houve cunho religioso.
Quero dizer para você, diante de todos os seus comentários, do seu depoimento, que eu fiquei realmente muito emocionado.
Percebo nas suas palavras que você ficou emocionado com esse caso. Eu acho que é o caso mais bárbaro que já vi na
minha vida. Com 37 anos, eu já vi casos muito bárbaros, já os acompanhei. Por isso, muitas vezes levanto questões para
que nós possamos fazer uma reforma penal no Brasil. Houve o caso, por exemplo, do Champinha, mas eu acho que esse é
o pior de todos. Ninguém ou nenhuma criança merece sofrer dessa forma, uma violência extrema por parte da própria mãe.
Se você realmente acredita em Deus como você disse, ou que acha que chegou ali para um propósito divino, eu tenho
certeza de que é para que esse caso seja solucionado e para que nós não tenhamos mais casos como o de Rhuan acontecendo
no Brasil. Eu sei desse fato que ocorreu, mas quantos ocorrem e nós não ficamos sabendo?
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Obrigado, Deputado Carlos Jordy.
Eu proponho como metodologia da Comissão nós ouvirmos três Deputados, um bloco de três Deputados, e depois nós
passamos a palavra para quem quiser responder.
Antes de passar a palavra para o próximo Deputado, vamos reproduzir o vídeo, que está pronto.
A SRA. ALINNE DUARTE DE ANDRADE SANTANA - Vamos ouvir essa solicitação de Luena.
(Exibição de vídeo.)

A SRA. ALINNE DUARTE DE ANDRADE SANTANA - Que isso nos sensibilize e nos toque. Vemos o quanto a
inocência, o quanto a infância é algo nobre, é algo puro. Não podemos mais trazer Rhuan, mas vamos proteger as Luenas.
Vamos proteger não só meninas, mas também meninos, pois meninos são vítimas também. Vamos cuidar melhor, com
mais maestria dos nossos meninos e das nossas meninas, das nossas crianças e dos nossos adolescentes.
Obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Obrigado, Alinne.
Passo a palavra ao Deputado Júnior Bozzella.
O SR. JÚNIOR BOZZELLA (PSL - SP) - Sr. Presidente, quero fazer uma saudação e cumprimentar o Dr. Guilherme
Sousa, o delegado do caso, cumprimentar a Sra. Cláudia Regina Carvalho e a Sra. Alinne.
Quero dizer a V.Exa., Deputado Filipe Barros, que a sua atitude é nobre. E longe de mim querer politizar o caso, partidarizar
o caso, tripudiar em cima do caso, mas nós estamos numa Casa de Leis, numa Casa política, e é importante trazer à luz do
dia os fatos e iluminar a verdade. V.Exa. fez um trabalho hercúleo, um trabalho de responsabilidade para trazer um caso
que, sinceramente, como disse o Deputado que me antecedeu, o amigo Carlos Jordy, eu nunca tinha visto nada similar no
Brasil. Aliás, eu nunca vi algo similar em qualquer lugar do mundo. E isso nos faz refletir.
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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

Eu não sei quantos Deputados estão presentes aqui, quais são as siglas partidárias, isso pouco me importa, mas eu acho
que esse caso transcende as barreiras políticas e partidárias e faz com que a reflexão venha à tona, para que nós possamos
entender por que a nossa sociedade está tão tomada de distorções. Está tudo do avesso, está tudo ao contrário do que
realmente deveria ser a norma.
Nós Brasil há números graves de assassinatos e homicídios. De 2006 a 2016, por exemplo, aumentou a taxa de homicídios
por armas de fogo em 15%, proporcionalmente igual ao número de homicídios no País. Então, no País mata-se muito. No
País não há uma responsabilidade social. E nós procuramos entender por que acontecem muitos desses crimes.
Eu acho que buscar um entendimento é dever nosso, como Parlamentares, porque a vida do menino Rhuan infelizmente não
poderá ser retomada, porém a memória do fato ocorrido com o menino Rhuan não pode jamais ser apagada. Ele deve, sim,
ser um símbolo, a partir de agora, um divisor de águas, de transformação daquilo que nós, dentro deste Parlamento, iremos
travar de debates, de agora em diante, para não mais permitirmos que casos como esse aconteçam. Não é nossa função
aqui nos omitirmos. Nós precisamos agir de forma realmente contundente e severa para que as penas dessas criminosas
— eu não gosto nem de citar o nome dessas duas bandidas — sejam agravadas.
Eu nem preciso da resposta à pergunta que o Deputado Carlos Jordy fez ao doutor. Isso para mim é um crime de homofobia
ao contrário. Isso para mim é, sim, um crime de ideologia de gênero.
(Intervenção fora do microfone.)

O SR. JÚNIOR BOZZELLA (PSL - SP) - Isso, trata-se de heterofobia. Isso tem que ser levado em consideração.
Ao longo da minha trajetória de vida, enquanto homem público, como Vereador, sempre apadrinhei creches. Eu sempre
soube, na formação da criança e do jovem adolescente, da importância da participação do pai, da sociedade e das políticas
públicas, que falharam sobremaneira neste País ao longo dos últimos anos.
Nós temos altos índices de homicídio e uma segurança pública ineficiente, falha. Nós temos um sistema educacional
extremamente falho e combalido neste País.
Então, há de se entender por que o conceito da sociedade está sendo modificado e por que tantos tipos de crimes acabam
acontecendo.
Esse é um crime que foge dos crimes comuns, dos crimes a que temos nos acostumado a assistir. É um crime que, para
mim, passa a ser uma novidade, é o novo contexto dentro de uma sociedade. A pessoa mutilar, cortar o pênis de uma
criança de 9 anos porque não aceita que ele seja homem, porque quer que ele seja mulher, isso é uma imposição.
E a mídia, mais uma vez, de forma irresponsável, cala-se e não martela em cima desse assunto. Não digo que ela deveria
fazer pirotecnia e usar a morte do jovem Rhuan, do menino que sofreu ao longo desses 2 anos, porque não conseguia
urinar. Isso é crime de tortura. A mídia tem que destacar, sim, esse crime. Como não destacar?
Se não é o trabalho de V.Exa., Deputado, eu tenho aqui que parabenizá-lo mais uma vez, nós teríamos mais um caso
grave esquecido. Para mim, esse é um episódio inédito, como eu disse aqui no início da minha fala. Não podemos deixar
isso jamais ser esquecido. E precisamos chamar a atenção dos Ministros da Suprema Corte deste País, que recentemente
aprovaram o crime, Deputada Bia Kicis, de homofobia.
Precisamos entender o que está acontecendo com o conceito. Ninguém nasce para ser bandido neste País ou numa
sociedade. Há uma série de impactos negativos dentro da sociedade que transformam as pessoas.
Eu acho que a mãe do Fernandinho Beira-Mar não disse isto a ele quando o colocou no mundo: "Quero que você seja
Fernandinho Beira-Mar. Quero que seja um traficante, um bandido". Dentro de uma sociedade, há questões falhas, muito
provavelmente políticas públicas. A deformação de caráter ao longo dos anos, a influência negativa de um pai, de uma
mãe ou do meio em que vivemos fazem com que as pessoas cheguem a estágios muito bárbaros de criminalidade.
Doutor, para finalizar, eu ratifico o que disse aqui. Não tenho dúvida nenhuma de que há um novo modelo de
crime acontecendo dentro de um conceito social que pode, sim, se estender. É por isso que precisamos bater forte,
independentemente da repercussão e da omissão por parte da mídia, dos jornais e dos grandes veículos de comunicação.
Mas podemos chamar também a turma da lacração, a Daniela Mercury, o Wagner Moura, o Bruno Gagliasso, esse pessoal
que gosta de tuitar e de mexer no Instagram, para fazer um debate mais aprofundado para que nenhum novo tipo de
conceito criminal venha a se estabelecer na nova ordem social que se estabeleceu neste País nos últimos anos dos governos
de esquerda.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Obrigado, Deputado Júnior Bozzella.
Passo a palavra à Deputada Dra. Soraya Manato.
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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

Logo em seguida, passarei a palavra à nossa Mesa para que possam responder às perguntas.
A SRA. DRA. SORAYA MANATO (PSL - ES) - Bom dia a todos.
Eu cumprimento a Mesa e agradeço a presença de vocês aqui nesta Casa de Leis.
Eu sempre digo uma coisa: às vezes, dá vontade de colocar um nariz de palhaço e vir para cá. Digo isso porque a nossa
Constituição é extensa, as leis existem para serem cumpridas, mas parece que isso virou uma coisa só de papel.

