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Zoneamento agroecológico, produção e manejo da cultura de palma de óleo na


Amazônia (Agro-ecological zoning, production and management for growing
oil palm in the Amazon)

Book · January 2010

CITATIONS READS

24 1,599

4 authors:

Antonio Ramalho-Filho Motta Paulo Emilio Ferreira da


Embrapa - Brazilian Agricultural Research Corporation, Brasilia, Rio de Janeiro Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA)
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SEE PROFILE SEE PROFILE

Pedro Luiz de Freitas Wenceslau Geraldes Teixeira


Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA) Brazilian Agricultural Research Corporation (EMBRAPA)
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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Embrapa Solos
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Zoneamento Agroecológico,
Produção e Manejo
para a Cultura da Palma
de Óleo na Amazônia

Editores Técnicos

PARTE I – Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (Dendezeiro)


nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
Antonio Ramalho Filho
Paulo Emílio Ferreira da Motta

PARTE II – Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo


(Dendezeiro) na Amazônia
Pedro Luiz de Freitas
Wenceslau Geraldes Teixeira

Embrapa Solos
Rio de Janeiro – RJ
2010
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:
Embrapa Solos
Rua Jardim Botânico, 1024
CEP 22460-000 Rio de Janeiro - RJ
Tel: (21) 2179-4500 Fax: (21) 2274-5291
www.cnps.embrapa.br
sac@cnps.embrapa.br

Supervisão gráfica: Agência 2A Comunicação

Revisão de texto: Marcia Lopes Mensor Lessa

Normalização bibliográfica: Ricardo Arcanjo de Lima

Editoração eletrônica: Agência 2A Comunicação

Foto da capa: Edson Barcelos

Capa: Agência 2A Comunicação

1ª edição
1ª impressão (2010): tiragem 500 exemplares

Todos os direitos reservados.


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em
parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Embrapa Solos

Ramalho Filho, Antonio


Zoneamento agroecológico, produção e manejo para a
cultura da palma de óleo na Amazônia /
Editores Técnicos:
Antonio Ramalho Filho
Paulo Emílio Ferreira da Motta
Pedro Luiz de Freitas
Wenceslau Geraldes Teixeira
Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2010
222 p.
ISBN XXXXXXXXXXXX

© Embrapa 2010
Autores
Alessandra de Jesus Boari
Engenheira Agrônoma, Doutora em Fitopatologia;
Pesquisadora – Embrapa Amazônia Oriental.
ajboari@cpatu.embrapa.br

Alexandre Hugo Barros


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciência do Solo; Pesquisador – Embrapa Solos.
alex@uep.cnps.embrapa.br

Alexandre Ortega Gonçalves


Engenheiro Agrônomo, Mestre em Engenharia Agrícola; Pesquisador – Embrapa Solos.
aortega@cnps.embrapa.br

Ana Paula Dias Turetta


Geógrafa, Doutora em Ciência do Solo;
Pesquisadora – Embrapa Solos.
anaturetta@cnps.embrapa.br

Antonio Agostinho Müller


Engenheiro Agrônomo, Mestre em Ecologia;
Pesquisador aposentado – Embrapa Amazônia Oriental, a serviço da Fundação de Apoio à
Pesquisa e ao Desenvolvimento Agropecuário e Florestal da Amazônia (Diretor Técnico).
aamuller@globo.com

Antonio José de Abreu Pina


Engenheiro Agrônomo; Marborges Agroindústria S.A., Moju – PA.
pina@marborges.com.br

Antonio Ramalho Filho


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Planejamento de Uso das Terras (Ciências do Solo);
Pesquisador aposentado – Embrapa Solos (Consultor); Coordenador 1 do Projeto Embrapa–
MCT/Finep (ZAE-Dendê).
aramalhof@gmail.com

Edson Alves de Araújo


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Solos e Nutrição de Plantas; Secretaria de Estado de
Agricultura e Pecuária (SEAP), a serviço da Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Acre
(SEMA), Rio Branco – AC.
earaujo.ac@gmail.com

Edson Barcelos
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Ecologia, Doutor em Biologia, Diversidade e Adaptação
de Plantas Cultivadas, Especialista na cultura de palma de óleo; Pesquisador – Embrapa
Amazônia Ocidental.
edson.barcelos@idam.am.gov.br

Emeleocípio Botelho de Andrade


Engenheiro Agrônomo, Mestre em Genética e Melhoramento de Plantas;
Pesquisador aposentado – Embrapa Amazônia Oriental, a serviço da Fundação de Apoio à
Pesquisa e ao Desenvolvimento Agropecuário e Florestal da Amazônia (Presidente).
emeleocipio@gmail.com
Autores

Eufran Ferreira do Amaral


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Solos e Nutrição de Plantas;
Pesquisador – Embrapa Acre, a serviço da Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Acre
(Secretário).
eufran@cpafac.embrapa.br

Gilvan Coimbra Martins


Engenheiro Agrônomo, Mestre em Solos e Nutrição de Plantas;
Pesquisador – Embrapa Amazônia Ocidental.
gilvan.martins@cpaa.embrapa.br

Jeferson Luis Vasconcelos de Macedo


Engenheiro Agrônomo, Mestre em Sistemas Agroflorestais; Pesquisador – Embrapa
Amazônia Ocidental.
jeferson.macedo@cpaa.embrapa.br

Jesus Fernando Mansilla Baca


Engenheiro Cartógrafo, Doutor em Geoprocessamento; Pesquisador – Embrapa Solos.
jesus@cnps.embrapa.br

João Batista Martiniano Pereira


Engenheiro Agrônomo, Mestre em Solos e Nutrição de Plantas;
Pesquisador – Embrapa Acre.
batista@cpafac.embrapa.br

João Paulo Mastrângelo


Engenheiro Florestal, Mestre em Desenvolvimento Regional;
Secretaria de Estado de Floresta (SEF), Rio Branco – AC.
joaopaulo.santos@ac.gov.br

Luiz Eduardo Pizarro Borges


Engenheiro Químico, Doutor em Engenharia Química; Professor da Sessão de Engenharia
Química do Instituto Militar de Engenharia (IME), Rio de Janeiro – RJ.
luiz@ime.eb.br

Margareth Simões Penello Meirelles


Engenheira, Doutora em Geografia e Geoinformática;
Pesquisadora – Embrapa Solos no Labex Europa, Montpellier – França.
margaret@cnps.embrapa.br

Maria do Rosário Lobato Rodrigues


Engenheira Agrônoma, Doutora em Solos e Nutrição de Plantas;
Pesquisadora – Embrapa Amazônia Ocidental.
ayres@vivax.com.br

Marie Elisabeth Christine Claessen


Bióloga, Mestre em Citogenética Vegetal; Pesquisadora aposentada – Embrapa Solos.
bethclaessen@gmail.com

Mario Luiz Diamante Aglio


Geógrafo, Mestre em Cartografia Digital e Geoprocessamento; Assistente – Embrapa Solos.
mario@cnps.embrapa.br
Autores

Mauricio Veloso Soares


Engenheiro Agrônomo – AGROSOL/Diocese do Alto Solimões; Projeto FINEP: Produção de
dendê/palma de óleo por agricultores familiares de Benjamin Constant/Atalaia do Norte – AM.
mauriciovel@bol.com.br

Nilson Gomes Bardales


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Solos e Nutrição de Plantas;
Secretaria de Meio Ambiente do Acre (SEMA), Rio Branco – AC.
nilsonbard@yahoo.com.br

Omar Cubas
Engenheiro Agrônomo; Bolsista – Embrapa Amazônia Ocidental.
o_cubas@hotmail.com

Paulo César Teixeira


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas;
Pesquisador – Embrapa Amazônia Ocidental.
paulo.teixeira@cpaa.embrapa.br

Paulo Emílio Ferreira da Motta


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciência do Solo; Pesquisador – Embrapa Solos;
Coordenador 2 do Projeto Embrapa–MCT/Finep
(ZAE-Dendê).
motta@cnps.embrapa.br

Pedro Luiz de Freitas


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciência do Solo; Pesquisador – Embrapa Solos.
freitas@cnps.embrapa.br

Raimundo Nonato Carvalho da Rocha


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Produção Vegetal;
Analista – Embrapa Amazônia Ocidental.
raimundo.rocha@cpaa.embrapa.br

Raimundo Nonato Vieira da Cunha


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas;
Pesquisador – Embrapa Amazônia Ocidental.
raimundo.cunha@cpaa.embrapa.br

Ricardo Lopes
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas;
Pesquisador – Embrapa Amazônia Ocidental.
ricardo.lopes@cpaa.embrapa.br

Rodrigo da Silva Guedes


Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia;
Fiscal de Defesa Agrosilvopastoril – IDARON/Rondônia.
agroguedes@hotmail.com

Ronaldo Ribeiro de Morais


Biólogo, Doutor em Ciências Biológicas;
Embrapa Amazônia Ocidental, Manaus – AM.
ronaldo.morais@cpaa.embrapa.br
Rui Alberto Gomes Júnior
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas;
Pesquisador – Embrapa Amazônia Oriental.
ruigomes@cpatu.embrapa.br

Tadário Kamel de Oliveira


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Engenharia Florestal;
Pesquisador – Embrapa Acre.
tadario@cpafac.embrapa.br

Therezinha Xavier Bastos


Engenheira Agrônoma, Doutora em Climatologia;
Pesquisadora aposentada – Embrapa Amazônia Oriental.
txbastos@cpatu.embrapa.br

Uebi Jorge Naime


Engenheiro Agrônomo, Mestre em Ciência do Solo;
Pesquisador aposentado – Embrapa Solos.
uebijn@gmail.com

Walkymário de Paulo Lemos


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Entomologia;
Pesquisador – Embrapa Amazônia Oriental.
wplemos@cpatu.embrapa.br

Wanderlei Antônio Alves Lima


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Produção Vegetal;
Pesquisador – Embrapa Amazônia Ocidental.
wanderlei.lima@cpaa.embrapa.br

Wenceslau Geraldes Teixeira


Engenheiro Agrônomo, Doutor em Ciência do Solo; Pesquisador – Embrapa Solos.
wenceslau@cnps.embrapa.br

Wilma Araújo Gonzalez


Química, Doutora em Química;
Professora da Seção de Engenharia Química do Instituto Militar de Engenharia (IME),
Rio de Janeiro – RJ.
wilma@ime.eb.br
Pedro Antônio Arraes Pereira
Diretor-Presidente da Embrapa Apresentação

A obra Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de


Óleo na Amazônia, que ora entregamos para usufruto e benefício da sociedade brasi-
leira, é, como o título sugere, a reunião de dois livros em um.
O primeiro, ou Parte I, trata do zoneamento agroecológico das áreas desmatadas
da Amazônia segundo os requerimentos agronômicos para o cultivo da palma de óleo
(dendezeiro). Cuida de identificar, avaliar, caracterizar e delinear em mapas, em favor
de técnicos, pesquisadores, produtores e autoridades em geral, as unidades ambientais
da paisagem desmatada na Amazônia (em sua maioria, pastagens já degradadas) que
tenham aptidão para o cultivo da palma de óleo, e também aquelas que se excluem de
tal possibilidade por serem matas nativas, áreas de reserva legal ou simplesmente inap-
tas para tal cultivo. Traz ainda, como bônus, a atualização metodológica, que permite
total informatização dos procedimentos de elaboração de zoneamentos agroecológi-
cos, seja na avaliação das aptidões de solo e de clima, na organização da informação
ou na produção cartográfica.
O segundo livro, ou Parte II, reúne todo o conhecimento validado e disponível para a
implantação e o manejo eficientes e sustentáveis de lavouras de palma de óleo em áreas
com diferentes níveis de aptidão agrícola, e variados aportes, tecnológicos. Além disso,
descreve estratégias de ampliação da economicidade dos empreendimentos, destacan-
do: as alternativas de convivência e controle dos agentes de sua doença mais grave – o
Amarelecimento Fatal; as possibilidades de adoção da cultura pela agricultura de base
familiar; e a inserção da cultura da palma de óleo no contexto da agroenergia.
Esta obra resulta de projeto estratégico em boa hora amparado pelo Ministério da
Ciência e Tecnologia e sua Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Seus achados
científicos e tecnológicos apoiam o Programa de Produção Sustentável da Palma de
Óleo, que carrega vívidas esperanças de recuperação de áreas degradadas da Amazô-
nia Legal, com inegáveis impactos positivos na melhoria de renda das comunidades de
agricultura familiar e no saldo das emissões de carbono.
É fruto do esforço colaborativo de experimentados pesquisadores, oriundos de va-
riados órgãos estaduais de pesquisa e desenvolvimento agrícola e de diferentes centros
de pesquisa da Embrapa, muitos com décadas de dedicação à Amazônia, aos estudos
de zoneamento e à cultura da palma de óleo.
A qualidade deste trabalho confirma a convicção de que a evolução do conheci-
mento é ferramenta confiável para a solução dos problemas e conflitos naturais do
processo de desenvolvimento econômico e social.
Boa Leitura!
Avílio Antônio Franco
Superintendente da Área de Institutos Tecnológicos
e de Pesquisa – AITP/FINEP/MCT
Apresentação

Fazer a apresentação desta obra é, pessoalmente, muito gratificante, tanto pela


sua importância para a produção de biocombustível em áreas remotas da Amazônia,
como também pelo exemplo de sucesso de investimento público em benefício da
sociedade.
Por várias razões, a palma de óleo tem despertado o interesse de cientistas, espe-
cialistas e, mais recentemente, de planejadores e do setor privado para a produção de
biocombustíveis nas regiões tropicais. É a oleaginosa com maior produtividade de ener-
gia por área, é perene e, principalmente, pode resgatar a sustentabilidade econômica e
social da agricultura familiar. Além desses predicados, existe outro de grande relevância
que raramente é lembrado: a cultura da palma de óleo já é tradicionalmente plantada
com cobertura de solo de leguminosas fixadoras de nitrogênio sem revolvimento do
solo em cultivo mínimo, hoje paradigma da agricultura tropical quando se pensa em
sustentabilidade.
A palma de óleo adequada para ser cultivada na Amazônia é a cafuza brasileira:
a fusão da palma africana (Elaeis guineensis Jacq.) com a palma amazônida (Elaeis
oleifera).
Este livro é resultado de parte do apoio a uma ação estruturante para a Amazônia
com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT)
com o objetivo de criar bases científicas para a produção de biocombustível nas regiões
remotas de fronteira da Amazônia. Dessa ação constava o zoneamento agroecológico
para identificar terras com potencial para o cultivo da palma em áreas desmatadas,
desenvolver métodos para a rápida propagação dos melhores híbridos da cultura e
implantar um projeto piloto de agricultura familiar em Benjamin Constant (AM), na
Amazônia, área em processo de alteração, a fim de testar a viabilidade econômica e
social da atividade. O projeto, ainda em implantação, já serve como modelo para outras
regiões.
Na primeira parte do livro, além dos resultados do zoneamento, são descritas as
metodologias e os procedimentos desenvolvidos no projeto para zoneamentos agroe-
cológicos, realizados de forma totalmente informatizada. Na segunda parte, são apre-
sentadas informações preciosas para a produção e o manejo sustentáveis da cultura.
Esse conjunto de dados é fundamental para a implantação de programas de produção
de biocombustível, o resgate social das comunidades rurais e a ocupação sustentável
das áreas remotas da Amazônia.
Parabenizo todos os participantes do projeto e os autores do livro, principalmente
dois personagens centrais desta empreitada o Dr.Edson Barcelos, pelo seu papel fun-
damental no melhoramento e na manutenção dos mais de 400 ha do banco genético
da palma de óleo em Rio Urubu, no Amazonas, ao qual dedicou grande parte de sua
carreira científica, tendo incansavelmente demonstrado o grande potencial da cultura
quando ainda era apenas uma promessa; e o Dr.Antonio Ramalho Filho, por ter aceita-
do o desafio desta empreitada e, com sucesso, ter liderado e concluído um projeto que
foi muito além dos objetivos e metas inicialmente propostos, cujos resultados, mesmo
antes de oficialmente serem publicados, já estão sendo usados como base para a im-
plantação do programa de produção sustentável de biocombustível na Amazônia pelo
governo federal.
Editores Técnicos:
Antonio Ramalho Filho Prefácio
Paulo Emílio Ferreira da Motta
Pedro Luiz de Freitas
Wenceslau Geraldes Teixeira

Este livro é a síntese do resultado de um trabalho de longo tempo realizado no âm-


bito do projeto que originalmente recebeu o título de Zoneamento Agroecológico do
Dendezeiro para as Áreas Desmatadas da Amazônia Legal. Trata-se de um projeto en-
comendado pelo governo federal, financiado pela FINEP e executado sob a coordena-
ção da Embrapa Solos, unidade de pesquisa e desenvolvimento da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento. A execução do projeto contou com a efetiva cooperação das unidades da
Embrapa localizadas na Região Amazônica, de órgãos públicos federais e estaduais, além
de empresas privadas envolvidas na cadeia produtiva da cultura da palma de óleo.
A expansão da cultura da palma de óleo nas áreas já desflorestadas da Amazônia
Legal é reconhecida como uma excelente alternativa para a produção de óleo para fins
alimentícios e energéticos. Constitui, também, uma alternativa para a geração de em-
prego e renda no campo, tanto para grandes empreendimentos como para pequenos
estabelecimentos rurais (assentamentos e projetos governamentais de associativismo
e cooperativismo). O uso de terras antropizadas – hoje, na sua grande maioria, esgo-
tadas e ocupadas com pastos em estado avançado de degradação – com atividades
que contam com tecnologias consolidadas, como a cultura da palma de óleo, é uma
alternativa econômica viável para a redução da pressão do desmatamento no Bioma
Amazônia.
Este livro foi dividido em duas partes: na primeira, são apresentados e discutidos
os objetivos, o contexto, a metodologia e os resultados alcançados no Zoneamento
Agroecológico da cultura da palma de óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal.
Também são descritos os procedimentos metodológicos utilizados para avaliar a apti-
dão agrícola das terras e a aptidão climática que, conjugadas, resultam no ZAE-Palma
de Óleo para as áreas desflorestadas na Amazônia Legal, estimadas, segundo o Projeto
Prodes do INPE, em 32 milhões de hectares. Encontram-se pormenorizados os critérios
agronômicos utilizados na definição das áreas onde, ressalvadas as salvaguardas, po-
derá ocorrer a expansão da área da cultura de palma de óleo na Amazônia Legal em
bases sustentáveis. Além de constituir uma ferramenta básica para orientar e ordenar
a implantação de palmares na região, a execução deste trabalho propiciou o desenvol-
vimento de uma metodologia para elaboração de zoneamentos agroecológicos para
culturas ou produtos utilizando procedimentos inteiramente informatizados.
Na segunda parte, são abordados os aspectos relativos à produção e ao manejo
sustentáveis da cultura da palma de óleo na Amazônia, com o objetivo de orientar as
atividades de planejamento, uso e manejo a serem realizadas na instalação de pal-
mares nas áreas consideradas aptas em um dos dois níveis tecnológicos adotados no
ZAE-Palma de Óleo. Os assuntos abordados estão ordenados em uma sequência que
vai do planejamento conservacionista das áreas aptas à implantação de palmares à es-
colha do material genético para a produção sustentável da palma de óleo, em especial
dos híbridos desenvolvidos a partir do cruzamento entre a espécie de origem africana
(Elaeis guineensis L.) e a de origem amazônica, denominada localmente de caiaué
(Elaeis oleifera - H.B.K. – Cortes).
A segunda parte também apresenta desde as técnicas de formação das mudas até
as práticas sustentáveis de produção e de manejo dos palmares, incluindo a avaliação
do estado nutricional e o uso de cultivos intercalares, fundamentais para o sucesso da
implantação de palmares por agricultores familiares. O manejo de pragas e doenças e
as incertezas provocadas pela etiologia do Amarelecimento Fatal (AF), ou Amareleci-
mento Letal, são abordados por meio de revisão do atual estádio das pesquisas nesses
temas. Também são relatadas várias experiências com a implantação de palmares na
Região Amazônica. Esta parte finaliza com uma abordagem sobre o uso do óleo de
palma para a produção de biomassa e biocombustível de forma compatível com a
realidade do cenário nacional.
A informação sobre o desenvolvimento da cultura da palma de óleo contida neste
livro tem caráter incremental, especialmente considerando a ampla literatura existente
no Brasil e no mundo. Constitui-se, assim, em uma contribuição efetiva para apoiar o
Programa de Produção Sustentável da Cultura da Palma de Óleo, recentemente lançado
pela Presidência da República, o qual visa incentivar, ordenar e fomentar a expansão
dessa oleaginosa no Brasil, com especial referência à Amazônia.
Sumário
PARTE I
Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo
(Dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal

Capítulos
Contexto e objetivos do Zoneamento Agroecológico para a cultura da palma de
1 óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal
Antonio Ramalho Filho, Paulo Emílio Ferreira da Motta
00
Procedimento metodológico da Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras para a
2 cultura da palma de óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal
Antonio Ramalho Filho, Paulo Emílio Ferreira da Motta, Uebi Jorge Naime e Jesus
Fernando Mansilla Baca
00
Procedimento metodológico da Avaliação da Aptidão Climática para a cultura da
3 palma de óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal
Alexandre Ortega Gonçalves, Therezinha Xavier Bastos, Alexandre Hugo Barros,
Antonio Ramalho Filho e Paulo Emílio Ferreira da Motta
00
Organização da informação, metodologia da integração temática, procedimentos
4 informatizados e cartografia para elaboração do Zoneamento Agroecológico para a
cultura da palma de óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal
Margareth Simões Penello Meirelles, Alexandre Ortega Gonçalves, Mario Luiz Diamante
Aglio , Jesus Fernando Mansilla Baca, Marie Elisabeth Christine Claessen, Wenceslau
Geraldes Teixeira, Paulo Emílio Ferreira da Motta e Antonio Ramalho Filho
00
Zoneamento Agroecológico para a cultura da palma de óleo nas áreas desmatadas
5 da Amazônia Legal
Antonio Ramalho Filho, Paulo Emílio Ferreira da Motta, Uebi Jorge Naime,
Alexandre Ortega Gonçalves e Wenceslau Geraldes Teixeira
00
Salvaguardas do Zoneamento Agroecológico para a Palma de Óleo na Amazônia
6 Legal e Priorização de Áreas
Ana Paula Dias Turetta e Antonio Ramalho Filho
00
Sumário

PARTE II
Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de
Óleo na Amazônia

Capítulos
Planejamento conservacionista e procedimentos para a instalação de palmares na
1 Amazônia
Pedro Luiz de Freitas, Antonio Ramalho Filho, Paulo Emílio Ferreira da Motta e
Wenceslau Geraldes Teixeira
00
Aspectos gerais sobre a fenologia da cultura da palma de óleo
2 Antonio Agostinho Müller, Emeleocípio Botelho de Andrade
00
Material genético utilizado para a produção sustentável da cultura da palma de óleo
3 na Amazônia
Raimundo Nonato Vieira da Cunha, Ricardo Lopes, Rui Alberto Gomes Júnior,
Maria do Rosário Lobato Rodrigues, Paulo César Teixeira, Raimundo Nonato
Carvalho da Rocha e Wanderlei Antônio Alves de Lima
00

4 Formação de mudas para a produção sustentável da palma de óleo na Amazônia


Paulo César Teixeira, Wanderlei Antônio Alves Lima, Rui Alberto Gomes Júnior,
Raimundo Nonato Vieira da Cunha, Ricardo Lopes e
Raimundo Nonato Carvalho da Rocha
00
Práticas de manejo sustentável na manutenção do plantio da palma de óleo na
5 Amazônia
Raimundo Nonato Vieira da Cunha, Maria do Rosário Lobato Rodrigues, Jeferson
Luis Vasconcelos de Macedo, Ricardo Lopes, Raimundo Nonato Carvalho da
Rocha, Paulo César Teixeira e Wanderlei Antônio Alves de Lima
00
Sumário

6 Avaliação do estado nutricional e manejo da fertilidade do solo para produção


sustentável da cultura da palma de óleo na Amazônia
Maria do Rosário Lobato Rodrigues, Paulo César Teixeira, Jeferson Luis
Vasconcelos de Macedo, Raimundo Nonato Vieira da Cunha, Ricardo Lopes,
Raimundo Nonato Carvalho da Rocha e Wenceslau Geraldes Teixeira
00
Manejo sustentável para a cultura da palma de óleo: cobertura do solo e cultivos
7 intercalares
Raimundo Nonato Carvalho da Rocha, Maria do Rosário Lobato Rodrigues,
Paulo César Teixeira, Ricardo Lopes, Raimundo Nonato Vieira da Cunha,
Jeferson Luis Vasconcelos de Macedo, Ronaldo Ribeiro de Morais e
Wanderlei Antônio Alves de Lima
00

8 Características físicas do solo adequadas para implantação e manutenção da


cultura de palma de óleo na Amazônia
Wenceslau Geraldes Teixeira, Gilvan Coimbra Martins, Omar Cubas, Pedro Luiz
de Freitas, Maria do Rosário Lobato Rodrigues, Antônio Ramalho Filho

00
Manejo de pragas e doenças para a cultura de palma de óleo na Amazônia
9 Walkymário de Paulo Lemos e Alessandra de Jesus Boari
00
O desafio das pesquisas com a etiologia do Amarelecimento Fatal (AF) para a
10 cultura da palma de óleo
Alessandra de Jesus Boari
00
A Culura da Palma de Óleo como âncora do desenvolvimento da Agricultura
11 Familiar na Amazônia Ocidental
Edson Barcelos e Mauricio Veloso Soares
00
Combinação de cultivos florestais com a cultura da palma de óleo no Estado do
12 Acre
João Batista Martiniano Pereira, Rodrigo da Silva Guedes, Edson Alves de
Araújo, João Paulo Mastrângelo, Eufran Ferreira do Amaral, Tadário Kamel de
Oliveira e Nilson Gomes Bardales
00
Sumário

13 Experiências na produção para a cultura de palma de óleo na Amazônia: relato de


experiências da Marborges Agroindústria S.A. (Moju – Pará)
Antonio José de Abreu Pina
00
Cultura da palma de óleo no contexto da Agroenergia: Biomassa e
14 Biocombustível
Wanderlei Antônio Alves de Lima, Wilma Araújo Gonzalez, Luiz Eduardo Pizarro
Borges, Paulo César Teixeira, Ricardo Lopes, Raimundo Nonato Vieira da Cunha e
Raimundo Nonato Carvalho da Rocha
00
PARTE 1

Zoneamento Agroecológico
para a Cultura da Palma de
Óleo (dendezeiro) nas Áreas
Desmatadas da Amazônia Legal

Editores Técnicos

Antonio Ramalho Filho


Paulo Emílio Ferreira da Motta
Agradecimento

Os autores e a Embrapa Solos reconhecem a efetiva cooperação das unidades da


Embrapa localizadas na Região Amazônica, notadamente a Embrapa Amazônia Orien-
tal e a Embrapa Amazônia Ocidental, e expressam agradecimento aos pesquisadores,
técnicos e empresas que colaboraram na execução do Zoneamento Agroecológico da
Palma de Óleo (dendezeiro) para as Áreas Desmatadas da Amazônia Legal, especial-
mente Antonio Agostinho Muller, Gilvan Coimbra Martins, Paulo César Teixeira, Rodri-
go D. Ferraz, José Carlos Pereira dos Santos, Maria do Rosário Lobato Rodrigues, João
Batista Martiniano Pereira, Jonas de Souza, Sandoval O. Santana, Pedro Luiz de Frei-
tas, Waldir de Carvalho Filho, Eufran Amaral, Adriano Venturieri, Edson Araújo, Edson
Barcelos, Maurício Veloso Soares, Carlos Benedito Santana Soares, Marco Esteban del
Pretti, Otávio Manoel N. Lopes, Lucieta G. Martorano, Ana Gama, Marcelo Gama, Daniel
Gianluppi, Haron A. M. Xaud, Fábio Marin, Fábio Santos, além das organizações Sipam,
Femact-AC, Ceplac, SEMA-AC, Seplam-MT, Emater-RO, a Diocese de Alto Solimões-AM, o
IDAM e as empresas Agropalma, Marborges, Yossan e Bio-Fuels.
PARTE 1
Capítulo 1

Contexto e objetivos do Zoneamento


Agroecológico para a Cultura da
Palma de Óleo nas Áreas Desmatadas
da Amazônia Legal
Antonio Ramalho Filho e Paulo Emílio Ferreira da Motta

A expansão da área cultivada com a O zoneamento agroecológico é uma


palma de óleo (dendezeiro) nas áreas já ferramenta fundamental para a criação de
desmatadas da Amazônia é reconhecida mecanismos de orientação à implementa-
como uma excelente alternativa para a ção da cadeia de produção de palma de
produção de óleo para fins alimentares e óleo. Para a Amazônia Legal, em particu-
energéticos, constituindo suporte tanto lar, constitui base técnico-científica para
para o projeto governamental de amplia- se buscar a sustentabilidade dos pontos
ção e diversificação da matriz energética de vista social, econômico e ambiental
brasileira, quanto para a criação de empre- pela indicação das terras mais adequadas
gos e o aumento da renda da população à cultura de palma de óleo.
envolvida nessa atividade. Por outro lado,
No formato apresentado, consideran-
propicia um melhor aproveitamento das
do dois níveis tecnológicos, o zoneamen-
áreas desmatadas e, como consequência,
to agroecológico fornece elementos para
diminui a pressão sobre as áreas de flores-
a implantação e a expansão da cultura em
tas nativas.
bases sustentáveis, seja para uma agricul-
O zoneamento agroecológico de tura de grande ou de pequena escala.
uma espécie vegetal corresponde à iden-
A aptidão pedoclimática das terras
tificação, caracterização e delineamento
para uma determinada cultura é avaliada a
cartográfico de unidades ambientais re-
partir da comparação entre a necessidade
conhecíveis na paisagem natural, classi-
ecofisiológica da planta e a oferta ambien-
ficadas em função de sua aptidão para o
tal da área onde se pretende implantá-la,
cultivo sustentável de tal espécie. Dessa
procurando-se atender a uma relação cus-
forma, deve ser confrontada a informa-
to/benefício favorável. Esse procedimento
ção sobre as exigências ecofisiológicas
baseia-se no fato de que existe, para cada
da cultura com a oferta ambiental da
espécie vegetal, um conjunto de caracte-
área onde se pretende cultivá-la. No caso
rísticas de solo, relevo e clima, bem como
deste zoneamento, o levantamento das
de outros fatores ambientais, sob o qual
necessidades da palma de óleo quanto a
ela melhor se adapta e sua implantação
solo e clima constituiu uma etapa espe-
exerce menor impacto negativo sobre o
cífica do trabalho.
ambiente.

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 19
O “Zoneamento Agroecológico para a gal, informadas pelo Instituto Nacional de
Cultura da Palma de Óleo nas Áreas Des- Pesquisas Espaciais – Projeto de Monitora-
matadas da Amazônia Legal – ZAE-Palma mento do desflorestamento da Amazônia
de Óleo” foi elaborado sob encomenda do Legal (INPE/PRODES) (INPE, 2007). O ZAE-
Governo Federal, com apoio financeiro da Palma de Óleo tem como objetivo geral
Financiadora de Estudos e Projetos – MCT/ avaliar e espacializar o potencial das terras
FINEP. A Amazônia Legal, estabelecida no para a palma de óleo como base para o
Artigo 2º da lei nº 5.173, de outubro de uso sustentável das terras em harmonia
1966, abrange os estados do Acre, Amapá, com a biodiversidade. E, como objetivos
Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, específicos:
Roraima, Tocantins, parte do Maranhão
• oferecer subsídios para a reestruturação
e cinco municípios de Goiás, compreen-
da matriz energética brasileira através da
dendo cerca de 59% do território brasileiro
produção de biocombustível;
(IBGE, 2009).
• apresentar alternativas econômicas
Sua elaboração, liderada pela Embra-
sustentáveis aos produtores rurais da re-
pa Solos, contou com a cooperação das
gião, operando em agricultura empre-
Unidades da Embrapa na Região Norte,
sarial ou familiar;
bem como de outras instituições públicas
e privadas que atuam na região, entre as • propor uma base para o planejamento
quais: Sistema de Proteção da Amazônia do uso sustentável das terras em conso-
(SIPAM-CR/Manaus); Ministério do Meio nância com a legislação vigente;
Ambiente, através do IBAMA, da FUNAI e
• propiciar o ordenamento territorial nas
das Secretarias do Desenvolvimento Sus-
áreas desmatadas consolidadas e a
tentável e de Biodiversidade; Comissão
consolidar da Região Amazônica em
Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
conformidade com o Zoneamento Eco-
(CEPLAC/CEPEC); Empresa de Assistência
lógico-Econômico (ZEE) dos estados da
Técnica e Extensão Rural do Estado de
região;
Rondônia (EMATER-RO); Fundação de
Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia do • fornecer bases para o planejamento de
Estado de Roraima (FEMACT-RR); Instituto polos de desenvolvimento no espaço
de Desenvolvimento Agropecuário e Flo- rural em alinhamento com as políticas
restal Sustentável do Estado do Amazonas governamentais sobre segurança ali-
(IDAM); Secretaria de Planejamento do Es- mentar e energia.
tado de Mato Grosso (SEPLAN-MT); Dioce- O ZAE-Palma de Óleo foi realizado para
se de Tabatinga-AM; Universidade Federal dois níveis tecnológicos (níveis de manejo),
do Estado do Pará (UFPA); e as empresas sendo um com alto e outro com modesto
Agropalma, Marborges, Yossan e Biofuels. aporte de capital de tecnologia.
Este trabalho possibilitou conhecer e es-
pacializar o potencial agroecológico das Como forma de validação, os resulta-
terras para a cultura de palma de óleo dos preliminares foram discutidos em reu-
visando à produção de óleo para alimen- niões com representantes do poder públi-
tação humana e para biocombustível de co, técnicos, extensionistas e produtores
forma sustentável e com impacto reduzi- dos estados da região, além de terem sido
do sobre a biodiversidade da região. Para divulgados em eventos científicos e em
isso, o zoneamento teve como foco princi- diversos seminários sobre solos, oleagi-
pal as áreas desmatadas da Amazônia Le- nosas e agroenergia (MOTTA et al., 2009a,

20 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


2009b; RAMALHO FILHO et al., 2009a, Legal (Figura 1) informadas pelo Projeto
2009b, 2009c, 2009d; RAMALHO FILHO et de Monitoramento do desflorestamen-
al., 2008). to da Amazônia Legal (INPE, 2007), com
exclusão das áreas de proteção integral
A área foco do projeto, inserida no bio-
(parques nacionais, estaduais e reservas
ma Amazônico (5.049.717,30 km²), corres-
indígenas) informadas pelo IBAMA e pela
ponde às áreas desmatadas da Amazônia
FUNAI.

Biomas Brasileiros
Amazônia = 4.196.493 Km2
Cerrado = 2.036.448 Km2
Caatinga = 644.453 Km2
Mata Atlântica = 1.110.182 Km2
Pantanal = 150.355 Km2
Pampa = 176.496 Km2
Amazônia Legal
Área Desmatada

Figura 1 – Mapa dos biomas brasileiros mostrando a abrangência do ZAE-Palma de Óleo (Amazônia Legal),
com destaque para as áreas desmatadas (Fontes: INPE, 2007; IBGE, 2009, 2010)

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 21
RAMALHO FILHO, A.; MOTTA, P. E. F.; NAI-
ME, U. J.; GONÇALVES, A. O.; BARROS, A. H.
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TA, P. E. F. ; NAIME, U. J.; CLAESSEN, M. E. C. Sociedad Latinoamericana de la Ciencia del
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CONGRESSO BRASILEIRO DE PLANTAS OLEA-
GINOSAS, ÓLEOS, GORDURAS E BIODIESEL,
5. Lavras, 2008. Anais... Lavras: UFLA, 2008.
CD-ROM.

22 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


PARTE 1
Capítulo 2

Procedimento Metodológico da
Avaliação da Aptidão Agrícola
das Terras para a Cultura da Palma
de Óleo nas Áreas Desmatadas da
Amazônia Legal
Antonio Ramalho Filho, Paulo Emílio Ferreira da Motta,
Uebi Jorge Naime e Jesus Fernando Mansilla Baca

gem. Essa nova base de dados do SIPAM


Considerações gerais foi disponibilizada na escala cartográfica
de 1:250.000, embora o nível categórico
do mapeamento, mais generalizado, seja
A avaliação da aptidão das terras para
compatível com uma escala estimada em
a palma de óleo baseou-se na interpreta-
1:600.000.
ção de características específicas dos so-
los, obtidas da base de dados do SIPAM A partir do estabelecimento de um
(SIPAM, 2004), a qual agrega e compati- procedimento de busca automática ao
biliza os resultados de todos os trabalhos banco de dados através de sistema com-
relacionados a esse tema já desenvolvidos putacional, a legenda do mapa de solos
na Amazônia por diversas instituições. da base de solos do SIPAM foi reconstruí-
Por serem os únicos com abrangência to- da em planilhas eletrônicas, nas quais fo-
tal da região, os mapas do Radambrasil, ram incluídos diversos atributos dos solos
que correspondem a 334 folhas na esca- relevantes para a avaliação da aptidão das
la 1:250.000 que, por sua vez, compõem terras para a cultura da palma de óleo.
18 folhas 1:1.000.000, constituem a base
O procedimento geral da avaliação da
geral do trabalho. O mapeamento, publi-
aptidão agrícola das terras para a palma de
cado na escala 1:1.000.000 pelo Projeto
óleo seguiu de modo geral aqueles pre-
Radambrasil, foi posteriormente retraba-
conizados pelo Sistema de Avaliação da
lhado pela equipe de pedologia do IBGE e
Aptidão Agrícola das Terras (RAMALHO FI-
colaboradores, por encomenda do SIVAM,
LHO; BEEK, 1995), procedendo-se algumas
gerando uma nova base de dados de so-
adaptações, tal como a utilização de um
los, com um nível mais alto de abstração,
quadro de conversão, ou conjunto de re-
resultado da incorporação de informação
gras, específico para a palma de óleo.
mais recente proveniente de mapas em
escala maior, produzidos por várias institui- A avaliação foi feita para cada compo-
ções, sobretudo a Embrapa, com base em nente das unidades de mapeamento de
novo trabalho de campo e nova amostra- solos de acordo com os seus graus de limi-

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 23
tação ao uso, em quatro classes: boa, re- Tabela 2 – Características dos níveis
gular, marginal ou restrita e inapta. Essas de manejo considerados no ZAE-Palma
classes são estabelecidas de acordo com de Óleo
o grau de intensidade com que os fatores
de limitação afetam as terras para os níveis Nível de
Características
de manejo B e C, conforme a simbologia manejo
apresentada na Tabela 1. Emprega práticas agrícolas
que refletem um nível
tecnológico médio, havendo
Tabela 1 - Simbologia usada para modesta aplicação de
designação das classes de aptidão das capital e de tecnologias para
terras nos níveis de manejo B e C manejo, melhoramento
e conservação das terras
Nível de Manejo e das lavouras. As práticas
Classe de aptidão B
B C agrícolas estão condicionadas,
Boa B C principalmente, à tração animal.
A motomecanização, portanto,
Regular b c
é mais intensa no preparo
Restrita (b) (c) inicial do solo e em alguns tipos
Inapta I I de tratos culturais compatíveis
Fonte: Ramalho Filho e Beek (1995) com implementos agrícolas
mais simples.
Emprega práticas agrícolas
que refletem um alto nível
tecnológico, caracterizando-se
Níveis de manejo pela aplicação intensiva de
capital e de tecnologias para
C
Visando avaliar o potencial das terras manejo, melhoramento e
sob diferentes níveis de aplicação de tec- conservação das terras e das
nologia agrícola e capital, tanto a aptidão lavouras. A motomecanização
das terras quanto o zoneamento agroe- está presente nas diversas
fases da operação agrícola.
cológico foram executados para dois ní-
veis de manejo – manejo B e C – sendo Fonte: Ramalho Filho e Beek (1995)
o primeiro caracterizado por uma aplica-
ção média de capital e modesto uso de
insumos e tecnologia e o segundo, por
alto aporte de capital e tecnologia. Foram
gerados, portanto, dois mapas distintos e Avaliação da Aptidão
equivalentes a dois zoneamentos. Defini-
ções mais completas dos níveis de mane-
das Terras
jo adotados encontram-se na Tabela 2.
Os fatores limitantes dos solos, con-
siderados representativos das condições
agrícolas das terras, são: deficiência de
fertilidade natural, deficiência de água,
excesso de água e riscos de inundação,
suscetibilidade à erosão, impedimentos

24 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


ao desenvolvimento radicular e impedi- revisão bibliográfica e de forma consensu-
mento à mecanização, os quais são anali- al através de discussões com técnicos e
sados de acordo seus respectivos graus de produtores especializados nessa cultura.
limitação: Nulo (N), Ligeiro (L), Moderado Nele são estipulados os graus máximos
(M), Forte (F) e Muito Forte (MF), confor- de severidade ou de limitação para cada
me os preceitos metodológicos propostos fator limitativo das condições de produção
por Ramalho Filho e Beek (1995). da cultura, de forma que cada componen-
te das unidades de mapeamento se en-
Subsidiariamente, foram consideradas,
quadre nas quatro classes de aptidão das
em separado, outras propriedades espe-
terras (Boa, Regular, Restrita e Inapta), sob
cíficas do solo, tais como textura, relevo,
os níveis de manejo B e C. Esses graus de
drenagem interna e profundidade, que
limitação são atribuídos às terras de acor-
interferem no volume de solo explorado
do com o nível de problemas remanes-
pelas raízes e, consequentemente, na dis-
cente, previsto após a aplicação das me-
ponibilidade de nutrientes e de água para
didas mitigadoras compatíveis com cada
as plantas. O cruzamento direto entre a
nível de manejo, tendo como referência
textura do solo e o relevo, por exemplo,
um solo com características compatíveis
foi utilizado para auxiliar as avaliações de
com a classe de aptidão Boa para a palma
suscetibilidade à erosão e de impedimen-
de óleo.
to à mecanização. Esse procedimento
constitui um maior refinamento do Siste- A comparação das limitações dos solos,
ma de Avaliação da Aptidão Agrícola das definidas com base nas faixas indicadas na
Terras. Procedimento semelhante a esse já Tabela 3, com os graus de limitação máxi-
foi usado no passado para o zoneamento mos permissíveis para o enquadramento
da aptidão das terras para culturas especí- das terras nas diferentes classes de aptidão,
ficas (IDE et al., 1980; RAMALHO FILHO et estabelecidos no conjunto de regras para a
al., 1984, 1985). palma de óleo (Tabela 4), resulta na classifi-
cação da aptidão das terras para essa cultu-
Um critério importante para a avaliação
ra. Cada solo componente da Unidade de
da aptidão das terras foi o estabelecimen-
Mapeamento (UM) foi avaliado individual-
to de um conjunto de regras específicas
mente, sendo sua classe de aptidão atribuí-
para a palma de óleo que representasse
da em analogia à Lei do Mínimo de Liebig e
as exigências ecofisiológicas dessa cul-
em função do fator mais limitativo. Por ou-
tura. Esse conjunto de regras, ou quadro
tro lado, a classe de aptidão mais frequente
de conversão, que constitui a essência do
dentro da UM define sua aptidão.
sistema de avaliação, foi obtido através de

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 25
Tabela 3 – Graus de Limitação atribuídos aos Solos da Amazônia Legal

26
|
Grau de limitação
Fator Limitativo
Nulo Ligeiro Moderado Forte Muito Forte
Deficiência de fertilidade distrófico
Alumínico sódico ou salino ou tiomórfico ou
- em função da saturação de eutrófico (V < 50%) ou álico
(sat. Al >50% e Al carbonático ou sálico (CE>15 mS/cm a
bases, salinidade, sodicidade e de (V > 50%) (sat. Al >50% e
ext. > 4cmol/kg) solódico 25ºC)
carbonatos Al ext. < 4cmol/kg)
Deficiência de Água
argilosa, média ou muito argilosa ou (Ta) ou muito arenosa com granulometria
- em função da textura e da arenosa
orgânica siltosa argilosa mais grosseira
atividade da argila
Excesso de Água - em função da
bem drenado bem a mod. drenado mod. Drenado imperf. drenado mal drenado
classe de drenagem interna
Suscetibilidade à Erosão moderadamente forte ondulado a
plano suave. ondulado ondulado
- em função das classes de relevo ondulado montanhoso
(0 - 3%) (3 - 8%) (13 - 20%)
(declive) (8 - 13%) (20 - 45% ou +)
Impedimento à Mecanização
- em função das classes de relevo plano suave ond. a mod. ondulado forte ondulado montanhoso e escarpado
(0 - 3 %) ond. (3 - 13 %) (13 - 20 %) (20 - 45%) (>45 a >70%)
- em função da classe de
pedregosidade* ausente lig. pedregosa mod. pedregosa pedregosa, -
rochosa
- em função dos caracteres - - petroplíntico1
petroplíntico e vértico - vértico2

Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


- em função da classe de ausente lig. rochosa mod. Rochosa rochosa -
rochosidade*
Impedimento às Raízes - em profundo med. profundo pouco profundo raso
-
função da profundidade do solo (> 80 cm) (60 a 80 cm) (50 a 60 cm) (< 50 cm)
Abreviações: sat.: saturação; extr.: extraível; mod.; moderadamente; lig.: ligeiramente; med.: medianamente; ond.: ondulado.
1 2
50% ou mais de petroplintita por volume na massa do solo. Conjunto de características morfológicas que denota predomínio de argila de atividade alta no material de solo.
Tabela 4 - Graus máximos de limitação permissíveis, por nível de manejo, para
enquadramento dos solos componentes das unidades de mapeamento nas classes
de aptidão das terras (Conjunto de Regras)

CLASSE DE APTIDÃO
PREFERENCIAL REGULAR MARGINAL INAPTA
NÍVEL DE MANEJO
B C B C B C B C
Fatores Limitantes

Deficiência de
L M M F F MF MF EF
Fertilidade
Deficiência de Água L M M F F MF MF EF
Excesso de Água L L M M F F MF MF
Suscetibilidade à Erosão
L M M F F MF MF EF
Relevo x Textura
Impedimento à
Mecanização
Pedregosidade L N M L F M MF F
Rochosidade
N N L L M M F F
Relevo M L F M MF F EF MF
Impedimento às Raízes N N L L M M F F
Grau de limitação: N = Nulo; L = Ligeiro; M = Moderado; F = Forte; MF = Muito forte

terferência no volume de solo explorado


Fatores limitantes pelas raízes e, consequentemente, na dis-
ponibilidade de nutrientes e de água para
das terras as plantas. Outro procedimento não con-
vencional foi a consideração da interação
Seguindo ainda os preceitos metodoló- entre textura do solo e relevo na avaliação
gicos propostos por Ramalho Filho e Beek da suscetibilidade à erosão e dos impedi-
(1995), foram considerados como fatores mentos à mecanização, tal como utilizado
limitativos dos solos: deficiência de fertili- por Ide et al. (1980) e Ramalho Filho et al.
dade natural; deficiência de água; excesso (1984, 1985) para culturas específicas.
de água e riscos de inundação; suscetibili- Buscando dar uma maior especificidade
dade à erosão e impedimentos à mecani- à cultura da palma de óleo, a avaliação foi
zação. Embora a verificação do efeito das feita diretamente sobre cada uma das ca-
diversas características do solo sobre o de- racterísticas (atributos inferenciais) do solo
senvolvimento das raízes já esteja implíci- e da paisagem que definem esses fatores
ta na análise dos outros fatores, achou-se limitativos. Foram empregados os graus de
por bem neste trabalho individualizá-lo e limitação: Nulo (N), Ligeiro (L), Moderado
analisá-lo separadamente, devido a sua in- (M), Forte (F) e Muito Forte (MF).

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 27
Em seguida, é feita uma descrição dos tos anos (supostamente, mais de 20
fatores limitantes e dos atributos do solo e anos), mesmo quando cultivadas com
da paisagem utilizados para sua avaliação, culturas mais exigentes em fertilidade.
bem como os graus de limitação atribuídos
• Ligeiro – grau atribuído a terras com boa
às terras relativos a cada fator.
reserva de nutrientes para as plantas,
em que não há presença de toxidez
por excesso de sais solúveis ou sódio
Deficiência de fertilidade
trocável. As terras com essas caracterís-
A intensidade deste fator é avaliada a ticas têm capacidade de manter boas
partir do conhecimento da disponibilida- colheitas durante vários anos (suposta-
de de macro e micronutrientes nos solos. mente mais de 10 anos), com pequena
As limitações dizem respeito tanto à baixa exigência de fertilizantes para manter o
quantidade de nutrientes, em situação de seu estado nutricional.
insuficiência para sustentar uma produção
• Moderado – típico de terras com limita-
econômica da cultura, como a uma situa-
da reserva de nutrientes para as plan-
ção de excesso, que pode ser prejudicial
tas, referente a um ou mais elementos,
ao desenvolvimento das plantas. Níveis
podendo conter sais tóxicos capazes
tóxicos de alumínio, sódio (solos sódicos
de afetar certas culturas. Durante os pri-
e solódicos), enxofre (solos tiomórficos) e
meiros anos de utilização agrícola, es-
manganês ocorrem comumente em mui-
sas terras permitem bons rendimentos,
tos solos. Excesso de sais também consti-
verificando-se posteriormente (supos-
tui séria limitação para o uso de solos de
tamente depois de 5 anos) um rápido
áreas costeiras ou de regiões semiáridas.
declínio na produtividade, o que torna
O índice de fertilidade normalmente necessária a aplicação de fertilizantes e
é avaliado através da saturação de bases corretivos após as primeiras safras.
(V%), saturação com alumínio (100 Al/Al+S),
• Forte – refere-se a terras com reservas
soma de bases trocáveis (S), capacidade de
muito limitadas de um ou mais elemen-
troca de cátions (T), relação C/N, fósforo as-
tos nutrientes, ou contendo sais tóxicos
similável, saturação com sódio, condutivida-
em quantidades tais que permitem ape-
de elétrica e pH. Esses dados são obtidos
nas o desenvolvimento de plantas com
quando da análise dos perfis do solo.
tolerância. Essas características se refle-
Na avaliação deste fator, são admitidos tem nos baixos rendimentos da maioria
os seguintes graus de limitação: nulo, li- das culturas e pastagens desde o início
geiro, moderado, forte e muito forte, defi- da exploração agrícola, devendo essa
nidos no Sistema de Avaliação da Aptidão deficiência ser corrigida na fase inicial
das Terras (RAMALHO FILHO; BEEK, 1995), de sua utilização.
como a seguir:
• Muito Forte – grau atribuído a terras mal
• Nulo – característico de terras que pos- providas de nutrientes, com remotas
suem elevadas reservas de nutrientes possibilidades de serem exploradas
para as plantas, sem apresentar toxidez com quaisquer tipos de utilização agrí-
por sais solúveis, sódio trocável ou ou- cola. Pode ocorrer nessas terras grande
tros elementos prejudiciais ao desen- quantidade de sais solúveis, chegando
volvimento das plantas. Praticamente mesmo a formar desertos salinos. Ape-
não respondem à adubação e apresen- nas plantas com muita tolerância con-
tam ótimos rendimentos durante mui- seguem adaptar-se a essas áreas.

28 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


A Tabela 5 mostra os graus de limita- graus de limitação por deficiência hídrica
ção aplicados às terras em função da de- das terras.
ficiência de fertilidade, utilizando critérios
A capacidade de armazenamento de
específicos para a palma de óleo.
água, por sua vez, é decorrente de atribu-
tos do solo como textura, tipo de argila,
Tabela 5 – Graus de limitação das teor de matéria orgânica, quantidade de
terras quanto à deficiência de fertilida- sais e profundidade efetiva.
de, em função das propriedades quími-
cas dos solos Foram admitidos os graus de limita-
ção: nulo, ligeiro, moderado, forte e mui-
Grau de to forte, conforme o Sistema de Avaliação
Características Químicas
Limitação da Aptidão das Terras (RAMALHO FILHO &
Solos eutróficos (V ≥ 50 %) Nulo BEEK, 1995) como a seguir:
Solos distróficos (V < 50 %) • Nulo – grau atribuído a terras nas quais
ou álicos (m ≥ 50 % com Ligeiro não há falta de água para o desenvol-
Al3+ < 4 cmol.kg-1) vimento das culturas em nenhuma
Solos alumínicos (m ≥ 50 % e época do ano. Terras com boa drena-
Moderado
Al3+ > 4 cmol.kg-1) gem interna ou livres de estação seca,
Solos sódicos (saturação com ou ainda com lençol freático elevado,
Forte típicas de várzeas, devem receber este
Na ≥ 15 %) ou carbonáticos
Solos tiomórficos (altos grau de limitação. A vegetação natural
teores de S e acidez é normalmente de floresta perenifólia,
Muito Forte campos hidrófilos e higrófilos, e cam-
excessiva) ou sálicos (CE>15
pos subtropicais sempre úmidos.
mS/cm a 25ºC)
Simbologia – V: saturação por bases; m: saturação • Ligeiro – refere-se a terras nas quais
por Al; CE: condutividade elétrica. ocorre uma deficiência de água pouco
acentuada. Não está prevista, em áreas
com este grau de limitação, irregulari-
Deficiência de água dade durante o período de chuvas. As
É definida pela quantidade de água formações vegetais que normalmente
armazenada no solo possível de ser se relacionam a este grau são o cerrado
aproveitada pelas plantas, a qual está na e a floresta subcaducifólia (Im=>+0-10),
dependência de condições climáticas bem como a floresta caducifólia em so-
(especialmente precipitação e evapotrans- los com alta capacidade de retenção de
piração) e condições edáficas (capacida- água.
de de retenção e transmissão da água no • Moderado – típico de terras nas quais
solo). Por refletirem as condições hídricas ocorre uma acentuada deficiência de
das terras, informações sobre os tipos de água durante um longo período, nor-
vegetação ocorrentes na área e seus di- malmente de 4 a 6 meses. As precipita-
ferentes graus de deciduidade, quando ções anuais oscilam entre 700 a 1.000
disponíveis, são utilizadas para suprir a mm, com irregularidade em sua distri-
carência de dados mais precisos. Obser- buição e predomínio de altas tempera-
vações do comportamento de plantios co- turas. A vegetação típica dessas terras
merciais existentes na área e informações é normalmente de floresta caducifólia
de técnicos e agricultores também consti- (Im=>-10<-20), transição de floresta
tuem elementos valiosos na atribuição de ou cerrado para caatinga, e caatinga

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 29
hipoxerófila, ou seja, de caráter seco Tabela 6 – Graus de limitação das
menos acentuado. Terras com estação terras quanto à deficiência de água
seca menos marcante, porém com bai- em função da textura e da atividade
xa disponibilidade de água, pertencem da argila
a este grau.
Textura e Atividade de Grau de
• Forte – grau atribuído a terras com uma Argila Limitação
forte deficiência de água durante um
período seco, que oscila de 7 a 9 me- Argilosa, média e orgânica Nulo
ses. A precipitação anual varia entre Muito argilosa e siltosa Ligeiro
500 e 700 mm, com muita irregulari- Muito argilosa com
dade em sua distribuição e com altas predomínio de argila de Moderado
temperaturas. A vegetação é tipica- atividade alta
mente de caatinga hipoxerófila (Im=>-
Arenosa Forte
20<-30), ou de outras espécies de cará-
ter seco muito acentuado, equivalente
à do sertão do rio São Francisco. Terras
com estação seca menos pronunciada,
Excesso de água ou deficiência
mas com baixa disponibilidade de água
de oxigênio
para as culturas, estão incluídas neste Este fator de limitação está relacio-
grau, bem como aquelas que apresen- nado com a classe de drenagem natural
tem alta concentração de sais solúveis do solo, que, por sua vez, é resultante da
capazes de elevar o ponto de murcha- interação de vários fatores: precipitação,
mento. Nesta categoria está implícita a evapotranspiração, relevo local e proprie-
eliminação de quaisquer possibilidades dades do solo. Estão incluídos na análise
de desenvolvimento de culturas de desse aspecto os riscos, a frequência e a
ciclo longo não adaptadas à falta de duração das inundações a que pode estar
água. sujeita a área.
• Muito Forte – grau atribuído a terras Observações sobre cor, estrutura, per-
nas quais há uma severa deficiência de meabilidade do solo e presença e profun-
água, que pode durar mais de 9 meses, didade de horizontes menos permeáveis,
com uma precipitação normalmente tais como horizonte plíntico, pans, etc.,
abaixo de 500 mm, baixo índice hídri- são importantes para o reconhecimento
co (Im = > - 30) e alta temperatura. A desses problemas.
vegetação relacionada a este grau é a
Pela grande ocorrência de solos muito
caatinga hiperxerófila.
úmidos e/ou sujeitos à inundação ao lon-
Para a avaliação da aptidão das terras go do ano, e pela reconhecida intolerân-
especificamente para a palma de óleo, foi cia da palma de óleo a essas condições,
enfocado o efeito dos atributos do solo, este fator limitante torna-se extremamen-
com ênfase na textura e na atividade de te importante para a definição das classes
argila, sendo as condições climáticas tra- de aptidão para essa cultura na Região
tadas com mais detalhe na avaliação da Amazônica.
aptidão climática.
Foram admitidos os graus de limitação:
A Tabela 6 mostra, para o caso da palma nulo, ligeiro, moderado, forte e muito for-
de óleo, os graus de limitação aplicados às te, definidos de forma geral, para as mais
terras em função da deficiência de água. diversas culturas, no Sistema de Avaliação

30 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


da Aptidão das Terras (RAMALHO FILHO; gicas ou deduzidas a partir da classe de
BEEK, 1995), como a seguir: solo, com base no conhecimento das
condições pedoambientais que condu-
• Nulo – grau atribuído a terras que não
zem à sua gênese. Sendo assim, foram,
apresentam problemas de aeração ao
em primeira análise, considerados inaptos
sistema radicular da maioria das cultu-
os solos hidromórficos de modo geral,
ras durante todo o ano. São constituí-
incluindo Gleissolos, Organossolos, Espo-
das por solos classificados como bem e
dossolos e Plintossolos. Por serem solos
excessivamente drenados.
sazonalmente inundáveis, todos os Neos-
• Ligeiro – grau típico de terras que apre- solos Flúvicos também foram considera-
sentam certa deficiência de aeração às dos inaptos para a palma de óleo.
culturas sensíveis ao excesso de água
A Tabela 7 mostra, para o caso da pal-
durante a estação chuvosa. Os solos
ma de óleo, os graus de limitação aplica-
são, em geral, moderadamente drena-
dos às terras em função do excesso de
dos.
água.
• Moderado – refere-se a terras nas quais
a maioria das culturas sensíveis não se Tabela 7 – Graus de limitação das ter-
desenvolve satisfatoriamente em de- ras quanto ao excesso de água, em fun-
corrência da deficiência de aeração du- ção da classe de drenagem do solo
rante a estação chuvosa. Os solos são
imperfeitamente drenados e/ou sujei- Classe de drenagem Grau de
tos a riscos ocasionais de inundação. Limitação

• Forte – típico de terras que apresentam Bem drenado Nulo


sérias deficiências de aeração, só per- Bem a moderadamente Ligeiro
mitindo o desenvolvimento de culturas drenado
adaptadas. Demanda intensos traba- Moderadamente drenado Moderado
lhos de drenagem artificial que envol-
Imperfeitamente drenado Forte
vem obras viáveis em nível de agricul-
tor. São consideradas, normalmente, Mal drenado Muito Forte
mal drenadas e sujeitas a inundações
frequentes, prejudiciais à maioria das
culturas. Suscetibilidade à erosão
• Muito Forte – grau atribuído a terras que Este fator limitante refere-se ao po-
apresentam condições praticamente tencial de desgaste que o solo apresenta
muito mal drenadas; porém, os traba- quando submetido a qualquer uso sem
lhos de melhoramento compreendem a adoção de medidas conservacionistas.
grandes obras de engenharia, em nível Esse potencial depende basicamente das
de projetos, fora do alcance do agricul- condições climáticas (especialmente do
tor, individualmente. regime pluviométrico), das condições do
solo (textura, estrutura, permeabilidade,
No caso do ZAE-Palma de Óleo, diante profundidade, capacidade de retenção de
da indisponibilidade de dados mais preci- água, presença ou ausência de camada
sos no que se refere às áreas inundáveis, compacta e pedregosidade), das condi-
utilizou-se como atributo inferencial as ções do relevo (declividade, extensão da
classes de drenagem natural informadas pendente e microrrelevo), da cobertura
nas unidades de mapeamento pedoló- vegetal e do manejo a que é submetido.

