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Teoria Geral do Direito Privado

7 - Extinção da personalidade natural

7.1 - Modos de extinção

"Preceitua o art. 6º do Código Civil que ‘A existência da pessoa natural termina com a morte;
presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
definitiva'."
"Somente com a morte real termina a existência da pessoa natural, que pode ser também
simultânea (comoriência). Doutrinariamente, pode-se falar em: morte real, morte simultânea ou
comoriência, e morte presumida."

Morte real

Embora ainda sejam assegurados alguns direitos da personalidade aos mortos, como a
integridade do cadáver, o direito ao nome, imagem, dentre outros. Uma vez violados estes
direitos, seus herdeiros poderão ajuizar uma ação de indenização pelos prejuízos sofridos.

O artigo 3º da Lei 9434 de 1997 sinaliza que considera-se a morte a partir do encerramento das
atividades cerebrais, o que deve ser constatado por médico (ressalvada a possibilidade de duas
testemunhas, na ausência de médico na localidade, atestarem a morte - neste caso, por exame
externo que aponte o não funcionamento das funções vitais), sendo tal fato levado a registro.

"A morte real é apontada no art. 6º do Código Civil como responsável pelo término da
existência da pessoa natural. A sua prova faz-se pelo atestado de óbito.

"A morte real extingue a capacidade e dissolve tudo (mors omnia solvit), não sendo mais o morto
sujeito de direitos e obrigações. Acarreta a extinção do poder familiar, a dissolução do vínculo
matrimonial, a abertura da sucessão, a extinção dos contratos personalíssimos, a extinção da
obrigação de pagar alimentos, que se transfere aos herdeiros do devedor (CC. Art. 1.700) etc."

Morte simultânea ou comoriência

"A comoriência é prevista no art. 8º do Código Civil. Dispõe este que, se dois ou mais
indivíduos falecerem na mesma ocasião (não precisa ser no mesmo lugar), não se podendo
averiguar qual deles morreu primeiro, ‘presumir-se-ão simultaneamente mortos'."

"O principal efeito da presunção de morte simultânea é que, não tendo havido tempo ou
oportunidade para a transferência de bens entre comorientes, um não herda do outro. Não há,
pois, transferência de bens e direitos entre comorientes. Por conseguinte, se morre em acidente
casal sem descendentes e ascendentes, sem se saber qual morreu primeiro, um não herda do
outro. Assim, os colaterais da mulher ficarão com a meação dela, enquanto os colaterais do
marido ficarão com a meação dele."

Morte presumida
"A morte presumida pode ser com ou sem declaração de ausência.

O art. 7º prevê dois casos de morte presumida, sem decretação de ausência, a saber:

I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;(um


exemplo dessa hipótese foi a declaração de morte presumida do pedreiro
Amarildo - que foi negada em 1ª instância e só foi declarada pelo TJRJ)

II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até


dois anos após o término da guerra.

Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida
depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do
falecimento.

Há, ainda, a justificação de óbito prevista no art. 88 da Lei dos Registros Públicos (Lei n.º
6.015/73), quando houver certeza da morte em alguma catástrofe, não sendo encontrado o
corpo do falecido:

"Art. 88. Poderão os Juízes togados admitir justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas
em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe, quando estiver provada a sua
presença no local do desastre e não for possível encontrar-se o cadáver para exame.

Parágrafo único. Será também admitida a justificação no caso de desaparecimento em campanha, provados
a impossibilidade de ter sido feito o registro nos termos do artigo 85 e os fatos que convençam da
ocorrência do óbito."

Por outro lado, há a morte presumida com declaração de ausência.

A ausência pode ser considerada como hipótese de morte presumida, decorrente do


desaparecimento da pessoa natural, sem deixar corpo presente (morte real). Em outras palavras,
ocorre nos casos em que a pessoa está em local incerto e não sabido, não havendo indícios das
razões do seu desaparecimento.

Uma vez desaparecida uma pessoa e constatada a impossibilidade de localizá-la poderá ter início
o processo judicial de declaração de ausência.

Tal processo é marcado, basicamente por três fases. A primeira fase se destina ao levantamento
(arrecadação) do patrimônio (conjunto de direitos, bens e créditos) do desaparecido e à
nomeação de um curador provisório, o que pode ser dispensado se o próprio desaparecido tiver
um representante.

