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Engenharia Metalúrgica
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
660 pag.
G eorge E . D ie te r
P r o fe s s o r o f E n g in e e r in g
C a r n e g ie - M e llo n U n iv e r s ity
A n to n io S e r g io d e S ou sa e S ilv a , M .S c .
L u iz H e n r iq u e d e A lm e id a , M .S c .
P a u lo E m ílio V a la d ã o d e M ir a n d a , M .S c .
P r o fe s s o r e s do P rogram a d e E n g e n h a r ia M e ta lú r g ic a
e d e M a te r ia is da C oordenação dos P rogram as
d e P ó s-G ra d u a ç ã o e m E n g e n h a r ia e d a E s c o la
d e E n g e n h a r ia d a U n iv e r s id a d e F ederal
d o R io d e J a n e ir o
(C O P P E /U F R J -E E /U F R J ).
G U A N A B A R A
DOIS
A= Área, amplitude
a = Distância linear; comprimento de trinca
ao = Espaçamento interatômico
B= Constante; espessura do corpo de prova
b = Largura ou amplitude
b= Vetor de Burgers de uma discordância
c= Constante geral; calor específico
cu = Coeficientes elásticos
c = Comprimento da trinca de Griffith
D= Diâmetro de grão
E= M ódulo de elasticidade para carregamento axial (módu]o de Young)
e = Deformação linear convencional ou de engenharia
exp = Base dos logaritmos neperianos (= 2,718)
F= Força por unidade de comprimento em uma linha de discordância
G= M ódulo de elasticidade em cizalhamento (módulo de rigidez)
Cf}= Força de extensão da trinca
H= Energia de ativação
h = Distância, geralmente na direção da espessura
( h ,k ,l ) = Índices de M iller de um plano cristalográfico
I = M omento de inércia
J = 1nvariante da tensão desvio; momento de inércia polar
K= Coeficiente de resistência
Kf= Fator de entalhe de fadiga
Kt = Fator de concentração de tensôes teórico
K1c Tenacidade à fratura
k Tensão limite de escoamento em cizalhamento puro
L Comprimento
I, m , n Co-senos diretores da normal a um plano
ln = Logaritmo neperiano
log = Logaritmo na base 10
MB= M omento f1etor
Mr= M omento torsor, torque
m= Sensibilidade à taxa de deformação
N= Número de ciclos de tensão ou vibração
M= Coeficiente de encruamento
M' = Constante geral em termo exponencial
p= Carga ou força externa
F u n d a m e n to s d e M e c â n ic a
A resistência dos materiais é parte da ciência que lida com a relação entre as forças
internas, a deformação e as cargas externas. O primeiro passo para o método de aná-
lise mais comum utilizado em resistência dos materiais consiste em se admitir que o
elemento está em equilíbrio. As equações do equilíbrio estático são aplicadas às forças
que atuam em alguma parte do corpo para que se obtenha uma relação entre as forças
externas atuando no elemento e as forças internas que resistem à ação das externas. É
necessário transformar as forças internas resistentes em externas, uma vez que as
equações de equilíbrio devem ser expi-essas em termos de forças atuando externa-
mente ao corpo. Isto pode ser conseguido passando-se um plano através do corpo.
pelo ponto de interesse. A parte do corpo situada em um dos lados do plano secante é
removida e substituída pelas forças que ela exercia sobre a região seccionada da outra
uma certa área, de maneira que a força interna é a integral da tensão vezes a área
diferencial sobre a qual ela atua. Para que se possa calcular esta integral deve·se co-
nhecer a distribuição da tensão sobre a área do plano secante. A distribuição de tensão
é obtida observando-se e medindo-se a distribuição de deformação no elemento, visto
que a tensão não pode ser fisicamente medida. Entretanto, já que para pequenas de-
formações a tensão é proporcional às deformações envolvidas na maioria dos traba-
lhos, a determinação da distribuição de deformação fornece a distribuição de tensão.
Substitui-se, então. a expressão para tensão nas equações de equilíbrio e resolve-se
para tensão em termos das cargas e dimensões do elemento.
As hipóteses importantes em resistência dos materiais são que o corpo que está
sendo analisado é contínuo, homogêneo e isotrópico. Um c o r p o c o n tín u o é aquele que
não possui cavidades ou espaços vazios de qualquer espécie. Um corpo é h o m o g ê n e o
se possui propriedades idênticas em todos os pontos. É considerado is o tr ó p ic o com
relação a alguma propriedade se esta não varia com a direção ou a orientação. Uma
propriedade que varia com a orientação com relação a algum sistema de eixos é deno-
minada o n is o tr ó p ic a .
Enquanto materiais comuns na engenharia como aço, ferro fundido e alumínio
satisfazem aparentemente estas condições se observados macroscopicamente, não
apresentam qualquer homogeneidade ou características isotrópicas quando vistos atra-
vés de um microscópio. A maioria dos metais comuns na engenharia é constituída
de mais de uma fase com propriedades mecânicas variadas, apresentando-se heterogê-
neos numa microescala. Além disso, mesmo um metal monofásico possuirá geralmente
segregações químicas e, por conseguinte, as propriedades não serão idênticas a cada
ponto. Os metais são constituídos de um agregado de grãos cristalinos, possuindo pro-
priedades variadas em direções cristalográficas diferentes. A razão pela qual as equa-
ções da resistência dos materiais descrevem o comportamento de metais reais é que
geralmente os grãos cristalinos são de tamanho tão reduzido que em uma amostra. com
um certo volume macroscópico, o material é estatisticamente homogêneo e isotrópico.
As propriedades mecânicas podem, entretanto, tornar-se anisotrópicas em uma ma-
croescala no caso de metais severamente deformados numa certa direção, como na
laminação ou no forjamento. Os materiais compostos reforçados com fibras e os mo-
nocristais constituem outros exemplos de propriedades anisotrópicas. Uma desconti-
nuidade (estrutural) pode ser encontrada em peças fundidas porosas ou naquelas pro-
duzidas por metalurgia do pó e, em nível atômico. em defeitos tais como vazios e
discordâncias.
A experiência mostra que todos os materiais sólidos podem ser deformados quando
submetidos a uma carga externa e que. além disto. até um certo limite de cargas. o
sólido recuperará suas dimensões originais quando a carga for retirada. Esta recupera-
ção das dimensões originais de um corpo deformado quando se retira a carga aplicada
é denominada c o m p o r ta llle n to I 'lá s tic o . Ao valor limite a partir do qual o material não
se comporta mais elasticamente denomina-se lim ite e lá s tic o . Se excedido o limite elás-
tico, o corpo apresentará uma deformação permanente após a retirada da carga apli-
cada. Define-se, então, como d l'fo r llw ç â o p lá s tic a aquela presente em um corpo que
está permanentemente deformado .
.Para a maioria dos materiais a deformação é proporcional à carga. se esta não
IPara as nossas finalidades. [ < 'lI s â " é definida como força por unidade de área. A deformação é definida como a
variação de comprimento por unidade de comprimento. Definições mais completas serão dadas posteriormente.
8 ó -L L - Lo
e = -= -= -- ( 1 .1 )
Lo Lo Lo
P = f (j dA ( 1.2)
Fig. 1.1 Barra cilíndrica sujeita a carga Fig. 1.2 Diagrama de corpo livre para a
axial. F ig . I . \ .
P
(J=-
A
(J
- = E = constante (1.4)
e
+N. do T. Estas unidades são utilizadas apenas nos países de língua inglesa; entretanto, atualmente estão
convergindo para O sistema métrico internacionaL Em outras partes do livro será utilizada a terminologia lb l
pol' em vez de psi.
Os materiais submetidos a uma carga podem ser classificados quanto ao seu compor-
tamento mecânico em dúcteis ou frágeis, dependendo da sua habilidade de suportar ou
nào uma deformação plástica. A Fig. 1.3 é uma ilustração da curva tensão-deformação
de uni material dúctil. Um material completamente frágil se romperia próximo ao li-
mite elástico (Fig. l.4a), ao passo que um llaterial frágil, como o ferro fundido branco,
suportaria alguma deformação plástica (Fig. 1.4&). Uma ductilidade adequada é um
fator de importância em engenharia, pois permite ao material redistribuir tensões loca-
lizadas. Se as tensões localizadas em entalhes ou outros concentradores de tensão
acidentais não precisam ser considerados, pode-se projetar em termos de situações
estáticas com base em tensões médias. Entretanto, as tensões localizadas em materiais
frágeis continuam a aumentar se não existe um escoamento localizado, até que e
desenvolvam trincas em um ou mais pontos de concentração de tensão. que se propa-
gam rapidamente por toda a seção. Em um material frágil, mesmo não havendo con-
centradores de tensão, ainda assim a fratura ocorrerá inesperadamente, visto que a
tensão de escoamento e o limite de resistência à tração são praticamente idênticos.
É importante ressaltar que a fragilidade não é uma propriedade absoluta de um
metal. O tungstênio. por exemplo, é frágil à temperatura ambiente, porém se comporta
de maneira dúctil a temperaturas elevadas. Um metal frágil em tração pode apresentar-
se dúctil em compressão hidrostática. Além disto. um metal que seja dúctil em tração à
temperatura ambiente poderá tornar-se frágil na eventualidade de possuir entalhes ou
elementos fragilizantes tal como o hidrogênio ou Ser ensaiado a baixa temperatura ou a
altas taxas de carregamento.
0 "0
O" =-
W No
A tensão é definida como força por unidade de área. Na Seção 1.4, considerou-se que
a tensão era uniformemente distribuída sobre a área da seção reta do componente,
entretanto, em geral isto não ocorre. A Fig. 1.5a representa um corpo em equilíbrio
sob a ação das forças externas P " P 2 •... , P " . Existem dois tipos de forças externas
que podem atuar sobre um corpo: forças superficiais e forças de corpo. As forças
distribuídas sobre a supelfície do corpo. tais como a força hidrostática ou a pressão
exercida por um corpo sobre o outro, são denominadas fiJ r ç a s s lI p l'r fic ia is . As forças
distribuídas sobre o volume de um corpo, tais como forças gravitacional, magnética ou
de inércia (para um corpo em movimento). são denominadasforÇ"as d I' c o r p o . Os dois
tipos mais comuns de forças de corpo encontradas na engenharia são as forças centrí-
Fig. 1.5 (a ) Corpo em equilíbrio sob a ação das forças externas P I' .... P 5: (b ) forças atuantes na
parte 2.
. I1 P
ltm - = a (1 .6 )
âA~O I1 A
P
a = - cos 8 ( 1 .7 )
A
P
r = -sen8 (1.8)
A
Esta tensão cisalhante pode ainda ser resolvida em componentes paralelas às direções
x e." do plano.
P
r = A sen e sen 4>
Desta forma, um plano pode ter. em geral, uma tensão normal e duas tensões cisalhan-
tes atuando sobre ele.
Na Seção 1.4, a deformação linear média foi definida como a razão entre a variação de
comprimento de uma certa dimensão e o seu comprimento inicial.
fJ t:..L L - Lo
e=-=-=---
Lo Lo Lo
f
f
B k -,
I
f
I I
I I
a
')I = - = tan (J = (J
h
Crandall, S. H., and N. C. Dahl (eds.): "An Introduction to the Mechanics of Solids,"
McGraw-Hill Book Company, New York, 1959.
Drucker, D. C.: "Introduction to Mechanics of Deformable Solids," McGraw-Hill
Book Company, New York, 1967.
Freudenthal, A.: "Mechanics of Solids," John Wiley & Sons, Inc., New York, 1966.
Gillam, E.: "MateriaIs Under Stress," Butterworths & Co. (Publishers), Ltd., London,
1969.
Housner, G. W., and T. Vreeland: "The Analysis of Stress and Deformation," The
Macmillan..Company, New York, 1966.
Polakowski, N. H., and E. J. Ripling: "Strength and Structure of Engineering Materiais,"
Prentice-Hall, Inc., Englewood Cliffs, N.J., 1964.
Como foi descrito na Seção 1.8, em geral é mais conveniente resolver as tensões
atuantes em um ponto em componentes normais e cisalhantes. Freqüentemente as
componentes das tensões cisalhantes formam ângulos arbitrários com os eixos coorde-
nados, sendo conveniente, então, rebatê-Ias novamente em duas outras componentes.
O caso geral é mostrado na Fig. 2.1. As tensões atuando perpendicularmente às faces
do cubo elementar são identificadas pelo subíndice, que identifica também a direção na
qual a tensão atua. Isto é, (J x é a tensão normal que atua na direção x . Por convenção,
tensões normais de tração são aquelas cujos valores são maiores que zero, sendo com-
pressivas as que possuem valores menores que zero. 1I0das as tensões normais da Fig.
2.1 são trativas.
(J y (J 2 2 Y y yy P yy
(J z (J 33 Zz zz pzz
'x y (J 1 2 Xy xy P xy
'y z (J 23 Yz yz P yz
'z x ( J 31 Zx fi pzx
+y +y
áreas das faces do cubo unitário são pequenas o bastante para que a variação de ten-
sões seja desprezada, pode-se então mostrar que, tomando-se a soma dos momentos
das forças em relação ao eixo z , T = Tv x .
X ))
Sx = O " x c o s ( ) + 'x y s e n ( )
S y = O " y s e n( ) + 'x y c o s ()
O "x ' = Sx c o s () + Sy se n ()
O "x' = O "Xc o s2 () + O " y s e n 2 ( ) + 2 ,x y se n () c o s () ( 2 .2 )
m a s , s e n ( ( ) + n /2 ) = c o s () ecos ( ( ) + n /2 ) = -se n ()
cos 2 () = c _ o _ s_ 2 _ { )_ + _ 1
2
2 () 1 - cos 2{)
sen = ------
2
2 se n () c o s () = sen 2{)
cos2 () - sen 2 () = cos 2{)
a y -a "
't " " .y . = - - 2 - sen 28 + 't " " y cos 28 ( 2 .7 )
t u , = 2 .0 0 0 Ib /p o l'
~t
T P ----!-
C 7j 1 u , . : ~ 6 0 0 0 Ib /p o L '
I~ U";ru- 2.000
----r-- Ib /p o L '
" 1 2 .0 0 0 tO)-
1 0 .0 0 0
o 8 .0 0 0
.e-
fl
,:
6 .0 0 0
"
c.,
.t::
Oi 4 .0 0 0
'" o
" .. ,
"ü
~~ I-
2 .0 0 0
Oi
E
oc :
o
O H io
I :
'~
" ,.,::l
c:
I-
o
: 0, graus
o".
E
o
r- 4 5 °----+ -4 5 °--j
()
I_ 90° ·1
- 6 .0 0 0
- 8 .0 0 0
T x ic o S 2 8 -se n
2
8) + (<Jy - o -x )se n 8 cos 8 = O
ta n 2 8 = ~ ~
o-x-<Jy
J á q u e ta n 2 8 = ta n (7 1 " + 2 8 ), a E q . ( 2 .8 ) te m d u a s ra íz e s ; 8, e 82 = 8, + 1 1 7 1 " /2 . E s t a s
ra íz e s d e fin e m d o is p la n o s m u t u a m e n te p e rp e n d ic u la re s onde não o c o rre c is a lh a -
m e n to .
A E q . ( 2 .5 ) fo rn e c e rá a s te n s õ e s p rin c ip a is quando o s v a lo re s de cos 28 e sen 28
( d a E q . ( 2 .8 ) ) fo re m n e la s u b s titu íd o s . E s te s v a lo re s d e c o s 2 8 e s e n 2 0 s ã o o b tid o s da
E q . ( 2 .8 ) a t r a v é s d a s re la ç õ e s d e P itá g o ra s :
(J x + (J y (J x -(J y
(J x ' - --2 - = --2 - cos 2 8 + 'x y s e n 28
(J y -(J x
'y 'x ' = --2 - se n 2 8 + 'x y cos 2 8
(J x
--2 -
+ (J y ) 2
+ 2
=
((J x
--2 -
- (Jy ) 2
+ 2
( (J x ' - 'x 'y ' 'x y
--
t TyX= TXY
~jD r~CTx
~t
e m re la ç ã o a q u a lq u e r p o n to n o e le m e n to físic o é re p re se n ta d a a c im a d o e ix o h o riz o n -
ta l d o c írc u lo d e M o h r. U m p o n to n o c írc u lo d e M o h r fo rn e c e a d ire ç ã o e m a g n itu d e
d a s te n sõ e s n o rm a l e c isa lh a n te e m q u a lq u e r p la n o d o e le m e n to físic o .
A F ig . 2 . 6 0 ilu stra o d e se n h o e a u tiliz a ç ã o d o c írc u lo d e M o h r p a ra o e sta d o d e
te n sõ e s e sp e c ífic o m o stra d o a c im a , à e sq u e rd a . A s te n sõ e s n o rm a is sã o re p re se n ta d a s
a o lo n g o d o e ix o d o s x e a s te n sõ e s c isa lh a n te s a o lo n g o d o e ix o d o s y . A s te n sõ e s
c o n tid a s n o s p la n o s n o rm a is a o s e ix o s x e y sã o re p re se n ta d a s c o m o p o n to s A e B . A
in te rse ç ã o d a lin h a AB c o m o e ix o d o s U' d e te rm in a o c e n tro d o c írc u lo . N o s p o n to s D
e E a te n sã o c isa lh a n te é n u la , a ssim , e ste s p o n to s re p re se n ta m o s v a lo re s d a s te n sõ e s
p rin c ip a is. O â n g u lo e n tre U' x e U'l n o c írc u lo d e M o h r é 2 8 . Já q u e e ste â n g u lo é
m e d id o n o se n tid o c o n trá rio a o d a ro ta ç ã o d o s p o n te iro s d o re ló g io , n o e le m e n to físic o
U', a tu a se g u n d o u m a d ire ç ã o q u e fa z c o m o e ix o d o s x u m â n g u lo 8 ta m b é m n o se n tid o
a n ti-h o rá rio (v e r e sq u e m a su p e rio r à d ire ita ). A s te n sõ e s e m q u a lq u e r o u tro p la n o c u ja
n o rm a l fa ç a u m â n g u lo 8 c o m o e ix o d o s x p o d e ria m se r e n c o n tra d a s a tra v é s d o c írc u lo
d e M o h r d a m e sm a m a n e ira .
U m m é to d o ' b a sta n te sim p le s d e se d e te rm in a r a s te n sõ e s e m q u a lq u e r p la n o
a tra v é s d o c írc u lo d e M o h r c o n siste n a d e te rm in a ç ã o d o p o n to d e n o m in a d o p ó l o d a s
relação ao eixo dos x, em vez de 2(). Isto se deve ao fato de que a rotação angular em
torno do pólo é a metade da rotação angular em torno do centro do círculo. Assim, a
rotação angular em torno do pólo das normais é exatamente a mesma do elemento fí-
sico. Por exemplo. se quisermos conhecer as tensões que atuam num plano cuja nor-
mal é de 30° com no sentido contrário ao da rotaçâo dos ponteiros do relógio,
(T I
Sx = a I Sy = am
I I
(J3 - ((Jx + (Jv + (Jz)(J2 + ((Jx(Jv + (Jv(Jz + (Jx(Jz - 'x/ - 'v/ - 'x/)(J
As três raízes da Eq. (2.14) são as três tensões principais a I , a2 e a3' Para determinar
a direção, com relação aos eixos originais x, y e z, na qual as tensões principais atuam
é necessário substituir a" a2 e a3, uma de cada vez, nas três equações da Eq. (2.13).
As equações resultantes devem ser resolvidas simultaneamente para I , 111 e n, com a
ajuda da relação auxiliar 1 2 + 1112 + n 2= I.
Verifique que existem três combinações de componentes de tensão na Eq. (2.14)
que constituem os coeficientes da equação cúbica. Já que os valores destes coeficien-
tes determinam as tensões principais, eles obviamente não variam com mudanças nos
eixos coordenados. Assim, eles são coeficientes invariantes.
o primeiro invariante de tensão, I" foi visto anteriormente para o estado bidimensio-
nal de tensões. Fica, assim, proposta a relação bastante útil de· que a soma das tensões
normais para qualquer orientação no sistema coordenado é igual à soma das tensões
normais para qualquer outra orientação. Por exemplo,
Na discussão acima nós desenvolvemos uma equação para a tensão l num plano
oblíquo especial, um plano principal no qual não existe tensão cisalhante. Desenvol-
vamos agora as equações para as tensões normal e cisalhante em q u a lq u e r plano oblí-
quo cuja normal tem co-senos diretores I, m e n com os eixos x, y e z. Poderemos
utilizar a Fig. 2.7 uma vez mais se compreendermos que para esta situação geral a
Sx = (J x l + 'y x m + 'z x n ( 2 .1 7 0 )
(J = (J x 1 2 + (J y m
2
+ (J z n
2
+ 2 ' x y lm + 2 'y z m n + 2 'z x n l
I m n
,
O
-+JI2 -+JI2 'I =
(J 2 -
2
(J 3
+JI
- 2 O +JI2
- '2 = ---
(J I -
2
(J 3
(2 .2 0 )
<.
+JI2
- +- JI2 O '3 =
(J I -
2
(J 2
(T I - (T 2
T3 = -2--
Vários aspectos da análise da tensão, tais como as equações para transformação das
componentes de tensão de um conjunto de eixos coordenados para outro sistema de
coordenadas ou a existência de tensões principais, tornam-se mais simple( quando se
reconhece o fato de que a tensão é um tensor de segunda ordem. Diversas técnicas
para a manipulação dos tensores de segunda ordem não requerem um conhecimento
profundo de cálculo tensorial. Assim, torna-se vantajoso aprender alguma coisa sobre
propriedades dos tensores.
Começaremos considerando a transformação de um vetor (um tensor de primeira
ordem) de um sistema de coordenadas para outro. Considere o vetar S = S/, + 5 2i2 +
5 3 i 3 , estando os vetores unitários i" i 2 , i 3 nas direções Xj, X 2 e X 3 ' (De acordo com a
convenção e por conveniência, ao se trabalhar com quantidades tensoriais os eixos
coordenados serão designados x X 2 , etc., sendo x, equivalente a x, X 2 a .y , etc.) S 10 S 2
I,
onde a 'l é o co-seno diretor entre X 'I e X I> a '2 é o co-seno diretor entre x'J e X2, etc.
