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DE TERAPIA COMPORTAMENTAL
V. 21, N.3, JUL./SET., 2019 E COGNITIVA
ESPECIAL
CRIATIVIDADE
Revista Brasileira de Terapia
e-ISSN: 1982-3541 Comportamental e Cognitiva
ESPECIAL: CRIATIVIDADE
Volume 21, n. 3, jul./set. 2019
EDITORIAL
V ivemos tempos turbulentos, problemas se acumulam
e soluções são necessárias, porém nem sempre estas
soluções são encontradas, e mesmo quando são, estas po-
dem não vir em tempo e forma adequada. Joy Paul Guil-
ford, que foi presidente da APA (American Psychological Coordenação do Volume:
Association) e um dos primeiros pesquisadores da Psicolo- Hernando Borges Neves Filho
gia dedicado ao estudo da criatividade escreveu: “Viver é en-
carar problemas, e resolver problemas é crescer intelectual- Editor Chefe
mente. É possível afirmar que nunca antes um número tão Paulo Roberto Abreu
Instituto de Análise do
grande de indivíduos informados e intelectualmente capa-
Comportamento de Curitiba (IACC),
zes viveram neste planeta, ainda assim, os problemas a se- Brasil
rem solucionados ainda são esmagadores” (Guilford, 1967,
Editores Associados
p. 12). Isto foi escrito no século XX, porém é mais atual do
Fernanda Suemi Oda
que nunca no século XXI. University of Houston-Clear Lake
A criatividade é a maneira pela qual animais vencem obs- (UHCL), Estados Unidos
táculos e desafios. Frente a um problema, uma barreira, uma
Olivia Gamarra
nova configuração do ambiente, novos comportamentos sur- Universidad Católica Nuestra
gem, e novas práticas culturais tomam forma para dar con- Señora de la Asunción, Flial Alto
ta desses problemas. A ciência, a tecnologia e as artes foram Paraná, Paraguai
mas imediatos, a longo prazo, individuais e sociais. Mas, o Fabiane Ferraz Silveira Fogaça
que seria essa criatividade, quais as suas origens, qual o pa- UNITAU, Brasil
pel dela na resolução de problemas? Estas não são pergun-
Hernando Borges Neves Filho
tas simples, entretanto analistas do comportamento tem cada Universidade Federal do Pará,
vez mais se dedicado a estes temas, e suas contribuições têm Brasil
sido certeiras e bem-vindas em diversos outros campos de
estudo que se dedicam ao entendimento da criatividade (e.g., DOI: 10.31505/rbtcc.v21i2.1449
Simonton, 2000).
Um diferencial de uma abordagem comportamental da
criatividade é seu foco em previsão e controle, o que de ime-
diato gera a possibilidade de se estimular, fomentar e mesmo É permitido compartilhar e adaptar. Deve dar o crédito
apropriado, não pode usar para fins comerciais.
treinar a criatividade, ou em termos mais técnicos, o aparato
conceitual da Análise do Comportamento nos cluem que essa relação é complexa, porém in-
permite tanto entender ambientes que controlam dicam que muitos avanços no seu entendimento
a emissão de comportamentos novos e funcio- tem ocorrido em tempos recentes. O texto en-
nais, como também criar ambientes com este cerra com um importante questionamento so-
propósito. Este é um potencial que tem franco bre os impactos sociais advindos da populari-
impacto na forma como podemos encarar e re- zação, muitas vezes superficial, da complexa
solver os problemas educacionais, organizacio- relação entre criatividade e transtorno mental.
nais, clínicos, sociais e tecnológicos que hoje
nos cercam, e por isto mesmo, a abordagem Gabriel Vitti e Carolina Laurenti apresen-
comportamental da criatividade tem sido cele- tam um estudo de caso que utiliza de Walden
brada. Neste volume especial da Revista Bra- II para analisar o papel da arte e do artista
sileira de Terapia Comportamental e Cogniti- em uma sociedade, e partindo da perspecti-
va apresentamos com muito orgulho um retrato va do behaviorismo radical, os autores per-
das pesquisas de ponta que têm sido realizadas guntam: “se o comportamento artístico pode
no tema. Nosso volume contém artigos de gru- ser planejado e controlado, com qual propó-
pos de pesquisa de norte à sul do país, e tam- sito isso deveria ser feito?”. Partindo disto,
bém de outros países, artigos estes que perpas- a identificação e apresentação das funções e
sam questões conceituais, básicas e aplicadas. usos da arte na ficção skinneriana revelam
como o comportamento criativo, e a função
Joseph Dracobly faz um amplo e compe- do artista, podem ser entendidos em uma pers-
tente apanhado da relação entre variabilidade pectiva behaviorista radical. O texto encer-
comportamental e criatividade, usando de estu- ra com uma poderosa mensagem, a de que a
dos conceituais e aplicados para mostrar como arte, entendida como um tipo de controle so-
a Análise do Comportamento está bem equipada cial, deve ser considerada nas discussões éti-
para entender, lidar e estimular a criatividade. co e políticas que envolvem análise e plane-
jamento cultural.
Tiago Magalhães faz uma detalhada análise
conceitual sobre o papel da percepção na reso- Ainda discutindo Skinner, Emerson da Cos-
lução de problemas. Partindo de exemplos re- ta Leite e Nilza Micheletto fazem uma detalha-
lacionados à figuras ambíguas e seus efeitos da análise de como Skinner trabalhou a criativi-
sobre a resolução de problemas, o autor dis- dade humana em suas outras obras, para além
cute as origens e produtos do chamado “Insi- de Walden II. Os autores fazem uma impor-
ght”, fazendo assim uma importante e moderna tante retomada da discussão de Skinner acerca
aproximação entre Análise do Comportamen- de comportamentos precorrentes, autocontro-
to e alguns pressupostos da clássica Psicolo- le, recordação, tomada de decisão e resolução
gia da Gestalt, indicando por fim futuros cami- de problemas, tudo isso à luz de novos dados e
nhos para a pesquisa empírica sobre resolução discussões acerca da criatividade, dando assim
de problemas. novo fôlego à proposta skinneriana, proposta
essa que muitas vezes é injustamente ofuscada
Marina Nogueira e Denise Fleith apresen- por modelos empíricos mais recentes.
tam, com base em dados modernos, qual a re-
lação entre criatividade e transtorno mental, um Hernando Neves Filho, Felipe Leite, Nata-
tópico de intensa discussão em diversas áreas lie Araripe e Carlos Rafael Picanço nos apre-
interessadas na criatividade. As autoras con- sentam uma nova proposta conceitual que une
With creativity, animals overcome chal- Tiago Magalhães provides us with a detailed
lenges and obstacles. When confronted with conceptual analysis regarding the role of per-
a problem, a physical or metaphorical barri- ception in problem solving. Using ambiguous
er, or a new configuration of the environment, figures as examples, the author builds a mod-
new behaviors occur and new cultural prac- ern operant take on perception, enmeshing it
tices take form to handle these problems. Sci- with the classic notion of “Insight” made by
ence, technology and the arts were all inven- classic Gestalt Psychologists, suggesting how
tions of humans that met a hostile, dangerous this could improve empirical works on prob-
and uncertain environment throughout gener- lem solving.
ations. Human beings constantly solve imme-
diate, long term, individual and social prob- Marina Nogueira and Denise Fleith discuss
lems. But how does this creativity occur, what the much debated relationship between creativ-
are its origins, and what is its role in prob- ity and mental illness, taking into account new
lem solving? These are not simple questions, and modern data on the topic. The authors con-
however behavior analysts have much to say clude that this is a complex relation, but ad-
on the matter and their contributions are cel- vancements in the understanding of this rela-
ebrated in other areas of research on creativ- tion were made recently. The paper ends with
ity (e.g., Simonton, 2000). an important message about the social impacts
A behavior analysis take on creativity dif- of the popular link made in different media re-
ferentiates itself for its focus on prediction garding creativity and mental illness.
and control, which immediately creates the
possibility to stimulate, grow and even train Gabriel Vitti and Carolina Laurent present a
creative behavior. In other terms, the concep- case study using Walden II to analyse the role
tual framework of Behavior Analysis permits of art and the artist in a planned society as en-
us to identify which environments do produce visioned by Skinner. The authors pose the im-
creative behavior, and even the potential to portant question of “if artistic behavior can
engineer these contexts. This potential has a be planned and controlled, with what purpose
clear impact on how we can solve education- must this be done?”. The identification of the
al, organizational, clinical, social and tech- function of art and the artist in the society of
nological problems that surround us. In this Walden II reveals how creative behavior can be
special issue of the Brazilian Journal of Be- understood in a radical behaviorist framework.
havioral and Cognitive Therapy, we proud- The paper concludes with a powerful message,
ly present a rich picture of what behavioral that is, art can be understood as a type of so-
analytical research currently produces on the cial control, and for this reason should be in-
topic of creativity. Our issue presents con- cluded in political and ethical discussions re-
ceptual, basic and applied papers from re- garding cultural planning.
searches from all regions of Brazil and oth-
er countries. Also discussing Skinner, Emerson da Cos-
ta Leite and Nilza Micheletto present a detailed
Joseph Dracobly presents a vast review of analysis of how Skinner understood human cre-
the relation between behavioral variability and ativity in his works, beyond Walden II. The au-
creativity, showing how Behavior Analysis is thors recapture what Skinner presented regard-
well equipped to deal with creativity in con- ing precurrent behaviors, selfcontrol, recall
ceptual terms and in applied settings. and decision making and its relation to prob-
lem solving, all in light of new data and discus- an improvement in a recent protocol to study
sions about creativity, giving a new breath to interconnection of repertoires in rats, introduc-
the skinnerian take on human creativity, a po- ing a training phase that makes the procedure
sition often outshined by other empirical mod- more prone to produce the expected intercon-
els of creativity. nection of two repertoires.
Hernando Neves Filho, Felipe Leite, Na- The themes, conclusions, methods and re-
talie Araripe and Carlos Rafael Picanço de- sults of papers presented in this special issue
tails a new conceptual proposal that interlocks show us how the operant analysis of creativi-
an operant analysis of human development with ty is a rich and multifaceted area of research.
human creativity. The main idea of the propos- We still have many empirical questions need-
al is that the behavioral repertoire of an indi- ing attention, many conceptual links also need
vidual can be understood in a developmental dedicated work, and a vast number of possible
fashion, repertoires learned during the life span applications and technologies to improve cre-
of the individual having everlasting effects on ativity in educational, organizational and clin-
later learning episodes. This conceptual anal- ical settings are in the near horizon. We hope
ysis culminates in a schematic diagram to de- that this special volume can provide motiva-
sign applied behavioral interventions, the be- tion for more researchers and students to look
havior tree. This conceptual tool is presented at creativity using an operant framework. Giv-
as an economic and intuitive way to plan be- en the world we live in, we need more than
havioral interventions using behaviors already ever to be creative and innovative to solve un-
mapped through baseline measures. expected problems. Behavior Analysis, more
specifically the operant analysis of creativity,
In the first empirical paper of the special is- can show us an ethical, trustworthy and ever
sue, Roberto Pessoa Neto, Sofia Araujo, Marce- more efficient way to deal with the yearnings
la Olveira, Hernando Neves Filho and Danie- of humans for arts, science and the necessity
ly Tatmatsu used a commercial video game to to solve problems.
create an experimental setting to observe the
interconnection of behavioral repertoires in hu-
mans. The experimenters created experimental
settings for training and testing in a first per-
son video game The chosen video game permit- Vivimos en tiempos turbulentos, donde se
ted the authors to create a variety of “Skinner acumulan problemas que requieren soluciones,
boxes”, where human players took the classic no obstante, estas no siempre están disponi-
role of pigeons and rats. The interconnection bles, e incluso cuando se las encuentra, es po-
of behavioral repertoires was achieved in this sible que no lleguen a tiempo y de manera ade-
procedure, indicating that the game is an eco- cuada. Joy Paul Guilford, quien fue presidente
nomical and efficient way to do research and de la APA (American Psychological Associa-
test variable effects on the interconnection of tion) y uno de los primeros investigadores de
repertoires, and is also a didactic tool to exem- psicología dedicados al estudio de la creativi-
plify the phenomena. dad, escribió: “Vivir es enfrentar problemas y
resolverlos es crecer intelectualmente. Es po-
Thalia Teixeira, Maria Macial, Bruno Silva, sible afirmar que nunca antes había vivido en
Marcela Oliveira and Daniely Tatmatsu made este planeta una cantidad tan grande de indi-
ciedad, y desde la perspectiva del conductismo tuales teniendo en cuenta el repertorio mapea-
radical, los autores preguntan: "Si el compor- do de la asignatura.
tamiento artístico se puede planificar y contro-
lar , ¿Para qué se debe hacer esto?”. En base a Al abrir los trabajos empíricos de nuestro
esto, la identificación y presentación de las fun- volumen, Roberto Pessoa Neto, Sofía Araujo,
ciones y usos del arte en la ficción skinneria- Marcela Oliveira, Hernando Neves Filho y Da-
na revelan cómo el comportamiento creativo y niely Tatmatsu presentan un modelo empírico
la función del artista pueden entenderse desde de recombinación de repertorios en humanos,
una perspectiva conductista. El texto termina utilizando un videojuego como entorno de en-
con un poderoso mensaje, que el arte, enten- trenamiento y prueba. Los autores utilizan un
dido como un tipo de control social, debe ser videojuego comercial, con bajo costo de adqui-
considerado en las discusiones éticas y políticas sición, para crear mapas, escenarios y contin-
que involucran análisis y planificación cultural. gencias que son explorados por participantes
humanos, jugadores. El juego elegido permite
Aún discutiendo sobre Skinner, Emerson da a los experimentadores crear una variedad de
Costa Leite y Nilza Micheletto hacen un análi- "cajas de Skinner", en las cuales los jugadores
sis detallado de cómo Skinner trabajó la creati- luego juegan el papel tradicionalmente asigna-
vidad en sus otros trabajos, además de Walden do a ratones y palomas en estas cajas. Los da-
II. El autor y el autor hacen una reanudación tos presentados indican que el fenómeno de re-
importante de la discusión de Skinner sobre los combinación de repertorios se observó en este
comportamientos precurrentes, el autocontrol, procedimiento, lo que indica que el juego es
el recuerdo, la toma de decisiones y la resolu- una forma económica y efectiva de investigar
ción de problemas, todo a la luz de los nuevos sobre el tema, además de proporcionar ejerci-
datos y debates sobre la creatividad, dando así cios didácticos que ilustran el fenómeno.
un nuevo impulso a la propuesta de Skinner,
Una propuesta que a menudo se ve ensombre- Thalia Teixeira, Maria Maciel, Bruno Sil-
cida injustamente por modelos empíricos más va, Marcela Oliveira y Daniely Tatmatsu pre-
recientes. sentan una mejora efectiva en un protocolo de
estudio de repertorio en ratas, incluido un paso
Hernando Neves Filho, Felipe Leite, Nata- de entrenamiento que hace que el procedimien-
lie Araripe y Carlos Rafael Picanço nos pre- to sea aún más eficiente en la producción del
sentan una nueva propuesta conceptual que une fenómeno estudiado.
y recombina las áreas de investigación activa
en creatividad y desarrollo humano. El núcleo Los temas, conclusiones, métodos y resul-
de la propuesta es que el comportamiento pue- tados de los artículos publicados en este volu-
de entenderse desde una perspectiva de desa- men nos muestran cómo el área de investigación
rrollo, de modo que los repertorios aprendidos conductual sobre creatividad es rica y multifa-
durante la vida de un organismo tengan un im- cética. Todavía tenemos muchas preguntas em-
pacto en el aprendizaje futuro. Todo esto cul- píricas abiertas, muchos vínculos conceptuales
mina en una herramienta para planificar inter- que esperan un trabajo dedicado e innumerables
venciones conductuales prácticas y aplicadas, posibilidades para la aplicación y el desarrollo
el árbol de comportamiento. La herramienta de tecnologías para fomentar la creatividad en
se presenta como una posible forma efectiva y un entorno clínico, educativo y organizacional.
económica de diseñar intervenciones conduc- Esperamos que este volumen especial sirva de
Referências
trole resolveu. Com base nos dados, propomos que a inserção deste procedimento é relevante
para que haja o processo de recombinação de repertório, visto que garante que o sujeito está sob
controle da situação-problema.
Palavras-chave: resolução de problemas, recombinação de repertórios, treino discriminativo,
insight.
ABSTRACT: Neves Filho, Stella, Dicezare and Garcia Mijares (2016) developed an experi-
mental model to observe the rat interconnection of repertoires (Rattus norvegicus). The exper-
iment consisted of training on the interconnection of two different repertoires: (1) dig and (2)
climb. The solution to the problem situation was to dig until the second chamber and climb two
flights of stairs. In the original experiment the animals were initially exposed to the problem
without the experimental control that the relationship between response and the reinforcing con-
sequence was established, so it was not clear whether the problem situation the animals were
exposed to was configured as such. Based in this model, the present research aimed to evaluate
if the insertion of a discriminative training process (previously the first exposure to the problem
situation) would alter the process of interconnection of repertoires. Next, a discriminative stim-
ulus was used, defined as signs or clues that relate with certain responses, such as sound. Thus,
the training process would establish the dig and climb response chain (problem solution) in the
presence of a sound stimulus, since the sound emitted would signal the presence of a reinforcing
stimulus, in this case the Kellogs Froot Loops cereal. Ten Wistar albino rats (Rattus norvegi-
cus), naive to the experiment, were used. It was randomly divided into two groups with 5 ani-
mals each: the (1) experimental group, which received the discriminative training intervention,
in addition to the dig and climb training, and (2) the control group, whose process was similar
to that of Neves Filho et al. (2015). Subsequently, they were subjected to a problem situation,
with the emission of sd, in order to evaluate the animals’ performance. All animals in the exper-
imental group solved the problem; while none of the control group resolved. Based this data,
we propose that the insertion of this procedure is relevant for the interconnection of repertoires
process, since it ensures that the subject is under control of the problem situation.
Keywords: problem solving, recombination of repertoires, discriminative training, insight.
RESUMEN: Neves Filho, Stella, Dicezare y Garcia Mijares (2016) desarrollaron un modelo
experimental para observar la recombinación de los repertorios de ratas (Rattus norvegicus). El
experimento consistió en entrenamiento en la recombinación de dos repertorios diferentes: (1)
excavación e (2) escalado. La solución del problema se da cuando el animal cava para la segun-
da cámara y subir dos tramos de escaleras. En el experimento original, los animales estuvieron
expuestos por primera vez al problema, sin establecer la relación entre respuesta y consecuen-
cia de refuerzo, por lo que no estaba claro si la situación problema en la que estaban expues-
tos los animales era realmente un problema. Basado en este modelo, la presente investigación
tuvo como objetivo evaluar si la inserción de un procedimiento de entrenamiento discriminato-
rio (previamente la primera exposición a la situación problema) alteraría el proceso de recom-
binación del repertorio. Para esto, se utilizó un estímulo discriminativo, definido como signos
o pistas que se relacionan con ciertas respuestas. Por lo tanto, el proceso de entrenamiento es-
tablecería la cadena de respuesta de excavación e ascenso (solución del problema) en presencia
de un estímulo sonoro, ya que el sonido emitido señalaría la presencia de un estímulo de refuer-
zo, en este caso el cereal Kellogs Froot Loops. Se utilizaron diez ratas albinas (Rattus norve-
gicus) de la cepa Wistar, ingenuas para el experimento. Fueron divididas aleatoriamente en dos
grupos de cinco animales cada uno: el (1) grupo experimental, que recibió la intervención de en-
trenamiento discriminatorio, además del entrenamiento de excavación e escalada, e (2) el grupo
de control, cuyo proceso fue similar al de Neves Filho y col. (2015). Posteriormente, fueron so-
metidos a una situación problema, con la emisión de SD, para evaluar el desempeño de los ani-
males. Todos los animales en el grupo experimental resolvieron el problema; mientras ningu-
na rata em el grupo controle lo resolvió. Con base en los datos, proponemos que la inserción de
este procedimiento sea relevante para el proceso de recombinación del repertorio, ya que ase-
gura que el sujeto esté bajo control de la situación del problema.
Palabras clave: resolución de problemas, recombinación de repertorios, entrenamiento discri-
minativo, insight.
combinação de dois repertórios diferentes: (1) rem sido treinados previamente, mas por serem
cavar e (2) escalar. A solução do teste requisi- ingênuos à situação problema, ou seja, o his-
tava que, no contexto experimental, os sujeitos tórico de aprendizagem dos animais não des-
cavassem e acessassem uma segunda câmara a crevia a relação entre a resolução do problema
qual permitia o acesso às escadas que os leva- e a obtenção do reforço dado aquele contexto.
riam a uma plataforma com comida. Sem essa relação estabelecida diretamente, não
Entretanto, supõe-se que no protocolo de seria possível afirmar que a situação-problema
Neves Filho et. al. (2016) não foi estabelecido proposta se estabelecia como um problema, de
explicitamente uma situação problema na fase acordo com a definição Skinneriana.
de pré-teste, pois presume-se que seria neces- A partir desta análise, Prata-Oliveira (2019)
sário que um estímulo discriminativo estabe- avaliou a influência da cafeína no processo de
lecesse uma maior direcionalidade da resposta recombinação de repertórios, utilizando o mo-
de procura pelo estímulo reforçador para tor- delo experimental de cavar e escalar. Porém,
nar explicitamente o contexto como uma situ- acrescentou o procedimento de treino discri-
ação problema. A indagação deriva no fato de minativo, o qual não foi utilizado por Neves
que no modelo original os animais não resol- Filho et al. (2015). O procedimento baseou-se
veram o problema na fase de pré-teste não ape- na emissão de um estímulo sonoro (2 batidas
nas devido a inexistência da resposta em seu de caneta na lateral da caixa) junto à disponi-
repertório comportamental, mas por não dis- bilização do Froot Loops por 10 s. Depois dis-
criminarem o problema como tal. Aprimorar so, o cereal era retirado e o som era produzi-
os estímulos neste contexto parece apropria- do novamente, começando uma nova tentativa.
do para inseri-lo no protocolo proposto, pois o O encerramento da sessão se dava após dez mi-
controle por estímulos pode aumentar a proba- nutos ou com o consumo de 15 Froot Loops.
bilidade de uma solução, uma vez que o pro- Já o parâmetro para aprendizagem foi o consu-
blema se tornaria mais claramente delimitan- mo dentro de um intervalo de 5 s após a emis-
do (Skinner, 1953). O controle de estímulos, são do som, em 80% das tentativas (12/15), por
segundo Sidman (1960/1968) emerge quando três sessões seguidas.
Skinner propõe o conceito de comportamento O estímulo sonoro era emitido no início das
operante, pois é introduzido um elemento que fases de teste na arena de recombinação para si-
é antecedente a resposta. A unidade resposta- nalizar a disponibilidade do reforço. Para isso,
-consequência apresenta-se então sob o controle os ratos foram submetidos a um procedimento
discriminativo deste terceiro elemento. Assim, de treino discriminativo com critérios de apren-
tem-se como principal ferramenta de análise a dizagem previamente estabelecido. A partir da
contingência de três termos em que estímulos inserção do treino discriminativo antes do teste
podem ser ocasião para que um comportamen- 1 de resolução de problemas, foi observada uma
to seja emitido. diferença quando comparado aos dados apre-
No caso de Neves Filho et, al. (2016) os ani- sentados por Neves Filho et al. (2016): nos es-
mais eram colocados na caixa com maravalha tudos Neves Filho et al. (2015, 2016), os ratos,
e esperava-se a emissão de resolução de pro- quando expostos ao pré-teste de recombinação,
blemas fazendo um comparativo entre antes e não solucionaram a tarefa, isto é, não emitiram
depois do treino das respostas cavar/escalar. a cadeia de respostas (cavar para a segunda câ-
Diante dessa condição, sem um controle expe- mara e escalar as escadas) necessária para al-
rimental mais preciso, não há como supor que cançar o reforçador. Na pesquisa de Prata-Oli-
os animais resolveram o problema por não te- veira (2019), todos os animais passaram pelo
treino discriminativo e 2 de 12 animais solucio- los organismos, bem como a relação entre eles
naram o problema no pré-teste. A partir desse (Moreira, Todorov e Nalini, 2006).
resultado, menciona-se que o treino discrimi- Hipotetizou-se então, que os animais sub-
nativo possivelmente possibilitou a resolução metidos ao treino discriminativo teriam um
na situação de pré-teste, dando maior êxito às desempenho melhor no processo de resolução
respostas emitidas na presença do som, princi- de problemas, quando comparado aos animais
palmente no que diz respeito à direcionalidade submetidos apenas aos treinos das habilidades
e fluidez das respostas, apesar de ainda não se alvos (cava e escalar). O treino discriminativo
ter realizado o treino das respostas pré-requi- pode facilitar tal processo, pois o som sinaliza-
sito. Todavia, não é possível afirmar que a in- ria a disponibilidade do reforço e o animal ao
serção desse procedimento é determinante nos emitir os comportamentos pré-requisitos para
resultados do pré-teste. solucionar o problema chegaria ao reforço. Tal
O estímulo antecedente, um dos componen- diferença seria observada no teste 1 de resolu-
tes estabelecidos no comportamento operante, ção de problemas, teste e no teste 2 de resolu-
contribui para que entendamos sob qual con- ção de problemas. Isso porque expor o orga-
texto o comportamento ocorre (Skinner, 1953). nismo a uma determinada situação ambiental
O reforçamento condiciona o comportamento a visando um processo de recombinação de re-
um controle de estímulos presente no contex- pertórios para estabelecer uma relação entre a
to em que ocorreu a ocasião e diante do estí- resposta e sua consequência, impossibilitaria
mulo em que a resposta foi reforçada há uma que os sujeitos experimentais no procedimen-
maior probabilidade da emissão dessa respos- to avaliado resolvessem o problema. Assim,
ta na presença desse estímulo do que em sua no presente estudo foi avaliada especificamen-
ausência (Sidman, 2008). Dessa forma, a fim te a influência do treino discriminativo sobre o
de investigar o papel do controle de estímulos processo de recombinação de repertórios, pos-
sobre o processo de recombinação de repertó- sibilitando o aperfeiçoamento do procedimen-
rios, foi realizado nesta pesquisa o procedimen- to com o uso do treino discriminativo a fim de
to de treino discriminativo. O comportamento sanar lacunas do modelo.
dos animais foram modelados somente após a
emissão de um som (x = 2600 Hz) produzido Método
a partir de uma dupla batida na lateral da cai-
xa de treino. A emissão do som tinha por fun- Na pesquisa foram utilizadas dez ratas al-
ção sinalizar a disponibilidade do estímulo re- binas (Rattus norvegicus) fêmeas da linhagem
forçador (Froot Loops). O treino foi inserido Wistar, experimentalmente ingênuas no que se
para estabelecer a relação entre estímulo ante- refere a respostas de cavar e escalar escadas. Os
cedente, resposta e a disponibilidade do estí- animais pesavam entre 210 a 254 g, com apro-
mulo reforçador. Com isso, torna-se possível ximadamente seis meses. As ratas foram dividi-
avaliar se a inserção do procedimento de treino das em quatro caixas de polipropileno autocla-
discriminativo, anteriormente à fase de treino vável 414 x 344 x 168 mm com tampa (grade)
das respostas cavar/escalar e do primeiro teste em aço galvanizado com separadores em aço
de resolução de problemas, facilitaria o desem- inox com piso forrado por maravalha (até apro-
penho das ratas no processo de recombinação ximadamente 5 cm), ficando três animais em
de repertórios, pois grande parte do controle duas caixas e dois animais nas outras. Os ani-
experimental gira em torno de garantir que os mais foram divididos aleatoriamente em dois
estímulos sejam discriminados corretamente pe- grupos: (1) grupo experimental (GE) que foi
teste, com o Froot Loops já posicionado dentro o fundo da caixa. Para passar para a próxima
de uma tampinha de garrafa pet. Logo em se- etapa era necessário a emissão da resposta se-
guida do animal ser colocado na caixa e o som guida do consumo de cinco Froot Loops. O en-
emitido. O som foi feito para ambos os grupos. cerramento da sessão se dava após 20 minutos
A sessão terminava depois de 10 min, ou caso ou após o consumo de 15 cereais no fundo da
o animal resolvesse o problema, o que aconte- caixa. Uma nova tentativa iniciava quando o
cesse primeiro. animal consumia o Froot Loops. O critério de
aprendizagem foi o consumo de 15 cereais no
Treino das respostas de cavar e escalar fundo da caixa por três sessões consecutivas.
Foram utilizados os mesmos critérios de
Foi realizado o treino das respostas pré-re- aprendizagem de Neves Filho et al. (2016),
quisito, que são necessárias para a solução do pois o critério de 20 reforços (Neves Filho et
problema, (1) cavar e (2) escalar (Neves Filho al., 2015) não se mostrou necessário, uma vez
et al, 2016). A sequência dos treinos diários que a resolução do problema não foi afetada
foi randomizada. O processo de modelagem pela redução na quantidade de reforços. Além
da resposta de escalar foi feito em três etapas, disso, a utilização desse critério foi suficiente
com lugares diferentes de posicionamento do para que os animais dos diferentes grupos no
Froot Loops: (1) No início da escada (1° ní- protocolo de Neves Filho et al. (2016) resol-
vel); (2) No topo do primeiro lance da esca- vessem o problema.
da (2° nível) e (3) No topo do segundo lance Durante todo o experimento, informações
de escada (3° nível). Para passar para a próxi- como: tempo de latência entre a apresentação
ma etapa era necessário a emissão da respos- do som e emissão da resposta, a quantidade de
ta seguida do consumo de cinco Froot Loops. respostas emitidas pelos animais e consumo do
O comportamento alvo era subir em dois lan- cereal açucarado, foram registradas nas folhas
ces de escadas consecutivamente. O encerra- de registro. O tempo das sessões foi mensurado
mento da sessão se dava após 20 minutos ou o pelo cronômetro do celular e as fases teste 1 e 2
consumo de 15 cereais. O animal era coloca- de resolução de problemas foram filmados por
do na caixa e logo em seguida o Froot Loops um aparelho telefônico de modelo Galaxy J6.
era posicionado dentro da tampinha de garra-
fa pet, que era colocada no topo dos dois lan- Treino de manutenção das respostas treinadas
ces de escadas. Esperava-se o animal terminar
de consumir o Froot Loops e estar no piso tér- Nesta etapa, as ratas passaram mais uma
reo para se iniciar uma nova tentativa. O crité- vez pelos procedimentos de treino discrimi-
rio de aprendizagem foi o consumo de 15 ce- nativo e de respostas pré-requisito utilizando,
reais no topo do segundo lance de escadas por também, o cereal Froot Loops como consequ-
três sessões consecutivas. ência reforçadora. Essa fase teve a finalidade
Para o treino da resposta de cavar, a mode- de averiguar se os sujeitos experimentais atin-
lagem foi composta por três etapas, com locais giam novamente o critério de aprendizagem dos
diferentes de disponibilização do Froot Loops: respectivos treinos, garantindo que cumpririam
(1) No topo da maravalha aleatoriamente em di- novamente o critério e aprenderam as respos-
ferentes pontos da caixa; (2) Submersa na ma- tas de cavar até o fundo da caixa e escalar dois
ravalha (de 2 a 5 cm) e (3) No fundo de toda lances de escadas. Cada animal passou nova-
a caixa, completamente cobertos pela marava- mente por uma sessão de 20 minutos, com os
lha. Assim, o comportamento alvo era cavar até mesmos critérios dos treinos de cavar e esca-
lar. Caso o animal não atingisse o critério de da resolução por interconexão de repertórios.
aprendizagem estabelecido, ele voltava para a Todas as análises estatísticas dessas categorias
sessão de treino daquela resposta, até atingir o comportamentais foram feitas pelo SPSS (Sta-
critério de aprendizagem novamente. tiscal Package for Social Sciences), versão 21.
Na fase de treino das repostas foi medido Todas as variáveis analisadas se distribuem
o número de sessões para atingir o critério de de forma não-normal, logo todos os testes utili-
aprendizagem de cada uma, por grupo. Foi anali- zados foram não-paramétricos. Foi feito o com-
sado o comportamento orientado para a solução parativo entre grupos para avaliar se a resolução
do problema, com a medida de cavar direcio- de problemas era estatisticamente significativa
nado, quanto mais próximo o cavar era emiti- entre os grupos controle e experimental. Para
do da escada (segunda resposta da cadeia, em uma análise mais detalhada comparou-se a fre-
que a sua emissão dava acesso direto ao Froot quência de emissão do cavar nos quadrantes,
Loops). Para isso, a primeira metade da caixa tempo disponibilizado nas respostas de cavar
teste foi divida em quatro quadrantes, dois mais e tempo total de exploração nos quadrantes.
distantes da divisão de acrílico e dois colados A exploração em cada quadrante foi analisada
com a divisão. Desses dois últimos, um mais intra-grupo, para investigar se a exploração em
próximo a escada e outro mais afastado. Quan- cada grupo foi feita de forma aleatória ou não.
to mais próximo da escada o cavar foi emitido,
consideramos a resposta de cavar direcionada Treino discriminativo:
ao acesso a escada, para assim completar a ca-
deia necessária para a solução. E1 atingiu o critério de aprendizagem em 16
A exploração inicial da caixa teste foi medi- sessões. O animal E2 em 15 sessões. Já os ani-
da pelo tempo total passado na primeira meta- mais E3, E4 e E5 em 13 sessões cada. A mé-
de e em cada quadrante descrito acima. A taxa dia do grupo experimental foi de 14 sessões.
de resolução por grupo em cada fase de expo-
sição a caixa teste foi calculada em porcenta- Teste 1 de resolução de problemas:
gem. O tempo entre o animal ser colocado na
caixa e emitir o cavar que resultasse em atra- E1 e E2 do grupo experimental consegui-
vessar a barreira de acrílico também foi anali- ram resolver o problema no teste 1 (Tabela 2).
sado. Essa resposta foi medida por um interva- O animal E1 atravessou por debaixo da parede
lo de tempo, já que o cavar se inicia quando o de acrílico, emitindo a resposta de cavar, pulou
animal enterra sua cabeça na maravalha, cava do topo da maravalha para o segundo andar da
em direção a segunda metade da caixa teste e caixa teste, sem passar pelo primeiro lance de
levanta a cabeça para fora da maravalha. escada. E2 passou para o outro lado da plata-
A diferença de tempo entre as respostas de forma rasgando o lacre da divisão entre as duas
cavar/escalar, contada a partir do momento em metades e passando por cima da parede de acrí-
que o animal levanta a cabeça da maravalha, ao lico. Os demais animais do grupo experimental
terminar o cavar, até subir o início do primei- e os animais do grupo controle não resolveram
ro lance de escadas foi considerada para iden- o problema. A taxa de resolução do grupo con-
tificar a topografía fluída e contínua como de- trole foi nula e do grupo experimental de 50%.
finido por Epstein (1985) como característica O teste de chi-quadrado não foi significativo
(χ² = 2,5; p > 0,05) entre os grupos, o que su- ponibilizado no cavar e o tempo de exploração
gere que a resolução do problema por E1 e E2, intra-grupo nos 4 quadrantes. Por meio do tes-
provavelmente, deu-se ao acaso. te de Kruskal-Wallis foi observado que ambos
Para comparar a frequência de emissão do os grupos cavaram mais no quadrante 2, sen-
cavar nos quadrantes, tempo disponibilizado do esse valor estatisticamente relevante para o
nas respostas de cavar e tempo total de explo- grupo controle (U = 1,25; p < 0,05) e para o
ração nos quadrantes entre os grupos, foi rea- grupo experimental (U = 1,66; p < 0,05), por-
lizado o teste de Mann-Whitney. A única dife- tanto, a distribuição de onde cavar não se deu
rença estatisticamente significativa encontrada de forma aleatória. Proporcionalmente as ra-
foi para a frequência de emissão do cavar no tas do grupo controle passaram mais tempo
quadrante 1 (H = 3; p < 0,05), onde o grupo (37%; p > 0,05) emitindo a resposta de cavar
controle emitiu mais respostas de cavar (me- no quadrante 2 e as ratas do grupo experimen-
diana = 5), quando comparado ao grupo expe- tal também passaram mais tempo no quadran-
rimental (mediana = 2). Comparou-se também te 2 (50%; p > 0,05). Os dados com todos os
a frequência de emissão de cavar, tempo dis- quadrantes estão na Tabela 3.
Tabela 2.
Número de animais que resolveram o problema nos testes 1 e 2 de resolução de
problemas
Teste 1 Teste 2
Controle Experimental Controle Experimental
Sim 0 2 0 5
Não 5 3 5 0
Porcentagem de resolução 0% 50% 0% 100%
Tabela 3.
Média de frequência de emissão da resposta de cavar e média de tempo gasto na resposta durante o
teste 1 de resolução de problemas.
