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POOR LAW E SPEENHARNLAND LAW COMO EMBRIÕES DAS

POLÍTICAS SOCIAIS
Marina Porto Carvalho1

Resumo
O artigo em questão trata da organização de mercado da Inglaterra durante os séculos XIV e XIX,
as mudanças na estrutura da sociedade e do mercado nesses séculos e as leis originadas nesse
período histórico (Poor Law e Speenharnland Law). E as relações dessas mesmas leis com as
Políticas Sociais. O artigo foi proposto pela professora Maria Lucia Lopes da Silva na disciplina de
Seguridade Social I na Universidade de Brasília.

Palavras-chave: Poor Law. Speenharnland Law. Inglaterra. Política Social.

1 Apresentação
A situação político-econômica da Inglatera nos Séculos XIV e XIX, as consequências do êxodo
rural e da Revolução Industrial para os trabalhadores, e as leis Poor Law e Speenharnland Law
tiveram um impacto gigantesco na sociedade Ocidental como um todo. A origem de um pauperismo
exacerbado, opressão em seu mais alto nível e a origem de Políticas Sociais e de proteção mínima
aos trabalhadores para a situação não fugir do controle foram algumas das medidas tomadas pelo
Estado burguês durante esse período e nesse artigo poderemos refletir sobre as nuances de todas
essas variantes e como a Questão Social era expressa na época supracitada. O artigo foi proposto
pela professora Maria Lucia Lopes da Silva na disciplina de Seguridade Social I na Universidade de
Brasília, com o objetivo de fixar o conteúdo de previdência social.

2 Desenvolvimento

2.1 O Mercado na Inglaterra no século XIV e XIX


“Na Inglaterra, a "nacionalização" da legislação do trabalho, por meio do Statute of Artificers
(Estatuto dos Artífices - 1563) e da Poor Law (Lei dos Pobres - 1601), retirou o trabalho da zona de
perigo, e a política anticercamento dos Tudors e dos primeiros Stuarts foi um protesto concreto
contra o princípio do uso lucrativo da propriedade fundiária. ” (POLANYI, 1944, p.91). Isso
significa que na Inglaterra existia um movimento de luta contra o agronegócio e um embrião de
Políticas Sociais. O mercantilismo era contrário à economia de mercado no ponto em que
condenava a comercialização do trabalho e da terra, além de prezar pela intervenção estatal no
comércio.2 “As guildas artesanais e os privilégios feudais só foram abolidos na França em
1790; na Inglaterra, o Statute of Artificers só foi revogado entre 1813 e 1814 e a Poor Law
elisabetana, em 1834.” (POLANYI, 1944, p.92). Mesmo com o Statute of Artificers e a Poor Law
sendo revogadas, o livre mercado ainda não havia sido criado.3
O mercantilismo se preocupava com o pleno emprego através do comércio, e a mudança no
status quo, a criação do livre mercado, onde antes se contentavam com a relação econômica da terra
e do trabalho e a crença em um sistema absolutista, foi um choque.4 “A transição para um sistema
democrático e uma política representativa significou a total reversão da tendência da época, e da
mesma forma a mudança de mercados regulamentados para auto-reguláveis, ao final do século

1
Estudante de Serviço Social pela UNB, campus Darcy Ribeiro. Disciplina de Seguridade Social I.
Email: marinaporto334@gmail.com
Matrícula: 170172066
2
De acordo com Polanyi em seu livro “A Grande Transformação”.
3
Polanyi in “A Grande Transformação”.
4
Polanyi in “A Grande Transformação”.
XVIII, represento uma transformação completa na estrutura da sociedade.” (POLANYI, 1944,
p.92). Com o advento do mercado auto regulável e a Revolução Industrial, algumas expressões da
Questão Social foram ficando cada vez mais evidentes na Inglaterra, o que levou a uma espécie de
separação social.