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 31
O Sistema de Avaliação da Aptidão das declives mais suaves, mas com piores
Terras define os graus de limitação com condições físicas. Na maioria dos ca-
relação à suscetibilidade à erosão (nulo, sos, a prevenção à erosão depende de
ligeiro, moderado, forte e muito forte), práticas intensivas de controle.
como a seguir:
• Muito Forte – refere-se a terras com sus-
• Nulo – grau atribuível a terras não sus- cetibilidade muito forte, por ocorrerem
cetíveis à erosão, situadas em áreas de em áreas de relevo forte-ondulado,
relevo plano ou quase plano (0 a 3% com declives entre 20 e 45%, o que tor-
de declive) e com boa permeabilidade. na o seu uso agrícola muito restrito. Na
Quando cultivadas por 10 a 20 anos, maioria dos casos, o controle à erosão
podem apresentar erosão ligeira, que é dispendioso, podendo ser antieconô-
pode ser controlada com práticas sim- mico.
ples de manejo.
• Extremamente Forte – grau de terras que
• Ligeiro – grau típico de terras que apre- apresentam severa suscetibilidade à ero-
sentam pouca suscetibilidade à erosão são. Não são recomendáveis para o uso
em função das boas propriedades físi- agrícola, sob pena de serem totalmente
cas e por estarem situadas em áreas de erodidas em poucos anos. Trata-se de
relevo de suave-ondulado, com decli- terras ou paisagens de relevo monta-
ves de 3 a 8%. Quando utilizadas com nhoso com declives superiores a 45%,
lavouras por um período de 10 a 20 nas quais deve ser estabelecida uma co-
anos, essas terras normalmente mos- bertura vegetal de preservação ambien-
tram uma perda de 25% ou mais do tal permanente.
horizonte superficial. Práticas conserva-
No caso do ZAE-Palma de Óleo, a limi-
cionistas simples podem prevenir esse
tação das terras quanto à suscetibilidade
tipo de erosão.
à erosão foi avaliada considerando-se a
• Moderado – grau atribuído a terras interação entre classe de relevo, textura
que apresentam moderada suscetibili- e gradiente textural ao longo dos perfis.
dade à erosão, situadas normalmente Desse modo, partiu-se do pressuposto
em relevo moderadamente ondulado, que, dentro da mesma classe de relevo,
com declive de 8 a 13%. Esses níveis a suscetibilidade à erosão é sensivelmen-
de declive podem variar para mais de te aumentada pela maior quantidade de
13%, quando as condições físicas forem areia em relação à argila e pela maior di-
muito favoráveis, ou para menos de 8%, ferença entre a textura das camadas su-
quando muito desfavoráveis, como é o perficiais e subsuperficiais do solo. Em
caso de solos com horizonte B, com resumo:
mudança textural abrupta. Se utilizadas
1 – Efeito do relevo: quanto maior a incli-
fora dos princípios conservacionistas,
nação e/ou comprimento de rampa
essas terras podem apresentar sulcos
do terreno maior é a susceptibilida-
e voçorocas, requerendo práticas de
de à erosão.
controle à erosão desde o início de sua
utilização agrícola. 2 – Efeito da textura: dentro da mesma
classe de relevo a susceptibilidade à
• Forte – grau atribuído a terras que apre-
erosão tende a ser maior em solos
sentam forte suscetibilidade à erosão
com textura mais arenosa, e, portan-
por ocorrerem em relevo ondulado,
to, menos agregados. Este efeito é
com declive entre 13 e 20%, ou em
previsto para terras com maior incli-

32 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


nação, sendo pouco importante em (número de horas de trabalho usadas
relevo mais suave. efetivamente) é superior a 90%.
3 – Efeito do gradiente textural: dentro • Ligeiro – refere-se a terras que permitem,
da mesma classe de relevo a suscep- durante quase todo o ano, o emprego
tibilidade à erosão tende a ser maior da maioria das máquinas agrícolas. São
em solos com maior gradiente textu- constituídas por solos profundos a mo-
ral, ou seja, maior diferença entre a deradamente profundos, situados em
textura dos horizontes superficiais e áreas de relevo suave ondulado, com
subsuperficiais. Este efeito é previsto declives de 3 a 8%. Este grau pode ser
como mais intenso para solos com atribuído a terras de topografia mais
horizontes superficiais mais arenosos suave que apresentem, porém, outras
e também para terras com maior in- limitações (textura muito arenosa ou
clinação sendo pouco importante em muito argilosa, restrição de drenagem,
relevo mais suave. pequena profundidade, pedregosida-
de, sulcos de erosão, etc.). O rendi-

mento do trator varia de 75 a 90%.
Deficiência por impedimento à
• Moderado – grau atribuído a terras que
mecanização
não permitem o emprego de máquinas
Este fator refere-se às condições apre- ordinariamente utilizadas durante todo
sentadas pelas terras devido ao uso de o ano. Essas terras apresentam relevo
máquinas e implementos agrícolas. A ex- moderadamente ondulado a ondu-
tensão e a forma das pendentes, as con- lado, com declividade de 8 a 20%, ou
dições de drenagem, a profundidade, a topografia mais suave no caso de ocor-
textura, o tipo de argila, a pedregosidade rência de outros impedimentos à me-
e a rochosidade superficial condicionam canização (pedregosidade, rochosida-
o uso de mecanização, sendo este fator de, profundidade exígua, textura muito
mais relevante no nível de manejo C, ou arenosa ou muito argilosa do tipo 2:1,
seja, o mais avançado, no qual está pre- grandes sulcos de erosão, drenagem
visto o uso de máquinas e implementos imperfeita, etc.). O rendimento do tra-
agrícolas nas diversas fases da operação tor normalmente varia de 50 a 75%.
agrícola.
• Forte – caracteriza terras que ocorrem
O Sistema de Avaliação da Aptidão das em áreas de declives acentuados (20 a
Terras define os graus de limitação com 45%), em relevo forte ondulado, o que
relação à suscetibilidade à erosão (nulo, permite, em quase sua totalidade, ape-
ligeiro, moderado, forte e muito forte), nas o uso de implementos de tração
como a seguir: animal ou máquinas especiais. Sulcos
e voçorocas podem constituir impe-
• Nulo – grau atribuído às terras que per-
dimentos ao uso de máquinas, bem
mitem, em qualquer época do ano, o
como pedregosidade, rochosidade,
emprego de todos os tipos de máqui-
pequena profundidade, má drenagem,
nas e implementos agrícolas ordinaria-
etc. O rendimento do trator é inferior
mente utilizados. São, geralmente, de
a 50%.
topografia plana e praticamente plana,
com declividade inferior a 3%, e não • Muito Forte – grau atribuído a terras
oferecem impedimentos relevantes à que não permitem o uso de maquina-
mecanização. O rendimento do trator ria, sendo difícil até mesmo o uso de

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 33
implementos de tração animal. Normal- No caso do ZAE-Palma de Óleo, ava-
mente, são de topografia montanhosa, liou-se inicialmente o efeito individual da
com declives superiores a 45% e/ou pedregosidade, rochosidade, classe de re-
com impedi¬mentos muito fortes de- levo e presença de petroplintita, analisan-
vido a pedregosidade, rochosidade e do-se, ao final, o efeito combinado de tais
profundidade ou a problemas de dre- atributos (Tabelas 8, 9 e 10).
nagem.

Tabela 8 – Graus de limitação por impedimento à mecanização, em função das


classes de relevo

Faixa de
Classe Grau de Limitação
declive (%)
Plano 0-3 Nulo
Suave ondulado 3-8 Ligeiro
Moderadamente ondulado 8 - 13 Ligeiro
Ondulado 13 - 20 Moderado
Forte ondulado 20 - 45 Forte
Montanhoso 40 - 70 Muito Forte
Escarpado > 70 Muito Forte

Tabela 9 – Graus de limitação por impedimento à mecanização, em função das


classes de pedregosidade

Classe Característica Grau


Ausência de calhaus e/ou matacões na superfície ou
Não pedregosa Nulo
na massa do solo.
Ocorrência de calhaus e/ou matacões esparsos
Ligeiramente
ocupando 0,01 a 0,1% da massa do solo e/ou da Ligeiro
pedregosa
superfície do terreno.
Ocorrência de calhaus e/ou matacões esparsos
Moderadamente
ocupando 0,1 a 3% da massa do solo e/ou da Moderado
pedregosa
superfície do terreno.
Ocorrência de calhaus e/ou matacões esparsos
Pedregosa ocupando de 3 a 15% da massa do solo e/ou da Forte
superfície do terreno.
Ocorrência de calhaus e/ou matacões esparsos
Muito pedregosa ocupando mais de 15% da massa do solo e/ou da Muito Forte
superfície do terreno.

34 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


Tabela 10 – Graus de limitação por impedimento à mecanização, em função das
classes de rochosidade

Classe Característica Grau


Total ausência de rochas, seja na superfície ou na
Não rochosa Nulo
massa do solo.
Afloramentos de rocha e/ou matacões que se
Ligeiramente
distanciam por 30 a 100 metros e ocupam de 2 a 10% Ligeiro
rochosa
da superfície do terreno.
Afloramentos de rocha e/ou matacões que se
Moderadamente
distanciam por 10 a 30 metros e ocupam de 10 a 25% Moderado
rochosa
da superfície do terreno.
Afloramentos rochosos e/ou matacões que se
Rochosa distanciam por 3 a 10 metros e ocupam de 25 a 50% Forte
da superfície do terreno.

Em relação à presença de petroplintita, cos, como a presença de excesso de cer-


foi atribuído o grau de limitação modera- tos elementos químicos, principalmente
do aos solos que apresentam este caráter. sódio e enxofre. O predomínio de argila
de atividade alta também foi considerado
Os solos nos quais foi indicado o cará-
devido ao seu efeito sobre a resistência
ter vértico, que denota o predomínio de
do solo ao trabalho de máquinas e ferra-
argilas de alta atividade, o que dificulta
mentas. Os graus de limitação quanto ao
sobremaneira o manejo do solo, foi atri-
impedimento ao desenvolvimento radi-
buído o grau muito forte.
cular foram atribuídos às terras com base
em informações extraídas a partir do co-
nhecimento das classes taxonômicas dos
Impedimento ao
solos e dos caracteres complementares
desenvolvimento radicular
assinalados para cada componente das
Embora a verificação do efeito das di- unidades de mapeamento.
versas características do solo sobre o de-
A Tabela 11 mostra os graus de limi-
senvolvimento das raízes já estar implícita
tação atribuídos às terras em função das
na análise dos outros fatores, achou-se
classes de profundidade do solo.
por bem, neste trabalho, individualizá-lo
e analisá-lo separadamente devido a sua
interferência direta no volume de solo Tabela 11 – Graus de limitação ao de-
explorado pelas raízes e, consequente- senvolvimento radicular em função da
mente, na disponibilidade de nutrientes e classe de profundidade do solo
água para as plantas.
Classe Característica Grau
Considerou-se, portanto, o efeito tanto Profundo > 80 cm Nulo
de impedimentos físicos, representados Medianamen-
pela pedregosidade (incluindo a presença 60 a 80 cm Ligeiro
te profundo
de pedras, seixos e petroplintita), rocho- Pouco
sidade e profundidade efetiva do solo, 50 a 60 cm Moderado
profundo
quanto o efeito de impedimentos quími- Raso <50 cm Forte

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 35
As classes de profundidade foram de- fertilizantes e corretivos, bem como alto
duzidas a partir das classes taxonômicas nível de conhecimento técnico.
dos componentes das unidades de ma-
Quanto maior a deficiência, portanto,
peamento e/ou pela indicação de caráter
mais intensivas serão as práticas, que en-
litólico, raso e pouco profundo para cer-
volvem grande conhecimento técnico e
tos solos.
disponibilidade de insumos para melhorar
um solo carente até a condição de classe
de aptidão boa e regular.
Exemplos de práticas menos intensivas
Viabilidade de recomendadas para o melhoramento de
fertilidade e, portanto, mais compatíveis
melhoramento das com o nível de manejo B, são estes:
condições agrícolas • cobertura do solo com espécies le-
guminosas ou gramíneas;
das terras
• distribuição de esterco e composto
Os graus de limitação são atribuídos orgânico na superfície do solo;
às terras de acordo com a sua capacida- • distribuição de tortas e outros resídu-
de presumível de suportar uma lavoura de os vegetais;
palma de óleo após o emprego de práticas
de melhoramento compatíveis com os ní- • correção da acidez do solo com cal-
veis de manejo B e C, considerando-se o cário;
fato de que a irrigação não está incluída • adubação com NPK;
entre tais práticas.
• consorciação de culturas.
São exemplos de práticas mais inten-
A – Melhoramento da sivas, compatíveis com o nível de mane-
deficiência de fertilidade jo C:
O melhoramento da fertilidade natu- • adubação com NPK + micronutrientes;
ral de solos que possuem condições físi-
cas propícias às plantas é fator decisivo • adubação foliar;
no desenvolvimento agrícola. De modo • combinação das práticas acima com
geral, embora a aplicação de fertilizantes “mulching”, utilizando espécies legu-
e corretivos seja uma técnica já difundida, minosas ou gramíneas de cobertura;
as quantidades aplicadas são comumen-
te insuficientes. Portanto, seu emprego • correção da acidez do solo e forneci-
deve ser incentivado, bem como outras mento de Ca e Mg através da incor-
técnicas adequadas ao aumento da pro- poração de calcário ao solo.
dutividade. A indicação de dosagens de calcário e
Terras com alta fertilidade natural e fertilizantes depende de recomendações
boas propriedades físicas exigem, even- técnicas, com base em análises do solo
tualmente, menores quantidades de ferti- e metas de produtividade definidas pelo
lizantes para a manutenção da produção, agricultor para uma produção sustentável
ao passo que terras com fertilidade natu- no seu empreendimento.
ral baixa exigem quantidades maiores de

36 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


B – Melhoramento da Trabalhos simples, como a construção
deficiência de água (sem de valas de drenagem para remoção do
irrigação) excesso de água, prejudicial ao sistema ra-
dicular, constituem práticas acessíveis que
Alguns fatores limitantes não são vi- apresentam bons resultados. No entanto,
áveis de melhoramento, como é o caso devem ser bem planejadas para não cau-
da deficiência de água, uma vez que não sar ressecamento excessivo das terras e
está implícita a irrigação em nenhum dos evitar a erosão em áreas mais declivosas.
níveis de manejo considerados. Basica-
mente, os graus de limitação expressam
as diferenças de umidade predominantes D – Melhoramento da
nas diversas situações climáticas. No en- suscetibilidade à erosão
tanto, são preconizadas algumas práticas
de manejo que favorecem a umidade dis- A suscetibilidade à erosão usualmente
ponível das terras, tais como: tem sua ação controlada através de prá-
ticas pertinentes aos níveis de manejo B
• redução da perda de água da chuva, e C.
através da manutenção do solo com
cobertura morta (mulching) pro- Uma área pode tornar-se permanen-
veniente de restos vegetais, como temente inadequada para a agricultura
cachos vazios e fibras da planta de por ação da erosão em função do carre-
processamento de óleo; plantio em amento da camada superficial do solo e,
faixas ou construção de cordões e sobretudo, do dessecamento do terreno.
terraços; práticas que asseguram sua A conservação do solo, no sentido mais
máxima infiltração; amplo, é essencial para a manutenção da
fertilidade e da disponibilidade de água.
• incorporação dos restos vegetais ao
solo; Como práticas compatíveis com o nível
de manejo B, simples, mas bastante efi-
• terraços (sem gradiente e sem saída cazes para o controle da erosão, podem
de água); ser citadas:
• faixas de retenção permanente. • enleiramento de restos culturais em
nível no alinhamento das linhas de
plantio, alternadamente;
C – Melhoramento do excesso
de água • cordão de retenção (nos terraços);
Vários fatores indicam a viabilidade de • capinas em faixas alternadas;
minorar ou não a limitação pelo excesso • faixas de retenção permanente;
de água, tais como drenagem interna do
solo, condições climáticas, topografia do • cobertura morta (mulching);
terreno e necessidade das culturas. • adubação verde nos primeiros anos.
Embora no nível de manejo C, mais Práticas mais intensivas para melhora-
desenvolvido, estejam previstas práticas mento da suscetibilidade à erosão e, por-
complexas de drenagem, essas requerem tanto, compatíveis com o nível de manejo
estudos mais profundos de engenharia C, são citadas a seguir:
de solos e água, que não são aqui abor-
dados. • terraceamento (em nível ou com gra-
diente);

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 37
• terraços em patamar; E – Melhoramento dos
• canais escoadouros; impedimentos à mecanização
• banquetas individuais; O impedimento à mecanização so-
mente é considerado relevante no nível
• escarificação/subsolagem; de manejo C. Os graus de limitação atribu-
• diques; ídos às terras, em condições naturais, têm
por termo de referência o emprego de má-
• faixas de retenção permanente; quinas motorizadas nas diversas fases da
• interceptadores de água (obstáculos); operação agrícola.
• estruturas especiais (paliçadas, buei- A maior parte dos obstáculos à meca-
ros, etc.); nização ou tem caráter permanente, ou
apresenta tão difícil remoção que torna
• controle de voçorocas. economicamente inviável o seu melho-
Algumas práticas importantes para o ramento. No entanto, algumas práticas,
melhoramento das condições agrícolas do ainda que dispendiosas, poderão ser re-
solo são comuns aos níveis de manejo B alizadas em benefício do rendimento das
e C: uso da terra de acordo com a aptidão máquinas, como é o caso da construção
agrícola, vegetação de proteção e adequa- de estradas, da drenagem, da remoção de
da implantação de estradas e carreadores. pedras, da sistematização do terreno e da
direção do trabalho da máquina em nível.
Um exemplo de sequência ordenada
das características dos solos utilizadas para
a avaliação de aptidão das terras é apre-
sentado nas Tabelas 12a, 12b e 12c.

38 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


Tabela 12a - Sequência utilizada para avaliação da aptidão das terras para a palma de óleo a partir da informação sobre solos e
o ambiente

Componentes Saturação Tipo de Textura do Textura do


UNIDADE DE Classe taxionômica* Atividade
complexo de horizonte horizonte horizonte
MAPEAMENTO Ordem Dominância (nível de subordem) da argila
troca superficial superficial subsuperficial
Latossolo Vermelho-
1 D álico Tb A moderado argilosa argilosa
Amarelo
Argissolo Vermelho-
NA19LVa15 2 S álico Tb A moderado média média
Amarelo
Espodossolo
3 S álico Tb A fraco arenosa média
Hidromórfico
1 D Nitossolo Vermelho eutrófico Tb A moderado argilosa argilosa
2 S Latossolo Amarelo álico Tb A moderado média média
SB23TRe5 Neossolo
3 S álico Tb A fraco arenosa arenosa
Quartzarênico
4 S Neossolo Litólico distrófico Tb A moderado média média
1 D Plintossolo Háplico álico Ta A moderado média argilosa
SC19PTa1 Argissolo Vermelho-
2 S álico Ta A moderado média argilosa
Amarelo
Argissolo Vermelho-
1 D álico Tb A moderado média média
Amarelo
SB23PVa19

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
2 S Plintossolo Háplico álico Tb A moderado arenosa média
3 S Plintossolo Háplico álico Tb A moderado média média

|
Simbologia – UM: unidade de mapeamento; D: dominante; S: subdominante; Tb: argila de atividade baixa; Ta: argila de atividade alta.
* (EMBRAPA SOLOS, 2006)

39
Tabela 12b - Sequência para avaliação da aptidão das terras a partir da informação sobre solos e o ambiente (continuação)

40
UNIDADE DE Componentes Textura combinada Caráter

|
Relevo Relevo
MAPEAMENTO (superficial e Relevo combinado (características
Ordem Dominância dominante subdominante
(UM) subsuperficial) especiais)
plano e
1 D argilosa plano suave ondulado sem caráter
suave ondulado
NA19LVa15 suave suave ondulado e
2 S média plano sem caráter
ondulado plano
3 S arenosa/média plano - plano sem caráter
suave suave ondulado e
1 D argilosa ondulado epipetroplíntico
ondulado ondulado
plano e
2 S média plano suave ondulado sem caráter
suave ondulado
SB23TRe5
plano e
3 S arenosa plano suave ondulado sem caráter
suave ondulado
ondulado e
4 S média ondulado forte ondulado pedregoso
forte ondulado
suave
1 D média/argilosa - suave ondulado sem caráter
ondulado
SC19PTa1
suave
2 S média/argilosa - suave ondulado sem caráter
ondulado
plano e
1 D média plano suave ondulado petroplíntico
suave ondulado
plano e
SB23PVa19 2 S arenosa/média plano suave ondulado sem caráter

Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


suave ondulado
plano e
3 S média plano suave ondulado petroplíntico
suave ondulado
Simbologia - Dominância: D: dominante; S: subdominante
Tabela 12c - Sequência para avaliação da aptidão das terras a partir da informação sobre solos e o ambiente (continuação)

Componentes Graus atribuídos aos fatores de limitação à cultura Aptidão das Terras
UNIDADE DE
Componente UM
MAPEAMENTO
(UM) Ordem % da UM ΔR ΔF ΔA ΔO ΔE ΔM ΔP ΔRo Manejo Manejo
B C B C
1 50 n l n n n n n n P P
NA19LVa15 2 30 n l n n l l n n P P P P
3 20 m l n n n l n n IN IN
1 40 l n n n m m f n M IN
2 30 n l n n l l n n P P
SB23TRe5 M IN
3 20 n f m n l l n n M R
4 10 l l n n m f f mf IN IN
1 60 m l n f l l n n IN IN
SC19PTa1 IN IN
2 40 n l n n l l n n P P
1 50 l l n n l l m n R M
SB23PVa19 2 30 m l n f l l n n IN IN R M
3 20 l l n f l l m n IN IN
Simbologia – ΔR: impedimento ao desenvolvimento radicular das plantas; ΔF: deficiência de fertilidade; ΔA: deficiência de água; ΔO: deficiência de oxigênio (excesso de
água); ΔE: suscetibilidade à erosão; ΔM: impedimento à mecanização; ΔP: impedimento por pedregosidade; ΔRo: impedimento por rochosidade.

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
Classe de aptidão/zoneamento: P=Preferencial; R=Regular; M= marginal; IN=Inapta

|
Nível de Manejo/nível tecnológico: B = Intermediário; C = Avançado

41
RAMALHO FILHO, A.; HIRANO, C.; SA, T. D. A.
Referências Aptidão pedoclimática: zoneamento por pro-
duto, Programa Grande Carajás. Rio de Janeiro:
Bibliográficas [SNLCS], 1984. Atlas com texto,1v.

EMBRAPA SOLOS. Sistema brasileiro de RAMALHO FILHO, A. HIRANO C. LIMA, M.


classificação de solos. 2. ed. Rio de Janeiro: A. Aptidão pedoclimática por cultura do
Embrapa Solos, 2006 306 p. Estado da Bahia. Salvador: Ministério da
Agricultura;Governo do Estado da Bahia,
IDE, B. Y.; ALTHOFF, D. A.; THOMÉ, V. M. R.; 1985 50 p. 1 Vol. Atlas.
VIZZOTTO, V. J. Zoneamento agroclimático
do Estado de Santa Catarina, 2ª Etapa. Flo- SIPAM. Base pedológica da amazônia legal:
rianópolis: EMPASC, 1980. 106 p. base digital em escala compatível com a
escala 1:250.000. Brasília, SIVAM; IBGE,
RAMALHO FILHO, A.; BEEK, K. J. Sistema de 2004.
avaliação da aptidão agrícola das terras. 3.
ed. rev. Rio de Janeiro: Embrapa-CNPS, 1995.
65 p.

42 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


PARTE 1
Capítulo 3

Procedimento metodológico da
Avaliação da Aptidão Climática para
a Cultura da Palma de Óleo nas
Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
Alexandre Ortega Gonçalves, Therezinha Xavier Bastos, Alexandre Hugo Barros,
Antonio Ramalho Filho e Paulo Emílio Ferreira da Motta

A avaliação da aptidão climática para tas a técnicos e produtores especializados


a palma de óleo foi realizada com base na cultura. Por outro lado, o levantamento
no conhecimento das necessidades da das condições climáticas prevalecentes na
cultura, levantadas, conforme comentado área de estudo foi obtido de várias fontes
no capítulo da Aptidão Agrícola das Terras, com séries de dados meteorológicos de
através de revisão bibliográfica e de consul- períodos superiores a 10 anos.

Figura 1 - Pontos de monitoramento climático utilizados no ZAE Palma de Óleo

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 43
As classes de aptidão foram estabe- regime pluviométrico adequado a
lecidas com base na deficiência hídrica essa cultura caracteriza-se por uma
média (DEF), determinada a partir do ba- precipitação média anual superior a
lanço hídrico climatológico para um valor 1800 mm, com precipitações men-
de capacidade de água disponível dos sais superiores a 100 mm e distri-
solos (CAD) de 125 mm, e no número de buídas uniformemente ao longo do
anos secos consecutivos, aqui considera- ano.
dos como aqueles em que a precipitação
• Brilho Solar – altos níveis de radiação
média é inferior a 50 mm. As classes de
solar são indispensáveis para o cres-
aptidão climática foram assim definidas:
cimento e a produção da cultura. A
– Preferencial (P): áreas com Deficiên- isolação necessária para a expressão
cia Hídrica média anual (DH) inferior máxima do potencial produtivo da
a 200 mm e com até três meses se- palma de óleo situa-se em torno de
cos consecutivos; 1.600 horas/ano. Locais com lumino-
sidade inferior a 1.500 horas/ano são
– Regular (R): áreas com DH entre 200
considerados limitantes.
mm e 350 mm e com até três meses
secos consecutivos; • Temperatura do ar – fator climático
de grande importância para o cres-
– Marginal (M): áreas com DH entre 350
cimento e a produção da palma de
mm e 450 mm e com até três meses
óleo. Observa-se que as maiores
secos consecutivos;
produções são obtidas em regiões
– Inapta (I): áreas com DH>450 e/ou com pequenas variações de tempe-
com mais de três meses secos con- ratura e onde a média anual situa-
secutivos. se entre 24 e 28ºC, sem ocorrência
de temperaturas mínimas abaixo de
Na elaboração do ZAE-Palma de Óleo,
16ºC por períodos prolongados.
foi utilizada a avaliação da aptidão climá-
tica, embora também possa ser utilizado • Umidade relativa do ar – a umidade
o risco climático baseado em estudos pro- relativa do ar, média mensal, deve
babilísticos em séries climáticas. De acor- estar entre 75 e 90%.
do com a literatura disponível, para que
Para a determinação da deficiência
uma planta expresse todo o seu potencial
hídrica, foi realizado o balanço hídrico cli-
de produção, ela necessita de condições
matológico segundo a metodologia pro-
climáticas favoráveis. Essas condições po-
posta por Thornthwaite e Mather (1955),
dem limitar o estabelecimento da cultura
utilizando-se uma CAD de 125 mm. Os da-
e produção de frutos em certas regiões.
dos de deficiência hídrica anual posterior-
Na avaliação da aptidão climática, os fa-
mente foram espacializados e divididos
tores de maior importância para o cultivo
em classes, conforme foi proposto por
da palma de óleo são: precipitação, horas
Barcelos (1994). Esse autor avaliou a viabi-
de brilho solar e temperaturas máxima e
lidade e a potencialidade de produção da
mínima.
cultura da palma de óleo, relacionando
• Precipitação – uma adequada dispo- dados de deficiência hídrica anual (mm)
nibilidade de água no solo de forma com o potencial de produção de óleo (T
constante é condição extremamente de óleo/ha/ano), conforme mostrado na
importante para o desenvolvimento Tabela 1. Da mesma forma, a deficiência
e a produção da palma de óleo. O hídrica pode ser relacionada com a pro-

44 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


dução em toneladas de cachos por hec- Paralelamente, foram correlacionados
tare/ano (Figura 2), conforme Irho (1969) os dados de meses secos com a deficiên-
apud Hartley (1988). cia hídrica, já que, segundo Bastos et al.
(2001), a ocorrência de três meses secos
consecutivos prejudica o cultivo comercial
Tabela 1 – Relação entre déficit hídri- da cultura.
co potencial anual e produção de óleo
Tendo como base as correlações de
de palma
deficiência hídrica e produtividade, esta-
Déficit Hídrico Potencial de produção beleceram-se zonas de comportamento
(mm/ano) (t de óleo/ha/ano) da deficiência hídrica para a área da Ama-
0 - 150 > 5,2 zônia Legal, com produtividades associa-
150 - 250 4,4 - 5,2
das variando de 3,5 a 5,2 t óleo/ha/ano. A
avaliação do risco climático para o cultivo
250 - 350 3,5 - 4,4
da palma de óleo foi, então, sistematizada
350 - 500 3,1 - 3,5 em quatro categorias e espacializada con-
> 500 < 3,1 forme segue:
Fonte: Barcelos (1994)
– Preferencial (P): áreas com Deficiên-
cia Hídrica média anual (DH) inferior
a 200 mm e com até três meses se-
Figura 2 – Relação entre deficiência
cos consecutivos;
hídrica anual e produção de cachos de
palma de óleo (IRHO, 1969 apud HAR- – Regular (R): áreas com DH entre 200
TLEY, 1988). mm e 350 mm e com até três meses
secos consecutivos;
Dediciência hídrica anual (mm)

600 ––
– Marginal (M): áreas com DH entre 350
500 ––
mm e 450 mm e com até três meses
400 –– secos consecutivos;
300 ––
– Inapta (I): áreas com DH>450 e/ou
200 –– com mais de três meses secos con-
100 –– secutivos.
––

––

––

––

5 10 15 20
Produção de cacho (toneladas/ha/ano)

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 45
HARTLEY, C. W. S. The oil palm. 3. ed. Lon-
don: [s. n.], 1988. 761 p. (Tropical agriculture
Referências series).

Bibliográficas IDE, B. Y.; ALTHOFF, D. A.; THOMÉ, V .M. R.;


VIZZOTTO, V. J. Zoneamento agroclimático
BARCELOS, E. Relatório de viagem ao mu- do Estado de Santa Catarina, 2ª Etapa. Flo-
nicípio de Alto Paraíso - RO, objetivando rianópolis: EMPASC, 1980. 106 p.
avaliar a viabilidade e potencialidade de
THORNTHWAITE, C. W.; MATHER, J. R. The
produção da cultura do dendê. Manaus:
water balance. New Jersey: Drexel Institute
Embrapa Amazônia Ocidental, 1994.
of Technology, 1955. 104 p. (Publications in
BASTOS, T. X.; MULLER, A. A.; PACHECO, N. A.; Climatology.).
SAMPAIO, M. N.; ASSAD, A. D.; MARQUES, A.
F. S. Zoneamento de riscos climáticos para a
cultura do dendezeiro no estado do Pará. Re-
vista Brasileira de Agrometeorologia, v. 9,
n. 3, p.564-570, 2001.

46 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


PARTE 1
Capítulo 4

Organização da Informação,
Metodologia da Integração Temática,
Procedimentos Informatizados e
Cartografia para a elaboração do
Zoneamento Agroecológico para a
Cultura da Palma de Óleo nas Áreas
Desmatadas da Amazônia Legal

Margareth Simões Penello Meirelles, Mario Luiz Diamante Aglio,


Alexandre Ortega Gonçalves, Marie Elisabeth Christine Claessen,
Wenceslau Geraldes Teixeira, Paulo Emílio Ferreira da Motta,
Antonio Ramalho Filho e Jesus Fernando Mansilla Baça

tanto, a sua execução engloba um con-


junto de procedimentos metodológicos
Introdução de natureza temática e informatizada, in-
cluindo a consulta ao banco de dados do
Face à grande extensão da área abran- SIPAM (Sistema de Proteção da Amazônia)
gida pelo Zoneamento Agroecológico e aquisição de dados, a avaliação da inten-
para a Cultura da Palma de Óleo nas Áre- sidade dos fatores limitantes de cada com-
as Desmatadas da Amazônia Legal (ZAE- ponente das unidades de mapeamento
Palma de Óleo) envolvendo uma grande de solos e a avaliação da aptidão das
quantidade de unidades de mapeamento terras por unidade de mapeamento. Os
de solos, houve a necessidade de se de- mapas advindos desses procedimentos, e
senvolver um procedimento automatiza- que constituíram os produtos intermediá-
do de caráter inovador. rios e os produtos finais do ZAE-Palma de
Óleo, foram elaborados segundo critérios
Neste capítulo, descreve-se o proce- cartográficos vigentes para o Brasil e estão
dimento utilizado, importante etapa da disponíveis no Geoportal Digital da Embra-
elaboração do ZAE-Palma de Óleo que pa (http://mapoteca.cnps.embrapa.br).
permite a integração dos diversos temas
que compõem a sua base de dados. Para

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 47
Tabela 1 - Fonte dos dados originais
Organização da utilizados no zoneamento.

Informação DADO FONTE ESCALA


OBSERVAÇÃO
Dado original
Unidades de
produzido em
Para a construção da base Mapeamento
SIPAM 1:250.000 SAD-69 a partir do
de dados, informações de múlti- de Solos –
projeto RADAM
plas fontes foram pesquisadas e UM
(SIPAM, 2004)
compatibilizadas. Uma pesquisa Dado original
Grid de Embrapa
nas principais instituições produ- 1:3.000.000 produzido em
Meses Secos Solos
toras de dados do nosso país se SAD-69
fez necessária. Em seguida, foi Grid de
realizada a compatibilização de Deficiência Dado original
Embrapa
projeções cartográficas, escalas Hídrica – 1:3.000.000 produzido em
Solos
e formatos. Essa etapa, apesar de Amazônia SAD-69
muito trabalhosa, é de extrema Legal
importância para a construção Grid Prodes Dado original
da base de dados geográfica, e ((INPE, 2007). INPE/ produzido em
1:600.000
O pixel PRODES SAD-69 (INPE,
sua precisão evita a propagação
possui 120 m 2007).
de erros na integração temática
Delimitação Dado original
(MEIRELLES et al, 2007). de Unidades MMA/ produzido em
1:500.000
Os principais fornecedores de de Siscom SAD-69 (BRASIL,
dados foram: Embrapa – Empresa Conservação 2002)
Brasileira de Pesquisa Agropecu- Delimitação Dado original
MMA/
ária, Geoportal Digital (http://ma- de Reservas 1:500.000 produzido em
Siscom
poteca.cnps.embrapa.br); IBGE – Indígenas SAD-69
Instituto Brasileiro de Geografia e Dado original
Limite
IBGE 1:500.000 produzido em
Estatística (www.ibge.gov); SIPAM político
SAD-69
– Sistema de Proteção da Ama-
zônia (www.sipam.gov.br); INPE
– Instituto de Pesquisa Espaciais;
PRODES – Programa de Monitoramento do
Desmatamento da Amazônia - INPE. (http://
www.dpi.inpe.br/prodesdigital/prodes.php); Transformações
e MMA/SISCOM – Sistema Compartilhado
de Informações Ambientais (http://siscom.
Cartográficas
ibama.gov.br/). Uma descrição dessas fontes
A integração temática utiliza os arqui-
de dados e suas características está sumari-
vos digitais provenientes das múltiplas
zada na Tabela 1. Os cruzamentos indicados
fontes descritas na Tabela 1 que foram
foram realizados em ambiente Sistema de
editados para, então, integrarem a avalia-
Informação Geográfica (SIG), utilizando-se o
ção temática. Assim sendo, a metodologia
software ARCGIS1 (www.esri.com).
incluiu:

1
ARCGIS é uma coleção integrada de produtos de aplicativos
– adoção de um sistema de coordena-
de Sistemas Geográficos de Informação que fornece uma das para o qual todas as informações
plataforma baseada em padrões para análise espacial, manu- devem ser compatibilizadas; no caso
seio de dados e mapeamento (www.esri.com).

48 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


do zoneamento é importante a esco- pela representação cartográfica, todos os
lha de um sistema de coordenadas dados utilizados foram reprojetados para
que permita o cálculo de áreas; a projeção cônica equivalente à área de
Albers, utilizando o datum de referência
– organização de uma pasta contendo
SAD-69. Esses dados reprojetados foram
todos os arquivos digitais na forma
utilizados para se calcular a superfície das
de mapas, facilitando a documenta-
diferentes classes do zoneamento.
ção e atualizações futuras;
– construção de uma base de dados
geográfica compatibilizada em am-
biente SIG.
Para este fim, foi utilizada a base ca- Integração Temática
tográfica fornecida pelo SIPAM na escala
1:250.000 na qual verificou-se uma gama
e Procedimentos
de informações muito densa que pre- Informatizados
judicaria a visualização do tema. Então,
optou-se por fazer uma generalização
A comparação dos graus de limitação
cartográfica, com o objetivo de deixar o
dos solos, contidos no conjunto de regras
zoneamento mais evidente. Dessa forma,
que constituem os requisitos mínimos da
essa “limpeza” foi baseada na informação
cultura para efeito de avaliação do poten-
obtida pelo RADAM, que se encontrava
cial das terras para a cultura da palma de
menos densa devido a sua escala de ori-
óleo, com os graus de limitação que o
gem 1:1.000.000 (IBGE, 2009).
solo apresenta (oferta ambiental) resulta
Assim, drenagens principais, drena- na Aptidão Agrícola das Terras.
gens secundárias, rodovias e outras in-
O mapa de meses secos e o da defici-
formações foram eliminadas, restando
ência hídrica foram reprojetados também
apenas aquelas que realmente fariam a
para SAD-69. No tema deficiência hídrica,
diferença no entendimento do mapa final
foi utilizado o mesmo processamento. A
de zoneamento agroecológico da Amazô-
partir dos mapas resultantes da reprojeção
nia Legal para os dois níveis de manejo,
para o datum de referência SAD-69, foi re-
B e C.
alizada uma intersecção para se obter a
Para apresentar as cartas na escala de limitação climática para a cultura da palma
1:250.000, abrangendo toda a Amazônia de óleo. O resultado desse processo pro-
Legal, foram elaboradas 334 folhas com duz o tema Aptidão Climática.
base no recorte sistemático do IBGE para
Da intersecção da Aptidão Agrícola
a escala. Novamente, utilizando-se agora
das Terras com a Aptidão Climática tem-
a base cartográfica geral já generalizada,
se como produto a Aptidão Pedoclimática
foi utilizado o processo de clipagem do
para a cultura da palma de óleo, ainda
ARCGIS para recortar todas as informações
como um resultado intermediário do zo-
cartográficas e obter, assim, as folhas da
neamento agroecológico.
base cartográfica na escala 1:250.000, que
ancorou todo os trabalhos de campo e Esse resultado representa o potencial
também permitiu o enriquecimento do regionalizado para o desenvolvimento da
ZAE-Palma de óleo. cultura da palma de óleo, considerando-
se as restrições legais e ambientais. Do
Para minimizar a distorção introduzida
resultado da avaliação desse produto

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 49
intermediário – aptidão pedoclimática – marcadas (Fonte 1; Fonte 2). Terras
subtraem-se as áreas legalmente protegi- contidas em áreas sem aptidão climá-
das. Através do mapa de áreas desmata- tica ou com alto risco climático. Terras
das, conforme Inpe (2007) e apresentado em áreas coberta por floresta nativa
na figura 1, e das áreas sem informação conforme Inpe (2007).
do PRODES, mas historicamente reconhe-
A fundamentação metodológica para
cidas como desmatadas, obtém-se o ZAE-
a obtenção da aptidão pedoclimática e do
Palma de Óleo.
zoneamento agroecológico por cultura ou
Como resultado dessas avaliações, produto tratados neste capítulo é baseada
obtém-se o ZAE-Palma de óleo com a se- nos preceitos, critérios e procedimentos
guinte estrutura classificatória: enunciados do método intitulado “Siste-
ma de Avaliação da Aptidão das Terras”
• Preferencial-P – potencial alto;
(RAMALHO FILHO; BEEK, 1965), preconiza-
• Regular-R – potencial médio a alto; do pela Embrapa para a interpretação de
levantamentos de solos no Brasil.
• Marginal-M – potencial baixo;
Para o cálculo da extensão territorial do
• Inapta-I – sem potencial ou inadequada;
resultado final do zoneamento, foi consi-
• Áreas bloqueadas – terras contidas derada a divisão política fornecida pelo
em unidades de conservação am- IBGE, reprojetada na projeção cônica equi-
biental ou em terras indígenas de- valente à área de Albers com datum SAD-

Figura 1 – Áreas desmatadas obtidas pelo Inpe (2007), utilizado como um dos recortes da área total do zone-
amento agroecológico da região.

50 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


69. Essa divisão política foi utilizada para sificatório para a geração da aptidão das
efetuar as seguintes partições territoriais: terras para a palma de óleo, uma base de
conhecimento através do uso de ontolo-
– Áreas de zoneamento contido nas
gias foi desenvolvida no âmbito do zone-
unidades da federação da Amazônia
amento. Dessa forma, foi possível orga-
Legal;
nizar o conhecimento sobre aptidão das
– Áreas de zoneamento contido nas terras, o qual permite estruturar uma base
mesorregiões da Amazônia Legal. de conhecimento do processo classifica-
tório conduzido integralmente de forma
O processo de cálculo da extensão ter-
automatizada. Esse procedimento torna
ritorial produziu um erro de aferição geral
possível e agiliza a reprodução do méto-
de 5,68 ha.
do de avaliação da aptidão das terras para
Face à enorme área abrangida e, por- outras regiões geográficas e para outras
tanto, à grande quantidade de unidades culturas ou produtos, contanto que haja
de mapeamento de solos envolvidas, fez- disponibilidade de dados de levantamen-
se necessário o desenvolvimento de um tos de solos da região e de dados sobre
procedimento automatizado que incluísse os requisitos ecofisiológicos da cultura a
consulta ao banco de dados do SIPAM, que a avaliação se destina. Portanto, essa
avaliação da intensidade dos fatores limi- base de conhecimento pode ser ampliada
tantes de cada componente das unidades e o procedimento informatizado desen-
de mapeamento de solos e avaliação da volvido para zoneamento agroecológico
aptidão das terras por unidade taxonômi- pode ser utilizado no zoneamento de
ca que compõe as unidades de mapea- outras culturas ou produtos destinados à
mento de acordo com o quadro de regras produção de alimentos, fibras ou geração
previamente estabelecido. de biocombustível. Para mais esclareci-
Visando automatizar o processo clas- mentos, consultar Azevedo et al. (2007) e
Ramalho Filho e Beek (1995).

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 51
INPE. Programa de Monitoramento do Des-
matamento da Amazônia. Projeto de Moni-
Referências toramento da Floresta Amazônica Brasileira
por Satélite Disponível em: <http://www.dpi.
Bibliográficas inpe.br/prodesdigital/prodes.php>. Acesso
em 09 mai. 2007.
AZEVEDO, V. H. M.; MEIRELLES, M. S. P., FER-
RAZ, R. P. D.; RAMALHO FILHO, A. Interability MEIRELLES, M. S. P.; CAMARA, G.; ALMEIDA, C.
among heterogeneous geographic objects Geomática modelos e aplicações ambien-
In: Advances in Geoinformatics. New York: tais. Ed. Brasilia: Embrapa Informação Tecno-
Springer, 2007. p. 193-202, 1. v. lógica, 2007, p. 593.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Secre- RAMALHO FILHO, A.; BEEK, K. J. Sistema de
taria de Biodiversidade e Florestas. Avaliação avaliação da aptidão agrícola das terras. 3.
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para a conservação, utilização sustentável 65 p.
e repartição dos benefícios da biodiversi-
dade dos biomas brasileiros. Brasília: MMA, SIPAM. Base pedológica da Amazônia Legal:
2002. 404 p. Disponível em: <http:www.mma. base digital em escala compatível com a es-
gov.br>. Acesso em 10 jan. 2010. cala 1:250.000. Brasília: SIVAM; IBGE 2004.

IBGE. Mapa da Amazônia Legal. Disponível em:


<http://www.ibge.gov.br/home/geociencias>.
Acesso em: 08 mar. 2009.

52 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


PARTE 1
Capítulo 5

Zoneamento Agroecológico para a


Cultura da Palma de Óleo nas Áreas
Desmatadas da Amazônia Legal
Antonio Ramalho Filho, Paulo Emílio Ferreira da Motta, Uebi Jorge Naime,
Alexandre Ortega Gonçalves e Wenceslau Geraldes Teixeira

Amazônia Legal foi obtido basicamente


pelo cruzamento da aptidão das terras
Considerações gerais com a aptidão climática, após a exclusão
das áreas protegidas por lei, conforme in-
O Zoneamento Agroecológico da Pal- dicado na Figura 1.
ma de Óleo para as áreas desmatadas da

Revisão bibliográfica,
consultas a especialistas e
verificação a campo

Necessidades Mapas pedológicos Necessidades Mapas e parâmetros


pedológicas da da região climáticas climáticos da região
Palma de Óleo (banco de dados) da Palma de Óleo

Aptidão das terras para


a Palma de Óleo

Áreas de Aptidão climática para


proteção legal a Palma de Óleo

Zoneamento Agroecológico da Palma de Óleo para


as áreas desmatadas da Amazônia Legal

Figura 1 – Organograma das fases do Zoneamento Agroecológico para a cultura da Palma de Óleo

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 53
Os procedimentos necessários à ela- As classes do zoneamento, estabeleci-
boração do zoneamento contaram com o das de acordo com o grau de intensidade
apoio de técnicas de geoprocessamento das limitações ambientais (clima e terras)
por meio da utilização de sistemas de in- para a cultura da palma de óleo, foram as-
formação geográfica e de sensoriamento sim definidas:
remoto.
• Preferencial – P (potencial alto) – in-
O ZAE-Palma de Óleo foi preparado clui terras sem limitações significati-
em alinhamento com os preceitos do Zo- vas para a produção sustentada da
neamento Ecológico-Econômico (ZEE) da palma de óleo. A classe Preferencial
Amazônia Legal (http://www.mma.gov.br), se refere às áreas que apresentam
cujo escopo é mais geral quanto à desti- déficit hídrico menor que 200 mm
nação das terras da região. Portanto, este e até três meses secos consecutivos
documento, ao apresentar o potencial de (<50 mm). Esse mínimo de restrições
terras das zonas denominadas “consolida- não reduz expressivamente a pro-
das” e “a consolidar”, fornece base para dutividade ou os benefícios e não
implantação e expansão da palma de óleo aumenta a necessidade de insumos
e respalda uma política disciplinar ao des- e práticas mitigadoras acima de um
matamento de novas áreas. nível aceitável.
No cruzamento da Aptidão Agrícola • Regular – R (potencial médio) – in-
das Terras com a Aptidão Climática, foi clui terras com limitações moderadas
considerada também a regra pela qual a para a produção sustentada da pal-
pior aptidão (do clima ou das terras) é a ma de óleo. A classe Regular se refe-
que determina a classe final de zonea- re às áreas que apresentam déficit hí-
mento, conforme pode ser observado na drico entre 200 mm e 350 mm, com
Tabela 1. até três meses secos consecutivos
(<50 mm). As limitações reduzem a

Tabela 1 – Classes de zoneamento obtidas a partir do cruzamento das classes de


aptidão das terras com as classes de aptidão climática.

APTIDÃO CLIMÁTICA
CLASSE DE
Preferencial Regular Marginal Inapta/NR
ZONEAMENTO
(P) (R) (M) (I)
Boa (B) P (PB) R (RB) M (MB) I (IB)
APTIDÃO
Regular (R) R (PR) R (RR) M (MR) I (IR)
DAS
TERRAS Marginal (M) M (PM) M (RM) M (MM) I (IM)
Inapta (I) I (PI) I (RI) I (MI) I (II)
Observações:
1. A sequência de letras entre parênteses obedece à ordem aptidão climática-aptidão das terras;
2. Prevalece como aptidão dominante da unidade de mapeamento (polígono/zona) a pior aptidão no cruza-
mento clima x terras (entre parênteses), por exemplo: R(PR) ou R(RP) em que R representa a aptidão Regular ou
seja, inferior a Preferencial atribuída ao clima ou ao solo;
3. Na legenda de aptidão das terras, prevalece o símbolo da aptidão dominante da associação na Unidade de
Mapeamento de Solos.

54 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


produtividade ou os benefícios ou Os mapas resultantes do Zoneamento
elevam a necessidade de insumos e Agroecologico para a Cultura da Palma
práticas mitigadoras para aumentar o de Óleo nas Áreas Desmatadas da Ama-
rendimento da cultura. zônia Legal são apresentados no final do
texto desse livro em tamanho reduzido,
• Marginal – M (potencial baixo) – in-
os quais cobrem a Amazônia Legal, nos
clui terras com limitações fortes para
níveis de manejo B e C (anexos I e II).
a produção sustentada da palma de
óleo. A classe Marginal se refere às Os mapas resultantes do zoneamento
áreas que apresentam déficit hídrico são também apresentados em CD afixado
entre 350 mm e 450 mm, com até três nesse livro da seguinte forma:
meses secos (<50 mm). Essas limita-
a. Mapa do Zoneamento Agroecológi-
ções reduzem a produtividade ou os
co para a Cultura da Palma de Óleo
benefícios ou, então, aumentam os
nas Áreas Desmatadas da Amazônia
insumos necessários de tal maneira
Legal nos níveis de Manejo B e C;
que os custos só seriam justificados
marginalmente. A decisão de se uti- b. Mapas do Zoneamento Agroecológi-
lizar essas terras para a produção da co para a Cultura da Palma de Óleo
palma de óleo, conforme a classifi- nas Áreas Desmatadas, nos níveis
cação da aptidão das terras apresen- de Manejo B e C, dos estados: Acre,
tada, deve se basear em estudos de Amapá, Amazonas, Mato Grosso,
viabilidade econômica e do contexto Pará, Rondônia e Roraima.
socioeconômico do agricultor.
Os resultados do zoneamento na for-
• Inapta – I (potencial muito baixo) – ma de texto e mapas podem também ser
diz respeito a terras com limitações consultados no GeoPortal da Embrapa
muito fortes e clima desfavorável, que (http://mapoteca.cnps.embrapa.br).
impedem a produção econômica da
Durante a execução deste trabalho, foi
palma de óleo.
constatada a existência de 296.551 km2
Na legenda do mapa do zoneamento, (29.655.133 ha) de terras aptas para o cul-
encontra-se indicada a eventual ocorrên- tivo de palma de óleo, com a adoção do
cia de áreas com aptidão melhor ou pior nível de manejo B, que correspondem a
dentro da unidade de mapeamento. 5,87% da área desmatada da Amazônia
Legal até 2007, ou 4,1% da área estudada.
As terras aptas para o cultivo da palma
de óleo com a adoção do nível de manejo
C perfazem 289.334 km2 (28.933.380 ha),
Resultados o que corresponde a 5,72% da área des-
matada da Amazônia Legal, ou 4,09% da
Os resultados, divulgados de maneira área estudada.
sintética por estado da Amazônia Legal Essas áreas, consideradas aptas, in-
em congressos e seminários temáticos em cluem as classes Preferencial e Regular do
solos e agroenergia (MOTTA et al., 2009a, ZAE-Dendê. A área do zoneamento, após
2009b; RAMALHO FILHO et al., 2009a, os recortes, totaliza 704.066 km², que cor-
2009b, 2009c, 2009d; RAMALHO FILHO et responde a 13,94% da Amazônia Legal.
al., 2008)

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 55
É importante esclarecer que os mapas ras classificadas como Marginais ou de
gerados mostram as zonas das classes Aptidão Restrita, cujos benefícios e custos
Preferencial, Regular, Marginal e Inapta se equivalem, conforme os padrões eco-
para a produção da cultura da palma de nomicamente aceitáveis pelos produtores
óleo para fins diversos, seja óleo comes- de palma de óleo na região, deve se base-
tível, cosméticos ou biocombustível. Por ar em estudos de viabilidade econômica
outro lado, não informa, porém, sobre a e do contexto socioeconômico de cada
real disponibilidade das terras para essa agricultor. No presente estudo, somen-
cultura, que podem estar atualmente sob te as classes Preferencial e Regular estão
usos distintos e com diferentes níveis de sendo consideradas aptas para a implan-
produtividade. Estima-se, que cerca de tação da cultura.
80% da área desmatada do bioma amazô-
Os resultados do zoneamento são
nico encontram-se ocupados com pastos
apresentados em mapas regionais – esca-
em diferentes níveis de esgotamento, de-
la generalizada em 1:5.000.000, para visu-
gradação e mesmo abandono.
alização em folha tamanho A1. Contudo,
Não obstante o zoneamento esteja podem ser visualizados em escalas maio-
confinado às áreas desmatadas da Ama- res e em tamanho variável por unidade da
zônia Legal, os resultados mostrados nas federação e relacionados por município.
Tabelas 2, 3 e 4 ainda são brutos, porquan-
Com o uso do Sistema Geográfico de
to podem ser reduzidos, com a aplicação
Informação (SGI), pode-se manusear o
do Código Florestal, para cerca de 50 a
zoneamento chegando-se a sua visuali-
60% por ocasião da implantação da palma
zação na escala até 1:250.000 na versão
de óleo, em decorrência de restrições de
final, embora a escala do zoneamento em
ordem ambiental ditadas pela legislação
coerência com o real nível de abstração
vigente (Código Florestal).
dos levantamentos básicos de solos esteja
A decisão de se utilizar ou não as ter- estimada em 1:600.000.

56 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


Tabela 2 – Áreas das classes de zoneamento para produção de palma de óleo, sob o nível de manejo B, por estado da Amazônia
Legal

ÁREA
ESTUDADA
CLASSE PREFERENCIAL (P) REGULAR (R) MARGINAL (M) INAPTA (IN) ÁREA EXCLUÍDA*
DO
ESTADO
ESTADO ha km2 % ha km2 % ha km2 % ha km2 % km2 % km2
AC 416.037 4.160 2,53 1.087.772 10.878 6,63 913,32 9 0,01 306.879 3.069 1,87 146.026 88,95 164.158
AM 1.461.375 14.614 0,94 889.466 8.895 0,57 8.337 83 0,01 415.517 4.155 0,27 1.531.447 98,22 1.559.164
AP 20.334 203 0,14 137.844 1.378 0,97 11.205 112 0,08 125.232 1.252 0,88 139.868 97,94 142.813
GO 0 0 0,00 0 0 0,00 0 0 0,00 131.224 1.312 9,19 12.952 90,73 14.276
MA 0 0 0,00 246,96 2 0,00 109.515 1.095 0,39 10.090.105 100.901 36,19 176.691 63,37 278.840
MT 203.959 2.040 0,23 6.779.357 67.794 7,51 786.999 7.870 0,87 12.806.582 128.066 14,18 697.591 77,23 903.283
PA 2.327.674 23.277 1,87 10.448.374 104.484 8,37 345.718 3.457 0,28 9.926.744 99.267 7,96 1.017.253 81,53 1.247.772
RO 2.720.638 27.206 11,5 2.755.935 27.559 11,60 550.294 5.503 2,32 1.834.577 18.346 7,72 158.976 66,91 237.591
RR 187.409 1.874 0,84 218.712 2.187 0,98 207.898 2.079 0,93 144.684 1.447 0,65 216.715 96,63 224.283
TO 0 0 0,00 0 0 0,00 0 0 0,00 2.949.021 29.490 10,63 248.133 89,41 277.537
TOTAL 7.337.426 73.374 22.317.707 223.177 2.020.879 20.209 38.730.565 387.306 4.345.652 5.049.717
% AM.L 1,45 4,42 0,40 7,67 86,06
Nota: Classes P e R, consideradas aptas para o dendê, totalizam 29.655.133 ha = 29.655 km2 = 5,87% da Amazônia Legal.

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
* Reservas legais e áreas não desmatadas. Total da área do zoneamento após os recortes: 704.066 km² = aproximadamente 13,94% da Amazônia Legal
AM.L = Amazônia Legal

|
57
58
|
Tabela 3 – Áreas das classes de zoneamento para produção de palma de óleo, sob o nível de manejo C, por estado da Amazônia Legal

ÁREA
ESTUDADA
CLASSE PREFERENCIAL (P) REGULAR (R) MARGINAL (M) INAPTA (IN) ÁREA EXCLUÍDA*
DO
ESTADO
ESTADO ha km2 % ha km2 % ha km2 % ha km2 % km2 % km2
AC 735.677 7.357 4,48 574.630 5.746 3,50 193.511 1.935 1,18 307.785 3.078 1,87 146.026 88,95 164.158
AM 1.532.123 15.321 0,98 681.556 6.816 0,44 142.830 1.428 0,09 418.185 4.182 0,27 1.531.447 98,22 1.559.164
AP 20.334 203 0,14 123.843 1.238 0,87 23.169 232 0,16 127.271 1.273 0,89 139.868 97,94 142.813
GO 0 0 0,00 0 0 0,00 0 0 0,00 131.224 1.312 9,19 12952,07 90,73 14.276
MA 0 0 0,00 246,96 2 0,00 81.027 810 0,29 10.118.593 101.186 36,29 176.691 63,37 278.840
MT 220.920 2.209 0,24 6.700.985 67.010 7,42 486.836 4.868 0,54 13.168.156 131.682 14,58 697.591 77,23 903.283
PA 1.666.831 16.668 1,34 10.608.430 106.084 8,50 810.902 8.109 0,65 9.962.347 99.623 7,98 1.017.253 81,53 1.247.772
RO 2.930.252 29.303 12,33 2.733.292 27.333 11,50 352.365 3.524 1,48 1.845.535 18.455 7,77 158.976 66,91 237.591
RR 190.143 1.901 0,85 214.119 2.141 0,95 209.175 2.092 0,93 145.265 1.453 0,65 216.715 96,63 224.283
TO 0 0 0,00 0 0 0,00 0 0 0,00 2.949.021 29.490 10,63 248.133 89,41 277.537
TOTAL 7.296.279 72.963 21.637.101 216.371 2.299.816 22.998 39.173.381 391.734 4.345.652 5.049.717
% AM.L 1,44 4,28 0,46 7,76 86,06
Nota: Classes P e R, consideradas aptas para palma de óleo, totalizam 28.933.380 ha = 28.933 km2 = 5,74 % da Amazônia Legal.
* Reservas legais e áreas não desmatadas. Total da área do zoneamento após os recortes: 704.066 km² = aproximadamente 13,94% da Amazônia Legal.
AM.L = Amazônia Legal

Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


Tabela 4 – Resumo das áreas das classes do Zoneamento Agroecológico da
Palma de Óleo nas áreas desmatadas da Amazônia Legal com adoção dos níveis
de manejo B e C

NÍVEL DE MANEJO B NÌVEL DE MANEJO C


% da % da
CLASSE hectare km² CLASSE hectare km²
AM.L AM.L
Preferencial – P 7.337.426 73.374 1,45 Preferencial – P 7.296.279 72.963 1,44
Regular – R 22.317.707 223.177 4,42 Regular – R 21.637.101 216.371 4,28
Marginal – M 2.020.879 20.209 0,40 Marginal – M 2.299.816 22.998 0,46
Inapta – IN 38.730.565 387.306 7,67 Inapta – I 39.173.381 391.734 7,76
Sub-total * 70.406.577 704.066 13,94 Sub-total ** 70.406.577 704.066 13,94
Área excluída ** 434.565.157 4.345.652 86,06 Área excluída * 434.565.157 4.345.652 86,06
Total – AM.L 504.971.734 5.049.717 100 TOTAL – AM.L 504.971.734 5.049.717 100,00
Nota: Classes P e R, consideradas aptas para a palma de óleo, totalizam: no nível de manejo B: 29.655.133 ha = 29.655
km2 = 5,87% da Amazônia; no nível de manejo C: 28.933.380 ha = 28.933 km2 = 5,72% da Amazônia Legal
* Total da área do zoneamento após os recortes: 704.066 km² = aproximadamente 13,94% da Amazônia Legal
** Reservas legais, áreas com floresta nativa
AM.L = Amazônia Legal

De posse dos mapas e das tabelas de 2 - A área da Amazônia Legal definida


áreas das classes do zoneamento, uma pelo IBGE é maior que a área considerada
constatação merece ser destacada e ana- como Amazônia Legal pelo INPE.
lisada para melhor entendimento dos re-
sultados. Assim, chama a atenção o fato
de que a área total informada, referente
à soma das classes Preferencial, Regular,
Marginal e Inapta, é superior à área des-
matada oficial das 75 cenas do PRODES,
Conclusão
mesmo com as exclusões das terras indí-
Ao contrário do que se poderia espe-
genas e das unidades de conservação.
rar, não foi constatada, neste estudo, dife-
Isso ocorre por dois motivos básicos:
rença significativa entre os resultados do
1 - As cenas usadas pelo INPE não zoneamento para terras cultivadas sob o
recobrem toda a região e, portanto, não nível de manejo B, menos tecnificado, e
informam sobre toda a área efetivamen- sob o nível de manejo C, mais tecnificado
te desmatada. Há áreas historicamente e com emprego de alta tecnologia.
desmatadas que não figuram nos cálcu-
Os fatores limitantes do solo mais
los por não terem cenas trabalhadas pelo
frequentemente responsáveis pelas dife-
PRODES/INPE. É o caso de grande área
renças entre a aptidão das terras avaliada
no nordeste paraense – zona Bragantina
para esses dois níveis de manejo são a
– a qual foi considerada no zoneamento
deficiência de fertilidade, a suscetibilida-
como desmatada, apesar de não ser infor-
de à erosão e os impedimentos à meca-
mada pelo PRODES.
nização.

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 59
Essa lógica normalmente ocorre na da exposição do solo à erosão e, assim, a
avaliação da aptidão das terras para lavou- vantagem comparativa do nível C, ao con-
ras em geral. No entanto, no caso particu- tar com técnicas de alta eficiência para
lar da palma de óleo, a correção química prevenir e controlar a erosão, não tem efe-
do solo, sobretudo da acidez e da fertilida- tividade no caso dessa cultura.
de, não exerce grande influência em vista
Os resultados do zoneamento agroe-
de uma menor exigência desta cultura por
cológico para a cultura da palma de óleo
nutrientes para o seu desenvolvimento.
nas áreas desmatadas da região Amazô-
Por outro lado, as quantidades de fertili-
nica Legal ensejam relevantes impactos
zantes a serem aplicadas e, consequente-
para o desenvolvimento na região, de for-
mente, os custos financeiros, aumentam
ma diferenciada.
significativamente quando a meta de pro-
dutividade é aumentada.
A palma de óleo em produção é uma Impacto Ambiental
cultura altamente exportadora de mine-
Como cultura perene, a palma de óleo
rais, e o que se retira do solo com a produ-
tem potencial para:
ção deve ser reposto para a safra seguin-
te. Contudo, no caso deste zoneamento, – gerar renda com produção sustenta-
a meta anual de produtividade está sendo da e ecologicamente limpa;
considerada na faixa de 3 a 3,5 toneladas – protege o solo contra o efeito da ero-
por hectare. Esse nível de produtividade são; previne a degradação das terras;
não demanda quantidades de adubo que
não estejam previstas nas condições do – oferece alta taxa de sequestro de
nível de manejo B. Portanto, longe ainda carbono;
de esgotar o potencial do nível de mane- – constitui opção de reflorestamento
jo C, que permite a aplicação de grandes para as áreas desmatadas ocupadas
quantidades de fertilizantes para a cultura com terras degradadas ou com grau
da palma de óleo atingir a produtividade avançado de esgotamento.
mais alta.
Da mesma forma, o impedimento à
mecanização, fator de fundamental im- Impacto Econômico-Social
portância para o nível de manejo C, não – o ZAE-Dendê oferece ao produtor
resulta em grande diferença em relação rural uma alternativa econômica sus-
ao nível de manejo B, que, ao contrário, tentável para o gerenciamento de seu
por conceituação geral, não se baseia na imóvel e diminui a pressão sobre a
mecanização intensa, em vista da baixa floresta;
dependência da cultura da palma de óleo
à mecanização plena. – a implantação da cultura da palma de
óleo propicia uma ocupação da mão
No caso da suscetibilidade à erosão, o de obra local de forma permanente,
raciocínio é similar, não havendo grande hoje basicamente itinerante;
diferença nos resultados da classificação
do nível de Manejo B para o nível de ma- – o zoneamento é um mecanismo de
nejo C, porque a palma de óleo, como acesso ao crédito agrícola e um ins-
cultura perene que oferece grande prote- trumento de referência do Proagro
ção ao solo, não concorre para o aumento (seguro agrícola);

60 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


– o zoneamento agroecológico cria O ZAE é um “guarda-chuva” para proje-
cenários que incluem outras culturas tos complementares por abrir perspectivas
importantes para a região de forma para a execução de zoneamentos em ní-
consorciada e a produção de biodie- veis mais detalhados e para a implementa-
sel a partir de culturas perenes com ção de planos de ordenamento territorial.
alto teor de óleo, notadamente as
Outro aspecto importante é o entendi-
palmáceas;
mento do nível dos estudos básicos usa-
– o caráter de longo prazo da ativida- dos no zoneamento, cuja escala da infor-
de fixa o agricultor e a sua família na mação subentende que um determinado
área de produção e propicia investi- polígono (unidade) no mapa pode incluir
mentos, representando inserção so- associações de solos diferentes com apti-
cial na região; dão melhor ou pior do que a indicada. Por
esse fato, é recomendado como essencial
– é uma atividade produtiva sustentável
a realização de estudos complementares
com reais perspectivas para a agricul-
mais detalhados para separar os diferen-
tura em grande e pequena escala,
tes componentes da unidade de mapea-
garantindo a inserção do agricultor
mento no momento do planejamento e
em cooperativas e oferecendo ren-
da implantação de projetos de produção.
da ao longo do ano durante o ciclo
da cultura (estabilidade econômica e Os resultados do zoneamento agro-
otimização da mão de obra); ecológico da palma de óleo nas áreas
desmatadas da Amazônia Legal estão dis-
– pelo seu caráter multidisciplinar e parti-
ponibilizados no GeoPortal da Embrapa
cipativo, o zoneamento abre um vasto
(http://mapoteca.cnps.embrapa.br).
campo para a geração de tecnologia.
Considerações sobre as características
Do ponto de vista metodológico, a
gerais e as condições agrícolas das classes
primeira oportunidade já alcançada foi o
de solo, em primeiro nível categórico, e
desenvolvimento de uma metodologia
suas consequencias para o enquadramen-
inovadora para a execução de ZAE, base-
to nas diferentes classes de zoneamento
ada na interpretação com procedimentos
para a cultura da Palma de Óleo são apre-
informatizados da base de dados ambien-
sentadas nas Tabelas 5a, 5b, 5c e 5d, a
tais através de regras de conhecimento da
seguir.
cultura da palma de óleo e a possibilidade
da incorporação de informação socioeco-
nômica e ecológica – vulnerabilidade e
riqueza de biodiversidade.

