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Dissertar

ISSN 1676-0867

Brazilian Journal of Academic Studies


REVISTA DA ADESA - ASSOCIAÇÃO DE DOCENTES DA ESTÁCIO DE SÁ - ANO 12 - Nos 24 e 25

Reflexões para Educar Organizações através de Pessoas


Ricardo Gaz
Trabalho talento e consumo: o triunfo do objeto
Ana Maria Almeida Marques
Inovação tecnológica: um estudo das empresas do estado da Paraíba
Elídio Vanzella
Interdisciplinaridade na graduação tecnológica de gestão de recursos humanos -
praticando competências e habilidades aprendidas
Fátima Pereira e Ana Cristina Fabbri
A responsabilidade civil do prático
Vanessa Cruz de Carvalho
Repercussões das atividades colaborativas por meio dos recursos tecnológicos
no ofício do professor
Lina Cardoso Nunes e Ana Paula Rodrigues Coutinho
O impacto dos jogos eletrônicos na propensão da geração Y à cooperação ou competição
no ambiente corporativo
Luciana Genelhu Zonta
Estratégia e execução com base na informação: um estudo em Instituições Brasileiras
Antonio Rodrigues de Andrade D. Sc.
Gestão da informação na era do Big Data
Cláudio Lopes Pereira e Marcio Gonçalves
A disposição dos resíduos sólidos em áreas urbanas, origem e tratamentos legal e
institucional: uma breve análise da lei 12.305/2010 E suas implicações
Luiza H P Fraga Rodrigues e Antonio Carlos de Miranda
Primeiros Passos
Qualidade de vida e bem-estar de praticantes de power soccer usuários de cadeiras de
rodas motorizadas
Edvaldo de farias e Gabriella de Oliveira Lopes
Momento Cultural
Uma visão histórica da Escola de Frankfurt e de sua teoria crítica
Christiane do Vale Leitão
A melhor revista brasileira de representação docente.

Comissão Editorial Permanente


Ana Shirley de França Moraes - UNESA, André Luís Soares Smarra - UNESA,
Edvaldo de Farias - UNESA, Márcia Glycério - UNESA, Marcio Gonçalves -
UNESA, Roney Rodrigues Guimarães - UNESA, Vicente Eudes Vera da Silva -
UNESA, e Thomaz William Loureiro Monachesi - UNESA
Dissertar – Entrevista Dissertar
Convidamos o Prof. Dr.
Ronaldo Mota para ser o
nosso entrevistado destes
números da Revista e,
prontamente, aceitou. Assim
nos falou sobre sua vivência
na área de Educação,
Gestão e Docência EAD.
Bem-vindo, Prof. Ronaldo
à Revista Dissertar!

Ronaldo
Mota
“ Nossa missão principal é inovar, proporcionando
educação de qualidade para muitos.”

Pedimos ao Prof. Ronaldo, que Executivo de Educação a Distância da presencial e a distância. Por sinal, esta
nos falasse sobre a sua formação Estácio. Antes, entre outras funções, separação abrupta de modalidades
acadêmica e a sua atuação na área fui Secretário Nacional de Educação é um fenômeno bastante brasileiro,
de educação e gestão EAD. Superior, de Educação a Distância e dado que o resto do mundo caminha
De forma resumida, sou físico, ba- de Desenvolvimento Tecnológico e a passos largos para um desejável
charel pela Universidade de São Paulo, Inovação, respectivamente, no Mi- sistema misto. Do ponto de vista da
pós-doutor pela University of Utah, nistério da Educação e no Ministério gestão, a modalidade de educação a
Estados Unidos, e University of British de Ciência Tecnologia e Inovação. distância trabalha mais intensamente
Columbia, Canadá, Professor Titular do que a presencial com tecnologias
aposentado da Universidade Federal Perguntamos: professor, o que inovadoras e com metodologias que
de Santa Maria e ainda pesquisador distingue efetivamente a gestão do estimulam mais, relativamente, a
(há quase 40 anos) do CNPq, sempre ensino na modalidade presencial do autonomia progressiva do educando.
trabalhando em modelagem e simula- a distância? Ao final, pode-se afirmar que, em
ção de materiais nano-estruturados. O futuro é uma educação flexível e média, um formando na modalidade
Na área de gestão, hoje sou Reitor da híbrida que agregue os bons predica- de educação a distância tem uma
Universidade Estácio de Sá e Diretor dos das duas chamadas modalidades, singular capacidade de trabalhar
3
Dissertar – Entrevista
com portais, plataformas e com o educacional na modalidade a distân- educação. Felizmente temos, do ponto
mundo digital, bem como, em geral, cia, seja como gestor ou professor, e de vista da gestão, os mais avançados
é um profissional mais habituado ao fizemos o seguinte questionamento: recursos e estratégias bem consolida-
aprender a aprender, fruto da maior há algum curso ou preparação para dos, fazendo com que nossa empresa
autonomia conquistada ao longo do exercer a atividade? seja uma das mais dinâmicas, compe-
percurso da graduação. A mais importante preparação tentes e inovadoras do país. Cumpri
para gestores e professores EAD é a traduzir tudo isso também em uma
Falamos sobre o gestor EAD e as atitude de estar disposto a conhecer abordagem educacional que conju-
necessárias competências e habilida- e gostar de tecnologias inovadoras e gue escala com qualidade. Inovar é
des para realizar bem a sua função. de metodologias educacionais contem- propiciar educação de qualidade para
Indagamos: quais habilidades você porâneas, que apostem ao aprender a muitos. Essa é nossa tarefa e para
apontaria como as mais importantes? aprender, como sendo a mais importante cumpri-la temos que combinar de
Empatia, ou seja, a capacidade de estratégia pedagógica disponível. forma excepcional academia e gestão.
entender o outro por se colocar na po-
sição do outro. Tanto aos alunos como Perguntamos, também, sobre Por fim, solicitamos ao Prof.
aos colegas de trabalho, devotamos avaliação externa (MEC- Inep) de um Ronaldo Mota que deixasse uma
máxima atenção, tentando entender gestor EAD, e formulamos a pergunta: mensagem aos professores em geral
e colaborar no encaminhamento das quais são os requisitos avaliados em e aos gestores que desejam atuar ou
soluções possíveis, analisando, caso relação ao foco da gestão? E como já atuam na modalidade EAD.
a caso, pessoa a pessoa, dentro de o gestor deve se posicionar? Gostem de Educação, gostar de
rotinas bem estabelecidas. Não é Entender que trabalhamos com modalidade, é algo que virá depois e
simples, é comple- como consequência do con-
xo, mas é possível. vencimento de que, sem o uso
Tanto que o fazemos Essa é a nossa tarefa: propiciar apropriado de tecnologias
e podemos aprimo-
rar sempre.
educação de qualidade para digitais, não temos como
cumprir nosso propósito
muitos, e para cumpri-la temos que maior de viabilizarmos uma
Comentamos
sobre a preparação
combinar de forma excepcional educação que seja compatível
com um pleno e sustentável
do profissional que academia e gestão. desenvolvimento econômico,
deseja atuar na área social e ambiental.
Dissertar
ISSN 1676-0867
Revista Dissertar

Revista da Associação de
Docentes da Estácio de Sá

Ano .......................................... 12
Número ............................ 24 e 25
Junho ........................ 2015-2016
Editada em junho de 2016

ADESA – Associação de
Docentes da Estácio de Sá
Rua do Bispo, 83
Rio Comprido – 20251-060
Rio de Janeiro – RJ – Brasil
Tel.: 55-21-2503-7110

dissertar@adesa.com.br

www.adesa.com.br

Dissertar Ano 12 nos 24 e 25 V. 2 p. 13-102 Junho 2016


ISSN 1676-0867

DISSERTAR, ANO 12 , Nos 24 e 25, 2016, Rio de Janeiro

ADESA, Semestral

1. Educação Superior – Periódicos. I Associação de Docentes


da Universidade Estácio de Sá.

Nota: Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores.


Revista Qualificação/Capes C
Dissertar
sumário
Entrevista
Prof. Ronaldo Mota ......................................................................................................................... 1
Editorial
Preparação para todos: um processo contínuo
Ana Shirley de França Moraes ........................................................................................................ 7
Palavra da Presidente
Márcia Glycério ................................................................................................................................. 9
Carta Manifesto
Gestão educacional de pós-graduação e continuidade de preparação
Professor Victor Lamas ................................................................................................................. 10
Artigos
Reflexões para Educar Organizações através de Pessoas
Ricardo Gaz ........................................................................................................................ 13
Trabalho, talento e consumo: o triunfo do objeto
Ana Maria Almeida Marques ........................................................................................................ 20
Inovação tecnológica: um estudo das empresas do estado da Paraíba
Elídio Vanzella ............................................................................................................................... 29
Interdisciplinaridade na graduação tecnológica de gestão de recursos humanos - praticando
competências e habilidades aprendidas
Fátima Pereira e Ana Cristina Fabbri ........................................................................................ 34
A responsabilidade civil do prático
Vanessa Cruz de Carvalho .......................................................................................................... 39
Repercussões das atividades colaborativas por meio dos recursos tecnológicos no ofício do professor
Lina Cardoso Nunes e Ana Paula Rodrigues Coutinho ........................................................... 44
O impacto dos jogos eletrônicos na propensão da geração Y à cooperação ou competição no
ambiente corporativo
Luciana Genelhu Zonta .............................................................................................................. 50
Estratégia e execução com base na informação: um estudo em Instituições Brasileiras
Antonio Rodrigues de Andrade D. Sc. ....................................................................................... 63
Gestão da informação na era do Big Data
Cláudio Lopes Pereira e Marcio Gonçalves ............................................................................. 71
A disposição dos resíduos sólidos em áreas urbanas, origem e tratamentos legal e
institucional: uma breve análise da lei 12.305/2010 E suas implicações
Luiza H P Fraga Rodrigues e Antonio Carlos de Miranda ................................................... 81
Primeiros Passos
Qualidade de vida e bem-estar de praticantes de power soccer usuários de cadeiras de rodas
motorizadas
Edvaldo de Farias e Gabriella de Oliveira Lopes .................................................................... 88
Momento Cultural
Uma visão histórica da Escola de Frankfurt e de sua teoria crítica
Christiane do Vale Leitão ............................................................................................................ 97
7
EXPEDIENTE
Revista semestral de divulgação científico-cultural publicada sob a responsabilidade da ADESA -
Associação de Docentes da Estácio de Sá
Rua do Bispo, 83 - 20261-060 - Rio Comprido / Rio de Janeiro / RJ / Brasil - Tel.: 0055-21-2503-7110

EDITORIA E CONSELHO EDITORIAL DA REVISTA DISSERTAR


Editora Executiva
Ana Shirley de França Moraes - UNESA

Comissão Editorial Permanente


Ana Shirley de França Moraes - UNESA, André Luís Soares Smarra - UNESA, Edvaldo de Farias - UNESA,
Márcia Glycério - UNESA, Marcio Gonçalves - UNESA, Roney Rodrigues Guimarães - UNESA, Vicente
Eudes Vera da Silva - UNESA, e Thomaz William Loureiro Monachesi - UNESA

Conselho Editorial da Revista Dissertar


Aldo Barreto - UFRJ IBICT, Ana Rodrigues - Univ. Coimbra PT, Antonio Andrade - UNIRIO, Antonio Carva-
lho - UNIRIO, Armando Malheiro - Univ do Porto. Flup PT, Claudia Capelli - UNIRIO CCET, Gelson Dalvi -
UERJ, Joaquim Celso Freire USCS - Univ. Municipal de São Caetano do Sul, José Faria - Univ. do Porto. Feup
PT, Laocicéia Weersma - Unichristus CE, Ronaldo Balassiano - UFRJ COPPE PET e Tereza Hidalgo - UERJ

Assinam os trabalhos publicados nesta edição os professores


Ana Cristina Fabbri, Ana Maria Almeida Marques, Ana Paula Rodrigues Coutinho, Antonio Carlos de Mi-
randa, Antonio Rodrigues de Andrade D. Sc, Christiane do Vale Leitão, Cláudio Lopes Pereira, Edvaldo de
Farias, Elídio Vanzella, Fátima Pereira, Gabriella de Oliveira Lopes, Lina Cardoso Nunes, Luciana Genelhu
Zonta, Luiza H P, Fraga Rodrigues, Marcio Gonçalves, Ricardo Gaz e Vanessa Cruz de Carvalho

Revisão:
Marcio Gonçalves

Projeto Gráfico:
Contraste Editora e Propaganda Ltda.

Editoração e Diagramação:
Elenir da Silva Oliveira - Designer Gráfico

Jornalistas Responsáveis:
Fernando Loureiro - ABI 1.386
José Luis Laranjo Duarte - Reg. 16.695 MTb

Distribuição:
ADESA - Associação de Docentes da Estácio de Sá.
Rua do Bispo, 83 - 20261-060 - Rio Comprido / Rio de Janeiro / RJ / Brasil- Tel.: 0055-21-2503-7110

Publicidade:
Contraste Editora e Propaganda Ltda.
Rua Teotônio Regadas, 26 / 301 - Lapa - 20021-360 / Rio de Janeiro / RJ - Tel.: 0055-21-2252-1396/ Telefax:
0055-21-2232-3364

Dissertar é uma publicação semestral da ADESA – Associação de Docentes da Estácio de Sá.

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Dissertar

editorial
editorial
Preparação para todos: um processo contínuo
A ninguém deve ser negada a oportunidade de aprender, por ser pobre,
geograficamente isolado, socialmente marginalizado, doente, institucionalizado ou
qualquer outra forma que impeça o seu acesso a uma instituição. Estes são os elementos
que supõem o reconhecimento de uma liberdade para decidir se quer ou não estudar.
(Charles Wedemeyer, apud Keegan, 1986)

Em um cenário altamente competitivo, as pessoas buscam alternativas à melhoria de suas


oportunidades pessoais e profissionais, com vistas à sobrevivência e a seu desenvolvimento.
Embora digam que todos possuem direitos iguais, vê-se que nem todos conseguem ocupar
espaços educacionais passíveis de continuidade para aprender e construir conhecimento. Muitos,
quando alcançam, não conseguem prosseguir, ou por falta de qualidade no ensino ofertado, ou
por pouco dinheiro que possa investir para estudar, ou por falta de adequação à realidade social
vivida, entre outras justificativas, e, acabam por desistir. São muitas as razões e, por isso, surge
como desafio à educação brasileira oferecer cada vez mais oportunidades educacionais, com
menor investimento e com qualidade de ensino.
A tecnologia aparece como meio de informação e comunicação, e como produto da
capacidade humana de pensar e produzir inovações e conhecimentos, auxiliando e possibilitando
o alcance desse desafio. Sabemos que o ensino a distância cresce efetivamente, contudo, pode
a tecnologia também auxiliar em ações educacionais presenciais, trazendo ao aluno uma
preparação híbrida, mais autônoma e interativa.
Como exigência deste Século, as pessoas possuem a necessidade de aprender continuamente
e permanentemente. Aquilo que se aprende hoje, vence em uma dinâmica veloz e impressionante.
Estudar, aprender sempre, é a única forma de pessoas estarem aptas aos atuais e novos
postos de trabalho, bem como se tornar um cidadão mais bem preparado para a vida. Daí a
necessidade de se pensar projetos educacionais que atendam aos diferentes tipos de estudante
e suas necessidades. Não só planeje a sua preparação em nível médio, técnico e graduação,
mas, também, oferte possibilidades de pós-graduação como processo contínuo e diferenciado.
Nesta lógica, as ações educacionais exigem acompanhamento aos estudantes, demonstrando e
revelando as possibilidades que mais se adequem às expectativas e perfil de cada pessoa.
Para tanto, as instituições escolares devem pensar inclusivamente, preparando propostas
educacionais que satisfaçam os mais diferentes grupos, mas sempre buscando a qualidade passo
a passo à construção de um saber útil.
Este é o desafio que se coloca às instituições que pensam e oferecem educação: planejar
e executar uma educação contínua, permanente, com qualidade e adequado custo, seja na
iniciativa pública ou privada, mas que atenda à realidade local e individual de diferentes grupos
e pessoas.

Ana Shirley de França Moraes


Professora Titular da Universidade Estácio de Sá,
Editora da Revista Dissertar

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Dissertar

Palavra
Palavra da
da presidente
presidente

Prezados Colegas Professores,

Mais dois números da Revista Dissertar. Estes números são significativos


para todos nós. Não que os outros não fossem, mas editamos a última Revista do
ano de 2015, em que a Dissertar faz quinze anos de vida. Uma debutante no rol
das Revistas acadêmicas.
Nestes números, teremos o Prof. Ronaldo Mota, Reitor da Estácio a nos
falar sobre a gestão e a docência no Ensino a Distância. Também contaremos
com a colaboração do Prof. Victor Lamas que escreverá a Carta Manifesto
destes números.
Não menos importante são os artigos enviados e selecionados pelo nosso
novo Conselho Editorial, composto por Professores Doutores do Brasil e de
universidades estrangeiras. Desejamos ao nosso Corpo de Conselheiros,
boas-vindas à Revista.
Também, na Seção Primeiros Passos, apresentaremos o Artigo do prof.
Edvaldo com sua aluna da graduação, a quem muito agradecemos a participação.
O Momento Cultural trará uma retrospectiva da Escola de Frankfurt, artigo
enviado pela colega prof. Christiane, da Unidade Fortaleza da Estácio, no Ceará.
Assim, agradeço a todos a confiança depositada na Direção da Associação
Docente da Estácio e vamos à leitura da nossa Revista.

Márcia Glycério
Presidente da Adesa

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carta manifesto

Gestão educacional de pós-graduação


e continuidade de preparação
A pós-graduação da Estácio precisava mudar o seu posicionamento junto
ao mercado e academia, pois não conseguia ainda uma boa aceitação junto ao
mercado e aos próprios egressos da sua graduação.
A partir desta constatação, realizou uma grande pesquisa visando identifi-
car quais as expectativas deste público em relação aos cursos de especializa-
ção, obtendo, de forma resumida, os seguintes resultados:
– Tinham Grande interesse em aulas mais dinâmicas, participativas e vol-
tadas para o mercado;
– Gostariam de contar com estudos de casos reais e a abordagem de temas atuais;
– Possuíam uma expectativa de obter um upgrade em sua carreira profissional;
– Queriam ter a opção de realizar trabalho de conclusão de curso prático, aplicável a sua reali-
dade profissional.
A partir destes e de outros dados da pesquisa realizada, a equipe acadêmica da pós-graduação,
com o envolvimento e contribuição permanente da diretoria de ensino, estruturou um novo plano
pedagógico, visando a uma metodologia que contemplasse estes aspectos.
Este projeto resultou numa metodologia fundamentada nos seguintes pilares: ATUALIDADE,
PRÁTICA e ACESSIBILIDADE.
Ou seja, hoje temos uma pós-graduação voltada para a prática e atualidade, capacitando de
forma eficaz o aluno ao crescimento efetivo, na medida em que ele usa - de fato - o que aprende.
Para contemplar o pilar “Atualidade”, selecionamos em âmbito nacional os melhores docentes e
profissionais com vasta experiência de mercado para a produção de conteúdos, planos de ensino,
planos de aula e a construção de casos concretos entre outros. Além disto, buscamos parcerias com
periódicos de grande circulação. A editora Abril, por exemplo, nos proporcionou um convênio com a
diretoria da Revista Veja, que se dispôs a integrar o seu portal online com a WebAula (plataforma de
ensino online da Estácio), tornando possível que artigos de notícias relacionados à aula de uma disci-
plina, fossem correlacionados a outros artigos que ficam à disposição dos alunos neste portal.
O pilar relacionado a “prática”, que já havia sido parcialmente contemplado na etapa anterior,
foi fortalecido através de produção interna e convênios externos, tais como Harvard Business Pu-
blishing, que disponibiliza um acervo de mais de 20.000 casos reais de empresas de todos os países
do mundo. A partir deste convênio, as disciplinas dos cursos da nova geração de Pós-graduação da
Estácio contam com casos de Harvard traduzidos para o português e relacionados ao conteúdo de
cada disciplina. Elas são estruturadas na modalidade presencial com encontros periódicos interca-
lados com o acesso discente a ambientes virtuais, cujo objetivo é hospedar e disponibilizar estudos
de caso, artigos e demais materiais pertinentes à execução da metodologia aplicada.

12
carta manifesto

Assim, o aluno é orientado a realizar leitura prévia às aulas, com o objetivo de familiarizar-se
com o conteúdo, aproximar-se de exemplos ilustrativos dos temas estudados e se preparar para
a dinâmica de sala de aula, cabendo aos docentes dedicar parte do tempo de aula para explorar
junto ao corpo discente o caso estudado anteriormente pelos alunos, direcionando o debate para o
aprendizado conjunto e geração de conhecimento transversal aos conceitos e exemplos estudados.
Para atender e ampliar as oportunidades dos egressos da Pós-graduação da Estácio de alcança-
rem um upgrade em suas carreiras buscamos uma parceria com um grupo especializado em coa-
ching para promover uma orientação de carreira. Este método já é utilizado em diversas universida-
des no exterior e consiste na realização de um teste chamado DISC (coincidentemente desenvolvido
em Harvard), com uma consultoria individual (por videoconferência - skype) com um profissional de
carreira certificado e a realização de um Plano de Desenvolvimento Individual, por parte dos alunos,
no último semestre do curso. Neste momento, o aluno definirá com o profissional quais são seus
objetivos profissionais e, consequentemente, objetivos de vida. Em um processo colaborativo, este
profissional auxiliará ao aluno a alcançar os objetivos, utilizando diversas ferramentas e definindo
metas de desempenho. Ao final deste processo de coaching, o aluno sentirá que possui um conhe-
cimento melhor sobre sua carreira e sobre sua vida. Com esta base e autoconhecimento, poderá
desenvolver seus potenciais e melhorar alguns pontos profissionais, além de seguir a orientação
para que possa atingir suas metas e objetivos profissionais.
O grande desafio da equipe acadêmica da Pós-graduação da Estácio foi contemplar todos estes di-
ferenciais, sem abrir mão do terceiro pilar que está relacionado à Acessibilidade, ou seja, era necessá-
rio dispor de diferenciais sem tornar inviável o investimento necessário à realização da pós-graduação,
ofertando cursos de especialização em todas as unidades da Estácio pelo território brasileiro.
No tocante a qualidade, disponibilizamos um novo recurso. Através de ferramentas de gestão
acadêmica, os alunos realizam avaliação qualitativa sobre as aulas ministradas, estrutura, atendi-
mento da coordenação e secretaria de alunos, a cada dia de aula. Assim, coordenadores e docentes
recebem feedback constante sobre sua atuação e aspectos que precisam ser melhorados.
Como resultado, a Pós-graduação da Estácio, que anteriormente não conseguia ultrapassar
a barreira dos 12.000 alunos, em apenas dois anos, alcançou uma base de egressos superior a
50.000 alunos nas áreas de Direito, Gestão, Humanas, Tecnológica, Segurança e Saúde - sem abrir
mão da qualidade.
Para os próximos anos, pretendemos ampliar e fortalecer convênios internacionais, criando
novos cursos para atender a demandas emergentes identificadas no mercado. Ou seja, o trabalho
não pode parar! Seguimos e temos como foco nossa visão estratégica.

Professor Victor Lamas


Atual diretor acadêmico nacional da pós-graduação da
Estácio e acumula o cargo de coordenador nacional dos
cursos de pós-graduação da área de gestão

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Dissertar

14
Dissertar

Reflexões para educar organizações através de pessoas


Reflections to educate organizations people
Reflexiones para educar a las organizaciones através de personas

Este artigo promove reflexões This article promotes reflections Este artículo promueve reflexiones
com objetivo de auxiliar na reeducação in order to assist in organizational con el fin de ayudar en la organización
organizacional e em seus processos and reeducation processes through y procesos de reeducación a través de
mediante pessoas, ou seja, os profis- people, namely, professionals in the personas, es decir, profesionales en la
sionais da organização. organization. organización.
Para tanto, contextualiza para To do so, modern organizations Para ello, las organizaciones
as organizações modernas, extraindo contextualizes extracting the modernas contextualiza el marco de
do arcabouço da Qualidade, quatro quality framework, four concepts or la calidad, cuatro conceptos o técnicas
conceitos ou técnicas: Kaizen, Re- techniques: Kaizen, Reengineering, de extracción: Kaizen, reingeniería,
engenharia, Benchmarking e PDCA. Benchmarking and PDCA. Benchmarking y PDCA.
E a partir desses conceitos, produz And from these concepts, Y de estos conceptos, produce
reflexões crescentes, enfatizando o produces reflections, emphasizing the reflexiones, destacando el creciente
papel humano nas organizações. growing human role in organizations. papel humano en las organizaciones.
Conclui o artigo mostrando Concludes the article by El artículo concluye mostrando
a importância das pessoas em uma showing the importance of people la importancia de las personas en una
organização. in an organization. organización.

Palavras-chave: Aj fdsjf hjdsh fds hfds fdsf.

Autores:
Ricardo Gaz
Titulação: Doutor em Ciências da Engenharia de Produção
(COPPE-UFRJ) e professor titular da Estácio de Sá.
Email: ricgaz@gmail.com

“Se queres colher em três anos, plante trigo. Se


queres colher em dez anos, plante uma árvore. Mas se
queres colher para sempre, desenvolva o ser humano”.
Provérbio Chinês

“Se queres colher em três anos, plante competência


técnica e excelência humana na organização. Se queres
colher em dez anos, plante mais competências técnicas e
excelências humanas na organização. Mas se queres colher Figura 1 – Profissionais Unidos com Excelências
para sempre, oportunize-as e/ou desenvolva-as em todos Humanas e Competências Técnicas
os profissionais da organização, sempre.”
Ricardo Gaz
Introdução
Os processos de uma organização continuam sempre sendo
realizados ou liderados por pessoas, independente do seu nível
tecnológico e tipologia organizacional, caracterizando assim o
valor humano (CROSBY, 1979, 1992; DEMING, 1990).
Neste contexto, reflexões crescentes são apresenta-
das, enfatizando o papel humano nas organizações somado

15
Dissertar Reflexões para educar organizações através de pessoas
Ricardo Gaz

a criação de um modelo de crescimento organizacional Especificamente, a seguir são apresentados quatro concei-
sustentável. tos1: Kaizen, Reengenharia, Benchmarking e PDCA (JURAN,
Em sendo a abordagem qualitativa considerada a mais 1980; UMEDA, 1990; TEBOUL, 1991), percebendo que todos
adequada para a pesquisa e metodologia, conforme ensina Creswel servem para instrumentalizar um profissional, gestor e/ou líder,
(2007), sobre a pesquisa qualitativa ser fundamentalmente inter- mas nenhum projeto ou empreendimento alcançou, alcança ou
pretativa, o presente artigo realiza interpretações sobre quatro alcançará excelência exclusivamente por eles. Isto é, essa ins-
conceitos da Qualidade com objetivo de educar as organizações trumentalização e munição de conhecimentos a partir dos quatro
a partir de seus profissionais. conceitos são partes da excelência ou do ser total: da competência
A conclusão enfatiza como é fundamental existir profis- técnica, e a outra parte: a excelência humana (GAZ, 1998).
sionais capacitados, motivados e educados de modo a gerar uma No fundo, esta excelência ou ser total é tudo que toda
organização triunfante, mas sempre respeitando o ser humano organização almeja, e neste contexto, ao longo do artigo, enfatiza-
(GAZ, 1998; GAZ, 2002). -se a irrefutabilidade do valor humano para tal, em todos os seus
processos e sua gestão (CROSBY, 1979, 1992; DEMING, 1990).
Contextualização
Partindo-se do pressuposto de que o ser humano sempre Melhoria Contínua ou Kaizen
foi o agente detonador de novos paradigmas nas organizações
a partir de sua tomada de decisão gerando uma ação, seja esta “Engaje todos da empresa no processo de realizar a
ação em nível: operacional, tático ou estratégico. transformação. A transformação é da competência de todo
Neste sentido, toda modelagem estratégica, processo mundo”. (Deming)
decisório e respectivas ações, em todos esses três níveis, somente
podem ser realizados por pessoas. “Um homem não deveria nunca parar de aprender, nem no
Em outras palavras, o processo decisório e o mapa es- seu último dia”. (Moisés Maimônides)
tratégico são partes fundamentais para que uma organização
triunfe no mercado (MINTZBERG, 2000; PORTER, 1996; “Defeitos não fazem mal, quando há vontade e poder de os
PRAHALAD, 1994). corrigir”. (Machado de Assis)
Munir com conhecimentos os profissionais, gestores,
líderes e donos de uma organização é uma condição fundamental “O sábio envergonha-se dos seus defeitos, mas não se
para instrumentalizá-los em termos de decisões, em todos os envergonha de os corrigir”. (Confúcio)
níveis (GAZ, 2006).
Dessa forma, o processo decisório torna-se uma respon- No contexto organizacional, melhorar por melhorar não
sabilidade e uma competência formal que, além das informações tem fundamento em si mesmo. Pode ser que ao contrário, a
obtidas no processo avaliativo, utiliza seu conhecimento pessoal: considerada melhora traga pioras.
referências educacionais, técnicas, políticas, institucionais, so- Por outro lado, ficar paralisado também nada adianta se
ciais, culturais, espirituais, acrescentando a percepção que tem o processo não melhora, somente piora ou ainda nada pode ser
do(s) problema(s), formando uma convicção, tomando decisão feito para melhorá-lo.
e mobilizando recursos necessários para respectiva ação. É preciso reconhecer que em todo processo de uma
No âmbito organizacional como um todo, o processo organização há sempre causa(s): medição, materiais, mão de
decisório é complexo, variado e permeado de subjetividade obra, máquinas, métodos e meio ambiente; e efeito(s), sendo,
assim como incertezas e riscos já que envolve seres humanos portanto, possível de se melhorar esse(s) efeito(s) focando-se
em sua “ponta final”: clientes. nessa(s) causa(s) (ISHIKAWA, 1985).
No âmbito de políticas, planejamento e gestão, é im-
portante entender que há também momentos em que faltam
conhecimentos para um adequado processo decisório, há outros
em que existem conhecimentos suficientes, mas que o processo
decisório é adiado e, ainda, há outros momentos em que o pro-
cesso decisório é necessário ser implementado mesmo diante
de escassas evidências e informações.
Outro ponto importante é que o processo decisório inicia-se
desde o momento em que o gestor, líder, profissional, dono de
uma organização, idealiza algo, projeta e/ou recebe resultados
de uma avaliação e precisa decidir até culminar em ações de
forma a empreender, solucionar um problema – preventivo e/ou
corretivo que lhe deu origem, entre outros (GAZ, 2006).
Mais ainda complexo se torna contextualizar os resultados da
avaliação dentro dos vários cenários e fatores que lhe são próprios:
questões estratégicas, sociais, políticas, econômicas, religiosas, cir-
cunstanciais – oportunidades e/ou necessidades, enfim, os diversos
fatores que afetam a gestão de uma organização, e formar uma
convicção que permite realizar um adequado processo decisório. Figura 2 – Diagrama de Ishikawa
Este artigo, portanto, aborda importantes instrumentos
que auxiliarão em uma reeducação organizacional, em seus Em certos casos ou momentos são considerados todos como sendo uma ferra-
processos e em seus profissionais. menta, técnica, método, conceito ou mesmo uma filosofia da gestão da qualidade.

16
Reflexões para educar organizações através de pessoas
Ricardo Gaz Dissertar
Historicamente, a melhoria contínua teve seu início A reengenharia foi uma reação ao imenso abismo exis-
precisamente com os primeiros trabalhos de implantação do tente entre as intensas e aceleradas mudanças ambientais e a
Controle Estatístico de Processos (C.E.P.) (DEMING, 1990; incapacidade ou imobilidade das organizações em ajustar e
JURAN; 1980). adaptar-se às mudanças.
O objetivo era de verificar ou checar (check) se o processo A reengenharia na prática resulta em uma mudança ra-
– gerencial, produtivo, etc., ficava fora dos limites – mínimo e dical da estrutura, processo ou alguma atividade importante da
máximo, e então este poderia ser melhorado de alguma forma, organização (COLE, 1994; DAVENPORT, 1994; HAMMER,
gradualmente. Michael; CHAMPY, 1993).
Na prática, todos os processos de mudanças desenvolvi- Ela representa uma reconstrução, indo além de uma mera
dos com sucesso iniciam-se reduzidos, com poucos resultados melhoria pontual ou mesmo gradual.
e alcançados progressivamente no tempo. Em síntese, para reinventar: ideias, procedimentos, pro-
Em certos casos, as melhorias podem ser concretizadas cessos, é preciso se reinventar em modos de pensar, sentir, falar,
através de apenas uma equipe de trabalho. E isso implica na ver, ouvir, perceber e agir - pensar na reengenharia.
formação de uma equipe coesa – técnica e humanisticamente. E isso tudo é feito com e por pessoas.
Conceitualmente, melhoria contínua, em japonês: kaizen,
trata-se de uma abordagem incremental e participativa dos profis- Benchmarking
sionais indo da qualidade intrínseca a excelência organizacional.
“Todos copiam, mas nós copiamos melhor”.
(um consultor japonês para um consultor americano na época
da miniaturização dos aparatos eletros-eletrônico)

“Nada há de novo debaixo do sol”.


(Rei Salomão - Eclesiastes, capítulo 1 versículo 18)

“Não, Tempo, não zombarás de minhas mudanças! As pi-


râmides que novamente construíste não me parecem novas,
nem estranhas; Apenas as mesmas com novas vestimentas”.
(William Shakespeare)

O benchmarking foi introduzido em 1979 pela Xerox como


sendo um processo contínuo de avaliar produtos, procedimentos,
serviços e práticas dos concorrentes mais bem posicionados em
termos mercadológicos (CAMP, 1998).
Ele visa desenvolver a habilidade dos gestores visua-
lizarem no mercado as melhores práticas administrativas das
organizações consideradas como de excelência. Disso resulta o
termo bench marking – melhor prática.
Figura 3 – Incrementos de melhoria até a Excelência

E por isso, quando há paralisação de melhorias, perma-


necendo muito tempo com o mesmo processo, se decresce, pois
quando há movimento adequado de melhorias nos processos
organizacionais, há progresso, sempre.

Reengenharia, Reestruturação ou Reinvenção no


Contexto Organizacional

“A imaginação é mais importante que o conhecimento”.


(Albert Einstein)

“Você deve ser a mudança que deseja ver no mundo”.


(Mahatma Ghandi)

Figura 4 – Reengenharia com Pessoas Figura 5 – Benchmarking com Pessoas

17
Dissertar Reflexões para educar organizações através de pessoas
Ricardo Gaz

A meta é definir objetivos em gestão e legitimá-los por


meio do confronto externo sem que isso denote algo destrutivo.
Ao contrário, fomenta-se a comparação como um
método saudável e didático para despertar ações que as or-
ganizações com referenciais de excelência estão praticando
e que servem de lição-exemplo e orientação-guia para os
processos das organizações com graus menores de qualidade
ou de excelência.
Em outras palavras, o benchmarking não é uma fer-
ramenta de controle ou “pirataria”. É uma ferramenta de
comparação entre o que a organização está realizando e o
que o mercado realiza.
No contexto interorganizacional, o benchmarking não
pode ser um processo de cópia e imitação das melhores práticas
– processos, produtos e/ou serviços, mas um aprendizado com Figura 7 – Questionamento Organizacional rumo às
elas, superando-as em criatividade, inovação, talento, por meio Equipes de Alto Desempenho
do empreendedorismo.
Neste contexto, algumas práticas salutares de benchma- Para tanto é preciso desenvolver o trabalho em equipe já
rking ocorrem, sendo uma delas, por exemplo, a visitação, a que é notório o benefício que uma equipe bem afinada pode trazer
observação e o aprendizado com organizações que não fazem de dividendos para a organização, mais do que um profissional
parte alguma da concorrência do segmento em que a organização em separado, mesmo que este seja extremamente competente
visitante atua. ou talentoso (REIS et al, 2007).
Outrossim, é possível de se ter as melhores práticas ou Oportuno dizer que uma equipe profissional é formada
mudanças para melhor dentro da própria organização, pelas por pessoas diferentes, que trazem histórias de vida e compe-
pessoas, desde que fomentadas com a devida motivação. tências diferentes, mas que precisam se relacionar bem além
das questões técnicas.
Equipes de Alto Desempenho Por exemplo, um profissional é excelente tecnicamente
em analisar relatórios complexos; já outro disserta com fluidez
“Com talento, ganhamos partidas. Com trabalho de equipe, e tem flexibilidade independente do público, mormente com
paixão e inteligência, ganhamos campeonatos.” clientes complicados; outros ainda têm uma propensão natural
(Michael Jordan) para detectar e resolver problemas eficaz e eficientemente.
Assim, tais potenciais inerentes em cada profissional
“Quem não tem dificuldades não cresce”. e outros naturalmente existentes, sendo bem aproveitados,
(Yogananda) gerenciados e integrados poderão formar e resultar em uma
equipe coesa, eficiente, de confiança entre si e naturalmente
Atualmente considera-se que os profissionais e sua co- com elevado desempenho.
esão sejam fatores fundamentais para o sucesso dos processos Certamente, o líder, gestor e/ou coordenação de uma
e das organizações (ARAUJO, 2008; CHIAVENATO, 2008; organização deverá ser responsável por esse item, pois é mais
KATZENBACH; SMITH, 2004). raro ocorrer uma coesão e equipes de elevado desempenho sem a
visão de um líder que tem por pressuposto conhecer os potenciais
e também fragilidades de cada um.
Em síntese e na prática, o objetivo é obter a participação
contínua, ativa e criativa dos profissionais, buscando respostas
rápidas às mudanças além de permitir atendimento, serviço
ou resposta com qualidade crescente diante das demandas
dos clientes.
Percebe-se que nada mais provado que a percepção de
um cliente (externo) na prática de uma equipe profissional da
organização através do seu tempo e qualidade de serviço de-
sempenhada.
É facilmente identificado pelo cliente uma equipe de
baixo desempenho e outra de alto desempenho.
É possível de se ter clientes da classe E sendo excelen-
temente tratados com a devida qualidade, em compensação ter
clientes da classe A muito mal tratados.
Por outro lado, é preciso que todos os componentes da
Figura 6 – Coesão Humana equipe trabalhem em conjunto, com as devidas competências
exercidas além de uma união psicoemocional ao ponto de po-
Em outras palavras, o trabalho em equipe com elevado derem naturalmente demonstrar aos seus clientes.
desempenho pode gerar dividendos para todos da organização, Impressionar um cliente com tecnologias avançadas,
mormente nos estabelecimentos modernos, não viciados na leiaute e arquitetura de ponta, não se caracterizam como uma
competição interna. equipe de alto desempenho.

18
Reflexões para educar organizações através de pessoas
Ricardo Gaz Dissertar
É também verdade que nada adianta haver equipes mul- É uma ferramenta que serve tanto para melhorar padrões
tidisciplinares se a linguagem, o método e a abordagem são tão quanto para conservar os padrões já alcançados (ANDRADE, 2003).
divergentes entre si ao ponto de colocar o cliente em situações Há inclusive a incorporação das ferramentas da qualida-
piores em vez de motivá-las, supri-las (às necessidades), encantá- de dentro da própria ferramenta do PDCA, além do adicional
-las (oportunidades). nele com outro método conhecido como programa seis sigma
Futuramente, espera-se que haja equipes transdiscipli- (AGUIAR, 2002).
nares nas organizações, falando uma mesma linguagem, sem Em síntese, todos os colaboradores da organização devem
perderem suas competências e conhecimentos especializados, conhecer o processo, a ferramenta ou ciclo PDCA e saber a fase
mas integrados emocional e tecnicamente, pelo menos, aos quais em que está do PDCA dentro de sua organização.
poderão ser consideradas mediante suas práticas ao longo do Em seguida são apontadas as principais vantagens do PDCA:
tempo, como sendo uma equipe de alto desempenho. – Permite a resolução de problemas – preventivos e cor-
Neste sentido, em termos globais, fazer com que todos os retivos, de modo científico e eficaz (alcance das metas).
profissionais da organização caminhem na mesma direção pode – Habilita a todos os profissionais da organização a resol-
não ser tão difícil quanto parece ou se pensa ser. verem os problemas que se encontram sob sua responsabilidade,
É claro que deve ser necessário aplicar muita estratégia, função e atividade.
mediante objetivos definidos, comunicação adequada, feedbacks – É um método cíclico, que se inicia pelo planejamento
e contra feedbacks constantes além de uma liderança com visão (P), seguindo com a execução da ação delineada (D), verifican-
e ação: positiva, inspiradora, liderada, compartilhada, específica do (C) sempre se o que foi realizado estava em conformidade
e global ao mesmo tempo. ao planejado, permitindo ao gestor da organização adotar uma
Dessa forma, o ideal de toda equipe-organização se ca- ação para eliminar ou ao menos atenuar a distorção ou falha (A).
racterizando como sendo uma equipe de alta performance, onde Por ser um método de fácil compreensão e pragmática
todas as potencialidades são empregadas da melhor forma, para aplicação, tornam-se mais claros e ágeis, facilitando o cumpri-
se atingir os objetivos estratégicos organizacionais, sem é claro mento dos processos em voga.
excluir os de cada setor, processo e profissional – integração entre É dividido em quatro etapas:
objetivos a partir da formação de equipes de elevado desempenho. P (Plan = Planejar) = definir as metas; definir os métodos
Em síntese, inexistem serviços de elevada qualidade que permitirão atingir as metas propostas (eficácia). Recomenda-
numa organização e/ou com resultados alcançados/esperados -se também que sejam produzidas estratégias apropriadas para
de qualidade sem equipes de alto desempenho, de qualidade, ou que além de se alcançar as metas preestabelecidas que elas sejam
seja, sem pessoas que trabalhem suas qualidades e ao mesmo alcançadas da melhor forma (eficiência).
tempo trabalhem em equipe e não como “eu-equipe”, principal- D (Do = Fazer, Executar) = educar e treinar; executar
mente não trabalhando seus aspectos humanísticos e relacionais a tarefa. Realizar os trabalhos como foi projetado na etapa de
profissionalmente. planejamento. Buscam-se também informações que serão uti-
lizadas na verificação do processo em questão. Nesta fase são
Ciclo PDCA fundamentais a educação e o treinamento no trabalho.
C (Check = Verificar, Checar) = verificar os resultados da
“A vida, para cumprir seu ciclo de evolução, tarefa executada. Examinar se o realizado está de acordo com o
deve ser como água, em permanente movimento”. planejado; Identificar as irregularidades.
(Pecotche) A (Action = Agir, Atuar) = Atuar corretivamente. Iden-
tificadas os itens de não conformidades, definir e colocar em
“Felicidade é atividade”. prática as soluções que eliminem as suas causas; Se não forem
(Aristóteles) identificados desvios no processo em curso, poderá então ser
realizado um trabalho de ações preventivas de problemas futuros.
“O homem não morre quando deixa de viver,
mas sim quando deixa de amar”
(Charles Chaplin)

Se em todo procedimento de melhoria, há uma metodo-


logia própria, mediante método previamente escolhido (parte do
planejamento – plan), a execução do método (do) bem como o
seu controle (check) e novas medidas no futuro (act) para que
o cliente possa ser beneficiado, encantado ou preenchido (de
sua necessidade), da mesma forma há um ciclo ou metodologia
própria em nível técnico e ao mesmo tempo humanístico para
se obter os processos administrativos em uma organização bem
gerenciados.
Neste contexto, o ciclo PDCA ou também chamado de
método de solução de problemas, levado para o Japão por Deming
em 1950, foi criado por seu mestre na década de 20 por Shewhart
(DEMING, 1990; CAMPOS, 1994, 1996, 2004).
O ciclo PDCA é um processo gerencial de tomada de
decisões para obtenção de metas imprescindíveis à sobrevivência
de uma organização. Figura 8 – Ciclo PDCA

19
Dissertar Reflexões para educar organizações através de pessoas
Ricardo Gaz

Neste contexto, em termos de estabelecimento de metas, adequado dessas quatro técnicas, as pessoas, ou seja, os seus
é importante considerar que há dois tipos de metas: profissionais como fatores diferenciais em suas aplicações nos
1. Metas para manter ou preservar – processos e resultados organizacionais.
Exemplo: Em serviços, não ultrapassar 5 minutos o tem-
po de espera do cliente para ser atendido pelo profissional da
organização em qualquer setor da e pela organização.
Esta é uma “meta padrão”. Para alcançar metas, é neces-
sário implantar procedimentos operacionais.

2. Metas para melhorar –


Exemplo: Baseado em certos dados e fatos (passados),
podendo utilizar alguma ferramenta da qualidade (GAZ, 1998,
2002; BRASSARD, 1985) aumentar o faturamento da organi-
zação em 70% até janeiro de 2016.
Para este caso será necessário ajustar os procedimentos
operacionais para o alcance das novas metas e novos resultados.
Isso é possível pela melhoria contínua ou chamado de
ciclos de melhoria na organização rodando-se o ciclo PDCA,
indo para patamares superiores aos padrões preestabelecidos do
passado, conforme é ilustrado a seguir. Figura 10 – Pessoas, Equipes e consequentemente
Qualidade na Organização

Outrossim, além das pessoas terem que ser capacitadas


– tecnicamente, apontou também o fator humanístico onde os
profissionais precisam trabalhar em equipe e com suas qualidades
internas como pessoas, de modo que possam em concomitância,
produzirem a qualidade – melhorias/mudanças, nos processos
inter e intra-organizacionais.
No final, sinalizou dentro da ótica seguida, que é possível
de se ter várias dimensões da qualidade o que consequentemente
poderão nortear e afetar, positiva ou negativamente, toda a orga-
nização, tanto em termos dos processos e melhorias/mudanças
quanto de seus profissionais e suas inter-relações.

Referências
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ao programa seis sigma. Belo Horizonte: Editora de Desenvolvimento
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CAMPOS, Vicente F. TQC: gerenciamento da rotina do trabalho do
outros, seja qual for o estágio ou fase em que se encontra no dia-a-dia. Belo Horizonte: Fundação Christiano Ottoni, 1994.
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Considerações Finais _______. Como definir os seus problemas. In: Gerenciamento da rotina
O presente artigo apresentou crescentes reflexões abalizadas do trabalho do dia-a-dia. Nova Lima: INDG Tecnologia e Serviços
Ltda., p.106, 2004.
por quatro: ferramentas, conceitos, métodos, filosofias e/ou
sistemas da qualidade – que cooperam na formação do TQC – CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos
humanos nas organizações. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
Total Control Quality – Controle da Qualidade Total (OLIVEIRA,
2001), aplicadas há tempos por várias organizações no Brasil COLE, Robert E. Reengineering the corporation: a review essay.
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No entanto, a abordagem diferiu-se por completo, pelo CROSBY, Philip B. Quality is free. New York: New American Library,
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20
Reflexões para educar organizações através de pessoas
Ricardo Gaz Dissertar
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Artigo enviado em 10/08/2015, aceito em 03/10/2015

21
Dissertar

Trabalho talento e consumo: o triunfo do objeto


Work talent and consumption: the triumph of the object
Trabajo talento y consumo: el triunfo del objeto

Por meio do presente artigo, Through this article, developed Este artículo, desarrollado a
desenvolvido a partir das leituras e from the readings and discussions partir de las lecturas y discusiones
discussões desenvolvidas principal- developed mainly in Richard Sennett, desarrollado principalmente en Richard
mente em Richard Sennett, pretende-se we intend to discuss the changes in Sennett, tenemos la intención de discutir
discutir as mudanças ocorridas no the workplace since the industrial los cambios en el mundo del trabajo
mundo do trabalho desde a Revo- revolution, with the advent of mecha- desde la revolución industrial, con el
lução Industrial, com o advento da nization of production operations, advenimiento de la mecanización de
mecanização das operações produ- which featured the decline of the area las operaciones de producción que
tivas, que caracterizou o declínio do workers on its production, setting up caracteriza la disminución dominio
domínio do trabalhador sobre a sua a process of objective and subjective trabajador en la producción, la creación
produção, configurando um processo constitution of a new man for the job, de un proceso de constitución objetiva
de constituição objetiva e subjetiva whose characteristics would meet the y subjetiva de un nuevo hombre para
de um novo homem para o trabalho, determinations of the market. The el trabajo cuyas características se
cujas características atenderiam intent is to articulate the triad work, reuniría determinaciones del mercado.
as determinações do mercado. O talent and consumption as elements La intención es articular la tríada de
intento é articular a tríade trabalho, of reification through human labor, trabajo, el talento y el consumo como
talento e consumo como elementos taking into account the advent of new elementos de la cosificación humana
da reificação humana por meio do technologies that require this worker mediante el trabajo, teniendo en cuenta
labor, levando-se em consideração o some urgency to adapt and adapt to la llegada de las nuevas tecnologías
advento das novas tecnologias, que innovations, so that recognize and que requieren este empleado cierta
requerem deste trabalhador certa be recognized as being through the urgencia de adaptar y adaptarse a las
urgência em se adaptar e se adequar “signs of the market” and it can sur- innovaciones, de modo que reconocer
às inovações, de modo que se reco- vive. A critical discussion is crossed y ser reconocido como a través de las
nheça e seja conhecido enquanto ser by the administration of scientific “señales del mercado” y puede sobre-
através dos “signos do mercado” e organizations and intense competi- vivir. La discusión está atravesado por
nele possa sobreviver. A discussão é tiveness, which excludes the most la crítica de la gestión científica de las
atravessada pela crítica à adminis- vulnerable, especially older workers organizaciones y la competencia feroz,
tração científica das organizações e o (experienced), embodying what Sen- que excluye a los más vulnerables,
acirramento da competitividade, que nett (2006, Pg.47) will call the “new especialmente los trabajadores de más
exclui os mais vulneráveis, principal- individuality idealized”. We conclude edad (experiencia), dándose cuenta de
mente os trabalhadores mais velhos that there is a hegemony in what is lo que Sennett (2006 p.47) llamará a la
(experientes), concretizando o que considered the overall production “nueva imagen idealizada”. Se concluye
Sennett (2006, p.47) vai chamar da process and the professional profile que existe una hegemonía en lo que se
“nova individualidade idealizada”. required for the work that, paradoxi- considera el proceso de producción y
Conclui-se que há uma hegemonia no cally, the human coisificam while the el perfil profesional requerido para
que se considera o processo global de humanized through the market that el trabajo, paradójicamente, thingify
produção e o perfil profissional exigido offers the foundation of freedom (free humana, al mismo tiempo que humaniza
para o trabalho que, paradoxalmen- to sell their labor power) and equality a través del mercado, lo que le ofrece
te, coisificam o humano ao mesmo (same as a consumer), when it comes el pilar de la libertad ( la libertad de
tempo em que o humaniza através to formatting identification made vender su fuerza de trabajo) y la igual-
do mercado, que lhe oferece o esteio possible by the personification of self dad (igual que un consumidor), en lo
da liberdade (livre para vender a sua through consumer. relativo a la identificación formato
força de trabalho) e o da igualdade posible gracias a la personificación
(igual enquanto consumidor), no que de sí mismos a través del consumo.
toca a formatação de identificação
possibilitada pela personificação de
si por meio do consumo.

