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ALMEIDA, Bruna2
SOUZA, Lucimara Rocha de3
PIAS, Fagner Cuozzo4
1 Considerações iniciais
1
Pesquisa Institucional desenvolvida no Grupo de Pesquisa Segurança Pública, Direitos Humanos e
Cidadania, da Universidade de Cruz Alta/RS.
2
Acadêmica do 7º do curso de Direito da Universidade de Cruz Alta; Estagiária da Defensoria Pública
da cidade de Tupanciretã/RS – UNICRUZ. E-mail: lucimara.rocha.souza.lrs.lrs@gmail.com
3
Acadêmica do 7º do curso de Direito da Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ. Estagiária da
Defensoria Pública da cidade de Tupanciretã/RS E-mail: bruna_almeida.a@outlook.com
<bruna_almeida.a@outlook.com>;
4
Professor do Curso de Direito da Universidade de Cruz Alta. Mestre em Práticas Socioculturais e
Desenvolvimento Social. Pós-Graduado em Direito Penal e Processo Penal. Pós-Graduado em
Direito Previdenciário. Pós-Graduado em Direito Civil e Processual Civil. E-mail:
fpias@unicruz.edu.br.
necessidade de judicialização para obtenção/concretização do direito à saúde em
demandas que versem sobre o Coronavírus.
Com efeito, partindo da responsabilidade do Estado como promotor e tutor da
saúde coletiva, surgem outras questões que, neste estudo emergem como fatores
para reflexão acerca da efetividade das ações judiciais e da possibilidade jurídica do
pedido, principalmente considerando à ordem e seleção dos atendimentos do SUS
(em escala prioritária) isto, lapidado pela ideia do princípio da reserva do possível,
gravado pela crise econômica que o Brasil enfrenta.
Portanto, dentro desta realidade complexa é pertinente o debate sobre à
colisão dos direitos fundamentais aqui já citados, que em teoria equilibram-se, mas
em prática, revelam a complexidade de abarcá-los ao caso concreto, sem que haja o
prejuízo de um direito em detrimento de outro, sobretudo, na busca do cumprimento
efetivo dos direitos e deveres assegurados na Carta Magna, cuja essência prima
pela dignidade da pessoa humana.
2 Desenvolvimento
A realidade vivida por grande parte dos brasileiros que não possuem o
mínimo para assegurar o mínimo existencial, construiu a necessidade de
reivindicações constitucionais que assegurassem esses direitos como fundamentais,
de maneira universal, garantindo a todos o acesso irrestrito ao direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade e, essencialmente à saúde.
A Constituição Federal de 1988 ostenta em seu texto, mais especificamente,
no título II, capitulo I, nos artigos 5º até o 17º, os direitos e as garantias
fundamentais ao ser humano, de forma a garantir a todos direitos básicos para uma
vida digna, de forma que esses direitos representem mais que garantias positivadas,
mas também a essência ativista de todo o ordenamento Legislativo.
Nesse sentido, Moraes (2020, p.20), conceitua:
Basta uma leitura superficial dos dispositivos pertinentes (arts. 196 a 200)
para que se perceba que nos encontramos, em verdade, no que diz com a
forma de positivação, tanto em face de uma norma definidora de direito
(direito à saúde como direito subjetivo, de todos, portanto de titularidade
universal), quanto diante de normas de cunho impositivo de deveres e
tarefas.
O Sistema Único de Saúde foi regulamentado pela Lei 8.080 de 1990 e trata,
basicamente, das condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde no
Brasil, bem como sobre a organização e o funcionamento dos serviços públicos de
saúde. Trouxe consigo princípios basilares aos Direitos Sociais de saúde e
previdência social, tais como: a universalidade (diz sobre a possibilidade do acesso
de todos ao SUS); a equidade (os serviços devem ser ofertados de acordo com a
necessidade de cada cidadão/população, com justiça social); a integralidade (os
serviços devem ter foco na prevenção de doenças, na promoção da saúde, na cura
e na reabilitação, atendendo as necessidades de saúde da população como um
todo) (SOLHA, 2014).
O SUS, por mais que advenha de uma Lei, em tese, antiga, com 31 anos de
idade (cabe dizer que a nossa Constituição também não é nova, contando com 33
anos). Assim, necessário acrescentar que apesar do lapso do tempo, o Sistema
conta com uma série de serviços (gratuitos) com objetivos diversos e específicos
dentro dos seus seguimentos visando o bem-estar e a à saúde da população.