Grupo controle
Quadrante Média de frequência de emissão Desvio Padrão Média de tempo %
1 4,8 1,6 29,4 30%
2 4,8 1,3 37 37%
3 5,8 1,4 23,8 24%
4 3 2,8 8,8 9%
Grupo experimental
Quadrante Média de frequência de emissão Desvio Padrão Média de tempo %
1 2,56 1,1 11,68 20%
2 5,76 3,3 28,8 50%
3 2,76 1,7 12,36 22%
4 2,6 2,9 4,56 8%
A exploração dos animais intra-grupos tam- experimental teve uma média de 15,6 (Figura
bém foi analisada por meio do teste de Kruskal- 4). Nos treinos de escalar, todos os animais do
-Wallis. O grupo controle passou mais tempo grupo controle atingiram o critério de aprendi-
no quadrante 2 (U=3,08; p > 0,05), com uma zagem estabelecido na quarta sessão, sendo a
porcentagem de 28% enquanto o grupo experi- média de 4 sessões. O grupo experimental teve
mental passou mais tempo no quadrante 1 (U= a média de 5,6. Após todos os animais atingi-
3,65; p < 0,05) com porcentagem de 34% do rem o critério de aprendizagem, passaram para
tempo total. Os dados com o tempo e porcenta- o treino de manutenção das respostas treinadas,
gem de todos os quadrantes estão na Figura 3. onde todos os animais cumpriam o critério de
aprendizagem. Os dados obtidos não se distri-
Treino de cavar e escalar buíram de forma normal, logo foi utilizado o
teste de Mann-Whitney para averiguar se ha-
Todos os animais conseguiram atingir o cri- via diferença entre a aquisição de alguma das
tério de aprendizagem estabelecido para esta respostas entre os grupos. Não houve diferen-
etapa e nenhum animal foi excluído da amos- ça estatística na aquisição das duas respostas
tra inicial. A média de sessões do grupo con- entre os grupos (cavar H= 7; p > 0,05; escalar
trole no treino de cavar foi de 11,40. Já o grupo H = 5; p > 0,05).
No presente estudo, a privação alimentar foi entre os grupos. O grupo controle continuou
utilizada apenas no grupo controle, seguindo as a emitir mais respostas de cavar no quadrante
manipulações feitas no grupo de Neves Filho 2 (8,2) e passou uma média de 38% do tempo
(2016), porém, durante a fase de treino de res- total emitindo a resposta de cavar, também no
postas houve uma perda de peso acima de 15% quadrante 2 (38%; p > 0,05). O grupo experi-
do peso corporal (gradualmente). Em protoco- mental emitiu mais respostas de cavar no qua-
los de acesso restrito de alimento ou água, de- drante 1 (4) e passou em média 45% do tempo
ve-se evitar a perda de mais de 10% do peso total emitindo a respostas de cavar, também no
corpóreo (Conselho Nacional de Controle de quadrante 1 (45%; p > 0,05).
Experimentação Animal, Resolução Normati- Comparou-se também a frequência de emis-
va n° 33/2016). Em função disso, diminuiu-se são de cavar, tempo disponibilizado no cavar e
o período de privação para 12 horas. Isso acon- o tempo de exploração intra-grupo nos 4 qua-
teceu durante a fase de treino das respostas ca- drantes por meio do teste de Kruskal-Wallis. A
var/escalar. Uma semana depois dessa mudan- frequência do cavar foi estatisticamente signifi-
ça, observou-se um aumento de 20% na média cativa para o grupo experimental (U = 3,89; p
do peso corporal do grupo controle, enquanto < 0,05) e não para o grupo controle (U = 0,68;
no grupo experimental que não houve nenhu- p > 0,05). O tempo disponibilizado para essas
ma alteração da dieta, um aumento de 1,32% respostas também foi significativo para o gru-
na média do peso corporal. po experimental (U = 3,04; p < 0,05) e não para
o grupo controle (U = 0,16; p > 0,05). Esses
Teste 2 de resolução de problemas dados sugerem que a distribuição dessas duas
medidas não se deu de forma aleatória entre os
Todos os animais do grupo experimental con- quadrantes para o grupo experimental. O grupo
seguiram resolver o problema. Apenas o ani- controle passou mais tempo nos quadrantes 1 e
mal E2 não resolveu o problema com as res- 4 (U = 0,32; p > 0,05), com uma porcentagem
postas de cavar/escalar. Esse animal emitiu a de 27% em cada um dos quadrantes. O grupo
mesma resposta observada no teste 1 de reso- experimental passou mais tempo no quadran-
lução de problemas de quebrar a divisão acima te 1 (U = 3,16; p < 0,05) com porcentagem de
da barreira de acrílico e passar para a segunda 34% do tempo total.
metade da caixa por ela. Os outros animais ti-
veram uma média de 17,75 s no intervalo en- Discussão
tre cavar e escalar, com desvio padrão de 7,25
s. Nenhum animal do grupo controle solucio- As ratas do grupo experimental resolveram
nou o problema. A taxa de resolução do grupo o problema tanto no teste 1 (2 ratas) como no
controle foi 0 e do grupo experimental foi de teste 2 (5 ratas) de resolução de problemas,
100%. O teste de chi-quadrado foi aplicado e enquanto nenhuma rata do grupo controle re-
a resolução comparada entre os grupos foi sig- solveu, em nenhuma das duas situações. Além
nificativa (χ² = 10; p < 0,05). disso, no teste 1, os animais do grupo experi-
Para comparar a frequência de emissão do mental passaram 34% do tempo total exploran-
cavar nos quadrantes, tempo disponibilizado nas do o quadrante 1 e os do grupo controle 28%
respostas de cavar e tempo total de exploração no quadrante 2, apenas a distribuição da ex-
nos quadrantes entre os grupos, foi realizado ploração do grupo experimental não foi dada
o teste de Mann-Whitney. Não houve nenhu- de forma aleatória. O treino anterior de expo-
ma diferença significativa para essas medidas sição a situação problema favoreceu a explo-
ração mais direcionada para a consequência apesar da configuração ambiental ser modifi-
que a situação problema produz (Froot Loops). cada, o local que sinaliza disponibilidade do
No teste 2, o grupo controle continuou com a reforço continuou sendo o mesmo. Esse trei-
distribuição aleatória, mesmo com o treino de no anterior funciona também para estabelecer
cavar/escalar. melhor a relação da resposta de resolução com
Ainda que o treino não leve diretamente à re- a sua consequência na primeira exposição ao
solução do problema, ele deve ser considerado problema, que é o objetivo do treino discrimi-
em replicações futuras do modelo. Atribui-se ao nativo neste trabalho.
treino anterior uma forma de obter maior con- No estudo de Nakajima e Sato (1993), asso-
trole da situação problema cavar-escalar, uma ciado ao treino ao comedouro (feito de forma
vez que com a exposição do grupo experimen- similar ao treino ao bebedouro), foi adicionado
tal ao treino, foi observada a mudança na dis- um treino discriminativo a um estímulo lumi-
tribuição da exploração das ratas pelo aparato. noso. A sessão só tinha início quando as luzes
Isso contribui para garantir que os animais es- eram acesas e esse estímulo esteve presente em
tivessem sob controle da situação problema e todas as fases experimentais. Essas manipula-
não explorando de forma aleatória, como acon- ções ajudam a garantir que na primeira exposi-
teceu com o grupo controle. ção do animal à situação problema proposta, a
Essa diferença também foi observada no tes- configuração ambiental realmente sinaliza ao
te 2, onde o grupo experimental cavou e pas- sujeito que ele deve se comportar de forma di-
sou mais tempo cavando no quadrante 1, mes- ferente para obter um reforçador. Ainda, garan-
mo todos os animais tendo passado pelo treino te um grau comparativo maior entre os testes,
das duas respostas. Como foi demonstrado por isolando melhor as variáveis independentes es-
Neves Filho et al. (2015), é necessário que as tudadas. Sem o controle discriminativo, apenas
respostas sejam aprendidas em algum momen- na segunda exposição, o reforçador poderia ser
to da vida do sujeito experimental, para que ele reconhecido e identificado pelos animais, como
consiga encadeá-las e resolver o problema pro- indisponível de ser acessado. Se o delineamento
posto. Os animais do grupo experimental, no experimental não evidencia que o animal conse-
teste 1 não tinham aprendido as respostas de gue discriminar que a consequência está indis-
cavar/escalar, o que seria uma barreira deter- ponível, não se caracterizaria como uma situa-
minante para a resolução. ção problema, segundo Skinner (1968).
Em outros trabalhos que investigaram a re- Em trabalhos que usam o Froot Loops como
solução de problemas com animais foi utilizado reforçador (Neves Filho, 2016; 2015 e Diceza-
o problema de deslocamento de caixa desenvol- re, 2017) a configuração de exposição a con-
vido por Epstein (1985), com ratos (Diceza- sequência muda completamente ao longo das
re, 2017; Delage & Neto, 2010; Delage, 2006; fases. Apesar de ratos serem guiados majorita-
Leonardi, 2012; Santos, 2017; Tobias, 2006) e riamente pelo olfato quando comparado com a
com pombos (Nakajima & Sato, 1993; Lucia- audição (Carneiro, 2014) e terem sido expostos
no, 1991; Epstein et al. 1984). Nessa tarefa, anteriormente ao Froot Loops antes da primei-
quando a água foi utilizada como reforçador, ra exposição a situação problema, não existe
se fez necessário um treino ao bebedouro an- nenhum procedimento que garanta que os ani-
terior à primeira exposição do animal à situa- mais estão se guiando pelo cheiro. Nos estudos
ção problema, para ensinar o animal onde se- que envolveram macacos-pregos (Costa, 2013;
ria disponibilizada a água. O local foi o mesmo Neves Filho, 2010) não há nenhum treino ante-
em ambas as exposições ao problema. Logo, rior a primeira exposição a situação problema.
the problem situation in a pre-test, before any training. However, after training the prerequisite
repertoires for solving the task, performed in the game itself, on specific training maps, four of
the five participants solved the final task. These participants independently learned the follow-
ing behaviors to solve the problem: 1) redirect the laser with a reflective cube to a white wall;
2) create two portals on the white wall to redirect the laser to the receiver. Given these data, the
Portal 2® game shows itself as an economical and versatile tool for the study of the intercon-
nection of repertoires in humans.
Keywords: insight; games; virtual environment; emergent behavior.
trou o dado com participantes com alta experi- “caixas de Skinner” virtuais, nas quais os jo-
ência em jogos, que resolveram a tarefa mesmo gadores fazem o papel de sujeito experimental.
sem um treino direto. Além disso, o estudo de Além disso, é possível registrar todo o desem-
Sturz et al. (2010) apresentou um procedimento penho do participante nessa sala virtual, a par-
simples e econômico para testar a recombinação tir da gravação em vídeo da tela do jogo. Sof-
de repertórios em humanos. Ao utilizar uma mo- twares adicionais podem também registrar em
dificação de um jogo de videogame comercial tempo real todos os inputs de mouse e teclado,
(Half Life®), os autores economizaram tempo de maneira sincronizada ao vídeo.
e recursos, na medida em que não foi necessá- Partindo disto, o presente trabalho teve por
rio criar um software exclusivo para a coleta de objetivo criar e testar uma situação problema na
dados (para considerações sobre as vantagens e ferramenta de construção de salas virtuais pre-
desvantagens do uso de jogos comerciais para sentes no jogo comercial Portal 2®, a fim de ob-
pesquisa, ver McMahan, Ragan, Leal, Beaton, servar se é possível produzir a recombinação de
& Bowman, 2011). A mesma estratégia, utilizan- repertório em humanos, a partir do treino de re-
do o mesmo jogo, também foi utilizada para es- pertórios pré-requisito da tarefa desenhada no
tudar fenômenos da psicologia social (Kozlov jogo. Apesar da recombinação ter sido observa-
& Johansen, 2010). Seguindo esta lógica, atu- da em outro jogo em primeira pessoa (Sturz et
almente um jogo que tem ganhado destaque em al., 2010), não há dados com a plataforma Por-
pesquisas sobre cognição e comportamento hu- tal 2®. Algumas das vantagens de observar esse
mano é o Portal 2®, da mesma desenvolvedora fenômeno neste jogo é a de que este pode ser
de Half Life® (Valve®). usado como uma plataforma de baixo custo. O
O primeiro jogo da série, Portal® (lançado software pode ser adquirido na plataforma Ste-
em 2007), já foi utilizado para estudar a apren- am® com seu preço variando de R$2,06 reais
dizagem de conceitos de física básica (Adams, à R$20,69 (preços constatados entre os anos de
Pilegard, & Mayer, 2015) e sua sequência, Por- 2018 e 2019). Além disso, a ferramenta de cria-
tal 2® (lançado em 2011), já foi utilizado em ção das salas virtuais no Portal 2® possui uma
pesquisas de resolução de problemas (Foroughi interface intuitiva, o que facilita a criação e ma-
et al., 2016; Shute & Wang, 2015) e aprendi- nipulação para pessoas que não estão familiari-
zagem de padrões (Vaddi et al., 2016). Ambos, zadas com desenvolvimento de jogos eletrôni-
Portal® e Portal 2®, são jogos na perspectiva cos. Não é necessário nenhum conhecimento de
em primeira pessoa (i.e. o jogador interage com programação para criar e modificar salas. Assim,
um ambiente tridimensional na visão do per- na medida em que o fenômeno observado é con-
sonagem, como se estivesse “na pele” deste). fiavelmente replicado no ambiente deste jogo,
Uma vantagem do jogo Portal 2®, em compa- novas variáveis podem ser adicionadas para pes-
ração com seu predecessor, é que há no jogo quisa, bem como mapas criados podem ser usa-
uma ferramenta de construção de mapas, que dos como demonstrações didáticas do fenôme-
não requer conhecimento de programação. As- no em participantes humanos.
sim, essa ferramenta pode ser manipulada por
experimentadores que possuem e que não pos- Método
suem conhecimentos de desenvolvimento de jo-
gos, permitindo a estes criar diversos cenários Participantes
controlados, com diversos estímulos, operan-
dos e contingências. Em outras palavras, a fer- O estudo teve como amostra cinco partici-
ramenta permite a criação rápida de diversas pantes, quatro homens e uma mulher, maiores
Tabela 1
Respostas das perguntas relacionadas às experiências prévias com jogos.
Quando foi a Horas por
Costuma jogar Horas por semana
Participante primeira vez que semana jogando
FP jogando puzzle
jogou FP FP
P1 Não 10 + anos 0 horas 1-2 horas
Após o preenchimento do questionário e es- Todos os mapas do jogo Portal 2® criados pelo
colha dos participantes com base nas respostas experimentador e utilizados nesta pesquisa podem
dadas, teve início a sessão experimental que, ser baixados na URL (https://steamcommunity.
considerando todas as etapas, teve duração de com/sharedfiles/filedetails/?id=1764667969).
aproximadamente uma hora para cada partici- Para rodar os mapas, basta ter o jogo Portal 2®
pante. O delineamento experimental foi divi- adquirido e instalado em uma conta da Steam
dido em seis fases, sendo elas: (I) familiariza- (para um passo a passo de como baixar e utilizar
ção; (II) pré-teste; (III) treino do uso funcional estes mapas, conferir o Anexo I).
de portais; (IV) treino de repertórios pré-requi-
sito, sendo esses redirecionar laser fazendo uso Familiarização
de um cubo e redirecionar laser com dois por-
tais; (V) treino de repertório não relacionado Nesta primeira etapa, foram explicados os
com a resolução do problema (empilhar cai- controles básicos do jogo, e o participante foi
xas); (VI) teste de recombinação. Durante todo exposto a uma sala virtual de familiarização,
o treino (fases III, IV e V) o experimentador no qual poderia testar e se familiarizar com os
fornecia dicas verbais aos participantes, dicas controles do jogo (Figura 1). A sessão teve du-
estas que incentivavam os participantes a inte- ração máxima de 10 minutos e poderia ser en-
ragir com o mapa e seus principais elementos cerrada antes disso, caso o participante eventu-
(operandos e contingências), garantindo assim almente resolvesse o problema por exploração
que os participantes interagissem com os ele- (tentativa-e-erro).
mentos programados para o treino dos reper- Os controles básicos do jogo são: olhar o am-
tórios. Todos os treinos tiveram como conse- biente (movimento do mouse), se movimentar
quência apenas a progressão no próprio jogo no ambiente (teclas A, S, D e W do teclado),
(avançar uma tela, encerrar um mapa ou fugir
de uma sala).
A inclusão da fase V se fez necessário para
garantir um aspecto de treino não direciona-
do. Já que os participantes passaram por to-
das as fases no mesmo dia, uma imediatamen-
te após o término da anterior, caso entrassem
em contato apenas com os repertórios neces-
sários para a resolução do problema imediata-
mente antes de serem expostos ao problema, o
procedimento poderia induzir, ou facilitar de-
mais a resolução do problema na sala de tes-
te, de modo a induzir uma solução por tentati-
va-e-erro que interferiria com a recombinação
de repertórios (e.g. Maier, 1931).
Entre uma fase e outra do experimento, o Figura 1. Mapa de familiarização. O participante tem a
possibilidade de interagir com todos os elementos que
experimentador pedia licença ao participante integrarão o treino e as fases de pré-teste e teste. Nessa
e trocava manualmente de fase no jogo, bem sala o círculo indica o cubo refletor, o triângulo o local
como também iniciava a gravação de um novo de emissão do laser, o quadrado o receptor do laser e
o losango a porta de entrada da sala, esses elementos
vídeo da performance do participante (grava- marcados são aqueles que posteriormente, em outro
ção da tela do computador). mapa, serão necessários para resolução do problema.
manusear/carregar objetos e acionar botões (te- gredir. A terceira seção (C) foi composta por
cla E) e pular (tecla ESPAÇO). O jogo ainda um corredor que levava à porta que se abriria
permite utilizar os botões do mouse para criar quando o problema fosse solucionado com cin-
“portais”. Essas funcionalidades foram expli- co operandos, sendo eles: um cubo refletor, dois
cadas no início dessa fase de maneira verbal. cubos e duas esferas. Esse corredor foi inseri-
Na sala de familiarização o participante po- do para conectar as ante-salas (seção B, D, E
deria entrar em contato com 11 objetos (ope- e F). Esta divisão em ante-salas foi necessária
randos). Com os objetos presentes nessa sala o para diminuir a probabilidade de solução por
participante poderia realizar as seguintes inte- tentativa-e-erro, visto que se todos os elemen-
rações: carregar cubos e esferas e soltá-los em tos estivessem dispostos na mesma sala o cus-
botões de pressão presentes no chão; apertar to para cada tentativa seria menor, e participan-
um Pedestal Button (um pedestal com um bo- tes ativos poderiam eventualmente resolver o
tão no topo), pressionando a tecla E no tecla- problema por mera persistência (i.e. tentativa-
do, para desligar um Laser Field (uma parede e-erro). Na ante-sala onde a recombinação dos
formada por laser que impede a passagem en- repertórios deveria ser emitida (D), o partici-
quanto estiver ativo); redirecionar o laser com pante poderia fazer uso dos operandos emissor
o cubo refletor; redirecionar o laser com portais de laser e o receptor de laser. As seções (E) e
(esses que só podem ser projetados em pare- (F), não tinham relação com a resolução do pro-
des brancas); se locomover com portais e trans- blema, sendo apenas salas opcionais para ex-
portar objetos com portais. Todos estes reper- ploração. Ambas foram desenvolvidas para au-
tórios foram posteriormente utilizados durante mentar o número de elementos e situações que
o treino e teste. o participante pudesse interagir, diminuindo a
probabilidade de indução à uma resolução por
Pré-teste tentativa-e-erro. Nela, estavam dispostos três
cubos e um buraco em seu meio, o participan-
A sala utilizada na fase de pré-teste foi a te poderia se locomover fazendo uso de portais
mesma posteriormente utilizada no teste de re- nas paredes brancas, porém nenhuma interação
combinação (Figura 2). A sessão de pré-teste nessa ante-sala estava relacionada diretamen-
teve duração de 15 minutos e seu objetivo era te com a solução do problema. Por fim, a se-
apresentado pelo experimentador com a fra- ção (F) correspondia a uma ante-sala com um
se “seu objetivo nessa sala é abrir a porta que cubo refletor e duas esferas, havendo dois bo-
se encontra fechada e sair por ela”. Essa sala tões de pressão, um no nível do chão e o ou-
foi dividida em seis seções, a primeira delas tro em uma elevação que só podia ser acessada
(A) consistia em uma sala gerada automatica- com o uso de portais ou ao empilhar os cubos,
mente pelo jogo onde o participante assumiu porém esses não estavam relacionados a reso-
o controle do personagem, precisando passar lução do problema.
por um corredor genérico. Chegando na seção Dada a complexidade da situação de tes-
seguinte (B), composta por uma ante-sala que te, era possível resolver o problema de duas
teve a função de comprovar que os controles maneiras distintas. Em uma das maneiras, era
estavam funcionando e que o participante sa- necessário adentrar na seção (D) (Figura 2) e
beria fazer uso desses, o participante teria que posicionar um cubo refletor embaixo do laser
se aproximar de um Pedestal Button e intera- gerando uma angulação de 90° com o chão.
gir com ele fazendo uso da tecla “E” para de- Feito isso, o participante precisava direcionar
sativar um Laser Field, podendo, assim, pro- o laser para a parede branca onde se encontra-
Antes do treino dos principais repertórios Figura 3. Sala de teste com problema resolvido, na
pré-requisitos para a tarefa, foi realizado um perspectiva do jogador (primeira pessoa). O proble-
treino de uso funcional de portais, uma mecâ- ma poderia ser resolvido de duas maneiras. A imagem
superior demonstra a resolução fazendo uso de dois
nica básica do jogo que consiste em transpor- cubos e a inferior com apenas um. Os círculos indicam
tar o jogador entre dois locais. Nesta etapa, os cubos refletores e o quadrado é o receptor do laser.
Figura 2. Sala de teste de recombinação na visão isométrica. Os círculos indicam os cubos refletores, o triângulo
indica o local de emissão do laser e o quadrado é o receptor do laser. As seções representadas pelas letras A, B, C,
D, E, F correspondem as áreas nas quais o participante pode transitar durante esta etapa do experimento.
os participantes aprenderam a utilizar os por- gem do participante, uma plataforma que tinha
tais para se movimentar (Figura 4). Dicas ver- como função lançar o participante. Com isso,
bais foram fornecidas para facilitar e garantir ele deveria chegar ao final da sala criando um
a aprendizagem. portal que pudesse acessar no espaço branco
Antes de serem inseridos na sala, os parti- próximo a ele e outro após o obstáculo. A úl-
cipantes foram instruídos verbalmente a como tima etapa consistia em pular em um portal no
produzir e utilizar os portais “Lembra que na final do buraco e sair em um portal próximo ao
etapa passada você criou dois portais? Agora teto, pois ao manter seu momentum de deslo-
você precisa criá-los para superar os obstácu- camento, o jogador alcançaria a porta de saída.
los que encontrar”.
Nessa sala foram apresentados três objetos, Treino de repertórios pré-requisito
sendo eles, um Pedestal Button, cuja função era (direcionar um laser com um cubo refletor
desligar um Laser Field para permitir a passa- e direcionar um laser com portais)
encerrado no momento em que o participan- tal e depois entrar no portal), ele apenas atirou
te resolvia a tarefa, ou ao final dos 15 minu- os portais nas paredes algumas vezes.
tos de sessão. Todos os participantes apresentaram os com-
portamentos de se locomover, pular e interagir
Resultados com todos os objetos.
Familiarização Pré-teste
a aprendizagem e garantir que todos os parti- ciais da sessão experimental, não se movimen-
cipantes tivessem experiência com as contin- tou em direção à seção (D), tendo passado a
gências de treino programas, garantindo assim maior parte do tempo coletando objetos para
alguma experiência direta com os elementos criar uma escada que o levasse até o botão lo-
necessários para a resolução do problema, an- calizado na seção (F). Ele foi até a seção (E),
tes de serem expostos ao teste. atravessando a seção (D) e pegou dois cubos
localizados depois do buraco. No sexto minuto,
Teste ele observou o receptor de laser na seção (D),
olhou brevemente na direção da parede bran-
Quatro dos cinco participantes conseguiram ca e pegou um cubo refletor, o carregando até
solucionar a situação problema após o treina- a seção (D), onde ele emitiu o primeiro com-
mento de repertórios pré-requisitos (Tabela 2). portamento da cadeia, resolvendo o problema
Apenas P5, participante que tinha mais expe- em seguida. O participante P4 demorou a emi-
riência prévia com jogos, como medida pelo tir o segundo comportamento relacionado com
questionário, não conseguiu solucionar o teste a resolução do problema, pois se engajou em
final, mesmo tendo apresentado os dois com- atividades exploratórias, porém após explorar
portamentos necessários nas situações de trei- o ambiente, resolveu o problema (Tabela 3).
no. O tempo médio de resolução do problema O participante P5, o único que não conse-
foi de seis minutos e um segundo. guiu solucionar o problema em 15 minutos,
Daqueles que conseguiram solucionar na apresentou um comportamento direcionado a
situação de teste, quatro tiveram um interva- resolução, porém insistiu em fazer uso de um
lo menor do que um minuto entre a emissão cubo direcionado para a parede oposta ao re-
dos dois repertórios que solucionavam a tare- ceptor, onde havia posicionado um portal que
fa (Tabela 2). tinha sua saída para o receptor. Apesar de ter
Os participantes P1 e P2 apresentaram apresentado os dois comportamentos necessá-
maior diretividade para a resolução do pro- rios para a resolução do problema, a topogra-
blema e não emitiram comportamentos que fia emitida não permitiu alinhar o laser com o
concorreram com a resolução, sem considerar receptor, em outras palavras, o participante es-
comportamentos exploratórios na sala com tava tentando resolver o problema de outra ma-
intuito de reunir os elementos necessários. Já neira, que não a efetivamente planejada pelos
o participante P3, durante os três minutos ini- experimentadores. A única variação apresenta-
Tabela 2
Emissão dos repertórios pré-requisitos
1 25 s CL 57 s P 32 s 1 min, 7 s
2 48 s P 59 s CL* 11 s 2 min, 48 s
3 6 min, 54 s CL 6 min, 59 s P 5s 9 min, 15 s
4 1 min, 10 s CL 10 min, 33 s P 9 min, 23 s 11 min, 14 s
5 1 min, 18 s CL 1 min, 40 s P 22 s RP
Nota. CL = colocar o segundo cubo refletor no laser; P = criar dois portais direcionados a resolução; Dif. = dife-
rença entre primeiro e segundo comportamento alvo; R = resolução; SR = sem resolução; * resolveu o problema
com apenas um cubo refletor.
da durante os quinze minutos foi a inclusão de mento que ficaram sob controle do receptor
um cubo posicionado acima de outro (similar de laser, que sinalizou uma possível forma
ao que foi aprendido na situação de empilhar de resolver o problema. Ao iniciar a intera-
cubos, que era uma habilidade não relaciona- ção com este objeto, os participantes inicia-
da com a resolução da tarefa), que teve como ram a cadeia de resolução do problema, que é
função modificar a altura da saída do laser, mas o padrão consistentemente observado em es-
não foi suficiente para resolver o problema. tudos anteriores de recombinação de reper-
tórios. Entretanto, ao comparar nossos resul-
Discussão tados com os obtidos por Sturz et al. (2010)
com humanos, há uma discrepância entre os
Os dados apresentados mostram que foi pos- resultados relativos ao questionário de expe-
sível produzir a recombinação de repertórios riência prévia, já que no estudo de Sturz et
utilizando mapas criados no jogo Portal 2®. al. (2010) aqueles participantes que apresen-
Os dados obtidos estão alinhados com os da- taram maior experiência extra-experimental
dos descritos em pesquisas anteriores, nos quais resolveram o problema em um menor tempo.
participantes com o devido treino de repertórios No presente estudo, a experiência extra-expe-
pré-requisito conseguem resolver um problema rimental não foi um fator determinante para a
que antes, sem o treino (na situação pré-teste), resolução do problema e os participantes mais
era irresolúvel (Epstein et al., 1984; Neves Fi- experientes não aprenderam e nem resolveram
lho, 2016). Curiosamente, o único participante o problema em um menor tempo, de fato,
que, mesmo após o treino, não resolveu o pro- o participante com mais experiência (P5)
blema final não o fez pois tentou uma solução foi o que não resolveu a tarefa. Talvez, seu
totalmente inédita, não necessariamente liga- amplo repertório com jogos deste tipo tenha
da aos repertórios treinados. Isto possivelmen- atrapalhado a recombinação no teste, o que é
te se deu pelo fato deste participante ter sido o uma pergunta empírica em aberto que pode
participante com maior experiência com jogos ser explorada em experimentos futuros que
em primeira pessoa, como medida pelo ques- tenham como objetivo compreender melhor
tionário aplicado. a relação entre história experimental com um
No teste, todos os participantes emitiram jogo e história extra-experimental genérica
respostas iniciais de exploração até o mo- com jogos similares.
Tabela 3
Comportamentos emitidos em maior frequência durante a fase de teste em comparação com os emitidos no pré-teste
Teste
Participante Pré-teste Teste
P1 Bot. Press. Cubos SR Cubo Refl. Portais R
P2 Bot. Press. Portais SR Cubo Refl. Portais R
P3 Bot. Press Cubos SR Bot. Press. Cubos R
P4 Cubos Pular SR Cubos Esferas R
P5 Bot. Press Cubos SR Cubo Refl. Portais RP
Nota. Na primeira e segunda coluna de cada teste se encontram os elementos que os participantes interagiram com
maior frequência, na terceira seria se houve resolução do problema ou não. Bot. Press.= colocar objetos no botão
de pressão; Cubos= interagiu com qualquer tipo de cubo; Portais= emitiu um ou mais portais; Cubo Refl.= intera-
giu com cubos refletores; Esferas= interagiu com esferas; SR= sem resolução; R= resolução; RP= resolução parcial.
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Anexo I
Para conseguir acessar os mapas você precisará ter: 1) uma conta na plata-
forma Steam; 2) adquirir o jogo Portal 2 nessa plataforma.
Após preencher esses requisitos você deve se inscrever nos mapas utiliza-
dos no experimento usando essa URL (https://steamcommunity.com/sharedfi-
les/filedetails/?id=1764667969), para tal basta clicar na área demarcada em ver-
melho na Figura 6.
Figura 6. Menu da coleção com as salas. Ao clicar no botão circulado em vermelho, a sua conta
na Steam irá fazer o download dos mapas, que poderão ser acessados no jogo.
Após inscrito as salas apareceram em um submenu chamado “Play Single Player Chambers”
(Figura 8) dentro do menu “Community Test Chamber” (Figura 7).
Figura 7. Menu principal do jogo. Ao selecionar a opção “Community Test Chambers” os mapas
adicionados estarão disponíveis.
Figura 8. Submenu “Community Test Chamber”. Para Figura 9. Submenu “Play Single Player Chambers”
acessar os mapas, basta escolher a opção “Play Single com os mapas do experimento. Para rodar os mapas na
Player Chambers”, já que os mapas criados neste ex- ordem utilizada no experimento, basta selecionar FASE
perimento são para um jogador apenas (o jogo permite 1 e clicar em PLAY. Ao terminar um mapa, o jogo auto-
mapas para dois jogadores simultâneos). maticamente seguirá para o próximo mapa da sequên-
cia do experimento.
Para abrir o nível desejado basta clicar duas vezes em seu nome. Como demonstrado na Fi-
gura 9. A Fase 1 corresponde a sala de familiarização; a Fase ALFA corresponde a sala de pré-
teste e teste; a Fase 3.1 corresponde ao treino do uso funcional dos portais; e a Fase 3.2 seria o
treinamento dos dois repertórios pré-requisitos.
variability as an operant dimension, these limited response Correspondence concerning this article
should be addressed to Joseph D. Dra-
classes have prevented a more robust understanding of nov- cobly, Department of Behavior Analysis,
elty. Following the development of the lag schedule, applied University of North Texas, 1155 Union
Circle, Box 310919, Denton, TX 762013.
researchers began using lag schedules to increase complex
behavior such as responses to questions, social skills, and
martial arts skills. This applied literature has provided in-
triguing evidence that variability is a key contributor to nov-
elty, thus bringing creativity well into our scientific under- Dados do Artigo
standing of behavior. DOI: 10.31505/rbtcc.v21i3.1296
Keywords: creativity, variability, novelty, conceptual anal-
Recebido: 29 de Junho de 2019
ysis, application
Revisado: 07 de Outubro de 2019
Aprovado: 06 de Novembro de 2019
RESUMEN: La creatividad, o comportamiento previamen-
Como citar este documento
te no observado, es un tema de interés para los científicos y
Dracobly, J.D. (2019). On the relation be-
el público en general. Los investigadores fuera del análisis tween variability and creativity: a summa-
de comportamiento se han centrado en la creatividad como ry of conceptual work and advancements
from applied research. Revista Brasileira
un rasgo. Los analistas de comportamiento, sin embargo, se de Terapia Comportamental e Cognitiva.
han centrado en las variables que dan lugar a nuevas res- 21(3), 289-302. doi: https://10.31505/
rbtcc.v21i3.1296
puestas. El trabajo conceptual examinó variables ambienta-
les específicas que pueden promover la creatividad, el papel
de la clase de respuesta y la naturaleza selectiva del refuer-
zo. La mayoría de los investigadores básicos, y algunos in- É permitido compartilhar e adaptar. Deve dar o crédito
apropriado, não pode usar para fins comerciais.
vestigadores aplicados, se han centrado en las secuencias
69). That is, a creative response is one that may ria but rather were based on the experimenter
have repeated components but differs in some recalling previous responses and subjectively
meaningful way from previous responses. In comparing the currenet response to the previ-
other words, a core component of creativity is ous responses the experimenter could recall.
variability. The foremost researcher on vari- At the very least, participants produced high-
ability, Allen Neuringer, has written about the er levels of variation when receiving instruc-
relation between variability and creativity. A tions and general praise. The role of variation
seminal paper (Neuringer, 2003) on these top- is further supported by applied research on re-
ics was published in a collection of presenta- inforcing novelty.
tions from the 2000 conference on Behavior Both Lalli, Zanolli, and Wohn (1994) and
Theory and Philosophy. Goetz and Baer (1973) examined the role of
praise on novel toy play (Lalli et al.) and novel
Justification block building (Goetz & Baer). In each study,
novel interactions with materials resulted in so-
As all-encompassing science of behavior, cial praise. Both groups found that praise in-
it is important for behavior analysis to provide creased novel interactions. However, as in the
not only a conceptual account but also an em- Maltzman et al. (1958) study, there were no
pirical account of even the most complex re- study-based measures of novelty. That is, the
sponses, such as creativity. researchers did not measure whether a given
response had ever occurred before. Rather, re-
Goals searchers delivered reinforcement if some com-
ponent of the response was different from those
I will begin by reviewing some of the work before. For example, a participant could emit
discussed by Neuringer, including some addi- the following response: cube on tube, triangle
tional explanation and extension. I will then on cube, ball in tube, and triangle on cube. One
discuss some more recent applied research that could consider each response novel the first time
provides some unique insight into the relation the participant emitted each response. Howev-
between variability and creativity. er, because Lalli et al. and Goetz and Baer did
not record whether a given response had previ-
Early Work on the Relation Between ously occurred, it was possible for a participant
Variability and Novelty to access continuous reinforcement by emitting
the same sequence of responses in each phase.
As Neuringer (2003) noted, behavior ana- Taken together, these studies provide prelim-
lytic researchers have conceptualized creativi- inary evidence of the importance of variation
ty as novelty. For example, Maltzman, Bogartz, in novelty and creativity. This is an important
and Berger (1958) evaluated the role of instruc- distinction for several reasons.
tions and general praise to vary on participants First, in each study, a response was com-
novel responses to repeatedly presented stimuli. prised of multiple components. For example,
They found that instructions plus general praise in Goetz and Baer (1973), a response was a
produced the highest rate of novel responses. block structure. The authors developed a list
However, a determination of whether a given of 20 components and evaluated each struc-
response was novel was based on experimenter ture that contained a combination of compo-
memory. That is, the comparisons Maltzman et nents that had not occurred in that same ses-
al. made were not based on pre-defined crite- sion. Although each structure needed to have
at least one novel component to produce rein- sion. The notion of a functional response
forcement, it was possible for the remainder class as a unit (Catania, 1973; Iversen, 2012;
of the structure to have the same combination Skinner, 1935) brings to question the possibili-
of components. Additionally, because this cri- ty of pure novelty. Neuringer (2003) noted this
terion reset after each session, the changes in may be at the core of understanding how cre-
components could have been the same across ativity can be sensitive to reinforcement. Re-
sessions. At the least, the high rate of reinforce- inforcement acts to alter the probability of the
ment indicates variation was occurring but it response class rather than individual topogra-
is not clear to what extent the entire structure phies separately. When focusing on a single re-
would be considered novel or creative. This sponse, we may refer to two types of novelty:
is an important distinction because of the role “objective” novelty and “functional” novel-
of history of the observer in determinations of ty. “Objective” novelty may be considered a
novelty. Without sufficient exposure to a large response that an organism has never emitted.
number of responses, an observer making de- “Functional” novelty may be considered a re-
termination of novelty may be based on vari- sponse that an outside observer has never ob-
ation amongst previously emitted, but unseen served another organism emit. An analysis of
by the observer, responses. Further, the num- “objectively” novel responses presents the most
ber of components that must vary has not been, difficult issue for a science of behavior. When
and may not be able to be, objectively defined. reinforcing an “objectively” novel response, for
Therefore, each observer making a determina- reinforcement to occur, a response must nev-
tion of novelty may “require” more or less num- er have contacted reinforcement previously. If
bers of components that are novel to classify a that response had previously contacted rein-
multi-component response as novel. forcement, it would not be ”objectively” novel.
The second distinction, as highlighted by However, for responding to continue to occur,
Neuringer (2003), presents a more difficult con- something must be contacting reinforcement.
ceptual issue. For a response to be operant, it This presents two potential issues. First, it is
must be maintained by its consequences. For a not clear how a response class could be estab-
response to be maintained by consequences, it lished if each topography produced reinforce-
must be emitted at least once, contact a conse- ment once. For example, if a novelty contingen-
quence, and occur at least once more. Of course, cy is in place, the first time a response occurs,
this presents a particular problem for the study it would produce reinforcement. Subsequent in-
of creativity from an operant perspective. Cre- stances of that topography would produce ex-
ative responses are typically viewed as those tinction. In that case, the first member of the
that have never occurred before, or some new class would have greater exposure to extinction
combination of previously learned respons- than reinforcement (see Cammilieri & Hanley,
es (e.g., adduction; c.f., Andronis, Layng, & 2001 for some demonstration of these effects).