2.2 As consequências da criação do mercado de trabalho


O desenvolvimento do capitalismo criou um rombo social, os problemas se agravaram e
uma das formas escolhidas para superar o problema foi a criação das Políticas Sociais.
“Relembremos nosso paralelo entre as devastações dos cercamentos na história inglesa e a
catástrofe social que se seguiu à Revolução Industrial. Dissemos que, como regra, o progresso é
feito à custa da desarticulação social. Se o ritmo desse transtorno é exagerado, a comunidade pode
sucumbir no processo. Os Tudors e os primeiros Stuarts salvaram a Inglaterra do destino da
Espanha regulamentando o curso da mudança de forma a torná-la suportável e puderam canalizar
seus efeitos por caminhos menos destruidores.” (POLANYI, 1944, p.97). “As vantagens
econômicas de um mercado livre de trabalho não podiam compensar a destruição social que ele
acarretaria. Tiveram que ser introduzidas regulamentações de um novo tipo para mais uma vez
proteger o trabalho, só que, agora, contra o funcionamento do próprio mecanismo de mercado.”
(POLANYI, 1944, p.99).
Na Inglaterra, o dinheiro e a terra surgiram antes do trabalho, que não encontrou seu espaço
por conta do Act of Settlement (Decreto de Domicílio) de 1662, que restringia o trabalho, fazendo
com que o trabalhador estivesse restrito a paróquia (servidão para com a igreja) e só foi abandonado
em 1795. Pouco tempo depois a Speenharnland Law ou "sistema de abonos" que continuou o
propósito de pelo impedir a criação de um mercado de trabalho, entretanto utilizou-se de métodos
paternalistas para alcançar esse objetivo.5 “Na verdade, ela introduziu uma inovação social e
econômica que nada mais era que o "direito de viver" e, até ser abolida, em 1834, ele impediu
efetivamente o estabelecimento de um mercado de trabalho competitivo. ” (POLANYI, 1944,
p.100). A Classe Média começou um processo de instituir o mercado de trabalho e o sistema
salarial, porém teria de abolir a Speenharnland Law para conquistar, uma vez que não seria
vantajoso para o trabalhador ter de trabalhar quando poderia não o fazer. 6

2.3 Relação da Poor Law e Speenharnland Law com as Políticas Sociais


A Poor Law se desviou de seu objetivo de quando havia sido criada, uma vez que era para
ter sido administrada liberalmente. A Poor Law consistia em um sistema praticamente de punição
para quem não era um trabalhador assalariado, forçados a viver em péssimas condições de vida e
desnutridos, tendo que aceitar qualquer tipo de trabalho em troca de um lugar para morar nas
chamadas “Casas dos Pobres”.7 “Sob a lei elisabetana, os pobres era forçados a trabalhar com
qualquer salário que pudessem conseguir e somente aqueles que não conseguiam trabalho tinham
direito a assistência social;” (POLANYI, 1944, p.101). Diferentemente da Speenharnland Law, na
Poor Law os cidadãos precisavam trabalhar para receber benefícios e assistência, onde era
desconsiderada a renda familiar.
“Isto resultou no abandono da legislação Tudor, não em nome de um menor paternalismo,
mas de um ainda maior. A ampliação da assistência externa, a introdução de abonos salariais,
suplementados ainda por abonos separados para a mulher e os filhos, e que aumentavam ou
diminuíam de acordo com o preço do pão” (POLANYI, 1944, p.101). O trabalho foi se tornando
cada vez mais improdutivo, e a estratégia do Estado foi aumentar a assistência e gerar um ambiente
em que mesmo em condições deploráveis, os trabalhadores continuassem a trabalhar. Fazendo com
que a maior parte da população não passasse fome, e gerasse uma certa relação de independência
por parte dos trabalhadores. “Os humanitaristas aplaudiam a medida como ato de piedade, senão de