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 61
62
Tabela 5 – Considerações gerais sobre a aptidão de classes de solo em primeiro nível categórico para a cultura da Palma de Óleo

|
Classe de Conceito geral Aptidão para a cultura do dendezeiro Recomendações e cuida-
Solo1 dos de uso agrícola
Argissolos Solos profundos que apresentam significativo gra- De modo geral, apresentam, ao lado dos Latossolos, Correção da fertilidade
diente textural, ou seja, aumento do teor de argila aptidão boa para o cultivo da palma de óleo. No caso de e adoção de práticas
com a profundidade – comparando horizontes ocorrência de petroplintita em grande quantidade, como conservacionistas mais
superficial e subsuperficial – o que acarreta redu- foi registrada em pequenas áreas da Região Norte, há difi- intensivas, principalmente
ção de permeabilidade em profundidade, maior culdade do trabalho de máquinas. A ocorrência de plintita em áreas com declive
escorrimento superficial, e, consequentemente, em parte desses solos denota restrição de drenagem, que mais acentuado.
maior suscetibilidade à erosão. pode reduzir o desenvolvimento radicular da cultura.
Cambissolos Solos pouco desenvolvidos, fracamente estrutura- Em virtude da grande diversidade de situações em que
dos, geralmente pouco profundos, que ocorrem ocorrem e das características que apresentam, a adequa-
com mais frequência em terrenos inclinados, o que ção desses solos ao cultivo da Palma de Óleo deve ser
concorre para caracterizar uma alta suscetibilidade avaliada com base em informações dispostas em níveis –
à erosão e impedimento à franca mecanização. De mais baixos da classificação taxonômica.
maneira menos frequente, podem apresentar boa
fertilidade.
Chernossolos Solos férteis com horizonte superficial escuro, Têm restrições ao cultivo da palma de óleo devido à pouca
ricos em matéria orgânica. Em sua constituição espessura (profundidade efetiva), que pode ser exígua e
predominam argilas de alta atividade inadequada. O predomínio de argila-de-atividade-alta2 con-
corre para a expressão de impedimento à mecanização, o –
que pode ser ainda acentuado pela sua ocorrência em áre-
as declivosas, comuns em algumas áreas do zoneamento,
notadamente no estado do Acre.

Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


Tabela 5 – (continuação)

Classe de Conceito geral Aptidão para a cultura do dendezeiro Recomendações e cuida-


Solo1 dos de uso agrícola
Espodossolos Solos arenosos com a presença de camada compac- Inaptos em função da umidade excessiva, textura de areia
ta rica em ferro e/ou carbono orgânico em profundi- franca solta na superfície e camada impeditiva ao desen-
dade. Ocorrem com frequência na Região Norte do volvimento radicular em profundidade variável.

país, ocupando áreas de nascentes recobertas pela
vegetação de campinarana. São comuns também
nas regiões litorâneas.
Gleissolos Solos acinzentados presentes em baixadas e Inaptos em razão da umidade excessiva. Em função da sua
várzeas. São mal drenados e facilmente enchar- posição na paisagem, as medidas de manejo necessárias –
cáveis. para seu aproveitamento não são viáveis economicamente.
Latossolos Solos muito profundos, bem drenados, o que é São os solos de melhor aptidão para a cultura da palma Correção da acidez e da
denotado pelo predomínio de cores vivas, averme- de óleo na Região Norte do país, onde ocorre a maior fertilidade, bem como
lhadas ou amareladas. Apresentam alta capacida- área climaticamente apta para a palma de óleo. A sua adoção de práticas conser-
de de infiltração e rápida redistribuição interna de aptidão pode, no entanto, ser reduzida pela ocorrência vacionistas em áreas mais
água, mesmo quando constituídos de altos teores eventual de petroplintita (canga fragmentada) em pontos declivosas.
de argila, o que é condicionado pelo elevado grau específicos da região, o que concorre para a expressão de
de desenvolvimento de suas unidades estruturais impedimento à mecanização.
(microagregação). Normalmente apresentam
baixa fertilidade natural.
Luvissolos Solos bem desenvolvidos e bem drenados com Uma vez que os solos em si não apresentam problemas Adoção de práticas
significativo gradiente textural, argila de atividade significativos ao cultivo da palma de óleo, sua aptidão conservacionistas, mais
alta e alta saturação por bases que lhes conferem fica na dependência do relevo em que ocorrem. intensivas nas áreas mais

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
alta fertilidade natural. declivosas, e adequação
do tipo de tração a ser

|
utilizada no seu manejo.

63
Tabela 5 – (continuação)

64
Classe de Conceito geral Aptidão para a cultura do dendezeiro Recomendações e cuida-

|
Solo1 dos de uso agrícola
Neossolos Solos pouco desenvolvidos encontrados em terre- Mesmo quando férteis, são considerados inaptos para a
Litólicos nos muito pedregosos e rochosos. São invariavel- cultura da palma de óleo em razão da exígua profundida-

mente rasos e normalmente declivosos. de efetiva, da grande suscetibilidade à erosão e de sérios
impedimentos à mecanização.
Neossolos Solos formados por material transportado pelos Inaptos para o dendezeiro em razão da umidade excessiva
Flúvicos rios e depositado às suas margens (aluviões). Ge- e do elevado risco de inundações.
ralmente são férteis e aptos para culturas de ciclo

curto; porém, ocorrem em áreas consideradas de
preservação permanente (proteção da mata ciliar)
e são sujeitos à inundação.
Neossolos Solos arenosos (menos de 15% de argila) com alta Devido à sua inerente baixa retenção de água, sua utilização Correção de fertilidade,
Quartzarê- permeabilidade e baixa retenção de água. para a cultura da palma de óleo é especialmente dependen- práticas conservacionistas
nicos te do regime climático da região. Em áreas com pluviosidade que enfoquem o aumento
adequada, apresentam aptidão regular se constituídos de da retenção de água, além
areia fina. Em áreas com baixa precipitação pluviométrica da prevenção dos proces-
ou com a existência de período seco significativo (3 meses), sos erosivos.
sua aptidão é significativamente reduzida. Já o Neossolo
Quartzarênico Hidromórfico é inapto pelas mesmas razões
citadas para os Gleissolos e demais solos hidromórficos.
Nitossolos Solos bem estruturados e férteis, de pequena Apresentam aptidão alta (preferencial) para a cultura da Adoção de práticas de
ocorrência relativa na Região Norte. Assim como palma de óleo. conservação do solo mais
os Argissolos são originados pela eluviação de intensivas quanto mais

Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


argila, embora, ao contrário daqueles, não apre- declivoso for o terreno.
sentem gradiente textural significativo.
Organossolos Solos com alto teor de matéria orgânica encontra- Inaptos para a cultura da palma de óleo.
dos nas partes mais úmidas das várzeas. Grande

parte ocorre em áreas consideradas de preserva-
ção permanente (proteção da vegetação nativa).
Tabela 5 – (continuação)

Classe de Conceito geral Aptidão para a cultura do dendezeiro Recomendações e cui-


Solo1 dados de uso agrícola
Planossolos Solos com marcante gradiente textural entre os A avaliação da aptidão destes solos para o cultivo da palma
horizontes subsuperficiais e superficiais. Ocorrem de óleo requer o conhecimento de características especifica-
com mais frequência em áreas planas e em baixadas. das em níveis categóricos mais baixos, que permitem que se-
Apresentam grande variabilidade com relação à drena- jam verificadas a profundidade efetiva e a drenagem interna.

gem interna, podendo também apresentar horizontes Não são esperadas limitações com relação ao relevo, já que
endurecidos em profundidade, que reduzem sua estes solos são característicos de relevo plano ou levemente
profundidade efetiva. Têm fertilidade natural variável e ondulado.
podem, inclusive, conter elementos em níveis tóxicos.
Plintossolos Solos hidromórficos ou não, caracterizados por Os Plintossolos hidromórficos são inaptos para a palma de
expressiva plintização, ou seja, ocorrência de óleo em razão da umidade excessiva, enquanto os Plintossolos
concentrações individualizadas de óxidos de ferro Pétricos concrecionários, embora não apresentem esse pro-
originadas por segregação em função de alter- blema, oferecem certa limitação com relação ao impedimento
nância de períodos de umedecimento e secagem à mecanização. Existem, no entanto, áreas de Plintossolos
da massa do solo, principalmente em resposta à Pétricos concrecionários na Região Norte do país que estão

oscilação do lençol freático. Os plintossolos pétricos sendo cultivados satisfatoriamente com a palma de óleo, não
na maioria das vezes não ocorrem em ambientes obstante a considerável restrição à mecanização. Para Plintos-
hidromórficos. solos que apresentam horizonte litoplíntico, é necessário verifi-
car a profundidade da ocorrência desse caráter e a adequação
da profundidade efetiva para o desenvolvimento radicular. Em
todos os casos, predomina a baixa fertilidade natural.
Vertissolos Solos cuja fração coloidal mineral é constituída basi- Inaptos para o dendê em virtude de forte limitação com rela-
camente de argila de atividade alta, o que acarreta ção aos impedimentos à mecanização e ao desenvolvimento
grande alternância de movimentação da massa do radicular. –

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal
solo por contração-expansão, em função da alter-
nância de condições de secagem e umedecimento.

|
1
Classes de solos em primeiro nível categórico (Ordem) conforme Embrapa Solos (2006).
2
Argila expansível torna o solo impermeável e escorregadio quando muito umedecido, e fendilhado quando muito ressecado.

65
RAMALHO FILHO, A.; MOTTA, P. E. F.; NAI-
ME, U. J.; GONÇALVES, A. O.; BARROS, A. H.
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ESSEN, M. E. C. Zoneamento agroecológico agroecológico do dendezeiro para as áreas
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5. Lavras, 2008. Anais... Lavras: UFLA, 2008. – procedimentos metodológicos e resulta-
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66 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


PARTE 1
Capítulo 6

Salvaguardas do Zoneamento
Agroecológico para a Palma de Óleo
na Amazônia Legal e Priorização de
Áreas
Ana Paula Dias Turetta e Antonio Ramalho Filho

A priorização na implantação de proje- – áreas desmatadas até 2007 (PRODES-


tos de desenvolvimento para produção de INPE);
óleo de palma de óleo deve se basear na
– áreas consolidadas e a consolidar
conjugação dos resultados do zoneamen-
(ZEE).
to agroecológico com a informação sobre
o contexto socioeconômico no qual o A informação do zoneamento agro-
agricultor opera e os aspectos ambientais ecológico (ZAE) da cultura da palma de
intrínsecos, sobretudo quanto à riqueza óleo também pode ter seu uso balizado
da biodiversidade. por um recorte mais amplo do que seria
o das áreas consolidadas e a consolidar
indicadas para desenvolvimento pelo Zo-
neamento Ecológico-econômico da Ama-
zônia Legal (ZEE-MMA – http://www.mma.
Aspectos ambientais gov.br).
A priorização de áreas para implemen-
O zoneamento considerou uma va- tação de projetos de plantio de palma de
riedade de critérios do ponto de vista óleo a partir do zoneamento também po-
ambiental que se constituem em salva- deria ser subsidiariamente balizada por
guardas desde a definição da área líquida restrições ambientais mais específicas,
do projeto a ser avaliada até a implemen- além de questões ligadas à aptidão pedo-
tação de projetos de plantio da palma de climática, considerando a ocorrência de
óleo, ou dendezeiro. áreas com extrema riqueza em biodiversi-
dade com base em estudo realizado pelo
A área do projeto foi definida com base
Ministério do Meio Ambiente (BRASIL,
em alguns recortes que consistem na sub-
2002). Esse estudo indica que, no bioma
tração de áreas de natureza diversa:
amazônico, 247 áreas foram classificadas
– reservas naturais e áreas indígenas como de extrema importância biológica,
(MMA/IBAMA, FUNAI); as quais podem estar situadas tanto em
áreas ocupadas por florestas nativas quan-
– áreas sem aptidão climática ou com alto
to em áreas já desmatadas.
risco de degradação (vulnerabilidade);

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 67
• distância do mercado – pequena,
média, grande;
Aspectos • intensidade de mão de obra – baixa,
socioeconômicos média, alta;
• intensidade de capital – baixa, mé-
Assim como nos aspectos ambientais, dia, alta;
a priorização na implantação de projetos
A combinação desses atributos de-
de desenvolvimento para produção de
fine o tipo de sistema de produção e,
óleo de palma deve se basear na conjuga-
consequentemente, serve de base para a
ção dos resultados do zoneamento agro-
formulação de recomendações sobre prá-
ecológico com um conjunto de atributos
ticas de manejo da terra, se compatíveis
do sistema integrado de produção que de-
com o nível de manejo B ou C adotados
finem o contexto socioeconômico no qual
no zoneamento agroecológico da palma
o agricultor opera. Essa definição pode ser
de óleo.
feita com base em algumas ações e as-
pectos de natureza socioeconômica. b) Infraestrutura da área – estradas,
armazém, rede de esgoto, mananciais de
a) Caracterização e categorização, ba-
água potável.
seadas em análise socioeconômica, dos
principais sistemas integrados de produ- c) Facilidades para a formação de coo-
ção existentes (farming systems) na área perativas de produtores de óleo de palma.
onde será implantada a cultura da palma
de óleo. Essa análise socioeconômica
pressupõe o levantamento de diversas
variáveis que constituem os atributos dos
sistemas integrados de produção: Outras salvaguardas
• uso atual da área a ser cultivada com a
cultura da palma de óleo: sistemas de
de natureza ambiental
cultivos – monocultura, culturas con- e econômica
sorciadas, integração de tipos de uso;
• tamanho do imóvel – pequeno, médio, Recorte da área através da subtração
grande (em função do módulo local); prévia de tipos de solo considerados não
indicados ao cultivo da palma de óleo para
• tipo de tração – animal, mecânica, produção econômica devido a restrições
combinada; de natureza física ou química e ambiental,
• ocupação da terra – proprietário, ar- como:
rendatário/posseiro, condomínio; – gleissolos (solos hidromórficos indis-
• insumos materiais – baixo, médio, alto; criminados);
• técnicas para manejo do solo – rudi- – neossolos litólicos e regossólicos
mentares, melhoradas, avançadas; (rasos);
• nível tecnológico – baixo, médio, alto; – neossolos quartzarênicos (areias quart-
zosas de granulação grosseira, mari-
• orientação de mercado – subsistên- nhas e dunas);
cia, comercial, combinada;
– plintossolos;

68 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


– planossolos halomórficos (sódicos
ou salinos);
– manguezais; Referências
– gleissolos tiomórficos (solos ácido- Bibliográficas
sulfatados);
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Se-
– neossolos flúvicos (solos ribeirinhos
cretaria de Biodiversidade e Florestas. Ava-
originados de depósitos aluvionares
liação e identificação de áreas e ações
de natureza diversa);
prioritárias para a conservação, utilização
– organossolos (turfosos); sustentável e repartição dos benefícios
– vertissolos solódicos; da biodiversidade dos biomas brasileiros.
Brasília: MMA, 2002. 404 p. Disponível em:
– afloramentos rochosos. <http:www.mma.gov.br>. Acesso em 10 jan.
Esse procedimento propicia reduzir o 2010.
volume de trabalho na avaliação da apti-
dão das terras ao descartar, em primeira
análise, um grupo de classes de solo e
formas de terreno considerados inaptos
para a cultura da palma de óleo de acor-
do com os critérios e salvaguardas desse
zoneamento.

Zoneamento Agroecológico para a Cultura da Palma de Óleo (dendezeiro) nas Áreas Desmatadas da Amazônia Legal | 69
70 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2

Produção e Manejo
Sustentáveis para a Cultura
da Palma de Óleo
na Amazônia

Editores Técnicos

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 71


72 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 1

Planejamento conservacionista e
procedimentos para a instalação de
palmares na Amazônia
Pedro Luiz de Freitas, Antônio Ramalho Filho, Paulo
Emílio Ferreira da Motta e Wenceslau Geraldes Teixeira

Introdução voura-pecuária, floresta-pecuária ou


lavoura-pecuária-floresta;
O uso de uma área para produção – intensidade de capital e conhecimen-
de alimentos, fibras ou biocombustíveis to técnico do agricultor na definição
deve ser precedido do conhecimento do do nível tecnológico a ser adotado e
contexto socioeconômico e ambiental. O das práticas inerentes ao manejo do
conhecimento socioeconômico fornece solo, buscando a sustentabilidade da
indicativos importantes de natureza estra- atividade.
tégica para o planejamento da cultura a O conhecimento ambiental oferece
ser introduzida, tais como: indicadores baseados no risco climático e
– infraestrutura de escoamento, arma- na aptidão agrícola das terras, essenciais
zenamento e beneficiamento da pro- na definição do tipo de uso da terra (cul-
dução; turas anuais ou perenes, pastagem, reflo-
restamento ou preservação da fauna e da
– distância do mercado consumidor
flora) e do nível tecnológico a serem ado-
como elemento decisivo do tipo de
tados. Esses elementos, em conformidade
produto a ser obtido em função de
com a legislação, permitem a elaboração
sua perecibilidade;
do Zoneamento Agroecológico (ZAE) da
– orientação de mercado, consideran- cultura a ser implantada ou do produto a
do ser comercial, de subsistência ou ser obtido na área. O zoneamento é, por-
a combinação de ambos; tanto, uma ferramenta fundamental para
o planejamento da atividade a ser implan-
– estrutura ou distribuição fundiária
tada de forma sustentável, sendo o primei-
e disponibilidade de mão de obra
ro passo a ser adotado no plano conserva-
como indicativos na implantação
cionista de uso da terra e de manejo do
de agricultura de pequena ou larga
solo e da água.
escala com culturas temporárias ou
perenes, pecuária ou um sistema de Na Amazônia, são encontradas condi-
produção baseado em integração la- ções climáticas favoráveis para o cultivo da

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 73


palma de óleo na maior parte das áreas der a essa demanda e fornecer a devida
consideradas consolidadas ou a consolidar assistência técnica.
pelo Zoneamento Ecológico-Econômico –
A formulação e a implantação de um
ZEE (BRASIL, 2001). O ZAE é complemen-
plano conservacionista em toda a área de
tar ao ZEE e tem como componentes bási-
interesse ocorrem paralelamente à sepa-
cos a aptidão agrícola das terras, a aptidão
ração de glebas para a instalação de pal-
climática e o risco climático, inferidos pelo
mares e, quando for o caso, das unidades
exame das limitações ao uso agrícola dos
agroindustriais (usinas de processamento
solos e das características do clima, bem
de óleo de palma). Nessas glebas, além
como dos demais componentes do meio.
do planejamento específico de implanta-
O uso das terras em conformidade com a
ção, são realizados os relatos de oportu-
aptidão agrícola para cada cultura é pas-
nidades e riscos ambientais fundamentais
so essencial no sentido da sustentabilida-
para a tomada de decisão sobre o manejo
de do sistema. Os elementos, critérios e
do solo e da água e a necessária diversifi-
procedimentos para avaliação da aptidão
cação das atividades agrícolas, de forma a
agrícola das terras e do clima para a cultu-
garantir a agrobiodiversidade.
ra de palma de óleo são encontrados na
Parte 1 deste livro. Nos próximos capítulos, estão descri-
tas as recomendações em relação à pro-
Ao se planejar a introdução de palma-
dução e ao manejo sustentáveis da cultura
res em uma determinada área, a boa prá-
de palma de óleo. Neste capítulo, serão
tica consiste em averiguar a existência de
descritas as diferentes fases do planeja-
um zoneamento, sua escala e suas finali-
mento conservacionista de áreas aptas à
dades. Caso exista, é necessário saber se
cultura de palma de óleo, assim como os
a escala ou nível de abstração do estudo
procedimentos para a implantação de pal-
satisfaz os pré-requisitos do planejamento
mares na Amazônia.
da cultura ou se é necessário proceder a
um detalhamento complementar.
Uma vez definida a área de abrangên-
cia ou de interesse, que pode ser imóvel
rural, microbacia hidrográfica, município,
assentamento, território ou microrregião
Planejamento
encontrados dentro das zonas considera- Conservacionista
das aptas para a cultura de palma de óleo
pelo ZAE, é iniciada a formulação do plano O planejamento conservacionista tem
conservacionista de uso da terra e manejo como objetivo a racionalização do uso e do
do solo e da água. Como ferramenta es- manejo dos recursos naturais – solo, água
sencial para viabilizar agronômica, social, e biodiversidade –, reconhecendo sua he-
econômica e ecologicamente a utilização terogeneidade, fragilidade e capacidade de
da área de interesse, o plano conservacio- resiliência. A base do processo é a aptidão
nista define as glebas, separadas segun- agrícola das terras e a aptidão climática, que
do critérios pré-estabelecidos, e explicita definem o uso potencial de mínimo impac-
o uso e o manejo (práticas culturais) a to ambiental negativo. O confronto do uso
ser adotado em cada gleba. Consultores potencial com o uso atual define a adequa-
técnicos, órgãos de extensão rural e as- bilidade de uso da terra e a melhor opção
sistência técnica, públicos ou privados, e de manejo a ser implementada em cada
empresas especializadas têm como aten- gleba de maneira integrada.

74 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


O plano conservacionista de uso da Os cuidados com que o solo e a água
terra e de manejo do solo e da água cons- das diferentes glebas devem ser maneja-
titui um documento no qual são explici- dos são definidos no plano conservacio-
tadas as práticas mecânicas e vegetativas nista. Dessa forma, estão incluídos, não
que possibilitam o uso da terra e a implan- só o plano de implantação das glebas des-
tação de culturas e pastagens com o míni- tinadas à cultura de palma de óleo e ou-
mo de degradação, evitando a erosão e a tras culturas consorciadas, como também
compactação do solo, além da poluição e o uso e o manejo a serem adotados nas
do assoreamento de mananciais hídricos, áreas adjacentes, determinando as glebas
e garantindo melhor retorno em cada ati- mais apropriadas para culturas anuais e
vidade proposta. perenes, pastagens, reflorestamento, pre-
servação da fauna e da flora, áreas de pro-
A formulação do plano conservacio-
teção permanente (APPs), reservas legais,
nista requer o conhecimento da realidade
estradas, construções, etc. (Figura 1)
socioeconômica e ambiental da área de
interesse, com ênfase no tipo de empre- O plano conservacionista também
endimento: agroempresarial ou agricultu- estabelece com detalhes os sistemas de
ra familiar em diferentes níveis. uso da terra e as técnicas e processos de

Figura 1. Adequação de atividades em uma área de agricultura familiar através do planejamento conservacio-
nista em Benjamin Constant, AM (Foto: Pedro Luiz de Freitas)

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 75


manejo do solo, da água e das culturas. A a. Cartografia – a existência de uma
efetividade de sistemas conservacionistas base cartográfica compatível com
de manejo do solo e da água (como o Sis- o nível de detalhamento do plane-
tema Plantio Direto, que tem sido adotado jamento proposto é essencial. Um
em praticamente todas as culturas anuais levantamento planialtimétrico deta-
e perenes), associados ao manejo agros- lhado, acompanhado de fotos aére-
silvipastoril adequado e sustentável (siste- as, imagens de satélite e/ou radar de
mas agroflorestais, recuperação e manejo boa resolução e esquemas de campo
de pastagens, integração lavoura-pecuá- constituem a base necessária para o
ria-floresta, reflorestamento de áreas de planejamento conservacionista.
aptidão agrícola restrita, etc.), tem sido
demonstrada nas inúmeras experiências
ocorridas nas últimas três décadas, em es- b. Estudos pedoambientais – o reconhe-
pecial nos estados do Sul do País (BASSI, cimento e a identificação da variabili-
1998; BRAGAGNOLO et al., 1997, LANDERS dade das terras relativas à gênese e
et al., 2001). Essas experiências mostram à natureza dos solos e suas relações
que a adoção de tecnologias e práticas com o ambiente, assim como aquelas
puramente mecânicas, visando à conten- relativas ao seu comportamento sob
ção da água não infiltrada que ocasiona o diferentes usos, permitem a caracte-
escorrimento superficial ou deflúvio, não rização da área de interesse e a sua
pode ser considerada como uma etapa separação em glebas. As principais
independente dentro do processo de pro- características dos solos a serem con-
dução agrícola (FREITAS, 2005). sideradas são: granulometria (teor de
argila, silte e areia), estrutura, poro-
O norteador do planejamento conser-
sidade, capacidade de retenção de
vacionista é o enfoque sistêmico, conside-
água, cor, teor de matéria orgânica,
rando a bacia hidrográfica como unidade
capacidade de infiltração de água,
de planejamento para ações que integram
compactação, fertilidade natural e
tecnologias e práticas vegetativas e mecâ-
atual (pH, nutrientes disponíveis e
nicas, sendo fundamental conhecer a lo-
trocáveis, capacidade de troca de
calização da área de interesse em relação
cátions, saturação por bases, acidez
à bacia hidrográfica (AGÊNCIA NACIONAL
trocável, toxicidade por alumínio,
DAS ÁGUAS, 2010).
salinidade, etc.), forma do relevo e
Estão detalhados, a seguir, os princi- profundidade efetiva do solo. Outras
pais componentes do planejamento con- podem ser agregadas em função do
servacionista. uso, como o estádio de degradação,
erosão, drenagem, etc. Característi-
cas do terreno devem ser considera-
1. Caracterização da área de das neste processo, tais como relevo
interesse (forma, declividade, comprimento de
rampa, posição, etc.), cobertura vege-
O ponto de partida é a análise detalha-
tal (natural e atual), hidrologia (cursos
da dos aspectos físicos relativos à área de
d’água, drenagem natural, profundi-
interesse no contexto da paisagem. Para
dade do lençol freático), rochosidade,
isso, é necessário o levantamento dos re-
pedregosidade e grau de erosão.
cursos, basicamente clima e solo, confor-
me descritos a seguir. Informações sobre os atributos mor-
fológicos e a caracterização de pa-

76 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


râmetros químicos e físicos relacio- servação como Áreas de Preservação
nados aos critérios de distinção são Permanente (APPs) e reservas legais,
obtidas pela observação de perfis considerando a legislação existente.
de solo em pontos considerados re-
e. Uso atual da terra – identifica o uso
presentativos das glebas (EMBRAPA,
atual de cada gleba como agrícola
1995; SANTOS et al, 2005; IBGE, 2007).
(culturas anuais ou perenes), pecu-
As glebas identificadas podem ser de-
ária (pastos naturais ou plantados),
signadas conforme a classe de solo,
florestas plantadas, vegetação natu-
tendo como base o Sistema Brasileiro
ral, mananciais hídricos, construções,
de Classificação de Solos (EMBRAPA,
estradas, etc.
2006). Em seguida, são levantadas
as características da paisagem con- f. Vulnerabilidade ambiental – o con-
sideradas relevantes, como relevo, fronto entre o uso atual e o uso po-
cobertura vegetal, estádio de degra- tencial define a adequabilidade do
dação, áreas de preservação, etc. O uso das terras e, portanto, a vulne-
ZAE da cultura de palma de óleo na rabilidade ambiental de cada gleba
Amazônia Legal (Parte 1) contém in- identificada, permitindo planejar as
formações que podem ser comple- ações a serem executadas para ga-
mentadas por outros levantamentos rantir o melhor aproveitamento com
existentes a partir de consultas ao o menor risco ambiental.
GEOPortal, disponibilizado pela Em-
Outros aspectos pedoambientais a se-
brapa Solos no endereço eletrônico
rem considerados são:
http://mapoteca.cnps.embrapa.br/,
ou ao portal do IBGE, no endereço • Clima – risco climático, eventos e
http://www.ibge.gov.br, entre outros. distribuição sazonal de chuvas, mé-
dias de temperatura e de umidade
c. Aptidão agrícola das terras (uso po-
relativa, direção e intensidade dos
tencial) – a partir das características
ventos predominantes e fenômenos
de cada gleba identificada e mape-
climatológicos relevantes (chuvas in-
ada, é possível avaliar a aptidão das
tensas, veranicos, granizo, etc.).
terras tendo como base, essencial-
mente, cinco fatores: relevo, água • Hidrologia – recursos hídricos, dispo-
(excesso ou deficiência), fertilidade nibilidade e qualidade da água super-
(disponibilidade de nutrientes ou to- ficial e subterrânea, áreas de recarga
xicidade), possibilidade de mecaniza- de aquíferos, etc.
ção e suscetibilidade à erosão. Para • Vegetação – remanescentes de ve-
isso, é preconizado o uso das regras getação natural, espacialização de
descritas no Sistema de Avaliação da espécies vegetais em conformidade
Aptidão Agrícola das Terras (RAMA- com as características pedoambien-
LHO FILHO; BEEK, 1995). Esse siste- tais, etc.
ma permite classificar as glebas com
potencial para a implantação de cul- • Relevo – constitui um importante fa-
turas anuais ou perenes, pastagem, tor a ser considerado, principalmente
silvicultura ou preservação da biodi- nas regiões com chuvas altamente
versidade. erosivas, como em algumas partes
da Amazônia. Além de favorecer o
d. Áreas de preservação – identificação processo erosivo, a excessiva decli-
das glebas a serem destinadas à pre- vidade das pendentes também au-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 77


menta os custos e reduz a eficiência à promoção do acúmulo de água no
do uso de máquinas agrícolas. solo localmente; e racionalizar o tra-
çado de estradas, carreadores, canais
• Infraestrutura – inventário das cons-
escoadouros, bacias de captação de
truções existentes (galpões, terreiros,
água de estradas e construções ru-
casas, escolas, etc.), do sistema de
rais, terraços, cordões em nível, plan-
captação de água para uso domés-
tio e curvas de nível, mulching verti-
tico, das estruturas físicas e de má-
cal, entre outros.
quinas e equipamentos disponíveis
para implantação e manutenção das • práticas vegetativas utilizadas para a
culturas propostas. manutenção da cobertura viva e/ou
morta do solo, visando a sua prote-
O produto final da caracterização da
ção contra as diferentes formas de
área de interesse é a sua divisão em glebas
erosão, incluindo florestamento e
e a indicação do uso mais apropriado agro-
reflorestamento (espécies nativas e/
nomicamente para cada gleba, com espe-
ou exóticas), plantas de cobertura
cial atenção àquelas onde a implantação
do solo, culturas em faixas, cordões
de palmares é mais adequada. Em segui-
de vegetação permanente, quebra-
da, passa-se ao processo de decisão quan-
vento, capina alternada, etc.
to ao uso a ser dado a cada gleba, visando
à diversificação de atividades agrícolas de A conservação do solo e da água em
forma a aumentar a agrobiodiversidade. glebas dedicadas à cultura de palma de
óleo com declives menores que 5% requer
apenas a utilização de práticas vegetativas
2. Definição de práticas de como plantas de cobertura e a deposição
manejo e de conservação do das folhas da poda nas entrelinhas para
solo e da água o controle da erosão hídrica (QUENCEZ,
1986). Em glebas com declividade entre 5
A análise das características das glebas
e 10%, práticas mecânicas, como a cons-
identificadas na área de interesse permite
trução de terraços em curva de nível, são
a indicação de práticas mecânicas e vege-
necessárias para o efetivo controle da ero-
tativas de conservação do solo e da água e
são, conservando o dispositivo de plantio
o estabelecimento de sistemas de manejo
em linha e a cobertura permanente do
visando à produção sustentável em cada
solo com leguminosas ou gramíneas (Fi-
gleba de maneira integrada. A meta final
gura 2). Em glebas com declives entre 10 e
é a busca de qualidade nas atividades pro-
20%, pode-se recorrer ao preparo manual
postas (conservação ambiental, eficiência
de terraços individuais de formato circular
de produção, impacto ambiental, qualida-
com diâmetro de 4 metros a fim de facili-
de de vida dos colaboradores, captura ou
tar a exploração futura das palmeiras (TAIL-
sequestro de carbono, adequação à legis-
LEZ, 1975; CALIMAN; KOCHKO, 1987).
lação ambiental, etc.).
Com a adoção de práticas conservacio-
Entre as práticas de manejo e conser-
nistas na implantação dos palmares, como
vação do solo e da água destacam-se:
a ausência de revolvimento do solo (restri-
• práticas mecânicas utilizadas para: ta às covas), e a implantação (anterior ao
reconstituir as condições do terreno plantio) de culturas de cobertura do solo,
através de estruturas, visando à dimi- preferencialmente gramíneas, as práticas
nuição do escorrimento superficial mecânicas recomendadas (terraceamen-
ou deflúvio e, consequentemente, to) podem ser adotadas em terrenos com

78 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


Figura 2. Palmar com cobertura permanente do solo de gramíneas (Foto: Pedro Luiz de Freitas)

declive acima de 10%. Terraços individuais – seleção de variedades de dendezeiro


podem ser adotados quando a declividade mais indicadas para a região e produ-
ultrapassar 20%. ção de mudas de qualidade;
– avaliação da fertilidade dos solos das
glebas selecionadas, com base em
3. Proposta de exploração
caracterização analítica para uma
sustentável
aplicação adequada de corretivos e
Define as ações a serem implemen- adubos;
tadas em toda a área de interesse da ma-
– revolvimento mínimo do solo, de pre-
neira mais integrada possível, com deta-
ferência com mobilização apenas nas
lhamento do uso (tipo de atividade) e das
linhas de plantio ou somente com a
espécies que ocuparão cada gleba. Isso
abertura de covas;
requer a tomada de decisão, em particular,
a respeito das glebas onde serão implanta- – plantio em nível e em quincôncio 1;
dos os palmares, ou da localização de usi-
– aproveitamento dos resíduos dispo-
nas de extração de óleo de palma, quando
níveis;
for o caso. A proposta deve incluir, notada-
mente, o aproveitamento de terras esgota- – manejo integrado de pragas, doen-
das, a recuperação de áreas degradadas, a ças e plantas daninhas;
manutenção de áreas de preservação da
– monitoramento frequente de indica-
flora e da fauna e a viabilidade de sistemas
dores econômicos e ambientais.
de irrigação em áreas com restrições climá-
ticas indicadas pelo ZAE. Informações complementares sobre a
implantação de palmares podem ser en-
A implantação das tarefas relacionadas
contradas em publicações nacionais MUL-
no plano conservacionista acontece em
paralelo com o planejamento específico
das áreas de implantação dos palmares, 1
Quincôncio: plantio na forma de triângulo equilátero, man-
tendo a distância entre plantas de 9m e uma distância entre
que inclui as etapas listadas a seguir, obje- linhas de 7,8m, dependendo do material genético (mais in-
to dos próximos capítulos: formações nos capítulos seguintes).

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 79


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80 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


PARTE 2
Capítulo 2

Aspectos gerais sobre a


fenologia da cultura da
palma de óleo
Antonio Agostinho Müller e Emeleocípio Botelho de Andrade

habitat natural é à margem dos grandes


1. Introdução rios do oeste e do centro da África. Foi in-
troduzido pela primeira vez no Brasil pelos
escravos, formando algumas populações
O estudo da cronologia dos eventos subespontâneas no Rio de Janeiro e na
biológicos recorrentes, considerando as Bahia.
forças bióticas e abióticas, as suas intera-
ções e as relações entre suas fases, é o que É uma monocotiledônea da família das
se denomina fenologia. Permite conhecer Arecaceae. Algumas classificações se ba-
o ciclo de crescimento das plantas e o seu seiam, principalmente, na transmissão he-
comportamento reprodutivo, importantes reditária de forma, coloração e composição
para a definição do melhor manejo para do fruto e forma das folhas (VANDERWEIEN,
as culturas. Exige, portanto, conhecer as- 1952). A mais importante é aquela que
pectos da morfologia da espécie e sua in- classifica as plantas de palma de óleo de
teração com os fatores ambientais. acordo com a espessura do endocarpo do
fruto. Podem ser de três tipos: Dura, com
endocarpo de espessura superior a 2 mm
e fibras dispersas no mesocarpo; Tenera,
com espessura do endocarpo menor que
2. Morfologia e 2 mm e com um anel de fibras ao seu re-
dor (origina-se do cruzamento entre Dura
crescimento da palma x Pisífera); Pisífera, que não possui endo-
de óleo carpo, tendo em seu lugar um fino anel de
fibras. É essencialmente nesses três tipos
de fruto que se baseia o melhoramento
O dendezeiro (Elaeis guineensis Jacq.),
genético para a produção de óleo conti-
atualmente conhecido como palma de
do no mesocarpo (polpa) do fruto. O tipo
óleo, tem seu provável centro de dispersão
Dura Deli ocorre na Sumatra (Indonésia) e
no golfo da Guiné, que é uma grande re-
se caracteriza por elevado teor (60-65%) de
entrância na costa ocidental africana. Seu
polpa por fruto (VALLEJO, 1978).

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 81


2.1. Semente tula é capaz de se desenvolver e absorver
os nutrientes do solo.
A semente da palma de óleo é uma
noz constituída de um endocarpo e uma A radícula emerge primeiro, seguido
amêndoa (endosperma). As sementes da plúmula. As primeiras raízes adventí-
apresentam normalmente três poros ger- cias são emitidas de um anel no ponto de
minativos correspondentes às três partes união do hipocótilo com a radícula. Daí
do ovário tricarpelar. O número de poros se originam as raízes secundárias, antes
funcionais depende do número de amên- da emissão da primeira folha. A radícula
doas desenvolvidas. Ovários anormais po- cresce até os seis meses, alcançando 15
dem originar quatro ou mais amêndoas. cm, quando começam a se desenvolver as
verdadeiras raízes primárias.
A amêndoa tem a forma ovoide e ocupa
toda a cavidade do endocarpo e é compos- A primeira folha verde emerge um mês
ta de um fino tegumento de cor amarelada, após a germinação, depois de ter produzi-
que se torna negro quando seco. O albú- do duas folhas pequenas a partir da plú-
men, de onde se extrai o óleo de amêndoa mula. Nos seis meses iniciais, é emitida,
ou de palmiste, é composto de uma cartila- geralmente, uma folha por mês. Após três
gem oleosa, em cujo centro há uma fenda. ou quatro meses, a base da plântula se
O embrião, medindo de 4 a 5 mm de com- converte em um bulbo do qual emergem
primento, é reto e fica embutido em uma as primeiras raízes primárias e secundá-
pequena cavidade do endosperma, sem ter rias. As raízes primárias crescem em um
comunicação com a fenda. O embrião fica ângulo de 45 graus em relação à vertical
abaixo do poro germinativo. e as secundárias emergem em todas as di-
reções. As primeiras folhas que se formam
no pré-viveiro são lanceoladas, depois se
formam as folhas bifurcadas e, posterior-
mente, as folhas penadas.

2.3. O ápice meristemático e o


crescimento do estipe
A palma de óleo tem somente um
Figura 1. Sementes de palma de óleo germinando ponto de crescimento aéreo: o meriste-
(Fonte: Embrapa Amazônia Ocidental)
ma apical. Este dá origem a estipe, folhas,
inflorescências e infrutescências. Esse
2.2. Plântula ponto de crescimento está localizado na
parte central do ápice do estipe, em uma
Segundo Surre e Ziller (1969), quando depressão côncava que mede de 10 a 12
ocorre a germinação, o embrião rompe o cm de diâmetro e 2,5 a 4,0 cm de profun-
tegumento e empurra para fora o tampão didade em palmeiras adultas. O ápice tem
de fibras que cobre o poro germinativo, a forma de um cone e está embutido na
formando um botão chamado hipocótilo. coroa da palmeira, formando um tecido
Deste emergem, rapidamente, tanto a ra- suave na base das folhas jovens que estão
dícula quanto a plúmula. A plântula se nu- sobrepostas umas às outras, desenvolven-
tre do endosperma até os quatro meses, do o que se denomina palmito. Dentro da
quando o haustório absorve completa- palmeira adulta geralmente se encontram
mente o endosperma. A partir daí, a plân- mais de 50 folhas em formação, desde o

82 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


centro da depressão até o ponto mais alto, Os estudos determinaram que desde
onde as folhas jovens ainda não sofreram a formação da gema ou primórdio foliar
o processo de desenvolvimento rápido até a morte da folha decorrem cerca de
para se tornarem a “flecha” (SURRE; ZIL- quatro anos (SURRE; ZILLER, 1969). Nesse
LER, 1969). período, a folha passa por três fases. A
fase juvenil, de 24 meses, compreende do
O estipe, em sua fase inicial de cresci-
primórdio até o período que antecede o
mento, se desenvolve por mais ou menos
alongamento rápido. Essa fase ocorre no
três anos no sentido transversal para for-
interior da palmeira (palmito). A segunda
mar o bulbo. É sobre ele que o estipe se
fase, de alongamento rápido, dura poucos
firma e cresce verticalmente. Nessa fase
dias e corresponde à passagem da folha
inicial, ele toma a forma de um cone inver-
de alguns centímetros para 5 ou 6 metros
tido (VALLEJO, 1978). As bases das folhas
de comprimento, até se transformar em
permanecem aderidas ao estipe por, pelo
“flecha”. Na fase adulta, com duração de
menos, 12 anos, em função de fatores cli-
20 meses, a folha abre os folíolos (desa-
máticos. O estipe cilíndrico, com diâmetro
brocha) e se torna funcional. A abertura
entre 20 e 75 cm, torna-se desnudo e com
dos folíolos é atrasada durante o período
cicatrizes após a decomposição e queda
seco, em que a planta mostra várias fle-
das bases foliares (CÔTE D’IVOIRE, 1980).
chas ao mesmo tempo, reduzindo a pro-
Em condições normais de cultivo, o dução de folhas. Uma distribuição unifor-
estipe cresce, em altura, entre 25 e 50 cm me de chuvas ao longo do ano aliada à
por ano, dependendo do material genéti- alta densidade de luz eleva a produção de
co utilizado. À medida que o estipe cresce folhas (VARGAS, 1978).
afastando os dois órgãos vitais da palma
Em média, uma planta de palma de
de óleo – bulbo e meristema apical –, os
óleo com 6 ou 7 anos produz cerca de 30
efeitos do clima sobre a produção são ate-
folhas ao ano, diminuindo gradualmente
nuados ou diluídos no tempo.
com a idade até atingir 20 folhas ao ano.
Os fatores genéticos e ambientais têm
importante papel na produção de folhas.
2.4. As folhas
As palmeiras tipo Dura produzem menos
O estipe de uma palmeira adulta é co- folhas que as tipo Tenera, as quais pro-
roado por um penacho de 30 a 50 folhas, duzem menos folhas que as tipo Pisífera.
cada uma medindo de 5 a 8 metros e pe- Ambientes apresentando períodos secos
sando de 5 a 8 quilos. A folha da palma de definidos condicionam menor produção
óleo é penada e composta por três partes: de folhas do que locais com precipitação
pecíolo, ráquis e folíolos. O pecíolo fica pluviométrica mais intensa e uniforme.
aderido ao estipe, mede 1,5 m de compri- Por consequência, influenciam na maior
mento, tem a face inferior arredondada e ou menor altura do estipe. A produção de
a superior lisa, e é guarnecido por espi- folhas determina a produção potencial de
nhos nas laterais. O ráquis, medindo de inflorescências. Os fatores que afetam a
3,5 a 6,5 m de comprimento, suporta os produção de folhas afetarão a produção
folíolos em número de 200 a 350, dispos- de cachos, uma vez que o primórdio da in-
tos de ambos os lados da ráquis. Os folío- florescência é produzido na axila de cada
los da parte média da ráquis são maiores e folha (SURRE; ZILLER, 1969).
medem até 1,20 m de comprimento por 5
A disposição das folhas em relação ao
a 6 cm de largura (HARTLEY, 1983).
eixo vertical da palmeira é denominado

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 83


filotaxia. Na palma de óleo, sua forma é tar água do lençol freático. As raízes pri-
em espiral. Duas espirais de folhas apre- márias são pouco sinuosas, com diâmetro
sentam-se bem distintas: aquela composta quase constante de 4 a 9 mm, medindo
por oito folhas em uma direção e aquela de menos de 1 até 20 m e quase não se
composta por 13 folhas em direção dife- ramificam. Por serem na maioria lignifica-
rente. As folhas são numeradas do centro das, não possuem capacidade de absor-
para a periferia da coroa foliar. A folha nú- ção (VALLEJO, 1978; CÔTE D’IVOIRE, 1980;
mero 1 corresponde àquela com os folíolos JOURDAN et al., 2000).
mais recentemente abertos. Assim, a folha
A rápida lignificação dos tecidos radicu-
seguinte, na próxima espiral, é a folha nú-
lares induz uma constante renovação do
mero 9 e a seguinte, a 17. O conhecimento
sistema radicular. As raízes primárias maio-
dessa numeração é importante para amos-
res emitem raízes secundárias no sentido
tragens com finalidades fitossanitárias e
ascendente, as quais, quando ainda não
nutricionais da palma de óleo.
lignificadas, podem realizar absorção. As
raízes secundárias emitem raízes terciárias
com cerca de 10 cm de comprimento, as
2.5. Sistema radicular
quais emitem as quaternárias com 5 a 10
As raízes são do tipo fasciculado e se mm de comprimento. As raízes da palma
desenvolvem a partir do bulbo, órgão de de óleo não possuem pelos absorventes,
80 cm de diâmetro e profundidade de 40 e as raízes terciárias e quaternárias exer-
a 50 cm, localizado na base do estipe. cem a função de absorção de água e nu-
De toda a superfície do bulbo partem ra- trientes. As raízes das palmeiras possuem
ízes primárias que, em sua maior parte, pneumatóforos, que servem para armaze-
estendem-se horizontalmente, paralelas nar e renovar o ar em seu interior.
à superfície do solo, predominando nos
A densidade de raízes diminui do bul-
primeiros 50 cm.
bo para a periferia. Têm-se encontrado
Algumas raízes primárias são lançadas maior número de raízes absorventes nas
diretamente para baixo, aprofundando-se zonas de maior concentração de matéria
no solo, servindo para fixar a planta e cap- orgânica em decomposição, principal-

Legenda: R1 VD = raízes
primárias com crescimento
vertical voltado para baixo;
R1 H = raízes primárias com
crescimento horizontal; R2
VD = raízes secundárias com
crescimento vertical voltado
para baixo; R2 VU = raízes se-
cundárias com crescimento
vertical voltado para cima;
R2 H = raízes secundárias
geralmente com crescimen-
to horizontal; sR3 = raízes
terciárias superficiais; dR3 =
raízes terciárias profundas;
R4 = raízes quaternárias

Figura 2. Diagrama do sistema radicular de uma planta de palma de óleo adulta (segundo JOURDAN et al., 2000)

84 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


mente nos empilhamentos onde se de- O número de folhas é o mesmo das
positam as folhas podadas das plantas de inflorescências, uma vez que se formam
palma de óleo. juntas. No nível meristemático, folha e in-
florescência, desde a fase de gema visível,
atingem o estado de flecha em dois anos.
2.6. Floração e frutificação Desse ponto à antese decorrem 9 a 10 me-
ses; da iniciação floral à antese, 33 meses;
A palma de óleo é uma planta monoi-
e de cinco a seis meses da antese à matu-
ca, ou seja, apresenta flores masculinas e
ração dos frutos. Os estudos indicam que,
femininas na mesma planta. Na axila de
da diferenciação sexual à antese decorrem
cada folha desenvolve-se uma gema floral
14 meses. A inflorescência torna-se visível
que pode transformar-se em inflorescên-
ao atingir a posição da folha número 7. A
cia masculina, feminina ou hermafrodita.
antese ocorre entre as posições de folhas
Quando uma inflorescência se desenvol-
números 17 e 20 (VALLEJO, 1978).
ve para um sexo, o outro permanece ru-
dimentar. A razão sexual, isto é, a relação entre
o número de inflorescências femininas e
A inflorescência é uma espádice com-
o número total de inflorescências, é for-
posta por um pedúnculo fibroso, um
temente influenciada por fatores ambien-
ráquis central onde estão dispostas as
tais. Palmeiras sob sombreamento, de-
espigas em espirais. Antes da antese, as
masiadamente podadas ou doentes que
inflorescências são cobertas por espatas
apresentam reduzida superfície de folhas
coriáceas, uma interna e outra externa,
mostram alta proporção de inflorescências
que se rompem nessa ocasião. Algumas
masculinas 24 meses após esses aconteci-
vezes, as espatas não se abrem suficien-
mentos (VARGAS, 1978).
temente, ocasionando baixa produção de
frutos normais devido à má polinização 2.6.1. Inflorescência feminina e
(HARTLEY, 1983). flores femininas
Em uma mesma palmeira, as inflores- A inflorescência feminina pode alcan-
cências masculinas e femininas são pro- çar 30 cm de comprimento antes da ante-
duzidas em ciclos alternados de duração se. As flores femininas encontram-se dis-
variável. Quando as palmeiras são jovens postas em espiral em torno das espigas.
e durante os períodos de transição sexual, As espigas medianas da inflorescência
é comum o aparecimento de inflorescên- possuem maior número de flores que as
cias hermafroditas ou mistas que apre- espigas superiores ou inferiores. Cada flor
sentam diferentes proporções de espigas está embutida em uma cavidade ou alvéo-
masculinas e femininas. Ocasionalmente lo formado por uma bráctea terminada em
surgem, em plantas jovens, inflorescên- espinho. Cada espiga também termina
cias andromorfas em cujas espigas a es- em um espinho. Cada inflorescência pode
trutura é masculina, mas as flores que se conter milhares de flores (CÔTE D’IVOIRE,
desenvolvem são femininas, podendo ori- 1980).
ginar pequenos frutos. O aborto de uma
Em uma inflorescência feminina, um
inflorescência, que normalmente ocorre
alvéolo contém uma flor feminina e duas
na ocasião do crescimento rápido, por fal-
flores masculinas acompanhantes que,
ta de água e nutrientes se traduz em au-
normalmente, abortam. O ovário é tricar-
sência de inflorescência na axila da folha
pelar e o gineceu é rudimentar, ambos
no momento da antese (SURRE; ZILLER,
circundados por um perianto duplo com-
1969).

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 85


posto por seis segmentos sepaloides. O Reduções na intensidade de luz pro-
estigma é séssil com três lóbulos pilosos. vocam maior formação de inflorescências
masculinas. Dessa forma, o sombreamen-
Ambientes com períodos de secas
to ou a redução da área foliar por pragas
definidas induzem a formação de inflo-
ou doenças, ou, ainda, uma poda severa
rescências masculinas. Inversamente, as
tendem a promover a formação de mais in-
chuvas favorecem a formação de inflores-
florescências masculinas (VARGAS, 1978).
cências femininas (VARGAS, 1978).
2.6.2. Inflorescência masculina 2.6.3. Polinização
e flores masculinas A polinização da palma de óleo é re-
alizada principalmente por insetos. Ele-
A inflorescência masculina é compos-
vadas taxas de frutificação nos cachos
ta por um pedúnculo mais comprido que
necessitam de boa disponibilidade de
aquele da inflorescência feminina e pos-
pólen e significativa população de insetos
sui, pelo menos, 100 espigas. As espigas,
polinizadores. Entre os principais insetos
em forma de dedos, medem de 10 a 20
polinizadores, os coleópteros do gênero
cm de comprimento, abrigando uma mé-
Elaeidobius são os mais importantes, sen-
dia de 1.000 flores masculinas. Antes da
do a espécie mais eficaz o Elaeidobius
antese, as flores estão fechadas em uma
kamerunicus, introduzida da África pela
bráctea triangular. Cada flor masculina
Embrapa (VIÉGAS; MÜLLER, 2000).
consta de um perianto de seis segmentos,
um androceu tubular com seis anteras e Em condições ambientais favoráveis e
um gineceu rudimentar. O período da an- com material vegetal produtivo e, principal-
tese é de dois a quatro dias, dependendo mente, no período jovem, praticamente to-
da chuva. Cada inflorescência masculina das as palmeiras entram em ciclo feminino
pode produzir de 25 a 60 gramas de pólen simultaneamente, havendo muito poucas
(SURRE; ZILLER, 1969). inflorescências masculinas. Isso provoca
baixa população de polinizadores e pouco
pólen se traduzindo em cachos abortivos
ou malformados (VARGAS, 1978).
2.6.4. Frutificação e cacho de
frutos
O cacho da palma de óleo tem o pe-
ríodo completo de formação entre cinco
e seis meses após a fecundação das flo-
res femininas. O cacho apresenta forma
ovoide, podendo alcançar 50 cm de com-
primento e 35 cm de largura. O peso dos
cachos pode variar de 3 a 50 quilos, com
uma média de 30 quilos, dependendo da
idade da planta e das condições ambien-
tais. A quantidade média de frutos em um
cacho é de 1.500, representando de 60 a
70% do peso do cacho.
O fruto é uma drupa séssil de forma
Figura 3. Inflorescência masculina (esquerda) e femi- ovoide com comprimento variando de 2
nina (direita) da palma de óleo (Fonte: IRHO/CIRAD)

86 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


a 5 centímetros e pesando de 3 a 30 gra- da área onde será implantado. Entre os fa-
mas. Da superfície para o interior, o fruto tores ambientais, os de maior relevância
é composto das seguintes camadas: epi- para o cultivo da palma de óleo são clima
carpo, cutinizado, liso, brilhante e fino; e solo.
mesocarpo, onde se concentra o óleo de
3.1. Clima
palma amarelo-alaranjado, muito oleoso,
contendo fibras cujos feixes se adensam O clima é o resultado da variação de
nas proximidades do endocarpo; endo- ocorrências periódicas dos fenômenos
carpo, esclerificado, negro, muito duro e atmosféricos (precipitação pluviométrica,
envolvido por fibras; e o endosperma, de temperatura, umidade, vento, entre ou-
forma ovoide, que ocupa toda a cavidade tros). Dada sua origem tropical, na costa
do endocarpo. O endosperma, depois de africana, é nessa faixa do globo que se de-
seco, é conhecido como palmiste, onde senvolvem os principais sistemas racionais
se concentra o óleo de palmiste (CÔTE de plantio dessa palmeira. As condições
D’IVOIRE, 1980). climáticas ideais para a palma de óleo es-
tão descritas a seguir.
3.1.1. Precipitação pluviométrica
As chuvas devem ser bem distribuídas
3. Requerimentos no decorrer do ano, sem a ocorrência de
estações secas definidas, com média de
ecológicos 2.000 mm. Nos meses menos chuvosos,
a pluviometria, preferencialmente, não
As quase nove décadas de estudos e deve ser inferior a 100 mm e não deve su-
pesquisas sobre a palma de óleo conferi- perar três meses. Evidentemente, grande
ram ao seu sistema produtivo um status parte das regiões de cultivo não apresenta
tecnológico apreciável (BLAAK, 1965). Por todas essas condições ideais. A Figura 4
conseguinte, de elevado custo financeiro. mostra três locais de plantio de palma de
Entre as inovações tecnológicas, merece óleo, com diferentes quantidades e distri-
destaque o desenvolvimento de cultiva- buições de chuva durante o ano.
res com características geneticamente
superiores (produtividade, resistência aos A quantidade de água que chega ao
agentes bióticos patogênicos, qualidade solo não é o único fator a ser observado.
do óleo, porte da planta, etc.) (BEIRNAERT; Estudos mais completos que considerem
VANDERWEYN, 1941). a evapotranspiração e a capacidade maior
ou menor do solo em estocar água devem
A expressão fenotípica dos seres vivos ser cuidadosamente realizados. Depen-
é o resultado da interação de sua carga dendo do fator climático em deficiência,
genética com as condições do ambien- as respostas se manifestam sobre o de-
te em que se desenvolve. No cultivo da sempenho produtivo das plantas.
palma de óleo, cuja vida útil se estende,
em média, por 25 anos, a expressão do Déficits hídricos acumulados acima
potencial produtivo das cultivares está na de 60 dias ocasionam redução no apa-
dependência direta da interação com as recimento de folhas novas, aumento da
condições do ambiente. Um cultivo pere- emissão de inflorescências masculinas e
ne de elevado custo de implantação (U$ diminuição do peso médio dos cachos,
3.000,00 por ha, incluindo a usina) deve com acentuado reflexo na produtividade
merecer o máximo de atenção na escolha (OLIVIN, 1966). Em Pobé (Benin, África),

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 87


700

600
Pluviometria mensal, em mm

500

400
Belém (Brasil) - 2.981,6 mm.ano-1
300 Bajo Calima (Colômbia) - 5.093,0 mm.ano-1 Figura 4. Preci-
Pobé (Benin) - 1.231,1 mm.ano-1 pitação pluvio-
200
métrica mensal
100 em três locais
de plantio de
0 palma de óleo
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez (adaptado de
Meses HARTLEY, 1983)

dentro de certos limites, observou-se a variações. A diferença entre as médias dos


redução de produtividade de 30 para 10 meses mais quentes e dos mais frios não
t.ha-1.ano-1, quando o déficit hídrico mé- ultrapassa 3ºC. Temperaturas acima de
dio anual elevou-se de 0 para 600 mm 38ºC e abaixo de 14ºC são raras. Em plan-
(MAILLARD et al., 1974). tas jovens, o crescimento é totalmente
inibido em temperaturas abaixo de 15ºC.
3.1.2. Insolação
Baixas temperaturas ocasionam aborto de
O brilho solar não deve ser inferior a cachos antes da antese (FERWERDA, 1977).
cinco horas diárias durante todo o ano, As maiores produtividades ocorrem em
podendo atingir sete horas por dia em regiões com menores diferenças entre as
alguns meses. Esse fator está relacionado temperaturas médias mensais.
com a precipitação pluviométrica. Regi-
ões mais chuvosas tendem a apresentar
menos horas de brilho solar devido às 3.2. Solos
nuvens. Regiões com 1.500 horas/ano
Sendo a base de sustentação dos cul-
de insolação podem ser limitantes para o
tivos, a qualidade dos solos desempenha
sucesso de um palmeiral. A relação estrei-
um papel fundamental para o sucesso dos
ta desse fator com a fotossíntese implica
investimentos agrícolas. Entre as caracte-
em efeitos sobre a maturação dos cachos
rísticas componentes dos solos, merecem
e na percentagem de óleo no fruto. Po-
destaque as descritas a seguir.
rém, de maior importância é a amplitude
do espectro luminoso e sua intensidade. 3.2.1. Relevo
Existem regiões com produtividades eco-
As plantações de palma de óleo, em
nomicamente compensadoras, cuja inso-
geral, ocupam largas extensões de terreno
lação é de 900 horas/ano, compensadas
em regiões de elevada precipitação plu-
que são pela disponibilidade de água e
viométrica. Solos que apresentem relevo
nutrientes.
de plano a suave ondulado são os mais
3.1.3. Temperatura recomendados. Topografias acidentadas,
acima de 5%, favorecem a erosão e exi-
A temperatura máxima média de 29 a
gem cuidados especiais, como a constru-
33°C e mínima média de 22 a 24°C são
ção onerosa de terraços. Plantios em curva
intervalos recomendáveis. A temperatura
de nível são indicados para solos entre 2 e
na faixa tropical não apresenta grandes
5% de declividade. Solos com declividades

88 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


superiores a 10% devem ser evitados. Considerando a baixa fertilidade nati-
va dos solos amazônicos, onde o nível de
Plantas de cobertura são recomen-
bases trocáveis é baixo, sua complemen-
dadas e podem, em solos com declivi-
tação é fundamental. Os baixos teores de
dades abaixo de 5%, tornar os efeitos
fósforo devem ser superados com adição
da erosão nulos. Espécies como a legu-
desse elemento, tendo em vista as pesqui-
minosa Pueraria phaseoloides , quando
sas o indicarem como elemento limitante
bem conduzidas, formam profusa mas-
para o desenvolvimento dessa palmeira.
sa verde que, além da contribuição com
o teor de nitrogênio, protegem o solo
contra os efeitos da erosão laminar e
3.3. Vegetação
mantêm a umidade do solo nas épocas
mais secas. O revestimento florístico de uma área
pode ser um bom indicativo de suas con-
3.2.2. Estrutura dições ambientais. Regiões onde a vege-
Solos profundos, sem camadas de im- tação é pouco adensada (caatinga) ou
pedimento e de boa permeabilidade são constituída de plantas rasteiras, como as
os indicados para o cultivo da palma de gramíneas (cerrados), revelam acentuada
óleo. A maioria dos latossolos e argissolos deficiência hídrica. Plantas raquíticas po-
que ocorrem na Amazônia é adequada. dem indicar solos com ausência de ele-
Esses solos, devido ao seu relativamente mentos químicos essenciais para o seu
elevado teor de argila, são profundos (ge- desenvolvimento. Algumas plantas são
ralmente inferiores a 1,5 m de profundida- indicadoras de solos sujeitos ao enchar-
de) e sem compactação. camento e outras indicam proximidade
de água, como as palmáceas. Regiões
A compactação impede o pleno cres-
com grande densidade de massa verde,
cimento do sistema radicular fasciculado
como as florestadas, podem ser indício
das plantas de palma de óleo. Na Costa
da ocorrência de água em abundância e
do Marfim, observou-se que a compac-
solos com boas propriedades físicas, nem
tação do solo reduz de 20 a 30% o po-
sempre as químicas.
tencial de produção das plantas e induz
a uma menor resistência à seca e a um No Brasil, em especial na Amazônia, as
fechamento precoce dos estômatos em áreas florestadas devem ser evitadas para
virtude da menor retenção de água nos a implantação de cultivos, devido ao seu
horizontes superficiais do solo. Solos com importante papel como reguladoras dos
teores de argila inferiores a 20% não são ciclos hidrológicos e de movimento de
recomendáveis. massas de ar em caráter planetário. Além
disso, a fantástica diversidade biológica
3.2.3. Fertilidade
ainda é muito pouco conhecida cientifica-
A palma de óleo pode ser cultivada mente e deve contribuir de forma insus-
em solos originalmente de baixa fertili- peitada com fármacos de elevado valor
dade, desde que devidamente corrigidos para o bem da humanidade. E, principal-
por adubação equilibrada. As plantas são mente, porque dos quase 50 milhões de
tolerantes à acidez do solo e à toxidez do hectares já desmatados nessa região, pelo
alumínio. Solos naturalmente férteis ob- menos 20 milhões encontram-se subapro-
viamente apresentarão melhor desempe- veitados ou abandonados e podem ser
nho competitivo. facilmente recuperados com as inovações
tecnológicas hoje disponíveis.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 89


OLIVIN, J. Pointe annuelle de production des
4. Referências palmeraies au Dahomey et cycle annuel de dé-
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90 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


PARTE 2
Capítulo 3

Material genético utilizado para a


produção sustentável da cultura da
palma de óleo na Amazônia
Raimundo Nonato Vieira da Cunha, Ricardo Lopes, Rui Alberto Gomes Júnior, Maria
do Rosário Lobato Rodrigues, Paulo César Teixeira, Raimundo Nonato Carvalho da
Rocha e Wanderlei Antônio Alves de Lima

Por se tratar de uma espécie perene, (RNC) do Ministério da Agricultura, Pecuá-


com expectativa de exploração de plan- ria e Abastecimento (MAPA).
tios comerciais por pelo menos 25 anos,
Os plantios comerciais são estabeleci-
deve-se dar atenção especial ao material
dos com cultivares do tipo Tenera, classi-
genético utilizado no plantio de palma de
ficação realizada em função da espessura
óleo (dendezeiro). Após a aquisição das
do endocarpo dos frutos. A espessura do
sementes, serão dedicados de 10 a 12 me-
endocarpo é uma característica monogê-
ses para a formação de mudas e de 30 a
nica (BEINAERT; VANDERWEYEN, 1941), ou
36 meses para a manutenção no campo
seja, controlada por apenas um loco ge-
(roçagem, coroamento, adubação, poda e
nético. A partir dessa característica, foram
controle de pragas e doenças) até o inicio
definidos o tipo de material cultivado co-
da colheita para fins comerciais; ou seja,
mercialmente e os métodos de melhora-
serão investidos aproximadamente quatro
mento utilizados para obtê-lo.
anos e entre R$ 4.500,00 e R$ 7.000,00 por
hectare até que as plantas entrem na fase Como já foi citado no capítulo anterior,
de produção comercial. Esse investimen- distinguem-se três tipos de plantas de pal-
to pode ser comprometido se o material ma de óleo de acordo com a presença e
genético utilizado não apresentar adap- a espessura do endocarpo dos frutos que
tação às condições pedoclimáticas locais, produzem (Figura 1): Dura (sh+sh+) – plan-
garantindo níveis de produtividade que tas que produzem frutos que apresentam
ofereçam rentabilidade adequada ao in- endocarpo com espessura de 2 a 8 mm,
vestimento realizado pelo produtor. às vezes menos, e de 35 a 65% de meso-
carpo no fruto; Tenera (sh+sh-) – plantas
Deve-se adquirir sementes de cultiva-
que produzem frutos que apresentam en-
res com desempenho comprovado nas
docarpo com espessura de 0,5 a 4 mm,
condições ambientais de plantio, oriundas
com 55 a 96% de mesocarpo no fruto e,
de programas de melhoramento genético
quando cortados no sentido transversal,
e produção de sementes idôneos e regis-
verifica-se a presença de um anel de fibra
tradas no Registro Nacional de Cultivares

