SÉRGIO GINI
EXPEDIENTE SUMÁRIO
5 APRESENTAÇÃO
7 PREFÁCIO
E-mail: estandarte@ipib.org
25 O feudo Mestral-d’Allinges em Saubraz
Rua da Consolação, 2121 . CEP 01301-100
São Paulo-SP; Fone: (011) 3105-7773
dona Luizinha
T
CASAMENTO empos atrás, recebi uma informação do
MINISTÉRIO Rev. Sérgio Gini que muito me alegrou.
3 CAUSAS SOCIAIS
A Comissão de História e Museu havia
preparado um calendário para a realização
43 Dona Luizinha em São Paulo de lives ao longo do ano de 2021. Para o mês
de agosto, a previsão era de uma live sobre D.
51 O ministério pastoral Luiza Pereira de Magalhães, esposa do Rev.
55 Campanha da Princesa Eduardo Carlos Pereira. Eu estava preocupa-
do com essa questão. Será que conseguiría-
61 A 1ª Igreja Presbiteriana de mos reunir material para uma live inteira so-
bre essa ilustre mulher?
São Paulo
Foi em tais circunstâncias que o Rev. Gini me
66 Atuação na sociedade paulistana
informou que estava preparando um texto
sobre a D. Luiza, fazendo pesquisas a respei-
to dela. Era a solução para o problema que a
O ESTANDARTE
Comissão de História e Museu estava enfren-
FILHOS E NETOS tando.
4 DOENÇA E MORTE
É, pois, com muita satisfação que O Estan-
69 A atuação em O Estandarte darte entrega o fruto do labor do Rev. Gini
para a IPIB. Ele vem preencher uma lacuna
74 Os netos e, também, honrar a memória de uma ilustre
77 O ocaso esposa de pastor.
N
Sérgio Gini. Desejamos que o seu trabalho inspire e dê alen- ão é comum recordar o centenário da
to às esposas de pastores que padecem as agruras de seus morte de alguém. Até mesmo os chama-
maridos. Desejamos, também, que este trabalho estimule o dos grandes heróis da pátria, depois de
aparecimento de outros semelhantes sobre outras notáveis um tempo, acabam esquecidos e somente
mulheres de nossa história. são lembrados em livros escolares ou em
publicações muito especializadas. Outros se
Este Caderno é publicado com o número 12. Com isso, preten- tornam nomes de ruas e avenidas, de praças
demos dar continuidade a uma atividade desenvolvida por O ou qualquer outro logradouro público, na
Estandarte por ocasião da celebração do centenário de orga- maioria das vezes sem qualquer relação de
nização da IPIB. Naquela época, 11 cadernos vieram a lume. proximidade com a cidade ou o bairro.
São cadernos que servem para resgatar a história da nossa
igreja, muitas vezes ignorada e desprezada. Com a espantosa velocidade da informação e
o desenvolvimento da tecnologia nestes tem-
Dessa maneira, continuamos a afirmar a importância da his- pos hipermodernos, onde tudo está acelera-
tória. Com ela, temos condições de resgatar o passado que do em sua última potência, retroceder 100
fecunda o presente e inspira o futuro. anos no tempo, convenhamos, não atrai mui-
ta gente. Este campo acaba ficando restrito
aos historiadores e outros pesquisadores das
Rev. Gerson Correia de Lacerda ciências humanas.
1
S
eu nome confunde-se com o de seu espo-
so nos relevantes serviços prestados para
a igreja nacional antes e depois da cisão
de 1903. Entretanto, na história dos 118 anos
da IPIB, há poucas e esparsas informações
sobre a vida desta mulher que teve uma par-
ticipação fundamental como sustentáculo
do ministério do Rev. Eduardo. Mesmo quan-
do da notícia do seu falecimento, há apenas
alguns traços biográficos trazidos pelo Rev.
Vicente Themudo Lessa, historiador dos
primórdios do presbiterianismo pátrio.
Origem e
brações do centenário de nascimento do Rev.
Eduardo Carlos Pereira, novamente peque-
tragédia
nas informações, até então desconhecidas,
de dona Luizinha são apresentadas no jornal
familiar
O Estandarte, inclusive algumas delas revela-
das por sua própria filha.