22
Trabalho, talento e consumo: o triunfo do objeto
Ana Maria Almeida Marques Dissertar
Palavras-chave: Trabalho. Talento. Consumo. cada vez mais exigentes para ingresso e continuidade de sua
carreira no mercado de trabalho.
Autores: Desta feita, percebe-se que o ciclo de permanência no
Ana Maria Almeida Marques trabalho tem se tornado cada vez mais curto e processos como
Integrante do Corpo Docente do Centro Universitário Estácio “renovação da força de trabalho” são aceitos como parte das
de Sá do Ceará. Coordenadora da Pós-Graduação em Direito modernizações tecnológicas. A experiência no trabalho e o
e Processo do Trabalho e Direito Previdenciário da Unidade saber-fazer adquiridos com a idade passam a ser desvaloriza-
Estácio Parangaba. Mestra em Políticas Públicas e Sociedade dos como contribuição ao processo de produção acelerando a
(UECE), Especialista em Direito Processual Civil (UNIFOR). exclusão dos trabalhadores mais idosos.
Bacharel em Direito (FFB) e Psicóloga (UFC). É neste momento que se abre a discussão em torno da crítica
Email: anamarques.advogada@gmail.com ao trabalho, que cada vez mais descaracteriza a humanização dos
processos produtivos, tornando evidente o caráter descartável
Introdução de processos e pessoas, contribuindo de forma significativa
O novo delineamento que caracteriza o mundo do trabalho para o isolamento do homem, naquilo que Sennett (2006, p.
contemporâneo, marcado pelas inovações tecnológicas, infor- 47) conceituou como “nova individualidade idealizada”.
matização dos processos produtivos, surgimento da inteligência A idealização não parte apenas do que se toma por ideal,
artificial e da vertiginosa revolução dos meios de comunicação mas de forma objetiva, se liga ao fenômeno que o referido autor
de massa, contribui para uma profunda mudança nas relações trata de “capitalismo flexível” (SENNETT, 2010, p. 9) cujo
laborais estabelecidas, cujos reflexos vão requerer um novo argumento se assenta no rótulo da modernização das relações
homem para uma nova realidade. entre empregados e empregadores, tendo na flexibilização,
Trata-se de uma realidade cujas mudanças caracterizam política inerente à corrente neoliberal, “[...] a redução gradativa
certa aceleração no processo de ser e estar do indivíduo em do poder do Estado e a privatização das empresas estatais”
sociedade, especialmente do indivíduo que produz. Giddens (AIRES, 2007, p. 135).
(2005) fala que esse ritmo acelerado pode ser desestabilizante Trata-se, enfim, da exacerbação do discurso de liberdade
para diversos trabalhadores que se tornam apreensivos e in- do sujeito (enquanto indivíduo) para lidar com esta nova reali-
corporam uma insegurança no emprego. dade de mercado, no qual a competência ou mesmo o talento
Esta insegurança, indiscutivelmente, contribui para uma estariam na capacidade de adaptação do trabalhador às frequen-
mudança não apenas de uma nova estrutura social, bem como do tes e rápidas mudanças, culminando com uma vinculação do
ethos que envolve o trabalho, as suas condições e a organização, trabalho (da produção) ao consumo. Este fenômeno contribui
determinadas pelo mercado, que passou a exigir um perfil de para uma fragilização da identidade do próprio trabalhador,
trabalhador voltado a atender a este contexto contemporâneo e dado que a flexibilização e a precarização fazem parte de um
permitiu um isolamento do sujeito de seus pares, promovendo, binômio que afeta a própria condição da força do trabalho
segundo Sennett (1988, p. 29) uma cultura da individualidade, produtivo. É disto que se pretende tratar.
mantida até pela organização física do espaço laboral, que
distancia e protege um sujeito do outro. Menciona o referido Reconhecimento e trabalho:
autor: “Quando todos estão se vigiando mutuamente, diminui faces de uma construção identitária
a sociabilidade, e o silêncio é a única forma de proteção”. Refletir a problemática da nova formatação do trabalho
Aron Raymond (1981, p. 17) indica a necessidade do na contemporaneidade passa, necessariamente, por uma pon-
sociólogo explorar a organização do trabalho, dado que faz deração sobre aquilo que constitui o homem enquanto homem
parte da própria essência do homem. Essa organização enfatiza e o define socialmente perante o outro. É o homem enquanto
o “curto prazo”, a urgência, a baixa sociabilidade que, segundo essência, capaz de laborar e transformar a realidade em que
Sennett (1988, p. 27) “[...] corrói o caráter, sobretudo aquelas vive, que de acordo com Sennett (2009, p. 31) resulta no efeito
qualidades de caráter que ligam os seres humanos uns aos outros, de que “[...] as pessoas se ligam à realidade tangível e podem
e dão a cada um deles um senso de identidade sustentável”. orgulhar-se de seu trabalho”.
Richard Sennett (2010, p. 9) fala ainda de um “capitalismo É de conhecimento comum que a natureza humana social se
flexível” em contraposição a uma organização capitalista que forma através das inúmeras situações desafiadoras e instigantes
era rígida em sua forma de produzir, distribuir e até consumir. que somente a convivência em coletividade é capaz de promover.
Neste sentido Lancman, Sznelwar e Jardim (2010) apontam Dentre elas, o trabalho também atua como traço constituidor
que tradicionalmente o modo de produção era pensado para da identidade do sujeito, posicionando-o socialmente.
um trabalhador imutável ao longo dos anos, que possuísse ao A constituição deste homem social passa pelo fenômeno
mesmo tempo experiência e capacidade para aprender rapida- da comunicação que está na base do reconhecimento mútuo
mente as novas regras da produção e que nem envelhecesse e e que indica que as relações intersubjetivas são essenciais no
nem perdesse a capacidade para o trabalho. construir-se humano. Hannah Arendt (1993, p. 47) reforça por
Entretanto, a realidade é a de que envelhecemos. E o meio das ideias de Montesquieu que “[...] o homem, este ser
envelhecimento não traz apenas a debilidade do corpo: com flexível que, em sociedade, liga-se aos pensamentos e expres-
ele se evidencia a indiferença do mercado para com este seg- sões de outros, é tão capaz de conhecer sua própria natureza,
mento. Parece haver uma inversão na concepção que valoriza quando esta lhe é mostrada, quanto o é de perdê-la, a posto de
a experiência no trabalho decorrente da idade/qualificação em sequer chegar a senti-la quando a estão roubando”.
detrimento daquela que relaciona a juventude a uma adequada Assim, também fica aqui indicado que a exploração
produtividade; o jovem valorizado pelo vigor físico e psíquico; de um pelo outro ou mesmo o processo da alienação tem
o velho descartado pela possibilidade de não acompanhar a seu estabelecimento constituído de modo concreto, dada a
evolução tecnológica e tendo ainda que atender aos requisitos própria natureza humana que necessita de desafios a fim de

23
Dissertar Trabalho, talento e consumo: o triunfo do objeto
Ana Maria Almeida Marques

garantir a sua essência de uma contínua transformação de si favorece a flexibilização das relações, o controle da produção
e da própria sociedade. e o próprio modo de trabalho, rompendo com valores ligados,
Sob o lume desta reflexão e diante de uma realidade denotada por exemplo, à lealdade.
pela exclusão dos vários sentidos do homem trabalhador e sua Assim, o indivíduo se submete aos novos perfis profissionais,
sujeição ao regramento mercadológico, seja por meio das políticas não apenas em favor de sua mantença no mercado ou garantia
de precarização, representadas pela flexibilização nas relações de sobrevivência, mas também para não ser dele excluído, pois
de trabalho e da desregulamentação das normas trabalhistas, ou há aqui, um componente importante na construção do sujeito,
por meio de um processo de exclusão objetiva e subjetiva, tal que é a compreensão de si a partir do que é capaz de fazer/ser.
como acontece no caso dos trabalhadores que precisam possuir Afinal, quem não faz (produz), não é.
um perfil específico para atender às exigências do mercado. Para Márcio Túlio Viana (1996, p. 118) aduz que “a inativi-
que nele permaneçam, fragiliza-se a rede socialmente elaborada, dade pode não só humilhar o empregado, como impedi-lo de
indicando um processo de isolamento social (SENNET, 1988, se realizar como homem e como cidadão, afetando sua dig-
p. 29), de modo a atingir o próprio conceito de reconhecimento, nidade”. Com efeito, os aspectos inatos e culturais relativos
pressuposto básico para construção da identidade do indivíduo. ao valor dignidade da pessoa humana interatuam de modo
Anthony Giddens (2005, p. 265) trata desta questão da exclusão que não se pode descartar o papel significativo da dimensão
social nos termos políticos e sociológicos como algo que se re- social (comunitária), na medida em que o homem necessita
fere às fontes das desigualdades. Aduz o autor que “a exclusão estar inserido socialmente e não pode prescindir do convívio
social diz respeito às formas pelas quais os indivíduos podem e reconhecimento em coletividade, devendo ser balizada, neste
acabar isolados, sem um envolvimento integral na sociedade momento, a paridade entre todos, na medida em que todos são
mais ampla [...]”. iguais em dignidade.
Em Axel Honneth (2003) apreende-se a ideia de que É neste contexto onde o Estado é convocado a atuar na
somente por meio das relações intersubjetivas é que os sujeitos visão de que a dignidade pertence a cada um (de modo indivi-
constituem e consolidam suas capacidades, atravessados pelo dualizado, indisponível, inegociável, enquanto elemento fixo
crivo resultante das relações que estabelecem entre seus iguais, e imutável), que paradoxalmente se enxerga o limite de sua
bem como pela reafirmação da autoimagem que possuem de si. atuação, ao mesmo tempo em que informa seu dever de guiar
Percebe-se, portanto, que no mundo do trabalho, as pessoas ações políticas pautadas no princípio da dignidade da pessoa
excluídas são atingidas exatamente em sua autoimagem que, humana reconhecendo o indivíduo não apenas como sujeito
por consequência, se atrela à sua autoestima, autoconfiança de deveres, mas também de direitos.
e auto-realização, afetando sobremaneira a percepção de si e Assim é que se deve ter em mente que o trabalho, en-
do mundo, impossibilitando-lhe o processo de transformação quanto política que contribui para a realização do cidadão deve
recíproca por meio do trabalho, tal como preconizava Marx. ser perseguida pelo Estado de Direito, de modo a concretizar
Afirma ainda Honneth, que o reconhecimento está ligado valores destinados a assegurar o exercício de todos aqueles
(2003, p. 156) “às lutas moralmente motivadas de grupos sociais, direitos fundados na harmonia social. Afinal, como também
sua tentativa coletiva de estabelecer institucional e culturalmente preleciona Márcio Túlio Viana (1998, p. 66) “o trabalho pode
formas ampliadas de reconhecimento recíproco, aquilo por dar (e também tirar), dignidade”.
meio do qual vem a se realizar a transformação normativamente
gerida das sociedades”. Assim, é necessário ao homem cujo Flexibilização e trabalho: é possível desenvolver o talento?
espírito gregário é inerente à sua própria natureza, que a razão Diante de uma sociedade complexa, mundializada, cujo
entre realização, trabalho e reconhecimento se dê através do poder político ainda não definiu com clareza uma estratégia que
outro; da inserção do cidadão no seio coletivo e do resultado possibilite a implementação de políticas públicas dos direitos
das interações sociais estabelecida entre ele e os demais. socialmente conquistados pela classe que vive do trabalho, faz-se
Todavia, há dificuldades na efetivação destes conceitos premente evocar e fortalecer o corpo normativo em sua força
diante do cenário no qual se desenrola o labor. É o que Dejours principiológica, como modo de conter violações em nome do
(1999, p. 18) relaciona ao próprio conceito de sofrimento ao lucro irrestrito. Tal força deve então favorecer a concepção de
afirmar que há uma “banalização do mal” e de que “[...] o políticas eficazes, que garantam o regramento das condições
reconhecimento não é uma reivindicação secundária dos que e respeito no que tange as relações humanas, especialmente
trabalham. Muito pelo contrário, mostra-se decisivo na dinâmica no mundo do trabalho.
da mobilização subjetiva da inteligência e da personalidade Honneth (2008, p. 63) afirma que
no trabalho [...]”. As relações de trabalho hoje existentes, crescentemente desregu-
Sob a ótica de Sennett (2010, p. 27) vive-se uma época lamentadas, parecem fazer escárnio as exposições sobre a infra-
na qual “[...] o capitalismo de curto prazo corrói o caráter, -estrutura moral da forma capitalista de economia que se pode
sobretudo aquelas qualidades de caráter que ligam os seres encontrar em Hegel e Durkheim; a situação de fato do trabalho
humanos uns aos outros, e dão a cada um deles um senso de social, seja nos regimes de produção pós-fordista do Ocidente
democrático ou nos países de baixos salários do Segundo e
identidade sustentável”. Terceiro Mundos, são de tal modo impregnadas por condições
A partir das ponderações até aqui tecidas, é possível perce- inaceitáveis e insalubres, que toda exigência de uma melhoria
ber que todas as mudanças no mundo do trabalho apontam para sustentável deve soar como o recurso a um “dever ser abstrato”.
uma desestabilização da pessoa na carreira e consequentemente Tal como já mencionei no início, hoje estamos mais distantes
da pessoa em seu próprio eixo familiar (círculo íntimo), o que de uma característica eficaz, com consequências práticas para
esta relação de trabalho do que em qualquer momento anterior
atinge de forma significativa o traço subjetivo que caracteriza na história das sociedades capitalistas.
cada um. Vê-se um exemplo nos trabalhos realizados em equipe
no qual, segundo Sennett (2010, p. 27), os indivíduos perdem a Historicamente se enxerga um percurso deste fenômeno
dimensão da solidariedade em prol de um distanciamento que “flexibilizatório” desde o início da década de setenta quando

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Trabalho, talento e consumo: o triunfo do objeto
Ana Maria Almeida Marques Dissertar
foi deflagrado um novo modelo de acumulação da ideologia terceirização e da própria ruptura com os sindicatos, aspectos
capitalista, que reorganizou a lógica produtiva, empreendendo concretos e reais no atual contexto sócio-laboral.
ações que resultaram em modos mais flexíveis de acumulação Ricardo Antunes (2006, p. 53) comenta que este processo
e de estabelecimento dos contratos de trabalho, investimento “tem como finalidade verdadeira a intensificação das condições
em gestão de pessoas, tecnologia, em políticas de marketing de exploração da força de trabalho”. Aduz ainda que, se no
e endo-marketing, incremento de ferramentas da qualidade passado uma empresa tinha destaque no mercado pelo número
no cotidiano dos trabalhadores, subcontratação, aumento de de empregados que mantinha em sua estrutura, na atualidade
horas-extras, contratação de trabalhadores temporários, ter- o paradoxo é o inverso: a empresa é valorizada por ser enxuta
ceirização1, eliminação do desperdício, horizontalização da e obter, ainda assim, as expensas de quem nela trabalha maior
hierarquia das organizações, trabalho part-time (se caracteriza produtividade e lucratividade.
pelo vínculo de trabalho temporário, pelo trabalho precarizado, Fernando Hoffmann (2003, p. 169-170) empreende uma
em expansão na totalidade do mundo produtivo), downsizing explanação acerca desta realidade cujos aspectos ganham
(enxugamento dos efetivos), human resource management, relevância pelas alterações já ocorridas no sistema legislativo
empowerment (descentralização de poderes pelos vários níveis pátrio, a título de exemplo. Assim se manifesta o autor:
hierárquicos da empresa, o que se traduz em incentivos para Seguindo à risca o ideário neoliberal, o discurso da modernização
a tomada de iniciativas em benefício da empresa como um das relações de trabalho prega a retirada do intervencionismo
todo), employee involvement (programas de envolvimento estatal da regulação dos conflitos de interesses entre o capital
dos empregados baseados em políticas de Administração de e o trabalho e o reconhecimento de uma maior autonomia das
Recursos Humanos utilizadas principalmente nas empresas entidades sindicais e dos próprios trabalhadores. Também no
Brasil a flexibilização do Direito do Trabalho é apontada como
praticantes de procedimentos da Gestão da Qualidade), just in um dos frutos da Revolução Tecnológica e da Reestruturação
time (sistema de Administração da produção que determina que Produtiva, uma realidade inevitável por força da globalização
nada deve ser produzido, transportado ou comprado antes da e um dos principais instrumentos de combate ao desemprego
hora exata), kanban (em Administração da produção significa segundo a ideologia neoliberal.
um cartão de sinalização que controla os fluxos de produção Ora, na era da acumulação flexível, a palavra de ordem não poderia
em uma indústria), contratos atípicos de trabalho com uma ser outra: flexibilizar. E flexibilizar não só o sistema de produção
nítida debilitação da estabilidade, enfim, uma lógica que veio de bens, como também a mão-de-obra. O Direito do Trabalho,
romper com a estrutura produtiva baseada no binômio fordismo/ nascido em um contexto de rigidez das relações de trabalho, deve se
adaptar à realidade econômica e tornar-se flexível para sobreviver.
taylorismo então vigente, para especialmente se transmutar no Para tanto, deverá reduzir o custo final da produção e o nível de
que Ricardo Antunes (2005, p. 87) apresenta como toyotismo: desemprego por intermédio da diminuição do tratamento protetivo
(...) Ainda que fenomenicamente minimizado pela redução tradicionalmente assegurado aos trabalhadores.
da separação entre elaboração e execução, pela redução dos (...) A modernização apresentada sob o rótulo da flexibilização
níveis hierárquicos no interior das empresas, a subjetividade é justificada, antes de tudo, pela inevitabilidade do fenômeno da
que emerge na fábrica ou nas esferas produtivas de ponta é mundialização do capital e pela necessidade de se acompanhar o
expressão de uma existência inautêntica e estranhada, para desenvolvimento econômico e social, relegando-se a um plano de
recorrer à formulação de N. Tertulian. Além do saber operário, menor importância a violação do patrimônio jurídico-econômico
que o fordismo expropriou e transferiu para a esfera da ge- do trabalhador, que outra alternativa não tem que não a de se
rência científica, para os níveis de elaboração, a nova fase do adaptar à realidade do “mercado” e dispor de sua força de trabalho
capital, da qual o toyotismo é a melhor expressão, re-transfere conforme a lei de oferta e procura, pois dela – e tão somente dela
o savoir-faire para o trabalho, mas o faz apropriando-se cres- – são extraídas as condições de sua subsistência. (grifo nosso).
centemente da sua dimensão intelectual, das suas capacidades
cognitivas, procurando envolver mais forte e intensamente a
subjetividade operária. (grifo nosso). Na atualidade assiste-se a ascensão de uma categoria
chamada por Huw Beynon (2001) de “trabalhador hifenizado2”,
O modelo toyotista, baseado na cultura japonesa de re- cuja contribuição para economia é cada vez mais significati-
estruturação produtiva, cujo discurso é produzir mais, com os va e que é representada pelos trabalhadores a tempo parcial
trabalhadores organizados em equipe (chamadas de células) e (part-time-workers), temporários (temporary-workers), em
com menor custo e desperdício, requer um trabalhador poliva- emprego casual (casual-workers) ou mesmo por conta própria
lente, atualizado, adaptável, multifuncional, mais qualificado (self-employed-worker).
e participativo. Sennett (2010, p. 54) trata a flexibilização como parte
Estas exigências engendram várias modificações na es- de um sistema de poder e que se encontra dividida em três
trutura produtiva, favorecidas pela reengenharia, flexibilização elementos, a saber: “a reinvenção descontínua de instituições;
e desregulamentação das normas trabalhistas, pela eliminação especialização flexível de produção; e concentração de poder sem
de postos de trabalho em virtude do tipo de conhecimento centralização”. Cada um desses elementos pondera o referido
específico que deve ter o trabalhador (extinção e surgimento autor, são conhecidos de todos nós, mas suas consequências
de algumas atividades), pela concepção de células produtivas não. Assim é que se aprofunda em sua análise apontando para
(trabalho em equipe – times de trabalho) que faz com que os uma dimensão diferenciada do tempo, o “flexitempo”, conceito
próprios trabalhadores se fiscalizem, diminuam o tempo da ligado à organização do trabalho.
produção. Enfim, pode-se verificar a efetivação de diversas Comenta ainda Richard Sennett (2010, p. 68-69) a respeito
modificações, através da fragmentação da classe trabalhadora, desta temática:
da precarização do emprego, do trabalho no âmbito doméstico Um trabalhador em flexitempo controla o local de trabalho, mas
(cuja atividade de facção é um exemplo), do fenômeno da não adquire maior controle sobre o processo de trabalho em si. A
essa altura, vários estudos sugerem que a supervisão do trabalho
1
Comenta Antunes (2006, p. 57) que “quanto mais o trabalho se distancia das
empresas principais, maior tende ser a sua precarização”. 2
Esta é uma expressão de Huw Beynon (2001, Pg. 18).

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Dissertar Trabalho, talento e consumo: o triunfo do objeto
Ana Maria Almeida Marques

muitas vezes é na verdade maior para os ausentes no escritório


que para os presentes. Os trabalhadores, assim, trocam uma as transações de natureza econômica, cujos reflexos e força
forma de submissão ao poder – cara a cara – por outra, ele- se espraiam por todos os campos da sociedade.
trônica (...). O trabalho é fisicamente descentralizado, o poder Friedrich Muller (2011) fala da mundialização da mo-
sobre o trabalhador mais direto. Trabalhar em casa é a ilha netarização, que indica que o Estado-nação já não consegue
última do novo regime. Estas, pois, são as forças que dobram impor soberanamente suas regras, sendo levado a acolher os
as pessoas à mudança: reinvenção da burocracia, especiali-
zação flexível de produção, concentração sem centralização.
ditames desse movimento mundializado. Comenta o autor
Na revolta contra a rotina, a aparência de nova liberdade é a respeito:
enganosa. O tempo nas instituições e para os indivíduos não A democracia exige que processos econômicos sejam inseridos
foi libertado da jaula de ferro do passado, mas sujeito a novos em processos sociais. Contrariamente ao que afirma o ultra-
controles do alto para baixo. O tempo da flexibilidade é o liberalismo, há fortes razões para supor que pelo menos uma
tempo de um novo poder. Flexibilidade gera desordem, mas determinada classe de problemas – aqueles relativos a políticas
não livra das limitações. A versão iluminista da flexibilidade de redistribuição – necessita da intervenção do Estado, tanto
de Smith imaginava que ela enriqueceria tanto ética quanto hoje, como no passado. Na situação atual, isso parece reque-
materialmente as pessoas; seu indivíduo flexível é capaz de rer a ajuda de conjuntos de regras internacionais, na medida
súbitas explosões de simpatia pelos outros. Uma estrutura de em que o Estado-nação não pode mais, sozinho, produzir e
caráter bastante diferente surge entre os que exercem o poder impor suas regras. Assim, os processos de mercado, livres
dentro desse complicado regime moderno. Eles são livres, do controle estatal, tendem a fazer com que a soberania dos
mas é uma liberdade amoral. estados constitucionais, e até sua legitimidade democrática,
degenerem, paulatinamente, em farsa.
Como se vê, os novos valores surgidos a partir desta As chamadas “forças de mercado” não são nem leis da natu-
realidade pós-moderna flexível e aparente revelaram novos reza, nem leis históricas com dignidade superior, às quais a
conceitos, não menos subjugadores da relação entre patrões política deveria sujeitar-se.
e empregados, já que se mantive o dualismo clássico entre (...) Cumpre salientar que o ataque mais profundo na direção
provém da exclusão social, a qual se amplia e agrava graças
capital e trabalho, impossível de ser superado dentro da lógica à globalização, como indicam as evidências empíricas. A
capitalista. exclusão se afirma inequivocamente às expensas do Estado
Democrático de Direito e do Estado do Bem-Estar Social;
Um novo mundo para uma nova forma de trabalho ela deslegitima o governo, pois faz com que o povo ativo, o
A dedução de que a terra deixou de ser apenas uma refe- povo enquanto instância de atribuição e o povo-destinatário
degenerem em “povo” como ícone. (grifo nosso).
rência astronômica para se re-significar enquanto sociedade
global, na qual as pessoas são reconhecidamente diferentes, Sob vários aspectos percebe-se que a reprodução global do
com culturas peculiares a cada povo, na forma de ser, agir, capital ocorre de forma intensa e irreversível. Compreendendo
sentir, pensar, querer, reivindicar, buscar, que são comple- principalmente as forças produtivas, através de iniciativas
tamente diversas, revelaram ao homem contemporâneo a como a divisão do trabalho social, a racionalização cada vez
certeza de que o globo não é apenas um conglomerado de mais apurada da produção, o investimento maciço em tecno-
países isolados ou inalcançáveis, mas transmutou-se em um logia, a busca incessante pela lucratividade, o consumismo,
novo tipo de sociedade. a descartabilidade das coisas e pessoas, enfim, a dinâmica
Essa inferência deu ao mundo uma roupagem de so- capitalista ganha contornos que dinamizam em escala mundial
ciedade global ou, para usar uma expressão de McLuhan a reprodução de sua lógica pungente.
(1971), aldeia global, cujos contornos ainda deixam pasmos Atualmente não há mais como se deixar de reconhecer a
os homens. Daí falar-se em cortes epistemológicos, rupturas inter-globalização do capitalismo, intensificada principalmente
de concepções que no passado deixavam todos mais seguros, após a segunda grande guerra mundial (1939 a 1945). Essa
e dos quais, seja através da ciência ou da história, o homem inter-globalização, também universalizou os mecanismos
foi radicalmente separado. Primeiramente foi tirado do cen- produtivos, fazendo com que os conglomerados empresariais
tro do universo, com a visão coperniana (século XVI) para possuam, sem dificuldades, sucursais em diversos países
depois deixar de ser filho de Deus, na perspectiva darwinista (internacionalização do capital), remunerando de diferentes
(século XIX). Em seguida deixa de ter plena consciência de formas, privilegiando e estabelecendo-se com mais afinco nos
domínio sobre as formas de produção, já que alienado, con- locais onde a mão-de-obra é farta e barata, a carga tributária
forme Marx (século XIX), para na sequência, Freud (século menor, a legislação flexível ou desregulamentada e os custos
XX) declarar que o homem é determinado pelo inconsciente, totais com a produção menos onerosos.
pelo que não sabe de si. Encontrou-se na leitura em Octavio Ianni uma formula-
Não fossem esses cortes narcísicos que efetivamente ção na qual foi identificada formulação em consonância com
operaram na humanidade clivagens extremamente importan- as ideias desenvolvidas neste artigo, no qual se entende que
tes para que a história operasse rumos inimagináveis, tem-se globalizam-se as instituições, os princípios jurídico-políticos,
em Adam Smith (século XVII) o reconhecimento de que há os padrões sócio-culturais e os ideais que constituem as
uma mão invisível que opera na economia e, a partir daí, a condições e os produtos civilizatórios do capitalismo. Esse
constatação de que se vive numa economia-mundo. é o contexto em que se dá a metamorfose da “industrializa-
Neste artigo, dada a necessidade de se determinar os ção substitutiva de importações” para a “industrialização
orientada para a exportação”, da mesma forma que se dá a
contornos que se pretende abordar, priorizar-se-á neste tópico desestatização, a desregulação, a privatização, a abertura de
uma análise que trate do conceito de mercado, considerando a mercados e a monitorização das políticas econômicas nacio-
dignidade da pessoa humana no trabalho, o talento e a atuação nais pelas tecnocracias do Fundo Monetário Internacional e
do trabalhador-consumidor, como contrapontos que devem do Banco Mundial, entre outras organizações multilaterais
ser considerados. e transnacionais. (2001, p. 58)
A propósito do conceito de mercado, cuja palavra faz Portanto, o que se assiste na atualidade, é uma homoge-
menção à negociação, mercancia, é ele o palco onde ocorrem neização da exploração pelo capital cada vez mais profunda,

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Trabalho, talento e consumo: o triunfo do objeto
Ana Maria Almeida Marques Dissertar
no sentido de subsumir o homem, reduzindo o valor do seu A mercadorização da força de trabalho (coisificação/reificação
conhecimento e até o sentido do próprio trabalho ao fenômeno do labor humano), cujos valores se diferenciam, dado que cada
econômico, fragilizando sua identidade social 3 construída, mercadoria tem um preço, se contrapõe à essência do próprio
principalmente, através do que produz 4. trabalho que Dejours (1999, p. 61) aponta como a necessária
Neste sentido, cede-se à retórica neoliberal, que situa os experiência com o real, que faz confrontar o homem com seus
trabalhadores em uma realidade pouco consistente, que fragi- sucessos e fracassos, humanizando, assim, o próprio processo.
liza não só sua autoestima, atingindo sua subjetividade, mas Portanto, para que a política trabalhista possa cumprir
também toca seu espectro social, resultando no que Marinina o papel que lhe é inerente, qual seja, se voltar para o cidadão
Gruska Benevides (2002, p. 287-288) descreve como uma nova (trabalhador), é imprescindível que na medida em que aceita
configuração do homem: a inserção de iniciativas que neguem o real do trabalho, pro-
Ganhando ou gastando dinheiro, o trabalhador não pode porcione ao homem condição de desenvolver-se plenamente,
alimentar a utopia do ócio no sentido antigo, ou seja, o tempo possibilitando-lhe encontrar sentido no trabalho, lembrando que
livre no qual ocorre a atividade criativa, porque o tempo é fun- a ideia do labor totalmente subordinado à ação mercadológica,
cional para o consumo permanente de mercadorias. Até mesmo leva ao aniquilamento da própria lógica societal, enquanto
os desempregados não escapam dessa ditadura, porque o tempo suporte identitário do homem. Nas palavras de Hannah Arendt
que têm disponível é para procurar trabalho ou caridade, num (1997b, p. 48): “o trabalho cria o homem e sua humanidade é
mundo onde sua pessoa se tornou desnecessária. Para quem resultado de sua própria atividade”.
ainda não se tornou desnecessário, as condições de trabalho O que se assiste então a partir da valorização de uma lógica
pioram, porque aumentam as exigências de desempenho nas que desprestigia o homem, ameaçando sua própria sobrevivência
empresas, sem que o trabalho consiga agregar sentido para os de forma digna e tranquila, violando seu caráter transformador
indivíduos. Estes estão sempre à procura de algum tempo livre e participativo no seio social, é uma verdadeira falência dos
para se libertarem da escravidão da ditadura do tempo, ainda que valores sociais, que acabam por fundamentar uma ideologia de
como consumidores das mercadorias provenientes da indústria mercado, erodindo o espaço político, deteriorando os funda-
da cultura. Enquanto isso, cresce a concorrência e decresce a mentos da democracia, tais como o senso cívico, a preocupação
solidariedade entre os empregados na luta generalizada pelas genuína com o outro, a capacidade crítica, contribuindo para
escassas oportunidades de trabalho mais bem remuneradas. uma fragilização da própria subjetividade: é um movimento
Portanto, no paradoxo da “liberdade é escravidão”, tudo que transforma literalmente o trabalhador em consumidor e,
se reduz ao econômico e as pessoas habitam um espaço total- por este consumo, tem ele um determinado valor5.
mente suspeito, no qual a segurança também é insegurança. Como leciona Sennett (2010, p. 168) “no início do capi-
Esta nova configuração humana, que debilita a sua iden- talismo a confiança nas relações comerciais surgiu pelo franco
tidade, desestabiliza as relações socialmente travadas, rompe reconhecimento da dependência mútua (...)” ao contrário dos
o sentido do trabalho enquanto parte essencial de sua estrutura dias de hoje, no qual há uma vergonha de depender e que este
subjetiva torna escasso o resultado objetivo que se busca pela sentimento “(...) corrói a confiança e o compromisso mútuos,
atividade laboral e deprecia o resultado do que se produz, e a ausência desses laços ameaça o funcionamento de qualquer
também tornando descartável objetos e pessoas, distanciando empreendimento coletivo”.
os interesses humanos (na dimensão coletiva), reduzindo o Por isso é possível entender que os valores pertinentes à
papel do Estado, flexibilizando a legislação e pouco conside- humanidade, devem preceder a racionalidade manifestada nos
rando a dignidade da pessoa humana enquanto valor máximo interesses preconizados pelo neo-liberalismo, sendo totalmente
da humanidade. essencial o reconhecimento e a valorização das diferenças, a
Não é, portanto, sem razão que Aldacy Rachid Coutinho aceitação de sucessos e principalmente fracassos bem como a
(1998, p. 17) dispõe que superação da indiferença ao outro que nos parece bastante arraigada.
(...) não ter trabalho não significa não ter o que comer, institui um Ricardo Antunes (2005, p. 37) comenta que “o mundo
não-ser. Ser trabalhador é constituir-se como tal, construir a sua produtivo do capital quer a “plenitude” de uma subjetividade
subjetividade como titular de direitos em uma relação jurídicas inautêntica e heterodeterminada”. Como se pensar a susten-
complexas e solidárias. A proteção se estabelece, então, como tabilidade de um sistema que ignora a singularidade de cada
inafastável na estrita medida em que na venda da força de trabalho trabalhador e que faz uso de sua força transformadora e somente
se constitui mais do que uma relação obrigacional patrimonializada,
abrindo espaço para situações jurídicas decorrentes de direitos o reconhece através dos signos do consumo?
da personalidade. (grifo nosso). Uma vez que as mudanças na sociedade não ocorrem
sem conflitos e, principalmente quando se faz referência ao
sistema capitalista, vê-se que as lutas travadas são silenciosas e
3
Manirina Gruska Benevides (2002, p. 67) preceitua que se deve entender por “ enigmáticas6. Nesse sentido Norberto Bobbio; Nicola Matteuci;
identidade social o processo de ser reconhecido e reconhecer a si próprio como
tal. Este processo emerge da relação dialética indivíduo/sociedade, relação esta
Gianfranco Pasquino (2000, p. 141) conceituam capitalismo
que, segundo Berger (1985 ; 1986), só pode ser compreendida na condição de destacando aqueles pontos que o diferencia dos demais sistemas,
se considerar concomitantemente a objetividade da realidade social de que nos como abaixo se transcreve:
fala Durkheim e as interpretações subjetivas dos atores sociais de que nos fala
Weber. Esta dupla perspectiva caracteriza o paradoxo da existência humana 5
Marinina Benevides (2002, p. 287) afirma que “o homem capitalista é um
: a sociedade nos define e é definida por nós. Ao definir aquilo que somos e
trabalhador condicionado pela ditadura da oferta do que deve consumir, num
fazemos, a sociedade cumpre a primeida condição básica de sua existência : o tempo que deve ser funcional para o consumo em todos os sentidos, inclusive
controle social.” (grifo nosso). no lazer, no qual o capital há muito se instalou”.
4
Sennet (2009, p. 35) trabalhando o conceito do artífice como o inquieto aduz 6
Silenciosas por não se assistir na atualidade conflitos violentos entre as classes;
que “(...) No mundo tradicional do oleiro ou do médico arcaico, os padrões de enigmáticas pela contradição que encerra o capitalismo por depender da relação
um bom trabalho eram fixados pela comunidade, à medida que a habilitação entre estas classes para manutenção de sua própria estrutura na concretização
ia passando de geração em geração (...)”. dos instrumentos de produção.

27
Dissertar Trabalho, talento e consumo: o triunfo do objeto
Ana Maria Almeida Marques

Algumas características que distinguem o capitalismo dos outros


modos históricos de produção são: a) a propriedade privada dos lhadoras: alguns encontrando na liberdade negociada uma saída
meios de produção, para cuja ativação é necessária a presença do para essa enigmática relação, fazendo renascer, por exemplo,
trabalhador assalariado formalmente livre; b) sistema de mercado a reafirmação de liberdades que haviam sido supostamente
baseado na iniciativa e na empresa privada, não necessariamente soterradas pelas iniciativas dos Estados.
pessoal; c) processos de racionalização dos meios e métodos A sociedade desvela contemporaneamente uma crise cujo
diretos e indiretos para a valorização do capital e a exploração
das oportunidades de mercado para efeito de lucro.
maior custo é a real dimensão dos impactos de tal realidade
para o mundo do trabalho principalmente para a integridade
Mais uma vez aqui fica patente que o capitalismo é um do trabalhador.
modo de permitir e de garantir a realização do capital, um sistema Ao que tudo indica, as políticas de flexibilização e des-
que não encontra limites para sua expansão e cuja dimensão regulamentação das normas trabalhistas têm funcionado como
encontra suporte mundial, já que se vale de um tripé cujas as apaziguadoras dos conflitos através do qual se vê uma atenuação
outras duas partes são compostas pelo trabalho e pelo Estado. do enfrentamento entre capital e trabalho, que atualmente parece
Mészáros apud Ricardo Antunes (2006, p. 22) sintetiza: ceder lugar a uma reconciliação que ao mesmo tempo invoca
Dada à inseparabilidade das três dimensões do sistema do capital, a participação da massa trabalhadora, através dos sindicatos,
que são completamente articuladas – capital, trabalho e Estado paradoxalmente a impede de acessar uma postura mais crítica
– é inconcebível emancipar o trabalho sem simultaneamente e mais participativa da realidade laboral.
superar o capital e também o Estado. Isso porque, paradoxal- Assiste-se a uma mudança de perspectiva que deixa de lado
mente, o material fundamental que sustenta o pilar do capital as preocupações com o homem trabalhador para voltar à atenção
não é o Estado, mas o trabalho, em sua contínua dependência
estrutural do capital (...). Enquanto as funções controladoras a uma preocupação com o emprego. Com isso os objetivos do
vitais do metabolismo social não forem efetivamente tomadas país passam pelo distanciamento do Estado de atribuições que
e autonomamente exercidas pelos produtores associados, mas deveriam ser mais intervencionistas, mais incisivas, garantidoras
permanecerem sob a autoridade de um controle pessoal separa- da manutenção das instituições democráticas e dos valores que
do (isto é, o novo tipo de personificação do capital), o trabalho amparam, por exemplo, a classe trabalhadora. É na verdade a
como tal continuará reproduzindo o poder do capital sobre si
mesmo, mantendo e ampliando materialmente a regência da travessia e busca de superação do resultado de um enigmático
riqueza alienada sobre a sociedade. (grifo nosso). processo que nasceu a partir da cisão entre produção e consumo,
o que gerou uma sucessão de incidentes contraditórios entre
Sem dúvidas o mundo mudou; sem dúvidas a velocidade abundância de oferta produtiva de alimentos versus a fome
da informação, ancorada na revolução tecnológica, contribuiu instalada nas comunidades produtoras; prosperidade de alguns
essencialmente para uma nova versão de mundo e organização em contraposição à miséria de outros; enfim, um contra-senso
do trabalho, que permeou transformações diversas, registrando distintivo do sistema capitalista. Neste sentido trata Ricardo
a história os passos até os dias atuais. Neil Postman (1994, p. Antunes (2005, p. 41) em O caracol e sua concha o que se segue
63) assim discorre: como ideia complementar ao que aqui se aborda:
Enquanto se multiplicavam os triunfos espetaculares da tecnolo- (...) a sociedade do consumo destrutivo e supérfluo, ao mesmo
gia, uma outra coisa estava acontecendo: velhas fontes de crença tempo em que cria necessidades múltiplas de consumo feti-
foram sitiadas. Nietzsche anunciou que Deus estava morto. chizado e estranhado, impede que os verdadeiros produtores
Darwin não foi tão longe, mas deixou claro que, éramos filhos da riqueza social participem até mesmo do universo (restrito e
de Deus, viemos a sê-lo por um caminho muito mais longo e manipulado) do consumo.
menos digno do que havíamos imaginado, e que no processo
tivemos alguns parentes estranhos e inconvenientes. Marx
argumentou que a história tinha sua agenda própria e nos esta-
va levando aonde devia levar, sem considerar nossos desejos. Considerações finais
Freud ensinou que não tínhamos nenhuma compreensão de Como se procurou demonstrar ao longo da discussão
nossas necessidades mais profundas e não podíamos confiar empreendida ao longo deste artigo, foi o próprio modelo assumido
nas maneiras tradicionais de raciocinar para descobri-las. John pela sociedade do trabalho, com o patrocínio do Estado e dirigida
Watson, o fundador do behaviorismo, demonstrou que o livre-
-arbítrio era uma ilusão e que nosso comportamento, no final, pela lógica do capital, centrada no mercado e no consumo, que
não era diferente do dos pombos. E Einstein e seus colegas tornou possível, através da massificação dos trabalhadores, o
nos disseram que não havia nenhum meio absoluto para julgar enfraquecimento dos sindicatos, o descentramento de diversas
algo em algum caso, que tudo era relativo. A verdade de um categorias laborais, favorecendo a cultura do individualismo,
século de erudição teve o efeito de fazer com que perdêssemos a a subsunção dos valores que dão sentido ao trabalho, dando
confiança em nossos sistemas de crença e, por conseguinte, em
nós mesmos. Em meio aos escombros conceituais, restou uma a este um caráter multifacetado7 e corroído, tal como analisa
coisa segura na qual acreditar – a tecnologia. O que quer que Sennett (2010, p. 175), pela inserção da indiferença nas relações
possa ser negado ou transigido, está claro que os aviões voam, sociais, promovida pela própria organização do sistema sócio-
os antibióticos curam, os rádios falam e, como sabemos agora, político e econômico.
os computadores calculam e nunca comentem erros – somente
os humanos defeituosos erram (o que Frederick Taylor estava Assim se viram subverterem ou mudarem valores, noções
tentando nos dizer o tempo todo). (Grifo nosso). cívicas, conceitos morais, categorias antes hegemônicas na luta
pelos direitos, que atualmente não mais se articulam, pela mundia-
O mercado de trabalho e principalmente os trabalhadores, lização (ou monetarização) que as encerra: é a divisão do trabalho
também assolados pela crise de valores e crenças da humani- globalizado que se utiliza de mão-de-obra fixamente localizada,
dade, igualmente tiveram poucas condições para absorver os orientada por uma construção inter-subjetiva que, ao invés de pri-
desafios impostos por esta nova realidade. Como decorrência, vilegiar a interação humana, privilegia a mercantil, proporcionada
cada nação com suas peculiaridades culturais, encontraram também através do fascínio promovido pela mercadoria.
um meio de lidar com essas realidades diferenciadas, criando
modelos de estabelecimento de diálogo com as classes traba- 7
Expressão de Ricardo Antunes (2005) usada em seu livro “O caracol e sua concha”.

28
Trabalho, talento e consumo: o triunfo do objeto
Ana Maria Almeida Marques Dissertar
Trabalho, talento e consumo dizem respeito a uma tríade Essa nova ética fragiliza a confiança e a lealdade que
cuja interação resulta na reificação do trabalho e do trabalhador, naturalmente surge entre os iguais, assim como o compromisso
dificultando ao sujeito o processo de desenvolvimento de uma para com os pactos estabelecidos com o outro. É uma ética que
identidade social, possível de se estruturar apenas pelo convívio prima pela independência, pela individualidade; uma nova
em comunidade, pelo fato de que a identidade, no dizer de An- ética que, através especialmente do trabalho em grupo, exerce
thony Giddens (2005, p. 44) “envolve uma dimensão coletiva”. sobre o trabalhador uma pressão com a qual tem de lidar em
A idéia de talento, diferente daquela que se liga ao re- seu cotidiano.
conhecimento de habilidades específicas do trabalhador no Sennett (2010, p. 126) indica nos dias de hoje se privilegia
desenvolver de seu ofício, se liga na atualidade à ideia do uma ética de grupo em detrimento de uma ética do indivíduo.
sujeito possuir condições para se adaptar às exigências desta “[...] Ética de grupo em oposição à ética do indivíduo, o tra-
nova sociedade do trabalho, cujos parâmetros privilegiam o balho em equipe enfatiza mais a responsividade mútua que a
quantitativo em depreciação ao qualitativo, tornando objeto e confirmação pessoal”.
padronizando o que objeto não é. É o trabalho em curto prazo submetido à vigilância constante
Sennett (2006, p. 131) indica que as organizações em dos iguais que entre si rivalizam, levando a uma convivência
geral tendem a valorizar as “capacitações humanas portáteis”, grupal degradante e superficial, numa falsa “reconciliação”
aquelas capacitações que não se concentram em uma só ativi- entre os interesses da organização e os particulares.
dade, mas que sob o signo da polivalência, são capazes de dar Percebe-se, assim, que há uma hegemonia no que se con-
conta dos mais variados desafios, sem necessariamente haver sidera o processo global de produção e consumo da mercadoria,
um tempo ou método previamente estipulados: é o trabalhador vertentes ligadas ao perfil profissional exigidos ao trabalhador
pró-ativo, envolvido, que não precisa pensar, mas executar e pelo mercado, que paradoxalmente reificam o humano, ao
estar completamente engajado ao seu munus. mesmo tempo em que busca, através da mercadoria, humani-
Nesta mesma lógica se inclui o trabalhador-consumidor, zar o consumo: é a consolidação de um modelo cujo efeito é a
que não reconhece mais uma carreira ou estabilidade no seu própria dissolução do indivíduo enquanto ser transformador;
ofício. Pelo contrário, a descartabilidade do trabalho e das é o esvaziamento de sentidos do trabalho e até da própria vida;
relações que este encerra e a facilidade com que se muda de é o triunfo do objeto.
um lugar para outro, bem como a prioridade na defesa de si
enquanto indivíduo (único e singular) retira do sujeito o sentido
do trabalho como realizador e compensador de seus esforços Referências
comunitários, adiando suas recompensas para o momento de AIRES, Mariella Carvalho de Farias. A eficácia horizontal dos direitos
poder adquirir um bem e ser por ele reconhecido, através dos fundamentais no contrato de trabalho a partir da Constituição Federal
recursos financeiros conquistados. de 1988. Revista de Direito do Trabalho, v. 33, n. 128. p. 125-154,
Tal reconhecimento, então, se dá na esfera do mercado out./dez. 2007.
que não suporta prejuízos e, com toda a evidência, busca o ANTUNES, Ricardo. O caracol e sua concha. Ensaios sobre a nova
lucro. Na esfera humana, o fracasso faz parte do processo de morfologia do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2005.
crescimento e é elementar no desenvolvimento e aperfeiçoa- ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho. Ensaio sobre a afirmação
mento de habilidades específicas. e negação do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2006.
A clivagem que se opera entre o que constitui o mercado ARENDT, Hannah. A dignidade da política: ensaios e conferências.
e o que define a natureza humana do trabalhador, sob a ótica da Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1993.
racionalidade econômica (que prepondera), guarda um extremo ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. 4. ed. São Paulo:
paradoxo que, incontestavelmente faz com que se mantenham Perspectiva, 1997b.
incluídos aqueles capazes de lidarem com as exigências deste BENEVIDES, Manirina Gruska. Liberdade é escravidão: uma visão
novo perfil profissional e, em contrapartida, exclui os não são orwelliana das memórias do processo de informação institucional do
ou não possuem condições de atendê-las. Banco do Brasil (1984-2000). Fortaleza: LCR, 2002.
Portanto, o discurso de liberdade e igualdade nas relações BEYNON, Huw; RAMALHO, José Ricardo; MCILROY, John e
de trabalho e que resultam na própria liberação do indivíduo, ANTUNES, Ricardo (org.). Neoliberalismo, trabalho e sindicatos:
funcionam como simulacros, pois o número de trabalhadores Reestruturação produtiva na Inglaterra e no Brasil. Rio de Janeiro:
que se adaptam a essa nova realidade é pequeno frente àqueles Boitempo, 2001. Coleção Mundo do Trabalho.
que dela são excluídos. BOBBIO, Norberto; MATTEUCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco.
A competência ou o talento não são suficientes para ga- Dicionário de política. 5. ed. Brasília: EdUnB/ São Paulo: Imprensa
rantir ao indivíduo a condição para permanecer no trabalho; o Oficial do Estado de São Paulo, 2000.
mal estar causado pela sensação de inutilidade ou incapacida- COUTINHO, Aldacy Rachid. Direito do Trabalho de emergência. Re-
de, afeta diretamente a dimensão do reconhecimento social, vista da Faculdade de Direito da UFPR, Curitiba, ano 30, n. 30, 1998.
por barrar a possibilidade do exercício do trabalho enquanto DEJOURS, Christophe. A banalização da injustiça social. Rio de
contribuição para o crescimento de toda a coletividade e do Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1999.
próprio trabalhador. GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.
Resta falar acerca do consumo como o signo que marca
HOFFMANN, Fernando. O princípio da proteção ao trabalhador e
o lugar da contradição de todo o sistema e sua lógica, tanto
atualidade brasileira. São Paulo: LTr, 2003.
por definir o modo de funcionamento da estrutura capitalista,
bem como distanciar os sujeitos uns dos outros pela rivalidade HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos
conflitos sociais. São Paulo: Editora34, 2003.
e status proporcionados pela posse da mercadoria. Tal distan-
ciamento ao mesmo tempo em que é necessário, inaugura uma HONNETH, Axel. Trabalho e reconhecimento: tentativa de uma
nova ética nas relações, balizada pelo ter em detrimento do ser. redefinição. Civitas, Porto Alegre, Jan-abr. 2008.

29
Dissertar Trabalho, talento e consumo: o triunfo do objeto
Ana Maria Almeida Marques

IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. 9. ed. Rio de Janeiro:


Civilização Brasileira, 2001.
LANCAMAN; SZNELWAR; JARDIM. Sofrimento psíquico e en-
velhecimento no trabalho: um estudo com agentes de trânsito. Rev.
Ter. OcuPg. Univ. São Paulo [online], vol. 17, no. 3, 2006, p. 129-
136. Disponível em <http://www.revistasusPg.sibi.usPg.br/scielo.
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VIANA, Márcio Túlio. A Lei 9.601/98 e a constituição. In: RENAULT,
Luiz Eduardo Linhares et al. O novo contrato a prazo: crítica, teoria
e prática da Lei 9.601/98. São Paulo: LTr, 1998.
VIANA, Márcio Túlio. Direito de resistência. São Paulo: LTr, 1996.

Artigo enviado em 23/08/2015, aceito em 02/11/2015

30
Dissertar

Inovação tecnológica:
um estudo das empresas do estado da Paraíba
Technological innovation:
a study of companies in the state of Paraíba
Inovación tecnológica:
um estudio de las empresas del Estado de Paraíba

As razões que levam as empresas The reasons that leads the com- Las razones que llevan a las
a buscarem inovações são muitas e, panies to seek for innovations are empresas a buscar innovaciones son
nesse sentido, identificar os motivos many, and in this sens, to identify the muchas y, en este sentido, identificar los
que orientam as organizações a motives that drive the organizations motivos que orientan a las organizacio-
inovarem auxilia a compreender as to innovate helps to understand the nes a innovar auxilia acomprender las
forças que conduzem as atividades forces that leads to the innovation fuerzas que conducen las actividades de
de inovação. Assim, este estudo se activities. Thus, this study is justified innovación. Así, este estudio se justifica
justifica pela necessidade de conhecer by the need to know the degree of por la necesidad de conocer el grado
o grau de inovação das empresas e innovation of organizations and has de innovación de las empresas y tiene
tem como objetivo geral descrever o the general objective to describe the como objetivo general describir el nivel
nível atual de inovação das empresas current level of innovation of Para- actual de innovación de las empresas
paraibanas e de maneira específica íba companies and specifically the paraibanas y de manera específica el
o retrato nas regiões da capital, picture in the regions of the capital, retrato en las regiones de la capital, de la
da cidade de Campina Grande e and of Campina Grande and Sousa ciudad de Campina Grande y de Sousa,
de Sousa, conforme metodologia cities, according to the methodology conforme metodología desarrollada con
desenvolvida com base no Radar developed based on the Innovation base en el Radar de la Innovación creado
da Inovação criado pelo professor Radar created by Professor Mohanbir por el profesor Mohanbir Sawhney. En
Mohanbir Sawhney. Neste estudo foi Sawhney. This study adopted a scale este estudio fue adoptada una escala
adotada uma escala para classificar to rank the company in a systemic para clasificar las empresas en una
as empresa em uma organização innovative organization, an occa- organización innovadora sistémica,
inovadora sistêmica, uma orga- sional innovative organization or an una organización innovadora ocasional
nização inovadora ocasional ou organization little or nothing innova- o una organización poco o nada inno-
uma organização pouco ou nada tive. The survey data were collected vadora. Los datos de la investigación
inovadora. Os dados da pesquisa during the year 2014 and the sample fueron recolectados durante el año de
foram coletados durante o ano de was composed with proportionality 2014 y la muestra fue compuesta con
2014 e a amostra foi composta com between large, medium and small proporcionalidad entre empresas de
proporcionalidade entre empresas de companies, the various branches of grande, medio y pequeño porte, además
grande, médio e pequeno porte, ainda existing activities in the areas surveyed fueron considerados los diversos ramos
foram considerados os diversos ramos were also found. The collected data de actividades existentes en las regiones
de atividades existentes nas regiões were organized and placed on a table estudiadas. Los datos recolectados
pesquisadas. Os dados coletados showing the relationship between the fueron organizados y dispuestos en una
foram organizados e dispostos em aspects evaluated innovation, the planilla demostrando la relación entre
uma tabela demonstrando a relação score and the classification obtained los ítems de innovación evaluados, la
entre os itens de inovação avaliados, for the general mean for businesses, puntuación y la clasificación obtenida,
a pontuação e a classificação obtida, and each of the three regions studied. en el promedio general de las empresas
para a média geral das empresas e em Following the graphics were designed y en cada una de las tres regiones estu-
cada uma das três regiões estudadas. on the radar way for the three regions diadas. En secuencia se diseñaron los
Na sequência foram desenhados os and the average for the companies. gráficos en forma de radar para las tres
gráficos na forma radar para as The results obtained from the sample regiones y para el promedio general de
três regiões e para a média geral of enterprises in the regions of João las empresas. Los resultados obtenidos
das empresas. Os resultados obtidos Pessoa, Campina Grande and Sousa junto a la muestra de las empresas de
junto à amostra das empresas das (Paraíba) showed that companies are las regiones de João Pessoa, Campi-
regiões de João Pessoa, Campina not innovative in a systematic way na Grande y Sousa demostraron que
Grande e Sousa demonstraram que and that some items are occasional. las empresas paraibanas aún no son
as empresas paraibanas ainda não innovadoras de forma sistémica y que
são inovadoras de forma sistêmica e en algunos ítems son ocasionales.
que em alguns itens são ocasionais.