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 91


A B C

Figura 1. Frutos de palma de óleo (Elaeis guineensis Jacq.) tipo Dura (A), Pisífera (B) e Tenera (C)

no mesocarpo, característica ausente nos tico que resultou no lançamento das culti-
frutos do tipo Dura; Pisífera (sh-sh-) – plan- vares Tenera Deli x La Mé, produzidas pela
tas que produzem frutos que não apre- Embrapa, foi empregado o método da se-
sentam endocarpo e que, na maioria das leção recorrente recíproca, sendo a popu-
vezes, produzem flores femininas estéreis lação A composta de plantas tipo Dura de
(abortivas), razão pela qual a produção de origem Deli, que têm como característica
frutos nessas plantas é rara, com algumas a produção de pequeno número de gran-
exceções de Pisíferas férteis. des cachos, e a população B composta de
plantas Tenera/Pisífera de origem La Mé,
Nas populações naturais, as frequ-
que têm como característica a produção
ências de plantas Pisífera (<1%) e Tenera
de grande número de pequenos cachos
(~3%) são baixas, predominando o tipo
(BARCELOS et al. 2000b).
Dura (~97%). Plantas Tenera apresentam
maior proporção de mesocarpo no fruto, O uso de plantas Dura em plantios
resultando em maior produção de óleo comerciais foi abandonado ainda em me-
do que as Dura, fator determinante para ados do século passado. Cabe ressaltar
o uso de plantas Tenera, obtidas do cru- que, no Brasil, os palmares subespontâne-
zamento entre plantas Dura (utilizadas os existentes na Bahia (em torno de 20.000
como genitor feminino) e Pisífera (utiliza- ha), explorados de forma extrativista, são
das como genitor masculino) nos plantios oriundos de sementes introduzidas pelos
comerciais. escravos no século XVI e constituídos de
plantas Dura que apresentam baixa produ-
Os programas de melhoramento ge-
tividade de cachos (3 t/ha/ano a 4 t/ha/
nético de palma de óleo têm como foco
ano) e baixa taxa de extração de óleo (8 a
o híbrido intraespecífico Tenera, indepen-
9%). Já os plantios agroindustriais implan-
dentemente das variações nos esquemas
tados a partir da década de 1960, tanto na
de melhoramento genético adotados. De
Bahia como no Pará, foram estabelecidos
maneira geral, são conduzidas populações
com sementes de cultivares Tenera im-
Dura e Tenera/Pisífera melhoradas per se
portadas da África, da Ásia e da América
e realizados testes de progênies Dura x
Central.
Tenera ou Dura x Pisífera para identificar
as melhores combinações entre essas po- Em hipótese nenhuma deve o produ-
pulações para reprodução comercial do tor utilizar plantas de cultivo comercial
híbrido Tenera (Dura x Pisífera). para propagação e estabelecimento de
novos plantios. A multiplicação das plan-
No programa de melhoramento gené-
tas comerciais do tipo Tenera resulta em

92 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


segregação genética, o que levará a obter do, esses híbridos apresentam produção
aproximadamente 25% de plantas Pisífera de óleo inferior às cultivares de palma de
(que serão improdutivas), 25% de plan- óleo do tipo Tenera, apresentam anoma-
tas Dura (que terão rendimento inferior lias nas inflorescências masculinas, princi-
às Tenera) e 50% de plantas Tenera que, palmente na fase jovem, produzem me-
em média, produzirão também menos do nor quantidade de pólen, que apresenta
que as plantas Tenera obtidas nos cruza- menor viabilidade quando comparado ao
mentos controlados a partir de genitores de palma de óleo, e as inflorescências em
Dura e Pisífera selecionados para capaci- geral apresentam menor atratividade para
dade de combinação. os insetos polinizadores do que as inflo-
rescências de palma de óleo. Por isso, os
Até o final da década de 1980, os
cultivos comerciais de híbridos exigem a
plantios comerciais de palma de óleo no
polinização assistida como prática de ma-
Brasil eram realizados exclusivamente
nejo para expressar o potencial produtivo.
com sementes importadas de empresas
da África, da Ásia e da América Central. As sementes de palma de óleo reque-
A produção de sementes comerciais no rem procedimentos especiais para que
Brasil foi iniciada pela Embrapa Amazônia se obtenha boa e uniforme taxa de ger-
Ocidental em 1992, como resultado do minação. Devido à estrutura requerida
trabalho de introdução de germoplasma e para a execução desses procedimentos,
melhoramento genético iniciado em 1982 os produtores adquirem as sementes já
em parceria com o Centre de Coopération pré-germinadas. É necessário programar a
Internationale en Recherche Agronomi- aquisição e consultar a disponibilidade de
que pour le Développement (Cirad), da sementes do fornecedor com pelo menos
França (BARCELOS et al., 2000a; BARCELOS seis meses de antecedência da data em
et al. 2000b; CUNHA et al., 2007a). que se pretende recebê-las para iniciar a
formação das mudas. O período de pro-
De acordo com a legislação brasileira
gramação é necessário devido ao tempo
atual de sementes e mudas, só podem ser
demandado pelo processo de produção
comercializadas no mercado brasileiro cul-
das sementes, que é de aproximadamen-
tivares registradas no Registro Nacional de
te um ano: em torno de seis meses do
Cultivares (RNC), sendo encontradas com
isolamento da inflorescência até a colhei-
o referido registro até junho de 2010 as
ta do cacho e quatro meses para quebra
cultivares apresentadas na Tabela 1.
de dormência (método do calor seco) e
Além das cultivares de palma de óleo germinação das sementes (CUNHA et al.,
tipo Tenera, já existem no Brasil, no Esta- 2007b). Além disso, como as sementes
do do Pará, plantios comerciais com o hí- são adquiridas germinadas e se desen-
brido interespecífico F1 de palma de óleo volvem rapidamente, o produtor já deve
africana com a palma de óleo americana estar com toda a estrutura de pré-viveiro
(Elaeis oleifera), híbridos OxG. O híbrido pronta para o plantio das sementes ime-
interespecífico OxG é recomendado para diatamente após recebê-las para que não
regiões onde se verificou a ocorrência de seja ultrapassado o estágio adequado de
Amarelecimento Fatal – AF, que já dizimou desenvolvimento para o plantio, situação
milhares de hectares de plantações de pal- em que aumenta o percentual de perda
ma de óleo na América Latina (ver capítu- de sementes.
lo específico sobre o assunto). A espécie
No estabelecimento de plantios co-
americana e o híbrido F1 com a espécie
merciais, recomenda-se ainda, sempre
africana não são afetados pelo AF. Contu-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 93


Tabela 1. Cultivares de palma de óleo registradas no Registro Nacional de Cultivares –
RNC do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA até junho de 2010

Nome da Tipo da Cultivar Requerente do Registro / Empresa


Cultivar Mantenedor responsável pelo
Desenvolvimento
da Cultivar
ASD CG Híbrido intraespecífico BIOPALMA DA AMAZÔNIA S/A ASD – Costa Rica
tenera (Elaeis guineensis)
ASD CN Híbrido intraespecífico BIOPALMA DA AMAZÔNIA S/A ASD – Costa Rica
tenera (Elaeis guineensis)
ASD DC Híbrido intraespecífico BIOPALMA DA AMAZÔNIA S/A ASD – Costa Rica
tenera (Elaeis guineensis)
ASD DG Híbrido intraespecífico BIOPALMA DA AMAZÔNIA S/A ASD – Costa Rica
tenera (Elaeis guineensis)
ASD DL Híbrido intraespecífico BIOPALMA DA AMAZÔNIA S/A ASD – Costa Rica
tenera (Elaeis guineensis)
ASD DN Híbrido intraespecífico BIOPALMA DA AMAZÔNIA S/A ASD – Costa Rica
tenera (Elaeis guineensis)
BRS C2301 Híbrido intraespecífico Empresa Brasileira de Pesquisa Embrapa – Brasil
tenera (Elaeis guineensis) Agropecuária – Embrapa
BRS C2328 Híbrido intraespecífico Empresa Brasileira de Pesquisa Embrapa – Brasil
tenera (Elaeis guineensis) Agropecuária – Embrapa
BRS C2501 Híbrido intraespecífico Empresa Brasileira de Pesquisa Embrapa – Brasil
tenera (Elaeis guineensis) Agropecuária – Embrapa
BRS C2528 Híbrido intraespecífico Empresa Brasileira de Pesquisa Embrapa – Brasil
tenera (Elaeis guineensis) Agropecuária – Embrapa
BRS C3701 Híbrido intraespecífico Empresa Brasileira de Pesquisa Embrapa – Brasil
tenera (Elaeis guineensis) Agropecuária – Embrapa
BRS C7201 Híbrido intraespecífico Empresa Brasileira de Pesquisa Embrapa – Brasil
tenera (Elaeis guineensis) Agropecuária – Embrapa
BRSC2001 Híbrido intraespecífico Empresa Brasileira de Pesquisa Embrapa – Brasil
tenera (Elaeis guineensis) Agropecuária – Embrapa
Compacta Híbrido intraespecífico Agropalma S/A ASD – Costa Rica
Agropalma tenera
Cirad DLM Híbrido intraespecífico BIOPALMA DA AMAZÔNIA S/A Cirad – França
tenera
Cirad DLY Híbrido intraespecífico BIOPALMA DA AMAZÔNIA S/A Cirad – França
tenera
BRS Híbrido interespecífico E. Empresa Brasileira de Pesquisa Embrapa – Brasil
Manicoré guineensis x E. oleifera Agropecuária - Embrapa
Marborges Híbrido interespecífico E. Marborges Agroindústria S.A. La Cabaña/
Inducoari 1 guineensis x E. oleifera Colômbia

94 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


que possível, o uso de cultivares de dife- Nas condições descritas, essas cultiva-
rentes origens. A variabilidade genética res apresentam taxa média de crescimen-
existente entre as cultivares comerciais to do tronco de 45 cm/ano; produção de
dá maior segurança ao produtor face ao cachos de 25 a 30 t/ha/ano, dependendo
aparecimento de fatores bióticos (pragas do manejo adotado; taxa de extração de
e doenças) ou abióticos (condições climá- óleo do mesocarpo em torno de 22% e
ticas atípicas) que afetem as plantas, bem produção média de óleo de 4 a 6 t/ha/ano;
como permite utilizar de modo mais efi- taxa de extração de palmiste de 2,5 a 3%,
ciente a capacidade instalada de proces- de 0,63 a 0,75 t/ha/ano. A produtividade
samento de cachos, uma vez que existem de 6 t de óleo/ha/ano tem sido obtida em
cultivares com picos de produção em di- plantios no Estado do Pará. A produção se
ferentes épocas do ano, de forma que a estende por todo o ano, com picos que
produção mensal se torna mais regular do podem chegar a 14-15% da produção anu-
que quando se utiliza cultivares de mes- al em um só mês na fase alta, geralmente
ma base genética. nos meses de outubro ou novembro, e 5%
na fase baixa, geralmente nos meses de
fevereiro ou março, dependendo da distri-
buição das chuvas na região.

Cultivares produzidas A Embrapa também iniciou, na déca-


da de 1980, a avaliação de cruzamentos
pela Embrapa interespecíficos entre a palma de óleo
africana e a americana (caiaué). Foram re-
As sementes das cultivares de palma alizados experimentos no CERU, no Ama-
de óleo Tenera são produzidas pela Em- zonas, em áreas de incidência do AF no
brapa Amazônia Ocidental no Campo Pará e no Equador, e em diversos plantios
Experimental do Rio Urubu – CERU, loca- comerciais em pequena escala por produ-
lizado no município de Rio Preto da Eva tores na Colômbia.
– AM. A empresa produz comercialmente Os resultados dos estudos realizados
sete cultivares de palma de óleo do tipo até o momento indicam desempenho
Tenera – BRS C2001, BRS C2301, BRS C2328, superior dos híbridos OxG obtidos entre
BRS C2501, BRS C2528, BRS C3701 e BRS a caiaué da origem Manicoré com a pal-
C7201 –, provenientes de cruzamentos en- ma de óleo africana da origem La Mé. Os
tre genitores tipo Dura (de origem Deli) e experimentos em áreas de incidência de
Pisífera (de origem La Mé), desenvolvidas AF no Brasil demonstraram que o material
em parceria com o Centre de Coopération não é afetado pela anomalia em nossas
Internationale en Recherche Agronomique condições ambientais. Já no Equador, fo-
pour le Développement (Cirad). Essas cul- ram verificados índices variáveis de mor-
tivares são recomendadas para plantio em talidade dependendo do cruzamento
região tropical úmida que apresente preci- avaliado, mas ainda com alta taxa de so-
pitação em torno de 2.000 mm/ano bem brevivência se comparado com a palma
distribuídos, déficit hídrico igual ou inferior de óleo. Não foi constatado efetivamente
a 200 mm/ano, insolação superior a 1.800 se a anomalia denominada AF que ocorre
horas/ano, temperatura média anual entre no Equador é da mesma natureza da que
24 e 28°C, com mínima mensal superior a ocorre no Brasil.
18°C e máxima entre 28 e 34°C, além de
umidade relativa do ar entre 70 e 95%. O crescimento do estipe desses híbri-
dos situa-se entre 15 e 20 cm/ano. A pro-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 95


dução de cachos supera 30 t de cacho/ha/ podem ser obtidas no Escritório de Ne-
ano, mas exige a realização de polinização gócios da Amazônia: Rodovia AM 010, km
assistida, enquanto a taxa de extração de 29 – Manaus/AM – Caixa Postal 319, CEP
óleo situa-se entre 16 e 18%. A Embrapa 69.010-970. O telefone é (92) 3303-7897.
iniciou a produção desse híbrido em pe-
quena escala comercial no final da década
de 1990 para avaliação experimental em
plantios comerciais no Pará, atendendo à
demanda de produtores afetados pelo AF, Cultivares produzidas
e atualmente já existem aproximadamen-
te 2.000 ha cultivados com esses híbridos
pela PalmElit
em produção. Os resultados obtidos de-
monstram a viabilidade econômica do A PalmElit é uma subsidiária do Cirad
cultivo do híbrido, embora a produção (Centro de Cooperação Internacional em
ainda seja inferior à das cultivares Tenera, Pesquisa Agronômica para o Desenvolvi-
principalmente pela menor taxa de extra- mento), instituição francesa de reconhe-
ção de óleo, além de exigir a polinização cida competência no desenvolvimento
assistida como prática de manejo, sem a de pesquisas com palma de óleo que
qual a produção pode ser reduzida para 3 mantém uma rede de ensaios que inclui
a 6 t de cacho/ha/ano. experimentos na África, na Ásia e na Amé-
rica do Sul. As cultivares produzidas pela
Esses experimentos resultaram no de- PalmElit são bem conhecidas pelos tradi-
senvolvimento da cultivar BRS Manicoré, cionais produtores de palma de óleo na-
registrada no RNC/MAPA em 2009. A pro- cionais.
dução atual de sementes desse material
não atende à demanda existente; assim, O programa de melhoramento gené-
os campos de produção de sementes tico e produção de sementes de palma
estão em multiplicação para aumentar a de óleo da Embrapa originou-se de uma
capacidade de produção. Contudo, ainda parceria com o Cirad (então denominado
serão necessários alguns anos para que a IRHO – Institut de Recherche pour Les Hui-
produção seja suficiente para atender à les et Oleagineux) no inicio da década de
demanda. A previsão é de que sejam lan- 1980, sendo as cultivares produzidas pela
çados novos híbridos OxG pela Embrapa Embrapa oriundas do programa iniciado
em 2016. pelo Cirad na metade do século passado,
portanto, com mesma base genética das
Os híbridos OxG, além de não serem sementes das cultivares produzidas pela
afetados pelo AF e apresentarem reduzido PalmElit. A maior parte dos palmares es-
crescimento vertical do tronco, o que reduz tabelecidos até o momento no Brasil são
os custos de produção e prolonga a vida oriundos direta ou indiretamente (através
dos plantios comerciais, apresentam óleo da Embrapa) do programa de melhora-
mais insaturado, sendo considerado de mento genético do Cirad. As cultivares
melhor qualidade do que o óleo de palma. produzidas pela PalmElit são híbridos intra-
Apresentam, ainda, maior tolerância do que específicos do tipo Tenera obtidos a partir
a palma de óleo a outras pragas, como la- de cruzamentos das origens Deli x La Mé
gartas desfolhadoras e minadoras de raiz. e Deli x Yangambi.
Informações sobre a produção de se- A PalmElit possui duas cultivares regis-
mentes de palma de óleo na Embrapa tradas no RNC/MAPA, Cirad DLM e Cirad

96 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


DLY. As cultivares Deli x La Mé têm poten- sileiro. As cultivares ASD têm diversificada
cial de produção de 30 a 32 toneladas de base genética: Deli x Avros, Deli x La Mé,
cachos/ha/ano em condições pedoclimá- Deli x Yangambi, Deli x Ghana, Deli x Ni-
ticas favoráveis, e de aproximadamente 22 géria, Tanzania x Ekona, Bamenda x Eko-
toneladas de cachos/ha/ano com déficit na, Compacta x Ekona, Compacta x Nigé-
hídrico de 300 mm/ano, taxa de extração ria, Compacta x Ghana e diversos clones
de óleo de palma de 26 a 28% e de palmis- Compacta. As cultivares Deli x Yangambi e
te de 3 a 4%, e com crescimento vertical Deli x Avros produzidas pela ASD já foram
do tronco de 45 a 55 cm/ano. As cultivares utilizadas em muitos plantios comerciais
Deli x Yangambi têm potencial de produ- no Brasil nas décadas de 1980 e 1990; con-
ção de 30 a 32 toneladas de cachos/ha/ tudo, atualmente não têm sido demanda-
ano em condições pedoclimáticas favorá- das pelos produtores por apresentarem
veis, e de aproximadamente 22 toneladas crescimento vertical do tronco superior a
de cachos/ha/ano com déficit hídrico de 70 cm/ano, ao passo que as novas culti-
300 mm/ano, taxa de extração de óleo de vares disponíveis apresentam crescimento
palma de 25 a 27% e de palmiste de 3 a inferior a 60 cm/ano ou entre 60 e 70 cm/
4%, crescimento vertical do tronco de 54 ano. De acordo com as informações da
a 64 cm/ano. empresa, as novas cultivares disponibiliza-
das pela ASD têm potencial de produção
As cultivares Deli x La Mé e Deli x Yan-
de cachos em torno de 30 t/ano e taxa de
gambi têm picos de produção diferencia-
extração de óleo entre 26 e 28%.
dos dentro do ano; assim, para garantir
melhor distribuição intra-anual da produ- Os clones de Compacta produzidos
ção de cachos, recomenda-se diversificar pela ASD ainda não foram avaliados na
os plantios com cultivares dessas duas fase adulta nas condições brasileiras, mas,
origens. de acordo com as informações fornecidas
pela empresa, têm potencial para produ-
Informações sobre a produção e a co-
ção de 25 a 38 t de cachos/ha/ano, taxa
mercialização de sementes de palma de
de extração de óleo entre 24 e 34%, pro-
óleo Cirad® da PalmElit podem ser obti-
dução de óleo 7 a 9 t/ha/ano, crescimento
das no site http://www.palmelit.com/.
do estipe de 27 a 50 cm/ano. A densidade
de plantio é maior do que a utilizada para
cultivares tradicionais (143 plantas/ha), de
170 a 200 plantas/ha.
Cultivares produzidas Recentemente, também foram lança-
pela Agricultural Services dos pela ASD dois híbridos interespecífi-
cos denominados Brunca e Amazon. Es-
& Development (ASD) ses híbridos deverão ser testados no Brasil
em breve; contudo, ainda não se dispõe
A ASD é uma empresa sediada na de informações sobre o potencial produti-
Costa Rica com reconhecida competência vo desses materiais em nossas condições
na produção de sementes de palma de e nem de registro dos mesmos no RNC.
óleo. Sua produção é exportada para di- Informações sobre a produção e a co-
versos países da América do Sul, da África mercialização de sementes de palma de
e da Ásia e tem suprido grande parte da óleo da ASD podem ser obtidas no site
demanda de sementes do mercado bra- http://www.asd-cr.com.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 97


essas empresas não têm cultivares regis-
Híbrido Interespecífico tradas no RNC/MAPA e não têm expor-
tado sementes para o Brasil nos últimos
produzido pela La anos – em alguns casos, por priorização
de seu mercado interno, em outros, por
Cabaña falta de interesse dos produtores brasilei-
ros no material produzido. De qualquer
A La Cabaña é uma empresa colom- forma, deve-se atentar para a necessidade
biana que, em parceria com o Cirad, vem de realizar o registro das cultivares quan-
desenvolvendo um programa de melhora- do houver interesse na importação de
mento de híbridos OxG. O material produ- sementes e também para as exigências
zido pela empresa foi registrado no RNC fitossanitárias que devem ser atendidas.
no Brasil com a denominação de “Marbor- Novos campos de produção de sementes
ges Inducoari 1”. estão sendo estabelecidos pelo Cirad na
Colômbia e no Equador e em breve deverá
Trata-se de um híbrido OxG F1 obtido a
haver oferta desse material para o Brasil.
partir do cruzamento de materiais selecio-
nados de caiaué da origem Coari (municí-
pio do Estado do Amazonas/Brasil) e geni-
tores Pisífera da origem La Mé. De acordo
com as informações disponibilizadas pela
empresa, o híbrido apresenta: crescimen-
Referências
to médio do tronco de 22 cm/ano; vida útil Bibliográficas
de produção comercial estimada entre 30
e 50 anos; resistência ao Amarelecimento BARCELOS, E.; CUNHA, R. N. V.; NOUY, B.
Fatal e à Fusariose; área foliar mais ampla Recursos genéticos de dendê (Elaeis gui-
do que a de palma de óleo; maior tolerân- neensis, Jacq. e E. oleifera (Kunth), Cortés.
cia à umidade do solo do que a palma de In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL ‘AGRONE-
óleo; óleo mais estável (2 a 3 vezes mais GÓCIO DE DENDE, 2000, Belém, PA. Uma
estável), permitindo ciclos de colheita a Alternativa Social, Econômica e Ambiental
intervalos maiores e maior tempo de ar- para o Desenvolvimento Sustentável da
mazenamento; elevação da acidez mais Amazônia”: Resumos. Belém, PA: Embrapa
lenta; taxa de extração de óleo de 18 a Amazônia Ocidental. 2000a. p. 39-40.
19% e de palmiste em torno de 3,5%. Esse
híbrido ainda não foi avaliado nas condi- BARCELOS, E.; NUNES, C. D. M.; CUNHA, R.
ções brasileiras. N. V. da. Melhoramento genético e produçao
Informações sobre os híbridos produzi- de sementes comerciais de dendezeiro. In:
dos pela La Cabaña podem ser obtidas no VIEGAS, I. de J. M.; MULLER, A. A. (Ed.). A cul-
site http://www.intermedianetwork.com/ tura do dendezeiro na Amazonia brasilei-
cabana/semillahibrido.php. ra. Belem: Embrapa Amazonia Oriental; Ma-
naus: Embrapa Amazonia Ocidental, 2000b.
Outras empresas produtoras de se- p. 145-174.
mentes de palma de óleo
Além das empresas acima apresenta- BEINAERT, A.; VANDERWEYEN, R. Contribu-
das, existem outras na Ásia, na África e na tion à l’’etude génétique et biométri-
América do Sul que produzem sementes que de variétés dÉlaeis guineensis Jacq.
comerciais de palma de óleo. Contudo, Gembloux. Brussels: l’institut national pour

98 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


l’étude agronomique du Colgo Belge, 1941. CUNHA, R. N. V. da; LOPES, R.; DANTAS, J. C.
101 p. (Série Scientifique, 27). R.; ROCHA, R. N. C. da. Procedimentos para
produção de sementes comerciais de den-
CUNHA, R. N. V. da; LOPES, R.; BARCELOS, E.; dezeiro na Embrapa Amazônia Ocidental.
RODRIGUES, M. do R. L.; TEIXEIRA, P. C.; RO- Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental,
CHA, R. N. C. da. Pesquisa, desenvolvimen- 2007b. 34 p. (Embrapa Amazônia Ocidental.
to e inovação da cultura do dendezeiro no Documentos, 54).
Brasil. In: WORKSHOP LATINO-AMERICANO
DE INVESTIGACIÓN EN DENDE (PALMA ACEI-
TERA), 2005, Manaus. Alternativa para con-
tribuir al desarrollo económico y social de
la Amazonía: anais. Manaus, AM: Embrapa
Amazônia Ocidental, 2007a. p. 44-49.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 99


100 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 4

Formação de mudas para a


produção sustentável da palma de
óleo na Amazônia
Paulo César Teixeira, Wanderlei Antônio Alves Lima,
Rui Alberto Gomes Junior, Raimundo Nonato Vieira da Cunha,
Ricardo Lopes e Raimundo Nonato Carvalho da Rocha

fase do crescimento, permanecendo por


Introdução cerca de três a quatro meses até que as
mudas tenham de quatro a cinco folhas
lanceoladas, antes de irem para o viveiro.
A fase de produção de mudas tem Nessa fase, a aplicação de defensivos po-
como objetivo a obtenção de plantas de derá ou não ser necessária, a depender da
alta qualidade e em condições para serem ocorrência de pragas e doenças.
levadas ao campo na época apropriada.
Em um empreendimento, o sucesso de O pré-viveiro é programado em função
um plantio da palma de óleo (dendezei- da área, e a infraestrutura deve ser simples
ro) muito se deve ao processo adotado e temporária quando não há programação
na formação de mudas e a sua qualidade de continuidade dos plantios ao longo
se reflete diretamente na precocidade e do tempo. Também exige que o terreno
na maior produção na fase jovem, assim seja livre de ventos fortes e inundações e
como no maior potencial de produção na tenha disponibilidade de água perto do
fase adulta (PACHECO & TAILLIEZ, 1985; local. No que diz respeito à construção, a
BARCELOS et al., 2001). A formação de mu- estrutura deverá ser coberta por palha ou
das de palma de óleo pode ser feita em sombrites e conter sistemas de irrigação e
uma ou em duas fases, sendo que nor- de drenagem.
malmente é feita em duas fases, denomi- A forma tradicional de produção de
nadas de pré-viveiro e viveiro. mudas de palma de óleo durante o pré-
viveiro (até aproximadamente 3-4 meses
de idade) é a utilização de sacos plásticos
preenchidos com solo, de preferência ter-
riço (PACHECO; TAILLIEZ, 1985; BARCELOS
Pré-viveiro et al., 2001; CORLEY; TINKER, 2003), que
podem ter dimensões aproximadas de 15
Corresponde ao local onde as semen- cm de largura por 20 cm de comprimento
tes pré-germinadas passam a sua primeira e de 0,05 a 0,08 mm de espessura. Mas

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 101


esse processo demanda a existência de por unidade de área, possibilidade de re-
grandes áreas de pré-viveiro e a disponibi- ciclagem e facilidades operacionais, como
lidade de mão de obra para o manejo das peso, transporte e transplante das mudas.
mudas, e ainda existe a possibilidade de
Teixeira et al. (2009) estudaram o cres-
rompimento dos recipientes.
cimento de mudas de palma de óleo pro-
A tendência para várias culturas é a duzidas no pré-viveiro pelo método tradi-
substituição dos sacos plásticos por tu- cional em sacos plásticos e em tubetes de
betes de plástico rígido e, recentemente, 120 cm3 e verificaram que o crescimento
essa técnica tem sido estudada e usada final das mudas no viveiro foi semelhante
para a formação de mudas de palma de nos dois métodos. Segundo Chee et al.
óleo (CHEE et al., 1997; TEIXEIRA et al., 2006; (1997), o crescimento no campo de mudas
TEIXEIRA et al., 2009). Como vantagens da de palma de óleo produzidas em tubetes
técnica do sistema de tubetes para a for- durante o pré-viveiro pode ser tão bom
mação de mudas, quando comparada ao quanto o de mudas crescidas em sacos
sistema convencional de produção em sa- plásticos.
cos plásticos, destacam-se: boa formação
Ilustração de detalhes da produção de
do sistema radicular, rápido crescimento
mudas em tubetes no pré-viveiro é apre-
inicial das mudas, menor consumo de
sentada na Figura 1.
substrato e área, maior número de mudas

A B

C D

Figura 1. Esquema de produção de mudas de palma de óleo no pré-viveiro mostrando: (a) distribuição dos tu-
betes na bandeja; (b) crescimento de mudas aos três meses de idade pelo método tradicional (controle) e em
tubetes, com e sem adubo de liberação lenta; (c) disposição de mudas em sacos plásticos; (d) aspecto visual
do crescimento radicular de mudas produzidas em tubetes, aos três meses de idade. Fontes: a, b – Raimundo
Rocha; c, d – Paulo Teixeira.

102 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
A adubação é um fator importante na – melhor critério de seleção, com base nas
formação das mudas em tubetes, pois de- características de desenvolvimento.
verá suprir a perda de nutrientes do substra-
Desvantagens:
to por lixiviação e disponibilizar, também,
os nutrientes necessários para as mudas. – aumento do custo de investimento
As pequenas dimensões dos tubetes e o em infraestrutura, mão de obra e ma-
pequeno volume de substrato que supor- teriais utilizados;
tam exigem, entretanto, aplicação de do-
– risco de efeitos adversos sofridos pe-
ses altas de nutrientes solúveis devido às
las mudas ao serem transplantadas
perdas por lixiviação, resultantes da neces-
para o viveiro.
sidade de regas frequentes (NEVES et al.,
1990). Todavia, doses altas de fertilizantes Para mudas produzidas em sacos plásti-
solúveis, sobretudo na fertilização de base, cos, se a fertilidade natural do solo utilizado
elevam a concentração salina do substrato, (terriço) for boa, a adubação não é neces-
podendo causar falhas de germinação, dis- sária no pré-viveiro porque, durante as pri-
túrbios nutricionais e, consequentemente, meiras seis semanas, a planta jovem obtém
retardamento do crescimento inicial das parte das suas necessidades nutricionais
mudas (GONÇALVES et al., 2000). Para con- no endosperma da semente. Em situações
tornar esse problema, foi avaliado o uso de falta de vigor das mudas no pré-viveiro,
de adubos de liberação lenta e controlada, fertilizantes foliares devem ser aplicados
que promovem liberação lenta e contínua para correção de eventuais deficiências nu-
de nutrientes ao longo do tempo, o que tricionais. Entretanto, deve-se ter o cuidado
elimina a necessidade de frequentes adu- de não aplicar fertilizantes foliares em dias
bações, sincronizando a demanda da plan- muito quentes ou secos, ou quando as mu-
ta com a disponibilidade de nutrientes no das estiverem sob estresse hídrico, a fim de
substrato. Teixeira et al. (2009) verificaram evitar a possibilidade de perda de nutrien-
que a adição de fertilizantes ao substrato tes por volatilização ou mesmo a queima
em tubetes plásticos durante o pré-viveiro das mudas. Outra alternativa para evitar a
foi fundamental para a formação final de queima é a mistura de adubos diluída em
mudas de palma de óleo no viveiro, e a água que pode ser aplicada com regador.
ocupação diferenciada das bandejas pelos Em seguida é aplicada água pura com rega-
tubetes em diferentes percentagens de dor para lavar o adubo das folhas.
ocupação durante a fase de pré-viveiro não Os canteiros para produção de mudas
influenciou o crescimento em altura e diâ- em sacos podem ser confeccionados com
metro das mudas de palma de óleo aos 10 1,5 m de largura e 20 m de comprimen-
e 16 meses de idade. to, com espaçamento de 0,8 cm entre os
A prática de manejo incluindo pré-vivei- canteiros. Nessas condições, cada canteiro
ro (viveiro de duas fases) apresenta vanta- comportará aproximadamente 5000 sacos.
gens e desvantagens em relação à semea-
dura direta no viveiro (viveiro de uma fase),
conforme se descreve a seguir:
Vantagens: Viveiro
– melhor controle das atividades na
fase inicial (irrigação, adubação, plan- A fase de viveiro é uma etapa impor-
tas daninhas, etc.), de modo a obter tante nas atividades comerciais em planta-
melhor crescimento e vigor; ções de palma de óleo porque, além de

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 103


demandar uma série de gastos, nesse pe- via com o objetivo de produzir mudas com
ríodo podem ser controlados vários fatores uma oferta adequada de nutrientes para
que afetam o crescimento e o desenvolvi- que o crescimento seja maximizado. Nor-
mento da planta, o que é essencial para o malmente, o solo é suplementado com
plantio no campo. misturas balanceadas de macronutrien-
tes (nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio,
Na construção do viveiro, devem ser
magnésio e enxofre) e micronutrientes
consideradas, além do espaço necessário
(em especial boro e cobre), com aplica-
para o número de plantas, a disponibilida-
ções programadas de fertilizantes. Alguns
de de água, a topografia plana ou ligeira-
cuidados na aplicação de fertilizantes são
mente ondulada e a facilidade de acesso
descritos a seguir.
em todo o ano.
– O fósforo não é móvel no solo; por-
Normalmente, para o enchimento dos
tanto, aplicações de fertilizantes na
sacos, que possuem dimensão aproxima-
superfície são menos eficazes. Para
da de 40 x 40 cm, usa-se terriço disponível
assegurar um fornecimento adequa-
no local, com boa drenagem. Os sacos
do de fósforo ao viveiro de mudas,
são distribuídos na área dependendo do
quando possível, os adubos fosfata-
tempo de permanência no viveiro. Reco-
dos devem ser uniformemente dis-
menda-se complementar o preenchimen-
tribuídos no solo antes da colocação
to dos sacos com material estéril (endo-
nos sacos plásticos.
carpo picado, casca de arroz, fibras, etc.)
para reduzir a perda de umidade, regular a – A aplicação incorreta de uma quanti-
temperatura e minimizar o aparecimento dade excessiva de ureia pode danifi-
de patógenos e plantas daninhas. car o sistema radicular das mudas.
Após uma etapa de seleção no final – Os fertilizantes não devem entrar em
da fase de pré-viveiro, apenas as mudas contato direto com qualquer parte da
sadias, livres de anomalias, pragas e do- planta.
enças, devem ir para o viveiro. A operação
– O supervisor do viveiro deve sempre
consiste no transplantio das mudas do
verificar se todas as mudas foram
pré-viveiro para sacos plásticos de 40 x 40
adubadas corretamente.
cm, espaçados no campo em triângulo
equilátero de acordo com o tempo previs- – É sempre mais eficaz aplicar peque-
to de duração do viveiro. nas quantidades de adubos com fre-
quência em vez de aplicar grandes
A irrigação no viveiro pode ser feita
quantidades com menos frequência,
manualmente ou com equipamentos es-
para evitar queima por excesso de sa-
peciais, por gravidade, nebulização ou
linidade e/ou perdas por lixiviação.
aspersão, sendo esta última a forma mais
comumente utilizada. As ervas daninhas – As aplicações de fertilizantes podem
podem ser controladas com herbicidas, ser reduzidas se o crescimento vegeta-
quando incidentes no solo, e manualmen- tivo for muito vigoroso, existindo pos-
te, quando nos sacos. Ainda, é fundamen- sibilidade de que as mudas estejam
tal um bom controle fitossanitário que evi- prontas para irem ao campo antes que
te a propagação de pragas e doenças por a área de plantio esteja preparada.
meio do uso adequado de defensivos.
Alguns detalhes da produção de mu-
A adubação é feita dependendo do das no viveiro podem ser visualizados na
tipo de solo, que necessita de análise pré- Figura 2.

104 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
A B

C D

Figura 2. Detalhes da formação de mudas no viveiro mostrando: (a) enchimento manual dos sacos; (b) distri-
buição das mudas em área com irrigação manual; (c) distribuição das mudas em área com irrigação por asper-
são; (d) distribuição radicular no viveiro de mudas formadas em tubetes e em sacos plásticos (convencional)
durante o pré-viveiro. Fonte: a, b, c: Raimundo Rocha; d: Paulo Teixeira.

no local definitivo. Nessa última seleção,


deve-se eliminar apenas casos de plantas
Seleção de plantas no com anomalias marcantes, dado o estádio
de desenvolvimento dessas plantas, já um
viveiro pouco estioladas na fase final do viveiro.
Existem alguns critérios para o descar-
A seleção das mudas no viveiro é vi-
te, no viveiro, de plantas com:
sual e deve ter como referência o padrão
adequado de desenvolvimento e forma – crescimento bem abaixo da média;
das mudas. Esse processo deve ser rigo- – folíolos soldados ou muito estreitos;
roso para garantir que as plantas selecio-
nadas permaneçam no campo por, pelo – folíolos muito dispersos sobre o eixo
menos, 25 anos. principal das folhas;
Segundo Jacquemard et al. (1995) e – folhas com manchas ou bandas;
Barcelos et al. (2001), a seleção deve ser – folhas muito eretas, formando ângu-
realizada entre os três e oito meses de ida- los de 45 graus;
de do viveiro, antes de as plantas apresen-
tarem, no máximo, 80 cm de altura. Uma – excesso de manchas, consequência
segunda seleção será realizada quando de danos causados pelo manejo ina-
do transporte das plantas para plantio dequado de fungos no viveiro.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 105


Como indicação, na Tabela 2, são apre-
sentados os coeficientes técnicos para a
Coeficientes técnicos condução de um viveiro de 80 mil mudas,
dispostas no espaçamento de 0,80 m en-
Na Tabela 1, são apresentados os tem- tre plantas, ocupando área de aproxima-
pos indicativos de trabalho requeridos damente 7 ha.
para a condução de um pré-viveiro com 90
mil mudas, distribuídas em 30 canteiros de
1,5 m de largura e 30 m de comprimento, Tabela 2. Demanda em homem-dia (hd)
suficientes para a formação futura de um e horas-trator (ht) para instalação de um vi-
viveiro com 80 mil plantas (10% de descar- veiro com capacidade de 80 mil sacos
te na seleção do pré-viveiro), destinadas a Operações Coeficiente Demanda
um plantio definitivo de 500 ha. técnico hd ht
Preparo - - 70
mecânico da
Tabela 1. Demanda em homem-dia
área
(hd) e horas-trator (ht) para a condução
Capina 5000 m2 / hd 16 -
de um pré-viveiro com 90 mil plantas
química antes
formadas em sacos plásticos da instalação
Coeficiente Demanda Coleta 3000 kg / hd 600 100
Operações de solo e
técnico hd ht
Piqueteamento, peneiramento
preparo de Enchimento 500 sacos 160 -
- 50 10 dos sacos / hd
canteiros e
sombreamento Balizamento 500 sacos 160 80
Coleta, e distribuição / hd
peneiramento dos sacos
- 100 20 Coveamento 1000 sacos 80 -
e transporte de
terriço no saco / hd
Enchimento dos Transplantio 500 plantas 160 -
1000 / hd 90 - / hd
sacos
Arrumação Capina 3000 sacos 270 -
dos sacos nos 1000 / hd 90 - manual nos / hd
canteiros sacos (10
Repicagem vezes)
das sementes 2000 / hd 45 - Irrigação - 600 -
germinadas Adubação 2000 sacos 240 -
Tratos culturais - 100 - (seis vezes) / hd
Irrigação 45000 / hd 60 - Aplicação de 5000 sacos 80 -
Seleção 30000 / hd 3 - fungicidas/ / hd
TOTAL 538 30 herbicidas (5
vezes)
Fonte: Adaptado de Barcelos et al. (2001).
Seleção (aos 10000 sacos 16 -
três e seis / hd
meses)
TOTAL 2382 250 h
Fonte: Adaptado de Barcelos et al. (2001)

106 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
NEVES, J. C. L.; GOMES, J. M.; NOVAIS, R. F.
Fertilização mineral de mudas de eucalipto.
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Planter, v. 73, n. 855, p. 295-299, 1997. em sacolas plásticas durante a fase de pré-
viveiro. In: FERTBIO, 2006, Bonito. Anais...
CORLEY, R. H. V.; TINKER, P .B. The oil palm. 4. Bonito: Embrapa Agropecuária Oeste, 2006.
ed. Oxford: Blackwell Science, 2003. 562 p. 1. CD-ROM.

GONÇALVES, J. L. M.; SANTARELLI, E. G.; MO- TEIXEIRA, P. C.; RODRIGUES, H. S.; LIMA, W. A.
RAES NETO, S. P.; MANARA, M. P. Produção A.; ROCHA, R. N. C.; CUNHA, R. N. V.; LOPES,
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nutrição, sombreamento e fertilização. In: aplicação de fertilizantes de liberação lenta,
GONÇALVES, J.L.M.; BENEDETTI, V. (Ed.). Nu- durante o previveiro, no crescimento de mu-
trição e fertilização florestal. Piracicaba: das de dendezeiro (Elaeis guineensis Jacq.).
IPEF, 2000. p.309-350. Ciência Florestal, Santa Maria, v. 19, n. 2, p.
157-168, abr/jun, 2009.
JACQUEMARD, J. C. et al. Le palmier à huile.
Paris: Maisonneuve et Larose, 1995. 207 p.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 107


108 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 5

Práticas de manejo sustentável na


manutenção do plantio da palma de
óleo na Amazônia
Raimundo Nonato Vieira da Cunha, Maria do Rosário Lobato Rodrigues, Jeferson
Luis Vasconcelos de Macedo, Ricardo Lopes, Raimundo Nonato Carvalho da Rocha,
Paulo César Teixeira e Wanderlei Antônio Alves de Lima

1. Introdução 2. Práticas de manejo


A manutenção de uma plantação de
da cultura da palma
palma de óleo (dendezeiro) divide-se no de óleo
tempo em duas partes: a primeira diz res-
peito à fase jovem, durante a qual as árvo- 2.1 Coroamento das plantas
res são improdutivas e cuja duração pode
se estender até três anos em função das No primeiro ano, essa prática deve ser
condições edafoclimáticas e do material realizada com a frequência de seis a oito
genético utilizado. As plantas apresentam vezes em um raio de 1,5 m do coleto da
um crescimento vegetativo acentuado, planta, de preferência manualmente com
com a emissão de duas a três folhas por terçado ou foice. Do segundo ao quarto
mês, e produção muito variável por planta. ano, sempre que possível, recomenda-se
A fase produtiva, que vem em sequência, também o controle manual de invasoras,
pode durar de 25 a 30 anos em função tendo em vista que, ao se efetuar o contro-
principalmente do crescimento em altura le químico, é quase impossível não atingir
do material genético que se utiliza. as folhas da palmeira ainda fotossintetica-
mente ativas. Nessa idade, o comprimento
As práticas de manejo da palma de do raio vai depender do desenvolvimento
óleo são similares às de outros cultivos vegetativo, mas estendendo-se, pelo me-
perenes, destacando-se, entre outras, a nos, até o limite de projeção da copa.
fertilização, o coroamento, a roçagem, o
controle de pragas e doenças, os cultivos Na fase adulta, é de fundamental im-
intercalados, a poda, e a colheita. Algu- portância que a coroa seja mantida sempre
mas dessas práticas, dado o seu grau de limpa, em um raio de aproximadamente 2
importância, serão abordadas em capítu- m, pois facilita a detecção de frutos desta-
los específicos. cados, que indicam a existência de cachos
prontos para serem colhidos (Figura 1, 2 e 3).

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 109


Figura 1 – Coroamento manual de plantas jovens em palmares (Foto: Raimundo Rocha)

Figura 2 – Coroamento planta adulta de palma de óleo Figura 3 – Plantas de palma de óleo coroadas. (Foto:
(Foto: Raimundo Rocha) Raimundo Rocha)

Figura 4 – Controle químico de plantas daninhas em palmares (Foto: Raimundo Rocha)

110 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Nessa fase, a manutenção mista pode ser natureza diversa, roedores ou quaisquer
conveniente, alternando-se o coroamento outras desordens que possam ocorrer nas
manual e o químico, na razão de 1:2, res- palmeiras jovens e adultas. Essa fiscaliza-
pectivamente. A frequência dessa prática ção deve compreender:
depende das condições climatológicas. Em
– Controles de rotina: realizados em
condições favoráveis, pode ser necessário
intervalos definidos de acordo com as con-
realizá-la até seis vezes ao ano, no caso do
dições históricas de ocorrência de proble-
coroamento ser realizado manualmente.
mas na região, sendo geralmente mensais.
Contudo, nas médias e grandes plantações,
Adota-se como prática uma visita quinze-
por questão de economicidade, vem preva-
nal, inspecionando-se linhas alternadas
lecendo o controle químico (Figura 4).
em cada passagem. Isso significa que
cada árvore é inspecionada uma vez por
2.2 Roçagem das entrelinhas mês, enquanto a parcela como um todo é
Esta operação tem por objetivo favorecer verificada quinzenalmente. Um operário é
a instalação das plantas utilizadas como co- responsável por inspecionar 200 ha.
bertura do solo, o desenvolvimento da pal- Os pontos fiscalizados mais detida-
meira jovem e a movimentação dos traba- mente são:
lhadores na plantação. A atividade pode ser
• a base dos pecíolos e bulbos, para ve-
necessária de duas a três vezes por ano.
rificar possíveis ataques de roedores;
Em cultivo jovem, recomenda-se rea-
• a folhagem, verificando-se a ocorrên-
lizá-la manualmente, o que permite, na
cia de lagartas desfolhadoras e sinto-
medida do possível, uma roçagem seleti-
mas de doenças, tais como Amarele-
va, de forma a preservar a flora útil. Se as
cimento Fatal (AF), anel vermelho e
condições de preparo da área permitem o
deficiência de boro.
uso de máquinas, pode-se realizá-la meca-
nicamente, com uma roçadeira a uma al- Qualquer outra anomalia não atribuída
tura capaz de não prejudicar muito a legu- a doenças ou pragas deve ser registrada
minosa de cobertura. Na fase adulta, se as com precisão pelo responsável pela fisca-
condições de preparo da área permitirem, lização em fichas apropriadas para cada
a roçagem mecanizada é preferível. bloco de plantio. A equipe de fitossani-
dade deve tratar dos problemas à medida
que vão surgindo, incluindo fiscalização e
2.3 Limpeza da bordadura do troca de iscas de controle de pequenos ro-
plantio edores e do Rhyncophorus, destruição de
A operação tem por objetivo manter formigueiros e identificação das palmeiras
os arbustos da bordadura afastados do mortas (BERTHAUD et al., 2000).
plantio para reduzir o sombreamento e
os ataques de pragas. Pode ser realizada – Controles especiais: em certos casos
uma ou duas vezes por ano, manual ou (pragas de raízes, doenças letais), os con-
mecanicamente. troles de rotina são muito imprecisos. Deve-
se, então, efetuar um controle específico,
sob a responsabilidade de especialistas, a
2.4 Fitossanidade do plantio fim de que medidas de tratamento ou con-
trole sejam adotadas em tempo hábil.
A fiscalização sanitária é indispensá-
vel para tratar a tempo os diferentes da- – Erradicação de palmeiras doentes:
nos causados por insetos, patógenos de de um modo geral, é necessário erradicar

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 111


as palmeiras mortas pela ação de ventos dessa prática é efetuada em plantações
e raios e as doentes tão logo os primeiros adultas de palma de óleo com grande pro-
sintomas sejam identificados. dução de inflorescências masculinas. As
inflorescências a serem colhidas devem
apresentar 3/4 das flores em antese. A
2.5 Polinização assistida coleta em si consiste no ensacamento da
A palma de óleo é uma planta monoi- inflorescência e corte do pedúnculo. Os
ca, com emissões de inflorescências mas- sacos podem ser de papel ou plástico com
culinas e femininas em ciclos alternados, dimensões de 0,7 x 0,6 m. Após a coleta,
tornando-se uma planta individualmente deve-se deixá-las secar por algumas horas
e com variações entre plantas. Quando ao ar livre ou em sala climatizada; em se-
as condições de clima e solo são bastan- guida, deve-se bater o saco com a inflores-
te favoráveis, e dependendo também do cência para liberação do pólen, peneirar e
material genético, as palmeiras jovens deixar secar na estufa durante 12 h, a 37
tendem a produzir inflorescências femi- - 39° C. O pólen obtido é armazenado em
ninas conjuntamente, o que implica em frascos hermeticamente fechados, que re-
grande número de aborto de cachos com cebem inscrição de data e peso e são leva-
má frutificação. Uma das recomendações dos ao congelador para conservação a -18º
para solucionar esse problema consiste C (BERTHAUD et al., 2000).
em efetuar o plantio com materiais de
Para se realizar a polinização, utiliza-se
procedência genética distinta. A alternati-
uma polvilhadeira que permita a dispersão
va seria, em pontos variados da plantação,
de uma nuvem da mistura constituída de tal-
“estressar” algumas plantas através de
co mais 0,05 g de pólen, à razão de 4:1 por
uma poda severa, visando à indução do
inflorescência feminina. O rendimento diário
ciclo masculino de inflorescências. Ressal-
de um polinizador é de cerca de 5 ha, sendo
ta-se que a polinização da palma de óleo
aconselhável duas passagens por semana na
é entomófila, mas o inseto polinizador (E.
mesma área (JACQUEMARD, 1995).
kamerunicus) não sobrevive quando não
há flores masculinas.
A polinização assistida já foi muito uti-
2.6 Limpeza pré-colheita
lizada no passado, mas, atualmente, em Seis meses antes da entrada em co-
virtude da adoção das medidas já men- lheita, ou seja, aos dois anos e meio caso
cionadas, tem caído em desuso; contudo, se considere a colheita regular a partir de
é uma prática obrigatória quando se trata três anos, recomenda-se efetuar a retirada
de plantios de híbridos interespecíficos E. de folhas secas e cachos que já se encon-
oleifera x E. guineensis (O x G) e, neste tram em decomposição.
caso, a polinização não se restringe ape-
nas à fase jovem, estendendo-se durante
a fase adulta da planta, uma vez que es-
2.7 Poda
ses híbridos apresentam baixa fertilidade Essa prática se refere à eliminação de
polínica. Esses materiais representam atu- folhas que perderam a funcionalidade ou
almente a única opção para fazer frente que, por sua localização, estejam dificul-
ao Amarelecimento Fatal e são, cada vez tando a colheita de cachos maduros. Sua
mais, solicitados tanto por grandes quan- realização deve coincidir com o período de
to por pequenos produtores. fraca a média produção. A intensidade da
poda (número de folhas retiradas) é variá-
A colheita do pólen para a realização
vel de acordo com a idade das palmeiras:

112 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
- até 4 ou 5 anos: evita-se cortar folhas lhidos no período, a qual deve levar em
funcionais, de maneira a favorecer o conta resultados anteriores. Pode-se sele-
desenvolvimento da palmeira; nessa cionar uma amostra de 5% das árvores, ou
idade, a poda se resume à retirada de seja, uma linha sobre 20, da qual todas as
folhas secas; árvores são observadas. A linha amostra-
da não se altera de uma observação para
- de 6 a 15 anos: deixar duas folhas sob
outra. O número de cachos é multiplicado
o cacho maduro ou imaturo; quando
pela estimação do peso médio. As varia-
não houver cachos, deixam-se cinco
ções sazonais de duração da maturação e
folhas por espiral;
a dificuldade de se estimar o peso médio
- após 15 anos: deixar apenas uma fo- podem causar sub ou superestimação da
lha sob o cacho maduro, dada a di- produção (JACQUEMARD, 1995).
ficuldade de se detectar cachos em
plantas altas.
2.8.2 Critérios de maturidade e
frequência de colheita
A frequência dessa prática está condi-
O teor de óleo no cacho continua in-
cionada a fatores como emissão foliar e
crementando até os últimos dias que ante-
picos de produção, mas, geralmente, é
cedem a colheita. Quando os primeiros se
realizada uma vez ao ano. O rendimento
destacam, o cacho é considerado maduro.
também é bastante variável, dependendo
A maturação dos cachos não é uniforme:
do número de folhas a serem retiradas.
a progressão ocorre do alto para baixo e
Além do corte das folhas, o trabalho do exterior para o interior do cacho. Nu-
de poda deve ser complementado por ou- merosos fatores intervêm no processo de
tras atividades, que consistem em: elimi- maturação e na taxa de frutos destacados:
nar flores masculinas secas, samambaias clima, idade das palmeiras, origem gené-
do estipe e coroa foliar; cortar o pecíolo e tica e duração dos intervalos de colheita
a raque das folhas, estas em dois ou três (BERTHAUD et al., 2000).
segmentos, e amontoar os mesmos na
Considera-se como estado ótimo de
leira ou em montes entre as palmeiras na
colheita quando o cacho colhido contém
linha de plantio.
o máximo teor em óleo com o mínimo de
frutos destacados e um nível razoável de
acidez. Quanto menor a quantidade de
2.8 Colheita
ácidos graxos livres, melhor será a qualida-
Para uma boa execução das operações de do óleo. Em um fruto maduro, o teor
de colheita, é necessário prever o volume de ácidos graxos livres é de 0,5% e, em
de produção, definir critérios de maturida- cachos que foram colhidos e processados
de eficazes e transportar para a usina, no sem atraso, esse teor é cerca de 2% (CO-
menor espaço de tempo possível, os ca- ORLEY & TINKER, 2003).
chos colhidos e os frutos destacados.
A colheita dos frutos destacados é
2.8.1 Previsão de colheita uma operação dispendiosa. Muitas vezes,
Uma previsão semestral pode ser feita uma parte significativa do óleo é perdida
por contagem das inflorescências fêmeas em função dos frutos soltos que são ar-
e cachos, supondo-se que serão colhidos remessados longe da coroa das plantas,
nos próximos seis meses. Essa contagem impedindo ou dificultando a colheita dos
deve ser complementada com a avaliação mesmos. Para amenizar essa perda, um
do peso médio de cachos a serem co- padrão de amadurecimento do cacho

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 113


deve ser previamen-
te definido para os
colhedores. A ten-
dência, atualmen-
te, é aceitar como
padrão mínimo de
amadurecimento
a existência de um
fruto destacado no
cacho ou no solo
quando se tratar de
plantas altas, que
não permitem uma
visualização mais
próxima.
Para garantir a
Figura 5 – Recolhimento de cachos de palma de óleo com microtrator (Foito:
boa qualidade da Raimundo Rocha)
colheita, é neces-
sário realizar de três
de cachos é de 200 a 800 kg em plantios
a quatro turnos de colheita nos meses de
jovens, e de 600 a 2.200 kg em plantios
maior produção, e dois turnos nos me-
adultos. A utilização de animais vem sen-
ses de menor produção. É uma operação
do muito utilizada, principalmente na
exclusivamente manual, pois, até o mo-
América Latina. Caso se utilize uma junta
mento, todos os protótipos de máquinas
de bois atrelada a uma carroça com ces-
testados não mostraram ser eficientes. As
to basculante de 500 kg de carga útil, são
ferramentas utilizadas são de vários tipos
necessários três operários (um condutor e
e o seu uso depende da idade da planta:
dois carregadores), e o rendimento médio
da entrada em colheita até o quarto ano
por homem/dia pode chegar a 2.300 kg
utiliza-se o cinzel; do quinto ao sexto ano
de cachos (JACQUEMARD, 1995).
utiliza-se indistintamente o ferro de cova
ou a pá de corte. A partir do momento em A retirada mecanizada de cachos é vi-
que os cachos não são mais facilmente ável quando a produção da parcela for su-
alcançados com as ferramentas preceden- perior a 400 kg/ha/turno de colheita. Dois
tes, utiliza-se a foice malasiana (JACQUE- sistemas de transporte são possíveis: um
MARD, 1995; BERTHAUD et al., 2000). deles consiste na retirada de cachos até a
2.8.3 Retirada dos cachos até a bordadura da parcela, empregando-se pe-
quenos tratores agrícolas de 30 HP acopla-
bordadura da parcela
dos a uma carroceria basculante com capa-
Essa operação pode ser realizada ma- cidade de 3 t e uma equipe constituída de
nualmente, com carrinhos de mão, com um motorista e dois carregadores. O rendi-
tração animal ou mecanicamente (Figura mento médio da equipe pode alcançar 20
5). A retirada manual ocorre apenas em si- t de cachos/dia. Outro sistema consiste na
tuações em que a topografia não favorece retirada de cachos e transporte direto até
o uso de alternativas. A utilização de car- a usina. Pode-se empregar tratores agríco-
rinho de mão melhora o rendimento/dia las de 60 HP equipados com uma carreta
de 10 a 30% em relação à retirada manual. agrícola de 3 a 4 t de carga útil em planta-
A capacidade diária de colheita e retirada ções com mais de cinco anos e em áreas

114 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
bastante planas. Com uma equipe de três com guindaste para facilitar o carrega-
pessoas, é possível transportar de 12 a 18 t mento com o uso de redes. A equipe é
de cachos/dia até a usina, a uma distância constituída de um motorista e três carre-
de 7 a 10 km (BERTHAUD et al., 2000). gadores. O rendimento depende essen-
cialmente da distância a ser percorrida e
2.8.4 Transporte dos cachos até
da capacidade de carga do equipamento
a usina
utilizado (JACQUEMARD, 1995).
Quando os cachos são dispostos na
bordadura da parcela, devem ser transpor-
tados à usina o mais rápido possível. Para 2.9 Coeficientes técnicos
que se obtenha uma boa qualidade de
Os coeficientes das várias práticas de
óleo, recomenda-se que, da colheita ao
manutenção de palma de óleo são muito
início do processamento, o tempo trans-
variáveis, uma vez que as condições espe-
corrido não exceda 48 h. Para pequenas
cíficas de cada plantação têm que ser ob-
distâncias, podem ser utilizados tratores
servadas. Assim, eles devem ser ajustados
equipados com carretas com capacidade
aos projetos considerando a localidade, as
de 3 a 10 t. É necessária uma equipe cons-
condições de topografia e vegetação da
tituída de um motorista e dois carregado-
área, a capacidade gerencial e a experiên-
res. Para distâncias mais longas, é prefe-
cia na execução das atividades.
rível utilizar caçambas com capacidade
mínima de 7 t. Estas podem ser equipadas

Tabela 1. Coeficientes técnicos para atividades de manejo na fase jovem da


cultura de palma de óleo na Amazônia (1 hectare)

Operação Pessoal
Coroamento manual 0,6 – 0,8 h/d/ronda
Ampliação química das coroas 1,0 h/d/ronda
Roçagem manual das entrelinhas 2,5 h/d/ronda
Limpeza manual das bordaduras 500 m/h/d
Eliminação das plantas invasoras
Gramíneas
1º tratamento manual 6 h/d
2º tratamento 1,0 h/d
3º tratamento 0,5 h/d
Controle de rotina 2,5 h/d/ronda
Plantas lenhosas 0,1 h/d
Adubação (incluídos mistura e transporte) 0,7 h/d/ronda
Polinização assistida
- detecção da falta de pólen 0,001 h/d/ronda
- colheita e preparo do pólen 0,02 h/d/ronda
- polinização assistida 0,2 h/d/ronda
Limpeza pré-colheita 1,5 h/d
Controle fitossanitário
- controles de rotina 0,04 h/d
- controles especiais, tratamentos e erradicação Prever 1 h/d
Manutenção da rede de drenagem Variável conforme a rede

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 115


Tabela 2. Coeficientes técnicos para atividades de manutenção nas áreas em
produção de palma de óleo (1 hectare)

Operação Pessoal
- Coroamento
Manual 1,0 – 1,25 h/d/ronda
Mecanizado (roçadeira portátil) 0,8 h/d/ronda
Químico (pulverizador costal) 0,3 h/d/ronda
Químico (pulverizador UBV/ULVI) 0,15 h/d/ronda
- Roçagem das entrelinhas
Manual 1,5 h/d/ronda
Mecanizado (roçadeira portátil) 0,8 h/d/ronda
- Limpeza manual das bordaduras 500 m/hd
- Controle das plantas invasoras 0,9 h/d/ronda
- Adubação (incluídos a mistura e o transporte) 0,7 h/d/ronda
- Poda
- árvores < 6 metros de altura 3,0 h/d/ronda
- árvores > 6 metros de altura 4-5 h/d/ronda
- Controle fitossanitário
- controles de rotina 0,04 h/d
- controles especiais, tratamentos e erradicação prever 1 h/d
- Manutenção da rede de drenagem variável conforme a rede

Tabela 3. Coeficientes técnicos para as atividades de colheita de cachos e coleta


de frutos de palma de óleo

Colheita dos cachos Quantidade Rendimento


Ano 3 5,5 h/d/t 0,2 t/h/d
Ano 4 1,2-2,5 h/d/t 0,4 – 0,8 t/h/d
Ano 5 1,2-2,0 h/d/t 0,5 – 0,8 t/h/d
Ano 6 a 19 0,5-1,7 h/d/t 0,6 – 2,0 t/h/d
Ano 20 a 30 2,0 h/d/t 0,5 t/h/d
Coleta dos cachos 0,1 h/d/t 10 t/h/d
(caçamba com guindaste)
Controles da colheita e do 0,01 h/d/ha 100 ha/h/d
transporte

116 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Nas Tabelas 1, 2 e 3 são apresentados CORLEY, R. V. H.; TINKER, P. B. The oil
os coeficientes técnicos para 1 hectare de palm. 4 ed. Londres: Blackwell Science,
palma de óleo, tomando como base des- 2003.
crições satisfatórias desses coeficientes
JACQUEMARD, J. C. Le palmier à huile.
apresentadas em BERTHAUD et al. (2000),
Paris: Maisonneuve & Larose, 1995. 207 p.
CORLEY & TINKER (2003), RANKINE & FAI-
Le Technicien d’agriculture tropicale).
RHURST (1999a), RANKINE & FAIRHURST
(1999b) e observações realizadas em pro- RANKINE, I. R.; FAIRHURST, T. H. Field
jetos de pesquisa e plantações comerciais Handbook: oil palm series volume 2 - im-
conduzidos nas condições amazônicas. mature. Singapore: Potash & Phosphate
Institute (PPI) ; Saskatoon: Potash & Phos-
phate Institute of Canada, 1999a. 154 p.
RANKINE, I. R.; FAIRHURST, T. H. Field
3. Referências Handbook: oil palm series volume 3– Ma-
ture. 2 ed. Singapore: Potash & Phosphate
bibliográficas Institute (PPI) ; Saskatoon: Potash & Phos-
phate Institute of Canada, 1999b. 135 p.
BERTHAUD, A.; NUNES, C. D. M.; BAR-
CELOS, B.; CUNHA, R. N. C. Implantação e
exploração da cultura do dendezeiro. In:
VIÉGAS, I. J. M.; MÜLLER, A. A. (Ed.). A cul-
tura do Dendezeiro na Amazônia Brasi-
leira. Belém: EMBRAPA Amazônia Oriental
; Manaus: Embrapa Amazônia Ocidental,
2000. p. 193-222.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 117


118 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 6

Avaliação do estado nutricional e


manejo da fertilidade do solo para
produção sustentável da cultura da
palma de óleo na Amazônia
Maria do Rosário Lobato Rodrigues, Paulo César Teixeira, Jeferson Luis Vasconcelos
de Macedo, Raimundo Nonato Vieira da Cunha, Ricardo Lopes, Raimundo Nonato
Carvalho da Rocha e Wenceslau Geraldes Teixeira

óleo, presta um grande auxílio quando se


pretende estabelecer os princípios gerais
1. Introdução de uma política de adubação na fase ini-
cial de implantação da cultura. Entretanto,
A definição de doses adequadas de chama-se a atenção para o fato de que a
nutrientes deve ser fundamentada pri- ocorrência de nutrientes no solo em quan-
mordialmente no conhecimento das exi- tidades disponíveis consideradas suficien-
gências da cultura e na identificação da tes não indica que a planta está utilizando
capacidade dos solos de fornecer esses tais elementos, pois vários fatores podem
nutrientes às plantas. Os métodos para de- afetar a absorção, como disponibilidade
terminação das deficiências nutricionais da de água, aeração, temperatura do solo,
palma de óleo (dendezeiro) são: diagnose interações entre os elementos, presença
visual, análise química do solo, ensaios de de microrganismos, entre outros, além da-
adubação e diagnóstico/análise foliar. In- queles inerentes à própria planta.
dividualmente, esses métodos não podem A definição de um programa de
ser aplicados para a definição de um pro- adubação equilibrado que atenda às ne-
grama de adubação, devendo ser utiliza- cessidades fisiológicas da planta é fator
dos, preferencialmente, em conjunto. indispensável para a obtenção de um bom
A observação visual das deficiên- rendimento e para a manutenção de ní-
cias no palmar é frequentemente utiliza- veis satisfatórios de produção. Os fatores
da como meio auxiliar, associando se as essenciais do balanço dos elementos mi-
anormalidades apresentadas pelas plan- nerais são, por um lado, o consumo pelas
tas às deficiências prováveis, que muitas plantas e as perdas por lixiviação, erosão e
vezes só se manifestam com sintomas volatilização e, por outro, o fornecimento
visíveis muito tardiamente. Por outro lado, pelo solo e pela adubação. Assim, o su-
a análise química do solo, que determina primento inadequado de nutrientes, seja
os elementos assimiláveis pela palma de pela falta, excesso, ou mesmo desbalan-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 119


ço, pode promover distúrbios nas reações coletadas sejam representativas da área
fisiológicas das plantas que, por sua vez, amostrada do terreno, torna-se necessário
podem restringir o crescimento, a produ- seguir alguns critérios, descritos por Rodri-
ção e aumentar o estresse, ocasionando gues et al. (2002), relativos à elaboração
maior predisposição e susceptibilidade a de um croqui de campo, ao tamanho das
pragas e doenças. No Estado do Amazo- glebas x número de amostras, à profun-
nas, onde os preços do transporte e dos didade e ao local de coleta das amostras,
fertilizantes elevam demasiadamente os entre outros cuidados.
custos de produção, é particularmente
importante maximizar a eficiência no uso
dos mesmos.
Neste capítulo procura-se fornecer in- 3. Avaliação do
formações básicas sobre a avaliação do
estado nutricional da palma de óleo, com estado nutricional da
ênfase para o sistema de recomendação palma de óleo
de fertilizantes para a cultura com base
no diagnóstico foliar e nos resultados das
pesquisas desenvolvidas na região.
3.1. Sintomas de deficiências
A diagnose visual é uma técnica sim-
ples, baseada no fato de que plantas com
deficiência acentuada ou excesso de um
dado elemento apresentam, normalmen-
2. Avaliação da te, sintomas visíveis e característicos dos
fertilidade do solo distúrbios provocados pelo elemento em
questão. Deve-se, entretanto, chamar a
atenção para dois aspectos:
Antes da implantação do palmar, é in-
dispensável realizar a análise de solo para a) antes de aparecerem sintomas de de-
se conhecer as quantidades de nutrientes ficiências visíveis e típicos de um ele-
nele disponíveis e para que os adubos se- mento, o crescimento e a produção
jam adicionados em quantidades adequa- já poderão estar comprometidos; por-
das. Nesse sentido, a análise do solo, que tanto, esta técnica não se aplica na
gera um diagnóstico das condições de fer- detecção da fome ou toxidez oculta;
tilidade, constitui uma valiosa ferramenta
b) a distinção visual das deficiências exi-
para a predição da necessidade ou não de
ge pessoal qualificado e deve ser uti-
correção e de adubação na fase inicial de
lizada, preferencialmente, como um
implantação da cultura. Essa análise pode,
meio auxiliar de avaliação do estado
ainda, indicar as mudanças nas reservas
nutricional da palma de óleo (MALA-
de nutrientes do solo durante o ciclo do
VOLTA et al., 1997). Por outro lado,
cultivo causadas pela aplicação dos ferti-
a inspeção do palmar, quando bem
lizantes e pelo manejo adotado, servindo
efetuada, permite detectar e inter-
também como complemento da avaliação
pretar os sintomas de deficiências e
nutricional da palma de óleo.
o efeito dos nutrientes aplicados. Na
Por outro lado, a correta avaliação do Tabela 1, estão sumarizados os prin-
solo dependerá, em grande parte, do mé- cipais sintomas e causas de deficiên-
todo de amostragem e dos cuidados ao cias nutricionais na palma de óleo já
realizá-la. Assim, para que as amostras observados na região.