Analogamente,
(2 .2 2 c )
S3 = a31S] + a32 S2 + a33 S3
Podemos notar que o primeiro subíndice para cada co-seno diretor em cada uma das
Eqs. (2.22) é o mesmo; assim, estas equações podem ser escritas como
3 3 3
s; = ; L a ljS j S~ = L a2jSj S~ = L a3jSj
j= 1 j= l j= l
3
S; = LaijS/i = 1,2,3) = a j1 S l + aj2S2 + ai3S3
j= 1
A Eq. (2.23) pode ser escrita de maneira ainda mais compacta, utilizando-se a notação
de subíndices de Einstein,
(2.24)
•
A notação de subíndices é uma maneira muito útil de expressar os sistemas de eqoa-
ções de uma forma mais compacta, sendo geralmente utilizada na mecânica do contí-
nuo. A repetição de um subíndice em um mesmo termo, como na Eq. (2.24) (neste
caso o subíndicej). representa um somafório em relação àquele subíndice. Exceto com
indicação contrária, o somatório do outro índice é de I a 3.
No exemplo acima i é um subíndice livre e, na forma expandida, diste uma equa-
ção para cada valor de i. O índice repetido é denominado subíndice de operação, e sua
única finalidade é indicar o somatório. As mesmas três equações seriam obtidas se
uma outra letra fosse utilizada como subíndice de operação, por exemplo, S'j = airS,.
significaria a mesma coisa que a Eq. (2.24).
Tu T I2 T I3
T ij = T 21 T 22 T 23
T 31 T 32 T 33
A ;B ~ = ( a ij A J ( a k IB [)
T i~ = a ij a k l T j[
é dada por
-,'2, X'3
IUma relação mais precisa é N = k". onde N é o número de componenles necessárias para a descrição de um
tensor da n-ésima ordem num espaço de dimensâo k. Para um espaço bidimensional, somenle quatro compo-
nentes sâonecessárias para descrever um tensor de segunda ordem.
+ a k 2 a l1 ( J 2 1 + a k 2 a I2 (J 2 2 + a k 2 a 1 3 (J 2 3
+ a k 3 a l1 ( J 3 1 + a k 3 a Z 2 (J 3 2 + a k 3 a Z 3 (J 3 3
Existirá uma equação similar à (2.27) para cada valor de k e I. Assim, para encontrar a
equação da tensão normal na direção X 'I , seja k = 1 e 1 = 1
+ a 1 3 a l1 ( J 3 1 + a 1 3 a 1 2 (J 3 2 + a 1 3 a I3 (J 3 3
Pode-se verificar que, escrevendo-se esta equação com a simbologia utilizada na Seção
ela se recluzirá à Eq. (2.18).
2 .5 ,
Analogamente, se desejarmos determinar a tensão cisalhante no plano x', na dire-
ção z ', isto é, Tx,z', seja k = 1 e 1 = 3
(J 1 3 = a U a 3 1 ( J ll + aUa32 (J 1 2 + aUa33 (J 1 3
+ a 1 2 a 3 1 (J 2 1 + a 1 2 a 3 2 (J 2 2 + a 1 2 a 3 3 (J 2 3
+ a 1 3 a 3 1 (J 3 1 + a I3 a 3 2 (J 3 2 + a 1 3 a 3 3 (J 3 3
Talvez valha a pena enfatizar novamente que não importa que letras são utiliza-
das como subíndices na notação tensorial. Assim, a transformada de um tensor de
segunda ordem poderia muito bem ser escrita como T'sl = asr/ltqTpq, onde Tp !, são as
componentes nos eixos originais e T ' si são as componentes referidas aos novos eixos.
A lei de transformação para um tensor de terceira ordem é escrita como
A matéria apresentada até agora nesta seção é, na realidade, pouco mais do que
notação tensorial. Ainda assim, já ganhamos um poderoso método resumido para es-
crever as equações da mecânica do contínuo, que são freqüentemente difíceis de serem
manejadas. (O estudante notará que isto facilitará bastante o problema de memorizar
equações.) Aprendemos também uma técnica útil para transformar uma quantidade
tensorial de um conjunto de eixos para outro. Existem apenas alguns fatos adicionais
sobre tensores que precisamos considerar. O estudante interessado em se aprofundar
um pouco mais neste tópico pode consultar algumas obras de aplicações orientadas em
tensores cartesianos1•
Uma quantidade útil na teoria tensorial é o delta de Kronecker, a i} . O delta de
Kronecker é um tensor isotrópico unitário de segunda ordem, ou seja, tem componen-
tes idênticas em qualquer sistema de coordenadas.
I O
6 ij = O I ~ = {I i=j
i# j
O O I O
ções cada, com nove termos. Se multiplicarmos o produto por a,,,1"O este se reduzirá a
um tensor de segunda ordem.
() 1 1 (}12 (}13
() 13 (}23 (}33
onde o subíndice n é usado para denotar que estamos lidando com os ângulos à normal
de um plano oblíquo. Se fazemos com que o plano oblíquo seja um plano principal e a
que leva à equação cúbica (2.14). Os coeficientes desta equação em notação tensorial
são
/1 = (Jii
/2 = t(CTikCT ki - CTii(Jkk)
IA. Nadai, Theory of FlolV alld Fracture of Solids, 2" ed., pp. 96-98, McGraw-Hill Book Company, New
York, 1950.
Fig. 2.11 Círculo de Mohr (tridimensional) para vários estados de tensões. ( a ) Tração uniaxiaJ;
compressão uniaxial;
(b ) (c ) tração biaxial; tração triaxial (desigual); ( e ) tração uniaxial mais
(d )
compressão biaxial.
~ 'Y I
1, ,:
,
"" !
z + W""" iY + v
, ,
, ,
--------------~
X+ U
OU
dx + -dx - dx
!J.L A'B' - AB OX
e = -= -----
x L AB OX
Para este caso unidimensional o deslocamento é dado por t i = e ~,r. Para que isto
seja generalizado para três dimensões, cada uma das componentes do deslocamento
deve ser relacionada linearmente com cada uma das três coordenadas iniciais do
ponto.
(2.35)
ow
ezz =-
oz
Entretanto, os outros seis coeficientes necessitam de maiores considerações.
Considere um elemento no plano x y que foi distorcido devido à atuação de tensões
isalhantes (Fig. 2.14). O elemento sofreu uma distorção angular. O deslocamento dos
pontos ao longo da linha A D é paralelo ao eixo dos x, entretanto esta componente do
deslocamento aumenta em proporção à distância a partir da origem, ao longo do eixo
I exy I
I
,
I
I I
I
! _ - -a-'
I _ ---------- eyx
DD' au
e = --= -
xy DA ay
e
BB'
= --= -
av
yx AB OX
au au ou
ax oy az
ex x ex y ex z
eij = ey x ey y ey z
ov av ov (2.39)
ez x ez y ez z
ox ay oz
aw aw ow
-
ax oy oz
Em geral, as componentes do deslocamento, tais como etc., produzem eXY, eyX '
tanto deformação cisalhante quanto rotação do corpo rígido. A Fig. 2.15 ilustra diver-
sos casos. Já que precisamos identificar aquela parcela do deslocamento que resulta
em deformação, devemos subdividir o tensor-deslocamento em uma contribuição da
deformação e outra da rotação. Felizmente, um postulado básico da teoria tensorial
afirma que qualquer tensor de segunda ordem pode ser decomposto em um tensor
simétrico e outro anti-simétrico.
(2 .4 0 )
(2.41 )
1 U i uJ
"C"J' =2 (aax + aax J
.
,
',)
e é denominado tensor-deformação
_ 1(au; _ auj)
e é denominado tensor-rotação
w iJ . =
2 aXj OXi
eyx = O
---7
------ I
---7
I
I
I
I
-1
, I ,
,
I
I
I
I
I
! ~ Y /'....
I I
"
I I
I
I
I
I
I
,
I
I I
I
I I
""
I
I I
I
x x x
--_J
{ai (b l (c )
Fig. 2.15 Alguns exemplos de deslocamento com cisalhamento e rotação. ( a ) Cisalhamento puro
sem rotação; ( b ) rotação pura sem cisalhamento; (c ) cisalhamento simples.
~ eu + aw) ~ ev + aw) aw
2 az ax 2 az ay az
o ~eu _ aV) ~ eu _ aw)
2 ay ax 2 az ax
Wx x wx y Wx z
~ ew _ au) ~ ew _ av) o
2 ax ôz 2 ay az
Pode-se notar que Sij é um tensor simétrico já que Sij = Sj;, isto é, SI!! = SIZ> etc. Wij é
um tensor anti-simétrico uma vez que Wij = -Wj;, isto é, W;r.v = -W,IJI' Se Wij = O , a de-
formação é denominada irrotacional.
Substitui ndo-se a Eq. (2.41) na Eq. (2.35), obtêm-se as equações genéricas do des-
locamento
Na Seção 1.9, a deformação cisalhante )' foi definida como a variação angular ,
total de um ângulo reto. Referindo-se à Fig. 2.15a, )' = e I!! + e VI = SI!! = 2 SI!!'
+ SYI
au au
Yxy = ay + ax
aw au
Yxz = ax + az
ôw av
Yyz = ôy + az
Por simplicidade, as equações para deformação, análogas àquelas para tensão, podem
ser escritas diretamente, substituindo-se e por ( J e y/2 por 'T . Assim, a deformação
normal em um plano oblíquo é dada por
/1 = Bx + By + Bz
/ 3-_B xB yBz + l
4YxyYzxYyz
_ l(
4 BxYyz
2 + ByYzx
2 + BzYxy
2)
As direções das deformações principais são obtidas das três equações análogas às Eqs.
(2.13),
lyxz + my yz + 2n(B z - B) = O
Ymax = Y2 = B1 - B3
Y3 = B1 - B2
IPara uma derivação deste ponto ver C. T. Wang, Applied Elaslicily, pp. 2f>.27, McGraw-Hill Book Company,
New York, 1953.
dx dy dz
8x - 8m 8 xy 8 xz
cij = 8 yx 8y - 8m 8 yz
8 zx 8 zy Cz - em
são 10'11 = 1011 - e " " 10'22 = 1022 - e m , 10'33 = 1033 - e m ' Estas deformações apresentam
elongações ou contrações ao longo dos eixos principais que mudam a forma do corpo a
volume constante.
I. Ao longo de um eixo arbitrário X 'X ' traçam-se linhas verticais aa, b b e cc,
correspondentes às deformações ea, eb e eco
2. De qualquer ponto da linha bb (extensômetro do meio) traça-se uma linha DA
fazendo ângulo a com bb e interceptando aa no ponto A. Da mesma forma,
traça-se D e interceptando cc no ponto e .
3. Constrói-se um círculo através de A, e e D. O centro deste círculo é O, de-
terminado pela interseção dos bissetores perpendiculares a e D e A D .
4. Os pontos A , B e e no círculo fornecem os valores de e e y / 2 (medidas atra-
vés do novo eixo dos x que passa por O) para os três extensômetros.
5. Os valores das deformações principais são determinados pela interseção do
círculo com o novo eixo dos x que passa por O. A relação angular de e ] com o
extensômetro a é metade do ângulo A O P no círculo de Mohr ( A O P = 2 0 ) .
'G. Murphy. J . App/. Mech., vol. 12, p. A209. 1945: F. A. McClintock, Proc. Soco Exp. 5tress Ano/., vol. 9.
p. 209. 1951.
2CT
x - CT
y - CT
z
'xy 'xz
3
2CT
y - CT
z - CT
x
a~j = 'yx 'yz
3
2CT z - CT x - CT y
'zx 'zy
3
mações normais nestes mesmos planos. Podemos, então, aplicar o princípio da super-
posição 2 para determinar a deformação produzida por mais de uma componente de
tensão. Por exemplo, a tensão U 'x produz uma defomração normal E x e duas deforma-
ções transversais E = - V E x e E = - v e x o Assim,
y z
D e jim n a ç â o D e jim n a ç ã o D e fo r m a ç ã o
na na na
T ensão
d ir e ç ã o x d ir e ç â o ." d ir e ç ã o z
ax vax vax
ax = --
EX=E
E
,= - - E E
Z E
va, a, va,
a, E x= -7f E=- E z= -E
' E
vaz vaz az
az E x= -7 E
,= - - E ê=-
z E
(J -p 1
K = ~ = -= -
~ ~ fi
M ó d lllo de M ó d u lo de C o e fic ie n te
e la s tic id a d e c is a lh a m e n to de
k g /m m ' (X 1 0 -3) k g /m m ' (X IO -3 ) P o is s o n
1 - 2v
Li = -- 30"
E m
K = O"m = E
Li 3(1 - 2 v )
E
G = --
2(1 + v)
Diversas outras relações podem ser desenvolvidas entre estas quatro constantes elás-
ticas isotrópicas. Por exemplo,
9K 1 - 2 G /3 K
E = --- v=
1 + 3 K /G 2 + 2 G /3 K
G = _ 3 (_ I_ -_ 2 _ v )_ K E
K= ---
2(1 + v) 9 - 3 E /G
1+ v 1 1
E 2G
Yxy = G Txy
Uma vez que para pequenas deformações elásticas não existe ligação entre as expres-
sões para tensão e deformação normais e as equações para tensão e deformação cisa-
Ihantes, é possível inverter as Eqs. 2.64 e 2.65 e resolvê-Ias para tensão em termos de
deformação. Da Eq. (2.64),
E
C Ix + C Iy + C Iz = -- (e x + ey + ez)
1 - 2v
J + \' v
ex = ~ C Ix - E (C I x + C Iy + C Iz)
E vE
C Iij= 1 + v e ij + (1 + v)(I _ 2 v )e k k é 5 ij
A expansão da Eq. (2.73) fornece três equações para tensão normal e seis equações
para tensão cisalhante. A Eq. (2.72) é escrita freqüentemente de maneira mais resu-
mida, tomando-se
vE
-----= )
(1 + v)(I - 2 v ) .
, E, ,
(5 ..
IJ
= --
1 + v
f ; '·
IJ
= 2G e·
IJ
Uma situação típica de tensão plana existe em uma folha fina carregada no plano da
folha ou em um tubo de paredes finas carregado por pressão interna onde não existe
tensão normal a uma superfície livre.
Outra situação importante é a de d e fo r m a ç iio p la n a ( e 3 = O), cuja ocorrência típica
é o caso em que uma das dimensões é muito maior que as outras duas, como em uma
barra longa ou um cilindro com extremidades engastadas. É necessário existir algum
tipo de restrição física para limitar a deformação em uma direção, assim,
Portanto, existe uma tensão mesmo que a deformação seja zero. Substituindo este
valor na Eq. (2.64), obtemos
A Eq. (2.79) descreve a energia de deformação elástica total absorvida pelo elemento.
Uma vez que A d x é o volume do elemento, a e n e r g ia d e d e fo r m a ç ã o p o r u n id a d e de
v o lu m e ou densidade da energia de deformação U o é dada por
Uma expressão para a energia de deformação por unidade de volume expressa so-
mente em termos da tensão e constantes elásticas pode ser obtida substituindo-se as
equações da Lei de Hooke [Eqs. (2.64) e (2.65)] pelas deformações na Eq. (2.82).
I
Uo = 2 E (C 5 x
2
+ C5y
2
+ C5z
2
) - Ev( C5xC5y + C 5yC 5z + C 5xC 5z
)
I 2 2 2
+ 2G ( 'x y + 'x z + 'y z )
avo
- = À~ + 2G e x = C5
x
a ex
d 1 J (u )
p = --
du
onde 1 > ( lI ) é a energia de interação a uma distância l i . Assim, a força em uma ligação
atõmica é função do deslocamento l i e para cada deslocamento existe um valor carac-
terístico da força, P ( u ) . Além disso, a deformação das ligações entre átomos é reversí-
vel, e quando o deslocamento retoma a algum valor inicialul> após ter sido estendido a
U2, a força retoma ao seu valor anterior, P ( u , ) .
A energia de ligação é uma função contínua do deslocamento em um sólido elás-
tico'. Podemos, assim, expressar q ; ( u ) como uma série de Taylor.
1J
1 J (u ) = 1Jo + d- ) u + -I (d-2
21J) li
2 + ...
(
du o 2 d ll o
-s
0+
.'"
~ O
c" _
lEste desenvolvimento segue aquele dado por A. H. Cottrell. The M e c h a llic a l P r o p e r tie s o f M a lte r . pp. 84-85.
John Wiley & Sons. Inc .. New York. 1964.
o coeficiente ( d 1 > /d Il )o
2 Z
é a curvatura da curva energia-distãncia em 1 1 = a o . Por ser
independente de 11, este coeficiente é uma constante e a Eq. (2.89) é equivalente aP =
k ll, que é a Lei de Hooke na sua forma original. Quando a Eq. (2.89) é expressa em
termos de tensão e deformação, o coeficiente é diretamente proporcional à constante
elástica do material e possui o mesmo valor tanto para tração quanto para compressão,
já que é independente do sinal de 11. Mostramos, assim, que a constante elástica é
determinada pela agudeza da curvatura do mínimo na curva energia-distãncia, sendo,
então, uma propriedade básica do material, não variando com tratamento térmico ou
defeito estrutural, embora se espere que diminua com o aumento da temperatura.
Além disso, uma vez que as forças de ligação são fortemente afetadas pela distância
entre os átomos, as constantes elásticas variam com a direção na malha cristalina.
A Lei de Hooke pode ser apresentada de uma maneira geral! como
e ij = S ;jk l (J k l = e j; = S jik l (J k l
S ;jk l = S jik l
Desta forma, devido à simetria dos tensores de tensão e deformação, somente 36 das
componentes do tensor compliância são termos independentes e distintos. O mesmo
acontece com o tensor de rigidez elástica.
1Um excelente livro que lida com as propriedade anisotrópicas dos cristais em notação tensorial é J . F. Nye,
P h y s ic a l P r o p e r tie s
o f C r y s la ls . Oxford University Press, Londres, 1957. Para um tratamento de elasticidade
anisotrópica, ver R. F. S. Hearmon, Ali 1 1 llr o d u e r io ll to A p llie d A llis o tr o p ic E la s tic i/) ', Oxford University
Press. Londres, 1961. Uma discussão razoavelmente concisa mas completa sobre elasticidade cristalina é dada
por S. M. Edelglass. E I I g ille e r illg M a te r ia is 5 c ie llc e , pp. 277-301, The Rona1d Press Company, New York,
1966.
'N.T. Este é um neologismo. Do inglês "compliance".
Estas equações mostram que, em contraste com a situação para um sólido elástico
isotrópico, Eq. (2.72), tanto as deformações normais quanto as cisalhantes podem con-
tribuir para uma tensão normal, quando se trata de um sólido elástico anisotrópico.
Expandindo a Eq. (2.90), podemos expressar as deformações cisalhantes pela de-
formação cisalhante de engenharia y = 2ê, que é mais convencional.
Y23 = 2e23 = 25 2311 (Jll + 25 2322 (J22 + 25 2333 (J33 + 452323 (J23
+ 452313 (J13 + 45 2312 (J12
Comparando-se os coeficientes das Eqs. (2.92) e (2.94), (2.93) e (2.95), podemos notar
que
C 2322 = C 42 C l122 = C l2
5 1122 = C 12 25 2311 = C 41
tem seis destas onde i = j , mas apenas a metade destas são constantes independentes,
já que C u = C ji•Assim, para o sólido elástico linear anisotrópico geral, existem 30/2 +
6 = 21 constantes elásticas independentes.
x y z
A tensão normal na direção x' deve-se igualar à tensão normal na direção original y. Da Eq.
(2 .9 4 ),
ax'x' = C Ex'x' + C '2 Ey'y' + C '3 E,'z' + C '4 ')Iy'" + C '5 ')Ix'" + C I6 ')Ix'Y'
"
= C11Eyy + C I2 Exx + C '3 Eu - ')Ixz + C '4 C '5 ')Iyz - C '6 ')IXy
a yy = C 21 Exx + C22 Eyy + C23 Eu + C24 ')Iy, + C25 ')Ixz + C26 ')IXY
= C21Exx + C22 Eyy + C23 Eu + C24 ')Iyz + C25 ')IX' + C26 ')Ixy
Fazendo uma comparação desta equação termo a termo, podemos concluir que C ll = C,,; C ,Z =
C 21; C 13 =C 23;C I5 = C 24 e C I4 = C I6 = C 25 = C Z6 = O uma vez que -C I4Yu = C 25YxZ, etc. Da re-
lação av,v, = a xx , obtemos os resultados C ll = C Z2 ; C 12 = C 21; C 23 = C I3 e C I4 = C 25 = O (como
acima); C I5 = C24 = O; C I6 = C 26 = O,já que ~C14Yxz = C 25Yxz, etc.
Utilizando as relações entre tensões cisalhantes, podemos eliminar constantes adicionais.
Assim, Tv'z' = -T xz resulta em C 41 = -C 52 = O; C 42 = -C 51 = O; C 43 = -C 53 = O; C 45 = -C 5 ., = O;
C44 = C55; C46 = C 56 · De Tx,z, = TVz, obtemos que C 46 = -C 56 = O.
Assim, pela rotação de 90° em torno do eixo dos z, encontramos que C ll = C 22; C 12 = C 21;
C I3 = C23; C44 = C55 e que as seguintes constantes são nulas: C 14' C 15, C 16' C24' C25, C26, C 41' C42'
C43, C45, C46' C 51, C52' C 53 , C 54 , C 56 . Considerando agora rotações de 90° em torno dos eixosx ey,
encontraremos que as constantes elásticas para um cristal cúbico obedecem às relações
C Il = C 22 = C 33
C l2 = C 13 = C'3(=C 2I = C31 = C 32)
C 44 = C 55 = C 66
com todas as outras constantes iguais a zero. Desta forma, para a simetria cúbica, a matriz das 36
constantes elásticas se reduz a
o
o
o
C44
o
o
o
C44
o
o
o 1]
Para um cristal cúbico, as 21 constantes se reduzem a somente três constantes
elásticas independentes. Uma matriz de coeficientes similar é verdadeira para as com-
pliâncias elásticas de um metal cúbico. A Tabela 2.2 apresenta alguns valores típicos
destas constantes para metais cúbicos. Observe que as constantes de rigidez elástica
C u não são simplesmente as recíprocas de Su, mas devem ser determinadas pela inver-
são da matriz Su. Para uma estrutura cristalina cúbica,
-S 12
C l2 = ----------
(Sll - Sd(SIl + 2Sd
N° de constantes
independentes
Triclínica
Monoclínica
Ortorrômbica
Tetragonal
Hexagonal
Cúbica
Isotrópica
1
ax = E [O"x - v(O"y + o"z)]
1
i'xz = G 1:xz
1
i'xy = G 1:xy
1 V 1
Sll = - S12 = -- S44 = -
E E G
E 1
G = --= ----
2(1 + v) 2(1/E + v/E)
1 1
G = -= ----
S44 2(Sll - SI2)
S44 = 2(Sll - S12)
C 12 = À constante de Lamé
C ll = 2G + À
C 44 = -!(C 1 1 - Cd
v
x
= WÀJE
2n
x
p
E iso
E iso Trx 2
9c
C o o
[eu
C12
C 1Z
C zz C Z3
13
o o
J]
c - Co13
C Z3 C 33 o o
/j-
o o C 44 o
o o (l o Css
o o o o o
Existe uma matriz análoga para as compliâncias elásticas. Assim, as equações tensão-deformação
para um material ortotrópico são dadas por
Para relacionar a Eq. (2.101) com os módulos elásticos técnicos, consideremos a situação
onde a única tensão é aplicada paralela ao eixo de simetria x.
