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Apresentação
Organizações existem com o propósito de produzir bens ou de prestar de serviços
visando a geração de lucro como forma de garantir a sustentabilidade do negócio. O
lucro, em uma concepção simplificada, consiste na diferença entre receitas e custos.
Logo, quanto mais a empresa vender e menos gastar, mais lucrativa ela será.
Para vender mais, a empresa precisa oferecer produtos e serviços que sejam
desejados por seus clientes, questão para a qual a compreensão de valor sob a ótica
do cliente é fundamental. Para gastar menos, a empresa precisa otimizar seus
processos, fazendo mais com menos. Em outras palavras, a empresa precisa
promover o essencial, tanto em relação aos produtos e serviços que oferece, como
também em relação aos recursos que emprega nessa tarefa. Cenário no qual a
geração de valor e a eliminação dos desperdícios correspondem a elementos
fundamentais.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar como ocorre a definição e a
geração de valor nas relações de consumo e como ele flui ao longo do processo
produtivo, formando o chamado fluxo de valor, presente no contexto da produção
enxuta. Além disso, irá compreender o que é e como funciona o mapeamento do fluxo
de valor, que corresponde a uma poderosa ferramenta na busca pela redução do
desperdício e da geração de valor.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes
aprendizados:
Identificar como ocorre a definição e a geração de valor nas relações de
consumo.
Descrever o fluxo de valor e a sua relação com o conceito da produção enxuta.
Definir o que é e como funciona o mapeamento do fluxo de valor.
Desafio
Patrícia é dona de uma fábrica de bolsas femininas, cuja operação já funciona há
vários anos, durante os quais apresentou bons índices. Tudo ia muito bem: consumo
em alta, ótimas vendas e faturamento elevado. Assim, as receitas superavam os
custos, permitindo que negócio gerasse bons resultados.
Esse cenário se manteve por um bom tempo e acabou levando Patrícia a cometer um
erro bastante comum: ela não se preocupou muito com custos, tampouco com
desperdícios ou concorrência, afinal, havia mercado suficiente para todos. O que ela
não pensou foi que, se tivesse sido mais austera no controle dos custos, esses
resultados poderiam ter sido ainda maiores, permitindo a geração de reservas mais
expressivas.
Foi aí que Patrícia percebeu que tinha um sério problema a tratar. Ela sabe que
precisa urgentemente reduzir seus custos, principalmente cortando gastos
desnecessários. Porém, como nunca praticou um controle de custos muito efetivo, não
sabe bem de que forma começar, nem o que pode fazer.
Patrícia então contrata sua empresa para prestar um serviço de assessoria ao seu
negócio e apresenta a você o cenário atual. Já na primeira visita à fábrica, você
percebe diversos problemas, como elevados tempos de setup, grande movimentação
de pessoas e materiais, além de grandes esperas entre processos.
Frente ao problema exposto e ao cenário verificado, que fator você recomendará que
seja tratado de forma prioritária? Que ferramenta você indicará, para quais propósitos
e como ela será implantada?
Infográfico
O fluxo de valor é constituído pela totalidade das ações exigidas pelo processo
produtivo, sejam elas agregadoras de valor ou não. Com foco no cliente e no valor por
ele definido, visa estabelecer um sistema puxado em que as ações que geram valor
são enfatizadas, enquanto as que não geram são minimizadas. Assim, promove-se a
eliminação de desperdícios e a geração de valor.
Acompanhe o Infográfico que demonstra esses diversos elementos e etapas
constituintes do fluxo de valor.
Conteúdo do livro
O objetivo de uma empresa é gerar lucro para tornar o negócio rentável e
sustentável e o caminho lógico para isso passa por vender mais e gastar menos.
Porém, existe um aspecto ainda mais fundamental: a empresa precisa gerar valor.
Para adquirir tal capacidade, é necessário que a empresa compreenda o que
seus clientes percebem como valor, ao mesmo tempo que eliminam desperdícios para
que seus recursos e esforços sejam empregados na geração de produtos e serviços
pelos quais os clientes estejam realmente dispostos a pagar.