120 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Tabela 1. Sintomas e causas de deficiências nutricionais na palma de óleo na Amazônia

Nutriente Sintomas Causas


Nitrogênio Descoloração dos folíolos na sequência: verde, verde-pálido, verde-amarelado e amarelado Solos arenosos pobres em húmus ou
(N) e seco. Essa descoloração afeta primeiro as folhas mais novas, progredindo para as mais precariamente drenados, ou, ainda,
velhas à medida que a deficiência se acentua. As plantas com deficiência severa de N têm solos mal drenados, em decorrência de
o ráquis e as nervuras centrais dos folíolos de cor amarelada e a folha tende a encurvar. compactação ou quando a alternância das
Se os sintomas são agudos e persistentes, observa-se uma redução generalizada no estações secas e úmidas gera um forte
desenvolvimento vegetativo da palma de óleo. movimento do nível do lençol freático,
ocasionando asfixia periódica das raízes.
Fósforo (P) Não apresenta sintomas visuais típicos, mas observa-se uma redução do crescimento e da Baixa disponibilidade, devido às baixas
produção. Estipe em formato de pirâmide e secamento prematuro das folhas mais velhas concentrações de P disponíveis no
podem estar associados à deficiência de fósforo. Áreas deficientes em P também podem ser solo; fixação pelo solo e/ou aplicação
identificadas pela predominância de gramíneas sobre as leguminosas que têm dificuldade inadequada; pH baixo.
em se estabelecer como plantas de cobertura e, em alguns casos, pela presença de uma cor
púrpura nas gramíneas.
Potássio Os sintomas foliares de deficiência de potássio mais comuns são: manchas alaranjadas Concentrações muito baixas de K
(K) confluentes e descoloração difusa verde-amarelada para amarelo pálido que aparecem nos trocável (< 0,15 cmolc kg-1); solos
folíolos das folhas baixas e intermediárias. Normalmente, quando os teores foliares em K arenosos, muito ácidos e/ou turfosos.
são inferiores a 6 g kg-1, um necrosamento marginal é desenvolvido ao longo dos folíolos, Estresse hídrico muito forte. Excesso
começando pelo ápice; as manchas alaranjadas podem tornar-se necróticas e ser o sítio de cálcio proveniente da calagem e/ou
de uma invasão patogênica secundária, secando posteriormente. Ocasionalmente, plantas do adubo fosfatado, assim como um
isoladas podem ser encontradas com esses sintomas, tendo ao redor outras que não os excesso de magnésio, pode induzir ou
apresentam; nesse caso, os sintomas são mais um efeito genético que uma deficiência de K. acentuar a deficiência em K.
Magnésio A deficiência se manifesta como uma clorose das folhas velhas, que exibem coloração Solos contendo baixos teores de Mg
(Mg) amarelo laranja claro. Os primeiros sintomas aparecem como manchas de cor verde-oliva (<0,2 cmolc kg-1); também em solos de
ou ocre nas pontas dos folíolos velhos mais expostos à luz solar. À medida que se agrava a textura leve e em solos ácidos, nos quais
deficiência, a cor muda para amarelo brilhante ou amarelo profundo e, eventualmente, as a camada superficial tenha erodido. A
folhas afetadas secam. As manchas cloróticas podem ser afetadas mais tarde por invasões deficiência de Mg pode ser induzida

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


de microrganismos, principalmente fungos como Pestalotiopsis grasilis. Os sintomas de ou acentuada por uma forte adubação

|
deficiência de Mg são sempre mais pronunciados em folíolos expostos à luz solar; nas partes potássica.
protegidas não há clorose, isto é, os folíolos ou parte de sua superfície que estão na sombra
permanecem verdes, sintoma característico da diagnose visual, conhecido como “efeito
sombra”. Muitas plantas parecem ser geneticamente predispostas à deficiência de Mg.

121
122
|
Tabela 1. Sintomas e causas de deficiências nutricionais na palma de óleo na Amazônia (continuação)

Nutriente Sintomas Causas


Boro (B) A maioria dos sintomas morfológicos de deficiência de B apresenta anormalidades no Baixo teor no solo (< 0,3 a 0,5 mg kg-1
desenvolvimento das folhas mais novas, denominadas de “folha curta”, “folha de gancho”, de B, extraído por água quente). As
“folha espinha de peixe”, “folha de baioneta”, “banda branca do folíolo”. Folhas deficientes deficiências de B podem ser acentuadas
em B, além de mal formadas e enrugadas, são também quebradiças e de cor verde escuro. O por uma aplicação de doses elevadas
primeiro sintoma de deficiência de B é o encurtamento das folhas jovens, dando às plantas de NPKCa e/ou quando as condições
um aspecto de patamar, “copa plana”. Sintomas que se assemelham à deficiência de B edafoclimáticas são muito favoráveis a
podem ser induzidos também por uma bactéria do gênero Erwina (bud-rot) ou mesmo por um desenvolvimento rápido e a uma
anomalias genéticas (little-leaf) alta produção (alta precipitação). Solos
com pH muito baixo (<4,5) ou muito alto
(>7,5). Inadequada aplicação de B.
Cobre (Cu) Os sintomas de deficiência de Cu iniciam com o aparecimento de manchas cloróticas nas A deficiência de Cu tem sido observada
primeiras folhas abertas e, à medida que avança a deficiência, as folhas novas começam sobre certos tipos de solos bem
a ficar curtas; os folíolos afetados amarelecem do ápice até o centro e, posteriormente, particulares e ricos em matéria orgânica
necrosam e secam. Nos viveiros e plantações jovens da Amazônia, os sintomas essenciais (turfas). Também se tem observado, em
são: o aparecimento, nas folhas novas, de pequenas manchas cloróticas de forma retangular experimentos de adubação no Brasil,
que, em seguida, podem reunir-se, formando acumulações paralelas às nervuras, de a ocorrência de deficiência em Cu
contorno irregular. Pode-se observar, também, o desenvolvimento de pequenas necroses associada às doses mais elevadas dos
nas extremidades dessas folhas, dando ao viveiro um aspecto geral bronzeado; a emissão nutrientes NPK.
foliar é mais lenta e as folhas, mais curtas; ocorre uma redução no crescimento que pode ser
acompanhado de perdas consideráveis de produção.

Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia


Fontes: Pacheco et al. (1985), Fairhurst (1998), Rodrigues (1993), Viégas e Botelho (2000) e Rodrigues et al. (2002)
3.2. Diagnóstico Foliar da - conhecer a resposta da planta à apli-
palma de óleo cação de fertilizantes nos diferentes
sistemas de cultivos praticados;
Em geral, a parte da planta mais
utilizada para a avaliação nutricional é a - estabelecer os fatores de variação
folha, pois é o órgão que contém a maior dos teores foliares, os níveis críticos e
porcentagem dos nutrientes e que melhor a interação entre os elementos, pos-
reflete o estado nutricional da maioria dos sibilitando, assim, o uso dessa técni-
elementos, principalmente aqueles que ca como instrumento de diagnose
afetam diretamente a fotossíntese. Os do estado nutricional da planta para
estudos sobre nutrição mineral da palma fins de recomendação de adubação
de óleo, aliados à filotaxia da planta, que da cultura e aumento na eficiência
facilita a identificação correta das folhas, das adubações.
permitiram que o diagnóstico foliar fosse O método de diagnose foliar baseia-
utilizado como ferramenta básica nos pro- se no fato, demonstrado experimental-
gramas de adubação durante a fase pro- mente, de que, dentro de certos limites,
dutiva da cultura. Análises foliares podem há uma relação direta e positiva entre teor
ser suplementadas por análises dos teci- foliar, crescimento e produção. Portanto,
dos da ráquis (armazenamento de nutrien- é de se esperar que um aumento na con-
tes) e do solo. Usando tais informações, centração de um determinado elemento
as frequências de aplicações e as fontes (ou elementos) na folha corresponda a
de fertilizantes podem ser objetivamente um aumento de produção. Em uma plan-
determinadas. Estudando a resposta da tação de palma de óleo, o controle da
palma de óleo à aplicação de fertilizantes, nutrição mineral se apoia na associação
Rodrigues (1993) verificou que a análise estreita entre a experimentação de cam-
foliar é um instrumento bastante eficiente po e a informação do diagnóstico foliar.
para avaliação e controle do estado nutri- A situação e o dispositivo estatístico da
cional da palma de óleo. experiência de referência são escolhidos
de forma a serem representativos da plan-
tação, levando em conta o conhecimento
3.3. Fatores envolvidos na já existente (análise do solo, experiências
interpretação dos resultados anteriores).
Nos últimos anos, tem-se intensificado
o uso da análise foliar como instrumento
de diagnose do estado nutricional das 3.4. Fatores de variação dos
plantas e da fertilidade do solo, forne- teores foliares
cendo subsídios para as recomendações Vários fatores estão envolvidos na
de adubação, principalmente de culturas interpretação dos resultados da análise
perenes. Entretanto, chama-se a atenção foliar. Entre os fatores que influenciam
para as necessidades de pesquisas, visan- direta e indiretamente os teores dos nu-
do principalmente: trientes nas folhas da palma de óleo, po-
- definir as reais exigências nutricio- de-se destacar:
nais da planta, levando em conside- • A origem e o potencial genético do
ração os fatores envolvidos, como material vegetal – a nutrição mineral
material genético e condições pedo- da palma de óleo pode variar em fun-
climáticas; ção da origem genética do material

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 123


vegetal. Nesse sentido, dados expe- frutos e, consequentemente, para
rimentais têm evidenciado um com- fora da plantação. Como o potássio é
portamento diferenciado para o po- um dos nutrientes mais demandados
tássio e para o magnésio em função pelos frutos, observa-se uma tendên-
da categoria do material vegetal plan- cia de diminuição dos teores foliares
tado (OCHS; OLIVIN, 1977). A maior desse mineral em função da idade
ou menor demanda por nutrientes das plantas. No caso do nitrogênio,
depende, portanto, das caracterís- as pesquisas têm evidenciado que
ticas genéticas do material vegetal os teores foliares desse elemento
que podem ser potencializadas pela podem variar naturalmente de 30 a
seleção x melhoramento. 23 g kg-1 em função da idade. Para
o cálcio, verificou-se um comporta-
• A posição e a idade das folhas – a
mento inverso ao do potássio e ao do
amostragem realizada sobre uma fo-
nitrogênio; isto é, houve um aumen-
lha de referência, isto é, constituída
to nos teores foliares desse elemento
de folhas coletadas em uma mesma
em função do envelhecimento das
posição em todas as plantas, minimi-
plantas. O fósforo, o magnésio e o
za as fontes de variação e aumenta
cloro não mostraram um padrão de
a representatividade da amostra, sen-
variação bem definido em função da
do que os resultados obtidos devem
idade das plantas (BACHY, 1965; KNE-
ser comparados aos níveis críticos de
CHT et al., 1977; HARTLEY, 1988).
folhas também da mesma posição e
estágio fisiológico. A concentração • As condições ambientais – as condi-
foliar de nitrogênio, fósforo e potás- ções pedoclimáticas constituem um
sio diminuem com a idade da folha; dos principais fatores de variação
para o magnésio foliar, não há uma nos estudos da relação entre teores
tendência muito definida, enquanto de nutrientes nas folhas x crescimen-
o cálcio foliar aumenta com a idade to/produção. As informações sobre
da folha (HARTLEY, 1988). Os estudos o solo, principalmente no que se
dos teores dos elementos minerais refere à disponibilidade de água e
em função da posição das folhas, por- nutrientes, são de suma importância
tanto, em função do envelhecimento para consolidar a interpretação da
do tecido vegetal, mostram gradien- análise foliar. A composição mineral
tes muito similares, de uma situação a das folhas flutua sensivelmente no
outra, para os vários elementos (PRE- decorrer do ano dependendo das
VOT; PEYRE DE MONTBRETON, 1958). condições climáticas, sendo que
a pluviometria desempenha papel
• A idade das plantas – é indispensável
preponderante sobre essa variação
que, para constituir uma amostra, as
e, em menor grau, a insolação. Vale
plantas selecionadas sejam todas da
apenas lembrar que a água é o prin-
mesma idade. Entre as várias razões
cipal veículo de transporte dos nu-
que justificam a necessidade desse
trientes no processo de absorção e
cuidado destaca-se o fato de que as
translocação. Os teores foliares de
plantas que ainda não iniciaram sua
potássio e nitrogênio, por exemplo,
produção apresentam um comporta-
são fortemente influenciados pelo
mento diferente daquelas que já es-
regime hídrico (OLLAGNIER; OCHS,
tão produzindo, pois, nestas últimas,
1981; RODRIGUES et al., 1999).
há exportação de nutrientes para os

124 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
• Os aspectos fitossanitários – a presen- liar, destacam-se como de primordial
ça de pragas e doenças, bem como o importância o nível crítico, as intera-
histórico da aplicação de tratamentos, ções e os sintomas de deficiência,
são fatores que devem ser levados por constituírem a base de utilização
em consideração na interpretação da análise foliar para determinação
dos resultados da análise foliar, pois da necessidade de adubação da pal-
influenciam a composição mineral ma de óleo. Assim, o conhecimento
das folhas e podem ter efeito na ab- da concentração dos nutrientes nos
sorção, no transporte, na redistribui- diversos órgãos da planta em suces-
ção e no metabolismo dos nutrientes. sivos estádios de desenvolvimento
Algumas substâncias usadas nos tra- é condição essencial para ajudar
tamentos fitossanitários possuem em no entendimento de problemas nu-
suas composições elementos que são tricionais e nas recomendações de
nutrientes, tais como fósforo, cobre e adubação.
cloro. Por outro lado, plantas afetadas
por pragas e doenças podem exterio-
rizar sintomatologias que se asseme- 3.5. Nível Crítico
lham a algumas deficiências nutricio-
O método de diagnose foliar baseia-
nais. Bactérias do gênero Erwinia, por
se no fato, demonstrado experimental-
exemplo, podem induzir na palma de
mente, de que, dentro de limites, há uma
óleo sintomas que se assemelham à
relação direta e positiva entre teor foliar,
deficiência de boro.
crescimento e produção. Portanto, é de
• Os tratos culturais – o estado nutri- se esperar que um aumento na concen-
cional da palma de óleo pode ser tração de um determinado elemento ou
influenciado pelo manejo dado à elementos na folha corresponda a um au-
cultura. As culturas intercalares, por mento de produção.
exemplo, podem enriquecer o solo
Os vários estudos desenvolvidos sobre
em nutrientes ou empobrecê-lo pela
a nutrição mineral da palma de óleo per-
remoção deles. As leguminosas, nor-
mitiram o estabelecimento dos níveis crí-
malmente utilizadas nas plantações
ticos, que se revelaram válidos na grande
de palma de óleo, quando bem ins-
maioria dos casos (Tabela 2). Considera-se
taladas e manejadas, enriquecem
como nível crítico de um dado elemento
o solo em nitrogênio, contribuindo
o valor abaixo do qual a probabilidade de
para que teores foliares na palma
resposta ao uso de fertilizantes é alta. En-
de óleo atinjam valores adequados
tretanto, em áreas onde as condições am-
mesmo na ausência da aplicação do
bientais estimulam altas produções, po-
fertilizante (RODRIGUES et al., 1999).
de-se facilmente encontrar níveis críticos
Por outro lado, é comum observar
mais baixos. Dentro desse contexto, é im-
teores de nitrogênio e fósforo signifi-
portante ressaltar que o emprego rigoroso
cativamente inferiores nas folhas da
da diagnose foliar implica na definição de
palma de óleo quando na cobertu-
níveis críticos, considerando as condições
ra do solo predominam gramíneas
locais, incluindo a viabilidade econômica
(GRAY; KEW, 1968).
do uso dos fertilizantes.
• Os aspectos nutricionais – entre os
vários fatores envolvidos na interpre-
tação dos resultados da análise fo-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 125


Tabela 2. Níveis críticos dos macronu- 3.6. Interação entre os
trientes definidos para a folha 9 (Prevot & nutrientes
Ollagnier, 1956) e folha 17 (BACHY, 1964)
Em teoria, podem ocorrer interações
N P K Ca Mg entre todos os nutrientes originários de si-
Folha nergismos ou de antagonismos de absor-
27.0 16.0 12.5 5.0 2.3 ção, de equilíbrios iônicos ou estruturais,
Nº 9 (1)
Folha mas, na prática, considera-se interessante
25.0 15.0 10.0 6.0 2.4 apenas a interação dos macronutrientes
Nº 17 (2)
– Nitrogênio (N), Fósforo (P), Potássio (K)
e Magnésio (Mg). As interações mais fre-
Os níveis críticos dos micronutrientes – quentemente encontradas são entre N e
Boro (B), Cobre (Cu), Ferro (Fe), Manganês P, N e K, K e Mg, e K e B, apesar de que
(Mn), Molibdênio (Mo) e Zinco (Zn) - na outras interações podem ser muito mais
palma de óleo ainda não estão bem de- significativas sob condições especificas,
finidos. Entretanto, na folha 17, é comum como por exemplo: em solos argilosos da
encontrar-se as seguintes faixas de con- Amazônia deficientes em P não se tem res-
centrações (mg.kg -1): B de 10 a 25, Cu de posta à aplicação de N e K, a menos que
4 a 15, Fe de 60 a 350, Mn de 80 a 1000, a deficiência de P seja corrigida. Em um
Mo de 0,5 a 5 e Zn de 9 a 39. plantio de palma de óleo, o excesso de
um determinado nutriente pode conduzir
No Brasil, resultados sobre concentra- a um efeito depressivo sobre a produção,
ções de nutrientes em folhas de plantas e um equilíbrio correto entre os nutrientes
de palma de óleo têm sido obtidos atra- pode induzir interações positivas, espe-
vés dos experimentos de nutrição e adu- cialmente para os solos com baixo poder
bação. As variações nos teores alcançados tampão (RODRIGUES et al., 1997).
por Chepote et al. (1988), Viégas (1993)
e Rodrigues (1993) são apresentados na Um exemplo de interação positiva
Tabela 3. Em geral, as concentrações não (sinergismo) é a que ocorre entre o nitro-
apresentaram uma marcante variação. gênio (N) e o fósforo (P). O sinergismo

Tabela 3. Variações nos teores foliares dos nutrientes em palmares no Brasil e


faixa de concentração considerada ótima

Local
Nutriente
Bahia1 Pará2 Amazonas3 Faixa Ótima4
N (g kg-1) 22,6 - 26,3 28,8 - 27,5 22,2 - 27,0 26,0 - 29,0
P (g kg-1) 1,40 - 1,90 1,20 - 1,60 1,31 - 1,76 1,60 - 1,90
K (g kg-1) 10,1 - 14,9 6,80 - 16,7 5,25 - 13,46 11,0 - 13,0
Ca (g kg-1) 11,6 - 16,4 5,20 - 11,9 7,28 - 10,8 5,0 - 7,0
Mg (g kg-1) 2,30 - 3,20 2,10 - 2,80 2,01 - 3,69 3,0 - 4,5
S (g kg-1) - 1,60 - 2,10 1,65 - 2,06 2,5 - 4,0
Cl (g kg-1) - 3,30 - 6,50 3,43 - 7,53 5,0 - 7,0
B (mg kg-1) - 17,2 - 25,3 15,7 - 26,7 15,0 - 25,0
Cu (mg kg-1) - - 3,4 - 7,0 5,0 - 8,0
Zn (mg kg-1) - - 8,4 - 12,9 12,0 - 18,0
Fontes: 1 - Chepote et al., 1988; 2 - Viégas, 1993; 3 - Rodrigues, 1993; 4 – Uexlkull e Fairhurst, 1991.

126 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
de absorção e assimilação do nitrogênio porcentagens ótimas correspondentes aos
e do fósforo na palma de óleo pode ser teores para cada elemento sobre a maté-
explicado pela relação N/P, proposta por ria seca da folha 17, de aproximadamente
Ollagnier e Ochs (1981), na qual o nível 58 % de K (11,5 g kg-1 m.s), 30 % de Ca (6,0
ótimo de fósforo varia em função do teor g kg-1 m.s) e 12 % de Mg (2,4 g kg-1 m.s).
em nitrogênio, com uma relação linear:
Diante do exposto, verifica-se que a in-
P(%)=0,0487 N(%) + 0,039. Considerando
terpretação dos resultados da análise foliar,
o nível crítico adotado para cada um des-
visando à adequação das recomendações
ses elementos, podemos dizer que:
de adubação, deve ser baseada não so-
– a relação N/P em torno de 16 indica mente sobre o nível absoluto dos elemen-
que a nutrição em P e N está balan- tos (aspecto quantitativo da nutrição), mas
ceada (o equilíbrio entre os dois também sobre a relação entre os elemen-
nutrientes é bom); entretanto, cada tos – sinergismos e antagonismos (aspec-
aporte de adubo nitrogenado deve tos qualitativos da nutrição) –, pois a dose
ser acompanhado de adubo fosfata- ótima de um elemento sempre depende
do para não gerar desequilíbrio; da dose aplicada de outro elemento.
– se N/P > 16, existe um déficit em P
em relação ao N e, neste caso, não é
válido fazer a adubação nitrogenada
sem previamente fornecer o fósforo;
– se N/P < 16, indica que a planta está 4. Adubação da
relativamente bem nutrida em P em palma de óleo
comparação a uma nutrição em N
deficiente; daí a necessidade, neste
4.1. Resposta
caso, de um aporte de N.
As curvas de resposta aos adubos,
Atenção especial deve ser dada às
e mesmo os níveis críticos, não têm um
mudanças do equilíbrio iônico, pois é co-
caráter universal. Convém, portanto, inter-
mum na palma de óleo a ocorrência de
pretar os resultados das análises foliares
relações antagônicas entre os cátions po-
tendo em conta as condições do meio,
tássio, magnésio e cálcio. O potássio é o
particularmente as hídricas e as caracterís-
nutriente exportado em maior quantidade
ticas do solo, a idade das plantas e seu po-
pela produção dos cachos. Por outro lado,
tencial produtivo, bem como a viabilidade
a aplicação de K necessária para manter
econômica do uso dos fertilizantes.
produções elevadas pode induzir a defici-
ência de magnésio e a baixa relação Mg/K Dentro desse enfoque, a Embrapa
nos solos, causada por uma nutrição de- Amazônia Ocidental realizou estudos
sequilibrada, evidenciando que as doses buscando conhecer o comportamento e
de adubos devem ser balanceadas. Nesse as principais exigências nutricionais da
sentido, é interessante considerar os estu- palma de óleo nas condições pedocli-
dos sobre a variabilidade e outros aspec- máticas da região. Os resultados obtidos
tos da soma dos cátions K + Ca + Mg, de- nessas pesquisas permitiram identificar
senvolvidos por Prevot e Ollagnier (1954) respostas da palma de óleo à aplicação
e Knecht et al. (1975), que demonstraram de fertilizantes e formular as recomenda-
que essa soma é relativamente constante ções de adubação para as condições da
e em torno de 2, sendo a distribuição das Amazônia Ocidental.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 127


Na Amazônia, em geral, a palma de matéria orgânica para o sistema;
óleo é cultivada predominantemente em
– aos mecanismos de aproveitamento
latossolos e argissolos de textura média a
do nitrogênio inerentes à planta.
muito argilosa, geralmente distróficos e/
ou álicos, com soma de bases diminuindo As pesquisas realizadas em função do
acentuadamente em profundidade. Devi- desenvolvimento das plantas, do manejo
do à pobreza química do solo, tem-se ve- cultivo e dos mecanismos de suficiência
rificado uma relação estreita entre o cres- em nitrogênio da palma de óleo (BALDANI
cimento e a produção e o conteúdo de P et al., 1997; RODRIGUES et al., 1997; REIS et
nos solos, bem como uma sensibilidade à al., 2000; SCHROTH et al., 2000) explicam
deficiência em K e Mg. Devido à adsorção parte das hipóteses levantadas para que,
e à pobreza natural em P desses solos, na fase adulta, as aplicações do adubo ni-
durante a idade jovem da palma de óleo, trogenado sejam minimizadas.
uma dose elevada de fosfato é necessária
Nos plantios de palma de óleo, a legu-
para melhorar os teores de P com relação
minosa Pueraria phaseoloides é a planta
aos equilíbrios N-P. Convém, entretanto, a
mais utilizada como cobertura do solo.
partir da idade de seis anos, reduzi-la ao
Para permitir um estabelecimento mais
mínimo para evitar um efeito depressivo
rápido e vigoroso da leguminosa e evi-
exagerado sobre os teores de potássio.
tar possível competição com a palma de
Os resultados das pesquisas realizadas
óleo, recomenda-se que seja feita uma
na Amazônia indicam ser o P o nutriente
adubação fosfatada no plantio em torno
que mais influencia o desenvolvimento e
de 150 kg ha-1 de P2 O5 e, nos anos subse-
a produtividade da palma de óleo (PACHE-
quentes, nas entrelinhas da palma de óleo
CO et al., 1985; RODRIGUES, 1993).
de 86 kg ha-1 de P2 O5.
O nitrogênio também apresenta com-
Atenção especial deve ser dada ao
portamento semelhante em relação ao
equilíbrio dos cátions Ca - K - Mg a partir
crescimento e desenvolvimento da palma
do terceiro ano de plantio, quando a en-
de óleo. Entretanto, na fase adulta, não
trada das plantas em colheita e o efeito
se tem observado resposta significativa
depressivo causado pelo cálcio contido na
à adubação nitrogenada, devido, muito
fonte de fósforo acentuam a deficiência
provavelmente:
em K, passando as plantas a exterioriza-
– ao desenvolvimento e estabeleci- rem sintomas típicos de deficiência em K
mento do sistema radicular que, a (Tabela 1) relacionados com níveis de K<6
partir do quinto ano, já estará ocu- g kg-1 na matéria seca da folha 17.
pando a região das entrelinhas, ex-
Cuidados também devem ser tomados
plorando um volume maior de solo;
na utilização contínua das fórmulas NPK,
– ao manejo dado à cultura: formação pois interações negativas podem ocorrer
de leiras com o resíduo vegetal re- e a disponibilidade de outros nutrientes
manescente do preparo de área; uti- exigidos em menor quantidade pelas plan-
lização de uma leguminosa fixadora tas, como é o caso de B, Cu e Zn, pode
de N como cobertura do solo; depo- tornar-se fator limitante da produção. A
sição das folhas podadas, que pode deficiência de boro no campo, por exem-
representar de 11 a 16 t ha-1 ano-1 plo, tem se exteriorizado quando o cres-
(HARTLEY, 1988) e, juntamente com cimento da planta é melhorado pela apli-
a biomassa das plantas de cobertu- cação de uma adubação mineral; existe
ra, constitui uma importante fonte de uma relação entre a necessidade de boro

128 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
pela palma de óleo e o seu crescimento. em cobre (RODRIGUES et al., 1997).
Quando a palma de óleo é cultivada em
solos pobres em B e este não é fornecido
pela adubação, observam-se, com frequ- 4.2. Recomendação de
ência, anormalidades no desenvolvimen- adubação
to da planta, com possíveis prejuízos para
O programa de nutrição mineral e
a sua produção. Por sua vez, a adubação
adubação da palma de óleo proposto pela
fosfatada, indispensável nas condições
Embrapa Amazônia Ocidental (Tabela 4)
dos solos da Amazônia, que normalmente
foi estabelecido levando-se em considera-
contam com baixos teores desse elemen-
ção informações de ensaios de adubação
to, deprime os teores foliares de cobre e
e de manejo.
zinco, afetando principalmente a nutrição

Tabela 4. Recomendação de adubação1 para a palma de óleo no Estado do


Amazonas em função da idade (RODRIGUES et al., 2002)

Nutriente Idade (anos2)


1o
2o
3 o
>4
--------- g/planta ---------
N 180 225 270 405 g/pl se N foliar < 25 g/kg
P 150 250 300 300 g/pl se N foliar entre 25 e 26 g/kg (a relação foliar
deve ficar em torno de 16); se N/P > 17 aplicar 50% a mais;
se N/P < 15, aplicar metade da dose.
K 150 200 400 250 g/pl se K foliar > 10 g/kg; 500 g/pl se 9<K<10 g/kg; 750
g/pl se 8<K<9 g/kg ou 1000 a 2000 g/pl se K<8 g/kg
Mg 21 32 43 30 g/pl se Mg foliar >2,4 g/kg; 60 g/pl se 2 <Mg< 2,4 g/
kg; 80 g/pl se 1,8 <Mg< 2,0 g/kg ou 100 a 150 g/pl se Mg
< 1,8 g/kg
B 2 4 7 8 g/pl se B > 20 mg/kg e as plantas não apresentarem
nenhuma sintomatologia de deficiência; 10 a 13 g/pl se 12
<B< 20 mg/kg e todas (ou algumas) plantas apresentarem
sintomatologia típica de deficiência; 14 a 20 g/pl se B<12
mg/kg e as plantas (ou a maioria delas) apresentarem
sintomatologia típica e acentuada de deficiência
Cu 1,5 3 6 6 a 8 g/pl se Cu = 10 mg/kg; 10 a 12 g/pl se 5<Cu<10 mg/
kg ou 15g/pl se Cu <4 mg/kg
Zn 1,5 3 6 6 g/pl se Zn = 16 mg/kg; 10 g/pl se 8<Zn<16 mg/kg ou 12
a 15 g/pl se Zn< 8 mg/kg

1 - O fósforo deve ser aplicado na cova, sendo uma parte no fundo e uma parte misturada à terra de enchi-
mento. Os demais adubos são distribuídos ao redor das plantas, sob a projeção da copa.
2 – No primeiro ano, as doses de N devem ser parceladas em três vezes (jan/fev (plantio), maio e novembro)
e as de K em duas vezes (maio e novembro); a partir do segundo ano, deve-se, preferencialmente, manter o
parcelamento dos adubos em duas vezes (maio e novembro), principalmente N e K.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 129


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Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 131


132 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 7

Manejo sustentável para a cultura da


palma de óleo: cobertura do solo e
cultivos intercalares
Raimundo Nonato Carvalho da Rocha, Maria do Rosário Lobato Rodrigues, Paulo
César Teixeira, Ricardo Lopes, Raimundo Nonato Vieira da Cunha, Jeferson Luis Vascon-
celos de Macedo, Ronaldo Ribeiro de Morais e Wanderlei Antônio Alves de Lima

sua implantação em áreas degradadas,


com as vantagens de se ter um sistema al-
1. Introdução tamente produtivo, intensiva e permanen-
temente valorizado. SMITH et al. (1992)
Nos últimos anos, o nível de conscien- afirmam ser a cultura da palma de óleo
tização quanto às relações da agricultura recomendada para reabilitação de áreas
com o ambiente, os recursos naturais e degradadas, em regiões tropicais, citando
a qualidade dos alimentos vem crescen- o caso de regiões da África e da Ásia (Su-
do substancialmente. Segundo EHLERS matra/Indonésia), onde a palma de óleo
(1999), há interesse entre os agricultores está sendo cultivada com sucesso em áre-
por sistemas alternativos de produção que as abandonadas, degradadas e domina-
aumentem a rentabilidade e melhorem a das por Imperata cylindrica.
qualidade de vida no meio rural, além de
preservar a capacidade produtiva do solo A adoção de práticas de cultivos in-
em longo prazo. tercalares para diversas culturas tem sido
uma das formas de aumento da produtivi-
O cultivo de palma de óleo atende às dade e do lucro por unidade de área entre
premissas de que nas condições edafo- os pequenos e médios produtores (ALVIM
climáticas da Amazônia deve-se cultivar et al., 1989; RODRIGO et al., 2001; ALVES,
espécies perenes por oferecerem maior 2003), pois, além de oferecerem maior es-
proteção do solo, apresentarem menor tabilidade edáfica, biológica e econômica,
impacto ao ambiente e melhor se adapta- melhoram a dinâmica de utilização dos
rem a sua baixa fertilidade natural. recursos humanos, naturais e insumos.
As práticas adotadas na cultura de Culturas como a da palma de óleo apre-
palma de óleo, como a utilização de le- sentam um longo período de imaturidade
guminosas para a cobertura do solo ou a e requerem grandes espaços intercalares
associação com culturas de ciclo curto no para satisfazer as exigências de crescimen-
período pré-produtivo, aliadas ao aspecto to da planta na fase produtiva. Estudos
de cultura perene permitem uma perfeita indicam a viabilidade do aproveitamento
cobertura do solo, possibilitando, ainda, desses espaços com o plantio de culturas

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 133


anuais e semiperenes, que não só possi- em plantios de palma de óleo é de 9 m
bilitam ao agricultor uma fonte alternativa entre plantas, em triângulo equilátero, o
de renda na fase pré-produtiva da palma que corresponde a uma distância de 9 m
de óleo, como também favorecem o de- entre plantas na linha e de 7,80 m entre as
senvolvimento e o crescimento da planta linhas de plantio. Nas grandes plantações,
(RODRIGUES et al., 1993; RODRIGUES et é comum o uso de plantas de cobertura,
al., 1997), ajudando na amortização dos especialmente leguminosas, cobrindo os
custos de implantação da cultura principal amplos espaços intercalares entre as plan-
– a palma de óleo (ROCHA, 2007). tas de palma de óleo; entretanto, para
pequenos e médios produtores, é econo-
Nessa prática, os objetivos têm sido:
micamente interessante associar a palma
maximizar a utilização dos recursos am-
de óleo a outros cultivos que ajudem na
bientais e da área; ter melhor distribuição
amortização dos custos de implantação
temporal de renda; diversificar a produ-
da cultura principal e garantam rendimen-
ção; equacionar o controle de pragas,
tos nos anos iniciais.
doenças e plantas invasoras; minimizar
o uso de insumos, como fertilizantes e Para que se tenha êxito na intercalação
defensivos; proporcionar maior proteção da palma de óleo com outras culturas, é de
contra a erosão; e promover equilíbrio fundamental importância o conhecimen-
ecológico (FAGERIA, 1989; OLASANTAN et to da morfologia do seu sistema radicular
al., 1996; HOOKS; JOHNSON, 2003; IIJIMA e da arquitetura das plantas. A maior parte
et al., 2004; HUMPHRIES et al., 2004). A efi- do sistema radicular da palma de óleo é
ciência dessa prática depende diretamen- superficial, sendo que o desenvolvimen-
te dos sistemas e das culturas envolvidas, to e a extensão do sistema radicular de-
havendo a necessidade da complementa- pendem da textura e da estrutura do solo
ção entre ambas para que o sistema seja (RUER, 1968; JOURDAN, 1995; JOURDAN et
apontado como uma prática mais vantajo- al., 1995). A densidade das raízes diminui
sa do que o monocultivo. do estipe para a periferia e a extensão má-
xima da parte superficial a partir do estipe
depende da idade da planta, da seguinte
forma (CÔTE D’IVOIRE, 1980): um ano – 1,0
2. Manejo sustentável m do estipe; dois anos – 2,5 m do estipe;
três anos – 3,5 m do estipe; quatro anos
para a cultura da – 4,5 m do estipe; cinco anos – 5,0 m do
estipe; e dez anos – 10,0 m do estipe.
palma de óleo:
A implantação de uma rápida cobertu-
cobertura do solo ra com uma leguminosa apresenta nume-
rosas vantagens: combate às invasoras in-
O tempo decorrido entre o plantio e o desejáveis, controle da erosão, redução da
início da produção da palma de óleo é de compactação do solo, controle de certas
aproximadamente três anos. Geralmen- pragas, melhora na fertilização nitrogena-
te, pequenos e médios produtores que da. Entre as plantas de cobertura, a mais
se dedicam à cultura de palma de óleo utilizada é a Pueraria phasealoides, que
encontram dificuldades para custear os pode ser semeada sozinha ou associada
investimentos do plantio e manter a plan- com outra leguminosa, como a Mucuna
tação durante o período pré-produtivo. cochinchinensis, planta anual cuja insta-
O espaçamento normalmente utilizado lação, além de ser extremamente rápida,

134 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
prepara bem a terra para a Pueraria se- lar da palma de óleo. Estudando o efeito
meada ao mesmo tempo, dominando a do desmatamento e de culturas como a
maior parte das invasoras. A Pueraria pode da palma de óleo associada com plantas
ser semeada em sulcos, covas ou a lanço leguminosas sobre a estrutura de solos
sobre toda a superfície das entrelinhas, argilosos da Amazônia, GRIMALDI et al.
utilizando-se de 1 a 3 kg de sementes/ha, (1993) concluíram que o uso de espécies
enquanto que a Mucuna é semeada ao arbóreas ou forrageiras de cobertura, com
longo das leiras, empregando-se 2 kg de abundante produção de liteira e de raízes,
sementes/ha. A densidade de semeadura pode acelerar o restabelecimento dos pro-
das plantas de cobertura depende da rapi- cessos biológicos de reciclagem e reestru-
dez com que se deseja obter uma cober- turação do solo. A palma de óleo, quando
tura vegetal e ajuda a limitar os riscos de associada com leguminosas, se beneficia
invasão das ervas daninhas. não só da fixação de nitrogênio (AGAMU-
THU; BROUGHTON, 1985), como também
A semeadura das plantas de cobertu-
do melhoramento da estrutura do solo
ra deve ser efetuada logo após o preparo
pelas raízes e pela liteira, e da diminuição
da área, no inicio da estação das chuvas.
da concorrência de ervas daninhas agres-
Cita-se, ainda, entre outras leguminosas
sivas, principalmente as gramíneas.
que são igualmente utilizadas, o Calopo-
gonium caeruleum (tolerante ao sombrea- No caso específico da cultura da pal-
mento), o Desmodium ovalifolium, o Cen- ma de óleo, várias práticas de manejo
trosema pubescens e o Calopogonium têm sido propostas para limitar a erosão
mucunoides. e as perdas por escorrimento e lixiviação
(TAILLIEZ, 1975; QUENCEZ, 1986; CALIMAN;
O sistema de manejo adotado pela cul-
KOCHKO, 1987). Cita-se como exemplo a
tura da palma de óleo permite um input
grande quantidade de folhas fornecidas
significativo de matéria orgânica ao siste-
pela poda de limpeza/colheita, que varia
ma, seja pela grande quantidade de fo-
em torno de 11 a 16 t/ha/ano de resíduos
lhas fornecidas pela poda de limpeza, seja
na plantação (HARTLEY, 1988). Sua simples
pela associação com leguminosas para
deposição nas entrelinhas, além de repre-
cobertura do solo que, além de fixarem
sentar uma importante fonte de nutrien-
nitrogênio através da produção de liteira e
tes (SOLANO, 1986), constitui uma medida
raízes, podem contribuir para o restabele-
efetiva de conservação do solo, podendo
cimento dos processos biológicos de reci-
reduzir a erosão em mais de 33% (QUEN-
clagem e reestruturação do solo. Por outro
CEZ, 1986; KEE; CHEW, 1996).
lado, o sucesso da introdução da palma
de óleo em área alteradas, abandonadas Em estudo conduzido nas condições
ou degradadas dependerá principalmente da Amazônia (RODRIGUES et al., 2002),
da capacidade do seu sistema radicular se instalou-se inicialmente, como cobertu-
desenvolver em solos compactados. Se- ra do solo, a Pueraria e o Desmodium.
gundo JACQUEMARD (1995), a palma de Após doze anos de cultivo, a Pueraria foi
óleo tem um sistema radicular vigoroso e totalmente invadida pela samambaia, en-
extenso; entretanto, zonas compactas no quanto o Desmodium, mais resistente ao
solo podem reduzir o desenvolvimento sombreamento, permaneceu, com uma
do seu sistema radicular. produção de matéria seca da parte aérea
de 4,3 t/ha. A Tabela 1 mostra os teores de
Nesse sentido, tem-se observado um
carbono e de nitrogênio, determinados
efeito positivo da planta de cobertura so-
pela combustão por via seca com um au-
bre o desenvolvimento do sistema radicu-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 135


toanalisador CHN, e a relação C/N nos di- Segundo Hartley (1988), em pequenas
ferentes componentes da palma de óleo plantações, o cultivo intercalado com cul-
e nas plantas de cobertura de um cultivo turas alimentares pode ser efetuado na
de palma de óleo aos doze anos de idade. fase pré-produtiva, ou seja, até a entrada
Devido a sua constituição essencialmente em colheita. Depois, o crescimento da pal-
fibrosa, a bainha que se encontra forte- ma de óleo prejudica a produção das cul-
mente aderida ao estipe foi a que apre- turas intercalares e o manejo do solo em
sentou a maior relação C/N, seguida pelo função dessas culturas coloca em risco o
pecíolo, sendo a produção total de maté- sistema radicular da palma de óleo.
ria seca da parte aérea de 41,83 t ha-1. O
De acordo com Rocha (2007), duran-
conteúdo total de carbono imobilizado
te o primeiro ano de cultivo da palma de
pela parte aérea da palma de óleo foi de
óleo, o solo das entrelinhas poderá ser
17,12 t ha-1, sendo que 59% se acumula-
preparado mecanicamente para o cultivo
ram no tronco (estipe + bainhas) e 34% na
das culturas intercalares, obedecendo a
copa (folíolos + ráquis + pecíolos).
uma distância mínima de 1,5 m do estipe
da muda de palma de óleo. A partir do
segundo até o quarto ano, o revolvimen-
Tabela 1. Teor em carbono e nitrogê-
to do solo deverá ser o mínimo possível,
nio (g/kg) e relação C/N nos diferentes
dando preferência para o plantio direto
componentes da palma de óleo e nas
manual no caso de culturas anuais ou se-
plantas de cobertura de um cultivo de
miperenes.
palma de óleo aos doze anos de idade
A intercalação da palma de óleo com
Componentes Carbono Nitrogênio Relação outras culturas tem sido praticada com
C/N sucesso em outras regiões. Kolade (1986)
PALMA DE ÓLEO (DENDEZEIRO) observou efeito positivo em experiências
Folíolos da 466,85 26,41 17,68 com a palma de óleo e outras culturas
Folha 17 perenes, como o cacau. A palma de óleo
Folha (folíolo 426,43 17,80 23,95 pode ser favorecida pelas culturas pere-
+ ráquis) nes, como observado por Sparnaaj (1970)
Pecíolo 415,90 4,03 103,18 na África Ocidental, onde a produção de
Bainha 417,89 3,77 110,74 palma de óleo aumentou em 8% quando
Estipe 389,33 10,81 36,00 associada com café. De modo semelhan-
Cachos 466,81 12,07 38,68
te, Edge e Adenikinju (1990) encontraram
efeito positivo na associação da palma
Raízes de 443,93 5,64 78,73
de óleo com a produção de cacau, indi-
Palma de
cando compatibilidade da palma de óleo
Óleo
com frutíferas que suportam certo grau de
PLANTAS DE COBERTURA
sombreamento.
Parte aérea de 439,77 19,43 22,64
Desmodium Também foram observadas vantagens
Raízes de 449,00 14,14 31,75 na associação de culturas anuais com cul-
Desmodium tivo perene no Benin. Utilizando a cultura
de palma de óleo em densidade reduzida
Parte aérea de 425,93 22,48 18,95
Samambaia (DANIEL et al., 1996), pode-se obter certas
vantagens, tais como: melhoria da resis-
Embrapa Amazônia Ocidental, 1999
tência à seca, manutenção da entrelinha
da palma de óleo em virtude dos tratos

136 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
culturais da cultura intercalada, utilização
total dos insumos simultaneamente por
ambos os sistemas radiculares e intensifi-
3. Cultivos intercalados
cação da exploração da área. com palma de óleo: a
MORAIS et al. (2009), estudando a in-
fluência da variação de temperatura foliar
experiência do Estado
sobre as trocas gasosas da palma de óleo do Amazonas
em plantios solteiros e consorciados com
banana ou mandioca em áreas degrada- Neste tópico, serão apresentados al-
das da Amazônia, observaram que as cul- guns estudos de casos de cultivos interca-
turas intercalares exerceram influência so- lados envolvendo a cultura da palma de
bre as trocas gasosas da palma de óleo em óleo como cultura principal no Estado do
função da variação de temperatura. Com Amazonas. Cabe ressaltar que nem todas
relação às taxas de condutância estomá- as culturas possíveis de serem consorciadas
tica, observou-se para o sistema da palma com a palma de óleo serão abordadas.
de óleo sem cultura intercalar e com man-
dioca um declínio significativo a partir da No Estado do Amazonas, estudos
temperatura de 38-41,9°C, enquanto para realizados com a palma de óleo interca-
o sistema com bananeira, esse declínio lada com banana, abacaxi e mandioca
significativo ocorreu a partir dos 46-49,9°C em áreas degradadas durante três anos
(maior capacidade de sombreamento da da fase pré-produtiva da palma de óleo
bananeira). Resultados similares foram ob- apresentaram resultados altamente sig-
tidos por Dufrene e Saugier (1989, 1993) nificativos para amortização do custo de
estudando as trocas gasosas da palma de implantação dos sistemas consorciados.
óleo sob condições de campo na Costa Quando a cultura da palma de óleo foi
do Marfim, onde verificaram que as taxas intercalada com bananeira, a amortiza-
de transpiração e condutância estomática ção do custo de implantação do sistema
aumentaram com o incremento da tem- durante três ciclos produtivos da bana-
peratura foliar, e que temperaturas foliares neira foi de 89,7% (ROCHA et al., 2007a).
entre 30 e 38°C não exerceram um efeito Quando a cultura da palma de óleo foi in-
significativo sobre as taxas fotossintéticas. tercalada com abacaxi, a amortização do
custo de implantação do sistema durante
MORA et al. (1985) demonstraram a um ciclo produtivo do abacaxizeiro foi de
viabilidade econômica dos cultivos in- 100% (ROCHA et al., 2007b). Quando inter-
tercalados com palma de óleo em solos calada com mandioca, a amortização do
da Venezuela. A análise de rentabilidade custo de implantação do sistema durante
dos diversos sistemas de cultivo adotados quatro ciclos produtivos da mandioca foi
mostrou que a associação palma de óleo de 66,6% (ROCHA et al., 2007c). ROCHA et
x banana x mandioca gerou não somente al. (2007d) encontraram efeito positivo no
os maiores ingressos brutos, cobrindo 87% desenvolvimento vegetativo da palma de
dos custos totais de implantação já no pri- óleo quando intercalada com outras cul-
meiro ano, como também promoveu me- turas na fase pré-produtiva, se comparado
lhor desenvolvimento da palma de óleo. com o sistema de monocultivo. Os auto-
res concluíram que a palma de óleo se be-
neficiou com os resíduos da adubação e
a matéria orgânica deixados pelas culturas
intercalares.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 137


O plantio seguiu o dispositivo em tri- ram parceladas de dois em dois meses,
ângulo equilátero de 9 m de lado (9 m na conforme recomendado por Pereira et al.
linha e 7,80 m entre as linhas de plantio), (2002) para o Estado do Amazonas.
perfazendo população de 143 plantas/ha.
No sistema palma de óleo x banana,
A programação das adubações foi feita
foi obtido o maior comprimento da folha
adaptando as recomendações sugeridas
9 da palma de óleo (folha padrão para
por RODRIGUES et al. (2002) para fase jo-
tomada de dados biométricos na fase
vem de cultivo da palma de óleo no Estado
jovem) em relação aos demais sistemas
do Amazonas. Duas linhas de bananeira
estudados (palma de óleo x mandioca,
cv. Thap Maeo foram plantadas nas entre-
palma de óleo x abacaxi, e palma de óleo
linhas da palma de óleo no espaçamento
em monocultivo). Esse resultado ratifica o
3 x 2 m (Figura 1a), sendo que o mane-
efeito competitivo interespecífico, sobre-
jo da bananeira foi feito deixando-se três
tudo por luz, ocorrido entre a bananeira e
plantas por touceira (avó, mãe e filha).
a palma de óleo no arranjo espacial a que
Após o terceiro ano de cultivo, a análise foram submetidas as plantas de banana
dos dados detectou que o arranjo espacial nas entrelinhas da palma de óleo. Como
utilizado para a bananeira (3 x 2 m) nas o plantio da bananeira foi feito concomi-
entrelinhas da palma de óleo estava in- tantemente ao da palma de óleo, a cultu-
fluenciando o desenvolvimento da palma ra sobressaiu pelo seu rápido crescimento
de óleo, promovendo estiolamento das inicial, proporcionando maior sombrea-
plantas; logo, não é recomendado. Assim, mento e estiolamento da palma de óleo,
as plantas de bananeiras foram cortadas e causado pela competição por luz (ROCHA,
replantadas no espaçamento de 1,5 m en- 2007). Assim, de acordo com os resultados
tre plantas em fileira única centralizada nas obtidos por este autor, recomenda-se
entrelinhas da palma de óleo (Figura 1b). o cultivo, até o terceiro ano de idade da
As adubações da bananeira foram realiza- palma de óleo, de uma única linha de ba-
das de acordo com a análise do solo, sen- naneira nas entrelinhas da palma de óleo,
do que a fosfatada foi colocada em todo normalmente no espaçamento de 1,5 m
o plantio, juntamente com cinco litros de entre plantas, dando-se preferência para
esterco de galinha; as de coberturas com cultivares de bananeira de porte inferior a
nitrogênio, potássio e micronutrientes fo- 2,70 m de altura.

A B

Figura 1. Sistemas de cultivo da palma de óleo intercalado com (a) duas linhas de bananeira e (b) uma linha de
bananeira. (a) Plantio de banana feito imediatamente após o plantio da palma de óleo e conduzido até o terceiro
ano; (b) Replantio de banana feito após o terceiro ano de cultivo da palma de óleo. (Fotos: Raimundo Rocha)

138 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
A B

Figura 2. Sistemas de cultivo da palma de óleo intercalado com: (a) cinco linhas de macaxeira e (b) quatro linhas
duplas de abacaxizeiro. (Fotos: Raimundo Rocha)

No sistema palma de óleo x mandio- nos teores de nutrientes no solo, notada-


ca, cinco linhas de mandioca da varieda- mente de fósforo, que se mostraram signi-
de “aipim manteiga” foram plantadas nas ficativamente superiores aos dos sistemas
entrelinhas da palma de óleo, utilizando palma de óleo x banana e palma de óleo
o espaçamento de 1,0 x 1,0 m (Figura 2a). em monocultivo.
O manejo da cultura da mandioca foi re-
alizado conforme recomendado por Dias
et al. (2003) para o Estado do Amazonas.
As colheitas da mandioca foram realizadas
aproximadamente oito meses após plan-
4. Considerações finais
tio. O resíduo da adubação deixado pela
O adequado desempenho econômi-
cultura da mandioca proporcionou au-
co apresentado na fase pré-produtiva da
mento nos teores de nutrientes no solo,
palma de óleo pelos sistemas de cultivos
principalmente de fósforo, que se mos-
intercalados estudados no Amazonas ofe-
trou superior ao encontrado na palma de
rece uma solução para um dos principais
óleo em monocultivo.
obstáculos à produção de palma de óleo
No sistema palma de óleo x abacaxi, para a agricultura familiar em relação à di-
quatro fileiras duplas de abacaxi, varieda- versificação de culturas e renda. É notório
de regional, foram cultivadas no espaça- que um dos principais fatores limitantes
mento de 1,0 x 0,4 x 0,4 m, sendo 1,0 m para o desenvolvimento da cadeia pro-
entre fileiras duplas, 0,4 m entre plantas dutiva da palma de óleo é o tempo que
na fileira dupla e 0,4 m entre plantas na transcorre entre a implantação da cultura
linha (Figura 2b). O manejo da cultura do e a obtenção dos primeiros retornos eco-
abacaxi foi realizado conforme recomen- nômicos positivos. A adoção de cultivos
dado por SILVA et al. (2004) para o Estado intercalados com a palma de óleo na fase
do Amazonas. A indução floral foi reali- pré-produtiva traz a possibilidade de amor-
zada quando as plantas apresentaram o tização de parte do custo de implantação
comprimento da folha (D) superior a 70 e ainda o favorecimento da nutrição mi-
cm, o que ocorreu dez meses após o plan- neral da cultura principal. Assim, o mane-
tio. O resíduo da adubação deixado pela jo deve ser bem planejado tecnicamente
cultura do abacaxi proporcionou aumento para que se tenha o máximo de produtivi-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 139


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142 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 8

Características físicas do solo


adequadas para implantação e
manutenção da cultura de palma de
óleo na Amazônia
Wenceslau Geraldes Teixeira, Pedro Luiz de Freitas, Omar Cubas,
Gilvan Coimbra Martins, Pedro Luiz de Freitas,
Maria do Rosário Lobato Rodrigues e Antônio Ramalho Filho

com outros cultivos assume especial im-


portância nos sistema de agricultura fami-
1. Introdução liar tendo em vista o retorno econômico
nos primeiros anos de plantio.
A palma de óleo (dendezeiro) destaca-
se, entre as oleaginosas perenes, como a O bom estabelecimento, o desenvol-
de maior potencial para suprir a deman- vimento e a produtividade da palma de
da de óleos vegetais no Bioma Amazô- óleo são influenciados pela suas caracte-
nia. Considerada a planta com o maior rísticas genéticas, que sofrem influências
potencial de produção de óleo no Brasil, das condições pedológicas, climáticas e
pode atingir produtividade anual de 4 a de manejo da cultura.
6 t óleo.ha-1. Uma das vantagens da cul- As condições climáticas exercem uma
tura é sua longa vida útil econômica, que forte influência sobre a dinâmica dos flu-
pode chegar até 30 anos, com a produção xos de água e de nutrientes do solo para
distribuída durante todo o ano. O manejo as raízes da palma de óleo, sendo a capaci-
do palmar (dendezal) é capaz de absorver dade de armazenamento de água do solo
grande quantidade de mão de obra, crian- um dos principais fatores para a garantia
do um emprego direto a cada 5 hectares de elevadas produtividades. Para um bom
de plantio (BARCELOS et al., 1999). rendimento, a cultura da palma de óleo
A cultura da palma de óleo tem o po- exige precipitações regulares e ausência
tencial de aproveitar áreas já desmatadas, de estação seca prolongada. Condições
tornando-as produtivas com reduzido climáticas para o desenvolvimento ótimo
impacto ambiental devido ao caráter de da cultura de palma de óleo são apresen-
cultivo permanente e à cobertura perma- tadas por Corley e Tinker (2003); Bastos et
nente do solo nas entrelinhas, seja por al. (2001), Hartley (1970) e Müller (1980).
leguminosas, gramíneas ou mesmo por Neste capítulo, são apresentadas as
cultivos intercalares. Nos períodos iniciais características físicas do solo que determi-
de implantação da cultura, a associação nam a dinâmica dos fluxos de água e de

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 143


nutrientes e a capacidade de retenção de A EVT potencial de um palmar foi es-
água no solo, a disponibilidade de água timada para condições em que não haja
para as plantas de palma de óleo e suas limitação de fornecimento de água pelo
interrelações com as condições climáticas solo, assumindo um valor médio de 3,3
(precipitação, radiação solar e evapotrans- mm.dia-1 para palmares com um a três
piração da palma de óleo e das culturas anos e valores médios de 5 a 6 mm.dia-1
de cobertura do solo), que definem a con- para palmares na fase adulta. Esse valor
servação e a necessidade de drenagem pode se elevar até 10 mm.dia-1 em condi-
do solo. ções extremas (CORLEY; TINKER, 2003).
Além das condicionantes atmosféricas,
a EVT de um dendezeiro é condicionada
pela disponibilidade de água no solo. Com
a redução da umidade, a água retida no solo
2. Condições climáticas em poros de menor diâmetro equivalente
e disponibilidade de tem aumentada sua energia potencial, con-
sequentemente diminuindo a capacidade
água no solo para a de extração de água até a parada de absor-
ção pelas raízes de palma de óleo.
cultura de palma de óleo
A água potencialmente disponível no
Os requerimentos ideais para a boa solo para absorção pelas raízes poderá ser
produtividade da palma de óleo são pre- “perdida” por percolação abaixo da zona
cipitações anuais superiores a 2000 mm, de absorção das raízes, devido à evapora-
sem meses com déficit hídrico intenso, ção direta da superfície do solo ou à EVT
com pelo menos 100 mm de precipitação das plantas de cobertura, invasoras ou
mensal (HARTLEY, 1970). A precipitação e consorciadas. A limitação e a competição
sua distribuição temporal é apenas um pela água feita pelas plantas intercalares
dos fatores a ser analisado na disponibi- em um palmar é uma questão complexa e
lidade de água. As variações interanuais dependente de condicionantes da espécie
(médias de precipitação anual) e intra- utilizada, das condições climáticas e das
anuais (média de precipitações mensais), características do solo. Teoricamente, plan-
em combinação com estimativas da Eva- tas intercalares também podem ser utiliza-
potranspiração (EVT) e do balanço hídrico, das em áreas muito úmidas para a redução
determinam a aptidão climática quanto à da umidade do solo. Entretanto, tendo em
disponibilidade de água. vista o intenso sombreamento nas entre-
linhas de um palmar adulto, observa-se
Estudos de aptidão climática e de ba- praticamente apenas o crescimento de
lanço hídrico para o Estado do Pará foram pteridófitas (musgos e samambaias), espe-
realizados por Bastos et al. (2001). Para cialmente na Amazônia Central.
o Brasil, foram realizados estudos pelo
Institut de Recherche pour Les Huiles et O balanço hídrico de uma área cultiva-
Oleagineux (IRHO) e, mais recentemen- da, como um palmar, é dado pelo balanço
te, esses estudos e os déficits hídricos de massa entre as entradas (chuva e irriga-
estimados para a Amazônia Legal foram ção) e saídas de água (EVT, escorrimento
utilizados para a classificação da aptidão superficial e perda por percolação profun-
das terras para a cultura de palma de óleo da). Um dos pontos cruciais para a estima-
apresentadas neste livro. tiva do balanço hídrico se refere à capaci-
dade de armazenamento de água no solo,

144 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
considerando a profundidade na qual o sis- e são de mais difícil absorção pelas raízes
tema radicular poderá absorver água sem das plantas de palma de óleo.
reduções significativas de produtividade.
A Capacidade de Água Disponível (CAD)
A umidade que o solo atinge, após de um solo é a fração da água presente
cessar a drenagem pelos macroporos, é no solo que se encontra em condições de
conhecida como umidade na Capacidade ser absorvida pelas raízes. Em geral, é o ar-
de Campo (CC). Sua definição é controver- mazenamento possível de água, calculado
sa, mas consiste basicamente na umidade pela diferença entre a umidade na CC e a
do solo após este ter sido saturado e o flu- umidade no PMP, considerando a profun-
xo da água ter praticamente cessado pelas didade efetiva do sistema radicular.
forças gravitacionais. Essa umidade pode
O valor máximo de umidade que um
variar entre 15% e 45% para solos mais are-
solo pode atingir é conhecido como umida-
nosos a mais argilosos, respectivamente. O
de de saturação. Isso ocorre quando todo
Ponto de Murcha Permanente (PMP) pode
o espaço poroso do solo está preenchido
ser resumido como a umidade na qual as
com água. A saturação do solo acontece
plantas não conseguem mais absorver
muito raramente em condições de campo,
água do solo devido à elevada energia
sendo observada em locais que apresen-
com que esta se apresenta. Esse valor é
tam boa drenagem apenas quando ocor-
determinado com equipamentos especiais
rem precipitações muito intensas, acima da
em laboratório e varia entre 7% e 25%, en-
capacidade de infiltração do solo. Um pal-
tre solos arenosos e muito argilosos.
mar bem manejado e com solo bem dre-
A quantidade de água retida entre CC nado, mesmo após intensas precipitações,
e PMP é conhecida como Água Disponí- não ficará saturado por um longo período.
vel (AD). A quantidade de água disponível A boa drenagem do solo se dá quando há
num solo é dependente de sua estrutura, manutenção da estrutura que forma o es-
textura e mineralogia. Esse valor pode ser paço poroso, o qual regula os processos de
alterado com o manejo do solo. Na maioria aeração e drenagem do solo.
dos casos, ocorre uma redução da percen-
Após uma chuva ou irrigação, a drena-
tagem de AD pela redução da porosidade
gem é governada basicamente pela força
e da umidade na CC causada por reduções
gravitacional que atua efetivamente nos
do espaço poroso (compactação). A redu-
macroporos (poros com diâmetro equi-
ção do tamanho dos poros faz com que a
valente maior que 50 μm). Nos poros de
água seja retida no solo com maior ener-
menor diâmetro (meso e microporos), as
gia, e a habilidade das raízes da palma de
forças capilares e de adsorção é que con-
óleo em absorver a água do solo depende
trolam a velocidade do fluxo de água e a
mais do potencial da água do que de sua
sua capacidade de drenagem. Em solos
quantidade total (TINKER; NYE, 2000). Essa
com grande percentual do espaço poroso
relação entre potencial de água no solo e
com poros de pequeno diâmetro (micropo-
quantidade de água no solo é conhecida
ros) e de textura argilosa, grande parte da
como Curva de Retenção de Umidade do
água é retida por forças de adsorção que
solo (CRU). A relação (CRU) é governada,
ocorrem entre as moléculas de água e a
na maior parte, por forças capilares causa-
superfície das partículas (minerais de silte e
das pelos poros do solo no qual a água está
argila, grãos de areia e frações orgânicas).
armazenada. Solos com elevada quantida-
Essa água retida por forças de adsorção ou
de de microporos apresentam um grande
forças capilares muito intensas é pratica-
percentual de água com elevada energia
mente indisponível para a palma de óleo