Eu vejo o caso dessas duas crianças que, durante 4 anos, foram sequestradas. Eu tenho certeza de que tanto a família da
menina quanto a do menino deram parte. Por que isso não chegou às vias de fato? Por que houve um descaso? Isso é um
descaso! Isso é uma responsabilidade da Nação. Essa criança chegou ao epílogo, foi morta. Não se trata do fato de as
mulheres serem homossexuais ou heterossexuais. Isso não vem ao caso. O que vem ao caso é o descaso.
O pai da menina é amoroso e tem uma família estruturada. Eu tenho certeza de que ele correu atrás. Por que ninguém
tomou conta? Se você pegar uma criança num Estado e viajar de ônibus para outro, é exigida a autorização do pai ou
da mãe ou do responsável. Se viajar de avião, também exigem a autorização. Nós, que viajamos muito, observamos nos
aeroportos que famílias voltam para casa porque as crianças não têm autorização. Existe essa lei. Eu vou fazer outra lei?
É lei em cima de lei, e ninguém cumpre.
Infelizmente esse erro aconteceu, e o Estado é o responsável por essa morte. Infelizmente isso é verdade. Então, para que
criarmos leis? Criamos a Lei Maria da Penha e a melhoramos, mas mulheres continuam sendo mortas. Criamos leis para
proteger as crianças, mas crianças são estupradas, maltratadas.
Então, vamos botar o nariz de palhaço, vir para o Congresso e continuar fazendo lei. "Isso daí é um protagonismo meu. Eu
fiz uma lei que foi aprovada". E, aí, ela vai ser aprovada na prática? Isso não depende só do Deputado Federal, depende
do conjunto, depende da polícia, depende da Justiça, que é morosa, que demora anos para julgar um caso e não chega à
conclusão porcaria alguma! Mas, quando se trata de pessoa rica, de um milionário, dá-se visibilidade nacional e rapidinho
tudo se resolve. E quanto aos outros, os pobres, os que estão nos rincões do nosso País? O que temos de fazer? Mais leis?
Que diacho é isso? Fazemos, fazemos e não se resolve.
Eu acho que a nossa Nação é a culpada pela morte desse menino. Cadê a Justiça? Eles têm que vir aqui e nos dizer por que
o caso não foi investigado até o fim, por que não procuraram essas crianças. Como essas mulheres rodaram vários Estados
e nada aconteceu? Pegaram ônibus com duas crianças e não foi exigido nada? Como isso pôde acontecer? E vamos fazer
mais uma lei para quê, se as que já existem não são cumpridas? Há muitas leis no Brasil que não são cumpridas. Isso
nos revolta.
Se tivesse sido morta uma mulher homossexual — eu não tenho nada contra homo ou hétero, eu defendo todos que são
humanos —, todo mundo subiria à tribuna. Eu estive lá. Se você procurar, vai ver que eu subi lá e disse: "Por que não
subiram aqui para defender o Rhuan? Por que a imprensa não defendeu o Rhuan?" Por ser um menino pobre, ele não foi
defendido. Ninguém subiu! Alguns gatos-pingados subiram lá para falar do Rhuan. Puxem lá! Acho que três Deputados,
incluindo-me, falaram sobre o caso do Rhuan, só. Sobre o caso Marielle, de 10 em 10 minutos sobem lá: "Quem matou
Marielle?"; "Quem matou Marielle?" É Marielle para lá, é Marielle para cá. No meu discurso, eu falei sobre a Marielle,
sobre o pastor que foi assassinado recentemente, sobre o Rhuan, porque todos devem ser valorizados. E não é porque
são homossexuais, heterossexuais, bissexuais, mas porque todos são seres humanos. E nós estamos aqui para defender as
pessoas, independentemente da opção sexual. Para nós, essa diferença não existe. O caso do Rhuan não tem nada a ver
com isso. Se elas são doentes ou não são doentes, não vêm ao caso. Existe heterossexual doente e existe homossexual
doente, isso daí existe.

Então, eu quero chamar a atenção para isso, eu quero chamar a atenção para a irresponsabilidade dos órgãos, que deveriam
ter cuidado para que não se chegasse a um final como esse. Que tenhamos o caso do Rhuan como bandeira para que outras
coisas não aconteçam. Esse caso foi descoberto, mas quantos Rhuans existem neste País e nós não sabemos? Acho que
nem vamos saber.
Portanto, deixo aqui o meu protesto, porque nós aqui ficamos fazendo papel de besta, de palhaço. Melhoram-se as leis,
fazem-se leis, mas elas não são cumpridas, infelizmente. Nós temos uma Justiça morosa, como ela mesma falou. Como
pode um Conselho Tutelar não ter gasolina no carro, não ter carro? Há uma má vontade danada! Se fosse filhinho de
papai, de gente rica, todo mundo se mobilizaria. Agora, como é filho de pobre, "ah, deixa pra lá, não tem gasolina, não
posso ir". É isso que acontece, e ficamos aqui dando murro em ponta de faca.
Deixo aqui o meu protesto. Infelizmente, como já foi falado, nós não podemos recuperar a vida do Rhuan, mas que isso
sirva de exemplo e que este País se mobilize. A mobilização não deve ser só por parte da Câmara dos Deputados, dos
legisladores, mas também por parte da Justiça, da Polícia Rodoviária Federal, de todo mundo, de todas as entidades que
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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

estão envolvidas com a vida humana, porque o caso do Rhuan foi um descaso, não levaram em consideração. Eu tenho
certeza de que essas duas famílias procuraram, entraram na Justiça querendo essas crianças, mas não lhes deram ouvidos.
Obrigada, delegado, pelo seu trabalho. Cláudia, maravilhosa, muito obrigada. Agradeço por existirem pessoas como você.
É o seu trabalho, mas você também poderia ter dito: "Ah, não tem gasolina, não vou lá, não"; "Ah, às 4 horas da manhã?
Vou fazer o que lá? Vou às 7 horas". E a você, Dra. Alinne, muito obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Obrigado, Deputada Dra. Soraya Manato.
Como muitos têm voos no dia de hoje, e o nosso amigo Deputado Marcel Van Hattem também tem, antes de ouvirmos a
Mesa, vou passar a palavra para o Deputado Marcel, que já estava inscrito.
O SR. MARCEL VAN HATTEM (NOVO - RS) - Dificilmente precisarei de mais de 3 minutos, até porque é muito
difícil falar neste momento, Sr. Presidente e colegas Deputados. Eu precisaria falar muito pouco, realmente, até porque
muito já foi dito. A Deputada Dra. Soraya Manato foi extremamente — é até difícil usar esta palavra — feliz nos seus
comentários. Digo difícil porque este é um momento muito infeliz, mas a fala dela foi ao ponto.

Acontecem certos crimes bárbaros que, infelizmente, acabam escapando ao radar de todas as autoridades. Esse não é o
caso apenas do Brasil. Já houve outros crimes bárbaros, mas como esse, concordo, é difícil achar algum outro comparável.
Na Áustria, houve o caso do Josef Ftritzl, o "monstro de Amstetten", que encarcerou a própria filha, desde 1977, até ser
descoberto, se não me engano, em 2008. Ele abusava sexualmente dela no porão da própria casa, onde a mantinha em
cárcere privado. Teve com ela 5 ou 6 filhos, se não me engano. Fez isso por um longo período, até ser descoberto. Tudo
isso aconteceu numa casa na Áustria, onde a punição é muito mais severa, e ela ocorre de fato. Infelizmente, no Brasil,
lamentavelmente, a impunidade é muito grande.
Mas o que mais chama a atenção nesse caso do menino Rhuan, que precisa ser lembrado — esse caso precisa ser debatido
e não pode ser esquecido —, é a falha enorme de todas as autoridades até aqui. Eu quero dar os parabéns às autoridades
que aqui estão. Infelizmente, já era tarde demais para a vítima Rhuan; porém, como bem lembrado pela Sra. Alinne, pelo
Delegado Guilherme, que disse a mesma coisa, a Cláudia também concorda, salvou-se uma vida ao se retirar daquele
ambiente a menina Luena. No momento em que ainda se precisava salvar uma das vidas, as autoridades conseguiram
atender. Ficamos todos muito chocados com a dificuldade de o Estado identificar crianças que haviam sido sequestradas,
que andaram quilômetros e quilômetros, passaram por diversos Estados, pegaram vários ônibus. As autoridades não
conseguiram identificar a tempo o Rhuan e evitar que acontecesse esse crime bárbaro.
Antes de concluir, queria também dizer que, apesar de hoje ser uma quinta-feira de manhã, em muitas outras quintas-feiras
de manhã, esta Comissão de Direitos Humanos, diante de casos muito menos graves, fica repleta, cheia de Deputados de
todos os partidos, de todos os lados. Muitos dos pretensos defensores dos direitos humanos, caro delegado, vêm discutir
outros casos, mas hoje, lamentavelmente, não estão aqui.
Eu faço questão de dizer isso sem mencionar partidos e nomes, porque não é preciso. Todo mundo sabe quem não está
aqui, basta olhar em volta e ver que só as duas primeiras carreiras aqui da Comissão estão com Deputados, apesar de
incompletas e existirem alguns valorosos assessores conosco aqui do lado. Isso é algo que chama a atenção.
A própria mídia está dando pouca importância para este caso, perto do que vimos em outros casos de menor impacto. Não
que uma vida valha menos do que o outra, é claro que não, mas a mídia deveria chamar a atenção de toda a sociedade
e romper, como bem disse o meu colega Deputado Bozzella e o Deputado Jordy, qualquer barreira ideológica. Nós não
estamos aqui debatendo ideologia, estamos debatendo vidas. Por esse motivo, por essa cegueira ideológica que acomete
muita gente que pretensamente diz defender direitos humanos, não estão aqui defendendo direitos humanos.
Como delegado, o senhor sabe que, se houvesse um abuso na sua corporação, e abusos devem ser cometidos de qualquer
jeito, seria completamente outra esta sala aqui. Seria uma grita, seria algo inclusive utilizado ideologicamente contra a
figura daqueles que estão nas ruas em geral, refiro-me à instituição policial, para defender, com as suas vidas, as nossas
vidas. Se fosse esse o caso, muita gente dos direitos humanos viria para denegrir uma instituição completa. Mas, como se
trata de uma vida humana que foi barbaramente retirada por um casal de homossexuais — e não vem ao caso, repito o que
já foi dito, a orientação sexual, aqui nós não estamos debatendo ideologia —, lamentavelmente, nós vemos a ausência de
muitos daqueles que enchem essas salas, em outras ocasiões, para fazer diatribes contra instituições.