Acompanhe os trechos da obra Planejamento e controle da produção
avançado, que serve de referencial teórico para esta Unidade de Aprendizagem,
especialmente o capítulo que trata sobre o Mapeamento do fluxo de valor.
Boa leitura!
O fluxo de valor
Muitas são as atividades que podem estar envolvidas em um processo de
transformação, seja ele destinado à manufatura ou prestação de serviços. Porém, nem
todas vão agregar valor ao resultado do processo. Portanto, é fundamental avaliar a
participação de cada uma dessas atividades no processo, identificando quais são
importantes para a formação do fluxo de valor.
Morgan e Liker (2008, p. 327), ao citarem Rother e Shook (1998), comentam
que “um fluxo de valor é constituído por todas as ações (tanto agregadoras quanto não
agregadoras de valor) exigidas para levar um produto desde o estágio da matéria-
prima até o cliente, ou pelo fluxo do projeto, do conceito ao lançamento”.
Fique atento
O fluxo de valor contempla todas as atividades envolvidas na geração de um
produto ou serviço, sejam elas agregadoras ou não de valor, e o seu objetivo consiste
em enfatizar ações que geram valor e eliminar aquelas que não geram.
Nesse sentido, as empresas buscam estabelecer uma cadeia de valor por meio
da avaliação de cada uma das diferentes etapas do processo de produção, desde os
fornecedores até o cliente final, a fim de identificar e enfatizar ações que geram valor
e, ao mesmo tempo, reduzir ou eliminar atividades que não geram, tornando os
processos sustentáveis.
Assim, Jacobs e Chase (2012) reforçam a relevância das atividades
agregadoras de valor, que são aquelas que permitem transformar materiais e
informações em algo desejável pelo cliente, e sinalizam a preocupação com as
atividades que consomem recursos, mas não agregam valor sob a perspectiva do
cliente, resultando em desperdícios ou perdas.
No entanto, é preciso considerar que algumas ações não agregadoras de valor
correspondem a atividades necessárias ao desempenho do processo produtivo e, por
isso, não podem ser totalmente eliminadas. Nesses casos, é importante garantir que
elas consumam o mínimo possível dos recursos.
EXEMPLO
Ações como a preparação de uma máquina ou o abastecimento de um posto
de trabalho representam atividades que não agregam valor ao produto, mas que são
necessárias para que a produção possa ser desempenhada, transformando insumos
em produtos e, assim, gerando valor.
Evidencia-se, aqui, a importância da constante busca pela redução dos
desperdícios, para que os recursos e esforços da organização possam estar
empregados na efetiva geração de valor. Nessa tarefa, Jacobs e Chase (2012, p. 394)
comentam que a metodologia da produção enxuta “pode ser uma das melhores
ferramentas para implementar estratégias de sustentabilidade em processos de
manufatura e serviços”.
Na base de um sistema enxuto de produção está a preocupação com a
ineficiência na realização do trabalho, representada por atividades que geram custo,
mas não agregam valor, resultando em perdas ou desperdícios. Assim, o sistema
enxuto se ocupa da identificação e eliminação dos desperdícios nas suas diversas
modalidades, estabelecendo as suas principais categorias, chamadas de as sete
grandes perdas:
Saiba Mais
Leia mais sobre o pensamento enxuto na obra Os cinco passos do pensamento
enxuto (COSTA; JARDIM, 2010).
O estudo do fluxo de valor no sistema Toyota teve como pano de fundo o ambiente
da manufatura, onde foi desenvolvida a técnica denominada Diagrama do Fluxo de
Material e Informação, que possui estreita relação com outra importante ferramenta: o
mapeamento do fluxo de valor.
usinagem;
afiação;
limpeza/desbaste;
inspeção;
embalagem.