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 145


e pode representar um grande percentual déficit hídrico. Em casos de regiões com
do total de água no solo. Nos Latossolos déficit hídrico severo, o cultivo da palma
Amarelos muito argilosos da Amazônia de óleo só será viável com o fornecimento
Central, a água acima do PMP (praticamen- de água via irrigação. A irrigação nos pal-
te indisponível às plantas) atinge valores de mares foi estudada durante doze anos na
cerca de 20% a 25% da água total do solo Costa do Marfim (PRIOUX et al., 1992). Os
(TEIXEIRA, 2001). Nos Latossolos Amarelos resultados mostraram que, nas áreas irri-
de textura média e arenosa da região de gadas, foram obtidas produções médias
cultivo de palma de óleo no Estado do Pará, de 22 toneladas de cachos e 5 toneladas
esses valores são de aproximadamente 15 de óleo por ha ao ano, mostrando um ga-
a 20% (VIEIRA; SANTOS, 1987). nho maior que 20% em relação à testemu-
nha não irrigada.
A geometria poral dos solos tropicais é
bastante intrincada e faz com que o pro- No Brasil, são poucos os estudos de
cesso de transferência de água dos poros produção de palma de óleo irrigada. Na
do solo para as raízes das plantas seja um região de Acará (PA), foi feito um estudo
processo bastante complexo, variável de no qual se verificou um aumento no nú-
acordo com as características do solo e as mero de cachos nas parcelas irrigadas que
alterações causadas na porosidade pelo não se refletiram em aumento significati-
manejo. A compactação do solo causa a vo da produção (VEIGA et al., 2001). Estão
redução da porosidade total ou a redução em andamento estudos feitos pela Embra-
do tamanho médio dos poros do solo (TEI- pa, com resultados ainda incipientes, mas
XEIRA, 2001). promissores, do cultivo de palma de óleo
sob condições irrigadas nos cerrados do
Caliman et al. (1990a), trabalhando em
Brasil Central e de Roraima.
palmares na Costa do Marfim, observaram
que a compactação do solo reduziu entre
20 e 30% a produtividade devido à menor
3. A radiação solar e
retenção de água nos horizontes superfi-
evapotranspiração da
ciais do solo. Para o cultivo da palma de
palma de óleo
óleo em áreas sujeitas a déficit hídrico
(áreas em que o total de água que entra é As horas de brilho solar devem ser
menor que a quantidade total de água per- superiores a 1500 h ano-1 (HARTLEY, 1970;
dida pela EVT), é recomendável o plantio MÜLLER, 1980). A baixa radiação solar
em solos que apresentem maior capacida- pode reduzir a taxa fotossintética e alte-
de de armazenamento de água (normal- rar a maturação dos cachos, reduzindo a
mente os mais argilosos), em combinação percentagem de óleo no fruto (DUFRENE;
com o uso de práticas culturais que visem SAUGIER, 1993). A intensidade da radiação
reduzir a competição por água nos hori- solar num determinado local é funda-
zontes superficiais do solo. Nessas regi- mental para altas produtividades. Corley
ões, recomenda-se evitar a competição e Tinker (2003) relatam que a incidência
pela água, principalmente nos períodos deverá ser maior que 20 MJ m-2 dia-1. Este
de déficit hídrico pelos cultivos intercala- fator também está relacionado com a EVT
res. Entretanto, o uso de cultivo intercalar do cultivo, cuja taxa é condicionada não
com espécies de ciclo curto, favorecendo só pela intensidade solar, como também
a conservação de água no solo principal- pelos fatores temperatura, ventos e dispo-
mente através da ação da cobertura do nibilidade de água no solo.
solo pelos restos culturais, pode reduzir o

146 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
sentam uma boa drenagem. Peralta et al.
3. Aspectos de (1985) e Calliman et al. (1990b) concluíram
que a manutenção das características físi-
diferentes classes de cas do solo num palmar pode contribuir
de modo significativo para o aumento dos
solo e da granulometria rendimentos devido à melhor eficiência
no desenvolvimento da de utilização dos adubos.
A palma de óleo apresenta melhores
palma de óleo produtividades em solos com profundidade
efetiva maior que 1,0 m e não compactados
A palma de óleo se desenvolve bem ou densos naturalmente. O sistema radicu-
em condições edáficas muito diversas, lar fasciculado da palma de óleo é sensível
podendo se adaptar a solos distróficos (a a solos compactados (OLLAGNIER et al.,
saturação por bases no complexo de troca 1970; CALLIMAN et al., 1990a), apresentan-
de cátions é menor que 50%), desde que do uma acentuada redução de crescimento
corrigidos, adubados e manejados crite- quando cultivado nessas condições.
riosamente (VIÉGAS e BOTELHO, 2000).
Entretanto, solos férteis terão custos re- A presença de alguma camada de
duzidos de adubação e, potencialmente, impedimento, como ocorre em alguns
maior produtividade. Plintossolos (solos que apresentam hori-
zontes plíntico ou petroplíntico, caracteri-
Na Amazônia brasileira, a palma de zados pela presença de uma camada de
óleo vem sendo cultivada principalmente concreções) e Espodossolos (solos que
nos Latossolos Amarelos de textura mé- apresentam horizonte espódico, muitas
dia na região Bragantina e nos Latossolos vezes endurecido pela cimentação de óxi-
Amarelos de textura argilosa na região de dos de ferro e alumínio), pode também li-
Manaus. Ambos os solos são distróficos, mitar o estabelecimento e a produtividade
além de deficientes em fósforo e na maio- da palma de óleo. A presença de grandes
ria dos principais nutrientes (magnésio, quantidades de concreções endurecidas
potássio, cálcio e boro). Trabalhos condu- (petroplintita) reduz o volume de solo
zidos em Belém (PACHECO et al., 1985) e para exploração das raízes e também a
em Manaus (RODRIGUES et al., 1997) de- capacidade de armazenamento de água
monstraram que o fósforo foi o elemento no solo, dado que normalmente as petro-
mais limitante para o desenvolvimento e a plintitas não possuem baixa porosidade.
produção de palma de óleo nesses locais. Entretanto, se a quantidade de petroplin-
Os Latossolos, nas suas condições tita não for excessiva e as propriedades
originais, normalmente apresentam boas da massa de solo forem adequadas, es-
características físicas, sendo, entretanto, ses solos podem ser parcialmente aptos,
suscetíveis à compactação e à degradação como ocorre em algumas áreas no estado
da estrutura do solo. Paradoxalmente, os do Pará. Em regiões onde ocorrem os Plin-
Latossolos Amarelos da região Bragantina, tossolos, é necessário um estudo mais de-
no Pará, apesar de apresentarem o pre- talhado sobre a profundidade em que se
domínio de partículas minerais na fração encontram as camadas de impedimento e
areia, apresentam uma reduzida drena- sua influência na redução da drenagem.
gem em relação aos Latossolos Amarelos Regiões com predomínio de solos
argilosos ou muito argilosos bem estru- arenosos, como Espodossolos e Neosso-
turados da Amazônia Central, que apre- los quartzarênicos, serão consideradas

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 147


inaptas ou terão aptidão marginal, tendo sequentemente, o solo poderá permane-
em vista, entre outras limitações, a baixa cer parcialmente saturado, mesmo com
retenção de umidade. Solos com profun- a presença de drenos. Nesses solos, uma
didade efetiva menor que 45 cm são con- rede densa de drenos pode ser necessária
siderados inaptos para a palma de óleo. para efetivamente drenar e permitir a ae-
Contudo, há relatos de palmares na Ásia ração do solo.
com boa produtividade em solos de baixa
profundidade efetiva (50 cm de profun-
didade) e em solos turfosos, desde que
com bom suprimento de água e nutrien- 4. Condições físico-
tes (CORLEY; TINKER, 2003).
Os solos de textura arenosa, devido à
hídricas do solo e sua
baixa retenção de água e à drenagem ex- relação com a incidência
cessiva, e os de textura muito argilosa e
argilosos maciços, que apresentam redu-
do amarelecimento fatal
zida drenagem, são considerados com ap- e o estado nutricional da
tidão marginal. O dendezeiro tolera, ape-
nas por um curto período, a deficiência de palma de óleo
oxigênio (hipoxia), geralmente relaciona-
da a áreas encharcadas; em áreas de baixa O avanço da cultura de palma de óleo
permeabilidade ou sujeitas a inundações, no Brasil tem uma limitação causada pela
é necessária a construção de sistemas de incerteza do aparecimento da doença de-
drenagem (LAUREZAL, 1980). nominada Amarelecimento Fatal – AF. Há
vários indícios de que essa doença seja um
A boa drenagem do solo parece ser um
distúrbio fisiológico ou um ataque de pató-
fator crucial para o bom desenvolvimento
genos secundários devido à predisposição
do dendezeiro. Há uma confusão entre
causada por fatores abióticos (BERGAMIN
os problemas causados pelo excesso de
FILHO et al., 1998; LARANJEIRA et al., 1998;
água e suprimento de oxigênio às raízes
FRANQUEVILLE, 2001; CHINCHILLA, 2008).
de plantas crescendo num solo. Solos sa-
turados, cuja água apresenta oxigênio livre A ocorrência do AF foi verificada em
dissolvido, poderão não apresentar proble- várias classes de solos na América Latina
mas quanto ao desenvolvimento da palma (FRANQUEVILLE, 2001). Diversas pesquisas
de óleo, que já foi cultivada com sucesso já foram realizadas para tentar relacionar
em experimentos de laboratórios em solu- as características físicas e hídricas do solo
ções nutritivas aeradas (ASSIS et al., 1996). com a ocorrência do AF (RODRIGUEZ et
al., 2000; HARTLEY, 1970) e as possíveis
Entretanto, as raízes do dendezeiro
interações entre as características físicas
são pouco tolerantes a condições de hipo-
e químicas do solo nos palmares (BOARI,
xia no solo (CORLEY; TINKER, 2003). Em re-
2008; CHINCHILLA, 2008). Contudo, os re-
giões de alta precipitação, como em parte
sultados não foram conclusivos, apenas
da região Bragantina, no Pará, mesmo o
indicativos de que uma reduzida drena-
uso de drenos poderá ser ineficiente para
gem pode ocasionar o AF (BERNARDES,
garantir uma boa aeração do solo. Algu-
2000; BERGAMIN FILHO et al., 1998).
mas classes e horizontes de solos apre-
sentam uma baixa condutividade hidráuli- As condições de drenagem e aeração
ca horizontal, fazendo com que os drenos do sistema radicular do solo são proprie-
funcionem com reduzida eficiência; con- dades dinâmicas que se alteram continua-

148 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
mente com as condições do ambiente. As
condições microclimáticas de um palmar
refletem na capacidade de EVT e evapora-
5. Referências
ção da água no solo (CABRAL, 2000), num bibliográficas
intricado processo dinâmico no qual as
condições de umidade do solo influirão ASSIS, R. P. ; CARVALHO, J. G. ; PAULA, M. B. ;
na capacidade de infiltração e transmissão VIÉGAS, I. J. M. ; ASSIS, M. P. Teores de nutrien-
da água dentro do perfil do solo. As ca- tes na parte aérea do dendezeiro em função
de diferentes relações entre K, Ca e Mg na
racterísticas da chuva que incide em deter-
solução nutritiva. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE
minada região, incluindo sua intensidade, FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DE PLAN-
quantidade e duração, influirão, por sua TAS, 22., Manaus, 1996. Resumos expandi-
vez, no enchimento dos poros do solo, dos. Manaus: SBCS, 1996. p. 662-663.
numa competição com o ar do solo. O diâ-
metro dos poros influenciará as condições BARCELOS, E.; RODRIGUES, F. M.; MORALES, E.
de energia em que a água fica retida. Em A. V. Dendeicultura: alternativa para o desen-
algumas situações de manejo de solos tro- volvimento sustentável no Amazonas. Manaus:
Embrapa Amazônia Ocidental, 1999. 19 p.
picais, o espaço poroso total do solo não
se altera, mas ocorrem mudanças na distri- BASTOS, T. X.; MÜLLER, A. A.; PACHECO, N. A.;
buição de frequência de poros por tama- SAMPAIO, S. M. N.; ASSAD, E. D.; MARQUES,
nho. O aumento da quantidade de poros A. F. S. Zoneamento de riscos climáticos para
de pequenos diâmetros (microporos) cau- a cultura do dendezeiro no estado do Pará.
sa alterações drásticas nos fluxos de água Revista Brasileira de Agrometeorologia, v.
e de ar no solo (TEIXEIRA, 2001). 9, n.3, p. 564-570, 2001.

Atualmente, encontra-se em andamen- BERGAMIN FILHO, A.; AMORIM, L.; LARAN-


to um projeto que avalia a hipótese de o AF JEIRA, F. F.; BERGER, R. D.; HAU, B. Análise
ser provocado por uma redução na poro- temporal do amarelecimento fatal do den-
sidade de aeração e, consequentemente, dezeiro como ferramenta para elucidar sua
na condutividade hidráulica do solo, o que etiologia. Fitopatologia Brasileira, v. 23, n.
3, p. 391-396, 1998.
causaria uma diminuição temporária do
potencial de oxirredução do solo. Isso acar- BERNARDES, M. S.; VEIGA, A S. ; RAMOS, E.
retaria alterações na composição dos íons A doença de raiz amarelecimento fatal do
na solução do solo, especialmente nas for- dendezeiro. In: CONGRESSO BRASILEIRO
mas iônicas reduzidas de ferro, manganês, DE FITOPATOLOGIA, 33., Belém, 2000. Resu-
nitrogênio e enxofre. Aparentemente, es- mos... Belém: Sociedade Brasileira de Fito-
sas alterações estariam produzindo distúr- patologia, 2000. p. 454.
bios fisiológicos que se iniciam no sistema BOARI, A. Estudos realizados sobre o amarele-
radicular e ocasionam uma predisposição cimento fatal do dendezeiro (Elaeis guineen-
da palma de óleo ao AF. sis Jacq.). Belém: EMBRAPA-CPATU, 2008. 62 p.

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Amazônia Ocidental. In: VIÉGAS, I. J. M.; MÜL-
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Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 149


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150 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 9

Manejo de pragas e doenças para


a cultura de palma de óleo na
Amazônia
Walkymário de Paulo Lemos e Alessandra de Jesus Boari

portância desse problema, serão discutidas


1. Introdução nesta publicação as estratégias de manejo
das espécies de insetos-praga E. c. cyparis-
sias, R. palmarum, O. invirae e B. sophorae
Apesar das condições favoráveis para o em cultivos de palma de óleo. No Brasil,
desenvolvimento de palmáceas na Ama- a doença mais importante é o Amareleci-
zônia brasileira, as condições ecológicas mento Fatal, que será discutida no próximo
peculiares da região favorecem o apareci- capítulo. Outras doenças significativas são
mento e estabelecimento de insetos-praga o anel vermelho, a fusariose, o fitomonas e
e doenças, especialmente em agroecos- doenças fúngicas do viveiro.
sistemas implantados em monocultivos.
Por esse motivo, cultivos de palma de óleo
(dendezeiro) necessitam ser monitorados
sistematicamente, visando à redução das
perdas provocadas por esses agentes. 2. Principais Insetos-
Insetos-praga e doenças estão entre os praga da cultura de
principais problemas associados à cultura
de palma de óleo no Brasil. Na região Norte
palma de óleo
do país, que contém as maiores plantações
de palma de óleo, são encontradas diferen- Eupalamides cyparissias
tes espécies de insetos que causam danos cyparissias (Fabricius)
a esse cultivo, particularmente: os broque- (Lepidoptera: Castniidae) –
adores Eupalamides cyparissias cyparissias broca-da-coroa-foliar, broca-do-
(Lepidoptera: Castniidae) (BERNARDINO, cacho ou broca-do-dendezeiro
2007) e Rhynchophorus palmarum (Cole- Entre os insetos que atacam cultivos de
optera: Curculionidae); e os desfolhadores palma de óleo na região Norte do Brasil, a
Opsiphanes sp. e Brassolis spp. (Lepidopte- broca-da-coroa-foliar E. c. cyparissias, cujos
ra: Nymphalidae), Sibine spp. e Talima sp. sinônimos juniores são Castnia dedalus,
(Lepidoptera: Limacodidae), Euprosterna Eupalamides dedalus e Cyparissius dedalus
sp. e Automeris spp. (Lepidoptera: Satur- (LAMAS, 1995; HOWARD, 2001), é conside-
niidae) (TINÔCO, 2008). Em função da im- rada uma das pragas mais importantes.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 151


Imaturos de E. c. cyparissias (Figura 1) – levantamento da população de ima-
são ameaças para a palma de óleo devido turos de E. c. cyparissias em plantas
a suas características de desenvolvimento eliminadas na propriedade por dife-
biológico contínuo durante as diferentes rentes causas.
épocas do ano, à natureza de dano provo-
cado e, principalmente, à abundância de
hospedeiros potenciais na região Norte
do Brasil, entre os quais, além da palma
de óleo, estão o coqueiro, o açaizeiro (E.
oleracea), a bacabeira (Oenocarpus sp.) e
várias outras palmeiras nativas da região.

Figura 2. Detalhes do adulto de E. c. cyparissias (Foto:


José Malta de Souza – Grupo Agropalma)

Figura 1. Detalhes do imaturo de E. c. cyparissias e a


injúria por ele provocada (Foto de W. P. Lemos) O comportamento do inseto, a altura
das plantas e a falta de produtos regis-
Lagartas dessa praga perfuram galerias trados para a cultura são, ainda, entraves
no estipe, nas bases foliares e nos pedún- para o combate de E. c. cyparissias no
culos dos cachos da palma de óleo, redu- campo. No entanto, tais limitações estão
zindo o fluxo normal de seiva, o cresci- sendo superadas através de parcerias exis-
mento da planta e a produção. No decurso tentes entre o setor produtivo e a Embrapa
de seu desenvolvimento, as lagartas cons- Amazônia Oriental, que, juntos, estão bus-
troem, no interior do estipe, galerias cada cando desenvolver estratégias de manejo
vez mais profundas e de maior diâmetro, integrado dessa praga, com enfoque nos
podendo, inclusive, atingir o meristema métodos alternativos de controle.
apical e ocasionar a morte da palmeira.
As medidas de controle devem ser
adotadas seguindo informações obtidas
Rhynchophorus palmarum L.
(Coleoptera: Curculionidae)
com os levantamentos mensais do inse-
– Broca-do-olho-do-coqueiro,
to no plantio. Três critérios são utilizados
broca-do-coqueiro ou bicudo
para avaliação da praga:
Denominado broca-do-coqueiro, ou
– levantamentos mensais da população
simplesmente bicudo, R. palmarum é um
de adultos (Figura 2) utilizando redes
inseto comum em diferentes palmáceas,
entomológicas;
provocando sérios danos a essas espé-
– levantamento de plantas com sinto- cies. Ataca as palmeiras, geralmente a
mas do ataque do inseto, conside- partir dos dois anos de idade no campo,
rando-se os aspectos: folha arriada, quando elas estão começando a desen-
paralela ao estipe, e perfurações no volver o estipe. Além da palma de óleo,
estipe, próximo à coroa foliar; o R. palmarum ataca, também, espécies

152 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
cultivadas e/ou nativas da Amazônia, par- meiras, a captura do adulto dessa praga
ticularmente o coqueiro e o açaizeiro. pode ser efetuada utilizando vários tipos
de iscas contendo feromônio sintético de
Os danos em cultivos de palma de óleo
agregação, as quais podem ser encontra-
são provocados por imaturos e adultos de
das no mercado com diferentes nomes
R. palmarum. Danos diretos são causados
comerciais.
pelas larvas que perfuram os tecidos do
estipe na região da coroa foliar (Figura 3a), As iscas para captura de R. palmarum
construindo galerias que podem chegar até podem ser usadas em três tipos de ar-
o tecido meristemático (broto terminal ou madilhas:
palmito). Em decorrência, as folhas novas
– armadilha tipo balde, que consiste
ficam amareladas, murcham e, finalmente,
em um balde plástico de 50 a 100
se curvam e secam, indicando a morte da
litros, com tampa devidamente per-
planta. Indiretamente, o adulto de R. palma-
furada na qual são acoplados funis
rum é vetor do nematoide Bursaphelencus
equidistantes;
cocophilus (Cobb) Baujard, agente causal
da doença anel-vermelho (Figura 3b), que – armadilha tipo tanque, que consiste
poderá ser letal à palma de óleo. em um recipiente de alvenaria com
as dimensões 1,2 x 1,0 x 0,4 m;
Trata-se de uma espécie-praga com
grande número de estudos sobre as es- – armadilha tipo feixe, que consiste em
tratégias de controle, particularmente em um feixe de cana amassada, pendu-
cultivos de coqueiro. Dessa forma, reco- rado no tronco do coqueiro.
menda-se que os métodos de controle
Nos três tipos de armadilhas, são uti-
dessa broca sejam integrados, visando à
lizados cana-de-açúcar junto com o fero-
redução da população do inseto no plan-
mônio de agregação para aumentar o seu
tio e nas proximidades com a utilização
poder de atração.
de armadilhas de captura e a aplicação de
técnicas de manejo, tais como: eliminar Vários inimigos naturais são impor-
plantas mortas no campo, evitar ferimen- tantes no equilíbrio da população de R.
tos em plantas sadias, utilizar alcatrão ve- palmarum em campo, como por exem-
getal em eventuais ferimentos e monitorar plo: parasitóides de pupas como Billaea
a presença de inimigos naturais na área. menezesi (Guimarães) (anteriormente
Paratheresia menezesi) e B. rhynchophorae
Uma vez que esse inseto é atraído por
(Blanchard). O uso de iscas vegetais conta-
compostos voláteis resultantes da fermen-
minadas com esporos do fungo B. bassiana
tação de líquidos açucarados exalados das
é também uma alternativa de controle de
plantas e dos tecidos danificados das pal-
R. palmarum.

A B

Figura 3. Dano direto [galeria] (A) e indireto [anel vermelho] (B) provocado por R. Palmarum (Foto: Ricardo
Salles Tinôco – Grupo Agropalma)

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 153


Brassolis sophorae L.
(Lepidoptera: Nymphalidae) –
Lagarta-das-folhas-do-coqueiro
As formas jovens das espécies Brasso-
lis sophorae L. e Opsiphanes invirae (Hüb-
ner) (Lepidoptera: Nymphalidae) correspon-
dem aos principais insetos desfolhadores
encontrados em cultivos de palma de óleo
na Amazônia brasileira, particularmente
pelos danos econômicos que podem oca-
sionar. Por isso, recomenda-se o monitora-
mento dessas espécies mensalmente na
propriedade.
Figura 5. Desfolhamento causado por imaturos de
Lagartas de B. sophorae são gregá- B. Sophorae (Foto: José Malta de Souza – Grupo
Agropalma)
rias (Figura 4) e vivem reunidas durante
o dia em ninhos construídos com folío- O ataque dessa praga pode provocar
los. À noite, alimentam-se das folhas de redução ou suspensão da produção du-
qualquer nível. Adultos de B. sophorae rante um determinado período do ano.
medem entre 70 e 105 mm e possuem Cada lagarta de B. sophorae pode consu-
asas anteriores e posteriores de cor mar- mir de 500 a 600 cm2 (entre 2,0 e 2,5 folí-
rom-escura com leves reflexos violáceos, olos), podendo desfolhar completamente
contendo uma faixa transversal de cor ala- uma palmeira em poucos dias, quando
ranjada. Na fêmea, o tórax é mais largo na em altas infestações.
altura das asas superiores e toma a forma
de um “y”. O método mais eficaz e seguro para
controlar B. sophorae é localizar, reti-
rar e destruir os ninhos encontrados
no monitoramento mensal. Em plan-
tas jovens, o método é eficiente; po-
rém, em plantas adultas, a eficiência
do controle é limitada pelas dificulda-
des de localizar e retirar os ninhos.
Alguns microorganismos entomo-
Figura 4. Detalhes de imaturos gregários de B. Sophorae
patogênicos são relatados como efi-
(Foto: José Malta de Souza – Grupo Agropalma) cientes no controle das lagartas de B.
sophorae, como a bactéria B. thurin-
Brassolis sophorae é uma praga capaz giensis e fungos dos gêneros Beauve-
de provocar danos econômicos à cultura ria , Nomurae , Paecylomices e Cordyceps
de palma de óleo devido ao desfolha- (TINÔCO, 2008). Ninhos de B. sophorae
mento parcial ou total das palmeiras (Fi- parasitados por microorganismos, quando
gura 5) causado por seus imaturos, que encontrados no campo, devem ser deixa-
são desfolhadores de diferentes espécies dos no local e/ou transportados a labora-
silvestres e cultivadas de palmáceas, entre tório para armazenamento em freezer a
as quais a palma de óleo, o açaizeiro e o -5ºC, a fim de serem posteriormente uti-
coqueiro. lizados em pulverizações por ocasião de
novas infestações da praga. Recomenda-

154 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
se utilizar 500 g de lagartas parasitadas tri-
turadas para preparar 600 litros de solução
do fungo, que é uma quantidade suficien-
te para pulverizar 1 hectare.
Em plantios comerciais de palma de
óleo no Estado do Pará, também tem sido
observada a predação de lagartas desfo-
lhadoras pelo percevejo Alchaeorrynchus
grandis (Hemiptera: Pentatomidae) (LEMOS
et al., 2007). No entanto, ainda se percebe
a necessidade de mais estudos sobre esse
método de controle na Amazônia brasileira.
Figura 7. Desfolhamento causado por imaturos de O.
invirae (Foto: José Malta de Souza – Grupo Agropalma

Opsiphanes invirae (Hübner) Uma única lagarta de O. invirae pode


(Lepidoptera: Nymphalidae) – consumir até 800 cm2 de folíolos. Dessa
Lagarta desfolhadora forma, deve-se observar uma folha cen-
Lagartas de O. invirae (Figura 6) geral- tral de duas plantas/ha e contar o núme-
mente são encontradas na face inferior ro de lagartas, controlando-se quando
dos folíolos. Caracterizam-se por apresen- encontrar de 10 a 15 lagartas por planta.
tar cabeça rósea com dois prolongamentos Controles acima de 90% são alcançados
espinhosos, corpo verde com listas amare- com pulverizações de B. thuringiensis (via
ladas e dois apêndices caudais. Adultos terrestre: 1,2 L p.c./ha; via aérea: 0,5 L p.c./
dessa espécie medem entre 60 e 70 mm ha), quando as lagartas ainda estão se ali-
de comprimento e possuem asas anterio- mentando (entre o 2o e 4o ínstar).
res negras nas extremidades, tornando-se A população de adultos dessa praga
avermelhadas à medida que se aproximam pode ser manejada utilizando-se diferen-
da base. As asas anteriores possuem, na tes tipos de armadilhas, as quais podem
parte mediana, uma longa faixa transversal ser confeccionadas com vasilhas de plás-
de cor amarela. São insetos diurnos e mui- tico cortadas de maneira a formar uma ja-
to ágeis, com vôo rápido. nela para entrada dos adultos, ou apenas
sacos plásticos, contendo no seu
interior uma solução de melaço
mais solução inseticida.

3. Principais
Figura 6. Detalhes do imaturo de O. Invirae (Foto: Ricardo Salles
Tinôco – Grupo Agropalma) doenças
fitopatogênicas
Os danos provocados por O. invirae
são similares àqueles descritos para B. so- da palma de óleo
phorae, ou seja, suas lagartas destroem o
limbo foliar a partir das bordas (Figura 7), No mundo, já foram relatadas dife-
deixando apenas as nervuras centrais. rentes doenças da palma de óleo, como:

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 155


ferrugem (Pythium splendens, Rhizocto- pertence ao filo Nemata, na ordem Aphe-
nia lamellifera), manchas das folhas (Cer- lenchida e família Aphelenchoides. Os ne-
cospora elaeidis), antracnose (Botryodi- matoides adultos medem cerca de 1.370
plodia palmarum, Melanconium elaeidis, µm de comprimento e 15,5 µm de diâme-
Glomerella cingulata), murcha de mudas tro. O B. cocophilus geralmente tem baixa
(Curvularia eragrostidis), amarelecimento sobrevivência na água ou no solo, ou seja,
e murcha vascular (Fusarium oxysporum), em menos de sete dias, a taxa de morta-
apodrecimento basal do tronco (Ceratocys- lidade é de 100%. Entretanto, as formas
tis paradoxa, Ganoderma spp., Armillaria jovens podem permanecer viáveis no teci-
mellea) (REES et al., 2007), fungo na coroa do do estipe por até 130 dias, localizando-
e apodrecimento das frutas (Marasmius se nas cavidades intercelulares do tecido
palmivorus), anel-vermelho causado pelo parenquimatoso do estipe e dos pecíolos
nematoide Bursaphelencus cocophilus e no córtex da raiz. Os nematoides são
(GIBLIN DAVIS et al., 1989), apodrecimento encontrados principalmente na região do
dos galos (brotos) causado pela bactéria anel. No coqueiro, em um grama do te-
Erwinia spp., três vírus (Potyvirus, Foveavi- cido do anel podem ser encontrados até
rus, Nanovirus) (MORALES et al., 2002; RI- 10.000 nematoides, sendo o ciclo de vida
VERA et al., 1996), o viroide cadang-cadang em tecido foliar de nove a dez dias.
(BEUTHER et al., 1992; VALDAMALAI et al.,
2006) e fitoplasma (BRIOSO et al., 2002). Os sintomas iniciais causados pelo ne-
matoide na palma de óleo são a redução
No Brasil, a principal doença da palma de crescimento das folhas centrais, segui-
de óleo é o Amarelecimento Fatal (AF), da do seu amarelecimento, e a mudança
que vem dizimando milhares de plantas. na coloração do pecíolo, que se torna
Entretanto, sua etiologia ainda não está alaranjado. No estipe, pode-se observar,
elucidada. Alguns pesquisadores defen- após a realização do corte transversal, a
dem causa abiótica e outros, abiótica do formação de um anel escurecido (Figura
AF, mas seu agente ou fator causal não foi 3B). Entretanto, a observação desse anel
comprovado. Essa doença, bem como os só é possível quando a doença se encon-
estudos já realizados por vários pesquisa- tra num estádio bastante avançado. Na
dores, será abordada em outro capítulo. maioria das vezes, observa-se apenas a
A seguir, são descritas as doenças de formação parcial do anel.
origem fitopatogênica de importância para Esse nematoide tem outras espécies
a cultura da palma de óleo no Brasil. de palmeiras como hospedeiras, particu-
larmente o coqueiro (Cocos nucifera L.),
a tamareira (Phoenicis dactylifera) e a ma-
Anel Vermelho caúba (Acrocomia aculeata). No campo, é
Depois do Amarelecimento Fatal, é a disseminado por um inseto-praga e vetor,
doença de maior importância. É uma das o R. palmarum, que o transporta nas par-
principais doenças da América Latina, sen- tes externa e interna do seu corpo.
do, no Brasil, responsável pela morte de mi-
Como manejo do Anel Vermelho, tem
lhares de plantas de palma de óleo na Bahia
sido utilizada a eliminação de plantas com
e na região Amazônica (SILVA, 1991).
sintomas para diminuir a fonte de inóculo
Essa doença é causada pelo nema- no campo. Entretanto, a principal estra-
toide Bursaphelencus cocophilus, que já tégia tem sido o controle do inseto vetor
foi denominado Rhadinaphelenchus coco- por meio da captura com o uso de arma-
philus (GOODEY, 1960). Esse nematoide dilhas espalhadas no plantio e/ou o uso

156 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
de inimigos naturais, conforme descrito 1977; PERTHUIS et al., 1985).
anteriormente.
Além da palma de óleo, o Phytomonas
pode se hospedar em coqueiros e é trans-
Fusariose mitido pelos insetos Hemiptera Haplaxius
pallidus Caldwell (Cixiidae) e Linus lethifer.
Também conhecida como Secamento Nas condições da Amazônia brasileira, o
Letal da palma de óleo, sua ocorrência é Phytomonas parece atacar com mais fre-
comum em plantios nos diferentes esta- quência palmares localizados ao longo da
dos brasileiros. floresta e nas proximidades de igarapés
A Fusariose é causada pelo fungo Fusa- (TRINDADE et al., 1997).
rium oxysporum f.sp. elaeis, pertencente à Como estratégia de controle, recomen-
classe Euascomycetes, na ordem Hipocre- da-se o arranquio das plantas afetadas, já
ales e família Hypocreaceae. Essa formae que elas não se recuperam.
specialis só infecta a palma de óleo, como
sugere seu nome.
Os sintomas causados por esse fungo
Mancha de Curvulária
em plantas de palma de óleo consistem Essa doença aparece mais no estágio
no aparecimento do amarelecimento nas de viveiros com nutrição desbalanceada.
folhas mais velhas, às vezes nas intermedi- A mancha é causada pelo fungo Curvula-
árias, a partir do quarto ano de idade. Pos- ria sp., da classe Euascomycetes, na ordem
teriormente, os sintomas evoluem para a Pleosporales e família Pleosporaceae. O
quebra da base do pecíolo das folhas mais fungo Curvularia possui conidióforos es-
velhas, configurando o aspecto guarda- curos que produzem conidiósporo simpo-
chuva. Essas folhas secam e podem levar dial. Os conidiósporos são escuros, retos
à seca total da planta. No estipe, próximo ou curvos e apresentam até cinco células.
à base, observa-se o escurecimento, ou
Os sintomas aparecem, inicialmente,
necrose, dos tecidos condutores, também
em forma de lesões circulares, de colora-
causado pela colonização do fungo. Em-
ção amarelada e translúcida, visíveis em
bora esse fungo possa ser importante, não
ambas as faces da folha, e posteriormente
há uma medida de controle específica.
se tornam elípticas. A lesão pode ter de 3
a 7 mm de comprimento e pode variar de
Marchitez Sorpressiva marrom-claro a marrom-escuro com um
halo amarelado. Quando o ataque é seve-
Apesar de ser considerada doença de ro, as lesões coalescem.
menor importância em relação às anteriores,
esta pode levar a planta de palma de óleo A infecção pela Curvularia pode ser fa-
à morte. A Marchitez Sorpressiva é causada vorecida pela alta umidade do ar (acima
por um protozoário chamado Phytomonas de 80%) e pela temperatura superior a
staheli, da ordem Trypanosomatida e famí- 25oC. Esse micro-organismo pode causar
lia Trypanosomatidae. Esse patógeno causa doença também em outras palmáceas,
uma coloração amarronzada nas extremida- como a pupunha e o coqueiro.
des nos folíolos das folhas mais velhas, que O manejo da mancha deve ser preven-
avança para a base e provoca a seca rápida tivo, por meio da aplicação de fungicida
da folha. Além disso, causa o abortamento à base de mancozeb e da eliminação de
de inflorescências, bem como apodrecimen- folhas ou mudas com sintomas.
to de cachos imaturos (TASCON; MARTINEZ,

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 157


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158 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 10

O desafio das pesquisas com a


etiologia do Amarelecimento Fatal
(AF) da cultura da palma de óleo
Alessandra de Jesus Boari

rência era esporádica, afetando poucos


1. Introdução palmares. No entanto, no ano de 1984,
morreram 465 plantas e, em 1985, a doen-
ça exibiu um acréscimo sem precedentes,
No Brasil, a cultura da palma de óleo elevando o número de casos para 2.205
(Dendezeiro – Elaeis guineensis Jacq) tem plantas mortas. Em 1986, foram registra-
sua produção afetada por algumas doen- das 9.968 plantas e em 1987, 32.673. Entre
ças, mas o Amarelecimento Fatal (AF) tem 1974 e 1991, o total foi de mais de 100.000
se destacado como o responsável pela palmares mortos nessa plantação. Nessa
morte de milhares de plantas nos paí- área, observou-se um agravamento da do-
ses produtores. Segundo Albertazzi et al. ença entre o 15o e o 16o ano pós-plantio
(2005), essa doença da cultura da palma (VAN SLOBBE, 1988).
de óleo, que ocorre somente na Améri-
ca tropical e afeta os plantios comerciais, Na Região Norte, o AF também foi re-
recebe nomes diferentes em alguns pa- latado em Tefé (projeto piloto Socfinco),
íses, como: “Pudrición del cogollo – PC” no Amazonas, e em uma plantação de
no Panamá, na Nicarágua, na Colômbia palma de óleo localizada em Porto Gran-
e no Equador; “Spear Rot” no Suriname; de – Companhia Dendê do Amapá (Code-
e “Amarelecimento Fatal” no Brasil (RUI- pa), próximo a Macapá, AP (VAN SLOBBE,
NARD et al. 1990; MARIAU & GENTY, 1992; 1988).
SWINBURNE, 1993; FRANQUEVILLE, 2001). No Pará, a ocorrência do AF ainda está
Na tradução de PC para o inglês, essa restrita às áreas localizadas nos municí-
doença recebe o nome de “Bud Rot”. Vá- pios de Benevides, Santa Isabel do Pará,
rios pesquisadores relatam que se trata Tomé-Açu, Santa Bárbara, Santo Antônio
da mesma doença, mas há variações de do Tauá, Bujaru, Moju, Belém e Acará. O
sintomas de acordo com a região, o que AF é uma ameaça ao desenvolvimento da
levou alguns pesquisadores a discordarem produção de palma de óleo no Pará, agra-
de que seja a mesma doença (TURNER & vada pelo fato de sua causa ser de origem
LIMPUR, 1981; FRANQUEVILLE, 2001) ainda desconhecida.
No Brasil, o AF foi relatado pela primei- Vários trabalhos foram realizados com
ra vez em 1974 em uma lavoura estabele- o objetivo de determinar a causa ou o
cida em 1967 no Pará, quando sua ocor- agente causal do AF na palma de óleo.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 159


Entretanto, não foi encontrada nenhuma cachos. Embora em algumas palmas pos-
correlação com insetos, problemas fisioló- sa ocorrer remissão de folhas, a produção
gicos, solo e fitopatógenos. de cachos é insignificante. Além disso, o
sistema radicular não se desenvolve após
Este capítulo tem o objetivo de relatar
o aparecimento dos primeiros sintomas do
resumidamente os diversos resultados ex-
AF. Nos tecidos do estipe e do meristema
perimentais obtidos e as observações re-
das plantas com AF, não são observados
alizadas desde 1986, quando se iniciaram
apodrecimentos ou necroses do sistema
os trabalhos de pesquisa para identificar a
vascular. Ayala (2001) e Bernardes (2001)
causa do AF.
ressaltam que o sistema radicular se apre-
senta necrosado logo no início do apareci-
mento do amarelecimento dos folíolos das
folhas intermediárias. Essa doença pode
2. Sintomatologia ocorrer em qualquer idade do palmar.

O AF se caracteriza, inicialmente, pelo


ligeiro amarelecimento dos folíolos basais
das folhas intermediárias (3, 4, 5 e 6) e,
mais tarde, pelo aparecimento de necro-
ses nas extremidades dos folíolos (Figura
1), que evoluem para a seca total dessas
folhas. Um dos principais sintomas do AF
é a seca da folha flecha e, eventualmente,
pode ocorrer remissão temporária da plan-
ta (Figura 2), seguida de declínio generali-
zado e morte (Figura 3).
Van Slobbe (1991) relata que, geral-
mente, as plantas morrem 7 a 10 meses Fig. 2 – Planta de palma de óleo com AF, com sintomas
após o aparecimento dos primeiros sinto- de remissão de folhas. Foto: Alessandra de Jesus Boari
mas, quando não ocorre a remis-
são. A partir da morte da folha
flecha, não há mais a produção de

Fig. 1 – Palma de Óleo: amarelecimento e


necrose da ponta do folíolo para a base.
Fig. 3 – Plantio de palma de óleo dizimado pelo
Foto: Alessandra de Jesus Boari
AF. Foto: Alessandra de Jesus Boari

160 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
e liberados nas gaiolas. Foram realizadas
3. Estudos realizados liberações monoespecíficas com insetos
mais relacionados com a palma de óleo,
sobre o AF tais como Contigucephalus sp., Patara sp.,
Omolicna sp. e Myndus crudus, e mistu-
Foram desenvolvidas várias ações de ra de espécies com as principais famílias
pesquisa visando obter conhecimento catalogadas, entre as quais Aethaelinidae,
sobre a causa do AF, tanto na busca por Cercopidae, Fulgeridae, Dephacidae, Dic-
um agente fitopatogênico – isolamento, tyopharidae, Nogodinidae, Issidae, Rica-
transmissão, sintomatologia, testes diag- nidae, Derbidae, Cixiidae, Cicadellidae,
nósticos, insetos vetores (entomologia) e Flatidae e Membracidae.
medidas de controle da doença, como na Após seis anos de pesquisa, não se
investigação de fatores do solo, hídricos obteve resultados positivos em relação à
e fisiológicos. Estudos de epidemiologia transmissão do AF com insetos. Assim, os
também foram realizados para analisar a autores concluíram que se deve descartar
distribuição do AF com a finalidade de in- a hipótese de um homóptero transmissor
dicar se a sua causa é ou não de origem que tenha estreita relação com a palma de
biótica. óleo (CELESTINO FILHO et al., 1993).
Fitoplasmas
3.1. Estudos visando a uma Por meio de teste molecular PCR, BRIO-
possível causa biótica SO et al. (2003, 2006) relataram a associa-
Chinchilla e Durán (1999) sugerem que ção do fitoplasma do grupo 16S rRNA I
os fitopatógenos associados a plantas em amostras de plantas de palma de óleo
doentes são oportunistas, já que não se com AF provenientes do Pará. Os mesmos
provou que eles sejam a causa primária autores avaliaram, por meio de PCR, mais
da doença. Os autores também sugerem de 100 amostras de palmares com sinto-
que a suscetibilidade da planta de palma mas de AF e 100 sem AF, e verificaram a
de óleo a esses patógenos pode ser propi- presença de fitoplasma em apenas quatro
ciada por um ou mais tipos de estresse. delas, número considerado pequeno por
vários pesquisadores, já que se trata de
Entomologia um teste altamente sensível.
A iniciativa para a realização de traba- Por vários anos, amostras de tecido de
lhos de pesquisa na área de entomologia plantas com AF foram examinadas para
foi baseada na observação (de campo) detecção de fitoplasmas. Contudo, nem
preliminar que levantou a hipótese de o IRHO (Institut de Recherche pour les
que a doença era propagada por insetos, Huiles et Oléagineux) (nem o Dr. E. W. Ki-
pelo fato de a disseminação ocorrer no tajima, da Universidade de Brasília, detec-
sentido dos ventos, o que coincidia com taram esses microorganismos por micros-
a área de progresso do AF no campo, com copia eletrônica de transmissão.
distribuição aleatória. (CELESTINO FILHO
et al., 1993). Não se obteve sucesso com o uso dos
antibióticos oxitetraciclina e estreptomici-
Do total de insetos catalogados, preva- na para controle de fitoplasmas, tanto na
leceu a família Cicadellidae, com 266 es- prevenção de palmares aparentemente
pécies registradas. Nos ensaios de trans- sadios quanto na terapia da doença, indi-
missão, 815.914 insetos foram coletados cando que a causa do AF não é fitoplas-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 161


ma e nem são bactérias. Fez-se também Tabela 1 – Relação de fungos e bac-
a absorção radicular de monocrotofós bi- térias isolados de palmares com amare-
mensal em 80 ha, na tentativa de reduzir lecimento fatal
o número de insetos sugadores e, assim,
diminuir a disseminação, mas não se ob- Fungos
teve resultado. Lasiodiplodia Pythium sp. Chaetomium
theobromae sp.
M. Schuilling executou o teste histo- Microsphaera Fusarium Rhizoctonia
químico DAP nas amostras de palmares olivacea solani sp.
doentes e sadios. No entanto, nas mais Curvularia Fusarium Graphium sp.
de 1.000 observações, todos os resultados pallescens oxyesporum
foram negativos, indicando que o AF não Dacrylaria sp. Fusarium sp. Mucor
era causado pelos fitoplasmas (VAN SLO- racemosus
BBE, 1991). Mycelia Pestalotiopsis Curvularia
Fungos e bactérias sterilia sp. hamata
Phytophtora Thielaviopsis Phoma sp.
Considerando a possibilidade de que sp. sp.
fungos e/ou bactérias sejam causadores Colletotrichum Phomopsis Gloeosporium
dessa doença, Silva (1989) coletou amos- sp. sp. sp.
tras de plantas doentes e, a partir delas, fo- Bactérias
ram realizados isolamentos de organismos Aerobater Erwinia Psedomonas
associados aos tecidos dos pecíolos, ráquis, aerogenes herbicola aeruginosa
folíolos, flechas e raízes. Os fungos e bac- Bacillus P. putida P. fluorescens
térias foram inoculados em plantas jovens polimixe
e adultas na tentativa de reproduzir os sin- Fonte: Silva, 1989
tomas da doença (postulado de Koch).
Segundo Silva (1989), 21 isolados de
fungos e 6 de bactérias (Tabela 1) foram Van Slobbe (1988) realizou experi-
obtidos, tendo-se realizado inoculações em mentos visando ao controle de um pos-
plantas sadias com 9 fungos e 1 bactéria. sível fungo causador do AF utilizando a
injeção, por meio de pistola injetora, de
Entretanto, os trabalhos de isolamen- três soluções fungicidas: Benomyl, para o
tos mensais e inoculações quinzenais controle de Fusarium sp.; Metalaxyl + Fol-
foram realizados durante um ano, sem pet de Phytophthora sp. e Fessetil + Alumí-
lograr resultados satisfatórios. nio, para o controle de fungos da família
Pythiacea. Entretanto, nenhum desses
tratamentos teve sucesso na indicação de
um possível patógeno.
Na Colômbia, por meio do Postulado
de Koch, provou-se que o PC é causado
por um complexo de fungo Thielaviopsis
paradoxa, Phytophthora sp. e Pythium sp.
(NIETO et al., 1996).
Vírus e viroides
Com os resultados negativos das ino-
culações de bactérias e fungos em palma-

162 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
res, levantou-se a hipótese de que vírus ção de viroides foram realizados, mas sem
ou viroides poderiam estar associados ao obter sucesso (RIESNER; BEUTHER, 1989;
AF, pois são relatados em coqueiros e tam- SINGH et al., 1988).
bém em palmáceas.
Nematoides
Os testes de transmissão foram feitos
Segundo Silva (1989), suspeitou-se do
por meio de ferramentas cortantes intro-
envolvimento de fitonematoides com o
duzidas em plantas com AF e, posterior-
AF em virtude de uma série de observa-
mente, em plantas sadias. Além disso,
ções, como a ocorrência de AF em áreas
foram feitos testes de inoculação: de ex-
onde foram encontradas, inicialmente,
tratos de folhas com AF para plantas sa-
plantas com sintomas de anel-vermelho
dias; de folhas com AF para plantas indica-
(AV), causado por Bursaphelenchus coco-
doras de vírus; e de raízes, estipe e ráquis
philus, e a ocorrência de nematoides não
de plantas com AF para plantas indicado-
identificados em tecidos de plantas com
ras de vírus. Entretanto, as transmissões
a doença junto a áreas necrosadas das rá-
mecânicas não tiveram sucesso aparente
quis da flecha ou das folhas mais novas,
(TRINDADE et al., 2005).
centrais, amarelecidas e/ou com resseca-
Kitajima (1991), por meio da micros- mento progressivo. O autor, ao final das
copia eletrônica, não verificou patógenos observações, concluiu que não foram en-
em tecidos ultrafinos de raízes, folhas e contradas formas efetivamente fitopara-
flechas de plantas sadias e com AF, mas sitas de nematoides que pudessem levar
salientou que vírus isométricos pequenos diretamente ao AF como causa primária
e de baixa concentração são de difícil ob- (Tabela 2).
servação.
Ribeiro (1990), estudando a presença
Tabela 2 – Espécies de nematoides
de viroides por meio de eletroforese, após
identificados em amostras de solo e raízes
várias repetições com plantas de palma de
de palma de óleo com sintomas de AF.
óleo com e sem sintomas provenien-
tes do Pará, observou dados inconsis- Nematoides
tentes, pois verificou de duas a quatro Xiphinema Tylenchorhynchus Dorylaimellus
bandas típicas em plantas sadias e yaporense crassicaudatus sp.
não em doentes. Bandas idênticas fo- Xiphinema Basirotyleptus sp. Tylenchus sp.
ram observadas em plantas de palma brasiliensis
de óleo do Rio Urubu, local onde o AF Aorolaimus Bursaphelenchus Criconemella
não ocorre. sp. sp. sp.
Em novas análises para avaliar a Hoplolaimus Meloidogyne spp. Scutellonema
ocorrência de viroides, Beuther et al. sp. sp.
(1992) realizaram testes de hibridiza- Identificação realizada pelos pesquisadores Dr. I. L.
Renard (IRHO) e L. C. C. B. Ferraz (ESALQ/USP)
ção molecular utilizando sondas contra
coconut cadang-cadang viroid (CCCVd),
potato spindle tuber viroid (PSTVd) e citrus Analisando solos e plantações de pal-
dwarfing (CdVd1). Existem relatos de CC- ma de óleo, Ferraz (2001) afirma não ter
CVd infectando palmares. Entretanto, não encontrado formas parasitas que pudes-
se obteve sucesso na detecção de viroides sem estar causando o mal, não sendo o
em amostras de plantas de palma de óleo nematoide a causa primária do AF.
com AF. Outros trabalhos visando à detec-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 163


Observações de sintoma e Replantio
histologia Segundo Van Slobbe (1988), plantas de
Segundo Kastelein et al. (1990), plantas palma de óleo com AF foram eliminadas e
com AF não têm radicelas como as aparen- mudas sadias foram replantadas no mes-
temente sadias. Tecidos de folhas, região mo local. Após cerca de oito meses, as no-
apical de meristemas e radicelas de plantas vas plantas manifestaram os sintomas de
sadias e com AF foram examinados pelo AF, mostrando a inviabilidade do replantio
microscópio de luz. Fungos e bactérias fo- na área onde foi detectada a doença.
ram frequentemente, mas nem sempre, ob-
servados em lesões necróticas nas folhas.
Rouguing
Entretanto, não foram constatados fora Segundo Van Slobbe (1991), com o ob-
das lesões ou em tecidos vasculares das jetivo de diminuir ou acabar com a dissemi-
plantas com AF ou em tecidos de plantas nação da doença no plantio, plantas com
aparentemente sadias. Com frequência, fo- AF foram eliminadas em V a partir da planta
ram verificadas tiloses obstruindo vasos do com AF ao longo do vento na tentativa de
xilema das folhas afetadas. Na região apical conter a doença, já que o autor observou
do meristema de raízes das plantas doen- que o AF se disseminava a partir do foco
tes, foram detectadas poucas células meris- sob influência do vento. Também não foi
temáticas, e nenhum sinal de necrose ou observado resultado efetivo da medida.
apodrecimento pôde ser observado.
Transmissibilidade pela semente
Epidemiologia
Van Slobbe (1991) levantou a hipótese
Em virtude da complexidade da doença, de um possível agente patogênico causa-
Bergamin Filho et al. (1998) e Laranjeira et al. dor do AF ser transmitido pela semente
(1998) realizaram testes epidemiológicos. proveniente de planta doente, pois obser-
A partir de dados fornecidos pela vou que muitas plantas de mais de uma
Denpasa (Dendê do Pará S.A.), os pesqui- metro de altura, que germinaram espon-
sadores concluíram que o AF é de natureza taneamente, apresentaram sintomas da
abiótica, pois verificaram que não houve doença. Visando estudar essa transmissão
um padrão definido, tanto para o apare- foram coletadas milhares de sementes de
cimento quanto para o crescimento de 32 plantas de palma de óleo portadoras
focos. Além disso, não perceberam uma de AF com 6 e 20 anos de idade. Entre-
direção preferencial de disseminação, e o tanto, 19 meses após a geminação, não
progresso mensal do AF foi linear entre os foram observados sintomas de AF que evi-
anos de 1985 e 1992, como acontece com denciasse a transmissão.
problemas abióticos de outras plantas pe-
renes. Foram constatadas curvas anuais
com taxa mais que exponencial entre os
3.2. Estudos visando a uma
anos de 1992 a 1997, o que não ocorre
possível causa abiótica
com nenhuma doença biótica. Solo e nutrição
Entretanto, Van De Lande & Zadocks Van Slobbe (1988) relata que o PC e/ou
(1999), após avaliação epidemiológica AF ocorre em diferentes tipos de solo nos
espacial de palmares com sintomas seme- vários locais onde o problema existe: na
lhantes ao do AF no Suriname, concluíram área de Santo Domingo, no Equador, os so-
que a doença era causada por um fitopa- los são vulcânicos jovens; em Bajo Calima
tógeno e disseminada pelo vento. e La Arenosa, na Colômbia, são aluviais e

164 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
pesados; no Suriname e no Brasil, são late- fatal na palma de óleo e relataram a ne-
ríticos e arenosos. O pH desses solos varia cessidade de aprofundar a pesquisa sobre
de 4 a 7, enquanto a pluviosidade anual é a interação entre os nutrientes e o amare-
de cerca de 1.600 mm na Codepa (Amapá, lecimento fatal (Tabela 3).
Brasil) e cerca de 6.000 mm em Bajo Calima
Evolução de sintomas do AF em
(Colômbia). Em algumas localidades onde
adubações com omissão de macro
ocorre o AF, a palma de óleo é a primeira
e micronutrientes
cultura após a derrubada da floresta. Entre
elas, estão a Denpasa e o projeto piloto So- Silveira et al. (2000) compararam os
cfinco, no Amazonas, Brasil; o Shushufindi efeitos da adubação com e sem omissão
e o Palmoriente, no Equador; Victória, Phe- de nutrientes sobre a evolução dos sinto-
dra e Patamaca, no Suriname; e El Castillo, mas do AF na palma de óleo Tenera (IRHO)
na Nicarágua. Em outros locais, a primeira de 4 anos de idade, em solo caracterizado
cultura foi a da banana, como é o caso das como latossolo amarelo de textura média
plantações em Santo Domingo, no Equa- e em clima do tipo Af.
dor, em Sixaola, na Costa Rica e em Cukra
Os autores observaram uma tendên-
Hill, na Colômbia.
cia de recuperação das plantas nos trata-
O AF foi relatado em áreas cujos solos mentos com omissão de macronutrientes
eram constituídos de manchas de areia semelhante ao tratamento de adubação
quartzosa intercaladas com manchas de completa, com exceção de Ca e S, em
concreções lateríticas no Pará; na Denpa- que houve uma certa estabilidade dos
sa, onde também ocorreu o AF, a área era sintomas. A omissão de micronutrientes
de várzea alta, sujeita a inundação por evoluiu para um aumento quase generali-
períodos prolongados de 5 a 6 meses por zado dos sintomas do AF, exceto para zin-
ano (VAN SLOBBE, 1991). co. Houve uma evolução pronunciada na
omissão de B e Cu, sendo que a de Cu se
Avaliação foliar destacou mais. No tratamento com formu-
Viégas et al. (2000) realizaram um es- lação completa, observou-se uma tendên-
tudo sobre a concentração dos nutrientes cia de recuperação das plantas com AF.
Cu, Fe, Mn e Zn) nas folhas 1 (F1), 9 (F9) e Foi sugerida a adubação foliar das plantas
17 (F17) em palmares Tenera sadios e com com formulação completa, com exceção
AF e no híbrido resistente (Elaeis oleifera x de N e P, para a área estudada.
E. guineensis) na área da Denpasa, onde
Influência do micronutriente ferro
foram selecionadas quatro plantas por tra-
tamento. Com base nos dados do ensaio, Viégas et al. (2000) cogitaram a possibi-
os autores sugeriram que os micronutrien- lidade de o AF ser causado pelo desequi-
tes Cu, Zn, Mn, e Fe sejam os responsáveis líbrio fisiológico provocado pela falta ou
pelo aparecimento do amarelecimento excesso de nutrientes ou pela interação

Tabela 3 – Concentração de nutrientes em diferentes folhas de plantas de pal-


ma de óleo dos tipos Híbrido e Tenera (g kg-1)

Folha 1 Folha 9 Folha 17


Tipos
Cu Fe Mn Zn Cu Fe Mn Zn Cu Fe Mn Zn
Híbrido 9 46,6 59,6 18,6 5,7 65,3 90,3 14,0 5,2 70,0 152,3 11,0
Tenera 4,6 37,3 46,3 16,3 4,1 64,6 135,5 15,3 4,1 61,0 177,5 13,6
Fonte: Viégas et al. (2000)

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 165


negativa entre os mesmos, podendo ser houve nenhuma redução de sintomas nas
ocasionado pela falta de oxigênio no solo. plantas tratadas com sulfato ferroso.
O encharcamento temporário, decorrente
Influência das propriedades
da presença de uma camada compactada
físicas do solo
que ocorre entre 20 cm e 50 cm, pode pro-
vocar a anoxia em períodos determinados, Silveira et al. (2000), estudando as pro-
o que, provavelmente, ou transforma o Fe priedades físicas e químicas do solo com
por oxidação, ou o elemento é fortemen- relação à ocorrência do AF, verificaram a
te adsorvido, tornando-se indisponível presença de um adensamento ou com-
para as plantas. pactação entre as profundidades de 30
cm e 60 cm, assim como a ocorrência de
Assim, com base nos resultados obti-
mosqueados na transição do horizonte
dos, foram observados teores de Fe mais
A para o horizonte B (30 cm a 60 cm de
elevados nas folhas 1, 9 e 17 quando com-
profundidade) nas parcelas B2A, B3B, 64C,
parados com os teores da Tenera com ou
97B, mostrando a saturação do solo na
sem AF. Os autores realizaram ensaio em
camada superficial no período de maior
um plantio de palma de óleo Tenera de 4
precipitação pluviométrica do ano.
anos, no qual o solo era um latossolo ama-
relo de textura média, com características A saturação do solo com água, nesse
ácidas, pobre de bases trocáveis e com período, acarreta a deficiência de oxigê-
baixo teor de fósforo assimilável. Segundo nio na camada superficial do solo, sendo
os autores, a deficiência de Fe pode ocor- prejudicial à palma de óleo por ser plan-
rer em solos nas seguintes condições: ta com dominância do sistema radicular
distribuído horizontalmente, próximo à
- baixo teor de Fe total;
superfície do solo.
- altas concentrações de P, Ca, Mg, Cu,
A análise e a interpretação dos resul-
Mn e Zn;
tados obtidos referentes às propriedades
- pH elevado; físicas de solos cultivados com palma de
óleo nas áreas de surgimento do AF reve-
- pH baixo – acúmulo de Mn+2 no solo
laram a ocorrência de uma camada mais
inibe a absorção de Fe-;
adensada (compactada), principalmente
- deficiência de K; nos horizontes AB e BA, evidenciada pelos
valores mais altos de densidade aparente.
- variação genética.
Isso leva a uma diminuição da macropo-
Altos níveis de P no substrato podem rosidade, provocando a saturação das
insolubilizar o Fe no solo e precipitá-lo camadas superficiais do solo no período
na superfície das raízes, nos espaços in- de maior precipitação pluviométrica. A
tercelulares e no xilema, causando o apa- saturação do solo com água durante esse
recimento de sintomas de deficiência de período pode acarretar uma deficiência
ferro. Diante disso, os autores aplicaram de oxigênio ao sistema radicular das plan-
solução de sulfato ferroso na dosagem tas, ocasionando, como consequência, o
de 50 ml por palmeira via absorção pela apodrecimento de raízes. Esse fato pode
na raiz primária com base na metodolo- induzir o aparecimento de algum tipo de
gia de Mariau E Genty (1992). A raiz foi sintoma aéreo, na forma de amareleci-
cortada perpendicularmente e imersa no mento.
saco plástico com a solução, com diferen-
Os resultados obtidos nesse estudo,
tes. Após 120 dias, observou-se que não
segundo o autor, não permitiram estabe-

166 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
lecer uma relação com o AF, embora teo- aeração, sendo os valores entre 0 e 0,075
ricamente existam probabilidades de que bar indicadores de baixa aeração para a
essa hipótese seja aceita. O autor sugere planta, e entre 0,075 e 0,30 bar valores
a continuidade dos estudos referentes aos mais adequados. Bernardes (2001) ressal-
efeitos das propriedades físicas do solo. ta que plantas mantidas em baixa aeração
podem favorecer a incidência de molés-
Bernardes (2001) analisou áreas de
tias de raiz e, além disso, essa é uma situa-
plantio da Denpasa quanto a fertilidade,
ção que desfavorece o efeito corretivo de
nutrição foliar e compactação do solo. Na
aplicações no solo com calcário e gesso.
parcela 76d, com alta incidência de AF, fo-
ram constatados altos teores de nutrientes Quanto ao peso seco das raízes, obti-
na folha, principalmente fósforo, potássio, do de bloco de solo de 40 cm x 20 cm x
enxofre, cálcio e magnésio, apontando 20 cm = 16 dm3, verificou-se uma quanti-
como indicador a improbabilidade da cau- dade inferior (8,1g) àquela esperada pela
sa do AF ter origem na deficiência ou de- dimensão da parte aérea, comparando-se
sequilíbrio nutricional, embora as demais com as plantas sem AF (16g).
parcelas vizinhas tenham tido os mesmos
Diante do quadro avaliado, Bernardes
tratos culturais. Observou-se a inexistência
(2001) não chegou a nenhuma conclusão,
de gradiente claro dos sintomas, na plan-
mas levantou algumas hipóteses e postu-
ta ou no terreno, gradiente este típico de
lou que a causa primária do AF está na da-
deficiências nutricionais ou de toxidade.
nificação do sistema radicular das plantas
Quanto ao solo, foram percebidos indícios
e que os danos podem ser de origem quí-
de que o pH decresce e os teores relativos
mica, física, biológica ou da combinação
de alumínio (m%) aumentam com o tem-
dessas, sendo todas predisponentes ao
po. Ressaltou-se a baixíssima saturação de
aparecimento do AF. No caso de origem
bases (V%) e o baixo teor de Mg em todas
química, foi levantada a hipótese de de-
as amostras. A proporção entre Ca e Mg,
ficiência de algum elemento favorecido
com valores desejáveis na faixa de 2,8 a
pela anaerobiose do solo, como o nitrito.
33, também foi bastante desequilibrada,
A drenagem deficiente também poderia
apresentando-se entre 3 e 12. Além disso,
reduzir a nitrificação do nitrogênio orgâ-
Bernardes (2001) também constatou uma
nico do solo, causando deficiência de ni-
tendência de as plantas mais doentes
trogênio, cujo sintoma mais comum é o
estarem localizadas em solos com maior
amarelecimento das folhas.
saturação de alumínio, menor saturação
de bases e maior teor de manganês. O Em suas análises realizadas a partir de
autor ressaltou que é pouco provável que tecidos das plantas (raízes e folhas), Ber-
os altos teores de alumínio e ferro, encon- nardes (2001) não conseguiu demonstrar
trados nas raízes e radicelas dos palmares associação evidente entre alguma de-
da Denpasa, sejam os causadores do mal, sordem nutricional e o AF. Além disso, o
pois raízes de palmares plantados na Esalq pesquisador afirmou que há indícios de
em terra roxa também possuem condições que o AF aparece mais intensamente no
semelhantes. final do período chuvoso. No momento
em que os sintomas aparecem pelo ama-
Com relação a água no solo e drena-
relecimento da folha flecha, o sistema ra-
gem, o potencial de água no solo (força
dicular já está bastante prejudicado, o que
com que a água é retida no solo), medi-
inviabiliza qualquer tentativa de controle
do por tensiômetro, no mês de março de
via adubação do solo. O autor ressaltou
1999 foram constatados valores de baixa
que a compactação da camada superficial

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 167


dos solos da empresa Palmas aparente- os procedimentos com o programa de
mente é maior que os da Denpasa, pelo melhoramento e, recentemente, obteve-
menos nas entrelinhas em que ocorre o se um híbrido com resistência ao AF. Estu-
trânsito de máquinas, e não ocorre AF na- dos realizados por Durand-Gasselin et al.
quela área. Assim, a compactação do solo, (2005) também indicaram que a E. oleife-
isoladamente, não poderia ser associada ra tem fonte de resistência ao fungo Ga-
ao AF. noderma sp e à fusariose.
Bernardes (2001), então, sugeriu que a Entre os maiores problemas do híbrido
falta de resposta das plantas às aplicações interespecífico estão a baixa fertilidade
de nutrientes via solo se deve ao fato de do pólen, que pode ser parcialmente re-
o sistema radicular já estar bastante danifi- solvida pela polinização assistida, e a alta
cado no início do aparecimento do AF. variabilidade da fertilidade feminina, gran-
demente responsável pela baixa taxa de
Rodrigues et al. (1999, 2000) também
extração de óleo de híbridos.
relataram que camadas compactadas po-
dem ter levado ao esgotamento tempo-
rário de oxigênio durante o período de
maior precipitação pluviométrica e suge-
riram o uso de subsolagem profunda, a 5. Fatos conhecidos
eliminação de plantas como a puerária,
para permitir a evapotranspiração, e a re-
a respeito do
alização de uma rede de drenagem para AF relacionados
remover o excesso de água.
por diferentes
pesquisadores
4. Resistência Diante os vários estudos realizados
desde o aparecimento do AF, os pesquisa-
Híbrido Interespecífico dores levantaram fatos importantes sobre
No gênero Elaeis, existem duas espé- essa doença. São eles:
cies com interesse agronômico: E. guine- 1. A princípio, os casos de AF ocorreram
ensis, ou palma de óleo africano, e E. olei- ao acaso e, durante vários anos, verificou-
fera, ou caiaué (ou, ainda, palma de óleo se um crescimento linear no número de
americano). Segundo Barcelos et al. (1987), casos de AF até atingir 2 a 3% de plantas.
a espécie africana é a oleaginosa de maior A partir daí, o crescimento de casos foi ex-
produtividade, alcançando até 7 toneladas ponencial.
de óleo por hectare, enquanto, de acordo
com OOI et al. (1981), a segunda espécie 2. A agregação de plantas com AF ocorreu
alcança somente 25 % desse valor. com o número de casos superior a 3%.
Crescimento mais que exponencial ocor-
Hartley (1988) salientou a importância reu após 15 anos.
da E. oleifera, conhecida pelo nome co-
mum de caiaué, que apresenta resistên- 3. Não há correlação com o tipo de solo.
cia em áreas com AF, para o programa de 4. Não há uma correlação com o excesso
melhoramento genético quando cruzada de água no solo.
com E. guineensis, originando um híbri-
do interespecífico. Então, foram iniciados 5. Recuperação natural ou remissão dos

168 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
sintomas é possível, mas o restabeleci-
mento é raro.
6. Considerações finais
6. Aparentemente, há uma correlação
positiva com a chuva, mas não foram ve- O AF continua sem causa esclarecida,
rificadas ocorrências de AF em regiões de e existe a necessidade de continuação
déficit hídrico, no caso brasileiro. da investigação. Diante dessa revisão de
7. O crescimento do problema não é di- artigos científicos e, principalmente, de
recional, não havendo correlação com o relatórios elaborados pelos pesquisadores
vento. Esse aspecto merece mais conside- que investigaram o AF, foi possível elabo-
rações. rar novas hipóteses, que estão sendo in-
vestigadas pela equipe de pesquisadores
8. Curvas temporais e espaciais não são da Embrapa e de outras instituições.
típicas de causas bióticas.
Esse novo projeto de pesquisa “Estudo
9. Não há gradiente claro dos sintomas, o do Amarelecimento Fatal do dendezeiro
que seria típico de deficiências nutricio- (Elaeis guineensis Jacq.) e estratégia de
nais ou de toxidade. Há casos de plantas manejo” é de caráter multidisciplinar e
totalmente sadias ao lado de plantas do- conta com pesquisadores das áreas de
entes. fitopatologia, entomologia, fisiologia ve-
10. Palmeiras de todas as idades são sus- getal, genômica, biotecnologia, sensoria-
cetíveis ao AF. mento remoto, solos, botânica e química.

