CATARINA ONEIDE PACHECO, qualificada nos autos, ingressou
com AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS contra
SOUZA CRUZ S/A, alegando que seu marido Davenir de Oliveira Alves, falecido em 23/04/2010, foi consumidor dos cigarros produzidos e fornecidos pela ré durante mais de trinta anos. Referiu que no ano de 2005 seu marido ajuizou ação cautelar de produção antecipada de provas (processo n. 010/1.05.0247595-4) em razão do estado debilitado de saúde em que se encontrava, sendo reconhecido através da perícia realizada pelo Dr. Dagoberto Fortuna, médico pneumologista, o nexo de causalidade entre a doença e a utilização do cigarro. Disse que os danos causados pelo cigarro foram progredindo silenciosamente com o passar do tempo, e quando detectada a causa dos problemas de saúde já não havia possibilidade de reversão do quadro apresentado. Argumentou que grande parcela da sociedade brasileira, assim como seu marido, é de origem humilde e possui pouca instrução, não compreendendo os riscos que o tabagismo pode causar à saúde, sendo que as restrições e obrigações impostas pela Lei n. 9.294/1996 chegaram tarde demais. Reproduziu informações veiculadas no site do INCA – Instituto Nacional do Câncer acerca dos riscos do consumo de cigarro. Afirmou que diante da evolução da doença causada pelo tabagismo seu marido não mais respirava voluntariamente, somente se deslocando com a ajuda de outras pessoas, diante da necessidade do transporte de botijões de oxigênio. Sustentou que o constrangimento sofrido, tanto pelo seu marido, como pela autora e sua família, são evidentes, sendo a ré responsável pela prática de ato ilícito, “seja consubstanciado na composição nociva da fórmula do produto, seja pelo defeito de informações quanto à nocividade e dependência”. Discorreu acerca do quantum indenizatório. Invocou o Código de Defesa do Consumidor. Requereu a procedência da ação, com a condenação da ré ao pagamento de indenização por danos morais, em valor não inferior a 3.200 (três mil e duzentos) salários mínimos nacionais. Postulou, por fim, a concessão do benefício da AJG. Acostou documentos. Foi deferido o benefício da AJG (fls. 186). Citada, a demandada Souza Cruz S/A apresentou contestação (fls. 193/266), arguindo prescrição. Discorreu acerca (I) da inexistência de defeito no produto; (II) da periculosidade inerente do cigarro; (III) da ausência de defeito de informação, diante do amplo e antigo conhecimento público de que fumar está associado a riscos, e ainda, da observância estrita do dever de informar, a partir da existência da obrigação legal; (IV) dos princípios da legalidade, irretroatividade e segurança jurídica; (V) da inexistência de violação ao princípio da boa-fé objetiva; (VI) da inexistência de publicidade enganosa ou abusiva; (VII) do livre arbítrio do fumante e da configuração da culpa exclusiva do consumidor, excludente de responsabilidade civil; (VIII) da ausência de nexo causal entre o alegado consumo de cigarros da marca Souza Cruz e a doença do de cujus. Argumentou que, na hipótese de condenação, o valor da indenização deve ser arbitrado levando-se em conta os parâmetros reais do padrão de vida da autora, assim como a razoabilidade e os limites estabelecidos pela jurisprudência pátria. Sustentou que incumbe à autora o ônus da prova dos fatos alegados na inicial, uma vez que estão em discussão dados que dizem respeito exclusivamente a fatos da vida do Sr. Davenir, fatos esses que são de domínio da demandante, e não da ré. Requereu a improcedência da demanda. Acostou documentos (fls. 267/967). Houve réplica (fls. 969/977). Instadas as partes a se manifestarem acerca do interesse na produção de provas (fl. 978), a autora postulou a produção de prova oral (fl. 980), e a demandada requereu, caso o juízo não entenda pelo julgamento antecipado da lide, a produção de prova documental e oral (fls. 981/987). Em despacho saneador, foi afastada a arguição de prescrição e indeferidas as provas pleiteadas (fls. 988/989), interpondo as partes agravo retido (fls. 991/992, 997/1.005).