Relações análogas poderiam ser desenvolvidas, aplicando-se tensões nos eixos y e z . Pode tam-
bém ser mostrado' que vyxEx = VxuEy, etc. Desta forma, as equações constitutivas para um mate-
rial ortotrópico envolvem nove constantes independentes,
,1
1
Yxz = G T xz Yxy = G T xy
xz xy
A teoria matemática da elasticidade requer uma consideração mais detalhada das ten-
sões e deformações em um componente carregado do que é norm:\lmente admitido
pelos métodos comuns de análise de resistência dos materiais. As soluções atingidas
pela resistência dos materiais são geralmente simplificadas matematicamente ao se
admitir uma distribuição de deformação no componente carregado, o que satisfaz a si-
tuação física, porém, pode não ser matematicamente rigoroso. Na teoria da elastici-
dade não se fazem suposições simplificadoras no que se refere à distribuição de defor-
mação.
Analogamente à resistência dos materiais, o primeiro requisito para uma solução é
satisfazer as condições de equilíbrio. A Fig. 2.21 ilustra as forças atuantes em um ele-
mento do corpo para uma situação de tensão plana. Fazendo-se o somatório das forças
nas direções x e y, obtém-se:
8a x 8T xy
"LP= ,-+ -= 0
x 8x 8y
8a 8Tx
"L P = -y + -y + pg = O
y 8y 8x
serve que estas equações de equilíbrio não fornecem uma relação entre as tensões e as
cargas externas aplicadas. Em vez disto, elas fornecem a taxa de variação das tensões
em qualquer ponto no corpo. Entretanto, a relação entre tensão e carga externa deve
ser de tal forma que nas fronteiras do corpo as tensões se tornem iguais às forças
superficiais por unidade de área, isto é, deve satisfazer as condições de contorno.
Um dos importantes requisitos da teoria da elasticidade é que a deformação em
cada elemento deve ser de tal forma que a continuidade seja preservada. Fisicamente,
isto significa que os deslocamentos devem variar suavemente através do corpo, de
sorte que não se formem espaços vazios no interior do material. Para tal, as compo-
nentes do deslocamento Ui devem ser funções contínuas de valores únicos das coorde-
nadas X i' Algumas relações entre as componentes de deformação devem ser satisfeitas
para que este requisito seja alcançado. Estas relações são as equaçôes de compatibili-
dade.
Para o caso bidimensional, por exemplo, temos
Ôu ÔV
8=- 8=-
x ÔX y ôy
Deve haver uma relação definida entre as três' componentes de deformação, já que
estas são expressas em termos de dois deslocamentos u e v . Diferenciando-se a Eq. ( a )
duas vezes em relação a y , a Eq. ( b ) duas vezes em relação ax e a Eq. ( c ) em relação a
X e y , obtém-se:
Existem ainda duas outras equações de compatibilidade do tipo apresentado pelas Eqs.
(2.104) e (2.105), que podem ser obtidas mais facilmente permutando-se os subíndices
x, y e z.
Basicamente, a solução de um problema pela teoria da elasticidade envolve a de-
terminação dos deslocamentos U ;, das deformações e u e das tensões ( T u através do
corpo submetido a um sistema de forças externas específico. Existem então, em geral,
15 incógnitas, mas, em contrapartida, 15 equações que relacionam estas incógnitas no
sistema coordenado x; y , z. Estas equações são: as seis equações que relacionam as
deformações com os deslocamentos, Eqs. (2.42); as seis equações constitutivas rela-
cionando deformação com tensão, Eqs. (2.64) e (2.65); e as três equações de equilíbrio
(2.103). Estas equações de campo devem ser satisfeitas em todos os pontos do sólido
(Jnominal
Além de produzir uma concentração de tensão, um entalhe também cria uma con-
dição de tensão localizada bi ou triaxial. Para o caso do furo circular numa placa
submetida a um carregamento uniaxial, por exemplo, uma tensão radial e outra longi-
tudinal são produzidas. Da análise elástica', as tensões produzidas numa chapa de
largura infinita, contendo um furo e carregada axialmente, podem ser expressas por
2 4 2
(Jr = - 1 + a- 2) + -
(J ( (J (
1 + 3 a- 4 - 4 a- )
cos 28
2 r 2 r ,.2
2 4
a ) a )
+ ,.2 +
(J ( (J (
(J o = 2" 1 - 2" 1 3 ,.4 cos 28
4 2
a a )
+ 2 -
- (J (
, = - - 1- 3 - sen 28
2 ,.4,.2
Um exame destas equações mostra que a tensão máxima ocorre no ponto A quando ()
= 7T/2 e r = o. Para este caso,
"- •..•..
-
0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
d/w
,z
'm 3,4
c:
Q)
.~ 3,0
o
'~2,6 \
-E \
1! 2,2
c:
o
~ 1 J8
'O
~ 1,,4
LL
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O
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2! ' li = 2,00
w V
.jg 2,4
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LL 1,0
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·ro
§ 2 .8
.jg 2,6
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Fig. 2.23 Fatores de concentração de tensão teóricos para diferentes formas geométricas. (Se-
gundo O.H. Neugebauer, Prado Eng. (NY), vol. 14, pp. 82-87,1943.)
a max = a (1 2~)
+
Observe que para um furo circular ( a = b ), a equação acima se reduz à Eq. (2.108). A
Eq. (2.109) mostra que a tensão aumenta com a razão a/b. Assim, um furo bem es-
treito, tal como uma trinca, normal à direção de tração resultará numa concentração de
tensão bastante elevada.
Dificuldades matemáticas impedem o cálculo dos fatores de concentração de ten-
são elásticos em todos os casos geométricos, com exceção dos mais simples. Grande
parte deste trabalho tem sido desenvolvido por Neuber 2, que fez cálculos para diver-
sos tipos de entalhes. Os fatores de concentração de tensão para problemas práticos
são geralmente determinados por métodos experimentais.:l A análise fotoelástica 4 de
modelos é a técnica mais amplamente empregada. Este método é aplicável principal-
mente a problemas de tensão plana, embora seja possível fazer análises fotoelásticas
tridimensionais. A Fig. 2.23 mostra curvas típicas para o fator de concentração de
tensão teórico de certos elementos de máquina que foram obtidos por métodos fotoe-
lásticos. Grande parte das informações sobre concentração de tensões em componen-
tes de máquinas foram apresentadas por Peterson.;'
O efeito de um concentrador de tensão se apresenta muito mais pronunciado em
um material frágil do que em um dúctil. Num material dúctil ocorre deformação plástica
quando a tensão de escoamento é excedida no ponto de tensão máxima. Um aumento
posterior na carga acarreta um aumento local em deformação na região criticamente
tensionada, com pequeno aumento na tensão. Devido ao encruamento, a tensão cresce
em regiões adjacentes ao concentrador de tensão, até que, se o material é suficiente-
mente dúctil, a distribuição de tensão se torna essencialmente uniforme. Assim, um
metal dúctil carregado estaticamente não desenvolverá totalmente o fator de concen-
tração de tensão teórico. Entretanto, em um material frágil nunca ocorrerá redistribui-
ção de tensão, resultando, desta forma, em um fator de concentração de tensão com
valor próximo ao teórico. Embora concentradores de tensão geralmente não causem
perigo a um material dúctil submetido a um carregamento estático, efeitos apreciáveis
de concentração de tensão ocorrerão neste mesmo material se solicitado em condições
de fadiga ou tensões alternadas. Os concentradores de tensão são muito importantes
na falha de metais por fadiga e serão discutidos mais tarde no Capo 12.
Chou, P. C., and N. J. Pagano: ••Elasticity," D. Van Nostrand Company, Inc., Princeton,
N.J.,1967.
Jaeger, J. C.: "Elasticity, Fracture, and Flow," 2d ed., Methuen & Co., Ltd., London,
1962.
Love, A. E. H.: "A Treatise on the Malhematical Theory of Elasticity," 4th ed., Dover
Publications, Inc., New York, 1949.
I
I
~
I
I
I
~
I
I
I
I
r
Fig. 3.2 Curvas de escoamento idealizadas. ( a ) Material plástico rígido ideal; (b ) material plás-
tico ideal com região elástica; ( c ) material apresentando encruamento linear.
Mesmo a simples equação matemática dada pela Eq. (3.1), para a curva de es-
coamento, pode resultar numa consideravel complexidade matemática quando usada
com as equações da teoria da plasticidade. Desta forma, é prática comum neste as-
sunto empregarem-se curvas de escoamento idealizadas que simplifiquem o tratamento
matemático, não se desviando muito da realidade física. A Fig. 3 .2 a apresenta a curva
de escoamento característica de um metal r í g i d o , p e r f e i t a m e n t e p l á s t i c o . Para este
material idealizado, um corpo de prova de tração é completamente rígido (deformação
elástica nula) até que a tensão uniaxial atinja u"o. Daí por diante o material escoa plas-
ticamente a uma tensão constante (encruamento nulo). Este tipo de comportamento se
aproxi maria ao de um metal dúctil em éondições de elevada deformação a frio. A Fig. 3 .2 h
ilustra a curva de escoamento, com uma região elástica, característica de um material per-
feitamente plástico. Este comportamento é aproximado ao de um material tal como
'N. do T. "Pescoço" é a tradução literal do inglês I l e c k i l l g , comumente utilizado na linguagem técnica brasi-
leira; indica a região onde ocorre a localização da deformação plástica.
A curva tensão-deformação de engenharia não apresenta uma informação real das carac-
terísticas de deformação do material. Isto porque ela se baseia inteiramente nas dimen-
sões originais do corpo de prova, as quais são continuamente alteradas durante o ensaio.
Em processos de conformação, tais como a trefilação, a peça também experimenta
variações sensíveis na área de seção transversal. Assim sendo, são necessárias medidas
de tensão e deformação que se baseiem nas dimensões a cada instante. Na deformação
elástica, as variações dimensionais são pequenas, o que tornou desnecessárias, no capí-
tulo anterior, estas considerações.
A Eq. (l.l) descreve o conceito convencional de deformação linear unitária, que
significa a variação em comprimento em relação ao comprimento unitário original.
I:i.L 1 L
e = -= - f dL
Lo Lo Lo
+---+ ..
"L I -L o L 2 -L I L 3 -L 2
e = L ,---+ --- 0
L o L I L 2
L dL L
e = f LO
L = ln L o
l:i.L L -L L
o
e = -= ---= --
L o L o L o
+ 1)
L
e = ln - = In (e
L o
Nota-se que as duas medidas de deformação fornecem valores idênticos até uma de-
formação de O,I.
A vantagem de se usar deformação verdadeira torna-se clara a partir do seguinte
exemplo: considere um cilindro uniforme que é tracionado ao dobro do seu compri-
mento original. A deformação linear seria de e = ( 2 L o - L o ) / L o = 1,0, o que corres-
ponde a 100% de deformação: Para atingir a mesma quantidade de deformação linear
negativa, em compressão, o cilindro teria que ser comprimido até a espessura de zero.
No entanto, intuitivamente, é de se esperar que a deformação produzida ao se com-
primir o cilindro à metade do seu comprimento inicial seja a mesma, com sinal contrá-
rio, necessária para tracioná-lo ao dobro do seu valor. Esta equivalência para os dois
casos é obtida com o emprego da deformação verdadeira. Para extensão ao dobro do
comprimento inicial, temos € = 1n ( 2 L o / L o ) = ln 2. Para compressão à metade do
comprimento inicial, € = 1n [ ( L o / 2 ) / L o J = 1n Yz = -In 2.
Uma outra vantagem de trabalhar com deformações verdadeiras reside no fato de
que a deformação verdadeira total é igual à soma das deformações verdadeiras incre-
mentais. Isto pode ser visto no exemplo seguinte: considere que uma barra de 2 cm de
comprimento seja elongada em três incrementos, cada qual igual a uma deformação
convencional e = 0,1.
2,00
eO _ 1 = 0,2/2,0 = 0,1
2,20
2,42 e, _ 2 = 0,22/2,20 = 0,1
2,662 e,. _ 3 = 0,242/2,42 = 0,1
~ = ~ V = (I + e x )(1 + e y )(1 + e z) dx dy dz - dx dy dz
V dxdydz
Ô + 1 = O + 1 = (1 + e ) ( 1 + e y ) ( 1 + e
x z)
ln 1 = O = ln (1 + e + ln (1 + e y ) + ln
x) (1 +e z)
veremos que Ô será zero apenas para v = V z . Segundo este resultado, para um material
plástico para o qual Ô = O, o coeficiente de Poisson é igual a V z .
Em virtude de ser o volume constante, temos que A o L o = A L , e a Eq. (3.3) pode ser
escrita tanto em termos de deformação como de área.
L Ao
B=ln-=ln- (3.6)
Lo A
p
s = -
Ao
P P Ao
(1=-=--
A Ao A
p
••• (J = Ao (e + 1) = s ( e + 1) (3.9)
Von Mises (1913) propôs que o escoamento se daria quando o segundo invariante da
tensão-desvio, J 2, excedesse um determinado valor crítico.
I Foi observada uma significante influência da tensão hidrostãtica no escoamento de polímeros vitrificados
como PMMA. S. S. Sternstein e L. Ongchin, P o l y m . P r e p r . A m . C h e l1 1 . S o e . D iv . P o lY I1 1 . C h e l 1 1 ., setembro,
1969.
0'1 =k
1
k = J3 ao = 0 , 5 7 7 ( J 'o
E= 9G K 3 K -2 G
V = ---
3K + G 6K + 2G
U
o
= 1!8LK + ~
6G (/1
2
- 3 /2)
A Eq. (3.17) é importante porque evidencia que a energia total de deformação pode ser desmem-
brada em um termo que depende da variação do volume e um termo dependente da distorção.
Outra interpretação física dada para o critério de escoamento de von Mises é que
ele representa o valor crítico da tensão octaédrica cisalhante (ver Seção 3.6). Esta é a
tensão de cisalhamento nos planos octaédricos, os quais formam ângulos iguais com os
eixos principais. Uma outra interpretação do critério é que ele representa a média
quadrática da tensão cisalhante média para todas as orientações do sólido!.
Este critério de escoamento admite que O escoamento ocorre quando a tensão de cisa-
Ihamento máxima atinge o valor da tensão de cisalhamento no ensaio uniaxial de tra-
ção. A tensão cisalhante máxima é dada pela Eq. (2.21),
k = (T o
Para as tensões mostradas na Fig. 3.3, têm-se, da Eq. (2.9), as seguintes tensões
principais:
IVeja. por exemplo. S. S. Hecker. M etal/. Trans" vol. 2. pp. 2077-2086. 1971. Um método singular para
determinação do mapa de escoamentot de uma placa plana foi apresentado por D. Lee e W. A. Backofen,
Trans. M etal/. Soe. A/M E. vol. 236, pp. 1077-1084, 1%6. Este método é bem apropriado para o estudo da
anisotropia de placas laminadas.
t N. do T. Um mapa de escoamento consiste no traçado de uma superfície que corresponde ao lugar geométrico
dos limites de escoamento ao longo da placa.
0 ,4
I§' Fig. 3.4 Comparação entre as teorias
';::, 0,3 da tensão cisalhante máxima e von Mi-
••'< ses .
Esta é a equação de uma elipse cujo semi-eixo maior é Vf(T;; e cujo semi-eixo menor é
Y 213a o.
Um modo conveniente de se comparar critérios de escoamento para um estado
Um método muito sensível de diferenciação entre os dois critérios de escoamento foi ado-
tado por Lode, que determina o efeito da tensão principal intermediária no escoamento. De
acordo com a lei da tensão máxima cisalhante, não deveria haver influência do valor da tensão
intermediária ( h Então, (<TI - <T3)/<TO = I. Para que a teoria da energia de distorção levasse em
consideração a influência da tensão principal intermediária, Lode introduziu o parâmetro IJ-,cha-
mado parâm etro de tensão de Lode.
Os dados experimentais se ajustam muito melhor à Eq. (3.29) do que à equação do critério de
tensão cisalhante máxima, indicando que a tensão principal intermediária exerce influência no
escoamento.
Outra contribuição de Lode foi a introdução de um parâmetro de deformação 1 /.
onde !:ie é um incremento finito de deformação. Lançados em gráfico, IJ-e 1/ devem fornecer uma
linha reta a 45° com os eixos, caso o metal se comporte de acordo com as equações de plastici-
+ 2N !x/ = 1
onde F, G, ... , N são constantes que definem o grau de anisotropia. Para os eixos
principais de simetria,
1 1 1
G+H= X2 H + F= y2 F+ G = -
Z2
cr x
200
1
(aX )2 +
(a2)y 2
- 2H XY
(ai Y(2)
X = 1
1
G =F=-
2Z 2
R = In(wolw)
In (tolt)
Desde que (Z)2 = Y2( I + R ). a equação do mapa de escoamento pode ser escrita
Y
da seguinte forma:
IJ. D. Lubahn e R. P. Felgar, Plasticity and C reep o[ M etais. Capo 13, John Wiley & Sons, lnc., New York,
1%1.
'Estas curvas foram obtidas com o método de D. Lee e W. A. Backofen, anteriormente citado.
3W. A. Backofen, W. F. Hosford, Jr. e 1. J. Burke, ASM Trans Q ., vol. 55, p. 264, 1962.
Em virtude de a Eq. (3.34) ser idêntica à equação derivada para a teoria de energia de
distorção, os dois critérios de escoamento fornecem os mesmos resultados. De certa
forma, a teoria octaédrica pode ser considerada o equivalente de tensão da teoria da
energia de distorção. De acordo com esta teoria, a tensão octaédrica cisalhante, cor-
respondente ao escoamento em tensão uniaxial, é dada por
)2-
Toei = 3 "" (J o = O,471<To
Deve-se notar que a tensão efetiva e a deformação efetiva são ambas reduzidas, num
ensaio de tração, às componentes normais axiais de tração e deformação, respectiva-
mente. Estes valores estão também relacionados com a tensão e a deformação octaé-
drica cisalhantes, como pode ser visto se comparamos as equações acima com as Eqs.
(3.33) e (3.37).
~ - f- i -
'OCI - (J
3
J
J:
2) Y.
't eq = 't oct
( 1-2.25 3
de x de dez _ de y% _ deu _ de xy _ dÀ
---,- - ----;
_ y _
- -;- - -- - -- - -
(1 x (1y (1% 'y% 'u 'xy
onde d Á . é uma constante positiva que pode variar durante o "caminho" do carrega-
mento. Estas equações se baseiam na hipótese de que os eixos principais dos incre-
mentos de deformação coincidem com os eixos das tensões principais. Uma vez que
não são consideradas as deformações elásticas na Eq. (3.42), elas só se aplicam para
um sólido plástico ideal (rígido) no qual a deformação elástica é pequena comparada
com a deformação plástica. Muitas vezes as Eqs. (3.42) são escritas com0 2
~-~=~-~=~-~=~=~=~=~
(T~ - a; a; - a~ a~ - q~ yZ
't 'txz 't"xY
IForam apresentados argumentos mostrando que as teorias da deformação total poderiam ser válidas para
histórias de calTegamento diferentes do carregamento proporcional por B. Budiansky, J . A p p l. M e c h ., vol. 26,
o
n. 2, pp. 259-264, 1959.
'Estas equações podem tamb!m ser desenvolvidas admitindo-se que os parâmetros de tensão e deformação de
Lode sejam IguaIs. A condlçao para que ISto ocorra. J1 . = v. é chamada cO /1diçüo de 1'0/1 M ises.
de = ~ dÀ {fi [(O"x - O"y)2 + (o"y - 0".)2 + (O". - O"Y + 6(rx / + ry/ + rx/)]lt,}
2
de = "jdÀã
de
deY a
= -[0 "
Y
-~(o"
Z z
+ 0 ")]
x
p 3 de ,
d e ·· = - - u ··
'J 2 ii IJ
1 +v , 1 + 2v dU kk 3 de ,
d e ij = E d U jj +~ -3- b ij +2 ii U ij
'Vários problemas de plasticidade são apresentados em grande detalhe por Lubahn e Felgar nos Caps. 8 e 9 da
referência anteriormente citada.
r:'
x
~~PI~áS%ti~CO%~
Matriz
o O
t
P {í_P 0 + ,,0 -°+ ,.
P+O
-2 -
t
O
IPI>IOI O+k t
O
(o ) (O + k )-k (bl
t .
10 "'" ~fi-
O+k t
' 0 " '"
(O + k )-k
(c )
Fig. 3.9 Demonstração de que um estado de tensões de deformação plana pode ser expresso pela
soma de uma tensão hidrostática com cisalhamento puro.
-Q + P = 2 k
P= Q + 2k
p k O
O " ij = k p O
O O p
ocorre porque
O "I= -p + k
0"2 = -p
0 "3 = -p -k
ponto mas p pode variar. O estado de tensões a cada ponto poderá ser caracterizado se
soubermos o módulo de p e a direção de k . As linhas de tensão cisalhante máxima
situam-se em duas direções ortogonais a e (3, e apresentam como propriedade a defor-
mação cisalhante máxima e adeformação linear nula nas tangentes às suas direções. As
linhas de deslizamento indicam a direção de p a cada ponto e, através da rotação da
linha de deslizamento entre um ponto e outro do campo, podem-se deduzir as varia-
ções no módulo de p . Deve-se notar que as linhas de deslizamento a que nos referimos
são apenas construções geométricas que definem as direções características das equa-
ções 'diferenciais parciais hiperbólicas para a tensão, sob condições de deformação
plana. Estas linhas de deslizamento não apresentam qualquer relação com as linhas de
deslizamento observadas num microscópio sobre a superfície de um metal deformado
plasticamente.
