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Armazenamento de graxa para evitar a sangria e


separação
Lawrence G. Ludwig, Schaeffer Mfg. Company
Tags: greases, lubricant storage and handling

Ao armazenar a graxa e até mesmo durante o uso, certa quantidade de óleo poderá migrar do
espessante. Embora seja comum, a taxa em que este sangramento ocorre pode ser controlada
por meio de técnicas apropriadas de armazenamento e uso (aplicação). Antes de olhar para
estas estratégias, é importante compreender a composição da graxa e os tipos de sangramento
de óleo que podem ocorrer.

Composição de graxa

Graxa = 70 a 95% óleo básico + espessante de 3 a 30% + aditivos de 0 a 10 por cento.

Em geral, uma graxa é um produto sólido a semi-fluido que consiste de uma dispersão de um
agente de espessamento em um líquido lubrificante. Este sistema de espessante pode ser
composto por sabões metálicos simples ou complexos de lítio, cálcio, alumínio, bário ou sódio
ou sem-sabão, como argila (bentone) ou poliuréia. O espessante pode ser comparado a uma
esponja que contém uma matriz de fibras ou plaquetas com uma superfície elevada, formando
uma densa rede de micro-asperezas (vazios) ou fibras. É nestes espaços vazios ou estrutura da
fibra onde o óleo básico e os aditivos são armazenados até que serem necessários para
lubrificação.

Assim como uma esponja que libera água quando ela é espremida, a graxa libera seu óleo
básico do espessante quando ele é espremido ou estressado. As tensões que uma graxa é
submetida podem ser geradas mecanicamente ou termicamente durante o armazenamento ou
aplicação.
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Em uma aplicação, uma graxa libera óleo gradualmente para as áreas de trabalho das
superfícies dos componentes de modo a lubrificá-las. Quanto maior o esforço enfrentado, mais
rápido o espessante libera o óleo básico. As fibras do espessante conferem pouca ou nenhuma
característica lubrificante. Se o espessante não liberasse o óleo, a graxa seria incapaz de
realizar suas funções enquanto lubrificante.

Da mesma forma, uma graxa também deve ter a capacidade de apresentar algum tipo de
características de reversibilidade após as tensões serem aliviadas. Reversibilidade é definida
como a capacidade da graxa de recapturar seu óleo básico para retornar à sua consistência
original e continuar a funcionar como pretendido. Quando o equipamento é desligado ou as
condições de tensão mecânica ou térmica são relaxadas, a graxa deve ter a capacidade de
recapturar seu óleo para retornar à sua consistência original. Características de reversibilidade
da graxa são ditadas pelo tipo e quantidade de espessante utilizado. Geralmente, quanto maior
o teor de espessante, menor a reversibilidade da graxa.

Fuga do óleo básico do espessante

Embora o espessante não seja solúvel no óleo básico, ele tem uma peculiaridade de retê-lo e
espessá-lo. De acordo com a quantidade de espessante utilizado na formulação da graxa, esta
atração pode ser mais forte. Quanto maior a proporção de espessante utilizado, maior será sua
capacidade de reter o óleo básico. À medida que a quantidade de óleo é aumentada e a
quantidade de espessante é reduzida, as forças de atração diminuem, e o resultado é o
escoamento lento do óleo básico separando-se mais facilmente do espessante.

Dessas instruções, você pode pensar que um teor mais elevado de espessante é melhor. No
entanto, como mencionado anteriormente, um espessante que não libera seu óleo básico seria
incapaz de realizar suas propriedades lubrificantes. Portanto, é importante para uma graxa ter
o equilíbrio adequado entre o conteúdo de óleo e espessante para funcionar corretamente.

Testes para o sangramento de óleo

Há uma série de testes diferentes que podem medir o sangramento de uma graxa e as
características de separação de óleo. Esses testes podem ser categorizados em dois grupos:
testes de sangramento estático e dinâmico.

Estes são os testes mais comuns utilizados para avaliar a separação de óleo e sangramento:

Testes Estáticos

ASTM D-1742 Separação de óleo da graxa lubrificante durante a armazenagem – Este


teste prediz a tendência de uma graxa para separar o óleo durante a armazenagem quando
armazenadas à temperatura ambiente.

