Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
EMENTA
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia
1a. Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, negar provimento à
apelação e à remessa oficial, nos termos do relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo
parte integrante do presente julgado.
Porto Alegre, 06 de setembro de 2017.
Des. Federal ROGER RAUPP RIOS
Relator
Documento eletrônico assinado por Des. Federal ROGER RAUPP RIOS, Relator, na forma do artigo 1º,
inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de
2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do código verificador
9089242v3 e, se solicitado, do código CRC 80797E0E.
Informações adicionais da assinatura:
Signatário (a): Roger Raupp Rios
Data e Hora: 08/09/2017 14:27
https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&documento=9089242&termosPesquisados=ICdjZW0gZG9sYXJlcycg 1/6
6/23/2018 Inteiro Teor (9089242)
RELATÓRIO
Tratase de mandado de segurança em que o impetrante pretende o afastamento da
exigência do imposto de importação sobre a remessa postal internacional referente à encomenda
XR013049736BR, eis que inserida nas isenções do Decretolei 1.804/80.
Regularmente processado, sobreveio sentença (Evento 50) concedendo a segurança "
(...) para o fim de reconhecer a inexigibilidade do imposto de importação sobre a mercadoria
importada pelo impetrante no regime simplificado, destinada à pessoa física e com valor de remessa
de até cem dólares norteamericanos, objeto da remessa postal internacional nº XR013049736BR,
tudo em conformidade com a fundamentação supra". Incabíveis honorários na espécie. Custas
processuais ex lege. Decisão sujeita ao reexame necessário.
Nas suas razões de apelação, a União sustenta não ter havido apreciação, pela sentença,
da diferença entre o valor indicado pelo impetrante (US$ 56,30) e aquele utilizado pela Receita
Federal para cálculo do imposto de importação (US$ 200,00). Assevera, ainda, que o impetrante
poderia e não o fez ter se utilizado do recurso administrativo previsto no art. 64 do Decreto
1.789/1996 para demonstrar a divergência de valores. Outrossim, sustenta a correção da apreciação
dos fatos pela inspetoria da Receita Federal e da tributação na forma da Portaria MF nº 156/99 e da
IN SRF 096/99; que impõe como condicionantes à isenção que o envio seja via remessa, que o valor
dos bens seja de até US$ 50,00 e que tanto remetente quanto destinatário sejam pessoas físicas.
Sem contrarrazões, subiram os autos a esta Corte.
VOTO
Da Admissibilidade do Recurso
Adequado e tempestivo, recebo o recurso de apelação da União.
Do mérito
Controvertese o feito acerca da possibilidade de isenção do Imposto de Importação no
Regime de Tributação Simplificada, incidente sobre bens que integrem remessa postal internacional
no valor de até US$ 100,00 (cem dólares norteamericanos), seja o remetente pessoa física, seja
pessoa jurídica.
https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&documento=9089242&termosPesquisados=ICdjZW0gZG9sYXJlcycg 2/6
6/23/2018 Inteiro Teor (9089242)
A tributação das remessas postais e das encomendas aéreas internacionais obedece ao
Regime de Tributação Simplificada, instituído pelo DecretoLei nº 1.804/80, que dispõe:
Art. 2º O Ministério da Fazenda, relativamente ao regime de que trata o art. 1º deste decretoLei,
estabelecerá a classificação genérica e fixará as alíquotas especiais a que se refere o § 2º do art. 1º,
bem como poderá:
(...)
II dispor sobre a isenção do imposto sobre a importação dos bens contidos em remessas de valor de
até cem dólares norte americanos, ou o equivalente em outras moedas, quando destinados a pessoas
físicas.
A Portaria MF 156/99, dispõe:
Art. 1º O regime de tributação simplificada RTS, instituído pelo DecretoLei nº 1.804, de 3 de
setembro de 1980, poderá ser utilizado no despacho aduaneiro de importação de bens integrantes de
remessa postal ou encomenda aérea internacional no valor de até US$ 3.000,00 (três mil dólares dos
Estados Unidos da América) ou o equivalente em outra moeda, destinada a pessoa física ou jurídica,
mediante o pagamento do Imposto de Importação calculado com a aplicação da alíquota de 60%
(sessenta por cento) independentemente da classificação tarifária dos bens que compõem a remessa ou
encomenda.
(...)
§2º os bens que integrarem remessa postal internacional no valor de até US$ 50,00 (cinqüenta
dólares dos Estados Unidos da América) ou o equivalente em outra moeda, serão desembaraçados com
isenção do Imposto de Importação, desde que o remetente e o destinatário sejam pessoas físicas.
A IN SRF 096/99, em seu art. 2º, dispõe:
Art. 2º O Regime de Tributação Simplificada consiste no pagamento do Imposto de Importação
calculado à alíquota de sessenta por cento.
(...)
§ 2º Os bens que integrem remessa postal internacional de valor não superior a US$ 50,00 (cinqüenta
dólares dos Estados Unidos da América) serão desembaraçados com isenção do Imposto de
Importação desde que o remetente e o destinatário sejam pessoas físicas.
Verificase que o DecretoLei nº 1.804/80 (recepcionado pela Constituição Federal de
1988 com status de lei ordinária), estabelece, em seu art. 2º, II, que as remessas de até cem dólares
são isentas do imposto de importação quando destinados a pessoas físicas, nada mencionando sobre
o remetente.
Posteriormente, a Portaria MF nº 156/99 e a IN SRF 096/99 passaram a exigir que
tanto o destinatário quanto o remetente fossem pessoas físicas e diminuiu o valor da isenção para o
limite de US$ 50,00 (cinquenta dólares).