11. A incidência de AF é mais acelerada em Segundo estudos prévios da Embrapa


áreas de replantios. Amazônia Oriental, a doença AF pode es-
tar associada às condições edafoclimáti-
12. Palmas afetadas continuam a frutificar, cas (VENTURIERI, et al. 2009).
mas em escala mais reduzida.
13. Há evidências de que a matéria orgâni-
ca exerce um efeito positivo na recupera-
ção das plantas afetadas, dependendo do
cruzamento.
7. Referências
14. Há resistência genética ao AF da E.
oleifera e seus híbridos>IRHO>PNG. bibliográficas
15. Não foi possível completar o postulado
ALBERTAZZI, H.; BULGARELLI, J.; CHINCHILLA, C.
de Koch para o AF.
Onset of spear rot symptoms in oil palm and prior
16. Há evidências claras de que o AF seja (and contemporary) events. Reproduced from
fatal. As cultivares HBN e MSR são mais “ASD Oil Palm Papers, n. 28, p. 21-41. 2005.
suscetíveis ao AF e sucumbem com maior
facilidade. AYALA, L. S. Relatório de visita à Denpasa. In:
DENPASA. Pesquisa sobre amarelecimen-
17. Há uma correlação entre um menor de-
to fatal do dendezeiro. Santa Barbara, PA:
senvolvimento radicular e a incidência de
DENPASA, 2001. 319 p.
AF. Aparentemente, o problema radicular
ocorre antes da manifestação dos sinto-
mas de AF na parte aérea.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 169


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172 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 11

A Culura da Palma de Óleo como


âncora do desenvolvimento da
Agricultura Familiar na Amazônia
Ocidental1
Edson Barcelos e Mauricio Veloso Soares

regional, para as instituições de pesquisa


1. Antecedentes e, portanto, para o Governo Brasileiro, pois
é uma forma de combater as atividades ilí-
citas e assegurar a presença nacional nos
A atividade produtiva na Amazônia tem mais de 10 mil km de faixa de fronteiras,
tradicionalmente se caracterizado pelo ex- de baixa presença brasileira e de raríssi-
trativismo e pela agricultura itinerante. O mas atividades econômicas.
extrativismo, dada a maior pressão sobre
os recursos naturais advinda do aumen- A cultura da palma de óleo é uma das
to da população, da falta de consciência mais importantes atividades agroindus-
ecológica e da ausência de compromisso triais das regiões tropicais úmidas (Malásia,
com as gerações futuras, tem deixado Indonésia, Colômbia, etc.), podendo de-
marcas profundas, características do extra- sempenhar papel ainda mais significativo
tivismo madeireiro predatório e da pesca e como fonte de insumo energético (óleo
caça sem qualquer controle. A agricultura vegetal/biodiesel). Constitui excelente ati-
itinerante, praticada por mais de 700 mil vidade geradora de ocupação e renda no
famílias de pequenos agricultores, consti- meio rural para o caso da Amazônia, subs-
tui o mecanismo silencioso dos pequenos tituindo, assim, as atividades tradicionais,
desmatamentos, invisíveis aos instrumen- comprovadamente pouco rentáveis, mal
tos de controle, porém capazes de causar implementadas e ambientalmente insus-
grandes prejuízos à floresta e nenhuma tentáveis. O Cultivo da palma de óleo é
riqueza e promoção social à sociedade capaz de absorver e neutralizar a mão de
amazônida. obra hoje envolvida em tais atividades.

Assim, o desenvolvimento de ativida- Por suas características de cultivo pere-


des produtivas, econômica, social e ecolo- ne, é uma cultura com forte apelo ecoló-
gicamente viáveis na região de fronteiras gico que apresenta baixos níveis de agres-
da Amazônia é hoje uma real necessida-
de e um grande desafio para a sociedade, 1
Projeto apoiado com recursos financeiros do MCT/FINEP/
para as instituições de desenvolvimento CT-Amazônia.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 173


são ambiental, se adapta a solos pobres, representa para o Brasil, além da perspec-
protegendo-os contra a lixiviação e erosão, tiva de melhorar sua matriz energética,
e imita a floresta tropical, sendo perfeita- uma necessária e concreta oportunidade
mente adequada ao aproveitamento de de geração de ocupação e renda na zona
áreas já alteradas da Floresta Amazônica, rural, notadamente na Amazônia Ociden-
pois tem capacidade de contribuir para a tal, reduzindo os problemas de desigual-
restauração do balanço hídrico e clima- dades regionais, pobreza e êxodo rural.
tológico, atuando significativamente na
Nesse contexto, o Programa Brasi-
reciclagem e sequestro de carbono e na
leiro de Biodiesel, que visa à produção
liberação de oxigênio.
descentralizada e à incorporação desse
Adicionalmente, a palma de óleo é combustível à matriz energética brasileira,
tido como uma das poucas opções agrí- representa não só uma opção político-
colas para a Amazônia, pois conta com estratégica face à crescente instabilidade
tecnologia disponível e comprovada via- das economias do petróleo, mas também,
bilidade técnica, econômica, social e eco- além de ser uma opção renovável e sus-
lógica, além de mercado em larga escala, tentável, oferece a real e grande possibi-
o que pode tornar realidade o desenvol- lidade de geração de postos de trabalho
vimento sustentável com ganhos ambien- com remuneração decente, tão reclama-
tais indiretos, econômico e expressivo dos pela sociedade e, em especial, pela
progresso social. população rural brasileira. Essa iniciativa
complementa diversos outros estudos em
Entretanto, torna-se imprescindível a
execução, mais tecnológicos do ponto de
implantação de programas capazes de
vista de obtenção do biodiesel, ou de ou-
evidenciar tais características, pois se res-
tras formas de uso energético dos óleos
sente da falta de bons projetos, principal-
vegetais, dos quais muito se beneficiará.
mente aqueles em pequena escala, com
real capacidade de geração de ocupação
e renda, produção de insumo energético
para uso local pelas comunidades, com
garantia de sustentabilidade e, sobretudo, 2. A experiência do
de elevada rentabilidade, imprescindível
para assegurar a promoção social das fa-
Alto Solimões: o plantio
mílias participantes do processo. de palma de óleo por
Hoje, em face da previsão de elevação
dos preços do petróleo e da crescente
agricultores familiares
pressão da opinião publica contra as emis- de Benjamin Constant
sões de gases do efeito estufa (CO²), são
indiscutíveis a necessidade e as possibi- – Atalaia do Norte /
lidades de utilização em larga escala de
fontes alternativas renováveis de energia,
Amazonas.
menos poluentes e prejudiciais ao meio
ambiente, como a energia proveniente da 2.1. Objetivo
biomassa. O Projeto, de caráter de validação de
A real possibilidade técnica e econômi- tecnologias da EMBRAPA, tem como fina-
ca de uso dos óleos vegetais como insu- lidade principal avaliar e demonstrar, em
mo energético para substituição do diesel escala comercial, a viabilidade e a sus-

174 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
tentabilidade da cultua da palma de óleo infraestrutura de apoio ao projeto);
como atividade de geração de renda para
4) implantação da unidade industrial:
a agricultura familiar voltada para a produ-
extração de óleo, beneficiamento
ção de óleo vegetal como insumo energé-
(biodiesel, craqueamento ou kit mul-
tico/biodiesel a ser utilizado em comuni-
ticombustível).
dades isoladas da Amazônia.
O uso do óleo vegetal a ser produzi-
Assim, os esforços têm por objetivo
do para transformação em biodiesel está
implantar um Projeto Demonstrativo com
previsto para consumo na geração local
a cultura da palma de óleo como ativida-
de energia. Não obstante, não descarta
de âncora para a viabilização da peque-
outras possibilidades, considerando ha-
na propriedade agrícola, com a efetiva
ver tempo hábil para a tomada de de-
participação de agricultores familiares. A
cisão, já que a produção da plantação,
área do projeto está situada na região da
em escala, iniciará somente a partir de
tríplice fronteira entre Brasil/Peru/Colôm-
2011/2012.
bia, com a participação de agricultores
familiares utilizando áreas alteradas ou Uma nova proposta está sendo elabo-
de agricultura itinerante localizadas nos rada sob encomenda da FINEP/CT-Amazô-
municípios de Benjamin Constant/AM e nia para financiamento da 3ª etapa, asse-
Atalaia do Norte/AM. gurando, assim, a continuidade do projeto.
Para a execução da 4ª etapa, relativa à
indústria de extração e processamento
2.2. Configuração do projeto de óleo/biodiesel, certamente a de custo
mais elevado, serão buscados recursos no
O projeto é uma iniciativa da Embra-
FINEP/MCT/CT-Amazônia; também existe
pa Amazônia Ocidental e da Diocese do
a possibilidade de contar com a comple-
Alto Solimões/AGROSOL, apoiados pelo
mentação de recursos do Governo do Es-
Governo do Estado do Amazonas/IDAM
tado do Amazonas, do Ministério da Inte-
e pelas Prefeituras Municipais de Benja-
gração Nacional, do Banco da Amazônia,
min Constant e de Atalaia do Norte/AM.
do Banco do Brasil, da Superintendência
O projeto encontra-se em implantação,
da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), da
estando a 1ª e a 2ª etapas em execução,
Agência de Fomento do Estado do Ama-
com recursos assegurados pelo MCT/FI-
zonas (AFEAM), de agências de desenvol-
NEP/CT-Amazônia.
vimento regional, e entre outros.
O projeto está dividido em quatro etapas:
O Instituto Nacional de Colonização e
1) implantação da cultura; Reforma Agrária (INCRA), o Instituto Terras
do Amazonas (ITEAM) e as Prefeituras Mu-
2) manutenção do plantio e acompa-
nicipais deverão atuar na regularização da
nhamento;
situação fundiária das áreas beneficiadas
3) elaboração dos projetos técnicos e e na melhoria da infraestrutura dos Proje-
de engenharia da usina de extração tos de Assentamentos de Crajari, Umarizal
de óleo e de licenciamento ambien- e Boia.
tal (unidade de extração de óleo e
O Governo do Estado do Amazonas e
geração de energia, licenciamento
as Prefeituras deverão fornecer e manter
ambiental da unidade e licenciamen-
a infraestrutura social: estradas, escolas,
to ambiental das propriedades fami-
saúde, eletrificação rural, assistência médi-
liares, aquisição de equipamentos /
ca e social. O Instituto de Desenvolvimen-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 175


to Agropecuário do Estado do Amazonas Javari, são as duas sedes municipais na
(IDAM) deverá assegurar a assistência téc- área de abrangência do projeto e distam
nica, em comum acordo com a Embrapa, uns 50 quilômetros de Tabatinga, principal
para cultivos intercalares e outras ativida- polo regional do Alto Solimões.
des complementares. O Banco da Amazô-
Conjuntamente, as duas sedes munici-
nia, o Banco do Brasil e a AFEAM deverão
pais contam com 31.195 habitantes (dados
assegurar a alocação de crédito para tais
de 2009, segundo o IBGE) e apresentam
cultivos. A Embrapa é a fornecedora de se-
um consumo atual de cerca de 5,5 mi-
mentes e de tecnologia agronômica para
lhões de litros anuais de biodiesel, valor
a cultura da palma de óleo.
muito superior ao que deverá ser produzi-
do pelo projeto – em torno de 2,5 milhões
de litros anuais. Ou seja, todo o biodiesel
2. 3. Localização Geográfica
a ser produzido poderá ser adquirido pela
A área de 500 ha de plantio de dendê concessionária de geração e distribuição
está distribuída na base de 5 hectares de de energia nos municípios.
plantio por propriedade dos agricultores
familiares, localizada ao longo da Rodovia
BR 307 (no trecho entre Benjamin Cons- 2.4. Aspectos Socioeconômicos
tant e Atalaia do Norte), e nos Projetos de da Região
Assentamento do INCRA de Crajari, Umari-
O município de Atalaia do Norte ocu-
zal e Boia (Figura 1).
pa uma área de 76.355 km2. A população
Os municípios de Atalaia do Norte e do município, estimada em 2007 pelo Ins-
Benjamin Constant, ambos no vale do Rio tituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Figura 1 – Localização geográfica do projeto ao longo da BR 307 (Imagem CIBERS-2B, obtida em 06/09/2009,
cedida pelo INPE)

176 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
(IBGE), era de 13.682 habitantes, dos quais no município de Benjamin Constant. Ou-
cerca de 40% viviam na zona rural em 37 tros produtos de extrativismo, em menor
comunidades, sendo 15 ribeirinhas e 22 in- importância, são a borracha e gomas não-
dígenas. O IDH-M está em torno de 0,559. elásticas.
Benjamin Constant ocupa uma área A agricultura tem toda a sua produção
de 8.793 km2. A população estimada para voltada exclusivamente para o consumo
2007 foi de 29.268 habitantes, segundo local em ambos os municípios e é base-
dados do IBGE, com 39% vivendo na zona ada principalmente nos cultivos temporá-
rural em 59 comunidades, sendo 39 ribei- rios (mandioca, arroz, feijão, batata-doce,
rinhas e 20 indígenas. O IDH-M está em milho e melancia) e, em menor propor-
torno de 0,640. ção, nos cultivos perenes e semiperenes
(banana, abacate, abacaxi, laranja, limão,
Deu-se início à execução do projeto
cupuaçu e pupunha (Figura 2).
com a aplicação de um questionário para
levantamento e caracterização do padrão
socioeconômico das famílias de agriculto-
res familiares, candidatos a participarem
do referido projeto. A proposta será efetuar
periodicamente novos levantamentos para
avaliar os impactos socioeconômicos ou
os benefícios aportados pelo projeto, em
especial após seu ponto de maturação eco-
nômica, ou seja, após estabilização de sua
produção, no sétimo ano depois do plantio
da cultura principal – a palma de óleo.
O PIB de Atalaia do Norte a preço de
mercado corrente, em 2002, foi de R$ Figura 2 – Plantio de Palma de Óleo em área de mi-
21,495 milhões. No mesmo ano, Benjamin lho na propriedade do Sr. Nazareno
Constant registrou um PIB de R$ 55,372
milhões.
A horticultura é pouco desenvolvida
A economia de ambos os municípios é e explorada de forma empírica através
lastreada nas atividades do setor primário, do cultivo de verduras e legumes (cou-
com destaque para o extrativismo e a agri- ve, cheiro-verde, alface, tomate, pepino,
cultura. O extrativismo vegetal na região quiabo, pimentão), voltando-se apenas,
está baseado principalmente na extração de modo insuficiente, para o consumo
da madeira e é a atividade que emprega doméstico. O cultivo de frutas regionais
maior quantidade da mão de obra, dis- (abiu, cubiú, mapati, pupunha, sapota,
pondo de boa infraestrutura para o bene- fruta-pão, araçá-boi, mari, sorva, camu-
ficiamento local de madeira, com serrarias camu) apresenta bom potencial, mas é
e movelarias. apenas incipiente no presente.
As atividades madeireiras apresentam A pecuária é muito elementar e de bai-
um estado de semifuncionamento, devi- xíssimo rendimento, constituída apenas
do ao baixo número de projetos legaliza- de bovinos e suínos, sem destaque eco-
dos de extração e manejo. Dados do IBGE nômico e atendendo apenas parcialmente
registram para o ano de 2000 a extração o mercado local (Figura 3). A avicultura é
de cerca de 40.844 m3 de madeira em tora caracterizada como atividade tipicamente

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 177


doméstica (galinhas e ovos) e o abasteci- razoável número de varejistas e poucos
mento para o consumo local é feito a partir atacadistas em geral. Nos municípios, há
de frango congelado adquirido no merca- um posto do Banco do Brasil, uma agên-
do de Tabatinga e oriundo do sul do País. cia do Bradesco, os quais, tendo em vista
a proximidade das sedes municipais e a
rodovia asfaltada, atendem eficientemen-
te os dois municípios.

2.5. Fornecimento de Energia


Elétrica
A geração de energia elétrica nas se-
des dos municípios de Atalaia do Norte e
Benjamin Constant é de responsabilidade
da Companhia Energética do Amazonas
(CEAM), empresa federalizada ligada à
Eletrobrás, e consiste exclusivamente de
Unidades Termoelétricas (UTEs) movidas
a óleo diesel.
Nas comunidades rurais de ambos os
municípios, o suprimento de energia elé-
trica, quando existe, se dá pela utilização
de pequenos grupos geradores a diesel e,
em alguns casos, adota-se energia solar
Figura 3 – Plantio de Palma de Óleo em área de
pastagem na propriedade do Sr. Sinei (Foto: Edson para pequenas demandas.
Barcelos)
Para o escopo do projeto, qual seja o
fornecimento de biodiesel, dar-se-á ênfa-
A pesca é a principal atividade, sendo se apenas às sedes municipais, as quais
o peixe a e fonte de proteína de toda a re- apresentam, hoje, uma demanda muito
gião do Alto Solimões. Praticada artesanal- além do volume a ser ofertado inicialmen-
mente nos municípios em questão, tem te pelo projeto.
pouca participação na economia formal. O parque de geração de energia de
Notadamente em Benjamin Constant, a Atalaia do Norte está composto por um
piscicultura foi incentivada e hoje repre- grupo gerador de 800 kW e 3 grupos ge-
senta atividade rentável e promissora, com radores 240 kW de potência nominal cada,
assistência técnica pública e produção lo- totalizando 1.520 kW de capacidade insta-
cal de alevinos. A produção é destinada lada. A ponta de carga é de 600 kW. Em
aos mercados de Tabatinga, Letícia e Ma- 2006, o consumo de diesel foi de 1.074
naus. toneladas/ano, com previsão de se consu-
Os setores secundário e terciário são mir 2.302 toneladas de diesel em 2014, só
representados por indústrias simples, na geração de energia.
como olarias e serrarias, pouco ativas de- Em Benjamin Constant, a unidade de
vido à limitação de oferta de madeira le- geração de energia elétrica conta com
galizada. Também há poucas padarias. O dois grupos geradores de 1.500 kW, um de
comércio e os serviços se resumem a um 1.400 kW, um de 1.100 kW, um de 1.000 kW

178 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
e um de 630 kW, totalizando 7.130 kW de
capacidade nominal instalada. A ponta de
carga é de 2.150 kW. O consumo de com-
bustível, em 2006, foi de 3.641 toneladas
de diesel/ano, devendo, chegar a 7.805 t
de diesel/ano em 2014, só na geração de
energia.
No total, somando-se Benjamin Cons-
tant e Atalaia do Norte, a previsão é que
serão consumidas 10.107 toneladas de
diesel só na geração de energia em 2014, Figura 4 – Aclimatação de mudas de palma de óleo
ano em que o projeto em implantação em pré-viveiro instalado na área do projeto (Foto: Ed-
son Barcelos)
estará em seu pique de produção máxi-
ma, de 2.160 t de óleo de dendê/biodie-
sel. Ou seja, o projeto poderá atender até
20% da demanda de combustível no ano 2.6. Estrutura do Projeto
de 2014. 2.6.1. Agrícola
Enquanto isso, ainda em 2014, só o O projeto conta com cerca de 110 fa-
município de Tabatinga, distante de Ben- mílias de agricultores, sendo que cada
jamin Constant cerca de 30 km em linha uma delas recebe apoio para o plantio de
reta, estará consumindo 23.340 toneladas cerca cinco hectares de palma de óleo.
de combustível para atender seu parque Esse apoio é traduzido em: fornecimento
de geração de energia. Em resumo, mer- das mudas prontas para o plantio (Figura
cado não será limitação para a futura pro- 4); uma soma de recursos financeiros na
dução de óleo do projeto.

A B

Figura 5 – Instalação da Cultura de Palma de Óleo na Área do Projeto (a e b - Foto: Edson Barcelos; c - Foto:
Pedro Freitas)

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 179


A B

Figura 6 – Cultura de Palma de Óleo instalada na área do projeto (a e b – Fotos: Edson Barcelos)

A B

Figura 7. Consorciação de culturas perenes na fase de implantação da cultura de Palma de Óleo (a e b – Foto:
Edson Barcelos; c – Foto: Pedro Freitas)

180 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
base de R$ 1.000,00/hectare para o prepa- to e lutador pelo desenvolvimento social
ro da área e plantio das mudas; e adubos sustentável da região.
para adubação das covas no momento do
Assim, todos os agricultores familiares
plantio (Figuras 5 e 6). Toda a assistência
participantes do projeto serão associados
técnica para a cultura da palma de óleo
da cooperativa e fornecedores de cachos
é assegurada por três profissionais com
de dendê para a usina de extração de
dedicação exclusiva ao projeto (um En-
óleo prevista no projeto, a qual estará sob
genheiro Agrônomo e dois Técnicos Agrí-
a gestão da cooperativa dos produtores a
colas), treinados e apoiados pela equipe
ser criada, a partir da conclusão dos plan-
técnica da Embrapa Amazônia Ocidental/
tios das áreas.
Manaus.
A produção esperada do projeto, na
Durante a fase jovem e improdutiva
base de 24 t de cachos/ha/ano na fase
da cultura da palma de óleo, os agricul-
adulta, no sexto ano após o plantio, será
tores são incentivados a aproveitar as
de 12 mil toneladas de cachos nos 500
entrelinhas com cultivos anuais (cultu-
hectares cultivados. Entretanto, a produ-
ras alimentares: mandioca, arroz, milho,
ção e a colheita comercial iniciarão no
feijão, batata, melancia, abacaxi, etc.) e
final do terceiro ano após o plantio, com
semiperenes (maracujá, banana, etc.),
uma produtividade esperada de 8 t de ca-
como forma de obter alguma renda inicial
chos/ha já em 2011.
e auxiliar na manutenção das áreas livres
das invasoras (Figura 7). Para os cultivos 2.6.2. Usina de extração de óleo
intercalares, a assistência técnica e as se-
Será instalada uma miniusina de extra-
mentes são asseguradas pelo Instituto
ção de óleo com capacidade de proces-
de Desenvolvimento Agropecuário e Flo-
samento de três toneladas de cachos por
restal Sustentável do Amazonas (IDAM),
hora, suficiente para atender a uma área
órgão de assistência técnica e extensão
de 500 hectares de plantios na fase adulta.
rural oficial do estado.
A usina de extração de óleo será da co-
Durante a fase de desenvolvimento da operativa formada com todos os agricul-
cultura da palma de óleo, o projeto asse- tores familiares participantes do projeto e
gurará a continuidade da assistência téc- terá gerenciamento profissional, com um
nica, o pagamento mensal de uma ajuda técnico a ser inicialmente contratado e
aos agricultores de R$ 200,00/família/mês pago pelo projeto.
e o fornecimento dos fertilizantes para a
Para a implantação da miniusina e da
cultura do dendê. A ajuda financeira men-
unidade de produção de biodiesel, certa-
sal será paga mediante o cumprimento de
mente a parte de custos mais elevados do
compromissos pactuados entre os agricul-
projeto, tentar-se-á obter recursos não re-
tores e a equipe técnica, assegurando a
embolsáveis nas agências de desenvolvi-
realização dos tratos recomendados para
mento regional. Caso necessário, conta-se
a cultura da palma de óleo.
com a possibilidade de buscar recursos de
Vale ressaltar que todo o apoio admi- financiamentos bancários, dada a rentabi-
nistrativo, gerencial e político-social con- lidade da atividade.
ta com a imprescindível participação da
2.6.3. Uso energético do óleo /
equipe da Diocese do Alto Solimões e da
Produção do biodiesel
Fundação AGROSOL, sob a liderança do
Bispo da Diocese, Dom Alcimar Caldas O uso energético dos óleos vegetais
Magalhães, principal motivador do proje- tem como via tecnológica mais comum a

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 181


transformação desses óleos em biodiesel do sétimo ano após o plantio, consideran-
e sua posterior mistura no diesel, e até do uma produtividade média de 24 t de
mesmo o uso puro desse combustível nos cachos/ha/ano, será de 12 mil toneladas de
motores. Essa é a premissa, sobretudo cachos de palma de óleo, que resultarão
para o uso veicular dos óleos vegetais, ou em: 2.160 t de óleo de palma; 240 t de óleo
seja, nos motores de caminhões, ônibus, de palmiste; e 240 t de torta, com aproxi-
tratores, etc. madamente 15% de proteína bruta. O valor
bruto da produção a ser comercializada na
Entretanto, tecnicamente existem ou-
forma de óleo e torta, a preços atuais, é da
tras abordagens, que vão desde a queima
ordem de R$ 5,076 milhões/ano.
do óleo puro nos motores até o emprego
de tecnologias para a transformação des- A renda líquida para remuneração da
se óleo em um combustível mais apro- mão de obra familiar dos agricultores parti-
priado ao uso nos motores atuais, como o cipantes do projeto, na condição de associa-
craqueamento, tecnologia mais adequada dos da cooperativa, considerando uma área
às comunidades isoladas de menor por- produtiva de cinco hectares de plantios de
te, por exemplo. Como existem diversas palma de óleo com uma produtividade mé-
instituições pesquisando essas diferentes dia de 24 t de cachos/ha/ano na fase adulta,
abordagens, o projeto pode contar com o está prevista para ser de aproximadamente
avanço tecnológico nessa área e poderá R$ 2.000,00/mês, conforme Tabela 1.
definir a rota a seguir posteriormente.
A unidade de beneficiamento de ca-
Considera-se que a proposta de uso chos terá gestão autônoma com resul-
do óleo na geração de energia, ou seja, tados operacionais próprios e indepen-
em sistemas estacionários, representa um dentes, devendo gerar sobras financeiras
ponto favorável na adoção de novas tec- que serão repartidas com os cooperados
nologias, como o uso de kits multicom- proporcionalmente ao fornecimento de
bustíveis com pré-aquecimento do óleo, e matéria-prima, como preconiza a legisla-
assim por diante. ção cooperativista. A Tabela 2 discrimina
os resultados operacionais previstos para
2.6.4. Resultados econômicos
o funcionamento da usina, com uma so-
previstos
bra operacional de R$ 696.00 no sétimo
A produção anual do projeto esperada ano, na fase adulta da plantação, o que
na fase adulta da planta, ou seja, a partir representa um adicional à receita líquida

Tabela 1 – Receitas e despesas anuais previstas por agricultor familiar com cinco
hectares de palma de óleo em produção
DISCRIMINAÇÃO 4° ano 5° ano 6° ano 7°ano
Cachos produzidos (toneladas) 60 80 100 120
Gastos com transporte dos cacho s (R$ 25,00/t) 1.500 2.000 2.500 3.000
Gastos com beneficiamento dos cachos (R$ 50,00/t) 3.000 4.000 5.000 6.000
Despesas com adubos (3, 4 e 5 t x R$ 2.200,00/t) 6.600 8.800 11.000 11.000
Produção de óleo (toneladas) 9,6 14,4 18,0 21,6
Receita bruta do cooperado (R$ 2.000,00/t óleo) / R$ 19.200 28.800 36.000 43.200
Receita líquida do cooperado / R$ 8.100 14.000 17.500 23.200

182 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Tabela 2 – Resultado financeiro operacional do funcionamento da miniusina de
beneficiamento da produção de palma de óleo
DISCRIMINAÇÃO 4° ano 5° ano 6° ano 7° ano...
RECEITA 678.000 905.000 1.130.000 1.356.000
Cachos beneficiados (ton.) 6.000 8.000 10.000 12.000
Receita com o beneficiamento dos cachos (R$ 50,00/t) 300.000 400.000 500.000 600.000
Venda de óleo de palmiste (R$ 3.000,00/t) 360.000 480.000 600.000 720.000
Venda de torta de palmiste (R$ 150,00/t) 18.000 25.000 30.000 36.000
DESPESA 660.000 660.000 660.000 660.000
Manutenção e reposição de peças 200.000 200.000 200.000 200.000
01 Gerente Geral / Comercial 120.000 120.000 120.000 120.000
01 Gerente Industrial / Exploração 100.000 100.000 100.000 100.000
12 Operários da Indústria 240.000 240.000 240.000 240.000
Receita Líquida da Usina 18.000 245.000 470.000 696.000

familiar de mais R$ 580,00/família/mês, dos assentamentos do INCRA, uni-


elevando, assim, a previsão de renda líqui- camente por impraticabilidade das
da familiar para mais de R$ 2.500,00/mês, estradas de acesso devido à falta de
para cerca de 110 agricultores familiares. manutenção por quem de direito;
– eventual descontinuidade no fluxo de
recursos para assegurar o andamento
2.7. Ameaças ao Projeto
do projeto, o que poderá, inclusive,
Há diversos aspectos, em sua grande levar ao descrédito por parte dos agri-
maioria de cunho político, identificados cultores familiares participantes.
como ameaças ao sucesso do projeto,
uma vez que, na área técnico-agronômi-
ca, até o momento, a cultura apresenta 2.8. Conclusões
um comportamento acima do esperado.
Os resultados financeiros apresenta-
A motivação dos agricultores participantes
dos e as possibilidades de impactos socio-
do projeto e da população dos municípios
econômicos justificam todos os esforços
envolvidos é muito positiva e esperan-
e o empenho na viabilização do projeto.
çosa, assim como a visão dos dirigentes
O sucesso desse empreendimento pode
políticos locais, apesar do pouco envolvi-
representar um modelo para a viabilização
mento e apoio efetivo ao projeto. Como
dos inúmeros projetos de assentamentos
ameaças reais, pode-se considerar:
do Governo Federal existentes no Ama-
– eventual ruptura de compromissos dos zonas e na Amazônia, hoje considerados
parceiros envolvidos por motivos diver- como problema e não como a solução
sos, desde suas agendas secretas até preconizada para a melhoria da qualida-
interesses imediatos não atendidos; de de vida de milhares de famílias que
acalentaram o sonho da terra própria e da
– problemas relacionados com o aces-
promoção social de suas famílias.
so às áreas dos agricultores familiares

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 183


184 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 12

Combinação de cultivos florestais com


a cultura da palma de óleo no Estado
do Acre
João Batista Martiniano Pereira, Rodrigo da Silva Guedes,
Edson Alves de Araújo, João Paulo Mastrângelo, Eufran Ferreira do Amaral,
Tadário Kamel de Oliveira e Nilson Gomes Bardales

estágio de degradação. Essas terras degra-


1. Introdução dadas e subutilizadas no Acre podem ser
aproveitadas para a cultura de palma de
óleo consorciada com culturas alimenta-
A Amazônia possui aproximadamen- res de ciclo curto na fase jovem da planta,
te 70 milhões de hectares considerados possibilitando uma cobertura florestal ple-
como áreas aptas para o cultivo da palma na em sua fase adulta.
de óleo (dendezeiro – Elaeis guineensis
Jacq.). Dessa extensão potencial, somente A produção de biocombustível a par-
39 mil hectares são utilizados efetivamen- tir de oleaginosas como a palma de óleo
te com a cultura, sendo que quase 85% da pode trazer retorno econômico e repre-
área cultivada está localizada no Estado do senta inserção social na região devido ao
Pará. O Amazonas é o Estado que possui caráter de longo prazo da atividade, uma
a maior área potencial para o plantio de vez que fixa o agricultor e a sua família na
palma de óleo – o equivalente a 50 mi- área de produção, oferece renda ao longo
lhões de hectares. Os demais estados da do ano durante o ciclo da cultura e trata-
Amazônia Ocidental, como Acre, Amapá, se de uma atividade produtiva com reais
Rondônia e Roraima, têm, em conjunto, perspectivas para a agricultura familiar.
nove milhões de hectares, corresponden- Os principais problemas com relação
do a 12,9% do total de área potencialmen- ao plantio de palma de óleo referem-se à
te aproveitável. O Acre possui 2,5 milhões falta de tradição no seu cultivo, à incipien-
de hectares potencialmente favoráveis ao te infraestrutura energética e de comuni-
plantio de palma de óleo. cação na região e à necessidade de pro-
O Acre, com área territorial de aproxi- cessamento do produto em, no máximo,
madamente 164.220 km2, apresenta em 24 horas após a colheita, tornando-se in-
torno de 12% de sua área total desflores- dispensável a instalação da agroindústria
tada (ACRE, 2006). Do total desmatado, próxima ao local do plantio.
aproximadamente 81% são utilizados com O presente capítulo objetiva tratar da
pastagens. E estima-se, também, que me- cultura da palma de óleo como alternativa
tade dessas pastagens esteja em algum para a recuperação do passivo ambiental

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 185


florestal e como alternativa econômica entre 24 e 28oC, com máxima de 33oC e
para o produtor rural acriano. A ênfase será temperatura mínima não inferior a 18oC;
para sua implantação em áreas antropiza- e luminosidade acima de 1.800 horas/ano
das nas regiões de influência das BR-364 e de radiação solar (BASTOS et al., 2001).
BR-317 e em áreas de assentamento, deno-
Para o Estado do Acre, que apresenta
minadas pelo Zoneamento Ecológico-Eco-
índices pluviométricos variando entre 1.800
nômico (ZEE) do Acre (ACRE, 2006) como
mm no Vale do Acre a 2.400 mm nas Re-
Zona 1 ou áreas destinadas à consolidação
gionais do Juruá e Tarauacá/Envira, as pos-
de sistemas produtivos sustentáveis.
síveis limitações para o plantio da palma de
óleo podem surgir em virtude do pronun-
ciado período seco, que ocorre com mais
intensidade no Vale do Acre entre os me-
2. Experiências com o ses de junho a agosto. Nas demais regiões,
as chuvas são bem distribuídas durante os
cultivo de palma de meses do ano (PEREIRA, 2009).
óleo no Estado do Acre A palma de óleo é uma planta toleran-
te à acidez e ao elevado teor de alumínio
A cultura de palma de óleo pode se ca- no solo, condição predominante nos so-
racterizar como uma atividade importante los amazônicos. Por ser uma planta que
dentro da ótica ecológica, tendo em vista exporta grande volume de biomassa por
seu ciclo perene e a alta fixação de carbo- meio dos cachos produzidos, a palma
no. Além disso, é uma cultura de ampla de óleo necessita que o estoque de nu-
adaptação em termos de solo que tam- trientes do solo seja mantido em níveis
bém constitui uma importante alternativa adequados por meio de adubações que
para a recomposição de áreas alteradas. levem em conta o equilíbrio nutricional
Apesar das características edafoclimá- das plantas.
ticas serem propícias para o plantio da As características de solo ideais para o
palma de óleo, poucos são os resultados adequado desenvolvimento da cultura são
de pesquisas disponíveis que tratam do solos profundos e bem estruturados, a fim
estabelecimento dessa cultura no Estado de proporcionar um bom desenvolvimen-
do Acre. Assim, é essencial avaliar a via- to do sistema radicular, além de permeá-
bilidade econômica das alternativas de veis, para que possam garantir uma boa
implantação da cultura tanto em mono- aeração e também uma boa circulação e
cultivo como em sistemas agroflorestais. armazenamento de água.
Outro aspecto relevante é que a cultura de
Ações de pesquisa e validação desen-
palma de óleo necessita de uma estrutura
volvidas pela Embrapa Acre com o objeti-
organizada para produção e distribuição
vo de estimar a adaptabilidade da palma
de forma a atingir com competitividade os
de óleo às condições edafoclimáticas do
mercados potenciais.
Estado, bem como o Zoneamento Agroe-
As condições climáticas ideais para o cológico para a Cultura da Palma de Óleo
alto desempenho da planta, no tocante à nas Áreas Desmatadas da Amazônia Le-
produção de óleo, são: pluviometria acima gal, estão sendo levadas em consideração
de 2.000 mm, sendo ideal a ocorrência de para o estabelecimento de coeficientes
chuvas acima de 2.500 mm, bem distribu- técnicos visando ao financiamento de em-
ídas ao longo do ano; temperatura média preendimentos voltados para a exploração

186 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
da palma de óleo (Figura 1). Isso reduzirá dos plantios variando entre dois e quatro
os riscos para os agricultores e deverá au- anos (Figura 2).
mentar o nível de certeza de sucesso das
Guedes et al. (2007) avaliaram e com-
instituições de fomento e financiamento
pararam o desenvolvimento de plantas de
(PEREIRA, 2009). Atualmente, existem 24
diferentes progênies de palma de óleo
ha de palmares plantados no Acre, distri-
nas condições edafoclimáticas de Cruzeiro
buídos em experimentos de Avaliação de
do Sul (Local 1) e Rio Branco (Local 2), no
Variedades e Unidades de Observação
Estado do Acre. As progênies implantadas
nos municípios de Rio Branco, Senador
foram a C-2501, C-2528, C-2301 e C-1001.
Guiomard, Sena Madureira, Epitaciolân-
Um ano após o plantio, foram realizadas
dia, Brasileia e Cruzeiro do Sul, com idade
aferições de altura e diâmetro do colo utili-
zando régua e paquímetro.
Diferenças significativas en-
tre os locais de plantio 1 e
2 foram observadas, sendo
que o local 1 apresentou
os maiores valores, tanto
para a altura quanto para
o diâmetro das plantas.
Verificou-se que a altura de
plantas da progênie C-2301
diferiu significativamente
das demais. Quanto ao di-
âmetro, as progênies não
diferiram estatisticamente
entre si. As consideráveis di-
Figura 1. Planta de palma de óleo com quatro anos de idade em experi- ferenças encontradas entre
mento de avaliação de progênies implantado na Embrapa Acre, em Rio os locais 1 e 2 são devidas,
Branco/AC (Foto: João Batista Martiniano Pereira) possivelmente, às exigên-
cias naturais e nutricionais
da cultura da palma de
óleo, visto que esta planta
expressa seu máximo de-
senvolvimento em regiões
com alto regime pluviomé-
trico, chegando a mais de
2.000 mm a diferença de
precipitação anual entre os
locais estudados.
Esses resultados preli-
minares servem de emba-
samento para definir quais
genótipos podem ser uti-
lizados em consorciação
Figura 2. Detalhe de Unidade de Observação implantada no Município com outras culturas na re-
de Senador Guiomard/AC no ano de 2008, onde o produtor consorciou
palma de óleo com mandioca (Foto: João Batista Martiniano Pereira)
cuperação de terras degra-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 187


dadas e também qual a melhor região do pela presença de grandes áreas de flores-
Estado, em termos de aptidão edafoclimá- tas preservadas. No entanto, existem áre-
tica é a melhor para o plantio da palma as sob influência direta da rodovia BR-364
de óleo. nas quais uma parte das florestas tem sido
substituída por: uma frente de expansão
e consolidação de atividades agropecuá-
rias (pequenas, médias e grandes proprie-
3. Perspectivas para a dades rurais); agricultura familiar em as-
sentamentos de reforma agrária; e polos
cultura da palma de agroflorestais e áreas de reserva legal com
atividades de manejo florestal.
óleo no Acre – Plano
Essas regionais apresentam baixa den-
de desenvolvimento sidade populacional, em comparação às
demais regionais do Estado, dispondo de
do Governo do regular infraestrutura de transporte, ener-
Estado gia e serviços públicos e privados.
Apesar das obras de asfaltamento da
As regionais de desenvolvimento do BR-364, que tem finalização prevista para o
Juruá e Tarauacá-Envira caracterizam-se ano de 2010 e deve concluir a interligação

Figura 3. Pastagem degradada no trecho da BR 364 entre os municípios de Tarauacá e Cruzeiro do Sul em área
com predomínio de Cambissolos (Foto: Edson Alves de Araújo)

188 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
terrestre com a regional do Baixo Acre, os genas e Unidades de Conservação, que
municípios das regionais Juruá e Taraua- propiciaram a preservação do patrimônio
cá-Envira ainda ficam isolados durante o florestal.
período invernoso (geralmente entre os
Porém, grande parte das propriedades
meses de dezembro a maio) devido ao fe-
dessa regional apresenta problemas de
chamento dos trechos não asfaltados. Isso
passivo ambiental, no qual foi ultrapas-
tem causado uma série de transtornos às
sada a quantidade legalmente permitida
populações locais e impedido o escoa-
de área de conversão, exigindo-se sua
mento da produção da região.
recuperação e recomposição. Além disso,
O uso da terra é tipicamente agroflo- num processo ainda comum em toda a
restal, com áreas antropizadas dispondo Amazônia, algumas dessas áreas encon-
de mosaicos produtivos que vão de pe- tram-se na forma de pastagens degrada-
quenas, médias e grandes propriedades das e capoeiras abandonadas em diversos
agrícolas, voltadas principalmente para a estádios de regeneração (Figuras 3 e 4),
produção de carne e leite, a assentamen- não revertendo ou agregando qualquer
tos de reforma agrária e extrativismo flo- ganho para a produção agropecuária e es-
restal da borracha. Também é marcante, timulando a conversão de novas áreas em
nessa regional, a presença de terras indí- pastos e plantações.

Figura 4. Áreas de pastagem e capoeira potenciais para implantação da cultura de palma de óleo no trecho da
BR 364 entre Tarauacá e Cruzeiro do Sul (Foto: Edson Alves de Araújo)

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 189


O Zoneamento Ecológico-Econômico deve ser revertida, diminuindo a pressão
(ZEE) (ACRE, 2006), por intermédio da Po- sobre novas áreas de florestas e gerando
lítica de Valorização do Ativo Ambiental e emprego e renda.
Florestal (ACRE, 2008), vem desenvolvendo
A diversificação da produção também
um conjunto de atividades para dar uma
deverá propiciar a implantação de novos
correta função social, ambiental e econô-
negócios estratégicos voltados para as ca-
mica, regularizando e reincorporando as
racterísticas intrínsecas da produção agro-
áreas de propriedades que possuem pas-
florestal acriana, alcançando novos nichos
sivo ambiental florestal. Essa política tem
de mercado e promovendo os produtos
servido como instrumento de inclusão e
com a marca de sustentabilidade do Acre.
participação social nas áreas de alta vulne-
rabilidade ambiental. Com o estabelecimento das florestas
plantadas com palma de óleo, a produção
O Governo do Acre busca criar a base
de óleos e outros produtos com fins indus-
de suprimento e promover diversificação,
triais será garantida. Dessa forma, a cadeia
modernização e industrialização da ca-
produtiva agroflorestal estará mais bem
deia produtiva da palma de óleo (Elaeis
organizada, com excelência na gestão da
guineensis) no Estado por meio de sua
qualidade, dispondo de melhores produtos
participação no mercado, gerando empre-
e processos inseridos em novos mercados.
go e distribuição de renda tendo em vista
a inclusão social. Espera-se que a exploração comercial
das florestas plantadas com palma de
O estabelecimento de florestas plan-
óleo atenda à demanda tanto da indústria
tadas com palma de óleo nas regionais
alimentícia quanto de outros derivados,
Juruá e Tarauacá-Envira possibilitará uma
produzindo uma gama diversificada de
alternativa econômica viável para os pro-
produtos de alto valor agregado, envol-
dutores através da produção de óleo e da
vendo produtos certificados com uso de
subsequente implantação de uma agroin-
tecnologia avançada, gerando emprego e
dústria de extração, beneficiamento e en-
renda e diminuindo os impactos ambien-
vasamento de óleo. O cultivo da palma de
tais decorrentes da pressão sobre as flo-
óleo também deverá consolidar a política
restas nativas da região.
de atração de empreendimentos de base
florestal, fortalecendo a cadeia de produ- De acordo com as diretrizes do ZEE-AC,
tos agroflorestais e o parque tecnológico a localização das áreas para refloresta-
do Estado através da implantação do Polo mento com palma de óleo serão aquelas
Oleoquímico, que, por sua vez, potenciali- localizadas no eixo de 25 km às margens
zará a produção extrativista de outros óle- da rodovia BR-364, nas regionais Juruá e
os vegetais das florestas nativas. Tarauacá-Envira, num raio máximo de 50
km da agroindústria a ser instalada, con-
A cultura da palma de óleo deverá rein-
forme se observa na Figura 5.
corporar áreas alteradas/degradadas, cola-
borando na contenção do desmatamen- A região de interesse, onde mais de
to, pois, com a consolidação das áreas já 112 mil hectares de área estão desmata-
convertidas, os produtores não precisarão dos no eixo de 10 km às margens da rodo-
desmatar novas áreas. Além disso, com a via BR-364, é composta por projetos de as-
produção da palma de óleo e das outras sentamentos, Unidades de Conservação
atividades de sua cadeia produtiva, parte e propriedades particulares, sendo estas
dos impactos ambientais e sociais gera- áreas estratégicas para a implantação de
dos pelas antigas políticas de ocupação florestas com palma de óleo.

190 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Figura 5. Mapa das áreas estratégicas para reflorestamento com palma de óleo na BR-364. Fonte: ACRE (2009)

Os projetos de assentamento da re- biente local, pois se propõe a recuperar e


gião dispõem de 56 mil hectares de áreas a reinserir na economia local, com efetivo
desmatadas aptas para reflorestamento plantio, 9% das áreas desmatadas da re-
com palma de óleo, tanto do ponto de vis- gião, sem contar a reserva legal das pro-
ta técnico como logístico. Em relação às priedades incluídas no projeto que obriga-
Unidades de Conservação localizadas na toriamente deverão ser preservadas. Isso
região, destaca-se o Complexo de Flores- contribuirá de forma efetiva para a redu-
tas Estaduais do Rio Gregório, composto ção do desmatamento e do uso do fogo
pelas Florestas Estaduais do Rio Liberdade, na lavoura, prática comum na região.
do Mogno e do Rio Gregório. Este comple-
Sob a ótica dos impactos sociais, a
xo possui uma área de 480 mil hectares,
partir da implantação das agroindústrias
sendo que mais de 11 mil hectares estão
e das áreas de plantio, há uma tendência
desmatados.
de fixação da mão de obra nas áreas ru-
Nas propriedades particulares, existem rais, bem como nas cidades próximas às
cerca de 10 mil hectares de área desmata- agroindústrias. Haverá, também, maior
da, localizados no eixo de 10 km às mar- participação de pequenos proprietários
gens da rodovia BR-364, correspondendo de terras e de assentados no projeto pela
a menos de 10% da área desmatada da formação de atividades ligadas direta ou
região. indiretamente aos plantios.
Tudo leva a crer que a instalação de Outro importante impacto é a gera-
plantios de palma de óleo nessa região ção de mais de 4,5 mil empregos diretos
vai gerar impactos positivos ao meio am- e indiretos, resultando em um crescimen-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 191


to de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) que podem ter a sua produtividade com-
das regionais Juruá e Tarauacá-Envira, sem prometida em razão da competitividade
contabilizar os indicadores dos setores in- delas com a palma de óleo na busca por
dustrial e de serviços. nutrientes do solo.
Também são esperados outros efeitos Existem estudos teóricos sobre siste-
menos tangíveis, mas igualmente impor- mas de produção para a palma de óleo
tantes sob o ponto de vista do desenvolvi- na Amazônia (HOMMA et al., 2000), assim
mento sustentável. Entre eles, pode-se ci- como experimentações agrícolas realiza-
tar a redução da tensão social na região e das no sentido de definir modelos de pro-
da migração para os centros urbanos por dução agrícola consorciada com a palma
falta de alternativa produtiva no campo. de óleo e culturas alimentares, como, por
exemplo, feijão, milho, banana, abacaxi e
mandioca, entre outros (MONTEIRO et al.,
2006; ROCHA, 2007). Os consórcios testa-
4. Alternativas de dos apresentaram resultados bastante sa-
tisfatórios em termos financeiros, concor-
combinação de cultivos rendo para a amortização dos custos de
implantação e de manutenção do palmar
florestais com a cultura até que as plantas iniciassem a fase de
de palma de óleo produção.
Nas regionais focadas pelo Governo
Com o propósito de fazer frente ao do Acre para implantação da cultura da
desafio de consolidar um programa vol- palma de óleo, são tradicionais os cultivos
tado para a cultura da palma de óleo nas de abacaxi, banana e mandioca, predomi-
regionais do Juruá e Tarauacá-Envira, deve- nando esta última, que tem grandes áre-
se imaginar estratégias voltadas para os as cultivadas para a produção de farinha
produtores que atuam com base em agri- (ACRE, 2009).
cultura familiar de modo que eles façam Não deve ser desprezada a produção
frente aos custos iniciais da implantação e de feijão consorciado com a palma de
da manutenção de um palmar com a ob- óleo. Essa cultura é plantada normalmen-
tenção de receitas extras. te em monocultivo, gerando uma renda
Dessa forma, faz-se necessária a defi- considerável ao agricultor local. Em pelo
nição de arranjos que permitam aos pe- menos duas das unidades de observa-
quenos produtores utilizar as entrelinhas, ção de palma de óleo conduzidas pela
pelo menos até o terceiro ano após a Embrapa Acre no município de Brasileia,
instalação da cultura. A partir do quarto agricultores vêm adotando esse consór-
ano, o crescimento vegetativo da palma cio, demonstrando boa adaptabilidade do
de óleo restringe a entrada de luz solar, feijão nas entrelinhas da palma de óleo.
ao mesmo tempo em que há um entre- Além disso, deve também ser destacada
laçamento do sistema radicular das plan- a contribuição do feijoeiro no tocante ao
tas. Assim, a continuidade da exploração fornecimento de nitrogênio via fixação
das entrelinhas com cultivos consorciados biológica para a nutrição da palma de
pode prejudicar tanto o estado nutricio- óleo, o que pode significar redução nos
nal das plantas de palma de óleo, que custos da adubação. No entanto, são ne-
estarão entrando na fase de produção cessários estudos mais precisos sobre este
comercial, quanto as culturas intercaladas, aspecto nutricional.

192 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
A densidade mais utilizada para a cul- de óleo, obtendo-se um stand de 7.334
tura da palma de óleo é de 143 plantas/ plantas, o que equivale a 70% do stand do
ha, arranjadas em triângulo equilátero de abacaxi em monocultivo.
9,00 m de lado, ou seja, um espaçamento
Para a cultura da mandioca, planta-se
de 7,80 m entre as linhas de plantio e 9,00
no espaçamento de 1,00 m x 1,00 m. Para
m entre plantas. Nessa condição, inúme-
evitar a competitividade entre os sistemas
ras são as possibilidades que se tem de
radiculares da mandioca e da palma de
combinar culturas nas entrelinhas da pal-
óleo, aconselha-se implantar até cinco fi-
ma de óleo. Com o objetivo de preservar
leiras, proporcionando um stand de 5.500
a cultura principal, propõe-se que as cul-
plantas, correspondente a 55% do stand
turas consorciadas sejam plantadas com
de um mandiocal solteiro.
um afastamento mínimo de 1,00 m das
plantas de palma de óleo.
Para o consórcio palma de óleo x fei-
jão, utilizando o espaçamento de 0,50 m
x 0,30 m, é possível o plantio de 13 linhas
em cada entrelinha da palma de óleo. Referências
Com essa disposição, tem-se uma densi-
dade 47.667 plantas de feijão, o equivalen-
Bibliográficas
te a 71% do stand para o feijão se fosse
plantado em monocultivo. ACRE. Programa estadual de zoneamento
ecológico-econômico do estado do Acre.
Caso a cultura explorada seja o milho, Zoneamento ecológico-econômico do
em que se adota o espaçamento de 1,00 Acre fase II: documento síntese – escala
m x 0,40 m, em áreas de menor nível tec- 1:250.000. Rio Branco: SEMA, 2006. 356 p.
nológico, podem ser plantadas sete linhas
de milho, proporcionando um stand de ACRE. Política de valorização do ativo
19.250 plantas, equivalendo a 77% da po- ambiental florestal: Plano de valorização
pulação de milho solteiro/ha. do ativo ambiental florestal: programa de
A banana deve ser plantada no espaça- valorização do ativo ambiental florestal:
mento recomendado de 3,00 m x 2,00 m. fortalecendo as relações da floresta, na flo-
Como essa cultura necessita de mais espa- resta e com a floresta. Rio Branco: SEMA,
ço para o adequado desenvolvimento do 2008. 34 p.
seu rizoma, seria recomendável o plantio
de até duas linhas de banana nas entreli- ACRE. Zoneamento da Produção Familiar.
nhas da palma de óleo, com um stand de Rio Branco: SEMA, 2009. 32 p.
1.110 covas de banana, correspondendo a
BASTOS, T. X.; MÜLLER, A. A.; PACHECO, N.
67% de plantas caso a banana fosse plan-
A.; SAMPAIO, S. M. N.; ASSAD, E. D.; MAR-
tada em sistema solteiro, e equivalente ao
QUES, A. F. S. Zoneamento de riscos climá-
mesmo stand de um hectare de banana
ticos para a cultura da palma de óleo no
plantado no espaçamento 3,00 m x 3,00 m.
estado do Pará. Revista Brasileira de Agro-
O abacaxi é plantado em sistema de meteorologia, Passo Fundo, v.9, n.3, p. 564-
fileiras duplas, com espaçamento de 0,60 570, 2001.
m x 0,60 m x 1,00 m. Nessa situação, seria
recomendável plantar quatro fileiras du-
plas de abacaxi consorciado com palma

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 193


GUEDES, R. S.; BERGO, C. L.; PEREIRA, J. E. S. MONTEIRO, K. F. G.; SILVA, A. R. F. da; SOU-
Introdução e avaliação do crescimento ini- ZA, C. T.; CONCEIÇÃO, E. R.; PALHETA, R. P. O
cial de progênies de dendezeiro (Elaeis gui- cultivo do dendê como alternativa de produ-
neensis jacq.) nas condições da Amazônia ção para a agricultura familiar e sua inserção
Sul Ocidental. In: CONGRESSO INTERNACIO- na cadeia do biodiesel no estado do Pará.
NAL DE AGROENERGIA E BIOCOMBUSTÍVEIS, In: CONGRESSO BIODIESEL, 2006, Brasília.
2007, Teresina. [Anais...] Teresina, PI: Embra- Anais... [Brasília: UCB], 2006].
pa Meio-Norte, 2007.
PEREIRA, J. B. M., A cultura do dendezeiro
HOMMA, A. K. O.; FURLAN JÚNIOR, J.; CAR- como alternativa para recomposição do pas-
VALHO, R. A. et al. Bases para uma política sivo ambiental e produção sustentável no
de desenvolvimento da cultura do dende- Acre. Acre Rural, v. 2, n 3, 2009. p76-78.
zeiro na Amazônia. In: VIEGAS, I. de J. M.;
MÜLLER, A. A. A cultura do dendezeiro na ROCHA, R. N. C. Culturas intercalares para
Amazônia Brasileira. Belém: Embrapa Ama- sustentabilidade de produção de dendê
zônia Oriental ; Manaus: Embrapa Amazônia na agricultura familiar. Viçosa: UFV, 2007.
Ocidental, 2000. p.11-30.