ASTM D-6184 Método de ensaio para avaliar a separação de óleo da graxa lubrificante
(Método de peneira cônica) – Este método determina a tendência do óleo se separar da
graxa lubrificante quando submetida à temperatura elevadas.
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Testes Dinâmicos

Teste de Separação de Óleos sob Pressão da U.S. Steel – Este teste é usado para medir
as características de separação do óleo e ressecamento de uma graxa sob condições pré-
definidas. Este teste indica a estabilidade de uma graxa sob altas pressões e pequenas folgas
em sistemas de lubrificação centralizada, visando avaliar a sua bombeabilidade.

ASTM D-4425 Separação de óleo da graxa por centrifugação – Esse método avalia a
tendência de separação do óleo de uma graxa quando submetidas a altas forças centrífugas.

Método Trabon 905A – Este teste é usado para prever a tendência de uma graxa para
separar o óleo sob pressão em um sistema de lubrificação centralizado.

Embora uma graxa possa apresentar boa resistência ao sangramento e separação nos ensaios
estáticos e dinâmicos, o armazenamento adequado e a manipulação da graxa ainda são
componentes chaves para garantir a sua capacidade de realizar seu trabalho.

A fuga de óleo ou separação da graxa pode ser encontrada em duas situações distintas: sangria
estática e sangria dinâmica. Sangria estática é a fuga do óleo do espessante da graxa no
recipiente em que ela foi colocada ou numa parte estática em que ela foi introduzida. Sangria
estática, que também pode ser referida como “puddling”(escoamento) do óleo, ocorre
naturalmente para todos os tipos de graxas e numa proporção que dependente de sua
composição.

O sangramento de óleo estático pode ser afetado pelas condições de armazenamento, incluindo
a temperatura, o tempo, quaisquer vibrações que as embalagens podem ser expostas durante o
transporte ou armazenamento, superfície da graxa desnivelada na embalagem ou devido à
força natural da gravidade. Esses fatores podem causar esforços extremos para a graxa,
enfraquecendo a atração entre o seu espessante e o óleo básico, resultando na liberação de
pequenas quantidades de óleo. Ao longo do tempo, uma poça de óleo pode se formar sobre a
graxa.

O sangramento estático é mais pronunciado se a graxa é de baixa consistência, tipo macia


(graus NLGI 00, 0 e 1) e/ou se a viscosidade do óleo básico é baixa (menor ou igual a ISO 68).
Este fenômeno não é determinante para indicar que uma graxa é imprópria para uso.

Qualquer óleo básico que escoou ou está sobrenadando na superfície da graxa pode ser
removido por decantação ou misturado manualmente na tentativa devolvê-lo ao espessante. A
quantidade de óleo que separou da graxa é geralmente insignificante e representa uma mera
fração da quantidade total de óleo que está retida no espessante. Esta pequena quantidade de
óleo não afetará negativamente a consistência do produto remanescente e terá pouco ou
nenhum efeito sobre o desempenho do produto.

A sangria dinâmica é a real liberação controlada do óleo básico e dos aditivos durante o uso
devido à temperatura ou tensões mecânicas. É importante que a graxa que está sendo utilizada
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tenha uma taxa controlada de sangramento para que ela não tenha comprometido seu
desempenho e faça seu trabalho adequadamente.

O sangramento dinâmico também pode ser causado ou agravado pelas seguintes condições:

Excesso de graxa – A lubrificação excessiva (quantidade de graxa usada) pode causar


aumento da temperatura operacional do componente, que resulta em oxidação da graxa e
rápida separação do óleo básico do espessante devido à agitação.

Condições operacionais – O excesso de graxa em um rolamento, condições mecânicas


(desalinhamento, pré-carga excessiva, etc.) e a falta de lubrificante podem levar a maiores
temperaturas de operação, provocam a pronta liberação de óleo básico do espessante,
deixando apenas o espessante com a atribuição de lubrificar os componentes do rolamento.

Bloqueio em um mancal com excesso de graxa - Esses bloqueios podem atuar como
restrições microscópicas. Eles se acumulam e bloqueiam os caminhos do fluxo de graxa e até
mesmo restringe o movimento mecânico do rolamento. Quando é aplicada graxa nova, o óleo
se separa e flui através do espessante devido à extrusão hidrostática, deixando o espessante
para trás. O acúmulo adicional deste tipo de restrição pode levar a elevadas temperaturas de
funcionamento, resultando em maior sangramento do óleo da graxa.