31
Dissertar Inovação tecnológica: um estudo das empresas do estado da Paraíba
Elídio Vanzella

Palavras-chave: Inovação, Organizações, Paraíba. da destruição criativa afirmando: Incessantemente destruindo


a velha, incessantemente criando uma nova (SCHUMPETER,
Autores: 1984). O autor afirma ainda que o impulso fundamental que inicia
Elídio Vanzella e mantém o movimento da máquina capitalista decorre de novos
Professor da Estácio de João Pessoa, PB. Doutorando em bens de consumo, dos novos métodos de produção ou transporte,
Modelos de Decisão e Saúde (estatística). Mestre em Modelos dos novos mercados, das novas formas de organização industrial
de Decisão em Saúde. Especialista em Gestão de Pessoas. que a empresa capitalista cria. Por essa ótica, o desenvolvimento
Graduado em Administração. econômico é impulsionado por um conjunto de inovações, visto
Email: evanzella@yahoo.com.br que é o fato gerador do que ele chama de destruição criativa nos
mercados, ao mesmo tempo em que cria, destrói – produzindo
Introdução uma contínua mutação industrial (FUCK; VILHA, 2012) que
Entre as frases atribuídas a Albert Einstein está a que incessantemente revoluciona a estrutura econômica a partir de
imaginação é mais importante que a ciência, porque a ciência é dentro, incessantemente destruindo a velha, incessantemente
limitada, ao passo que a imaginação abrange o mundo inteiro. criando uma nova (SCHUMPETER, 1984). Essa dinâmica promove
Então podemos associar a imaginação com o primeiro passo um permanente estado de inovação, substituição de produtos e
para a inovação tecnológica, que no entendimento de Plonski criação de novos hábitos de consumo, exaltando as firmas ino-
(2005), vem sendo crescentemente invocada como estratégias vadoras em um contexto de desequilíbrio e incerteza (FUCK;
para redimir empresas, regiões e nações de suas crônicas VILHA, 2012). A inovação tecnológica desencadeia uma série de
aflições econômicas e para promover o seu desenvolvimento. transformações, difundindo-se em novos processos e produtos,
Por esse motivo, a implementação de políticas eficazes de es- afetando os hábitos e os costumes sociais institucionalizados em
tímulo à inovação tecnológica tornou-se, a partir dos anos 90, toda a sociedade (CONCEIÇÃO, 2000).
um dos eixos estruturantes da atuação da Organização para É importante ressaltar a diferença entre melhoria e ino-
a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico - OCDE, que vação, pois conforme assevera Queiroz (2012), erroneamente
abrange países comprometidos com a democracia pluralista e o mercado entende que uma alteração de um processo interno
a economia de mercado (PLONSKI, 2005). da organização ou uma modificação de um piso antiderrapante
No Brasil, por meio das leis 10.973, de 02 de dezembro de na entrada da fábrica poderiam ser inovações, mas não se ca-
2004 que criou medidas de incentivo a inovação e a pesquisa, racterizam como tal e sim como melhorias. Para Fuck e Vilha
da lei 11.196, de 21 de novembro de 2005, para desonerar os (2012) três equívocos conceituais frequentes no entendimento
investimentos realizados em projetos de inovação e do Decreto da inovação tecnológica merecem tratamento: reducionismo
nº 5.798, de 08 de junho de 2006, que regulamentou os incen- (considerar inovação apenas a de base tecnológica), encanta-
tivos fiscais à inovação, o governo, pelo menos no campo das mento (considerar inovação tecnológica apenas a espetacular) e
intensões e por meio de um arcabouço jurídico, reconheceu a descaracterização (relaxar o requisito de mudança tecnológica
inovação tecnológica como um dos fatores para o desenvolvi- dessa inovação). Assim, inovação é um fenômeno socioeconô-
mento do país em um contexto econômico globalizado. mico, que envolve mudanças e empreendedorismo e não uma
As razões que levam as empresas a buscarem inovações ocorrência de caráter predominantemente técnico decorrente
são muitas e podem abarcar mercados, aumento da eficiência de avanços das ciências experimentais.
nos processos, produtos novos ou melhores, capacidade de É necessário compreender por que as empresas precisam
aprendizado e de aceitação de mudanças e nesse sentido iden- buscar a inovação. A principal razão é para melhorar seu de-
tificar as razões que levam as empresas a inovarem auxilia a sempenho em um mercado cada vez mais competitivo, mais
compreender as forças que conduzem as atividades de inovação, eficiência, redução de custos e aumento de produtividade refletem
tais como a competição e as oportunidades em novos mercados. diretamente na rentabilidade da organização. Um novo produto
Assim, este estudo se justifica pela necessidade de conhecer o ou processo pode ser uma fonte de vantagem mercadológica para
grau de inovação das empresas do Estado da Paraíba, cenário o inovador. No caso de inovações de processo que aumentam a
da pesquisa, para orientar o planejamento de medidas gover- produtividade, a empresa adquire uma vantagem de custo sobre
namentais ou privadas para o incentivo a inovação. Por isso, seus competidores permitindo uma margem sobre custos mais
este trabalho tem como objetivo geral descrever o nível atual elevados para o preço de mercado prevalecente ou, dependendo
de inovação das empresas paraibanas e de maneira específica da elasticidade da demanda, o uso de uma combinação de preço
o retrato nas regiões da capital, da cidade de Campina Grande menor e margem sobre custos maior em relação a seus competido-
e de Sousa, conforme metodologia desenvolvida com base no res, para ganhar fatias de mercado e aumentar os lucros (OECD,
Radar da Inovação criado pelo professor Mohanbir Sawhney, 2006). No caso da inovação de produto, a empresa pode ganhar
diretor do Center for Research in Technology & Innovation, uma vantagem competitiva por meio da introdução de um novo
da Kellogg School of Management, Illinois, EUA. produto, o que lhe confere a possibilidade de maior demanda e
maiores margem sobre custos (OECD, 2006).
Referencial Teórico As dimensões da inovação, transcritas abaixo, são resumos
Ao economista e cientista político Joseph Schumpeter do trabalho original de Mohanbir Sawhney sobre a Ambiência
atribui-se a origem do conceito de inovação, pois em seus trabalhos inovadora, incorporada à metodologia de medida do Grau de
demonstrou que inovar é produzir outras coisas, ou as mesmas Inovação. Assim, de acordo com Sawhney, Wolcott e Arroniz
coisas de outra maneira, combinar diferentemente materiais e (2006) temos que a oferta, se refere aos produtos oferecidos pela
forças, enfim, realizar novas combinações (FUCK; VILHA, empresa ao mercado e os clientes são pessoas ou organizações
2012). Ao longo de sua produção intelectual, o autor foi progressi- que usam ou consomem produtos para atender a determinadas
vamente sofisticando sua análise das fontes da inovação e em seu necessidades. Na sequência, os processos são as configurações das
livro Capitalismo, Socialismo e Democracia, propôs o conceito atividades usadas na condução das operações internas à empresa.

32
Inovação tecnológica: um estudo das empresas do estado da Paraíba
Elídio Vanzella Dissertar
A inovação, nesta dimensão, pressupõe reprojetar seus processos Os dados da pesquisa foram coletados, durante o ano de
para buscar maior eficiência, maior qualidade ou um tempo de 2014, nas empesas estabelecidas em três regiões do Estado da
resposta menor. A presença ou praça está relacionada aos canais Paraíba. A região litorânea onde está localizada a capital do
de distribuição que a empresa utiliza para colocar seus produtos estado, João Pessoa, a região do agreste com destaque para a
no mercado e também aos locais em que esses itens podem ser cidade de Campina Grande e por fim a região do sertão onde está
adquiridos pelos consumidores. A inovação, aqui, significa a localizada a cidade de Sousa. A amostragem, embora tenha sido
criação de novos pontos, ou a utilização dos já existentes de forma realizada por conveniência, procurou respeitar os estratos das
criativa. A próxima dimensão, pessoas ou relacionamento está empresas de cada região, desta forma a amostra foi composta
originalmente denominada de experiência do cliente, leva em com proporcionalidade entre empresas de grande, médio e pe-
conta tudo que o consumidor vê, ouve, sente ou experimenta de queno porte e também foram considerados os diversos ramos
algum modo ao interagir com a empresa em todos os momentos. de atividades existentes nas regiões pesquisadas.
A sexta dimensão é plataforma, trata-se do nome dado a um A amostra foi composta por um total de 42 empresas,
conjunto de componentes comuns, métodos de montagem ou a sendo que a região litorânea, que foi denominada João Pessoa,
tecnologias que são usadas, de forma modular, na construção de constituiu-se de 23 empresas. Para a região do agreste, neste
um portfólio de produtos. O entendimento é de que a habilidade estudo nomeada Campina Grande, foi composta por 12 orga-
em usar uma mesma plataforma para oferecer um maior número nizações e por fim a região do sertão, definida como Sousa,
de produtos reflete uma maior capacidade inovadora. Na sequência foram pesquisadas 7 empresas.
temos a marca e esta é entendida como o conjunto de símbolos, Os dados coletados foram organizados, calculados e dispostos
palavras ou formatos pelos quais uma empresa transmite sua em uma tabela demonstrando a relação entre os itens de inovação
imagem, ou promessa, aos clientes. Para a dimensão organização avaliados, a pontuação e a classificação obtida, para a média ge-
observa-se que se refere ao modo como a empresa esta estrutura- ral das empresas e em cada uma das três regiões estudadas. Na
da, quais as parcerias estabelecidas e o papel e responsabilidade sequência foram desenhados os gráficos na forma radar para as
dos colaboradores. A nona dimensão trata da cadeia de forne- três regiões e para a média geral das empresas.
cimento que corresponde à sequência de atividades e de agentes
que movem os produtos, serviços e informações da origem à Análise dos dados
entrega. Abrange, portanto, os aspectos logísticos do negócio, Após a análise dos dados foram registrados, conforme
como transporte, estocagem e entrega. A penúltima dimensão tabela1, importantes achados, pois se destacou o fato que con-
é a ambiência inovadora, sendo a forma de avaliar o ambiente siderando a pontuação média das 42 empresas avaliadas não
propício à Inovação. É medir a fração da equipe que é composta existe nenhum item avaliado com pontuação cinco, valor que
por profissionais com formação voltada para a pesquisa. Assim, confere a empresa, o nível de organização inovadora sistêmica.
a quantidade de colaboradores com mestrado ou doutorado pode
ser um fator relevante. Outro aspecto que caracteriza as organi- Tabela 1
zações com disposição para inovar é a existência de mecanismos, Grau de inovação das empresas das três regiões e geral do
como programas de sugestões, que incentivem os colaboradores a Estado da Paraíba, 2014
apresentar ideias. A última dimensão trato dos resultados, onde
Grande Grande Campina
uma solução é a combinação customizada e integrada de bens, Em relação a:

Geral
João Pessoa Grande Sousa
serviços e informações capazes de solucionar o problema do cliente. Pontos Classif. Pontos Classif. Pontos Classif. Pontos Classif.
Oferta 3,9 B 3,9 B 4,0 B 3,7 B
Metodologia
Clientes 2,8 C 2,6 C 3,2 B 3,0 B
O Radar da Inovação, que considera as dimensões nas quais
uma empresa pode inovar; criado pelo professor Mohanbir Sawh- Processos 3,2 B 3,5 B 2,5 C 3,6 B
ney foi a metodologia utilizada para medir o Grau de Inovação Presença 2,0 C 2,0 C 2,0 C 2,0 C
das empresas do Estado da Paraíba. O Radar da Inovação reúne Pessoas 3,2 B 3,2 B 3,0 B 3,3 B
quatro dimensões principais: As ofertas criadas; Os clientes aten- Plataforma 2,8 C 2,8 C 2,3 C 3,7 B
didos; Os processos empregados e Os locais de presença usados. Marca 2,7 C 2,5 C 2,8 C 3,4 B
Entre estas, são apontadas mais onze dimensões que devem ser Organização 3,0 B 3,2 B 3,0 B 2,7 C
observadas. Complementando a abordagem de Sawhney, foi Cadeia de
adicionada uma dimensão denominada Ambiência inovadora, 2,8 C 2,7 C 2,7 C 3,6 B
Fornecimento
que avalia a existência de um clima organizacional propício à Ambiente
inovação, requisito importante para uma empresa inovadora. A 2,0 C 2,2 C 1,6 C 2,1 C
de Inovação
metodologia adotada admite que a inovação não seja um evento Resultados 3,1 B 3,3 B 2,8 C 3,1 B
ou fato isolado, mas fruto de um processo e o indicador, resul-
tante da média dos escores (grau de maturidade) de cada uma
Escore Classe Situação
das dimensões da inovação, obtido pela pontuação de 42 itens
= ou > 5 Pontos A Organização inovadora sistêmica
objetivos, resulta em uma métrica útil para mensurar o Grau
de Inovação nas micro e pequenas empresas (SEBRAE, 2010). 3 a 4,9 Pontos B Organização inovadora ocasional
Neste estudo foi adotada uma escala com três situações 0 a 2,9 Pontos C Organização muito pouco ou nada inovadora
e com uma pontuação variando de 1 a 5, onde a empresa que Fonte: Elaborada pelo autor
obtém cinco pontos e considerada uma organização inovadora
sistêmica (A), com 3,0 até 4,9 pontos uma organização inova- Em função da importância do tema seria ideal que a média
dora ocasional (B) e foi considerada uma organização pouco das empresas apresentasse resultados que as caracterizassem
ou nada inovadora (C) aquela que obteve pontuação 1,0 até 2,9. como inovadoras sistêmicas ou pelo menos na maioria dos itens

33
Dissertar Inovação tecnológica: um estudo das empresas do estado da Paraíba
Elídio Vanzella

assim fossem descritos, mas a realidade que emergiu foi que


apenas os itens oferta, processos, pessoas, organização e resul- De acordo com o gráfico 2 as empresas da região de João
tados apresentaram classificação B, ou seja, empresa inovadora Pessoa apresentam em seus resultados valores distribuídos de
ocasional. O padrão foi observado também por região, pois as maneira muito similar a média encontrada no Estado, onde os
notas médias das empresas analisadas, por item de inovação, foi itens de pior avaliação são ambiente de inovação e presença,
B em apenas alguns itens, sendo que a região se Sousa apresentou os demais itens possuem valores aproximados entre si, mas
uma proporção maior nesse quesito que as demais regiões. baixos, o que faz com que na média as empresas da região de
Observando a tabela 1, constatasse que os itens oferta e João Pessoa não sejam consideradas como inovadoras.
pessoas foram os únicos que nas três regiões apresentaram o  
mesmo indicador, o de organização inovadora ocasional, de- Gráfico 3 – Situação de inovação das empresas
monstrando que mais estudos devem ser realizados para orientar da região de Campina Grande - 2014
trabalhos visando melhorias nas organizações e a consequente
evolução no perfil como empresa inovadora.
A análise dos resultados por meio de gráfico radar trouxe
a luz importante constatações.

Gráfico 1 – Situação geral de inovação das empresas


do Estado da Paraíba - 2014

Fonte: elaborado pelo autor

As empresas da região de Campina Grande tem sua


notas médias descritas no gráfico 3 e por meio dele é possível
constatar que apresenta forma mais anômala que os demais e
esse fenômeno se deve ao fato que os itens pesquisados não
recebem o mesmo tratamento nas organizações e prestigiar
Fonte: Elaborado pelo autor determinadas áreas em detrimento de outras pode gerar dese-
quilíbrio na empresa, pois a maximização dos resultados de
O Gráfico 1apresenta a situação geral de todas as empresas uma organização, todas as áreas devem trabalhar em sintonia
pesquisadas e por ele é possível constatar que os itens presença e e com sua participação de importância.
ambiente de inovação são os que apresentam menor pontuação,  
ainda que, o item oferta apresenta o valor mais alto e embora Gráfico 4 – Situação de inovação das empresas
os demais valores estejam abaixo do ideal, eles apresentam da região de Sousa – 2014
valores aproximados entre si, o que pode ser um indicador de
certo equilíbrio organizacional.

Gráfico 2 – Situação de inovação das empresas


da região de João Pessoa - 2014

Fonte: elaborado pelo autor

A região de Sousa foi descrita no gráfico 4 e nele observa-


-se que oito dos onze itens avaliados apresentam valor igual ou
Fonte: elaborado pelo autor maior que 3, o que caracteriza a organização como inovadora

34
Inovação tecnológica: um estudo das empresas do estado da Paraíba
Elídio Vanzella Dissertar
empresarial, Faculdade Boa Viagem, Recife, 2012. Disponível em
ocasional, sendo este o melhor resultado das três regiões ava-
http://favip.edu.br/arquivos/inez_queiroz.pdf. Acesso em 01 fev. 2015
liadas. No entanto os itens presença, ambiente de inovação e
organização apresentam resultado muito baixos e isso faz com SAWHNEY, Mohanbir. WOLCOTT, Robert C.; ARRONIZ, Inigo.
The 12 Different Ways for Companies to Innovate. MIT Sloan Mana-
que o equilíbrio organizacional seja comprometido.
gement Review, 2006.
Considerações finais SCHUMPETER, Joseph. Capitalismo, Socialismo e Democracia. Rio
Para as empresas inovação é essencial para melhorar de Janeiro: Zahar Editores S.A., 1984.
seu desempenho e melhorar a rentabilidade, mas inovação SEBRAE. Agentes Locais de Inovação: Uma medida do progresso nas
em uma empresa é resultado de uma administração focada no MPEs do Paraná. Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do
futuro, com visão estratégica e cultura organizacional voltada Paraná – SEBRAE-PR. Curitiba, 2010.
para aceitar mudanças. Então não basta uma empresa almejar
a inovação para se tornar uma organização com inovação
sistêmica, é preciso estudo, planejamento, treinamento e uma
comunicação eficiente entre todas as áreas.
Os resultados obtidos junto à amostra das empresas das
regiões de João Pessoa, Campina Grande e Sousa demonstraram
que conforme a média das pontuações obtidas nos itens oferta,
clientes, processos, presença, pessoas, plataforma, marca,
organização, cadeia de fornecimento, ambiente de inovação e
resultados, as empresas paraibanas ainda não são inovadoras
de forma sistêmica, em alguns itens são ocasionais.
Este estudo atingiu seu objetivo ao medir, conforme a
metodologia proposta, o grau de inovação, em uma amostra,
das empresas paraibanas nas três regiões selecionadas, mas é
importante salientar que em função da complexidade, varie-
dade de atividades e da quantidade de empresas que atuam
no estado, o estudo apresenta limitações e neste sentido este
trabalho apresenta a proposta para que mais pesquisas sejam
feitas e de forma específica, por áreas de atividade, porte das
empresas e por regiões específicas, pois somente desta forma
será possível uma análise mais detalhada e precisa da situação.

Referências
BRASIL, Lei nº 10.973, de 02 de dezembro de 2004. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.973.
htm. Acesso em 02 fev. 2015.
BRASIL, Lei nº 11.196, de 21 de novembro de 2005. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11196.
htm. Acesso em 02 fev. 2015.
BRASIL, Decreto nº 5.798, de 08 de junho de 2006. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/decreto/
d5798.htm. Acesso em 03 fev. 2015.
CONCEIÇÃO, Octavio. A centralidade do conceito de inovação
tecnológica no processo de mudança estrutural. Ensaios FEE, Porto
Alegre, v.21, n.2, p.58-76, 2000.
FUCK , Marcos Paulo; VILHA, Ana patrícia Morales . Inovação
Tecnológica: da definição à ação. Contemporâneos Revista de Arte e
Humanidades. N. 9, abril 2012. Disponível em: http://www.revista-
contemporaneos.com.br/n9/dossie/inovacao-tecnologica.pdf. Acesso
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Manual de Oslo – Diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre
inovação, OECD – tradução FINEP, Brasília, 2006.
PLONSKI, Guilherme Ary. Bases para um movimento pela inova-
ção tecnológica no Brasil. Perspec. São Paulo, 2005. Disponível
em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0102-
-88392005000100002&lng=en&nrm=iso. Acesso em 01 fev. 2015
QUEIROZ, Inêz Pereira de Melo. Gestão da Inovação: A Percepção do
Desempenho da Implantação do Projeto Agentes Locais da Inovação
do SEBRAE –PE. Dissertação de mestrado profissional em gestão Artigo enviado em 10/03/2016, aceito em 26/03/2016

35
Dissertar

Interdisciplinaridade na graduação tecnológica de gestão de recursos


humanos - praticando competências e habilidades aprendidas
Interdisciplinarity at graduation technology human resources
management - practicing skills and skills learned
Interdisciplinariedad en gestión de recursos humanos de tecnología
de graduación - habilidades y competencias practicando aprendidas

Este artigo apresenta uma ex- This paper presents an inter- Este artículo presenta una expe-
periência de interdisciplinaridade na disciplinary experience in Estacio de riencia interdisciplinaria en la Univer-
Universidade Estácio de Sá – campus Sa University - campus Teresópolis, sidad Estácio de Sá - campus Teresó-
Teresópolis – que consiste na integra- consisting in the integration of dis- polis, que consiste en la integración de
ção de disciplinas do mesmo eixo, ciplines on the same axle, students disciplinas en el mismo eje, estudiantes
de alunos de períodos e de cursos periods and different courses, with de períodos diferentes cursos, con los
diferentes, com núcleos de traba- providers working core services for proveedores de servicios principales de
lho prestadores de serviços para o campus and local companies, dis- trabajo para el campus y las empresas
campus e para empresas locais, com ciplines providing theoretical and locales, disciplinas que proporcionan
disciplinas prestando suporte teórico- practical support to other disciplines apoyo teórico y práctico a otras disci-
-prático para outras disciplinas e com and application contents in consecu- plinas y contenidos de las aplicaciones
aplicação de conteúdos em semestres tive semesters for a particular focus. en semestres consecutivos para un
consecutivos para um determinado There are three patterns of presenta- enfoque particular. Hay tres patrones
foco de atuação. Há três estruturas de tion: chronological, theoretical and de presentación: cronológicos, teóricos
apresentação: cronológica, teórico- technical and practical (results). This y técnicos y prácticos (resultados). Esta
-técnica e prática (resultados). Essa proposed action expands between acción propuesta se expande entre los
proposta de atuação se expande entre campuses and courses. campus y cursos.
campi e cursos.

Palavras-chave: Interdisciplinaridade Universitária, progresso - um caráter instrumental. O modelo alemão enfati-


Interdisciplinaridade em Gestão de Recursos Humanos. zava a autonomia especulativa do saber – a ciência na busca da
plenitude da verdade.
Autores: No século XXI, a universidade busca o sujeito autônomo -
Ana Cristina Fabbri aquele capaz de processar as novas informações e tecnologias, e
Psicóloga. Mestre em Ciências da Saúde e Ambiente. MBA em suprir a demanda por determinado bem ou serviço exigido pela
Administração Estratégica. Coordenadora das áreas de Gestão sociedade. Assim, a universidade moderna promove a formação
no campus Teresópolis. de profissionais com poderes de reflexão e análise. É uma agência
Email: ana.fabbri@estacio.br privilegiada da produção de saber.
A universidade possui função social. É um processo
Fátima Pereira político que se efetiva em uma prática docente. Para traçar um
Doutora em Psicologia Social – UFRJ. Mestre em Psicologia caminho orientador para o ensino brasileiro considera-se a Lei
– UGF. Especialista em Psicologia do Trabalho – FGV. Vasta de Diretrizes e Bases (LDB) que institui as Diretrizes Curricu-
experiência como professora universitária (RH, PSI e ADM) e lares Nacionais (DCNs), que emanam do Conselho Nacional
empresarial em RH. Professora da Universidade Estácio de Sá. de Educação (CNE). Assim, há orientação de princípios para
Email: fatimaqvt@zipmail.com.br os cursos superiores. Cada Instituição de Ensino Superior (IES)
traça o perfil desejado do profissional que pretende formar (ideal
Introdução de Homem e sociedade), com autonomia, que serão expressos
Ouve-se dizer que a universidade prepara para a vida. Aqui em um Projeto Pedagógico Institucional (PPI).
faz-se necessário um esclarecimento: a universidade qualifica O Projeto Pedagógico do Curso (PPC) está articulado ao PPI
profissionalmente em competências e habilidades fundamentadas e ao Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) e expressa os
de acordo com o Projeto Pedagógico do Curso. parâmetros para a ação educativa, garantindo a formação global e
A universidade sempre esteve a serviço da sociedade. A crítica para o exercício da cidadania e da transformação da reali-
instituições, porém, possuem modelos de atuação diferentes. Em dade. Expressa, assim, as principais competências e habilidades.
Georgen (2006) observa-se, no século XIX, duas correntes de Na Universidade Estácio de Sá o PPC é construído de forma
universidades. O modelo francês desenhava a universidade como participativa, todos os envolvidos são convidados a oferecer suges-
provedora de forças profissionais, sede do saber e promotora do tões. Em 2015.1, a Graduação Tecnológica de Gestão de Recursos

36
Interdisciplinaridade na graduação tecnológica de gestão de recursos humanos - praticando competências e habilidades aprendidas
Fátima Pereira e Ana Cristina Fabbri Dissertar
Humanos (GRH), onde, também, as pesquisadoras aqui ministram • Produção de atividades técnicas valendo horas para Ati-
aulas, a diretoria de ensino solicitou recomendações e críticas ao vidades Acadêmicas Complementares (AAC).
atual PPC, a todos os professores e coordenadores a nível Brasi. • Comunicação às comunidades acadêmica e científica
Todos deveriam dar opiniões nos fóruns virtuais de debates espe- através de congressos e/ou publicação.
cíficos, com o gerenciamento da Coordenação Nacional do GRH e
da Coordenação Pedagógica Nacional. Houve retorno em relação Outros resultados esperados:
às alterações e a nova matriz do curso já está sendo implantada. • Valorização e entrega de construção do conhecimento.
A partir do PPC, observa-se o Plano de Ensino (PE) por • Disciplinas agregando valor como prestadoras de serviços
disciplina, com perfil do docente, ementa, objetivos (geral e espe- entre si e para o campus.
cíficos), conteúdos, procedimentos de ensino, recursos materiais, • Desenvolvimento da habilidade de atuação interdisciplinar.
formas de avaliação, bibliografia (básica e complementar), entre • Ampliação da habilidade de organização de eventos
outras informações. O Plano de Aula (PA) é o detalhamento de técnicos (gestão).
conteúdos e ações para agilizar o processo ensino-aprendizagem. • Conexão de competências e habilidades entre disciplinas afins.
O papel do professor é fundamental para o sucesso do PPI e • Compartilhamento de conhecimentos entre participantes
do PDI. Para expressão desses parâmetros institucionais busca-se dos projetos.
a interdisciplinaridade como uma forma possível de contribui- • Integração dos Planos de Ensino das disciplinas GRH
ção. A interdisciplinaridade está além da multidisciplinaridade. como prestadoras de serviços para empresas.
Assim, a apresentação de ambos os conceitos se faz oportuna. • Ampliação de visibilidade das competências adquiridas
pelos acadêmicos em GRH no campus.
Desenvolvimento • Fortalecimento do perfil do egresso de GRH.
Na multidisciplinaridade, cada disciplina envolvida mantém
sua metodologia e teoria, sem integração de resultados obtidos, Assim, acredita-se nessa prática devido à eficácia da inter-
na busca de solução de um determinado problema. disciplinaridade, com uma realização mais abrangente do saber
Na interdisciplinaridade há integração de dois ou mais com- que envolve componentes curriculares, integração de resultados,
ponentes curriculares na construção do conhecimento, mantendo construção de conhecimentos através do processo da articulação
os interesses próprios de cada disciplina. Há perspectiva teórico- de disciplinas, confronto entre conteúdos teóricos e práticos, com
-metodológica comum para as disciplinas envolvidas, integrando os respectivos esclarecimentos de dúvidas e um continuum de
resultados obtidos. Dessa forma, busca-se a solução dos problemas soluções que esse método proporciona.
através da articulação e da integração recíproca de saberes. Apresenta-se o relato dessa experiência realçando o tempo
A interdisciplinaridade está em curso no Tecnológico de despendido, os processos teóricos-técnicos e a prática alcançada.
Gestão de Recursos Humanos, no campus Teresópolis, e se Posteriormente as considerações finais são apresentadas.
expandindo para outros campi e cursos, através da proponente,
do interesse e apoio dos respectivos coordenadores. Estrutura cronológica da interdisciplinaridade
Aqui busca-se apresentar a forma de atuação em Núcleos Inicia-se a descrição da estrutura deste trabalho de interdis-
de Trabalho que percorrem cada disciplina de seu eixo, de acordo ciplinaridade, especificando os produtos das disciplinas-chaves.
com o Plano de Ensino, durante os semestres, a saber: Em caso de alteração do PPC esta proposta de trabalho se agrega
• Trabalhando para as Empresas (aplicação de conhecimentos às disciplinas práticas de Recrutamento e Seleção, Treinamento
teóricos e técnicos de sala de aula, em semestres consecutivos, em & Desenvolvimento e Gestão de Desempenho.
uma empresa local, através de uma aluna-funcionária dessa empresa).
• Treinamento em Acolhimento Estudantil (ambientação
de calouros). 1ª Etapa: No segundo semestre de 2014
• Treinamento em Relações Interpessoais (aplicação em Apresentou-se à coordenadora do curso (atenta
alunos de GRH). parceira destas pesquisadoras neste trabalho) o Pro-
• Orientação Curricular e Posturas (aplicação dessas jeto Interdisciplinar do Curso de Graduação Tec-
competências aprendidas prestando serviços aos estudantes da nológica de Gestão de Recursos Humanos - Prati-
própria unidade). cando as Competências e Habilidades Aprendidas,
• Espaço do Aluno (apresentação dos Melhores Trabalhos/ e, com apoio da coordenação, iniciou-se, no campus
Projetos em sala de aula em disciplinas afins e em eventos no Teresópolis, a implantação da interdisciplinaridade
campus). no GRH, na disciplina especificada a seguir.
Destacam-se alguns dos produtos desses Núcleos de Tra- • Técnicas de seleção: Trabalhando para as Empresas -
balho que estão sendo entregues às comunidades acadêmica, locais (panificadora) e Orientação Curricular e Posturas (para
empresarial e científica: todos os alunos interessados do campus). Ambos os trabalhos
• Prestação de serviços a estudantes de GRH e de outros foram concluídos.
cursos do campus Teresópolis.
• Prestação de serviços para a comunidade empresarial local. 2ª Etapa: No primeiro semestre de 2015
• Intercâmbio e integração de conhecimento entre disciplinas. Organiza-se a elaboração de projetos de treinamento pe-
• Elaboração de Acervo Interdisciplinaridade - Praticando los alunos (aprendizagem ativa), com algumas ações iniciadas
as Competências e Habilidades Aprendidas. nesse semestre.
• Comunicação dos trabalhos discentes em eventos internos • Práticas de RH I: Trabalhando para as Empresas (prestando
do campus. continuidade às aplicações dos conteúdos do semestre anterior,
• Realização de curso de extensão no Portal de Cursos na disciplina Técnicas de Seleção, na panificadora); Treinamento
Livres da Estácio (Você Aprende Mais). em Relações Interpessoais e Treinamento no Acolhimento de

37
Dissertar Interdisciplinaridade na graduação tecnológica de gestão de recursos humanos - praticando competências e habilidades aprendidas
Fátima Pereira e Ana Cristina Fabbri

Estudantes Calouros (iniciamos a apresentação do subprojeto de Sá – Teresópolis; ampliação da habilidade de organização


SIA – Sistema de Informação Acadêmica) de eventos (gestão) e atribuição de horas de Atividades Acadê-
• Técnicas de seleção: Trabalhando para as Empresas (2ª micas Complementares (AAC), pelos trabalhos técnicos como
edição, ou seja, iniciando aplicações em empresa local de viação) orientadores de currículos e posturas.
e Orientação Curricular e Posturas (segundo semestre de atuação) Procedimentos para os estudantes-orientadores: participar
• Espaço do aluno: apresentação dos Melhores Trabalhos das instruções da professora em relação à melhor apresentação
(em sala de aula, em disciplinas afins) e projetos em andamento de currículo e postura em processo seletivo; comparecer às salas
(eventos do campus, por exemplo: Recepção aos Calouros e de aula a fim de apresentar a proposta e verificar a quantidade de
Semana de RH) estudantes interessados; marcar data para pegar os currículos e
obter email ou WhatsApp da turma; reservar a Sala de Estudos da
3ª Etapa: no segundo semestre de 2015 biblioteca para atendimento individual e apresentação de vídeos
• Gestão de desempenho: Trabalhando para as empresas – sobre postura em entrevista, considerando a disponibilidade da grade
panificadora, em continuidade às aplicações teórico-técnicas dos de horários de ambos os cursos (espaços vagos); informar local,
dois semestres anteriores, para o cargo de atendente de balcão. dia, hora, nome do estudante que procederá a orientação. Observar
E construção de instrumentos de avaliação de desempenho para que a professora pede que os estudantes interessados não devem
outros níveis hierárquicos, dessa mesma panificadora, que será entregar currículos quando os estudantes-orientadores estiverem
desenvolvido pelos outros grupos dessa disciplina. em aula e para não concentrar em um estudante da turma a entrega
• Práticas de RH I: Trabalhando para as Empresas – empresa de currículos - pois esse é pessoal e confidencial; registrar os nomes
de viação (em continuidade ao semestre anterior); Acolhimento dos estudantes atendidos por parte de cada estudante-orientador;
Estudantil (continuidade e expansão) e Relações Interpessoais concentrar todos os atendimentos em planilha quantitativa por
(aprimoramento). curso, por semestre e acumulado (anexar a essa planilha os registros
• Espaço do aluno: Comunicação de Melhores Trabalhos (em individuais de atendimento dos estudantes-orientadores); treinar os
disciplinas afins e na Semana de RH) e no evento Boas Vindas colegas que os substituirão no próximo semestre, com supervisão
(Recepção aos Calouros); atividade de interação promovida pelo da professora; as planilhas dos atendimentos deverão ser entregues
grupo do Projeto Relações Interpessoais (2015.1); apresentação à coordenação para registro.
de padrinhos e calouros (Projeto Acolhimento Estudantil - 2015.1
e 2015.2) e Orientação Curricular e Posturas à disposição dos Foco de atuação II – Trabalhando para
alunos interessados. as empresas
Assim, buscou-se incentivar e incorporar todos os atores
envolvidos: professores, estudantes de GRH e estudantes de Mediação: disciplinas com bases conceituais- Recrutamento
outros cursos (sempre com participação voluntária), e também & Seleção (1º período) e Treinamento & Desenvolvimento (2º
as coordenações. Todos avaliando, aprimorando e validando o período); com bases práticas - Técnicas de Seleção (2º período)
processo interdisciplinar para seu aperfeiçoamento constante. e Práticas de RH I (3º período); Formação de Instrutores (3º
período) e Gestão de Desempenho (4º período).
Estrutura teórico-técnica da interdisciplinaridade Resultados esperados: integração dos Planos de Ensino
Além das três disciplinas-chave, já mencionadas, apresentaram- das disciplinas de GRH como prestadoras de serviços para
-se as contribuições das outras disciplinas envolvidas. Formação empresas; ampliação da visibilidade das competências adqui-
de instrutores: presta suporte teórico e prático com logística e ridas pelos acadêmicos em GRH para as empresas locais e na
avaliações nos treinamentos, conforme Plano de Ensino; Recru- unidade acadêmica (Teresópolis); aplicação dos conhecimentos
tamento e seleção: colabora com a especificação das fontes de das disciplinas conceituais e práticas, ao longo do curso, para
recrutamento do grupo ocupacional do cargo que estará sendo um determinado cargo de uma empresa cujo estudante esteja
analisado. As disciplinas Recrutamento e seleção e Treinamento atuando e haja interesse do dirigente da mesma e praticar inter-
e desenvolvimento proporcionam suporte conceitual, conforme disciplinaridade como valor agregado.
Planos de Ensino. Procedimento: as mesmas empresas (panificadora e viação)
A seguir, especifica-se cada foco de atuação de cada Núcleo e cargos (atendente de balcão e motorista) percorrem consecu-
de Trabalho para a interdisciplinaridade: Orientação Curricular e tivamente pelos semestres, conforme a seguir.
Posturas; Trabalhando para as Empresas (locais); Acolhimento
de Estudantes Calouros por estudantes de GRH; Treinamento • Disciplina recrutamento e seleção (1º período): especificar
em Relações Interpessoais com estudantes de GRH e Espaço do fontes de recrutamento da região do cargo do núcleo “Trabalhando
Aluno, com apresentações dos Melhores Trabalhos e Projetos. para as Empresas”;
• Disciplina técnicas de seleção (2º período): mapeamento
Foco de atuação I – Orientação curricular e posturas para os de Competências (técnicas e comportamentais); avaliação das
estudantes de 1º período competências técnicas (elaboração de instrumentos); avaliação
das competências comportamentais (elaboração de instrumen-
Mediação: Disciplina Técnicas de Seleção (2º período, tos), decisão e parecer dos candidatos finalistas do processo
alunos voluntários). seletivo. Depositam esse trabalho em Atividade Estruturada
Este projeto é um prestador de serviços para o próprio (implica a construção de conhecimento, com autonomia, a
campus Teresópolis. partir do trabalho discente);
Resultados esperados: capacitação dos estudantes da • Disciplina práticas de RH I (3º período): elaboração de
disciplina Técnicas de Seleção no processo da proposta; favo- programa de treinamento para o cargo trabalhado no processo
recimento da melhor apresentação ao mercado de trabalho de seletivo. Depositam esse trabalho em Atividade Estruturada;
currículos e posturas dos estudantes da Universidade Estácio • Disciplina formação de instrutores (3º período): com-

38
Interdisciplinaridade na graduação tecnológica de gestão de recursos humanos - praticando competências e habilidades aprendidas
Fátima Pereira e Ana Cristina Fabbri Dissertar
plementação do programa de treinamento em relação à logística; semestre e acumulado; e as planilhas dos atendimentos deverão
• Disciplina gestão de desempenho (4º período): elabo- ser entregues à coordenação para registro.
ração de instrumentos de Avaliação de Desempenho e cuidados
para implantação; Foco de atuação V – Espaço do aluno: apresentação dos melhores
trabalhos/ projetos
Foco de atuação III – Acolhimento de alunos calouros por Mediação: disciplina Técnicas de Seleção - 2º período;
alunos de grh Disciplina Práticas de RH I - 3º período e Disciplina Gestão de
Desempenho - 4º período; com a colaboração do professor que
Mediação: disciplinas do 3º período- Práticas de RH I e estiver ministrando disciplina do semestre anterior em relação
Formação de Instrutores - elaboração do projeto e execução do às disciplinas-chave, para apresentação dos Melhores Trabalhos.
treinamento. Resultados esperados: conexão de habilidades entre discipli-
Resultados esperados: disciplinas como prestadoras de nas afins; valorização e entrega de construção do conhecimento;
serviços entre si e para o campus; integração do Plano de Ensi- incentivo à troca constante entre os atores envolvidos (diferentes
no das disciplinas Práticas de RH I e Formação de Instrutores; períodos de GRH); promoção do reconhecimento e atribuição
habilidade de atuação interdisciplinar e Atribuição de horas de de horas de Atividades Acadêmicas Complementares (AAC),
Atividades Acadêmicas Complementares (AAC) pelos trabalhos pelos trabalhos técnicos apresentados.
técnicos apresentados. Procedimento: professores das disciplinas Técnicas de Seleção e
Procedimento: Práticas de RH I elegem os trabalhos ou projetos que se apresentarão
• Disciplina práticas de RH I - Depositam esse trabalho nas outras turmas; a apresentação ocorrerá na disciplina de período
em Atividade Estruturada. anterior, ou seja, Técnicas de Seleção (2º período) se apresenta na
Acolhimento/Ambientação: conceito, objetivos, composi- turma da disciplina Recrutamento e Seleção (1º período) e Práticas
ção de módulos e indicadores do treinamento (parâmetros: uma de RH I (3º período) se apresenta em Treinamento e Desenvolvi-
Ambientação Empresarial e o projeto do professor César Lessa mento (2º período). As datas de apresentação dos trabalhos poderão
– coordenador RH -Centro I - Meu Padrinho é um Calouro). Aqui ser nos dias de Vista de Prova de AV2 e serão agendadas com os
agradecemos sua prontidão e disponibilidade. Validação: ao longo professores dessas disciplinas. Para apresentação nos eventos do
do processo. O programa do treinamento: objetivos de cada módulo, campus (Recepção de Calouros, Semana de RH etc.) os alunos farão
indicadores para cumprimento dos objetivos, métodos e técnicas suas comunicações, mesmo que breves, em comum acordo com a
a serem utilizados e tempo de execução de cada indicador. A apli- coordenação. Essas ações (apresentação dos Melhores Trabalhos)
cação: aplicação piloto do treinamento. Registros: monitoração e podem ser estendidas para outras disciplinas.
melhoria do processo. Totalização de atendimentos por instrutor
e participantes do treinamento. A planilha de atendimento deverá Estrutura de práticas
ser apresentada à coordenação para registro. Projetos elaborados pelos alunos de 3º período e arqui-
• Disciplina formação de instrutores vados no campus Teresópolis.
A Logística do treinamento: organização dos grupos de
atendimento (quantidade de estudantes por instrutores, cursos, Trabalhando para as empresas
horário, local - observar as grades de horário de disciplinas e (Projeto com 29 páginas)
compatibilidade de atendimento); divulgação/convocação dos Esse projeto de treinamento presta serviços para uma empresa
estudantes; técnicas de treinamento a serem utilizadas (filme, local, de aproximadamente oitenta e cinco anos de existência. O
música, atividades vivenciais, DG, visita ao campus etc.); cargo escolhido pela aluna-funcionária para nossas aplicações
elaboração de material didático; Avaliações: Validação do pro- de interdisciplinaridade foi o de atendente de balcão.
cesso (professores que assistirem o treinamento, coordenação, Resultados esperados: Atender ao público com simpatia
os próprios estudantes-instrutores) e avaliações (de reação, por e atenção; colocar-se no lugar do cliente em situações adversas
grupo, acumulada, quantitativa, qualitativa, por semestre e anual). (empatia); ser ágil no atendimento sem prejudicar a qualidade;
evitar conversas paralelas durante o atendimento; manter discrição
2.4- Foco de atuação IV – Treinamento em relações interpessoais no ambiente de trabalho e observar a aparência pessoal e postura.
para estudantes GRH No semestre anterior já foram realizados os mapeamentos de com-
petências técnicas e comportamentais, tal como os instrumentos
Mediação: disciplina práticas de RH I (3º período) - ela- que as avaliam para recrutamento e seleção de pessoas.
boração do projeto de treinamento. Depositam esse trabalho em No segundo semestre efetivou-se um projeto de treinamen-
Atividade Estruturada. to, cujo levantamento de necessidades (LNT) ocorreu através
Resultados esperados: promover reflexão e compreensão de entrevistas com o proprietário, os gerentes, o responsável
de alguns fenômenos psicológicos que afetam as relações in- pelo RH e os próprios atendentes, além da observação de recla-
terpessoais; promover melhores relações humanas através de mações de alguns clientes. Conclui-se com sete necessidades
acolhimento que proporcione aceitação de diferenças individuais para um bom atendimento, que vinte e seis funcionários, entre
e maiores eficácias acadêmicas; atribuição de horas de Atividades dezoito e trinta anos, com a escolaridade de ensino fundamental
Acadêmicas Complementares (AAC), pelos trabalhos técnicos completo, se submeterão oportunamente.
apresentados como instrutores de treinamento. Na busca de desenvolver a consciência de um melhor aten-
Procedimento: elaboração do projeto de Treinamento em dimento nessa panificadora, apresentamos algumas das metas do
Relações Interpessoais; cursar, uma perspectiva desse treina- treinamento desenvolvido pelos alunos: recepção, integração, o
mento através de curso de extensão; aplicar o treinamento em que abordaremos; breve história sobre o pão e sua importância,
estudantes de 1º período de GRH; concentrar a quantidade de o que a empresa entende por atendimento, debate sobre os sete
alunos-instrutores e participantes envolvidos em planilha, por pecados do atendimento, os passos para um bom atendimento,

39
Dissertar Interdisciplinaridade na graduação tecnológica de gestão de recursos humanos - praticando competências e habilidades aprendidas
Fátima Pereira e Ana Cristina Fabbri

evoluir na reflexão com debate sobre as competências essenciais Resultados esperados: proporcionar oportunidade de
indicadas pelos treinandos (levantamento anterior ao do treina- autoconhecimento, respeito à diversidade de personalidades e
mento), a importância do cliente, o que a padaria oferece e o que opiniões (empatia); influenciar a habilidade de ouvir na essência
o atendente oferece, como pode ser melhorado o seu atendimento, e falar para ser compreendido (comunicação); conhecer técnicas
o princípio da ”gentileza gera gentileza” e a comunicação de de cooperação; percepção e feedback.
que melhores desempenhos receberão benefícios específicos. Os alunos elaboraram projeto de treinamento com ob-
Todo o programa do treinamento (carga horária total, por jetivos (geral e específicos), levantamento das necessidades de
tópicos e de intervalos), métodos, recursos, objetivos (gerais treinamento, cuidados para ser um instrutor e um observador de
e específicos), avaliações de reação, de aprendizagem e no treinamento, definição de competência interpessoal, principais
âmbito do trabalho estão apresentados no projeto, tal como fatores que influenciam as relações interpessoais, público alvo,
requisitos financeiros e ocorrência de não conformidade da programa (tópicos, objetivos desses tópicos, método, recursos,
proposta de treinamento. tempo – de cada módulo e total) e avaliação de reação.
Pretende-se promover o Compartilhamento de Conhecimentos
Acolhimento /ambientação de calouros adquiridos nesses projetos de 2015.1 com os próximos alunos que
(Projeto com 54 páginas) assumirão em 2015.2 para seqüência dos trabalhos, na passagem de
Promove hospitalidade em diferentes perspectivas; é um períodos. Buscar-se-á realizar um “aulão”, na disciplina Práticas de
prestador de serviços para o próprio campus Teresópolis. RH I, em subgrupos destes projetos, quando os alunos-orientadores
Resultados esperados: contribuir com retenção; facilitar apresentarão cada item dos mesmos para seus substitutos.
vínculos sociais; possibilitar a convivência acadêmica de forma Aquelas ações necessárias para eventos iniciais de período
rápida e amistosa; promover o acesso a programações culturais, serão de realização voluntária dos alunos do período anterior.
de lazer, de esporte e acadêmicos (internas e externas); facilitar a
integração e utilização dos recursos pedagógicos do campus. Considerações finais
• Em relação ao aluno-calouro: Sentir-se acolhido de forma Como o projeto “Interdisciplinaridade em GRH – Teresópolis”
mais rápida e agradável, com constância de interação entre os está em andamento, outras ações previstas ainda se concretizarão e
alunos dos diversos cursos e períodos; participar de um clima outras se acrescentarão; por exemplo, prentede-se adicionar mais
psicológico de relações interpessoais plenas entre os discentes um subprojeto no Acolhimento Estudantil - Estimulando o Apren-
com convivência diferenciada no campus Teresópolis. dizado, que se norteará no valor da aprendizagem na sociedade do
• Em relação aos alunos da disciplina: desenvolver com- conhecimento, com a criação de um Blog com informações focadas
petências exigidas de um analista de treinamento a partir do em Empregabilidade. Esse blog se estruturará nas categorias: Na
Plano de Ensino da disciplina Práticas de RH I; realçando a Estácio (no site – por exemplo: Voceaprendemais - cursos livres para
autonomia, a organização de eventos, o trabalho em equipe, aprimoramento e sínteses das palestras no campus, com convergência
os contatos com os coordenadores do campus e a apresentação ao objetivo do blog) e fora da Estácio (ações/eventos/endereços
de trabalhos técnicos. pertinentes aos cursos do campus – por exemplo: ABRH - Asso-
Esse projeto de Acolhimento de Calouros constituiu-se, ciação Brasileira de Recursos Humanos e na cidade de Teresópolis.
inicialmente, de quatro subprojetos. Esse blog se direcionará a todos os alunos interessados do campus.
• O primeiro subprojeto apresentou o SIA (Portal Estácio), Ao fim do primeiro semestre de 2015, apresentou-se o “Projeto
prestando informações nas salas de aula de primeiro período, com Interdisciplinaridade em GRH – em diferentes campi” (customi-
permissão antecipada do professor, sobre matrícula, atendimento zado para o campus Madureira/RJ) à coordenação e já no início
(agendado – novo e consultas, requerimentos – novo e consultas), deste segundo semestre estaremos implantando-o. Apresentamos o
acadêmico (datas de provas, freqüência – disciplinas matriculadas, “Projeto Interdisciplinaridade – em diferentes cursos” (customizado
quadro de horários, notas de provas); sala de aulas virtuais (avaliando para o curso de Psicologia – campus Sulacap/RJ) e a coordenação
o aprendizado, atividade estruturada), entre outros esclarecimentos. viabilizará sua implantação para o início do próximo ano.
• O segundo subprojeto, biblioteca e sala de estudos, apresen- Enfim, na execução dessas ideias estão presentes desafios,
tam as condições de funcionamento geral: cadastramento, senha, curiosidade, empenho, compromisso e prazer de realizar, tanto
horário, empréstimo de livros, utilização de sala para estudos por parte dos alunos quanto da professora responsável pelo mes-
(individual e em grupo), computadores com acesso à internet etc. mo e da coordenação. Agradecemos a cada participante desses
• O terceiro apresenta o laboratório com as regras de seu trabalhos; sintam-se abraçados pessoalmente; somos construtores
funcionamento. orgulhosos com o sentimento de pertencer. Finalizamos com
• O quarto subprojeto busca uma constante adaptação ao as palavras do aluno Rodrigo Pedro da Silva, do subprojeto
ambiente acadêmico através do acolhimento de calouros por Acolhimento de Calouros, no último encontro de aula: “Cuide
alunos veteranos; esse atendimento pode ocorrer pessoalmente e bem desse trabalho, professora; foi o melhor que fiz até hoje”
através de WhatsApp, ou seja, as dúvidas dos calouros poderão
ser respondidas pelos padrinhos também por essa forma de co- Referência
municação. Os alunos deste projeto elaboraram critérios para os GEORGEN, Pedro. A universidade em tempos de transformação.
alunos veteranos voluntariar-se ao apadrinhamento e a relação de Campinas: Faculdade de Educação, UNICAMP, 2006.
alunos padrinhos e calouros dependerá da quantidade de padrinhos
interessados; já iniciaram uma lista de veteranos voluntários para
serem padrinhos/madrinhas (com email e telefones). Os alunos-
-padrinhos dos cursos receberão 5h de Atividade Acadêmica
Complementar por cada período completo no projeto.

Relações interpessoais (Projeto com 50 páginas) Artigo enviado em 10/02/2016, aceito em 07/03/2016

40
Dissertar

A responsabilidade civil do prático


The civil responsibility of the pilot
La responsabilidad civil de lo práctico

O transporte marítimo nos dias Shipping nowadays is respon- El transporte marítimo en los días
atuais é responsável por cerca de 98% sible for about 98% of Brazilian actuales es responsable por cerca del
do comércio exterior brasileiro, não foreign trade, however, the Maritime 98% del comercio exterior brasileño, no
obstante, o Direito Marítimo ainda é Law is still a little known field of law obstante, el Derecho Marítimo todavía es
um ramo do direito pouco conhecido no academia. This paper aims to show una rama del derecho poco conocido en
meio acadêmico. O presente trabalho an overview of the civil responsibility el medio académico. El presente trabajo
objetiva exibir um panorama sobre of the pilot. For this goal to be met objetiviza exibir un panorama sobre la
a responsabilidade civil do prático. will be conceptualized which is to be responsabilidad civil de lo práctico.
Para que este objetivo seja atendido practical, the historical evolution of Para que este objetivo sea entendido
será conceituado o que é ser prático, this occupation and the absence of será conceptuado el qué es ser práctico,
a evolução histórica desta atividade pertinent legislation. Based on the la evolución histórica de esta actividad
profissional e a ausência de legislação concepts of liability, aims to be a pilot profesional y la ausencia de legislación
pertinente ao tema. Com base nos and effective approach to make clear pertinente al tema.  Con base en los
conceitos da responsabilidade civil, contours of a theme as voted in the conceptos de la responsabilidad civil,
ambiciona-se uma abordagem prática sphere of maritime law. se ambiciona un abordaje práctico y
e eficaz de forma a tornar claro um eficaz que dé forma a tornar claro un
tema de contornos tão considerados tema de contornos tan considerados en
na esfera do Direito Marítimo. la esfera del derecho marítimo.