Para determinar as equações utilizadas na determinação de tensões através dos
campos de linhas de deslizamento, devemos relacionar ap e k as tensões atuantes num
corpo físico segundo o sistema de coordenadas x y . A Fig. 3. llb mostra a representa-
ção do estado de tensões dado na Fig. 3.lla, através de um círculo de Mohr. As
tensões podem ser expressas como:
I1 x = -p - ksen2cP
11% = -p
onde 2 c f> é um ângulo do círculo de Mohr medido no sentido anti-horário desde o plano
x até o primeiro plano de tensão cisalhante máxima. Este plano é conhecido como uma
linha de deslizamento a . Na Fig. 3.llc é apresentada a relação entre o estado de
tensões no corpo e as linhas de deslizamento a e (3"
A variação da pressão hidrostática p com mudança de direção das linhas de desli-
zamento é dada pelas e q u a ç õ e s d e H e n c k y .
'Veja, por exemplo, W. Johnson e P. B. Mellor, P la s tic ity fo r M e c h a llic a l E llg ille e r s , pp. 263-265, D. Van
Noslrand Company, Inc., Princelon, N. J., 1962.
(1 y = 0= -p + k s e n 2 tjJ
(1 " = -p - k s e n 2 tjJ = -p - p = -2 p
~x
z
'U m o u t r o c a m p o d e l i n h a d e d e s l i z a m e n t o f o i s u g e r i d o p o s t e r i o r m e n t e p o r R . H ill. E s te e s tu d o le v a a v a lo re s
id ê n tic o s d a p re s s ã o d e c o m p re s s ã o , o q u e ilu s tra o fa to d e n ã o s e re m n e c e s s a ria m e n te ú n ic a s a s s o lu ç õ e s d e
c a m p o d e lin h a s d e d e s liz a m e n to .
dp + 2kd4> =0
P F -k + 2 k (-~ -O ) = 0
PF = k(n + 1)
PF = PF' = Po = k (n + 1)
u y = -P o + k s e n 2 < jJ
Voltando à Fig. 3.llc, vemos que o ângulo 1> é medido no sentido anti-horário, a partir
do eixo x até a linha 0'.
Uy = -k (n + I) + ksen2C:)
CalIadine, C. R.: "Engineering Plasticity," Pergamon Press Inc., New York, 1969.
Hill, R.: "The Mathematical Theory of Plasticity," Oxford University Press, New York,
1950.
Johnson, W., and P. B. MelIor: "Engineering Plasticity," Van Nostrand Reinhold
Fundamentos de Metalurgia
A análise de difração de raios X mostra que os átomos de um cristal metálico estão ar-
ranjados numa forma regular e repetida nas três dimensões. Este arranjo atômico dos
metais é representado de maneira mais simples através de uma rede cristalina na qual
os átomos são visualizados como esferas rígidas localizadas em posições particulares
de um arranjo geométrico. '"
A estrutura cristalina mais elementar é a rede cúbica simples (Fig. 4.1). Este é o
tipo de célula da estrutura que ocorre para cristais iônicos tais como o NaCI e o LiF,
mas não para os metais. Três eixos mutuamente perpendiculares são posicionados ar-
bitrariamente através de um dos cantos da célula. Planos e direções cristalográficos
serão especificados com respeito a estes eixos em termos de í n d i c e s d e M i l / e r . Um
plano cristalográfico é especificado em termos do comprimento de sua interseções com
os três eixos, o qual é medido a partir da origem dos eixos coordenados. A fim de sim-
plificar as fórmulas cristalográficas, são usados os recíprocos destas interseções, que
são reduzidos a um mínimo denominador comum para fornecer os índices de Miller
( h k l) do plano. Por exemplo, o plano A B C D na Fig. 4.1 é paralelo aos eixos x e z e in-
tercepta o eixo y em uma distância interatômica a o . Desta forma os índices do plano
são 1/00, l/I, 1/00 ou ( h k l) = (010). O plano E B C F poderia ser denominado como (100),
uma vez que a origem do sistema coordenado pode ser transladada para o ponto G,
visto que cada ponto da rede possui, no espaço, idênticas propriedades de vizinhança.
A barra colocada sobre um dos números indica que o plano intercepta um dos eixos
numa direção negativa. Existem seis planos cristalográficos equivalentes do tipo (100);
dependendo da escolha dos eixos cada um deles poderá ter os índices (100), (010),
(001), (100), (010) e (001). Quando se quer representar todos estes planos como um
grupo, usa-se a representação {IOO}, a qual representa a f a m í l i a d e p l a n o s ( 1 0 0 ) .
As direções cristalográficas são indicadas por números dentro de colchetes, [u v w ],
e não se usam os recíprocos das interseções para determiná-Ias. A direção da linha
F D , por exemplo, é obtida quando se caminha a partir da origem uma distância a o ao
longo do eixo dos x e em seguida uma distância igual na direção positiva y . Os índices
desta direção são [110]. U ma família de direções cristalográficas equivalentes é repre-
I ao
I
I
À -- C Y
/ F ' / J
/ ""-, O /"
ao
a o -..:v
( ll0 ) - H B C G (1 1 0 )-H B C G
(1 1 1 )-G E C
(1 1 1 ) - G E C
(1 1 2 ) - G J C (1 1 2 )-G J C
sentada por ( u v w ) . Para a rede cúbica, e somente para ela, direções e planos do mesmo
índice são sempre perpendiculares entre si.
Muitos dos metais comumente usados apresentam estrutura cristalina cúbica de
corpo centrado (c.c.c.) ou cúbica de faces centradas (c.f.c.). A Fig. 4.2a mostra uma
célula unitária da estrutura cúbica de corpo centrado, a qual possui um átomo em cada
vértice e mais um átomo no centro do cubo. Cada átomo de vértice está circundado
por oito átomos adjacentes, da mesma forma que o átomo no centro da célula. Desta
maneira, se consideramos as células vizinhas no espaço tridimensional, existem dois
átomos p o r c é l u l a u n i t á r i a da estrutura cúbica de corpo centrado, (8/8 + I). Alguns
metais que apresentam esta estrutura cristalina são o ferro-alfa, nióbio, tântalo, crô-
mio, molibdênio e tungstênio. A Fig. 4.2b apresenta a célula unitária para uma estru-
tura cristalina cúbica de faces centradas. Além de um átomo em cada vértice existe um
átomo no centro de cada face do cubo, os quais pertencem a duas células unitárias.
Desta forma, existem 4 átomos por célula unitária da estrutura cúbica de faces centra-
das (8/8 + 6/2). Alumínio, cobre, ouro, chumbo, prata e níquel são metais cúbicos
de faces centradas.
A terceira estrutura cristalina de metal mais comum é a hexagonal compacta!
(h.c.), representada na Fig. 4.3. A fim de se especificar os planos e direções na estru-
tura h.c., é conveniente que se use o sistema de Miller-Bravais com quatro índices do
tipo ( h k i l ) . Estes índices são baseados em 4 eixos, três dos quais, a i , a 2 e a 3 , situam-se
no plano basal formando entre si ângulos de 120°, e um quarto eixo vertical c que é
normal ao plano basal. Estes eixos e planos típicos da estrutura cristalina hc são mos-
trados na Fig. 4.3. O terceiro índice está vinculado aos dois primeiros através da rela-
ção i = - ( h + k ) .
Tanto a estrutura cúbica de faces centradas como a hexagonal compacta podem
ser construídas a partir de um empilhamento de planos compactos de esferas. A Fig.
4.4 mostra que existem duas maneiras segundo as quais esferas podem ser empilhadas.
A primeira camada de esferas é disposta de forma que cada esfera seja circundada por
outras seis esferas que a tangenciam, conforme representado pelos círculos cheios da
Fig. 4.4. Uma segunda camada de esferas pode ser colocada sobre a primeira de ma-
neira que os centros dos seus átomos cubram a metade do número de vales existentes
nesta primeira. (As esferas da segunda camada estão representadas por círculos ponti-
lhados na Fig. 4.4.) Existem dois modos de se adicionar esferas para se obter um ter-
'Uma revisão detalhada da cristalografia e deformação nos metais h.c. é apresentada por P. G. Partridge, M e-
ta ll. R e v ., n.O 118, e M e l. M a te f. vol. I, n.o 11, pp. 169-194, 1967.
ceiro plano compacto. Embora as esferas da terceira camada devam ajustar-se aos
vales da segunda camada, elas podem ser colocadas ou nos vales que se posicionam
sobre aqueles não cobertos do primeiro plano (posições marcadas com ponto na Fig.
4.4) ou sobre os vales posicionados diretamente sobre os átomos do primeiro plano
(posições marcadas com cruz na Fig. 4.4). A primeira possibilidade dá origem a uma
seqüência de empilhamento A R C A R C . . . , a qual é típica dos planos {III} de uma es-
trutura c.f.c. A outra possibilidade resulta numa seqüência de empilhamento
A B A R . . . , a qual se verifica para o plano basal (0001) da estrutura h.c. Para o empaco-
tamento h.c. ideal, a razão c /a é VFf3 ou 1,633. A Tabela 4.1 mostra que os metais
h .c. existentes apresentam um desvio da razão c /a ideal.
As estruturas c.f.c. e h:c. são ambas compactas. Num modelo de esferas rígidas
destas estruturas, 74 por cento do volume da célula unitária são ocupados por átomos,
enquanto a célula unitária c.e.e. tem 68 por cento do seu volume ocupados por átomos
e a célula unitária cúbica simples 52 por cento.
M e ta l c /a
Be 1,567
Ti 1,587
Mg 1,623
Hc ideal 1,633
Zn 1.856
Cd 1,886
E s tr u tu r a D e n s id a d e a tô m ic a
c r is ta lin a Á to m o s p o r á r e a u n itá r ia
A Fig. 4.5 ilustra três tipos de defeitos pontuais. Uma l a c u n a , ou lugar vazio da rede!,
existe quando está faltando um átomo de uma posição normal da rede (Fig. 4 . 5 a ) . Nos
metais puros são criados pequenos números de lacunas por excitação térmica, as quais
são termodinamicamente estáveis a temperaturas maiores do que o zero absoluto. A
fração de lacunas em equilíbrio a uma dada temperatura é fornecida, aproximada-
mente, pela equação
~ = e - E ./ k T (4.1)
N
O O O O O O O O O O O O O
O O O O O O O O O O O O O
O O O O O O
O
O O
• O O O
O O O O O O O O O O O O O
(a ) (b ) {cl
500 I X 1 0 - 10
1.000 I X 1 0 -5
1.500 5 X 10-·
2.000 3 X 10-3
IA.C. Damask e G. J. Dienes, P a i1 1 / D e fe c /s i11 M e /a is , Gordon and Breach, Science Publishers, Inc., New
York, 1963.
I
1
1
1
1
1
1 /
I /
}--~
/ /
/ /
/
/ /
/ /
/ /
/ /
/ /
// A
/
/
/
/
Fig. 4.7 Discordância-aresta produzida por deslizamento numa rede cúbica simples. A discor-
dância se encontra ao longo de A D , perpendicular à direção de deslizamento. O deslizamento
ocorreu sobre a áreaABCD. (De W. T. Read, Jr. ,D i s l o c a t i o n s i n C r y s t a l s , p. 2, McGraw-Hill Book
Company, New York. 1953.)
-.L
Fig. 4.8 Arranjo atômico num plano normal a uma discordância-aresta. (De W. T. Read, Jr.,
p. 3, McGraw-Hill Book Company, New York, 1953.)
D is lo c a tio n s in C r y s ta ls ,
I
I
I
I
I
I
I
I "
}--.;-
"
"" " "
""
, , "" " x '
Fig. 4.9 Deslizamento produzido por uma discordância espiral numa rede cúbica simples. A dis-
cordância se encontra ao longo de A D , paralela à direção de deslizamento. O deslizamento ocor-
reu sobre a área A B C D . (De W. T. Read, Jr., D i s l o c a t i o n s i n C r y s t a l s , p. 15, McGraw-Hill Book
Company, New York, 1953.)
-
- ------.
-<
- ------.
)-
........., f- - - - -
.-(
- ~ . Vetor-
deslizamento
A B
Fig. 4.10 Arranjo atômico em volta da discordância espiral mostrada na Fig. 4.9. O plano da
figura é paralelo ao plano de deslizamento. A área deslizada é A B C D , e A D é a discordância-
espiral. Os círculos abertos representam os átomos imediatamente acima do plano de desliza-
mento; os círculos fechados são os átomos no plano imediatamente abaixo do plano de desliza-
mento. (De W. T. Read, Jr., D i s l o c a t i o n s i n C r y s t a l s , p. 17, McGraw-Hill Book Company, New
York, 1953.)
tN. do T.: O plano de deslizamento da discordância-aresta está definido pela linha de discordância e seu vetor
de Burgers. No caso de discordância-espiral, a linha e o vetor de Burgers sáo paralelos, náo definindo, desta
forma, um plano.
• • • ~ L in h a de
deslizamento
•
·, . • • •
S u p e rfíc ie p o lid a
• • I • • • • • • • • • • I •
1
• •
• • • • • • • • • • • • • I •
• •
.1. .1.
• II • I
• • • • • • • • • • • • • •
rl • • .'.
I
• • lr • • • • • • • • .,. I
• •
• •
I
I
• I· • • P la n o d e • • • ,. I
• •
• • •
~ d e s liz a m e n to
I.
• I· • •
• • • 1 •
(a ) (b ) (c)
Nos metais hexagonais compactos, o plano basal (0001) é o único de grande den-
sidade atômica, sendo os eixos diagonais (I 120) as direções compactas. Nos metais
zinco, cádmio, magnésio e cobalto, o deslizamento ocorre no plano (0001) segundo as
direções (1110)'. Uma vez que existe apenas um plano basal por célula unitária e três
direções (I 120), a estrutura h.c. possui apenas três sistemas de deslizamento, e devido
a este número limitado esses metais apresentam uma ductilidade baixa e fortemente
dependente da orientação.
Na estrutura cúbica de faces centradas, os planos octaédricos {li I} e as direções
(I 10) formam os sistemas compactos. Existem oito planos {III} na célula unitária
c.f.c.; no entanto os planos das faces opostas do octaedro são paralelos entre si, o que
acarreta a existência de apenas quatro g r u p o s de planos octaédricos2• Cada plano
'o zircõnio e o titânio, que possuem uma baixa relação c/a, deslizam principalmente nos planos prismáticos e
piramidais segundo a direção (1120).
'Numa estrutura cúbica o ângulo entre dois planos (h,k,I,) e (h,k.,l,) é dado por
h ,h , + k, k, + 1,1,
cos8= (h,' + k,' + I,')Y..(h,'+ k,'+ I,')Y..
Por exemplo, os planos (111) e (fff) são paralelos uma vez que cos (J = 1. Também numa estrutura cúbica, a
direção [hkl] é perpendicular ao plano (hkl). Desta forma, quando a direção de deslizamento [uvw ] pertence ao
plano de deslizamento (hkl), temos o ângulo (J = 90", sendo cos (J = O = hu + kv + Iw . Por exemplo, o plano
(11 f) contém as direções de deslizamento [l01] e [l fO ).
'F. L. Vogel e R. M. Brick, Trans. A /M E , vol. 197, p. 700, 1958; R. P. Steijn e R. M. Brick, Trans. A m . Soe.
M et., vol. 46, pp. 140&-1448,1954; 1. J. Cox, G. T. Horne e R. F. Meh1, Trans. A m . Soe. M el., vol. 49, pp.
118-131,1957.
'J. R. Low e R. W. Guard, A ela M elal/., vol. 7, pp. 171-179, 1959. Estes autores mostraram que linhas de
deslizamento curvas são produzidas no ferro pelas componentes espirais do anel de discordãncia; no entanto,
quando vistas de um plano normal à componente-aresta da discordãncia, estas linhas são retas.
~
O O 0"0 O
O O O O O O O O
r------l O
O~ O O O
O O O 010 O O, 0'>-'
.L I I O O O
O O O
O O L'0_ _ _ _O O -1I O
__
O O O O
O O O O O O O O O
O O O O
~
(a ) (b )
r.F
Gx
T=G y=-
a
Combinando as Eqs. (4.3) e (4.4), obtém-se uma expressão para a máxima tensão
cisalhante na qual o deslizamento ocorreria.
Gb
T = - - (4.5)
m 2 rr a
G
L Tm = 2 rr,.c ....J (4 .6 )
O módulo de cisalhamento dos metais está no intervalo de lO'l a 104 kgf/mm 2 (10"
a 1012 dyn/cm 2). Desta forma, a Eq. (4.6) prevê que a tensão cisalhante teórica estará
no intervalo de 102 a 103 kgf/mm 2, enquanto que os valores reais necessários para
produzir deformação plástica nos monocristais metálicos são da ordem de 10-1 a 101
kgf/mm 2. Mesmo que sejam usados cálculos mais apurados para corrigir a hipótese da
onda senoidal, o valor de T m teórico não se aproximará do valor real observado na
prática. Tyson " utilizando uma solução computacional das equações de forças intera-
23456 7
P la n o d e
deslizamento ~
•
....,.,
1 I I
•
•
•
l' 2' 3' 4' 5' 6' 7'
(a ) (b )
~ - - - - ,l- w - l- ,
R e g iã o d e s liz a d a
--- R e g iã o
R e g iã o n ã o .d e s liz a d a
interfacial
Fig. 4.18 ( a ) Variação de energia do estado não-deslizado para o deslizado; (b ) estágios de cres-
cimento da região deslizada.
0.= xib
I L
'Conceitos recentes sobre a tensão de Peierls foram apresentados por Rosenfield el ai., D islocation D ynam ics,
McGraw-HiII Book Company, New York, 1968.
11
I
I
I
I
I
I
_ _ _ _ _ _ _ _i~
_______ I
I ~
-x ;--.j
\---- L- - - - 1
(b )
Fig. 4.19 ( a ) Deformação cisalhante associada à passagem de uma única discordância através do
cristal; ( b ) deformação cisalhante devido ao movimento de uma discordância através de apenas
parte do cristal.
LXi
- 1
X = --
N
bN x
1 '= -
hL
d I' dx
y=- = bp - = bpü
dt dt
onde V , velocidade média das discordâncias, é uma grandeza que pode ser medida
experimentalmente de várias maneiras. Da Eq. (4.12) vemos que, se quisermos des-
crever a deformação plástica macroscópica em termos do comportamento das discor-
dâncias, precisaremos saber (I) a estrutura cristalina a fim de calcularmos b , (2) o
número de discordâncias móveis p e (3) a velocidade média das discordâncias v . As
flf" y f
TR~/' -....
.....•
/
/
/
~co~J: P
TR=--~=-coscj>cosÀ (4.13)
--
, I
-"
~ 0,4
u
<D
.,
C
!0'2V~
.. ,
'"
c:
{!!. OX
O
Ag
Fig. 4.21 Variação da tensão cisalhante resolvida crítica com a composição em monocristais da
liga ouro-prata. (De G. Sachs e J. Weerts, Z. P hys.·, vol. 62, p. 473, 1930.)
com defeitos tais como lacunas, interstícios e átomos de impurezas. Esta tensão é,
obviamente, maior do que a tensão necessária. para movimentar uma única discordân-
cia; no entanto ela é consideravelmente menor do que a tensão necessária para produ-
zir deslizamento numa rede cristalina perfeita. Com base neste raciocínio, a tensão
cisalhante crítica deveria decrescer à medida que diminuísse a densidade de defeitos,
desde que o número total de imperfeições não fosse zero. Quando a última discordân-
cia fosse eliminada, a tensão cisalhante crítica deveria aumentar abruptamente até o
valor previsto para a resistência ao cisalhamento de um cristal perfeito. O fato de a
tensão cisalhante resolvida crítica de metais moles poder ser reduzida a menos de um
terço do valor original, aumentando-se a pureza do metal, constitui uma evidência
experimental do efeito da diminuição da densidade de defeitos. Por outro lado, fila-
mentos capilares de monocristais, ou w hiskers, que podem ser fabricados praticamente
isentos de discordâncias, apresentam resistência à tração! que se aproxima da resis-
tência calculada de um cristal perfeito.
A razão entre a tensão cisalhante e a tensão axial é cham adafator de Schm id m .
Para um monocristal carregado em tração ou compressão ao longo do seu eixo, m =
cos ~ cos À. Hartley e Hirth2 apresentaram métodos gráficos para a determinação de
m para qualquer orientação cristalina e sistema de deslizamento.
Observa-se experimentalmente que um monocristal deslizará quando for atingido
um valor crítico da tensão cisalhante resolvida. Este comportamento, conhecido como
Lei de Schmid, é melhor demonstrado com os metais h.c., onde o número limitado de
sistemas de deslizamento permite grandes diferenças na orientação entre o plano de
deslizamento e o eixo de tração (ver Probo 4.8). Nos metais c.f.c., devido à alta sime-
tria, existem muitos sistemas de deslizamento equivalentes, o que só torna possível
obter-se uma variação na tensão de escoamento, decorrente das diferenças de orienta-
ção entre o plano de deslizamento e o eixo de tração, de um fator 2.
LI LI
sen (180 - ,to) = sen ,to
BB'
À=-
AC
BB' = LI sen(Ào - À 1 )
senÀo
COS À l COS À o
y = -----
sen Xl sen Xo
y = fi In I + f i cot f3
I + f i cot f30
4 p la n o s .
2 d ire ç õ e s
em cada
Fig. 4.26 Sistemas de deslizamento operatÍvos ao longo das fronteiras do triângulo estereográ-
fico.
'Para uma descrição de projeção estereográfica, veja C. S. Barrett e T. B. Massalski, Structure of M etais. 3."
ed., Capo 2, McGraw-Hill Book Company, New York, 1966; ou A. Kellye G. W. Groves, C rystallography
Capo 2, Addison-Wesley Publishing Company, lnc., Reading, Mass., 1970.
and C rystal D efects,
20 deslizamento dúplex nos materiais policristalinos ocasiona alta ductilidade, por motivos que são discutidos
no Capo 5.