Eu quero, portanto, agradecer esta oportunidade que estou tendo de também saudar o trabalho de vocês. O depoimento
dado aqui foi triste e lamentável no caso do Rhuan, mas feliz no caso da Luena, que retornou para sua família de origem,
no Acre. Nós esperamos que esse caso sirva de exemplo para todos. Não pode voltar a acontecer a omissão por parte
das autoridades. Deve continuar havendo, sim, o atendimento àquelas vítimas que conseguem ser livradas de um crime
bárbaro, o que poderia ter acontecido também com a menina Luena.
18/30
Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

Muito obrigado pela oportunidade e me desculpem pela emoção. Eu realmente já vivi situações muito tensas nesta Casa
— estou no meu primeiro mandato, fui Deputado Estadual antes, por um mandato também —, mas, como os depoimentos
que eu ouvi hoje aqui da Mesa, nunca ouvi, nunca ouvi, estando presente numa sala como essa. Isso é chocante, mexeu
com todos nós. Desculpem-me se eu excedi no tempo.
Muito obrigado, Presidente, pela consideração e por me permitir falar neste momento.
O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Obrigado, Deputado Marcel Van Hattem.
Tem a palavra a Deputada Bia Kicis.
A SRA. BIA KICIS (PSL - DF) - Este é um momento muito difícil para todos nós. Eu estou inclusive transmitindo, pelas
redes sociais, os depoimentos do Delegado Guilherme, da Cláudia, do Conselho Tutelar, da Alinne, que é psicóloga, e as
pessoas estão realmente manifestando sentimento de indignação, de revolta e muita dor por esse crime bárbaro. Eu nunca
ouvi algo sequer parecido. Talvez, em filmes de terror, tenha assistindo a algumas cenas semelhantes. Mas, quando se
trata da realidade, de um crime cometido por uma mãe e sua companheira contra uma criança, o seu próprio filho, com
tamanha barbárie, com tamanha crueldade, isso não tem como não nos chocar e muito. É difícil.
Há pessoas que dizem: "Não consigo escutar, não tenho estômago". Mas, nós, como Parlamentares, temos que superar as
nossas dificuldades e temos a obrigação de acompanhar. Dr. Guilherme, algumas vezes o senhor pediu até desculpas pelos
detalhes, mas é necessário que tenhamos acesso a essas informações, por mais difícil que seja para nós. É um momento,
acho, de superação para todos nós acompanhar o seu relato, o da Cláudia e o da Alinne.
Chama também a atenção, e agora eu vou falar daqui deste Parlamento, além das palavras que já foram ditas pelos colegas
que me antecederam, todas muito pertinentes, a espiral do silêncio que se faz presente. E é um silêncio ensurdecedor,
porque esse caso não está repercutindo na mídia e não está repercutindo nesta Casa como deveria. Como disse a Deputada
Dra. Soraya Manato, somente três Parlamentares usaram da tribuna, no plenário, para falar sobre o caso. Eu fui uma delas.
Nós temos de quebrar essa espiral do silêncio, porque essa espiral está a serviço de algo muito cruel.

Eu tenho que citar o fato de que não existe um Parlamentar da Esquerda aqui presente. Não se trata de tripudiar e de fazer
política em cima disso, mas de chamar a atenção para esse fato. Digo isso porque essas pessoas se dizem defensoras dos
direitos humanos. Que caso maior de violação dos direitos humanos nós presenciamos nos últimos tempos? Eu não sei. Eu
não conheço. Isso se passou aqui, no Brasil, no Distrito Federal, nesta cidade, onde alguns de nós moramos e outros pelo
menos moram parte da semana e trabalham. Por que esse silêncio? Porque, na verdade, querem esconder o fato de que a
motivação desse crime tão bárbaro foi a teoria ou a ideologia de gênero. Isso é verdade, e eu não vou calar quanto a isso.
Nossa discussão aqui não tem a ver com preconceito nem com homofobia. Ninguém está interessado com o que as pessoas
fazem das suas vidas, da sua atividade sexual. Isso é problema de cada um. Mas temos um movimento, uma narrativa,
que não é só no Brasil, é no mundo todo, que nos faz engolir essa ideologia de gênero nefasta, que mostra a sua cara mais
horripilante com esse crime. Essas mulheres quiseram obrigar um menino a ser menina e fizeram uma menina odiar os
homens, a ponto de ela temer terrivelmente o seu pai.
Essa é a verdade nua e crua que precisa ser jogada na cara da sociedade e daquelas pessoas que defendem a ideologia de
gênero e que nos acusam: "Não, não existe isso. É ideologia de gênero porque vocês estão forçando". Nós não estamos
forçando! Nós estamos vendo que todo tipo de "gayzismo" — vou usar essa palavra, espero que o Supremo não me prenda,
porque eu tenho imunidade parlamentar ainda — é uma grande forçação de barra para destruir a sociedade, destruir as
famílias, atacar os cristãos, atacar os nossos valores, atacar as famílias e as crianças. Isso, sim, é muita crueldade que
existe nessa ideologia de gênero. E nossas crianças são submetidas a isso nas escolas, na mais tenra idade! Não se pode
falar em menina e menino, é "meninxs", é criança. Que palhada é essa?
Eu não vou me calar! Faço questão de citar que este é um crime motivado por uma doença chamada ideologia de gênero. É
uma doença! É uma maldade! É uma doença cruel! Nós estamos aqui para combatê-la. E nós fomos eleitos pela população
cristã, conservadora, simplesmente normal, por aquelas pessoas que querem viver a vida sem atacar os valores dos outros.

Eu agradeço ao Dr. Guilherme por ter vindo até aqui compartilhar isso conosco. Deu para perceber a sua dificuldade
também.
O Deputado Filipe Barros, esse Parlamentar exemplar, foi à delegacia, olhou o inquérito, compartilhou conosco e fez um
papel muito importante.
Eu agradeço a todos que estão aqui, nesta manhã de quinta-feira, na Comissão de Direitos Humanos, que, como disse
o Deputado Marcel Van Hattem, costuma estar lotada. Mas hoje os Parlamentares que aqui estão são aqueles que não
poderiam se furtar de, neste momento, de lutar por algo que nós acreditamos: a defesa da vida.

19/30
Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

É isso que eu tenho a dizer.


Muito obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Obrigado, minha amiga, Deputada Bia Kicis.
Concedo a palavra ao Deputado Junio Amaral.
O SR. JUNIO AMARAL (PSL - MG) - Boa tarde a todos os presentes.
Esta é a primeira vez, em 5 meses, que eu me sinto fraco, na mais pura essência dessa palavra, para trazer alguma
contribuição, mesmo que seja com uma pergunta ou com exposição.
Fala-se muito que o policial militar condiciona-se a lidar com situações de barbárie e de crime diariamente. O delegado
também está na mesma situação. Mas não há como não colocar esse caso específico numa situação totalmente diferenciada.
É de se lamentar, sim, a indiferença de alguns Parlamentares. Se eu não me engano, o Deputado Marcel Van Hattem
disse há pouco que, se fosse em qualquer outra audiência dos direitos humanos, como normalmente acontece aqui, esta
sala estaria repleta. Sugiro ao Presidente que convoque a próxima audiência, quem sabe, para tratar da alimentação dos
presidiários. De repente, haverá um número três ou quatro vezes maior de Parlamentares preocupados com o tema.
Eu não tenho muito o que trazer. Temos de respeitar demais este momento. Não é mesmo uma situação de politizar, mas
de lamentar. Que nos mobilizemos para a prevenção. Esse fato já foi. Temos de pensar que fatos como esse podem estar
vindo logo ali. Vamos assumir este papel no Legislativo, vamos ser fiscalizadores para reduzirmos a possibilidade de isso
acontecer com outras famílias.
Parabéns aos presentes que se disponibilizaram a vir contar para o Brasil de forma mais detalhada, porque a imprensa
foi muito rasa. Algumas emissoras colocaram em pequenas notas, nada muito detalhado. A imprensa não nos repassou
as informações com a intensidade e continuidade que gostaríamos de receber. O povo brasileiro precisava entender o que
estava acontecendo. Isso todo o mundo viu, mas não houve a mesma atenção.
A pergunta que faço ao delegado é se também não houve uma procura ao senhor. Se houve a procura, mas não houve o
compartilhamento para a sociedade, é de se preocupar ainda mais, porque houve um filtro injusto, de indignação seletivo
por parte da imprensa.
Essa é a pergunta que deixo e agradeço a participação.

O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Obrigado, Deputado Junio Amaral.
Passo a palavra à Deputada Paula Belmonte, minha colega de pós-graduação, inclusive.
A SRA. PAULA BELMONTE (CIDADANIA - DF) - Bom, eu peço desculpa pela minha emoção, porque esse tema
criança é um dos mais fortes para mim. Sou mãe de seis filhos, sei o que é perder um filho e estou no Parlamento exatamente
para defender as nossas crianças. Eu confesso que não é fácil entrar nesse caso aqui de Brasília — eu sou uma Parlamentar
de Brasília —, porque nos choca. Mas nos choca não só a situação do Rhuan. Uma semana antes, nós tivemos aqui em
Brasília também o caso de quatro crianças que pediam alimentação. Uma criança, a de 6 anos, morreu, e a outra, de 3 anos,
está internada, porque elas estavam passando fome. A de 3 anos só não morreu porque chegou um conselheiro tutelar.
Então, esse tema de que tratamos aqui é algo muito sério. E eu fico muito impressionada, Deputado Júnior Bozzella,
Deputado Filipe Barros, Deputado Paulo Ganime, Deputado Carlos Jordy, Deputada Bia Kicis, Deputada Chris Tonietto,
Deputado Camilo Capiberibe e todos os que estiveram aqui, porque, quando falamos das políticas para a criança, as
pessoas acham que é um tema café com leite. E não é, e não é café com leite, é o nosso futuro.
Eu peço a todos que façamos uma reflexão: quem são essas mães? Que crianças foram elas? É isso que nós temos que
entender, porque punir, como foi dito aqui, não vai trazer o Rhuan de volta. Elas vão estar lá, mas isso não soluciona o
problema. A nossa sociedade está precisando fazer uma reflexão verdadeira sobre quais são os nossos valores e princípios,
qual é a nossa prioridade. Não é possível, em um País rico desse jeito, nós termos crianças passando fome, crianças que
apanham porque pediram para a vizinha alimentação. Nós falamos tanto da morosidade brasileira, mas não é possível
essa criança estar dentro de uma casa e ninguém saber que ela está lá. Cadê as nossas relações pessoais? Cadê a nossa
responsabilidade?
Eu trago um tema importante para nós políticos, inclusive nessa época. Agora estão vindo as eleições dos Conselhos
Tutelares. Nós ficamos aqui falando das crianças, mas vemos alguns Parlamentares utilizando Conselho Tutelar para cargo
público, desviando-o da função real de cuidar das nossas crianças. O assunto é sério. Não se trata de briga de ideologia,
mas sim do nosso futuro, do nosso País. E nós temos vários Rhuans, temos crianças que morreram de fome. Eu sei que
aqui, no Distrito Federal — o senhor, Dr. Guilherme, deve saber disso e a Sra. Cláudia também —, há crianças de 6 anos

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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

usando droga. Eu vi menino de 9 anos usando crack. E onde estávamos nós, para falar sobre isso? É séria a situação, é
séria. Nós precisamos mobilizar a nossa sociedade.

