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ASSOCIAÇÃO EDUCATIVA EVANGÉLICA

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ANÁPOLIS - UniEVANGÉLICA


PIBID 2020/2023 Escola Municipal Dona Alexandrina
Docente: Sandra Elaine.
Disciplina: Pedagogia.
Discentes: Thainara/ Delfina.

FECHAMENTO 2
Referência:
Bauer, Caroline Silveira. Conteúdo e metodologia do ensino de História [recurso
eletrônico] / [ CITATION Car18 \l 1046 ] ; [revisão técnica: Wilian Junior Bonete]. – Porto
Alegre: SAGAH, 2018.

Um dos principais desafios apresentados à abordagem da história local são as múltiplas


definições atribuídas à expressão, ao conceito de “local” e à sua instrumentação na escrita da
história. Os sentidos de história local podem variar. Podem incluir, por exemplo, a história de
pequenas localidades (ou seja, um recorte político-geográfico), escrita por historiadores não
profissionais, que se dedicam a elaborar genealogias e à busca das “origens”. Por outro lado,
a expressão “história local” pode se vincular a debates historiográficos suscitados por
questões teórico-metodológicas da história social, da micro-história, etc. A própria noção de
história local surgiu como resultado das renovações historiográficas na nova história, ao se
debater novas abordagens, novas fontes e o enfrentamento de narrativas homogeneizantes ou
metanarrativas (CARVALHO, 2007).

“Local”, nesse sentido, parece fazer referência a determinado recorte, uma seleção. Em um
primeiro momento, você poderia pensar imediatamente em um recorte espacial, devido à
ideia de lugar. Porém, até mesmo a noção de “lugar” não é definida necessariamente por
fronteiras político-territoriais, podendo fazer referência a questões culturais, étnicas,
identitárias, de pertencimento, etc.[ CITATION Car18 \l 1046 ]

Uma história, entre outros adjetivos, será uma “história local” no momento em que o “local”
torna-se central para a análise, não no sentido de que toda história deve fazer uma análise do
local e do tempo que contextualiza os seus objetos, mas no sentido de que o “local” se refere
aqui a uma cultura ou uma política local, a uma singularidade regional, a uma prática que só
se encontra aqui ou que aqui adquire conotações especiais a serem examinadas em primeiro
plano. Pode-se dar ainda que, na História Local, o “local” se mostre como o próprio objeto de
análise, ou então que se tenha em vista algum fator à luz deste “local”, desta “singularidade
local” (BARROS, 2009, p. 6)
Nesse sentido, a história local seria um recorte que permitiria enxergar especificidades em
uma totalidade, bem como a articulação desse espaço particular com uma abordagem mais
ampla. Assim, a história local também pode ser compreendida como forma de resistência ao
caráter homogeneizante da globalização. Entretanto, isso não significa que se institua uma
oposição entre uma história local e uma história global ou geral. A história local se expressa a
partir de um recorte, de uma delimitação cronológica, temática ou especial com a finalidade
de ressaltar determinada particularidade. Mas é necessário lembrar que esse recorte não
diminui, reduz ou simplifica as dinâmicas das estruturas e das relações sociais. [ CITATION
Car18 \l 1046 ]

O caráter de pertencimento é fundamental para a compreensão das noções de local e