Segundo Solha (2014), a gestão destes serviços pode estar tanto na esfera federal,
estadual e municipal (como já vimos) e a regra de listagem de atribuições que são
definidas por leis específicas, determinam a abrangência de suas ações: os serviços
federais geralmente determinam regras e fluxos que são referências para os demais
serviços nacionais (estaduais e municipais), e estes, por sua vez, são referências
locais, responsáveis pelos seus estados e cidades.
Oportuno acrescer que mais recentemente surgiu uma onda de apoio
direcionado ao SUS que ocorreu de modo mais concentrado nas redes sociais
intitulada “Defenda o SUS”, promovida pela base sindical, espalhou-se pela rede
mundial de computadores e sua principal crítica era relativa ao repasse de verbas ao
Sistema Único, considerando a limitação imposta pela Emenda Constitucional 95,
que instituiu o Novo Regime Fiscal no âmbito dos Orçamentos Fiscal e da
Seguridade Social da União, que vigorará por vinte exercícios financeiros e que
demonstra que, ao menos, por este período de tempo o Sistema Público ainda
permanecerá em “afogamento”.
A realidade vivida pelo Sistema Único divide opiniões, mas em que pese a
dissonância neste ponto, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
divulgou números que demonstram que cerca de 71,5% dos brasileiros, isto é, mais
de 150 milhões de pessoas, dependem SUS para tratamentos e/ou fornecimentos
de insumos ou conhecem alguém depende. Além disso, vale dizer que o SUS,
segundo matéria escrita pelo Jornal Folha de São Paulo no ano de 2019, é o único
país entre os países com mais de 200 milhões de habitantes a possui sistema
semelhante ao brasileiro.
Portanto, o Brasil possui um sistema hierarquicamente organizado e voltado
para a promoção do acesso à Saúde, mas que, devido a grande procura por saúde,
essencialmente devido ao Corona Vírus, houve então um superlota mento dos
serviços e consequentemente uma falha prestacional que advém basicamente pela
falta de recursos financeiros.
Em que pese a debandada judicial seja comum e até mesmo possa ser
caracterizada como um novo “problema social", a necessidade de sanar o problema
de acesso à saúde de modo eficaz, ainda que por meios alternativos, também se
revela questão de elevadíssima importância, sobretudo, durante a pandemia.
Entre os anos de 2008 a 2017, foi realizada pesquisa intitulada “Judicialização
da Saúde no Brasil: Perfil das demandas, causas e propostas de solução”,
elaborado pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) para o Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), revelou em seus resultados que o número de demandas judiciais
relativas à saúde sofreu um aumento de 130%.
Ainda de acordo com o levantamento os principais assuntos discutidos nos
processos, ao menos em primeira instância eram “Plano de Saúde” (34,05%),
“Seguro” (23,77%), “Saúde” (13,23%) e “Tratamento Médico-Hospitalar e/ou
Fornecimento de Medicamentos” (8,76%).
No Rio Grande do Sul esses números, hoje, também podem ser vistos em
curva ascendente, é o que diz a pesquisa Famurs que se utilizou de dados de 133
prefeituras, para constatar que as demandas reprimidas ampliam as filas de espera
por consultas, exames e cirurgias pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
Segundo a pesquisa, os municípios gaúchos destinam, em média,
mensalmente R$ 80 milhões para co-financiar hospitais no Estado. Além disso,
indicou o levantamento que 98,5% dos municípios gaúchos alegam ter dificuldades
de acesso a procedimentos de alta e média complexidade que são competência da
União e Estado. As carências apontadas indicam que as áreas da traumatologia,
urologia, oftalmologia, cardiologia, ortopedia e neurologia são as que mais
demandam recursos.
Infere-se, portanto, conforme os números das pesquisas apontadas no Brasil
e no Rio Grande do Sul, que a busca por saúde é uma questão jacente e não
surgida da pandemia, o Coronavírus serviu apenas para demonstrar a fragilidade do
sistema em prestar os serviços que o Estado se propôs a fornecer em Constituição e
a necessidade de busca do Poder Judiciário para satisfazer a demanda.