Palavras-chave: Praticagem, Prático, Responsabilidade, Civil, fissional é requisitado a cada vez que um navio vai atracar ou
Limitação. desatracar do porto a fim de auxiliar o comandante para que
as manobras de ingresso e atracação sejam bem sucedidas.
Autores: A presença do prático a bordo de um navio é indispensá-
Vanessa Cruz de Carvalho vel à segurança da navegação, fato de interesse público, tendo
Mestre em Educação pela Universidade de JAÉN , Especialista em vista que um erro cometido pode resultar em prejuízos de
em Processo Civil pela UCAM e em Direito Marítimo pela grandes proporções financeiras e humanas.
UNISANTOS; Professora da Graduação e Coordenadora dos Existem na relação direta do prático as figuras do coman-
cursos de Pós-Graduação em Direito Público e Imobiliário dante e do armador, que é a pessoa ou empresa que por sua
da UNESA. própria conta e risco, promove a equipagem e a exploração de
Email: vanessa.edu@unagold.com.br. navio comercial, independente de ser ou não proprietário da
embarcação.
O tema da responsabilidade civil do prático é tímido na
Introdução doutrina pátria, à exceção de Matusalém Gonçalves Pimenta,
A responsabilidade civil é uma área de grande exten- Carla Adriana Comitre Gilbertoni e Theophilo de Azeredo
são, fazendo parte das mais diversas áreas do cotidiano. Seu Santos. Diferente na doutrina internacional, onde se destacam
surgimento deu-se com o objetivo de proteger aqueles que diversos doutrinadores italianos e argentinos.
sofreram um dano, enfrentando prejuízos. Com o surgimento Sendo a discussão do tema de grande relevância, pois em
deste instituto foi possível conscientizar o dever de reparar os razão desta escassez de normas e doutrinas, os juristas mariti-
danos e prejuízos enfrentados. mistas são obrigados a buscar em legislações estrangeiras para
Assim como a responsabilidade civil, o transporte marí- as suas fundamentações nas ações de indenização propostas
timo de mercadorias atrai olhares das mais diversas áreas de em face dos práticos, pelos danos eventualmente causados no
conhecimento. Como grande parte das mercadorias que circulam exercício de suas funções profissionais.
pelo mundo são através do mar, demonstra-se a importância
fundamental do conhecimento e discussão do tema proposto. Da responsabilidade civil
A atividade de praticagem, exercida pelo profissional Pensar em sociedade sem pensar em conflito é uma for-
denominado prático, é uma atividade muito antiga e este pro- ma equivocada. O conflito é fenômeno inerente às relações

41
Dissertar A responsabilidade civil do prático
Vanessa Cruz de Carvalho

humanas e fruto de percepções e posições divergentes. No são responsabilidades, mas as formas de visualizar a obrigação
início da civilização humana não se conhecia a ideia de dano de reparar o dano são distintas. Na responsabilidade subjetiva,
e reparação, imperando a vingança privada e a autotutela como as atenções voltam-se para a culpabilidade do agente causador
forma de solucionar os conflitos sociais existentes. enquanto que na objetiva a atitude do agente causador não tem
O Código de Hamurabi foi um dos primeiros a retratar a relevância, vez que o dever de indenizar surge com a relação
vontade em aplicar sanções aquele que causa um mal a outro, de causalidade entre o dano enfrentado pela vítima e o ato
assim como no Código de Manu e no Código Hebreu. Esses praticado pelo autor. Nesta útima haverá o dever de indenizar
códigos visavam punir o causador de forma proporcional ao independente da culpabilidade do agente.
dano por ele causado.
Passados alguns anos a sociedade percebe a necessidade de Da praticagem
deixar esse caráter punitivo físico, buscando uma composição A utilização dos mares e rios como meio de transporte
de valores. Passando em seguida ao Estado a função de punir, vem desde os primórdios da civilização. Com ela, a profissão
ser julgador, de modo que a ação de indenização foi criada. do comandante ou capitão do navio aparece. Este profissional
Segundo o doutrinador Jorge Bustamante Alsina, quando necessita do auxílio de outro profissional quando em locais que
o Estado assume essa função de aplicar sanção aos acusados, o exijam conhecimento específico. Nesse caso, ele se utiliza dos
conceito de responsabilidade sofre uma enorme transformação, préstimos do prático, que a Lei 9.357/97 trata em seu artigo 2°,
desdobrando-se em responsabilidade penal que se ocupa do inciso XV, como “aquaviário não-tripulante que presta serviços
castigo ao delinquente e responsabilidade civil, que busca a de praticagem embarcado”.
reparação do dano à vítima. A mencionada lei que regula esta atividade define em seu
Atualmente, dentre os diversos ramos do direito, a res- artigo 12 o serviço de praticagem como sendo, in verbis: “o
ponsabilidade civil é um dos que melhor nos admite delinear conjunto de atividades profissionais de assessoria ao Comandante
comparações entre os direitos dos mais diversos países. A repa- requeridas por força de peculiaridades locais que dificultem a
ração do dano cometido por um ato ilícito de terceiro, obedece livre e segura movimentação da embarcação”.
aos mais basilares princípios do direito. Costuma-se conceituar A presença do prático a bordo objetiva a segurança do
“obrigação” como o “vínculo jurídico que confere ao credor tráfego aquaviário, a proteção do patrimônio, das vidas, das
o direito de exigir do devedor o cumprimento de determinada instalações portuárias e do meio ambiente.
prestação”. A característica principal da obrigação consiste No Brasil se utiliza a nomenclatura prático para deno-
no direito conferido ao credor de exigir o adimplemento da minar ao profissional. Outrossim, a comunidade internacional
prestação. “É o patrimônio do devedor que responde por suas não adota o mesmo procedimento, preferindo a nomenclatura
obrigações” (GONÇALVES, 2009, p. 2). piloto, a qual era utilizada na nossa legislação no princípio.
No direito moderno a legislação brasileira que rege a res- Em dado momento da história, a profissão era conhecida
ponsabilidade civil é consideravelmente vasta, contemplando por piloto. Matusalém Gonçalves Pimenta relata o tema e traz
grandes discussões jurídicas; porém, quando o assunto é a que a Comunidade Marítima Internacional utiliza o termo
responsabilidade civil na prestação do serviço de praticagem, “piloto”, de modo que é esta a palavra empregada em Portugal,
existem grandes lacunas que geram insegurança jurídica aos assim como é chamado de “pilot” na língua inglesa, “pilota” na
profissionais do ramo. Itália, “pilote” na França etc. Em nosso país, o primeiro termo
Segundo pensamento de Matusalém Gonçalves Pimenta, utilizado foi “Piloto Prático”, face o piloto aprender na prática
os avanços tecnológicos fazem crescer os conflitos e obriga os esses conhecimentos para as manobras em dados locais, auxi-
tribunais a fazerem jurisprudência, na medida em que a lei não liando ao comandante, dentre outros (PIMENTA, 2007, p. 61).
acompanha a velocidade das mudanças (PIMENTA, 2007. p.8). Entretanto, em 18 de março de 1863, o então Capitão
O Código Criminal de 1830 previa regras norteadoras da do Porto da Corte, seguindo ordens do Imperador D. Pedro
responsabilidade civil, prevendo a reparação natural, a garantia II, lançou um regulamento para a praticagem de São João da
da indenização, a solução da dúvida em favor do ofendido, a Barra, Província de Rio de Janeiro, onde ao invés de fazer
integridade da reparação (até onde fosse possível), a solidarie- menção ao “piloto prático”, tratou simplesmente por “Prático”.
dade, a hipoteca legal, dentre outros. O substantivo acrescido por adjetivo foi trocado para que se
O Código Civil de 1916 de Clóvis Bevilácqua, desde sua usasse apenas o adjetivo. Como bem assevera o doutrinador
vigência estava defasado acerca da responsabilidade civil. Matusalém Gonçalves Pimenta, várias profissões podem sofrer
A esse infortúnio, lançou-se mão do projeto do Código das o acréscimo do sufixo adjetivo “prático”, mas o simples uso
Obrigações e da reforma do próprio código. deste para nomear uma profissão é inconcebível pela falta de
Nos ordenamentos jurídicos modernos percebe-se uma ideia ou significado intrínseco (PIMENTA, 2007, p. 61).
aplicação do direito à indenização com intuito de minimizar Para exercer essa função é preciso passar por um rigoroso
os casos de danos sem o justo ressarcimento. concurso público de provas e títulos elaborado pela Autoridade
A teoria de responsabilidade civil adotada pelo ordena- Marítima. A Norman 12, em seu item 202, relata as condições
mento jurídico brasileiro gera na hipótese de dano causado necessárias aos que visam participar do processo seletivo para
por violação de dever jurídico originário, o dever de indenizar. a Praticagem:
A doutrina pátria divide a responsabilidade civil com base a) Ser brasileiro (ambos os sexos), com idade mínima de 18 anos
na preexistência ou não, do vínculo obrigacional. Havendo vín- completados até a data estabelecida no Edital;
culo obrigacional e seu inadimplento tem-se a responsabilidade b) Possuir curso de graduação (nível superior) oficialmente
contratual. Já quando o dever de indenizar surge em virtude reconhecido pelo Ministério da Educação e concluído até data
de lesão a direito subjetivo sem haver relação jurídica entre o estabelecida no Edital;
ofensor e a vítima, tem-se a responsabilidade extracontratual. c) Ser aquaviário da seção de convés ou de máquinas e de nível
No tocante à responsabilidade subjetiva e objetiva, ambas

42
A responsabilidade civil do prático
Vanessa Cruz de Carvalho Dissertar
igual ou superior a 4, Prático ou Praticante de Prático até data b) indicando os responsáveis e aplicando-lhes as penas estabe-
estabelecida no Edital; ou pertencer ao Grupo de Amadores, no lecidas nesta lei;
mínimo na categoria de Mestre-Amador, até a data do encerra-
mento das inscrições, inclusive conforme a correspondência com (...)
as categorias profissionais estabelecida nas Normas da Autoridade Art . 14. Consideram-se acidentes da navegação:
Marítima para Amadores, Embarcações de Esporte e/ou Recreio
e para Cadastramento e Funcionamento das Marinas, Clubes e a) naufrágio, encalhe, colisão, abalroação, água aberta, explosão,
Entidades Desportivas Náuticas (NORMAN-03/DPC); incêndio, varação, arribada e alijamento;
d) Não ser militar reformado por incapacidade definitiva ou civil b) avaria ou defeito no navio nas suas instalações, que ponha em
aposentado por invalidez; risco a embarcação, as vidas e fazendas de bordo.
e) Estar em dia com as obrigações militares, para candidatos do Art . 15. Consideram-se fatos da navegação:
sexo masculino (Art. 2° da Lei 4375/64- Lei do Serviço Militar) a) o mau aparelhamento ou a impropriedade da embarcação
f) Estar quite com as obrigações eleitorais (art. 14°, § 1°, incisos para o serviço em que é utilizada, e a deficiência da equipagem;
I e II da Constituição Federal); b) a alteração da rota;
g) Possuir registro no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF); c) a má estimação da carga, que sujeite a risco a segurança da
h) Possuir documento oficial de identificação válido e com expedição;
fotografia; d) a recusa injustificada de socorro a embarcação em perigo;
i) Efetuar o pagamento da taxa de inscrição; e e) todos os fatos que prejudiquem ou ponham em risco a incolu-
f) Cumprir as normas e instruções estabelecidas para o Processo midade e segurança da embarcação, as vidas e fazendas de bordo.
Seletivo. f) o emprego da embarcação, no todo ou em parte, na prática de
atos ilícitos, previstos em lei como crime ou contravenção penal,
Ainda na Norman 12, em seu item 206, encontra-se as ou lesivos à Fazenda Nacional.
fases do processo seletivo para ser prático. A primeira fase é
(...)
escrita. Em seguida, os aprovados passam por apresentação
e verificação de documentos, seleção psicofísica e teste de Art . 17. Na apuração da responsabilidade por fatos e acidentes
suficiência física. Na terceira fase há uma prova de títulos, na da navegação, cabe ao Tribunal Marítimo investigar:
qual será pontuada a qualificação comprovada e experiência a) se o capitão, o prático, o oficial de quarto, outros membros
profissional. A quarta etapa consiste em prova prático-oral. da tripulação ou quaisquer outras pessoas foram os causadores
Por fim, tem-se a classificação final. por dolo ou culpa;
A praticagem, conforme definição legal é uma atividade
Da responsabilidade civil do prático essencial de interesse público, não havendo qualquer possi-
O Tribunal Marítimo brasileiro (TM) é órgão autônomo e bilidade de sua não utilização por parte dos armadores, nem
auxiliar do Poder Judiciário e encontra-se vinculado à Marinha tampouco a recusa de prestação do serviço por parte do prático.
do Brasil. Sediado na cidade do Rio de Janeiro, tem jusrisdição Logo, a relação não se origina da vontade das partes, mas sim
em todo território nacional para julgar os acidentes e fatos da por uma imposição legal.
navegação. O jurista Theophilo de Azevedo Santos entende que há
O TM não exerce atividade jurisdicional stricto sensu, ou um contrato consensual, formado pela troca de sinais ou pela
seja, os acórdãos por ele prolatados podem ser reexaminados chamada pelo rádio. O comandante comunica a necessidade
pelo poder judiciário conforme preceitua o inciso XXXV do do profissional e transmite uma informação básica e necessá-
artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil rio. O prático aceitando, dirigir-se-á ao navio sabendo da rota
de 1988: “a lei não excluirá a apreciação do poder judiciário, pela qual tomará, conhecendo as particularidades do local e
lesão ou ameaça a direito”. será informado das características do navio, para que realize
Diante do exposto é certo dizer que o TM, órgão do a atracação no porto (SANTOS, 1968, p. 171).
Poder Executivo, tem jurisdição e competência para julgar os Já Antonio Scialoja afirma que se trata de um negócio sui
acidentes e fatos da navegação, nos moldes dos artigos 10, de generis uma vez que o regime jurídico do contrato de pratica-
12 a 15 e 17 da Lei 2.180/54: gem não é oriundo da prestação, pois a obrigação do prático é
Art . 10. O Tribunal Marítimo exercerá jurisdição sobre: um trabalho ou serviço suscetível de constituir o objeto de um
(...)
contrato comum, mas que deriva de uma organização especial
da categoria (SCIALOJA, 1950, p. 419).
d) o pessoal da Marinha Mercante brasileira; Entretanto assiste razão a doutrina esposada por Matusa-
(...) lém Gonçalves Pimenta, que demonstra que não há como ser
contratual ou de prestação de serviços. Entende que se trata de
Art . 12. O pessoal da Marinha Mercante considera-se constituído:
uma relação jurídica híbrida, face à ausência de pressupostos
(...) de suma importância: a liberdade em contratar uma vez que ao
b) pelo pessoal da praticagem; prático não cabe recusa à prestação do serviço; a bilateralidade
quanto à escolha do conteúdo e o equilíbrio entre as partes
(...)
(PIMENTA, 2007, p. 124).
Art . 13. Compete ao Tribunal Marítimo: O serviço de praticagem tem natureza jurídica de as-
I - julgar os acidentes e fatos da navegação; sessoramento, portando o prático é um auxiliar técnico do
comandante para as manobras do navio em águas restritas.
a) definindo-lhes a natureza e determinando-lhes as causas, Quando se apresenta a bordo, o prático submete-se à autoridade
circunstâncias e extensão;
do comandante e executa seus serviços sem assumir a direção

43
Dissertar A responsabilidade civil do prático
Vanessa Cruz de Carvalho

do navio, uma vez que essa responsabilidade é do comandante. há a incidência do artigo 932, inciso III, do Código Civil: “Art. 932:
A Lei 9.537/97, no inciso IV do artigo 2º, estabeleceu São também responsáveis pela reparação civil: (...) III - o empre-
que: “Comandante (também denominado Mestre, Arrais ou gador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos,
Patrão) - tripulante responsável pela operação e manutenção de no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele.”
embarcação, em condições de segurança, extensivas à carga,
aos tripulantes e às demais pessoas a bordo.” Argumento III – Inegável o risco intrínseco à atividade do
A doutrinadora Eliane Maria Octaviano Martins define armador, de modo que há seguros cujos valores são altíssimos.
o comandante como um dos sujeitos de maior destaque na Havendo a incidência do artigo 927, parágrafo único,
indústria da navegação. Segundo ela exige-se do comandante do Código Civil, em relação à responsabilidade civil objetiva
um conjunto de qualidades pessoais e um alto nível de conheci- do armador. “§ único: Haverá obrigação de reparar o dano,
mento técnico, legal e operacional (OCTAVIANO, 2007, p. 275). independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,
Em regra, as normas relativas às funções do comandante ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor
encontram-se harmonizadas nos ordenamentos jurídicos. do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
O comandante é o tripulante responsável pela operação outrem.”
e pela manutenção da embarcação em condições de segurança Deste modo, pela atuação ser de risco, qualquer dano à
extensivas à carga, aos tripulantes e às demais pessoas a bordo. terceiro deve ser indenizado pelo armador.
O comandante deve ser qualificado segundo as exigências das
legislações nacionais e internacionais. Essa responsabilidade Argumento IV – A responsabilização civil do prático
é intransferível, sendo dever do comandante assumir pesso- perante terceiros acabaria por encarecer o serviço por eles
almente a direção do navio nas hipóteses deste encontrar-se praticado.
em águas restritas ou mar aberto, quando houver alguma Os armadores possuem apólices de seguros que cobrem
emergência ou perigo iminente. possíveis danos ocorridos e, caso não esteja o caso prático
Na jurisprudência cível e do Tribunal Marítimo adota-se, abarcado por este seguro, há o dos Clubes de Proteção.
em regra, a responsabilidade subjetiva, pessoal do comandan- Importante frisar que a responsabilização do prático
te, fundada em culpa no sentido latu sensu (atos dolosos ou ocasionaria a contratação de seguro por parte das sociedades
culposos). desses profissionais, onde o objetivo seria a proteção a situa-
Quando a responsabilidade é do prático, o Tribunal Ma- ções já abarcadas pelos seguros contratados pelos armadores.
rítimo pode lhe aplicar sanções severas, de cunho administra- Assim, teríamos dois seguros para o mesmo fato, encarecendo
tivo, o que não significa dizer que o terceiro prejudicado pode o valor final.
ingressar com ação civil visando indenização contra aquele.
Por outro lado, pequena parcela da doutrina acredita que seja Argumento V – A Suprema Corte Marítima Brasileira,
possível a responsabilização civil do prático. conforme Luiz Carlos de Araújo Salviano, já tem firme posi-
A fim de demonstrar o contrassenso na responsabilização cionamento:
civil do prático, o doutrinador Matusalém Gonçalves Pimenta É importante notar que o Tribunal Marítimo, em seu Parecer
lança cinco argumentos que impedem que isso ocorra: sobre a matéria, alerta que a simples possibilidade de dila-
pidação dos patrimônios pessoais dos práticos, construídos
Argumento I – A responsabilidade objetiva do armador, com o esforço da dura labuta diária a bordo dos navios, em
decorrência de uma indenização vultuosa, resultante de Ação
quando danos resultantes de erros de práticos, já está estipulada de Responsabilidade Civil, originada em fatos e acidentes da
na Convenção de Bruxelas, de 1910, a qual o Brasil é um dos navegação, certamente provoca impacto negativo em tais pro-
signatários, conforme preceitua os artigos 3° e 5°: fissionais, ensejando insegurança e intranqüilidade, quando do
Art. 3°: Se o abalroamento tiver sido causado por culpa de um desempenho de suas funções como assistente técnico do coman-
dos navios, a reparação dos danos incumbirá ao navio que tiver dante a bordo, podendo se tornar um fator humano contribuinte
incorrido na culpa. para a ocorrência de eventos danosos à segurança da navegação
e de conseqüências nefastas para o contexto geral da navegação
Art. 5°: A responsabilidade estabelecida pelas disposições comercial (SALVIANO apud PIMENTA, 2007, p. 144).
precedentes subsiste no caso em que o abalroamento tenha sido
causado por culpa do prático, mesmo nos casos em que a presença Desse modo, não há como uma pessoa física suportar
deste é obrigatória. custos tão elevados. Tal responsabilização inviabilizaria o
exercício de tão essencial profissão.
Em síntese, as Convenções Internacionais entendem a Quanto à responsabilidade civil perante o armador considera-
tempos que o armador responde objetivamente perante terceiros. -se o direito de regresso, que sugnifica a possibilidade do terceiro
que suportou a indenização buscar, através de ação própria,
Argumento II – O prático enquadra-se como preposto, em face do causador do dano, o ressarcimento do que pagou.
reforçando a responsabilidade objetiva do armador. A responsabilidade objetiva do armador resulta na sua
O jurista Sérgio Cavalieri Filho traz um conceito de preposto responsabilização, mesmo quando um erro específico do prático.
como aquele que presta serviço ou realiza alguma atividade Nessa situação, há prejuízo ao armador em responder por algo
por conta e sob a direção de outrem, podendo essa atividade que não lhe compete. Deste modo, diante da busca pela justiça,
materializar-se numa função duradoura ou num ato isolado. ele pode exercer seu direito de regresso para recuperar, ainda
O comandante controla a todos, conforme dispõe o artigo que parcialmente, a quantia despendida.
9°, da Lei n° 9537/97. Sendo ele o responsável pela fiscalização Para que seja possível exercer seu direito de regresso,
do serviço e sendo seu dever de intervir no trabalho. Como não o armador deve ter prova robusta, que demonstre que o dano
há possibilidade de o comandante realizar todas as tarefas, ele foi causado por erro exclusivo do prático, não podendo haver
incumbe determinadas pessoas que a façam em seu nome. Assim, culpa concorrente.

44
A responsabilidade civil do prático
Vanessa Cruz de Carvalho Dissertar
A prova mais contundente a ser juntada é o acórdão do
Tribunal Marítimo condenando exclusivamente ao prático por
erro específico de navegação, conduta esta que tenha causado
os danos que ensejaram a reparação, impossível de ter sido
evitada pelo comandante (PIMENTA, 2007, p. 148).
Conclui-se que o limite para responsabilizar civilmente o
prático passa por ação de regresso a ser proposta pelo armador,
quando for erro específico do prático, haja vista que os erros
genéricos levam à responsabilização do comandante em con-
sonância com a Teoria da Causalidade Adequada.

Considerações finais
A proposta do presente trabalho é que o Brasil desperte
para este problema, que decorre da omissão legislativa referente
ao assunto da responsabilidade civil do prático.
Apesar da atual legislação civil brasileira, código civil
de 2002, ter adotado em seus artigos a tendência mundial de
objetivação da Responsabilidade Civil, quando o assunto se
refere aos serviços prestados pelo prático, tais regras devem
ser analisadas com ressalvas.
O prático trabalha como assessor do comandante na ma-
nobra de navios em águas restritas. É o profissional que possui
o conhecimento regional adequado para orientar o capitão
através do canal do rio e da área próxima ao porto para que o
navio consiga trafegar com segurança para tripulação, carga
do navio e para o meio ambiente.
O entendimento mais coerente e justo, a exemplo dos
países de tradição marítima, é o da adoção da limitação da
responsabilidade civil do prático para valores pré-determinados;
acabando com qualquer insegurança jurídica dos profissionais
que atuam na área, fazendo com que os mesmos possam exercer
sua função com maior tranquilidade.
Tal fato evitaria uma superposição desnecessária de segu-
ros, visto que os riscos que envolvem a atividade profissional
do prático já estão cobertos pelo amplo conjunto segurador de
que o armador já dispõe. Tal limitação tornaria o transporte
marítimo menos oneroso, o que seria de interesse público, visto
que um dos maiores beneficiários seria o consumidor final, ou
seja, a sociedade brasileira.

REFERÊNCIAS:
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil.
5ª ed. rev., aum., e atual. São Paulo: Malheiros, 2004
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Artigo enviado em 23/11/2015, aceito em 20/02/2016

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Dissertar

Repercussões das atividades colaborativas por meio


dos recursos tecnológicos no ofício do professor
Effects of through collaborative activities of technological
resources in the teacher’s craft
Efectos de las actividades de colaboración a través de
recursos tecnológicos en embarcaciones del maestro

Na atualidade cada vez mais Nowadays more and more te- Hoy en día más y más profesores
os professores são convocados a achers are called upon to review están llamados a revisar sus prácticas
rever suas práticas pedagógicas. As their teaching practices, technolo- de enseñanza , tecnologías aportan una
tecnologias trazem uma nova pers- gies bring a new perspective that is nueva perspectiva que se aborda en este
pectiva que é abordada no presente addressed in this article, the impact artículo, el impacto de las actividades
artigo: as repercussões de atividades of collaborative activities through de colaboración a través de recursos
colaborativas por meio dos recursos technological resources. How and tecnológicos . ¿Cómo y en qué medida
tecnológicos. De que forma e em que to what extent affect the pedagogical afectan las prácticas pedagógicas de los
medida afetam as praticas pedagó- practices of teachers. This is to trans- docentes. Esto es para la transposición
gicas dos professores. Trata-se de pose the school focused on teaching de la escuela centrada en la enseñanza
transpor a escola centrada no ensino to one centered on learning. In this a uno centrado en el aprendizaje. En
para uma centrada na aprendizagem. the Learning Society , the emphasis este la sociedad del conocimiento , el
Nessa Sociedade da Aprendizagem a is on the learner. Learning to be a énfasis está en el alumno . Aprender a
ênfase é no aprendiz. Aprender a ser student is critical to learn to know, ser un estudiante es fundamental para
aluno é fundamental para aprender a to do and to live aprender a conocer, a hacer ya vivir
conhecer, a fazer e a conviver.

Palavras-chave: Tecnologia, Atividades Colaborativas, Professor. vimento das tecnologias de informação e comunicação,
que causou um impacto social expressivo e tem estimulado
Autores: muitas mudanças no mundo (STAHL, 1997). No âmbito desse
Lina Cardoso Nunes impacto, a sociedade recebeu a denominação de sociedade
Doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio de da informação, chamada posteriormente de Sociedade da
Janeiro em 1990. Atualmente é professora titular da Universidade Informação e do Conhecimento e mais recentemente deno-
Estácio de Sá, no Programa de Pós-Graduação em Educação minada Sociedade da Aprendizagem (ALARCÃO, 2003).
e no Curso de Pedagogia.  No dizer de Alarcão (2003, p.15) não há conhecimento sem
E-mail: nunes.lina@yahoo.com.br aprendizagem: “a escola não detém o monopólio do saber
(...) A escola tem que ser uma outra escola (...) tem que ser
Ana Paula Rodrigues Coutinho um sistema aberto, pensante e flexível”, constituindo-se
Graduada em Pedagogia pela UERJ/FEBF (1997), gradu- um espaço para o aprender.
ação em Letras pela Universidade Estácio de Sá (2014), O contexto descrito impõe desafios à sociedade e também
graduação em Gestão de Recursos Humanos pela Univer- à escola. Segundo Stahl (2001, p.302):
sidade Estácio de Sá (2011) e Mestrado em Educação pela não basta simplesmente transferir o processo ensino-aprendizagem,
Universidade Estácio de Sá (2005). Atualmente é  professora na forma como ocorre na sala de aula, para uma nova tecnolo-
titular da Universidade Estácio de Sá e Diretora Adjunta gia, dando ares de modernidade à escola, sem alterações em
Pedagógica da Fundação de Apoio à Escola Técnica do profundidade. É preciso que os professores estabeleçam o quê,
Estado do Rio de Janeiro FAETEC. como, onde, por quê, para quê, a quem e para quem servem as
novas tecnologias, e só então fazer uso delas, um uso consciente
E-mail: aprcoutinho@yahoo.com.br e responsável.

Pensamos que a contribuição da tecnologia, por meio


Introdução do uso de computadores, não pode ser indiferente a nenhum
Vivemos num tempo e num espaço marcados por notáveis professor, principalmente nos centros urbanos, uma vez que
avanços tecnológicos acelerados, “consumismo desenfreado”, hoje a Pedagogia e a Didática têm recebido inúmeras contribui-
bases científicas e culturais, coexistindo com níveis elevados ções dos dispositivos midiáticos. Tardif (apud PERRENOUD,
de pobreza e exclusão social. Este cenário está exigindo das 2000) destaca que se trata de passar de uma escola centrada
pessoas uma nova forma de colocar-se no mundo. no ensino para uma centrada na aprendizagem. Na Sociedade
Nesse contexto, aponta-se o debate sobre o desenvol- da Aprendizagem, coloca-se a ênfase no aprendiz. Aprender

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Repercussões das atividades colaborativas por meio dos recursos tecnológicos no ofício do professor
Lina Cardoso Nunes e Ana Paula Rodrigues Coutinho Dissertar
a ser aluno é fundamental para aprender a conhecer, a fazer tiplas alternativas para a solução de um problema, ou seja, do
e a viver com os outros 1. desenvolvimento do pensamento divergente, da capacidade
As inovações tecnológicas 2 que vêm ocorrendo nos le- de trabalhar em equipe, da disposição para procurar e aceitar
vam a modificar as dimensões do pensar, pois transformam o críticas”. (BRASIL, 1999, p.24).
conhecimento que as pessoas têm de si próprias, das outras e Assim, compreendemos que a inserção do computador
de suas relações com o mundo e tem repercussões no âmbito na escola oportuniza o redesenhar dos papéis de professor e
educacional. aluno no contexto educacional. O professor – mestre iluminado
Nessa perspectiva, não só os alunos, mas os próprios transmissor de conhecimento – emissor de mensagem fechada,
professores podem desenvolver atividades coletivas por meio dono da sala de aula baseada no falar-ditar (LEVY, 1993), é
da Informática Educativa, contribuindo para o processo de convocado agora para ser o mediador de inúmeras informações
aprendizagem. É a Informática na Educação presente no es- nas mais diversas vertentes que a informática consegue levar aos
paço escolar. De acordo com Valente (2001, p.31) “o termo alunos. Para o aluno é oferecida a possibilidade de coautoria na
Informática na Educação tem assumido diversos significados, construção de conhecimentos.
dependendo da visão educacional e da condição pedagógica Diante desse quadro, os professores têm papéis diferentes
que o computador é utilizado”. a desempenhar para o desenvolvimento da aprendizagem de
Na perspectiva dos pesquisadores do Núcleo de Informática seus alunos. Torna-se necessária uma formação que possa,
aplicada à Educação – Nied3 – a Informática na Educação “sig- ao mesmo tempo, prepará-lo para o uso das tecnologias nos
nifica a integração do computador no processo de aprendizagem processos de ensino, refletir sobre a sua prática e, a partir dela,
dos conteúdos de todos os níveis e modalidades de educação” sobre a construção do conhecimento e de seu compromisso de
(VALENTE, 2001, p.31).Hoje 4.640 escolas de Educação Básica da educador. O ofício do professor redireciona-se: além do que
rede pública no Brasil contam com um laboratório e informática, ensinar trata-se de fazer aprender, utilizando a informática, de
totalizando 53 mil microcomputadores, 326 Núcleos de Tecno- usar de competência para utilizar as inovações tecnológicas
logia Educacional – NTEs e 150 mil professores capacitados4. (PERRENOUD, 2000).
A Informática Educativa não se reduz à utilização de meios, Além dessa competência, Perronoud (2000) refere-se à
envolve muito mais que colocar computadores nas escolas, e competência do trabalho em equipe que configura a possibilidade
somente se consideradas certas condições, tem potencial para da aprendizagem colaborativa. O autor afirma que trabalhar em
contribuir positivamente para o processo de aprendizagem. conjunto faz-se uma necessidade. Perrenoud (2000, p.81) define:
Outro aspecto que precisa ser destacado é a necessidade “Trabalhar em equipe é, portanto, uma questão de competências
do apoio indispensável aos professores que estão dispostos a e pressupõe igualmente a convicção de que a cooperação é um
investir tempo e esforço na inovação.Seu envolvimento nas valor profissional.”
propostas de utilização de informatização pedagógica pode Nesse sentido, afirma Behrens(2000,p.96):
fornecer o impulso e a direção para a mudança (SANDHOLTZ; na Sociedade da Aprendizagem, a tecnologia como ferramenta
RINGSTAFF; DWYER, 1997). de aprendizagem colaborativa possibilita os projetos de apren-
Esta mudança remete à reflexão sobre a tecnologia como dizagem construídos por professores e alunos. Os professores e
um conjunto de recursos para a aprendizagem colaborativa, onde alunos podem utilizar a informática para favorecer os processos
alunos e professores tenham mais participação ativa e interativa. de interação entre eles.
De acordo com Behrens (2001, p. 96), a tecnologia pode ser usa-
da como “ferramenta para a aprendizagem colaborativa”. Essa Essa interação entre professor e aluno contempla na
estratégia de ensino – aprendizagem, baseada em abordagens aprendizagem colaborativa a inter-relação e a interdependência
teóricas sociais, encara o aluno como agente ativo do processo dos seres humanos. Citando Behrens (2001, p.78): “A relação
de aprendizagem.Com vistas a atingir uma determinada meta, é de parceiros solidários (...) que se apropriam da colaboração,
pressupõe que os alunos trabalhem juntos em pequenos gru- da cooperação e da criatividade, para tornar a aprendizagem
pos, considerando que os computadores e a ligação à Internet colaborativa significativa, crítica e transformadora”. Alunos e
aumentam o potencial para envolver os alunos em atividades de professores envolvem-se com situações de ensino diversas do
colaboração. Ressaltamos que uma das competências básicas que estão habituados no processo tradicional.
apontadas no documento Parâmetros Curriculares Nacionais Pretto (2000, p.46), adverte no Livro Verde5:
do Ensino Médio é precisamente “Capacidade de pensar múl- educar em uma sociedade da informação significa muito mais
que treinar as pessoas para o uso de tecnologias da informação
1
A UNESCO instaurou, em 1993, a Comissão Internacional sobre a Educação para e comunicação: trata-se de investir na criação de competências
o século XXI com o intuito de apontar as tendências da educação para as próximas suficientemente amplas que lhes permitam ter uma atuação efetiva
décadas, gerando o documento conhecido como Relatório Jacques Delors que foi na produção de bens e serviços, tomar decisões fundamentadas no
elaborado por especialistas de vários países e indica os quatro pilares da educação conhecimento, operar com fluência os novos meios, ferramentas
nas próximas décadas: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver em seu trabalho, bem como aplicar criativamente as novas mídias,
e aprender a ser. Nessa perspectiva se enfatiza a formação dos professores para seja em usos simples e rotineiros, seja em aplicações mais sofis-
um trabalho educativo eficaz. O quadro que se apresenta requer investimento ticadas. Trata-se também de formar indivíduos para “aprender
na Educação Básica destacando-se a formação de professores como um tema a aprender”, de modo a serem capazes de lidar positivamente
crucial e uma das mais importantes políticas para a educação.(BRASIL,1998) com a contínua e acelerada transformação da base tecnológica.
2
A maioria dos estudos sobre inovação sublinha a idéia de “novo”, todavia, este
entendimento não parte da premissa de que uma inovação implica em algo Nessa linha de pensamento, Silva (2001) convoca os pro-
original.Muitas vezes o “novo” pode estar na introdução de algo que já tem uso fessores para que se convertam em formuladores de problemas,
corrente noutro lugar.(FARIAS, 2003)
3
Grupo de pesquisa da Unicamp – Universidade de Campinas 5
“Educação na sociedade da informação”, Livro Verde, Brasília (DF), Mi-
4
Dados disponíveis em www.mec.gov.br/proinfo nistério da Ciência e Tecnologia, 2000

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Dissertar Repercussões das atividades colaborativas por meio dos recursos tecnológicos no ofício do professor
Lina Cardoso Nunes e Ana Paula Rodrigues Coutinho

sujeitos envolvidos no projeto, tomada de decisões em grupo,


provocadores de interrogação, coordenadores de equipes de troca e conflitos sociocognitivos, consciência social, reflexão
trabalho, sistematizadores de experiências, e memórias vivas de individual e coletiva, tolerância e convivência com as diferen-
uma educação que, em lugar de aferrar-se ao passado, valorize e ças, responsabilidade do aprendiz pelo seu aprendizado e pelo
possibilite o diálogo entre culturas e gerações. Para isso torna- grupo, constantes negociações e ações conjuntas e coordenadas.
-se necessária uma reformulação drástica na formação desses (BEHRENS, 2001, p.106)
professores. Um dos pontos dessa reformulação volta-se para a Nessa dimensão o professor deve planejar atividades que
formação para trabalho com as tecnologias, no caso, o uso dos ajudem os estudantes a descobrir e tirar vantagem da heteroge-
computadores numa dimensão pedagógica. neidade do grupo para aumentar o potencial de aprendizagem de
Conforme Valente (2001) uma das propostas de utilização cada um dos membros do grupo. Sendo o espaço de formação
da Informática na Educação é a de repensar o papel da Escola profissional ideal para a implementação dessa metodologia de
à luz das novas tecnologias. A relação entre a teoria e a prática, ensino-aprendizagem, especialmente, no âmbito de projetos de
no percurso da formação de professores tem uma dimensão aprendizagem colaborativa.
dialética, que leva a uma postura crítica reflexiva diante do
processo de ensino e aprendizagem. O presente artigo tem como foco central a problemática que
Dowbor (apud GADOTTI, 2000), após enaltecer as van- vem desafiando aos professores do Curso Normal, instigando
tagens da informática, questiona o uso da mesma nas escolas, as possibilidades para desenvolver processos que focalizem a
que hoje não têm nem giz, nem computador sendo que o pro- aprendizagem colaborativa por meio do uso de computadores.
fessor também não dispõe de um salário digno para comprar Considera-se, nesse sentido que a absorção das novas metodolo-
esse dispositivo tecnológico. O mesmo autor responde que é gias, para ensinar e para aprender, precisa levar em consideração
preciso trabalhar em dois tempos: fazer tudo hoje para superar o mundo tecnológico que se implantou nas últimas décadas do
as condições precárias do atraso das escolas e ao mesmo tempo século XX.
oportunizar e aproveitar as tecnologias da informação e da Nesse âmbito se insere o presente artigo que aborda os
comunicação, no ambiente escolar. Ilustrando essa afirmação, Cursos de Ensino Médio – na modalidade Normal e as possibili-
a UNESCO realizou uma pesquisa entrevistando 5.000 profis- dades de criação de um ambiente de aprendizagem colaborativa
sionais do Ensino Fundamental e Médio de escolas públicas por meio da Informática Educativa.
e particulares dos 27 estados brasileiros sobre o perfil dos A Informática aplicada à Educação vai progressivamente
professores brasileiros e os dados demonstram que a maioria abrindo espaços na sociedade contemporânea. Perrenoud (2000)
dos professores brasileiros não usa o correio eletrônico (59,6%), coloca que a verdadeira incógnita é saber se os professores irão
não navega na Internet (58,4%), nem se diverte no computador se apossar das tecnologias, especialmente, do computador, como
(53,9%).6 Isto leva a refletir sobre a ausência da Informática na um auxílio ao ensino, para dar aulas melhor ilustradas, ou para
vida cotidiana desse professorado. mudar de paradigma e concentrar-se na criação, na gestão e na
Candau (1997) prevê que somente a capacidade do pro- regulação de aprendizagem.
fessor para selecionar e explorar as tecnologias adequadas ao Assim, com a crescente tendência de pensar a educação
seu contexto dará a devida dimensão do seu uso na educação, na Sociedade da Aprendizagem questiona-se o espaço para
ressaltando que esse uso só terá uma repercussão caso conte com a formação de professores em uma sociedade que se propõe
o apoio dos professores Daí a importância da atitude do professor à inclusão social como uma das prioridades. A formação dos
como fator significativo no uso do computador, propiciando a professores pouco tem se alterado nas últimas décadas, ig-
aprendizagem colaborativa. norando os avanços tecnológicos, apesar de algumas escolas
Assim, a práxis7 do professor familiarizado, com as tec- contarem com laboratórios de informática e capacitações
nologias da informação e comunicação deve ser um processo para os docentes .
que, segundo o Programa Nacional de Informática na Educação
-ProInfo8 – (BRASIL, 2000), o mobilize e prepare para incitar De acordo com Stahl (1997, p.312):
seus alunos a “aprender a aprender”, tendo autonomia para as tentativas para incluir o estudo das novas tecnologias nos
selecionar as informações pertinentes à sua ação, compreender currículos dos cursos de formação de professores esbarram,
os conceitos envolvidos, analisando as situações – problema e quase sempre, nas dificuldades com o investimento exigido para
escolhendo a alternativa adequada de atuação para resolvê-las, a aquisição de equipamentos, e na falta de professores capazes
assim como, refletindo sobre os resultados obtidos, depurando de superar preconceitos e práticas cristalizadas que rejeitam a
tecnologia, e mantém um tipo de formação em que predomina a
seus procedimentos e reformulando, se preciso, as suas ações, reprodução de modelos que já deviam ter sido substituídos por
numa dimensão colaborativa. Criar esse ambiente favorece a outros mais adequados à problemática educacional.
construção de uma sociedade solidária, porque essa dimensão
colaborativa valoriza a aprendizagem em grupo, envolve além dos Nesse sentido as disciplinas do curso Normal, formação
alunos, os professores e os gestores da educação, uma vez que: inicial de professores, poderiam articular seus conceitos com a
Informática Educativa, construindo um ambiente de aprendi-
depreende-se que uma postura cooperativa exige colaboração dos zagem colaborativa. A criação de ambientes de aprendizagem
colaborativa apoiada por computador é uma das alternativas
6
A pesquisa completa pode ser encontrada no site www.unesco.org.br atuais do novo enfoque da aprendizagem, fundamentada em
7
Práxis – Na Filosofia Marxista, a palavra grega práxis é usada para designar uma teorias sócio-interacionistas (Vygotsky, 1984)
relação dialética entre o homem e a natureza. A filosofia da práxis se caracteriza Assim, o presente artigo direciona-se à ampliação do
por considerar como problemas centrais para o homem os problemas práticos de
sua existência concreta (JAPIASSU; MARCONDES, 1996, p.49). conhecimento acerca do uso da Informática aplicada à Edu-
8
PROINFO – Programa Nacional de Informática na Educação instituído em
cação na modalidade de Ensino Médio Normal, bem como as
1997 atende 4.640 escolas ,possui 53 mil computadores,326 Núcleos de tecno- repercussões das atividades colaborativas por meio dos recursos
logia Educacional e conta com 150 mil professores capacitados (BRASIL, 2000) tecnológicos no ofício de professor.

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Repercussões das atividades colaborativas por meio dos recursos tecnológicos no ofício do professor
Lina Cardoso Nunes e Ana Paula Rodrigues Coutinho Dissertar
O percurso da investigação foi realizado o grupo focal, é uma técnica não – diretiva, cujo
A pesquisa em foco realizou-se no Instituto de Educação resultado no caso dessa pesquisa visou o controle da discussão
Professor Móyses Henrique dos Santos, em São João de Meriti, de um grupo de alunos. Levantaram-se opiniões e considerações
sendo focalizados os aspectos qualitativos acerca das contribuições sobre o tema nos encontros com os grupos de alunos. O facilita-
e implicações do uso da Informática Educativa no Curso Normal. dor da discussão deve estabelecer a discussão e não realizar uma
A escolha para estudo se justifica por ser uma escola de referência entrevista com o grupo. É utilizado na coleta de novas informa-
no Município, com 1.300 (um mil e trezentos alunos), abrigando ções, permitindo ainda coletar dados qualitativos para avaliação
87 professores com experiência de atuação no Curso de Forma- dos resultados, através da realização de entrevistas informais e
ção de Professores, alguns com Mestrado e vários especialistas. conversas abertas. Foram organizados grupos pequenos com
É importante para o presente estudo acrescentar que o Instituto cerca de 8 alunos.
de Educação Professor Moysés Henrique dos Santos participa Os achados relativos às entrevistas semiestruturadas e aos
do ProInfo - Programa de Informatização das Escolas Públicas. grupos focais foram analisados de acordo com a técnica de análise
O Instituto de Educação Professor Móyses Henrique dos de conteúdo, na modalidade análise temática(BARDIN,1997)
santos, foi escolhido por ser uma referência no município, com
1.251 (um mil e duzentos e cinquenta e um alunos), abrigando Apresentando os resultado:
87 docentes com grande experiência de atuação no Curso Com base nas entrevistas semiestruturadas com os pro-
de Formação de Professores, alguns com Mestrado e vários fessores e as respostas do grupo focal realizado com os alunos,
especialistas, participando, ainda, do ProInfo – Programa de surgiram quatro temas, que serão descritos brevemente a seguir.
Informatização das Escolas Públicas. O primeiro tema relativo aos Projetos Pedagógicos
A estrutura curricular do Curso Normal do referido desenvolvidos no laboratório de Informática. Nele ficaram
Instituto de Educação segue as diretrizes estabelecidas pela evidenciados como os participantes envolvidos na pesquisa
Resolução SEE n° 2353, de 28 de dezembro de 2000 e pela percebem a importância do professor ter um projeto pedagógico
portaria E/Suen n° 07, de 22 de fevereiro de 2001. Ainda, os que utilize a informática para agregar conhecimentos aos alunos
componentes curriculares de Base Nacional Comum, atendem em suas disciplinas.
aos princípios das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Percebe-se em grande parte das falas dos participantes
Ensino Médio(DCNEM). o destaque aos trabalhos desenvolvidos no laboratório pelos
A escola participa do projeto ProInfo, pertencendo a professores, evidenciando que as aulas com a informática são
abrangência do Núcleo de Tecnologia Educacional de Nilópolis desafiadoras e não aulas mecânicas.
( RJ 12) . O ProInfo é um programa educacional criado em 9 de Observa-se que os professores que usam a sala de Infor-
abril de 1997 pelo MEC – Ministério da Educação (Portaria MEC mática procuram a Internet como fonte de conhecimento para
522) para implementar o uso da Telemática como ferramenta complementar o conteúdo abordado em sala de aula, articulados
de potencialização pedagógica no ensino público fundamental aos projetos pedagógicos, conforme pode ser constatado nos co-
e médio, cujas estratégias de avaliação constam do documento mentários, a seguir pelos alunos sobre as atividades vivenciadas
Diretrizes do Programa Nacional de Informática na Educação, e os conteúdos referentes aos projetos discutidos.:
de julho de 1997. PI 4 - Minha turma trabalhou com a questão do Conselho Na-
Participaram da presente pesquisa: a equipe técnica cional de Educação e os órgãos. Fizemos pesquisas, acessamos
pedagógica formada por três Coordenadoras Pedagógicas, três o site do CNE, vimos as atribuições, algumas deliberações do
Orientadoras Educacionais e três diretores, sendo uma diretora Conselho, os participantes do Conselho
geral e os oitenta e sete professores que atuam no Instituto de PI 1 - Utilizei com a Informática Básica, criação de Home Page e
Educação do Curso Normal em Nível Médio. pesquisa de conteúdo para Didática. Tive o auxilio de um monitor
A observação do campo de pesquisa privilegiou a pesquisa – um rapaz formado em Informática que fazia como voluntário
qualitativa, não se resumiu em olhar, mas foi estruturada, a partir um trabalho no laboratório. As aulas práticas ocorriam no La-
boratório. Em três momentos: iniciar, aprofundar e pesquisar.
de um roteiro, com registro temporal e com anotações em caderno Iniciei no Paint; Ensinei a criar e-mail,gravar os desenhos,
de campo; compreendeu descrições, explicações e registro de enviar os desenhos por e-mail,Tabela no excel, Texto e desenho,
observações e reflexões que realizamos sobre expressões ou ações construção de texto coletivo, na tentativa de interdisciplinar.
dos pesquisados (TRIVIÑOS, 1997).De acordo com Lüdke e PI 3 - entramos também nos sites das Secretarias dos estados
André (1986, p.26) a observação direta “permite também que do Rio de janeiro, do Ceará e da Bahia, fazendo uma pesquisa
o observador chegue mais perto da” perspectiva dos sujeitos”, mesmo de atuação dessas secretarias como é trabalhado o Ensino
um importante alvo nas abordagens qualitativas”. Foi também de Jovens e Adultos, merenda escolar e os projetos desenvolvidos
utilizado o questionário que segundo Rizzini (1999 p. 77): por essas secretarias. O laboratório foi utilizado para pesquisa,
a confecção do relatório sobre o que eles pesquisaram no Word
consiste em uma série de perguntas e questões, cuja forma, aberta e também eles entraram no site da SEE, ouvidoria, fale com a
ou fechada, configura tipos de coleta de dados qualitativos e SEE e eles colocaram sobre a questão do passe livre.
quantitativos, respectivamente. O questionário pode ser dirigido
ao entrevistado pelo entrevistador, de forma direta, ou preenchido O segundo tema Contribuições da Informática reflete a
pelo próprio entrevistado. conscientização dos participantes da pesquisa em relação ao
Outro instrumento utilizado foi a entrevista semiestru- mundo em que vivemos e a necessidade da modernização. A
turada que segundo Rizzini (1999, p. 63): “é aplicada a partir grande maioria dos alunos enaltece a importância da Informática
de um pequeno número de perguntas, para facilitar a sistema- na elaboração dos trabalhos escolares, bem como a influência
tização e codificação. Apenas algumas questões e tópicos são dela para o seu futuro profissional e contribuição da mesma na
pré-determinados”. apropriação de conhecimentos e informações.
A7 - A informática é um recurso fundamental em termos de
Para aprofundar aspectos relativos aos questionamentos

49
Dissertar sadadsadsadsadasd
dasdsadsadsadsadsadsadsa sadadsadsadsadasd

pesquisa e inclusão profissional. computador vinha para cá (sala de informática) depois das aulas
A 1 - Além de ajudar a professora, a gente também trabalha ensinar e aprender informática.
com as crianças e nós mesmos usamos a Internet, pesquisando A6 - A própria professora de Prática havia dito que havia coisas
sites,fazendo pesquisas... que ela não sabia e aprendeu com a gente. Isso é legal! Tanto a
A4 - A informática, hoje em dia é básico, como Inglês e Espanhol, gente aprende com ela como ela aprende com a gente.
nas nossas vidas.
O terceiro tema está associado às Dificuldades com a Considerações Finais
Informática, que aparecem nos depoimentos dos participantes, Os desafios e as perspectivas que se apresentam na apren-
abordando os entraves apresentados por alunos e professores dizagem colaborativa no Ensino Médio – Modalidade Normal
para a utilização do laboratório de Informática. A resistência – são apontados pelos participantes da presente pesquisa. As
dos professores, a falta de tempo apontada pelos professores práticas pedagógicas observadas no decorrer da pesquisa revelam
para elaboração de atividades que possam contemplar a sala que a informática ainda não faz parte do mundo dos professores
de informática, o despreparo do professor para a utilização das formadores de professores No presente estudo de caso.Embora
inovações tecnológicas e por fim o número excessivo de alunos os resultados do estudo não sejam generalizáveis é preocupante
por turma,cujos laboratórios de informática não comportam. em se tratando de uma escola de formação de professores.
Apesar disso, as falas dos participantes da pesquisa
PI 2 - De inicio precisamos quebrar o gelo, tinha gente que odiava
computado, entre eles havia uma relação somente de ódio (...) apontaram para a importância da inserção das tecnologias da
informação, do computador e do laboratório, no cotidiano pe-
PI4 - Eles são muito participativos. Só lamento que o laboratório dagógico. Mesmo assim, foi sinalizado que poucos professores
é pequeno e dificulta o nosso trabalho a gente tem um desgaste
maior Vamos torcer para que cada sala tenha o seu computador, levam seus alunos a sala de informática e criam estratégias para
porque a gente também já prepara nossa aula em Pt e apresenta. utilizá-la, uma vez que o número de máquinas é inversamente
P28 - Não houve curso preparatório para sua utilização, não
proporcional ao número de alunos. Entretanto os alunos são
nutro simpatia pelo uso desse recurso; não acredito que o recurso unânimes em reconhecer as contribuições da informática, seja
amplie as condições de aprendizagem ;o livro continua sendo o em âmbito pessoal ou profissional, bem como na apropriação
melhor instrumento para a pesquisa pedagógica de conhecimentos.
Considera-se, a princípio, que não é possível pensar num
O aluno participante A3 também reflete em suas coloca- curso de formação de professores que não contemple a informá-
tica educativa. A educação precisa encarar a informática de uma
ções sobre as dificuldades encontradas: forma ampla que ultrapasse os muros da escola, formando seus
A3 - Uma dificuldade que nós tivemos foi que muitas crianças alunos para o ambiente digital. Segundo Branco (2003, p.417)
estão na 2ª e 3ª séries e não sabem ler e isso dificultou o nosso “O humano e o tecnológico não podem ser vistos como forças
trabalho, porque para interagir melhor com o computador é antagônicas dentro da sociedade como um todo e da educação
preciso leitura e eles não conseguiam. O que não impediu que em particular”. Nesse contexto, a educação perde seu monopó-
elas aprendessem. lio do saber, desencontra-se da sua forma habitual de ensinar e
O tema seguinte aponta para os indicadores de Aprendi- confronta-se com um novo aluno, que emerge de uma geração
zagem Colaborativa, foco deste trabalho, levantando os aspectos tecnológica.
relacionados ao diálogo e à reflexão, à participação e à colaboração Após considerarmos sobre os objetivos desse trabalho, os
entre alunos com os alunos e dos professores com os alunos e o desafios e as perspectivas apontadas refletem que não basta que
uso do computador como interface existam políticas públicas que incentivem o uso dos computa-
A aprendizagem colaborativa depende da abordagem dores no Ensino Médio – Modalidade Normal, para que esse
pedagógica que a valorize, por meio de professores que re- fato se efetive, não é por usar trabalhos em grupo que se está
dimensionem a sua prática, objetivando ultrapassar os muros utilizando a aprendizagem colaborativa e que é necessário que
escolares. Uma proposta pedagógica que oportunize ao discente o professor esteja pré - disposto a abraçar essa causa, porque
a produção do conhecimento e que o estimule a ser autônomo, a utilização da tecnologia depende da forma como o professor
inovador e com capacidade de reconhecer e refletir obre a sua vai utilizá-la em seu cotidiano.
realidade.(BEHRENS, 2000).Podemos analisar esse indicadores Fica então a nossa provocação, façamos o uso da Infor-
nas falas a seguir: mática Educativa, em Laboratórios das escolas formadoras
de professores numa perspectiva colaborativa de aprendiza-
PI 1 - No laboratório de Informática é que nós professores nos
despimos. do falso saber, eu sei tudo, eu sou a autoridade máxima, gem, não com o objetivo de elevá-la ao patamar de salvadora
lá dentro você ensina e aprende, o aluno te ensina e a gente se da crise educacional, mas de uma maneira reflexiva de que
transforma em colegas de turma .Uma troca muito grande. Uma sociedade queremos, uma vez que a tecnologia não é indepen-
coisa maravilhosa. Aprendi muito no laboratório. Eu queria ter dente da sociedade, uma vez que não há neutralidade, nem na
mais tempo, daria minhas aulas no Laboratório Acho que eles ciência,nem na escola.
cresceram e eu também cresci
Nesse sentido julgamos que as questões sobre o uso da
PI 1 - No laboratório de Informática é que nós professores nos Informática Educativa nas Escolas de Curso Normal, de forma
despimos daquela...do falso saber, eu sei tudo, eu sou a autori- colaborativa devem sair do âmbito professor/ aluno e ampliar a
dade máxima, lá dentro você ensina e aprende, o aluno te ensina
e a gente se transforma em colegas de turma .Uma troca muito discussão nas comunidades escolares, na tentativa de repensar
grande. Uma coisa maravilhosa. Aprendi muito no laboratório. uma nova educação que possibilite a inclusão digital de forma
Eu queria ter mais tempo, daria minhas aulas no Laboratório progressiva dos professores que já atuam e dos que estão se
Acho que eles cresceram e eu também cresci preparando para atuar.
A4 - Fizemos esse trabalho com os próprios amigos da sala
de aula. Aquelas pessoas que não sabiam nem como ligar um

50
Universidade Estácio de Sá: 10 anos do processo de avaliação interna
Márcia Sleiman Rodrigues, Maria de Fátima Alves São Pedro e Angela Barral Bouzas Dissertar
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51
Dissertar

O impacto dos jogos eletrônicos na propensão da geração Y à


cooperação ou competição no ambiente corporativo
The impact of electronic games on the propensity of millennials
cooperation or competition in the corporate environment
El impacto de los juegos electrónicos en la propensión de la generación
del milenio cooperación o la competencia en el entorno corporativo

O objetivo deste estudo foi anali- The aim of this study was to ana- El objetivo de este estudio fue ana-
sar, à luz da teoria da interdependência lyze, according to the social interde- lizar, De acuerdo con la teoría de la inter-
social de Deustch (1973), o impacto pendence theory of Deustch (1949), the dependencia social del Deustch (1949),
dos jogos eletrônicos na propensão da electronic games impacts in generation los impactos de juegos electrónicos en
geração Y à cooperação ou competição Y cooperation or competition attitudes la generación Y Cooperación o actitu-
no ambiente organizacional. A teoria in organizational environment. This des de competencia en el entorno de la
diz que a interdependência entre indi- theory relates to relational concepts, organización. Esta teoría relaciona con
víduos pode ser positiva (cooperação) discussing the interdependence between conceptos relacionales, discutiendo la
ou negativa (competição). A discussão people may be positive (cooperation) or interdependencia entre las personas puede
teórica parte de uma explanação sobre negative (competition). The theoretical ser positivo (Cooperación) o negativo
as diferentes gerações que interagem em discussion starts in a short explanation (competencia). La discusión teórica se
um mesmo contexto organizacional. A about the different generations that inicia en la breve explicación sobre los
amostra de 901 respondentes foi com- interact in an equal organizational diferentes generaciones Que interactúan
posta por alunos de pós-graduação de environment, discussing the genera- en un ambiente organizacional igual,
uma Instituição de Educação Superior tional profiles, as well the generation discutiendo los perfiles generacionales,
(IES) particular, membros de uma rede Y peculiarities. Then, the social inter- así como las peculiaridades de la Gene-
social, leitores de um blog de economia, dependence theory was discussed as ración Y. Entonces, la teoría de la interde-
funcionários do SEBRAE/ES e contatos a way of conceptualize cooperative pendencia social se discutía la forma de
pessoais da autora. Utilizou-se também and competitive behaves. The survey conceptualizar de comporta cooperativos
o método snowball na coleta dos dados. was conducted from a sample of 901 y competitivos. La encuesta se realizó a
O banco de dados inicial contou com respondents, consisting of students partir de una muestra de 901 encuestados,
33 variáveis expressas com base na graduate from a particular Higher que consta de postgrado a estudiantes
escala de diferencial semântico com Education Institution (HEI), members de una institución privada de educación
classificação de sete pontos, e o questio- of a social network, a blog reader of superior (IES), los miembros de una red
nário esteve hospedado na plataforma economy, officials SEBRAE / ES and social, el lector del blog de economía,
SurveyMonkey. Utilizou-se o modelo personal contacts of the author. The officals de SEBRAE / ES y los contactos
Log-Linear por ser o mais adequado snowball method was also used in personales del autor. El método de bola de
para análise dos dados qualitativos. data collection. The initial database nieve se utilizó también en la recopilación
Por fim, os resultados sugerem que os included 33 variables expressed based de datos. La base de datos inicial incluyó
jogos eletrônicos influenciam jogado- on the semantic differential scale with 33 variables expresso basada en la escala
res da geração Y da amostra a maior seven points classification, whose ends de diferencial semántico con la clasifica-
propensão a cooperar, levantando a are associated with bipolar labels that ción de siete puntos, cuyos extremos están
possibilidade de se confirmar que há have semantic meaning. The question- asociados con etiquetas bipolares Que
predisposição maior para cooperar naire was scanned by SurveyMonkey tienen significado semántico. El cuestio-
do que para competir. platform and available at URL itself nario fue analizado por la plataforma de
to allow remote access units research, SurveyMonkey y disponible en URL en sí
besides the rapid tabulation of results para permitir la investigación unidades de
and analysis. The Log Linear model acceso remoto, sucia la rápida tabulación
was chosen to be the most suitable de los resultados y el análisis. El modelo
for qualitative analysis of categorical de registro lineal fue elegido para ser el
data. Finally, the results suggest that más adecuado para el análisis cualitati-
electronic games influence generation vo de los datos categóricos. Por último,
Y players to the greater propensity to los resultados sugieren Que los juegos
cooperate, raising the possibility of electrónicos influyen en los jugadores de
confirming that there is greater suscep- la Generación Y a la mayor propensión
tibility to cooperate than to compete. a cooperar, aumentando la posibilidad
de confirmar Que hay una mayor sus-
ceptibilidad a cooperar que competir.