localidade, daí a vinculação explícita entre a história local e a formação de identidades. Isso
porque a noção de localidade somente pode ser definida se, além dos recortes espaciais e
temporais, se levar em consideração questões étnico--culturais. Caso determinados grupos
não se sintam contemplados por um recorte da história local, isso pode ser problematizado a
partir de aspectos estruturantes, como a intervenção de poderes culturais, políticos,
econômicos, religiosos, etc.[ CITATION Car18 \l 1046 ]
A valorização da história local e de suas potencialidades para a construção da identidade dos
alunos na educação básica pode ser acompanhada por meio da legislação brasileira e das
diretrizes referentes ao ensino. Isso inclui desde a elaboração da Constituição de 1988 até o
texto da Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018) para o ensino fundamental.
Um dos questionamentos que o trabalho com a história local suscita nos professores que
resolvem aplicar esse recorte em sala de aula diz respeito ao local em que se estrutura a
narrativa e a temporalidade presente nos currículos e nos livros didáticos. Esse local é um
local eminentemente europeu. Além disso, como a maioria das narrativas históricas que
permeiam esses espaços privilegiam dimensões políticas vinculadas à história do Estado-
nação, há uma uniformização do passado, com a exclusão da participação de uma diversidade
de experiências e sujeitos históricos, de agentes sociais e de comunidades [ CITATION Car18 \l
1046 ]
Não é por outro motivo que observamos, ainda nas últimas décadas do século XX, que, para a
maior parte dos estudantes brasileiros, o estudo de história carece de sentido ou utilidade; não
se tem a visão de ciência e sim de uma matéria decorativa, estudo do passado, que só exige
como vimos, a prontidão em declinar nomes, datas e fatos. Não é de se estranhar que assim
seja, porque ocorre a enorme distância entre a realidade vivenciada pela comunidade e o
tratamento dado ao ensino de História, já que o aluno se torna mero espectador de fatos, não
necessitando de esforços no sentido de qualquer reflexão ou elaboração (BARBOSA, 2006,
p. 58).
O ensino de história local vem, de certa forma, romper com esta visão tradicio-nal em que se
priorizava o estudo da chamada “História Geral da Civilização Brasileira”, na tentativa de se
passar para nossos alunos a ideia de um Brasil homogêneo, sem diferenças, conflitos e
contradições sociais e um passado unívoco a ser “decorado” e utilizado apenas nos exames e
arguições. Queremos, pois, uma história que resgate as peculiaridades e especificidades
regionais e dê conta da pluralidade étnico-cultural de nossa formação histórica. A chamada
História Geral do Brasil, onde emergem os grandes feitos dos grandes homens, não dava
lugar e voz ao homem comum que no seu espaço de vivência local (bairro, comunidade,
município, estado, região) produz História, a partir das experiências de vida cotidianas
(FERNANDES, 1995, p. 44–45)
A Base Nacional Comum Curricular, no componente relativo à história, em diferentes
momentos, aponta temáticas que permitem uma estruturação do currículo de maneira a
facilitar a compreensão dos alunos como sujeitos históricos. Em outras palavras, possibilita
um entendimento do estudante como um ser no mundo, inserido em determinada realidade,
integrado a uma família e a uma comunidade, que se situa em uma cidade, um estado e um
país, cujas configurações são dadas por estruturas mais amplas (BRASIL, 2018).
O ensino de história está permeado pelo aprendizado de valores e pela formação da
identidade dos alunos. Quando se trata desse tema, há implicitamente o fomento à
compreensão da diversidade cultural, étnica, social e o respeito ao outro. Afinal, o ensino de
história possibilita que os alunos estabeleçam relações entre identidades individuais, sociais e
coletivas, para além dos pertencimentos nacionais. A história local torna-se, dessa forma, um
espaço privilegiado para uma educação antirracista e democrática e para a promoção dos
direitos humanos. É também por isso que o ensino da história é sempre relacionado à
formação da cidadania, à reflexão dos sujeitos sobre suas ações e suas relações com os
outros, sua participação no coletivo.[ CITATION Car18 \l 1046 ]
É a partir do reconhecimento do aluno como sujeito pertencente a uma comunidade e a um
local que ele passa a construir sua identidade e se torna um cidadão. Nesse sentido, o local
pode ser compreendido como um espaço que vai sendo transformado pelos sujeitos que o
ocupam. Isso ocorre por meio da reflexão suscitada pelas ações que as pessoas desempenham
enquanto sujeitos históricos e cidadãos. O ensino da história local possibilita a formação de
identidades que valorizam as experiências vivenciadas pelos alunos e que fazem com que eles
se reconheçam como agentes sociais de um mundo que pode ser transformado — tornando-
se, portanto, cidadãos.[ CITATION Car18 \l 1046 ]
De acordo com as demandas apresentadas pela Base Nacional Comum Curricular, pode-se
estimular uma série de habilidades relacionadas ao aprendizado histórico utilizando-se a
história local. A seguir, você pode ver algumas delas (BRASIL, 2018).
 A história local pode contribuir para a compreensão do aluno como sujeito histórico,
inserido em uma comunidade, permitindo que instrumentalize as noções de
historicidade e identidade. É possível trabalhar com a história da família, da escola,
da comunidade, problematizando os objetos e fazeres cotidianos, apontando como as
diferentes comunidades se apropriam e significam essas práticas, constituindo a
memória, as representações de si e a identidade local e regional.
 A história local pode estimular atitudes investigativas da parte dos alunos, ao lhes
possibilitar uma problematização de seu entorno imediato e de seu cotidiano. Você
pode aproximar os alunos das instituições locais e de seu modo de funcionamento,
preparando--os para o exercício da cidadania. É possível estimular o contato com
fontes locais (arquivos, bibliotecas, estatuária, monumentos, museus, etc.),
familiarizando o aluno com métodos de pesquisa e crítica histórica.
 A história local, entendida como um recorte espacial menor, pode contribuir para que
os alunos identifiquem rupturas e continuidades, mudanças e permanências,
fomentando o aprendizado de outras ferramentas importantes para a formação de uma
consciência histórica. Eles podem estudar a história do município, compreendendo as
dimensões políticas e públicas do espaço em que vivem e em que irão intervir. Isso
pode ser feito, também, ao se explorar o nome das ruas, pensar como são feitas essas
homenagens, quem são os homenageados e por quem.
 A história local pode ser uma ferramenta para a promoção de uma educação
democrática e antirracial, na medida em que estimula uma crítica aos relatos
homogeneizantes e possibilita uma multiplicidade de narrativas dos diferentes
sujeitos históricos. Você pode empregar uma metodologia que fale da vida das
pessoas, ressaltando a importância das memórias e da oralidade na transmissão de
conhecimentos e saberes. Isso permite que sujeitos que tiveram suas experiências
apagadas da história narrem suas vivências. É possível fazer isso por meio de
entrevistas, de curtas-metragens e de outras produções audiovisuais.
O trabalho com a história local no ensino da história facilita também a problematização e
a apresentação de várias histórias lidas com base em distintos sujeitos. Ainda é possível
resgatar histórias que foram silenciadas, isto é, que não foram institucionalizadas sob a
forma de conhecimento histórico. Ademais, esse trabalho pode favorecer a recuperação
de experiências individuais e coletivas do aluno, fazendo-o vê-las como constitutivas de
uma realidade histórica mais ampla. Assim, essas experiências vão produzir um
conhecimento que, ao ser analisado e retrabalhado, contribui para a construção da
consciência histórica.[ CITATION Car18 \l 1046 ]

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