Poder de Polícia: conceito, pressupostos, características, atributos, delegabilidade.
Rogério Rodrigues ()
Para que o Estado atue na concretização dos anseios da sociedade, vale-se do
princípio da supremacia do interesse público. Nessa relação jurídico-administrativa estabelecida entre a Administração Pública e seus administrados são necessários mecanismos que permitam ao Estado sobrepor-se ao particular de forma a fazer valer o seu ius imperium, sempre com vistas ao atingimento dos interesses da coletividade. Esses mecanismos são qualificados como verdadeiros poderes especiais, positivados no âmbito do Direito Público.
Em eventuais confrontos entre os interesses públicos e privados, faz-se
necessário que a Administração Pública imponha restrições às intenções dos particulares, sempre de forma motivada e justificada, objetivando a proteção aos interesses públicos e possibilitando o desempenho de sua missão institucional. Nos casos de interferência em interesse privados ou restrição de direitos individuais, o Poder Público atua no exercício do Poder de Polícia.
A expressão poder de polícia apresenta pelo menos duas acepções. Em sentido
amplo, traz a ideia de ações restritivas a direitos individuais emanadas pelo Estado. Por essa acepção, destaca-se a função legislativa, único meio de se elastecer ou reduzir o perfil de tais direitos, conforme o art. 5º, II, da atual Constituição. Em sentido estrito, porém, traduz-se em atividade administrativa, um poder conferido aos agentes da Administração que lhes permite condicionar a liberdade e a propriedade, nos termos da lei. É o sentido estrito tema inerente ao Direito Administrativo, conforme pondera Carvalho Filho (2020, p. 197). A atribuição do desempenho de tal função é atribuída à polícia administrativa.
O autor supracitado conceitua o Poder de Polícia como “a prerrogativa de direito
público que, calcada na lei, autoriza a Administração Pública a restringir o uso e o gozo da liberdade e da propriedade em favor do interesse da coletividade.” O poder de polícia fundamenta-se, portanto, na promoção dos direitos fundamentais, utilizando-se de suas prerrogativas advindas do princípio da supremacia do interesse público sobre o privado quando da busca da satisfação coletiva, sendo restringido pelo princípio da indisponibilidade do interesse público e, mais diretamente, pelo princípio da legalidade. Tal prerrogativa aparece positivada em nossa Constituição, nos termos do art. 145, II.
Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão
instituir os seguintes tributos: II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição; (BRASIL, 1988)
O Código Tributário Nacional traz a noção de poder de política em seu art. 78:
Art. 78 Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que,
limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. (BRASIL, 1966)
A CF/88 atribuiu a competência para o exercício de polícia administrativa à
pessoa federativa a quem compete a regulamentação da matéria. Em caso de competência concorrente, todavia, o poder de polícia pode ser exercido de forma conjunta entre entes federativos diversos, na forma de convênios e consórcios públicos.
É preciso destacar que o poder de polícia decorre da supremacia geral do Estado
sobre os indivíduos, independente de um vínculo jurídico específico com a Administração. Em outra senda, a existência de um vínculo especial entre a Administração e o administrado da ensejo à supremacia especial, tratada no âmbito do poder disciplinar.
Ao poder de polícia exercido pelas pessoas políticas da federação através de leis
e de atos administrativos é admitido o adjetivo de originário. Porém, as atividades administrativas e serviços públicos não são sempre executados por seus agentes e órgão internos. Várias destas atividades são executadas por pessoas administrativas ligadas ao Estado, que lhes dá suporte jurídico para desempenhar funções públicas via delegação.