Na época romana, o local da Abadia de Saint Maurice era cha- Em Vouvry havia uma outra família influente, os Boquis, re-
mado Agaunum, localizado na estratégica e importante parte gistrados desde o final do século XV, e que parecem ser os
estreita do Rio Rhône. A famosa legião romana Theban, lide- mesmos da família Bochi, que aparece em documentos des-
rada pelo capitão Mauritius, ficava posicionada ali. No século de 121420. Jacques Bochi (Bochy, Boche, Bothe, Bochis ou Bo-
III, essa legião foi completamente aniquilada por conta de sua chiz, Boquis) é citado como chanceler de Saint Maurice, entre
adesão à fé cristã. A Abadia de Saint Maurice foi instalada so- 1235-1258, além de reitor do hospício de Saint Jacques, em
bre o túmulo desses mártires, no ano 515, por Sigismundo, fi- 1250. Maurice Bochi aparece como burguês, cônsul, síndico
lho do rei dos Borgonha, Gundobad. A partir de então, a Abadia e promotor de Saint Maurice, entre 1275-1281. Mais de um sé-
cumpriu um papel importante como centro de veneração dos culo depois, temos outro personagem de destaque, Hippolyte
mártires e sendo a principal igreja do Reino da Borgonha. Boquis, métral21 da Abadia de Vouvry, em 1508.
André Donett19 informa a existência de uma família de nome Bernar- Dona Luizinha era descendente direta destas duas famílias.
di (Bernardus, Barnard) de Vevey, localizada na margem nordeste do Os Boquis e os Bernardi d’Allinges se uniram por volta de
lago Léman, na região de Vaud. Esta mesma família se mudará para 1500, quando Nicolas Boquis se casou com Bernardine Ber-
Vouvry, distrito de Monthey, na região de Valais, por volta de 1329. nardi d’Allinges. Em 1515, os documentos informam que Ni-
colas deu ao abade de Saint Maurice, seu cunhado Jean Ber-
18 Vouvry é uma comuna pertencente ao distrito de Monthey, atualmente pertencente ao cantão de
Valais. Sua história está registrada desde o século XI e intimamente ligada à Abadia de Saint Maurice 20 DONETT, André (Ed.). Op. Cit. p. 39.
(REY, David: "Vouvry", in: Dictionnaire historique de la Suisse (DHS), version du 05.01.2015. Online: 21 O métral é a pessoa responsável por cuidar das vinhas do proprietário e recrutar o pessoal
https://hls-dhs-dss.ch/fr/articles/002745/2015-01-05/). necessário nas grandes propriedades. Na Suíça, em particular no Valais, o nome continua até hoje
19 DONETT. Op. Cit., p. 27 como uma função e designa aquele que cultiva a videira por conta de um proprietário.
22 LEVET, Clovis. Vouvry à travers les âges. In Petites Annales Valaisannes. Sion, 1935, pp. 24, 25,
44-52. 24 Na Idade Média, o feudo era formado pelo senhor feudal e por camponeses, livres ou em
23 Vincy é uma aldeia vitivinícola pertencente à comuna de Gilly, atualmente parte do cantão de condição de servidão. Havia ainda artesãos nos feudos, representando um número pequeno de
Vaud. Desde a Idade Média havia dois senhorios e donos dos castelos nesta terra, um conhecido como pessoas, exercendo trabalhos agrícolas para sua subsistência. Esse modelo político deu origem ao
de Vaux e o outro em Vincy. Com exceção de alguns momentos de guerras, a família Mestral possuía termo econômico feudalismo.
os dois senhorios desde o século XIV (HAUSMANN, Germain: "Gilly", in: Dictionnaire historique de la 25 DESSEMONTET, Olivier. Le fief Mestral-d'Allinges à Saubraz. In Revue Historique Vaudoise,
Suisse (DHS), version du 18.11.2005. Online : https://hls-dhs-dss.ch/fr/articles/002602/2005-11-18/). n. 69, 1961, pp. 49-78.
