Você está na página 1de 4

FACULDADE DEHONIANA

CURSO DE TEOLOGIA

Disciplina: Introdução Geral a Bíblia


Professor: Pe. Mariano Weisenmann
Aluno: Thiago Santos Souza

Resenha

Referência Bibliográfica: João Paulo II. Carta Encíclica Fides et Ratio: sobre as
relações entre a fé e razão. São Paulo: Paulinas, 1998.

Descrição da estrutura da obra:

O texto foi escrito de forma dissertativa e argumentativa, tendo em sua estrutura


metodológica uma Introdução, sete capítulos e uma conclusão, apresentados em 143
páginas.

Apresentação da obra:

O autor do texto em questão introduz a discussão do tema a partir de uma


apropriada analogia em que a fé e a razão, são para o homem os instrumentos que o
permitem elevar seu espírito mais próximo a Deus, tornando-se possível, através
dessas asas o conhecimento da verdade, que está em Deus, e, por conseguinte a
verdade sobre quem o próprio homem é. A fé e a razão, portanto são apresentados
como dimensões complementares.
As motivações que fundamentaram os objetivos deste documento refere-se, em
primeiro lugar, a uma necessária resposta a um momento histórico de extrema
racionalização, que negligencia e exclui Deus; e em segundo lugar, refere-se a uma
continuação de um outro documento a “Veritatis Splendor”, no qual inicia a defesa da
verdade que é apresentada pela doutrina da Igreja Católica.
Neste segundo documento, Fides et Ratio o autor continua tal discussão,
enfatizando Jesus Cristo como síntese de toda a revelação de Deus ao homem e que
cabe a fé, com o auxílio da razão, levar o homem a descobrir e contemplar essa
verdade revelada.
Descrição do conteúdo da obra:

