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RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo analisar a adesão de alunos às atividades remotas no período de
pandemia em três escolas públicas de Ensino Fundamental e Médio do Ceará, da Paraíba e do Rio Grande
do Norte. Utilizamos uma pesquisa quantitativa, com uma amostra de 235 alunos, através de um
questionário com 05 perguntas objetivas e 04 subjetivas elaboradas no GoogleDocs e enviadas aos alunos
por meio da plataforma Google Classroom (CE e PB) ou Whatsapp (RN). Os achados das pesquisas foram
os seguintes: dos 823 alunos que receberam o questionário, apenas 235 (29%) responderam. Se
analisarmos por estado, teremos: CE (22%); RN (41%); PB (24%). Desses 235 que responderam, 149
(66,8%) relataram não terem dificuldades com as atividades remotas. Conjecturamos que a desigualdade
social e/ou tecnológica/digital contribui significativamente para a falta de acesso dos questionários, como
também, as devolutivas pelos alunos das atividades remotas enviadas pelas escolas.
ABSTRACT
The present work aims to analyze the students' adherence to remote activities in the pandemic period in
three public elementary and high schools in Ceará, Paraíba and Rio Grande do Norte. We used a
quantitative research, with a sample of 235 students, through a questionnaire with 05 objective and 04
subjective questions elaborated in GoogleDocs and sent to students through the Google Classroom (CE and
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Corpoconsciência, Cuiabá-MT, vol. 24, n. 2, p. 57-70, mai./ ago., 2020
ISSN 1517-6096 – ISSNe 2178-5945
Silva, A. J. F. da, Pereira, B. K. M., Oliveira, J. A. M. de,
Surdi, A. C. e Araújo, A. C. de
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PB) or Whatsapp (RN) platform. The research findings were as follows: of the 823 students who received the
questionnaire, only 235 (29%) answered, if we analyze by state, we will have: CE (22%); RN (41%); PB
(24%). Of those 235 who responded, 149 (66.8%) reported not having difficulties with remote activities. We
conjecture that social and / or technological / digital inequality contributes significantly to the lack of access to
questionnaires, as well as the feedback received by students from remote activities sent by schools.
RESUMEN
El presente trabajo tiene como objetivo analizar la adherencia de los estudiantes a actividades remotas en el
período pandémico en tres escuelas públicas primarias y secundarias en Ceará, Paraíba y Rio Grande do
Norte. Utilizamos una investigación cuantitativa, con una muestra de 235 estudiantes, a través de un
cuestionario con 05 preguntas objetivas y 04 preguntas subjetivas elaboradas en GoogleDocs y enviadas a
los estudiantes a través de Google Classroom (CE y PB) o la plataforma Whatsapp (RN). Los resultados de
la investigación fueron los siguientes: de los 823 estudiantes que recibieron el cuestionario, solo 235 (29%)
respondieron, si analizamos por estado, tendremos: CE (22%); RN (41%); PB (24%). De los 235 que
respondieron, 149 (66.8%) informaron no tener dificultades con las actividades remotas. Conjeturamos que
la desigualdad social y / o tecnológica / digital contribuye significativamente a la falta de acceso a los
cuestionarios, así como a la retroalimentación recibida por los estudiantes de las actividades remotas
enviadas por las escuelas.