52
O impacto dos jogos eletrônicos na propensão da geração Y à cooperação ou competição no ambiente corporativo
Luciana Genelhu Zonta Dissertar
Palavras-chave: Geração Y, Cooperação, Competição, Jogos o atingimento do objetivo de um membro impede os outros de
eletrônicos. atingirem os seus.
Na literatura tem sido comum o desenvolvimento de
Autores: pesquisas relacionadas ao modo como as gerações se rela-
Luciana Genelhu Zonta cionam no ambiente organizacional, mais especificamente às
Mestre em Administração pela FUCAPE Business School reações e respostas da geração Y, sendo foco de autores como
(2012), Especialista pela PUC-SP em Economia e Gestão das Yee (2006) e Siitonen (2003) que estudaram o comportamento
Relações de Trabalho (2004), Graduada em Administração de desses jovens, Rugimbana (2007) com investigações sobre
Empresas pela Universidade Federal do Espírito Santo (2002). suas especificidades culturais e Dencker; Joshi; Martocchio
Atualmente é docente e Coordenadora do MBA em Gestão (2007) que mostraram como as normas relacionadas à idade
Estratégica de Pessoas da Faculdade Estácio de Vitória/ES. são institucionalizadas nas organizações.
Email: Igzonta@hotmail.com Apesar de estudos já terem sido realizados com a geração
Y, não foram encontradas na literatura nacional pesquisas
envolvendo o impacto dos jogos eletrônicos na propensão da
Introdução geração Y à competição ou à cooperação no ambiente corpo-
O mercado de trabalho aponta que, pela primeira vez na rativo, apenas na literatura internacional. E o presente estudo
história, as organizações acolhem profissionais, cujas idades contribui na revisão de práticas de gestores, sugerindo a inserção
cobrem uma diferença de mais de 40 anos (LOMBARDIA; de estratégias na formação de equipes envolvendo a geração Y.
STEIN; PIN, 2008), fazendo interagir, dessa forma, em um Dessa forma, a fim de preencher essa lacuna, o problema
mesmo contexto organizacional até quatro gerações distintas, de pesquisa desse estudo é: Qual o impacto dos jogos eletrônicos
ou seja, tradicionais (ou veteranos), baby boomers, geração X na propensão da geração Y à cooperação ou competição no
e geração Y ou trabalhadores do milênio (SMOLA; SUTTON, ambiente corporativo?
2002; LANCASTER; STILLMAN, 2005). Tendo como objetivo geral analisar o impacto dos jogos
De acordo com Balassiano (2009), a cada 20 anos, eletrônicos na propensão da geração Y à cooperação ou com-
aproximadamente, uma nova geração surge, e os efeitos das petição no ambiente corporativo, à luz da teoria da interdepen-
transições entre elas são verificados de quinze a vinte anos dência social de Deustch (1973).
depois. Transformações sociais e econômicas, aliadas a vários Assim, foram levantadas as seguintes hipóteses:
outros fatores, tais como o conjunto de vivências comuns e a H1: Os jogos eletrônicos influenciam jogadores da geração
aproximação das idades impactam na história de uma geração Y a maior propensão a cooperar.
(LOMBARDIA; STEIN; PIN, 2008), sendo que suas caracte- H2: Os jogos eletrônicos influenciam jogadores da geração
rísticas influenciam o modo de ser e de viver das pessoas nas Y a maior propensão a competir.
sociedades (VASCONCELOS et al., 2009). O estudo se justifica pela importância do desenvolvimento
Assim, a gestão das diferenças entre gerações é prepon- de pesquisas relacionadas ao comportamento da geração Y no
derante, não por razões humanistas, mas por ser um imperativo país, colaborando com o avanço da teoria de Gestão de Pessoas,
dos negócios (LOMBARDIA; STEIN; PIN, 2008). Dencker; pois Gilbert (2011) ressalta que, gerentes acostumados a usar
Joshi; Martocchio (2007) e Kupperschmidt (2000) explanam certas práticas para envolver boomers vão ter que mudar os
a respeito de sistemas sociais que não levam em conta dinâ- seus caminhos e práticas, caso esperem contratar e manter o
micas sociais pertinentes à idade que podem desencadear ou grupo mais novo fortemente empregado.
sustentar conflito de gerações, insatisfação e diminuição na
produtividade no ambiente de trabalho. Autores como Beck Revisão de literatura
e Wade (2004) pontuam que a aceleração das inovações
tecnológicas a partir da década de 90 propiciou um maior Os perfis geracionais
contato da geração Y com os jogos eletrônicos, incutindo Com a virada do século, o conceito de gerações recu-
a esses sujeitos uma cultura diferente no que diz respeito à pera o seu espaço nas análises sociológicas que não indicam
força de trabalho, centrada na liberdade de tomar decisões, somente as diferenças de classe, mas ainda as desigualdades
nas oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento, na de gênero, étnico raciais, culturais e geracionais (MOTTA;
comunicação aberta e no respeito pelo seu estilo de vida WELLER, 2010). Para que seja possível entender uma ge-
(LOMBARDIA; STEIN; PIN, 2008). ração, é necessário contextualizá-la a partir das anteriores
De acordo com DeFalco (2007), em busca da convergência (VASCONCELOS et al., 2009).
entre a tecnologia e a criatividade, os games servem hoje para No mesmo contexto, para compreender como uma geração
educação, treinamento de profissionais das mais diversas áreas, difere da outra, é preciso que se perceba como cada uma delas
e são, hoje, meios interativos com os quais o usuário constrói forma um conjunto de crenças, valores e prioridades, ou seja,
hipóteses, resolve problemas, desenvolve estratégias, aprende paradigmas, consequências diretas da época em que cresceram
regras e simula o real. “O hábito de jogar traz no seu bojo uma e se desenvolveram (CHIUZI et al., 2011).
série de particularidades que podem contribuir na formação de Diversas pesquisas (ALVES, 2004; BALASSIANO, 2009;
potenciais diferenciais entre as gerações que se encontram no DENCKER; JOSHI; MARTOCCHIO, 2007; FERREIRA,
mercado de trabalho contemporâneo” (BALASSIANO, 2009, p. 5). 2010; FEIXA; LECARDDI, 2010) abordam os comportamentos
Nesse contexto, Deutsch (1973) ressalta que a interdepen- entre gerações sob diferentes aspectos e “embora as motivações
dência entre os integrantes de um grupo pode ser competitiva variem dependendo do campo do conhecimento, os objetivos
ou cooperativa. Ele ainda define a cooperação como o contexto seguem a mesma direção: traçar perfil; identificar caracterís-
interativo em que as ações de um participante favorecem o al- ticas idiossincráticas; e estabelecer paralelos entre atitudes,
cance do objetivo de ambos. No âmbito oposto, na competição, habilidades e comportamentos” (BALASSIANO, 2009, p. 3).

53
Dissertar O impacto dos jogos eletrônicos na propensão da geração Y à cooperação ou competição no ambiente corporativo
Luciana Genelhu Zonta

As gerações podem ser classificadas conforme a sua fai- como curiosos questionadores e criativos; extremamente in-
xa etária em: a) tradicionalistas ou veteranos (nascidos antes formados; conhecedores de línguas estrangeiras, sobretudo
de 1947); b) baby boomers (nascidos até 1964); c) geração X o inglês; ávidos por novas experiências; e necessitados de
(nascidos ente 1965 e 1977); e d) geração Y ou baby gamers, reconhecimento constante.
(nascidos a partir de 1978) (BECK; WADE, 2004; COIMBRA; Para Lombardia, Stein e Pin (2008), essa tribo, de natureza
SCHIKMANN, 2001; LANCASTER; STILLMAN, 2005; urbana, possui características comuns que a diferenciam de
LOMBARDIA; STEIN; PIN, 2008; VELOSO et al., 2008). outros coletivos: a) seu nível educativo é alto; b) raça, naciona-
Algumas diferenças entre as gerações, comparando e lidade e religião são secundárias, os laços profissionais ou de
contrastando comportamentos são apresentadas no Quadro 1. gostos pessoais é que contam; c) buscam carreiras brilhantes,
altos salários e adoram os headhunters e as multinacionais; e
Quadro 1 - Resumo sobre as diferenças entre gerações d) a rede de amizades e conhecidos está distribuída por todo
o mundo ou em região ampla.
Tradicionais Baby Boomers Geração X Geração Y
Os jogos e o comportamento humano
Perspectiva Prática Otimista Cética Esperançosa
Vários são os teóricos unânimes nas relações cognitivas,
Ética profissional Dedicados Focados Equilibrados Decididos sociais, culturais e afetivas potencializadas pelos jogos (FREUD,
Postura
1976; HUIZINGA, 2001; PIAGET, 1975; WINICOTT, 1975). E
d iante autoridade Respeito Amor/Ódio Desinteresse Cortesia Ramos (2008) destaca o jogo eletrônico pelo grande potencial
midiático utilizado para criar possibilidades de representação
Liderança por Hierarquia Consenso Competência Coletivismo de papéis e constituição de mundos virtuais nos quais com-
Espírito de Sacrifício Automotivação Anticompromisso Inclusão portamentos são autorizados e vivenciados pelos jogadores.
Para Balassiano (2009), algumas características dos jogos
Fonte: Lombardia; Stein e Pin (2008) refletem as mesmas situações presentes na rotina diária de
qualquer coordenador, gerente ou executivo de uma empresa:
McGuire et al. (2007), Crumpacker e Crumpacker (2007) a) situações que demandam respostas rápidas dos jogadores;
e Platteau, Molenveld e Demuzere (2011) explicam que cada b) capacidade de análise dos riscos envolvidos em tais deci-
uma dessas gerações tem um tipo específico de perfil. Os sões; c) formas de aprendizado baseadas em tentativa-e-erro;
baby boomers, por exemplo, são geralmente considerados d) circunstâncias em que muitas decisões devem ser tomadas
pelo emprego de valor ao longo da vida e lealdade à empresa, rapidamente, exigindo total imersão em dados; e e) diferentes
enquanto a geração X atribui mais significado à participação, modos de cooperar, competir e se relacionar com outras pessoas
desenvolvimento, estima, trabalho em equipe e qualidade de (em ambientes físicos ou virtuais). Portanto, tais comporta-
vida. Já a geração Y é muitas vezes caracterizada como a menos mentos e ideias compartilhadas dos jogadores, para Deutsch
focada no desenvolvimento da carreira profissional, na auto- (1949), podem desencadear relações de interdependência social
nomia de tarefas, no apoio à gestão, e ativo de aprendizagem. e, o modo como a mesma é estruturada determina a forma de
No entanto, sua maior vantagem é que são tecnologicamente interação entre os indivíduos.
alfabetizados e altamente educados (PLATTEAU, MOLEN-
VELD; DEMUZERE, 2011). A teoria da interdependência social
Para Lombardia, Stein e Pin (2008) a geração X não vê o A teoria da interdependência social (DEUTSCH, 1949;
sucesso da mesma forma como seus pais e é mais cética, mais LEWIN, 1935) diz respeito aos conceitos relacionais, abordando
difícil de alcançar por meios tradicionais. A geração Y é vista o que acontece entre indivíduos quando há uma meta comum
como uma geração de resultados, não de processos. Para eles, entre os componentes de um grupo e quando o resultado atingido
o importante é saber o que está acontecendo no momento para por um afeta o resultado do outro. Os grupos são “todos dinâ-
reagir rapidamente. micos” nos quais uma mudança na condição de algum membro
Para Balassiano (2009), a tecnologia desempenhou um ou de algum subgrupo muda a condição dos outros membros
papel crucial na delimitação e formação das quatro gerações, ou de outros subgrupos (JOHNSON et al., 1998). Para Deutsch
sendo que diversos autores indicam diferentes impactos gera- (1973) a interdependência pode ser positiva (cooperação) ou
dos pela tecnologia na formação das pessoas (BECK; WADE, negativa (competição). Lewin (1935) pontua que a essência de
2004; DeMARCO et al., 2007). um grupo reside na interdependência de seus membros.
Johnson et al. (1998), a partir de suas pesquisas sobre
A geração y e suas peculiaridades aprendizagem, com base na teoria da interdependência social,
Pela diversidade de alternativas presentes, os vídeo games apontaram as condições em que circunstâncias cooperativas,
possibilitaram a criação de diretrizes influenciadoras da vida competitivas ou individualizadas interferem na realização do
cotidiana dos baby gamers (BECK, WADE, 2004; DeMARCO estudante, o ajustamento psicológico, a autoestima e habilidades
et al., 2007; FERREIRA, 2010; SUZUKI, 2009; YEE, 2006). sociais. Como resultado, os autores constataram que contextos
E o fato da geração Y ter sido a última a adentrar o mercado de cooperativos quando comparados aos competitivos refletem
trabalho, ocasiona um constante desafio para gestores atraí-la em uma maior motivação para o trabalho.
e fazer com que a mesma permaneça na empresa (VASCON- Sato et al. (2011) argumentam a favor da abordagem dos
CELOS et al., 2009). aspectos que sustentam a cooperação e a competição como prá-
Para Shaw e Fairhurst (2008), caracterizam-se como ticas sociais, nas suas implicações em termos psicossociais e nos
independentes, autossuficientes, honestos, empreendedores sentidos a elas atribuídos em diferentes contextos de trabalho.
e decididos, tendo a tecnologia como aliada no processo de Deutsch (1973) categoriza duas classes de processos:
aprendizagem. E Oliveira (2010), por sua vez, os caracteriza processos cooperativos e processos competitivos, de forma que

54
O impacto dos jogos eletrônicos na propensão da geração Y à cooperação ou competição no ambiente corporativo
Luciana Genelhu Zonta Dissertar
ambos são interdependentes. Tal interdependência leva a ganhos terão mais facilidade que membros de grupos competitivos em
mútuos nos processos cooperativos; sendo que nos competitivos valorizar as ações dos companheiros conducentes aos objetivos
para que uma das partes ganhe a outra sofrerá prejuízos. destes, e a opor-se e reagirem negativamente a ações capazes
No mesmo contexto, o autor classifica os processos de dificultar ou impedir a obtenção de tais objetivos.
a partir de seus efeitos: a) substitutividade - em processos
cooperativos, seria supérfluo que uma das partes realizasse 2.5.2 Competitivas
determinada atividade que a outra realiza. Por outro lado, em Vários autores discutiram a cooperação e a competição
processos competitivos, ambas as partes devem ter interesse como positivas ou negativas (BENDASSOLLI, 2001; DEUTSCH,
em realizar a mesma atividade; b) desenvolvimento de uma 1973; SATO et al., 2011) sendo que, nos mercados contempo-
postura negativa (competição) ou positiva (cooperação) em râneos, sinais competitivos podem ser considerados elementos
relação à outra parte; e c) a capacidade de uma parte se deixar positivos quando o ambiente demandar esse tipo específico
ser influenciada pela outra (no caso dos processos competitivos, de comportamento para o sucesso de um empreendimento
essa capacidade é muito menor). (ROBBINS, 2011).
Vários autores discutiram a cooperação e a competição Balassiano (2009, p. 3) diz que “as barreiras impostas
como positivas ou negativas (BENDASSOLLI, 2001; DEUTSCH, pelo status quo levam geralmente às reações de quem entra
1973; SATO et al., 2011) sendo que, nos mercados contempo- no cenário. A necessidade de se firmar surge como resposta
râneos, sinais competitivos podem ser considerados elementos à tentativa de dominação”. Desse modo, o autor destaca que
positivos quando o ambiente demandar este tipo específico administrar esses conflitos impacta de forma direta no atingi-
de comportamento para o sucesso de um empreendimento mento de objetivos tanto familiares quanto organizacionais.
(ROBBINS, 2011). Para Deutsch (1973), tais conflitos nem sempre levam a
De acordo com Brotto (1999) cooperação e competição resultados ruins, além de ainda poderem desempenhar funções
são processos distintos, porém, não muito distantes. As fron- ou positivas ou negativas. Apontam-se como positivas quando
teiras entre eles são tênues, permitindo certo intercâmbio de permitem a prevenção à estagnação de uma relação, dá estí-
características, de maneira que se pode encontrar, em algumas mulo a novos interesses e à curiosidade, bem como explora a
ocasiões, uma competição-cooperativa e em outras, uma capacidade de cada indivíduo (DEUTSCH, 1973).
cooperação-competitiva, conforme se observa no quadro 2.
Metodologia
Quadro 2 - Situação cooperativa e situação competitiva
3.1 Processo de coleta de dados
Situação cooperativa Situação competitiva 3.1.1 Concepção do instrumento de coleta
Percebem que o atingimento de seus Percebem que o atingimento de seus Tomando por base o referencial teórico do estudo, ela-
objetivos é, em parte, consequência da objetivos é incompatível com a obtenção borou-se uma primeira versão do questionário composto por
ação dos outros membros. dos objetivos dos demais.
33 questões. Aplicou-se um pré-teste junto aos alunos (10) e
São mais sensíveis às solicitações dos São menos sensíveis às solicitações dos professores (3) a fim de se obter uma análise crítica sobre a
outros. outros. coerência das questões, objetividade e clareza das perguntas
Ajudam-se mutuamente com frequência. Ajudam-se mutuamente com menor elaboradas, dado o conhecimento teórico destas pessoas.
frequência. Como os resultados apontaram para a falta de “validade
Há maior homogeneidade na quantidade Há menor homogeneidade na quantidade de face” (DeVELLIS, 2003) todas as opções de respostas do
de contribuições e participações. de contribuições e participações. instrumento foram reformuladas a partir de sugestões do
A produtividade em termos qualitativos A produtividade em termos qualitativos grupo e revisão teórica baseada nos mesmos autores. Assim,
é maior. é menor. considerando a fase piloto da pesquisa foram reformuladas
A especialização de atividades é maior. A especialização de atividades é menor.
afirmações (closed-ended questions) que permitissem mensurar
a presença ou intensidade de comportamentos que levassem
Fonte: Brotto (1999) à operacionalização dos conceitos subjacentes da dimensão.

Para Deutsch (1973), poucas são as situações na vida Coleta de dados


real que se caracterizam por serem puramente cooperativas O banco de dados inicial contou com 33 variáveis expressas
ou puramente competitivas. com base na escala de diferencial semântico com “classificação
de sete pontos cujos extremos estão associados a rótulos bipolares
Atitudes cooperativas e competitivas que apresentam significado semântico” (MALHOTRA, 2004,
p. 267). O questionário foi digitalizado por meio da plataforma
Cooperativas
SurveyMonkey e disponibilizado em URL própria a fim de
Nora e Arnoldi (2004) ressaltam a relevância da coopera- permitir o acesso remoto das unidades da pesquisa, além da
ção quando pontuam a possibilidade da criação da linguagem rápida tabulação dos resultados e posterior análise.
entre os seres humanos, “necessárias à evolução e construção A coleta de dados foi realizada em uma Instituição de
de um mundo em comum” (NORA; ARNOLDI, 2004, p.4). Educação Superior particular, em uma rede social (Facebook),
A teoria da interdependência social entende a cooperação em um blog, bem como no SEBRAE/ES. Houve também a
como resultante da interdependência positiva entre os alvos utilização do método snowball, ou seja, amostragem em bola
dos indivíduos (JOHNSON et al., 1998). Piaget (1994, p. 25) de neve, sendo que, o convite para a participação na pesquisa,
considera a cooperação como o “fazer nascer a consciência de bem como a solicitação para que o mesmo fosse disseminado,
normas ideais, dominando todas as regras”. Deutsch (1973 apud foram enviados por email para ex-alunos e pessoas que compõem
RODRIGUES, 1986) aponta que membros de grupos cooperativos a rede de relacionamento da autora do trabalho.

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Dissertar O impacto dos jogos eletrônicos na propensão da geração Y à cooperação ou competição no ambiente corporativo
Luciana Genelhu Zonta

A justificativa para a escolha da amostra deve-se ao fato V3 “Na escolha de uma empresa para trabalhar, eu prefiro um ambiente
da facilidade de acesso aos respondentes, com o intuito de se onde a COLABORAÇÃO para a obtenção de resultados é”: Fundamental;
garantir maior adesão de participações, uma vez que a mobi- Importante; ou Irrelevante.
lização na IES, unidade representativa na pesquisa, foi feita V4 “O mercado de trabalho pode ter ambientes que variam entre aqueles em
via plataforma institucional. que as pessoas trabalham juntas, para que todos ganhem méritos iguais,
ou aqueles onde as pessoas preferem trabalhar individualmente, para
A partir de julho de 2012 o link do questionário foi dis- ganharem méritos sozinhas. Eu prefiro os ambientes onde as pessoas
ponibilizado na IES para acesso remoto por um período de 60 trabalham”: Sempre juntas; Às vezes juntas; ou Sempre sozinhas.
dias. Paralelamente, também foi disponibilizado nas outras
V5 “No ambiente de trabalho, entre abrir o jogo fornecendo informação
unidades da pesquisa. sempre que necessário ou omitir informação para auferir vantagem (tirar
proveito) eu procuro”: Sempre abrir o jogo; Às vezes abrir o jogo, mas às
Técnica de análise vezes omitir informação; ou Nunca abrir o jogo.
O estudo utiliza o modelo de Regressão Log Linear por V7 “Para que o meu trabalho se sobressaia eu prefiro adotar uma atitude”:
ser o mais adequado para análise dos dados qualitativos. Para Competitiva, pois a organização pode se beneficiar; Igualmente
competitiva e cooperativa, independentemente das condições; ou
Biagioni (2010) essa variação do modelo de regressão linear Cooperativa, pois a organização pode se beneficiar.
clássico apresenta ao pesquisador os diferentes graus de cor-
relação entre uma variável dependente e outras explicativas, V8 “Para alcançar minhas metas eu me comporto de maneira”: Sempre
cooperativa; 50% das vezes cooperativa e 50% competitiva; ou Sempre
sendo a variável dependente o local onde repousa a questão a competitiva
ser explicada de acordo com o comportamento (variância) das
V9 “Quando eu jogo com pessoas com as quais NÃO tenho uma relação
variáveis independentes. de amizade, procuro tornar a disputa”: Sempre acirrada (quero vencer
Como contribuição para o entendimento geral do estudo, sempre); Às vezes acirrada (procuro vencer, mas não esquento a cabeça):
as variáveis utilizadas nos cálculos e em suas análises serão ou Nunca acirrada (não me importa vencer, vale a distração).
descritas da seguinte forma: A variável explicativa “Hábito V10 “Na faculdade, quando era necessário participar de atividades em grupo
de Jogar” será representada pelas letras J (1 para jogador e 2 para a realização de trabalhos acadêmicos, eu: Compartilhava com os
para não jogador), e a variável gênero será representada pela colegas todos os meus conhecimentos, sem restrições; Contribuía com
a mesma intensidade que meus colegas; ou Só compartilhava meus
letra G (1 para feminino e 2 para masculino), sendo as vari- conhecimentos desde que de isto me trouxesse algum benefício”.
áveis respostas (dependentes) representadas pelo código VX
V14 “Em sua opinião, qual das afirmativas abaixo descreve a atitude mais
(variável), seguidas pelo índice numérico que as representam. adequada de uma pessoa que deseja alcançar sucesso profissional”: O
Ressalta-se que os resultados apresentados são dos modelos seu sucesso SEMPRE pressupõe o fracasso do outro; O seu sucesso não
ajustados do modelo log linear, ou seja, com a eliminação de possui ligação com o do outro; ou O seu sucesso ÀS VEZES pressupõe o
sucesso do outro.
alguns parâmetros do modelo saturado, os valores esperados
são bem próximos dos valores observados. A técnica que foi V17 “Se ganhar é sempre bom, para eu ganhar dos meus adversários eu
devo”: Jogar sempre COM os meus adversários; Às vezes COM os meus
utilizada para chegar a este modelo foi a Backward Elimination, adversários, às vezes CONTRA eles; ou Jogar sempre CONTRA os meus
ou seja, a ideia desse método de seleção por eliminação é obter adversários
o melhor subconjunto de variáveis através da sucessiva remoção
V19 “Quando um amigo e eu nos juntamos para jogar CONTRA desconhecidos
das variáveis do modelo (MORAIS Jr, 2011). eu ajo de forma”: Sempre acirrada (quero vencer sempre); Às vezes
É importante salientar que, as variáveis explicativas acirrada (procuro vencer, mas não esquento a cabeça); ou Nunca acirrada
“hábito de jogar” e “gênero” são associadas, o que não será (não me importa vencer, vale a distração).
apresentado nos modelos, já que o interesse consiste nas V20 “Quando um amigo e eu nos juntamos para jogar CONTRA desconhecidos
variáveis dependentes, logo, não serão abordadas. Todos os eu ajo de forma”: Sempre acirrada (quero vencer sempre); Às vezes
acirrada (procuro vencer, mas não esquento a cabeça); ou Nunca acirrada
efeitos foram avaliados sob um nível de significância de 5%. (não me importa vencer, vale a distração).
Além disso, para que fosse possível a aplicação do modelo,
optou-se por aglomerar as categorias com maiores frequências V21 “As organizações estão incorporando novas formas de remuneração com
vistas a atrair, reter e motivar seus colaboradores. Exemplo disto são os
de cooperação ou competição, e as de menores frequências dos programas de remuneração variável. A alternativa que mais se aproxima
mesmos. Feito isto, o número de células com baixa frequência da minha maneira de pensar quanto à composição ideal das metas
de respostas foi minimizado. para a implantação do sistema de recompensa deve ser”: 100% metas
coletivas, pois o sucesso deve ser resultado do trabalho de todos; 50%
O Quadro 3 mostra os códigos com as variáveis que fo- metas coletivas e 50% metas individuais; ou 100% individuais, pois quem
ram utilizadas na construção do modelo log-linear tabela de contribui mais deve ter maior reconhecimento.
contingência. Com isso, foi possível traçar nos respondentes V22 “Na escolha de uma empresa para trabalhar, eu prefiro um ambiente
as atitudes de “cooperação” e de “competição”. As respostas onde a COMPETIÇÃO para a obtenção de resultados é”: Fundamental;
foram dispostas com base na escala de Likert. Importante; ou Não é importante.

Fonte: Dados da Pesquisa (2012)


Quadro 3 - Relação dos códigos das variáveis
dependentes utilizadas no estudo
O modelo log-linear e as associações entre
Cooperação e Competição as variáveis (1,2 e 3)
Código Descrição O modelo Log Linear, conforme mencionado, será utilizado
V1 “O ambiente de trabalho é formado por diversas gerações que trazem para avaliar a possível associação entre as variáveis explicativas
consigo diferentes valores, habilidades técnicas e conhecimentos. e cada variável resposta, pois permite avaliar diferentes tipos de
Minimizar os efeitos dessas diferenças e formar equipes harmônicas que associações entre mais de duas variáveis simultaneamente, quando
aumentam o desempenho (tanto individual quanto do grupo) tem sido um
dos grandes desafios enfrentados pelas organizações. Entre colaborar essas são expressas por meio de escalas nominais ou ordinais.
com os colegas para todos ganharem ou não colaborar para que meu Balassiano (2009) define cinco modelos hierárquicos de possíveis
trabalho se sobressaia, eu prefiro colaborar” associações entre as três variáveis (1, 2, e 3) e respectivas notações:

56
O impacto dos jogos eletrônicos na propensão da geração Y à cooperação ou competição no ambiente corporativo
Luciana Genelhu Zonta Dissertar
Independência mútua entre as variáveis [1] [2] [3] Gráfico 1 - Classificação da amostra por geração e renda
Esse modelo, quando ajustado, representa a total falta
de associação entre as trêws variáveis. Cada uma delas, no
entanto, pode apresentar variações diferenciadas entre as
categorias que as definem (efeito simples), independente-
mente das demais.

Associação parcial [12] [3]


Nesse modelo, as variáveis 1 e 2 são associadas, porém,
ambas são independentes da terceira variável. Em outras
Fonte: Dados da Pesquisa (2012)
palavras, as variáveis 1 e 2 são associadas em cada categoria
da variável 3, apresentando a mesma razão de chances nas
categorias daquela variável. Quando a variável 3 é a resposta, No que diz respeito ao hábito de jogar, foram considera-
apenas o seu efeito simples será objeto de análise já que a as- dos jogadores os participantes que disseram jogar pelo menos
sociação entre variáveis explicativas não é o objeto do estudo. 4 horas por semana. Considerando-se as devidas proporções
relacionadas ao número de respondentes de cada geração,
Independência Condicional [13] [23] conforme a Tabela 2, nota-se que a geração Y gasta mais tempo
Quando ajustado aos dados, esse modelo representa a semanalmente com jogos eletrônicos, ou seja, de um total de
independência das variáveis 1 e 2, para cada nível da variável 103 respondentes dessa geração, 19 dizem jogar mais do que
3, podendo cada uma daquelas estar, ou não, associada à últi- 4 horas por semana, o que equivale a 18,4%. Já a geração X,
ma. Em geral, a significância de efeitos interativos implica na possui 60 respondentes que são considerados jogadores, de
significância dos efeitos simples entre as respectivas variáveis, um total de 631, ou seja, 9,5%.
mas não necessariamente. Com 167 respondentes, uma frequência total superior à geração
Y, os baby boomers possuem a menor frequência dos considerados
Modelo saturado [123] jogadores, com um total de apenas 7, o que representa 4,2% do
Esse modelo contempla todos os tipos de associações total. Constata-se também que não há frequência de jogadoras
que podem existir entre as três variáveis. É conhecido como do sexo feminino da geração Y. Ou seja, proporcionalmente, a
modelo saturado porque explica com exatidão as estruturas frequência é exclusivamente de jogadores do sexo masculino.
das células que representam uma tabela de tripla entrada. Diferente da geração X, que apresenta uma frequência de 32
Como todos os possíveis efeitos estão presentes, esse modelo jogadores do sexo feminino, contra 28 jogadores do sexo mas-
não apresenta resíduos e não pode ser testado estatisticamente culino. Já na geração baby boomers houve ligeira superioridade
dos respondentes jogadores do sexo masculino, com um total de
pela incapacidade de ser refutado.
4, contra 3 respondentes do sexo feminino. Entretanto, quando se
analisam as grandezas, percebe-se uma superioridade de 33,3%
Sem interação do 3º Grau [12] [13] [23]
dos jogadores do primeiro em relação ao segundo.
Nesse modelo, a associação entre um par de variá-
veis, independente do par, é idêntica para qualquer nível
Tabela 1 - Classificação da amostra por tempo médio
da terceira variável. Nele podem ser visualizadas todas as
de horas jogadas / gênero / geração
associações duplas.
Baby Boomers Geração X Geração Y
Horas Semana (nascidos (nascidos entre (nascidos a
Análise dos resultados Jogadas até 1964) 1965 e 1977) partir de 1978)
por
Perfil da amostra Semana Femi- Mascu- Femi- Mascu- Femi- Mascu-
nino lino nino lino nino lino
A amostra foi constituída pelos alunos dos cursos de pós-
-graduação da IES, usuários da rede social (Facebook), leitores < 4h 24 15 69 99 10 17
de um blog de economia, funcionários do SEBRAE/ES e por ≥ 4h 3 4 32 28 0 19
ex-alunos e pessoas que compõem a rede de relacionamento da
autora do trabalho. Os critérios de inclusão na amostra foram Não se aplica 62 59 231 172 36 21
definidos com base nos objetivos estabelecidos para a pesqui- Total 89 78 332 299 46 57
sa. A base de dados contou com 901 respondentes e possui as Fonte: Dados da Pesquisa (2012)
seguintes características:
Em termos de gênero, a amostra teve a participação de A Tabela 3 apresenta as estatísticas referentes à quan-
467 respondentes do gênero feminino e de 434 respondentes tidade de horas trabalhadas, por geração. Percebe-se que
do gênero masculino (51,8% e 48,2%, respectivamente). não houve ocorrência de jogadores que não estão inseridos
Do ponto de vista do status socioeconômico, no Grá- no mercado de trabalho. Dentre os que trabalham ao menos
fico 2, estabeleceu-se um corte em três níveis com base na 40 horas, 76,4% correspondem aos jogadores da geração X.
renda familiar: (1) até R$2.000,00 com 252 participantes; Ou seja, um percentual 7 vezes maior do que os jogadores
(2) entre R$2.001,00 e R$5.000,00 com 446 participantes; da geração Y. Esta razão cai significativamente quando se
e (3) acima de R$5.000,00 com 188 participantes, repre- trata do intervalo entre 20 e 40 horas semanais, que ainda
sentando percentual de 28,4%, 50,3% e 21,2% da amostra, apresenta a predominância da geração X, porém apenas 1,75
que é de 901 respondentes. vezes maior em relação à geração Y.

57
Dissertar O impacto dos jogos eletrônicos na propensão da geração Y à cooperação ou competição no ambiente corporativo
Luciana Genelhu Zonta

Tabela 2 – Frequência dos jogadores referentes às horas desafios enfrentados pelas organizações. “Entre colaborar com
trabalhadas os colegas para todos ganharem ou não colaborar para que meu
trabalho se sobressaia, eu prefiro colaborar”.
Anos de estudo Baby Boomers Geração X Geração Y
Até 20 horas 5 22 10 Tabela 4 - efeitos estimados para variável v1
Entre 20 e 40 horas 43 156 25
Parâmetro Estimativa Erro Padrão P-valor Razão de Chances
40 horas ou mais 64 251 35
Constante 1.22 0.34 0.00 3.40
Não se aplica 45 180 25
[G = 1] -1.36 0.37 0.00 0.26
Total 157 609 95
[J = 0] -0.46 0.27 0.09 0.63
Fonte: Dados da Pesquisa (2012)
[V1 = 1] 2.03 0.34 0.00 7.60

Os modelos ajustados Fonte: Dados da Pesquisa (2012)


A seguir são apresentadas as análises dos resultados pelos
modelos ajustados aos dados. Dentre as quatorze variáveis Para a geração Y, a colaboração com os colegas é predo-
iniciais, treze se ajustaram ao modelo de Associação parcial minante, isto é, pode-se afirmar que a maioria dos respondentes
[12] [3]. Somente uma variável se ajustou ao modelo de Inde- dessa geração prefere colaborar a competir, e isso corresponde
pendência condicional [12] [23]. a 7,6 vezes () mais do que aquele que não prefere colaborar, ou
O modelo de associação parcial ajustado às variáveis V1, prefere somente colaborar em 50% das vezes.
V3, V4, V5, V7, V8, V9, V10, V14, V17, V19, V21 e V22, foi: A Tabela 5 mostra os efeitos estimados para a variável 3
(V3), “Na escolha de uma empresa para trabalhar, eu prefiro
(1)
um ambiente onde a COLABORAÇÃO para a obtenção de
Onde: resultados é: Fundamental; Importante; ou Irrelevante”.
= Ln dos valores esperados nas células ijk;
= média geral do Ln das frequências esperadas; Tabela 5 - efeitos estimados para variável v3
= efeito da variável Sexo no nível i;
= efeito da variável Hábito de Jogar no nível j; Parâmetro Estimativa Erro Padrão P-valor Razão de Chances
= efeito da variável de interesse (V1, [...], V22) no Constante 0.02 0.59 0.97 1.02
nível k; e
[G = 1] -1.36 0.37 0.00 0.26
= efeito da interação de 2ª ordem entre as variáveis
sexo e hábito de jogar nos níveis ij. [J = 0] -0.46 0.27 0.09 0.63
Para a variável V20 o modelo de independência condi-
[V3 = 1] 3.36 0.59 0.00 28.67
cional ajustado foi:
[V3 = 2] 1.54 0.64 0.02 4.67
(2)
Fonte: Dados da Pesquisa (2012)
Onde
= Ln dos valores esperados nas células ijk; Para essa variável, a geração Y revela que é de fundamental
= média geral do Ln das frequências esperadas; importância colaborar com a obtenção dos resultados, e isso
= efeito da variável Sexo no nível i; significa, em termos de razão de chances, que eles consideram
= efeito da variável Hábito de Jogar no nível j; “fundamental” 29 vezes a mais que para aqueles que consideram
= efeito da variável de interesse (V1, [...], V22) no nível k; apenas “importante” ou não o consideram. Já os que acham
= efeito da interação de 2ª ordem entre as variáveis apenas “importante”, demonstram ser aproximadamente 5
sexo e hábito de jogar nas combinações dos níveis ij; vezes maior que os que não o acham.
Como todos os modelos, as variáveis explanatórias “Sexo” Na Tabela 6 são demonstrados os efeitos estimados para a
e “Hábito de Jogar” são relacionadas entre si. Por isso, a relação variável 4 (V4), “O mercado de trabalho pode ter ambientes que
entre elas não será representada. Somente na variável 20 o “hábito variam entre aqueles em que as pessoas trabalham juntas, para
de jogar” não revelou ser significante. Porém, quando se analisa o que todos ganhem méritos iguais, ou aqueles onde as pessoas
“Sexo”, todos os modelos apresentaram influência nessa variável. preferem trabalhar individualmente, para ganharem méritos
Das quatorze variáveis que foram propostas neste estudo, uma sozinhas. Eu prefiro os ambientes onde as pessoas trabalham:
não apresentou influência na relação “hábito de jogar” e “sexo”: Sempre juntas; Às vezes juntas; ou Sempre sozinhas”.
V22 (“Na escolha de uma empresa para trabalhar, eu prefiro um Quando se analisa o ambiente de trabalho, onde as pessoas
ambiente onde a competição para a obtenção de resultados é”). trabalham juntas, o modelo mostra que, em 50% das vezes, é
As tabelas a seguir demonstram os modelos ajustados, bem melhor trabalhar dessa forma. E 8 vezes maior, para os que
como as variáveis que apresentaram significância estatística, acham que esta percentagem é válida, quando avaliada em
ou seja, as que não a obtiveram foram retiradas. relação aos que preferem trabalhar sempre sozinhos.
A Tabela 4 mostra os efeitos estimados para a variável 1 A Tabela 7 demonstra os efeitos estimados para a variável
(V1), “O ambiente de trabalho é formado por diversas gerações 5 (V5), “No ambiente de trabalho, entre abrir o jogo fornecendo
que trazem consigo diferentes valores, habilidades técnicas informação sempre que necessário ou omitir informação para
e conhecimentos. Minimizar os efeitos dessas diferenças e auferir vantagem (tirar proveito) eu procuro: Sempre abrir o
formar equipes harmônicas que aumentam o desempenho jogo; Às vezes abrir o jogo, mas às vezes omitir informação;
(tanto individual quanto do grupo) tem sido um dos grandes ou Nunca abrir o jogo”.

58
O impacto dos jogos eletrônicos na propensão da geração Y à cooperação ou competição no ambiente corporativo
Luciana Genelhu Zonta Dissertar
Tabela 6 - Efeitos estimados para variável v4 rativa e competitiva). Esses são 4,5 vezes superiores em relação
aos que preferem adotar um comportamento sempre competitivo.
Parâmetro Estimativa Erro Padrão P-valor Razão de Chances
Constante -0.39 0.72 0.59 0.68 Tabela 9 - Efeitos estimados para variável v8
[G = 1] -1.36 0.37 0.00 0.26 Parâmetro Estimativa Erro Padrão P-valor Razão de Chances
[J = 0] -0.46 0.27 0.09 0.63 Constante 0.31 0.52 0.55 1.36
[V4 = 1] 3.75 0.72 0.00 42.50 [G = 1] -1.36 0.37 0.00 0.26
[V4 = 2] 2.08 0.75 0.01 8.00 [J = 0] -0.46 0.27 0.09 0.63
Fonte: Dados da Pesquisa (2012)
[V8 = 1] 3.01 0.51 0.00 20.25

[V8 = 2] 1.50 0.55 0.07 4.50


Tabela 7 - Efeitos estimados para variável v5 Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

Parâmetro Estimativa Erro Padrão P-valor Razão de Chances A Tabela 10, por sua vez, traz os efeitos estimados para
Constante -0.39 0.72 0.59 0.68 a variável 8 (V8), “Quando eu jogo com pessoas com as quais
NÃO tenho uma relação de amizade, procuro tornar a disputa:
[G = 1] -1.36 0.37 0.00 0.26
Sempre acirrada (quero vencer sempre); Às vezes acirrada
[J = 0] -0.46 0.27 0.09 0.63 (procuro vencer, mas não esquento a cabeça); ou Nunca acirrada
[V5 = 1] 3.80 0.72 0.00 44.50
(não me importa vencer, vale a distração)”.

[V5 = 2] 1.79 0.76 0.02 6.00 Tabela 10 - Efeitos estimados para variável v9
Fonte: Dados da Pesquisa (2012).
Parâmetro Estimativa Erro Padrão P-valor Razão de Chances
A geração Y é mais adepta a abrir o jogo fornecendo Constante 1.87 0.27 0.00 6.46
informação em cerca de 44 vezes a mais do que aquelas que
[G = 1] -1.36 0.37 0.00 0.26
abrem às vezes. Esses, por sua vez, também se mostraram sig-
nificantes ao nível de 5%, ou seja, para a geração Y, fornecer [J = 0] -0.46 0.27 0.00 0.63
informação às vezes é mais relevante do que a aqueles que [V9 = 1] 0.82 0.28 0.00 2.26
quase nunca a fornecem.
Demonstram-se na Tabela 8 os efeitos estimados para [V9 = 2] 0.77 0.28 0.00 2.16
a variável 7 (V7), “Para que o meu trabalho se sobressaia eu Fonte: Dados da Pesquisa (2012)
prefiro adotar uma atitude: Competitiva, pois a organização
pode se beneficiar; Igualmente competitiva e cooperativa, Quando se analisa a disputa no jogo com pessoas que não
independentemente das condições; ou Cooperativa, pois a se conhecem, o modelo revela que a geração Y é bem dividida
organização pode se beneficiar”. em relação a ser “sempre acirrada” e “às vezes” mostrando que
essa geração é bem competitiva e gosta de vencer, mas sem
Tabela 8 - Efeitos estimados para variável v7 que precise se preocupar muito.
Na Tabela 11 demonstram-se os efeitos estimados para
Parâmetro Estimativa Erro Padrão P-valor Razão de Chances a variável 10 (V10), “Na faculdade, quando era necessário
Constante 2.58 0.21 0.00 13.25 participar de atividades em grupo para a realização de traba-
lhos acadêmicos, eu: Compartilhava com os colegas todos os
[G = 1] -1.36 0.37 0.00 0.26
meus conhecimentos, sem restrições; Contribuía com a mesma
[J = 0] -0.46 0.27 0.09 0.63 intensidade que meus colegas; ou Só compartilhava meus
conhecimentos se me trouxesse algum benefício”.
[V7 = 1] -0.57 0.27 0.03 0.56

Fonte: Dados da Pesquisa (2012) Tabela 11 - Efeitos estimados para variável v10
Parâmetro Estimativa Erro Padrão P-valor Razão de Chances
Os respondentes da geração Y preferem adotar o com-
portamento competitivo para que o seu trabalho se sobressaia. Constante 1.87 0.27 0.00 6.46
Entretanto, quando é comparada com o comportamento de [G = 1] -1.36 0.37 0.00 0.26
igualdade competitiva e cooperativa, a geração Y revela ser
0.56 vezes menor. [J = 0] -0.46 0.27 0.00 0.63
A Tabela 9 demonstra os valores estimados para a vari- [V9 = 1] 0.82 0.28 0.00 2.26
ável 8 (V8), “Para alcançar minhas metas eu me comporto de
maneira: Sempre cooperativa; 50% das vezes cooperativa e [V9 = 2] 0.77 0.28 0.00 2.16
50% competitiva; ou Sempre competitiva”. Fonte: Dados da Pesquisa (2012)
O modelo Log Linear proposto mostra que os respondentes
preferem se comportar de maneira cooperativa para alcançar os Quando era necessário participar de atividades em grupo,
seus objetivos. Outro aspecto a se ressaltar é a preferência em se os respondentes afirmaram que compartilhavam na maioria das
comportar de maneira competitiva ou das duas formas (coope- vezes os seus conhecimentos com os colegas, mostrando que esses

59
Dissertar O impacto dos jogos eletrônicos na propensão da geração Y à cooperação ou competição no ambiente corporativo
Luciana Genelhu Zonta

são solidários e não egoístas, mas também demandavam de infor- vencer, mas não esquento a cabeça); ou Nunca acirrada (não
mações dos mesmos para a realização dos trabalhos acadêmicos. me importa vencer, vale a distração).
A Tabela 12 mostra os efeitos estimados para a variável 14
(V14), “Em sua opinião, qual das afirmativas abaixo descreve a Tabela 14 - Efeitos estimados para variável v19
atitude mais adequada de uma pessoa que deseja alcançar sucesso
Parâmetro Estimativa Erro Padrão P-valor Razão de Chances
profissional: O seu sucesso SEMPRE pressupõe o fracasso do
outro; O seu sucesso não possui ligação com o do outro; ou O Constante 1.87 0.27 0.00 6.46
seu sucesso ÀS VEZES pressupõe o sucesso do outro”. [G = 1] -1.36 0.37 0.00 0.26

Tabela 12 - Efeitos estimados para variável v14 [J = 0] -0.46 0.27 0.09 0.63

Parâmetro Estimativa Erro Padrão P-valor Razão de Chances [V19 = 1] 0.99 0.27 0.00 2.68

Constante 2.66 0.21 0.00 14.27 [V19 = 2] 0.55 0.29 0.06 1.74
Fonte: Dados da Pesquisa (2012)
[G = 1] -1.36 0.37 0.00 0.26

[J = 0] -0.46 0.27 0.09 0.63 Tabela 15 - Efeitos estimados para variável v20
[V14 = 1] -0.48 0.25 0.04 0.62 Parâmetro Estimativa Erro Padrão P-valor Razão de Chances
Fonte: Dados da Pesquisa (2012)
Constante 0.46 0.71 0.51 1.59

[G = 1] -1.36 0.37 0.00 0.26


De acordo com a amostra desta pesquisa, o sucesso às vezes
pressupõe o fracasso do outro em 0.6 vezes menos que os respon- [J = 0] 1.03 0.79 0.19 2.81
dentes que acham que o sucesso não possui ligação com o outro, [V20 = 1] * [J = 0] 0.98 0.34 0.00 2.67
pela indicação desses para a obtenção de sucesso profissional.
A Tabela 13 demonstra os efeitos estimados para a variável [V20 = 1] * [J = 1] 2.80 0.73 0.00 16.50
17 (V17), “Se ganhar é sempre bom, para eu ganhar dos meus [V20 = 2] * [J = 1] 1.50 0.78 0.05 4.50
adversários eu devo”: Jogar sempre COM os meus adversários;
Às vezes COM os meus adversários, às vezes CONTRA eles; [G = 1] * [J = 0] 1878 0.461 0.00 6.54
ou Jogar sempre CONTRA os meus adversários. Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

Tabela 13 - Efeitos estimados para variável v17 Para os respondentes que jogam com um amigo, contra
uma pessoa desconhecida, há uma associação com o hábito de
Parâmetro Estimativa Erro Padrão P-valor Razão de Chances jogar e não jogar. Para os que não têm o hábito de jogar jogos
Constante 0.02 0.59 0.97 1.02 eletrônicos, ser sempre ou frequentemente competitivo é 2,7
vezes maior que para aqueles que raramente ou nunca são
[G = 1] -1.36 0.37 0.00 0.26
competitivos. Essa observação se corrobora para os que têm o
[J = 0] -0.46 0.27 0.09 0.63 costume de jogar com maior frequência, que é 16,5 vezes maior.
[V3 = 1] 3.36 0.59 0.00 28.67
Para os jogadores que são às vezes competitivos e não
procuram vencer, a amostra revelou uma frequência de 4,5
[V3 = 2] 1.54 0.64 0.02 4.67 vezes a mais dos que não são ou raramente são competitivos.
Fonte: Dados da Pesquisa (2012) A Tabela 16, por sua vez, demonstra os efeitos estimados para
a variável 21 (V21), “As organizações estão incorporando novas
As afirmativas jogar, a maioria das vezes e às vezes, formas de remuneração com vistas a atrair, reter e motivar seus
com os meus adversários, são 2,3 vezes maiores do que jogar colaboradores. Exemplo disto são os programas de remuneração
às vezes com e contra os meus adversários. Assim, a amostra variável. A alternativa que mais se aproxima da minha maneira de
também revela que, os que acham que ganhar é sempre bom, pensar quanto à composição ideal das metas para a implantação
mas para isso ele deve jogar às vezes com e contra, são mais do sistema de recompensa deve ser: 100% metas coletivas, pois
frequentes que para aqueles que gostam de jogar sempre ou o sucesso deve ser resultado do trabalho de todos; 50% metas
quase sempre contra. coletivas e 50% metas individuais; ou 100% individuais, pois
A Tabela 14 demonstra os efeitos estimados para a variável quem contribui mais deve ter maior reconhecimento”.
19 (V19), “Quando eu jogo CONTRA um amigo, para vencê-lo
eu adoto uma estratégia: Sempre acirrada (quero vencer sempre); Tabela 16 - efeitos estimados para variável v21
Às vezes acirrada (procuro vencer, mas não esquento a cabeça);
Parâmetro Estimativa Erro Padrão P-valor Razão de Chances
ou Nunca acirrada (não me importa vencer, vale a distração)”.
Para a geração Y, quando se joga contra um amigo, para Constante 1.49 0.31 0.00 4.42
vencê-lo, adotam a estratégia de serem frequentemente ou [G = 1] -1.36 0.37 0.00 0.26
sempre competitivos. Porém, às vezes, ser competitivo é mais
significante que para aqueles que raramente ou nunca o são. [J = 0] -0.46 0.27 0.09 0.63
Na Tabela 15 demonstram-se os efeitos estimados para [V21 = 1] 1.50 0.31 0.00 4.46
a variável 20 (V20), “Quando um amigo e eu nos juntamos
para jogar CONTRA desconhecidos eu ajo de forma”: Sempre [V21 = 2] 0.90 0.33 0.01 2.46
acirrada (quero vencer sempre); Às vezes acirrada (procuro Fonte: Dados da Pesquisa (2012)

60
O impacto dos jogos eletrônicos na propensão da geração Y à cooperação ou competição no ambiente corporativo
Luciana Genelhu Zonta Dissertar
Quando se avalia a maneira de pensar quanto à composição formas (cooperativa e competitiva). Brotto (1999) afirma que,
ideal das metas para implantação do sistema de recompensas, cooperação e competição são processos distintos, porém, não
os respondentes acham que a maioria das metas devem ser muito distantes. As fronteiras entre eles são tênues, permitindo
coletivas, pois o sucesso deve ser resultado do trabalho de to- certo intercâmbio de características, de maneira que se pode
dos. Para a meta de 50% coletiva e 50% individual, a amostra encontrar em algumas ocasiões, uma competição-cooperativa
é significativa também, revelando-se 2,5 vezes maiores em e em outras, uma cooperação-competitiva.
relação aos que acham que as metas devem ser individuais. Quando se analisa a disputa no jogo com pessoas que
não se conhecem, na V9 (“Quando eu jogo com pessoas com
Discussão dos resultados as quais NÃO tenho uma relação de amizade, procuro tornar
Ao longo do desenvolvimento do trabalho foram abordados a disputa”) o modelo revela que a geração Y é bem dividida
aspectos relacionados ao comportamento cooperativo ou compe- em relação a ser “sempre acirrada” e “às vezes” mostrando
titivo da geração Y, como forma de entender as possíveis pecu- que essa geração é bem competitiva e gosta de vencer. Nos
liaridades desencadeadas pelos jogos eletrônicos nessa geração, mercados contemporâneos, sinais competitivos podem ser
que possui características que a diferencia de outras gerações. considerados elementos positivos quando o ambiente demandar
A variável V1 (“Entre colaborar com os colegas para esse tipo específico de comportamento para o sucesso de um
todos ganharem ou não colaborar para que meu trabalho se empreendimento (ROBBINS, 2011).
sobressaia, eu prefiro colaborar”) revela que, para a geração A variável V10 (“Na faculdade, quando era necessário
Y a colaboração com os colegas é predominante, pode-se participar de atividades em grupo para a realização de trabalhos
afirmar que a maioria dos respondentes desta geração prefere acadêmicos, eu”) revela que, quando era necessário participar
colaborar a competir, sendo que, para Nunes (2004) a cultura de atividades em grupo, os respondentes afirmaram que com-
da cooperação é uma filosofia baseada em conceitos e valores partilhavam na maioria das vezes os seus conhecimentos com
humanísticos como solidariedade, confiança e organização os colegas, mostrando que esses são solidários e não egoístas,
funcional de grupos, tendo como propósito substituir o indi- mas também demandavam de informações dos mesmos para a
vidualismo pela ação coletiva. realização dos trabalhos acadêmicos. Conforme define Brotto
Deutsch (1973) aponta que membros de grupos cooperativos (1999) fica caracterizada uma situação cooperativa em que a ajuda
terão mais facilidade que membros de grupos competitivos em mútua é frequente, sendo mais sensíveis às solicitações dos outros.
valorizar as ações dos companheiros conducentes aos objetivos De acordo com a amostra, na variável V14 (“Em sua
destes. Tal comportamento pode ser constatado pela variável opinião, qual das afirmativas abaixo descreve a atitude mais
V3 (“Na escolha de uma empresa para trabalhar, eu prefiro um adequada de uma pessoa que deseja alcançar sucesso profis-
ambiente onde a colaboração para a obtenção de resultados sional”) o sucesso às vezes pressupõe o fracasso do outro em
é”) deixando evidente que para a geração Y é de fundamental 0.6 vezes menos que os respondentes que acham que o sucesso
importância colaborar com a obtenção dos resultados. não possui ligação com o outro. Para Lombardia, Stein e Pin
Outra característica cooperativa constatada na geração Y (2008) a geração Y é vista como uma geração de resultados,
que pode ser corroborada por Deutsch (1973) é a sua capacidade não processos; para eles o importante é saber o que está acon-
de ajuda mútua, pois, em um ambiente onde as pessoas trabalham tecendo agora e reagir rapidamente.
juntas (variável V4) os mesmos demonstraram compartilhar e A variável V17 (“Se ganhar é sempre bom, para eu ganhar
demandar conhecimentos com seus colegas. dos meus adversários eu devo”) aponta que, as afirmativas jogar,
Na variável V5 (“No ambiente de trabalho, entre abrir o a maioria das vezes e às vezes, com os meus adversários, são
jogo fornecendo informação sempre que necessário ou omitir 2,3 vezes maiores do que jogar às vezes com e contra os meus
informação para auferir vantagem, eu procuro”) a geração Y se adversários. Assim, a amostra também revela que, os que acham
mostrou mais adepta a abrir o jogo fornecendo informação em que ganhar é sempre bom, mas para isso ele deve jogar às vezes
cerca de 44 vezes a mais do que aquelas que abrem às vezes. com e contra, são mais frequentes que para aqueles que gostam
Para Deutsch (1973), na Teoria da Interdependência Social, de jogar sempre ou quase sempre contra. Para Balassiano (2009)
a intercomunicação de ideias, a coordenação de esforços, a algumas características dos jogos refletem as mesmas situações
amizade e o orgulho por pertencer ao grupo são fundamentais presentes na rotina diária de qualquer coordenador, gerente
para a harmonia e a eficácia do grupo. ou executivo de uma empresa: a) situações que demandam
A variável V7 (“Para que o meu trabalho se sobressaia respostas rápidas dos jogadores; b) capacidade de análise dos
eu prefiro adotar uma atitude”) revela que os respondentes riscos envolvidos em tais decisões; c) formas de aprendizado
da geração Y preferem adotar o comportamento competitivo baseadas em tentativa-e-erro; d) circunstâncias em que muitas
para que o seu trabalho se sobressaia. Entretanto, quando é decisões devem ser tomadas rapidamente, exigindo total imersão
comparada com o comportamento de igualdade competitiva e em dados; e em diferentes modos de cooperar, competir e se
cooperativa, a geração Y revela ser 0.56 vezes menor. De fato, relacionar com outras pessoas (em ambientes físicos ou virtuais).
para Deutsch (1973) poucas são as situações na vida real que se Para a geração Y, quando se joga contra um amigo, para
caracterizam por serem puramente cooperativas ou puramente vencê-lo, adotam a estratégia de serem frequentemente ou sempre
competitivas, sendo que certos aspectos cooperativos parecem competitivos, conforme revela a variável V19 (“Quando eu jogo
desaparecer, quando seus membros se veem na situação de CONTRA um amigo, para vencê-lo eu adoto uma estratégia”).
competir para a obtenção de objetivos mutuamente exclusivos. Porém, às vezes, ser competitivo é mais significante que para
Na variável V8 (“Para alcançar minhas metas eu me aqueles que raramente ou nunca o são. Para Deutsch (1973)
comporto de maneira”) o modelo proposto mostra que os situações competitivas apontam-se como positivas quando
respondentes preferem se comportar de maneira cooperativa permitem a prevenção à estagnação de uma relação, dá estí-
para alcançar os seus objetivos. Outro aspecto a se ressaltar é a mulo a novos interesses e à curiosidade, bem como explora a
preferência em se comportar de maneira competitiva ou das duas capacidade de cada indivíduo.