Num primeiro momento é apresentado no texto que a Igreja ao longo de sua


história, em sua prudente sabedoria, abordou em partes o assunto em questão através
de documentos significativos tais como a “Dei Filius” e a “Dei Verbum”. O primeiro,
escrito para responder e contrapor o movimento crítico racionalista da época que
promulgava a ideia de supremacia e sobreposição da razão, defendia a fé como um
autêntico caminho de conhecimento da verdade. O segundo documento afirmava que a
encarnação do verbo na história da humanidade, intenciona revelar Deus, a partir de
Cristo, o qual propõe a partir de sua vida, morte e ressureição respostas contundentes
as questões existenciais que há nos homens.
Ressoando em sua época, o então Papa João Paulo II, reafirma as ideias acima.
Para ele a revelação divina que é apresentada por Cristo, por mais que alcance a
máxima expressão da essência de Deus, não é inteiramente sensível ao homem, pelos
limites da razão diante do magnífico mistério que é Deus. Por isso, apenas com os
olhos da fé o ser humano pode, embora que nunca em sua totalidade, conhecer de
forma profunda a Deus Pai que ama através do filho pela força do Espírito Santo. Ou
seja, a experiência da trindade depende mais da fé que da razão.
O homem tem um desejo de transcendência, de uma relação com Deus e o faz
através da busca do conhecimento da verdade. Para isso, o homem se vale da razão e
constrói caminhos, buscando saciar esta inclinação transcendental. Entretanto ao
passo que caminha, o homem acaba encontrando diversificadas questões que surgem
a partir dos limites que, a priori, a sua razão se depara, sendo uma dessas questões o
inevitável fato da morte. A filosofia e suas escolas surgem então como um dos
caminhos mais favoráveis, servindo ao homem como um método de conduzir a razão
na superação desses limites.
Na sequência dos fatos históricos, observa-se que até mesmo nas sagradas
escrituras, nas cartas de Paulo, há indícios de certa preocupação em propagar o
evangelho de Cristo, de maneira mais acessível ao povo, buscando inclusive
distanciar-se da representação de divindade que era predominante na época.
Não só Paulo, mas também outros significativos nomes são citados pelo autor,
da presente encíclica, como personagens históricos que fizeram uso da filosofia para o
aprimoramento da compreensão da fé, destacando-se dentre eles São Tomás de
Aquino. Este último é enfatizado no texto por ter sólidas contribuições para o
fortalecimento da harmonia e do diálogo complementar entre a fé e a razão.
Entretanto no desenvolvimento da filosofia, a partir do surgimento de diversas
correntes filosóficas, ainda mais impulsionado pelo racionalismo foi surgindo um
verdadeiro abismo que passou a distanciar demasiadamente a filosofia da teologia,
acentuando as suas diferenças, renegando a importância e confiabilidade dos saberes
da fé enquanto ciência e ainda acusando a religião como uma manobra de alienação
das pessoas.
Mediante aos ataques provenientes dessas correntes filosóficas
contemporâneas a Igreja, através de seu magistério, sai em defesa da fé, fazendo uso
inclusive da própria razão para superar as falsas e rasas doutrinas que renegavam a
verdade revelada em Jesus. Uma das mais produtivas e fecundas ações da Igreja,
neste sentido, foi a retomada do movimento filosófico tomista como via para se fazer
uso da filosofia sem contrapor as exigências da fé.
O autor defende ainda a ideia de que tanto o filósofo quanto o teólogo não
podem negar a importância e a complementaridade que ambas ciências possuem entre
si e que a busca e concretização da sobreposição de uma pela outra está fadada ao
fracasso. Seguindo este raciocínio e inspiração o autor continua evidenciando a
necessidade da Teologia reforçar e buscar, sempre mais, integrar-se com a filosofia, ou
seja, a ciência da fé deve, com prudência e sabedoria, inteirar-se das exigências
filosóficas em vistas de perpetuar o anúncio do Evangelho de Jesus e da verdade
contida Nele. Deveria, então, os teólogos atuais se inspirar nos apóstolos que também
enfrentaram, em sua época, o desafio de superar as ideias e movimentos que
confundiam o povo acerca da verdade.
Os teólogos atuais, pois, não devem se privar desta missão devendo fazer uso
das ferramentas que a Igreja lhes dispõe. Assim, diante da notória fragmentação que o
mundo empírico produz, o qual vende a ideia de que não existe uma verdade, mas
várias verdades, a Igreja tem de forma segura um consistente instrumento, a Palavra
de Deus, que reúne toda a verdade, tornando-a mais próxima do homem. Esta, deve
ser apresentada pela igreja como um farol que conduz o homem ao seu porto seguro
que é Deus.
Além disso os teólogos precisam levar em conta todos os cuidados necessários
para não caírem em “armadilhas” próprias da modernidade relativista, principalmente a
negação do mistério, materializado na necessidade de provar, teórica e empiricamente,
todo o saber, tomando como valido e verdadeiro somente o que é passível de
comprovação empírica. Essa negação do mistério tende à negação da totalidade de
Deus, ou ainda a negação de Sua própria existência. A Teologia portanto deve
continuar em sua atitude de caminhar próximo da Filosofia, cuidando porém para não
desviar-se nos atalhos da superficialidade que algumas áreas, métodos e ideias da
ciência empírica contemporânea propõe.
No fim de seu texto, o autor dirige-se também aos filósofos e aos cientistas. Aos
filósofos ele os exorta para que eles possam continuar promovendo a filosofia de
maneira comprometida e não dissociada com a autêntica verdade, incentivando-os a
iluminar a consciência das pessoas, através do bom uso da razão, afirmando assim a
suma importância da filosofia para a emancipação humana, sobretudo para uma
autentica experiência da fé.
Já aos cientistas o Papa afirma reconhecer a inegável contribuição dos estudos
e pesquisas científicas para que o homem continue a maravilhar-se com a criação,
tendo sempre mais conhecimento acerca do universo. Entretanto, também lembra aos
cientistas que por mais desenvolvidos que sejam os estudos terão sempre uma
apropriação limitada da verdade e dos objetos nos quais procuram identifica-la, uma
vez que há, no fim das coisas, o mistério com todas as suas interrogações não
tangíveis de serem respondidas pela razão, mas contempladas pela fé.

Análise Pessoal da Obra:

Toda a Carta permite o vislumbre da autêntica relação entre a Fé e a Razão, nos


fazendo conhecer o percurso histórico dessa relação, com todas as aproximações,
distanciamentos e reaproximações que tornaram necessário esse texto.
Além disso, o presente texto ainda oferece orientações consistentes a toda a
igreja, e não só, mas também todos os interessados em entender as possibilidades de
interação da fé e da razão, ajudando-nos a superar a dicotomia que a modernidade
tenta imprimir no pensamento coletivo de que ambas as ciências são excludentes.
Para minha formação enquanto futuro teólogo, penso ser de suma importância a
leitura dessa encíclica, atribuindo valoroso conhecimento que sem dúvida me ajudará a
compreender melhor, fazendo uso da razão, as verdades da fé que está na revelação
de Deus na história do homem.

Recomendação da obra:

Recomendado a todos os interessados nas áreas da Filosofia, Teologia e afins.

Você também pode gostar