Contaminação - Contaminação por poeira, sujeira, cinzas e contaminantes de pó seco pode


extrair o óleo do espessante ao longo do tempo, resultando em espessamento da graxa.

Mistura de espessantes incompatíveis - Isso acelera a separação do óleo e a perda de


consistência da graxa.

Extrusão hidrostática - Graxa submetida à pressão constante pode separar por forças
hidrostáticas, semelhante à água que flui através de um filtro de areia. O óleo básico é
literalmente espremido no espessante.

Vibrações e forças centrífugas - vibração por longo período e/ou forças centrífugas pode
causar separação de graxa.

A taxa de escoamento de óleo da graxa pode ser afetada por vários fatores, incluindo a sua
composição, o tipo de processo usado para produzir à graxa e distribuir o espessante no óleo
básico, e ainda como a graxa é armazenada depois que é recebida pelo usuário. A capacidade
da graxa de reter ou liberar o óleo depende de todos esses fatores.

Sem expor algum sangramento, seja ele estático ou dinâmico, uma graxa não terá a
capacidade de fornecer adequada lubrificação para uma aplicação na qual ela foi destinada. O
equilíbrio entre estes dois modos de sangramento é a chave para o seu desempenho.
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Técnicas de manipulação e armazenamento

Como a maioria dos materiais, a graxa lubrificante gradualmente irá deteriorar-se com o
tempo. A taxa e o grau de deterioração dependem das condições do armazenamento e
tratamento a que ela está exposta.

A graxa pode alterar suas características durante o armazenamento. O produto pode oxidar,
sangrar, alterar sua aparência, acumular contaminantes ou tornar-se mais firme ou mais suave
(alterar sua consistência). A intensidade das mudanças varia de acordo com o tempo de
armazenamento, temperatura e natureza do produto.

Dependendo das condições de armazenamento, algumas graxas podem sofrer alterações ao


longo do tempo, tornando-se mais firme e aumentando sua consistência ou mesmo tornando-se
mais macia. Essas mudanças podem causar alteração no grau de consistência original da graxa.
Esse comportamento pode ser agravado pelas condições de armazenamento prolongado.
Devido a este aspecto, períodos de armazenamento prolongado devem ser evitados.

Se uma graxa tem mais de um ano de fabricação o Instituto Nacional de Graxas Lubrificantes
(National Lubricating Grease Institute – NLGI) recomenda que uma graxa seja analisada e
testada para garantir que ainda mantém o seu grau NLGI original.

Outra prática recomenda pela indústria especifica que, sempre que qualquer tipo de lubrificante
é recebido, os métodos de manuseio e armazenamento devem seguir o sistema de inventário
de “first-in/first-out” (primeiro que chega/primeiro que sai). Isso simplesmente requer que o
usuário da graxa lubrificante dê preferência para usar à graxa que foi armazenada em primeiro
lugar e está a mais tempo em estoque. Além disso, os fabricantes de graxas lubrificantes
indicam em etiquetas coladas na embalagem com informações a respeito da data, do lote de
fabricação e da validade para que o usuário possa identificar o mês, dia e ano em que a graxa
perde sua validade.

Como mencionado anteriormente, as graxas tendem a sangrar e liberar seus óleos básicos
durante o armazenamento. A taxa de óleo liberado da graxa vai aumentar com o tempo e
variam de acordo com a temperatura na qual ela é armazenada. O recomendável é que a graxa
seja armazenada em uma área coberta, temperatura amena e seca e que não ultrapasse 86 ºF
(30 ºC) e permanece acima de 32 ºF (0 ºC).

Não é incomum encontrar embalagens de graxa em áreas de armazenamento que têm


temperaturas de até 130 ºF (54 ºC). Estas áreas de armazenamento também podem está
expostas a contaminantes como poeira, sujeira, umidade ou água da chuva, contaminantes
estes que podem comprometer significativamente a qualidade da graxa.

Uma embalagem de graxa nunca deve ser exposta diretamente à luz solar ou ser armazenada
em uma área diretamente perto de uma fonte de calor como um encanamento de vapor, forno,
etc. Isto só agravará a taxa de fuga de óleo do espessante da graxa.