61
Dissertar O impacto dos jogos eletrônicos na propensão da geração Y à cooperação ou competição no ambiente corporativo
Luciana Genelhu Zonta

A variável V20 (“Quando um amigo e eu nos juntamos Como limitação, aponta-se o fato de que pela amostra, não
para jogar CONTRA desconhecidos eu ajo de forma”) revela é possível generalizar para toda a geração Y, pois a pesquisa
que, para os respondentes que jogam com um amigo, contra não teve a abrangência necessária.
uma pessoa desconhecida, há uma associação com o hábito de Para pesquisas futuras sugere-se uma análise qualitativa
jogar e não jogar. Para os que não têm o hábito de jogar jogos do conteúdo, do enredo dos jogos eletrônicos mais populares, a
eletrônicos, ser sempre ou frequentemente competitivo é 2,7 partir da literatura sobre jogos e práticas de gestão de pessoas,
vezes maior que para aqueles que raramente ou nunca são envolvendo a administração e a psicologia, analisando de que
competitivos. Essa observação se corrobora para os que têm o forma as empresas se beneficiam desses resultados.
costume de jogar com maior frequência, que é 16,5 vezes maior. O estudo também traz implicações práticas para os
Morais e Assis (2008) consideram que os jogos eletrônicos gestores, pois aponta que existe uma cultura de colaboração
podem ser analisados como parte de um conjunto da produção da geração Y, portanto, recomenda-se que esse conhecimento
cultural de uma sociedade, permitindo assim o entendimento seja usado quando se selecionam profissionais, como critério
de comportamentos e ideias compartilhadas pelos que estão adicional, podendo ser inserido na formação de equipes e em
imersos nesta realidade virtual, ou seja, os jogadores. treinamentos.
Na variável V21 quando se avalia a maneira de pensar
quanto à composição ideal das metas para implantação do
sistema de recompensas, os respondentes acham que a maioria Referências
das metas deve ser coletiva, pois o sucesso deve ser resultado ABDALLA, Maurício. O princípio da cooperação: em busca de uma
do trabalho de todos. Para a meta de 50% coletiva e 50% in- nova racionalidade. São Paulo: Paulus, 2002.
dividual, a amostra é significativa também, revelando-se 2,5 ALVES, Lynn Rosalina Gama. Game over: jogos eletrônicos e violência.
vezes maiores em relação aos que acham que as metas devem ser 2004. 249f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal da
individuais. Ressalta-se que, os grupos são “todos dinâmicos” Bahia – UFBA, Salvador, 2004. Disponível em: http://www.lynn.pro.
nos quais uma mudança na condição de algum membro ou de br/admin/files/lyn_artigo/685ef5af57.pdf. Acesso em: 26 ago. 2012.
algum subgrupo muda a condição dos outros membros ou de BALASSIANO, Moisés. Relatório de projeto de pesquisa: jogos ele-
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Analisar o impacto dos jogos eletrônicos na propensão Press, 2004.
da geração Y à cooperação ou competição no ambiente corpo- BENDASSOLLI, Pedro Fernando. O vocabulário da habilidade e
rativo, à luz da teoria da interdependência social de Deustch da competência: algumas considerações neopragmáticas. Cadernos
(1973) foi o principal propósito deste estudo. Para isso, foram de Psicologia Social do Trabalho, São Paulo, v. 3-4, p. 65-76, 2001.
testadas duas hipóteses a respeito dos construtos hábito de Disponível em: http://www.revistasusp.sibi.usp.br/pdf/cpst/v3-4/v3-
jogar, cooperação e competição. -4a05.pdf. Acesso em: 26 ago. 2012.
Ao longo do desenvolvimento do trabalho, foram abordados BIAGIONI, Daniel. O emprego dos modelos log-lineares para aná-
aspectos relacionados ao comportamento cooperativo ou competitivo lise de dados categóricos. Encontro Nacional de Pós-Graduação em
da geração Y, como forma de entender as possíveis peculiaridades Demografia e Áreas Afins. ABEP. Instituto de Filosofia e Ciências
desencadeadas pelos jogos eletrônicos nessa geração, que possui Humanas/ Unicamp, fev., 2010.
características que a diferencia de outras gerações. BROTTO, Fábio Otuzi. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte
A partir da análise do contato da geração Y com o virtual, como um exercício de convivência. 1999. 197f. Dissertação (Mes-
através do seu comportamento no jogo, foi possível constatar o trado em Educação) – Universidade Estadual de Campinas – UEC,
importante papel que a tecnologia desempenhou na formação Campinas, 1999. Disponível em: http://www.aprendizagemsigni-
desses jovens, influenciando seu cotidiano e sendo uma aliada, ficativa.com.br/artigos/jogos_cooperativos_original.pdf. Acesso
diferente da visão de gerações anteriores. em: 22 ago. 2012.
Há reflexo de certas características dos jogos em situa- CHEN, Chao C.; CHEN, Xiao-Ping; MEINDL, James R. How can
ções reais do ambiente corporativo, pois os “jogadores” estão cooperation be fostered? The cultural effects of individualism-collec-
expostos a circunstâncias que necessitam de capacidade de tivism. The Academy of Management Review, v. 23, n. 2, p. 285-304
análise, decisões rápidas, momentos cooperativos e competi- abr.1998. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/259375. Acesso
em: 29 ago. 2012
tivos, dentre outros.
Como contribuição para a Teoria da Interdependência CHIUZI, Rafael Marcus; PEIXOTO, Bruna Ribeiro Gonçalves; FU-
Social, o estudo corrobora que a competição pode ser positiva SARI, Giovanna Lorenzini. Conflito de gerações nas organizações: um
fenômeno social interpretado a partir da teoria de Erik Erikson. Temas
em alguns momentos, pois sinais competitivos podem ser con- psicol., Ribeirão Preto, v. 19, n. 2, dez. 2011 . Disponível em: http://
siderados elementos positivos quando o ambiente demandar pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2
este tipo específico de comportamento para o sucesso de um 011000200018&lng=pt&nrm=iso. Acesso em 30 ago. 2012.
empreendimento. Aponta ainda que, a cooperação, processo CORDEIRO, Gauss Moutinho.; DEMÉTRIO, Clarice Garcia Borges.
social fundamental no contexto organizacional, é tida como Modelos Lineares Generalizados e Extensões. Disponível em: http://
importante pelo grupo geracional estudado. www4.esalq.usp.br/departamentos/lce/arquivos/aulas/2010/LCE5868/
Assim, o comportamento cooperativo, com base nas livro.pdf. Acesso em: 29 ago. 2012.
respostas apresentadas, mostrou-se de acordo com a hipótese CRUMPACKER, Marta; CRUMPACKER, Jill Martha. Succession
levantada (H0), ou seja, os jogos eletrônicos influenciam joga- planning and generational stereotypes: Should HR consider age-based
dores da geração Y a maior propensão a cooperar, levantando values and attitudes a relevant factor or a passing fad? Public Person-
a possibilidade de se confirmar que há predisposição maior nel Management, v. 36, n. 4, p. 349-369 winter 2007. Disponível em:
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62
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Luciana Genelhu Zonta Dissertar
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63
Dissertar O impacto dos jogos eletrônicos na propensão da geração Y à cooperação ou competição no ambiente corporativo
Luciana Genelhu Zonta

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Artigo enviado em 03/02/2016, aceito em 16/03/2016

64
Dissertar Dissertar

Estratégia e execução com base na informação:


um estudo em Instituições Brasileiras
Strategy and performance based on information:
a study in Brazilian Institutions
Estrategia y desempeño a partir de la información:
un estudio en instituciones brasileñas

A vantagem competitiva de The competitive advantage of La ventaja competitiva de una


uma organização, empresa pública an organization, public or private organización, empresa pública o
ou privada, ou, até mesmo, uma company, or even a nation, has been privada, o, incluso, una nación, está
nação, está passando a depender, increasingly dependent upon their pasando a depender, cada vez más, de
cada vez mais, de sua capacidade ability of making decisions, generating su capacidad de toma de decisiones,
de tomada de decisões, de gerar strategies and transforming de generar estrategias y transformar
estratégias e transformar as es- strategies into daily actions. Thus, las estrategias en acciones diarias.
tratégias em ações diárias. Desta the unfolding of purpose through De esta forma, el desdoblamiento del
forma, o desdobramento do propósito business processes towards people propósito por medio de los procesos
por meio dos processos do negócio ensures the development of actions del negocio hasta las personas permite
até as pessoas permite assegurar o in a convergent and more oriented asegurar el desarrollo de acciones de
desenvolvimento de ações de forma manner for achieving the strategic forma convergente y más orientadas al
convergente e mais orientadas ao goals of the organization. This alcance de los objetivos estratégicos
alcance dos objetivos estratégicos research aims to assess the role de la organización. Esta investigación
da organização. Esta pesquisa tem of information as an integrating tiene por objetivo evaluar el papel
por objetivo avaliar o papel da in- element of purpose, process and de la información como elemento
formação como elemento integrador people in funding, processing integrador del propósito, del proceso
do propósito, do processo e das pes- and information dissemination y de las personas en organizaciones
soas em organizações de captação, organizations within Brazilian de captação, procesamiento y disemi-
processamento e disseminação de Organizations. The research lies nación de información en Organiza-
informação em Organizações Bra- within the information management ciones Brasileñas. Ella se inserta en
sileiras. Ela insere-se no contexto context as information and its flows el contexto gestión de la información
gestão da informação no aspecto collaborate with various components en el aspecto en que la información
em que a informação e seus fluxos of the organizations’ strategic y sus flujos colaboran con los varios
colaboram com os vários compo- alignment process. The methodology componentes del proceso de alinea-
nentes do processo de alinhamento employed had a qualitative character ción estratégica de la organización.
estratégico da organização. A me- and exploratory and descriptive La metodología utilizada tuvo un
todologia utilizada teve um caráter research. It relied on field research carácter cualitativo y de investiga-
qualitativo e de pesquisa exploratória in the form of structured interviews ción exploratória y descriptiva. Se
e descritiva. Valeu-se de pesquisa with management professionals of the valió de investigación de campo en
de campo na forma de entrevistas surveyed organizations. By means of la forma de entrevistas estructuradas
estruturadas com profissionais da the interviews, we sought to become con profesionales de la gestión de las
gestão das organizações pesquisadas. acquainted with Organizations in organizaciones investigadas. A través
Através das entrevistas, buscou-se regard to their integration of purpose, de las entrevistas, buscou conocer-
conhecer as Organizações em rela- processes and people, by using se las Organizaciones en relación
ção à integração entre propósito, interpretive analysis of the collected a la integración entre propósito,
processos e pessoas com a análise data. It was found that the surveyed procesos y personas con el análisis
interpretativa dos dados coletados. organizations, in general, do not use interpretativa de los datos colectados.
Constatou-se que as organizações information in management with Se constató que las organizaciones
pesquisadas, de maneira geral, não the same quality they capture and investigadas, de manera general, no
utilizam a informação em sua gestão disseminate the information subject utilizan la información en su gestión
com a mesma qualidade que captam matter of their organizational goals. con la misma calidad que captan y
e disseminam as informações objeto disseminam las informaciones objeto
de seus objetivos organizacionais. de sus objetivos organizacionales.

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Dissertar Estratégia e execução com base na informação: um estudo em Instituições no Brasileiras
Antonio Rodrigues de Andrade D. Sc.

Palavras-chave: Alinhamento estratégico, propósito, processo, zir resultados que permitam avaliar a qualidade da informação.
pessoas, informação. Resultados quanto à quantidade, ao custo, ao tempo de geração
e à sua utilidade para o usuário. A informação é um instrumento
Autor: de integração fundamental, que necessita ser avaliada quanto ao
Antonio Rodrigues de Andrade D. Sc. impacto produzido nesse processo de integração organizacional.
UNIRIO – Universidade Federal o Estado do Rio de Janeiro As mudanças de mercado provocadas pelas alterações nas
E-mail: prof.arandrade@gmail.com necessidades dos clientes fazem com que, a cada instante, as or-
ganizações tenham que se ajustar à nova realidade. Está no ali-
nhamento estratégico o meio que a empresa possui para dar con-
Introdução sistência entre planos, processos, ações e decisões que apoiem as
O termo informação ganhou relevância preponderante, estratégias, objetivos e metas globais da organização. A fim de
principalmente nos negócios, nas décadas finais do século pas- torná-lo eficaz, faz-se necessário o entendimento das estratégias
sado, quando, a explosão informacional, potencializada pelas e metas, e a utilização de indicadores e informações complemen-
tecnologias emergentes, fez com que o seu tratamento ganhasse tares para possibilitar o planejamento, monitoramento, análise e
nova dimensão, devido ao seu ritmo cada vez mais crescente. melhoria nos setores de trabalho, nos principais processos e na
Vivemos uma realidade onde a informação é um elemen- organização como um todo. Nesse ponto, a informação desem-
to fundamental para as realizações dos indivíduos, dos grupos, penha um papel significativo (FPNQ, 2003).
das organizações, das instituições, enfim, de todos os espaços de O desempenho de uma empresa depende de como suas par-
convivência dentro de uma sociedade. O gerenciamento e utiliza- tes interagem, e não de como elas se comportam por si só. E, ain-
ção da informação criam um elo positivo de retro-alimentação, da, de como as informações são disseminadas. Nesse momento e,
onde informação dá origem a mais informação e conhecimento sob esse ponto de vista, as pessoas representam um papel impor-
a mais conhecimento tante no contexto. Junto a essa nova visão, incorpora-se a pers-
A relevância que a informação assume nesse contexto dá- pectiva de o conhecimento existente nas pessoas ser um aliado
-se na sustentação e no crescimento existentes entre sistema or- nessa nova jornada das organizações. Aí, é que a Administração
ganizacional e o meio ambiente, e, ainda, em seu funcionamento e a Ciência da Informação encontram confluência em contribuir
operacional. Além disso, o processo deve produzir resultados que com as organizações.
permitam avaliar a qualidade da informação. Resultados quanto Sendo assim, para o desenvolvimento e consecução de
à quantidade, o custo e o tempo de geração, bem como sua utili- suas atribuições relacionadas ao planejamento, gerenciamento e
dade para o usuário. A informação é um instrumento de integra- execução, é necessário que o administrador das empresas tenha
ção fundamental, que necessita ser avaliada quanto ao impacto informações adequadas, específicas e pertinentes. A informação
produzido nesse processo de integração organizacional. deve ser vista como o insumo básico para a realização das ativi-
A administração é a interpretação dos objetivos propostos dades do gestor, de forma que venha a contribuir para a tomada
pela empresa por meio do planejamento, organização, direção e de decisão e efetiva melhoria no desempenho organizacional.
controle de todos os esforços realizados em todas as áreas e em A Gestão Estratégica deve ser considerada como a criação,
todos os níveis da organização, a fim de alcançar tais objetivos de escolha e formulação da estratégia, a tradução em ação por meio
maneira mais adequada à situação (CHIAVENATO, 1993). da consecução das necessárias mudanças e, por fim, a monitoração
Cada empresa incorpora um modelo de gestão que, ao lon- e a avaliação da sua efetividade. A informação desempenha papel
go do tempo, vai sendo alterado e ajustando-se de forma a melhor essencial na integração das três etapas, onde: (a) a informação na
contribuir com os seus objetivos. O modelo de gestão não é único definição estratégica cria as condições para uma resposta compe-
nem rígido e varia de organização empresarial para organização titiva mais eficaz da organização às exigências do ambiente; (b)
empresarial, em função do desenvolvimento de variáveis inter- a informação para a execução estratégica está relacionada à dis-
nas e externas (RODRIGUEZ y RODRIGUEZ, 2001). seminação das definições estratégicas por toda a organização e
A necessidade de as organizações promoverem o alinhamen- contribuição à criação das condições para a sua implementação;
to de suas estratégias com os processos internos e os externos tem- e (c) o feedback da informação sobre o desempenho permite que
-se configurado como uma necessidade crescente. Além disso, a reconheçam- se as necessidades de modificações e ajustes nas defi-
informação deve ser integrada aos produtos, serviços e, principal- nições quando tornarem-se ineficazes (McGEE e PRUSAK, 1994).
mente, às decisões. Essa integração torna-se função vital da gestão As informações, obtidas pelo monitoramento ambiental,
de qualquer empresa. Não há gestão possível sem informação. subsidiarão a formulação estratégica da empresa, a definição de
A empresa possui uma dinâmica interação com seu meio atuação dos processos e, consequentemente, das pessoas envolvi-
ambiente, sejam clientes, fornecedores, concorrentes, entidades das. Embora, os estudos não abordem nenhuma empresa ou seg-
sindicais, órgãos governamentais e outros agentes externos. Além mento econômico específico, ressaltam a sua importância para o
disso, possui uma estrutura de funcionamento composta por diver- processo de inteligência competitiva e organizacional desenvol-
sas unidades relacionadas entre si, que atuam de forma harmônica vido ou por quem pretende desenvolvê-lo nas organizações.
e estão orientadas para objetivos definidos, não só para a organiza- A interação empresa – cliente, somente, será eficaz se o re-
ção como para seus participantes (PORTER, 1998). cebido e transmitido por ela for, efetivamente, percebido e aceito
A relevância que a informação assume, nesse contexto, dá- como tal pelos envolvidos no processo informacional. Isso vai
-se na sustentação e no crescimento existente entre o sistema or- ao encontro do apresentado por Barreto (1995) ao introduzir o
ganizacional, o meio ambiente e seu funcionamento operacional. conceito de assimilação da informação como um processo de in-
Um processo pelo qual a organização se informa sobre ela pró- teração entre os indivíduos e uma determinada estrutura de in-
pria e sobre o seu ambiente, bem como informa o ambiente sobre formação, possibilitando gerar uma modificação em seu estado
ela própria. Isso implica em criação, comunicação, tratamento e cognitivo. Dessa forma, produz-se conhecimento que se relacio-
memorização da informação. Além disso, o processo deve produ- na, corretamente, com a informação recebida.

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Estratégia e execução com base na informação: um estudo em Instituições no Brasileiras
Antonio Rodrigues de Andrade D. Sc. Dissertar
Barreto (1994) cunhou o termo estrutura significante quan- zação dos convites de participação. Foram consultados entre dois
do, ao adaptar os conceitos de informação de Wersig, Nelling, a cinco profissionais de cada Instituição pesquisada.
Belkin e Robertson, apresentou o seu próprio conceito em que O principal critério de seleção dos participantes foi uma
apresenta a informação como “estruturas significantes com a consulta a Instituição quanto a indicação dos gestores consi-
competência de gerar conhecimento no indivíduo, em seu grupo, derando o tempo de experiência na Organização e sua posição
ou na sociedade. hierárquica, havendo preferência pelo ocupante de cargo ou fun-
Sempre presente em todos os períodos históricos, a infor- ção de gestão. Após o aceite dos participantes, foi formalizado o
mação tornou-se, ao final do século passado, um relevante fator convite para a realização das entrevistas e foi encaminhado um
de produção. Em um mercado cada vez mais globalizado e com- resumo do assunto a ser desenvolvido no encontro.
petitivo, a utilização da informação assume importante papel na O roteiro de entrevista foi dividido em três partes consi-
orientação das estratégias das organizações. Vive-se uma fase derando questões relacionadas com o propósito, os processos e
cujas transformações aceleram-se nas tecnologias de informa- as pessoas nas Instituições. Foram elaboradas dez questões para
ção, na comunicação e na configuração da economia. propósito relacionadas com planejamento estratégico, interação
O conhecimento da origem, da organização e da disse- com os clientes/usuários e nível de inovação, quinze de processos
minação da informação deve ser encarado como condição fun- abordando temas como modelo de gestão, uso de tecnologia da
damental para o crescimento das possibilidades de realizações informação, conectividade, acesso e disponibilidade da informa-
estratégicas nas organizações. Por meio de um processo informa- ção e controle, por fim mais dez questões do tópico pessoas bus-
cional alinhado aos objetivos organizacionais é que será possível, cando identificar a captação, avaliação e capacitação de talentos.
aos seus gestores, a interpretação, a transformação e a utilização As entrevistas com os gestores foram gravadas e transcri-
da informação na tomada de decisão e nas escolhas estratégicas. tas. Foram, ainda, conferidas a fim de ser mantida a integridade
Assim, entende-se que a informação e, principalmente, da transcrição. No primeiro momento, a transcrição foi feita com
a sua organização e o seu compartilhamento permitirão aos o objetivo de concentração da fala do entrevistado nas respostas
envolvidos, nas várias organizações públicas ou privadas, direta às perguntas elaboradas. No segundo momento, elaborou-se um
ou indiretamente, a prática do planejamento, monitoramento e ajuste nas respostas, considerando-se que, em certos momentos,
controle de forma consistente. algumas delas sobrepuseram-se a outras perguntas, ou foram res-
Resumidamente, tudo isso nos leva a constatar a inexistên- postas dadas em complemento a anteriores.
cia de um processo informacional sistematizado entre os vários Após essa etapa, foi desenvolvida a revisão do texto a fim
atores responsáveis nas organizações, em que, fundamentalmen- de eliminar repetições ou outras inadequações que prejudicas-
te, o compartilhamento de informações e a utilização ótima da sem o entendimento do texto extraído da entrevista.
informação não são desenvolvidos. Concluídos esses procedimentos, o estudo apresenta inter-
Cabe lembrar, conforme já destacado, que a vantagem com- pretações objetivando avaliar e comentar um conjunto de infor-
petitiva de uma organização está passando a depender, cada vez mações para revisão, reflexão e interpretação do objeto do estu-
mais, de sua capacidade de tomada de decisões e de gerar estraté- do, ou seja, a informação na integração de propósito, processos e
gias. O objeto principal para isso concretizar-se está na informação. pessoas. A análise dos dados foi interpretativa, tomando-se, por
Assim, esta pesquisa, tem por objetivo avaliar e apresentar base, as informações relatadas pelos entrevistados considerando
o papel da informação como elemento integrador do propósito, o corpo de conhecimentos pertinentes ao assunto nos campos das
do processo e das pessoas em organizações de captação, proces- ciências de administração e da informação.
samento e disseminação de informação por meio de um estudo
de caso múltiplo. Ela insere-se no contexto gestão da informação Resultado da pesquisa
no aspecto em que a informação e seus fluxos colaboram com A seguir são descritos os resultados dos estudos consi-
os vários componentes do processo de alinhamento estratégico derando a percepção dos entrevistados quanto a integração do
da organização. Nesse sentido, alia os campos teóricos da admi- proposito, processos e pessoas nas Instituições pesquisadas.
nistração aos fundamentos da gestão estratégica e da ciência da
informação em Instituições Brasileiras. Com uma visão multi- A percepção do Propósito nas Instituições
disciplinar analisa as Instituições quanto ao papel da informação
no alinhamento estratégico. Instituição 1 - Museu
É desenvolvido um planejamento estratégico para a Organi-
Método de estudo zação como um todo. Foi um trabalho que começou pela Direção
A metodologia utilizada teve um caráter qualitativo e de há vinte anos, logo que assumiu o Museu. Para que o corpo fun-
pesquisa exploratória e descritiva. Valeu-se de pesquisa de campo cional do Museu entendesse o que a Direção recém chegada que-
aplicada, na forma de entrevistas estruturadas, com profissionais ria implantar naquela ocasião, foram convidados amigos pessoais
da gestão das organizações pesquisadas e pesquisa bibliográfica que tinham empresas de treinamento que realizaram uma série de
e documental. Por meio da entrevista e documentos coletados, programas de capacitação e palestra envolvendo recursos huma-
buscou-se conhecer as organizações pesquisadas quanto à inte- nos, estratégia dentre outros. Segundo a Diretora do Museu: não
gração entre propósito, processos e pessoas nas instituições que adianta querer fazer uma mudança se não houvesse aceitação dos
administram a captação, processamento e disseminação das in- funcionários com aquilo de novo que se quer implantar. Naquela
formações. Foram selecionadas três instituições para a pesquisa ocasião era algo novo para os colaboradores. paradigmas. Aos
todas em nível nacional: um Museu, uma Biblioteca e um Arquivo poucos, o Museu mudou a mentalidade e, hoje, a grande parte dos
A pesquisa de campo baseou-se nos procedimentos pro- funcionários já está saindo aposentada, e uma nova equipe, aos
postos por Alberti (1990). O primeiro procedimento é a identifi- poucos, está chegando e está entrando nesse ritmo”.
cação dos profissionais das empresas pesquisadas e em seguida, O Museu trabalha seu planejamento de quatro em quatro
é feita uma sondagem para a realização da pesquisa e a formali- anos e o revisa bianualmente. Além disso, é realizada, no iní-

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Dissertar Estratégia e execução com base na informação: um estudo em Instituições no Brasileiras
Antonio Rodrigues de Andrade D. Sc.

cio do ano, uma apresentação da Direção, em que são levantadas O desdobramento das estratégias em planos de ação é de-
todas as necessidades e definidas as diretrizes. A partir daí, são senvolvido para cada área, considerando o planejamento estraté-
estabelecidos os objetivos e divididos em metas. O desdobramen- gico. Contudo, as ações do Arquivo nem sempre são baseadas em
to das estratégias em planos de ação é desenvolvido para cada planos formais relacionados com o plano estratégico. Por várias
área da Empresa, considerando o planejamento estratégico. Anu- vezes, surgem demandas específicas do governo federal que exi-
almente, todos os funcionários recebem os seus planos de ações, gem adaptações.
que estão em consonância com esse planejamento estratégico.. Está sendo desenvolvida uma iniciativa com a criação de
As ações da Instituição são, sempre, baseadas em planos um núcleo formal de planejamento para que isso possa ser desen-
formais com relação aos planos estratégicos no que diz respei- volvido de uma maneira sistemática na Instituição. Esse grupo,
to aos planos de ação. Contudo por não estar acostumada com ligado ao Gabinete da Direção, vem introduzindo rotinas que de-
essa administração por objetivos e metas, se perde um pouco em vem ser seguidas. No momento, está em fase de instrumentaliza-
seguir o seu plano estratégico. Muitas vezes percebe-se, na Ins- ção pela área de Tecnologia da Informação de forma a permitir o
tituição, que está se fazendo outra coisa não relacionada com o acompanhamento de execução.
planejamento estratégico. Contudo, há uma preocupação, princi- Os clientes não são ouvidos sistematicamente, embora, a
palmente pela Direção que não se perca o foco. Instituição procure conhecê-los bem. Podem-se considerar dois
O sistema de controle da Empresa gera informações rele- tipos de clientes: o usuário comum que faz pesquisa e a adminis-
vantes para os ajustes necessários ao plano estratégico, mas nem tração pública federal. Também, existem outras instituições que,
sempre se alcançam os resultados desejados. por ventura, podem solicitar assistência técnica ao Arquivo gra-
Consideram-se, no Museu, como clientes, todos aqueles tuitamente, tanto instituições públicas quanto privadas. A Insti-
que vão ao Museu. Não importa a categoria. Não existe pesquisa tuição procura ter um diálogo com ambas, mas, a forma como é
sistemática para ouvir o cliente e incorporar sua voz ao planeja- desenvolvido não é suficiente, deveria ser aprimorado, segundo
mento estratégico. É realizada pesquisa de satisfação para saber os próprios entrevistados.
em que melhorar. Existem, ainda, alguns mecanismos como os Segundo a Direção da Instituição, dá-se muita importân-
e-mails, que é a possibilidade do público em geral falar conosco cia aos clientes internos que são ouvidos (entenda-se por clientes
pelo site. Porém, a pesquisa de opinião pública em si não foi feita. internos como as Chefias que participam das reuniões de pla-
De maneira geral os clientes do Museu são os estudantes e nejamento). Estimula-se a prática do efeito cascata, que consiste
os pesquisadores, porém, não existe a prática de ouvir o cliente em ouvir os representantes de cada segmento em reuniões, após
sistematicamente. Mas há uma caixa de sugestões que os visitantes esses terem ouvido os seus subordinados. Contudo, não é garan-
deixam suas opiniões e os e-mails também são disponibilizados. tido que isso ocorra sistematicamente, pois não há definições sis-
A Instituição é do tipo aberta a ideias inovadoras, mas ain- temáticas sobre esse procedimento.
da existem muitos funcionários resistentes. Na Instituição, é de- Por fim, a Instituição não é aberta a ideias e possui baixo ín-
senvolvido um trabalho constante com treinamentos e palestras dice de inovação. Ainda, é conservadora e não estimula a prática
a fim de ampliar as oportunidades de inovação de toda a equipe, da inovação que é limitada até no seu aproveitamento.
sempre procurando estimular a inovação no Museu. No geral, to-
dos os projetos propostos pelos funcionários e com viabilidade de Instituição 3 - Biblioteca
acontecerem são apoiados na sua realização. Um exemplo disso Foi desenvolvido um planejamento estratégico na Biblio-
foi uma área de projetos sociais que nasceu no Museu quando foi teca em 2012, quando se procuravam avaliar a Instituição e seu
recebido um projeto para abrigar um curso para meninos caren- rumo ao futuro. Esse plano começou a ser debatido, internamen-
tes. A partir daí, foram realizados diferentes cursos como enta- te, em alguns estágios e, depois, ocorreu a mudança da gestão,
lhadores de cadeira, restauradores, lustradores de móveis. Hoje muito recorrente na Administração Pública e a nova adminis-
essa área está consolidada e é considerada um sucesso. Outros tração da Biblioteca redefiniu o direcionamento para uma nova
exemplos são: levar exposições a presídios, UPP e áreas carentes. visão técnica e política.
Em geral, as decisões são tomadas pela Direção ou chefias, É normal conduzir o trabalho na Biblioteca com relatórios
cabendo aos colaboradores alimentarem-nas com informações periódicos que visam atender às questões mensais, burocráti-
pertinentes. De alguma maneira, há centralização, mas, também, cas, orçamentárias, e, também, com o objetivo de dimensionar
há liberdade em realizar os trabalhos à alçada dos setores e no a demanda. Então, pode-se afirmar que ações da Biblioteca são
desenvolvimento das rotinas. baseadas em planos formais relacionados com o planejamento
estratégico. Sendo assim, o sistema de controle vale-se dessas
Instituição 2 - Arquivo informações para acompanhar, controlar e adotar medidas cor-
Existem três tipos de serviço desenvolvidos no Arquivo: retivas quando necessário.
o acervo e a conservação desse acervo; a disponibilização desse A Biblioteca é do tipo aberta a ideias e inovadora. Além
acervo para consulta, quer dizer, uma atividade interna no senti- de estimular o seu desenvolvimento e vários são os exemplos,
do de disponibilizar, preservar, tratar para dar acesso; e uma de dentre os quais pode ser citado o espaço cultural desenvolvido
assessoramento ao governo, a fim de orientar se um documento para dialogar com outro público que não o pesquisador, mas
pode ou não ser descartado. E, ainda, uma assessoria técnica para com aquele interessado em um debate. Porém, no geral, varia
instituições diversas, que presta orientação ou assistência técnica. em função de quem é o gestor.
O planejamento institucional é discutido com as chefias O planejamento estratégico é revisado quando surge uma
das áreas e desdobrado, cabendo cada área desenvolver o seu nova informação que represente uma oportunidade de desenvol-
próprio e transformá-lo em plano de ação. Acrescente-se que o vimento da Organização, mas o desdobramento das estratégias
planejamento é base do orçamento da Instituição e, por sua vez, em planos de ação é desenvolvido para cada área da Empresa,
estimulado pelo orçamento para a realização de revisões anuais considerando-se o planejamento estratégico. Mas, as áreas pos-
de forma participativa, envolvendo todas as áreas. suem certa autonomia, pois, cada uma tem seu universo particu-

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Estratégia e execução com base na informação: um estudo em Instituições no Brasileiras
Antonio Rodrigues de Andrade D. Sc. Dissertar
lar. É muito difícil para a administração superior interferir nesse cessos desenhados, mas é uma intenção promover a abordagem
caso, dado o seu desconhecimento técnico. por processos na Instituição. Pela inexistência do mapeamento de
Não é desenvolvido um levantamento sistemático para ou- processos, muitas vezes, a análise de eficiência e eliminação de
vir o cliente da Biblioteca. Contudo, existem instrumentos de gargalos existentes fica dificultada.
coleta de informações e o contato direto com o pesquisador con- Não existem indicadores de desempenho estratégico, tático
tinuamente. Porém, esse contato foi bastante reduzido com o ad- e operacional para acompanhamento das ações desenvolvidas,
vento da tecnologia: vem sendo desenvolvido por e-mail, telefone além das obrigatórias, que devem ser incluídas no Relatório de
ou pelo Fale Conosco no site da Biblioteca. Gestão. Internamente, em cada área, o acompanhamento é infor-
Em geral, as decisões são tomadas pela Direção ou Chefias, mal. Acrescente-se que a Instituição faz reuniões de acompanha-
cabendo aos colaboradores alimentarem com informações perti- mento da implementação das estratégias e dos planos de forma
nentes. A Instituição adota uma postura centralizada no processo informal. São desenvolvidas algumas reuniões para acompanha-
decisório. As informações só vêm de cima para baixo quando mento, mas não na proporção que deveriam acontecer. Dessa for-
existe alguma situação de conflito. ma, pode-se afirmar que o Arquivo controla os indicadores de
desempenho disponíveis para retroalimentar ações e a tomada de
A percepção dos Processos nas Instituições decisão. De forma geral, o que deve ser analisado é se a meta foi
atingida ou não e, nesse sentido, os indicadores estão em conso-
Instituição 1 - Museu nância com os planos desenvolvidos.
O Instituição 1 – Museu não adota a abordagem orientada As informações geradas são acompanhadas com dados his-
por processos. É orientado por tarefas e desenvolve projetos para tóricos para a análise do desempenho da Empresa, contudo os
cumprir sua missão institucional. fluxos de informação não são, na maioria das vezes, desenvolvi-
Os indicadores de desempenho estratégico, tático e opera- dos visando à eficiência na operação.
cional são definidos para acompanhamento da Instituição e os As fontes de informação que garantem a execução estraté-
indicadores retroalimentam ações corretivas de forma sistemá- gica estão contidas em um manual de instrução, que não tem sido
tica. Contudo, nem sempre as informações são geradas e acom- utilizado adequadamente. De forma geral, existem as informa-
panhadas com dados históricos para a análise do desempenho da ções necessárias ao aprimoramento e direcionamento para a exe-
Empresa. Existem os dados, mas não são tratados devidamente cução estratégica. A documentação e informações necessárias
de forma sistemática. para desenvolvimento dos trabalhos são armazenadas de forma
Tem sido uma prática a realização de reuniões de acompa- que facilite sua recuperação. O fato de existir a Lei do Acesso
nhamento da implementação das estratégias e dos planos de forma à Informação permite que todos tenham contato até com a do-
constante. São realizadas reuniões todas as semanas para avaliar cumentação corrente da Instituição. Pode-se afirmar, assim, que
a situação do Museu e tomar decisões a respeito de ações futuras. existe disponibilidade de informação para a execução estratégi-
No que se refere ao uso da Tecnologia de Informação, a ca, mas ela não é utilizada adequadamente nas questões inter-
sua maior orientação é para a melhoria do desempenho da Em- nas da Instituição. Há uma intranet que, de maneira mais direta,
presa, suportando, também, algumas atividades finalísticas, mas facilita o acesso a determinados diretórios estratégicos a todos,
apoiando a maioria das atividades operacionais do Museu. não só das questões gerais de administração de pessoal como,
As fontes de informação atuais garantem a execução estra- também, planejamento.
tégica com disponibilidade de informação. A documentação e as A Tecnologia de Informação não tem sido utilizada para a
informações necessárias ao desenvolvimento dos trabalhos são melhoria do desempenho da Empresa com a abrangência e poten-
armazenadas de forma que facilita sua recuperação. Por fim, o cial que poderia ser utilizada. Ela tem sido utilizada para melho-
acesso às informações é fácil. ria, mas poderia ser muito melhor aplicada dado o seu potencial.
Existe conectividade na Organização que garante a troca As relações internas, quanto à troca e ao compartilhamento
de informações adequada entre todos os colaboradores tanto na de informação, sofrem porque nem sempre existe conectividade
área informatizada, como na comunicação sem a informática. na Organização que garanta a execução adequada entre todos os
Existem, apenas, duas áreas que não possuem internet devido à colaboradores. Sob o ponto de vista do cliente, a Instituição tem
impropriedade das instalações. O Museu funciona em um anti- boa conectividade e permite acesso às informações disponíveis
go arsenal com paredes de 1,20 m de espessura, o que dificulta relacionadas ao Arquivo Nacional.
a instalação da internet em algumas áreas, bem como seu bom Contudo, tanto interna quanto externamente, o acesso às
funcionamento em outras. informações nem sempre é fácil. O canal de comunicação pode-
No aspecto de conectividade com seus clientes, a Institui- ria ser melhor, mas parece que isso é uma realidade que qualquer
ção permite acesso às informações disponíveis da sua atividade instituição pública vive.
principal. Possui, no seu site, uma área destinada a questões edu-
cativas e procura estar em redes sociais, como o Facebook. Instituição 3 - Biblioteca
Procura-se manter os fluxos de informação visando à eficiên- Junto ao planejamento estratégico, surge a necessidade de
cia na operação, de forma que os gargalos, redundâncias e transfe- se estudarem os processos e a Biblioteca iniciou o mapeamento
rências desnecessárias sejam eliminados assim que identificados. de alguns. Contudo, a abordagem por processos, ainda, não é um
modelo adotado na Instituição. O mapeamento de processos foi
Instituição 2 - Arquivo desenvolvido há pouco tempo internamente. Foi considerado um
O Instituição 2 – Arquivo tem as atividades definidas por bom exercício e promoveu maior percepção pelos colaboradores
área de atuação constantes em seu Organograma e no Regimento quanto à necessidade de integrar e gerar conexões entre as várias
Interno. A estrutura organizacional da Instituição é hierárquica. áreas da Biblioteca. Mas, a constituição da Biblioteca, ainda, é
Há dois anos, a Instituição começou a desenvolver o mapeamento por tarefas, e sua estrutura organizacional, hierarquizada.
dos processos, mas não teve seguimento. Não são muitos os pro- Os indicadores de desempenho estratégico, tático e opera-

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Dissertar Estratégia e execução com base na informação: um estudo em Instituições no Brasileiras
Antonio Rodrigues de Andrade D. Sc.

cional são definidos para acompanhamento da Instituição. Desde senvolvimento de colaboradores procura ser alinhado com a
a década de 80, existem tentativas de se estabelecerem os indi- estratégia da Empresa.
cadores. O Ministério da Cultura trabalha com as suas unidades A cultura organizacional estimula a decisão dos colabora-
para que cada uma se apresente adequadamente, e isso é quase dores baseada na informação e, também, estimula as relações e
um exercício diário e permanente sobre os indicadores. troca de informações constantemente. No que se refere a comuni-
A empresa faz reuniões de acompanhamento da implemen- cação pode-se afirmar que ela é transparente e proporciona clima
tação das estratégias e dos planos constantemente. São desen- de colaboração mútua, o que torna a equipe muito unida.
volvidas reuniões de diretoria, reuniões de colegiado e setoriais, Não há uma definição integral e clara de todas as funções,
onde são avaliadas as novas metas definidas que, após fixadas, perfis, atribuições, responsabilidades e autoridades dos colabora-
seguem para as áreas abaixo e se começa a trabalhar de acordo dores da Instituição. Durante muitos anos, a questão do organo-
com essas orientações. grama e as definições de tarefas ficaram muito atrasadas, prin-
A Instituição controla os indicadores de desempenho para cipalmente, quando o Museu passou a fazer parte do IBRAN.
retroalimentar ações corretivas sistematicamente. É um trabalho Nunca houve uma reorganização de um estatuto e de um organo-
que gera, inclusive, a criação de novos indicadores e a reformula- grama. Por iniciativa interna, estão redefinindo as tarefas. Enfim,
ção dos anteriores se for o caso. o Museu não tem um organograma que defina todas as funções e
A Biblioteca avançou na área da Tecnologia da Informação atribuições dos colaboradores.
quanto ao desenvolvimento dos sistemas e aos recursos tecnoló- Quanto às contratações, o funcionário público, o concur-
gicos, aos sistemas internos, às dimensões de trabalho. sado, recente ou não são contratados por Brasília. O Museu conta
As fontes de informação atuais garantem a execução es- com estágios remunerados, estágios curriculares, terceirizados,
tratégica. A documentação e as informações necessárias ao de- contratados para serviços temporários, voluntários, empresas
senvolvimento dos trabalhos são armazenadas de forma facili- terceirizadas na área de segurança e serviços gerais.
tadora à sua recuperação. Contudo, isso depende de cada gestor
ou gerente, porque no sentido das informações administrativas, Instituição 2 - Arquivo
por exemplo, todos os relatórios estão armazenados com todas as A Instituição estimula a participação dos colaboradores
informações necessárias. Enquanto que há outras informações no processo de planejamento estratégico, mas não garante que
setoriais cuja definição do que facilita sua disponibilidade para ela ocorra efetivamente. Da mesma forma, a Instituição estimula
a execução estratégica fica a cargo de cada setor. O acesso às o contato direto entre a liderança e os colaboradores, mas isso
informações é fácil quando ligado à execução da rotina, mas, em depende da chefia. Por outro lado, não há muito estímulo à gera-
algumas situações, é necessário buscar informações para a toma- ção de ideias e inovação, sendo, talvez, o motivo por que poucas
da de decisão. pessoas se interessem em participar de processos inovadores por
Não é de conhecimento de todos a existência de conectivi- iniciativa própria ou por determinação.
dade na Organização de forma a garantir a troca de informações A avaliação dos profissionais é centrada nos resultados,
adequada entre todos os colaboradores. Por outro lado, a Institui- na conduta e no relacionamento, mas a avaliação não ocorre da
ção possui conectividade com seus clientes e permite acesso às forma como deveria. Ela é, historicamente, caracterizada por
informações disponíveis da sua atividade principal. A lei da acessi- questões mais corporativas. Não se avalia de forma que preju-
bilidade faz com que todos tenham que disponibilizar os seus rela- dique o avaliado.
tórios de gestão, todas as suas realizações devem estar disponíveis. A Instituição possui um plano de capacitação e desen-
As informações geradas são acompanhadas pelos dados volvimento, que vem sendo objeto de confronto entre os servi-
históricos para a análise do desempenho da Empresa de forma dores e a direção atualmente. Não existem grandes iniciativas
superficial. Mais pela exigência do governo de estabelecer esses para a capacitação do servidor, principalmente, em nível mais
indicadores do que por ser um processo de controle. avançado de conhecimento, como por exemplo, mestrado
Os fluxos de informação são desenvolvidos visando à efi- e doutorado. De maneira geral, há, também, dificuldade em
ciência na operação e, quando ocorrem gargalos, redundâncias e implementar o programa de capacitação para atendimento de
transferências desnecessárias, são revisados imediatamente. Às demanda do Arquivo Nacional.
vezes, a alteração de determinados fluxos podem demorar na aná- A cultura organizacional não estimula a decisão dos cola-
lise e implantação, mas a resposta da revisão deve ser dada logo. boradores baseada na informação. O processo decisório é muito
limitado, assim como são limitadas as relações e a troca de in-
A percepção das Pessoas nas Instituições formações. Outro aspecto a ser considerado é o baixo nível de
colaboração mútua.
Instituição 1 - Museu Não há uma definição clara de todas as funções, perfis,
A participação dos colaboradores do processo de planeja- atribuições, responsabilidades e autoridades dos colaboradores
mento estratégico é estimulada na Instituição e nas reuniões sem- da Empresa em função dos processos. O que existe é quanto aos
pre realizadas em todas as instâncias. O que é, ainda, facilitado, aspectos regulados.
pelo contato direto entre a liderança e os colaboradores. Por fim, os processos de seleção e contratação são, basi-
São dois os procedimentos de avaliação do pessoal no camente, por concurso público, ficando limitadas as exigências
Museu. Um é a avaliação oficial do serviço público, muito su- quanto aos requisitos do bom desempenho profissional. Podem
perficial. Outro é desenvolvido para a Instituição. O Museu tem se destacar as contratações de empresas prestadoras de serviço,
uma prática em que os funcionários destacados no período são em que há uma definição dos requisitos para contratação. Além
recompensados com uma Portaria de elogio, publicada em Diário disso, quando uma empresa é contratada para o desenvolvimento
Oficial e registrada na ficha funcional. de um determinado serviço, ele passa por avaliação periódica.
As pessoas participam do processo de inovação e são es- Mas, nem sempre se consegue contratar os melhores do mercado,
timuladas para tal. Inclusive, o plano de capacitação e de de- como acontece no serviço público geralmente.

70
Estratégia e execução com base na informação: um estudo em Instituições no Brasileiras
Antonio Rodrigues de Andrade D. Sc. Dissertar
3.3 - Instituição 3 - Biblioteca A classificação que esclarece as formas com que os gesto-
A participação dos colaboradores do processo de planeja- res pensam sobre a realização de suas intenções e ações estraté-
mento estratégico depende das chefias, que devem ouvir seus co- gicas são denominadas de racional, evolucionária e processual
laboradores. Da mesma forma, o contato direto entre a liderança (HEIJDEN, 2004)
e os colaboradores será facilitado dependendo das chefias. A primeira delas, a abordagem racional, trata o pensamento
A avaliação dos profissionais é centrada nos resultados. A e a ação separadamente. Esta abordagem é a que mais se aproxima
avaliação de desempenho que a Empresa segue é a política de de duas Instituições pesquisadas. O Arquivo e a Biblioteca apre-
gestão de Recursos Humanos do governo, realizada em período sentam elementos que permitem definir, como racional, o modelo
determinado. de formulação e implementação estratégica das Instituições.
Todas as pessoas participam, de alguma forma, dos proces- O Museu apresenta elementos mais próximos da aborda-
sos de inovação da Instituição, principalmente, quando são convi- gem processual: mais aberta ao ambiente e procurando ajustar-se
dadas. Porém, nem todos participam da implantação de uma ação, conforme o que nele é percebido.
restrita ao grupo envolvido somente. As áreas são autônomas nesse A abordagem processual, diferentemente das outras e, em
aspecto e, também, variará em função de suas iniciativas internas. especial, da racional, entende que é possível definir estratégias
A Instituição possui um plano de capacitação de pessoal. ótimas como o proposto pelo paradigma racional. Entretanto,
Foi implementado com reserva orçamentária para seu desenvol- para que isso se torne possível, as organizações devem tornar-se
vimento. Cada área da Instituição faz a sua proposição em ter- mais flexíveis, adaptáveis e capazes de aprender com seus pró-
mos de capacitação da sua equipe. É debatido em conjunto com prios erros. O que é demonstrado pelo Museu, principalmente,
a direção da Biblioteca em forma de colegiado, que aprova de quando se refere ao aprendizado que busca nas ações relaciona-
acordo com as demandas e necessidades das áreas. das com os seus clientes.
A cultura organizacional estimula a decisão dos colabora- Duas Instituições, Museu e Arquivo Nacional, promovem
dores baseada na informação. Decide-se mais pela informação a integração estratégica levando em consideração dois aspectos.
do que pela intuição. E isso é estimulado na Biblioteca, que, tam- O primeiro refere-se à informação definida no plano estratégico
bém, busca um sentido mais participativo para atuação. Contudo, e desdobrada em objetivos e metas correspondentes e alinhadas
existem aquelas decisões que são verticais. com o plano inicial. O segundo refere-se às pessoas que partici-
A comunicação interna nem sempre é desenvolvida de for- pam do processo de planejamento.
ma satisfatória. Depende muito do colaborador. Existe uma rádio Cabe destacar que houve divergência de informações nas
corredor que, às vezes, informa melhor. Muitas vezes, ficam-se entrevistas realizadas na Biblioteca. Enquanto uma entrevistada
sabendo de decisões tomadas por outros meios. informou sobre o planejamento estratégico da Instituição, a ou-
Há uma definição clara de todas as funções, perfis, atri- tra participante afirmava não reconhecer a existência de planeja-
buições, responsabilidades e autoridades dos colaboradores mento estratégico. Esta situação fragiliza a afirmação de que há
da Empresa em função dos processos nas áreas em que foi desdobramento estratégico, pois ele se consolida com o conheci-
desenvolvido o trabalho. mento de todos na Organização a seu respeito.
Os processos de seleção e contratação identificam, clara- Pode-se observar, no Museu, que a integração organizacio-
mente, os requisitos de bom desempenho. Quando aplicados aos nal é fundamental ao alinhamento estratégico. Ela se dá através
terceirizados, são buscados pelo perfil para o trabalho que se de reuniões constantes em todos os níveis, procurando garantir
deseja. Exige-se formação e conhecimento, principalmente, na que todos tomem ciência e participem do movimento estratégico.
área específica para os estagiários, onde se exige a formação em As informações e as pessoas, em toda a Instituição, mobilizam-
Biblioteconomia também. -se para o cumprimento das operações e projetos vinculados com
o plano estratégico de forma orquestrada.
Considerações finais No Arquivo, também, existe a preocupação de utilização
Este trabalho procurou avaliar a informação aplicada ao da informação e da participação das pessoas. A busca da inte-
alinhamento estratégico das Organizações com ênfase na re- gração organizacional é uma preocupação da direção, que reúne
lação entre o propósito, os processos e as pessoas em organi- a administração intermediária no processo de formulação estra-
zações de captação, processamento e disseminação de infor- tégica, mas é garantida sua aplicação sistemática. A participação
mação. Foram selecionadas uma Biblioteca, um Museu e um dos demais colaboradores da Instituição depende do comporta-
Arquivo para a pesquisa. mento das chefias em informá-los e recolherem suas informações
Ao longo do trabalho, procurou-se relacionar a dinâmica para apresentação em fóruns superiores.
das três Instituições com o alinhamento estratégico para efeito A comunicação por meio de Tecnologia da Informação não é
da integração organizacional, tendo-se em vista a consecução de explorada para a construção do alinhamento pelas três Instituições,
seus objetivos estratégicos. que mais a utilizam para a operacionalização das ações e operações.
O alinhamento estratégico é a essência da Gestão Estratégica, A busca de informações externas, principalmente, a do
pois, é por meio dele, que haverá consistência entre planos, proces- cliente, não é feita de forma proativa e, tampouco, a captura
sos, ações e decisões para apoiar as estratégias, objetivos e metas das informações recebidas é realizada de forma sistematiza-
globais da organização. Para que isso se realize, três elementos são da pelas três Instituições. As informações são recebidas por
considerados fundamentais: o propósito, os processos e as pessoas. canais instituídos como Fale Conosco, e-mails e caixa de su-
O primeiro componente para a definição da existência gestões no dia a dia. As três Instituições conhecem bem seus
do alinhamento estratégico é o propósito. Nele, serão encon- clientes, mas não os exploram no sentido de contribuírem com
trados os elementos que permitirão avaliar a existência de suas informações no processo estratégico. Mas, não pode ser
uma formulação estratégica, bem como os mecanismos que ignorado que, ao ouvi-los, mesmo de forma reativa e com os
permitirão à Organização proceder à integração por meio do meios que possuem, aproveitam as informações fornecidas
desdobramento estratégico. para melhorias operacionais.