26 O Consistório era, nos cantões protestantes, um corpo judiciário composto por pastores e anciãos 27 DESSEMONTET, Olivier. Op. Cit. p. 65.
leigos e eleitos pela Igreja. Seu propósito era liderar a igreja local e controlar os costumes dos cidadãos. 28 DESSEMONTET, Olivier. Op. Cit. p. 72.
2 linha materna de
dona Luizinha
O
s ancestrais de Louise Caroline Lauper
estão bem documentados e há registros
sobre várias de suas atividades. Em nos-
sas pesquisas, conseguimos traçar a sua ge-
nealogia desde meados do século 15.
IMIGRAÇÃO
5. Jean Boquis d’Allinges Casado com Jeanne Judith Henriette
Casado com Antoinette Bemondi, em Uldry, em Saubraz.
12/12/1538 em Vouvry.
11. Jean François Louis Dallinge.
6. Nicolas Boquis d’Allinges. Residência Nascido em 26/03/1764 e falecido em
documentada em Saubraz 04/02/1858
Casado com Jacqueline Mestral, por Casado com Jeanne Louise Hadorn,
volta de 1600 em Saubraz.
Colônia suíça em Nova Friburgo, a primeira 29 As 10 Teses de Berna foram redigidas pelos reformadores Berthold Haller, Sebastian Meyer e
Franz Kolb. Posteriormente, o texto foi revisado por Zuínglio e publicado em alemão, latim e francês por
do gênero no Brasil
Guilherme Farel e Ecolampádio, para que fosse usado numa conferência em Berna, convocada pelo
governo da cidade, durante o período de 7 a 26 de janeiro de 1528. As 10 Teses de Berna serviram de
base para a Declaração Sinodal de Berna, em 1532.
30 GOATES, Kenneth Joseph. This is one family: the lives, ancestors, and posterity of… Salt Lake
City (UT): Family History Library, 2003, p. 33-50
31 O general Guillaume Henri Dufour (1787-1875) é um dos nomes mais respeitáveis da história da
Confederação Suíça e um dos fundadores da Cruz Vermelha. Em 1847, ele assumiu o comando do
Exército suíço com o posto de general. Nesse mesmo ano, liderou a guerra de Sonderbund contra os 32 Fundado para expor as suas coleções de pintura, escultura, porcelanas, faianças, móveis etc.,
sete cantões separatistas católicos e conquistou a paz, graças ao seu talento como estrategista, em Revilliod deu-lhe esse nome em homenagem à sua mãe, Ariane de la Rive. O Museu Ariana está
25 dias de guerra, com perdas mínimas para todas as partes. Durante esta guerra, ele ordenou a seus localizado no Parque Ariana e foram doados por Revilliod para a cidade de Genebra. Neste parque
soldados que poupassem os feridos, prisioneiros e aqueles que estavam indefesos. encontra-se a sede da ONU.
O excedente da população agrícola, a fragmentação das pro- A imagem “Apelo da pátria” era vendida em Genebra
priedades e a concentração do capital fundiário aumentaram em 1868 em favor das vítimas das enchentes
Crédito da foto: Le Carillon, outubro de 1868.
o número de camponeses sem terra. Ao mesmo tempo, a
baixa renda obrigou os pequenos agricultores, especialmente
aqueles que possuíam crianças pequenas, a venderam a sua
força de trabalho para os camponeses mais abastados.
34 NICOULIN, Martin. A gênese de Nova Friburgo: emigração e colonização suíça no Brasil (1817-
1827). Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1995, p. 33. 36 ARLETTAZ, Gerald. Émigration et colonisation suisses en Amérique 1815-1918. In Études et
35 TEIXEIRA. Mateus Barradas. Conflitos religiosos em torno da instalação dos protestantes Sources, V. 5. Revue des Archives fédérales suisses. Berna, 1979, p. 157.
luteranos em Nova Friburgo nas primeiras décadas do Século XIX. Dissertação (Mestrado em História). 37 ARLETAZ, Gerald. Op. Cit.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2018, p. 75. 38 JOURNAL MURAL. Op. Cit.