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A adesão dos alunos às atividades remotas durante a pandemia:
realidades da educação física escolar
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O questionário foi enviado aos alunos de possuem uma conta nesta plataforma. Em Pau
diferentes formas, de acordo com cada rede de dos Ferros a estratégias de envio dos
ensino. O município de Fortaleza e Itaporanga questionários foi por meio do Whatsapp das
utilizaram a plataforma do Google Classroom no turmas da escola, disponibilizando o link do
encaminhamento das questões de pesquisa. Essa formulário ao acesso dos alunos. Logo a seguir,
ferramenta tecnológica é o meio oficial da encontra-se um quadro que sintetiza amostra,
Secretária de Educação dos respectivos estados local da pesquisa e maneira do envio do
durante a Pandemia, ou seja, todos os estudantes formulário:
Entretanto, para analisarmos o nível de alunos, enquanto uma atividade a ser realizada,
adesão dos alunos as aulas (atividades) remotas, com o prazo de uma semana, desvelando uma
se faz necessário perscrutar tanto os dados baixa adesão às aulas (atividades) remotas:
expressos formalmente através do questionário, apenas 235 (29%) responderam o questionário
como também os dados implícitos, ou seja, o que valia como atividade da semana. Analisado
quantitativo de alunos que não responderam ao os dados individualmente, por estado, o
questionário – seja por não terem acesso as percentual de adesão continua baixo, com uma
tecnologias necessárias, por falta de variação mais significativa no estado do Rio
conhecimentos técnicos ou mesmo porque Grande do Norte, a saber: Ceará (22%); Rio
optaram em não participar. Grande do Norte (41%); Paraíba (24%).
Dessa forma, podemos apontar com mais Outros fatores nos chamam atenção e se faz
fidedignidade o nível de adesão dos alunos as necessário apontar nesse estudo. Nos estados do
aulas (atividades) remotas, visto que o Ceará e Paraíba, o cadastro dos alunos no
questionário de pesquisa foi enviado para 823 Classroom, plataforma da Google utilizada por
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ambos os estados, foi realizado pela escola e/ou postado nos grupos, uma vez que o cadastro nos
gerência de ensino do respectivo estado a partir grupos se faz pelo número particular do aluno
da criação de e-mails institucionais, tanto para e/ou responsável.
alunos quanto para professores. Dito isto, avaliar Apesar da baixa adesão as aulas (atividades)
a adesão dos alunos às aulas (atividades) remotas remotas, o que podemos inferir através dos dados
pelo quantitativo de alunos cadastrados na coletados? Quais as reais dificuldades que o
plataforma, no mínimo, se torna um dado alunado tem enfrentado?
infundado e superfaturado, visto que esses Buscando responder tais questionamentos,
alunos, apesar de estarem cadastrados na referida foi perguntado aos alunos: você tem enfrentado
plataforma, podem não estar acessando a mesma. alguma dificuldade no acesso ao conteúdo
Já quando analisamos o nível de adesão dos disponibilizado pela escola?
alunos as aulas (atividades) remotas do estado do Como podemos conferir na figura a seguir,
Rio Grande do Norte, podemos observar quase o tivemos um número expressivo de alunos que
dobro de alunos engajados nesse processo. relataram não terem enfrentado dificuldades
Possivelmente ocasionado pela escolha da frente às demandas solicitadas pela escola. Ou
plataforma adotada pela escola (Whatsapp), que seja, dos 235 alunos que responderam o
é largamente utilizado por pais e alunos, e reflete questionário, 149 (66,8%) relataram não terem
com exatidão o número de alunos que receberam dificuldades.
o questionário de pesquisa através do link
Figura 3 – Você tem enfrentado alguma dificuldade no acesso ao conteúdo disponibilizado pela
escola?
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Portanto, com o advento da cultura digital nos faz ver que, apesar das dificuldades postas,
surge a desigualdade tecnológica/digital, que no alguns alunos estão se esforçando e lutando para
Brasil, que de acordo com Santos (2006), progredir na sua vida acadêmica, haja vista que
compartilha as mesmas causas da desigualdade mesmo sem acesso à internet em casa e/ou
social: concentração de renda e latifúndio. equipamentos tecnológicos para acessá-la, estão
Segundo Almeida e colaboradores (2005) o conseguindo envolver-se nesse processo. Fato
processo de exclusão tecnológica/digital baliza- que permite aos professores continuarem nas
se em três pilares: instrumental (indivíduos que suas ações pedagógicas, utilizando princípios
têm acesso/conectividade, mas não sabem usar); reflexivos, críticos e emancipatórios.