Goldiamond, 1997; Arieti, 1976; Hennessey One alternative mechanism that may account
& Amabile, 2010). If a response has never oc- for the issue of one-reinforcment-per-response
curred, it is difficult to call that response op- is the variability-inducing effects of extinction
erant. However, the radical behaviorist per- (e.g., Antonitis, 1951; Morgan & Lee, 1996).
spective offers a solution. Specifically, three That is, the extinction may immediately induce
principles of operant behavior seem most rel- a new response, which contacts reinforcement,
evant: probability of responding, the response and the pattern is repeated as the response class
class, and variability as an operant dimen- grows. Second, reinforcement of novelty only
would require an infinitely large response class. produce reinforcement, the four- peck sequence
Although this is theoretically possible (e.g., de- would have to differ from the 10 preceding
pending on the sophistication of measurement four-peck sequences. Therefore, lag schedule
systems, one could observe multiple, albeit allows one to reinforce alternation in respons-
subtle, novel components of a response from es. In addition to producing moment-to-mo-
instance to instance – see Catania, 2012, for a ment changes in responses, Page and Neuring-
discussion of the possibility that all respons- er were also interested in the predictability of
es are novel ), in practice, it is not clear if this a response, anotherwhich could be considered
is functionally possible. Additionally, several another component of variability. They devel-
researchers have questioned the possibility an oped the U-value to determine the uncertain-
“infinite” response class (cf. Machado, 1989, ty of response sequences, based on compari-
Machado & Tonneau, 2012; Neuringer, 2012). sons of the probability of components of the
Given these issues, a broader perspective of be- sequence (a single response, pairs of respons-
havior-environment relations may be necessary es, and triplicates of responses). As the U-val-
to clarify the relation between response vari- ue approaches 1, the predictability of respons-
ability and creativity. es approaches 0. Page and Neuringer found
The first possible solution to the establish- that as lag schedules increased, the U-values
ment of a response class when the first response increased in a curve-linear fashion. Although
only produces reinforcement once is chang- the U-value is a measure of predictability, it is
ing focus to “functional” novelty. “Function- may not be sufficiently sensitive to all respons-
al” novelty is predicated on an observer’s his- es emitted by an organism. This is particular-
tory with respect to the response class. That ly important when studying creativity, as it is
is, if one cannot predict what topography will a comparison to all previous responses that is
occur, low probability responses may appear most relevant in determine the “creativity” of
novel. This understanding is found in even a response rather than the unpredictability of
Skinner’s earliest writings on operant behav- a response or the relative frequency of compo-
ior (e.g., Skinner, 1938). In fact, the very idea nents of the response. Additionally, the U-val-
of reinforcement is predicated on altering only ue is not sensitive to repeated patterns of re-
the probability of future responses. Therefore, sponding (i.e., higher order stereotypy). For
behavior analysts have long viewed any giv- example, if an organism emits 10 responses
en instance of a response as probabilistic (e.g., sequences in a fixed order, the U-Value could
Machado, 1997). More recently, several behav- approach 1.0 but most would not call that pat-
ior analysts have developed methods to quanti- tern variable or creative.
fy the relative probability of a response. In one An alternative approach to the study of re-
of the seminal papers on response variability, sponse probability was used by Machado (1989;
Page and Neuringer (1985) described the lag 1992). Machado evaluated the effects of a per-
schedule and the U-value. The lag schedule is centile schedule on the variability of response
a schedule in which reinforcement is based on sequences. In a percentile schedule, reinforce-
a response differing from a specified preced- ment is available for responses that fall below
ing number of responses. For example, a com- a specified relative frequency value. Machado
mon response in basic research on response then determined the predictability of responses
variability in Page & Neuringer, one of the re- using Markov-chain analysis. Overall, Macha-
sponse-sequence requirements wasis a four-peck do found that responses were nearly stochastic
sequence across two keys. Under a lag 10, to under lean percentile schedules (e.g., probability
below .25). In the study of creativity, there is a product, these components be combined in dif-
distinct advantage to percentile schedules over ferent ways and the components themselves may
lag schedules. In a percentile schedule, deter- vary along some dimension (e.g., the intensi-
mining the probability of a response is not lim- ty of a color). Given this, it appears creativity
ited to a comparison with a subset of response may not be as much about the individual com-
components. Instead, the comparison is will ponents of responses but rather the ultimate
all previous responses. Additionally, with suf- product of those components. This notion fits
ficient exposure and a sophisticated measure- well with the science of behavior.
ment system, one could determine the overall As we advance in our understanding of be-
probability of a response, based on a compar- havioral variability, it may be useful to shift
ison to all previous responses. Taken together, our focus from analysis of discrete respons-
analyzing the probability of response may be es to analysis of a larger unit. As in the exam-
one metric by which to evaluate the creativity ple of a painting, the relevant variability may
of a response. That is, the lower the probabil- be at the level of the response product rather
ity of a response, the more likely it is a nov- than the moment-to-moment changes in com-
el response. However, this supposition is not ponents/instances/etc. The idea of focusing
without issues, namely the understanding that on a collection of responses that produce the
repertoires are not isolated components. Addi- same outcome is not new in behavior analy-
tionally, to calculate the relative probability of a sis. Our understanding of operant behavior in-
response, one must know all possible respons- cludes some formal relations between respons-
es. In the research literature, this has been pos- es, with the most common being the notion of
sible because most of the responses have been the response class (e.g., Catania, 1973; Iversen,
sequences, with a fixed-number of combina- 2012; Skinner, 1938). In a functional response
tions (e.g., Dracobly, Dozier, Briggs, & Juani- class, the individual topographies, however
co, 2017; Page & Neuringer, 1985; Machado, varied, all produce the same reinforcer. Addi-
1997). As one begins analyzing more complex, tionally, because the response class is descrip-
“open-ended” responses, this becomes more dif- tive, the “size” of the class is not pre-defined.
ficult. Finally, a novel response may This issue In fact, much of the treatment of severe prob-
becomes clear as one moves beyond the analy- lem behavior is predicated on the ability to ex-
sis of discrete responses into that of more com- pand the response class by choosing a simple
plex behavior, such as artistic behavior. response that produces the same reinforcer as
problem behavior (e.g., Carr & Durand, 1986;
Translating the Response Class to Fisher et al., 1973; Tiger, 2008).
Common Notions of Creativity One issue with this approach is that it ap-
pears to limit our ability to predict and control
An artist often has a “style” that can be iden- behavior (e.g., Skinner, 1953). That is, if a re-
tified by the public. In behavioral terms, one sponse class is infinite and new responses can
might conceptualize this as the artist’s respond- be “added” at any time, it would be, practical-
ing producing response products that have cor- ly speaking, impossible to ever predict what
respondence across instances of the final prod- response will occur, let alone have sufficient
uct. That is, in creating a piece of art, an artist control to make a response occur or not occur.
may repeat many components, such as a brush Several other researchers have made points
stroke, the placement of a color, or the place- similar to these and have posited alternative
ment of an object. Across instances of an art explanations for changes in variability, such
asreinforcement of switching (e.g., Machado, ris, 1987; Neuringer, 1991; Page & Neuringer,
1997; see Barba, 2014, for a review of various 1985). Because of this, the size of the response
accounts). An alternative is to shift the focus class is fixed and can be determined at the be-
of where one looks for prediction and control. ginning of the study using simple mathemat-
When one examines the notion of a re- ical formulas. In one sense, then, responding
sponse-class account of variability, taken apart, is always predictable and controllable - a re-
there are two primary premises of this account. sponse will come from that set response class.
First, reinforcement operates on the response At another lever, however, responding is not
class as a whole rather than on individual mem- predictable, as one may not be able to predict
bers discretely. Second, the individual members or control the specific sequence that will occur.
of the response class are not particularly use- In fact, researchers have found that responding
ful or relevant to the prediction and control of can approach near stochasticity based on vari-
behavior - the response class is strengthened ability specific U-values (e.g., Page & Neuring-
even if single members do not occur at an in- er, 1985; Miller & Neuringer, 2000) or common
creasing rate. This first component is relative- mathematical analyses of stochasticity such as
ly uncontroversial. The functional approach Markov-chain analyses (e.g., Machado, 1997).
to the study of behavior relies on relations be- With respect to creativity, variability ap-
tween behavior and environment. Insofar as a pears to be the most important factor. Before
response produces the same reinforcer as an- addressing this, I will note that there is likely
other response under the same conditions, we an important contribution of verbal behavior,
may say those responses are related in some particularly on the part of an observer. The tact,
way. However, this relation is merely one of “creative” is likely controlled by an organism’s
verbal contrivance - if it is useful, we may use history and the specific training of the verbal
it, as in the case of functional communication community. However, an analysis of this is be-
training (e.g., Carr & Durand, 1985; Fisher et yond the scope of the paper. Returning to vari-
al., 1996). However, in terms of the natural re- ability, when a creative response occurs, it is
lation, it is the relation of the consequence and unlikely that it includes components that are en-
the antecedent conditions that are what control tirely novel. One of my favorite comprehensive
the responses. The second premise, the limited artistic structures are the Medici Chapels in in
utility of the individual members of a response the church of San Lorenzo in Florence, Italy.
class in the prediction and control of behavior, Within the chapels, there are frescoes, carved
may be a bit more tenuous (see Barbara, 2014, stones, tombs made of stone and precious ma-
for a discussion of the discriminative proper- terials, sculptures, mosaics, and other forms of
ties of prior responses) art and sculpture. Each of these was made by
One of Skinner’s most unique contributions artisans who spent years perfecting their craft.
to the science of behavior was to change the As a whole, I have never seen another location
emphasis from the form of a response to the that looks just like the chapels. However, each
consequences of a response. However, in some part of the chapel, in some way, is repetitive.
ways, this notion is reversed when studying re- For example, the frescoes contain shapes and
sponse variability. In much of the research on colors that the artist likely used many times be-
behavioral variability, the primary dependent fore creating frescoes in the chapel. Likewise,
measures have been based on sequences of re- the sculptures, including the carved plaques, in-
sponses (e.g., Dracobly et al., 2017; Machado, cluded names, faces, and bodies that the artists
1989; Machado, 1992; Machado, 1997; Mor- had sculpted before (i.e., as either stand-alone
pieces or in other materials in preparation for session, Goetz and Baer took photographs of
the final stone versions in the chapels). Why, the final structures and coded the components
then, do we consider the chapels to be creative? of structures according to 20 pre-defined cat-
The most parsimonious answer may be that egories. Goetz and Baer found that when they
the individual responses, including the order reinforced the emission of novel block forms,
they occur and the products they produce, are children emitted an increasing number of nov-
highly variable and thus are a unique combi- el block forms. Likewise, when they reinforced
nation that has not been replicated. For exam- repetitive block forms, the children reliably re-
ple, although the artist may have used colors, peated the same forms. Taken together, Pryor
shapes, faces, and the like in previous works, et al. and Goetz and Baer provided initial ev-
the final fresco and the location in which the idence that novel responding was sensitive to
fresco appears are new and thus the fresco is reinforcement and that reinforcement of mo-
uniquely creative. In this case, then, it is the ment-to-moment novel responding produced
specific combination of variable responses that systematic changes in the novelty of response
is what makes the response unique and cre- products.
ative. More recent applied work may highlight
the need to shift from an analysis response se- Reinforcement of Variability
quences to analysis of response products in or-
der to study creativity. More recent applied research has focused
on several different response forms, from block
Applied Research designs to responses to questions, to martial
on Response Variability arts skills. Using procedures similar to those
used by basic researchers, in Study 2, Draco-
Reinforcement of Novelty bly et al.2017) evaluated the effects of sev-
eral lag schedules on children’s four-block
Early applied research on creativity focused sequences. The lag schedules involved rein-
on analyzing responses that were comprised of forcing a response if it differed from a previ-
many components that could vary. Two seminal ous number of responses. For example, in the
studies in this area, Pryor, Haag, and O’Reilly fixed-lag 4 conditions, a response had to dif-
(1969) and Goetz & Baer (1973), demonstrat- fere from the preceding four responses. In the
ed that reinforcement of novel response prod- variable-lag 4 conditions, the average lag val-
ucts increased behavioral variability. Pryor et ue was 4, but on each trial, the lag value could
al. provided reinforcement for novel respons- vary from 0 (any response produced reinforce-
es by porpoises. As they reinforced the novel ment) to 8 (a response had to differ from the
responses, defined as “trick performances” by eight preceding responses). Under both fixed-
the porpoises, they found that the two porpoises lag 4 and variable-lag 4 (in which the lag value
began emitting novel responses that had never averaged 4 but varied between 0 and 8 across
before been emitted. Additionally, within ses- the 20 trials), Dracobly et al. found that as mo-
sions, they found that there was variation be- ment-to-moment variation increased, so did the
tween previously reinforced responses and nov- production of novel responses, with the high-
el responses. In a more direct evaluation of the est production of novel responses occurring in
effects of reinforcement on response products, the variable-lag 4 conditions.. Interestingly, this
Goetz and Baer provided descriptive praise for novelty included responses never before seen
children’s novel block forms. At the end of each from the participant across the entirety of the
study. Napolitano, Smith, T., Zarcone., Good- alternation between two responses, applied re-
kin, and McAdam (2010) found similar results. searchers have reliably found that participants
Even under a lag 1 schedule, in which respons- will alternate between a small number of re-
es only had to differ from the immediately pre- sponses (see Fonseca Júnior & Hunziker, 2017,
ceding response, Napolitano et al. found that for a contrary finding under a lag schedule in
as moment-to-moment variation increased, so an avoidance arrangement). Despite this, Lee
did novelty along other dimensions of respons- et al. found that more than two novel respons-
es (e.g., form or color). Although the responses es occurred, indicating that even minor expo-
were block structures, both Dracobly et al. and sure to contingencies that promote variability
Napolitano et al. provided a demonstration that can also increase novelty. Second, the response
while sequence components were constrained, form chosen by Lee et al. was much more rele-
directly reinforcing variability could produce vant to assessing the effects altering variability
response product (final sequence comprised of on novelty. Because responses to questions are
four blocks) products. However, as stated earli- not as constrained in permutations as responses
er, this focus on response sequences limits the with limited physical materials, the possibility
applicability of these results to understanding for novel response products is increased. For ex-
the relation between response variability and ample, in the Lee et al. study, one of the ques-
creativity per se (i.e., because not all respons- tions was, “What do you like to do?” (p. 393).
es are comprised of a pre-determined number There are many possible responses to this ques-
of components). tion that could vary in multiple ways. For ex-
Other researchers have chosen response ample, a response could simply be the name of
forms that allow for broader moment-to-mo- an activity. Alternatively, a response could in-
ment variation in response components and clude a complete sentence with multiple parts
overall response product novelty. Lee, McCo- of speech. Additionally, a response could in-
mas, and Jawor (2002) evaluated a lag 1 sched- clude imaginary responses, a skill common-
ule on responses to social questions (e.g., ques- ly considered creative. Subsequent research-
tions about preferences, how one was feeling, ers have found similar results.
etc.). After identifying questions that produced In a similar study, Lee & Sturmey (2006)
repetitive responses, Lee et al. provided either a compared the effects of a lag 0 (all responses
token or praise with physical interaction when produce reinforcement) and lag 1 schedule on
a response to a question differed from the im- appropriate responses to social questions. Over-
mediately preceding response to the same ques- all, they found the lag 1 schedule was effec-
tion. Overall, Lee et al. found that the lag 1 tive in increasing the variability, novelty, and
schedule was effective in increasing the vari- appropriateness of responses, with all param-
ability of responses to questions. Additionally, eters decreasing under lag 0. Radley, Moore,
although the number of different responses re- Hart, Ford, and Helbig (2019) obtained simi-
mained relatively low, the lag 1 schedule was lar results. Radley et al. compared behavioral
effective in producing novel responses to ques- skills training (BST) alone and BST plus lag
tions. These results are promising in advancing schedules on increasing four appropriate so-
our understanding of the relation between vari- cial skills. Three of the four skills were ver-
ability and creativity. First, although the over- bal skills: “Maintaining a Conversation,” “Ex-
all number of novel responses remained low, pressing Wants and Needs,” and, “Responding
a major contributor to this was likely the low to Questions” (p. 69). Overall, Radley et al.
lag value. That is, because a lag 1 requires only found that both lag 2 and lag 4 schedules pro-
duced increases in varied responses. However, and Baer (1973) – a given response could pro-
lag 4 produced the greatest increase, including duce reinforcement only once, for the entire
the generation of novel responses. In summary, duration of the study. Across all phases of the
when investigating the effects of lag schedules study, the authors assessed systematic changes
on vocal responses, there is emerging evidence in the variability of responses during sparring
from the applied literature that increasing re- sessions that involved 20 strikes from the in-
sponse variability can produce similar increas- structor. Prior to the lag evaluation, the instruc-
es in response novelty. Additionally, given the tor directed punches for participants to counter-
potential for very large verbal responses class- strike as baseline of the participant’s variability
es (i.e., due, in part, to the variety of compo- of counterstrikes. When the lag schedule was
nents of vocal-verbal responses), the potential implemented, each novel counterstrike produced
for variable responding producing creativity verbal praise. Overall, Harding et al. found that
remains promising. the novelty of counterstrikes increased during
Although these results are promising, re- both the training (with lag) and sparring (with-
sponses to questions requires repetition of the out lag) sessions. In other words, once novel
question. In a given social interaction, it is un- counterstrikes increased during training, nov-
likely that a question or statement from anoth- el counterstrikes continued to be emitted in the
er person will be repeated multiple times. In- absence of direct reinforcement. The most in-
stead, a person may ask a question once, and triguing result of this study is the necessity of
then begin making a variety of statements. To novel, or creative, responses during sparring.
date, there have been no investigations of the During the sparring sessions, the initial strike
response variability and novelty in the con- from the instructor could be fixed. However,
text of a typical conversation. However, there because the counterstrikes were variable, the in-
has been one applied study that may serve as a structors behavior had to immediately change.
reasonable metaphor. Harding, Wacker, Berg, The next strike from the instructor was highly
Rick, and Lee (2004) evaluated the effects of variable, which required immediate adaptation
lag schedules on martial arts performance. Al- of the participant. This pattern continued for the
though martial arts are topographically dissim- entire sparring session. To an outside observer,
ilar to vocal-verbal responding, what occurs then, each sparring session would look like a
during a sparring session (or during the use of unique “match,” full of creative back and forth
martial arts in a defense of oneself) is similar strikes from the two participants. However, the
to that of a conversation. When sparring or de- moment to moment changes were based on the
fending oneself, an individual must respond to direct reinforcement of variability in the train-
the behavior of another person and this pattern ing sessions and, likely, the likely the result of
continues for an often unspecified period of two factors. First, the direct reinforcement of
time. Additionally, what makes this different varied responding likely created a history in
from any standard social interaction is that the which variable responding was more likely to
response of one person directly affects the pa- occur in sparring situations. Second, the nov-
rameters of appropriate responses of the other el strikes from the instructor may have also
person. In this study, Harding et al. evaluated induced variable responding, as they served
the effects of a lag “infinite” schedule on vari- as on-going, novel antecedent events. Relat-
able punching and kicking during martial arts ing this back to vocal-verbal responding, the
training and sparring. The lag “infinite” sched- sparring sessions could be considered some-
ule was similar to the schedule used by Goezt what equivalent to conversations - a repetitive
statement by a conversation initiator (e.g. ask- Across the basic and applied literature on
ing a name) leads to a reply that then evokes a response variability, one common response
variable response by the conversation initiator form is sequences of responses (e.g., Mach-
and this pattern continues to increase in vari- ado, 1989; Page & Neuringer, 1985; Draco-
ability as the conversation progresses. bly et al., 2017). Because sequences are com-
Taken together, given the potential size of prised of pre-determined components, the size
the response classes for these complex, socially of the response class is restricted. In a very
significant responses, the results of these applied broad sense, then, none of the responses may
studies examining the effects of reinforcing var- be considered “creative” because one can al-
ied responses provides intriguing information ways know all the possible responses. In this
about the relation between variability and cre- case, one may consider groups of sequences as
ativity. In each of the applied studies with vo- novel. However, even with restricted response
cal-verbal responding or martial arts, the be- classes, researchers have observed the occur-
havior of one individual evokes a response in rence of novel responses from those restrict-
another individual. However, the response that ed classes. Given these findings, the seeming
is evoked is not highly constrained like those incompatibility between production of novel
in response sequences. Additionally, the back responses and the notion of a non-infinite re-
and forth nature of these types of social inter- sponse class may be due to, in part, procedur-
actions may not only make variable responses al and analytical decisions.
more likely but they may be the clearest exam- More recent applied researchers have inves-
ple of how environmental variables, including tigated responses that may be part of very large,
reinforcement, can directly affect creativity. even of indeterminate size, response classes: vo-
cal-verbal responses to open-ended questions
Summary, Conclusions, (e.g., Lee et al., 2002) and martial arts (Hard-
and Future Directions ing et al., 2004). Researchers have found that
by reinforcing variability of responses, partic-
Creativity is a topic of interest to society at ipants will not only vary in their responses to
large. As a natural science, the science of be- the preceding behavior of others but that the re-
havior has sought to understand the variables sponses of participants are often novel. The an-
that control these types of complex responses. tecedent influence of the behavior of others on
Because creativity involves responses that are subsequent variable responding is a particular-
novel, an account based on past reinforcement ly interesting finding. Because creativity is, in
of a specific response form appears to be inad- part, based on an observer’s history, the influ-
equate. A possible solution to this issue is to ex- ence of another person, in the moment, presents
amine the functional response class. Because re- another variable to consider in a behavioral anal-
inforcement operates at the level of the response ysis of variability and creativity. Although these
class, it may not be necessary to account for the findings are preliminary and in need of much
occurrence of an individual topography. That is, replication and further examination of the ba-
as reinforcement strengthens the response class sic processes at work, they do provide intruding
as a whole, accounting for the occurrence of a insight into how reinforcement-based process-
single response may be irrelevant. However, one es may produce creative behavior. For exam-
must then account for the occurrence of this nov- ple, even in relatively restricted response class-
el response by examining other variables. One es (e.g., a young child with a very limited verbal
possibility is the reinforcement of variability. repertoire), the reinforcement of variability may
increase the likelihood that very infrequent re- reinforcement of variable conversations contin-
sponses are emitted. Given the social control of ues, the potential for unique, creative conversa-
the classification of creativity, these infrequent tions grows even more. At the core, however, is
responses may be novel if one’s history interac- a history of reinforcement for variable behav-
tion with the individual is limited. As one be- ior, which makes possible variable responses
gins investigating responses that are more com- to variable initiations from another individual.
plex (e.g., involving multiple components), the At this point in time, much of this analysis
possibilities become even greater. In creating a of the relation between variability and creativ-
painting, many of responses may be repetitive ity is conceptual. In studying variability, as we
(e.g., colors used, brush strokes, shapes, etc.). move from an empirical analysis of response
However, reinforcement of variability, such as sequences to an empirical analysis of open-end-
praise for the same object in multiple colors or ed response classes, the opportunity for a more
including different objects on the same painting, complete understanding of the relation between
may increase the likelihood that novel respons- variability and creativity becomes possible. Ul-
es of repetitive components are emitted. As one timately, it is clear that the science of behavior
moves beyond responses involving a single in- not only has much to say about creativity, but
dividual, understanding the role of operant pro- may also be uniquely positioned to describe
cesses in creativity becomes even more exciting. how creativity develops. As the world looks for
In social situations, the behavior of one person unique solutions to a variety of problems, it is
evokes a response in a second person. Social re- clear that the science of behavior may provide
sponses, then, may provide a unique context for just the creative solutions we need.
studying creativity. A common skill from early
childhood education may be helpful to explain References
this. In teaching children conversation skills, a
teacher may reinforce a child’s talk about differ- Amabile, T. M. (1985). Motivation and creati-
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N. Chase (Eds.). Behavior Theory and
dem explicar os fenômenos perceptuais e como estes inte- Endereço: R. Juvêncio Alves, 660 - Cen-
tro, Quixadá - CE, 63900-000, Brasil.
gram as cadeias de solução de problemas. A capacidade de
reverter a percepção de figuras ambíguas pode ser compre-
endida como um comportamento operante cuja consequência
imediata consiste na eliciação de uma nova resposta condi-
cionada de ver. Simultaneamente, ocorre também a supres- Dados do Artigo
são da resposta condicionada de ver que estava sendo eli- DOI: 10.31505/rbtcc.v21i3.1354
ciada antes da reversão. A realização dessa mudança súbita
Recebido: 02 de Agosto de 2019
de percepção parece ser um importante precorrente em di-
Revisado: 07 de Novembro de 2019
versas situações de solução de problemas, especialmente as Aprovado: 21 de Novembro de 2019
classificadas como insight. Com essa análise, espera-se con-
Como citar este documento
tribuir para uma compreensão mais refinada dos fenômenos
Magalhães, T. (2019). Percepção de Fi-
em questão, o que pode ser útil para a construção de futuros guras Ambíguas e Criatividade: uma in-
delineamentos experimentais e para a elaboração de inter- terpretação analítico-comportamental.
Revista Brasileira de Terapia Comporta-
venções voltadas à promoção da criatividade. mental e Cognitiva. 21(3), 303-316. doi:
Palavras-chave: figuras ambíguas; percepção; solução de https://10.31505/rbtcc.v21i3.1354
problemas; insight; criatividade
associated with creativity, because of its similarities to insight. This paper presents a theoreti-
cal analysis of the perception of ambiguous figures and their possible relevance to the study of
problem solving. Skinner’s interpretations as well as experimental data on spontaneous inter-
connection of repertoires inspired by Köhler’s studies are examined. From these contributions,
I propose interpretations about how the various interactions between operants and respondents
can explain the perceptual phenomena and how they integrate the problem solving behavioral
chains. The ability to reverse the perception of ambiguous figures can be understood as an op-
erant behavior whose immediate consequence is the elicitation of a new conditioned seeing re-
sponse. At the same time, there is also the suppression of the conditioned response of seeing
the other way, which was being elicited before reversal. Achieving this sudden change of per-
ception seems to be an important precurrent behavior in many problem-solving situations, es-
pecially those classified as insight. With this analysis, I hope to contribute to a more refined un-
derstanding of the phenomena in question, which may be useful for the construction of future
experimental designs and for the elaboration of interventions aimed at promoting creativity.
Keywords: ambiguous figures; perception; problem-solving; insight; creativity
RESUMEN: Las figuras ambíguas, como como el pato conejo y el cubo de Necker, se pueden
ver de dos maneras distintas, incluso si los objetos observados no cambian físicamente. Es ha-
bitual considerar que este fenómeno está asociado con la creatividad, debido a sus similitudes
con el fenómeno conocido como insight. Este artículo presenta un análisis teórico de la percep-
ción de figuras ambiguas y su posible relevancia para el estudio de la resolución de problemas.
Se examinan las interpretaciones de Skinner, así como los datos experimentales sobre la recom-
binación de repertorios inspirados en los estudios de Köhler. A partir de estas contribuciones,
proponemos interpretaciones sobre cómo las diversas interacciones entre operantes y reflejos
pueden explicar los fenómenos perceptivos y cómo integran las cadenas de resolución de pro-
blemas. La capacidad de revertir la percepción de figuras ambiguas puede entenderse como un
comportamiento operante cuya consecuencia inmediata es la provocación de una nueva respues-
ta condicionada a la vista. Al mismo tiempo, también ocurre la supresión de la respuesta con-
dicionada de ver que se estaba generando antes de la reversión. Lograr este cambio repentino
de percepción parece ser un precedente importante en muchas situaciones de resolución de pro-
blemas, especialmente aquellas clasificadas como insight. Con este análisis, esperamos contri-
buir a una comprensión más refinada de los fenómenos en cuestión, que pueden ser útil para la
construcción de futuros diseños experimentales y para la elaboración de intervenciones desti-
nadas a promover la creatividad.
Palabras clave: figuras ambiguas; percepción; resolución de problemas; insight; creatividad
solução de problemas a que se convencionou mento pode ajudar a compreender esses fenô-
chamar de insight (Ohlsson, 1984; Laukkonen menos e suas possíveis inter-relações? Este ar-
& Tangen, 2016; Shettleworth, 2012). tigo esboça uma resposta para essa pergunta,
realizando uma análise teórica da percepção
de figuras ambíguas, com base em conceitos
e dados empíricos analítico-comportamentais.
As interpretações de Skinner (1953; 1974) so-
bre a percepção e estudos experimentais sobre
solução de problemas (Delage, 2006; Epstein,
1981; Epstein, 1985; Epstein, 1996; Neves Fi-
lho, 2015; Neves Filho, 2018) oferecem possi-
bilidades promissoras de compreensão desses
Figura 1: Exemplos de Figuras Ambíguas intrigantes fenômenos, como se pretende evi-
denciar a seguir.
Para os propositores da Psicologia da Ges-
talt, essa similaridade entre a percepção de fi- O Comportamento de Perceber
guras ambíguas e certos tipos de solução de
problemas não seria uma coincidência irrele- Segundo o Behaviorismo Radical, respos-
vante. Esses autores privilegiaram os estudos tas perceptuais podem ser operantes ou res-
sobre fenômenos perceptuais, atribuindo-lhes pondentes (Lopes & Abib, 2002). Observa-se
o status de modelos para estudo de outros fe- a eliciação do perceber, por exemplo, quando
nômenos psicológicos (Penna, 1999). Assim, o sujeito ouve um som nítido que ocorre perto
segundo essa tradição de pensamento, esclare- de si. Em casos assim, sendo a resposta elicia-
cer as propriedades das mudanças perceptuais da sem necessidade de um pareamento de estí-
características da observação de figuras ambí- mulos prévio, diz-se que a percepção é incon-
guas pode colaborar de maneira significativa dicionada. Já na situação em que um logotipo
para a compreensão da criatividade humana. é visto como sinal de que o estabelecimento
Na literatura científica mais recente, não são que o ostenta serve comidas saborosas, a per-
raros os estudos que tentam demonstrar empiri- cepção é condicionada. Essa forma de ver con-
camente a relação entre esses fenômenos, me- dicionado deve-se aos pareamentos de estímu-
dindo a criatividade por meio de testes como los pelos quais o indivíduo passou ao longo de
o Guilford’s Alternative Uses Task (Guilford et suas experiências alimentares. Cada história de
al., 1978) ou o Pattern Meanings Test (Wallach vida constrói repertórios de percepção condi-
and Kogan, 1965), e mensurando, por exemplo, cionada peculiares, de modo que o que alguém
a quantidade de reversões por minuto para cer- vê em um objeto sempre difere de algum modo
ta figura. Wiseman, Watt, Gilhooly e Georgiou do que é visto por outro indivíduo.
(2011) e Doherty e Mair (2012) concluíram que Olhar para algo e procurar por algo são, se-
há correlações relevantes entre as habilidades gundo Skinner (1953), exemplos de visão ope-
relacionadas à reversão de figuras ambíguas rante. Uma mãe amorosa que viajou para lon-
e o desempenho criativo em certos contextos. ge de casa, tendo por isso ficado privada da
Diante da aparente relevância das figuras companhia dos filhos, pode passar horas con-
ambíguas para a compreensão da criativida- templando uma foto da família. Essa operação
de e da solução de problemas, cabe perguntar: motivadora de privação torna provável que ela
como o referencial da Análise do Comporta- olhe para a foto e, também, que emita compor-
tamentos precorrentes de procura desse estímu- é similar à que existe entre a resposta de inse-
lo, caso ele não esteja facilmente acessível. A rir pó de tabaco nas próprias narinas e o espirro
depender da intensidade da operação motiva- assim eliciado. O espirro continua sendo uma
dora, é possível que essa mãe passe a ver as fei- resposta reflexa, mesmo quando sua eliciação
ções de seus filhos até mesmo em rostos pou- advém de comportamentos operantes do pró-
co similares aos deles. prio sujeito. Há, portanto, uma interação entre
Operações motivadoras também tornam operantes e respondentes em casos desse tipo.
prováveis os comportamentos encobertos que A consideração das respostas de “prestar
Skinner (1974) chama de ver na ausência da atenção” pode ajudar a compreender as dife-
coisa vista. Aquela sofrida mãe, por exemplo, rentes formas como princípios operantes e res-
não precisa de estímulos antecedentes imedia- pondentes atuam na percepção (Strapasson &
tos para evocar a imagem dos filhos. Ela pode, Dittrich, 2008). Fenômenos repentinos e poten-
a todo momento, imaginar-se na presença de- cialmente ameaçadores tendem a captar auto-
les, devaneando sobre o momento de reencon- maticamente a atenção. Nesses casos, o prestar
trá-los. O devaneio, a procura e o ato de olhar, atenção é de natureza respondente. Por outro
por si sós, não alteram a operação motivado- lado, quando a atenção é dirigida deliberada-
ra que os ocasionam, mas podem atuar como mente a determinado estímulo, geralmente se
precorrentes importantes em cadeias de com- diz que prestar atenção é operante, como no
portamento de solução de problemas, ajudan- caso do praticante de yoga que, na intenção de
do a produzir estímulos discriminativos que facilitar a meditação, mantém o olhar fixo em
antecedem as respostas que levarão ao reforço. um ponto à sua frente, durante alguns minutos.
Cabe, aqui, uma breve ressalva a essas ideias. É relevante observar que nesse tipo de
Skinner (1953) estabelece uma distinção cate- comportamento deliberado de prestar atenção
górica entre operantes e respondentes percep- também existem aspectos respondentes. O
tuais, pois cada modalidade é caracterizada exercício de fixação do olhar fornece um
por relações de controle peculiares. Diferente- exemplo claro disso. O comportamento de
mente do que ocorre na respondente, na visão manter-se dez minutos ininterruptos sem mudar
operante “os comportamentos não são elicia- o foco da visão tem, obviamente, propriedades
dos por antecedentes imediatos e não depen- operantes, pois é mantido por consequências
dem de pareamento prévio de estímulos. As como benefícios à saúde e/ou aprovação social,
variáveis primárias de controle são o reforça- entre outros. Mas, durante a realização dessa
mento operante e a privação” (Skinner p. 272). prática, observa-se o fenômeno da adaptação
Todavia, o exame dos próprios exemplos apre- sensorial, em que, gradativamente, partes
sentados por Skinner parece indicar que as ca- da imagem inicialmente formada deixam de
tegorias de operante e respondente, separada- ser vistas. De certa forma, esse efeito pode
mente, não são suficientes para caracterizar as ser compreendido como uma instância da
relações funcionais inerentes às diferentes mo- habituação ou lei da fadiga, típica dos compor-
dalidades de comportamentos perceptuais. No tamentos respondentes, em que a magnitude da
caso do comportamento de procurar, é possí- resposta diminui aos poucos após ser eliciada,
vel identificar uma resposta ou uma cadeia de recorrentemente, e em um curto intervalo de
respostas cujo reforçador imediato é a elicia- tempo, pelo mesmo estímulo (Millenson, 1975).
ção, pelo objeto procurado, da resposta respon- Há também casos em que propriedades tipi-
dente de vê-lo. A relação entre essas respostas camente operantes, como o controle por estí-
e as respostas de ver os estímulos encontrados mulos antecedentes verbais, também chamados
de regras (Skinner, 1969), são observados em o que está em jogo é que os envolvidos tratem
respostas de percepção condicionadas. Quan- o objeto de forma condizente com a atividade
do um cliente, de olhos fechados, se submete lúdica e, não, como no caso das duas regras re-
a uma sessão de imaginação guiada, em que o lacionadas à Figura 2, uma estruturação especí-
terapeuta lhe indica, momento a momento, que fica da resposta perceptual encoberta. Essa re-
cenários deve visualizar, observa-se uma clara lação entre respostas perceptuais encobertas e
relação de controle operante, pois as verbali- respostas públicas que modificam efetivamen-
zações do terapeuta apenas ocasionam as res- te o ambiente serão abordadas mais detalhada-
postas visuais, não as eliciam. mente na seção “Figuras ambíguas e solução
O controle das respostas perceptuais apresen- de problemas”.
ta propriedades respondentes quando as instru-
ções são direcionadas à modificação do modo Propriedades Funcionais das Figuras
de ver um objeto presente. Diante da figura 2, Ambíguas
por exemplo, caso o comportamento do indiví-
duo fique sob controle da regra “veja-a como Passemos agora à consideração das caracte-
um assoalho em cujo centro se encontra um bu- rísticas peculiares às figuras ambíguas. As inter-
raco triangular” sua vivência será bastante dis- pretações alternativas propostas para a Figura 2
tinta da ocasionada por outra regra, como “ve- dependem de regras arbitrárias. Caso o instru-
ja-a como uma plataforma triangular sobre um tor, indicando o triângulo, diga apenas “você
assoalho”. É possível, inclusive, de maneira si- consegue identificar as duas formas de ver essa
milar ao que ocorre com as figuras ambíguas, imagem?”, os sujeitos podem ficar confusos, e
alternar entre as duas formas de perceber su- nada responder, ou fornecer inúmeras respostas
geridas pelas regras. diferentes. Figuras ambíguas, como o pato-co-
elho, não dependem de convenções dessa na-
tureza. Muitas pessoas conseguem identificar
as duas formas de perceber a imagem, mesmo
sem nenhum esclarecimento verbal (Long &
Toppino, 2004). E, mesmo quando esse escla-
recimento é necessário, as instruções são ela-
boradas sob controle de propriedades formais
determinadas e, não, de aspectos inespecífi-
cos da história de vida de quem propõe a regra.