Veja-se que o E. Tribunal do Distrito Federal traz que o Estado poderá ser
compelido a arcar com o ônus de tratamento/fornecimento, inclusive, em hospitais
particulares se provada a impossibilidade de prestação pública ou em tempo
adequado, considerando a urgência dos casos, ainda mais quando se fala do Covid-
19.
No mesmo sentido vai colacionada ementa a seguir do Tribunal do Rio de
Janeiro, in verbis:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER. DECISÃO QUE DEFERE A TUTELA
PROVISÓRIA DE URGÊNCIA PARA DETERMINAR QUE O RÉU
AUTORIZE E CUSTEIE A PRESTAÇÃO DO SERVIÇO HOME CARE
COM RESPIRADOR. AGRAVANTE REQUER A REFORMA DA DECISÃO
ADUZINDO NÃO ESTAREM PRESENTES O REQUISITOS
AUTORIZADORES. Determinar o fornecimento de home care com
respirador ao Agravante, no contexto atual que vivemos, em razão da
pandemia causada pela COVID-19, diminuiria a capacidade de
atendimento dos hospitais, que estão com demanda acima do normal,
inclusive com fila de espera de pessoas doentes para internação e
utilização de respirador, ocasionando ao Estado um custo extra, que no
momento não se justifica, privilegiando o Agravado em detrimento de toda
população, que necessita ou pode vir a necessitar de internação e uso do
respirador. Prevalência do interesse público sobre o privado. Reforma
da decisão. Indeferimento da tutela de urgência. PROVIMENTO DO
RECURSO. (TJ-RJ - AI: 00558062020208190000, Relator: Des(a).
DENISE NICOLL SIMÕES, Data de Julgamento: 28/01/2021, QUINTA
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 01/02/2021) (grifou-se).
3 Considerações finais
Com base no que foi apresentado neste trabalho, é possível concluir que o
Estado tem o dever de fornecer e garantir a todos os cidadãos de forma universal, o
acesso aos direitos fundamentais, mais especificamente à saúde, caracterizado
como direito social pela Constituição.
Dessa forma, objetivando o cumprimento destas obrigações o Estado possui
um sistema organizado de forma hierárquica que visa à promoção ao acesso à
saúde, mas que muitas vezes se mostra de forma falha, o que gera a judicialização
de demandas que visam o fornecimento e a condenação do Estado diante do direito
lesado. Relevando, outro direito, além do acesso à saúde, há o acesso à justiça.
Considerando que o Estado possui responsabilidade civil objetiva, pautada na
teoria do risco administrativa, haverá responsabilização deste, sempre que houver
negligencia ou descaso por parte de seus agentes representativos, inclusive em
casos onde for omisso, respondendo neste último de modo subjetivo, devendo
comprar-se a culpa, o nexo causal e o dano.
Além disso, verificou-se que atualmente o Estado encontra-se defasado
devido à pandemia do novo Corona vírus, atuando de forma escassa em relação a
alta demanda de contaminação que vem ocorrendo. O que demonstra que o Estado
poderá vir a sofrer inúmeras ações de exigências desta obrigação de forma judicial.
O que já é demonstrado pelo projeto de lei nº 2.033/2020 que confirma que há
pessoas interessadas em exigir do Estado seu direito fundamental, devido à falta de
políticas públicas eficientes para conter a contaminação do vírus.
De fato, é preciso se atentar a reserva do possível, principalmente no atual
estado pandêmico, devido ao alto número de mortes e complicações que talvez o
Estado não seja capaz de suprir, essencialmente na crise econômica que o país se
elevou. No entanto, é preciso compreensão de que o direito à saúde é essencial
para que o ser humano possua o mínimo existencial, garantido pela Carta Magna e,
portanto, tal argumento da reserva do possível não se torna absoluto, devendo
assim o Estado ser responsabilizado pelos atos de má-administração como propõe a
Constituição Federal atual.
Referências:
MORAES, Alexandre de. Direitos humanos. Editora Atlas, 2021. Disponível em:
<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788597026825/cfi/6/10!/4/2/4@0:
0> Acesso em: 21 abr. 2021.
PRIETO, Renata Barros; BARBERINO, Liliane da Silva; MORAES, Rosana Maria de;
et al. Teoria geral do processo. Porto Alegre: SAGAH, p. 160. 2018. Disponível
em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595024946/pageid/0>.
Acesso em: 07 abr. 2021.