3D. K. Bowen e J. W. Christian, P hilos. M ag., vol. 12, pp. 369-378, 1965.
'Para uma revisão completa deste assunto, veja E. O. Hall, Tw inning and D i/Jusionless TransJorm ations in
M etais, Butterworth & Co. (Eds.), Lld .. Londres, 1954, R. W. Cahn, A dv. P hys., vol. 3, pp. 363-445, 1954, e
S. Mahagan e D. F. WilIiams, lnt. M etall, R ev., vol. 18, pp. 43-61, junho de 1973. Uma boa apresentação da
cristalografia das macias é dada por R. E. Reed-Hill, P hysical M ettallurgy P rincipies, Capo 15, D. Van Nos-
trand Company, Inc., Princeton,N. J ., 1964.
Ao oA 80 08
Co 0/ Ao --0;(
/C
80 Co/
Ao
Co/
°A
/°8
o
Ao
C
o
'o
/
°
o
80/ o
80/ o
A
o
/ Ao/ o
°
A8CA8CA A 8 C A ;C A 8
(a ) (b )
Ao oA
C / oC
,
o
80 / 08 08
/0
Co, oC o ° A
Ao oA 'o 08
Co/
o 0/ o A
80/ o 'o 08
Ao/ o 0/ o A
A 8 C !A C 8 :C A A8A8A8
(e ) (d )
ISâo necessárias medidas acuradas de raios X para detectar a presença de falhas de empilhamento. Ver, por
exemplo, B. E. Warren e E. P. Warekois, A cla M elall. vol. 3, p. 473. 1955.
'c. N. J . Wagner, A cla M elall., vol. 5, pp. 427-434, 1957.
IP. B. Hirsch e H. M. Olle, A cta C rysta//og., vol. 10, pp. 447-453, 1957; O. J. Guenter e B. E. Warren, l. A pp/.
vol. 29, pp. 40-48, 1958.
P h y s .,
'A. Fourdeux e A. Berghezen. l.Inst. M et., vol. 89, pp. 31-32, 1960-196J.
'No Capo 5, serão consideradas com maiores detalhes as discordãncias parciais. O desmembramento de discordãn-
cias em parciais separadas lem sido observado em muitos melais através de microscopia eletrônica.
~-========~'~====>----\ ~
,
'P
/
L d ' M ó d u lo
T
~ relaxado
plasticidade porque deslizam somente no plano basal, evitando, desta forma, compli-
cações devido ao deslizamento dúplex. Na Fig. 4.33, o cristal é deformado até o ponto
O, descarregado, e então recarregado na direção oposta à original de deslizamento. É
importante observar que o material escoa, no recarregamento, a uma tensão cisalhante
inferior ao escoamento do primeiro carregamento. Isto ocorre porque a tensão de
recuo resultante do empilhamento de discordâncias em barreiras, durante o primeiro
carregamento, estará auxiliando a movimentação das discordâncias quando a direção
do deslizamento for revertida. Além disso, quando a direção de deslizamento é rever-
tida, podem ser geradas, nas mesmas fontes, discordâncias de sinais opostas' àquelas
responsáveis pela deformação na primeira direção de deslizamento. Uma vez que dis-
(;;)rdâncias de sinais contrários se atraem e se aniquilam mutuamente, o efeito resul-
tante seria um amolecimento ainda maior da rede cristalina. Isto explica b fato de ser a
I 1
Fig. 4.33 Efeito da reversão completa da direção de deslizamento na curva tensão-deformação.
(De E. H. Edwards, J. Washburn e E. R. Parker, Trans. A /M E , vol. 197, p. 1526, 1953.)
Fig. 4.34 Formação de um degrau J Ca) devido à interseção de uma aresta por uma espiral
quando a primeira desliza de A B para A 'B '; ( b ) através do deslizamento cruzado, de parte de uma
linha de discordância espiral A B , de um plano primário P Q para o plano R 5. C De A. H. Cottrell,
The M echanical P roperties of M alter, John Wiley & Sons, Inc., New York, 1964. Com permis-
são dos editores.)
'Z. S. Basinski, P hilos. M ag., vol. 4, ser. 8, pp. 393-432, 1959. Para uma revisão detalhada, veja H. C onrad,J.
pp. 582-588,julho de 1964.
M e l. ,
'A . Seeger, em D is/ocations and M echanica/ P roperties o/ C rysta/s, John Wiley & Sons, Inc., New York,
1957.
r2 r3
Deformação cisalhante resolvida)'
BIBLIOGRAFIA
Barrett, C. S., and T. B. Massalski, "Structure of MetaIs," 3rd ed., McGraw-Hill Book
Company, New York, 1966.
Clarebrough, L. M., and M. E. Hargreaves: Work Hardening of MetaIs, in "Progress
in Metal Physics," vol. 8, Pergamon Press, Ltd., London, 1959.
Maddin, R., and N. K. Chen: Geometric Aspects of the' Plastic Deformation of Metal
Single Crystals, in "Progress in Metal Physics," vol. 5, Pergamon Press, Ltd.,
London, 1954.
Nabarro, F . R. N., Z. S., Basinski, and D. B., Holt: Plasticity of Pure Single Crystals,
A dv. P hys., vol. 13, pp. 193-323,1964.
Reid, C. N.: "Deformation Geometry for MateriaIs Scientists," Pergamon Press, New
York,1973.
Schmid, E., and W. Boas: "Plasticity of Crystals," English translation, F. A. Hughes &
Discordância é o defeito linear da rede cristalina, responsável pela maioria dos. aspec-
tos da deformação plástica dos metais. Este conceito foi introduzido no Capo 4, onde
se apresentou a geometria das discordâncias-aresta e espiral, para o caso de uma rede
cúbica simples. Foi mostrado que é necessário a existência de um defeito do tipo da
discordância, para explicar os baixos valores do limite de escoamento observados nos
cristais reais, além de uma abordagem geral dos fatores que impedem o movimento das
discordâncias, conduzindo ao encruamento do material.
Este capítulo tem por objetivo apresentar um tratamento mais completo da teoria
das discordâncias. São discutidas as técnicas de observação destes defeitos e apresen-
tados efeitos de se considerar estruturas cristalinas reais c.f.c., c.e.e. ou h.c. no com-
portamento das discordâncias. São também discutidas a origem das discordâncias,
seus mecanismos de multiplicação, a interação entre discordâncias, interação
discordância-Iacuna e discordância-átomo soluto. Em resumo, este capítulo apresenta
a geometria básica e as relações matemáticas que descrevem o comportamento das
discordâncias. Estas relações serão utilizadas para explicar o comportamento mecâ-
nico e os mecanismos de aumento de resistência nos capítulos subseqüentes deste
livro.
'G . I. Taylor, P roe. R . Soe. London, vol. 145A, p. 362,1934; E. Orowan, Z. P hys., vol. 89, pp. 605, 614, 634,
1934; M. Polanyi, Z. P hys., vol. 89, p. 660, 1934.
'Foi possível observar esta distorção da rede, num cristal orgânico de ftalocianina de platina que possui um
parâm etro cristalino m uito grande (12 A ), através de m icroscopia eletrônica. (J. W . M enter, Proe. R. Soe.
London Ser. A; vol. 236A , p. 119, 1956.) Foi obtida um a indicação da distorção da rede causada por discordân-
cias nos m etais, utilizando-se a am pliação das franjas de moiré produzidas por transm issão eletrônica através
de dois cristais finos sobrepostos, com ligeira diferença de orientação ou parâm etros cristalinos. V er G . A .
Bassett, J. W . M enter e D . W . Pashley, Proe. R. Soe. London Ser. A, vol. 246A , p. 345, 1958.
'Foram publicadas vãrias revisões excelentes de técnicas experim entais. V er P. B. H irsch., Metall. Rev., vol.
4, n.o 14, pp. 101-140, 1959; J. N utting, Seeing D islocations, em The Strueture of Metais, Institution of M etal-
lurgists, Interscience Publishers, Inc., N ew Y ork, 1959; S. A m elinckx, The D irect O bservation of D isloca-
tions, Solid State Phys. Suppl. 6, 1964.
'J. J. G ilm an e W . G . Johnston, em Disloeations and Meehanieal Properties ofChrystals, John W iley & Sons,
Inc., N ew Y ork, 1957.
'J. D . M eakin e H . G . F. W ilsdorf, Trans. Metall. Soe. AlME, vol. 218, pp. 737-745, 1% 0.
'U m sum ãrio das técnicas de ataque nos m etais foi realizado por L. C. Low ell, F. L. V ogel e J. H . W ernick,
Met. Prog., vol. 75, pp. % -96D , 1959:
sido utilizado pela primeira vez por Hedges e Mitchell' numa liga AgBr, com prata
fotolítica como decorador das linhas de discordância. Desde então, esta técnica tem
sido aplicada a vários cristais iônicos2, tais como AgCl, NaCl, KC \ e CaF2. Para estes
cristais, transparentes opticamente, esta técnica apresenta a vantagem de revelar a
estrutura interna das linhas de discordância. A Fig. 5.2 apresenta um arranjo hexago-
nal de discordâncias, num cristal de NaC!, revelado por decoração. Embora a técnica
de decoração não tenha sido muito aplicada em metais, existem alguns trabalhos sobre
o assunto, aplicados ao sistema AI-Cu endurecido por precipitação e aos cristais de
silício.
O método mais poderoso para detecção de discordâncias nos metais, em nossos
dias, é a microscopia eletrônica de transmissão de folhas finas3. Após a deformação da
amostra, retira-se uma folha metálica fina de menos de I mm de espessura, a qual é
desbastada por eletroerosão até uma espessura de aproximadamente \.000 À. Para
esta espessura, o material será transparente aos elétrons no microscópio eletrônico.
Embora a rede cristalina não possa ser resolvida, as linhas de discordância podem ser
observadas individualmente, porque a intensidade do feixe eletrônico difratado é alte-
rada pelo campo de deformação da discordância. A largura da imagem de difração de
uma discordância. numa folha fina. é de cerca de 1 0 0 A, o que significa que esta
técnica pode ser aplicada para densidades de discordância de até 1011 cm-2• Através
desta técnica, tem sido possível observar arranjos de discordâncias (Fig. 5.3), falhas de
empilhamento, empilhamento de discordâncias em contornos de grão (Fig. 6.\), barrei-
ras de Lomer-Cottrell, e muitas outras características estruturais da teoria das discor-
Fig. 5.3 Rede de discordâncias em alumínio trabalhado a frio (32.500 X). (De P. B. Hirsch, R.
W. Horne eM. J. Whelan, Philos. M ag., ser. 8, vol. I , p. 677,1956.)
I P . B. Hirsch, A. Howie eM. 1. Whelan, Philos. Tra/ls. R. Soe. LO /ldo/l Ser. A, vol. A252, pp. 499-529,1960.
'A. Howie eM. J. Whe1an, Prac. R. Soe. LO /ldo/l Ser. A., vol. A263, pp. 217-237, 1961; Proc. R. Soe. LO /ldo/l
Ser. A, vol. A267, pp. 206-230, 1962.
3C. S. Barrett, Tra/ls. M e/ali. Soe. AIM E, vol. 161, pp. 15-64, 1945.
'A. R. Lang, J . Appl. Phys., vol. 30, pp. 1748-1755,1959.
5B. E. Warren, X-ray Studies of Deformed Metais, Prag. M e/. Phys., vol. 8, pp. 147-202, 1958.
'E. W. Muller, D iree/ O bserva/io/l ollm perlec/io/ls i/l C rys/als, lnterscience Publishers, lnc., New York,
1962.
cé 'b F im
In íc io l
adição como na subtração dos componentes devem ser empregados vetores unitários
Fig. 5.8 Deslizamento cruzado num cristal cúbico de faces centradas. (De D. H ull,lnlroduclion
1 0 D is/ocalions, p. 56, Pergamon Press. New York, 1965. Com permissão dos editores.)
Fig. 5.9 Deslizamento num plano compacto (111) numa rede c.f.c. (De A. H. Cottrell, D isloca-
tions and Plastic FlolV in C rystals, p. 73, Oxford University Press, New York, 1953. Com per-
missão dos editores.)
'F. C. Thompson and W. E. MiUlington,J. Iron Stee/ Inst. London. vol. 109, p. 67,1924; C. H. Mathewson,
Trans. A IM E , vol. 32, p. 38, 1944.
componente x t = i + i
componente y O= - i + i
componente z -t = -i -!
A reação acima é energeticamente favorável, visto que ocorre um decréscimo na ener-
gia de deformação proporcional à variação a 0 2 /2 ~ a 0 2 /3.
Ib I
1 = a o [i + O + il~ I b2 1 = 00['; + - ; . + - ; 'l ~
vz
Ib 1 = T a o
ao ao
1
I b2 1 = v6 Ib 31 = v6
2 2
b 2 _ 00 b 2 _ 00
> 2 -6 3 -6
> b,' + b?
de discordância foi sugerida por Heidenreich e Shockleyl, por isto este arranjo é co-
nhecido como parciais de Shockley, uma vez que são discordâncias imperfeitas que
não produzem translações completas na rede. A Fig. 5.10 representa a situação vista
D is c o r d â n c ia d is s o c ia d a
~
C O
ao [ -]
b2 = " " 6 211
bl = ao
2 [ 1 0 1-]
:0 [1 2 1 ] + :0 [I 1 2 ] ~ :0 [0 1 1 ]
Da mesma forma que antes, a nova discordância a 0/6[011] é paralela à linha de interse-
ção dos planos de deslizamento e possui um caráter de aresta pura no plano (100). Esta
barreira tem um formato triangular, com a nova discordância no vértice e duas falhas
de empilhamento limitadas por discordâncias parciais nos planos de deslizamento. A
discordância é bloqueada porque seu vetor de Burgers não pertence a nenhum dos
planos das falhas de empilhamento.
As barreiras de Lomer-Cottrell podem ser superadas a altas tensões e/ou tempera-
turas. Stroh2 realizou uma análise matemática da tensão necessária para romper uma
barreira, quer por deslizamento no plano (100), quer através de uma reação retomando
às discordâncias que deram origem à barreira. No entanto foi mostrad03 que, no caso
de discordâncias-espiral empilhadas em barreiras de Lomer-Cottrell, aquelas conse-
guem, através de deslizamento cruzado, escapar do empilhamento antes que a tensão
se torne suficientemente alta para destruir a barreira. Embora a formação das barreiras
de Lomer-Cottrell seja um mecanismo de encruamento importante, certamente não se
constitui no principal.
Devido à multiplicidade de sistemas de deslizamento na rede c.f.c., podem ocor-
rer diversas reações de discordância dos tipos acima discutidos. Estas reações foram
estudadas detalhadamente por Hirth4• Deve-se ressaltar ainda o tetraedro de Thomp-
son.5, que é um método geométrico muito utilizado para a visualização da geometria
destas reações.
o plano basal da malha cristalina h.c. é um plano compacto com seqüência de empi-
O deslizamento ocorre no plano basal (0001) segundo a dire-
Ih a m e n to _ A B A B A B
....
ção <1120> (Fig. 4.3). O menor vetor unitário da estrutura h.c. possui comprimento
ao e está na direção compacta <llio>. Deste modo, o vetor de Burgers é ao[lliO]. As
discordâncias no plano basal podem reduzir sua energia através da dissociação em
parciais de Shockley de acordo com a reação
Uma vez que o plano (001) não é um plano de deslizamento compacto na rede C.C.C., a
discordância é imóvel. Além disso, o plano (001) é o plano de clivagem ao longo do
qual ocorre a fratura frágil.
Fig. 5.13 Deslizamento sobre planos (110) que se cortam. (De A. H. Cottrell, Trans. AIM E, vaI.
212, p. 196, 1958.)
'Para um sumário, ver J. P. Hirth e J. Lothe, Theory of D is{oeations, pp. 344-353, McGraw-Hill Book Com-
pany, New York, 1968.
'A. H. Cottrell, Trans. M etal/. Soe. A/M E, vol. 212, p. 192,1958.
G
'o =
2n(l - v)
bx(x2 _ y2)
, =, o
xy (x2 + y2?
I Para derivações ver F. R. N. Nabarro. Adv. Ph.,·s.. vol. I. nO 3, pp. 271-395. 1952; W. T. Read. Jr., D isloea-
liolls i l l C ryslals, pp. 114-123, McGraw-Hill Book Company. New York. 1953: 1. D. Eshelby, Bril. J . Appl.
Phys .. vol. 17. pp. 1131-1135. 1966.
'J. D. Eshelby, W. T. Read e W. Shockley.Aela M eta" .. vol. I, pp. 351-359.1953.
'U m fato interessante é que este problema foi analisado por Volt erra. em 1907, muito tempo antes de ser
introduzido o conceito de discordâncias. Os detalhes matemáticos podem ser encontrados em A. E. H. Love,
A Trealise 0 1 1 lhe M alhem alieal Theary af Elaslieily. pp. 221-228, Cambridge University Press, New York,
1934.
-tobsen e
ar = a e = -----
r
b cos e
t re = ter = to --- (5-7)
r
u,. atua na direção radial, enquanto U e o faz num plano perpendicular a r. Note que as
tensões variam inversamente com a distância da linha de discordância. Tendo em vista
que a tensão se torna infinita para r = O, deve ser excluída da análise uma pequena
região cilíndrica r = ro. As estimativas de ro indicam que ele seja da ordem de 5 a 10 Á .
Uma discordância-espiral reta num meio isotrópico possui uma simetria cilíndrica
completa. Para um sistema de coordenadas retangular, apenas dois componentes de
tensão não são iguais a zero.
Gb y
txz = - 2n x2 + y2 (5 -8 )
Gb 2n
ty z = - - - ;x2
- + y2 (5 -9 )
Uma vez que numa discordância-espiral não existe um semiplano extra de átomos, não
atuam tensões normais de tração ou compressão. O campo de tensões é simplesmente
de cisalhamento e sua simetria radial pode ser melhor visualizada quando expressamos
a tensão de cisalhamento num sistema de coordenadas polares.
Gb
te = -
z 2nr
1 " 1 "
J
d,
U=2J 'r9 bd ,=-
2
'ob cos8-
'0 2 '0 '
2
u = Gb ln ~
411:(1- v) '0
U = -
1
J '9
'1
b d, = -
G b2 ,
ln ...!.
2'0 z 411:'0
Observe que, de acordo com as hipóteses admitidas até este ponto, a energia de de-
formação por comprimento unitário de discordância é proporcional a G b 2•
A energia de deformação total de uma discordância é a soma da energia de defor-
mação elástica [Eq. (5.12) ou (5.13)] mais a energia do núcleo da discordância. Embora
as estimativas da energia do núcleo sejam muito aproximadas, cálculos de mecânica
quântica indicam que seu valor é aproximadamente 1115 da energia total. A energia do
núcleo pode ser adicionada à energia de deformação elástica, numa boa aproximação,
tomando-se '0 = b. Desta maneira, a energia total por comprimento unitário de
discordância-espiral é dada por
Para um cristal recozido temos, como valores típicos"1 = 10-5 cm e b = 2 X 10-8 cm.
Uma vez que o logaritmo natural de um número grande varia lentamente, para este
intervalo de valores temos ln ( r l/ b ) = 271", e a energia da discordância por comprimento
unitário (desprezando-se as pequenas diferenças existentes nas Eqs. (5.12) e (5.13»
simplifica-se para
G b2
U = -
2
ds di)
d W = "{A (A b
A força sobre uma discordância é sempre definida como uma força F por com prim ento
unitário de linha de discordância. Como F = dW /dl e lembrando-se que esta é uma
força por comprimento unitário ( d s ) , temos
dW
F = -- = r:b
di ds
\
\
\
dI \
~\
\ ~ b \
dS\ \
\
\
\
I
I
r de = rb ds
r
r = bR
Mas, r é uma energia por unidade de comprimento, e já foi visto na Seção 5.7 que
G b2/2 = r é uma boa aproximação para a energia por comprimento unitário de discor-
dância. Sendo assim, a tensão cisalhante necessária para dobrar uma discordância até
um raio de curvatura R é
Gb
1 ': : : : : : : -
2R
2
Gb I rI
2· --- n -
4n(1 - v) '0
Quando as duas discordâncias se encontram muito próximas, esta configuração pode
ser aproximadamente representada por uma única discordância de módulo 2b. Neste
caso, a energia de deformação elástica será
G (2 b )2 I (rI)
4n(l - v) n ;:;; .
Uma vez que este valor é duas vezes aquele observado para o caso das discordâncias
separadas por uma grande distância, estas tenderão a se repelir entre si a fim de que a
energia de deformação elástica total seja reduzida. Quando discordâncias de sinais
contrários se encontram em planos vizinhos muito próximos, não é possível ocorrer
anulação total. Neste caso, elas se combinam dando origem à formação de uma fileira
de lacunas (no caso de~) ou de um átomo intersticial (no caso de ..lT).
A força entre duas discordâncias-espiral paralelas é a situação mais simples de ser
considerada. Em virtude do campo de tensões de uma discordância-espiral ser radial-
mente simétrico, a força entre as discordâncias é uma força radial que depende apenas
da distância de separação r.
G b2
F =te b=-
r z 2nr
Esta força será de atração no caso de discordâncias de sinais opostos (espirais antipa-
raleIas), e de repulsão no caso de discordâncias de sinais iguais (espirais paralelas).
Consideremos agora as forças entre duas discordâncias-aresta paralelas com veto-
res de Burgers iguais. Tendo como referência a Fig. 5.14, as discordâncias-aresta
situam-se em P e Q, paralelamente ao eixo z, com seus vetores de Burgers ao longo do
eixo x. A força entre elas não é uma força central, sendo por isto necessário que se
considere tanto uma componente radial como uma tangencial. A força por compri-
mento unitário é dada por l
G b2 I G b2 sen 28
F = ---- F e= - - - - - - -
r 2n(l - v) r 2n(1 - v) ,
F x
= F cos () -- Fosen()
r
G b 2 x(x2 _ y2)
2n(1 -- v)(x 2 + y2)2
A Fig. 5.17 mostra a variação de F;r com a distância x, onde x está expresso em
unidades de y. A curva A é para discordâncias de mesmo sinal, enquanto que a curva
B é para discordâncias de sinais opostos. Observe que discordâncias de mesmo sinal
repelem-se entre si quando x > y (8 < 45°) e atraem-se quando x < y (8 > 45°),
ocorrendo o oposto no caso de discordâncias de sinais contrários. F;r é zero em x = O e
x = y. No caso de x = O, onde as discordâncias-aresta situam-se alinhadas uma acima
da outra, verifica-se uma condição de equilíbrio. Desta forma, a teoria prediz que um
arranjo vertical de discordâncias-aresta de mesmo sinal está em equilíbrio estável. Este
é o arranjo encontrado num contorno de grão de baixo ângulo do tipo inclinado. Os
cálculos de forças para situações mais complexas foram discutidos por Read' e tam-
bém por Weertman e Weertman2•
r '\
I \
f \
f \
f \
f \
\
\
\
1y 4y
\ x ---+
\
\ r-xi
\ 11 F x -T _ _-----
\ -L_:f__ _ ,- --- -- B
\ L..-______ _ __
' _
\
"
.•••.... _ --- , . . - - '"
----
F ig .