Não podemos aceitar a corrupção neste País, a politicagem, porque o fruto da corrupção é exatamente isto que nós estamos
vivendo: é a falta de valores, é a falta de ética, é a falta de compromisso com o próximo, de amor ao próximo. Isso é
muito sério.
Eu faço um apelo a todos os Parlamentares desta Casa: vamos dar uma olhada com responsabilidade nas eleições para
conselheiros tutelares, porque é uma vergonha o que acontece. Vamos dar uma olhada, vamos ver o que está acontecendo
com a merenda escolar nas nossas escolas. Está havendo corrupção com a merenda escolar! E nós não damos importância
para isso porque isso faz parte do sistema? O que é isso? Isso não faz parte do sistema, não. Vamos defender a vida,
mas vamos defender a vida em todas as suas nuanças. Porque as crianças estão aí morrendo de fome e sendo usadas
sexualmente. Aqui em Brasília várias crianças são exploradas sexualmente. A situação é séria, gente.
O Rhuan é um símbolo que, eu espero, toque o coração de cada um. Este País tem que entender que temos que olhar
verdadeiramente para essa criança, que não tem título de eleitor. Muitos políticos falam da criança, mas, na realidade,
quando chegam aqui, não fazem nada, porque elas não têm título de eleitor. Temos que dar voz para essas crianças. O
assunto é sério. Não vamos fazer disso uma briga de partidos políticos, uma briga de ideologias. Vamos chegar até a
realidade do povo, à realidade da nossa política. Temos que nos unir. De alguma maneira, temos que buscar pontos de
convergência para tratar disso com responsabilidade. Isso é suprapartidário e apartidário.
Eu me comprometo a conversar com todos os Deputados do PT, do PSOL, para trazê-los aqui, sim, para falarmos do
Rhuan, para falarmos da criança, da dignidade, dos princípios, da ética, para falarmos que o Brasil é, sim, tradicional nos
seus valores. E qual é o problema? Qual é o problema de acreditar em Deus? Que problema há em falar que eu quero
ser mulher? Eu tenho cinco filhos e uma filha, sou mãe de seis filhos e ensino os meus filhos a serem homens. Qual é o
problema? Quem vai mandar na minha família? Nós temos que ter coragem de falar as coisas. Eu fiz 46 anos de idade
agora e falei que não tenho mais a obrigação de ser politicamente correta. Eu quero é fazer o correto.

O assunto é sério. Eu peço, Deputado Filipe Barros, que este assunto seja trazido de forma mais ampla. O caso do Rhuan,
infelizmente, é uma pontinha do problema, é uma pontinha do problema. É sofrido, é doido de ouvir, mas existem muito
mais crianças do que imaginamos nessa situação de vulnerabilidade. Precisamos trazer o assunto ao debate, para que as
pessoas entendam.
Peço aos poucos Deputados que estão aqui, mais uma vez: vamos fazer um trabalho nas nossas cidades, para que esse cargo,
que eu digo que é um cargo missionário, de conselheiro tutelar seja respeitado e seja exercido com muita responsabilidade,
para que as nossas crianças não fiquem mais vulneráveis.
Que as nossas relações pessoais se tornem mais solidárias, porque tanto num caso quanto no outro que eu trouxe, o de
Planaltina, houve falta de solidariedade. As crianças não estavam indo para a escola há 4 meses. Quatro crianças estavam
com jovens de 17 anos de idade, e nada foi feito. Precisamos despertar essa responsabilidade.
Sou muito grata. Desculpem-me por exceder o tempo. Contem comigo sempre para debater este tema, porque precisamos
dar voz a essas crianças todas.
O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Obrigado, Deputada Paula.
Passo a palavra ao Deputado Camilo Capiberibe.
O SR. CAMILO CAPIBERIBE (PSB - AP) - Sr. Presidente, eu participei da reunião desta Comissão em que o
requerimento foi aprovado, votei a favor. Eu considero que é muito importante que um crime da gravidade, da brutalidade
do que foi cometido contra o Rhuan seja debatido nesta Comissão. Sou o 3º Vice-Presidente desta Comissão e considero
importante que este tema seja debatido, sim, e que nós tentemos compreender os fatores que levaram a um crime tão
bárbaro.
Eu fico muito satisfeito de perceber que existe compreensão. Não se deve misturar o que não está em jogo neste debate.
Se é um casal heterossexual, se é um casal homossexual, essa não é a questão. A questão é compreender como nós como
sociedade, como Estado, permitimos que uma criança seja vitimada de maneira tão bárbara. Essa é a grande questão.
Eu fui subscritor de um requerimento na Comissão de Viação e Transportes, junto com o Deputado Lucas Gonzalez, que
foi o autor, para a realização de um debate sobre tráfico de pessoas. Estiveram lá representantes da Polícia Rodoviária
Federal e várias autoridades. Existe uma rede, e os conselhos tutelares participam dessa rede, que busca enxergar os
pontos em que as nossas crianças, em que as pessoas de modo geral ficam mais expostas ao tráfico de pessoas. O que me
surpreendeu, o dado que me chamou a atenção foi o deslocamento de crianças pelas nossas estradas sem que haja nenhum
tipo de fiscalização. Isso mostra uma falha.
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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

Eu acredito, Deputado Filipe Barros, que, a partir desta audiência pública, nós devemos fazer uma recomendação ao
Ministério, que está aqui representado. Devemos recomendar que avalie os instrumentos que poderiam ter evitado e que
podem evitar daqui para a frente um caso tão violento, bárbaro, desumano como este com que nos defrontamos. Eu acredito
que devemos fazer isso.
Eu queria parabenizar a Cláudia, que é conselheira tutelar, e dizer que o nosso papel como Parlamentares é usar o recurso
que temos, das emendas parlamentares, para fortalecer os conselhos. A representante do Ministério falou isso. Esta é uma
política, por exemplo, que o meu partido no Amapá adota há muitos anos: apoiar aqueles que estão na ponta, no trabalho
em que vivenciam as grandes dificuldades que as nossas crianças enfrentam no nosso País.
Eu queria parabenizar o Deputado Filipe Barros pela iniciativa e dizer que é muito importante que este tipo de caso seja,
sim, debatido aqui, mas da maneira como está sendo debatido, sem que se tente criar sensacionalismo e sem que se tente
estigmatizar segmentos sociais que já são muito estigmatizados no nosso País.
Quero parabenizá-lo, Presidente, e a todos os Parlamentares que estão aqui, por este debate.
É importante, sim, que nós façamos recomendações claras a partir desta audiência pública, Deputado Filipe Barros. Vamos
buscar a Polícia Rodoviária Federal, vamos buscar os Conselhos Tutelares, vamos buscar a Polícia Civil e vamos tomar
medidas concretas para evitar esse tipo de violência tão brutal contra aqueles que são mais vulneráveis. Nós estamos
falando daqueles que precisam ser cuidados, e cuidados com amor, com carinho, e não ser abandonados. Este crime é
resultado, sim, da falência das nossas políticas já implementadas. Então, temos que rever isso.
Eu concordo com a Deputada Dra. Soraya Manato quando ela diz que criar leis pode não ser o caminho. Nós temos é que
ver o que já existe — talvez este seja um bom expediente para esta audiência pública —, o que pode ser melhorado, as
políticas públicas que estão sendo implementadas. Os Estados têm alguma política de referência que pode servir para o
Brasil tentar usar como modelo? Eu acredito que esse é o caminho.
Eu cumprimento todos os que participaram desta audiência pública. Infelizmente, tenho que me retirar agora. Fiquei até
mais do que deveria, mas fiquei pela importância de estar aqui presente, pela importância do tema que está em discussão
e das medidas que nós precisamos tomar.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Muito obrigado, Deputado Camilo, 3º Vice-Presidente desta Comissão.
Passo a palavra ao Deputado Paulo Ganime.
O SR. PAULO GANIME (NOVO - RJ) - Boa tarde a todos.
Boa tarde, Sra. Cláudia Regina, Delegado Guilherme, Sra. Alinne.
Cumprimento, em especial, o Deputado Filipe Barros, a quem eu queria agradecer em primeiro lugar.
Há cerca de 2 semanas, estávamos juntos em São Paulo, no evento Parlatório Livre, com o nosso amigo Deputado Carlos
Jordy. Eu tinha visto bastante coisa sobre o caso, mas em postagens muito simplórias nas redes sociais de algumas pessoas
que estavam preocupadas. Confesso que não dei muita atenção a este caso, até o dia em que V.Exa., no Parlatório Livre,
descreveu detalhadamente o que aconteceu. Aquilo me chocou muito. Saí de lá bastante chocado. Depois daquele dia,
comecei a pesquisar mais e me senti até culpado por não termos dado a devida atenção ao tema, a atenção que merecia e que
deveríamos ter dado, não só nós aqui, como também a mídia e o resto da sociedade. Fiz no mesmo dia ou no dia seguinte,
eu acho, uma postagem nas minhas redes perguntando isto: por que a grande mídia, por que as pessoas não estavam falando
tanto sobre este caso? Não mencionei nada, não fiz nenhum ataque, simplesmente perguntei isso. Fiz, sim, um comentário
sobre os defensores dos direitos humanos. Muita gente me criticou — a maioria me apoiou — dizendo que eu estava sendo
homofóbico inclusive. Muito pelo contrário. Não se trata disso. Na minha opinião, a menos que alguém prove o contrário
— e eu acho até que há uma pergunta ainda não respondida pelo Deputado Carlos Jordy —, são psicopatas.