Figura 2: Triângulo preto sobre fundo branco Quando uma figura ambígua é apresentada
pela primeira vez, acompanhada da instrução
Esse comportamento de ver o triângulo ora de que ela é ambígua, pode ocorrer algo simi-
de um modo, ora de outro modo é muito dis- lar ao comportamento de procurar um objeto.
tinto do que Skinner chama de ver na ausência Diversas respostas são emitidas até que o indi-
da coisa vista, já que há um estímulo presen- víduo, finalmente, consegue perceber a inter-
te controlando a ocorrência da percepção. Isso pretação alternativa. É frequente que esse mo-
se torna mais claro quando essa situação é con- mento Eureka venha acompanhado de reações
trastada com os casos de faz-de-conta, em que de surpresa e de admiração. Contudo, diferen-
se estabelecem relações quase completamente temente da procura por objetos, a procura pela
arbitrárias, como “esta caixa vai ser o castelo” interpretação alternativa da figura não depen-
ou “esta caixa vai ser o carro”. Nesses casos, de da emissão de respostas públicas que alte-
nho”. Esses dois antecedentes verbais contro- Temas como variabilidade comportamental, es-
lam diferentes respostas públicas de tato, mas quemas de reforçamento, equivalência de estí-
não necessariamente afetam a resposta percep- mulos, comportamento verbalmente controlado,
tual eliciada pela figura. Não há necessidade entre outros, podem fornecer informações pre-
de alteração da configuração da resposta per- ciosas sobre como surgem repertórios compor-
ceptual para emitir corretamente essa sequên- tamentais inovadores (Neves Filho, 2018). Os
cia de respostas verbais. Já se a segunda ins- estudos sobre recombinação de repertório, ins-
trução for: “essa figura é ambígua. Diga qual é pirados na pesquisa seminal de Köhler (1925),
o outro animal”, a resposta de tato apropriada lidam diretamente com o fenômeno do insight
só poderá ser emitida caso ocorra a eliciação e, por esse motivo, parecem ser os mais ade-
da resposta condicionada alternativa. Forma- quados para uma aproximação com os fenôme-
-se, então, uma pequena cadeia comportamen- nos típicos da percepção de figuras ambíguas.
tal: as respostas precorrentes encobertas pro- Desde a década de 1940, autores vincula-
duzem, como reforço imediato, a eliciação da dos à tradição behaviorista procuram explicar
resposta de ver o pato; ver o pato é o estímu- como se originam os comportamentos de ani-
lo discriminativo da resposta pública de dizer mais, como o famoso chimpanzé Sultão, que
“vejo um pato” que, por sua vez, levará ao re- conseguem resolver, subitamente, problemas
forço fornecido pelo experimentador. cujas resoluções não foram diretamente treina-
Cabe ressaltar que mencionar a eliciação da das (Delage, 2006). Birch (1945), por exemplo,
resposta perceptual alternativa é essencial para apresenta evidências de que esses repertórios
descrever o que ocorre no caso acima. A res- não são independentes da história de vida do
posta pública de dizer “é um pato” poderia ser animal, mas resultam do treino de habilidades
emitida de forma idêntica, mas sob controle de adquiridas previamente em contextos distintos.
variáveis muito distintas. O sujeito poderia, por No experimento relatado por Epstein, Kir-
exemplo, ter aprendido por mera imitação das shnit, Lanza e Rubin (1984), o comportamen-
respostas verbais de pessoas que conseguem to-alvo que os pombos deveriam emitir consis-
ver a figura das duas formas. Nessas condi- tia em subir em uma caixa e, em seguida, bicar
ções, suas possibilidades de tatear a figura in- uma banana de plástico que estava pendurada
terpretada como pato seriam muito limitadas. no teto. Contudo, no início da sessão, a caixa
Ele terá, nesse caso, aprendido uma relação ar- estava distante da banana e deveria ser empur-
bitrária entre a figura e o nome “pato”, o que rada até se aproximar dela suficientemente. É
não o habilita a responder perguntas como “o relativamente fácil ensinar essa cadeia de res-
pato está de bico aberto ou fechado?” ou “seus postas através de treino explícito. O que torna
membros inferiores aparecem na figura?”. A esse experimento relevante para a compreen-
inclusão do respondente perceptual encoberto, são da criatividade é que apenas as habilidades
portanto, é fundamental para a análise funcio- básicas foram treinadas, mas não o encadea-
nal da reversão de figuras ambíguas. mento específico requerido pela situação-pro-
blema. Os pombos que resolveram o proble-
Figuras ambíguas e solução de problemas ma foram treinados, por exemplo, a empurrar
a caixa em direção a um pedaço de cartolina
Há décadas os analistas do comportamento verde e, não, em direção a uma banana. Esse
vêm estudando, conceitual e empiricamente, processo é chamado de generalização funcio-
uma série de processos relevantes à compreen- nal, já que não é por parecer fisicamente com
são da criatividade e da solução de problemas. a cartolina verde que a banana controla a res-
posta de empurrar, mas por apresentar, nesse fusão, durante o qual elabora diversos rascu-
contexto, uma função similar. nhos que não são aproveitados. Depois disso,
Segundo Epstein et al. (1984) os desempe- é possível que lhe ocorra, subitamente, a res-
nhos desses sujeitos podem ser compreendidos posta encoberta de ver uma imagem com as
como solução de problema por insight, pois a propriedades especificadas, seguindo-se, en-
sequência de respostas ocorre de forma direta, tão, uma fluida cadeia de respostas de dese-
contínua e súbita. Isso só ocorre, contudo, após nhá-la no papel.
um momento inicial de hesitação, em que ain- O caso do desenhista envolve a criação de
da não são emitidas respostas eficientes para a uma nova imagem de difícil concepção, o que
solução do problema: torna muito mais complexo o comportamen-
to-alvo, mas as soluções de muitos problemas
O período de aparente confusão pode ser mais simples podem ser possibilitadas ou fa-
entendido como efeito do controle múltiplo cilitadas pela mera capacidade de perceber os
de estímulos. O pássaro começa a empurrar
por causa da dinâmica da competição entre estímulos de forma diferente. Exemplo disso
o comportamento com relação à banana e o são os desafios dispostos por certas combina-
comportamento com relação à caixa. O pás- ções de estímulos verbais, presentes em poe-
saro empurra em direção à banana devido à sias e piadas que se baseiam no duplo sentido
sua história de empurrar direcionadamen-
de determinado termo (Skinner, 1957). Nes-
te e à sua história de bicar a banana. . . . O
pássaro para de empurrar por causa do enca- ses casos, um único estímulo sonoro controla,
deamento automático: seu próprio compor- no ouvinte, respostas distintas, que devem ser
tamento produz um estímulo que controla emitidas de forma integrada para que ocorra o
outro comportamento. (Epstein, 1996, p. 21) efeito estético.
O momento Eureka característico da des-
Uma situação-problema muito similar à des- coberta da chave de interpretação de uma pas-
crita por Köhler (1925) e Epstein et al. (1984) se- sagem que até então soava misteriosa asseme-
ria a de um desenhista que precisasse criar uma lha-se à realização da reversão de uma figura
nova figura ambígua. Digamos que ele já sabe ambígua pela primeira vez. Esses desempenhos
desenhar um guarda-chuva e também uma mo- não apresentam todas as propriedades que ca-
tocicleta. Desenhar esses objetos lado a lado não racterizam as soluções por insight descritas por
resolveria o problema. Isso equivaleria a uma Epstein et al. (1984), mas podem ser descritos
sequência de respostas em que um pombo tanto como resultado da recombinação de repertó-
sobe na caixa como a empurra, recebendo refor- rios, caso se adote a definição mais ampla se-
ços logo após a emissão de cada resposta, inde- gundo a qual a recombinação ocorre quando
pendentemente da ordem em que são emitidas. velhos comportamentos se interconectam de
Produzir uma imagem que possa ser interpreta- novas maneiras (Epstein, 1985).
da ora como guarda-chuva ora como motocicle- Quando se trata de analisar funcionalmente
ta exige uma integração inovadora dessas duas os repertórios de solução de problemas que en-
habilidades. No caso dos pombos de Epstein et volvem manipulação direta do ambiente físico,
al. (1984), essa integração ocorre mediante en- como ocorre nos experimentos de Epstein et al.
cadeamento automático; no caso do desenhis- (1984) e Köhler (1925), considerações acerca
ta a integração é mais complexa, não envolve da habilidade de reverter figuras ambíguas pare-
apenas um encadeamento de fácil descrição. cem ainda mais pertinentes. A solução dos pro-
Tal como o pombo, ao receber o desafio, o blemas dispostos nesses delineamentos requer
desenhista pode apresentar um período de con- que o sujeito aja sob controle de propriedades
causais dos objetos envolvidos e, não, de par- causais relevantes dos objetos envolvidos na so-
ticularidades das situações de treino. A ocor- lução do problema. No delineamento descrito
rência desse tipo de generalização funcional é por Cook e Fowler (2013, experimento 2), por
fundamental, como vimos, para diferenciar re- exemplo, os pombos não demonstraram com-
pertórios estereotipados de repertórios verda- preensão de causalidade, pois empurraram cai-
deiramente inovadores que se ajustam às exi- xas sobre as quais eles não poderiam subir para
gências de cada situação-problema. bicar a banana. O inverso poderia ser dito, caso
Cook e Fowler (2013, experimento 2) incre- tivessem empurrado, repetidas vezes, apenas as
mentaram os delineamentos de Epstein (1984) caixas dotadas das características necessárias
e Luciano (1991) para verificar se os pombos à criação do contexto em que poderia ser emi-
exibiram de fato esse desempenho mais sofisti- tida a resposta final.
cado. As condições foram praticamente as mes- A compreensão de causalidade, portanto, é
mas, exceto pela adição de uma caixa não fun- um fenômeno diacrônico, observado em pa-
cional, sobre o qual o pombo não conseguiria drões públicos de comportamento. Contudo,
se apoiar para bicar a banana. Os sujeitos fo- em determinados contextos, parece ser produti-
ram treinados a empurrar direcionadamente am- vo mencionar respostas perceptuais encobertas
bas as caixas. Na situação teste, quando ambas para construir uma interpretação mais comple-
as caixas foram apresentadas, os sujeitos não ta do fenômeno. Cabe ressaltar que a menção
escolheram consistentemente a caixa funcio- a essas respostas não é uma tentativa de hipos-
nal. Não se constatou, portanto, o que Cook e tasiar a compreensão, postulando a existência
Fowler (2013) chamam de “compreensão de re- de entidades fictícias. Respostas perceptuais,
lações meios-fins” – também denominada, por nesse caso, têm a função de precorrentes das
outros autores, “compreensão de causalidade” respostas que produzem a alteração direta do
(Taylor, Hunt, Medina & Gray, 2009; Nagano ambiente. Elas são, portanto, constituintes do
& Aoyama, 2017). A solução do problema das padrão comportamental e, não, a sua “essên-
duas caixas, sugerem Cook e Fowler (2013), cia” ou causa. Em certos contextos, não é ne-
requer treinos adicionais que possibilitem o cessário indicar respostas perceptuais para falar
surgimento dessa capacidade de compreensão. de compreensão de causalidade. Um motorista,
Apesar de o termo compreensão geralmente por exemplo, demonstra compreender os efei-
sugerir uma série de interpretações circulares tos que os pedais de seu carro exercem sobre
de natureza mentalista, é possível, neste con- o motor pelo simples fato de dirigir com des-
texto, operacionalizá-lo de forma satisfatória. treza. Ele pode também demonstrar sua com-
Compreensão não é um processo interno que preensão dessas relações causais por meio de
explica o desempenho apropriado. O termo é, tatos e intraverbais apropriados.
aqui, utilizado de forma meramente descritiva, Nos exemplos do pombo e do motorista, a
indicando um padrão de comportamento que descrição dos comportamentos públicos pare-
ocorre segundo certos critérios. Essa forma de ce ser suficiente para abordar a compreensão
se comportar não necessariamente implica as de causalidade dos sujeitos. Em outros casos,
sofisticadas habilidades verbais que os seres contudo, parece ser relevante falar de respos-
humanos demonstram ao falar sobre relações tas perceptuais encobertas, pois o indivíduo tem
causais, muito menos eventos mentais misterio- uma experiência subjetiva peculiar relacionada
sos. Diz-se que o animal apresenta compreen- ao modo como os eventos influenciam uns aos
são de causalidade quando emite, consistente- outros e essa experiência pode ser parte fun-
mente, respostas sob controle das propriedades damental da solução de um problema. Como
observa Wittgenstein (1976), os elementos de alho pode ser visto flutuando no ar ou apoia-
uma cena são inseridos em relações causais sem do sobre a areia. As respostas perceptuais eli-
necessidade de especulação ou formulação ex- ciadas em cada caso são nitidamente distintas
plícita de hipóteses; simplesmente percebemos e podem ser facilmente alternadas.
que o evento A provoca a ocorrência do even-
to B e, consequentemente, conseguimos lidar
com o evento B de forma mais efetiva, provo-
cando ou evitando sua ocorrência. Em ambien-
tes estáveis, a percepção de uma relação cau-
sal usualmente se mantém constante ao longo
de uma observação. Nesses casos, geralmente,
não ocorre nada digno de nota. Já quando con-
dições excepcionais produzem mudanças repen-
tinas na maneira como se percebe a influência
que um acontecimento exerce sobre outro, po-
Figura 3: Ilusão do Tapete Voador
dem ocorrer vivências bastante curiosas, como
nos exemplos abaixo:
Diante de situações-problema em que o su-
Imagine que alguém está observando um car- jeito precisa modificar diretamente certas par-
rinho sendo puxado por um arame. De repen- tes do ambiente, como nos experimentos de
te, ela nota que, na verdade, o carrinho tem
um motor elétrico e que o arame é que está recombinação de repertórios, mudanças per-
sendo empurrado por ele. Ou digamos que ceptuais dessa natureza podem ser um impor-
alguém assiste a uma apresentação musical, tante precorrente da solução. Alguns casos do
pensando, inicialmente, que é ao vivo e, por que os cognitivistas (Sternberg, 2010) chamam
uma falha do ‘vocalista’, nota que se trata de
de fixação funcional, a incapacidade de “pensar
playback. Ou ainda: vemos uma cena em que
um cubo A apoia-se sobre um cubo B, não fora da caixa”, podem estar relacionados com
parecendo haver nada mais que o mantenha a ausência ou limitação desse repertório. As-
naquela posição. Mas, em certo momento, B sim, é plausível hipotetizar que o treinamento
é retirado do local e A não cai. Nessas três de reversão com figuras ambíguas pode aumen-
situações, os cenários são temporariamente
tar a eficiência de alguns tipos de precorrentes
envolvidos numa atmosfera de estranheza, a
partir do momento em que ocorre a descon- e, consequentemente, elevar a taxa de sucesso
firmação da relação causal inicialmente ima- com que indivíduos com certas limitações re-
ginada, que faz com que os sujeitos lidem de solvem determinadas modalidades de proble-
modo diferente com os fenômenos observa- mas. Por mais razoável que seja, essa possibili-
dos (Magalhães, 2017, pp. 96-97).
dade não passa de especulação. Cabe à Análise
Nesses casos, o caráter repentino da rein- Experimental do Comportamento verificá-la
terpretação da situação é similar ao da rever- empiricamente.
são de figuras ambíguas, mas a mudança tende
a ser unidirecional: o sujeito passa a ver a si- Considerações finais
tuação de outra forma e não consegue voltar a
vê-la como no início. Essa proximidade entre As propostas apresentadas nas seções an-
os dois conjuntos de fenômenos é evidencia- teriores, obviamente, não esgotam as possibi-
do pela possibilidade de construção de imagens lidades de compreensão analítico-comporta-
como a da Figura 3. Nessa fotografia, o asso- mental da percepção de figuras ambíguas e de
suas relações com a solução criativa de proble- práticas mais bem aceitas pela Análise Expe-
mas. Novas pesquisas conceituais são necessá- rimental do Comportamento.
rias, sobretudo, para esclarecer a distinção en- Para Skinner, a experimentação, por meio da
tre comportamento operante e respondente, que qual são descobertos os princípios básicos, deve
fundamenta boa parte das análises acima ex- operar com variáveis que se possa quantificar
postas. Como observa Domjan (2016), classi- e observar com o máximo de rigor, enquanto
ficar as respostas como eliciadas ou emitidas que eventos privados, por não serem passíveis
não é tarefa simples. É necessário, em traba- de observação suficientemente confiável, de-
lhos posteriores, proceder a uma crítica meti- vem ser estudados por meio de análises teóri-
culosa da dicotomia proposta por Skinner, para cas fundamentadas naqueles princípios bási-
avaliar de forma mais rigorosa a pertinência de cos (Donahoe, 1993). Seguindo essa tradição,
sua aplicação ao fenômeno perceptual. os estudos experimentais analítico-comporta-
Outras contribuições relevantes da pesquisa mentais lidam com repertórios que possibilitam
conceitual podem advir da reflexão sobre os re- alto grau de concordância entre observadores,
sultados de pesquisas experimentais sobre con- o que permite maior qualidade do controle ex-
trole de estímulos. Este trabalho concentrou-se perimental. Exemplos disso podem ser encon-
nos dados sobre recombinação de repertórios, trados nos procedimentos para estudo de res-
mas a consideração dos estudos sobre discri- postas de observação (Wycoff, 1952). Nesses
minação com estímulos complexos (Debert, casos, é possível supor uma elevada correlação
Huziwara, Faggiani, de Mathis & McIlvane, entre as respostas públicas registradas, como as
2009; Stromer, McIlvane & Serna, 1993; Sil- de pressionar uma barra ou tocar uma tela, e as
veira, dos Santos & de Rose, 2016) ou atenção respostas perceptuais encobertas por elas pro-
dividida (Davison, 2018; Gomes-Ng, Ellife & vocadas, como a resposta de ver.
Cowie, 2019; Shanan & Podlesnik, 2006), por Respostas perceptuais mais complexas, como
exemplo, apresentam grande potencial para fo- a reversão de figuras ambíguas, não apresen-
mentar o desenvolvimento de análises funcio- tam vínculo tão confiável com respostas pú-
nais mais robustas. blicas, o que torna mais baixa a confiabilidade
Caso o trabalho de refinamento do quadro das observações. O próprio sujeito que realiza
conceitual e de construção de novas interpreta- a reversão pode ter bastante dificuldade para
ções teóricas venha acompanhado da realização tateá-la, já que os demais membros de sua co-
de pesquisas empíricas, a ampliação do conhe- munidade não têm acesso a indícios claros da
cimento sobre o comportamento perceptual e ocorrência da resposta, o que torna mais difícil
sobre as suas relações com a criatividade será a criação de contingências efetivas para instalar
ainda mais expressiva. A proposta de estudar essa habilidade verbal. Além disso, a reversão
experimentalmente respostas perceptuais enco- só ocorre após uma complexa história de vida.
bertas parece divergir da tradição behaviorista Rock, Gopnik & Hall (1994) e Gopnik & Ro-
radical, mas essa divergência é apenas parcial. sati (2001) estimam que esse comportamento,
Epistemologicamente, não há incompatibilida- em estadunidenses neurotípicos, costuma sur-
de alguma, já que Skinner (1945) admite expli- gir em torno dos cinco anos de idade. Devido a
citamente a existência de eventos privados e a essa complexidade, procedimentos experimen-
relevância de seu estudo pela ciência do com- tais com figuras ambíguas tendem a apresentar
portamento. No plano metodológico, contudo, inúmeras variáveis confundidoras.
a ideia de estudar as respostas perceptuais, tal Ainda assim, estudar experimentalmente a
como formulada na seção anterior, destoa das percepção desses estímulos parece proveitoso.
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Dados do Artigo
ABSTRACT: The purpose of this study was to examine
DOI: 10.31505/rbtcc.v21i3.1315
the relationship between creativity and mental illness, dis-
cussing their psychological and social implications. This Recebido: 19 de Junho de 2019
allows us to reflect on how creativity is valued and accept- Revisado: 01 de Outubro de 2019
Aprovado: 23 de Outubro de 2019
ed in our society and how stereotypes involving highly cre-
ative people influence their trajectory of life. Based on the Como citar este documento
literature in the field of creativity, we discussed the con- Nogueira, M., & Fleith, D. (2019). Qual é
cept of creativity and mental disorder and sought to ana- a Relação entre Criatividade e Transtor-
no Mental? Revista Brasileira de Tera-
lyze the interrelationship between the two constructs. It can pia Comportamental e Cognitiva. 21(3),
be concluded that there is no consensus about this associ- 317-331. doi: https://10.31505/rbtcc.
v21i3.1315
ation. Such divergences can be explained by the absence
of a specific definition of the constructs, and the need to
determine which disorder was investigated and in relation
to which dimension of creativity. It is not a direct, causal, É permitido compartilhar e adaptar. Deve dar o crédito
apropriado, não pode usar para fins comerciais.
simplistic or global relationship. We also discuss how so-
cial patterns determine and differentiate the highly creative individual from those who exhib-
it deviant behavior.
Keywords: creativity; mental health; personality; psychic suffering.
RESUMEN: El objetivo de este estudio fue examinar la relación entre creatividad y trastor-
nos mentales, discutiendo sus implicaciones psicológicas y sociales. Esto posibilita reflexionar
acerca de cómo la creatividad es valorada y aceptada socialmente y cómo los estereotipos que
involucran a las personas altamente creativas influyen en sus trayectorias de vida. Con base en
la literatura, fue discutido el concepto de creatividad y trastornos mentales buscando analizar la
interrelación entre los dos constructos. Se concluye que no hay consenso acerca de esta asocia-
ción. Tales divergencias pueden ser explicadas en función de la ausencia de una definición es-
pecífica de los constructos y de la necesidad de determinar qué trastorno fue investigado y en
relación a cuál dimensión de la creatividad. No se trata de una relación directa, causal, simplis-
ta o global. También se discute acerca de cómo los patrones sociales determinan y diferencian
el individuo creativo de los que presentan comportamientos desviantes.
Palabras clave: creatividad; salud mental; personalidad; sufrimiento psíquico.
embora ainda não houvesse um estudo formal creve seis traços de personalidade que apresen-
do construto, já se fazia referência a pessoas tam relações significativas com criatividade: (a)
que se sobressaíam pela criação de novos pro- perseverança, (b) tolerância a ambiguidade, (c)
dutos, fosse na área das artes, da física ou da abertura para novas experiências, (d) individu-
matemática. Nessa época, acreditava-se que a alismo, (e) disponibilidade para correr riscos e
produção criativa estava vinculada a uma ma- (e) psicoticismo. Um estudo clássico conduzi-
nifestação divina e que os artistas e cientistas do por MacKinnon, nos anos 60 e 70 do sécu-
eram vistos como indivíduos escolhidos pelos lo XX, por exemplo, comparou um grupo de
deuses para expressar e representar suas ideias arquitetos considerados criativos por editores
(Lubart, 2007). de revistas de arquitetura norte-americanas com
Mais tarde, com Aristóteles, a criativida- dois grupos controle e identificou como carac-
de perdeu essa noção do divino, e passou-se a terísticas de personalidade criativa a intuição,
acreditar que ela emergia do interior do indi- persistência, dedicação ao trabalho, pensamen-
víduo, de seus pensamentos e esforços men- to independente, maior tolerância à ambiguida-
tais (Lubart, 2007). A partir de então, questões de, maior abertura a experiências e interesses
importantes começaram a surgir acerca do fe- não convencionais (Alencar & Fleith, 2009).
nômeno como, por exemplo, quais seriam as Junto com as inúmeras indagações acerca
características das pessoas criativas que as di- do perfil do indivíduo criativo, inúmeras teo-
ferenciariam das demais ou, ainda, no que con- rias foram desenvolvidas. Uma das que obte-
sistiria a criatividade. ve muito impacto foi a elaborada por Rhodes
Francis Galton (1822-1911) começou a es- (1961), denominada de os 4 P’s da criativida-
boçar os primeiros trabalhos nesse sentido e, de, que seriam a Pessoa, o Produto, o Proces-
com seus estudos acerca das diferenças indivi- so e o ambiente (Press). Assim, ele definia o
duais, pode-se dizer que ele marcou o início do construto como “um substantivo nomeando
estudo empírico da criatividade (Lubart, 2007). um fenômeno em que a pessoa comunica um
No entanto, até 1950, a temática da criativi- novo conceito (que seria o produto). Ativida-
dade dominava menos que 0,2% dos resumos de mental (ou processo mental) está implícita
das principais revistas em psicologia da época nessa definição e, sem dúvida, ninguém pode-
(Kaufman & Beghetto, 2009; Lubart, 2007). ria conceber uma pessoa vivendo e operando
Foi a partir do discurso de Guilford, em 1950, em um vácuo, então o termo ambiente (press)
como presidente da American Psychological também está implícito” (p. 305).
Association (APA), sugerindo a possibilidade A categorização de Rhodes (1961) foi im-
de haver mais sistematização e estudos na área, portante para chamar atenção não apenas para
que as pesquisas em criatividade começaram a o produto final, mas também para apresentar o
crescer (Lubart, 2007; Rhodes, 1961). processo como um ato criativo, valorizando a
Estudos têm sido realizados no sentido de motivação e os processos de percepção, apren-
identificar traços de personalidade das pesso- dizagem e pensamento. Segundo Wallace (ci-
as mais criativas, ou seja, o que as difere das tado em Rhodes, 1961), o processo criativo é
demais pessoas (Garcês et al., 2015; Puryear, formado por quatro estágios: (a) preparação,
Kettler, & Rinn, 2017). Segundo Rato (2009), que envolve leitura, observação, comparação
pode-se dizer que a pessoa criativa seria uma e coleta de dados; (b) incubação, que diz res-
pessoa autônoma, extrovertida, com abertura a peito a um momento consciente e inconsciente
experiências, de grande curiosidade e com fle- ao mesmo tempo, pois envolve tanto raciocí-
xibilidade de pensamento. Lubart (2007) des- nio quanto um período de descanso; (c) inspi-
ração, etapa em que surgem os insights e, com Também a Perspectiva de Sistema (Csiks-
frequência, ocorre durante o período de des- zentmihalyi, 1988) tem sido muito referencia-
canso; e, por fim, (d) verificação, momento de da nos estudos acerca da criatividade e, apesar
conversão da ideia em um produto final para de apresentar algumas diferenças em relação ao
ser apresentado de forma articulada. Modelo Componencial, também entende a cria-
A proposta de Rhodes contribuiu para des- tividade a partir de uma interação de fatores,
mistificar a crença de que a criatividade não os quais foram denominados de (a) indivíduo,
pode ser ensinada ou praticada e ajudou, ain- composto pelos aspectos genéticos e pelas ex-
da, a enfraquecer a ideia de que a criativida- periências vividas, bem como pelos processos
de é fruto apenas dos insights, isto é, de ideias cognitivos, personalidade e motivação da pes-
que surgem “a partir do nada”. Segundo Mo- soa criativa; (b) domínio, que envolve “corpo
rais (2011), para surgirem “esses momentos de saberes formalmente organizado que está re-
de descoberta súbita e inexplicável... um len- lacionado a uma determinada área do conheci-
to percurso de trabalho, de conhecimento, de mento” (Gontijo, 2007, p. 25); e (c) campo, re-
persistência, de reavaliações e de manutenção ferente ao sistema de pessoas que compõem o
teimosa num sentido de objectivo tiveram de domínio e julgam as produções incorporadas.
ir acontecendo” (p. 8). Assim, apesar de Lubart (2007) propor como
Levar em conta a pessoa e o ambiente no relativamente consensual a noção de que “a cria-
qual ela está inserida ajuda a elucidar outra tividade é a capacidade de realizar uma produ-
controvérsia sobre se a criatividade seria um ção que seja ao mesmo tempo nova e adaptada
fenômeno dependente especialmente de fato- ao contexto na qual ela se manifesta” (p. 8), per-
res individuais ou ambientais (Morais, 2011). cebe-se que não existe, ainda, uma definição de
Para Alencar e Fleith (2003), as teorias recentes criatividade que possa, de fato, ser considerada
sobre criatividade “atribuem a produção criati- como um consenso entre todos os pesquisado-
va a um conjunto de fatores, que interagem de res da área. Isso porque o “fenômeno criativo
forma complexa, referentes tanto ao indivíduo ora (é) definido como um processo cognitivo,
quanto a variáveis sociais, culturais e históri- outras vezes como característica de personali-
cas do ambiente onde o indivíduo se encontra dade, ou ainda pela qualidade do produto rea-
inserido” (p. 1). lizado, determinado por sua relevância ou im-
O Modelo Componencial de Criativida- pacto na sociedade” (Wechsler, 2004, p. 21).
de (Amabile, 1988), por exemplo, entende ser Essa dificuldade de definição do constru-
o fenômeno da criatividade desenvolvido por to leva, também, a uma outra questão relati-
meio da interação de (a) habilidades de domí- va a como mensurá-lo por meio de instrumen-
nio, relativas ao conhecimento prático e teóri- tos psicométricos. A criatividade seria avaliada
co em uma área; (b) processos criativos rele- em termos de potencial ou de performance?
vantes, que englobam estilos de trabalho, estilo Seria julgada por juízes ou pela própria pes-
cognitivo, domínio de estratégias e traços de soa? Seria examinada em termos de produto
personalidade que contribuem para a produ- ou processo criativo? Wechsler (2004) afirma
ção de novas ideias, como concentração, cla- que “talvez o problema a ser colocado... seria
reza, organização e tolerância a ambiguidades; justamente o de se esperar que um teste tenha
e (c) motivação, em especial a intrínseca, ou relação com um produto externo, quando, na
seja, a motivação pelo interesse próprio, pelo verdade, deveria ser avaliado o processo de se
desafio e pela satisfação, não englobando pres- pensar para se compreender um fenômeno tão
sões externas. complexo como é a criatividade” (p. 22).
Um dos testes mais aceitos e utilizados mun- cativa entre o número de produções criativas
dialmente (Wechsler, 2004) para avaliação e reconhecidas, mas a diferença diminuía signi-
pesquisas em criatividade é o Teste de Torrance ficativamente quando se consideravam as pro-
de Pensamento Criativo, que foi desenvolvido duções não reconhecidas.
por Paul Torrance em 1966 baseado nas quatro Duas grandes questões envolvendo o es-
dimensões do pensamento divergente propostas tudo da criatividade têm sido debatidas pelos
por Guilford (fluência, flexibilidade, originali- pesquisadores da área: quem julga o produto
dade e elaboração). Torrance (1966) elaborou criativo? São juízes e pares da sociedade ou a
o teste nas formas verbal e figurativa e, mais própria pessoa? Além disso, qual seria a dis-
tarde, além das quatro dimensões originalmen- tribuição populacional da criatividade? Seria
te desenvolvidas, ele propôs, para o teste figu- ela um potencial universal ou diferenciada de-
rativo, mais 13 indicadores de criatividade, a pendendo das ferramentas utilizadas em cada
saber: expressão de emoções, contextualização processo criativo? (Dow, 2017; Morais, 2011).
das ideias, presença de movimento, expressi- Em outras palavras, o que permeia essa polê-
vidade de títulos, combinações de estímulos, mica é se seriam passíveis de crédito apenas
perspectiva incomum, perspectiva interna, ex- aqueles que apresentam uma alta criatividade,
tensão de limites, títulos expressivos e exten- cuja produção teria um grande impacto na so-
são de limites, humor, riqueza de imagens, e ciedade – Big-C –, ou se estariam também in-
expressividade de ideias. Com relação ao tes- clusos aqueles com produções e manifestações
te verbal, Wechsler (1985), ao realizar pesqui- criativas cotidianas – little-c (Silva & Nakano,
sas de validação dos testes de Torrance para o 2012). Para diminuir o hiato entre os grandes
Brasil, obteve mais quatro indicadores de cria- artistas, pensadores e cientistas que tiveram um
tividade verbal: expressão de emoção, perspec- considerável impacto com um trabalho de ex-
tiva incomum, fantasia e analogia/metáfora. trema originalidade (Big-C) e a criança que se
Wechsler (2004) realizou outro estudo de va- expressa criativamente na produção de algum
lidação da criatividade verbal no Brasil a partir trabalho na escola (little-c), Kaufman e Beghet-
do Teste de Torrance adaptado para o cenário to (2009) propuseram o Four C Model of Cre-
brasileiro. Para isso, ela utilizou uma amostra ativity acrescentando, para além do Big-C e do
de 128 pessoas, das quais 63 foram definidas little-c, o mini-c e o Pro-c, que dizem respeito,
como criativas, selecionadas pelo fato de terem respectivamente, à gênese da expressão criati-
alguma premiação reconhecida como criativa va e à produção criativa que já alcançou um ní-
ou original em alguma área. A todos os parti- vel profissional, mas não, ainda, a eminência.
cipantes foi aplicada a forma verbal do Teste Considerando-se os mitos que circundam o
de Torrance e, ainda, um questionário no qual conceito de criatividade, destaca-se a crença
cada um deveria descrever suas produções cria- de que ela estaria associada à indisciplina ou
tivas, tanto as reconhecidas quanto as não re- mau comportamento em sala de aula, e a de que
conhecidas por pares. Os resultados indicaram a criatividade é expressa exclusivamente por
que não apenas o teste apresentava alta valida- meio da arte. Essas crenças podem restringir
de preditiva da criatividade em relação aos fei- as possibilidades de expressão da criatividade
tos da vida real, como também possuía alta va- de um aluno em outras áreas e até mesmo difi-
lidade de construto, isto é, grande capacidade cultar no reconhecimento, por parte dos profes-
de distinguir entre as pessoas criativas das não sores, do seu processo e produto criativos. Em
criativas. Em relação aos dois grupos, a auto- escala um pouco maior, pode-se dizer que esse
ra constatou que havia uma diferença signifi- mito contribui desde muito cedo para a associa-
ção da criatividade com comportamentos des- tais (DSM-V; American Psychiatric Associa-
viantes. Por isso, uma das perguntas mais fre- tion, 2013), critérios para indicação de sinais
quentes sobre criatividade, e que já vem sendo de transtornos envolveriam padrões duradou-
discutida desde o século XIX, envolve sua as- ros, inflexíveis e invasivos, estáveis e de lon-
sociação com os transtornos mentais, ou seja, ga duração.
o questionamento de se a loucura seria uma Transtornos mentais envolvem fatores rela-
fonte de criatividade ou, ainda, se a criativi- cionados ao funcionamento cognitivo, afetivo e
dade poderia levar à loucura (Kaufman, 2014; social. Ou seja, o transtorno influencia em como
Lubart, 2007). a pessoa pensa, sente, e se comporta. Também
fatores culturais e históricos devem ser consi-
Transtorno Mental derados: em que medida “o comportamento de
uma pessoa ‘desvia de forma marcante’ das ex-
De acordo com Beaussart, White, Pullaro e pectativas da sua cultura” (Furnham, 2017, p.
Kaufman (2014), da mesma forma que a criati- 257)? Ou o que pode ser considerado um com-
vidade pode ser expressa em diversos domínios, portamento normal ou desviante em função do
como artes, literatura, ciência etc, o transtorno momento histórico no qual o sujeito está inse-
mental pode significar transtorno da personali- rido? Quais são os padrões de normalidade ou
dade, esquizofrenia, transtorno bipolar, depres- doença mental de uma determinada cultura ou
são ou uma combinação de outros diagnósticos. tempo histórico? As características associadas
O termo é muito amplo e abarca vários qua- ao pensamento criativo também estão presentes
dros. No âmbito da psicologia, questiona-se o nos transtornos? Qual a conexão entre transtorno
conceito de transtorno mental, qual o perfil do mental e criatividade?
indivíduo diagnosticado com tais transtornos?