5 .1 7 Representação gráfica da Eq. (5.21). A curva A é para duas discordâncias-aresta de
mesmo sinal. A curva pontilhada B é para duas discordâncias-aresta de sinais contrários. (De A.
H. Cottrell, D islocations and Plastic FlolV in C rystals. p. 48, Oxford University Press, New
York, 1953. Com permissão dos editores.)
2
Gb 1
F = ----
411:(1 - v) r
para uma discordância-aresta .. No entanto, deve-se notar que as superfícies dos metais
estão muitas vezes cobertas por finos filmes de óxidos. Uma discordância, ao se apro-
ximar de uma superfície coberta por um material mais duro elasticamente, encontrará
uma força-imagem repulsiva ao invés de atrativa.
• • • • • • • • • •
• • • • • • • •
·
• •
(~ • • •
• • '-'e • •
• ."
.. • •
• ~ :.)• •
• • • • • • • •
• • • • • • • •
(a ) (b )
Fig. 5.18 ( a ) Difusão de lacuna para uma discordância-aresta; (b ) a discordância escala uma posi-
ção atômica da rede.
Uma vez que mesmo os cristais recozidos possuem muitas discordâncias, é freqüente
uma discordância, movimentando-se no seu plano de deslizamento, interceptar outras
discordâncias que o cruzam. Já vimos anteriormente (Seção 4.14) que os mecanismos
de interseção de discordâncias desempenham um papel importante no processo de
encruamento.
Fig. 5.20 Interseção de duas discordâncias com vetores de Burgers paralelos. (a ) Antes da inter-
seção; ( b ) depois da interseção.
A interseção de uma discordância-espiral com uma aresta pode ser vista na Fig.
5 . 2 I a . A interseção produz degraus de orientação-aresta em ambas as discordâncias.
A interseção de duas discordâncias-espiral (Fig. 5 . 2 I b ) também produz degraus de
orientação-aresta em ambas as discordâncias. Do ponto de vista de deformação plás-
tica, este é o tipo mais importante de interseção.
Os degraus produzidos pela interseção de duas discordâncias-aresta (de qualquer
orientação de b ) podem deslizar livremente porque se encontram nos planos de desli-
zamento das discordâncias originais. A única diferença entre o movimento de uma
discordância-aresta com degrau e uma discordância-aresta comum está no fato de que
a primeira desliza sobre uma superfície escalonada, enquanto que a segunda o faz ao
longo de um único plano de deslizamento. Desta forma, as discordâncias-aresta pura
não têm seu movimento afetado pela presença de degraus nas suas linhas. Todavia,
todos os tipos de degraus formados em discordâncias-espiral apresentam orientação-
aresta, e uma vez que uma discordância-aresta só pode movimentar-se livremente num
plano contendo sua linha e vetor de Burgers, a única maneira do degrau se movimentar
por deslizamento (movimento conservativo) é ao longo do eixo da discordância-espiral
(Fig. 5.22). A única maneira possível da discordância-espiral deslizar para uma nova
posição MNN'O levando junto seu degrau é através de um movimento não-
conservativo deste degrau, tal como a escalagem. A escalagem de discordância é um
processo termicamente ativado e, sendo assim, o movimento de discordâncias-espiral
que apresentam degraus na linha é dependente da temperatura. Nas temperaturas em
que a escalagem não ocorrer, o movimento das discordâncias-espiral será travado
pelos degraus. Isto é consistente com a observação experimenta]! segundo a qual as
discordâncias-espiral se movimentam mais lentamente através do cristal do que o
fazem as discordâncias-aresta.
®tt CDtt
b
RHS
b, --;
1 b,
~b'
®
RHS
'
t~l t
(2) ® ( j)
onde a = 0,2. A energia de um degrau nos metais é cerca de 0,5 a 1,0 eV.
Vimos que a interseção de discordância mais significativa é aquela que ocorre
com duas discordâncias-espiral produzindo degraus não-conservativos. Em todos os
outros casos de interseção, os degraus são capazes de se movimentar juntamente com
suas discordâncias. O movimento não-conservativo de degraus pertencentes a
discordâncias-espiral deve ser discutido com maiores detalhes. A Fig. 5.23 mostra um
corte de um degrau-aresta pertencente a uma discordância-espiral que desliza sobre
um plano paralelo ao da folha de papel, segundo a direção B D ou D B . Para que o
degrau-aresta se movimente não-conservativamente é preciso que ocorra eliminação
de matéria (criação de lacunas) ou criação de matéria (intersticiais). Se o degrau for de
A para B de maneira não-conservativa e depois deslizar ao longo do seu plano de
deslizamento para C, será criada uma fileira de lacunas como mostrado na Fig. 5 .2 3 b .
o Lacuna
• Átomo intersticial
C --J B
t
I
I
I
I
necessária para formar uma lacuna ou um átomo intersticial num degrau de um metal
c.f.c. são de 0,7 e V e 4,8 e V, respectivamente.
onde 0'1 = 1,0 para um átomo intersticial e 0,2 para uma lacuna. O trabalho realizado
pela tensão aplicada para movimentar os degraus de uma distância atômica, através da
formação de lacunas ou átomos intersticiais é dado por
Uma vez que 0'1 é muito maior no caso de átomos intersticiais do que para lacunas, a
formação destas ocorrerá de maneira preponderante à formação daqueles. O fato de
existir boa concordância entre as cinéticas de lacunas de recozimento nos arames tem-
perados e no recozimento dos arames trabalhados a frio fornece uma forte evidência
experimental de que lacunas são formadas por deformação plástica.
~ Vetar de Burgers
(o )
Fig. 5.24 Movimento de discordâncias-espiral com degraus. ( a ) Discordância reta sob tensão
zero; ( b ) a discordância se curva entre os degraus, no plano de deslizamento, devido à tensão
cisalhante aplicada; ( c ) movimento da discordância deixando rastros de lacunas atrás dos de-
graus. (De D. Hull, In tro d u c tio n to D islo c a tio n s, p. 136, Pergamon Press, New York, 1965. Com
permissão dos editores.)
-
5
b
O
O
o
~
Gb
'! ~ -
rb
! ! !
I I I ,
D"-'-:-:-:---'D
Fig. 5.27 Fonte de Frank-Read em cristal de silício. (De W. C. Dash. em D is/o c a tio n s and
M e c h a n ic a / P ro p e rtie s o fC ry sta /s. John Wiley & Sons. Inc., New York, 1957. Com permissão
dos editores.)
U ma vez que estamos tratando apenas de distorções esféricas, a interação ocorre so-
mente com a componente hidrostática do campo de tensões da discordância. A energia
de interação elástica entre a discordância e o defeito pontual é
(I + v )G b sen (}
(J =
m 3 n (1 - v )r
4(1 + v )G b a 3 e sen(}
U ·= ------
I 3(1 - v)r
3 sen (} sen (}
U i = 4 G b a e -- = A --
r r
'1. Weertman e J. R. Weertman, E le m e n ta ry D islo c a tio n T h e o ry , The Macmillan Company, New York, pp.
173-177; B. A. Bilby, P ro c . P h y s. S o c ., L o n d o ll, vol. A63, p. 191, 1950.
'R. Bullaugh e R. C. Newman, P h ilo s. M a g ., v a I. 7, 529, 1962.
'A. W. Cochardt, G. Schoek e H. Wiedersich, A c ta M e ta ll .. vol. 3, pp. 533-537,1955.
'R. L. Fleischer, A c ta M e ta ll., vol. 11, p. 203,1963.
k 1 t"C
s D
n = 4G b
'J . D. Eshelby, F. C. Frank e F. R. N. Nabarro, P h ilo s. M a g ., vol. 42, p. 351,1951; cálculos para tipos mais
;:omplicados de empilhamentos foram feitos por A. K. Head, P h ilo s. M a g ., vol. 4, pp. 295-302, 1959; uma
;:onfirmação experimental da teoria foi realizada por Meakin e Wilsdorf, o p . c it., pp. 745-752.
(J = -
3 (L)
-
'h
T sen () cos -
()
2 r s 2
T = /3 T s ( L)
-;:
'h
1Uma notável exceção é o uso de monocristais em palhetas de turbinas para motores a jato, onde a eliminação
dos contornos de grão aumenta grandemente a resistência ao choque térmico e à fadiga. Ver F.L. Versnyder e
M.E. Shank. Mater. Sei. E /lg ., vol. 6. pp. 213-243, 1970.
I Para uma revisão dos modelos prepostos dos contornos de grão ver D. McLean. Grain Boundaries in Metais,
Capo 2, Oxford University Press, New York, 1957.
2W. Boas e M. E. Hargreaves,Proe. R. Soe. London Ser. A, vaI. A193, p. 89,1948; V. M. Urie e H. L. Wain,
J . Inst. Met., vaI. 81, p. 153,1952.
Uma evidência direta para o endurecimento mecãnico dos contornos de grão foi forne-
cida por experiências' em bicristais nos quais as diferenças de orientação entre um
contorno de grão longitudinal foram variadas de maneira sistemática. A tensão de es-
coamento dos bicristais aumenta linearmente com o aumento da misorientação através
do contorno de grão, e a extrapolação para a misorientação de ângulo zero dá um valor
próximo da tensão de escoamento de um monocristal. Esses resultados implicam que
um simples contorno de grão tem pouca resistência inerente, e que o endurecimento
devido aos contornos de grão resulta da interferência mútua do deslizamento dentro
dos grãos.
Várias tentativas têm sido feitas para calcular a curva tensão-deformação para um
policristal a partir da curva tensão-deformação de um monocristal. No Capo 4, vimos
que a tensão cisalhante resolvida num monocristal era dada por
(J
(J de = I Ti d Y i (6 -2 )
i= 1
Ild Y il
_ i= _ l =M
de
du = I;:f2 dr: (6 5)
de dy -
lU. F. Kocks. A e / a M e / o U . . vol. 6. p. 85,1958; para uma análise detalhada ver U. F. Kocks, M e / a li. T r a f ls . ,
vol. I, pp. 1121-1143, 1970.
'E. O. Hall, P r o c . P h y s . S o e . L O f ld o f l, vol. 643, p. 747, 1951.
'N.1. Petch, l. lr e J n . S / e e llf ls / . L O f ld o f l, vol. 173, p. 25,1953.
'R. W. Armstrong. M e / o U . T r a n s . . vol. 1. pp. 1169-1176, 1970.
'Para uma revisão detalhada do desenvolvimento desses modelos, ver 1. C. M. Li e Y. T. Chou, M e t a U . T r a f ls . , vol.
I, pp. 1145-1159. 1970; J . P. Hirth. M e / O U . T r a f ls . . vol. 3, pp. 3047-3067,1972.
A equação de Hall-Petch é uma relação muito geral e deve ser usada com alguma
cautela. Por exemplo, se a Eq. (6.7) fosse extrapolada para o menor tamanho de grão
imaginável (aproximadamente 40 À), ela atingiria níveis de tensões perto da resistência
teórica de cisalhamento. Tal extrapolação é um erro, pois as equações das tensões em
um empilhamento no qual a Eq. (6.7) é baseada derivaram-se de grandes empilhamen-
tos contendo mais do que 50 discordâncias. Para pequenos empilhamentos outras
equações devem ser consideradas' .
O fator k ' é a inclinação da reta que é obtida quando se traça < T o contra D - !/2 .
Considerava-se inicialmente que k ' estava relacionado com a libertação (ativação) de
uma fonte de discordâncias que estaria bloqueada pela interação com átomos de so-
luto. Entretanto, para esse mecanismo, T tI variaria com a temperatura, mas
encontrou-se experimentalmente que k' é termicamente independente. Além disso, k'
varia consideravelmente para diferentes metais cúbicos de corpo centrado, o que não
deveria ocorrer se k' medisse a retenção de fontes de discordância. Um mecanismo
alternativo para a propagaçã02 do escoamento plástico é que a concentração de tensão
na ponta do empilhamento seja suficientemente alta, de maneira que as discordâncias
são criadas no contorno de um outro grão. A microscopia eletrônica de transmissão
ilustra a presença de contornos de grão atuando como fontes de discordâncias, e é
possível teoricamente! criarem-se discordâncias em patamares atômicos nos contornos
de grão. Tal mecanismo não será fortemente dependente da temperatura.
O termo < T i é a interseção4 da curva com o eixo dos < T o , do gráfico <To l'e r S l/s D-1I2.
Ele é normalmente interpretado como a tensão de atrito necessária para mover discor-
dâncias não-bloqueadas no plano de deslizamento. Esse termo depende fortemente da
temperatura, deformação e a percentagem de elementos-liga ou impurezas presentes.
'R. W. Amstrong. Y. T. Chou, R. A. Fisher e N. Louat, Philos. Mag., vol. 14, p. 943, 1966.
'A. H. Cottrell, The Relatioll Betll'eell Structltre alld Mechallical Properries of Metais, vol. lI, p. 455. Her
Majesty's Stationery Office, London. 1963.
'J. C. M. Li. Trulls. Metal/. Soco AlME. vaI. 227. pp. 239-247. 1963.
• As diversas técnicas empregadas para se determinar ( T , estão discutidas em R. Phillips e J. F. Chapman.1.
Iroll Steellllst. LOlldoll, vol. 203, pp. 511-513. 1965.
onde a i tem o mesmo significado que na Eq. (6.6), O' é uma constante numérica, geral-
mente entre 0,3 e 0,6, e p é a densidade de discordâncias. A justificativa para essa
equação foi dada na Seção 4.14. O vínculo com o tamanho de grão é baseado em
observações experimentais! de que p é uma função inversa do tamanho de grão. En-
tão, p = I/D
Para obtermos o diâmetro médio do grão D a partir de S v, temos que admitir grãos
esféricos do mesmo tamanho, sendo que cada contorno é compartilhado por dois grãos
adjacentes.
2S = 4rr(D/2)2
v 4rr/3(D/2)3
3 3
D = -= -
Sv 2N L
1 0 . G. Brandon eJ. Nutting,J. Iron Steel Inst., vol. 196, p. 160, 1960; A. H. Kehe S. Weissman, em G. Thomase
J. Washburn (eds.), Electron Microscopy and Strength ofCrystals, p. 231, John Wiley Sons, Inc., ,New York,
1%3.
'R. T. DeHoff e F. N. Rhines, Quantitative Microscopy, pp. 201-266, McGraw-Hill Book Company, 1968.
'c. S. Smith e L. Guttman, Trans. AIME. vol. 197, p. 81, 1953.
A
2
=3 "2
1t
(D)2 =
1t
6" D
2
N° Diâmetro de grâo
A5TM médio, mm
ASTM está relacionado com N*, o número de grão por polegada quadrada com um
aumento de 100 x pela relação
A Tabela 6.1 compara os números de tamanho de grão ASTM com várias outras
medidas úteis de tamanho de grão.
/
1
indicada pelo ângulo 6. Na Fig. 6.3h, os dois cristais foram juntados parq formar um
bicristal contendo um contorno de baixo ângulo. Ao longo do contorno os átomos
ajustam suas posições por uma deformação localizada para produzir uma suave transi-
ção de um grão para outro. Entretanto, uma deformação elástica não pode acomodar
todo o desarranjo, de maneira que alguns planos de átomos devem terminar no con-
torno. Onde um plano de átomos termina existe uma discordância-aresta. Portanto,
contornos de baixo ângulo inclinados podem ser considerados como um arranjo de
discordâncias-aresta. Da geometria da Fig. 6.3h, a relação entre 6 e o espaçamento das
discordâncias é dada por
1 b b
e = 2 ta n - -::::::-
2D D
..::...
ib
b
.L
r--
..L
..L I
f----
L .- - l- -
F ig . 6 .3 Diagrama de contornos de grão de baixo ângulo. ( a ) Dois grãos tendo um eixo comum
[001] e uma diferença angular na orientação de O ; ( b ) dois grãos juntados para formar um contorno
de grão de baixo ângulo, produzindo um arranjo de discordãncias em cunha. (De W. T. Read, I r .
D i s l o c a t i o n s i n C r y s t a l s , p. 157, McGraw-Hill Book Company, New York, 1953.)
temperatura devem ser baixas o bastante para evitar a formação de novos grãos por
recristalização. Esse processo é chamado de recristalização localizada ou poligoniza-
ção.
O termo poligonização foi usado originalmente para descrever a situação que
ocorre quando um cristal é dobrado com um raiQ de curvatura relativamente pequeno e
depois recozido. O dobramento produz um excessivo número de discordâncias de
mesmo sinal. Estas discordâncias ficam distribuídas nos planos de dobramento, como
-
.J... ...L
~ ----11--
-
.J... .J... ...L
-ti-
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...L
...L
...L
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-+ ----+ --
(a ) (b )
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§ 50 'I
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g' A ço A IS I C l0 2 0 . a ç o - lig a de q u a lid a d e
a e r o n á u tic a
'" Todos o s corpos de prova inicialmente
~ 30 recozidos a 70CfJC por duas horas
':&
c:
o o Como recozido
Reduzido a frio em 8% na espessura
'"
>-
'"o
Reduzido a frio em 8% , recozido a 7000C
por 1 1 2 h o ra e te m p e r a d o a ó le o
Taxa de d e fo r m a ç ã o , 0 ,0 0 5 c m lm in
I
0,10 0,20
D e fo rm a ç ã o de e n g e n h a r ia
Fig. 6.7 Efeito da subestrutura de contornos de grão de baixo ângulo na curva tensão-
deformação do aço SAE 1020. (De E. R. Parker e J . Washburn, Impurities and ImperfectiO/;s, p.
155. American Society for Metais. Metais Park. Ohio. 1955. Com permissão dos editores.)
Limite superior
de escoamento
E lo n g a ç ã o do
escoamento
tN. do T. Escoamento descontínuo é usado como tradução de yield-point, cuja versão literal para o português
não expressaria o comportamento fenomenológico do escoamento heterogêneo.
A
(J ~ 1:"""2
b '0
onde A é dado pela E q. (5.35) el"o = 2 X 10- 8 cm é a distância do núcleo da discordân-
cia para a linha de átom os de soluto. Q uando um a linha de discordância é "arrancada"
da influência dos átom os de soluto, o deslizam ento pode ocorrer então a tensões m ais
baixas. A lternativam ente, quando as discordâncias são fortem ente bloqueadas, tal
com o por átom os de carbono e nitrogênio no ferro, novas discordâncias devem ser
geradas para perm itir a tensão de escoam ento cair. Isso explica a origem do lim ite
superior de escoam ento (a queda na carga após o escoam ento ter com eçado). A s dis-
cordâncias que ficam livres no plano de deslizam ento em pilham -se nos contornos de
grão. C om o discutido na S eção 6.3, o em pilham ento de discordâncias produz um a
queda na tensão de escoamento, i.e., onde a tensão diminui rapidamente uma vez
começado o escoamento. O bloqueio pelos átomos de impurezas tornou-se então um
caso especial do comportamento do escoamento descontínuo.
A relação entre a taxa de deformação imposta no material e o movimento das
discordâncias é dada por
_ ('- )m'
v=
'o
onde To é a tensão cisalhante resolvida correspondente à velocidade unitária. Para
materiais com baixa densidade inicial de discordâncias (ou com forte bloqueio das
discordâncias, como no ferro), a única maneira de b p V igualar-se à taxa de deformação
imposta é possuir v grande. Mas, de acordo com a Eq. (6.19), isso só pode ser reali-
zado em grandes tensões. Entretanto, uma vez que algumas discordâncias principiam a
se movimentar, elas começam a se multiplicar e p au;nenta rapidamente. Embora isso
introduza algum encruamento, este é mais do que compensado pelo fato de que v pode
cair, e com ela a tensão necessária para mover as discordâncias. Então, a tensão re-
querida para deformar o material cai uma vez começado o escoamento (queda do es-
coamento). Finalmente, o aumento da densidade de discordâncias produz um aumento
do encruamento através da interação de discordâncias e a tensão começa a crescer
com a continuação da deformação.
De acordo com esse modelo, os parâmetros controladores são a densidade de
discordâncias móveis e o expoente que descreve a dependência da tensão com a velo-
cidade das discordâncias, m'. Das Eqs. (6.18) e (6.19), podemos expressar condições
nos limites superior e inferior de escoamento pela expressão
'u= (PL)l/m.
TL Pu
Para pequenos valores de m ' ( m ' < 15), a razão TufTL será bem grande e existirá então
uma forte queda na tensão de escoamento. Para o ferro ( m ' = 35), somente ocorrerá
substancial queda na tensão de escoamento se Pu for menor que cerca de 10 cm- 3 2
•
'(N. do T.) Whiskers são monocristais finíssimos de preparação especial que os torna praticamente isentos de
defeitos.
'W. G. Johnston e J. J. Gilman, J . Appl. Phys., vol. 30, p. 129, 1959. A teoria tem sido ampliada para cobrir o
escoamento no ferro e outros metais c.e.e. por G. T. Hahn, Acta Metal/., vol. 10, pp. 727-738,1962.