5
Polanyi in “A Grande Transformação”.
6
Polanyi in “A Grande Transformação”.
7
Polanyi in “A Grande Transformação”.
justiça, e os egoístas se consolavam com o pensamento de que se tratava de um gesto de caridade e
não de um ato liberal” (POLANYI, 1944, p.101). “Só quando a grave deterioração da capacidade
produtiva das massas se fez sentir uma verdadeira calamidade nacional que obstruía o progresso da
civilização da máquina é que se impôs à consciência da comunidade a necessidade de abolir o
direito incondicional do pobre à assistência. ” (POLANYI, 1944, p.104).
Os trabalhadores estiveram expostos a algumas variantes, dentre elas em ordem cronológica
a Speenharnland Law de 1795 a 1834 (criada antes da economia de mercado), a Poor Law Reform
(período de transição para o mercado), as dificuldades que causou para o trabalhador depois de
1834 e as especificidades do mercado competitivo após 1834 até que se legalizaram os sindicatos
em 1870 (economia de mercado propriamente dita). O resultado da Speenharnland Law foi a
pauperização das massas, uma vez que impedia o cidadão comum a se tornar proletário. Na Poor
Law Reform, extinguiu-se o “direito de viver” e houve uma abertura do mercado de trabalho. “É
verdade que muitos dos pobres mais necessitados foram abandonados à sua sorte quando se retirou
a assistência externa, e entre aqueles que sofreram mais amargamente estavam os pobres
merecedores", orgulhosos demais para se recolherem aos albergues, que se haviam tornado um
abrigo vergonhoso.” (POLANYI, 1944, p.105). Essas reformas sociais são consideradas algumas
das mais cruéis realizadas, foram realizadas torturas psicológicas, além de uma ruptura abrupta de
uma instituição histórica e as reformas se pretendiam como meios de melhorar a vida dos
pauperizados. Na fase das especificidades do mercado competitivo, o Estado criou um aparelho
burocrático que era utilizado contra os pobres, resumido pelo mercado de trabalho. 8
“Se a Speenharnland impedira a emergência de uma classe trabalhadora, agora os
trabalhadores pobres estavam sendo formados nessa classe pela pressão de um mecanismo
insensível. ” (POLANYI, 1944, p.105). “Se a Speenharnland havia sobrecarregado os valores da
comunidade, da família e do ambiente rural, agora o homem estava afastado do lar e da família,
arrancado das suas raízes e de todo o ambiente de significado” (POLANYI, 1944, p.105). Com a
criação do mercado de trabalho, ao contrário do que acontecia durante a época da Speenharnland
Law, os trabalhadores começaram a ser gravemente explorados, estando submetidos a um mercado
desumano. O povo nunca havia sido tratado com dignidade, contudo durante a Speenharnland eram
“menos preciosos”, enquanto após a criação do mercado de trabalho, esperava-se que o povo se
cuidasse sozinho, sem dar os meios para isso a ele e no meio de um sistema opressor. O trabalhador
se tornou um pária em seu próprio ambiente, antes submetido a um lar em péssimas condições,
acabou por ficar desprovido de um lar. O trabalhador não tinha mais tempo para se dedicar a família
e ao lazer, a migração para os centros urbanos não foi calma, muitos foram arrancados bruscamente
de suas origens em busca do que pensavam ser uma melhor qualidade de vida. Os trabalhadores se
viram apropriados pelo mercado e com sua força de trabalho se tornando uma mercadoria valiosa
nas mãos burguesas.
2.4 Reação do proletariado diante a opressão
A resposta dos trabalhadores para essa nova situação foi sua organização política e
industrial, dando surgimento a leis fabris e a legislação social. “Se sugerimos que o estudo da
Speenharnland é o estudo do nascimento da civilização do século XIX, não temos em mente
exclusivamente seus efeitos econômicos e sociais, nem mesmo a influência determinante desses
efeitos sobre a moderna história política, mas o fato de que a nossa consciência social foi fundida
nesse molde, fato esse desconhecido da atual geração. ” (POLANYI, 1944, p.106). O pauperismo
causado pelo livre mercado e a noção de que a riqueza burguesa acompanhava o pauperismo e a
exploração proletária surgiram desses debates pós Speenharnland Law. “O pauperismo, a economia
política e a descoberta da sociedade estavam estreitamente interligados. O pauperismo fixou a
atenção no fato incompreensível de que a pobreza parecia acompanhar a abundância. ” (POLANYI,
1944, p.107).
Foi com o início das discussões sobre o problema da pobreza que a sociedade começou a se
complexificar e explorar o significado da vida. A criação da Economia Política, das Políticas

8
Polanyi in “A Grande Transformação”.
Sociais e busca por direitos sociais em vários aspectos se originaram a partir disso. 9 “Tanto que
existe certo consenso em torno do final do século XIX como período de criação e multiplicação das
primeiras legislações e medidas de proteção social, com destaque para a Alemanha e a Inglaterra,
após um intenso e polêmico debate entre liberais e reformadores sociais humanistas. ” (BEHRING,
2006, p.2).

3 Considerações Finais
Esse artigo atingiu o propósito de englobar o objetivo de englobar o conteúdo abordado nas
primeiras aulas de Seguridade Social I da professora Maria Lucia Lopes da Silva na Universidade
de Brasília. Apresentando algumas reflexões sobre a conjuntura da Inglaterra nos séculos XIV e
XIX, sua economia, a contribuição das mudanças feitas no país para a criação das Políticas Socais e
um maior entendimento da Economia Política. Dando explicações sobre a criação do mercado de
trabalho e suas consequências sociais, a criação da estrutura liberal da economia e a passagem do
feudalismo para o capitalismo e a sua consolidação.

Referências Bibliográficas

BEHRING, Elaine e BOSCHETTI, Ivanete. Política social. Fundamentos e história. São Paulo:
Cortez, 2006.
POLANYI, K. A Grande transformação: as origens de nossa época. Tr. Br. Rio de Janeiro:
Ed. Campus, 1980. (caps. 6 e 7). p. 89-108.

9
Polanyi in “A Grande Transformação”.

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