Para Barrantes-Vidal (2014), o conceito de Inter-relação Criatividade
esquizofrenia e transtorno afetivo bipolar, por e Transtorno Mental
exemplo, “engloba uma ampla gama de ex-
pressões fenomenológicas (variando em ter- Becker (2014) fez uma revisão histórica,
mos de gravidade, cronicidade, e comprome- com início na Grécia Antiga, a respeito da re-
timento) que reflete variações nos níveis das lação criatividade e transtorno mental e de que
cargas genética e ambiental” (p. 171). Neste maneira ela foi mudando com o passar do tem-
sentido, não é possível compreender o trans- po. Ele pontua que, nesse período, a loucura
torno mental de maneira dicotômica, como se foi entendida como algo positivo e inerente à
houvesse uma fronteira rígida separando a do- genialidade e que os indivíduos que a possuí-
ença da saúde. Segundo Barrantes-Vidal, trata- am se comunicavam, de alguma forma, com os
se de um fenômeno multidimensional que deve deuses. No entanto, eles acreditavam que havia
ser considerado como “variantes extremas ou uma diferença entre essa loucura, considerada
patológicas das disposições de personalidade como algo bom, e a loucura patológica, que era,
normal ... associadas tanto com traços adapta- por sua vez, desprovida de qualquer possibili-
tivos quanto disfuncionais” (p. 194). Furnham dade de obtenção de sucesso. Nesse contexto,
(2017) defende que há uma sobreposição entre foi Aristóteles quem, pela primeira vez, falou
os critérios que caracterizariam traços de per- da ligação entre personalidade melancólica e
sonalidade normal e os relativos a transtornos alta criatividade (Becker, 2014; Lubart, 2007).
de personalidade. Contudo, segundo o Manu- Para Platão, “o poeta, indivíduo extraordinário
al Diagnóstico e Estatístico de Doenças Men- porque foi escolhido pelos deuses, exprime as
ideias criativas que ele recebeu” (Lubart, 2007, sa forma, eles redefiniram o conceito de gênio
p. 11). Nesse período, a criatividade era enten- de tal forma que se criou um sistema que im-
dida como algo divino concedida pelos deuses possibilitava a ideia de uma total sanidade nos
a um número muito limitado de pessoas, fazen- indivíduos criativos, colocando a loucura em
do com que elas categorizassem uma parcela nítido contraste com a normalidade (Becker,
especial da sociedade. 2014). A retirada do divino dessa relação en-
Devido ao governo autocrático durante o tre genialidade e loucura fez com que a loucura
Império Romano e às subsequentes pressões patológica fosse vista como uma condição ine-
políticas e religiosas que resultaram em um vitável e até mesmo desejada por aqueles que,
aumento do poder da igreja na sociedade, o in- em algum momento, fossem considerados gê-
teresse pela temática da criatividade no mun- nios – visão que prevalece ainda nos dias de
do ocidental diminuiu consideravelmente, re- hoje (Kaufman, 2014).
tornando apenas no período do Renascimento Silva e Santos (2012) analisaram biografias
(Lubart, 2007). Nesse período, o interesse vol- de alguns ícones da história que foram consi-
tou-se aos que outrora foram denominados gê- derados gênios loucos, dentre eles: Van Gogh,
nios - àqueles que possuíam uma habilidade Mozart, Galileu e Darwin. Sobre eles, os auto-
criativa superior – e que ainda eram vistos de res afirmam que “frequentemente, a expressão
forma muito atrelada à loucura e à melancolia. ‘gênio louco’ é popularizada na sociedade, de
A crença era a de que somente as pessoas modo que se reconheça que ‘insanidade’ pode
melancólicas seriam capazes de alta criatividade gerar ‘originalidade’, ou, então, que alguma
(Becker, 2014). No entanto, no Renascimento forma especial de insanidade é parte intrínseca
acreditava-se na criatividade dos gênios quan- da definição de criatividade” (p. 9), fazendo-se
to à habilidade de reproduzir e imitar o que já inferir que a loucura é o preço que se paga, ne-
havia sido feito, não sendo capazes de produ- cessariamente, pela genialidade. Eles concluem,
zir algo novo. Assim, o que vinha sendo con- ainda, que “a taxa e a intensidade da psicopato-
siderado como algo ilustre foi, aos poucos, se logia parecem ser elevadas nos criadores supre-
tornando alvo de críticas e, ao final do século mos, permitindo-nos inferir que ambas ... cor-
XVI, já era considerado um escárnio. No sécu- relacionam-se positivamente com a magnitude
lo XVII, os artistas abandonaram a imagem do do gênio criativo” (p. 10), o que seria o mes-
místico e da melancolia relacionada à criativi- mo que dizer que quanto mais gênio, mais lou-
dade e misturaram-se, discretamente, aos inte- co. Os autores também chamam atenção para
lectuais da sociedade (Becker, 2014). a influência da linhagem familiar na criação de
Apesar de se manter a ideia de que a genia- pessoas eminentemente criativas.
lidade deveria ser respeitada e reverenciada, na Nesse sentido, alguns estudos analisaram a
prática os gênios sentiam-se pouco privilegia- relação hereditária entre criatividade e transtor-
dos, misturados com a massa de pessoas anô- nos mentais, tomando como participantes tanto
nimas (Becker, 2014). Foi nesse contexto que as pessoas diagnosticadas com algum transtor-
os românticos do século XVIII iniciaram um no mental como seus familiares. Kyaga et al.
movimento de resgatar as ideias de seus ante- (2013), por exemplo, realizou uma investiga-
passados e ressaltar a conexão entre genialida- ção envolvendo 300.000 participantes e apon-
de e loucura com uma conotação positiva e um tou que os indivíduos com transtorno bipolar
lugar de prestígio, mas, ao mesmo tempo, bus- e seus familiares e, ainda, os familiares de in-
cando uma forma de demonstrar uma indepen- divíduos esquizofrênicos e estavam super-re-
dência intelectual em relação ao passado. Des- presentados em profissões que demandavam
criatividade (Kyaga et al., 2013). Kinney et al. e criativo e alta inteligência do que de possuí-
(2001) também realizaram um estudo que re- rem uma personalidade disfuncional (Ferracu-
velou altos índices de pensamento criativo en- ti, Cannoni, Burla, & Lazzari, 1999; Franklin
tre parentes saudáveis de pessoas com diag- & Cornell, 1997; Nascimento, 2002; Schwartz
nóstico de esquizofrenia e constataram, ainda, & Canetti, 2014).
picos mais altos de criatividade em pacientes Franklin e Cornell (1997), por exemplo, rea-
com sinais esquizotípicos. lizaram um estudo analisando os resultados dos
Segundo Oliveira e Bandeira (2018), o fun- protocolos do teste de Rorschach de adoles-
cionamento da personalidade varia, em um con- centes superdotadas – cujo perfil indicava alta
tínuo, entre dois extremos – adaptativo e pa- inteligência e alta criatividade – que ingressa-
tológico – e, por isso, ambos compartilham da ram precocemente na universidade em relação
mesma estrutura. Eysenck (1993) também acre- a um grupo controle de adolescentes superdo-
ditava que tanto os indivíduos criativos quanto tadas que não passaram pela aceleração de es-
os que são diagnosticados com transtornos men- tudos. O Rorschach é um teste psicológico pro-
tais compartilham de um mesmo traço de per- jetivo de personalidade e tem sido largamente
sonalidade, e o que os diferencia é a qualidade utilizado no contexto de avaliações psicológi-
do uso que eles fazem dele. Nesse sentido, Ey- cas em casos de psicopatologias. Embora não
senck conduziu um estudo sobre a relação entre seja utilizado com frequência na literatura tra-
criatividade e personalidade e concluiu que: (a) dicional de identificação ou encaminhamento
parentes de pessoas com diagnóstico de psico- de indivíduos superdotados, ele tem sido muito
se são extremamente criativas; (b) psicoticismo difundido em pesquisas com o objetivo de in-
está relacionado à originalidade e à realização vestigar a relação entre características de pen-
criativa; (c) pessoas criativas frequentemente samento criativo com traços de personalida-
sofrem de alguma psicopatologia; e (d) pesso- de patológica (Ferracuti et al., 1999; Franklin
as com diagnóstico de psicose, com alto esco- & Cornell, 1997; Gallucci, 1989; Schwartz &
re de psicoticismo e altamente criativas pos- Canetti, 2014).
suem estilos cognitivos idênticos. Os resultados demonstraram que as adoles-
No estudo conduzido por Puryear et al. centes que haviam sido aceleradas obtiveram
(2017) com o intuito verificar a relação entre um escore maior do que as do grupo controle
os construtos de personalidade e criatividade, nos índices de esquizofrenia, depressão e pen-
abertura à experiência foi considerado o me- samento autônomo; em contrapartida, esse es-
lhor preditor da criatividade, seguido por ex- core foi menor no índice de aceitamento social.
troversão. Por outro lado, esses mesmos traços Constatou-se, ainda, que a média de QI do gru-
foram, segundo Bass, Boot, Nijstad e DeDreu po de participantes aceleradas apresentada foi
(2016), correlacionados positivamente com mais alta que a do grupo controle. Considerando
indicadores de sintomas positivos da esquizo- que os altos escores no índice de esquizofrenia
frenia – como alucinação e pensamento mági- foram positivamente correlacionados com um
co – e de transtorno bipolar, especialmente da ajustamento emocional saudável em outras es-
fase de mania. Estudos têm demonstrado que calas aplicadas – mensurando autoestima, ajus-
as associações existentes entre os traços de per- tamento socioemocional, pensamento autôno-
sonalidade compartilhados pelas pessoas com mo e auto-realização –, os autores sugeririam
potencial superior e os associados a psicopa- que o pensamento divergente e criativo estava
tologias devem-se mais ao fato de eles possuí- sendo identificado como pensamento distorci-
rem alta capacidade de pensamento divergente do pelo teste do Rorschach e concluíram que é
mais provável que alto escore no índice de es- dos estavam mais relacionados ao pensamen-
quizofrenia esteja mais relacionado ao pensa- to criativo e divergente do que à suscetibilida-
mento criativo do que a uma psicopatologia. Já de ao transtorno psicótico.
o índice de depressão no grupo de alunas ace- Sakamoto, Lapastini e Silva (2003) fizeram
leradas foi negativamente correlacionado com um levantamento dos estudos existentes, no
o índice de ajustamento emocional, fazendo período de 1887 até 2001, relacionando cria-
com que os pesquisadores concluíssem que os tividade e psicodiagnóstico por meio do teste
resultados de mau ajustamento do Rorschach do Rorschach, e encontraram apenas 72 traba-
coincidiam com outros resultados de mau ajus- lhos. No entanto, estudar essa correlação tor-
tamento, sugerindo, de fato, que quanto pior o na-se essencialmente relevante, uma vez que o
ajustamento emocional, mais propensas essas Rorschach, apesar de ser um teste de persona-
participantes estavam à depressão. lidade, oferece inúmeros indicadores de criati-
Nogueira (2019) encontrou resultados se- vidade. O próprio Hermann Rorschach (citado
melhantes ao realizar uma pesquisa com alu- em Sakamoto, Lapastini, & Silva) já afirmava
nos superdotados acelerados – isto é, estudan- que protocolos com prevalência de respostas de
tes que haviam ingressado precocemente na percepção de movimento sobre as de cor carac-
universidade –, superdotados não acelerados e terizam os indivíduos imaginativos.
não superdotados, aplicando o teste do Rors- Alguns estudos verificaram se havia alguma
chach junto com outros testes de personalida- correlação entre as variáveis do teste do Rors-
de, inteligência e criatividade. Apesar de os re- chach e as do Teste de Torrance de Pensamen-
sultados terem apontado que os indicadores de to Criativo – um dos testes de criatividade mais
pensamento distorcido do Rorschach se corre- utilizados mundialmente (Baker, 1978; Ferra-
lacionaram positivamente com os índices ge- cuti et al., 1999). Apesar de Baker sugerir que
rais de criatividade, também foi encontrado um os testes mensuram diferentes fases do proces-
perfil de ajustamento emocional e social sau- so criativo ou, ainda, diferentes tipos de criati-
dável nos grupos de alunos superdotados, su- vidade, de modo geral os resultados indicaram
gerindo que eles seriam pessoas imaginativas fortes correlações entre as variáveis dos dois
e fantasiosas, abertas a novas experiências e testes. Inclusive, muitas das variáveis do Rors-
mudanças, com grande senso de autoestima, chach que obtiveram correlações positivas com
autoconfiança e autonomia, ambiciosas para índices de criatividade têm sido, tradicionalmen-
realizar tarefas difíceis, que tendem a quebrar te, utilizadas nos indicadores de esquizofrenia.
padrões e desafiar as convenções e que gos- Por fim, ressalta-se o alerta de Kaufman
tam de ser valorizadas por seu talento. Esse (2014) de que a maioria dos estudos que se pro-
perfil vai ao encontro da literatura que descre- põem a compreender a relação entre criativida-
ve o perfil de indivíduos superdotados e cria- de e saúde mental não usa parâmetros claros de
tivos (Alencar, 2007; Alencar & Fleith, 2001, determinação de qual dimensão da criatividade
2003). Em concordância com Franklin e Cor- está sendo correlacionada a qual tipo de psico-
nell (1997), Nogueira (2019) concluiu que o patologia, dificultando conclusões mais conci-
pensamento criativo e o pensamento distorci- sas acerca do tema.
do apresentam uma correlação positiva e sig-
nificativa. Porém, como não foram encontra- Conclusões
das evidências de mau ajustamento emocional
por parte dos alunos mais criativos, sugeriu-se Como mencionado, muitos estudos na área
que os indicadores de psicopatologia encontra- têm sido conduzidos no sentido de identificar
se há ou não uma relação causal entre criativi- tivo é visto e aceito socialmente. Wechsler
dade e transtorno mental e os resultados ainda (2004) afirma que “uma ideia só será conside-
não chegaram a um consenso. Segundo Kau- rada original, ou trará novidade, quando além
fman (2014), tem-se pesquisado a respeito, mas de diferente e incomum, ela puder apresentar
parece que, frequentemente, a conclusão é a sugestões para futuros produtos e forçar uma
de que mais estudos sobre o tema são neces- mudança a maneira com que a realidade é per-
sários. O que ele afirma ser preciso é determi- cebida” (p. 4). Já Lubart (2007) entende que a
nar, de forma mais específica, qual das psico- produção criativa deve ser nova e adaptada ao
patologias está sendo investigada e em relação contexto ao mesmo tempo. No entanto, vale a
à qual variável de criatividade. pena refletir acerca dos tantos rompimentos de
Assim, pode-se dizer que o estabelecimen- paradigmas aos quais a sociedade já foi expos-
to de um panorama geral da relação entre cria- ta por conta daqueles que apresentaram ideias
tividade e transtornos mentais pode acabar ge- originais, porém não adaptadas ao meio e que,
rando desdobramentos e estereótipos que não apesar de a sociedade ter colhido os frutos des-
são, posteriormente, analisados e estudados de sas ideias, as pessoas que as propuseram mor-
maneira a oferecer um suporte (a) aos indiví- reram sendo consideradas loucas.
duos que apresentam algum transtorno mental Pode-se dizer que quando se fala de trans-
e, portanto, passam por um sofrimento psíqui- torno mental refere-se, antes de mais nada, a
co grave (Morais, 2011) e (b) àqueles que, de um grande sofrimento psíquico que levou a
alguma forma, sofrem desde muito cedo com a pessoa a um diagnóstico psiquiátrico. Portan-
associação da criatividade com indisciplina ou to, talvez não se trate de uma relação causal e
mau comportamento em sala de aula (Delou, a priori existente entre a criatividade e os trans-
2007). Segundo Pérez (2011), estereótipos acer- tornos mentais, mas de uma trajetória de sofri-
ca dos sujeitos altamente criativos e talentosos mento e de pouco ou nenhum suporte no sen-
“podem conduzir à criação de uma imagem pa- tido emocional para lidar com os desafios de
tologizada e deturpada desse ser humano dife- adaptar-se à uma cultura que, de modo geral,
rente, negando-lhe, em última instância, o direi- não aceita ideias inovadoras e originais. Nes-
to de construir uma identidade sadia” (p. 513). se sentido, Sendín (1999) alerta para a impor-
Também se questiona acerca da maneira tância de um pensamento intelectual comple-
como os padrões sociais determinam e diferen- xo vir acompanhado de abundantes recursos
ciam o indivíduo altamente criativo do “lou- afetivos, para que não se arrisque a estabilida-
co”. Sternberg (2005) afirma que ideias criati- de e a coerência interna do indivíduo. A sinali-
vas desafiam a sociedade e, quando propostas, zação de “vantagens potenciais, e não somen-
são majoritariamente entendidas como algo bi- te déficits, ... é uma mensagem encorajadora
zarro. “A sociedade geralmente percebe a opo- que claramente contrasta com a visão estig-
sição ao status quo como irritante, ofensiva e matizante que a sociedade tem dessas condi-
motivo suficiente para ignorar ideias inovado- ções [dos transtornos mentais] e da desmora-
ras” (Sternberg, p. 329). É nesse sentido que lização, culpa e vergonha pelas quais passam
Runco (2005) defende que o indivíduo deve sa- os que sofrem e suas famílias” (Barrantes-Vi-
ber a hora certa de apresentar ideias originais, dal, 2014, p. 196).
para que não soe apenas como um excêntrico Beaussart et al. (2014) chama atenção ain-
oposicionista. da para o fato de que as divergências acerca
As concepções acerca de criatividade in- da associação entre criatividade e transtorno
fluenciam a maneira como o indivíduo cria- mental são fruto da ausência de definição es-
pecífica dos dois construtos. Portanto, é preci- disorders: DSM-5 (5a ed). Washington,
so cautela ao se examinar essa relação. O que DC: American Psychiatric Association.
os estudos revelam é que não se pode conceber Barrantes-Vidal, N. (2014). Creativity and the
tal relação de forma direta, causal, simplista e spectrum of affective and schizophrenic
global. Como explicam os autores, “a nature- psychoses. In J. C. Kaufman (Ed.), Cre-
za da criatividade, com seus diferentes domí- ativity and mental illness (pp. 169–204).
nios, medidas e níveis de eminência, e a natu- New York, NY: Cambrige University Press.
reza do transtorno mental, com seus espectros Baker, M. (1978). The Torrance Test of Cre-
de gravidade e dificuldade no estabelecimen- ative Thinking and the Rorschach Ink-
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members through cultural design that uses the art among its Recebido: 03 de Dezembro de 2019
strategies. Walden Two is then a privileged work to inves- Revisado: 10 de Fevereiro de 2020
tigate artistic behavior in Radical Behaviorism. This theo- Aprovado: 28 de Fevereiro de 2020
retical study aims to present a systematization about art in Como citar este documento
Walden Two. Excerpts from the book containing key words Vitti, G. R., & Laurenti, C. (2019). Arte e
associated with artistic productions were identified and reg- Comportamento Radical: Um Estudo de
Caso de Walden Two. Revista Brasileira
istered, producing information about: the characteristics of de Terapia Comportamental e Cognitiva.
artistic productions, the descriptive variables of artist and au- 21(3), 332-349. doi: https://10.31505/
rbtcc.v21i3.1377
dience behavior, and the ethical-political functions of artistic
behavior. As a kind of social control, the art needs to be con-
sidered in ethical-political discussions about cultural design.
Keywords: art, social control, cultural design, happiness, É permitido compartilhar e adaptar. Deve dar o crédito
apropriado, não pode usar para fins comerciais.
culture.
RESUMEN: Skinner revela en Walden Two una comunidad ficticia capaz de promover la feli-
cidad de sus miembros por medio de un planeamiento cultural que se utiliza, incluyendo otros
recursos, el arte. Walden Two aparece entonces como un trabajo privilegiado para investigar la
conducta artística en el conductismo radical. El objetivo de esta investigación teórica fue pre-
sentar una sistematización sobre arte en Walden Two. Mediante la búsqueda y registros de ex-
tractos del libro que contienen palabras clave relacionadas con producciones artísticas, fueran
compiladas información para resaltar: las características de las obras de arte, las variables des-
criptivas de la conducta del artista y del público, y las funciones ético-políticas del comporta-
miento artístico. Entendido como una forma de control social, el arte debe considerarse en las
discusiones ético-políticas sobre planeamiento cultural.
Palabras chave: arte, control social, planeamiento cultural, felicidad, cultura.
o que permite que os planejadores da comuni- ladas em WT, o que parece se opor às críticas
dade se concentrem em ações que potenciali- usualmente endereçadas ao comportamentalis-
zam o bem-estar e evitem sentimentos de rai- mo radical que o acusam de negligenciar ati-
va e desprazer (Skinner, 1948/2005). vidades humanas complexas como as criações
Desse modo, é possível afirmar que um dos artísticas (e.g., Chomsky, 1959).
objetivos que prevalece em WT é a felicidade de No entanto, se o comportamento artístico
seus habitantes. Nas palavras de Frazier, planeja- pode ser planejado e controlado, com qual pro-
dor e fundador da comunidade, “felicidade é nosso pósito isso deveria ser feito? Quais benefícios
primeiro objetivo . . .” (p. 194), e “nossa riqueza aos indivíduos e à cultura seriam fomentados
é nossa felicidade” (Skinner, 1948/2005, p. 255). pela arte? Diante dessas indagações, WT desta-
Essa felicidade, porém, não é resultado de ca-se como obra privilegiada na investigação das
contingências acidentais ou do acaso. A tese de- possíveis funções desempenhadas pelas ativida-
fendida no livro é a de que uma sociedade justa, des artísticas no planejamento de uma cultura.
igualitária e satisfatória só poderá ser alcançada Considerando esse panorama, o objetivo deste
mediante a aplicação de princípios de uma ciên- artigo é apresentar uma sistematização sobre a
cia comportamental que seja capaz de promover temática da arte em WT por meio de uma carac-
ações benéficas para a cultura e seus indivíduos terização das principais produções artísticas pre-
(Melo & Castro, 2015). Para atingir esse objeti- sentes na obra; do exame das variáveis descriti-
vo, há, na comunidade, uma série de planejadores vas do comportamento do artista e da audiência;
e administradores responsáveis por projetar dife- e da elucidação das funções ético-políticas do
rentes setores do local. Conforme explica Frazier, comportamento artístico naquela comunidade.
trechos contendo alguma das palavras seleciona- tísticas em WT. A Tabela 1 apresenta o número
das foram catalogados em uma tabela. de ocorrência de cada uma das palavras-cha-
As entradas dessa tabela apresentavam três co- ve, bem como a indicação dos capítulos e das
lunas, as quais foram utilizadas, respectivamente, páginas nas quais elas podem ser localizadas.
para a inserção do número do capítulo e da pági- As 23 palavras-chave selecionadas foram
na de cada trecho, a transcrição literal do excerto mencionadas 217 vezes em todo o livro, sendo
no qual os vocábulos selecionados foram men- que os termos com maior número de ocorrência
cionados, e a anotação de comentários que con- foram art, music, artist(ic) e leisure com, respec-
tribuíssem para análise ulterior. Com base nesse tivamente, 28, 23, 20 e 19 menções. Conforme
registro, as informações sobre o comportamen- representado na Tabela 1, as palavras relaciona-
to artístico em WT foram produzidas e compi- das às produções musicais, como Bach, Beetho-
ladas a partir de duas estratégias de análise: 1) ven, concert, Mozart e music, somam o maior nú-
uma sistematização quantitativa das menções às mero de termos encontrados, com 47 menções1.
palavras-chave selecionadas; e 2) a construção Destaca-se também o elevado número de ocor-
de eixos temáticos que permitiram elaborar uma rências dos vocábulos associados ao cinema e
descrição sistemática do comportamento artístico ao teatro (e.g., theater, audience e movie), com
tanto em relação a seus produtos (tipos de obras 33 menções, e à pintura e escultura (e.g., gallery,
de arte presentes em WT) quanto em termos de museum, painting, picture e sculpture), com 30.
seus efeitos para o indivíduo e a comunidade. A Tabela 1 mostra, outrossim, que as pala-
vras-chave relacionadas à arte foram encontra-
Resultados e Discussão das em 31 dos 36 capítulos de WT, sendo que
apenas os capítulos 1, 2, 12, 13 e 34 não apre-
As informações geradas por meio da aplica- sentaram nenhum dos vocábulos pesquisados.
ção das estratégias de análise mencionadas se- O número de ocorrência dos termos asso-
rão apresentadas de duas formas sucessivas: 1) ciados à arte e a distribuição deles ao longo
uma descrição quantitativa da ocorrência das do livro demonstram que a temática da arte é
palavras-chave selecionadas; e 2) uma análise bastante discutida na obra, o que assinala sua
do comportamento artístico em WT, orientada importância no planejamento cultural em WT.
por três eixos temáticos. São eles: produções
artísticas de WT; variáveis descritivas do com- As produções artísticas em Walden Two
portamento do artista e da audiência; e função
ético-política do comportamento artístico em A comunidade de Skinner apresenta dife-
WT. Cada um desses eixos será descrito separa- rentes tipos de obras de arte, sendo menciona-
damente com o objetivo de dar relevo aos prin- dos, ao longo de todo o livro, quadros e pintu-
cipais aspectos concernentes a cada um deles. ras (e.g., p. 23, 24, 28, 40, 81, 142, 154, 231),
esculturas (e.g., p. 81, 142, 229), teatro (e.g., p.
Descrição quantitativa das menções 35, 198) e literatura (e.g., p. 30, 110, 125, 148,
à arte em WT 185, 198, 301). É possível encontrar também
1
Considerando que a análise de uma dada obra pode
As menções aos termos relacionados à te- indicar os valores pessoais do autor e da cultura a
mática da arte foram quantificadas registran- qual ele pertence (Wolpert, 2005), o maior número de
do-se a ocorrência de cada uma delas ao longo menções a termos relacionados às produções artísti-
cas musicais pode ter relação com a própria educação
dos 36 capítulos do livro, o que contribuiu para e interesses musicais de Skinner, voltados sobretudo
avaliar a importância atribuída às atividades ar- para a música erudita (ver Wiener, 1996, p. 12, 143).
passagens que tratam sobre moda (e.g., p. 29, As obras artísticas de WT não possuem um
30, 66) e outras que descrevem cantatas e con- padrão característico único que seja capaz de
certos sinfônicos, sendo, como já indicado, a descrevê-las de modo amplo e generalizado.
música a categoria artística com maior presen- As pinturas, as músicas, e todas as demais ar-
ça ao longo do livro (e.g., p. 33, 34, 35, 75, 77, tes são descritas como originais, harmoniosas e
81, 84, 154, 185, 186, 200, 236, 261, 265, 275, diversificadas, uma vez que cada uma se apro-
300). Outros tipos de arte também são referen- xima de um estilo artístico diferente, além de
ciados no decorrer dos capítulos, como cinema serem utilizadas técnicas variadas e, em mui-
(e.g., p. 30, 35, 55, 168, 191, 192), dança (e.g., tos casos, inovadoras (e.g., p. 23, 29, 30, 81,
p. 168), desenhos e tapeçaria (e.g., p. 206). 82, 142, 185, 200).
Tabela 1.
Ocorrências das palavras-chave nos capítulos e páginas do livro Walden Two
Número de
Palavras-chave Capítulos Páginas
ocorrências
4, 5, 6, 8. 10, 11, 14, 23, 30, 34, 48, 69, 71, 80, 84, 104, 114, 116, 142,
Art 28
15, 19, 20, 27, 29, 32 164, 212, 221, 237, 259, 275
4, 11, 15, 17, 19, 20, 23, 80, 116, 135, 144, 154, 206, 222, 237, 259, 275,
Artist(ic) 20
26, 27, 29, 32 276
Arts and crafts 3 15, 20, 26 110, 148, 203
Audience 9 6, 11, 22 36, 78, 80, 82, 83, 172
Bach 7 10, 11, 23 73, 75, 77, 82, 186
Beethoven 1 11 78
Concert 15 3, 6, 10, 11, 29, 31 20, 35, 75, 77, 78, 81, 82, 236, 265
Entertain(ment) 8 3, 6, 11, 14, 18, 20, 32 20, 36, 77, 106, 141, 163, 268
Fame 2 20 156
Fashion 5 5, 9, 14, 29 29, 30, 66, 101, 252
Gallery 2 4, 19 23, 142
Idleness 3 8, 18, 20 58, 139, 147
3, 7, 8, 9, 10, 11, 20, 15, 40, 50, 51, 54, 64, 69, 76, 80, 84, 148, 157, 165,
Leisure 19
25, 26 197, 203, 204
Literature 6 5, 15, 16, 20, 25 30, 110, 113, 125, 148, 200
Mozart 1 31 265
Movie 9 5, 6, 8, 21, 24, 35 30, 35, 56, 168, 191, 192, 295
Museum 3 19, 24, 32 142, 191, 273
5, 6, 11, 15, 23, 25, 33, 34, 78, 80, 81, 82, 83, 84, 114, 185, 200, 201,
Music 23
30, 31, 32, 36 261, 266, 275, 300
Painting 5 4, 11, 20 23, 84, 154
3, 4, 5, 7, 16, 19, 20, 19, 24, 28, 40, 124, 142, 144, 154, 168, 206, 259, 268
Picture 15
21, 26, 29, 32
Sculpture 5 4, 11, 19, 28 24, 84, 142, 229
8, 11, 15, 17, 20, 24, 50, 54, 80, 109, 117, 134, 148, 191, 203, 218, 274,
Talent 13
26, 27, 32, 33 280
3, 6, 10, 11, 18, 25, 20, 35, 37, 38, 75, 76, 77, 83, 84, 138, 198, 230, 236
Theater 15
28, 29
Total 217
Esse aspecto diversificado das produções quências, e as pessoas olham para pinturas de-
artísticas pode ser identificado em alguns mo- vido às consequências. Em termos tradicionais,
mentos da narrativa. A descrição das produ- pode-se dizer que as consequências definem os
ções musicais, por exemplo, sugere que elas propósitos da arte” (p. 345, itálicos adicionados).
não seguem um único estilo estético, sendo Partindo dessa concepção consequencialis-
encontradas menções a composições de músi- ta, foram identificadas possíveis variáveis que
cos clássicos como Mozart (e.g., p. 265), bar- controlam o comportamento do artista e de sua
rocos como Bach (e.g., p. 73, 77, 186) e Han- audiência em WT.
del (e.g., p. 186), românticos como Beethoven
(e.g., p. 78) e Schumann (e.g., p. 200), e, até Variáveis descritivas do comportamento
mesmo, música popular (e.g., p. 236). do artista
Os personagens também relatam que as obras
artísticas, como as pinturas, possuem tamanhos, Os reforçadores do comportamento artístico
cores e conteúdos variados, mantendo sempre
uma qualidade profissional notória. Isso fica cla- Qualquer indivíduo em WT, seja ele mem-
ro quando o personagem Burris, ao passear por bro ou visitante, pode ser considerado um ar-
um dos corredores do edifício principal da co- tista em potencial. Isso significa que todos os
munidade, observa que as pinturas ali expostas habitantes da comunidade estão virtualmen-
“eram surpreendentemente vigorosas e inovado- te aptos a produzir algum tipo de obra de arte,
ras, em muitos estilos, e, quase sem exceções, tendo em vista que as contingências que con-
feitas com competência. Eu tinha visto muitas trolam o comportamento artístico são planeja-
exposições profissionais menos interessantes do das para que qualquer um possa aprender e de-
ponto de vista técnico e certamente muito me- senvolver tais habilidades.
nos empolgantes” (Skinner, 1948/2005, p. 23). O destaque dado ao planejamento das ati-
Outra passagem que ilustra o caráter mul- vidades artísticas em WT dá relevo à concep-
tifacetado e arrojado das produções artísticas ção analítico-comportamental, segundo a qual
é encontrada em uma afirmação de Frazier, na os talentos artísticos e as aptidões são entendi-
qual ele defende que os avanços obtidos na dos como comportamentos aprendidos ao lon-
área da música possibilitarão que WT desen- go da história de vida do indivíduo (Skinner,
volva seu próprio gênero musical. Segundo o 1974). Conforme sugere Frazier:
personagem, “nosso público cresce com nos-
sos compositores. Naturalmente, vamos desen- Sabemos alguma coisa sobre as circunstâncias
volver nosso próprio gênero. É o alvorecer – da vida de uma criança que lhe dão uma mente
o alvorecer, pelo menos, de uma Era de Ouro” matemática? Ou que fazem com que ela seja
(Skinner, 1948/2005, pp. 82-83). musical? Quase nada! Essas coisas são deixa-
As obras de arte parecem ocupar lugar central das ao acidente ou atribuídas à hereditarieda-
na vida cotidiana dos habitantes de WT, tendo, de. Adoto uma visão mais otimista: podemos
por conseguinte, um importante papel na organi- analisar o comportamento efetivo e projetar
zação social da comunidade. No entanto, a fun- experimentos para descobrir como gerá-lo em
ção social do comportamento artístico só pode ser nossa juventude. (Skinner, 1948/2005, p. 275)
descrita quando se observam as consequências
que ele produz em determinado contexto (Skin- Em outro momento, ao se referir às oportu-
ner, 1953). Como declara Skinner (1970/1999), nidades de desenvolvimento artístico ofereci-
os “artistas pintam quadros por causa das conse- das em WT, o mesmo personagem declara que
Se você mora em Walden Two e gosta de o uso desse tipo de eventos reforçadores é mi-
música, você pode ir tão longe quanto qui- nimizado. Frazier argumenta que
ser. Não quero dizer alguns minutos no dia
– quero dizer todo o tempo e energia que Quando um homem consegue um lugar ao sol,
você pode dar à música e permanecer saudá- outros são colocados na sombra. Do ponto de
vel. Se você quiser ouvir, há uma extensa bi- vista de todo o grupo, não há ganho algum, e tal-
blioteca de registros e, claro, muitos concer- vez uma perda . . . Um triunfo sobre outro ho-
tos, alguns deles bastante profissionais . . . . mem nunca é um ato louvável. Nossa decisão de
Se você quer se apresentar, você pode obter eliminar o engrandecimento pessoal surgiu na-
instruções sobre quase todos os instrumen- turalmente do fato de que estávamos pensando
tos de outros membros – que recebem crédi- em todo o grupo. (Skinner, 1948/2005, p. 156)
tos por isso. (Skinner, 1948/2005, pp. 81-82)
Se os indivíduos daquela sociedade não pin-
Ao afirmar que determinados habitantes re- tam, tocam ou escrevem devido àqueles reforçado-
cebem créditos de trabalho pelo ensino de ins- res, quais consequências são produzidas por suas
trumentos musicais, Frazier indica que há, em ações? Opondo-se ao uso preponderante de refor-
WT, indivíduos que trabalham profissionalmen- çadores artificiais, os planejadores de WT estabe-
te com arte, os quais exercem, no escopo das lecem contingências para que o comportamento
quatro horas de expediente diário da comuni- do artista seja reforçado predominantemente por
dade, atividades relacionadas à educação artís- reforçadores naturais, isto é, pelas consequências
tica, recebendo, em troca, créditos de trabalho. que dependem direta e exclusivamente da reali-
Não obstante, é preciso ressaltar que a arte zação de atividades artísticas. A melodia de uma
de WT não está restrita ao trabalho desses pro- música, bem como os traços e cores de uma pin-
fissionais, uma vez que, como já indicado, as tura são alguns dos reforçadores produzidos pelo
produções artísticas podem ser realizadas por comportamento artístico (Skinner, 1970/1999).
todos os habitantes da comunidade, muitos Além disso, embora reforçadores positivos usu-
deles com outras ocupações. Em determinado almente provoquem sensações de prazer e bem-
momento da narrativa, por exemplo, o perso- estar, Skinner (1974) argumenta que os reforça-
nagem Burris encontra Frazier tocando piano dores positivos naturais2 estão mais fortemente
juntamente com um quarteto de cordas em uma relacionados com esses sentimentos. Segundo ele,
sala. Ao elogiá-lo, recebe como resposta “mero “um artista, compositor ou poeta ‘natural’ se com-
amador . . . mero amador! Há cinquenta pianis- portará de maneira idiossincrática e estará mais
tas em Walden Two que podem tocar melhor. E propenso a sentir as condições corporais chama-
eles tocam . . .” (Skinner, 1948/2005, p. 202). das excitação ou alegria, associadas a reforçado-
A passagem sugere que os créditos de tra- res ‘naturais’” (Skinner, 1974, p. 126).
balho não são os principais responsáveis por
Não parece haver uma definição inequívoca de reforça-
2
controlar comportamentos relacionados à arte dor natural e arbitrário na Análise do Comportamento,
em WT. Tampouco outros eventos potencial- e a distinção entre eles é ainda controversa (Dorigon &
mente reforçadores comumente atrelados ao Andery, 2015). Para evitar ambiguidade, é pertinente
explicitar que o termo “natural” não está sendo utilizado
comportamento artístico, como fama, adora- neste texto como sinônimo de reforçador primário. O
ção, renome, e prestígio social, não parecem termo descreve um tipo de consequência que é produzi-
exercer influência significativa sobre o com- da diretamente pelo comportamento do indivíduo sem
a intermediação de agentes externos à contingência, ou
portamento dos artistas. O planejamento cul- seja, sem a mediação de comportamentos de outros su-
tural de WT envolve contingências nas quais jeitos (ver Moreira & Medeiros, 2019).
Voltando a WT, os sentimentos de prazer re- to artístico, por exemplo, o autor declara:
latados pelos artistas ao longo da narrativa são
alguns dos indicativos de que o comportamen- Uma relação entre arte e tempo livre tem sido
to desses indivíduos pode estar sendo controla- reconhecida há muito tempo. O homem primi-
do por um processo de reforçamento natural. Isso tivo teve que se livrar de uma constante preo-
pode ser observado no momento em que Burris cupação com comida, abrigo e segurança an-
avista Frazier tocando piano com um quarteto de tes que pudesse começar a decorar suas roupas,
cordas. Embora Frazier cometa alguns erros no sua moradia, suas armas, e seu corpo, e final-
decorrer da melodia, a descrição do episódio su- mente criar coisas com nenhuma outra função
gere excitação e alegria em seu diálogo com os além de serem decorativas. Quando civiliza-
demais músicos. Ele diz “Obrigado! Obrigado! . ções alcançam o estágio no qual muitas pes-
. . Vocês são anjos! Anjos! . . . Por favor, deixe- soas desfrutam de tempo livre, frequentemen-
-me tocar de novo em breve . . . Se vocês soubes- te começam grandes períodos de arte. (Skinner,
sem o quanto isso significa para mim!” (Skinner, 1970/1999, p. 344)
1948/2005, p. 201). A solicitação de Frazier por
uma nova oportunidade para tocar indica que seu Assim, a existência de longos períodos de
comportamento artístico foi, muito provavelmente, tempo livre parece ser fator fundamental para
reforçado pelas próprias consequências que pro- propiciar a ocorrência de arte em WT. Como
duziu, como a melodia agradável da canção exe- reconhece Frazier:
cutada e a socialização com outros indivíduos.
Além de consequências reforçadoras positivas Nós simplesmente evitamos o trabalho não cria-
naturais, a ocorrência de comportamentos artísticos tivo e desinteressante . . . O que pedimos é que
em WT é favorecida por outros fatores, que ganham o trabalho de um homem não sobrecarregue
relevo quando Frazier menciona algumas condi- sua força nem ameace sua felicidade. Nossas
ções necessárias para que ações artísticas aconte- energias podem então ser voltadas para a arte,
çam na comunidade: “esse é o ponto. Condições a ciência, o jogo, o exercício de habilidades, a
certas, isso é tudo. Condições certas. Tudo que satisfação de curiosidades, a conquista da natu-
você precisa. (Desculpe-me.) Tudo que você pre- reza, a conquista do homem – a conquista de si
cisa. Dê a eles uma chance, só isso. Tempo livre. mesmo, mas nunca dos outros. Nós criamos o
Oportunidade. Apreciação” (Skinner, 1948/2005, lazer sem escravidão, uma sociedade que não
p. 84). Essas três condições mencionadas por Fra- explora e nem faz guerra. (Skinner, 1948/2005,
zier precisam, então, ser analisadas detalhadamente. p. 69, itálicos adicionados)
Condições necessárias para a ocorrência do Ao afirmar que sua comunidade fictícia pos-
comportamento artístico sibilita a existência de um lazer sem escravidão,
Skinner defende que o tempo livre dos morado-
Baseando-se no discurso de Frazier, três con- res do local não é utilizado como meio de fuga ou
dições necessárias para a ocorrência do compor- esquiva de situações aversivas, uma vez que es-
tamento artístico se destacam: tempo livre, opor- sas circunstâncias não parecem existir em WT3.
tunidade e apreciação. Em relação à primeira Embora Skinner tenha sugerido que o planejamento
3
delas, cabe salientar que a importância do tem- cultural de WT não utiliza nenhum tipo de contro-
po livre é discutida por Skinner em outros mo- le aversivo, Martins, Carvalho Neto e Mayer (2017)
criticaram essa tese argumentando que é possível
mentos de sua obra (e. g., Skinner, 1969/2013, encontrar na obra exemplos de contingências aver-
1986, 1970/1999). Ao analisar o comportamen- sivas em diferentes trechos.