7 ~ E l1 v e /h e c im e l1 to
p o r d e fo r m a ç ã o é um tipo de comportamento normalmente associado
com o fenômeno do escoamento descontínuo, no qual a resistência de um metal é
aumentada e a ductilidade é"diminuída com o aquecimento, a temperaturas relativa-
mente baixas, do metal previamente deformado a frio. Esse comportamento pode ser
melhor ilustrado pela Fig. 6.9, a qual descreve esquematicamente o efeito do envelhe-
cimento pela deformação na tensão de escoamento de um aço baixo-carbono. A região
( A da Fig. 6.9 mostra a curva tensão-deformação para um aço baixo-carbono defor-
mado plasticamente através da elongação do escoamento descontínuo para uma de-
formação correspondente ao ponto X . O material é então descarregado e recarregado
sem uma considerável demora ou qualquer tratamento térmico (região B ) . Nota-se que
no recarregamento o escoamento descontínuo não ocorre já que as discordâncias
foram libertas das atmosferas de átomos de carbono e nitrogênio. Consideremos agora
que o material é deformado até o ponto Y e então descarregado. Se ele for recarregado
depois de um envelhecimento por alguns dias à temperatura ambiente ou por algumas
horas a uma temperatura de envelhecimento de 300°F, o escoamento descontínuo irá
reaparecer. Além disso, o escoamento descontínuo crescerá pelo tratamento de enve-
lhecimento de Y para Z. O reaparecimento do escoamento descontínuo é devido à
difusão dos átomos de carbono e nitrogênio para as discordâncias durante o período de
envelhecimento para formar novas atmosferas de intersticiais, ancorando as discor-
dâncias. O suporte teórico para esse mecanismo reside no fato de que a energia de
ativação para o retorno do escoamento descontínuo no envelhecimento está de acordo
com a energia de ativação para difusão do carbono no ferro-alfa.
DA
v= --2
kTr
onde A é dado pela Eq. (5.35) e D é o coeficiente de difusão.
Para velocidades maiores, as discordâncias saem da atmosfera acarretando a
queda no escoamento. Desde que a mobilidade dos átomos de soluto é grande nas
temperaturas nas quais o escoamento descontínuo ocorre, novos átomos movem-se
para as discordâncias e as bloqueiam. O processo é repetido muitas vezes causando
serrilhações nas curvas tensão-deformação.2
IA sensibilidade à taxa de deformação é a mudança na tensão necessária para produzir uma certa mudança na
taxa de deformação à temperatura constante (ver Cap. 9); também J. D. Lubahn, T r a f ls . A m . S o e . M e l. , vol.
44, pp. 643-666, 1952.
'Observações e teorias dos serrilhados e do escoamento descontinuo são revistas por B. J. Brindley e P. J.
Worthington, M e l. R e L , n.O 145, M e l. M a le r . , voJ. 4, n.o 8, pp. 101-114, 1970.
'; ;
a.
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o
ô40
c
Fig. 6.11 Efeito da razão elétron-átomo na tensão de
~ 30
o
'" escoamento das ligas de solução sólida de cobre. (De
~ 20
W. R. Hibbard, Jr., Trans. Metal/. Soe. A/ME, vol.
212, p. 3, 1958.)
"
"O
.~ 1 0
'"c:
~ O
1,10 1,15 1,20
R azão e lé tr o n -á to m o
'J. E. Dom, P. Pietrokowskye T. E. Tietz, Trans. AlME. vol. 188, pp. 933-943, 1950.
'W. R. Hibbard, Jr., Trans Metal/. Soe. AlME, vol. 212, pp. 1-5, 1958.
3N. G. Ainslie, R. W. Guard e W. R. Hibbard, Trans Metal/. Soe. A/ME, vol. 215, pp. 42-48, 1959.
'c . E. Lacy eM. Gensamer, Trans Am. Soe. Mel., vol. 32, pp. 88-110, 1944.
SR. S. French e W. R. Hibbard, Jr., Trans. AlME, vol. 188, pp. 53-58, 1950.
'Dom, Pietrokowskye Tietz, op. cit.
'V. F. Zackay e T. H. Hazlett, Aeta Me({ll/., vol. I, pp. 624-628, 1953.
'R. L. Fleischer, Solid Solution Hardening in D. Peckner (ed.), The Strengthening o/Metais, Reinhold Publishing
Corporation, New York, 1964.
( )ÇUm certo número de fatores devem ser considerados como contribuintes para o
I endurecimento por solução sólida. Vários fatores foram estudados em certos sistemas,
mas até agora não envolvem nenhuma teoria coerente. Os fatores mais importantes
que afetam o endurecimento por solução sólida são:
I. F a t o r d e t a m a n h o r e la tiv o e a = I/a (d a /d c ), onde a é o espaçamento interatô-
mico da liga e c é a concentração atômica do soluto. Esse fator leva à interação
elástica através da Eq. (5.35).
2 . F a to r d o m ó d u lo r e la tiv o e 'e = e e / ( l - e e / 2 ) , onde e e = I / C ( d C / d c ) e C é o
módulo de cisalhamento da liga. Fleischerl mostrou que a taxa de mudança da
tensão de cisalhamento com a concentração atômica do soluto quando represen-
tada graficamente contra e 'e - 3 e a dá uma reta para o caso de um grande nú-
mero de soluções sólidas diluídas de cobre.
3 . /n te r a ç â o e lé tr ic a As nuvens eletrônicas tendem a se redistribuir através da
liga já que elas resistem à compressão. Os elétrons tenderão a migrar da região
de compressão de uma discordância em aresta para a região de tração, criando
um dipolo elétrico. Num sol vente monovalente a condução extra de elétrons
introduzi da por um átomo de soluto polivalente tenderá a se desviar, deixando
um excesso de cargas positivas no íon de impureza. Portanto, existirá uma inte-
ração eletrostática de curta distância entre o átomo de soluto e as discordâncias.
Embora não tenham sido feitos cálculos de precisão, estima-se" que a interação
eletrostática é maior que 0,02 e V para um átomo de soluto divalente.
4 . /n te r a ç ã o q u ím ic a (in te r a ç ã o d e S u z u k i) A dissociação das discordâncias nos
sistemas cristalinos compactos em discordâncias parciais afeta o arranjo perió-
dico da matriz, num cristal c.f.c., a região da falha de empilhamento tem um
empilhamento h.c. Suzuki3 observou que a mudança na energia livre com a con-
centração de soluto não será a mesma para a matriz e para a região da falha de
empilhamento, de maneira que existirá uma interação com a discordância esten-
Gb
R ;:::;;-
2ri
o
O o O O O
9 9 9 O o
Ó Ó Ó O O
O O O
O
(o)
Fig. 6.13 (o) Linha de discordância reta numa solução sólida aleatória; (b) linha de discordância
flexível.
O grau de interação que a discordância terá vai depender do espaçamento médio À das
partículas. Para átomos individuais distribuídos através da rede cristalina, À é muito
pequeno e é dado por
À=~
I/J
C
para soluções sólidas muito diluídas. Enquanto vários estudos mostram que a depen-
dência da tensão de escoamento com a concentração é linear para soluções muito
diluídas, a Eq. (6.24) prediz valores para a tensão de escoamento que são muito maio-
res.
A teoria de Mott- Nabarro será importante quando considerarmos outras barreiras
para o movimento das discordâncias, tais como precipitados.
Em ligas com ordenação de l o n g o a l c a n c e cada átomo constituinte ocupa uma
posição particular na rede, resultando numa s u p e r - r e d e com uma célula unitária maior
e talvez uma estrutura cristalina diferente dos constituintes. Por exemplo, numa
super-rede de CU3Au os átomos de cobre ocupam os centros das faces da rede c.f.c.,
enquanto os átomos de ouro ocupam as vértices. Uma super-rede é similar a um c o m -
p o s to in te r m e tá lic o I. Normalmente as discordâncias numa super-rede dissociam-se em
dois pares de discordâncias comuns separadas por uma r e g i ã o d e a n t i f a s e . A extensão
da região é o resultado de um equilíbrio entre a repulsão elástica de duas discordâncias
de mesmo sinal e a energia do contorno da antifase. Um deslizamento através de um
contorno de antifase resulta num aumento na área total do contorno. Do trabalho
requerido para fornecer a energia associada com a área adicionaF, a tensão requerida
para mover a discordância é
I A diferença básica é que num composto intermetálico as duas esferas atômicas podem ficar em pontos de
reticulado que são geometricamente diferentes. Para uma discussão completa de compostos intermetálicos ver
J. H. Westbrook (ed.), l n t e r m e t a l l i c C o m p o u n d s , John Wiley & Sons, Inc., New York, 1967.
'P. A. Flinn, Strengthening by Superlaltice Formation in D. Peckner (ed.), T h e S t r e n g t h e n i n g o f M e t a I s , pp.
219-235, Reinhold Publishing Corporation, New York, 1964.
"Para uma discussão bem ilustrada da relaç"ão entre diagrama de fase, microestrutura e propriedades, ver R. M.
Brick, R. B. Gordon e A. Phillips, S t r u c t u r e a n d P r o p e r t i e s o f A l l o y s , 3." ed., McGraw-Hill Book Company,
New York, 1965.
A Fig. 6. l5b mostra a tensão de escoamento para uma liga com fração volumétrica dos
constituintes de 0,5 baseada na hipótese da igualdade das tensões. Ambas as hipóteses
são simples aproximações, e as resistências de ligas contendo duas fases dúcteis ge-
ralmente estão alguma coisa entre os valores preditos por esses dois modelos.
A deformação de uma liga constituída de duas fases dúcteis depende da fração
< -
(a )
Fig. 6.15 Tensão de escoamento estimada de ligas bifásicas. ( a ) Mesma deformação; ( b ) mesma
tensão. (De J. E. Dom e C. D. Starr. R e i a l i o l l o f P r o p e r l i e s 1 0 M i e r o s l r u e l u r e , pp. 77-78, Ame-
rican Society for Metais, Metais Park. Ohio. 1954. Com permissão dos editores.)
macia irá ocorrer em volta das partículas da matriz dura. Para cerca de 30 por cento em
volume da matriz dura. a matriz mole não será mais uma fase completamente contínua e as
duas fases tenderão a se deformar com mais ou menos o mesmo grau de deformação. Para
cerca de 70 por cento em volume da fase dura. a deformação é amplamente controlada
pelas propriedades dessa fase.
As propriedades mecânicas de uma liga constituída de uma fase dúctil e uma fase
dura e frágil dependerão de como a fase frágil é distribuída na microestrutura. Se a
fase frágil estiver presente com um envolvente dos contornos de grão, como na liga
cobre-bismuto isenta de oxigênio ou nos aços hipereutéticos, a liga será frágil. Se as
partículas da fase frágil estão distribuídas nos contornos na forma de partículas des-
contínuas, como as obtidas quando se adiciona oxigênio na liga cobre-bismuto ou com
oxidação interna do cobre ou níquel. a fragilidade da liga é um pouco reduzida. A
condição ótima de resistência e ductilidade é obtida quando a fase frágil está presente
como uma dispersão de partículas finas uniformemente distribuídas através da matriz
dúctil. Essa é a situação dos aços tratados termicamente com uma matriz martensítica
temperada.
Um dos primeiros trabalhos correlacionando a microestrutura de uma liga bifásica
e a tensão de escoamento foi feito por Gensamer e colaboradores3 para agregados de
cementita (carboneto de ferro) e ferrita recozida, normalizada e esferoidizada. Para
uma dispersão grosseira dos agregados de segunda fase. eles descobriram que a tensão
de escoamento a uma deformação verdadeira de 0.2 era inversamente proporcional ao
logaritmo do espaçamento médio das partículas· (caminho médio livre da ferrita) (Fig.
Ó
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§120
~Q)
-o
Q)
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4 O • P e r lit a e u t e c t ó id e
o Esferóide
tJ. P e r lit a h ip o e u le c t ó id e
o
3,0 3,4 3,8 4,2 4,6 5,0 5,4 5,8
Log do caminho livre de ferrita, Â
Fig. 6.16 Tensão de escoamento contra o Jogaritmo do caminho livre médio de ferrita e distribui-
ção esferoidal de carbonetos. (De M. Gensamer, E. S. Pearsall, W. S. Pellini e J. R. Low, T r a n s .
A5M , v a I . 30. p . 1003. 1942.)
6.16). Essa relação foi também confirmada para as partículas finas de cementita na
martensita temperada, I partículas grosseiras nas ligas AI-Cu2 superenvelhecidas e aços
esferoidizados,3 e carbonetos Co-WC sinterizados.4 O grau de endurecimento produ-
zido por partículas dispersas é ilustrado pela Fig. 6.17. A curva inferior representa a
solução sólida saturada de AI-Cu. A curva superior é para a solução sólida contendo 5
por cento em volume das partículas finas CuAI2, enquanto que a curva média é para
uma dispersão grosseira para a mesma fração volumétrica.
Ainda não se desenvolveu uma base teórica forte para explicar a resistência de um
agregado bifásico grosseiro. Em termos gerais, a segunda fase bloqueia o desliza-
mento, de maneira que a deformação plástica não é uniforme em toda a matriz. A
deformação na matriz é localizada e maior que a deformação média do corpo de prova.
Isso nos leva a correlacionar o endurecimento com a restrição localizada da deforma-
ção plástica. Um bom exemplo está no relativo endurecimento entre a perlita e a esfe-
roidita nos aços (Fig. 9.22). Para a mesma fração volumétrica da fase cementita, a
estrutura perlítica terá uma maior tensão de escoamento porque a matriz ferrítica pren-
sada entre placas de cementita será mais restringida do que a ferrita envolvendo as
partículas esferoidais na microestrutura esferoidizada. Uma interessante abordagem
desse problema é a aplicação das teorias do projeto limite, da plasticidade do contínuo,
para prever a resistência de modelos de microestruturas5 idealizados.
- S o lu ç á o s ó lid a
c o n te n d o 0 .1 9 4
de eu
@ E N D U R E C IM E N T O D E V ID O A P A R T ÍC U L A S F IN A S
fase em equilíbrio CuAI2, ou ( J , é formada a partir da transição da fase ( J '. Essas partí-
culas não são mais coerentes com a matriz, e conseqüentemente a dureza é menor do
que no estágio em que a fase coerente (J ' estava presente. Para a maioria das ligas com
endurecimento por precipitação, os primeiros precipitados que são identificados com a
resolução de um microscópio óptico comum são os que já não apresentam mais coe-
rência com a matriz. A continuação do envelhecimento após esse estágio produz o
crescimento das partículas e a conseqüente diminuição da dureza. A Fig. 6.18 ilustra a
maneira pela qual a resistência varia com o tempo de envelhecimento ou com o tama-
nho da partícula. A seqüência dos eventos do sistema AI-Cu é particularmente compli-
cada. Embora outros sistemas de endurecimento por precipitação possam não ter tan-
tos estágios, é muito comum a formação de um precipitado coerente que depois perde
a coerência quando a partícula atinge um tamanho crítico.
A deformação de ligas com endurecimento devido à presença de partículas finas
Envelhecimento
para máxima
dureza
Envelhecido
para formar
zonas GP
4(1 - f) r
À = 3[
2J6 !Y s
t.(J = ----
n r
lC. W. Corti. P. Cotterill e G. Fitzpatrick, /111. M e l. R e l'., vol. 19, pp. 77-88, junho de 1974.
'N. F. Mott e F. R. N. Nabarro, o p . c il.
'V. Gerold e H. Haberkorn, P h y s . S /a /u s o S o /id i, vol. 16, p. 675, 1966.
'A. Kelly e R. B. Nicholson, P r o g r e s s i l l M a te r ia is S c ie n c e , vol. 10, nO 3, Pergamon Press, New York, 1963.
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01
C!)
Fig. 6.21 Desenho esquemático dos
estágios na passagem de uma discor-
dância entre obstáculos largamente
separados, baseado no mecanismo
de endurecimento por dispersão de
Orowan.
(1 ) (2 ) (3 ) (4 ) (5 )
Gb
'o = T
Já que os segmentos de discordâncias que se encontram do outro lado da partícula são
de sinais opostos, eles podem se anular simultaneamente em parte do seu compri-
mento, deixando um anel de discordância ao redor de cada partícula (estágio 4 ) . A
discordância original está então livre para mover-se (estágio 5). Toda discordância
deslizando neste plano de deslizamento adiciona mais um anel ao redor das partículas.
Esses anéis exercem uma contratensão sobre as fontes de discordâncias as quais têm
que superá-Ia para que ocorra u m deslizamento adicional. Isso requer um aumento na
tensão cisalhante, com o resultado de que partículas dispersas não-coerentes causam o
rápido encruamento da matriz. O encruamento devido à tensão de curto alcance pode
ser calculado a partir do modelo de Hart enquanto aquele devido à tensão interna
l
,
média pode também ser determinado2• A taxa de encruamento devido à tensão interna
média é
(7 - 5v) fE
10(1 - V 2) 1 - f
A equação básica de Orowan tem sido modificada pela introdução de estimativas
mais refinadas da tensão de linha das discordâncias'l, pelo uso do espaçamento planar
À . p para o caminho livre médio,4 e por adição de uma correção para a interação entre os
segmentos de discordância em ambos os lados da partícula.5 Isso leva a um certo
número de versões da equação, dentre as quais a mais comum é a equação de
Orowan- Ashby6
O ,1 3 G b r
L1er = --In -
À b
A maioria das teorias de endurecimento com partículas de segunda fase são ba-
seadas em partículas esféricas idealizadas, mas a forma da partícula pode ser impor-
tante, principalmente pela mudança em À.. Para frações em volume iguais, bastões e
placas endurecem cerca de duas vezes mais do que as partículas esféricas 7.
na Fig. 6.22. A alta tensão cisalhante no fim da fibra significa que uma matriz metálica
irá escoar plasticamente (ou uma matriz de polímero irá se romper) acima de um valor
crítico. A fim de se aproveitar inteiramente a alta resistência da fibra. é necessário que
a zona plástica da matriz não se estenda da extremidade da fibra até a metade do seu
comprimento antes de atingir o rompimento da fibra. Isso nos leva a um comprimento
crítico da fibra L ( . .
tica. O módulo de Young para o composto, E c , pode ser determinado a partir de uma
simples "regra de misturas" adicionando-se módulo elástico da matriz e da fibra'
'Essa expressão simples é para o módulo de elasticidade na direção longitudinal das fibras. As expressões para
a direção transversal e outros ãngulos da fibra são mais complexas. .
'H. P. Cheskis e R. W. Heckel. M e /a li. T r a n s .. vol. I. pp. 1931-1942. 1970.
Quando f r < f " 'i l l . a resistência do composto será dada pela Eq. (6.45). As relações
entre a resistência do composto e a fração volumétrica das fibras com a localização de
f " 'i l l . e f c r i / . estão na Fig. 6.24.
onde {3é uma constante igual a 0,5. Isto mostra que as fibras descontínuas irão produ-
zir um menor aumento da resistência do composto do que as fibras contínuas, mas se
L e /L é pequeno, a diferença é insignificante.
O composto com um arranjo unidirecional de fibras é um material com elevada
anisotropia. Quando tal material é carregado com um certo ângulo em relação à dire-
ção das fibras (Fig. 6.25), três parâmetros de resistência devem ser considerados. A
tensão necessária para produzir a ruptura pelo escoamento paralelo à direção das fi-
bras é ( T e , dado pela Eq. (6.43). A tensão cisalhante necessária para produzir a ruptura
por cisalhamento na matriz ou na interface fibra-matriz é T s > enquanto ( T s é a tensão de
tração necessária para produzir a ruptura do composto numa direção normal às fibras.
A tensão de tração para produzir a ruptura de um composto pela fratura das fibras é
Se a ruptura ocorre por cisalhamento na direção das fibras num plano paralelo a estas,
a tensão de fratura é
Esses critérios estão traçados na Fig. 6.25, onde se vê que a resistência de um com-
posto com fibras unidirecionais cai significantemente para pequenos afastamentos da
orientação das fibras. Esse problema é resolvido na prática pelo uso de chapas finas
laminadas nas quais as fibras têm uma orientação diferente em cada camada. Um
exemplo bem familiar de um materiallaminado que aproximadamente usa esse recurso
é a madeira compensada.
1.000
900
800
60
-250
700
ü
3j'" 600 w
o
.~ Fig. 6.26 Dureza de vanos
u
'>
~
u
Q)
"O
produtos de transformação de
50 o aços. (De E. Bain e H. W.
'"
Q)
a: "O
N
Paxton, A l l o y i n g E l e m e n t s i n
:; 500 '" ;f.
Q)
200 10 .~
E
:::;
100
Temperatura de
.....austenitização
\\~
Fig. 6.27 Diagrama tempo-temperatura-transforma-
------1
L D e to r m a ç ã o
ção mostrando os passos no processo de a u s f o r m i n g .
~-~
'f T êm pera
4
10
Tempo. s
Fig. 6.28 ( a ) Deformado a 10 por cento de deformação. Início da formação de células com ema-
ranhado de discordâncias; ( b ) deformado a 50 por cento de deformação. Tamanho de célula em
equilíbrio com alta densidade de discordância nas paredes da célula (esquemático).
'B. E. Warren, em P r o g r e s s i n M e t a l P h y s i c s , vol. 8, pp. 147-202, Pergamon Press, Lld., Londres, 1959.
'Par •• uma revisão da energia armazenada do trabalho a frio ver M. B. Bever, D. L. Holt e A. L. Titchener,
P rogress in M a te r ia is S c ie n c e , vol. 17, Pergamon Press, Lld., London, 1973.
o
nada. Uma redução na ordenação de curto alcance durante a deformação de soluções
sólidas pode também contribuir para a energia armazenada. A energia de deformação
elástica contribui apenas para uma insignificante parte da energia armazenada.
ENCRUAMENTO
o 10 20 30 40 50 60 70
Redução por trabalho a frio. %
o estado de trabalhado a frio é uma condição de maior energia interna do que o mate-
rial não-deformado. Embora a estrutura celular de discordâncias do material traba-
lhado a frio seja mecanicamente estável, ela não é termodinamicamente estável. Com
o aumento da temperatura, o estado trabalhado a frio torna-se cada vez mais instável.
Eventualmente o metal se recupera e reverte-se para uma condição livre de deforma-
ção. O processo global pelo qual isso ocorre é conhecido como recozimento". O reco-
zimento é comercialmente muito importante porque restaura a ductilidade de um metal
que tenha sido severamente encruado. Assim, pela interposição de operaçôes de reco-
zimento após grandes deformaçôes, é possível conseguir elevadas percentagens de de-
formação para a maioria dos metais.
O processo de recozimento pode ser dividido em três processos distintos: recupe-
ração, recristalização, e crescimento de grão. A Fig. 6.30 ajudará a distinguir esses
processos. A r e c l I p e r a ç â o é normalmente definida como a restauração das proprieda-
des físicas do metal trabalhado a frio sem que ocorra alguma mudança visível na mi-
croestrutura. A condutividade elétrica durante a recuperação aumenta rapidamente
para o valor do material recozido, e a deformação da rede cristalina, quando medida
1 Para uma revisão das teorias do encruamento. ver D. McLean. M e e h a n i c a l P r o p e r t i e s o f M e t a i s , pp. 153-161,
John Wiley & Sons, Inc., New York, 1962.