71
Dissertar Estratégia e execução com base na informação: um estudo em Instituições no Brasileiras
Antonio Rodrigues de Andrade D. Sc.

Todas se dizem inovadoras, mas isso ocorre com limita- pesquisadas, teoricamente, cumprem o estabelecido para a im-
ções, pois são organismos públicos, onde inovar não é uma práti- plementação estratégica.
ca constante e comum, embora demonstrem ações nesse sentido, O terceiro e último componente para a definição da exis-
principalmente, a Biblioteca e o Museu. tência do alinhamento estratégico está relacionado às pessoas.
Quanto ao controle existente nas Instituições, ele é desen- É nele em que serão encontrados os elementos que permitirão
volvido levando-se em consideração indicadores estabelecidos avaliar a existência de uma capacitação apropriada para a
para tal fim mas, na maioria, de forma que satisfaçam as infor- construção do alinhamento.
mações que devem estar contidas nos Relatórios de Gestão. Apesar de as Instituições, cada uma à sua maneira, esti-
O planejamento existe nas Instituições por força dos pla- mular a participação dos colaboradores no planejamento estra-
nos plurianuais que devem ser desenvolvidos e dos orçamentos, tégico, no quesito capacitação orientada para a estratégia, todas
que devem ser apresentados por imposições legais aos órgãos apresentaram a mesma situação de inexistência de um plano de
públicos federais. Contudo, a grande questão é se possuem um capacitação que busque atender o alinhamento estratégico espe-
caráter estratégico. cificamente
O segundo componente para a definição da existência do Por fim, constatou-se que todas as Instituições utilizam
alinhamento estratégico é o processo. Aqui, entendido como a informação a seu jeito não ficando demonstrado um padrão
a forma de implementação da estratégia na Organização, bem quanto a sua utilização para o alinhamento estratégico entre elas.
como o controle de sua execução. Duas abordagens podem ser Embora existam esforços no sentido de buscar um alinhamento
constituídas para a implementação estratégica. Uma delas é para a consecução estratégica não está na informação o compo-
a adoção da orientação por processos e outra a abordagem por nente principal para proporcionar a integração organizacional.
orientação funcional.
Pode-se constatar que as três Instituições adotam a abor-
dagem orientada por função. Possuem uma estrutura organiza- Referências
cional hierarquizada e centralização no processo decisório, que ALBERTI, Verena. História oral: a experiência do Cpdoc. Rio de
confirma o modelo de gestão mecanicista. Janeiro: FGV, 1990.
Tanto o Instituição 2 – Arquivo quanto a Instituição 3 - Bi- BARRETO, A.A. (1994) A questão da informação. São Paulo Em
blioteca possuem iniciativas de adoção da abordagem por proces- Perspectiva, São Paulo, n. 4, v. 8, out./dez.
sos. Inclusive, têm alguns processos mapeados mas, embrioná- ______________. (1995) Valor agregado: Aspectos conceituais. In:
rios, não demonstram relevância para a sua análise. Seminário Internacional Valor Agregado à Informação. Rio de Janeiro,
Os aspectos relacionados com o item Processos referen- SENAI/CNI/CIET, 1995.
tes à implementação estratégica são: o desenho dos processos CHIAVENATO, I. (1993). Introdução à Teoria Geral de Administração.
e definição de atividades/tarefas para a realização estratégica, São Paulo: Makrobooks.
o uso da Tecnologia da Informação aplicada na Organização e CHIAVENATO, I. (2000) Administração: teoria, processo e prática.
os fluxos de informação. Outros aspectos a serem considerados São Paulo: Makron Books.
relacionam-se com o acompanhamento e o controle estratégico.
FPNQ - Fundação Prêmio Nacional para a Qualidade. (2003) Primeiros
São eles: a existência de indicadores de desempenho quanto à sua passos para a excelência. Brasília: FPNQ.
constituição e à sua utilização, bem como as formas de realiza-
HEIJDEN, K.V.D. (2004). Planejamento de Cenários: a arte da con-
ção do acompanhamento e controle estratégico. versação estratégica. Porto Alegre: Bookman.
Tanto implementação e controle são elementos que, após a
formulação estratégica, precisam ser definidos para que a organi- KAPLAN, R. S. E NORTON, D. P. (1997) A estratégia em ação:
balanced scorecard. Rio de Janeiro: Campus.
zação conduza as ações necessárias ao alcance de seus objetivos
e metas e, assim, adotar um modelo de gestão e fundamental. McGEE, J. e PRUSAK, L. (1994) Gerenciamento estratégico da
A abordagem funcional, adotada pelas três Instituições, informação. Rio de Janeiro: Editora Campus.
possui uma dinâmica informacional que ocorre entre os vários PORTER, M. E. (1998) A vantagem competitiva das nações in MON-
ambientes organizacionais. Os ambientes organizacionais estão TGOMERY, C. A. e PORTER, M. E. (Org) (1998) Estratégia: a busca
da vantagem competitiva. Rio de Janeiro: Campus.
nos níveis hierárquicos da Organização, ou seja, nível estratégi-
co, nível tático e nível operacional. RODRIGUEZ Y RODRIGUEZ, M. V. (2001). Gestão do Conhecimen-
Nesse modelo, é comum a descida de fluxos pelos níveis to: reinventando a empresa para uma sociedade baseada em valores
intangíveis. Rio de Janeiro: IBPI Press.
hierárquicos, do estratégico ao operacional, onde a informação
deve se propagar a fim de desenvolver a execução estratégica e
construir a integração organizacional. E, ainda, subir fluxo de
informações do nível operacional ao estratégico para acompa-
nhamento e controle das operações e projetos organizacionais.
Observa-se, pela pesquisa desenvolvida, que a dinâmica in-
formacional corresponde aos fluxos descritos, onde informações
apresentadas nos planos, programas e projetos são desdobrados
pela cadeia hierárquica e, através dela, sobem informações de
controle por meio dos indicadores de desempenho apurados.
A pesquisa não se preocupou com a abrangência e apro-
fundamento das informações contidas nos planos desdobrados,
bem como dos indicadores de desenvolvidos, ou seja, não foi
objeto da pesquisa avaliar conteúdo e, sim, o movimento (pro-
cesso) da realização estratégica. Nesse sentido, as Instituições Artigo enviado em 17/03/2016, aceito em 04/04/2016

72
Dissertar

Gestão da informação na era do Big Data


Information management in the era of Big Data
Gestión de la información en la era del Big Data

Analisa o ambiente organiza- It analyzes the organizational Analiza el entorno de la organiza-


cional de produção de informação e environment of information produc- ción de la producción de información
posiciona a importância da informação tion and It positions the importance y posiciona a la importancia de la
no atual mundo do trabalho. Identifica of information in today’s world of información en el mundo actual de
as tecnologias de informação e comu- work. It identifies the information trabajo. Identifica las tecnologías de
nicação e mostra como ferramentas and communication technologies la información y de la comunicación
digitais auxiliam no monitoramento and It shows how digital tools assist y muestra cómo las herramientas di-
de dados e na consequente gestão in monitoring data and the subse- gitales ayudan en el control de datos y
da informação. Destaca a era do quent management of information. la posterior gestión de la información.
Big Data e alerta a importância da It highlights the era of Big Data and Destaca la era de los grandes datos y
gestão estratégica dos dados e das It alerts the importance of strategic alerta a la importancia de la gestión
informações na sociedade em rede. management of data and information estratégica de los datos y la información
in the network society. en la sociedad red.

Palavras-chave: Desenvativismo. A capacidade de integração e de memória, a velocidade de


processamento e de transferência de dados aumentou radical-
Autores: mente possibilitando o melhor processamento, armazenamento,
Marcio Gonçalves compartilhamento, disseminação da informação e geração de
Doutor em Ciência da Informação pela Universidade Federal novos conhecimentos. Castells (1999, p. 69) caracteriza a atual
do Rio de Janeiro (UFRJ). revolução tecnológica não como uma centralidade de conheci-
E-mail: marciog.goncalves@gmail.com mentos e de informações, mas a aplicação desses conhecimentos e
Site do autor: www.ciencianasnuvens.com.br dessa informação para a geração de conhecimentos e dispositivos
de processamento/comunicação da informação, em um ciclo de
Cláudio Lopes Pereira realimentação cumulativo entre inovação e uso.
Administrador e Mestre em Administração pelo PPGA/UNI- As novas tecnologias não estão voltadas somente para a
GRANRIO. Professor da Universidade Estácio de Sá (UNESA). criação de novos produtos, mas, principalmente, para a reestru-
E-mail: profclaudiolopes@gmail.com turação dos processos produtivos. A adoção de TICs modifica
as formas de produção, criando ambientes altamente informati-
Introdução zados, gerando atividades eletrônicas em todas as dimensões do
trabalho. As empresas contemporâneas buscam na informação
A política de reorganização do sistema produtivo gera a capacidade de compreender seus diversos contextos, a fim de
profundas transformações nos países desenvolvidos e em desen- poder conjuntamente com as TICs obter sucesso no ambiente
volvimento. O perfil das empresas é alterado devido à crescente competitivo. “A informática representa não apenas uma revolução
participação dos investimentos de capital estrangeiro, impulsio- tecnológica, mas uma revolução organizacional, pois coloca a
nados em grande parte pelas fusões, aquisições e privatizações. necessidade de se gerir as diversas facetas de que a informação se
A produção de produtos e serviços ganha nova dimensão, tanto reveste nas várias etapas da produção” (WOLFF, 2009, p. 102).
pelo peso crescente na pauta de exportações dos países, quanto A partir dos anos 90 os computadores desktops, os por-
por seu papel nas novas formas de geração de riqueza. táteis, os sistemas de computadores em rede, os sistemas de
A internacionalização dos mercados muda os modos de telefonia móvel e os sistemas integrados de gestão, entre outros,
pensar e agir das empresas e, consequentemente, os processos tornam-se ferramentas essenciais para cada nível estratégico da
produtivos e as formas de organização do trabalho. O capitalismo maioria das empresas. O uso dessas ferramentas melhora a pro-
flexível se adapta, criando empresas mais maleáveis de forma dutividade significativamente integrando as diversas atividades
a responder com mais rapidez às mudanças de demanda de administrativas. Aumenta, também, a comunicação com seus
consumo. Nessa reestruturação, as novas tecnologias dão mais clientes e fornecedores e reconfigura diversas formas de trabalho,
poder ao “capital flexível”, em especial, na flexibilidade das em especial as que transcendem a noção de tempo e espaço no
forças produtivas que condicionam os trabalhadores. desenvolvimento de suas atribuições. Castells (1999) reforça

73
Dissertar Gestão da informação na era do Big Data
Cláudio Lopes Pereira e Marcio Gonçalves

o qual se exercia o trabalho humano, na sociedade industrial,


que a prática da flexibilidade temporal e espacial do trabalho é compunha-se de blocos de metal, de cimento, de matéria sólida
facilitada pela utilização das TICs, pois permite que o trabalho cujo uso e cuja propriedade eram rigorosamente delimitados.
seja executado a qualquer tempo e em qualquer lugar, sendo Hoje, ao contrário, lidamos com fluxos de informação digital que
posteriormente disponibilizado, transportado e acumulado na rede. se concretizam ao mesmo tempo entre recipientes provisórios
No setor bancário, a transformação no processo de produção para posteriormente transmigrar em novas formas.
pode ser evidenciada através da automação bancária no início
dos anos 70 que, nesse primeiro momento, foca a administração Verifica-se o importante papel da informação gerenciada
das operações diárias das instituições na retaguarda do banco. pelas TICs para o entendimento da realidade atual dos negócios,
Posteriormente o foco passa a ser nas inovações dos serviços já que a informação é o principal insumo dos negócios e as TICs
associados à informática direcionada aos clientes, por meio dos têm o potencial, entre outros, de aumentar o seu fluxo e dinamizá-
caixas eletrônicos, centrais telefônicas e na diferenciação de -la viabilizando a implantação de diferenciais competitivos neste
produtos e serviços. Percebe-se um investimento muito grande mercado em que a palavra de ordem é inovar.
em equipamentos de automação em toda a rede bancária. A fase No setor bancário na década de 90, por exemplo, o uso das
seguinte é a integração da automação de retaguarda com a do TICs ganha destaque para tratamento e interpretação dos dados
atendimento ao cliente. Esse processo gera uma maior produti- na obtenção das informações sobre o mercado: os clientes, as
vidade, aumentado o volume operado por unidade de negócio e, suas necessidades e preferências para definir seus produtos e
consequentemente, facilita a expansão física do setor. serviços, conforme citado por Segre e Massa (2002):
O foco atual do setor bancário gira em torno da busca pela O negócio das instituições financeiras é a informação, o tratamento
“excelência” do atendimento como forma de diferenciação mer- da informação. Para o futuro próximo, com a reestruturação que
cadológica. Os avanços dessas tecnologias contribuem bastante as empresas estão passando, cada vez mais tudo aponta que o
para a implantação de sistemas inteligentes que contribuem com a diferencial na capacidade competitiva dessas empresas reside
definição das estratégias gerenciais do banco que permitem criar na infraestrutura tecnológica que elas consigam montar. Não só
infraestrutura tecnológica no sentido de mais potência, maior
serviços e produtos personalizados. A inserção das TICs no setor tamanho, mas sim no sentido da flexibilidade, da capacidade de
bancário, em especial dos caixas eletrônicos e do home banking reagir mais aos movimentos de mercado. É preciso agilidade
possibilita a eliminação de diversos postos de trabalho, já que os para criar e definir produtos, e disponibilizar facilidades para o
clientes passam a fazer operações por meio desses dispositivos. cliente (GUIA DE AUTOMAÇÃO BANCÁRIA 95/96, apud
SEGRE e MASSA, 2002, p.45).
A informação no mundo do trabalho
Diante da evolução das TICs, surge o conceito de socie- Dessa forma, as TICs possibilitam uma maior eficiência
dade da informação. Para Castells (1999, p. 186) a sociedade e agilidade para extração, manipulação e flexibilização na es-
da informação é um conceito utilizado “que indica o atributo de truturação dos dados dos clientes para gerar informações, que
uma forma específica de organização social na qual a geração, o por sua vez são fundamentais para as decisões dos gerentes de
processamento e a transmissão de informação se convertem nas banco. Essas informações não identificam apenas os clientes mais
fontes fundamentais da produtividade”, face às novas tecnologias rentáveis ou aqueles que historicamente não têm sido lucrativos,
que surgiram nas últimas décadas. A informação é o componente mas permitem aos gerentes traçar estratégias que identificam o
central do patrimônio intelectual tanto dos indivíduos como que os clientes esperam de um produto e, consequentemente,
das empresas, que altera substancialmente as condições destes quanto eles estão dispostos a pagar.
processos. Assim como os demais produtos, em uma economia O gerenciamento da informação por meio das TICs, que,
capitalista, a informação torna-se mercadoria, cuja relevância tem nesse caso, é usado como fonte de vantagem competitiva dentro
crescido, resultando em vantagem competitiva para as empresas. das empresas em um mundo cada vez mais globalizado, traz com
Lojkine (2002, p. 38) destaca que a revolução informacio- isso o discurso de um ambiente “aberto”, “interagente” e “dinâ-
nal não se reduz às potencialidades sociais da microeletrônica; mico” cuja tarefa principal é absorver, processar, compartilhar e
antes, manifesta-se no conjunto de formas novas da informação disseminar informação sobre as questões que causam impacto
que ela mobiliza: notadamente nos circuitos da inovação na na empresa. No entanto, o tratamento dessas informações vai ao
empresa e nas redes que vinculam indústrias, serviços e pesquisa encontro dos interesses organizacionais e está moldado por eles.
científica. Dessa forma, a “revolução” a que o autor se refere Permeia esse processo um conjunto de interesses relativos a um
está relacionada às necessidades de inovações no mundo dos outro conjunto de relações de controle e poder. A informação
negócios regido pelo capitalismo. disponibilizada para o nível gerencial não é a mesma disponi-
Nesse contexto, a informação passa da sua função instru- bilizada para o nível operacional. O próprio acesso é limitado
mental para o foco da atividade, ou seja, o uso da informação no sistema por meio de login e senha.
para a criação de um valor adicional aos seus produtos e serviços. Assim, a posição hierárquica do funcionário irá definir o
A informação nasce como forma de evidenciar e potencializar a acesso a determinados tipos de informação, reforçando as relações
força dos recursos intangíveis, isto é, os conhecimentos existen- de controle e poder na empresa. Ao transformar os espaços de
tes em uma empresa. Assim, o valor dos recursos tecnológicos trabalho através do uso das TICs, portanto, as empresas adaptam
depende da informação e de como ela é utilizada pela empresa. e instauram modos de subjetivação e controle específicos. As
Berardi (2005, p. 114) chama a atenção para a diferencia- empresas delimitam os funcionários que terão acesso à rede e,
ção da informação dos demais recursos produtivos, limitados assim, às informações privilegiadas, na tentativa de conter o acesso
e finitos, em especial na sociedade industrial, e destaca ainda a generalizado dos mesmos ao sistema da empresa. A divisão do
fluidez e o valor do seu uso: trabalho no ambiente em rede dentro de uma empresa também é
A economia industrial era fundada na matéria sólida, enquanto compartimentalizada por uma divisão hierárquica e de saberes.
agora entramos numa forma econômica que se baseia num ma- Nesse contexto, pode-se observar o quanto as TICs corro-
terial que flui como substância líquida, gasosa. O material sobre boram para potencializar o uso das informações pelas empresas

74
Gestão da informação na era do Big Data
Cláudio Lopes Pereira e Marcio Gonçalves Dissertar
nos últimos anos promovendo uma reestruturação em diversas instáveis, dinâmicos e competitivos. As inovações organizacionais
funções e processos. e tecnológicas deram uma nova roupagem para a organização
capitalista do trabalho, transformando as atividades em toda sua
Os novos paradigmas tecnológicos e o trabalho extensão, afetando diretamente a vida do trabalhador.
De acordo com Alves (2007) a inserção dos recursos tec- Pode-se observar que as transformações ocorridas no traba-
nológicos no sistema produtivo capitalista teve sua emergência a lho nas últimas décadas recaem diretamente sobre o trabalhador,
partir da década de 70, do século passado, com os consideráveis tendo este que se reestruturar constantemente, e os efeitos de
avanços da informática, integrando os mercados e plantas produ- tais reestruturações impactam na vida desse novo trabalhador
tivas de todo o mundo. Observa-se que nas últimas duas décadas diante da sociedade da informação.
as empresas têm intensificado a difusão das TICs. As novas TICs
ajudam na adaptação às mudanças e nos rumos das estratégias O trabalhador diante da nova ordem mundial
das empresas, independentemente da natureza de seus produtos, As constantes transformações ocorridas nas últimas décadas
mercados e processos, assim como transformam de forma radical no mundo, sejam elas de ordem política, cultural, tecnológica ou
suas tradicionais práticas e estruturas organizacionais. financeira, vêm acarretando fortes consequências no mundo do
As novas TICs (internet, intranets, webmails, os dispositivos trabalho. Com a necessidade das empresas em se adaptarem a
portáteis, a telefonia móvel e os Sistemas Integrados de Gestão) esses novos ambientes, instaura-se um novo perfil de trabalha-
se integram ao trabalho e contribuem para um redimensionamento dor, que demanda polivalência e multifuncionalidade. É preciso
significativo das atividades de trabalho e relações do trabalhador ter a capacidade de reagir a esses novos ambientes de forma
com a sua produção. eficaz, trabalhar em diversas “máquinas” e funções diferentes,
A adoção das TICs nas empresas reestrutura diversas fun- independentemente de estar ou não dentro da empresa. Essa
ções, das quais se destacam as principais na Tabela 1: polivalência de acordo com Alves (2007), Antunes (1995; 2001;
2009), Braga (2009), Jinkings (1995; 2002), Sennett (2000) e
Tabela – A reestruturação de funções promovida Wolff (2009) diz respeito a um tipo de perfil de qualificação
pela adoção de TICs humana caracterizado pela capacidade do trabalhador se mostrar
funcionalmente “flexível”
Funções TICs Processos Os trabalhadores “flexíveis” devem buscar práticas que lhe
- Pesquisa de Internet – Obtenção das informações permitam superar os novos desafios impostos pelas empresas.
mercado para analisar as tendências Para isso é preciso aprimorar suas qualificações profissionais,
- Definição de de mercado e adaptá-las às
produtos e serviços. estratégias empresariais. haja vista que esse ambiente decorrente da adoção de novas TICs
- Marketing – Divulgação e venda de produtos. gera cada vez mais a intelectualização do trabalho. “Quanto
- Vendas – Integração ao mundo globalizado. mais ampla e profunda a difusão da tecnologia da informação
- outros. avançada em fábricas e escritórios, maior a necessidade de um
trabalhador instruído” (CASTELLS, 1999, p. 306). É preciso
– Controle dos Intranet /webmail – Cumprimento das políticas e
funcionários. normas da empresa.
manter-se sempre atualizado, reciclar-se e buscar novos conheci-
(Obrigações – Acompanhamento das metas
mentos para reestruturar e criar novas soluções que se adequem
diárias, metas, diárias. às necessidades produtivas do capital. Berardi (2005) chama
etc.). – Gerenciamento das reuniões de atenção para o perfil desse novo trabalhador:
equipe. [...] enquanto o trabalhador industrial colocava no serviço assa-
– Gerenciamento Dispositivos – Cumprimento dos prazos. Os lariado suas energias mecânicas, segundo um modelo repetitivo,
das atividades portáteis/ Telefonia funcionários podem agir e despersonalizado, o trabalhador high tech empenha na produção
diárias móvel. responder de forma imediata, sua competência singular, suas energias comunicativas, inovadoras,
(Tempo / espaço) independente de tempo e espaço, criativas, em suma, o melhor de suas capacidades intelectuais
às necessidades da empresa. (BERARDI, 2005, p.41).
- Tomada de Sistemas Integrados - Tratamento das informações Pode-se citar como exemplo bem ilustrativo o setor bancário
Decisão. de Gestão necessárias na construção de no qual essas exigências são destacadas por Jinkings (2000):
conhecimento que permita tomar
as decisões de acordo com os Modificações significativas nos traços constitutivos da força de
interesses organizacionais. trabalho bancária têm sido analisadas nos estudos realizados sobre
o perfil da categoria, desde o início dos anos 80. Observa-se uma
Fonte: Os autores redução dos trabalhadores envolvidos nos serviços operacionais
e administrativos, enquanto aumenta relativamente à participação
de gerentes e assessores técnicos - em informática ou mercado
Na reestruturação produtiva do setor bancário nos últimos financeiro - na estrutura funcional dos bancos. Os bancários de
anos, por exemplo, as TICs tiveram um papel relevante para a hoje são mais escolarizados, [...] Tais mudanças são expressões
redefinição das práticas laborais quanto à sua estrutura, pois os da reestruturação produtiva em curso e das novas exigências das
funcionários além de atenderem os serviços básicos (pagamento instituições financeiras quanto à qualificação e ao perfil de sua
de contas, aplicações, obtenção de créditos, etc.) que a estrutura força de trabalho. Sob o culto da “excelência” e da “flexibilida-
de”, a demanda por uma formação geral e polivalente, aliada à
antiga se propunha, agora vendem produtos e serviços. Quanto aos expectativa de adesão plena do trabalhador às estratégias merca-
aspectos estruturais do setor bancário “a progressiva substituição dológicas dos bancos, [...] (JINKINGS, 2000, p. 4).
do papel-dinheiro pelo cartão magnético converte as agências
em lojas informatizadas de “produtos” e serviços financeiros” Além de manter-se constantemente atualizado, outra carac-
(JINKINGS, 2006, p.193). terística fundamental necessária para sobrevivência do trabalhador
A introdução das novas TICs tem como objetivo a adaptação nesse cenário é a rapidez de resposta ao imprevisto nas tomadas
do aparelho produtivo à realidade dos mercados, cada vez mais de decisões, ou seja, adaptar-se ao imperativo da velocidade e

75
Dissertar Gestão da informação na era do Big Data
Cláudio Lopes Pereira e Marcio Gonçalves

flexibilidade imposta pelo capital. Bauman (2001) usa o aspecto O processo sistemático de organização da força de trabalho
tempo/espaço, entre outros, para denominar a “modernidade surge a partir dos estudos de Taylor (Taylorismo), que tinham
líquida”. O termo associa-se à metáfora da “fluidez” (qualidade como objetivo aumentar a produtividade do trabalho individual
de líquidos e gases) como processo de não fixação no espaço e por meio da análise sobre os tempos e movimentos dos traba-
por não se prenderem ao tempo. Resultam sujeitos cujas princi- lhadores na execução de suas tarefas. A partir dos experimentos
pais características são: a leveza, a mobilidade, a inconstância e realizados, os métodos foram transferidos aos trabalhadores que
a rapidez de movimentos. A mobilidade, corpórea ou não, que executavam tarefas simples pré-definidas.
é exigida dos trabalhadores, associa-se à lógica da velocidade. Na objetivação de Taylor pelo controle de tempos e movi-
Essa fluidez e maleabilidade possibilitam, ainda, integrar mentos dos trabalhadores uma estrutura hierárquica e disciplinar
esses trabalhadores a diversos ambientes e estruturas. O am- foi criada e torna-se essencial para a eficiência do processo. Nessa
biente em rede integrado por diversos dispositivos e sistemas estrutura Taylor separou a fase de concepção (na qual são definidas
facilita a multifuncionalidade exigida desse trabalhador. Essa as atividades da divisão do trabalho) da fase de execução (na qual
multifuncionalidade vai além da capacidade de operar diversos o trabalhador executa as atividades definidas). “Ao trabalhador é
dispositivos e responder às decisões com maior velocidade na dada uma tarefa com divisão estudada, experimentada e proposta
empresa, pois transcende e invade os aspectos tempo/espaço. pela direção da empresa” (HELOANI, 2007, p.27).
As TICs acopladas à vida pessoal do trabalhador, em especial Nesse contexto, observa-se que Taylor submete o trabalha-
os dispositivos portáteis, como o celular e o notebook possibilitam dor a uma rígida disciplina que retira dele qualquer autonomia
e exigem que ele seja ao mesmo tempo “trabalhador-pai/mãe” e na execução de suas tarefas. O taylorismo caracteriza-se por
“trabalhador-universitário”, etc. Os seres sociais e profissionais mecanismos disciplinares e hierárquicos que compõe toda sua
se misturam. O trabalhador tem que: gerenciar sua vivência estrutura de controle. Destaca-se a criação de normas, regras e
familiar, ao mesmo tempo em que o celular toca para responder procedimentos que devem ser seguidos para alcançar a máxima
com urgência sobre algum problema no trabalho; estar atento às produtividade em benefício do capital. “Essa fase iniciou um
explicações do professor, ao mesmo tempo em que responde a padrão de acumulação de capital, potencializando a intensificação
um “torpedo” ou e-mail do chefe querendo um posicionamento, do trabalho e o aumento da produção”. (HELOANI, 2007, p.27).
se o cliente irá ou não fechar o negócio com a empresa. O uso do cronômetro para impor o ritmo das atividades laborais
Para o trabalhador contemporâneo a separação de casa, talvez seja a maior representatividade do controle nesse período.
trabalho, escola e lazer fica muito difícil, já que o trabalho na Nessa perspectiva de desenvolvimento do sistema produtivo
era das TICs invade outras esferas. Para Sennett (2000, p. 53) e, consequentemente de controle sobre o trabalho, destaca-se a
“as práticas de flexibilidade, porém, concentram-se mais nas era Ford (Fordismo), que se apropria das características da era
forças que dobram as pessoas”. Sendo assim, observa-se que taylorista (organização, padronização e controle do trabalho
os trabalhadores, ao se adequarem às melhores práticas através fabril) e a expande para uma linha de produção automatizada
das TICs intensificam as práticas laborais, acarretando alterações na indústria automobilística, na qual a esteira impunha ao fun-
nas condições sociais de sua existência. cionário o ritmo do trabalho, de forma a atender a uma ampla
Observa-se que as mudanças estão cada vez mais presentes demanda de produção e consumo em massa. A produção em
nas empresas e que ao reformular suas estruturas podem gerar massa fortalece o capital. Harvey (2010) destaca:
certa instabilidade. Para manter a “ordem”, as empresas inten- O que havia de especial em Ford (e que, em última análise,
sificam cada vez mais suas estruturas de controle. distingue o fordismo do taylorismo) era a sua visão, seu reco-
nhecimento explícito de que produção em massa significava
O controle no trabalho consumo de massa, um novo sistema de reprodução da força de
Ferreira (2004, p. 265) indica que a essência da palavra controle trabalho, uma nova política de controle e gerência do trabalho,
uma nova estética e uma nova psicologia. Em suma, um novo tipo
“equivale à fiscalização exercida sobre as atividades de pessoas, de sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista
órgãos, etc., para que não se desviem das normas estabelecidas”. (HARVEY, 2010, p. 121).
Etzione (1989) aponta que o principal objetivo do controle é garantir
que as leis sejam obedecidas e as ordens seguidas. Mais do que uma estrutura disciplinar coletiva de produção
A posição central do controle nas organizações é destacada em massa, “Ford impunha um padrão de conduta aos trabalhado-
por Tannembaum (1968 apud CARVALHO e VIEIRA 2007, p.71). res” (HELOANI, 2007, p.53) que passa a vigorar na sociedade.
A organização implica controle. A organização social é um arranjo Ele queria transformar seus funcionários em consumidores de
ordenado das interações dos indivíduos. Os processos de controle seus próprios produtos. O Fordismo, de acordo com Alves (2004)
ajudam a circunscrever os comportamentos idiossincráticos e a e Antunes (2004), tem como objetivo instituir uma “sociedade
mantê-los em conformidade com o plano racional da organização racionalizada”, ou seja, Ford desejava expandir o controle para
[...]. A coordenação e a ordem, criadas à margem dos diversos além dos ambientes laborais. Dessa maneira:
interesses e dos comportamentos potencialmente difusos dos
membros, são em grande parte uma função do controle [...] O Ford acreditava que o novo tipo de sociedade poderia ser construído
controle é um inevitável correlato da organização. simplesmente com a aplicação adequada do poder corporativo.
O propósito do dia de oito horas e cinco dólares só em parte era
Nas empresas, o controle sobre o processo produtivo é obrigar o trabalhador a adquirir a disciplina necessária à opera-
essencial no sentido de impor aos trabalhadores os padrões ção do sistema de linha de montagem de alta produtividade. Era
também dar aos trabalhadores renda e tempo de lazer suficiente
de produção do mundo globalizado. O controle sobre o tra- para que consumissem os produtos produzidos em massa que as
balho na estrutura capitalista torna-se fundamental impondo corporações estavam por fabricar em quantidade cada vez maior
aos trabalhadores os modelos de produção e a soberania do (HARVEY, 2010, p.122).
capital. As questões de controle no trabalho são evidentes nas
formas de gestão e organização da força do trabalho capitalista Observa-se que o controle ocorre embutido no ritmo
ao longo de sua trajetória. da produção imposto pelas máquinas e na subjetividade do

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Gestão da informação na era do Big Data
Cláudio Lopes Pereira e Marcio Gonçalves Dissertar
trabalhador em participar do consumo massificado. A lógica cação”, favorece o capital a uma dimensão maior e melhor da
aqui embutida é obedecer a um padrão comportamental face às apropriação do trabalho. É evidente no toyotismo a absorção e
regras estabelecidas na organização do trabalho e da produção internalização do saber operário para a eficácia produtiva. Para
capitalista. Cabe ressaltar nesse processo o surgimento dos Faria (2004, p.62) o controle capitalista sobre o processo do
sindicatos e principalmente a integração da gestão fordista com trabalho é dividido em três fases:
os sindicatos enquanto mediadores na regulação do mercado
de trabalho. Essa parceria “intencional” facilita a incorporação 1ª fase: SIMPLES:
e disseminação da política de gestão fordista no mercado. Em Ênfase principal sobre a divisão técnica do trabalho, a jor-
suma, Ford vê na estrutura sindical um forte mecanismo para nada de trabalho e a quantidade produzida.
por em prática a “sociedade democrática racionalizada”.
O fundamento do controle sobre o trabalho na fase taylo- 2ª Fase: EXPANDIDA
rista-fordista fundamenta-se na subordinação do trabalhador Ênfase principalmente sobre a função da produção (rela-
a uma estrutura hierárquica, onde suas habilidades e saberes ção tempo e movimento), caracterizada pela divisão entre
são limitados a ações repetitivas objetivando a racionalização trabalho manual e trabalho mental e pela centralização da
técnica do trabalho e a intensificação do mesmo. Cabe ressaltar autoridade em uma cadeia de comando burocrática.
que esses modelos intensificam uma rígida disciplina, de forma
que esta seja capaz de manipular a subjetividade do trabalhador. 3ª Fase: SOFISTICADA
Após o modelo taylorista-fordista, que predominou durante Ênfase principalmente sobre a subjetividade dos traba-
décadas, surge o toyotismo. Esse modelo foi criado pelo Japonês lhadores, pela atribuição de responsabilidade e criação de
Taiichi Ohno na fábrica da Toyota após a Segunda Guerra Mun- equipes participativas de trabalho, caracterizada pela di-
dial (1939-1945) e fundamenta-se na reformulação de técnicas minuição na cadeia de comando e pela centralização da
e procedimentos que intensificam o controle e a dominação autoridade nas gerências.
no trabalho e o poder do capital. O modelo caracteriza-se por
novos métodos gerenciais e tecnológicos, associados a um mer- Na primeira fase o processo produtivo depende inteiramente
cado competitivo global. “A globalização da produção induziu do conhecimento e qualificação do trabalhador, pois é ele quem
também a reestruturação do paradigma industrial, posto que o detém as habilidades para operar as máquinas e a visão dos
desenvolvimento da informática permitiu a flexibilização da processos e é quem faz os ajustes finais no produto. O fato de
linha de produção fordista” (HELOANI, 2007, p. 89). O sistema o sistema produtivo estar ligeiramente integrado às habilidades
produtivo em massa, em grande escala, cede lugar a uma pro- dos empregados dava aos trabalhadores certas condições de
dução mais enxuta, mais personalizada: a “automação flexível”. resistência. A falta de conhecimento e de habilidades técnicas
Nesse contexto, a produção é orientada pela demanda. O termo dos supervisores restringe estes a um papel de “cão de guarda”,
“flexível” é uma oposição à rígida produção padronizada fordista. ou seja, vigiar se de acordo com a qualificação exigida o fun-
A dinâmica da produção globalizada de produção “flexí- cionário encontra-se no posto devido, quantas horas e o quanto
vel” entra em cena e com ela uma reformulação e adaptação das deve produzir conforme as necessidades produtivas da empresa.
formas disciplinares de controle com objetivo de se adequarem Na segunda fase as principais atividades manufatureiras
aos propósitos da hegemonia capitalista. Para Heloani (2007), são identificadas e integradas num sistema de produção organi-
a implantação de novas formas de controle após o fordismo zado. Nesse momento, muito do saber operário é transferido às
fundamenta-se em especial no reordenamento da subjetividade máquinas. O sistema produtivo é baseado em novos métodos e
dos trabalhadores: procedimentos que são definidos pela decomposição das tare-
Dentro de um sistema altamente competitivo e flexível, a empre- fas em tempos e movimentos e pelas habilidades demandadas.
sa pós-fordista estimula o desenvolvimento da “iniciativa”, da Cria-se uma estrutura hierárquica e, com ela, regras na organi-
“capacidade cognitiva”, do “raciocínio lógico” e do “potencial zação do trabalho. O nível estratégico é geralmente composto
de criação” para que seus funcionários possam dar respostas pelos “donos do negócio” que são responsáveis por criá-las. Os
imediatas a situações-problema. Ao passo que delega algum funcionários mais capacitados fazem parte do nível gerencial e
poder de decisão (propicia certa autonomia), a empresa precisa
manter um controle indireto sobre a atuação de seus empregados, desempenham o papel dos gerentes e supervisores, que estão
o que leva a fazer com que estes assimilem e incorporem suas encarregados de programá-las e de garantir que os trabalhadores
regras de funcionamento como elemento de sua percepção, che- de níveis inferiores, isto é, dos níveis operacionais, as cumpram.
gando, num último estágio, ao reordenamento da subjetividade A terceira fase busca resolver os problemas oriundos da
dos trabalhadores, visando garantir a manutenção das normas 2ª fase causados pelas relações entre os gerentes, supervisores e
empresariais. (HELOANI, 2007, p.106).
operários, ou seja, as dificuldades nas relações pessoais, no qual
Alves ainda ressalta outras características do modelo japonês: interferia o processo de comunicação e consequentemente afetava
Entretanto, consideramos como cerne essencial do toyotismo, o processo produtivo. Nessa fase, as empresas fundamentam-se
a busca do “engajamento estimulado” do trabalho, principal- em ideologias administrativas que se utilizam de técnicas baseadas
mente do trabalhador central, o assalariado “estável”. É através em discursos nos quais permeiam a gestão participativa, trabalho
da “captura” da subjetividade que o operário ou empregado em equipe, programas de envolvimento e comprometimento e
consegue operar, com eficácia relativa, a série de dispositivos de acesso direto à direção da empresa. Dessa forma, a empresa
técnico-organizacionais que sustentam a produção fluída e difusa
(ALVES, 2007, p.159). obtém mais facilmente o conhecimento específico e tácito do
funcionário e o transfere, sempre que possível, aos softwares das
Diante do exposto, percebe-se que esta fase intensifica máquinas, sem a necessidade de manter níveis intermediários de
a incorporação das capacidades intelectuais do trabalhador na supervisão e podendo reduzir níveis hierárquicos e mão de obra.
reestruturação do processo produtivo. Essa intensificação das Essa última fase do mundo dos negócios encontra-se num
capacidades intelectuais, que aqui se pode chamar de “qualifi- contexto globalizado e no qual predomina a produção enxuta.

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Dissertar Gestão da informação na era do Big Data
Cláudio Lopes Pereira e Marcio Gonçalves

Quando os administradores utilizam a tecnologia da informati-


Novas práticas ideológicas de gestão e novas tecnologias surgem zação para seus objetivos estratégicos, eles geralmente planejam
e reconfiguram todo o processo produtivo e consequentemente de alcançar um ou mais dos três objetivos operacionais independen-
dominação e controle dos trabalhadores. Dessa forma, verifica-se tes: aumentar a continuidade (integração funcional, automação
que diversas são as tentativas em adequar o processo de consti- intensificada, resposta rápida), o controle (precisão, acuidade,
tuição de formas disciplinares neste setor, e que a intensificação previsibilidade, consistência, análise, síntese) e a compreensi-
bilidade (visibilidade, análise, síntese) das funções produtivas
do mesmo é hoje uma realidade cada vez mais presente em (ZUBOFF, 1994, p.82).
ambientes corporativos de alta competitividade.
Cabe destacar que naquele momento o mundo dos negócios,
A ampliação das estruturas de controle no em especial no Brasil, encontrava-se em pleno processo de globa-
trabalho por meio das tics lização. A intensa adoção de tecnologia nas empresas, o mercado
As grandes organizações complexas sofrem mudanças “informacional” tomando grandes proporções, o avanço das tele-
profundas de uns tempos para cá: novas formas de sistemas comunicações integrando o ambiente em redes em grande escala,
produtivos, no qual a produção em massa dá lugar à produ- a informação apropriada pelo capital como mercadoria, exigiam
ção flexível; as estruturas verticais dando lugar à empresa um novo olhar sobre o uso dessas tecnologias, bem como um novo
horizontal; as estruturas rígidas e hierarquizadas são subs- olhar sobre a atuação dos funcionários com essas tecnologias.
tituídas pelo trabalho em equipe, etc. Nesse contexto de Enxerga-se esse como um momento de ampliação do
mudanças pelas quais as organizações complexas passam, controle, em particular sobre os aspectos cognitivos dos funcio-
os processos organizacionais tornam-se mais dependentes nários, haja vista que o processo de informatização exige uma
da tecnologia. Na Revolução Industrial, o ápice tecnológico “maior compreensão” das tarefas e procedimentos executados
era mecânico e impunha ao trabalhador um determinado na empresa. Siqueira (2009), referindo-se ao controle e à sua
ritmo de trabalho. Na atualidade, o ápice tecnológico se ampliação nas empresas, afirma que:
concentra na informática, nas telecomunicações e na sua O individuo depara-se com novas técnicas e ferramentas de gestão,
integração (TICs), sendo fundamental a sua aplicabilidade consolidadas em modelos, que trazem em seu escopo não apenas
para o tratamento de informação. o controle sobre o corpo do individuo, mas de seu intelecto e de
As estruturas de controle evoluem, destacando-se, principal- seu psiquismo (SIQUEIRA, 2009, p.49).
mente, nos seguimentos da gestão da qualidade total, na gestão
de pessoas e, em especial, no uso de tecnologias. Diante desse O controle nesta fase encontra-se embutido nos Sistemas
contexto de ampliação das estruturas de controle, é relevante de Informações Gerenciais (SIG) e nos Sistemas de Apoio à
destacar o posicionamento de Braverman (1987), que na década Decisão (SAD). Esses sistemas tratam as informações vindas de
de 80 do século passado já identificava o poder na ampliação diversas áreas e as disponibilizam para a diretoria, de forma que
do controle que essas tecnologias traziam à estrutura produtiva ela tenha um melhor acompanhamento e controle dos processos
capitalista. A tecnologia predominante dessa época eram as administrativos. Essa transição do controle automatizado, carac-
“máquinas de automação”. terístico da Revolução Industrial para o controle informacional
A maquinaria oferece à gerência a oportunidade de fazer por atual, também é evidenciada por Carvalho e Vieira (2007):
meios inteiramente mecânicos aquilo que ela anteriormente A chamada terceira revolução do sistema capitalista já não é uma
pretendia fazer pelos meios organizacionais e disciplinares. O revolução industrial, senão decorre do domínio da comunicação
fato que muitas máquinas possam ser reguladas e controladas e transmissão da informação: é a era da informática e da robótica.
de acordo com decisões centralizadas, e que esses controles O conhecimento e o saber nunca haviam tido tanta importância
possam assim ficar nas mãos da gerência, retirados do local estratégica no mundo do trabalho. As organizações burocráticas
da produção e levados para o escritório – essas possibilidades modernas, que já conformam a atual sociedade informatizada e
técnicas são de tão grande interesse para a gerência quanto o midiática, foram invadidas pelas inovações que vão aparecendo
fato de que a máquina multiplica a produtividade do trabalho na sociedade. Assim o controle ocupa hoje em dia, um lugar
(BRAVERMAN, 1987, p. 169). destacado na evolução e no aperfeiçoamento das técnicas de
controle nas empresas (CARVALHO e VIEIRA, 2007, p 69:70).
Percebe-se que nessa transição da produção automatizada
para a produção informatizada baseada nas TICs (integração da Na atualidade, o avanço das telecomunicações, em particular
informática com as telecomunicações), a visão de Braverman o advento da Internet, os Sistemas Integrados de Gestão, acoplados
(1987) se mantém cada vez mais presente e atual. Na década aos diversos dispositivos portáteis e móveis, representam a mais
de 90, ainda do século passado, estudos acadêmicos destacam nova estrutura capitalista de produção. Harvey (2010) chama
que as TICs fortalecem e ampliam as estruturas burocráticas esta forma de produção de “acumulação flexível”, na qual se
de controle. Zuboff (1994) define que informatizar é usar a adotam novos padrões de tecnologias flexíveis, exigindo novas
tecnologia muito além do que um processo de automatização. qualificações dos funcionários. Por outro lado, esse mesmo
Ao identificar uma diferença fundamental entre automatizar e contexto requer a adoção de controles adequados à reprodução
informatizar, a autora chama a atenção de que as TICs contri- ampliada do capital.
buem para automatizar as atividades operacionais de controle,
reforçando que a informatização aumenta a compreensão das O panóptico eletrônico
tarefas e procedimentos executados na empresa. O capitalismo, na tentativa de manter a ordem e o lucro,
O processo de informatização é fazer uso inteligente das apropria-se da estrutura panóptica de Bentham (1789), adaptando-a
TICs para gerar novas informações que deem condições de definir por meio das TICs, em especial da grande rede de computadores,
as políticas gerenciais de acordo com a demanda e o contexto de a Internet nos dias atuais. Essa estruturação corresponde a uma
mercado. Dessa forma podem definir-se, por exemplo, estraté- composição arquitetônica de cunho coercitivo e disciplinatório,
gias competitivas que possibilitem a identificação de perfis dos que possibilita a observação total e integral por parte do poder
clientes para a criação de novos produtos e serviços. disciplinar, na vida de um indivíduo.