Esse registro sobre as condições dos suíços em sua pá- Localizamos o primeiro registro sobre os Lauper no Brasil em
tria e sobre a imigração para o Brasil é necessária, pois uma notícia sobre a saída de navios do porto do Rio de Janei-
podemos incorrer no erro de tentar dar aos helvéticos ro, o que era comum nos jornais diários da época. Nela lemos
do século XIX o mesmo tratamento de hoje, no século que Jacques Lauper e sua família embarcaram no paquete
XXI, ou seja, pessoas que saíram de um país maravilho- America40 com destino ao porto de Santos, em 10 de julho de
so, rico, instruído, para se aventurarem nas selvas ou 1878 41. Em 6 de novembro de 1879, mais de um ano depois,
sertões brasileiros. Essa ideia é totalmente anacrônica. Jaques Lauper e família voltam ao Rio de Janeiro conforme
Quando os Lauper chegam ao Brasil, o país já era muito registro na Gazeta de Notícias42. A viagem em um vapor de
mais populoso do que a Suíça e clima tropical era muito luxo, indica, em princípio, que a família estava bem estabele-
melhor do que aquele das torrenciais chuvas e nevas- cida no Brasil.
cas dos alpes suíços. Na matéria de janeiro de 1943 em O Estandarte, há a informa-
ção de que Jacques Lauper teria vindo para o Brasil a convite
do seu conterrâneo, o jardineiro Dierberger, para trabalhar nos
jardins da mansão de dona Veridiana Prado, em São Paulo.
Novamente, os dados não são corretos. Primeiro que, embo-
ra tenha sido criado em Zurique, Johann Dierberger nascera
em Baden, na Alemanha. Segundo que Dierberger só chegou
ao Brasil em 1888 (cerca de dez anos depois de Lauper) e foi
43 Dierberger conheceu dona Veridiana em sua fazenda em Minas Gerais e foi contratado como
jardineiro para trabalhar na Chácara do Carvalho, de propriedade de Antônio da Silva Prado, pai
de Veridiana, em São Paulo. Somente em 1893 é que Dierberger iniciou o seu empreendimento de
produção e comercialização de plantas ornamentais, hortícolas e frutíferas, bem como a elaboração e
execução de jardins. Ver ENOKIBARA, Marta. Organizações Dierberger (1893-1940). In Paisagem e
Ambientes: Ensaios. N. 38, São Paulo, 2016, pp. 35-54.
44 FOLLY, Luiz Fernando Dutra. A história da praça Princesa Izabel em Nova Friburgo: o projeto
esquecido de Glaziou. Dissertação (Mestrado em Ciências do Urbanismo). Universidade Federal do
Rio de Janeiro, 2007. 45 O Estandarte, 1/09/1921, p. 1
3 São Paulo
S
abemos pelo Rev. Vicente Themudo Lessa
que dona Luizinha quando veio para o Bra-
sil, provavelmente no início de 1877, teria
ido morar em Cantagalo, cidade da qual Nova
Friburgo havia sido distrito46. Albertino Pinheiro
acrescenta que ela teria ido para a casa de
uma família de fazendeiros montanheses47 e
Albina de Campos completa que fora contrata-
da como professora “numa família da Corte,
ricos proprietários e fazendeiros entre as mon-
tanhas da província do Rio de Janeiro”.48
CASAMENTO
MINISTÉRIO
46 Pelo primeiro censo do Império do Brasil, realizado em 1872,
Cantagalo era a 23ª. maior cidade do Brasil, com 42.860 moradores, dos
quais 14.815 eram escravos. A cidade era maior do que São Paulo que
registrava apenas 31.385 moradores (1.338 escravos). Ver PAIVA, Clotilde
designado como evangelista para o campo de Lorena, que Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, janeiro de 2012.
74 A igreja, que voltou à atividade hoje em dia, foi organizada pelo Rev. Alexander L. Blackford. Entre
abrangia Cruzeiro, Embaú, Cachoeira, Pindamonhagaba, Gua- 1870 e 1875, a igreja de Lorena foi pastoreada pelo Rev. Modesto Carvalhosa.