Para cada um dos processos, são apresentadas informações como tempo de ciclo
da atividade (TC), tempo de troca (TT) de um tipo de item para outro, tamanho do lote,
tempo disponível por dia em segundos (Disp) e percentual de tempo de operação (TO)
utilizado, que corresponde a Disp. (−) TT/Disp. A atividade limpeza/desbaste, em
especial, corresponde a um processo de múltiplas etapas, no qual os itens são
manuseados em ordem de chegada. Podemos, ainda, notar que, entre cada processo,
existem estoques reguladores, com os seus respectivos volumes médios.
Por fim, na parte inferior do mapa, temos a linha de tempo do fluxo, onde são
demonstrados o tempo de processamento para cada uma das atividades (em
segundos) que formam o tempo de ciclo total e tempo de trabalho total, equivalentes a
130 segundos, e os tempos médios de espera em estoque, cuja soma permite formar
uma estimativa do tempo de espera ao longo do sistema inteiro, correspondendo,
nesse caso, a um total de 34 dias.
O mapeamento de fluxo de valor consiste em um processo composto por duas
partes: a apresentação da “situação atual” do processo e a verificação da possível
“situação futura”. A Figura 3 apresenta o mapa correspondente à segunda etapa,
baseado no mesmo processo avaliado inicialmente, mas contendo sugestões de
melhorias, representados por notações de eventos kaizen (filosofia japonesa que se
preocupa com a melhoria contínua), que sugerem áreas ou pontos do processo em
que melhorias podem ser implementadas.
Além disso, são propostos projetos kanban nas duas extremidades do fluxo
(junto aos fornecedores e clientes). Tendo em vista que a metodologia kanban visa
estabelecer um sistema de controle de estoque mínimo, esses projetos permitem
reforçar ainda mais a intenção de fazer com que o processo inteiro seja convertido em
um “sistema puxado”, operado diretamente em resposta à demanda do cliente, em vez
de “empurrar” o material pelo sistema com base nas programações semanais
formuladas pelo controle de produção.
Outra importante alteração proposta consiste na formação de uma célula de
trabalho, onde as operações de produção individuais são agrupadas e combinadas,
sendo realizadas por três operadores. Com isso, o tempo de ciclo passa para 45
segundos (maior tempo individual), enquanto o tempo de trabalho total permanece
sendo 130 segundos. Passa a ser apurado também o takt time (o qual corresponde à
razão entre o tempo disponível e número de peças demandadas, ambos na fração
diária), que, convertido, resulta em 55 segundos.
Ao compararmos o tempo de ciclo de 45 segundos com o takt time de 55
segundos, podemos perceber que, com tal formatação, o processo se apresenta em
condições de atender à demanda.
Por fim, como resultado global, podemos notar uma significativa redução no
tempo de resposta, que passa a ser de apenas de cinco dias nesse novo sistema, no
lugar dos 34 dias demandados na versão anterior do sistema.
Saiba Mais
Leia mais sobre tempo de ciclo, takt time e outros importantes indicadores
relacionados à produção na obra Sistemas de produção: conceitos e práticas para
projetos e gestão da produção enxuta (ANTUNES et al., 2008).
Na Prática
O mapeamento do fluxo de valor corresponde a uma importante ferramenta destinada
à análise de processos que oferece uma demonstração gráfica das diversas atividades
nela envolvidas, sejam elas geradoras ou não de valor, permitindo que oportunidades
de melhoria possam ser detectadas, colaborando para a identificação e a eliminação
de desperdícios.
Acompanhe a seguir um exemplo de aplicação prática do mapeamento do fluxo de
valor, demonstrando constatações, considerações e questionamentos que podem ser
formulados a partir da análise do mapa desenhado sobre um processo existente.
Uma indústria fabricante de acessórios de metal para portas e janelas decidiu aplicar o
mapeamento do fluxo de valor em seu processo produtivo, que é composto de 5
etapas: fundição, usinagem, polimento, pintura e montagem.
No interativo a seguir é apresentado o mapa que foi desenhado com base no processo
em sua situação atual. Nele, são informados, para cada uma das operações, o número
de operadores e os tempos relacionados a cada atividade (conforme legenda na parte
inferior do mapa).