econômica (indivíduos que não têm acesso aos Outro ponto que merece reflexão
dispositivos e/ou a conectividade) e geográfica relaciona-se aos conhecimentos/habilidades
(indivíduos que residem numa região que não básicas necessárias a subsistência nessa
tem cobertura de conectividade que lhes conjuntura social, visto que 25 (10,64%) relaram
permitem acessar conteúdos e interagir). terem dificuldades para acessar o material
Segundo Heinsfeld e Pischetola (2017, p. didático disponibilizado pela escola; e 08
1352), a cultura digital (3,40%) relataram que não conseguiam enviar o
[...] está relacionada à comunicação e à material de volta para correção pelos professores.
conectividade global, ao acesso e à Vários são os autores que discutem sobre
produção de conteúdo de forma veloz, as habilidades/competências necessárias para a
interconectada, autônoma e mediada atuação enquanto sujeito crítico e autônomo na
pelo digital [...]. A cultura digital se sociedade vigente. Entretanto, segundo Heinsfeld
caracteriza, portanto, pela reestruturação
e Pischetola (2017, p. 1357):
da sociedade, oportunizada pela
Parece haver consenso entre os
conectividade, emergindo
especialistas no que diz respeito à tônica
transversalidade, descentralização e
dessas habilidades, que gira em torno do
interatividade.
desenvolvimento do pensamento crítico,
Nessa perspectiva, esse regime especial da habilidade de solução de problemas,
adotado pela educação brasileira fez ressaltar a do entendimento e da apropriação do
desigualdade social existente no país, bem como funcionamento das redes colaborativas,
a importância da educação para ruptura do status em especial das possibilidades da
quo, que gera subserviência e exploração das inteligência coletiva, da adaptabilidade e
classes sociais mais vulneráveis. Assim como da resiliência, da criatividade, da
curiosidade, da iniciativa e do
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os problemas existenciais dos cidadãos dos ‘métrica’ para avaliação (quantitativa) em larga
Estados-nações” (BAUMAN, 2007, p. 8). escala do rendimento escolar dos estudantes, de
Refletindo essa análise sobre a terceirização modo a facilitar a ‘terceirização’ das escolas
do setor educacional, em 2018 foi aprovado e públicas”.
sancionado a versão final da Base Nacional Na última questão objetiva foi realizada a
Comum Curricular (BNCC) sob o ideal de seguinte pergunta: Qual sua opinião sobre essas
promover igualdade no acesso escolar. aulas remotas? Tivemos os resultados da
Entretanto, segundo Betti (2018, p. 156), a pesquisa de acordo com a figura a seguir:
BNCC visa “[...] o estabelecimento de uma
aluno ocorre quando os mesmos não têm acesso questionário não têm acesso às tecnologias e/ ou
ou conectividade, mas sabem usar. Por outro conhecimentos técnicos.
lado, quando os alunos moram em regiões que Notamos que a utilização do Whatsapp
não possuem cobertura de conectividade que lhes como forma de envio dos questionários da
permitem acessar os conteúdos e interagir ou não pesquisa para os alunos foi o dobro comparada a
tem condições financeiras para possuir um plataforma da Google Classroom. Isso ocorre por
dispositivo e/ou conectividade, mesmo sabendo causa da maior familiarização dos alunos,
manusear o básico. Então, a exclusão do professores e pais com esse aplicativo que não
processo de ensino-aprendizagem está presente possui uma única função de interatividade,
na maioria dos alunos das escolas públicas diferente da plataforma da Google Classroom
pesquisadas. que é destinada para fins educativos.
Percebemos como fator limitante desse Portanto, se faz necessário que novos
estudo, a falta de confirmação por grande parte estudos acerca do tema sejam desenvolvidos para
dos alunos se estão preparados para um “ensino” melhor entender a relação existente entre os
remoto, no que corresponde ao acesso as alunos, os professores e o acesso as TDICs, bem
tecnologias e conhecimentos técnicos como as particularidades relacionadas ao ensino
necessários. Da mesma forma que não podemos remoto. Seja ele em situações emergenciais,
afirmar que os alunos que não responderam ao como a que estamos vivendo, ou de maneira
estratégias de ensino no futuro.
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Silva, A. J. F. da, Pereira, B. K. M., Oliveira, J. A. M. de,
Surdi, A. C. e Araújo, A. C. de
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Dados do autor:
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440, Brasil
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