Sempre armazenar a graxa em sua embalagem original e manter o recipiente fechado até o
momento de ser utilizado. Limpe a tampa ou cubra a embalagem antes de abrir e usar; quando
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for manipular ou bombear a graxa, sempre use ferramentas e equipamentos de distribuição


limpos. Após o uso, a embalagem deve ser fechada imediatamente e mantida fechada para
evitar contaminações. Antes de colocar a tampa de volta na embalagem, limpe qualquer poeira,
sujeira ou graxa excessiva que pode ter acumulado.

Os tubos de cartucho de graxa devem ser armazenados na posição vertical todo o tempo. Se
um tubo de cartucho é deixado em uma pistola de graxa, ela deve ser despressurizada. Limpar
com um pano limpo para remover quaisquer contaminantes e armazenada na posição
horizontal dentro de uma área limpa, fresca e seca para evitar que o óleo sangre da graxa.

A fim de assegurar a qualidade e a limpeza de uma graxa, bem como para impedir a separação
excessiva de óleo, recomendam-se as seguintes técnicas de manuseio e armazenamento:

 Não utilize graxas lubrificantes que tenham sido armazenadas por muito tempo, a
menos que sua condição e limpeza possam ser verificadas através de análise de
laboratório.

 Se há dúvida da compatibilidade entre duas graxas quando da ocorrência de mistura


acidental ou espontânea, deve-se consultar o fornecedor do lubrificante para saber se as
graxas são compatíveis ou realizar testes para avaliar a compatibilidade.

 A sala de armazenamento deve ser separada das áreas de contaminação, tais como
detritos metálicos, poeira, sujeira, vapores químicos ou umidade. A temperatura da sala
deve ser controlada, bem ventilada e contendo acessórios limpos, equipamentos
distribuição e outras necessidades (itens de segurança). O pessoal também deve ser
devidamente treinado em técnicas de armazenamento e controle de estoque para evitar
a contaminação.

 As embalagens de graxa devem ser claramente rotulados com a data em que foram
recebidos, o tipo e marca de graxa, etc. Estas marcações devem ser mantidas em uma
posição onde elas possam ser lidas facilmente.

 Deve-se armazenar graxa em seu recipiente original até ser utilizado. Tambores, baldes,
containers e latas não devem ter contato com o piso. Usar tablados de madeira,
plataforma ou palets.

 Nunca deixe recipientes de graxa descobertos ou abertos. Mantenha-os firmemente


selados entre as utilizações. Se os recipientes são armazenados em área externa, cobrir
com uma lona pesada, encerado plástico ou similar de modo a proteger as
embalagens/produto da água e/ou sujidades.

 Todas as ferramentas usadas para manipular ou acondicionar à graxa devem ser limpos
antes de serem usadas.

 Nunca use pedaços de madeira ou espátulas para remover ou transferir graxa de


recipientes para bombas de graxa ou outros tipos de sistemas de distribuição. Esta
prática representa um risco elevado de contaminação.

 Se for usado um tambor aquecido, ele deve ter algum tipo de mecanismo de regulação
de temperatura. A graxa nunca deve ser aquecida acima de 75 ºF (24 ºC). O aquecedor
não deve ficar ligado durante a noite ou de forma autônoma. Isso pode causar
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sangramento do óleo que está na graxa ou até o aumento da sua consistência devido à
tensão térmica e oxidativa.

 Nunca use uma tocha ou maçarico para aquecer um recipiente de graxa. Isso representa
um perigo de fogo.

 Manter um inventário separado e registro de uso para cada produto. Deve-se controlar o
consumo de graxa e em qual máquina ou equipamento ela foi utilizada. Isso irá ajudá-lo
a manter um inventário preciso dos lubrificantes usados em sua unidade.

 Dê sempre saída a embalagem mais antiga no estoque.

 Antes de armazenar ou usar uma graxa, inspecione os recipientes recebidos para


verificar qualquer dano, como amassados severos, corrosão ou contaminações.

 Algum tipo de sistema de codificação e marcação deve ser usado para identificar os
diferentes tipos de lubrificantes e recipientes, dispositivos de transferência de graxa
(ex.: bombas graxeiras), ferramentas e sistemas existentes em toda a planta.
Certifique-se de que todas as válvulas de transferência, mangueiras e equipamentos de
distribuição são mantidos limpos. Vedantes e juntas também devem ser mantidas em
boas condições.

 Todos os recipientes de transferência devem ser preenchidos em condições limpas.

 Os recipientes de graxa devem ser completamente esvaziados antes de serem


descartados.

Machinery Lubrication (2/2012)

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