Pelo visto, as lembranças desta viagem de seis dias deixaram 81 Tratava-se do vigário de Campanha, Pe. Francisco de Paula Araújo Lobato. Ver VEIGA, Leonardo
marcas profundas em dona Luizinha que as compartilhou e, Saturnino da. Almanak Sul-Mineiro para 1884. Rio de Janeiro: Typographia Universal dos Irmãos
Laemmert & Cia., 1884, p. 89.
provavelmente, as reformulou tempos depois para as amigas 82 O Estandarte, 8/11/1955, p. 22-24.
90 O “Diccionario de medicina popular e das sciencias accessorios para uso das familias, contendo
Caxambu, no circuito das fontes termais mineiras. Ver PARANHOS, Paulo. Medicina entre flores: a a descripção das Causas, symptomas e tratamento das moléstias; as receitas para cada molestia; As
crenoterapia e os médicos de Caxambu no século XIX. Revista da ASBRAP, n. 20, 2014, p.147. plantas medicinaes e as alimenticias; As aguas mineraes do Brazil, de Portugal e de outros paizes; e
87 O Estandarte, 7/01/1943, p. 21. muitos conhecimentos uteis”, em dois volumes, de autoria do médico francês radicado no Brasil Pedro
88 VEIGA, Leonardo Saturnino da. Almanak Sul-Mineiro para 1884. Rio de Janeiro: Typographia Luiz Napoleão Chernoviz (1812-1881), lançado em 1842, teve ao todos seis edições e foi um sucesso
Universal dos Irmãos Laemmert & Cia., 1884, p. 85. de vendas no Brasil.
89 O Estandarte, 5/01/1934, p. 2. 91 O Estandarte, 7/01/1943, p. 21.
92 CORRÊA. Op. Cit. p. 49. Mapa da cidade de São Paulo com os principais estabelecimentos em 1877
93 O primeiro folheto impresso pela SBTE, em 1884, foi “O culto dos santos e dos anjos”, de autoria
do Rev. Eduardo Carlos Pereira.
96 O termo “pastor colado” era utilizado para designar o obreiro que era sustentado integralmente
em seu ministério por uma igreja.
94 Imprensa Evangelica, 2/10/1896. 97 CASIMIRO. Op. Cit. p. 89. O autor reproduz uma cópia da carta-convite do Conselho da Igreja ao
95 A Revista das Missões Nacionais foi o órgão de divulgação das finanças do presbiterianismo Rev. Eduardo. Nela há a promessa de pagamento mensal de 250$000 (duzentos e cinquenta mil réis)
brasileiro e durou mais de trinta anos. Ver MATOS, Op. Cit. p. 332. e mais casa para moradia.
98 LESSA, Op. Cit. p. 357. Nos episódios mais difíceis da carreira ministerial do seu
99 BARROS, Maria Paes de. No tempo de dantes. 2ª. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
100 As quatros senhoras eram filhas do Comendador Luiz Antonio de Souza Barros, um dos grandes esposo, especialmente aqueles que se transcorreram entre
nomes da aristocracia imperial paulistana de meados do século XIX. Cafeicultor, senhor de escravos e 1892 a 1903 e que culminaram com a cisão no Sínodo e o
moderno capitalista, foi um dos organizadores da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Possuía
posses, escravos e propriedades em São Paulo, Piracicaba, Campinas e São Carlos. Tinha uma vida surgimento da Igreja Presbiteriana Independente, dona Luizi-
ligada tanto a São Paulo quanto ao Rio de Janeiro. Foi o primeiro prefeito da então província de São
Paulo. Ver TORRES, Maria Celestina Teixeira Mendes. Um lavrador paulista do tempo do Império.
Piracicaba, SP: Equilíbrio, 2010.
101 MOTT, Maria Lucia; SANGLARD, Gisele (orgs). História da saúde em São Paulo: instituições e 103 RIBEIRO, Boanerges. A Igreja Presbiteriana no Brasil, da autonomia ao cisma. São Paulo: O
patrimônio arquitetônico (1808-1958). Barueri, SP: Minha Editora, 2011. Semeador, 1987, p. 308, 309.
102 ASSIS, Célia de (coord). Valores humanitários: a história do Hospital Samaritano. São Paulo: 104 O Estandarte, 1/09/1921, p. 4.
