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Resumo do Capítulo 2 da primeira parte do Livro a Escola não é uma empresa.

Capítulo 2
Do conhecimento como fator de produção
Utilizando Nietzsche, Laval fala sobre a mudança na ênfase que se dava antes a
“cultura clássica”, para a “cultura de massa” como uma “cultura universal”. Ele explica
que existe um real interesse nessa retirada dos conceitos que se tinha antes na cultura
clássica, para a construção de uma nova cultura, a chamada “cultura de massa”, que é
subordinada a fins específicos: o fim econômico, o fim político, o fim científico.
Segundo o autor o fim econômico, leva a instrumentalização da cultura de acordo com
os interesses econômicos privados, em que a democratização passa a ser algo difundido,
porém, não com o intuito de algo bom, pois essa democratização vai ser guiada cada vez
mais pela eficiência econômica, e impede que se possa construir uma cultura
verdadeiramente voltada a coletividade, e sim, dando abertura a uma cultura que custe
pouco esforço e renda muito dinheiro. O saber, nessa perspectiva, passa a compor uma
das áreas importantes para o setor de investimento, para que se favoreça a lógica da
eficiência. Neste sentido a escola muda, tudo o que se tinha como saberes socialmente e
historicamente construídos, passa a ser moldado as variações existenciais e
profissionais, as quais sempre estão em modificações pela mudança do mercado
capitalista.
Laval deixa claro que o saber é útil ao capitalismo, que ao instrumentalizar a
cultura, esse saber torna-se uma ferramenta a serviço da eficiência do trabalho, por isso
ele não é contra o saber em geral, porém, esse saber tem de estar de acordo com a lógica
do mercado, o conhecimento então, deve ser difundido, para que haja o aumento da
eficiência no trabalho. E para que ocorra o retorno financeiro, o investimento na
educação deve ocorrer desde muito cedo, para que este jovem ao crescer esteja
preparado ainda em sua juventude para os desígnios do capitalismo.
O autor destaca sobre o processo de aprendizagem ao longo da vida, como
garantia de formação deste trabalhador para a eficiência do trabalho, formando um
“trabalhador cognitivo”, mas aponta uma dupla reivindicação sobre esse aumento na
escolarização, primeiro é reduzir esse esforço de escolarização, a redução dos
conhecimentos, a conhecimentos utilitários economicamente, e socialmente, isso vai
ocorrer com a redução dos conteúdos. E do outro lado dessa reivindicação está o
aumento de investimento a esse tipo de educação.
O autor trás outra significativa e essencial discussão, que é a era do “Capital
Humano” no qual ele situa ser o centro da gravidade da doutrina dominante na
educação. O capital humano se traduz em uma tendência do capitalismo
contemporâneo, na qual se mobiliza saberes em números cada vez maior, sob o duplo
aspecto de fator de produção e mercadoria. Onde o próprio homem passa possuir esses
conhecimentos economicamente valorizáveis, e passa a ser o capital. Além dos
conhecimentos economicamente valorizáveis, que são os conhecimentos adquiridos
com as qualificações profissionais e aqueles conhecimentos adquiridos pelo sistema de
ensino, as competências e características individuais do indivíduo também passam a
serem admitidos como requisitos essenciais para o mercado capitalista.
O capital humano passa a ser visto como a única “solução viável” para os
gastos com a educação, e segundo seus defensores traz a vantagem de enfraquecer o
vínculo entre diploma e emprego, e traz maior seletividade dos empregados, aparecendo
assim como uma solução a inflação de títulos, visto que traz a seleção desses
empregados também por componentes informais, principalmente a origem social. O
autor explica como ocorre essa aceitação desta teoria do capital humano, dizendo que
em sua defesa, a educação nesta perspectiva passa de uma despesa, de consumo, para
um investimento. Mas o que ocorre é que esse investimento é individual e isso leva a
desigualdade de oportunidades, pois se este indivíduo estiver recursos próprios, ele
investe em si e tenta aumentar sua produtividade, sua renda e suas vantagens sociais.
Contribuindo para uma concepção utilitarista da educação, em que ele opta para uma
escolha de profissão, pelo dinheiro, que está proporcionará. Nesse processo de
investimento, existe o retorno esperado, e dependendo desse ganho, o financiamento
deve ser dividido entre Estado, a empresa e o indivíduo.
O Estado deve ir além dos gastos com a educação, nessa lógica ele tem o dever
de criar as condições para que ocorra esse desenvolvimento racional do indivíduo. Ele
também deve selar pela rentabilidade desse investimento, podendo assim recorrer ao
financiamento privado, proveniente tanto das famílias como das empresas,
diversificando assim as fontes de financiamento como lógica do “retorno educacional”.