Eu acho que a Deputada Bia foi feliz quando falou que não foi simplesmente um caso de assassinato, não foi simplesmente
o caso de um marginal que matou uma terceira pessoa. A mãe de uma criança a matou. Antes de matá-la, foi muito cruel.
O sofrimento das crianças, em especial do Rhuan durante esse tempo todo, é algo muito grave.
Então, este é um caso que tem que ser lembrado, do qual temos que falar, para aprendermos.
Infelizmente, cheguei tarde a esta Comissão. Estava aqui ao lado, em outra Comissão, em outro plenário, onde recebemos
80 crianças da Escola Parque do Rio de Janeiro. Eu saí dali muito animado. É muito legal ver crianças virem à Câmara para
conhecer o nosso trabalho. Nós acreditamos que essas crianças vão ter um futuro melhor, vão fazer com que o Brasil tenha
um futuro melhor quando chegar a vez delas. Quando vim para cá — e não por culpa dos senhores, muito pelo contrário,

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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

mas por culpa do tema, que é muito grave —, fiquei muito preocupado e frustrado. Mas é nossa responsabilidade como
Parlamentares fazer esta discussão, este debate.
A Deputada Dra. Soraya Manato foi feliz quando falou que talvez não seja uma questão de criar novas leis. Eu me lembro
bem do caso da Boate Kiss. Depois daquele caso, foram criadas leis, algumas muito ruins, com um objetivo até bom, o
de tentar evitar que aquilo acontecesse de novo, mas assuntos complexos merecem soluções complexas. Muitas vezes,
tentamos dar soluções simples para questões complexas, e o resultado é muito pior.
Eu pude assistir à fala da Sra. Alinne. O que ela trouxe é muito importante: a falha do Estado, a falha do Governo em
evitar ou coibir esse tipo de situação. Como Parlamentares, talvez a nossa ação não tenha que ser necessariamente a de
produzir leis para evitar isso. Pode ser que seja, mas temos que analisar bem. No mínimo, temos que fiscalizar, que é outro
papel fundamental que temos e que não exercemos propriamente.
Outro ponto também fundamental: nós como figuras públicas que somos e por intermédio das nossas redes temos que
fazer o que muitos estão fazendo, ou seja, divulgar o caso, já que a grande mídia não está dando a devida atenção a ele.
Este é um tema do qual temos que lembrar. Este não é um tema para surtir efeito só de forma imediata, mas que deve
ter como efeito a criação de políticas públicas, sim, a busca de soluções que evitem que nossas crianças sofram a longo
prazo. Acho que isso é muito importante.
Que este caso não seja esquecido. Se a vida do Rhuan não pôde ser salva, que usemos isso para salvar outras vidas. Quando
eu falo em salvar não me refiro, necessariamente, à morte, mas ao maltrato, à violência. Que as crianças tenham uma
vida digna para o futuro. Eu acho que todos têm que se engajar nisso, para que o povo brasileiro tenha uma vida boa, em
especial as crianças, que não têm como se proteger.
Parabéns pelo trabalho, senhores! Obrigado por terem vindo aqui para esclarecer mais os fatos.
Mais uma vez, Deputado Filipe Barros, obrigado por ter-me alertado sobre este caso ou por ter dado pelo menos a devida
atenção a ele. Se não fosse alertado por V.Exa. naquele dia, eu não teria dado ao caso a atenção que merece. Obrigado
por ter feito aquele relato.
O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Obrigado, Deputado Paulo, pela participação.
O próximo orador é o Deputado Alexandre Frota. Informo que, após a fala do Deputado Alexandre Frota, falarão o Sr.
Lucas Camargos, assessor parlamentar, que solicitou a palavra — e vou conceder-lhe —, e por último a nossa amiga
Deputada Chris Tonietto. Encerraremos as inscrições e passaremos a palavra aos integrantes da Mesa.
Passo a palavra ao Deputado Alexandre Frota.

O SR. ALEXANDRE FROTA (PSL - SP) - Sr. Presidente, Deputado Filipe Barros, integrantes da Mesa, eu não poderia
deixar de passar aqui, sendo esta reunião liderada pelo meu amigo, por uma pessoa que a cada dia mais aprendo a respeitar.
Fiz questão de passar por aqui por isso e também por causa da violência contra as crianças no nosso Brasil.
Mais uma vez, venho chamar a atenção para isto: parece que estamos sempre enxugando gelo. Temos leis antigas,
retrógradas, que não funcionam. Temos diversas brechas nas nossas leis que proporcionam a assassinos, estupradores,
marginais a possibilidade de gozarem da cara da sociedade. Há sempre uma saída. Infelizmente, há sempre uma saída.
Nós estamos assistindo, por anos e anos, a coisas absurdas acontecerem contra as crianças, crimes de muita repercussão.
Isso me leva a crer, muitas vezes, que nós não vamos ter saída.
Eu vim aqui para chamar a atenção para outros casos, além do caso absurdo, violento e inaceitável do Rhuan. É uma pena
que no nosso País não haja prisão perpétua e pena de morte. Eu sou a favor da pena de morte e da prisão perpétua, porque
os vagabundos ficam rindo da cara da sociedade, e a Justiça, muitas vezes... Por exemplo, a D. Suzane Richthofen, que
esmagou a cabeça do pai, que esmagou a cabeça da mãe, sai da prisão no Dia dos Pais para comemorar o Dia dos Pais, e
aquele vagabundo do Alexandre Nardoni sai da prisão no Dia das Crianças! Parece que estão fazendo isso para afrontar
a sociedade. Nós não podemos compactuar com isso. Mas já falamos, e muitos outros Parlamentares antes de nós que
passaram por aqui também já abordaram esse assunto.
Eu venho aqui lembrar o caso do Rhuan, que é o mais recente e tema desta reunião, mas e o João Hélio, que foi arrastado
por aqueles três vagabundos, que estão soltos hoje? E a Isabella Nardoni, que foi covardemente agredida pelo pai e pela
madrasta e foi jogada, sem piedade, viva, do sexto andar? E o garoto Ives Ota?
Nós não temos proteção para a infância. Essa é a realidade, Presidente Felipe Barros.
E a Vitória Gabrielly, que há pouco tempo, em Araçariguama, foi sequestrada, violentada e amarrada a uma árvore? E o
garoto João Felipe? E o Bernardo Boldrini, em cuja morte também estão envolvidos o pai, a madrasta e a tia? A que ponto
isso está chegando. Nós não temos leis fortes o suficiente para deixar essas pessoas onde deveriam ficar realmente, onde
deveriam apodrecer: dentro de uma cadeia, dentro de uma penitenciária. Eu não me conformo com isso.
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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

O caso do Rhuan, pelo requinte de crueldade do que foi feito, traz à tona também um tema que nós tanto combatemos aqui
dentro — e por isso somos tão criticados —, que é a ideologia de gênero. Nós somos criticados quando falamos sobre
isso, nós somos criticados quando pedimos uma escola sem partido. Fica difícil.
Mas existem falhas. Por exemplo, as medidas protetivas para as mulheres. É um pedaço de papel em que dizem para o cara
ficar a 200 metros da mulher. Quantas mulheres que tinham medidas protetivas, um pedaço de papel, foram assassinadas
nos últimos meses? É assim que a nossa sociedade civil, que a nossa Justiça protege as mulheres e as crianças: com um
papel. O que esse papel vai fazer? Nada! Elas dizem: "Eu tenho uma medida protetiva. Ele está proibido de chegar perto
de mim". Isso não funciona. O que funciona, e nós sabemos disso, é cadeia, é um julgamento pesado.
Se para nós é muito difícil falar disso, imaginem para o pai, para a mãe que perde seu filho assim ou para os entes queridos,
como neste caso aqui, da mãe que mata a criança.
Nós temos que chamar a atenção dos Parlamentares, sem demagogia nem crítica nenhuma. Hoje é quinta-feira. Para uma
reunião importante como esta, isto aqui deveria estar lotado. Alguns estão na Festa de São João, outros estão na Festa
da Pamonha, outros estão comendo cocada, quando, na verdade, nós somos pagos pela população brasileira para estar
aqui. Eu acho que nós deveríamos ficar aqui de segunda-feira a sexta-feira. Se formos agora ao plenário principal, vamos
encontrar quatro pessoas lá. Aqui também não vemos a quantidade de Deputados que deveria estar aqui. Uma coisa é
fazer o discurso na frente da televisão, colocar a camiseta... Vejam as campanhas, quando uma mulher é assassinada.
Dependendo da mulher, se ela for uma artista, fazem camisetas com a frase: "Mexeu com uma mexeu com todas". Mas, se
for uma mulher simples: "Mexeu com ela, ela que se foda". É isso! Desculpem-me pelo palavrão, mas essa é a verdade.
Nós temos que acabar com a hipocrisia.
Pessoas como você, Filipe, e como a Chris, que são jovens, que vão ficar aqui por muito tempo ainda, têm essa missão de
matar isso no peito e chamar essa responsabilidade para vocês, para que, no futuro, quando acontecer esse tipo de coisa,
não haja "saidinha", indulto. O preso sai para comemorar Natal, Ano-Novo, Dia das Crianças, Dia dos Pais, Dia das Mães!
Lá fora não existe isso, nós sabemos. Falamos do Brasil, porque lá fora não existe isso, lá fora é cadeia. Nós assistimos,
outro dia, à condenação de um garoto de 16 anos de idade à prisão perpétua, porque assassinou o professor com um tiro.
O juiz que o condenou, no final, disse para ele: "O senhor tem consciência de que vai entrar garoto e vai sair morto da
penitenciária? Porque o senhor está com prisão perpétua decretada, sem direito a nada".