Contudo, o autor também argumenta que sem Além desses aspectos, WT parece abando-
um planejamento cultural adequado, as pessoas nar práticas de controle coercitivo que pos-
com muito tempo livre podem também se com- sam, mesmo que indiretamente, suprimir as
portar de modo pouco significativo no mundo, ações criativas. Isso pode ser verificado no se-
tendo em vista que nesses períodos os indivíduos guinte trecho:
não têm a necessidade de agir de nenhum modo
específico (Skinner, 1969/2013). É neste ponto Um bebê explora naturalmente tudo o que
que Skinner assinala a segunda condição pri- consegue, a menos que forças restritivas já
mordial para a produção de arte: a oportunidade. estejam em ação. E essa tendência não mor-
Com a ausência de condições propícias para agir re, é inibida. Fizemos um levantamento sobre
de modo relevante, produzindo arte ou ciência, a motivação da criança não-inibida e desco-
por exemplo, os indivíduos agem muito pouco, brimos mais do que poderíamos usar. Nosso
dormindo ou se tornando apenas espectadores trabalho de engenharia era preservá-la, forta-
da vida dos outros (Skinner, 1969/2013, 1986). lecendo a criança contra o desânimo. (Skin-
São esses comportamentos que WT se propõe ner, 1948/2005, p. 114)
a evitar por meio de seus planejadores e adminis-
tradores. Embora tenham muito tempo livre, os Assim, observa-se que práticas punitivas
habitantes do local não se sentem culpados e nem podem influenciar as ações artísticas, supri-
entediados, pois há contingências que estabele- mindo a sua ocorrência. Nessa perspectiva, é
cem oportunidades diferentes para se fazer algo. fundamental que uma sociedade que favore-
Segundo Frazier, a despeito de terem abandona- ça a criação de obras de arte faça uso adequa-
do o trabalho pesado, “não quero dizer que de- do da terceira condição relatada por Frazier:
sejamos ser inativos – provamos que a ociosida- a apreciação.
de não é vantajosa. Mas o trabalho doloroso ou
desinteressante é uma ameaça para a saúde físi- Variáveis descritivas do comportamento
ca e psicológica” (Skinner, 1948/2005, p. 147). da audiência
Para promover oportunidades de ocorrência
de comportamentos artísticos, WT utiliza-se de Os reforçadores do comportamento de
diferentes meios. Todas as pessoas, indepen- apreciação
dentemente da idade ou do trabalho, possuem
acesso a salas com materiais artísticos, podendo Se todos os habitantes de WT podem, em
também participar de grupos de teatro, corais e tese, produzir arte, todos também parecem es-
orquestras (e.g., p. 34, 35, 75, 81, 82, 85, 200, tar capacitados para apreciá-la. Nas palavras
236). O fácil acesso a instrumentos musicais, de Frazier:
e a presença de locais apropriados para a ocor-
rência de comportamentos artísticos são algu- Você não pode incentivar a arte apenas com
mas das contingências que oferecem ocasiões dinheiro. O que você precisa é de uma cul-
propícias para agir artisticamente no tempo li- tura. Você precisa de uma oportunidade real
vre. Outras condições também são menciona- para jovens artistas. A carreira deve ser eco-
das, como a possibilidade de aprender teorias nomicamente sólida e socialmente aceitável,
e técnicas artísticas sem a necessidade de ins- e os prêmios não farão isso. E você precisa de
tituições formais, e a exposição constante a es- apreciação – deve haver público, não para pa-
paços com presença marcante de obras de arte, gar as contas, mas para desfrutar. (Skinner,
como os corredores e as salas de jantar. 1948/2005, pp. 80-81, itálicos adicionados)
De maneira geral, o comportamento de apre- Ela [uma pintura] é reforçadora porque se as-
ciação pode ser compreendido como uma clas- semelha a coisas reais, mas estas são refor-
se de ações com diferentes topografias, tais çadores por outras razões . . . Contingências
como: ir até locais em que as produções artísti- de sobrevivência na evolução da raça huma-
cas estão expostas; assistir teatros e concertos; na têm feito da figura humana um importan-
ouvir música; olhar e tocar quadros e escultu- te reforçador visual, e ela é, claramente, as-
ras; fazer comentários; aplaudir; e, até mesmo, sunto comum na arte de muitas culturas. Os
criticar produtos ou ações artísticas (Skinner, alimentos tornam-se reforçadores por ou-
1948/2005). tras razões biológicas, e não surpreende que
Burris, Castle, Bárbara e até mesmo Fra- as pessoas, de vez em quando, penduravam
zier são alguns dos personagens de WT que quadros de frutas, peixes e caça em suas sa-
acompanham as produções artísticas cons- las de estar. Retratos de pessoas que amamos
tantemente, observando, assistindo e, em al- ou admiramos nos permitem ver essas pesso-
guns casos, tecendo comentários e críticas. as em sua ausência, e quando o jovem aman-
As impressões relatadas por eles são diver- te beija o retrato de sua amada, ele está ape-
sas, ainda que descrevam, repetidamente, a nas exemplificando, de maneira conspícua,
alta qualidade técnica e a beleza das criações. o tipo de coisa que todos fazemos quando
Ao caminhar pelos corredores, por exemplo, olhamos para um retrato: nos comportamos
Burris afirma que diante do retrato, até certo ponto, como nos
comportaríamos diante da pessoa retratada.
notei muitas pinturas nos salões e salas de (Skinner, 1970/1999, pp. 346-347)
leitura, algumas em uma escala bastan-
te ambiciosa. Havia também pequenas es- Assim, a história da arte e de suas inúmeras
culturas. Eu tinha aprendido que a maioria correntes estéticas pode ser compreendida como
dos quartos individuais continha imagens a trajetória dos diferentes reforçadores do com-
de esculturas emprestadas de uma coleção portamento do artista e de sua audiência ao longo
comum. Minha turnê mostrou-se mais con- da história da humanidade (Skinner, 1970/1999).
veniente e, em muitos aspectos, mais agra- Além das consequências reforçadoras, ou-
dável do que uma visita a um museu. Ge- tras condições também são indispensáveis para
ralmente era possível colocar uma cadeira compreender os motivos pelos quais crianças,
se eu quisesse passar algum tempo obser- adultos, e demais membros da comunidade ou
vando um trabalho em particular e, de al- até mesmo visitantes desempenham o papel de
guma forma, eu sentia um prazer adicional audiência em contextos variados, seja nos cor-
com o fato de os quartos serem habitados. redores, nas salas de estudo ou nos quartos par-
(Skinner, 1948/2005, p. 142) ticulares dos moradores.
Frazier: “nosso teatro comporta cerca de du- te, no tempo consumido, muitas vezes com
zentas pessoas. Essa é a nossa maior multidão. mau tempo também . . . Se alguém tiver de
Quando acontece de uma peça ou filme interes- enfrentar todos esses problemas, nada me-
sar a todos nós – e isso é raro – ela é simples- nos que uma performance de duas ou três
mente repetida até que todos a vejam” (Skin- horas satisfará. (Skinner, 1948/2005, p. 78)
ner, 1948/2005, p. 35).
Além desses locais, outros contextos que Os planejadores da comunidade procuram,
ensejam comportamentos de apreciação fo- então, minimizar as situações aversivas que cos-
ram identificados em WT. Em primeiro lugar, tumeiramente devem ser enfrentadas para que
muitas das atividades artísticas existentes na o comportamento apreciador ocorra. Os mem-
comunidade são anunciadas em um quadro de bros da comunidade não precisam se preocu-
avisos localizado em um dos corredores prin- par com eventuais problemas no trânsito, por
cipais. Nele são expostos anúncios de peças de exemplo, e nem mesmo com longas filas nas
teatros, concertos e cantatas, os quais descre- portas do teatro ou preços de ingresso abusivos.
vem informações relevantes sobre cada even- Todavia, é necessário ressaltar que as estra-
to, como o horário de início e o local de apre- tégias voltadas para a diminuição do custo de
sentação, constituindo situações antecedentes emissão das ações de apreciação não garantem
discriminativas para a emissão de comporta- necessariamente que os indivíduos irão se com-
mentos de apreciação. portar como audiência. Nesse sentido, há a ne-
Adicionalmente, outros aspectos da organi- cessidade de uma educação capaz de tornar o
zação da comunidade favorecem a conduta da comportamento dos indivíduos mais sensível à
audiência. As obras de arte de WT, especial- arte. Nas palavras de Skinner (1969/2013), “a
mente pinturas e esculturas, são expostas em educação pode fazer muito mais do que agora
locais com grande circulação de pessoas, de faz nessa direção. Ela pode ensinar as habili-
modo a diminuir o custo da resposta de apre- dades exibidas por artistas, músicos e artesãos.
ciação. Corredores dos edifícios, salas de jan- Pode construir um interesse sustentado na lite-
tar e até mesmo os quartos individuais são al- ratura, bem como nas artes e na música” (p. 80).
guns dos contextos em que a arte aparenta estar Em determinado momento, Frazier apresenta
sempre presente, o que facilita o contato dos indícios de que tal educação já esteja presen-
indivíduos com essas obras. te na comunidade, pois, segundo ele, faz parte
A diminuição do custo de emissão dos com- dos princípios do local “incentivar as crianças
portamentos da audiência também é empre- em todas as artes e ofícios. Temos muito prazer
gada na organização das peças de teatro e das em dedicar tempo para instruí-los, pois sabe-
apresentações musicais em WT. Frazier defen- mos que é importante para o futuro de Walden
de, por exemplo, que os eventos teatrais sejam Two e também para nossa própria segurança”
gratuitos e acessíveis, além de serem rápidos e (Skinner, 1948/2005, p. 110).
sem exageros. Segundo ele Parecem existir em WT práticas educacio-
nais que propiciam o ensino de teorias e méto-
Não faz sentido um longo concerto – não dos artísticos ainda nos primeiros anos de vida
aqui, pelo menos . . . Na cidade, um concer- das crianças. Entretanto, essa educação não se
to de cinquenta minutos seria impossível. propõe a ensinar estilos ou características que
Ninguém pagaria por ele . . . . o custo do in- devam ser, obrigatoriamente, seguidos pelos
gresso é apenas uma pequena parte do que indivíduos. Trata-se de educar a sensibilidade
se paga por um concerto. Pense no transpor- das pessoas, promovendo uma alteração estéti-
a produção de artistas e de obras de arte? Uma voltadas a promover a felicidade dos indivíduos
sociedade com maior número de pintores, escri- (Tamura & Laurenti, 2017). O autor exemplifica
tores, atores, e músicos deveria ser almejada? essa tese mostrando que a infelicidade das pes-
soas na sociedade ocidental não é explicada pela
Função ético-política da arte ausência de eventos prazerosos. Ao contrário,
em Walden Two “o ocidente é especialmente rico em coisas que
chamamos de interessantes, bonitas, deliciosas,
Ao propor uma comunidade fictícia regida divertidas e excitantes” (Skinner, 1986, p. 571).
por princípios comportamentais, Skinner de- O problema é que esses eventos prazerosos
fendeu que a ciência deveria ser utilizada para geralmente são disponibilizados sem qualquer
promover práticas culturais consideradas bené- relação de contingência com comportamentos
ficas para o sujeito e sua cultura (Melo & Cas- relevantes ou úteis para o indivíduo e a socie-
tro, 2015). Consequentemente, as ações dos dade. No ocidente, as pessoas ou não precisam
planejadores e administradores do local deve- fazer quase nada para produzir aqueles eventos,
riam ter como objetivo assegurar uma vida fe- ou precisam emitir nada mais que o comporta-
liz aos indivíduos, sem que as atividades que mento que estabelece o contato com eles, como
propiciem essa felicidade ameacem a sobrevi- apertar botões de televisão, telefones, compu-
vência de todo o grupo (Skinner, 1948/2005). tadores, ou simplesmente ver ou ouvir (Skin-
Como destaca Frazier: “a felicidade é o nos- ner, 1986). Nas palavras do autor
so primeiro objetivo, mas um impulso vivo e
ativo em direção ao futuro é o nosso segundo” Essas coisas tornam a vida cotidiana mais re-
(Skinner, 1948/2005, p. 194). forçadora, mas reforçam pouco mais do que
Conforme argumenta Skinner (1974), a feli- o comportamento que coloca a pessoa em
cidade pode ser definida como “um sentimen- contato com elas. Imagens bonitas reforçam
to, um subproduto do reforçamento operante. olhar para elas; comidas deliciosas reforçam
As coisas que nos tornam felizes são as que nos comê-las; atuações divertidas e jogos exci-
reforçam, contudo, são as próprias coisas, não tantes reforçam assistir a eles; e livros inte-
os sentimentos, que devem ser identificadas e ressantes reforçam lê-los – mas nada mais é
usadas na previsão, controle e interpretação” feito. (Skinner, 1986, p. 571)
(pp. 70-71). As consequências reforçadoras po-
sitivas são fundamentais para uma vida apra- Embora mantenha considerável abundância
zível, na medida em que produzem, de acordo de reforçadores positivos, WT parece se distan-
com Skinner (1974), dois efeitos principais: um ciar dessas práticas ocidentais na medida em
comportamental e outro corporal. O primeiro que seus planejadores organizam contingên-
deles consiste no fortalecimento da ação, au- cias para que as pessoas não apenas apreciem
mentando a probabilidade de ocorrência de um as produções artísticas de outros moradores,
comportamento semelhante no futuro. Já o se- mas também se engajem em comportamentos
gundo é descrito como a produção de sensações que as levem, por exemplo, a produzir suas pró-
corporais agradáveis e prazerosas, as quais de- prias obras artísticas. Desse modo, o planeja-
sempenham importante papel na obtenção de mento cultural em WT, seja favorecendo o pró-
bem-estar e satisfação (Skinner, 1986). prio comportamento artístico que produz coisas
Embora sejam diferentes, Skinner (1986) belas e interessantes, seja favorecendo compor-
argumenta que esses dois efeitos precisam ser tamentos de apreciação que colocam as pesso-
considerados no planejamento de contingências as em contato com coisas belas e interessantes,
ra, escultura, música, teatro, literatura e moda), análise sistemática das informações sobre a arte
as quais também apresentam extensa varieda- a uma única obra (WT). Uma investigação de
de de estilos estéticos e alta qualidade técnica. outros textos e livros de Skinner poderia colo-
A ocorrência de comportamentos artísticos car em perspectiva as considerações aqui expos-
em WT é explicada não só pelas consequências tas, indicando eventuais continuidades ou acrés-
reforçadoras positivas, sobretudo naturais, pro- cimos em relação às teses apresentadas em WT.
duzidas por esse comportamento, como tam- Além disso, é necessário ressaltar que a fun-
bém por outras condições, como tempo livre, ção ético-política da arte apresentada neste arti-
oportunidade e apreciação, favorecidas pelo go baseia-se na aceitação das teses defendidas por
planejamento cultural de WT. Com respeito à Skinner ao longo da narrativa de WT. Todavia,
apreciação, em particular, há contingências es- é preciso salientar que existem, na literatura da
pecíficas voltadas ao aumento da probabilida- área, leituras distintas que compreendem o fun-
de de ocorrência das ações de apreciação, tais cionamento político da comunidade de modo di-
como a existência de estímulos discriminati- ferente daquele defendido por Skinner (e.g., Abib,
vos, a diminuição do custo de resposta e a edu- 2015). Por isso, as análises sobre a arte delineadas
cação artística. A audiência desempenha um no âmbito deste trabalho poderiam ser ponderadas
papel importante na manutenção de compor- e revistas à luz dessas diferentes interpretações.
tamentos artísticos, não por meio do engran- Outro aspecto que merece ser ressaltado é
decimento pessoal do artista, mas funcionando que o possível mau uso do reforçamento positi-
como uma operação estabelecedora motivacio- vo, bem como seus efeitos nefastos representa-
nal que pode potencializar o efeito reforçador dos pela noção de “escravo feliz” (ver Skinner,
das produções artísticas para o artista. Com 1971/1976), não parecem ter sido considerados
efeito, o comportamento artístico não pode ser por Frazier em WT. Os planejadores da comuni-
entendido isoladamente, mas de modo articu- dade parecem ignorar que as consequências re-
lado com a audiência como um sistema social. forçadoras positivas, a despeito de proporciona-
Ao fomentar a arte, o planejamento cultural rem sensações corporais de prazer e liberdade,
de WT promove a felicidade e o bem-estar dos também podem ser utilizadas para controlar, de
membros da comunidade, cumprindo, assim, uma modo sutil, o comportamento dos indivíduos, im-
função ética. As ações artísticas também desem- possibilitando ações de fuga ou contracontrole,
penham uma função política na medida em que como protestos e revoltas (Skinner, 1971/1976).
uma comunidade que proporciona felicidade di- Nesse cenário, se a arte produz felicidade por
minui as chances de deserções e ataques de seus meio de contingências de reforçamento positivo,
membros contra sua própria cultura. Além dis- ela também poderia ser utilizada para ocultar even-
so, as características de um repertório artístico, tuais controles opressivos em WT4. Não obstante
como curiosidade e exploração, podem ajudar essas limitações, este estudo permite concluir que
na resolução de problemas e, consequentemen-
Afastando-se de WT e adentrando à sociedade capi-
4
te, na sobrevivência daquele grupo. A arte pare- talista ocidental, o uso da arte como forma de contro-
ce, portanto, exercer uma função ética e política le social exploratório foi sistematicamente discutido
em WT, pois permite alinhar a autorrealização pelos sociólogos Adorno e Horkheimer (1944/1985),
mostrando que a produção artística pode funcionar a
individual com a sobrevivência de todo o gru- favor da geração de lucro, contribuindo para o acirra-
po (Lopes, Laurenti, & Abib, 2018). mento da desigualdade social. Além disso, a arte, ao
Cabe salientar, porém, que as discussões apre- propiciar felicidade e bem-estar, pode operar como
mecanismo privilegiado de alienação, eclipsando for-
sentadas neste estudo encontram limitações. A mas de controle social que geram iniquidade e opres-
primeira delas diz respeito à restrição da busca e são entre indivíduos em uma dada sociedade.
a arte desempenha uma função social importante versas pragmatistas sobre comportamenta-
no planejamento cultural de WT e, como tal, ela lismo radical (pp. 117-142). Curitiba: CRV.
precisa continuar sendo considerada em discus- Martins, T. E. M., Carvalho Neto, M. B., &
sões atuais sobre o assunto, atentando, sobretu- Mayer, P. C. M. (2017). Walden two: Uma
do, para a possibilidade de a arte ser usada como sociedade utópica não aversiva? Revis-
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tional behavior). Implications and advantages of adopting this type of intervention planning di-
agram are discussed.
Keywords: new behavior, innovation, methodology, behavioral intervention
estudados, ou seja, uma análise pormenorizada dessa aproximação, é fornecida uma ferramen-
de relações funcionais com proximidade tem- ta conceitual e esquemática, de caráter molar,
poral. O comportamento imediato é descrito porém com focos moleculares, sob uma pers-
então de acordo com variáveis próximas, tanto pectiva de baixo para cima, que une conceitos
antecedentes quanto consequentes. Entretanto, e processos da pesquisa sobre desenvolvimen-
para além da análise molecular de laboratório, é to e criatividade: a árvore de comportamentos.
necessário também uma análise molar de rela- Tal ferramenta pretende ser um referencial con-
ções funcionais que determinam a ocorrência de ceitual comportamental e desenvolvimentista
determinados comportamentos em uma escala para tratar da construção de repertórios, e em
temporal maior. Uma análise molar, identifica última instância, planejar e fomentar compor-
fontes de controle estendidas temporalmente, tamentos novos (i.e., a criatividade). Para isso,
não necessariamente imediatas à ocorrência do neste ensaio é apresentado brevemente o his-
comportamento (e.g., Tinbergen, 1963). Ape- tórico das duas áreas de pesquisa (desenvolvi-
sar de no laboratório operante o foco ser pri- mento e criatividade), seguido de uma aproxi-
mordialmente molecular (uma análise de ante- mação conceitual, que culmina na proposta da
cedentes e consequentes da resposta), de fato, árvore de resposta. Ao final, são sugeridas al-
um viés molar sempre esteve presente na AC, gumas implicações e aplicações imediatas de
como por exemplo, em conceitos fundamentais uma abordagem comportamental do desenvol-
como “repertório comportamental” ou “história vimento e da criatividade individual, bem como
de aprendizagem”, ambos conceitos que tratam as vantagens do uso da árvore de comportamen-
de um fenômeno estendido temporalmente, e tos no planejamento de pesquisa e intervenção
não restrito a um momento ou local (Rachlin, comportamental.
2013). Diante deste cenário, duas áreas de pes-
quisa operante têm destaque no âmbito do exer- Uma perspectiva analítico-
cício de um olhar híbrido, molecular e molar, comportamental do desenvolvimento
partindo de um pressuposto de baixo para cima, humano
a saber, as áreas do Desenvolvimento Humano
e da Criatividade (Neves Filho, 2018). O estudo do desenvolvimento humano é um
Diante disto, o presente ensaio pretende fa- tópico antigo da Psicologia como um todo, bem
zer uma apresentação e discussão dessas duas como de áreas afins como a biologia, sociolo-
áreas, o desenvolvimento e a criatividade hu- gia, antropologia, educação e medicina (Hogan,
mana, sob uma perspectiva operante. Em um 2000). A origem da abordagem moderna do de-
cenário mais amplo, disciplinas que tradicional- senvolvimento humano é muitas vezes traçada
mente estudam a criatividade em geral a rela- ao romance pedagógico “Emílio, ou da Edu-
cionam com o desenvolvimento do organismo cação” de Rousseau (1762), na qual o desen-
(Sawyer et al., 2003). Na AC, apesar desta não volvimento humano é dividido em estágios ou
ser uma teoria ou proposta diretamente voltada etapas. A obra de Rousseau reverberou em con-
para assuntos de desenvolvimento e criativida- cepções posteriores de desenvolvimento huma-
de, há avanços conceituais e empíricos nesses no que ecoam um olhar estruturalista sobre o
dois tópicos, entretanto, como é o caso geral tema, i.e., um olhar focado em etapas bem de-
da área, pouco ou nenhum diálogo é feito en- finidas (Hogan, 2000). Alguns exemplos his-
tre pesquisas e conceitos operantes nestes te- toricamente notáveis dessa tradição estrutura-
mas . O presente ensaio pretende também ser lista são os trabalhos de Baldwin (1896), Freud
uma tentativa nessa direção. Como resultado (1905), Piaget (1936) e Flavel (1963).
Em parcial contraponto às abordagens es- ro. Anos depois, Watson publicou um manual
truturalistas, algumas outras perspectivas sur- controverso sobre cuidados de crianças (Wat-
gidas na Psicologia focaram não tanto em eta- son & Rayner, 1928), no qual explora em de-
pas bem definidas de desenvolvimento, mas talhes as implicações da aprendizagem sobre o
sim em como eventos específicos, não neces- desenvolvimento infantil, à época descrita pri-
sariamente ligados ao desenvolvimento bioló- mordialmente por meio da noção de hábito e de
gico, teriam impacto no desenvolvimento do condicionamento respondente (Bijou, 1968).
organismo. O contraponto é parcial, pois es- Boa parte da controvérsia do trabalho de
tas abordagens não negam que existam etapas Watson se deu em especial pelo fato de Albert
razoavelmente bem definidas de desenvolvi- não ter recebido um treino para reverter o pa-
mento, mas sim que há um segundo elemento reamento de respostas emocionais. Watson e
importante na história de desenvolvimento do Rayner (1928) planejaram essa etapa, e che-
organismo, que é o efeito da aprendizagem e a gam a descrever possíveis procedimentos para
análise de como eventos e situações específi- isso, entretanto, não os realizaram. Isso gerou
cas modificam o organismo de forma transitó- um acalorado debate ético que inflamou de ime-
ria ou mesmo permanente (Reese, 1982). Um diato o desapreço por este tipo de abordagem
dos primeiros exemplos dessa linha se deu com sobre o desenvolvimento, bem como uma lon-
o trabalho de Watson e Rayner (1920), o mes- ga busca pelo destino de Albert (Beck, Levin-
mo Watson do seminal “A Psicologia como o son & Irons, 2009). Diante dessa controvérsia,
Behaviorista a vê”, que ficou conhecido como abordagens estruturalistas acabaram por se re-
o manifesto behaviorista (Watson, 1913). finar cada vez mais e dominar o debate sobre
O estudo de Watson e Rayner (1920) foi uma o tema na primeira metade do século XX. En-
das primeiras demonstrações empíricas do con- tretanto, na segunda metade do século XX, a
dicionamento das chamadas “respostas emocio- abordagem funcional do desenvolvimento, fo-
nais”, além de ter sido um dos primeiros estu- cada em aprendizagem, foi retomada com pes-
dos comportamentais no paradigma de sujeito quisas de viés analítico comportamental, de
único, sujeito este que ficou conhecido como forma mais refinada e com uma preocupação
o “pequeno Albert”. Nesse estudo, inicialmen- maior com questões aplicadas .
te foi observado que Albert não exibia nenhu- A primeira grande empreitada analítico com-
ma resposta de medo ou aversão a um animal portamental sobre o desenvolvimento humano
peludo, no caso um rato albino de laboratório. foi feita por Bijou e Baer (1961; 1965), que de-
O animal foi posto à frente de Albert, que se pois foi aprimorada por Bijou (1968; 1976).
inclinou em direção ao animal e o tocou. Pos- Dada a época de sua formulação, esta é uma
teriormente, em uma outra apresentação, os empreitada pautada principalmente em proces-
experimentadores produziram um som alto e sos básicos tradicionais (reforço, extinção, en-
inesperado, batendo com força em uma bar- cadeamento, generalização de estímulos etc), e
ra de ferro, no momento em que Albert tocava não incorpora metodologias e processos mais
o rato, o que produziu imediatas respostas de recentes (como a variabilidade aprendida, sal-
orientação e susto na criança. Esse pareamento tos comportamentais, recombinação de reper-
foi repetido duas vezes, e foi o suficiente para tórios, etc). Da mesma maneira, é uma proposta
eliciar respostas de choro e irritabilidade em que tem alguns pressupostos sobre o papel da
diversas apresentações posteriores, tanto des- biologia sobre o desenvolvimento que hoje são
se mesmo rato, quanto também de outros ani- anacrônicos, dados os avanços dessa área nas
mais peludos, como um coelho e um cachor- últimas décadas, bem como é uma proposta que
pouco dialoga com variáveis culturais, apesar repertório comportamental a partir do constan-
do foco em aprendizagem (c.f. Misra & Babu, te contato social, simbólico e verbal com seu
2013). Apesar disso, é ainda um trabalho para- ambiente. Os três estágios são dependentes de
digmático, e que serve de base para debates que estágios de desenvolvimento e maturação bio-
circulam na área até hoje (e.g., Gehm, 2013). lógico, entretanto, ocorrem de maneira idios-
Para Bijou (1968, p.226, tradução livre), “a sincrática e em tempos individuais, na medida
criança pode ser conceitualizada como um lo- em que dependem do acúmulo e interação de
cus de variáveis de estímulos e respostas em uma série de contingências de reforço e punição.
um contexto interacional”, o que já de imedia- Para Bijou (1968), o diferencial de sua Psi-
to identifica a aprendizagem, as variáveis de cologia do desenvolvimento operante é de que,
estímulos e respostas, como foco privilegiado a partir desses estágios, e de repetidas medidas
da proposta. Complementando essa afirmação, de linha de base, é possível tanto mapear eta-
Bijou (1968) toma o cuidado de deixar explí- pas de desenvolvimento levando a história in-
cito que a criança, nesse sentido, não é um lo- dividual como medida, como é também possí-
cus passivo, no qual estímulos imprimem seus vel fomentar e desenvolver comportamentos
efeitos. Pelo contrário, a criança é um agente (com o uso de técnicas de reforço, punição e
ativo que interage constantemente com seu am- modelagem) de modo a incrementar o reper-
biente, modificando-o e sendo modificado por tório comportamental do indivíduo de maneira
ele. Nenhuma criança é portanto uma tabula adaptativa e socialmente relevante. (Mendres
rasa. Neste ponto, a proposta de Bijou (1968) & Frank-Crawford, 2009). Tal raciocínio geral
tem certa aproximação com a teoria sistêmica levou a uma robusta agenda de propostas, pes-
do desenvolvimento humano de Bronfenbren- quisas e intervenções analítico-comportamen-
ner (1977), que também tem como ponto cen- tais, voltadas inclusive para indivíduos com
tral a relação do organismo e seu ambiente, desenvolvimento atípico, particularmente indi-
porém neste caso em um viés mais ecológico/ víduos diagnosticados com Transtorno do Es-
biológico (Rosa & Tudge, 2013). Além disso, pectro Autista (e.g., Tarbox, Dixon, Sturmey,
diversas teorias cognitivas mais recentes, mes- & Matson, 2014).
mo estas partindo de uma postura estruturalis- Um segundo marco da Psicologia desen-
ta, tem começado a dar mais destaque para o volvimentista de viés comportamental se deu
efeito da aprendizagem sobre o desenvolvimen- poucas décadas depois das propostas inicias de
to, em alguns casos até mesmo em termos si- Bijou (1968), marco esse delimitado pela for-
milares aos propostos por Bijou (e.g. Gopnik, malização dos conceitos de saltos comporta-
Meltzoff & Kuhl, 2016) mentais (Bosch & Fuqua, 2001; Rosales-Ruiz
Bijou (1968) apresenta três grandes estágios & Baer, 1997) e comportamento pivotal (Koegel
do desenvolvimento humano: (1) o estágio uni- & Frea, 1993). Os conceitos de salto compor-
versal da infância, que vai desde o nascimento tamental (também chamado de cunha, cúspide
até o estabelecimento de comportamento ver- ou patamar comportamental) e comportamento
bal funcional, (2) o estágio básico, quando o pivotal não tratam de processos comportamen-
indivíduo começa a desenvolver sua persona- tais novos, distintos dos processos tradicionais
lidade, advinda das contingências únicas com (como reforço, punição, extinção etc), mas sim
as quais ele interage (família, cultura, primeiras são maneiras de olhar para o desenvolvimento
socializações etc), e (3) o estágio social, que é do repertório comportamental de forma molar
do fim da infância até o fim do ciclo de desen- e desenvolvimentista. Apesar de serem tratados
volvimento, no qual o indivíduo expande seu muitas vezes como sinônimos, os conceitos de
saltos comportamentais e comportamentos pi- trução similar, de modo que possivelmente este
votais têm diferenças sutis entre si. treino seja generalizado para casos similares,
Um salto comportamental, como inicialmen- para frases e construções verbais/escritas dife-
te definido por Rosales-Ruiz e Baer (1997), se rentes da originalmente treinada. Em um outro
dá quando um indivíduo aprende um determina- exemplo clássico, Stahmer (1995) ensinou um
do comportamento que permite entrar em conta- repertório geral de brincadeiras simbólicas, com
to com novas contingências, com novas conse- atribuição de características fictícias a objetos
quências. Exemplos clássicos e bem nítidos de e estímulos, como, por exemplo, usar uma ba-
saltos comportamentais são aprender a andar e nana como telefone “de brincadeira”. O treino
aprender a ler. Ao aprender a andar, ou se loco- foi dado a crianças com desenvolvimento típico
mover de forma geral, um organismo passa a ter e atípico, e em ambos grupos de crianças, foi
acesso a um grande número de novos objetos, observado o surgimento do brincar simbólico
eventos e ambientes, que sem a locomoção es- com os estímulos treinados, que posteriormen-
tariam inacessíveis. Da mesma maneira, quando te foram generalizados para novas brincadeiras
um humano aprende a ler, este entra em conta- e novos estímulos, dado um treino adequado
to com todo o conteúdo simbólico de sua cultu- para cada caso. A diferença entre saltos com-
ra, acumulado durante gerações e armazenados portamentais e comportamento pivotal é que,
em formas de livros, textos e outros documen- no caso dos saltos comportamentais um com-
tos físicos e digitais. Nesses dois casos, apren- portamento permite acesso à novas contingên-
der um determinado repertório comportamen- cias, enquanto que um comportamento pivotal
tal, andar ou ler, permite ao indivíduo acessar é um comportamento que tem efeito sobre a
contingências que, antes de aprender esses re- emissão de variações não treinadas desse com-
pertórios, eram totalmente inacessíveis (i.e., não portamento. O primeiro expande o contato com
controlavam comportamento). Diversos compor- o ambiente e novas contingências, o segundo
tamentos podem ser categorizados como saltos: expande o repertório comportamental indireta-
aprender um novo instrumento musical, apren- mente. Ambos casos são comportamentos que
der uma nova língua, conseguir um novo empre- expandem drasticamente o repertório do indi-
go, dentre tantos outros exemplos, permitem ex- víduo (e.g., Twyman, 2011).
pandir seu repertório de um modo que antes era Diante disso, pode-se afirmar que, hoje em
impossível ou pouco provável. dia, uma abordagem analítico-comportamen-
Já um comportamento pivotal, como defi- tal do desenvolvimento humano tem como
nido por Koegel e Frea (1993), descreve um pedra angular a formação e a expansão de re-
tipo de comportamento que, quando aprendido, pertórios comportamentais, expansão essa que
permite a ocorrência de outros comportamen- ocorre no decorrer da ontogênese, da vida de
tos similares sem a necessidade de um treino um indivíduo, e que é determinada por uma
específico adicional. Um exemplo é o treino construção gradual e inclusiva de componen-
de comunicação funcional. Um indivíduo pode tes desses repertórios, que são expandidos (ou
conhecer sua língua materna e saber se comu- eliminados) de acordo com as contingências
nicar, porém de forma não funcional ou pou- nas quais esse repertório é estabelecido e man-
co efetiva, como, por exemplo, apresentando tido. Dito isso, tem-se hoje em dia uma pro-
dificuldade de articular a fala em uma senten- posta desenvolvimentista de caráter compor-
ça coesa. A articulação da fala pode ser ensi- tamental que parte de um olhar de baixo para
nada em um treino de caso específico, a partir cima (processos operantes e respondentes bá-
de múltiplos exemplares de frases com cons- sicos estabelecem os comportamentos pivotais,
os saltos básicos de um repertório) com espe- de intrínseca, que em última instância podem
cial atenção a uma interpretação molar (estes caracterizar comportamentos discretos inédi-
repertórios interagem entre si, criando condi- tos (Neves Filho, 2019). Em todos os casos,
ções para a ocorrência e surgimento de novos comportamentos criativos, por mais extraor-
repertórios). Tal olhar tem um paralelo direto dinários e inéditos que sejam, são determina-
com abordagens operantes da criatividade hu- dos por processos comportamentais bem docu-
mana, na medida em que este é um fenôme- mentados, e podem portanto ser analisados em
no que também tem sido trabalhado em uma uma perspectiva operante, de baixo para cima
perspectiva de baixo para cima, sob um olhar (Zilio & Neves Filho, 2018).
molar (Kubina, Morrison, & Lee, 2006; Ne- Entretanto, todos os estudos operantes sobre
ves Filho, 2018). a origem de comportamentos novos tem deta-
lhado e investigado um tipo específico de cria-
O desenvolvimento de uma abordagem tividade, chamada de criatividade-p (Kubina,
analítico-comportamental da criatividade Morrison, & Lee, 2006). A criatividade-p (ou
criatividade, com “c” minúsculo) é uma cate-
Diversos autores e autoras tem apresenta- goria descritiva de comportamentos novos que
do propostas e teorias operantes da criativida- tem a vida do sujeito em questão como medida.
de (para uma revisão detalhada, conferir Neves Por exemplo, aprender a tocar um instrumento
Filho, 2018). Em geral, esses autores e auto- musical novo, ou aprender uma nova língua, são
ras focam na origem de comportamentos no- exemplos de criatividade-p, na medida em que
vos, o que culmina na criatividade, mas não tratam de repertórios comportamentais novos
necessariamente é sempre um exemplo dela, para aquele sujeito. Tais comportamentos, em
já que para ser criativo, o comportamento pre- uma perspectiva comportamental e desenvol-
cisa ter função, e não somente ineditismo (Si- vimentista, são também comportamentos pivo-
monton, 2000). tais, ou saltos comportamentais.