'D. McLean. T r o n s . M e t a l l . S o e . A 1 M E , vol. 242. pp. 1193-1203, 1968.
"Para uma detalhada revisão do recozimento, ver P. A. Beck. A d l ' . P h y s . , voI. 3, pp. 245-324, 1954; J. E. Burke
e D. Turnbull, em P r o g r e s s i n M e t a l P h y s i e s . voI. 3, Interscience Publishers. Inc., New York, 1952.
Fig. 6.31 M udanças na microestrutura de latão 70-30 trabalhado a frio com recozimento. (a) Tra-
balhado a frio em 40 por cento: (b) 440 o C. 15 min: (c) 575°C. 15 min (ISO X). (Cortesia de L. A.
M onson).
1 Para uma discussão dos mecanismos e da cinética da recuperação, recristalização e crescimento do grão, ver
P. G. Shewmon, T r a l l s f o r m a r i o l l s ill M e r a ls , Capo 3, McGraw-Hill Book Company, New York, 1969; e tam-
bém R e c r y s r a l l i z a r i o l l G r a ill G r o lV lh , a lld T e x llir e s , American Society for Metais, Metais Park, Ohio, 1966.
'R .. F. Mehl. Recrystallization, em M e l l i l s H a l l d b o o k , pp. 259-268, American Society for Metais, Metais Park,
OhlO. 1948.
Um metal que tenha sofrido uma grande quantidade de deformação, como na lamina-
ção ou na trefilação de arames, desenvolve uma o r i e n t a ç ã o p r e f e r e n c i a l , ou textura,
na qual certos planos cristalográficos tendem a se orientar de uma maneira preferencial
com respeito à orientação de máxima deformação. A tendência dos planos de desliza-
mento num monocristal girarem paralelamente ao eixo de deformação principal já foi
considerada previamente. A mesma situação ocorre para agregados policristalinos,
mas a interação complexa entre os múltiplos sistemas de deslizamento faz com que a
análise para a situação de um policristal fique muito mais difícil. Uma vez que os grãos
individuais num agregado policristalino não podem girar livremente, ocorrerá dobra-
mento da rede e fragmentação.
Orientações preferenciais são determinadas por métodos de raios X. A figura de
raios X de um metal de grãos finos orientados aleatoriamente mostra anéis correspon-
dentes a diferentes planos, onde os ângulos satisfazem a condição de Bragg para a
reflexão. Se os grãos estão orientados aleatoriamente, a intensidade dos anéis é uni-
forme para todos os ângulos, mas se existir uma orientação preferencial, os anéis se
quebrarão em pequenos arcos, ou manchas. As áreas densas das fotografias de raios X
indicam a orientação dos pólos dos planos correspondentes ao anel de difração em
questão. A orientação dos grãos de uma orientação cristalográfica particular, com res-
peito à direção principal de trabalho, é melhor interpretada por u m a j i g u r a - p l í l o . Para
tem sido observada em metais c.e.e. e h.c., mas não em metais c.f.c., a menos que
existam fatores contribuindo para a fragilização dos contornos de grão.
A fratura dúctil pode assumir várias formas. Monocristais h.c. podem deslizar em
planos basais sucessivos até o cristal finalmente se separar por cisalhamento (Fig.
7.th). Materiais policristalinos de metais muito dúcteis, como o ouro ou chumbo,
podem ter a sua seção reduzida a um ponto, antes que se rompam (Fig. 7.tc). Na
fratura em tração de metais moderadamente dúcteis, a deformação plástica pode pro-
duzir uma região de deformação localizada (pescoço) (Fig. 7 .td ) . A fratura começa no
centro do corpo de prova e depois se propaga por uma separação cisalhante ao longo
das linhas pontilhadas na Fig. 7 .ld . Isto resulta na fratura conhecida como "taça e
cone".
As fraturas são classificadas com respeito a várias características, tais como de-
formação necessária para ocorrer fratura, modo cristalográfico de fratura e aparência
da fratura. Gensamer1 resumiu da seguinte maneira os termos comumente usados para
descrever a fratura:
1M. Gensamer, General Survey of lhe Problem of Fatigue and Fraclure, em F a tig u e , a n d F r a c tu r e o f M e ta is ,
lohn Wiley & Sons, Inc., New York, 1952.
2nx
(J = (JmáxsenT (7-1)
T
2nx
(J = (Jmh (7-2)
Ex
(J = Ee =- (7-3)
ao
À. E
(Jmáx= 2 n ~ (7-4)
Mas essa energia é igual à energia necessária para criar as duas novas superfícies de
fratura.
ÀCTmáx 2
-- = Ys
n
(J max
, = (E Y s) Y2
ao
É interessante notar que a resistência coesiva teórica de um sólido frágil pode ser
expressa de maneira tão simples em termos de tais parâmetros básicos. Admitindo
valores típicos para esses parâmetros e substituindo-se na Eq. (7.7),
Essa aproximação admite que a tensão coesiva teórica O " m á x . pode ser atingida local-
mente na ponta da trinca, enquanto que a tensão média O " é muito mais baixa. Entre-
tanto. igualando as Eqs. (7.7) e (7.8), podemos achar a equação para O " que é a tensão
nominal de fratura O " f do material contendo trincas.
_ (E Y s) Y,
(fI - -
4c
Então, vemos que num sólido frágil uma'pequeníssima trinca produz uma grande dimi-
nuição da tensão de fratura.
I C.E. Inglis, T r a n s . l n s / . N a v . A r c h ir ., vaI. 55, pt. I, pp. 219-230,1913. A Eq. (7.8) é equivalente à Eq. (2.109)
desde que para uma elipse p = b 'l a e a = c na Fig. 7.3.
'. C. E. Inglis, o p ~ c il: ; a Eq. (7.11) pode ser entendida se nós consideramos que a energia de deformação
Slt/a.se numa regJaO cIrcular de ralO c em torno da trinca. A energia de deformação por unidade de volume é
rr 2 E , de maneira que U , . por urudade de espessura é r r ( 7 T c ') / 2 E . O fator Y.zcai para o caso de uma anãlise mais
ngorosa.
De acordo com o critério de Griffith, a trinca se propagará sob a ação de uma tensão
aplicada constante a se um aumento in-cremental do comprimento da trinca não produ-
zir mudança na ene~gia total do sistema, isto é, o aumento da energia superficial é
-compensado por uma diminuição da energia elástica de deformação.
,.
Z 2
dM ! =O =~ (4C Y _ 7 té ( )
dc dc S E
27tcu 2
4'1 ---
S E =0
u = e::}h
A Eq. (7.14) dá a tensão necessária para a propagação de uma trinca num ,material
frágil em função do tamanho da microtrinca. Nota-se que essa equação indica que a
tensão de fratura é inversamente proporoional' à raiz quadrada do comprimento da
trinça, portanto um aumento do comprimento da trinca por um fator 4 reduz a tensão
*
de fratura pela metade.
Para uma placa que é espessa comparada com o comprimento da trinca (deforma-
ção plana), a equação de Griffith é dada por
u = (2E Ys 7t P t )Yz
r 7tC 800
Está bem determinado que, mesmo os metais que fraturam de uma maneira completa-
mente frágil, sofrem alguma deformação plástica antes da fratura. Esse fato é substan-
ciado por estudos de difração de raios X da superfície de fratura2 e por estudos meta-
lográficos da fratura (ver Seco 7.7). Portanto, a equação de Griffith para a fratura não
se aplica para metais. Uma maneira de constatar que a tensão de fratura de um mate-
rial que sofre deformação plástica antes da fratura é maior que a de um material total-
mente frágil (elástico) é considerar a Eq. (7.9). Seria de se esperar que a deformação
plástica nas extremidades da trinca diminuísse a agudez da ponta da trinca e aumen-
tasse P t> aumentando assim a tensão de fratura .•.•
'
Orowan 3 sugeriu que a equação de Griffith poderia ficar mais compatível com a
fratura frágil em metais, através da adição de um termo YP' expressando o trabalho
plástico necessário para aumentar as paredes da trinca. ~
O termo da energia superficial pode ser desprezado uma vez que estimativas do termo
do trabalho plástico são de 10 5 a 10 6 erg/cm 2, comparadas com o valor Y s de cerca de
1.000 a 2.000 erg/cm 2•
Uma aproximação similar feita por Irwin 4 criou a fundamentação para a impor-
tante área da m ecâ n ica d a fra tu ra . Irwin propôs que a fratura ocorre a uma tensão de
fratura correspondente a um valor crítico d a Jo rça d e exp a n sã o d a trin ca W c onde a >
I A. F. Joffe, T h e P h ysics o f C rysra ls, McGraw-HiU Boak Company, New York, 1928.
2 E. P. Klier. T ra n s. A m . S o e. M et., vol. 43, pp. 935-957,1951; L. C. Chang,J. M ech . P h ys. S o lid s, vol. 3, pp.
212-217, 1955; D. K. Felbeck e E. Orowan, W eld in g 1 . , vol. 34, pp. 570s-757s, 1955.
3 E. Orowan, em F a tig u e a n d F ra ctu re o f M eca ls, Symposium at Massachusetts Institute af Technology, John
Wiley & Sons, Inc., New York, 1950.
4 G. R. Irwin, Fracture, em E n cyclo p ed ia o f P h ysies, vol. VI, Springer, Heidelberg, 1958; G. R. !rwin, J. A.
Kies e H. L. Smith, A m . S o e. T est. M a ter. P ro e .. vaI. 58, pp. 640-660, 1958.
t
o
/
E x te n -
sômetro
A for a deEI2ansão da trinca C § tem unidades de (kgf-mm/mm 2). C § pode ser também
considerada a ta x a -d e e n ú g iã dlideform àçãõ,- isto -é, a taxa de perda de energia do
campo de tensões elásticas para o processo inelástico de propagação da taxa. Nota-se
que a agudeza da trinca p/c não aparece na Eq. (7.17). De fato, esta é parte do valor C §c
que está associado com um material particular.
A Fig. 7.5 mostra como C § pode ser medida. Um corpo de prova com um único
entalhe na borda é carregado uniaxialmente através de pinos. O entalhe mais agudo
possível é produzido pela introdução de uma trinca de fadiga na raiz do entalhe mecâ-
nico. O deslocamento dessa trinca em função da força axial é medido com a pinça de
um extensômelro presa na entrada do entalhe. Curvas carga versu s deslocamento são
determinadas para diferentes comprimentos de entalhe, onde P = M ô . A energia de
deformação elástica é dada por
I p2
V o = -P o =-
2 2M
oVo I P OP
é § = --= ----
oc 2 M oc
é§ = ~ p2 o ( lf M )
2 oc
Desta forma, 'f i é uma função da carga e da inclinação da curva! (l/M ) versu s compri-
mento da trinca. O valor crítico da força de propagação da trinca 'fie é calculado 2 pela
carga na qual a curva P -O desvia-se abruptamente da linearidade.
A distribuição de tensões para uma chapa fina de um sólido elástico na ponta da
trinca, em termos das coordenadas indicadas na Fig. 7.6, é dada pelas Eqs. 7.20.
(J :c = (J ( C)2,. 'h [
cos 28 ( I - sen 28 sen"2
38)]
(J y = (J ( C)2r 'h [
cos 8 ( I +sen sen"2
2
8 38)]
2
=
C) 'I:, [ 8 8 38]
sen - cos - cos -
"t
"y
(J
( 2r
-
2 2 2
onde (j = tensão total nominal = P /IV t. Estas equações são válidas para c > r > p.
Irwin mostrou que as Eqs. (7.20) indicam que as ten sô es lo ca is perto da trinca
dependem do produto da tensão nominal (j e da raiz quadrada da metade do compri-
mento da trinca. Ele chamou essa relação de fa to r d e in ten sid a d e d e ten sô es K , onde
para uma trinca aguda elástica numa placa infinitamente larga, K é definido como
(J :c = K [COs~(I-sen~sen38)]
J2nr 2 2 2
, A mesma equação seria desenvolvida para 't i quando a placa fosse submetida a uma carga constante P , . só que
agora V . aumenta com c . enquanto que para o caso de garra fixa. V . diminui com o comprimento da trinca.
, Ver Capo 14 para detalhes adicionais sobre o teste de tenacidade à fratura.
- (111 n c)\tí
K = uJ nc - tan -
nc w
(7-25)
(7-26)
A Tabela 7.1 fornece os planos de c1ivagem para certos metais e os valores da tensão
normal crítica.
Embora a Lei de Sohncke tenha sido aceita por cerca de 25 anos, ela não está
baseada em muitas evidências experimentais. Surgiram dúvidas quanto à sua confiabi-
lidade através do estudo de fraturas! em monocristais de zinco entre -77 e -196°C.
Descobriu-se que a tensão normal resolvida de c1ivagem variava em torno de um fator de 10
para uma grande diferença na orientação dos cristais. Essa variação da lei da tensão normal
pode ser devida à deformação plástica antes da fratura, embora seja duvidoso que isso
possa ser uma razão para a discrepãncia observada.
Muitos modelos de fratura dúctil em monocristais são mostrados na Fig. 7.1. Sob
certas condições, metais hexagonais compactos testados à temperatura ambiente ou
acima desta irão cisalhar somente em um número restrito de planos basais. A fratura
irá ocorrer então por "cisalhamento puro" (Fig. 7.lb). Mais freqüentemente, o desli-
zamento irá ocorrer em outros sistemas, além do plano basal, de maneira que o cristal
estreita-se e reduz-se a quase um ponto antes que a ruptura ocorra. O modelo normal
da fratura em cristais cúbicos de face centrada é a formação de uma região estreitada
(pescoço) devido ao deslizamento múltiplo, seguida por deslizamento num grupo de
planos até a ocorrência da ruptura. O cristal pode reduzir-se a uma aresta fina ou a um
ponto (se o deslizamento múltiplo continua até a fratura). O melhor critério de tensões
para a fratura dúctil em metais c.f.c. parece ser a tensão cisalhante resolvida no plano
de fratura (que é normalmente o plano de deslizamento).
tDados de C.S. Barret!, S tru ctu re o fM eta ls. 2.a ed., McGraw-Hill Book Company, New York, 1952; N. J.
Petch, The Fracture of Metais. em P ro g ress in M eta l P h ysics, vol. 5, Pergamon Press, Ltd., Londres, 1954.
Devido à notoriedade da teoria Griffith, tem sido natural para os metalurgistas o uso
dos seus microscópios na procura das trincas de Griffith nos metais. Entretanto, com
base em observações até aumentos possíveis com microscópios eletrônicos de varre-
dura, não há evidências seguras de que as trincas de Griffith existam em metais não-
tensionados. Há, entretanto, uma quantidade considerável de evidências que mostram
que microtrincas podem ser produzidas por deformação plástica.
Já existem há muito tempo evidências metalográficas da formação de microtrincas
em inclusões não-metálicas no aço como um resultado da deformação plástica. Essas
microtrincas não produzem necessariamente a fratura frágil. Entretanto, elas contri-
buem para a anisotropia observada na resistência da fratura dúctil. O fato de os aços
fundidos a vácuo, que possuem um índice muito baixo de inclusões, apresentarem
redução na anisotropia da fratura confirma a idéia das microtrincas serem formadas
nas partículas de segunda fase.
Uma excelente correlação entre a deformação plástica, microtrincas e a fratura
frágil foi dada por Low 2. Ele mostrou que para o aço-doce, com um dado tamanho de
grão testado a -196°C, a fratura frágil ocorre em tensões que têm o mesmo valor das
tensões que são necessárias para produzir o escoamento em compressão. Foram ob-
servadas microtrincas de somente uma ou duas dimensões dos grãos. Estudos mais
detalhados das condições para a formação das microtrincas têm sido feitos3 com testes
de tração em aço-doce em temperaturas subzero bem controladas. A Fig. 7.8 ilustra
uma microtrinca típica descoberta num material antes da fratura.
:g"
80
'"~ õ"-
.;
Fig. 7.9 Efeito das partículas de '"
c. 70 ~
segunda fase na ductilidade. ~ ""
'Qi
(Extraída de T. Gladman, B. '"
60 "o
x~x -----x
"O
•. _ J~ ;
•...
- ...•.•.~
IA. N. Stroh, A dv. P h y s . , vol. 6, p. 418, 1957; o desenvolvimento dado aqui segue aquele de A. S. Tetelman e
A. J. McEvily, Jr., F r a c t u r e a f S t r u e t u r a l M a t e r i a i s , Capo 6, John Wiley & Sons, Inc., New York, 1967.
L) Y2 (E Y s) Y 2
( 'r s-';)
(r
- = -
ao
E rys) Y2
, s =,.+ I
--
( La
o
, = ,. + (2G Y s)Y 2
s I L
Mas, da Eq. (5.36), o número de discordâncias na banda de deslizamento pode ser
expresso como
nb ~ L 's - 'i
G
Porém, a experiência mostra que as microtrincas são formadas quando a tensão cisa-
lhante iguala a tensão limite de escoamento de modo que, da Eq. (6.7),
Essa equação representa a tensão necessária para propagar uma microtrinca de com-
primento D na fratura frágil.
CottrelF reformulou a Eq. (7.31) de maneira que são facilmente mostradas as va-
riáveis importantes na fratura frágil. Essa equação é
-3 1 3 5 6
x Tensão de fratura
160 O Tensão d e e s c o a m e n to /
O D e fo rm a ç ã o p a ra fra tu ra x
: 120 x x .-L Y -
~ /x ~~~
ó VXO __--o
:";
~ 80 /:??- ~
"
@
J. 0,6
~x ",/ "-o
40Y ",/ ."
0,4 L '
,/
,/
"E
/
/
,/
0,2
"
Q;
o
6 °
Fig. 7.13 Efeito do tamanho de grão no escoamento e na tensão de fratura para aço de baixo
carbono testado em tração a -196°C. (De J. R. Low, em R e l a t i o n o f P r o p e r t i e s to M ic r o s tr u c -
American Society for MetaIs, MetaIs Park, ühio, 1954. Com a permissão dos editores.)
fu r e ,
I Da Eq. (6.7) resulta que To D'12 = T, D'12 + k ', de maneira que a Eq. (7.35) pode ser escrita na forma Tok' D'12 =
G Y ,f3 .A tensão de escoamento para metais c.e.e. aumenta rapidamente com a diminuição da temperatura.
A fratura frágil não é possível a menos que as trincas nucleadas possam se propagar a
altas velocidades através do metal. Mott2 fez uma análise da velocidade de uma trinca
num meio elástico e isotrópico ideal. A força motriz do processo é a energia elástica
que é liberada pelo movimento da trinca. Ela deve ser balanceada pela energia superfi-
cial das novas superfícies que são criadas e a energia c:nética associada com o rápido
deslocamento lateral do material em cada lado da trinca. A velocidade da trinca v é
dada por
V=BVO (I- C
;) (7 -3 6 )
E )Y 2
v = 0J38vo = °138 ( P
Existem basicamente três maneiras pelas quais uma trinca de meio comprimento
Co pode desenvolver-se para uma fratura instável:4
Tensáo~
Fig. 7.14 Os três modos de propagação da trinca. ( a ) Fratura frágil instável sem crescimento
lento da trinca; ( b ) crescimento lento da trinca (dúctil) seguido de fratura frágil instável; ( c ) cres-
cimento lento a tensão constante. (Segundo Tetleman e McEvily.)
1 A. H. eaureU, P r o c . R . S o e . L o n d o n , vaI. 285, p. 10, 1%5; ver também A. S. TeUeman e A. J. McEvi1y, Jr.,
pp. 60-78.
o p . c i t .,
<
u = --
8u oC I
n (
sec- nu)
nE 2uo
Uma vez que o comprimento instável da trinca ocorre para um valor crítico do COD,
a tensão necessária para propagar essa trinca [da Eq. (7. 17)] é
Além do mais, comparando-se essa equação com a Eq. (7.16), o trabalho plástico
necessário para manter uma trinca de alta velocidade em movimento é
'(N. do T.) COD é uma notação utilizada pelos estudiosos da fratomecãnica que significa o afastamento das
paredes da trinca ( c r a c k - o p e n í n g d í s p / a c e m e n t ) .
1 G. T. Hahn e A. R. Rosenfeld, A c t a M e t a l l ., vol. 13, p. 293, 1965.
onde IV* é a largura crítica medida a partir da ponta da trinca até onde a deformação
localizada atinge e f ' Essa equação apresentou previsões razoáveis da tenacidade à fra-
tura para um material composto constituído por fibras de metal dúctil e a matriz metá-
lica.
Deve ficar bem claro por agora que a resistência prática de um material de enge-
nharia depende da maneira pela qual o material reage à concentração de tensões, tal
como em uma trinca aguda. Essa propriedade é chamada de tenacidade. Embora a
tenacidade seja definida de várias maneiras, uma abordagem feita por CottrelF é bas-
tante esclarecedora. O t r a b a l h o t o t a l para a fratura por unidade de área pode ser ex-
presso como
\
\
, D is tr ib u iç ã o de
"
"
',.•.•.
0 "0 "
,I
, Fig. 7.16 Distribuição da
,
, ••••• 1
.....•. tensão longitudinal uy à
I I.•••.•..•.....
I I ""--. __ frente de uma trinca carre-
U ----~----~------
, 1 gada em tração no estado
1
1
1
, plano de deformação. Ten-
ty---J=l
,
1
1
I
são aplicada normal = u .
Zona
p lã s tic a
C )Y z
(J =(J-
y ( 2r
( jm á x .,to rn a n d o e s s a á re a n a F ig . 7 .1 6 ig u a l à á re a s o b (jy= a té
(jo r = ry• P or essa
ra z ã o , a p ro fu n d id a d e to ta l d a z o n a p lá s tic a é R = 2 r e y
I'
.'
o
..
o
I
o
Fig. 7.17 E s tá g io s n a fo rm a ç ã o
d e u m a fra tu ra ta ç a e c o n e .
p a ra u m m a te ria l c o m u m a c u rv a d e te n s ã o -d e fo rm a ç ã o d a d a p o r (T = K e · n . N e s s a
e q u a ç ã o , ( T a e ( T b