Prêmio Editorial, 2001. 105 RIBEIRO, Op. Cit., p. 337.
arquivo O Estandarte
poderia desabafar e contar com o seu irrestrito apoio. O Rev.
Vicente Themudo Lessa, que foi aluno do curso preparatório
e um dos pastores fundadores da IPIB registra alguns adjeti-
vos importantes sobre a atuação de dona Luizinha na vida da
Igreja:
4 O Estandarte
N
ão há registros de artigos ou outras publi-
cações assinadas por mulheres protes-
tantes nos 28 anos de atividades do jor-
nal Imprensa Evangelica, fundado pelo Rev.
Simonton e que serviu à Igreja Presbiteriana
no Brasil de 1864 a 1892. Contudo, como o
jornal procurava discutir assuntos do cotidia-
no da Corte, dois artigos assinados por mu-
lheres católicas nos chamam a atenção. O
primeiro saiu na edição de 4 de setembro de
1880, reproduzido do jornal Colombo, e assi-
nado por Amelia Carolina da Silva Couto, uma
líder feminista que era a proprietária e reda-
tora-chefe do jornal Eco das Damas. O artigo
“A mulher e a religião” enfocava a mulher
como base primordial da família: “A mulher de
hoje também estuda, também pensa, saben-
do conhecer o que é útil e o que é mau para a
família”110. O segundo artigo foi publicado em
1885 e é creditado à escritora portuguesa Ma-
O ESTANDARTE ria Amália Vaz de Carvalho111 com o título “A
educação da mulher”. Nele, a autora defende
FILHOS E NETOS 110 Imprensa Evangelica, 4/09/1880, p. 276.
DOENÇA E MORTE 111 Maria Amália nasceu em Lisboa em 1847 e lá faleceu em 1921.
Casada com o poeta Gonçalves Crespo, a sua residência tornou-se o
primeiro salão literário de Lisboa, frequentando por vários intelectuais
portugueses, entre eles Eça de Queirós. Poetisa consagrada e jornalista
reconhecida, dedicou-se a questões como a educação e o papel da mulher
na sociedade da época. Foi a primeira mulher a ingressar na Academia de
Ciências de Lisboa.
120 Foi o único descendente de dona Luizinha e do Rev. Eduardo que alcançou o ministério pastoral.
Foi pastor da IPIB e, depois, auxiliar na Igreja Cristã de São Paulo. Deixou o ministério para dedicar-se
ao magistério superior. Faleceu aos 51 anos de idade vítima de um acidente de automóvel. Assim como
seu avô, é nome de rua em São Paulo, no bairro Butantã. Ver PREFEITURA DE SÃO PAULO, decreto
nº 11.867, de 17/03/1975.
121 O Estandarte, 26/05/1921, p. 7. Charles Todd (1892-1964) era filho do Rev. Thomas Bonner
Stewart, pastor da Igreja Presbiteriana de Back Creek, em Chalortte, Carolina do Norte. Charles
retornou ao Brasil em 1923 tendo permanecido até 1933 quando voltou definitivamente para os Estados
Unidos. Foi diretor do Mackenzie em 1932, durante a Revolução Constitucionalista. Ver GARCEZ,
Álbum de família
Álbum de família
veio. Sua última viagem ocorreu em 1916 quando embarca
com um sobrinho, Carlos Meyer, para a Argentina 125, a fim
Carlos Pereira de Magalhães e sua esposa de se encontrar com o Rev. Eduardo que, após participar do
Gertrudes Paes de Barros
Congresso da Ação Cristã na América Latina, de 10 a 19 de
fevereiro no Panamá126, estava em uma série de conferências
Álbum de família e Sérgio Gini
Acervo de O Estandarte
santo foi feito a pé, sendo o féretro
acompanhado por um grande
número de pessoas, tanto da
sociedade paulistana quanto das
igrejas evangélicas de São Paulo.
129 Dona Luizinha e o Rev. Eduardo moravam na casa que haviam construído, na Rua Itambé, n°
47, em Higienópolis, na mesma rua da Escola Americana e do Mackenzie. A casa era vizinha a do Dr.
128 O Estandarte, 1/09/1921, p. 4. Arthur Rudge Ramos, famoso jurista, que morava na casa n° 45.