De acordo com essas propostas, diversos Um segundo tipo de criatividade é a cha-
processos comportamentais bem documenta- mada de criatividade-h (ou Criatividade. com
dos estão ligados à origem de comportamen- “C” maiúsculo), e esta é uma criatividade his-
tos novos, desde processos básicos como a in- tórica, inédita para o grupo ou cultura na qual
dução de respostas, generalização de estímulos ela ocorre. Cabe aqui ressaltar que Criativida-
e reforço diferencial, até processos mais com- de-p e -h são duas categorias didáticas estru-
plexos, como a recombinação de repertórios, turais usadas para distinguir instâncias de cria-
a variabilidade aprendida e a adução pela con- tividade, de modo que propostas recentes têm
tingência (para uma revisão detalhada destes e refinado essas duas categorias gerais em de-
outros processos, bem como sua relação com a zenas de outras subcategorias, como tradicio-
criatividade, conferir Neves Filho, 2018). De nalmente é observado no desenvolvimento de
fato, dada a própria natureza do fenômeno es- abordagens estruturalistas (para mais detalhes
tudado (o comportamento), pesquisas operan- sobre este tópico, conferir Sousa, 2009; Mer-
tes sempre lidam com um fator de novidade, rotsy, 2013). De qualquer maneira, exemplos
de aspectos novos estocásticos intrínsecos ao de criatividade-h envolvem o desenvolvimen-
comportamento, e para lidar com isto, utiliza- to de novas tecnologias, novas teorias científi-
-se de conceitos como a classe de respostas, cas, novos produtos, novos gêneros musicais,
que é uma maneira de agrupar funcionalmente etc. Toda criatividade-h é também um exemplo
uma gama de respostas com uma variabilida- de criatividade-p (para ser novo para o grupo,
tem de ser novo para indivíduo que o produz), estudo da criatividade-h (como a historiome-
com o adicional de dispersão no grupo (assim tria), tem focado em identificar sua ocorrência
que começa a ocorrer, diversos membros do e observar como ela se dispersa em uma cul-
grupo utilizam ou disseminam esse produto tura. Em uma perspectiva que privilegia pre-
ou comportamento). A criatividade-p abre no- visão e controle, como a perspectiva operante,
vas portas, novas possibilidades para um indi- é possível, em tese, dar um passo adicional:
víduo, enquanto que a criatividade-h muda a prever e controlar a criatividade-h.
dinâmica e cria novas relações em um grupo É justamente neste ponto que se localizam
(Boden, 1996). Desta maneira, ao se falar de intersecções potencialmente frutíferas das con-
criatividade-h, está-se falando das origens de tribuições dos campos de criatividade e desen-
práticas culturais. volvimento, perpassando o estudo da cultura,
Práticas culturais são um dos objetos de no sentido de que: (a) o estudo da criativida-
estudo privilegiados de uma outra área de de capacita cientistas do comportamento a de-
pesquisa da AC, a Análise Comportamental senvolverem procedimentos e tecnologia de
da Cultura. Em termos de discussões concei- ensino efetivas para treino de inovação e re-
tuais nessa área, e fazendo um paralelo entre solução de problemas, (b) o campo do desen-
ontogênese e cultura, Glenn et al. (2016) es- volvimento humano apresenta dados valiosos
tenderam o conceito de saltos comportamen- acerca de questões relacionadas a pré-requisi-
tais para tratar de inovações culturais, des- tos comportamentais ou de maturação bioló-
crevendo o que nomearam de saltos culturais gica que permitem ou são necessárias para a
(do inglês cultural cusp, em tradução livre) maestria de dado repertório comportamental
como a “coalescência única e não recorrente e, (c) investigações comportamentais culturais
de contingências comportamentais entrelaça- permitem que se otimizem modos de organi-
das e/ou contingências comportamentais indi- zação social ou até das relações entre grupo,
viduais que resultam em um produto que leva espaço físico e consumo de recursos de modo
a significativa mudança sociocultural” (p. 21, a tanto identificar repertórios que são deman-
tradução livre). Assim como os saltos com- das ou relevantes para serem aprendidos na-
portamentais tem um paralelo direto com o quele grupo ou apenas podem ser dominados
conceito de criatividade-p, os saltos culturais através do contato com ambientes sociais e/ou
tem paralelo direto com o conceito de criati- verbais específicos.
vidade-h. Este paralelismo conceitual pode Assim, apresentadas as propostas compor-
ser um primeiro passo no sentido de abertura tamentais de estudo do desenvolvimento e da
de canais de diálogos entre pesquisadores dos criatividade, perpassando a análise da cultu-
campos da cultura e da criatividade, o que po- ra e dando continuidade às interlocuções en-
deria dar luz a uma linha de pesquisa inédita tre estes campos, a seguir será realizada uma
com avaliações de efeitos de variáveis cultu- análise desenvolvimentista da criatividade, que
rais, ou como práticas culturais podem evoluir tanto busca identificar os processos relaciona-
de modo a fomentar inovação – maior efeti- dos ou necessários para aprendizagem, como
vidade em resolução de problemas, o que já também permita mapear caminhos de desen-
foi descrito por Glenn (1986) como processos volvimento comportamental que tornem mais
culturais tecnológicos – e, consequentemen- prováveis a aprendizagem generalizada de re-
te tornar mais provável a ocorrência de cria- solução de problemas, fomentando a criativi-
tividade-p e portanto também criatividade-h. dade-p, e criando condições do surgimento da
Até o momento, metodologias tradicionais de criatividade-h.
zar uma abordagem operante tanto dessa ori- nejamento de contingências que, similar à mo-
gem de comportamentos novos, como do de- delagem, identifique um comportamento alvo
senvolvimento de repertórios comportamentais e o destrinche em repertórios pré-requisito. É
no decorrer da vida de um indivíduo. Da mes- possível, em tese, identificar, por exemplo, que
ma maneira, para se entender o desenvolvimen- repertórios são necessários para se aprender a
to humano, é importante saber qual a origem tocar violino, e a partir disso, criar um progra-
de comportamentos novos, como o repertório ma de ensino desses repertórios. Uma aborda-
se expande, e como novos comportamentos gem direta e tradicional para isso, seria focar na
influenciam a aquisição e manutenção de ou- modelagem destes repertórios até chegar ao ob-
tros comportamentos, ao longo do desenvolvi- jetivo final. Essa é de fato a estratégia que tem
mento da história do indivíduo. Tem-se ai por- mostrado resultados positivos em programas
tanto o delineamento geral de uma abordagem de intervenção para indivíduos com desenvol-
operante e desenvolvimentista da criatividade. vimento atípico, como o VBMAPP (Sundberg,
Desse modo, é possível concluir que o pró- 2008). Uma outra maneira de se obter resulta-
prio estudo da criatividade por um viés analíti- dos similares de forma mais econômica, e apli-
co-comportamental demanda que não seja limi- cável a uma maior população, seria identificar
tado a somente catalogar processos que resultam e mapear os repertórios já presentes e instala-
em comportamentos inéditos, mas também ne- dos, identificando-os como pré-requisito, como
cessita que sintetize uma abordagem que englo- saltos comportamentais ou comportamentos
be o corpo de conhecimento relativo ao desen- pivotais para outros repertórios, e a partir dis-
volvimento humano e impactos de interações so criar um programa de ensino voltado para a
com ambientes sociais. Tal síntese resulta em recombinação dessas unidades, algo que pos-
um campo de investigação ampliado que en- sivelmente engendra maiores componentes de
globa: (1) o mapeamento de ramos de desen- variabilidade e inovação do que a modelagem
volvimento de repertórios comportamentais que (e.g., Johnson & Street, 2012). Uma proposta
possibilitam a emergência de dado comporta- para se pensar a construção de repertórios des-
mento-alvo ou dado salto comportamental; (2) ta maneira é a árvore de comportamentos apre-
a aproximação e junção de procedimentos de sentada a seguir.
ensino desenvolvidos nos campos do desen-
volvimento humano e da criatividade para que Árvore Comportamental: um diagrama para
seja possível emergir dado comportamento; e análise e construção de repertórios novos
(3) a análise de ambientes sociais que determi-
nam a relevância de comportamentos específi- A árvore comportamental é um modelo ini-
cos a serem ensinados ou que emerjam a par- cialmente proposto, de forma breve, por Ne-
tir da recombinação do que foi aprendido em ves Filho (2018), cujo objetivo central é servir
treinos anteriores. Embora parta de campos de como uma ferramenta de mapeamento de de-
investigação já consolidados, a recombinação mandas e planejamento de ensino que leve em
de diferentes tradições de pesquisa e interven- conta possibilidades de recombinação de re-
ção pode resultar na emergência de um campo pertórios, fornecendo ainda um suporte visual
novo, que por si pode ser caracterizado como para o percurso de treino com seus pré-requi-
um exemplo de criatividade-h. sitos e ramificações. Toma-se como pressu-
Partindo desta abordagem comportamental e posto básico que ao mapear um vasto núme-
desenvolvimentista da criatividade, como aqui ro de comportamentos em medidas de linha de
brevemente delineada, é possível fazer um pla- base, torna-se possível aproveitar componen-
tes destes comportamentos como unidades pi- A Figura 1 apresenta a árvore de comporta-
votais, ou pré-requisitos a serem recombinados mentos de um rato albino (Rattus norvegicus),
em direção aos comportamentos-alvos finais. criado e mantido em biotério, que participou
Para ilustrar a ferramenta, ela será demonstra- de um experimento de resolução de problemas
da primeiro em um experimento de resolução (Neves Filho, Stella, Dicezare, & Garcia-Mija-
de problemas com ratos (Figura 1) e depois res, 2015). No experimento, o problema a ser
em um experimento mais complexo com cor- resolvido requeria a recombinação de dois re-
vos da Nova Caledônia, que possui interfaces pertórios comportamentais: (1) cavar de for-
com pesquisas aplicadas (Figura 2). Por fim, é ma direcionada em uma superfície coberta por
apresentada uma árvore com planejamento hi- serragem, e (2) escalar dois lances de escadas.
potético de contingências de ensino de um re- Os ratos do estudo aprenderam os dois reper-
pertório complexo em um humano (Figura 3). tórios de forma isolada, em sessões distintas
Figura 1. Árvore de comportamentos para um rato albino (Rattus norvegicus) do estudo de Neves Filho et al.
(2015). Neste estudo, o rato foi exposto a uma situação-problema na qual precisava recombinar dois comporta-
mentos (R1 e R2) aprendidos de forma independente. Animais que receberam o treino dos dois repertórios, que
foram modelados a partir de comportamentos observados em linha de base (não treinados) recombinaram os dois
comportamentos treinados no teste final, emitindo assim uma sequência de comportamentos novos, advindos
destes pré-requisitos treinados de maneira independente um do outro.
(i.e., não encadeados), e resolveram o proble- cavar e escalar, foi possível desenhar uma ta-
ma após este treino. Nenhum dos animais re- refa para estudar o fenômeno (a recombina-
solveu este problema antes do treino (sessões ção de repertórios), de maneira mais fácil e
de pré-teste). Da mesma maneira, nenhum ani- econômica (i.e., com menos sessões de treino
mal que aprendeu somente um dos dois reper- e com mais resultados de solução do proble-
tórios resolveu o problema. Resultados simila- ma em questão). A árvore da Figura 1 identi-
res foram também encontrados em um estudo fica justamente por que a empreitada deste es-
posterior, também com ratos, no mesmo pro- tudo foi bem-sucedida: seu ponto de partida
cedimento (Neves Filho, Dicezare, Martins Fi- tomou proveito de diversos repertórios já emi-
lho, & Garcia-Mijares 2016). tidos pelo sujeito, o que economizou tempo de
Com base no treino fornecido nesse estu- treino e garantiu uma situação-problema eco-
do (Neves Filho et al. 2015), e o conhecimento logicamente relevante, que permitiu aos ratos
do etograma básico de ratos albinos (Whishaw, solucionar a tarefa proposta pelos experimen-
Haun, & Kolb, 1999), é possível construir a ár- tadores e experimentadoras.
vore da Figura 1 de modo a identificar qual o A Figura 1 apresenta talvez a mais simples das
repertório final esperado no estudo (o repertório situações possíveis para uso da árvore como ferra-
recombinado de resolução do problema), bem menta de mapeamento e planejamento de repertó-
como quais comportamentos diretamente treina- rios. Neste caso, a árvore foi utilizada para anali-
dos foram pré-requisitos para que o desempenho sar dados já coletados, identificando que variáveis
final emergisse. É possível também identificar de treino foram bem-sucedidas ou não, bem como
quais são os componentes básicos dos compor- desenhar um “mapa” da replicação deste treino
tamentos treinados, ou seja, quais são as unida- para estudos seguintes. Para exemplificar de for-
des componentes deste comportamento que o ma mais completa o modelo aqui exposto, ainda
animal já emitia antes do treino (linha de base). utilizando dados de experimentos já publicados,
Todos estes comportamentos, neste caso, foram a seguir será apresentado seu uso em uma situa-
comportamentos comumente encontrados em ção experimental que envolveu mais comporta-
etogramas de ratos, e portanto comportamen- mentos (Neves Filho, Knaus, & Taylor, 2019).
tos basais, com forte determinação filogenética. A Figura 2 ilustra a árvore de comporta-
Uma das preocupações no estudo de Neves mentos de um corvo da Nova Caledônia (Cor-
Filho et al. (2015) foi desenhar uma situação- vus moneduloides) que aprendeu seis repertó-
-problema que requeresse repertórios pré-re- rios comportamentais distintos, em contextos
quisito para sua solução que fossem ecologi- distintos e com consequências distintas (Ne-
camente relevantes, ou que fossem ao menos ves Filho, Knaus, & Taylor, 2019). O corvo
fáceis de treinar em ratos. Tal preocupação foi em questão foi capturado em seu habitat e foi
proveniente de dados de uma série de estudos mantido por um período de seis meses em um
anteriores, com um procedimento diferente, aviário no qual participou de uma série de pes-
que consistentemente obtiveram dados nega- quisas sobre tópicos recentes de cognição ani-
tivos (para uma revisão, conferir Neves Filho, mal (Taylor, 2014). Após estes estudos foi re-
2016). Nestes estudos, foi utilizada uma tare- querido que o animal solucionasse uma tarefa
fa predominantemente visual, e que requeria que consistia em (1) acionar um mecanismo
centenas de sessões de treino, e que nem to- que abria uma porta roxa que conectava duas
dos os ratos resolviam, ou quando resolviam, gaiolas, (2) cruzar de uma gaiola para outra, (3)
faziam-no erraticamente. Ao identificar reper- acionar um mecanismo para abrir uma caixa,
tórios comumente observados em ratos, como (4) obter uma pedra do interior de uma caixa,
(5) cruzar de uma gaiola para outra carregan- veu a tarefa em sua primeira apresentação. Dos
do uma pedra, e (6) derrubar uma pedra em um demais, em todos os casos, nenhum deles emi-
aparato, obtendo assim um pedaço de alimen- tiu o comportamento (5). Diante disso, foi feito
to do interior deste aparato. O mecanismo uti- um breve treino de um novo repertório, “buscar
lizado nos repertórios (1) e (4) foi o mesmo. pedras” (7), no qual dez pedras foram espalha-
Com exceção do repertório (5) todos os ou- das em um ambiente, e o animal deveria devol-
tros foram diretamente treinados no decorrer de ver estas pedras ao experimentador, uma a uma.
outros experimentos nos quais aqueles sujeitos Anteriormente, o animal foi treinado a utilizar a
participaram durante sua estadia no aviário, de pedra em um local próximo de onde ela estava
modo que esses repertórios foram treinados em disponível, de modo que este novo treino (“bus-
diferentes contextos, em diferentes quantidades car pedras”) teve por função ensinar a “carregar
e com diferentes consequências (o repertório 2 pedras para um determinado local”, um possível
foi treinado com acesso a um coespecífico como pré-requisito do comportamento (5). Após este
consequência, os demais foram treinados com breve treino, todos os animais resolveram a ta-
alimentos como consequência). Dos seis cor- refa em apresentações subsequentes. A Figura 2
vos que receberam o treino dos cinco repertórios apresenta a árvore de resposta de um destes su-
pré-requisito da tarefa final, somente um resol- jeitos que recebeu este treino adicional.
Figura 2. Árvore de comportamentos construída a partir dos dados de Neves Filho, Knaus e Taylor (2019) com
corvos da Nova Caledônia (Corvus moneduloides). Seis comportamentos foram ensinados em experimentos dis-
tintos, com objetivos distintos, reforçadores distintos e contextos distintos. Na situação-problema, a maioria dos
corvos não resolveu o problema apenas com o treino de seis comportamentos (R1, R2, R3, R4, R5 e R6). Desta
maneira, foi feito um breve treino de um repertório adicional, R7, e todos os animais resolveram o problema.
O exemplo com corvos da Figura 2 tem pa- des pré-requisito, e foi observado qual desses
ralelo direto com intervenções aplicadas em repertórios o animal em questão não emitia, e
AC. Foi identificado um deficit comportamen- partindo desse dado, foi feito um treino de um
tal deste sujeito que o impedia de concluir uma componente do repertório faltante (mas não do
tarefa (cruzar de uma gaiola para a outra car- repertório propriamente dito), o que levou o su-
regando a pedra). Foi então dado um treino de jeito a resolver a tarefa. Ao desenhar uma ár-
um repertório componente deste deficit, “bus- vore comportamental deste corvo, já com base
car pedras”, o que por sua vez permitiu este su- nos resultados finais, é possível portanto utili-
jeito resolver a tarefa, carregando as pedras de zar esta mesma árvore para produzir compor-
uma gaiola para outra, quando necessário. O pa- tamento similar em outros corvos numa mesma
pel do experimentador nesse caso foi similar situação. Tem-se em mãos um “plano de ensi-
ao do pesquisador ou prático aplicado: a situa- no” daquela tarefa, baseada em dados de um
ção-problema foi decomposta em suas habilida- animal bem-sucedido nesta.
Figura 3. Arvore hipotética de planejamento de ensino da habilidade “tocar violino”. A árvore foi construída to-
mando como base preceitos do método/filosofia Suzuki (1978/2013). Os princípios do método Suzuki apontam
que são necessárias atenções constantes com rotina de escuta de músicas, postura e rotina de treino, entretanto
estas não são operacionalizadas. Na árvore são operacionalizados que comportamentos devem ser treinados para
se obter esse objetivo, bem como que comportamentos antecedem estes pré-requisitos diretamente treinados. Com
este planejamento, tocar uma melodia no violino é um comportamento emergente, que tem suas bases nas diretri-
zes operacionalizadas do método Suzuki.
Esses dois exemplos mostram como é possí- de comportamento. Entretanto, boa parte das
vel mapear diversos repertórios em uma árvo- críticas ao método/filosofia se dá no fato das
re comportamental para fins de pesquisa, tanto diretrizes apresentadas serem genéricas, o que
para planejamento como para análise de dados. resulta em uma alta variabilidade dos efeitos
Entretanto, é possível também utilizar a árvore do método a depender dos professores e apli-
comportamental como uma ferramenta de pla- cadores envolvidos.
nejamento de ensino. No caso do corvo, por se A árvore da Figura 3 é, portanto, nada mais
tratar de uma situação-problema nova (para o que a operacionalização diagramática das dire-
corvo e para os experimentadores), a árvore só trizes gerais do método/filosofia Suzuki, iden-
pode ser confeccionada diante dos dados da pri- tificando as classes de comportamento e todos
meira solução. Entretanto, temos diversos ca- os pré-requisitos para se obter o resultado alvo:
sos de solução de problemas, e aprendizagens tocar um violino. Tocar qualquer instrumen-
em geral, nos quais podemos com razoável se- to pela primeira vez é um processo recombi-
gurança elencar que passos ou que repertórios nativo. É bastante improvável alguém encon-
pré-requisito são necessários para se solucio- trar um instrumento pela primeira vez, e sem
nar o problema, como foi o caso do exemplo nenhum conhecimento de teoria e performan-
com ratos, pautado no etograma bem mapeado ce musical, tirar deste instrumento uma me-
da espécie (Figura 1). Estes são casos nos quais lodia ou canção completa. Para se obter esse
a árvore de resposta tem importância evidente resultado, uma melodia ou canção, são neces-
como ferramenta útil para planejamento e in- sários diversos pré-requisitos, como os ilustra-
tervenção. Para ilustrar isso, a Figura 3 mostra dos na Figura 3.
a árvore hipotética de um jovem que pretende Entendendo que a complexidade de fenô-
aprender a tocar violino via o método/filoso- menos comportamentais implica a inclusão de
fia Suzuki (Suzuki, 1978/2013), um dos mais variáveis necessárias para sua análise e conse-
tradicionais e utilizados em escolas de músi- quente compreensão, a possibilidade de uma
ca pelo mundo (Kendall, 1985; Mehl, 2009). apresentação gráfica da inter-relação e desen-
O método/filosofia Suzuki, apesar de popu- volvimento de repertórios relativos ao compor-
lar, tem em sua base apenas diretrizes gerais e tamento humano também necessita a inclusão
exercícios de performance. No caso do método/ de variáveis biológicas e culturais (Tourinho,
filosofia aplicado ao ensino de violino, as qua- 2003). Variáveis filogenéticas constituem a base
tro diretrizes gerais são: (1) ouvir músicas de de possibilidades de como um dado organismo
referência para desenvolver sensibilidade mu- é fisicamente capaz de operar sobre o mundo.
sical, (2) Treino de tonalização, e foco em tocar Na representação de repertórios comportamen-
notas limpas no violino, (3) Atenção constante tais em uma árvore, a base biológica com a qual
para postura e manuseio do instrumento, e (4) um ser humano nasce estão apresentadas como
Motivação extrínseca, como elogios e incenti- suas raízes, a parte inferior, o começo da árvo-
vo de terceiros, em especial, familiares (Suzu- re. Dados relativos a características genéticas e
ki, 1978/2013). Boa parte da novidade que o fisiológicas de um organismo contribuem para
método Suzuki trouxe para os conservatórios análises mais precisas de comportamentos já
de música foi a diretriz (4), que foi algo ino- apresentados e possibilidades de ramificar no-
vador em uma cultura fortemente calcada na vos percursos para desenvolvimento de reper-
noção de genialidade e talento inato e imutá- tórios comportamentais.
vel (Dacey, 1999; Mehl, 2009). Em outras pa- No entanto, e seguindo adiante com a metá-
lavras, o item (4) fala de reforço e manutenção fora da árvore aqui apresentada, cabe ressaltar
que, assim como é possível que façamos inter- le indivíduo em particular seria identificar va-
venções utilizando desenvolvimentos tecnoló- riáveis relativas ao seu ambiente social que in-
gicos diversos para manipular as raízes da árvo- dicam repertórios a serem (ou que podem ser)
re e impactar características dela, avanços nos desenvolvidos, guiando assim um planejamen-
campos da genética, epigenética, neurociên- to de ensino adequado a estas condições, e que
cias, entre outros, podem identificar e modifi- também tire proveito destas para acelerar e via-
car características biológicas e fisiológicas de bilizar o processo. Da mesma maneira, ao es-
um organismo e abrir novas possibilidades de tudar diversos repertórios individuais mapea-
interação com o mundo. De qualquer forma, dos em árvores individuais, é possível em tese
desde suas raízes (a filogênese) cada árvore é também estudar a dispersão de comportamen-
distinta uma da outra, e isso nos dá uma visão tos em um grupo, ou mais especificamente, a
privilegiada para trabalhar com idiossincrasias criatividade-h. De qualquer forma, nossa apre-
e com a metodologia de sujeito único. Isso sentação da árvore até o momento se enquadra
tem como consequência que animais da mes- somente como uma proposta para análise da on-
ma espécie compartilham de raízes (filogêne- togênese. Expandir esta metáfora para eventos
se) similares, porém idiossincráticas. As idios- culturais requer ainda maiores cuidados con-
sincrasias são ampliadas durante a ontogênese ceituais, bem como dados que mostrem a efi-
(o tronco da árvore), o que portanto tem como cácia da árvore de comportamentos como uma
consequência que todo tronco (ontogênese) de estratégia eficaz para entender e planejar con-
uma árvore comportamental é também único. tingências ontogenéticas.
A cultura, que pode ser representada pela copa Para além de mapear e planejar repertórios, a
da árvore, é mais padronizada que a ontogêne- árvore de comportamentos é também uma ma-
se, pois é onde são encontrados comportamen- neira de organizar repertórios de acordo com
tos fortemente determinados por práticas cul- sua determinação predominante (filogenética,
turais locais do ambiente do indivíduo, como ontogenética e cultural), bem como identificar
sua língua materna, padrões de vestimenta etc. variáveis epigenéticas (na interseção entre fi-
De acordo com o exposto até aqui, pode-se logênese e ontogênese). Além disso, a cons-
afirmar que a árvore de comportamentos é um trução da árvore pressupõe que todo compor-
diagrama focado em comportamentos de um tamento tem base em unidades anteriores, em
indivíduo somente. Entretanto, é possível ain- componentes ou variações de comportamento
da a inclusão de variáveis culturais na metáfo- anteriormente aprendidos, o que está em acor-
ra da árvore. Estas seriam representadas pela do com uma perspectiva desenvolvimentista e
“população” de árvores que a circunda, i.e., a construcional do repertório comportamental to-
cultura seria a “floresta” com a qual aquela ár- tal do indivíduo (Bijou, 1968; Epstein, 2015;
vore singular interage. Cada repertório de um Goldiamond, 2002; Hixson, 2004). Tal pres-
indivíduo é uma árvore, e essa árvore intera- suposto está em total acordo com uma Psico-
ge e é afetada por árvores vizinhas (seu grupo, logia comportamental, adicionando a esta uma
seus familiares etc). A cultura – ou, o ambien- noção explicitamente desenvolvimentista so-
te social (Skinner, 1984) –, composto por di- bre o comportamento, além de uma operacio-
versas árvores de comportamento individual, nalização instrumental do conceito de história
determinam repertórios que são considerados comportamental.
relevantes para uma dada população e padro- Como comentário final, cabe ressaltar que
nizam costumes e tradições do grupo. Nesse a árvore de comportamentos é similar a árvore
sentido, conhecer a “flora” que circunda aque- da vida de Darwin (1859), que cataloga e apre-
senta diferentes espécies em uma árvore difu- metodologias ativas de ensino que se pautam
sa, que apesar de partir de pontos de encontro prioritariamente em construção de repertórios
em comum (antepassados em comum), apre- com base em saltos comportamentais e recom-
senta o desenvolvimento geracional de cada binação de repertórios.
espécie, cada uma com sua história, com sua Um destes exemplos é a metodologia da
trajetória distinta de sobrevivência e reprodu- Morningside Academy, uma escola idealiza-
ção diferencial. Da mesma maneira, o reper- da por pesquisadores com formação analítico
tório de um indivíduo pode ser catalogado em comportamental, situada em Seattle, nos Esta-
diferentes instâncias, diferentes classes de res- dos Unidos (Johnson & Street, 2012). Boa parte
postas (que seriam análogas às espécies na ár- do currículo da instituição é baseado em ensi-
vore darwiniana), que compartilham de histó- nar comportamentos de modo a recombiná-los
rias em comum (um comportamento pivotal). em situações de teste, uma metodologia carac-
Entretanto, diferente da árvore evolutiva dar- terizada pelo que é chamado de aprendizagem
winiana, a árvore de comportamentos pode ser por descoberta (Layng, Twyman, & Stikelea-
utilizada para “mesclar” ou “recombinar” estas ther, 2004). Todo o currículo é planejado para
classes de respostas em novas respostas, me- ter propriedades “generativas”, ou seja, que uma
diante um treino adequado. Um paralelo evo- aprendizagem pontual possa ser reaproveitada
lutivo fictício dessa aplicação seria criar novas em diferentes outras situações de modo a facili-
variantes de espécies a partir da “mesclagem” tar novas aprendizagens e ampliar este repertó-
de espécies próximas na árvore evolutiva. Da- rio. Um currículo assim formatado pretende ser
das as propriedades de variação, seleção e re- um currículo que fomente e desenvolva a criati-
tenção na filogênese, tal empreendimento seria vidade, em seu sentido mais genérico (Johnson
impossível com nossa atual tecnologia (carre- & Street, 2012). A árvore de comportamentos
gando ainda sérias implicações éticas). Em con- é uma ferramenta que trabalha no sentido de
trapartida, se aplicada a ontogênese, a lógica formatar e estruturar estratégias como as utili-
de mesclar ou recombinar repertórios é não só zadas na Morningside Academy.
possível como amplamente registrada na lite- Para além de ser uma ferramenta para de-
ratura empírica, básica e aplicada (e.g. Neves senvolvimento de metodologias de ensino e es-
Filho, 2018). truturação de serviços comportamentais, outra
Aplicações e desenvolvimentos no ensino, no aplicação da árvore de comportamentos é no
estudo e planejamento da criatividade humana entendimento e planejamento de fenômenos ti-
A árvore, como aqui apresentada, é uma fer- picamente relacionados à criatividade. A cria-
ramenta de planejamento e intervenção para si- tividade humana é um fenômeno com dire-
tuações das mais variadas, desde pesquisa bá- tas implicações econômicas e sociais (Weiner,
sica até pesquisa aplicada e desenvolvimento 2000), e é, portanto, um fenômeno altamente
de serviços de acompanhamento e desenvolvi- valorizado pela sociedade, em especial a socie-
mento comportamental (como a prática clínica, dade ocidental moderna (Simonton, 2000). No
acompanhamento terapêutico, etc). É também atual momento, temos uma série de processos
uma maneira de operacionalizar diretrizes ge- e procedimentos que permitem prever e con-
rais, e depurar disso um planejamento de ensi- trolar a origem de comportamentos novos em
no (como no exemplo da Figura 3). Em tese, a uma perspectiva operante. Entretanto, não há
árvore pode ser utilizada em quaisquer situa- nenhuma metodologia estruturada de como ob-
ções de ensino. De fato, já existem alguns cur- ter isso, já que a área, fragmentada como está,
rículos escolares e acadêmicos baseados em apenas fornece os caminhos pelos quais é pos-
sível obter esta previsão e controle em animais culturais e de práticas culturais na inter-rela-
específicos em procedimentos específicos (Ne- ção entre diferentes indivíduos, entre diferen-
ves Filho, 2016). A árvore de comportamentos tes árvores de comportamento. Com o acúmulo
é portanto uma ferramenta que se presta a en- de dados sobre os usos e aplicações da árvore
trelaçar estes saberes e processos, fornecendo de respostas, é esperado que para além de ser
como produto a estrutura geral de um progra- uma metáfora, esta também seja uma poten-
ma de ensino estruturado para o desenvolvi- cial ferramenta de planejamento de interven-
mento de respostas inéditas, portanto, criati- ções comportamentais.
vas em diferentes medidas.
Como no exemplo hipotético da Figura 3, na Conclusão
qual é planejado o ensino de “tocar violino”, é
possível utilizar a árvore como ferramenta de A AC, dado seu foco em construir conheci-
planejamento para diversos outros comporta- mento de baixo para cima (assumindo que even-
mentos inéditos, o que se configuraria como tos complexos são constituídos de elementos
um programa de ampliação de criatividade, ou básicos), e foco molecular (em relações causais
mesmo de reforço de classes de respostas ge- imediatamente antecedentes e consequentes),
néricas de “inovar” ou mesmo “ser criativo”, acabou por se desenvolver de forma fragmen-
em determinados contextos. Uma empreitada tada. Na falta de um esforço conceitual e teó-
como essa se configura como um protocolo rico unificador, pesquisas da área começaram
de planejamento de criatividade-p. Para o es- a formular e desenvolver conceitos sem mútuo
tudo de instâncias de criatividade-h, é neces- diálogo, e consequentemente, diversas áreas es-
sário ainda a adição de variáveis e fenômenos pecíficas, como o estudo do desenvolvimento,
sociais e culturais, algo que precisa ainda ser da criatividade e da cultura pouco dialogaram,
melhor explorado e formalizado na proposta apesar de claras sobreposições entre estas.
aqui apresentada. Na proposta conceitual aqui desenvolvida,
Dito isto, neste momento, a árvore de res- buscou-se justamente aproximar as áreas de
posta é tão somente uma proposta conceitual, pesquisa analítico-comportamentais de desen-
uma metáfora. O uso de metáforas na Psico- volvimento humano e criatividade, adicionan-
logia não é novidade, e de fato diversas des- do ainda uma análise comportamental da cul-
tas impulsionaram programas de pesquisa va- tura. Esta aproximação resultou na proposta
liosos (Leary, 1990). Dentre este universo de da árvore de comportamentos, uma ferramen-
metáforas, um dos diferenciais da proposta da ta conceitual e esquemática para planejamento
árvore de comportamentos é sua fundamenta- de ensino de repertórios comportamentais pau-
ção em conceitos bem estabelecidos na litera- tada em uma concepção de baixo para cima,
tura tanto básica quanto aplicada, em uma das com foco híbrido: molar, para entender o re-
primeiras investidas que se propõe a agrupar pertório do indivíduo como um todo, e mole-
tantos conceitos e metodologias em um único cular, para entender a relação direta e proximal
protocolo geral de planejamento e interven- entre diversos repertórios que compõem a his-
ção. Nesse sentido, apresentados os pressupos- tória comportamental do organismo. A ferra-
tos dessa ferramenta, os próximos passos foca- menta contempla variáveis filogenéticas, on-
rão em protocolos para a construção de árvores togenéticas e culturais, identificando também
específicas, testar estes protocolos em diferen- relações epigenéticas quando necessário, sem-
tes situações controladas de pesquisa básica e pre com foco em previsão e controle. Partindo
aplicada, e aprofundar a inserção de variáveis da identificação de repertórios já presentes na
história do sujeito (medidos via linha de base, Bijou S. W, Baer D. M. (1961) Child develop-
que geram o pool de repertórios “não treina- ment: A systematic and empirical theory.
dos” na intervenção ou planejamento), a ferra- New York: Appleton-Century-Crofts.
menta se propõe a ser uma maneira de traçar Bijou S. W, Baer D. M. (1965) Child develop-
caminhos de modo a aproveitar estes repertó- ment: The universal stage of infancy. New
rios para criar novos repertórios, novos sal- York: Appleton-Century-Crofts.
tos, novos comportamentos pivotais, novas re- Bijou S. W. (1976) Child development: The ba-
combinação, ou, em outras palavras, produzir sic stage of early childhood. Englewood
a criatividade, ou mais especificamente, o en- Cliffs, NJ: Prentice-Hall.
sino estruturado da criatividade. Bijou, S. W. (1996). Reflections on some ear-
Entretanto, apesar de ser conceitualmente coe- ly events related to behavior analysis of
rente, a proposta requer ainda um amplo teste em- child development. The Behavior Analyst,
pírico, tanto para planejar e construir repertórios, 19(1), 49–60.
como também avaliar sua eficácia nesse plane- Bosch, S. & Fuqua, R. W. (2001). Behavioral
jamento. Em tese, a árvore de comportamentos cusps: a model for selecting target beha-
permite ao planejador de contingências mapear viors. Journal of Applied Behavior Analy-
e planejar comportamentos em uma perspecti- sis, 34(1), 123–125. http://doi.org/10.1901/
va molar e levando em conta os mais recentes jaba.2001.34-123
e bem documentados processos comportamen- Boden, M. A. (1996). What is creativity? Em
tais relacionados com a expansão de repertórios, M. A. Boden (Ed.). Dimensions of creati-
sempre partindo do simples para o mais comple- vity. London: The MIT Press.
xo. Espera-se que, a partir do que foi apresenta- Bosch, S., & Fuqua, R. W. (2001). Behavio-
do aqui, a árvore de comportamentos, como po- ral cusps: a model for selecting target
tencial ferramenta operante para planejamento behaviors. Journal of applied behavior
de repertórios em uma perspectiva desenvolvi- analysis, 34(1), 123–125. doi:10.1901/
mentista e com foco em criatividade, receba o jaba.2001.34-123
devido e exigente tratamento empírico que uma Bronfenbrenner, U. (1977). Toward an expe-
proposta com este escopo requer. rimental ecology of human development.
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tituto Walden4. Sawyer, K., John-Steiner, V., Moran, S., Sternberg,
tingências que podem ser especificados previamente à emis- Recebido: 15 de Agosto de 2019
são da resposta. São discutidas as possibilidades abertas por Revisado: 30 de Março de 2020
essa descrição para a investigação experimental do compor- Aprovado: 07 de Maio de 2020
tamento criativo e para aplicações da Análise do Compor- Como citar este documento
tamento interessadas em fortalecer a produção de compor- Leite, E. F. C., & Micheletto, N. (2019).
tamentos criativos. Criatividade para Skinner como um Com-
portamento Complexo Encadeado: Se-
Palavras-chave: resolução de problemas; criatividade; to- melhanças e Diferenças com Resolução
mada de decisões; autocontrole; análise do comportamento. de Problemas, Autocontrole, Tomada de
Decisão e Recordar. Revista Brasileira
de Terapia Comportamental e Cognitiva.
ABSTRACT: This paper analyzes similarities and differ- 21(3), 372-389. doi: https://10.31505/
rbtcc.v21i3.1325
ences between the Skinnerian descriptions of the behav-
iors traditionally called problem solving, self-remember-
ing, self-control, decision-making, and creativity. We read
the chapters in which Skinner describe contingencies that É permitido compartilhar e adaptar. Deve dar o crédito
apropriado, não pode usar para fins comerciais.
evoke the term “creativity” and terms related by this author,
identifying common characteristics and differences in the proposed descriptions. Such an anal-
ysis highlights the occurrence of precurrent behaviors by which the environment is manipulat-
ed by the individual in order to increase (or decrease) the probability of a response by him/her-
self as the main similarity between the cases discussed. The differences are in the reinforcing
consequences, characteristics of antecedent situation and elements of contingencies that can be
specified prior to the emission of the response. We discuss the possibilities opened by this de-
scription for experimental investigation of creative behavior and for applications of Behavior
Analysis interested in strengthening the production of creative behaviors.
Keywords: problem solving; creativity; decision making; self-control; behavior analysis.
RESUMEN: Este artículo analiza similitudes y diferencias entre las descripciones skinneria-
nas de los comportamientos tradicionalmente llamados de solución de problemas, recordar, au-
tocontrol, toma de decisión y creatividad. Se leyeron capítulos en los que Skinner describe con-
tingencias evocativas del término “creatividad” y los términos relacionados con esto por el autor,
identificando características comunes y diferencias en las descripciones propuestas. Este aná-
lisis destaca la ocurrencia de comportamientos precurentes por medio de los cuales el ambien-
te es manipulado pelo individuo para aumentar (o disminuir) la probabilidad de una respuesta
de sí mismo como la principal similitud entre los casos discutidos. Las diferencias están en las
consecuencias reforzadoras, características de la situación anterior y elementos de las contin-
gencias que pueden ser especificados antes de la emisión de la respuesta. Se discuten las posi-
bilidades abiertas por esta descripción para la investigación experimental del comportamiento
creativo y para aplicaciones del Análisis del Comportamiento interesadas en fortalecer la pro-
ducción de comportamientos creativos.