Sobre a primeira fase assim dispõe o Código Civil de 2002 que, desaparecendo a pessoa sem
notícias e não deixando qualquer representante, é nomeado um curador para guardar seus bens,
em ação específica proposta pelo Ministério Público ou por qualquer interessado.
Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário
que não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem
insuficientes.

O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de
dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo curador.

Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos descendentes,
nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo.

Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos.

Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador.

A segunda fase, denominada de sucessão provisória tem início, nos termos do artigo 26 do
Código Civil, decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou
representante ou procurador, em se passando três anos, a pedido dos interessados. O Ministério
Público só pode pedir a abertura da sucessão provisória findo o prazo aqui mencionado, não
havendo interessados em relação à herança.

São considerados interessados:

I - o cônjuge não separado judicialmente;

II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;

III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte e, por fim,

IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.

Estando de acordo o requerimento, deverá ser proferida uma sentença, nos termos do artigo 28
do Código Civil, que determinará a abertura da sucessão provisória e só produzirá efeito cento
e oitenta dias depois de publicada pela imprensa.

Tão logo após o trânsito em julgado da sentença, proceder-se-á à abertura do testamento, se


houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido.

Passado o prazo acima e não havendo interessados na sucessão provisória, cumpre ao


Ministério Público requerê-la ao juízo competente.

Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário até trinta dias depois de
passar em julgado a sentença que mandar abrir a sucessão provisória, proceder-se-á à
arrecadação dos bens do ausente para eventual transferência ao município nos termos dos
artigos 1.819 a 1.823 do Código Civil.
O artigo 29 do Código Civil dispõe, ainda, que antes da partilha, o juiz, quando julgar
conveniente, ordenará a conversão dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em
imóveis ou em títulos garantidos pela União.

Uma vez que esta fase de sucessão é provisória, determina o artigo 30 do Código Civil que os
herdeiros somente poderão se imitir na posse dos bens do ausente se derem garantias da
restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes aos quinhões respectivos.

Se alguém tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia exigida neste artigo,
será excluído, mantendo- se os bens que lhe deviam caber sob a administração do curador, ou
de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste essa garantia.

Aquele sucessor provisório que foi excluído por não apresentar garantia, poderá, justificando
falta de meios, requerer lhe seja entregue metade dos rendimentos do quinhão que lhe tocaria.

A garantia poderá ser dispensada se os herdeiros forem os ascendentes, os descendentes e o


cônjuge.

Durante a fase de sucessão provisória estão proibidas as alienações e a realização de hipotecas


sobre os imóveis do ausente,salvo se, mediante ordem judicial, seja para evitar a ruína.

Após a imissão na posse dos bens, os sucessores provisórios ficarão representando ativa e
passivamente o ausente, de modo que contra eles correrão as ações pendentes e as que de
futuro àquele forem movidas.

Os sucessores provisórios, especialmente o descendente, ascendente ou cônjuge que, farão seus


todos os frutos e rendimentos dos bens que a este couberem; os outros sucessores, porém,
deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos, de acordo com o representante do
Ministério Público, e prestar anualmente contas ao juiz competente.

Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de estabelecida a posse provisória,


cessarão para logo as vantagens dos sucessores nela imitidos, ficando, todavia, obrigados a
tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu dono.

Em razão do princípio da boa-fé, o artigo 33, parágrafo único do Código Civil dispõe que se o
ausente aparecer, e ficar provado que a ausência foi voluntária e injustificada, perderá ele, em
favor do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos.

Encerrada a sucessão provisória, no prazo mínimo de dez anos depois de passada em julgado a
sentença que concede a abertura de tal fase, poderão os interessados requerer a sucessão
definitiva e o levantamento das cauções prestadas.

A sucessão definitiva consiste na terceira fase da declaração de ausência.

A sucessão definitiva pode também ser requerida diretamente quando o ausente contar com
mais oitenta anos de idade e há pelo menos cinco anos não se tiver notícias dele.
Com a sucessão definitiva os bens serão transferidos definitivamente aos herdeiros da fase de
sucessão provisória.

Entretanto, de acordo com o artigo 39 do Código Civil, se o ausente, ou algum de seus


descendentes ou ascendentes, regressar nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva,
aquele ou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em
seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens
alienados depois daquele tempo.

Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não regressar, e nenhum interessado
promover a sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do
Distrito Federal, se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da
União, quando situados em território federal.

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