194 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 13

Experiências na produção para a


cultura de palma de óleo na Amazônia:
relato de experiências da Marborges
Agroindústria S.A. (Moju – Pará)
Antonio José de Abreu Pina

de Cachos de Fruto Fresco (CFF) entre 20


1. Introdução a 22 toneladas, mais o óleo de palmiste
(amêndoa), que representa em torno de
2% sobre o CFF. Em nível experimental, já
A palma de óleo (dendezeiro) é uma se conseguiu produtividade acima de 40
palmeira originária da Costa Ocidental toneladas de CFF e 9 toneladas de óleo
da África, e acredita-se que foi introduzi- por hectare, sugerindo que nos próximos
da no Brasil por volta do século XVI pelos anos os plantios comerciais melhorarão
escravos trazidos pelos portugueses para substancialmente a produção por área
trabalhar na lavoura de cana-de-açúcar, plantada.
adaptando-se muito bem às condições
climáticas do Estado do Pará, que é res- Essa palmeira pertence à classe das
ponsável por mais de 86% da produção monocotiledôneas, na ordem palmales,
brasileira de óleo de palma. família arecaceae e gênero elaeis, termo
derivado da palavra grega elaion, que
Para um bom desenvolvimento da cul- quer dizer óleo. Ela possui duas espécies
tura, a precipitação pluviométrica anual distintas: a E.guineensis, Jacq, conhecida
deve ser bem distribuída e ficar acima de como Dendê, a partir da qual são produzi-
2.000 mm, com temperatura média osci- dos os plantios comerciais; e a E.oleifera,
lando entre 24 e 28ºC, umidade relativa Cortés, o Dendê Americano ou Caiaué,
do ar variando entre 75 e 90%, e insolação de baixa produtividade de óleo, mas que
anual mínima de 2.000 horas. Os solos vem ganhando importância econômica
devem ser profundos e bem drenados, com seu uso no melhoramento genético
devendo-se evitar faixas de concressioná- de cruzamentos interespecíficos com a
rio laterítico. palmeira africana, visto que o híbrido re-
É considerada a oleaginosa que apre- sultante apresenta resistência fitossanitária
senta a maior produtividade: aproximada- ao Amarelecimento Fatal (AF), doença de
mente 4 a 5 toneladas de óleo de palma agente etiológico desconhecido, além de
(mesocarpo do fruto) por hectare, com outras particularidades referentes a mane-
base em uma taxa média de extração osci- jo da plantação, qualidade do óleo, etc.
lando entre 20 a 22% sobre uma produção

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 195


Da mesma forma, o óleo de palmiste,
2. O mercado de óleo tendo em vista sua alta qualidade e os ele-
vados teores de ácido láurico e mirístico,
de palma encontram aplicações semelhantes às dos
óleos de coco e de babaçu na fabricação
O Brasil é importador dos óleos de de sabonetes, detergentes, pomadas e
palma e palmiste. Em 2008, o País consu- maioneses, entre outros produtos, poden-
miu 360 mil toneladas de óleo de palma e do também ser utilizado na produção de
130 mil toneladas de óleo palmiste; nes- chocolate, como substituto da manteiga
se mesmo ano, foram importadas 153 mil do cacau.
toneladas de óleo de palma e 104 mil de
óleo de palmiste.
A demanda mundial de óleo de palma
tende a aumentar devido a suas múltiplas
3. O Grupo Marborges
aplicações na agroindústria alimentícia,
notadamente na fabricação de margari- O Grupo Marborges é constituído pe-
nas, biscoitos, pães e sorvetes. Contudo, a las empresas Marborges Agroindústria
versatilidade no seu aproveitamento abre S.A. e Reflorestadora Moju Acará Limitada.
mais perspectivas de consumo. Atualmen- Sua sede está situada na Vila Bacuriteua,
te, o óleo de palma (ou dendê) é utilizado município de Moju, no estado do Pará, e
na fabricação de sabões, detergentes, ve- fica no km 56 da Rodovia Virgílio Serrão
las, produtos farmacêuticos, cosméticos, Sacramento (PA 252), que liga a cidade
corantes naturais; também é usado na de Moju à cidade de Acará. Está localiza-
indústria siderúrgica, onde é empregado da a aproximadamente 100 km em linha
na fabricação de laminados de aço e ferro reta ao sul de Belém, capital do estado
branco. do Pará, na latitude 1º59’29”S e longitude
48º36’34”W.
O biodiesel é o mais novo produto
que irá revolucionar a economia brasileira. A empresa iniciou suas atividades em
Esse combustível alternativo, ecologica- julho de 1991, ao adquirir de outro empre-
mente correto e renovável, com vantagens endedor um palmar abandonado, no qual
ambientais e funcionais já comprovadas, investiu até sua recuperação. Instalou
também propicia benefícios socioeconô- sua indústria, inaugurada em 1993, com
micos resultantes das diversas atividades capacidade para processamento de seus
que giram em torno de sua produção. E o frutos e da produção dos pequenos agri-
Brasil tem tudo para se tornar um grande cultores da região. Atualmente, emprega
produtor de biodiesel: o clima, os diversos diretamente cerca de 850 funcionários e,
solos produtivos e a mão de obra abun- em 2008, sua produção superou a marca
dante. Assim, é possível obter aumento de 15.000 toneladas de óleo de palma e
imediato nas exportações agrícolas e re- 1.450 toneladas de óleo de palmiste; no
duzir a compra de óleo diesel no mercado mesmo ano, a produtividade média por
externo, o que vai impulsionar o agrone- hectare dos plantios adultos foi de 22,10 t
gócio brasileiro e o crescimento das áre- de cachos frescos, 4,60 t de óleo de palma
as menos favorecidas do País com mais e 460 kg de óleo de palmiste.
oportunidades de emprego e renda para O Grupo possui 4.701 ha de área plan-
os agricultores. tada, sendo 3.416 ha em produção e 1.285
ha em formação. Para o ano de 2010, está

196 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
previsto o plantio de 1.200 ha em áreas sua atividade, oferece: assistência técnica
degradadas e de pastagens, além do re- e orientação para a prática da agricultura
plantio de 380 ha que irão substituir as pal- familiar sustentável; eventos de educação
meiras com mais de 26 anos, cuja altura ambiental e recuperação da mata ciliar;
dificulta a colheita e, com a idade, apre- cursos de técnicas e práticas rurais, so-
sentam baixa produtividade. ciais, medicina e segurança no trabalho,
contribuindo para a qualificação profissio-
Visando melhor gerenciar o resultado
nal de jovens interessados nas atividades
de suas atividades, a empresa segregou
da empresa; cursos de práticas domésticas
sua plantação em módulos de aproxima-
salutares, como higiene, manuseio de ali-
damente 1.000 hectares, possuindo cada
mentos e técnicas de primeiros socorros.
setor equipamentos e gerenciamento pró-
A liberdade dos participantes é sempre
prios.
respeitada para escolherem se desejam
Consciente da importância da diversi- ou não se empregar na empresa.
ficação da flora para o meio ambiente, a
A Marborges também investe na infra-
Marborges recuperou a mata de áreas de-
estrutura local, reparando estradas (com
gradadas, reflorestando-as com espécies
destaque para 26 km da PA-252), pontes,
nativas e exóticas; algumas áreas cultiva-
ramais e áreas de lazer, mantendo-as em
das com palma de óleo foram intercala-
condições de uso para atender à econo-
das com outras espécies. Assim, além de
mia local e às comunidades vizinhas.
4.701 hectares cultivados com palma de
óleo, a Marborges reflorestou 432 ha com No campo de pesquisas para melhora-
espécies variadas – 120 ha de citrus, 120 mento da cultura de palma de óleo, a Mar-
ha de açaí e fruteiras –, e mantém pecu- borges investirá cerca de R$ 6.000.000,00
ária em menor escala. Com o cultivo de até 2013, em parceria com a EMBRAPA-
fruteiras, a Marborges implantará uma uni- CPAA e o Centre de Coopération Interna-
dade de processamento de polpas, com tionale em Recherche Agronomique pour
capacidade para atender inclusive à oferta Le Développement (CIRAD), da França,
de frutos que as comunidades vizinhas te- visando à seleção da variedade de palma
nham interesse em produzir, ampliando, de óleo mais produtiva e resistente a do-
assim, as oportunidades de renda para a enças, aspectos nutricionais e de manejo
vizinhança. da cultura.
Empenhada no acesso à multiplicação
e à interiorização de trabalho e renda com
atividade econômica sustentável, respei-
tando o meio ambiente e dando melhor 4. Práticas agrícolas
aproveitamento às áreas alteradas, a Mar-
borges pretende investir no município de
utilizadas na
Garrafão do Norte, no estado do Pará, produção de palma
com a implantação de uma nova unidade
agroindustrial do mesmo porte da unida- de óleo
de atual, propiciando a geração de 600
empregos naquele município. As práticas agrícolas aplicadas para a
Também empenhada na melhoria da cultura da palma de óleo diferem em plan-
qualidade de vida das comunidades que tações, regiões, países, etc. Um resumo
a circundam, a Marborges, ao longo de da experiência da Marborges Agroindús-
tria S.A. é descrito a seguir.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 197


Preparação de mudas quantidade de mudas anormais.
O local para implantação de pré-viveiro A limpeza desse local para o plantio é
e viveiro deve ser cuidadosamente esco- realizada com trator de esteira ou pá car-
lhido: apresentar ligeira declividade, para regadeira, sendo retirados restos de paus,
evitar pontos de alagamentos; ter disponi- tocos e demais entulhos. Pode-se fazer
bilidade de água, para atender às neces- a gradagem ou simplesmente revolver a
sidades hídricas da cultura; e ser próximo camada mais superficial do solo com au-
ao plantio definitivo, para que a distância xílio de máquinas pesadas para facilitar o
a ser transportada não aumente o risco de manuseio do substrato, que é, então, pe-
danos às mudas. neirado manualmente em telas de malha
de 2 cm.
Os canteiros devem ser identificados
Pré-viveiro com plaquinhas contendo informação so-
Antes da chegada das sementes, toda bre data, cruzamento e número de mudas
a infraestrutura do pré-viveiro deve ser pre- (Figuras 1 e 2).
parada com abertura de drenos e constru- O tempo de permanência no pré-vivei-
ção dos canteiros que, em geral, medem ro gira em torno de três, podendo chegar
30,0 m de comprimento x 1,20 m de largu- a quatro meses e, nesse período, algumas
ra e distam 0,80 m entre eles. Para
facilitar os tratos culturais, também
é feita uma estrutura de ripas ou va-
ras com mais ou menos 2,0 m de
altura que servirá de suporte para
cobertura dos canteiros, podendo
ser utilizadas folhas de palmeiras ou
sombrite 50%. Nos últimos anos, a
Marborges vem utilizando o sombri-
te, que, em relação ao sistema tra-
dicional, apresenta como vantagens
uniformidade da luminosidade para
todas as mudas, menor dano cau- Figura 1. Instalação de pré-viveiro para produção de mudas
de palma de óleo (Foto do Autor)
sado pela chuva e menor grau de
sujeira.
As sementes chegam pré-germi-
nadas e devem estar com a radícula
e o caulículo bem definidos (10 a 15
mm); elas são enterradas até aproxi-
madamente 1 cm bem no meio dos
saquinhos de polietileno de 16 x 20
x 0,01 cm, que são arrumados nos
canteiros e abastecidos com terriço,
que normalmente vem da própria
área onde o plantio será instalado
e deve preferencialmente ser de
textura média, pois solos muito argi- Figura 2. Pré-viveiro para produção de mudas de palma de
losos (pesados) podem aumentar a óleo (Foto do Autor)

198 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
atividades são fundamentais para que se continuam nos canteiros durante 15 dias
consiga concluir a etapa com as mudas para adaptação a pleno sol antes de se-
apresentando um excelente desenvolvi- rem transferidas para o viveiro.
mento, conforme a Tabela 1.
Uma muda considerada normal tem de
5 a 7 cm de coleto, entre 3 e 5 folhas lance-
Tabela 1. Atividades desenvolvidas oladas e uma altura entre 23 e 28 cm.
no pré-viveiro
Atividade Periodicidade Observações Viveiro
Irrigação Diária Manual –
regador ou São realizados serviços topográficos
mangueira que consistem no levantamento planial-
Motobomba – timétrico da área, locação dos canteiros,
miniaspersores ruas de acesso, drenagem lateral e marca-
Monda Semanal Manter as ção do local em que ficarão os sacos.
mudas livres de
Os sacos do viveiro medem 40 x 40 x
concorrência
com ervas 0,35 cm e são dispostos em quincôncio
indesejáveis (triângulo equilátero), ficando separados
Adubação Semanal 1ª adubação à distância de 1,00 m entre eles no viveiro
Foliar após a 4ª de 1 ano (Figura 3)
semana; a
partir daí,
semanalmente
Pulverizações Quinzenal Inseticida +
Preventivas fungicida,
alternando
os produtos
(contato e
sistêmico)
Aplicação de Dependendo
Formicida da necessidade

Nessa fase, uma rega entre 2 e 3 mm


é suficiente para atender às necessidades
hídricas das mudas.
Aos 60 dias, são separados em um Figura 3. Transplantio de mudas de palma de óleo do
pré-viveiro para o viveiro (Foto do Autor)
canteiro especial os embriões das mudas
“gêmeas”, que apresentam dois ou três
embriões, os quais serão mantidos em Antes do transplantio, a área (solo)
observação, recebendo o mesmo trata- entre os sacos é tratada com uma aplica-
mento das demais; serão aproveitadas no ção de herbicida à base de glifosato a 1%
viveiro aquelas que, na ocasião da sele- para facilitar os tratos culturais e evitar a
ção, apresentarem características de uma concorrência de erva invasora. Os sacos
muda normal. devem ser irrigados para facilitar a aber-
tura das covas com dragas boca de lobo,
A cobertura de sombrite é retirada ao onde são transplantadas as mudas do pré-
término de 2,5 a 3,5 meses, mas as mudas

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 199


viveiro; o transplantio deve ser precedido para comprovar se realmente existe
de adubação com fertilizante à base de uma uniformidade na área que está
rocha fosfatada na proporção de 30 g por sendo irrigada, pois, do contrário, ha-
muda, tomando-se cuidado para não que- verá mudas malformadas, raquíticas,
brar o “torrão” que envolve as raízes, além desuniformes e, em alguns casos, a
de não deixar que se formem bolsões de falta de água por um período prolon-
ar. As mudas devem ficar ligeiramente gado pode levar à morte da planta.
enterradas, 1 cm em relação ao coleto,
– CAPINA QUÍMICA – dependendo do
pois, com o assentamento do substrato e
grau de infestação de ervas no solo,
a irrigação, existe uma tendência de tom-
é feita a aplicação com herbicida
bamento se essa medida não for adotada
glifosato a 1%, sendo utilizado, tam-
(Figura 4).
bém, o herbicida oxyfluorfen,
pré-emergente a 0,50%.
– MONDA – consiste na reti-
rada das ervas indesejáveis da
boca dos sacos. Nos primeiros
meses após o transplantio, é
feita semanalmente. Contudo,
conforme o crescimento das
mudas, o intervalo passa ser
quinzenal; nos últimos meses
do viveiro, essa prática não é
realizada.
Figura 4. Viveiro para produção de mudas definitivas de palma de – ADUBAÇÃO – decorridos 15
óleo (Foto do Autor) dias do transplantio, é iniciada a
adubação utilizando a formula-
Dependendo do tamanho do viveiro, ção NPK + Mg 18-18-18 + 2,5, com a se-
as mudas do pré-viveiro são transporta- guinte rotina de aplicações: 10 g – do
das em carretas atreladas a tratores que 1º ao 3º mês; 15 g – do 4º ao 6º mês;
fazem o desembarque próximo ao cantei- 20 g – do 7º ao 9º mês; e 25 g – do
ro, onde são embarcadas em carrinhos de 10º ao 12º. Faz-se, também, um com-
mão para distribuição ao lado dos sacos. plemento com boro e kieserita. É ne-
cessário ter cuidado para que a muda
Nessa fase, as mudas ficam por 12 me-
não entre em contato direto nem com
ses, e alguns tratos descritos a seguir são
o fertilizante ou o seu recipiente, nem
indispensáveis para o sucesso do viveiro:
com as mãos do trabalhador, pois o
– IRRIGAÇÃO – existem vários sistemas descuido poderá ocasionar “queima”
para atender a essa necessidade, das folhas, prejudicando o desenvolvi-
como pivô central, aspersão subco- mento das plantas.
pa, miniaspersão, etc. Em geral, o
- PULVERIZAÇÕES PROFILÁTICAS – são
equipamento deve ser dimensiona-
utilizados os mesmos produtos do
do para suprir o correspondente a
pré-viveiro; todavia, as aplicações são
uma lâmina de água de 8 mm/dia.
feitas quinzenalmente.
Contudo, rotineiramente são feitas
aferições com pluviômetros a partir Decorridos os 12 meses, procede-se a
de diversas distâncias dos aspersores uma criteriosa seleção das mudas, sendo

200 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
descartadas aquelas raquíticas, com folío- canização Total da Área e o segundo, de
los não diferenciados, com folíolos inseri- Mecanização Parcial com Empilhamento e
dos em ângulo agudo, etc. Rua (Figuras 5 e 6).
Preparo da área
Implantação de áreas novas
É realizado um levantamento topográ-
fico no qual são apontadas áreas aptas
para o futuro plantio, córregos, igarapés,
proteção de mata ciliar, etc. A partir dessas
informações, é gerado um mapa, que de-
fine o tamanho de cada talhão (parcela)
e as estradas. Esses dados são fundamen-
tais para que todo o trabalho mecanizado
seja realizado de forma ordenada.
Por força das exigências ambientais, Figura 5. Preparação de Área nova para implantação
da cultura da palma de óleo (Foto do Autor)
atualmente estão sendo utilizadas somen-
te áreas degradadas, pastagens e capoei-
rinhas.
Em geral, as linhas de plantio estão
direcionadas no sentido norte/sul. Assim
sendo, a primeira área a ser limpa são as
estradas, para que a equipe de topografia
possa fazer a marcação dos eixos tanto
no sentido norte/sul quanto no leste/oes-
te, partindo desse ponto todas as demais
quadras.
As máquinas pesadas fazem a derru-
bada da vegetação existente, arrastando
também restos de troncos de árvores
ainda remanescentes na área. Esses resí- Figura 6. Preparação de Área com braquiária (pasta-
gem) para implantação da cultura da palma de óleo
duos podem ser “enleirados”, sem obe- (Foto do Autor)
decer a uma distância pré-determinada,
para posteriormente serem queimados
ou retirados das quadras, repetindo-se a Utilizam-se piquetes de 80 cm de altu-
mesma operação caso haja necessidade; ra para servir de marcação do local exato
assim, a área fica completamente livre dos onde serão plantadas as mudas. O plantio
resíduos de maior volume. Outra opção é demarcado na forma de triângulo equi-
é direcionar os restos de vegetação para látero (quinconcial) e, de acordo com o
o empilhamento (intervalo entre duas li- material genético, são definidos os espa-
nhas de plantio), ficando limpa somente çamentos de 9,0 x 9,0 m (143 plantas/ha),
a metade da parcela que é chamada de 8,70 x 8,70 m (153 plantas/ha), 8,25 x 8,25
“rua”, por onde são feitos o carreamento m (170 plantas/ha), etc. (Figura 7)
dos cachos, a adubação mecanizada, etc.
O primeiro sistema é chamado de Me-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 201


Antes do replantio, é
feita a capina química com
herbicida glifosato a 1% em
toda a extensão das linhas
de plantio.
As palmeiras derruba-
das são deixadas no em-
pilhamento e as mudas de
replantio são colocadas na
mesma linha, mas no in-
Figura 7. Área com plantio jovem da palma de óleo com cobertura de tervalo entre duas plantas
braquiária (Foto do Autor)
derrubadas.
Normalmente, no segundo ano após
o plantio, é feito o trabalho de terraple-
Cobertura do solo
nagem e empiçarramento (colocação Tradicionalmente, é recomendado o
de cascalho) das estradas que servirão uso da leguminosa Pueraria phaseoloides
de escoamento da produção. No geral, como cobertura, alegando-se as seguin-
colocam-se em torno de 1.500 m³ / km na tes vantagens: proteção do solo, controle
vias com tráfego intenso e 750 m³ / km de ervas daninhas e fixação ao solo de
nas demais. nitrogênio atmosférico. Todavia, as se-
mentes têm custo elevado e não existe
Replantio muita disponibilidade no mercado. Ou-
A Marborges já iniciou a substituição tro fator importante é sua agressividade,
de seus plantios mais velhos em razão de pois qualquer descuido na manutenção,
baixa produtividade, plantas muito altas especialmente em plantios muito jovens,
(>15 m) dificultando a colheita, e proble- pode comprometer seriamente as palmei-
mas fitossanitários (Amarelecimento Fatal ras. No período das chuvas, a situação se
– AF). O replantio é feito com mudas de agrava ainda mais, pois o seu crescimento
Híbridos Interespecíficos (HIE) – cruza- é muito rápido, havendo necessidade de
mento de E.oleifera x E.guineensis, por redobrar o número de coroamentos, ele-
serem resistentes ao AF. As palmeiras são vando significativamente os custos.
derrubadas com um implemento agrícola
A Marborges tem diversos plantios de
que possui uma lâmina pontiaguda adap-
palma de óleo em áreas de gramíneas,
tada a uma pá carregadeira que, através
principalmente com quicuio, Brachiaria
de golpes, perfura o estipe, facilitando a
humidicula, que, quando bem manejado,
queda com um leve empurrão. O rendi-
tem demonstrado produtividades superio-
mento médio oscila em torno de 50 plan-
res aos consorciados com Pueraria.
tas / hora trabalhada.
As regiões onde é cultivada a palma
Como os HIE têm uma baixíssima taxa
de óleo se caracterizam por fortes regi-
de pólen fértil, cerca de 7,5% das plantas
mes pluviométricos e insolação acima de
remanescentes sadias e com bom desen-
2.000 horas. Esses dois fatores conjugados
volvimento vegetativo são mantidas, de
fazem com que o quicuio, por ter uma
modo a auxiliarem na polinização dos
relação C/N muito superior à da Pueraria,
cachos; todavia, elas devem estar bem
permaneça por mais tempo na cobertura
distribuídas para evitar excesso de som-
do solo.
breamento.

202 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Figura 8. Preparao de área com cobertura de gramineas para plantio de palma de óleo(Foto do Autor)

Os solos com gramíneas têm mais cadas nas bordaduras das parcelas, sendo
matéria orgânica, comparativamente aos transportadas manualmente por trabalha-
com leguminosas. As operações de roça- dores (no ombro) até ao local definitivo.
gem mecanizada e coroamento químico
Normalmente, é feita uma adubação
com herbicida proporcionam a formação
de fundação na base de 300 g de rocha
de cobertura morta (mulch), melhorando
fosfatada. Outra equipe vem em seguida
a retenção de água; o capim triturado é
e abre as covas com auxílio de um “en-
lentamente mineralizado e disponibiliza-
xadeco”, separando a terra dos primeiros
do para as plantas, havendo, assim, uma
15 cm para ser misturada ao fertilizante
melhor eficiência na aplicação dos fertili-
e colocada no fundo, fazendo-se, então,
zantes nesse tipo de cobertura (Figura 8).
o plantio propriamente dito. Os mesmos
Há necessidade de se investigar mais procedimentos e cuidados adotados no
profundamente esse tema para compro- viveiro valem também para esta etapa.
var os resultados obtidos na Marborges.

Tratos culturais
Plantio • REBAIXO – corte da vegetação inde-
No viveiro, as mudas são embarcadas sejável com ferramentas tipo terça-
em carretas atreladas a tratores e desembar- do (facão), foice, etc. Em geral, nos
cadas no “Pé do Piquete”. Em plantios muito plantios jovens, são feitos de três a
distantes do viveiro, esse transporte é feito quatro rebaixos por ano e nos adul-
em caminhões e as mudas são desembar- tos, de um a dois.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 203


• COROAMENTO – retirada das ervas in- e femininas na mesma planta. Um
vasoras próximas às plantas; pode ser grande número de insetos participa
feito manualmente, com terçado, ou da polinização; porém, os mais efi-
quimicamente, utilizando herbicidas. cazes são originários da África e per-
O raio varia de acordo com a idade e tencem ao gênero Elaidobius, e entre
o manejo de cada plantação. Normal- eles se destaca o E.kamerunicus.
mente, o número de coroamentos é
Nos HIE, o pólen tem baixo nível de
igual ao número de rebaixos.
fertilidade e, se não for circundado por pal-
• PODA – as folhas da palma de óleo meiras E.guineensis, provavelmente terá
são produzidas em espirais de oito uma quantidade exagerada de abortos e
folhas cada uma, oscilando entre 25 cachos malformados; assim, há necessida-
a 38 folhas por ano, chegando até 40 de de realizar a polinização assistida, que
na idade jovem e diminuindo para consiste em polinizar manualmente todas
até 18 na idade adulta. Esta operação as inflorescências femininas em antese
é muito importante, pois uma plan- planta a planta no intervalo de dois em
ta que for demasiadamente podada dois dias. Apesar de a operação ser onero-
apresentará, 4 meses depois, redução sa, essa prática tem retorno econômico, já
no peso dos cachos; 8 meses depois, que existe um incremento substancial na
aumento dos abortos; e, entre 2 e 2,5 produção de cachos.
anos depois, efeitos na sexualização,
com diminuição das inflorescências
femininas (cachos) e aumento das Visita fitossanitária
masculinas. Os principais objetivos da
Concluído o plantio, uma equipe de
poda são: facilitar a visualização dos
trabalhadores treinados faz rondas men-
cachos, evitar a perda de frutos nas
sais, quinzenais ou semanais, dependen-
axilas das folhas, favorecer a poliniza-
do da situação, informando irregularidades
ção e diminuir os riscos de acidentes.
como ataques de roedores e falhas, além
Na Marborges, a primeira poda é de plantas tombadas, mortas, mal planta-
realizada um ano após o início da das, raquíticas, atacadas por pragas e do-
colheita e os cachos das plantas, de- enças, com deficiência nutricional, etc.
pois de podadas, são “roubados”, ou
Para facilitar a localização dos proble-
seja, são retirados sem que a folha
mas detectados, é informado pelos fiscais
seja cortada. Essa prática visa garantir
fitossanitários, através de nomenclaturas,
uma continuidade na produção, evi-
o nome da parcela, o número da linha e o
tando estresse devido ao corte exces-
da planta. Outra equipe é designada para
sivo de folhas. A partir da primeira
resolver cada situação especificamente.
poda esta operação é realizada uma
vez por ano, normalmente quando a O principal problema fitossanitário exis-
coroa de cachos está bem definida, tente na Marborges diz respeito ao Ama-
deixando-se duas folhas abaixo dos relecimento Fatal – problema de origem
cachos verdes e uma dos cachos ma- desconhecida que já dizimou diversas
duros. Este critério permite que não plantações na América do Sul, existindo
sejam retiradas as folhas funcionais. ainda controvérsias se é biótico ou abióti-
co. Até o momento, o material HIE apre-
• POLINIZAÇÃO ASSISTIDA – a palma de
senta resistência e se constitui na única al-
óleo é uma planta monoica, ou seja,
ternativa para replantio de áreas afetadas.
possui inflorescências masculinas

204 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Colheita trator pode ser substituído por cinco ani-
mais, com um impacto bastante positivo
Essa fase se inicia aos 2,5 anos após não só em termos de investimento, mas
o plantio e, nas primeiras colheitas, de- também nos prejuízos ocasionados pelo
pendendo da quantidade de cachos, os não carreamento dos cachos em caso de
ciclos podem variar de 12 a 15 dias ou pane no equipamento.
mesmo pode haver apenas um ciclo por
mês. Com a regularização do número de
cachos, os ciclos passarão a ser de 8 a 12 Coleta de frutos soltos
dias, chegando, no máximo, a 15 dias.
Quando os cachos são colhidos, des-
O critério para que o cacho seja colhi- prende-se uma grande quantidade de
do é que haja o desprendimento de um frutos que possuem alto teor de óleo;
a três frutos. O trabalhador que realizará porém, se não forem coletados rapida-
esse serviço deve ser bem treinado para mente, haverá aumento da acidez (ácidos
evitar que sejam colhidos cachos verdes, graxos livres), prejudicando a qualidade
sobre maduros e passados. Em plantios do produto. Esse serviço é realizado com
jovens, a ferramenta utilizada é o sacho a coleta manual dos frutos (catação), que
(parecido com um ferro de cova); quando são embalados e transportados em sacos
a planta atinge mais de 4 metros, usa-se de 45 a 50 kg de dentro das parcelas para
a foice malasiana, com extensão de alu- sua bordadura, embarcados em caçamba
mínio, que varia conforme a altura da pal- basculante atrelada ao trator e descarrega-
meira (Figura 9). dos em contêineres.

Transporte da produção
É realizado por caminhões,
que fazem o recolhimento dos
contêineres e transportam a
produção até a fábrica, onde
é executada a pesagem e são
informados o número do contê-
iner e o nome da parcela. Atra-
vés desses dados, é possível ter
um controle da produção de to-
dos os plantios por quadra.
Figura 9. Cachos de frutos de palma de óleo colhidos manual-
mente aguardando por carreamento (Foto do Autor)
Adubação
O sistema de adubação utilizado pela
Carreamento Marborges é de reposição nutricional, to-
Na Marborges, o carreamento, que é a mando como base o que é extraído pela
retirada dos cachos colhidos de dentro das planta dos principais nutrientes para pro-
parcelas até os contêineres, é feito com duzir uma tonelada de cacho e levando
animais, muares ou bubalinos, atrelados a também em consideração resultados de
carroças. Esse sistema vem apresentando análises foliares.
rendimentos de 5,8 t / animal / dia. Um

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 205


Os valores são calculados de acordo A casca é usada normalmente como
com a idade das palmeiras e a expectativa cobertura morta nos viveiros ou, quando
de produção para cada plantio. Como o misturada à torta de palmiste, é aplicada
fertilizante aplicado não é 100% aprovei- no campo com adubadeiras.
tado pelas plantas, é atribuído um índice
O efluente é transportado de cami-
de eficiência para cada nutriente de tal
nhão da indústria para o campo e apli-
maneira que todos os elementos fiquem
cado no interior das ruas das parcelas
equilibrados e balanceados.
com tanque a vácuo acionado por trator
Nos dois primeiros anos de plantio, a (Figura 11).
adubação é feita manualmente; a partir do
terceiro ano, é mecanizada, com o uso de
adubadeiras atreladas a tratores. Contudo, Controle de qualidade
quando houver necessidade de se colocar
O principal objetivo é estabelecer crité-
baixas dosagens de fertilizantes, especial-
rios para que as atividades agrícolas sigam
mente micronutrientes, como a adubadei-
normas pré-estabelecidas. Esse trabalho
ra não pode ser regulada para esse fim, a
é feito por uma equipe treinada e inde-
aplicação é feita de forma manual.
pendente que, através de amostragens
de campo, aponta as falhas existentes e
o grau em que estão ocorrendo para que
Distribuição de resíduos sejam corrigidas imediatamente.
industriais
A seguir, apresenta-se um resumo
Os resíduos produzidos pela indústria
por atividade e os respectivos índices
são: cachos vazios ou buchas, fibras, casca
aceitáveis:
de nozes, torta de palmiste e efluente. To-
dos retornam para o campo e fazem parte
do programa de adubação da plantação.
Colheita e Carreamento
São realizadas análises químicas des-
• Cacho Maduro – um fruto solto a 50%
ses produtos e, a partir desses dados, são
de debulha. Mínimo de 90%
utilizados os mesmos critérios de reposi-
ção nutricional por exportação. Depen- • Cacho Sobre Maduro – 51 a 75% de
dendo da quantidade de cada resíduo debulha. Máximo de 4%
que for aplicada, há necessidade de se • Cacho Passado – debulha acima de
fazer uma complementação com outros 75%. Máximo de 1%
fertilizantes.
• Cacho Duro – cacho com frutos com
Parte da fibra e da casca é utilizada a coloração alaranjada ou avermelha-
como combustível da caldeira. A torta de da; porém, sem nenhum fruto solto.
palmiste também é consumida pelos ani- Máximo de 1%
mais de trabalho.
• Cacho Verde – cacho com polpa de
Os cachos vazios e as fibras são distri- coloração verde-clara, sem sinais de
buídos com animais (muares) atrelados a óleo. Máximo de 0,2%
carroças basculantes, que depositam esses
resíduos nas linhas de plantio entre uma • Cacho Enfermo – cacho com anoma-
planta e outra (Figura 10). lias diversas, como maduro de um
lado e seco no outro, etc.

206 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Figura 10. Distribuição de cachos vazios e fibras nos palmares (Foto do Autor)

Figura 11. Distribuição de efluentes de indústria em palmares(Foto do Autor)

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 207


• Cacho com Maturação Desuniforme • Limpeza de Bordaduras – rebaixo das
– cacho com parte dos frutos madu- bordaduras das parcelas próximas às
ros e o restante verde. estradas e matas.
• Cacho Verde com Aborto – cacho ver- COROAMENTO E REBAIXO
de, porém soltando os frutos e com QUÍMICO
poucos sinais de óleo.
• Coroamento – eliminação das ervas
• Cacho Andrógino – cacho contendo daninhas do solo próximo à planta
espiguetas de inflorescência masculi- utilizando produtos químicos, com
na e feminina. raio previamente estabelecido pelo
setor técnico.
• Cacho Esquecido – cacho deixado na
planta pelo colhedor. Máximo de 1% • Rebaixo Químico – eliminação das
ervas daninhas das ruas de plantio
• Cacho Não Recuperado – cacho dei-
utilizando produtos químicos.
xado na planta pelo colhedor mesmo
após o aviso do visitador. Máximo de • Devolução de embalagens – todas
0,2% as embalagens vazias de agrotóxi-
cos devem ser devolvidas para o al-
• Cacho Mal Posicionado – cachos co-
moxarifado. Em embalagens como
lhidos que não estiverem na coroa da
garrafas e carotes, deve ser feita a
planta pelo lado da rua (carreamen-
tríplice lavagem e perfuração no fun-
to), mas pelo lado do empilhamento.
do, acompanhando tampa e rótulo.
Máximo de 0,5%
Sacos de papel ou plástico e caixas
• Talo Comprido – cacho com talo aci- de papelão devem retornar dentro de
ma de 1 cm. Máximo de 0,5%. saco próprio para lixo.
COLETA DE FRUTO SOLTO PODA
• Fruto Não Coletado – frutos que ficam • Plantios jovens, no 3º e no 4º ano de
dentro da parcela após a passagem colheita – após a poda, não retirar fo-
do catador. Máximo de 1 kg/ha. lhas, apenas roubar os cachos.
• Impurezas – resíduos encontrados • Nos plantios jovens, após o 4º ano – a
junto com os frutos coletados, como planta deverá ficar com uma média de
pedras, folhas, pedaços de pau, etc. 48 folhas, ou deixar 2 folhas abaixo do
Máximo de 3%. cacho maduro e 3 no cacho verde.
REBAIXO • Nos plantios com mais de 6 anos -
deverão ficar com 40 folhas, ou 1 fo-
• Corte de Ervas Daninhas – o corte
lha abaixo do cacho maduro e 2 do
das ervas daninhas deverá ser na al-
cacho verde.
tura máxima de 10 cm do solo.
• Na época das chuvas - as folhas cor-
• Limpeza de Estipe – retirada das er-
tadas devem ser arrumadas no em-
vas que estão no estipe da planta,
pilhamento acompanhando a linha
como samambaias, puerária, etc.
de plantio; no período seco, o pecí-
• Limpeza de Tocos – corte de ervas olo deve ficar virado para o lado do
que cobrem os tocos de árvores re- empilhamento e a ponta da folha, na
manescentes das ruas de plantio. direção da rua (melhorar a eficiência
da adubação).

208 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
ADUBAÇÃO Consórcio com outras culturas
• Aplicação manual em plantios sem
e atividades
colheita – a aplicação deve ser feita Com diversos plantios sendo atacados
na coroa em círculo no terço final das pelo Amarelecimento Fatal (AF) e, como
folhas. no passado existiam muitas incertezas a
respeito do replantio com HIE devido ao
• Aplicação manual em plantios em co-
seu baixo teor de óleo e pouca pesquisa,
lheita – a aplicação deve ser feita na
a Marborges resolveu consorciar alguns
ponta das folhas, sobre as folhas na
plantios com espécies florestais nativas e
direção do empilhamento.
exóticas com o objetivo que, quando os
• Aplicação mecanizada – as bocas de palmares viessem a ser dizimados pelo AF,
aplicação das adubadeiras devem já haveria outra atividade estabelecida, ga-
estar sempre direcionadas para o rantindo, assim, a continuidade produtiva
empilhamento, desligando a esteira da área, e evitando possível especulação
quando houver falhas de plantas. Ao fundiária.
terminar uma rua, as esteiras devem
Praticamente todas as espécies nativas
ser desligadas e ligadas somente no
não tiveram um bom desempenho e, en-
início da outra, evitando jogar adubo
tre as exóticas, a que mais se destacou foi
na estrada.
a Tectona grandis, ou Teca, que vem apre-
DISTRIBUIÇÃO DE RESÍDUOS sentando um excelente desenvolvimento
INDUSTRIAIS vegetativo; contudo, rotineiramente são
• Fibra e Cacho Vazio – a partir da saí- realizadas podas para evitar que haja som-
da da indústria para o campo, esses breamento nas palmeiras de palma de
resíduos não devem passar mais de óleo. Essa experiência ainda está em fase
dois dias na estrada, obedecendo à de avaliação, mas, com a perspectiva de
programação de sequência de par- boas produtividades dos HIE, não se fez
celas e quantidade por planta pré- mais nenhum plantio obedecendo a esse
estabelecida. modelo.

• Torta e Casca de Palmiste – a torta de Nas áreas onde já existiam pastagens


palmiste deve ser aplicada com adu- estabelecidas e plantio de Teca, foram tes-
badeira nas ruas de plantios. tadas as criações de ovinos e zebuínos.
Esse sistema agrossilvopastoril apresentou
resultados satisfatórios; porém, devido à
• Efluente – verificar a uniformidade altura das plantas, recomenda-se colocar
da distribuição, observando também os ovinos um ano após o plantio e os ze-
se está ocorrendo retorno do produto buínos, dois anos, para evitar danos às
para as estradas e córregos. folhas.
Em áreas de novos plantios, será tes-
tado o consórcio com feijão Caupi, Vigna
unguiculata.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 209


MARBORGES. A cultura do dendê: merca-
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210 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
PARTE 2
Capítulo 14

Cultura da Palma de Óleo no


Contexto da Agroenergia: Biomassa e
Biocombustível
Wanderlei Antônio Alves de Lima, Wilma Araújo Gonzalez,
Luiz Eduardo Pizarro Borges, Paulo César Teixeira, Ricardo Lopes,
Raimundo Nonato Vieira da Cunha e Raimundo Nonato Carvalho da Rocha.

na década de 20, o Instituto Nacional de


1. Introdução Tecnologia (INT) estudou e testou com-
bustíveis alternativos; na década de 70, o
Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e
A biomassa vegetal é a principal fonte a Comissão Executiva do Plano da Lavoura
alternativa de energia renovável de pron- Cacaueira (CEPLAC) desenvolveram proje-
to acesso, e o Brasil reúne as melhores tos visando ao uso de óleos vegetais como
vantagens comparativas nessa área. A combustíveis, com destaque para o Den-
forte demanda atual por fontes de ener- diesel. Ainda, nessa década, pesquisado-
gia alternativas ao petróleo abriu amplas res do Instituto Militar de Engenharia (IME)
possibilidades para o País que, graças a e do CENPES/PETROBRAS desenvolveram
uma conjugação de fatores naturais, geo- estudos sobre o craqueamento catalítico
gráficos e políticos, tem potencial para se de óleos vegetais, enquanto pesquisa-
tornar líder mundial na produção de bio- dores da Universidade Federal do Ceará,
combustíveis. A política de mudança da liderados pelo Professor Expedito Parente,
matriz energética do País determina que desenvolveram estudos que viabilizaram
as tecnologias para produção de energia um novo combustível originário de óleos
de biomassa devem ser pautadas pela sus- vegetais: o biodiesel, que gerou processo
tentabilidade energética, ambiental, social de patente, atualmente expirado.
e econômica. Existem diferenças regionais
marcantes que devem ser consideradas na Cita-se, ainda, o programa da Comis-
elaboração de políticas energéticas, vide a são Nacional de Energia denominado
Amazônia, onde, devido à sua dimensão e Programa Nacional de Óleos Vegetais
à dispersão territorial das populações, não (PRO-ÓLEO), que foi instituído por meio
são factíveis modelos de geração e distri- da Resolução nº. 7 de 22 de outubro de
buição de energia de forma centralizada 1980. Esse programa estimulou diversos
para grande parte da população. grupos de pesquisa a desenvolverem pro-
jetos para a produção de energia a partir
O Brasil já teve diversas experiências de óleos vegetais e foi o ponto de partida
relacionadas ao tema da agroenergia:

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 211


para o estabelecimento do ambicioso pro- estatal que controla a produção de petró-
grama de pesquisas com o óleo de palma, leo no País, criou, em julho de 2008, a Pe-
iniciado pela Embrapa em 1980. Em 1986, trobras Biocombustível, o que demonstra
com a queda do preço do barril de petró- que o biodiesel efetivamente deverá ter
leo, esse programa foi descontinuado em importante participação na matriz energé-
nível nacional. tica brasileira.
O que difere o momento atual dos an- Em 2003, diante do cenário que no-
teriores, nos quais o incentivo e o inves- vamente manifestava interesse pelo uso
timento na produção de biodiesel foram energético de óleos vegetais, foi iniciada
momentâneos, é que o foco era princi- uma parceria entre a Embrapa Amazônia
palmente econômico: por isso, só se dava Ocidental (CPAA) e o IME para a utiliza-
destaque a esses estudos quando o pre- ção do óleo de palma (óleo de dendê)
ço do petróleo estava em alta. Não havia como matéria-prima para a produção de
ainda “consciência” e apelo ambiental da biodiesel por rota etílica. Nessa parceria,
sociedade pela mudança da matriz ener- a Embrapa contribui com o conhecimento
gética em função das mudanças climáti- da cadeia produtiva do óleo de palma e o
cas globais. De qualquer forma, mesmo IME, com a tecnologia de transformação
sem políticas de incentivo, vários grupos do óleo em biodiesel.
de pesquisa deram continuidade aos es-
O óleo diesel comercializado em todo
tudos visando ao desenvolvimento de tec-
o Brasil passou a conter, obrigatoriamen-
nologias para uso de óleos vegetais com
te, 3% de biodiesel desde 1º de julho de
fins energéticos.
2008. Esse teor foi estabelecido pela Re-
O apelo ambiental para substituição solução nº. 2 do Conselho Nacional de
da matriz energética – substituição do pe- Política Energética (CNPE), publicada em
tróleo por fontes renováveis – tomou força março de 2008, que aumentou de 2% para
no início da década de 1990, quando paí- 3% o percentual obrigatório de mistura de
ses europeus começaram a utilizar o bio- biodiesel ao óleo diesel (Agência Nacio-
diesel. No Brasil, as políticas públicas para nal do Petróleo, Gás Natural e Biocom-
estimular a produção e o uso do biodiesel bustíveis – ANP, 2009). Segundo a ANP,
ressurgiram no início dos anos 2000. Em a adição de 3% de biodiesel ao diesel de
2002, o Ministério de Ciência e Tecnolo- petróleo não exige qualquer ajuste ou al-
gia criou uma rede de instituições para teração nos motores; portanto, os veículos
estudar a produção e o uso do biodiesel que utilizam o combustível têm garantia
através da reação de transesterificação de fábrica, assegurada pela Associação
do óleo de soja com etanol; em 2003, foi Nacional dos Fabricantes de Veículos Auto-
instituído um Comitê Interministerial (CI) motores (Anfavea). Em julho de 2009 esse
para estudo da viabilidade do uso do bio- teor foi aumentado para 4% segundo a
diesel no País. ANP. Posteriormente, o marco regulatório
foi modificado e já em janeiro de 2010
Como resultado do trabalho do CI, o
foi utilizado B5, isto é, 5% de biodiesel em
Governo Federal lançou, em 2004, o Pro-
mistura com o diesel (Figura 1).
grama Nacional de Produção e Uso do
Biodiesel (PNPB) e, em 2005, foi publicada No caso específico da Amazônia, de-
a Lei nº. 11.097, que dispõe sobre a intro- vido às condições de temperatura, luz e
dução do biodiesel na matriz energética umidade; áreas de clima tropical úmido
brasileira e a criação do Plano Nacional de favorecem a produção de biomassa. Des-
Agroenergia (PNA). A Petrobras, empresa se modo, acredita-se que as palmáceas

212 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Julho 2008 - Julho 2009 - 2010 em
2005-2007 1º Sem.2008
Junho 2009 2010 diante
Mistura autorizada Mistura obrigatória Mistura obrigatória Mistura obrigatória Mistura obrigatória
de até 2% mínima de 2% mínima de 3% mínima de 4% mínima de 5%
Figura 1. Marco Regulatório do Programa Nacional de Produção e uso do Biodiesel (PNPB).

oleaginosas, altamente adaptadas e pro- exploração por longo prazo. Possui, ainda,
dutivas na região, terão importante papel grande capacidade de fixação de carbono;
na produção de bioenergia. Os cultivos alta eficiência na conversão energética,
perenes, principalmente de palmáceas, com balanço energético altamente positi-
são os mais adequados para a produção vo; e gera, também, subprodutos com uso
de bioenergia nas condições agroecoló- energético (cascas, fibras e efluentes de
gicas da Amazônia, visto que, depois de usina de processamento de cachos).
estabelecidos, são explorados por vários
Apesar de algumas experiências reali-
anos sem necessidade de preparo do
zadas com óleo de palma para fins ener-
solo. Estas proporcionam ainda, cobertura
géticos, tanto para uso como combustí-
permanente do solo evitando que o im-
vel em veículos automotores como em
pacto direto das intensas chuvas provoque
motores estacionários, sua participação
erosão e lixiviação.
na matriz energética ainda é pequena,
A cultura da palma de óleo (Elaeis gui- destacando-se a produção de biodiesel
neensis Jacq.) ou palma de óleo tem gran- pela empresa Agropalma. Os fatores que
de potencial para contribuir na efetivação contribuem para essa pequena participa-
da produção de biodiesel/biocombustível ção, apesar do potencial que apresenta,
na Amazônia, fato já reconhecido pelo go- estão mais relacionados a questões de
verno federal ao definir a palma de óleo oportunidade de mercado (preço pago
como a espécie com potencial para ser pela indústria de alimentos mais vanta-
usada no âmbito do Programa Nacional josos) e restrições à expansão do cultivo
de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB). (legislação ambiental de uso de terras na
Ressalta-se ainda que, em maio de 2010, o Amazônia e financiamento adequado às
governo brasileiro lançou o Programa de características da cultura) do que as ques-
Produção Sustentável de Palma de óleo no tões técnicas do processo de produção do
Brasil, colocando a palma de óleo como biodiesel.
produto estratégico para o País, onde a
indústria, os agricultores e o governo fe-
deral vêem na cultura da palma de óleo
uma atividade econômica com uma série
de vantagens e oportunidades. Cabe res-
2. Óleo de palma
saltar que a palma de óleo merece des- como matéria-prima
taque na agricultura bioenergética por
apresentar a maior produtividade entre as 2.1. Extração e características
oleaginosas (4 a 6 toneladas de óleo/ha/ do óleo de palma
ano). É uma cultura perene que, quando
plenamente estabelecida, protege o solo A extração do óleo dos cachos de
contra erosão, apresenta relativamente palma de óleo é realizada por processos
baixo custo de produção do óleo, produz puramente físicos, sendo basicamente:
durante todo o ano e tem possibilidade de esterilização, debulhamento, digestão,

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 213


extração (prensagem), decantação e co- uma líquida, a oleína, e outra sólida, a es-
leta do óleo. O processamento resulta na tearina. Essa composição confere ao óleo
produção dos óleos de dendê, conhecido de palma uma consistência semissólida, o
no mercado internacional como óleo de que lhe dá maior flexibilidade para produ-
palma (palm oil), e da amêndoa (endos- zir grande variedade de produtos.
perma), conhecido como óleo de pal-
miste (palm kernel oil), além de cachos
vazios, fibras, cascas, torta de palmiste e 2.2. Acidez da matéria-prima
efluentes líquidos (Tabela 1). A relação en-
A análise da matéria-prima, neste caso
tre as quantidades dos tipos de óleo é de
o óleo de palma, é fundamental para se
aproximadamente nove de óleo de palma
definir o procedimento e o processo para
para uma de óleo de palmiste.
produção de um biocombustível. De acor-
do com a técnica, para que se consiga
Tabela 1. Produtos e subprodutos re- produzir um biodiesel que atenda às es-
sultantes do processamento de cachos pecificações da ANP, deve-se utilizar como
de palma de óleo (Fonte: KALTNER; FUR- insumo um óleo vegetal com, no máximo,
LAN JÚNIOR, 2000). 1% de acidez. Portanto, a primeira etapa
para a produção de biodiesel, indepen-
Participação no dentemente do tipo de óleo vegetal, é a
Produtos/
peso de cachos determinação da acidez do óleo.
subprodutos
processados (%)
Os óleos vegetais, especialmente os
Óleo de palma
20,0 produzidos a partir de oleaginosas típicas
bruto
do Norte e do Nordeste do País, possuem,
Óleo de palmiste 1,5 normalmente, elevada acidez. Para o fruto
Torta de palmiste 3,5 de palma, deve-se levar em consideração
Cachos vazios 22,0 a acidez natural do óleo, que é de 2 a 4%,
Fibras 12,0 e o alto teor de ácidos graxos saturados,
Cascas 5,0 com ponto de névoa acima de 25ºC. Nes-
Efluentes líquidos 50,0 se aspecto, o índice de acidez torna-se
importante, principalmente quando for
utilizado o óleo bruto de palma como
O óleo de palma tem amplo uso na matéria-prima para a produção do bio-
indústria de alimentos, farmacêutica, quí- combustível.
mica e também siderúrgica, além de ter
O índice de acidez do óleo de palma
grande potencial na produção de energia
está diretamente relacionado ao período
renovável. O balanço entre ácidos graxos
entre a colheita e o processamento dos
saturados e não saturados do óleo de pal-
cachos e, portanto, ao teor de ácidos
ma, associado ao seu alto conteúdo de
graxos livres existentes. Dessa forma,
vitamina E, o torna um óleo relativamente
torna-se necessário instalar a indústria de
estável. Os insaturados são, principalmen-
extração de óleo o mais próximo possível
te, o ácido oleico monoinsaturado (40%) e
da plantação. Tal exigência é de ordem
os saturados consistem em 44% de ácido
técnica, uma vez que os frutos devem
palmítico e aproximadamente 5% de ácido
ser processados em até 24 horas (ou, no
esteárico. Por meio de processos físicos,
máximo, 48 horas) após a colheita, com
tanto o óleo de palma como o de palmis-
riscos acentuados de perda da qualidade
te podem ser separados em duas partes:
do óleo após esse período por causa dos

214 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
processos enzimáticos de deterioração e modelo adequado que leve em conside-
aumento da acidez. ração a logística, as questões ambientais
e socioeconômicas, a gestão, o consumo
O processo de hidrólise dos triacilglice-
e o preço local do diesel. Uma das possi-
rídios (componentes básicos do óleo ve-
bilidades de atendimento a essas necessi-
getal) que ocorre leva ao aumento do teor
dades, como fonte de energia renovável,
de ácidos graxos livres, que são facilmente
é o uso de óleos vegetais como biocom-
separados pela reação de saponificação
bustível, quer pelo uso in natura ou trans-
com uma solução quente de hidróxido
formado quimicamente pelo processo de
de sódio, produzindo o correspondente
transesterificação e/ou esterificação ou
sal sódico do ácido carboxílico, isto é, o
por craqueamento.
sabão. Consequentemente, o índice de
acidez do óleo refletirá no rendimento/ Nesse caso, a opção de utilização de
utilização de um ou outro processo na biocombustíveis em motores diesel seria
produção de biocombustível. o emprego do biodiesel (segundo espe-
cificações da ANP) sem necessidade de
modificar o motor, ou modificar o motor
para o uso direto do óleo vegetal, uma vez
3. Biocombustível de que esses motores são sensíveis, principal-
mente às gomas que se formam durante a
óleo de palma combustão do óleo vegetal.

No aproveitamento do óleo vegetal


para substituição do diesel, três linhas dis- 3.1. Utilização do óleo de
tintas são possíveis: palma in natura para fins
energéticos
1) utilização direta do óleo vegetal puro
ou em mistura com o diesel do pe- Ao contrário do biodiesel, em que o
tróleo; óleo sofre transformações para garantir
maior eficiência, no caso dos óleos in
2) transesterificação, transformando os natura, é o motor que passa por algumas
triglicerídeos naturais do óleo vege- modificações para se adaptar ao combus-
tal em monoésteres do etanol ou do tível. No entanto, alguns cuidados devem
metanol (biodiesel); ser tomados, como o tratamento do óleo
3) transformação do óleo em uma mis- antes de sua pronta utilização (remoção
tura de hidrocarbonetos o mais seme- de gomas, acidez e umidade).
lhante possível ao diesel por meio de Existem algumas experiências com o
uma degradação térmica ou catalítica uso energético dos óleos de palmáceas,
dos triglicerídeos que constituem o desde a utilização de óleo in natura em
óleo vegetal (craqueamento). grupo motor gerador multicombustível
A escolha do processo a ser utilizado (particularmente importante para viabili-
na produção do biocombustível depen- zar a geração de energia elétrica em pe-
de, entre outras coisas, da qualidade da quenas comunidades na região Norte do
matéria-prima a ser utilizada. O grande País), até a produção de biodiesel para uso
desafio consiste em suprir as necessida- em motores veiculares e máquinas agríco-
des energéticas da Amazônia, inclusive las. Segundo LOPES et al. (2008), entre as
em localidades isoladas, definindo um experiências existentes, cita-se o uso do
óleo de palma in natura em motores es-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 215


tacionários, a exemplo de dois projetos senta, ainda, propriedades de lubrifican-
desenvolvidos na Amazônia: na Vila Boa tes e índice de cetano (60) superiores ao
Esperança, localizada no município de diesel fóssil.
Moju, no Estado do Pará; e na Comunida-
Através da determinação da qualidade
de Boa União, no município de Presiden-
da matéria-prima, é possível definir o tipo
te Figueiredo, no Amazonas.
de pré-tratamento/processo de produção
O projeto desenvolvido na Comunida- do biocombustível, que poderá ser a tran-
de Vila Boa Esperança iniciou em 1997 e sesterificação por catálise básica/ácida
terminou em 2000, em função da chega- (homogênea ou heterogênea) e/ou a es-
da da rede de distribuição de energia da terificação dos ácidos graxos livres por ca-
concessionária local. Um grupo motor ge- tálise ácida, conforme mostra a Figura 2a.
rador foi utilizado, com potência de 132 Portanto, a escolha do catalisador é um
KVA, alimentado com óleo de palma bru- fator importante para o processo, pois ele
to, que gerava energia para ser distribuída serve para acelerar a velocidade de rea-
através de rede trifásica a 129 residências. ção. O catalisador pode ser ácido ou bási-
O projeto também demonstrou viabilida- co e ainda homogêneo ou heterogêneo.
de econômica, com custo de geração de Na catálise homogênea, o catalisador e as
energia praticamente igual ao da tarifa matérias-primas estão na mesma fase.
paga na região para a concessionária de
Uma usina piloto de biodiesel, desen-
distribuição de energia. As informações
volvida pelo IME, foi instalada em 2006 no
são de que, para geração de 1 MWh, são
CERU (Figura 2b), sendo a primeira usina
consumidos 290 litros de óleo de palma
para produção de biodiesel que usa óleo
(LOPES et al., 2008).
de palma no Brasil, projeto inovador com
No projeto desenvolvido na comuni- a produção de biodiesel a partir do pro-
dade de Boa União, foi utilizado um gru- cesso de transesterificação etílica. A usi-
po gerador com motor MWM D225-4 de na tem capacidade para produzir 1.000
51 CV, que operou gerando energia elé- L de biodiesel por batelada, com dura-
trica por um ano (4.000 horas) sem que ção de oito horas. Essa unidade piloto é
houvesse necessidade de trocar ou modi- bem simples e pouco automatizada e,
ficar quaisquer de seus componentes me- em condições ideais de pessoal e de in-
cânicos para o funcionamento; apenas foi vestimentos, principalmente na parte de
aumentada a pressão dos bicos injetores manutenção do campo, pode funcionar
(MIRANDA & MOURA, 2000). com capacidade de até 3.000 L/dia (três
bateladas por dia). A usina possui uma
unidade de recuperação de etanol por
3.2 Biodiesel de óleo de palma meio de peneira molecular. Além disso,
salienta-se que o vapor utilizado na usina
O biodiesel é um combustível pro-
de biodiesel é proveniente da caldeira da
duzido a partir de óleos vegetais ou de
unidade de extração de óleo de palma,
gorduras animais que deve atender à es-
minimizando os custos de instalação e
pecificação estabelecida pela Resolução
operação (GONZALEZ et al., 2008).
ANP n° 07/2008. Esse biocombustível pro-
porciona elevadas reduções na emissão Atualmente, a Agropalma S/A é a úni-
de poluentes, quando comparados com ca empresa na Amazônia com produção
diesel puro, vantagem essa associada ao em escala e comercialização de biodie-
fato de seu uso provocar decréscimo na sel de óleo de palma, denominado “Pal-
emissão de gases do efeito estufa. Apre- mdiesel”, que é produzido por esterifica-

216 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
Gráfico com qualidade baixa, não
dá para ler o que está escrito

Figura 2: Produção de biodiesel a partir do óleo de palma: (a) esquema do processo de produção de biodiesel
(A= acidez); (b) unidade piloto para produção de biodiesel por transesterificação etílica, desenvolvida pelo
Instituto Militar de Engenharia e instalada no Campo Experimental do Rio Urubu/Embrapa Amazônia Ocidental
(Foto: Wanderlei Antônio Alves de Lima).

ção, por rota metílica, dos ácidos graxos


retirados do processo de refino do óleo
de palma. Segundo a Empresa, além da
4. Prospecção de
vantagem de aproveitar os ácidos graxos processos na cadeia
retirados no refino, que são subprodutos
da agroindústria, o processo de produção produtiva da palma de
empregado resulta em combustível mais
puro, isento de glicerina, e mais barato
óleo
que o biodiesel produzido a partir do
óleo (AGROPALMA, 2009). A produção Com o objetivo de otimização da ca-
de biodiesel na empresa foi iniciada em deia produtiva da palma de óleo, estão
2005, atingindo mais de 5.000 toneladas/ sendo prospectados vários processos de
ano, volume comercializado nos leilões aproveitamento de resíduos de biomassa,
da ANP. efluentes, subprodutos e/ou coprodutos
de processos, e outros produtos que pos-
Ressalta-se ainda que, ao se propor o sam agregar valor à cadeia produtiva da
biodiesel como solução energética para palma de óleo (Figura 3). Essas experiên-
a Amazônia através do uso da biomassa cias, conduzidas pelo IME, serão descritas
para a geração de energia descentraliza- a seguir, segundo Gonzalez et al. (2008).
da, deve-se considerar a toxidez do me-
tanol usado no processo de transesterifi-
cação e/ou esterificação. Assim, deve-se
ter cautela, principalmente quando se
envolve a comunidade no processo de
produção.

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 217


Figura 3 – Visão esquemática da prospecção de processos de aproveitamento de coprodutos na cadeia produ-
tiva do biodiesel de óleo de palma.

4.1. Produção de Biocatalisador sólidos mostraram o alto teor de metais


a partir de Efluentes sólidos alcalinos e alcalinos terrosos, responsá-
veis pela basicidade do material, o que
Esta pesquisa estudou a viabilidade possibilita o seu uso como catalisador na
de utilização das cinzas provenientes da reação de produção de biodiesel (SILVA,
biomassa (fibras e endocarpo) queimada 2005). Os resultados indicaram que a utili-
na caldeira da usina de processamento zação das cinzas permite conversões em
de cachos como catalisador no processo biodiesel superiores a 92% (Tabela 2). Isso
de produção do biodiesel. A finalidade é se deve, provavelmente, ao alto teor de
otimizar o processo por meio do aprovei- álcalis presente (acima de 30% de óxido
tamento do rejeito sólido da palma como de potássio).
matéria-prima para a substituição de cata-
lisadores convencionais usados na reação Tabela 2 - Resultados da
de transesterificação (Figura 4). Análise Química dos Efluen-
Cinzas de fibras e de cachos vazios de tes Sólidos da Palma
palma, obtidas no laboratório do IME, fo- Composição dos Efluentes
ram calcinadas a 550ºC, com taxa de 5ºC/ Sólidos da Palma
min durante aproximadamente 16 horas. Compostos Concentração
As análises químicas desses efluentes (p/p%)
SiO2 11,7 – 46
Al2O3 0,4 – 1,1
Fibras Cinzas das
Fibras Fe2O3 1,0 – 3,4
Laboratório 550ºC/16h
P 2O 5 2,4 – 13,5
Palma
do IME
Cinzas dos CaO 3,7 – 12,5
Cachos Cachos
MgO 2,8 – 4,9
Figura 4 - Fluxograma para obtenção das cinzas das fibras e dos K 2O 12,0 – 37,0
cachos de palma. Na2O 0,1 – 0,6

218 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
No caso específico da unidade do produto das etapas de neutralização e de
CERU, em que a planta de biodiesel está lavagem, que são normalmente usadas na
ao lado da usina de extração de óleo, a produção desse biocombustível. A esteri-
aplicação desse subproduto seria impor- ficação foi conduzida usando um catalisa-
tante devido à dificuldade de acesso aos dor heterogêneo do tipo heteropoliânion
produtos e ao alto custo do transporte na de Keggin.
região Amazônica. Cabe ainda mencionar
As reações de transesterificação e es-
que o uso dessas cinzas é ecologicamen-
terificação em uma única etapa para a pro-
te correto e agrega valor ao processo, pois
dução de biodiesel e aditivos mostraram-
pode ser usado como um substituto do
se promissoras, estando o processo em
catalisador básico convencional de hidró-
fase de otimização (SOUZA, 2009).
xido de sódio.

4.4 Aproveitamento da
4.2 Transformação da glicerina glicerina – Produção de
por rota biotecnológica biofilmes
No processo de biotransformação
O desenvolvimento de biofilmes tem
da glicerina proveniente do processo de
crescido devido à possibilidade de substi-
produção de biodiesel de óleo de pal-
tuição parcial dos materiais plásticos não
ma, foram utilizadas cepas fúngicas (Pa-
degradáveis. Proteínas e polissacarídeos
ecilomyces variotii) retiradas do próprio
têm sido utilizados para a produção de
óleo de palma. Segundo o IME, as cepas
filmes com boas propriedades mecânicas.
isoladas desse fungo são cepas inéditas,
Nesse contexto, está sendo estudado o
pela primeira vez, encontradas nesses
aproveitamento da glicerina e dos sub-
substratos. Elas foram submetidas a dife-
produtos do processo de produção de
rentes condições: temperaturas entre 5 e
biodiesel por rota etílica para a produção
45ºC no período de 3 a 3.600 horas, com
de biofilmes.
e sem agitação, em presença e ausência
de nutrientes. O filme obtido a partir da mistura de
glicerina, gelatina e etanol apresentou-se
A biotransformação foi confirmada por
flexível, com certa elasticidade, e com es-
diferentes técnicas analíticas, que indica-
pessura na faixa de 15 a 20 µm. Já o filme
ram a formação de polióis com grande po-
obtido em presença de solução filmogê-
tencial de aplicação na indústria química
nica contendo ácido graxo, proveniente
(SANTOS, 2008).
do aproveitamento do sabão, gerado no
processo de produção do biodiesel, gerou
um filme não flexível, heterogêneo, cuja
4.3 Transformação da glicerina
espessura foi de cerca de 3 µm e a tensão
por rota química – Produção de
de ruptura foi 45,8 MPa.
aditivos
Com o objetivo de associar a necessi-
dade de novas aplicações para o glicerol 4.5. Produção de Bioetanol a
e gerar aditivos ecologicamente corretos, partir de fibras lignocelulósicas
foi estudada a viabilidade da formação da palma de óleo
de éteres a partir de dois álcoois em uma
A biomassa derivada da produção do
única etapa, a fim de produzir biodiesel
óleo de palma é composta de fibras, ca-
sem a necessidade da separação do co-

Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 219


chos vazios e cascas e costuma ser utili- diagrama foi possível classificar o carvão
zada como combustível de caldeira ou vegetal obtido como do tipo betuminoso
como adubo orgânico. No entanto, esse (SILVA, 2010).
material lignocelulósico pode ser uma
fonte de matéria-prima nobre para pro-
dução de biocombustível de segunda
geração, agregando valor à cadeia produ-
tiva do biodiesel. A morfologia das fibras
5. Considerações finais
da palma de óleo foi observada por mi-
Embora o custo de produção do óleo
croscopia eletrônica de varredura e, em
de palma permita a produção de biodiesel
comparação com outras fibras vegetais,
a preços competitivos com o óleo diesel,
as fibras da palma de óleo são longas e
o preço pago atualmente pelo mercado
contínuas, aparentando não formar rede;
de alimentos é muito mais atrativo. Além
no entanto, apresentam certa porosidade
disso, o País é importador de óleo de
(RADOMSKI, 2009).
palma, necessitando ampliar sua área de
cultivo para atender à crescente demanda
4.6 Produção de Biocombustíveis do mercado interno. Com a expansão dos
de segunda geração por cultivos, certamente o preço do óleo será
processo termoquímico a partir reduzido e a produção de biocombustível
de fibras lignocelulósicas da se tornará mais atrativa. Contudo, para
palma de óleo que isso efetivamente ocorra, são ne-
cessárias políticas de incentivo ao setor,
A biomassa residual da cadeia produti- que devem incluir linhas de crédito ade-
va do biodiesel da palma de óleo - cascas, quadas, investimento em infraestrutura
fibras, galhos e cachos vazios, pode ser e adequações na legislação ambiental e
transformada por tecnologias termoquími- tributária.
cas em biocombustíveis de segunda gera-
ção gerando produtos sólidos, líquidos e A produção sustentável de biodiesel na
gasosos com potencial energético seme- região Norte deverá ter enfoque, principal-
lhante ao dos combustíveis derivados do mente, na realidade regional/local, tanto
petróleo. no sentido de produzir para o consumo
regional como no de utilizar na cadeia
A pirólise das fibras dos cachos vazios produtiva a matéria-prima produzida na
da palma de óleo gerou biocombustíveis região, evitando os altos custos de trans-
cujas análises foram promissoras. A com- porte com as outras regiões do País.
paração dos resultados deste biocombus-
tível com os outros combustíveis apre- Destaca-se a importância do desenvol-
sentados no Diagrama de Van Krevelen, vimento de tecnologias para a produção
mostra que o ideal é que a razão molar regional/local de álcool anidro (matérias-
de O/C seja próxima de zero e que a ra- primas regionais ou culturas adaptadas
zão de H/C fique entre 1,5 e 2,0, pois cor- introduzidas na região) e catalisadores, as-
responderia aos combustíveis de origem sim como a instalação de miniusinas para
fóssil, gasolina, querosene e diesel. O bio- atender a demandas de pequena a média
óleo usando as fibras de palma de óleo escala. Como alternativa para motores es-
de CERU possui razão de H/C de 1,77 e de tacionários, tem grande potencial a utiliza-
O/C igual a 0,15.e poder calorífico superior ção de óleos crus em motores desenvolvi-
foi de 34,8 MJ/Kg. Usando-se ainda este dos ou adaptados para essa condição.

220 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
MIRANDA, R. M.; MOURA, R. D. Óleo de
6. Referências dendê, alternativa ao óleo diesel como com-
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2009. Dissertação (Mestrado em Química) - Ins-
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<http//www.agropalma.com.br>. Acesso em:
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10 jun. 2009.
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Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia | 221


222 | Zoneamento Agroecológico, Produção e Manejo para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia
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Produção e Manejo Sustentáveis para a Cultura da Palma de Óleo na Amazônia |
Projeto realizado por encomenda do governo e financiado pelo
Ministério da Ciência e Tecnologia-MCT/FINEP
(Convênio Código 01.05.0110.00)

Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento

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