Sobre o Capitalismo e produção do conhecimento, Laval traz as ideias de Adam
Smith e Marx, para discorrer sobre o feito acumulativo da divisão social do trabalho
(trabalho intelectual, trabalho material) sobre o progresso técnico. Na qual explica ser a
“capitalização do saber”. A primeira divisão geral soma-se então a essa segunda, que
consiste na captação dos “conhecimentos vivos”, adquiridos pelo trabalhador, para a
substituição desse conhecimento por saberes formalizados. A capitalização desses
saberes técnicos, transformam essa ciência em um estoque de conhecimentos úteis a
produção, que serão incorporados nas ferramentas, nos códigos e programas. Assim o
saber passa a ser subordinado a economia, em uma intensa articulação, contribuindo
com o setor produtivo, mas Laval nos alerta que isso não é recente, Marx já vinha
destacando essa articulação. E esse processo de subordinação do saber a economia,
apontado pelo autor, terá como espaço contribuidor, as próprias universidades públicas,
quando ao se submeterem a lógica do mercado, produzem pesquisas muito próximas as
pesquisas privadas. Aproximando a produção do conhecimento a uma atividade
mercantil.
Em as novas fábricas do saber, Laval deixa mais claro esse papel das
universidades na mercantilização do saber. Primeiramente ele afirma que há um
crescimento das “universidades de empresas” a partir dos anos de 1950 nos Estados
Unidos e mais recentemente na Europa. E que essas universidades não são como as
universidades de formação da elite, do que Laval coloca como executivos com “grande
potencial”, elas são tidas como as fábricas do saber eficiente, mas esse saber eficiente é
aquele que é proporcionado pela pulverização de um conhecimento moldado pelo
“capitalismo universitário”. Esse conhecimento torna-se útil ao mercado produtivo, pois
é através dele que se busca a eficiência.
Com essa nova roupagem para as universidades, observou-se segundo Laval
uma expansão da comercialização da pesquisa, acarretando o estreitamento das relações
entre universidades e as empresas privadas. Com esse estreitamento as universidades
passaram não só a vender ideias novas geradas pela pesquisa, mais também a se
transformarem em um local de acumulação do capital. Usando observações dessa
situação em alguns países, Laval diz que houve consequências as pesquisas, diminuição
das atividades pedagógicas, que foram reduzidas ao mínimo, assim como os recursos
para departamentos que exerciam atividades não rentável, também se inclui nessa
diminuição o salário. Outra consequência apontada pelo autor, foi o desinteresse dos
pesquisadores pelo ensino, que se apresenta nessa perspectiva como menos rentável que
a pesquisa comercializada.
Nesse contexto, a missão das universidades muda para que se desenvolva as
atividades econômicas. E nessa mudança surge novas oportunidades de “rentabilizar” o
ensino, como os cursos online, apontados no texto, estes cursos trazem para o trabalho
docente, muitas consequências desfavoráveis, já que este vai ter que exercer múltipla
funções, gerando intensificação de seu trabalho, redução de sua autonomia, e até muda
sua posição como profissional, gerando a uberização de seu trabalho.
Assim a universidade em sua estrutura total, se molda a esse contexto, inclusive
suas atividades fundamentais, se tornado um local de valorização do capital. Nessa
perspectiva a universidade passa a ter uma nova atuação que consiste em dar cobertura
aos interesses privados, Laval, aponta que isso se dá através de caução e certificação
cientifica as operações comerciais.
Esse modelo de comercialização da pesquisa pública vem crescendo segundo o
autor, de maneira celerada, porque é favorecido pelo fortalecimento do papel de
propriedade intelectual, a exemplo dado pelo autor, a submissão de uso de patentes. E o
crescimento desse modelo se intensifica pelas próprias leis que possibilitam a
apropriação e transferências comercial dos conhecimentos, seguindo o modelo
estadunidense, mostra que traz uma desvinculação desse pesquisador as relações de
servidor público, dando a possibilidade desse, criar empresas, como sócio, diretor, ou
administrador, sem perder a condição de funcionário público, o que gera aquilo já
apontado anteriormente, o desinteresse pelo ensino. Nesse modelo também permite que
empresários, pesquisadores e assalariados do setor privado, possam se tornar
professores-pesquisadores de universidades. Laval diz que os fundamentos desde de o
início que os fundamentos da escola e das universidades mudam, seguindo essa lógica
neoliberal, atendendo as exigências econômicas. A educação nessa era não tem a
pretensão de emancipar o homem e sim “desemancipar”.

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