Eu acredito nisso. E, para que isso ocorra, nós precisamos de jovens como vocês dois e outros aqui, para lutar por isso.
Sou solidário à família.
Parabéns a todos da Mesa pela iniciativa!
Muito obrigado a todos os presentes.
O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Obrigado, meu amigo Deputado Alexandre Frota.
Passo a palavra ao Lucas Camargos. Logo em seguida, falará a última inscrita, a Deputada Chris Tonietto.
O SR. LUCAS CAMARGOS - Boa tarde, Sr. Presidente e Srs. Deputados.
Boa tarde a todos.
Senhores, neste dia eu ouvi muitos Deputados, muitas pessoas aqui dizerem: "Onde estão realmente os direitos
humanos?". Essa é uma pergunta que eu me faço todos os dias: "Onde estão os direitos humanos?". Foi a pergunta que
eu fiz nos últimos 10 anos, trabalhando com política, seja com Vereadores, seja com Senadores, seja com Ministros de
Estado, seja com Deputados agora.
Eu tenho um recado para os senhores neste dia: o que nós vimos até hoje, Deputados, não foram direitos humanos. O que
nós enxergamos, o que nós vivemos até hoje foram direitos seletivos, de grupos extremamente seletivos. Permitam-me
corrigir os que usaram esses termos aqui.
"Onde estão os direitos humanos?" Hoje, os direitos humanos estão representados por uma mulher de 1 metro e 70
centímetros de altura, evangélica, nordestina e empoderada. Ela é empoderada porque saiu lá do seu Paraná ainda criança
e foi para o Nordeste, onde sofreu o seu martírio, ao ser abusada até os 8 anos de idade. Essa menina cresceu e hoje é a voz
de milhares de outras crianças que têm sido abusadas nesta Nação. Nós sabemos o que são direitos humanos quando uma
Ministra coloca na Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial uma indígena, a primeira indígena a
gerir essa Secretaria. Sr. Deputado, nós sabemos o que são direitos humanos quando uma Ministra de Estado, pela primeira
vez, não dá protagonismo apenas a negros e gays, mas também dá protagonismo à mulher ribeirinha e às crianças.

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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

Sobre o caso do menino Rhuan, o senhor delegado está aqui de testemunha, assim como a nossa excelente conselheira
tutelar, de que a nossa Ministra não estava sentada numa cadeira. Os Direitos Humanos foram até a família e têm
acompanhado este caso.
Direitos humanos não é o que nós vivemos até os dias de hoje. Vermelho já não é mais cor de corrupção, Sr. Deputado.
Posso dizer aos senhores que direitos humanos agora são direitos para os humanos direitos. Quero apenas trazer esta
reflexão para os senhores nesta tarde: a de que o que vivemos até hoje não foram direitos humanos, foi apenas a
manifestação de grupos seletivos, assim como nunca tivemos um Presidente honesto. Hoje temos de verdade direitos
humanos.

Muito obrigado. (Palmas.)


O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Muito obrigado, Lucas.
Passo a palavra à nossa amiga Deputada Chris Tonietto.
A SRA. CHRIS TONIETTO (PSL - RJ) - Muito boa tarde a todos os senhores aqui presentes.
Antes de mais nada, gostaria de lamentar profundamente, como foi destacado aqui, a ausência de muitos Parlamentares
desta Casa neste dia tão importante e emblemático em que podemos ressuscitar a história desse menino que foi martirizado.
Ele foi brutalmente morto, mas também foi martirizado.
Quero dedicar efusivos agradecimentos ao Deputado Filipe Barros, que está à frente desta audiência pública, o nosso
Presidente aqui, hoje.
Deputado Filipe, eu fico muito feliz e me sinto representada por V.Exa. neste dia, porque V.Exa. acompanhou muito de
perto este caso, V.Exa. que é membro desta Comissão de Direitos Humanos.
Como foi dito pelo Lucas, que pertence ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, acho que esta é
a primeira vez, na história desse Ministério, que o vejo realmente reacender, resgatar os verdadeiros direitos humanos,
direitos humanos para todos os humanos, e não seletivos. Por isso não me espanta que a mídia esteja silente em relação a
este caso. Por isso não me espanta que inúmeros Parlamentares não tenham se manifestado a respeito deste caso.
Quero agradecer também ao delegado que esteve à frente deste caso, à Sra. Cláudia Regina, do Conselho Tutelar do
Distrito Federal, à representante do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a Sra. Alinne Duarte, e a
todos os que passaram por aqui neste dia para lembrar esta história, que jamais poderá ser esquecida.
Ouvimos o relato dos senhores aqui presentes sobre os detalhes deste crime bárbaro, deste crime que é, sim, hediondo.
Como a Deputada Paula Belmonte muito bem falou, onde está a prioridade da infância? Muitos Parlamentares passam por
aqui e falam que a criança deve ter um lugar de destaque, que devemos proteger a infância. Precisamos realmente proteger
as nossas crianças. Quero aqui ser a voz de muitos pais, de muitas mães, de muitas famílias. Nós Parlamentares somos
representantes da sociedade, que tem os seus valores, que tem os seus princípios e é, sim, conservadora, doa a quem doer.
Em relação ao caso Rhuan, há pessoas que dizem que não é uma questão ideológica. Mas eu gostaria de perguntar a este
Plenário se conhece o caso do Dr. John Money e do David Reimer? (Pausa.) Muitas pessoas não conhecem. Só vamos
entender o que é ideologia de gênero se estudarmos a ideologia de gênero, suas origens, a sua fonte, as fontes primárias.
Quando estudamos e entendemos o caso David Reimer, percebemos uma analogia com este caso. David Reimer também
teve o seu pênis decepado, também foi mutilado e foi obrigado a se comportar como uma menina por sua família. Qual
foi a consequência? Alcoolismo, depressão, suicídio. Ou seja, o que uma pessoa vítima da ideologia de gênero é capaz
de fazer? É capaz de destruir uma família.

Neste caso do Rhuan Maycon, nós percebemos exatamente isso, a motivação, sim, da ideologia de gênero. A mãe obrigava
o seu filho a se comportar como uma menina. O menino teve o seu pênis decepado e era obrigado a se fantasiar como
menina. Vejam: é um atentado contra a natureza humana querida e criada por Deus. Dizer o contrário disso, que o crime
não teve motivação ideológica, é negar a realidade dos fatos que nós ouvimos aqui, da boca do delegado de polícia que
acompanhou este caso. Então, nós precisamos, sim, usar a nossa voz e delatar este absurdo, esta aberração. A ideologia
de gênero é, sim, extremamente destrutiva de lares. Nós, quando falamos de famílias, queremos fortalecê-las, queremos
fortalecer os vínculos, como a Sra. Cláudia, que faz parte da atuação do Conselho Tutelar, muito bem falou. Nós queremos
fortalecer famílias. A ideologia de gênero é totalmente contrária aos lares, ela destrói famílias, como nós vimos aqui no
caso do Rhuan.
Sinceramente, eu falo com muita dor, com muito pesar quanto tento relembrar a dor desse menino. Nós não podemos ser
indiferentes a isso, como muitos tentam ser. Nós precisamos falar desse menino que tanto sofreu. Por isso eu disse que é
preciso resgatar o protagonismo e o martírio do Rhuan, porque esse menino sofreu na pele o que é uma ideologia nefasta
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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

e o que ela capaz de fazer. Então, que nós Parlamentares tenhamos, sim, essa missão e essa responsabilidade de lidar com
esses casos. A mídia se cala, mas nós não podemos nos calar, não.
Foi dito aqui que muitas leis, de fato, não têm a devida eficácia, não produzem frutos, efeitos. Nesta Casa de Leis, a nossa
competência é legislativa e também fiscalizatória. Portanto, nós precisamos fiscalizar os conselhos tutelares, ver se eles
estão realizando a sua função, a função precípua de atender essas crianças.
Sabem de quem nós temos que ir atrás? Do Ministério Público, que muitas vezes se cala. Cadê o Ministério Público neste
momento? É engraçado, e eu fico impressionada porque, quando os pais querem, por exemplo, educar os seus filhos dentro
de casa, o Ministério Público vai ao encalço da família porque é contra o homeschooling, persegue a família. E neste caso?
O menino estava há não sei quanto tempo fora da escola, e o Ministério Público nada fez. Então, nós precisamos cobrar
dessas autoridades públicas, sim, porque esse é o nosso papel. Se nós queremos resgatar valores, princípios que fazem
parte da nossa Nação brasileira, nós temos que enfrentar com coragem e com responsabilidade esses casos.
Quero mais uma vez agradecer a V.Exa., Deputado Filipe Barros, por esta iniciativa muito honrosa, bastante nobre, de
requerer a realização desta audiência pública, para que nós pudéssemos trazer para esta Casa este debate que é fundamental.
É, sim, um combate à ideologia de gênero, não deixa de ser, porque a motivação foi ideológica, mas é também uma forma
de salvaguardarmos a infância, todas as crianças. Quando nós falamos de defesa da vida, falamos, sim, da defesa da vida
desde a concepção até a morte natural, portanto, de todas as fases da vida.