Palabras clave: solución de problemas; creatividad; toma de decisiones; autocontrol; análisis
de la conducta.
Souza, 2000; Delage & Carvalho Neto, 2006; Diferentes exemplos na pesquisa aplicada
Epstein, 1996; Hunziker, 2006; Kubina Jr, Mor- mostram a importância de vários dos proces-
rison & Lee, 2006; Murari & Henklain, 2013; sos mencionados para o fortalecimento de com-
Neuringer, 2003; Neves Filho, 2018; Shahan portamentos novos (Glover & Gary, 1976; Go-
& Chase, 2002; Stokes, 2001). Entre esses pro- etz & Baer, 1973; Parsonson & Baer, 1978) e
cessos podemos mencionar: indução de respos- indicaram que os comportamentos novos expe-
tas com topografias similares, porém não idên- rimentalmente produzidos foram socialmente
ticas; generalização no controle de estímulos; considerados mais criativos do que os observa-
formação de classes de estímulos com base em dos na linha de base ou em outros sujeitos/par-
propriedades físicas comuns (i.e. formação de ticipantes não expostos ao procedimento (Glo-
conceitos, abstração), permitindo o controle por ver, 1979; Maloney & Hopkins, 1973; Pryor,
estímulos consideravelmente novos que com- Haag & O’Reilly, 1969; Ryan & Winston, 1978).
binam propriedades antes conhecidas (e.g. na Desse modo, pode-se acrescentar que a comu-
extensão metafórica de tatos, na interconexão nidade verbal tem um importante papel ao de-
ou recombinação de repertórios); formação de terminar diante de quais instâncias de compor-
classes de estímulos equivalentes; surgimento tamento novo o termo “criativo” será emitido
de novas respostas por modelagem, imitação, (Winston & Baker, 1985).
instrução verbal e adução; indução da variabili- Muitos modelos experimentais de compor-
dade comportamental por extinção ou intermi- tamentos complexos (como os de resolução de
tência do reforço; e reforçamento direto da va- problemas, recordar-se, escolha e autocontro-
riabilidade comportamental. Em situações nas le) foram diretamente embasadas em descrições
quais novos comportamentos são exigidos para skinnerianas das contingências diante das quais
a obtenção de reforçamento, um ou mais desses tais termos são emitidos como tatos (e.g. Epstein,
processos em combinação podem levar ao sur- 1981; Hanna & Todorov, 2002). No caso espe-
gimento de novos comportamentos, que, uma cífico de “criatividade”, uma revisão das descri-
vez seguidos por reforçamento, tornam-se parte ções de Skinner para o termo permite salientar
do repertório operante do indivíduo em questão. um aspecto pouco debatido por estudos analíti-
Os trabalhos de Epstein (1996), por exem- co-comportamentais sobre criatividade: o termo
plo, trouxeram contribuições da pesquisa bá- pode referir-se a um conjunto de comportamen-
sica para a compreensão do que chamamos tos emitidos por um indivíduo cuja consequên-
tradicionalmente de resolução de problemas e cia principal é a alteração do ambiente de modo
insight. Nesses estudos, diferentes repertórios a potencializar a geração de seus próprios com-
foram ensinados separadamente para sujeitos portamentos novos. Essa descrição comporta-
experimentais e, em seguida, os sujeitos foram mental de criatividade é relevante à medida que
expostos a situações nas quais os estímulos dis- inclui a possibilidade de que o próprio indivíduo
criminativos evocadores de cada uma das res- produza condições que aumentem a probabili-
postas ensinadas tornavam-se uma consequên- dade de comportamentos novos em seu reper-
cia da emissão das outras, ocorrendo por vezes tório. Esse tipo de interação indivíduo-ambiente
um encadeamento “espontâneo” (i.e. não dire- está relacionada ao que tradicionalmente é cha-
tamente treinado) desses repertórios, por vezes mado de “processo criativo” nas artes, na ciên-
de maneira instantânea, o que parece estar en- cia e na escrita literária.
volvido nas relações comumente chamadas de O presente trabalho teve como objetivo ana-
insight, frequentemente mencionadas por aque- lisar na obra de Skinner descrições do compor-
les que se interessam pelo tema da criatividade. tamento criativo, comparando-as a descrições de
outros comportamentos complexos que têm em lações. Por exemplo, no capítulo “Pensamento”
comum a manipulação pelo próprio indivíduo em Ciência e Comportamento Humano, Skinner
de seu ambiente de modo a alterar o seu próprio (1953/1965) aborda os comportamentos chama-
comportamento. Como apontado por Skinner dos de tomada de decisão, recordação, resolução
(1974), a existência de diferentes termos psico- de problemas e criatividade. Este e o capítulo an-
lógicos para referir-se ao comportamento é evi- terior – “Autocontrole” – são apresentados no
dência de que a comunidade verbal ficou sensível capítulo “A análise de casos complexos” como
a diferenças nas contingências que os evocam. casos de comportamentos complexos encadea-
Assim, buscou-se identificar semelhanças e di- dos, cuja especificidade seria o indivíduo modi-
ferenças nas descrições das contingências en- ficar o seu ambiente alterando a probabilidade de
volvidas nos termos “resolução de problemas”, outro comportamento ou de outras partes de seu
“tomada de decisão”, “recordar-se”, “autocon- comportamento. Essa especificidade, apontada
trole” e “criatividade”. Ampliar a compreensão por Skinner (1953/1965, Cap. 14, 1971/1972)
de tais contingências pode colaborar para o pla- como uma característica marcante do compor-
nejamento das condições para produzi-los. tamento humano, se dá pelo encadeamento de
A partir de uma busca inicial do termo creat duas classes de respostas, tendo como elo co-
(prefixo de creativity, creative, create e crea- mum os estímulos autogerados (Skinner, 1968,
tor) em versões digitais dos livros em inglês Cap. 4) sendo reforçadores para respostas da pri-
de Skinner, foram selecionados e lidos capítu- meira classe e discriminativos que evocam res-
los nos quais o autor analisa o comportamen- postas da segunda classe.
to criativo. Foram identificadas características Em Tecnologia do Ensino, Skinner (1968)
comuns nas descrições propostas para o termo. analisou os comportamentos de resolver proble-
Tais descrições de criatividade com frequência mas e recordar-se, comportar-se criativamen-
ocorreram conjuntamente à análise de outros te e autocontrolar-se em três capítulos distin-
comportamentos complexos: resolução de pro- tos: “Ensinar a pensar”, “O estudante criativo”
blemas, autocontrole, recordação e tomada de e “Disciplina, comportamento ético e autocon-
decisão, o que levou à leitura de outros capítu- trole”. Nesses capítulos, os termos aparecem
los, adjacentes aos selecionados. Além disso, relacionados uns aos outros: por exemplo, ao
foram identificadas menções explícitas a outros discutir técnicas pelas quais o indivíduo pode
capítulos ou artigos do próprio autor que tam- aumentar as chances de ser criativo, Skinner as
bém abordavam o tema da criatividade ou os chama de autocontrole e autogoverno.
temas relacionados, o que levou à sua inclusão. No capítulo “Uma análise operante da so-
lução de problemas” de Contingências de Re-
Criatividade, Tomada de Decisão, forçamento: Uma Análise Teórica, Skinner
Autocontrole, Recordação e Resolução (1966/1969) analisou, em um subtítulo, espe-
de Problemas: Justifica-se uma cificamente o comportamento de resolver pro-
Análise Comparativa? blemas (no qual usa um exemplo de recorda-
ção) e, em outro subtítulo – chamado “Outros
A identificação das descrições de contingên- tipos de problemas” – analisou autocontrole,
cias envolvidas em cada termo nos textos sele- tomada de decisão e criatividade. Esta organi-
cionados e das relações estabelecidas por Skin- zação de 1969, distinta daquelas propostas em
ner entre esses comportamentos, parece justificar 1953 e 1968, sugere que os diferentes com-
uma análise comparativa. A própria organização portamentos analisados poderiam ser casos de
proposta pelo autor nos textos evidencia tais re- resolução de problemas. Apesar disso, o pró-
prio autor faz destaques, ao discutir os demais pá-los em uma mesma seção indica elementos
comportamentos complexos, que poderiam di- que os assemelham e permite destacar os ele-
ficultar abordá-los como sendo todos casos de mentos que os diferenciam: “O propósito da
resolução de problemas. Skinner salienta, por terceira seção é analisar como o indivíduo age
exemplo, que o termo “problema”, se entendi- para alterar as variáveis das quais outras partes
do como uma situação em que a consequência de seu comportamento são funções, para dis-
que o soluciona é conhecida, é inapropriado tinguir entre os vários casos que se propõe em
para o caso do comportamento criativo em que termos dos processos implicados em compor-
tal consequência não é previamente conhecida. tamento de qualquer outro tipo”. (p. 229). Em
Desse modo, há diferenças nas contingências seguida aponta uma característica que diferen-
envolvidas na resolução de problemas e nos cia contingências existentes nos comportamen-
demais comportamentos complexos, aborda- tos chamamos autocontrole e criatividade: “Os
dos pelo autor como resolução de problemas, dois conjuntos de técnicas são diferentes por-
mas envolvendo tipos diferentes de problemas. que no autocontrole o indivíduo pode identi-
Assim, a própria organização textual das obras ficar o comportamento a ser controlado, e no
de Skinner sugere ser pertinente comparar es- pensamento criativo não pode” (p. 229).
sas diferentes relações organismo-ambiente. Ao comparar o comportamento de resolver
Autocitações de Skinner também indicam in- problemas com os demais discutidos, Skinner
ter-relações entre os comportamentos complexos (1966/1969) também chama atenção para a ne-
de interesse no presente artigo. São exemplos cessidade de distinguir entre as relações descri-
a citação do capítulo “Autocontrole” (Skinner, tas por diferentes termos tradicionais, de ma-
1953/1965) no capítulo “Autofortalecimento neira a não as reduzir umas às outras, ainda que
do comportamento verbal” (Skinner, 1957) e sejam identificados elementos comuns. Segun-
dos artigos “Criando o artista criativo” (Skin- do o autor há “instâncias nas quais as mesmas
ner, 1970/1972) e “Uma palestra sobre ‘ter’ um atividades precorrentes têm uma função útil, se
poema” (Skinner, 1972) no índice remissivo de bem que a topografia da resposta já seja conhe-
Sobre o Behaviorismo (Skinner, 1974) como in- cida” (p. 152), que seriam excluídas quando se
dicações sobre comportamento criativo. define problema “como um conjunto específico
A existência de tópicos separados para a dis- de contingências de reforçamento para o qual
cussão de cada um desses comportamentos na se deve achar uma resposta de topografia ade-
maioria dos textos selecionados também cha- quada” (p. 152), como ocorre no resolver pro-
ma atenção para a complexidade e sutileza en- blemas. Nos tópicos a seguir, sistematizamos
volvidas na descrição das contingências diante semelhanças e especificidades descritas por
das quais as respostas verbais “criatividade”, Skinner entre as contingências envolvidas nos
“autocontrole”, “tomada de decisão”, “recordar- casos de comportamento complexo abordados.
se” e “resolver problemas” são emitidas e então
reforçadas socialmente. Skinner descreveu se- Semelhanças entre as Contingências
melhanças entre tais contingências e conside- Tradicionalmente Chamadas
rou também as suas diferenças, que justificam de Criatividade, Tomada de Decisão,
a existência desses diferentes termos em nossa Autocontrole, Recordação
comunidade verbal. A descrição de semelhanças e Resolução de Problemas
e diferenças pode ser observada na apresenta-
ção da terceira seção de Ciência e Comporta- O aspecto mais básico de uma definição com-
mento Humano (Skinner, 1953/1965). Agru- portamental de criatividade, tomada de decisão,
15), chamando atenção para o fato de que a fon- rista, o homem pode agora controlar seu pró-
te de controle final está em um grupo social que prio destino porque sabe o que deve ser feito e
dispõe contingências especiais de reforçamento como fazer” (Skinner, 1974, p. 251).
que capacitam o indivíduo com o comportamen- Em suma, as descrições de Skinner para o
to precorrente que altera o ambiente em que ele termo criatividade e para termos relacionados
se comporta, alterando a probabilidade de outras envolvem sete elementos comuns: (a) referem-
respostas suas. Todo comportamento, inclusive se a relações organismo-ambiente, ou seja, são
este que envolve o controle do indivíduo de seu descrições de comportamentos; (b) sua nature-
próprio comportamento, é determinado por con- za e os conceitos apropriados para descrevê-los
tingências ambientais. Não é a presença desse e e explicá-los são os mesmos de outros compor-
outros comportamentos complexos que diferencia tamentos; (c) todos envolvem emissão de res-
o ser humano de outras espécies, mas o fato de seu postas precorrentes pelo indivíduo, cuja conse-
comportamento ser controlado por um ambiente quência é a produção de alterações ambientais
social que os desenvolve. Desconsiderar a origem que modificam a probabilidade de outras res-
social dos diferentes repertórios tipicamente hu- postas em seu próprio repertório; (d) as respos-
manos, dentre eles o autoconhecimento e o au- tas precorrentes e as variáveis manipuladas po-
tocontrole “tem feito com que práticas melhores dem ser públicas ou privadas, com vantagens
para produzir autoconhecimento e autogoverno e desvantagens em cada caso; (e) a explicação
tenham malogrado” (Skinner, 1972/1978, p. 52). do comportamento permanece nas contingên-
Uma sociedade que cria condições para o cias ambientais externas, sendo desnecessária
homem agir sobre o mundo e sobre as condi- a suposição de variáveis internalistas hipotéti-
ções que determinam seu próprio agir, além de cas de outra natureza; (f) as contingências am-
possibilitar que ele, por exemplo, tome deci- bientais especiais responsáveis por tais com-
sões, solucione seus principais problemas, seja portamentos complexos, tipicamente humanos,
criativo, traz benefícios indispensáveis para a são fundamentalmente sociais, havendo vanta-
cultura. Skinner (1968) aponta a importância gens explícitas que explicam o fato de a cultu-
de indivíduos criativos em uma cultura que ne- ra proporcionar o desenvolvimento deles em
cessita de razoável estabilidade, mas também seus membros; e (g) há consequências práticas
de mudanças, para aumentar as possibilidades em assumir a posição teórica de Skinner para a
de sobrevivência, algumas das quais selecio- produção desses comportamentos, pois é uma
nadas pela cultura: “As ‘mutações’ . . . são as posição que destaca o papel de variáveis iden-
novidades, as inovações, as idiossincrasias que tificáveis e manipuláveis. Além de tais seme-
nascem no comportamento de indivíduos. Não lhanças, cabe apresentar algumas das caracte-
são todas úteis. . . . Tanto as valiosas como as rísticas distintivas das diferentes relações entre
prejudiciais, as inovações são exigidas pelos indivíduo e ambiente aqui analisadas.
processos de seleção” (p. 171).
A noção de que é necessário conhecer as Especificidades das Contingências
sutis contingências que envolvem a manipu- Tradicionalmente Chamadas de
lação pelo indivíduo de condições que deter- Criatividade, Tomada de Decisão,
minam seu próprio comportamento, e que, por Autocontrole, Recordação
tal característica, favorecem a suposição de um e Resolução de Problemas
“eu originador”, para então planejar condições
que as produzem, levou a um recorrente esfor- As descrições skinnerianas de resolver pro-
ço para descrevê-las. “Na concepção behavio- blemas, recordar-se, autocontrolar-se, tomar
decisões e comportar-se criativamente dife- pel das respostas precorrentes em cada caso é
rem em relação às contingências que evocam produzir a resposta solução ou criar as condi-
esses termos tradicionais e de quais elementos ções antecedentes necessárias para a sua emis-
dessas contingências podem ser descritos pelo são. A ocorrência das respostas precorrentes
indivíduo (e às vezes por outros) previamente poderia, assim, ser interpretada como sendo
à emissão do comportamento. Descrevemos a evocada por uma operação motivadora – nos
seguir as especificidades das contingências en- exemplos dados por Skinner (1966/1969), de
volvidas em cada caso. privação (alimentar) ou estimulação aversiva
(questão sem resposta).
Resolver Problemas Um aspecto da descrição skinneriana enfa-
tizado por Moroz (1993) e Nico (2001) é que a
As interações de um indivíduo com o seu mera ocorrência de uma resposta solução evocada
ambiente que poderiam ser rotuladas como por dada situação não é suficiente para falarmos
casos de resolução de problema envolveriam em resolução de problemas, sendo necessária a
dois estágios (Skinner, 1966/1969, p. 133). No emissão de respostas precorrentes de resolução:
primeiro estágio, por exemplo, um homem fa- “Resolver um problema é, porém, mais do que
minto que não pode simplesmente emitir uma emitir a resposta que lhe constitui a solução; é
resposta anteriormente reforçada por alimento, uma questão de dar os passos necessários para
chamada de resolução de problema, emite res- tornar tal resposta mais provável, via de regra
postas que alterem ele mesmo ou a situação. No mudando o ambiente” (Skinner, 1974, p. 111).
segundo estágio, uma resposta efetiva em pro- As respostas de resolução podem não ocorrer
duzir comida enfim ocorrerá, sendo chamada simplesmente porque a situação não se consti-
de solução. De acordo com o autor, a mudan- tui realmente como um problema (não há ope-
ça no próprio comportamento produzida pelas ração motivadora relevante ou há, mas a res-
respostas de resolução reforça a emissão des- posta que produz o reforçador em questão já é
sas. Outro exemplo de situação problemática forte), ou, se por conta de circunstâncias aci-
dado por Skinner (1966/1969) é o de uma ques- dentais, a resposta solução for evocada antes
tão para a qual não há resposta no momento, e que respostas precorrentes tenham sido emiti-
seriam exemplos de respostas precorrentes de das. Um exemplo deste último caso é o do in-
resolução efetuar um cálculo ou consultar um divíduo que, ao deparar-se com um problema
trabalho de referência. Assim, a própria defi- real, não emite qualquer resposta manipulati-
nição do que é um problema envolve situações va de seu meio, mas que, dada a passagem do
em que as consequências da resposta solução tempo, se encontra em um novo arranjo de con-
já têm valor reforçador para o indivíduo antes tingências (não produzidas por ele) que o le-
mesmo que ela possa ser emitida: “Uma pessoa vam à emissão da resposta solução. Nesse caso,
tem um problema quando lhe falta uma respos- o problema não foi resolvido pelo indivíduo e
ta capaz de produzir alguma condição que será sim para ele, porque ele não deu os passos ne-
reforçadora. Ela solucionará o problema quan- cessários para fortalecer a resposta solução, ela
do emitir tal resposta” (Skinner, 1974, p. 111). foi fortalecida por mudanças fortuitas.
A resposta que produz as consequências re-
forçadoras, no entanto, não pode ser emitida Recordar-se
porque ela não existe no repertório do indiví-
duo ou porque faltam as condições discrimi- Uma relação diferente, mas na qual o próprio
nativas necessárias para a sua emissão. O pa- indivíduo também manipula as variáveis das
quais o seu comportamento é função, pode estar mulos como ocasião para o reforçamento. Re-
sendo descrita quando usamos cotidianamente cordar-se ou fazer-se lembrar (bem como fazer
as expressões “recordar-se” ou “lembrar a si outro alguém lembrar) é o mesmo que emitir
mesmo”. Nesses casos, uma resposta que já respostas que produzam os estímulos apropria-
foi efetiva em dada ocasião encontra-se enfra- dos para evocar uma resposta que não pode-
quecida no repertório do indivíduo, não poden- ria ser especificada previamente. Novamente,
do ser atualmente emitida, nem descrita, como a ocorrência das respostas precorrentes distin-
quando esquecemos o nome de alguém e pre- gue entre lembrar-se e ser lembrado de algo.
cisamos dizê-lo. As respostas precorrentes de
“recordar” têm como consequência a alteração Autocontrolar-se
das condições ambientais de modo a produzir
condições que tornem a resposta “lembrada” As relações comportamentais designadas tra-
mais provável. O comportamento precorren- dicionalmente como autocontrole, por sua vez,
te torna mais forte uma resposta em dada si- parecem distinguir-se da resolução de proble-
tuação ainda que não se possa identificá-la até mas típicos e do lembrar-se porque as respos-
que seja emitida (Skinner, 1953/1965, Cap. 16; tas que têm a sua probabilidade alterada pelo
1974, Cap. 7). indivíduo ao manipular o seu ambiente pela
As respostas precorrentes pertinentes em emissão de respostas precorrentes são previa-
situações que exigem o recordar-se envol- mente conhecidas por ele. Essa característica
vem, segundo Skinner (1953/1965, Cap. 16), é descrita por Skinner (1966/1969) no subtítu-
a apresentação de auto deixas temáticas e/ou lo “Outros tipos de problemas”:
formais, tais como falar sobre eventos relacio-
nados à ocasião em que a resposta já fora emi- Algumas vezes, o problema não é o que fa-
tida e reforçada. Isto envolveria, no exemplo zer, mas se se deve fazê-lo. O comportamento
dado pelo autor, falar sobre a origem geográ- de resolução de problema destina-se a forta-
fica do nome, se é um nome pouco ou muito lecer ou enfraquecer uma resposta já iden-
comum, constituindo auto deixas temáticas, tificada. Consequências conflitantes positi-
ou percorrer o alfabeto repetidamente até que vas e negativas, quer de natureza intelectual
o som de alguma letra evoque alguma respos- quer ética, são especialmente adequadas para
ta, o que seria uma maneira de apresentar a si colocar problemas deste tipo, por exemplo,
mesmo deixas formais. quando uma resposta fortemente reforçada
No subtítulo “Busca e rememoração”, Skin- adiou consequências aversivas, ou quando
ner (1974, Cap. 7) comenta a descrição fre- consequências aversivas e imediatas estão em
quentemente feita por propostas mentalistas do conflito com reforços adiados (pp. 152-153).
comportamento de recordar-se de algo como se
fosse uma busca por informações copiadas e Também estão descritas por Skinner
armazenadas na mente. Embora a realização e (1966/1969) as contingências responsáveis por
recuperação de registros verbais físicos possa colocar os problemas típicos do autocontrole.
ser uma técnica de rememoração bastante efi- Uma vez que uma resposta produz consequên-
caz, em sua ausência não precisamos supor tal cias conflitantes identificáveis pelo indivíduo,
atividade ocorrendo em outro nível. Na descri- a alteração da probabilidade de emissão da res-
ção comportamental proposta, lembrar é emitir posta torna-se reforçadora. Em alguns casos, a
respostas diante de estímulos em função de uma resposta a ser controlada é reforçada imediata-
história de reforçamento envolvendo esses estí- mente, mas com consequências aversivas mais
tardias. Nesse caso, dizemos que o indivíduo ambiente, a topografia de todas as alternativas
se autocontrola se o observamos emitindo res- de respostas é conhecida (Skinner, 1966/1969).
postas precorrentes cuja consequência é a alte- No subtítulo “Resolvendo Problemas”, no tó-
ração de variáveis ambientais que enfraqueçam pico “Escolha”, Skinner (1974) reserva o ter-
a probabilidade da resposta a ser controlada. mo “tomada de decisão” para situações em que
Em outros casos, o inverso é observado: o in- a emissão de uma das alternativas e não das
divíduo emite respostas que resultam em alte- demais é similarmente provável e tem conse-
rações que fortalecem a probabilidade de uma quências relevantes, gerando o tipo de proble-
resposta atualmente fraca devido a consequên- ma característico do comportamento de tomar
cias aversivas imediatas e reforçamento adiado. decisões: “quando as consequências são impor-
Skinner (1953/1965, Cap. 15) chama as tantes e as probabilidades de duas ou mais res-
respostas precorrentes em questão de contro- postas são aproximadamente iguais, um proble-
ladoras e as respostas correntes cuja probabi- ma precisa ser resolvido”. (p. 112).
lidade é alterada no autocontrole de respos- Assim como nos demais comportamentos
tas controladas, relacionadas uma a outra de analisados, no de tomar decisão a resposta ter-
maneira especial pelas consequências positi- minal é produto de manipulações do ambiente
vas e negativas. A resposta controladora alte- por parte do indivíduo e não fruto de uma mu-
ra qualquer das variáveis das quais a contro- dança acidental nas contingências: “‘Decidir’
lada é função. Além disso, o autor discute o . . . não é a execução do ato decidido, mas o
fato de que o controle empregado a si mesmo comportamento responsável por ele” (Skinner,
é paralelo àquele envolvido no controle de ou- 1953/1965, p. 243). A emissão de respostas pre-
tras pessoas, havendo muitas formas diferen- correntes produz estímulos que exercem con-
tes de autocontrole, paralelas às técnicas apli- trole suplementar e tornam uma das respostas
cadas no controle pessoal. alternativas mais provável que outras.
Nico (2001) aponta na análise skinneriana Skinner (1953/1965, Cap. 16) distingue o
de autocontrole um aspecto similar ao já indi- comportamento de tomar decisão do autocon-
cado na análise da resolução de problemas. Se trole, dado que no primeiro as consequências
a probabilidade da resposta controlada é alte- das respostas alternativas não podem ser es-
rada de outra maneira que não a alteração do pecificadas previamente e no segundo sim, o
ambiente pelo próprio indivíduo pela emissão que torna as técnicas para tomar uma decisão
de respostas precorrentes controladoras, não se mais limitadas do que aquelas possíveis para
fala em autocontrole. Nessas ocasiões, esse re- se autocontrolar.
pertório é desnecessário. Uma variável de controle relevante para a
emissão das respostas precorrentes na toma-
Tomar Decisão da de decisão é a própria remoção da indeci-
são gerada pelo conflito entre as alternativas,
O comportamento descrito como tomar de- o que também acompanha a perda de oportu-
cisão ou fazer uma escolha, por sua vez, difere nidade de agir de outra forma como uma con-
dos comportamentos de resolver problemas, au- sequência aversiva (Skinner, 1953/1965, Cap.
tocontrolar-se, lembrar e criar porque nele duas 16, 1966/1969, 1974, Cap. 7). Além destas
ou mais alternativas de respostas com probabi- duas, outra consequência reforçadora que ex-
lidades similares de emissão precisam ter suas plicaria a origem e manutenção do comporta-
probabilidades alteradas de modo que uma de- mento de tomar decisão é que ele “aumenta a
las se sobressaia. Nesse tipo de relação com o probabilidade de que a resposta finalmente emi-
tida consiga reforçamento máximo” (Skinner vo” nas artes, ciências e na vida cotidiana. Em
1953/1965, p. 244). outras palavras, uma consequência reforçado-
ra para explorar o ambiente nesse caso não é
Comportar-se Criativamente a resolução de um problema específico, o for-
talecimento de uma resposta esquecida, a mu-
Encontramos nos textos analisados de Skin- dança na probabilidade de uma resposta com
ner, uma descrição do comportamento tradi- consequências conflitivas ou o fim de uma inde-
cionalmente chamado de criatividade que se cisão com a escolha da melhor alternativa pos-
assemelha às descrições dos comportamentos sível, mas sim o surgimento de novas relações
complexos analisados anteriormente. O com- entre o próprio responder e estímulos ambien-
portamento criativo é descrito pelo autor como tais. Nesse caso, as manipulações do ambiente
também envolvendo respostas precorrentes ma- ocorrem “para gerar ‘novas ideias’ quando ne-
nipulativas do ambiente cujas alterações levam nhum problema definido está presente” (Skin-
a mudanças na probabilidade de uma respos- ner, 1953/1965, p. 253). No comportamento
ta corrente. No entanto, a primeira diferença criativo do artista, por exemplo, “tudo isso pode
em relação aos demais comportamentos com- ser feito, não para resolver um problema espe-
plexos tratados é que nem a resposta corrente cífico, mas para aumentar um repertório artís-
nem as suas consequências podem ser previs- tico. O problema geral é simplesmente conse-
tas e especificadas, quer seja pelo próprio in- guir algo novo” (p. 254).
divíduo que se comporta, quer seja por outros A partir das semelhanças entre os comporta-
(Skinner, 1966/1969), constituindo instâncias mentos de resolução de problemas, recordação,
novas de comportamento. O comportamento autocontrole, tomada de decisões e criativida-
precorrente responsável pelas novas circuns- de, pode-se dizer que, em uma visão skinneria-
tâncias ambientais em que o comportamen- na, um indivíduo que se comporta de maneiras
to novo se origina não pode, portanto, ser es- que produzem novidade e originalidade é em
pecificado a partir de descrições da resposta e geral um membro de uma comunidade que re-
das consequências a que se quer chegar, como força novidade e originalidade. Um cientista,
observa-se em artistas, escritores e composito- por exemplo, pode ser reforçado por produzir
res, que se envolvem em várias atividades ex- novas descrições do mundo por causa dos efei-
plorando formas de chegar a produtos e efeitos tos práticos úteis que pode gerar ao seu grupo
imprevistos. Aqui: “o comportamento precor- (Skinner, 1974, Cap. 7). Da mesma maneira,
rente relevante não pode ser derivado de qual- poderíamos pensar que um artista que apresen-
quer especificação do comportamento a seguir ta trabalhos originais, possivelmente será re-
ou das contingências que o comportamento irá conhecido em sua própria comunidade se ori-
satisfazer. O comportamento precorrente, toda- ginalidade for um critério relevante para esta
via, funciona em virtude dos processos envol- comunidade ao avaliar a produção artística.
vidos na resolução de problemas formuláveis” Skinner (1953/1965) não descarta, por exem-
(pp. 154-155). plo, a resolução de problemas específicos, tal
A explicação para a emissão dos comporta- como definida anteriormente, como parte inte-
mentos precorrentes envolvidos na relação com grante do trabalho de artistas. O artista às vezes
o mundo em que está ausente um problema cla- precisa produzir uma parecença, mas Skinner
ramente definido, está justamente na produção distingue claramente entre isto e a manipula-
de comportamento novo, constituindo o que é ção do ambiente com vistas à produção criati-
costumeiramente chamado de “processo criati- va: “a exploração artística de um meio pode se
desenvolver na ausência de qualquer problema tela horizontal e selecionar cores a partir de sor-
específico” (p. 254). Skinner (1966/1969) faz teio ao girar um disco, jogar dados ou consultar
destaque similar: “Às vezes, eles [artistas] são uma tabela de números randômicos. Acrescen-
solicitados a produzir um trabalho com especifi- ta ainda que “pode gerar mutações por delibe-
cações bastante estreitas, e seu comportamento radamente fazer o que ele tem sido ensinado a
exemplifica então a resolução explícita de pro- não fazer; ele pode violar padrões, convenções,
blema, mas isso não é sempre o caso” (p. 155). e tabus, como um matemático ignora axiomas
O procedimento precorrente utilizado para auto evidentes ou um compositor usa harmonias
manipular as variáveis tendo a produção de proibidas previamente” (p. 340).
comportamentos novos como reforçador parece Skinner (1957; ver também Bandini & De
participar inclusive das condições discriminati- Rose, 2006) apresenta, ao discutir o processo
vas que evocam a resposta verbal “original” no de composição e correção do comportamen-
comportamento daqueles que observam o in- to verbal, mais exemplos de diferentes res-
divíduo cujo comportamento está sendo qua- postas manipulativas do ambiente que podem
lificado. De acordo com Skinner (1953/1965), ser emitidas pelo indivíduo porque produzem
não costumamos chamar de “originais” com- como consequência um aumento de seu pró-
portamentos que foram produzidos por imita- prio repertório verbal: a manipulação de estí-
ção, seguimento de instruções verbais explícitas mulos (discriminativos não verbais ou verbais,
ou que é produto de procedimentos de mani- na autossugestão, auto investigação e mudan-
pulação de variáveis já padronizados. O termo ça de audiência), a mudança no nível de corre-
é reservado para outras situações, por exem- ção, a produção mecânica de comportamento
plo, “quando um padrão de manipulação ja- verbal, a mudança de variáveis de motivação e
mais foi antes aplicado a um caso particular, o emoção e a incubação. No artigo “Como des-
resultado, em certo sentido, será novo” (Skin- cobrir o que você tem a dizer – uma fala para
ner, 1953/1965, p. 254). O exemplo dado pelo estudantes”, Skinner (1981) exemplifica as res-
autor é o de que, em algum momento da histó- postas precorrentes que ele mesmo emitia para
ria humana, a observação de que um cubo tem produzir os seus textos.
seis faces foi uma ideia original. Skinner (1968) é claro em dizer que as res-
A importância de alterar o ambiente para a postas chamadas “originais” não podem ser
ocorrência de comportamentos originais é desta- diretamente ensinadas, caso contrário não se-
cada por Skinner (1972, p. 355): “Analisando as riam assim denominadas. O que pode ser en-
histórias genética e individual responsáveis por sinado é o repertório precorrente responsável
nosso comportamento, nós podemos aprender pelo surgimento de um ambiente que maximize
como ser mais originais. A tarefa não é pensar a ocorrência de variações originais. Esse com-
em novas formas de comportamento, mas criar portamento precorrente frequentemente é se-
um ambiente em que elas são mais prováveis de lecionado ao acaso, mas poderia ser encoraja-
ocorrer”. Skinner (1970/1972) apresenta exem- do explicitamente:
plos no contexto artístico de respostas precor-
rentes que, se emitidas na produção de compor- [O estudante] pode aprender não só a tirar
tamento novo, poderiam gerar comportamentos partido dos acidentes . . . como a produzi-los
chamados de criativos pela comunidade verbal . . . Contingências relacionadas com a origi-
do indivíduo que os emitiu, tais como aumen- nalidade não fortalecem topografias específi-
tar o comprimento de um pincel, pintar com es- cas. Podem, no entanto, reforçar indiretamen-
ponja em vez de pincel, despejar tinta em uma te técnicas de autogoverno. (pp. 180-182).
tas como comportamento criativo envolvem: dução de comportamento novo que reforça a
(a) uma situação problema em que conseguir emissão de respostas precorrentes. Nesses ca-
algo novo é estabelecido como um estímulo re- sos, estamos diante de um indivíduo que, dadas
forçador; (b) em tal situação problema não há as contingências de reforçamento sob as quais
especificações das respostas e consequências responde, tem a própria produção de compor-
a serem geradas, nem das respostas precorren- tamento novo como reforçador e adquiriu um
tes manipulativas do ambiente que permitirão repertório eficiente na produção desse reforça-
a sua geração; (c) a emissão de respostas pre- dor, emitindo-o com frequência. Esse pode ser
correntes pelo indivíduo que, ao alterar o am- mais um dos estímulos discriminativos diante
biente, resultam na ocorrência de comportamen- do qual dizemos “criativo”. Nesse sentido, cha-
tos em seu próprio repertório, que são novos de maríamos de criativo não só o comportamen-
acordo com algum critério; e (d) a ocorrência to novo e/ou os seus produtos inusitados, mas
de consequências reforçadoras para o compor- também o comportamento responsável pelo seu
tamento novo gerado, que atuarão de maneira surgimento. A manipulação do ambiente para
seletiva. Essa maneira de descrever o compor- gerar comportamentos novos, é chamada tra-
tamento criativo aproxima-o de outros compor- dicionalmente de “processo criativo”.
tamentos complexos aqui descritos. Incluir na descrição do comportamento cria-
De acordo com os dados da Análise Experi- tivo as respostas precorrentes reforçadas por
mental do Comportamento, novidade, uma ca- aumentar a probabilidade de comportamen-
racterística central do comportamento criativo, tos novos ajuda a compreender as interações
pode ser gerada por muitos processos investi- entre diferentes repertórios comportamentais
gados no laboratório em diferentes arranjos de complexos como os de autocontrole, resolu-
contingências (Catania et al., 2000; Kubina Jr. ção de problemas, etc. Além disso, indica que,
et al., 2006; Shahan & Chase, 2002), tais como na formação do indivíduo para a criatividade,
aqueles que combinam estímulos antecedentes pode-se enfatizar justamente o ensino de for-
que levam à interconexão de repertórios (Eps- mas de comportamento precorrente que possam
tein, 1996) ou aqueles que reforçam a variabi- levar à novidade, e, ao fazê-lo, outros compor-
lidade comportamental (Neuringer, 2003). Nes- tamentos complexos importantes também po-
se sentido, criatividade seria produto do acaso, derão ser produzidos, enriquecendo o repertó-
quando tais arranjos ocorrem acidentalmente, rio dos indivíduos.
ou de planejamento e manipulação direta de va- A ênfase nos comportamentos precorrentes
riáveis por parte de outros indivíduos no ensi- que aumentam a probabilidade de comportamen-
no de criatividade em intervenções, por exem- tos novos também abre a possibilidade de que no-
plo. Estes casos podem certamente evocar o vas investigações avaliem o efeito de diferentes
tato “criativo” em membros de nossa comuni- variáveis sobre tais comportamentos. Para encer-
dade verbal (Ryan & Winston, 1978). rar com um exemplo, diferentes trabalhos (Glo-
Neste artigo foi enfatizada, no entanto, outra ver, 1979; Glover & Gary, 1976; Goetz & Baer,
possibilidade, já considerada por Skinner. Uma 1973; Maloney & Hopkins, 1973; Parsonson &
vez que o indivíduo emite respostas precorren- Baer, 1978; Pryor, Haag & O’Reilly, 1969; Ryan
tes que, ao produzir como consequência novos & Winston, 1978) demonstraram o aumento da
arranjos de contingências, aumentam as chan- emissão de comportamentos novos em contin-
ces de que processos comportamentais atuem gências que reforçavam diretamente a variabili-
na produção de comportamentos novos em seu dade. Uma relação interessante de se avaliar, na
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