Entendo que não pode a autoridade administrativa, por intermédio de ato
administrativo, ainda que normativo (portaria ou instrução normativa), extrapolar os limites
claramente estabelecidos em lei, eis que vinculada ao princípio da legalidade (art. 150, § 6º, CF).
Não havendo no DecretoLei restrição relativa à condição de pessoa física do
remetente, tal exigência não poderia ter sido introduzida por ato administrativo. Da mesma forma,
tendo a lei estabelecido a isenção a bens com valor de até US$ 100,00 (cem dólares) ou o
equivalente em outras moedas, não pode ato administrativo reduzilo, sob pena de clara violação ao
princípio da legalidade.
No caso concreto, o impetrante busca a isenção do imposto de importação incidente
sobre mercadoria (9inch A33 Android 4.4) adquirida pela internet, no valor de US$ 56,30,
equivalente a R$ 183,54.
https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&documento=9089242&termosPesquisados=ICdjZW0gZG9sYXJlcycg 3/6
6/23/2018 Inteiro Teor (9089242)
Muito embora o imposto de importação tenha sido calculado com base no valor
estimado de US$ 200,00 (equivalente a R$ 646,20), considerando a verificação não invasiva
efetuada pelos agentes da Receita Federal do Brasil (OUT2 Evento 43), o impetrante comprovou,
através dos documentos juntados no Evento 32, que o valor da mercadoria não ultrapassava US$
100,00.
Outrossim, o fato de o impetrante não ter se valido da faculdade que lhe assegura o art.
64, do Decreto 1.789/96 (pedido administrativo de revisão de lançamento para fins de correção da
base de cálculo do imposto de importação) não tem qualquer relevância no caso concreto; tratase de
uma faculdade do contribuinte e, além disso, é desnecessário o esgotamento da via administrativa
para acesso à Justiça (art. 5º, XXXV, CF).
Assim, considerando que o impetrante é pessoa física e busca a isenção do imposto de
importação incidente sobre mercadorias com valor inferior a US$ 100,00 (cem dólares norte
americanos), tal postulação encontra amparo na legislação em análise, especialmente porque a
Portaria na qual se fundamenta a exigência do tributo está em clara contraposição quanto ao que
determina a legislação de regência da matéria, violando o princípio da legalidade.
Da mesma forma, enfrentando feito similar, esta Corte manifestouse contrariamente a
pretensão da parte recorrente, in verbis:
TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO. ISENÇÃO. REMESSA
POSTAL. DECRETOLEI N.º 1.804/1980. PORTARIA MF N.º 156/99 e IN SRF N.º 96/99.
ILEGALIDADE. 1. Conforme disposto no DecretoLei nº 1.804/80, art. 2º, II, as remessas de até cem
dólares, quando destinadas a pessoas físicas, são isentas do Imposto de Importação. 2. A Portaria MF
156/99 e a IN 096/99, ao exigir que o remetente e o destinatário sejam pessoas físicas, restringiram o
disposto no DecretoLei nº 1.804/80. 3. Não pode a autoridade administrativa, por intermédio de ato
administrativo, ainda que normativo (portaria), extrapolar os limites claramente estabelecidos em lei,
pois está vinculada ao princípio da legalidade. (TRF4, AC 501998860.2016.404.7000, PRIMEIRA
TURMA, Relator JORGE ANTONIO MAURIQUE, juntado aos autos em 17/03/2017)
Ante o exposto, voto por negar provimento à apelação e à remessa oficial.
Des. Federal ROGER RAUPP RIOS
Relator
Documento eletrônico assinado por Des. Federal ROGER RAUPP RIOS, Relator, na forma do artigo 1º,
inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de
https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&documento=9089242&termosPesquisados=ICdjZW0gZG9sYXJlcycg 4/6
6/23/2018 Inteiro Teor (9089242)
Certifico que este processo foi incluído na Pauta do dia 06/09/2017, na seqüência 434,
disponibilizada no DE de 22/08/2017, da qual foi intimado(a) UNIÃO FAZENDA NACIONAL, o
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, a DEFENSORIA PÚBLICA e as demais
PROCURADORIAS FEDERAIS.
Certifico que o(a) 1ª Turma, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, em sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A TURMA, POR UNANIMIDADE, DECIDIU NEGAR PROVIMENTO À
APELAÇÃO E À REMESSA OFICIAL, COM RESSALVA DO JUIZ FEDERAL MARCELO DE
NARDI.
RELATOR
: Des. Federal ROGER RAUPP RIOS
ACÓRDÃO
VOTANTE(S) : Des. Federal ROGER RAUPP RIOS
: Juiz Federal MARCELO DE NARDI
: Juiz Federal ALEXANDRE ROSSATO DA SILVA ÁVILA
MARIA CECÍLIA DRESCH DA SILVEIRA
Diretora de Secretaria
Ressalva em 05/09/2017 15:28:58 (Gab. Juiz Federal MARCELO DE NARDI)
Ressalvo entendimento pessoal divergente, informado pela outorga à autoridade para dispor sobre
isenção até cem dólares norteamericanos, concedendolhe discricionariedade para restringir tal
isenção, conforme políticas aplicáveis ao comércio exterior.
(Magistrado(a): Juiz Federal MARCELO DE NARDI).
https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&documento=9089242&termosPesquisados=ICdjZW0gZG9sYXJlcycg 5/6
6/23/2018 Inteiro Teor (9089242)
https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&documento=9089242&termosPesquisados=ICdjZW0gZG9sYXJlcycg 6/6