O que eu mais poderia dizer? Quero só fazer um apelo: não vos conformeis! Não vos conformeis com este caso. Se nós
nos conformarmos, seremos absolutamente irresponsáveis e não atenderemos a nossa função precípua de Parlamentares,
de representantes da população brasileira, que espera muito de nós.
Este Governo está pronto para muito bem representar a sociedade. Não é à toa que temos o Ministério da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos, que está muito atento aos detalhes deste caso, com o objetivo de enfrentar esse crime
bárbaro, para que ele jamais ocorra com outra criança, embora nós saibamos que deve haver inúmeros Rhuans. Mas nós
precisamos trabalhar para que este caso seja o último.
Então, faço este apelo e conto com os nobres Parlamentares aqui presentes e também com os ausentes. Que a voz de todos
que falaram aqui hoje ecoe além deste plenário e chegue ao coração de todos, para que possam lutar com veemência pelas
nossas crianças e buscar o melhor para o nosso País.
Muito obrigada.
Que Deus abençoe a todos.
O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Obrigado, Deputada Chris Tonietto.
Antes de passar a palavra aos nossos convidados, pelo prazo de 5 minutos, para que respondam aos questionamentos e
façam suas considerações finais também, eu também vou fazer as minhas considerações.
Eu não posso deixar de registrar os meus imensos agradecimentos ao Dr. Guilherme, pela disponibilidade, desde o primeiro
momento em que eu entrei em contato, para vir a esta Casa e esclarecer os fatos que envolvem o crime nefasto contra
o menino Rhuan.
Na pessoa do senhor, doutor, eu quero agradecer a toda a Polícia Civil do Distrito Federal pelo trabalho que fez e tem feito.
Quero agradecer à Cláudia e, na sua pessoa, a todo o Conselho Tutelar do Distrito Federal, pela acolhida que deu à menina
Luena, pelo trabalho que vocês desenvolvem, no Distrito Federal e em todo o País. Estenda esses agradecimentos a todos
do Conselho Tutelar do Distrito Federal.
Quero agradecer à Alinne e, na sua pessoa, a todos os integrantes do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos, que parabenizo.
Muita gente, no começo do ano, Deputada Chris, perguntava-me: "Por que é necessário o Ministério dos Direitos
Humanos? Vamos extinguir o Ministério dos Direitos Humanos". Deputado Paulo, eu sempre fui contra, porque direitos
humanos é isto, é a proteção da criança, é a proteção do adolescente, é a proteção daqueles que não têm voz, não é a
proteção do bandido, não é a proteção daqueles que precisam estar isolados da sociedade. Não. É a proteção dessas pessoas
indefesas que são as crianças e os adolescentes.
Então, parabenizo todos vocês pelo trabalho.
Eu também não poderia deixar de parabenizar todos os meus amigos e colegas Deputados que aqui estiveram, que por
aqui passaram desde o começo desta reunião. É fato: foram poucos em número, mas a qualidade é enorme, gigantesca.
Quero fazer coro com o meu amigo Deputado Marcel Van Hattem, do Partido Novo do Rio Grande do Sul: em outras
reuniões desta mesma Comissão, da Comissão de Direitos Humanos, este plenário estaria lotado. Esta semana mesmo,

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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

para ouvirmos o Greenwald, o suposto jornalista, o plenário estava lotado. Foram 9 horas de oitiva do Greenwald. Fizeram
a festa, fizeram o circo deles aqui dentro. Se fosse para discutir anistia e as pensões gordas que muitas pessoas recebem,
certamente isto aqui estaria lotado. Se fosse para criticar a polícia, se fosse para criticar o Moro, se fosse uma audiência
pública sobre a Marielle, isto aqui estaria lotado.

É claro que todo mundo quer saber quem matou Marielle, mas vejam só onde está a hipocrisia: as pessoas que querem
saber quem matou Marielle não estão aqui para ouvir sobre o crime do menino Rhuan. Não estão aqui.
O nome desta Comissão é Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Eu posso afirmar que não existe minoria que precisa
mais ser defendida hoje do que a que é formada por crianças e adolescentes. Porque a criança e o adolescente não têm
sindicato que os defenda, não têm associação que os defenda, não têm militância organizada que os defenda. Eles têm
nós, eles têm as nossas vozes aqui isoladas: vocês do Conselho Tutelar, a polícia, o Ministério, que têm tentado dar voz
a quem não tem voz.
É impossível que, no final desta audiência pública, nós não falemos o português correto: ideologia de gênero. O Dr.
Guilherme se ateve aos fatos e, como Delegado da Polícia Civil que investigou o caso, fez isso de maneira corretíssima,
com maestria, mas nós Parlamentares podemos falar a verdade, a Verdade com "v" maiúsculo: a ideologia de gênero foi
fator decisivo para a morte do menino Rhuan. Foi fator decisivo. Caso contrário, não teriam cortado o pênis e os testículos
do garoto. Se não fosse fator decisivo, não teriam forçado o garoto a se transformar numa menina.
A Deputada Chris Tonietto muito bem lembrou o caso do Dr. Money, que guarda um paralelo muito grande com o caso
do menino Rhuan.
Não sei se há alguém da imprensa aqui, mas eu farei um clamor à imprensa deste País. Noticiaram o caso da Marielle e
têm que denunciar, cobrar, saber quem matou; noticiaram o caso Nardoni, com o qual o Brasil ficou em choque, e têm que
cobrar, é claro que têm que cobrar — esse é o papel da mídia, esse é o papel da imprensa; mas calaram-se, silenciaram-
se diante do caso do Rhuan. Houve poucas notas da imprensa sobre este caso. O meu pai, que está em Brasília, fez uma
boa observação: "Falaram mais do caso Neymar do que do caso Rhuan". É um fato.
E por que se calaram, Deputada Chris e Deputado Jordy? Porque duas lésbicas estão envolvidas. É preciso falar a verdade
aqui.
Eu não me importo com a opção, com a condição sexual de cada um. Cada um faz o que quiser entre quatro paredes.
Eu não tenho nada a ver com isso. Mas existe hoje no nosso País uma imposição, uma tentativa de enfiar goela abaixo
da população brasileira que homossexuais são sempre vítimas, vítimas de uma suposta homofobia que existe no nosso
País. Na minha visão, o nosso País é um dos países mais liberais do mundo no quesito sexual. Mas existe uma tentativa,
inclusive da própria grande mídia, de enfiar goela abaixo de todos nós que homossexuais são sempre vítimas. Nós sabemos
que, independentemente da opção, da condição sexual da pessoa, sendo homossexual, a pessoa também pode cometer
crime, como este contra o Rhuan.
Em segundo lugar, no fundo a mídia se calou, é óbvio, porque o caso traz à tona para todos nós, para a população do
Brasil que nos assiste, a ideologia de gênero.

Antes de finalizar e passar a palavra aos nossos convidados, eu não posso deixar de encerrar esta reunião sem falar do
ativismo judicial que o STF vem praticando no País. Ministros togados, que na verdade são ditadores togados — e falo aqui
porque tenho imunidade; se quiserem, prendam-me —, repito, ditadores togados, que agora querem legislar, querem falar
que a homofobia é racismo. Se eles querem legislar, eles têm que tirar a toga, disputar as eleições, ganhar as eleições e vir
aqui conosco legislar. Mas sabem por que não fazem isso? Vocês acham que Gilmar Mendes ganha uma eleição? É claro
que não. Mas querem legislar através do Supremo Tribunal Federal, como foi o julgamento recente da criminalização da
homofobia, julgamento esse inclusive promovido por um partido político aqui de dentro, que não aceita derrota no Plenário
e se socorre do ativismo judicial do STF. É inadmissível que continuemos aceitando o ativismo judicial dos ditadores
togados do prédio de lá da Praça dos Três Poderes. Esse julgamento, muito aberto, ilegal, inconstitucional, no final das
contas, Deputado Carlos Jordy, quer nos censurar. Querem que fiquemos calados em relação à ideologia de gênero. É a
mordaça. Tenham certeza de que nós não iremos nos calar diante dos casos de ideologia de gênero no País.
E quero fazer um clamor a todos os Deputados que hoje estiveram aqui presentes. Nós recebemos algumas sugestões de
encaminhamentos, tanto de projeto de lei quanto de cobrança das autoridades, como, por exemplo, da Polícia Rodoviária
Federal. Eu não tenho nenhum problema de vaidade para falar que eu tenho que ser o autor desses projetos. Pelo contrário,
eu acho que nós que estamos aqui, nossos colegas de partido, nossos amigos Deputados, temos que nos unir e protocolar
esses projetos e requerimentos em conjunto, porque, se cada um de nós fizer isso individualmente, vai ser mais um projeto
dentro dos não sei quantos mil projetos que estão aí engavetados nas Comissões ou no Plenário. Então, eu acho que é hora

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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

de nós como Parlamentares nos unirmos, estudarmos o que deve ser feito, assinarmos em conjunto e, aí sim, mostrarmos
nossa força, pressionarmos quem tivemos que pressionar dentro desta Casa para que os projetos finalmente andem.
A vida do Rhuan nós não vamos conseguir trazer de volta, mas nós não podemos deixar que a memória da curta vida deste
menino (exibe camiseta) seja simplesmente apagada e enterrada junto com ele.
Nós precisamos lembrar para sempre quem foi o menino Rhuan, por que ele morreu, por que ele foi assassinado, e, acima
de tudo, impedir que outros casos como esse aconteçam no País.
Agradeço, mais uma vez, a todos a presença.
Eu vou passar a palavra agora ao Dr. Guilherme, para que faça suas considerações e responda os questionamentos.
O SR. GUILHERME SOUSA - Senhores, eu quero falar ao Deputado Filipe Barros que a mim não incomoda nada esta
Comissão estar vazia, porque até no dia do crime da criança, e poucos dias depois, não havia nenhum tipo de espaço, e
o senhor foi na delegacia nos procurar, era um representante do Congresso lá. E hoje, pelo que eu anotei, desculpem-me
os Deputados que não conheço, temos aqui pelo menos 12. Era 1, temos 12. Se temos 12 é porque essa corrente está se
ampliando. A Deputada Bia falou de espiral de silêncio. Não, agora nós temos voz. Começamos com uma voz, começamos
com aquele grito, aquele grunhindo, não tão alto, não tão baixo, do Rhuan, na hora que tomou a primeira facada. Fomos lá,
com o Deputado Filipe Barros, e agora com a voz dos senhores. Então, eu estou muito feliz. Doze pessoas é um número,
como os 12 apóstolos, que sabemos que sempre significa algo de bom. Então, eu quero falar para os senhores que a mim
me alegra muito ter participado disso.

Quero responder agora a cada um dos Deputados os questionamentos.


Deputado Carlos, sobre a motivação: o meu trabalho, como policial, e para o bem de todos, tem que ser isento e imparcial.
E isso não significa hipocrisia, porque eu me atenho aos fatos. Nós temos elementos de religião, nós temos elementos
financeiros, nós temos elementos de vingança, mas também temos elementos de ideologia de gênero. Hipocrisia não tem
nada a ver com isenção e imparcialidade. Continuo imparcial e isento, tanto que o meu trabalho prova isso.
Direitos humanos, como todos os Deputados falaram aqui, são para todos. E aqui eu levanto a primeira tônica desta
reunião: o apartidarismo. É isso o que eu vejo. Embora outros partidos não estejam aqui, não sei quais são e não me
interessa, mas eu vejo no discurso de todos os senhores — todos, absolutamente todos — o apartidarismo. Esses primeiros
passos que nós damos aqui, com a reunião dos senhores, incita a discussão, a mobilização, o olhar crítico, as falhas do
Estado e, o que é melhor ainda, a promoção da correção dessas vicissitudes. Se vamos ter instrumentos legislativos para
corrigir isso, que bom que seja assim.
Um Deputado falou a respeito da prisão perpétua. Nós não temos isso no nosso sistema. Eu também não posso incriminar
a ideologia de gênero, porque não é legalizada. Como delegado, eu me atenho à lei. E se uma lei for produzida nesse
sentido, eu vou segui-la, porque há elementos, sim, mas não há legalização desse tema.
Se Marielle é uma voz, Rhuan também será uma voz a esse respeito no Brasil, e isso não me constrange em nada, porque
eu me ative aos fatos.
Outra coisa que eu quero dizer a cada um dos Deputados — o Deputado Júnior Bozzella falou a respeito da legalidade
desse tema, a Deputada Soraya, sobre a efetividade dos órgãos, os setores da justiça, a morosidade — é que tudo isso
é ambientado aqui, é para isso que nós estamos aqui, é para isso que os senhores me chamaram. O Rhuan não estará
mais envolto nessa espiral de silêncio, que vai fazer com que setores me tenham pressionado. O Deputado Cabo Júnior
perguntou-me se eu sofri pressões? Sofri, sim. Sofri pressões de outros setores para que enviesasse a motivação do crime
para uma motivação religiosa. Qual o interesse disso? Como não o fiz na questão de ideologia de gênero, também não
o fiz na questão do motivo religioso, porque nós temos ingredientes, em vários sentidos, que compõem a motivação do
crime. Mas, repito, não se pode confundir hipocrisia com isenção e imparcialidade. E é assim que eu faço o meu trabalho.

Sobre a prisão perpétua, eu sou a favor, sim! Ele disse: "Mas como é que a gente faz isso dentro da lei?" Buscando os
elementos de convicção que a responsabilize por todos os outros crimes que ela fez. Se nós nos mantivéssemos presos
apenas à execução do crime, essas duas senhoras pegariam, no máximo, 20 anos de cadeia. E com as benesses que a lei
dá a elas, sairiam com 8 anos.
Graças ao trabalho que nós fizemos, no Acre, de uma ponta a outra do Brasil, uma pena de 20 anos saltou para 67 anos.
Desculpem-me, mas eu tenho muito prazer de dizer isso para os senhores. Nós ficamos 11 dias sem dormir, realizamos
diligências de meses em dias, para que ela tivesse a prisão perpétua.
Sobre os questionamentos dos senhores, eu não vou me estender muito. As motivações são variadas, Deputado, desde
a ideologia, a religiosidade, a financeira e a vingança, preponderando, sim, essa questão de ideologia por todos os fatos
que eu já citei. Mas, no meu relatório, constam todos. Houve falhas do Estado? Houve, sim. Houve um sentimento ruim
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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

por parte da mãe para com o filho. E é por isso que a Comissão Direitos Humanos entra aqui, porque a criança estava
abandonada. É por isso que nós estamos aqui. Há um sentimento de isenção total.
Quero dizer a V.Exas. que a tônica que nós temos é no sentido da mobilização dos setores da sociedade que estão omissos.
Há discussão para a correção de falhas e, o que é melhor ainda, tudo isso voltado para o restabelecimento de pilares sociais
que foram esquecidos. E como isso se dá? Com essas ações.
Eu agradeço muito aos senhores e encerro aqui o meu pronunciamento.
O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Obrigado, mais uma vez, Dr. Guilherme.
Passo a palavra à Sra. Cláudia, para fazer as suas considerações finais.
A SRA. CLÁUDIA REGINA CARVALHO - Gostaria de agradecer também a voz dos senhores. Vou sair daqui com o
meu coração um pouco mais acalantado de saber que os senhores estão preocupados em dar voz a esse crime, para Rhuan
e, principalmente, para os avós dele.
No segundo dia após o crime, o avô de Rhuan me ligou — não sei quem deu a ele o meu contato — e disse: "Conselheira,
eu quero enterrar, pelo menos, um dedo do meu filho". Esse crime não pode permanecer em silêncio.
As vozes dos senhores aqui vão salvar muitas outras crianças que estão passando pela mesma situação que o Rhuan passou
e a Luena também, porque a alienação parental é um crime tamanho, brutal, que pode prejudicar toda uma vida.
Agradeço também à Ministra Damares, que tem estado conosco, desde segunda-feira, preocupada com a nossa atuação,
com as crianças, os adolescentes e a desproteção que tivemos todos esses anos. Digo desproteção, porque o conselho
tutelar está totalmente destruído. Nós temos conselho tutelar hoje interditado, atuando na Feira Popular de Ceilândia e em
uma salinha em Águas Claras, sob ameaça, sem proteção nenhuma. Para se proteger crianças e adolescentes, as instituições
também precisam estar protegidas.

Gostaria de agradecer profundamente a voz e a preocupação dos senhores, e trazer, mais uma vez, esse pedido, esse apelo
de que precisamos trabalhar o quanto antes. Devemos trabalhar a criança, porque, assim, acabamos estruturando toda a
família.
É isso.
Bom dia a todos e obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Obrigado, mais uma vez, Cláudia.
Passo a palavra para a Sra. Alinne.
A SRA. ALINNE DUARTE DE ANDRADE SANTANA - Quero aqui também parabenizar a atuação dos senhores. Pode
não ter comparecido a quantidade de Parlamentares que desejávamos, mas os que aqui estiveram, os que se pronunciaram
demonstram que têm uma missão.
Os senhores têm uma qualidade sem igual, são diferenciados, tanto que fazem parte de uma Comissão de Direitos
Humanos, para garantir, brigar. Os senhores são as vozes dos que não podem falar. Os senhores falam não apenas por um
partido político. Nós percebemos alma, Chris, quando ouvimos V.Exa. Nós percebemos vida quando ouvimos as Sras.
Deputadas e os Srs. Deputados. Existe uma missão. E aquele que nos chamou, com certeza, conta conosco. E não podemos
nos calar, cada um do seu lugar. E eu estarei ali, por quanto tempo me for permitido, nos direitos humanos, sendo voz
daqueles que não podem. Não temos pernas para ir a todos os lugares, mas, se cada um, do seu lugar, desempenhar a sua
missão e entender que nisso existe um propósito de vida, nós conseguiremos um êxito muito maior.
Eu quero parabenizá-los e dizer que a nossa rede precisa, sim, ser protegida, fortalecida, Deputado Filipe. Nós temos um
projeto, chamado Mapear, na Polícia Rodoviária Federal — eu queria trazer isso aqui como sugestão —, que atua em
pontos específicos contra violações sexuais nas estradas. Penso que é uma oportunidade de verificarmos e ampliarmos esse
projeto, e por que não acrescentarmos a interpelação, a intervenção, a interlocução, para que cada criança que passe dentro
de um ônibus, seja maior, mais acentuada, mais veemente essa investigação, essa abordagem. Penso que nós estamos
juntos.
O Deputado Filipe fomenta, neste dia, uma discussão e uma reflexão para todos nós. Os direitos humanos são para todos.
Como bem disse Lucas, os direitos humanos para todos têm sido a nossa missão, como Ministério.
Quero me colocar à disposição desta Casa e parabenizá-la, de verdade, porque faz valer os direitos humanos.
Parabéns a cada um dos senhores e senhoras, e especialmente V.Exa., Presidente, por essa iniciativa fantástica.
Estamos à disposição. Vamos fortalecer conselhos, a nossa rede, para que não percamos outros Rhuans.
Muito obrigada pela participação e que Deus abençoe cada um dos senhores.
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Reunião de: 27/06/2019 Notas Taquigráficas - Comissões CÂMARA DOS DEPUTADOS

O SR. PRESIDENTE (Filipe Barros. PSL - PR) - Obrigado, Alinne.


Antes de encerrar esta reunião, convoco os Deputados para as seguintes atividades: reunião de audiência pública para
debater o pacote anticrime, a ser realizada no próximo dia 2 de julho, terça-feira, às 10 horas, no Plenário 9 do Anexo II
desta Casa; reunião de audiência pública conjunta com as Comissões de Constituição e Justiça e de Cidadania e Comissão
de Trabalho, Administração e Serviço Público, com a presença do Ministro Sergio Moro, Ministro da Justiça e Segurança
Pública, a ser realizada no próximo dia 2 de julho, às 14 horas, no Plenário 1 do Anexo II desta Casa; reunião deliberativa
ordinária a ser realizada no próximo dia 3 de julho, quarta-feira, às 14 horas, no Plenário 9 do Anexo II desta Casa.

Declaro encerrada a reunião.

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