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Gestão da informação na era do Big Data
Cláudio Lopes Pereira e Marcio Gonçalves Dissertar
Esse modelo ganha notoriedade a partir das pesquisas de Ainda segundo Foucault (2002), para a economia do poder
Foucault na década de 70, quando estudava as origens da medicina é mais lucrativo e eficaz vigiar do que punir, principalmente pelo
clínica, em especial a arquitetura hospitalar na segunda metade fato dessa estrutura possibilitar vigiar várias pessoas ao mesmo
do século XVIII, época na qual essas instituições passavam por tempo. O processo de punição é mais dispendioso, já que ele
grandes reformas em suas estruturas. No entanto, a estrutura tem que ser aplicado de maneira individual, pois cada indivíduo
panóptica ganha maior destaque a partir da publicação do livro tem uma maneira diferente de ser reeducado.
Vigiar e Punir, no ano de 1975, no qual Foucault desenvolve uma O panóptico ajuda a constituir uma nova forma de poder no
análise aprofundada da história da prisão moderna e do poder final do século XVIII. “O panoptismo é o princípio geral de uma
disciplinar que nela se manifesta de modo exemplar. nova “anatomia política” cujo objeto e fim não são a relação de
De acordo com Foucault (2004), na segunda metade do soberania, mas as relações de disciplina” (FOUCAULT, 2002, p.
século XVIII um medo assombra a Europa. Os diversos luga- 172). Foucault observa nesse período a formação de uma socie-
res, como os castelos, hospitais e prisões suscitam uma onda dade disciplinar, que se fundamenta na organização dos meios
de desconfiança e rejeição, pois eram ambientes escuros que de confinamento como família, caserna, prisão, fábrica, etc.,
impediam a visibilidade das coisas, das pessoas e das verdades. atingindo o seu ápice no início do século XX. Após a Segunda
Esses ambientes eram incompatíveis com a nova ordem política Grande Guerra (1939-1945) o modelo disciplinar começa a ser
e precisavam ser eliminados, dando lugar às transparências e substituído, marcando a passagem de uma sociedade disciplinar
visibilidades. para uma sociedade de controle.
Torna-se, assim, necessário “dissolver os fragmentos de O autor também ressalta que a estrutura panóptica se faz
noite que se opõe à luz, fazer com que não haja mais espaço presente nas instituições que dispõem sobre os corpos e a vida dos
escuro na sociedade”. Busca-se uma estrutura de poder que indivíduos, destacando que o funcionamento do corpo está sujeito
fosse implementada de forma que o controle pudesse ser exer- a uma utilização econômica do seu funcionamento como força
cido “pelo simples fato de que as coisas serão sabidas e de que de trabalho. “O corpo só se torna força útil se é ao mesmo tempo
as pessoas serão vistas por um tipo de olhar imediato, coletivo corpo produtivo e corpo submisso” (FOUCAULT, 2002, p.26).
e anônimo” (FOUCAULT, 2004, p. 216:217). Nesse contexto, Observa-se que o uso do panóptico de Bentham torna-se
o panóptico de Bentham é considerado como a “figura arqui- universal e que continua sendo base dos sistemas disciplinares
tetural” ideal. Ainda segundo Foucault (2004), esse dispositivo e, principalmente, de controle na contemporaneidade regida
desperta interesse por sua aplicação em domínios diferentes, de pelo capital.
um poder exercido por transparência e que possibilita a criação O panóptico é um local privilegiado para tornar possível a
de um espaço de legibilidade detalhada. experiência com homens, e para analisar com toda certeza
O panóptico de Bentham é a figura arquitetural dessa composição. as transformações que se pode obter neles. O panóptico pode
O princípio é conhecido: na periferia uma construção em anel; no até constituir-se em aparelho de controle sobre seus próprios
centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem mecanismos. Em sua torre de controle, o diretor pode espio-
sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em nar todos os empregados que tem a seu serviço; enfermeiros,
celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas médicos, contramestres, professores, guardas; poderá julgá-los
têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas continuamente, modificar seu comportamento, impor-lhes
da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse métodos que considerar melhores; e ele mesmo, por sua vez,
a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre central, poderá ser facilmente observado (FOUCAULT, 2002, p. 169).
e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado, um
operário ou um escolar. Pelo efeito da contraluz, pode-se perceber Hoje essa estrutura panóptica de controle e vigilância total
da torre, recortando-se exatamente sobre a claridade, as peque- se renova e expande por meio das TICs. Um dos aspectos centrais
nas silhuetas cativas nas celas da periferia. Tantas jaulas, tantos
pequenos teatros, em que cada ator está sozinho, perfeitamente da estrutura panóptica disciplinar, o confinamento, é substituído
individualizado e constantemente visível. O dispositivo panóptico pelo controle contínuo através do ambiente integrado em rede
organiza unidades espaciais que permitem ver sem parar e reco- por diversos dispositivos, no qual se preserva a característica
nhecer imediatamente (FOUCAULT, 2002, p. 165:166). “vê-se tudo, sem nunca ser visto”.
Na verdade, a essência do confinamento, a nosso ver,
Percebe-se que o panóptico é um dispositivo polivalente de permanece, pois a característica onipresente das TICs integra-
vigilância e que não fora concebido para uma destinação única. -se na vida dos funcionários quase que como uma prótese de
Ao adaptá-lo, servirá tanto para hospitais quanto para prisões, forma a confiná-lo em qualquer ambiente (casa, trabalho, lazer,
escolas e fábricas. O panóptico estabelece uma observação total, entre outros) por meio da rede. A internet surge e potencializa
uma vigilância integral, sem que se veja o seu observador e, a estruturação das empresas em rede, que é a grande estru-
principalmente, sem saber o momento em que está sendo vigiado. tura panóptica da atualidade. “O homem do controle é antes
No panóptico, o controle se faz por meio da visibilidade ondulatório, funcionando em órbita, num feixe contínuo”
total e permanente dos indivíduos. “O panóptico é uma máquina (DELEUZE, 2010, p.227).
de dissociar o par ver-ser visto: no anel periférico, se é total- De acordo com Bessi, Zimmer e Grisci (2007), a análise
mente visto, sem nunca ver; na torre central, vê-se tudo, sem de Foucault sobre a estrutura panóptica está contextualizada em
nunca ser visto” (FOUCAULT, 2002, p. 167). Assim, a ordem modelos de controle do trabalho que não estavam embasados
é garantida, pois o mecanismo de ordem psicológica embutido por uma estrutura tecnológica, sendo estes associados a outros
na estrutura panóptica estabelece uma consciência de que mais métodos gerenciais da época. Já na atualidade essa estrutura se
importante do que vigiar o tempo inteiro é ter consciência de renova e se potencializa por meio das tecnologias que favorecem
estar sendo vigiado. Logo, a finalidade do panóptico não é ainda novos modelos organizacionais.
punir, mas que as pessoas vigiadas tenham a oportunidade de A análise de Foucault sobre o panóptico coincide com uma época
não cometer nenhuma infração, já que ela tem a consciência em que os modos de controle fabris ainda não contavam com os
de que estão sendo vigiadas. dispositivos tecnológicos que, em grande parte, datam das últimas

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Dissertar Gestão da informação na era do Big Data
Cláudio Lopes Pereira e Marcio Gonçalves

décadas do século 20 e associam-se à introdução de modelos de


produção enxuta, controles estatísticos da produção, just-in-time, Desafios da gestão da informação na era do big data
kanban, kaizen e outros derivados da gestão da qualidade total e O mundo muda rapidamente e a quantidade de informa-
reengenharia de processos. Essas mudanças foram viabilizadas, ção armazenada cresce quatro vezes mais rápido que a economia
em grande medida, pela disseminação de calculadoras, de plani- mundial, “enquanto que a capacidade de processamento dos com-
lhas eletrônicas e, em especial, de computadores, nas organiza- putadores cresce nove vezes mais rápido” (MAYER-SCHÖN-
ções, que, num primeiro momento, ficavam restritos a espaços
específicos de áreas destinadas ao processamento de dados, os
BERGER, CUKIER, 2013, p. 6). Todos, segundo os autores, são
chamados Centros de Processamento de Dados. [...] Inaugura-se, afetados pelas mudanças e com a informação, assim como na físi-
então, uma outra fase na história do controle nas organizações e, ca, o tamanho importa: “a quantidade de dados no mundo cresce
também, fora delas: o olho eletrônico passa a substituir o olho do rapidamente e supera não apenas nossas máquinas como nossa
chefe. A lógica do panóptico, agora potencializada pelo virtual, imaginação” (MAYER-SCHÖNBERGER, CUKIER, 2013, p. 5).
permanece preservada (BESSI, ZIMMER E GRISCI, 2007, p.93).
O Big Data, que se refere a trabalhos em grande escala
que não podem ser feitos em escala menor, para extrair novas
Diante do exposto, constata-se que a estrutura panóptica na ideias e criar novas formas de valor de maneiras que alterem os
“sociedade do controle” (DELEUZE, 2010), agora potencializada mercados, marca o início de uma importante transformação. O
pelas TICs, continua a instaurar um padrão de “comportamento Big Data é uma nova forma de valor econômico e inovação, mas
disciplinar” (FOUCAULT, 2002) por meio desses dispositivos, representa três mudanças na forma como analisa-se a informa-
no qual se produzem e reproduzem as práticas produtivas do ção que transforma a maneira como entende-se e organiza-se a
capital, em especial, as práticas referentes a “vigiar e punir” sociedade (MAYER-SCHÖNBERGER, CUKIER, 2013, p. 8).
(FOUCAULT, 2002). A primeira mudança refere-se à análise dos dados que, hoje,
Cabe destacar nesse contexto a análise de Deleuze (2010) pode ser processada. Usar todos os dados permite que detalhes
sobre “o olhar panóptico”, isto é, a vigilância na sociedade do sejam vistos. O Big Data dá uma visão clara do que é granular:
controle por meio das TICs: subcategorias e submercados que as amostragens não alcançam. A
Não há necessidade de ficção científica para se conceber um segunda mudança está relacionada com a diminuição dos erros de
mecanismo de controle que dê, a cada instante, a posição de medição de dados. Como há uma maior análise de dados, há me-
um elemento em espaço aberto, animal numa reserva, homem nos erros de amostragens. A terceira mudança está condicionada à
numa empresa (coleira eletrônica). Félix Guattari imaginou uma análise da causalidade: é possível descobrir padrões e correlações
cidade onde cada um pudesse deixar seu apartamento, sua rua, nos dados que propiciam novas e valiosas ideias.
seu bairro, graças ao cartão eletrônico (individual) que abriria
as barreiras; mas o cartão poderia também ser recusado em tal O Big Data tem a ver com a percepção e compreensão de
dia, ou entre tal e tal hora; o que conta não é a barreira, mas o relações entre informações que até há pouco tempo havia di-
computador que detecta a posição de cada um, lícita ou ilícita, e ficuldade de entender. (MAYER-SCHÖNBERGER, CUKIER,
opera uma modulação universal (DELEUZE, 2010, p. 228:229). 2013, p. 23). O aumento da quantidade de dados abre as portas
para a inexatidão. Mas hoje, com o aumento da produção de da-
A “torre” fixa e imóvel que limitava o espaço de observação dos pelas pessoas em mídias sociais digitais, investir em análise
a uma região de enclausuramento, agora emerge em uma nova e interpretação desses dados recai sobre as organizações uma
situação de soberania, por meio das TICs. A vigilância agora é possibilidade de aumento da vantagem competitiva.
global, em que não importam as distâncias. Onde quer que se esteja Davenport (2013, p. 36) ressalta que a ideia do uso de da-
e para onde quer que se vá o “panóptico eletrônico” estará presente. dos para tomar decisões não é uma ideia nova e que é tão antiga
Carvalho e Vieira (2007, p. 85) esclarecem: quanto a tomada de decisão em si mesma. O que deve se levar em
[...] o objetivo dos panópticos eram moralizar as condutas, modelar conta a partir de agora é que a inteligência dos negócios na análi-
comportamentos, aumentar o controle e reduzir as incertezas da se dos dados torna-se condição de competividade quando ocorre
ação humana, garantindo a ordem ao produzir homens obedientes, investimento no monitoramento adequado dos dados produzidos
disciplinados e, portanto, úteis [...]. por clientes internos e externos das organizações. Não dá para ne-
gar que as mídias sociais invertem o vetor de marketing posibili-
Deleuze (2010, p.230) afirma que “os anéis de uma serpente tando que as pessoas busquem as empresas para abrir o diálogo na
são ainda mais complicados que os buracos de uma topeira”. qualidade dos produtos e dos serviços prestados.
Observa-se que Deleuze chama atenção implicitamente para o
poder do controle difuso embutido nessa estrutura panóptica nos Quadro: Análise de dados 3.0
dias atuais por meio das TICs, em especial a internet. Entendem-
-se como “anéis” os nós da grande rede de computadores que Ideia em resumo
interligam os diversos dispositivos nos quais possibilitam uma Uma nova era Por que é importante O que fazer
“vigilância”, isto é, um “olhar” onipresente em grande escala As empresas que A análise dos dados é usada Na era da análise de
e que se adapta a diversos ambientes, já que não necessita de lidam com a análise para adicionar mais valor ao dados 3.0, os gestores
construções específicas. de dados viram tudo permitir que gestores tomem devem dirigir esforços
Dessa forma, supera e amplia a vigilância por meio das mudar quando os melhores decisões internas. em pelo menos dez
grandes volumes de O novo foco estratégico na frentes, de combinar de
grandes janelas da torre, limitadas a lugares confinados e res- dados chegaram. Agora, entrega de valor para os forma criativa estratégias
tritos, isto é, por meio dos “buracos de uma topeira”. Assim, outra grande mudança consumidores tem profundas de gerenciamento de
a dificuldade em entender os “anéis da serpente”, ou seja, o está em curso, como a implicações sobre onde as dados até moldar novos
“panóptico eletrônico” ocorre pelo fato dessa estrutura poten- ênfase na construção funções de análise de dados cargos de análise e
de poder de análise se encontram dentro das definir diretrizes para
cializar a invisibilidade do controle e sua onipresença, dando em produtos e serviços organizações e o que devem responder a “sinais de
uma sensação de liberdade, embutida numa estrutura de trabalho ao cliente. fazer para ter sucesso. fumaça digitais”.
flexível como se todas as atividades não mais se submetessem
a uma permanente vigilância. Fonte: Davenport (2013, p. 37)

80
Gestão da informação na era do Big Data
Cláudio Lopes Pereira e Marcio Gonçalves Dissertar
Davenport (2013, p. 39) pontua dez requisitos para capita- Referências
lizar a análise de dados 3.0 (a era da oferta dos dados enriqueci-
ALVES, Giovanini. Dimensões da Reestruturação Produtiva: Ensaios
dos, segundo o autor):
de sociologia do trabalho. Londrina: Praxis; Bauru: Canal 6, 2007.
- Vários tipos de dados, muitas vezes combinados;
- Um novo conjunto de opções de gerenciamento de dados; _________. Reestruturação Produtiva e Novas Tecnologias no Século
- Tecnologias mais rápidas e métodos de análise; XXI - A Quarta Idade da Máquina e o Mundo do Trabalho. Marília,
2007. Disponível em: http://www.amatra3.com.br/uploaded_files/
- Análise de dados incorporada; NovasTecnologias_palestraAMATRA_GiovanniAlves%20_1_.pdf>.
- Descoberta de dados; Acesso em 19 jun. 2010.
- Equipes interdisciplinares de dados;
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho: ensaios sobre a metamorfose
- Diretores de análise; e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 1995.
- Análise prescritiva;
- Análise de dados em escala industrial e _________. Os sentidos do trabalho. 4. ed. São Paulo: Boitempo, 2001.
- Novas formas de decisão e de gestão. ANTUNES, Ricardo. ALVES, Giovanini. As mutações no mundo do
trabalho na era da mundialização do capital. IN: Revista Educação
O panóptico eletrônico, no lugar de punir, urge para uma & Sociedade. Campinas, vol. 25, n. 87, pp. 335-351, maio/ago, 2004.
Disponível em: <http://www.scielo.br /pdf/es/v25n87/21460.pdf>
direção mais voltada ao diálogo, pois os dados produzidos na
rede podem levar, em alguns casos, ao monitoramento do nível ANTUNES, Ricardo; BRAGA, Ruy. (Org.). Infoproletários degradação
de satisfação dos colaboradores em uma organização. O algoriti- real do trabalho virtual. 1 ed. São Paulo: Boitempo, 2009.
mo, nesse caso, é capaz de decidir, inclusive, quem é o candidato BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
mais preparado para uma vaga. A seleção de currículo e a análise BERARDI, Franco. A fábrica da infelicidade: trabalho cognitivo e
das credenciais acadêmicas podem ser usados por profissionais crise da new economy. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
de recursos humanos na hora de escolher o novo profissional a BESSI, Vânia Giseli; ZIMMER, Marco Vinício; GRISCI, Carmem Ligia
entrar na empresa. Iochins. O panóptico digital nas organizações: espaço-temporalidade
Para que os profissionais de recursos humanos (RH) pos- e controle no mundo do trabalho contemporâneo. O&S. Organizações
sam utilizar o Big Data a favor da seleção de novos colabora- & Sociedade, v. 14, p. 83-96, 2007.
dores é exigido, consequentemente, que desenvolvam-se novas BRAVERMAN, Harry. Trabalho e capital monopolista: A degradação
habilidades, como a capacidade de interpretar gráficos, equações do trabalho no século XX. 3. ed. Rio de Janeiro, Ed. Guanabara, 1987.
matemáticas e projeções estatísticas. Quando os primeiros ser- CARVALHO, Cristina Amélia; VIEIRA, Marcelo Milano Falcão. O
viços de Big Data surgiram para a área de RH, o foco da análise poder nas organizações. São Paulo: Thomson Learning, 2007.
baseava-se em bancos de currículos (CVs). CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra,
As soluções de tecnología da informação escaneavam e 1999. v. 1.
cruzavam informações para indicar CVs com base em padrões DAVENPORT, Thomas H. Análise de dados 3.0. Harvard Business
predefinidos de habilidades consideradas desejadas ou positivas, Review. Dez., 2013.
como no projeto Janus, de 2010, do Google. Desde meados de DELEUZE, Gilles. Conversações. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora 34, 2010.
2012, no entanto, novas soluções de análise estão cruzando os
ETZIONI, A. Organizações modernas. São Paulo: Pioneira, 1989.
dados de CVs com informações comportamentais reveladas por
candidatos em sites, blogs e redes sociais (FALLETI, 2013, ME- FARIA, José Henrique. Economia Política do Poder: As Práticas do
LHOR: GESTÃO DE PESSOAS, 2013, p. 25). Controle nas Organizações. Vol. 3. Curitiba: Juruá, 2004.
Desafio maior está em saber que, à medida que nos movi- CONTROLE. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio.
mentamos no dia a dia deixamos pegadas – registros digitais de 6. ed. Curitiba: Posigraf, 2004.
pessoas com quem falamos, lugares por onde passamos, o que FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis:
comemos e que produtos compramos. Para Pentland (2013, p. Vozes, 2002.
72) essas pegadas contam uma história mais precisa de nossas _________, Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 2004.
vidas que qualquer outra forma de exposição: HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. 19. ed. São Paulo: Loyola,
Ao atualizar nosso status no Facebook e no Twitter divulgamos 2010.
informação selecionada para determinadas pessoas, editada de HELOANI, Roberto. Gestão e Organização no Capitalismo Globa-
acordo com os padres atuais. As pegadas digitais, ao contrario, lizado: História da Manipulação Psicológica no Mundo do Trabalho.
registram nosso comportamento à medida de que ele vai se 2. reimpressão São Paulo: Atlas, 2007.
manifestando.
JINKINGS, Nise. O Mister de Fazer Dinheiro. Automatização e Sub-
jetividade no trabalho Bancário. São Paulo: Boitempo, 1995.
Pentland (2013, p. 75) propõe pensar um novo acordo para ___________, Bancários Brasileiros: Entre o Fetichismo do Dinheiro
a informação. Segundo o autor, para chegar a uma sociedade e o Culto da Excelência. Campinas 2000. Disponível em: <http://www.
regida por dados é o preciso um New Deal de dados: “garantías sociologia.ufsc.br /cadernos/Cadernos%20PPGSP%2028.pdf>. Acesso
práticas de que os dados necessários dos produtos públicos es- em: 01 mai. 2010.
tarão prontamente disponível e que ao mesmo tempo protejam a ___________, Trabalho e resistência na “Fonte Misteriosa”: os
cidadania”. Ele propõe, como chave para o novo acordo, tratar bancários no mundo da eletrônica e do dinheiro. Campinas: Editora
dados pessoais como um bem, pois “Big Data promete levar a da Unicamp, 2002.
uma transição semelhante à invenção da escrita ou da internet”. ___________, Dominação e Resistência no Trabalho Bancário.
In IV Congreso Latino amerciano de Sociologia del Trabajo. Cuba
2003. Disponível em: < http://www.ea.ufrgs.br/graduacao/disciplinas/
adm01156/REESTRUTBANCARIA.pdf> Acesso em: 06 mai. 2010.
___________, A reestruturação do trabalho nos bancos. In: ANTUNES,

81
Dissertar Gestão da informação na era do Big Data
Cláudio Lopes Pereira e Marcio Gonçalves

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como extrair volume, variedade, velocidade e valor da avalanche de
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MELHOR: GESTÃO DE PESSOAS. Revista oficial da ABRH-Nacional.
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trabalho virtual. 1 ed. São Paulo - SP: BOITEMPO, 2009, p. 89-112.

Artigo enviado em 11/10/2015, aceito em 16/11/2015

82
Dissertar

A disposição dos resíduos sólidos em áreas urbanas, origem e tratamentos


legal e institucional: uma breve análise da lei 12.305/2010 e suas implicações
The provision of solid waste in urban areas: its origin and treatments: legal
and institutional: a brief analysis of law 12.305 / 2010 And its implications
Disposición de residuos sólidos urbanos: su origen y tratamientos: legal e
institucional: breve análisis de la ley 12.305 / 2010 y sus implicaciones

Buscou-se um diálogo entre prin- We attempted a dialogue between Buscado un diálogo entre los princi-
cípios e objetivos da lei 12.305/10 principles and objectives of the Law pios y objetivos de la Ley 12.305 / 10 sobre
em seu traçado metodológico. Para 12.305 / 10 on methodological seutra- seutraçado metodológica. Por lo tanto, un
tanto, uma breve análise do fulcro çado. Therefore, a brief analysis of breve análisis del núcleo constitucional
constitucional foi necessária com uma the constitutional core was necessary era necesario con un nuevo concepto de
nova leitura de conceitos dos objetos with a new reading concepts of treated lectura de los objetos tratados. También
tratados. Também a ideia de desenvol- objects. Also the idea of development is la idea de desarrollo está vinculada a la
vimento estar atrelada à produção de linked to the production of waste was producción de residuos que se discutió
lixo foi discutida e esta codependên- discussed and this codependência- y esto codependênciaquestionada. Con
cia questionada. Tendo como foco questionada. With the municipal solid los focoresíduos sólidos municipales,
os resíduos sólidos urbanos, foi feita focoresíduos, a social legal approach un enfoque jurídico social para la ley
uma abordagem jurídico social da Lei to current law, Law 12.305 / 2010 was actual, se hizo la Ley 12.305 / 2010. Por
12.305/2010. Por fim, sem pretender made. Finally, without pretending to último, y sin pretender agotar el tema,
exaurir o tema, foi realizada uma dis- exhaust the topic, a discussion of urban una discusión de los residuos urbanos se
cussão sobre o lixo urbano, inserindo- waste was performed by inserting it llevó a cabo mediante la inserción como
-o como objeto e sujeito da poluição as an object and subject of pollution un objeto y sujeto de la contaminación y
e elemento constitutivo do resíduo and constituent element of urban solid el elemento constitutivo de los residuos
sólido urbano. Por fim, abordar-se-á waste. Finally, it will be addressed, sólidos urbanos. Por último, se abordará,
sua destinação como aterro sanitário, its destination as landfill, comparing su destino como vertedero, la compa-
cotejando os envolvidos no processo, those involved in the process, without ración de los implicados en el proceso,
sem esquecer da responsabilidade forgetting the responsibility of public sin olvidar la responsabilidad de las
dos poderes públicos nestas relações. authorities in these relationships. autoridades públicas en estas relaciones.

Palavras-chave: Lei 12.305/2010, lixão, cadeia de consumo. tiva, como objeto e sujeito da poluição e elemento constitutivo
do resíduo sólido urbano. Sem esquecer que o crescimento do
Autores: consumo de novas tecnologias e a urbanização acelerada conduz
Luiza H P Fraga Rodrigues à produção de uma imensa quantidade de resíduos.
Advogada, Professora Universitária, Mestranda em Ensino e Já em sua parte final, será abordada a destinação como aterro
Ambiente na UNIAN. sanitário, que será analisado sob o ponto de vista do uso consciente
E-mail: luizafraga2010@gmail.com do solo, levando em consideração os atores envolvidos, até mesmo,
os que vivem, ainda, da coleta de dejetos. É uma população que já
Antonio Carlos de Miranda foi alvo de ações sociais esparsas, mas, efetivamente, não tem tido
Doutor (UNICAMP), Prof. do Programa de Pós-graduação grande atenção dos setores públicos responsáveis.
Stricto Sensu UNIAN Niterói. No que tange aos lixões, sua condenação em recentes diplo-
E-mail: mirantam@ig.com.br mas legais será discutida, mormente, na inaplicabilidade do diplo-
ma. Cabe lembrar que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA)1 aponta que o Brasil ainda tem 2.906 lixões distribuídos por
Introdução 2.810 municípios que deveriam ter sido erradicados até 2014, de
O artigo visa uma discussão dos princípios e objetivos da acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Em que
lei 12.305/10. Em seu traçado metodológico, de caráter documen- pese o já patente insucesso da determinação, tem que ser destacado
tal e bibliográfico, no início, será construída uma análise acerca que o tema não pode ser abandonado, pois a definição de sustenta-
das diferentes responsabilidades compartilhadas entre vários se- bilidade urbana, como destacam Jacobi e Besen (2011)2:
tores públicos por estar atento ao conceito de desenvolvimento e
seu compromisso com a sustentabilidade. Nesse sentido, o foco 1
http://agencia.ipea.gov.br/index.php?option=com_content&view
está nos resíduos sólidos urbanos, fazendo uma leitura jurídica =article&id=23171&Itemid=75 Acesso em 20/02/2014
2
do recente diploma legal. A seguir, será realizada uma discussão http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142011000100010
do lixo urbano, inserindo-o como um elemento da cadeia produ- &script=sci_arttext. Acesso em 20/05/2014

83
Dissertar A disposição dos resíduos sólidos em áreas urbanas, origem e tratamentos legal e institucional: uma breve análise da lei 12.305/2010 E suas implicações
Luiza H P Fraga Rodrigues e Antonio Carlos de Miranda

[...] pode ser definida a partir de um conjunto de prioridades, tais fundamento da dignidade da pessoa humana e, destaque-se, não
como, a superação da pobreza, a promoção da equidade, a melhoria há como pensar uma condição digna em meio ambiente desequi-
das condições ambientais e a prevenção da sua degradação [...]. librado e poluído. Nesta lógica, este inciso deve ser cotejado com
A Legislação Ambiental Brasileira e A Lei 12.305/10 o artigo 225 da CF/88 e, então, pode-se depreender que direito
A discussão sobre resíduos sólidos já dura mais de 20 anos, fundamental o meio ambiente equilibrado.
culminando com a Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos Assim, expressa a CF/88:
(PNRS), segundo Miranda, Gomes e Ferreira (2014). Inicialmente, Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
a Lei Federal de nº 2.3123 de 3 de setembro de 1954 estabelecia que indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
a coleta, o transporte e o destino final dos resíduos deveriam ocor- constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
rer de tal forma que não provocassem danos à saúde humana e ao fundamentos:
bem estar públicos. Em 21 de janeiro de 1961, ela foi regulamentada [...]
pelo Decreto 49.974-A4, denominado Código Nacional de Saúde.
Por seu turno, a Constituição Federal de 1988, em seu arti- III - a dignidade da pessoa humana;
go 23, determina como competência comum aos entes da Federa- Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
ção em suas responsabilidades ao afirmar: equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade
É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
e dos Municípios. gerações.
[...]
Desde 1988 muito se fez em legislação ambiental. Especifi-
VI, proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer camente, neste trabalho, buscar-se-á fazer uma leitura do que se
de suas formas.
tem sobre resíduos sólidos, desde seu surgimento como resultado
Enquanto que no artigo 24 exclui os municípios na compe- de uma cadeia produtiva e consumista, até sua destinação final.
tência legislativa: A lei mais atual que trata sobre o tema é a lei 12.305/10, sobre a
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal qual tecer-se-á alguns comentários.
legislar concorrentemente sobre: A Lei nº 12.305/10 teve em seu escopo a intenção de fazer
um efetivo enfrentamento de um dos mais graves problemas am-
[...]
bientais – o resíduo sólido, desde a condição de matéria-prima que
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa
do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e foi um dia, até a condição de lixo absolutamente inaproveitável. O
controle da poluição; texto legal não deixou de fora a abordagem de problemas sociais
[...] e econômicos que resultam do manejo inadequado dos dejetos.
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consu-
A lei tem por sua ratio legis (razão da lei) a prevenção e redu-
midor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, ção na formação de resíduos, adentrando às propostas ou, até mes-
turístico e paisagístico; mo, denunciando a inafastável necessidade de mudança de hábitos
de consumo, já que uma das melhores formas de lidar com resíduo
Desta forma, a Constituição manda os municípios prote- sólido é não fazê-lo e, fazendo-o, a lei traz uma série de incentivos
gerem o meio ambiente (art23), mas os veículos para pratica- e responsabilizações na reciclagem até a exaustão do resíduo – até
rem esta proteção não estão em suas mãos (art24) pois somente chegar ao seu último nível e sua derradeira destinação.
União, estados e Distrito Federal podem legislar a respeito do Ao instituir ao que chamou de ‘Responsabilidade Com-
tema. Nesta esteira, ainda não se tinha uma Política Nacional partilhada’, a lei 12.305/10 chama à responsabilidade todos os
de Resíduos Sólidos que apresentasse normas e detalhamento prováveis geradores de resíduos: desde o cidadão, passando por
que envolvesse, por exemplo, geração, transporte, coleta, ma- pessoas de direito público e privado, inovando ao convidar à
nejo, acondicionamento, reutilização, reciclagem, tratamento, responsabilização aos responsáveis pela Logística Reversa dos
reaproveitamento e disposição dos resíduos sólidos. resíduos e embalagens pós-consumo. Vale mencionar Siqueira e
A política nacional de resíduos sólidos foi recentemente alte- Moraes (2009, p. 10) ao destacarem que o “modelo de consumo
rada pela lei 12.305, de 02 de agosto de 20105, o que deu uma nova adotado pela sociedade contemporânea acarreta o esgotamento
leitura e trouxe novos conceitos ao tema. Este diploma legal insti- dos recursos naturais, o agravamento da pobreza e do desequilí-
tui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus brio, porque pautado na acumulação e no desperdício”.
princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes O rompimento desse modelo de consumo, que não é fácil,
relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, representaria caminhar na busca de um desenvolvimento susten-
incluída os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do po- tável. É importante acrescentar ainda a essa questão a necessi-
der público e aos instrumentos econômicos aplicáveis.  dade do “fortalecimento da vitalidade cultural, do capital social
Apesar de sabidamente ser um direito fundamental, não e da cidadania; além das inter-relações com questões de âmbito
tem tutela na Constituição no seu Título II, que disciplina este regional e global, como o efeito estufa, que tem relação direta
assunto. Ocorre que no inciso III do artigo 1º da CF/886, tem-se o com a emissão de gases gerados na produção e disposição final
3
de resíduos” (JACOBI; BESEN, 2011).
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1950-1959/lei-2312-3-setembro-1954- Por sua vez, é preciso trazer para essa discussão o pensa-
-355129-publicacaooriginal-1-pl.html Acesso em 14/10/2013.
4 mento de Mészaros (2002, p. 95) ao destacar o poder de um sis-
http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=160292
Acesso em 14/10/2013.
tema do capital globalmente dominante e totalitário que submete:
5 cegamente aos mesmos imperativos a questão da saúde e a
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm
Acesso em 12/06/2014 do comércio; a educação e a agricultura; arte e a indústria
6
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Acesso manufatureira, que se sobrepõe a tudo seus próprios critérios
em 12/06/2014 de viabilidade, desde as menores unidades de seu microcosmo

84
A disposição dos resíduos sólidos em áreas urbanas, origem e tratamentos legal e institucional: uma breve análise da lei 12.305/2010 E suas implicações
Luiza H P Fraga Rodrigues e Antonio Carlos de Miranda Dissertar
até as maiores empresas transnacionais, desde as mais íntimas
relações pessoais aos mais complexos processos de tomadas de é matéria fora do lugar (SCLIAR, 1999). Ou seja, basta ser um
decisão dos vastos conglomerados industriais, sempre a favor elemento estranho ao meio, não necessariamente ligado à sujeira,
dos fortes contra os fracos. o que pode ser uma leitura que facilite a sua inexistência, que
convide a mais atores a participarem do processo de reutilização
A ideia de haver desenvolvimento com sustentabilidade e não produção.
tem que deixar de ser uma opção ou ser apenas uma proposta. Cabe lembrar que o custo médio da coleta seletiva nas gran-
Não há, efetivamente, desenvolvimento, se ele deixar por seu pre- des cidades é de US$ 212,00, enquanto que o valor médio da Co-
ço, um rastro de destruição e degradação. Para configurar esse leta Regular de Lixo é de US$ 47,50. Portanto, o custo da coleta
cenário, as palavras de Siqueira e Moraes (2009, p. 8) apontam a seletiva é 4,5 vezes maior que o da coleta convencional. Apenas
correlação entre o processo de industrialização, a crescente “con- 766 municípios brasileiros (14%) da população brasileira operam
centração populacional urbana e o incentivo ao consumo como programas de coleta seletiva. Enquanto no mapa abaixo é possí-
características básicas da sociedade moderna, os problemas so- vel perceber a concentração deles na regia sul e sudeste.
ciais, ambientais e de saúde pública se agravam”.
Não é ficção ou conjectura, mas uma locução simples do
artigo 225 da Constituição retro citado, in fine, que pretende um
meio ambiente para o presente, mas, também para as gerações
futuras. Não há mais como se falar em desenvolvimento, se este
se deu à custa de degradação. Este desenvolvimento não é susten-
tável, mas, sim, questionável.
No texto da Lei para a Política Nacional de Resíduos Só-
lidos (Lei 12305/10) foi dado aos municípios exatos quatro anos
para acabar com os lixões, fazendo a destinação correta dos re-
síduos. Isso é notado no final de seu texto, onde dá um prazo
decadencial7 de quatro anos para os chefes dos executivos locais
terminarem com os lixões a céu aberto – aterros sanitários - além
da exigência da elaboração dos Planos de Gerenciamento de Re-
síduos Sólidos para estas unidades da Federação.
Com a aproximação da data limite para a extinção dos li-
xões, os prefeitos, por meio da Confederação Nacional de Muni-
cípios, (CNM), pediu e levou a dilação do prazo para elaboração Fonte: CEMPRE, 2012.
dos respectivos planos de gestão de resíduos, como também da
extinção de seus lixões. A prorrogação oxigenará os prazos em
mais um ano para a elaboração dos planos de gestão de resíduos
e, a partir do final deste, mais três para extinguir os lixões.

O traçado metodológico: uma análise e discussão dos


Princípios e Objetivos da Lei de Resíduos Sólidos sob o
foco da sua implantação e dos seus desafios.
Como já foi ressaltado anteriormente, este artigo represen-
ta um ensaio teórico de caráter qualitativo, bibliográfico e docu-
mental, mas aspectos quantitativos também foram incluídos, sem
alterar a sua essência, visando uma discussão dos princípios e
objetivos da Lei 12.305/10. Em seu traçado metodológico, faz-se
uma ligação com as diferentes responsabilidades compartilhadas
entre vários setores públicos.
Enquanto que os princípios, elencados no artigo 6º, são ge-
rais do Direito Ambiental, a Lei 12.305, também traz princípios
específicos, tais como o inciso VII, abaixo transcrito, que atribui
valor econômico ao que seria o “lixo”, trazendo-o à escala produ-
tiva, ou seja, transformando-o em nova matéria prima para outra
cadeia produtiva.
Fonte: CEMPRE, 2012.
VIII - o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável
como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho
e renda e promotor de cidadania. Por outro lado, as aparas de papel/papelão continuam sen-
do os tipos de materiais recicláveis mais coletados por sistemas
Necessário trazer à tona nessa discussão a definição de municipais de coleta seletiva (em peso), seguidos dos plásticos
‘lixo’ e seu teor sempre ligado ao senso comum de ‘dejeto’, ‘não em geral, vidros, metais e embalagens longa vida.
aproveitamento’, ‘inutilidade’. Samuel Johnson afirma que lixo A porcentagem de rejeito ainda é grande (17,4%), o que
reforça a ideia de que é preciso tanto melhorar o serviço de coleta,
7
http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2014/04/02/municipios-
-pedem-mais-prazo-para-apresentar-planos-de-gestao-e-acabar-com-lixoes http://www.mpba.mp.br/atuacao/ceama/material/doutrinas/residuos/a_questao_
Acesso em 14/09/2014 dos_residuos_solidos_urbanos_no_direito_brasileiro.pdf Acesso em 10/07/2014

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Dissertar A disposição dos resíduos sólidos em áreas urbanas, origem e tratamentos legal e institucional: uma breve análise da lei 12.305/2010 E suas implicações
Luiza H P Fraga Rodrigues e Antonio Carlos de Miranda

como conscientizar a população para separar o lixo corretamente síduos sólidos nas agroindústrias que podem ser melhor aprovei-
em suas casas (CEMPRE, 2012)9. tados na produção de fertilizantes naturais ou para geração de
Cabe destacar, que de acordo com dados do Cempre, em energia elétrica”. E acrescenta ainda que caso “os resíduos secos
2012, a reciclagem de latas de alumínio movimentou R$ 1,8 bi- da produção de cana no Brasil fossem encaminhados para gera-
lhão na economia nacional, fora do sistema municipal de coleta ção de energia, a potência instalada seria de 16,6 GW (mais que a
seletiva, já que nesse sistema a sua contribuição foi pequena. Isso potência da usina de Itaipu, com 14 GW)”.
ocorre porque o país possui um mercado de reciclagem para as Voltando ao texto da Lei 12.305/10, dos objetivos, insertos
latas de alumínio estabelecido em todas as suas regiões. no artigo 7º, destacam-se o inciso II, abaixo, que inova ao tra-
A razão principal é que as indústrias têm um grande inte- zer um comando negativo. Ao utilizar os termos “não geração”,
resse econômico nesse processo. “Essa sucata volta em forma de “redução” o legislador já denota o cunho de censura e coibição à
chapas à produção de latas ou pode ser repassada para fundição produção de lixo, em sua mais comum definição.
de autopeças, por exemplo”. Estima-se que em “30 dias, uma lati- II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento
nha de alumínio para bebidas pode ser comprada, utilizada, cole- dos resíduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente
tada, reciclada, envasada e voltar às prateleiras para o consumo” adequada dos rejeitos.
(CEMPRE, 2012).
Com relação aos objetivos, a lei busca, além de repisar os
O Mito da Reciclagem gerais já apontados em outros diplomas e na doutrina, traz a in-
No entanto, isso não ocorre com outros materiais produzi- serção dos que vivem do lixo, ou seja, de uma população que
dos pelas indústrias, já que não há o mesmo interesse econômico muito pouco se falou dela, até agora. Pode ser lido no inciso II do
na sua reciclagem. Com isso, cria-se o “mito da reciclagem” em artigo 7º, abaixo transcrito.
torno das latinhas. Configura-se, assim, o “pleno envolvimento II - integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis
das empresas em salvar o planeta e o meio ambiente” sem discu- nas ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo
tir o quanto as indústrias lucram com esse processo e também os ciclo de vida dos produtos. 
rejeitos que são produzidos na própria reciclagem, além do uso
de energia e de uma mão de obra mal paga que realiza a coleta. Este diálogo entre os prováveis produtores de lixo traz
Nas escolas, há também programas de coletas de latinhas, como pessoas excluídas da sociedade para uma cadeia produtiva, pro-
uma atividade associada às aulas de Educação Ambiental, ao dia movendo resultados imediatos, quanto à redução e reciclagem,
do Meio Ambiente etc., reforçando essa construção mítica, como como a inserção de indivíduos excluídos da sociedade. Tal fato
apontam Miranda, Silva e Monteiro (2005). não é novidade, pois no artigo 3º da lei, é definida a coleta sele-
tiva e, por que não, com os que já a fazem de forma desordena-
da e desassistida. O convite é claro ao Poder Público para que
isso se operacionalize em cooperativas e associações, dando
rosto e dignidade a estas pessoas, transmutando o trabalho de
“coletores de lixo” em um grupo importantíssimo no que seja
sustentabilidade.
A realidade dos catadores é terrível e uma forma de isso
ser alterado é o que já temos – um diploma legal que prevê sua
inserção na cadeia produtiva a PNRS estabelece isso, a gestão
integrada dos resíduos e responsabilizando tanto o Poder Público
quanto os setores empresariais, sem compromisso da responsa-
bilização da sociedade. Os dados do IBGE10, 2011, apontam que
em apenas 14,8% das cidades há, de fato, parceria formal entre
prefeitura e os catadores, visando à coleta seletiva.
Fonte: CEMPRE, 2012. A lei é bastante ampla no engajamento de diversos setores
da sociedade, merecendo destaque o ineditismo da questão dos
Por sua vez o Ipea destaca que um grande volume de ma- resíduos sólidos e sua reciclagem e, como já dito, a não produção,
téria orgânica tem sido desperdiçada ao ser encaminhado direta- o que passa, em cheio, na questão da Educação Ambiental e Con-
mente aos aterros e lixões, já que poderiam passar por tratamento sumo Consciente. Esta responsabilidade compartilhada envolve
para gerar energia. Das 94,3 mil toneladas de lixo orgânico reco- desde o cuidado com os resíduos, passa pela coleta seletiva, atin-
lhidas diariamente no país, somente 1,6% (1.509 toneladas) são gindo os sistemas de logística reversa e ao que mais for necessá-
encaminhadas para reaproveitamento. Como já vimos, o IPEA rio para que a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida
aponta que o Brasil ainda tem 2.906 lixões distribuídos por 2.810 dos produtos seja implementado.
municípios que precisariam ser erradicados até 2014, de acordo A necessidade de que novos atores sociais devam surgir é
com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). destaque também desta lei, com evidente incentivo à criação e de
O estudo do IPEA assinala ainda que esta forma de desti- cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis,
nação “gera despesas que poderiam ser evitadas caso a matéria o que se faz de forma íntima à Educação Ambiental, seja em am-
orgânica fosse separada na fonte e encaminhada para um trata- bientes formais ou não formais. Comprometimento é a palavra de
mento específico, como a compostagem”. Enquanto que no setor ordem desta lei, não deixando nenhum setor direta ou indireta-
associado à agricultura, silvicultura e pecuária, o Ipea afirma mente responsável de fora.
que, anualmente, “são geradas 291 milhões de toneladas de re-
10
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/2011/default.
9
http://www.cempre.org.br/ciclosoft_2012.php Acesso em 14/10/2013 shtm. Acesso em 22/08/2014

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A disposição dos resíduos sólidos em áreas urbanas, origem e tratamentos legal e institucional: uma breve análise da lei 12.305/2010 E suas implicações
Luiza H P Fraga Rodrigues e Antonio Carlos de Miranda Dissertar
Da Moderada Efetivação da Lei 12.305/10 Mas isso implica em contrariar sobremaneira a indústria
Vale mencionar que nos poucos municípios que executam a consumista e convidar à discussão a população como um todo em
coleta seletiva (14%), os programas de maior êxito, de acordo com um repensar de sua relação com o consumo, com si mesma e seu
o relatório da Abrelpe (2012): são aqueles em que há uma com- grau de envolvimento com a questão ambiental. Decidir questões
binação dos três modelos de coleta seletiva: A maior parte dos ‘distantes’ é até fácil. A discussão quando envolve mudanças in-
municípios ainda realiza a ‘coleta de porta em porta’ (88%); Os testinas na sociedade é que poderia trazer eficácia à lei em estudo.
‘Postos de Entrega Voluntária’ são alternativas para a população A produção do lixo é o ponto nodal da discussão. Lixo, que
poder participar da coleta seletiva (53%); Tanto o apoio quanto a foi bem de consumo, tem que ser visto de per se. É visto, ain-
‘contratação de cooperativas de catadores’, como parte integrante da, como inevitável na vida moderna, o que mantém viva a ideia
da coleta seletiva municipal, continua avançando (72%). de que recursos naturais são inesgotáveis. Tal relação de causa
Essa questão da inserção dos catadores dá um toque além da e efeito tenta minar quaisquer forças para comprometer a socie-
lei para o tema. Segundo Campos11(1999) é um disparate o Brasil dade no quanto é responsável direta pelos lixões. O fato é que,
ter o destaque que tem em nível mundial em sua economia, mas, enquanto o consumismo não for tratado com a seriedade que tem
por outro turno, manter uma população de milhares de pessoas que ser, a geração de resíduos e seu lançamento no meio ambiente
abandonadas em lixões. Segundo este autor, mais de 50 mil crian- de forma indiscriminada continuará.
ças estão fora das escolas e exercendo esta função em ambiente A revisão do modelo vai deste a produção do plástico ou
com graves níveis de insalubridade e periculosidade. Novamente embalagem do produto, até ao seu destino final, no consumidor.
o artigo 1, inciso III da Constituição, que trata da dignidade da Da extração da matéria prima, seu beneficiamento e descarte deve
pessoa humana, está sendo posto à prova em sua eficácia. estar predeterminada, sob pena de tornar inútil o processo. A ideia
de que desenvolvimento sustentável tem que trazer, acima de
A implementação do PNRS e os seus desafios tudo, compromisso, para não mais continuarmos em um modelo
Até o presente momento, nenhum diploma legal foi sufi- de ‘desenvolvimento insustentável’, além de irresponsável.
ciente para coibir a formação de mais lixões, ou de fazer extin- Esta revisão do resíduo, que foi plástico e foi consumido
guir os existentes. Temos hoje a lei em comento, onde até prazos por alguém, é mais que necessária. Se quisermos realmente a re-
foram dados à Administração Pública para sua extinção e para tirada dos lixões, não basta criminalizar prefeitos – a população
substituí-los com a criação de aterros sanitários. Prazos que já tem que ser convocada nesta mudança, assim como as empresas.
foram revistos e dilatados, o que nos deixa, novamente, na expec- Pode-se minimizar a produção de lixo pela redução do consu-
tativa da efetividade da lei 12.305/10. mo sim, mas, também pela intervenção do Estado na produção e,
Uma solução alternativa para municípios vizinhos e com para isso, não precisamos de mais leis. Basta cumprir a Constitui-
poucos recursos financeiros, defendida pelo IPEA, seria a criação ção que, em seu parágrafo 2º do artigo 225 afirma que:
de aterro sanitário na forma de um consórcio público, visando à
gestão de seus resíduos sólidos. Mas isso não é o suficiente. Lixo § 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a
recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução
é produzido cada vez mais. Isso é um fato incontroverso. Como técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
também é fato incontroverso que lixo é algo fora do lugar, não
sendo, necessariamente, agente poluidor. Seu tratamento como O papel do Poder Público neste momento é imprescindível,
algo que já pertenceu à cadeia consumerista trará todos os agen- pois a aplicação da lei tem que ser, definitivamente, operacionali-
tes desta cadeia à responsabilidade de sua destinação. zada. É importante destacar que avançamos em relação aos mar-
Mesmo com divulgação de programas em torno do tema cos regulatórios, como a lei 11445/2007 (que estabelece diretrizes
“meio ambiente”, a produção de resíduos sólidos é assombrosa- nacionais para o saneamento básico; altera as Leis nos 6.766, de
mente elevada, principalmente em grandes centros urbanos. O 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de
que tem que ser trazido à luz nesta discussão também é o fato 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a
de que resíduo sólido foi bem de consumo, sem esquecer que o Lei no 6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências) e,
compromisso das empresas não pode ficar adstrito à produção ainda, a lei 9605/9814 (dispõe sobre as sanções penais e adminis-
sustentável, ou seja, em ser uma empresa não poluente ”a qual- trativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio am-
quer preço”, mesmo comprando cotas de emissão de carbono biente, e dá outras providências) que considera crime a deposição
para garantir seus níveis sustentáveis. de resíduos sólidos a céu aberto (lixão), como preconiza em seu
Trata-se do mercado de créditos de carbono, que surgiu a par- Art. 54; V: “ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos
tir do Protocolo de Quioto, acordo internacional que estabeleceu que ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desa-
os países desenvolvidos devessem reduzir, entre 2008 e 2012, suas cordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos”.
emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) 5,2% em média, em rela- No entanto, de acordo com Zanta e Ferreira (2006), faltam
ção aos níveis medidos em 199012.Os créditos de emissão de carbono diretrizes claras, harmonia e sincronismo, entre as diversas fases
não podem legitimar a poluição de quem tem mais dinheiro. Tornou- dos sistemas de gerenciamento que compõem os vários órgãos
-se uma moeda, e das mais caras. Efetivamente, urge uma implan- envolvidos na elaboração e na aplicação das leis e das normas,
tação de política de substituição do descartável pelo reciclável, onde com isso dificultando a sua aplicação. Por outro lado, cabe des-
a mídia exerceria fundamental papel na convocação da sociedade, tacar a importância no tratamento desses resíduos como fonte de
junto a políticas públicas que realmente interfiram no atual modelo renda para os municípios e, ainda, com a redução de gastos com
econômico de consumo e administração de recursos naturais. a recuperação do solo e dos recursos hídricos (nascentes, lençol
freático) e com a saúde dos moradores.
http://www.mpba.mp.br/atuacao/ceama/material/doutrinas/residuos/a_questao_
13
dos_residuos_solidos_urbanos_no_direito_brasileiro.pdf Acesso em 14/07/2014 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm.
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Dissertar A disposição dos resíduos sólidos em áreas urbanas, origem e tratamentos legal e institucional: uma breve análise da lei 12.305/2010 E suas implicações
Luiza H P Fraga Rodrigues e Antonio Carlos de Miranda

Como já destacamos, uma forma de eliminar os lixões se- ano, foram gerados quase 64 milhões de toneladas de resíduos
ria a criação de consórcios públicos envolvendo municípios vizi- sólidos, e o índice per capita é de 383 kg /ano. É interessante
nhos e com poucos recursos financeiros, com a criação de aterros mencionar que de acordo com esse relatório, ao se comparar
(controlado ou sanitário), visando à gestão de resíduos sólidos com 2011, houve um crescimento de 1,3% em relação à gera-
comuns a eles. Além disso, torna-se fundamental que haja um ção de produção do lixo por habitante, esse índice representa
eficiente sistema de gerenciamento ambiental desses resíduos, um valor superior à taxa de 0,9% do crescimento populacional
em todas as suas fases. Mas que associe também novas posturas desse período. O que demonstra um incremento na geração de
e atitudes em relação ao consumo, aos processos de urbanização lixo. Já a quantidade de resíduos que deixaram de ser coletadas
e ao descarte do lixo pela população do município. alcançou um valor de 6,2 milhões de toneladas. Esse número
Todavia, é importante assinalar que a Lei 12.305 em seu justifica-se pela falta de regras claras, em relação às responsabi-
Art. 5o diz que lidades legais e de punições (MEDEIROS, MIRANDA, SOU-
“A Política Nacional de Resíduos Sólidos integra a Política SA, 2013). Já os dados do IBGE apontam que 42,7% das cidades
Nacional do Meio Ambiente e articula-se com a Política Nacional do Brasil não possuem qualquer atividade de coleta seletiva de
de Educação Ambiental, regulada pela Lei no 9.79515”. lixo. Diante disso, por certo, há (ou haverá) um descompasso
entre a realidade e o texto da Lei e, como vimos, são enormes
Já em seu Art. 8o preconiza que: os desafios a serem enfrentados.
“São instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos,
entre outros: VIII - a educação ambiental”. Considerações finais.
Controlar a construção de aterros sanitários no que abso-
É importante assinalar que o relatório de 2012, do Cem- lutamente não pode ser reaproveitado em áreas de degradação
pre, ao apresentar os modelos já adotados nos poucos muni- ambiental e trazer as populações de catadores para a sociedade
cípios que executam a coleta seletiva aponta o “apoio às co- como seus membros, mesmo que ainda não seja a melhor solução,
operativas (maquinários, galpões de triagem, ajudas de custo sua alocação em áreas de mineração tem obtido bons resultados
com água e energia elétrica, caminhões, capacitações), inves- (VARGAS, 1998). A mantença de aterros deste tipo exige relató-
timento em divulgação e Educação Ambiental. Com efeito, rios que têm que ser aferidos e cobrados, não cabendo leniência
acreditamos que uma das formas de enfrentar esse desafio seja das autoridades administrativas envolvidas e, muito menos, da
desenvolver atividades em Educação Ambiental nas escolas sociedade, acostumada ao ver e calar-se.
que tenham, por um lado, um olhar crítico em relação ao mo- Há poluição em todos os ambientes naturais no país. A
delo de consumo presente na sociedade. Por outro lado, como poluição do solo, onde os resíduos são lançados se propaga de
afirma Loureiro (2004, p.18), uma “ação simultaneamente re- forma desastrosa. Não que as demais não o sejam também. Os
flexiva e dialógica, mediatizada pelo mundo, possui na trans- lençóis freáticos no entorno dos lixões estão em risco, senão já
formação permanente das condições de vida – objetivas e sim- condenados. É um problema grave que deve ser lido e visto não
bólicas – o meio para a conscientização, o aprender, o saber e do ponto final, dos lixões, mas de seu ponto inicial, quando, ain-
agir dos educandos/educadores”. da, aqueles milhões e milhões de peças de plástico, pano, metal,
Em um primeiro momento, essa ação, como defendem Mi- etc., ainda estavam na cadeia de consumo. A discussão ampla é
randa e Ferreira (2013) poderá trazer à tona, inicialmente, por o corte e é profundo, principalmente no convite às empresas em
exemplo, a visão local inserida no cotidiano da comunidade e um coadunarem-se ao que, efetivamente, é a vontade do povo, dita
diagnóstico dos seus problemas sócio ambientais. Compreender na letra das leis que seus legitimados produziram.
as causas e inter-relações. Nesta etapa, a ação e reflexão estarão Como vê-se, a reciclagem das latinhas de alumínios é um
solidárias, como destaca Freire (1987, p. 77) : “sucesso”, o que não acontece com outros materiais produzidos
“em uma interação tão radical que, sacrificada, ainda que pelas indústrias, já que não há o mesmo interesse econômico na
em parte, uma delas, se ressente, imediatamente da outra. Não sua reciclagem. Isso demonstra a importância da logística rever-
há palavra verdadeira que não seja a práxis”. sa já que passa a ser compartilhada a responsabilidade do resí-
duo gerado pelo descarte do produto, fazendo com que a própria
No entanto, a Educação Ambiental está distante de alcan- indústria desenvolva processos e materiais adequados à recicla-
çar as salas de aula, das escolas brasileiras urbanas e ainda mais gem. Por outro lado, torna-se fundamental uma gestão adequada
na forma desta proposta de ação preconizada. Claro, que já hou- desses resíduos, pelos governos e pela sociedade, mas que asso-
ve avanços, mas há muito o que caminhar. Como bem colocou cie também novas posturas e atitudes em relação ao consumo,
Travassos (2004)16, o desenvolvimento sustentável torna-se im- aos processos de urbanização e ao descarte do lixo pela popula-
possível se for permitido que a degradação ambiental seja levada ção. Acredita-se que a Educação Ambiental possa ser uma das
adiante, pois os recursos da Terra só serão suficientes para aten- protagonistas nesse processo, na busca de uma equidade e res-
der às necessidades de todos os seres vivos do planeta se maneja- ponsabilidade social, direitos e cidadania plena, que, claro, serão
dos de forma eficiente. atingidos pelos eventuais agravos provocados ao meio ambiente
Por fim, diante deste cenário, percebe-se uma falta de sin- e com grave risco à saúde pública.
tonia e agilidade entre o que o texto da Lei defende e preconiza Portanto, como foi destacado no início, meio ambiente é
e a sua efetiva implementação, principalmente, diante da gra- direito fundamental, inerente à condição humana e deve ser tra-
vidade dos dados, como afirmam Miranda, Gomes e Ferreira tado de forma responsável, transparente e crítica, onde os atores
(2014). Vejamos. O relatório da Abrelpe (2012) indica que, neste envolvidos tenham voz e participação e que, com a efetiva inter-
15
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm Acesso em 14/03/2014
17
TRAVASSSOS. Eduardo G. A Prática da Educação Ambiental nas Escolas. Ed. http://www.mpba.mp.br/atuacao/ceama/material/doutrinas/residuos/a_ques-
Mediação. Porto Alegre. 2004. tao_dos_residuos_solidos_urbanos_no_direito_brasileiro.pdf Acesso em 14/06/2014

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A disposição dos resíduos sólidos em áreas urbanas, origem e tratamentos legal e institucional: uma breve análise da lei 12.305/2010 E suas implicações
Luiza H P Fraga Rodrigues e Antonio Carlos de Miranda Dissertar
MIRANDA, Antonio Carlos de; FERREIRA, N; GOMES, H. P. Edu-
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89
Seção Primeiros Passos Dissertar

Qualidade de vida e bem-estar de praticantes de power soccer


usuários de cadeiras de rodas motorizadas
Quality of life and well-being of practitioners of power soccer
users motorized wheelchairs
Calidad de vida y bienestar de los jugadores de power soccer de
usuarios en silla de ruedas motorizadas

O objetivo da pesquisa foi The purpose was to measure El objetivo de la investigación


mensurar a qualidade de vida e a the quality of life and the perception fue medir la calidad de vida y la per-
percepção de bem-estar de usuários of well-being of users of motori- cepción de bienestar de los usuarios
de cadeiras de rodas motorizadas e zed wheelchairs and Power Soccer de sillas de ruedas y los profesionales
praticantes do Power Soccer a partir practitioners from the instruments de Power Soccer de los instrumentos
dos instrumentos WHOQOL- Bref WHOQOL Bref and Pentáculo do motorizados WHOQOL Bref y Pen-
e Pentáculo do Bem-estar. Foram Bem-estar. Were measure 15 people táculo do Bem-estar. Se evaluaron 15
avaliados 15 sujeitos de ambos os of both sexes practitioners of the sujetos de ambos sexos los practicantes
sexos praticantes da modalidade e sport and with severe disabilities in de este deporte y con discapacidades
com deficiência severa na mobilidade. mobility. A relatively satisfactory level severas en la movilidad. Un nivel
Foi verificado um nível relativamente of quality of life, despite the limita- relativamente satisfactorio de calidad
satisfatório de qualidade de vida, tions of these people and satisfactory de vida, a pesar de las limitaciones de
apesar das limitações dessas pessoas answers in the perception of well-being estas personas y de respuestas satis-
e respostas satisfatórias na percep- has been verified. It was concluded factorias en la percepción de bienestar
ção de bem-estar. Concluiu-se que o that the Power Soccer determined ha sido verificado. Se concluyó que el
Power Soccer foi determinante para the positive results found, showing Power Soccer determina los resultados
o resultado positivo encontrado, de- that the paralimpic sports can be a positivos encontrados, mostrando que
monstrando que o paradesporto pode quality of life improvement factor and los parasports pueden ser un factor
ser um fator de melhoria da qualidade well-being of these people. de mejora de la calidad de vida y el
de vida e bem-estar dessas pessoas. bienestar de estas personas.

Palavras-chave: Futebol, cadeira de Introdução cidades e a necessidade de desenvolver e


rodas motorizada, mobilidade reduzida. A presente pesquisa foi desen- aprimorar seus movimentos.
volvida a partir de pessoas com mobi- Da mesma forma, Mazzotta e
Edvaldo de farias lidade reduzida e praticantes da mo- D’Antino (2011), citam que praticar a in-
Doutorando em Ciências do Desporto/ dalidade esportiva Power Soccer, que, clusão social por intermédio da prática
UTAD/Portugal. Mestrado em Educa- segundo dados fornecidos pelo censo de esportes é propiciar a participação
ção/UNESA. Especialização em Educa- demográfico mais recente IBGE (2010), ativa de diferentes grupos de pessoas
ção Física/UGF. Coordenador do Grupo compõem um grupo que equivale a que, em tese, estariam segregadas pela
de Estudos em Atividade Motora Adap- 23,9% da população total no Brasil de sua condição, e que tal ação não é ape-
tada/UNESA. Docente-Pesquisador na pessoas que possuem algum tipo de nas voltada para o exercício do direito de
UNESA/Educação Física. deficiência e que se distribuem entre as ir e vir, mas também a de proporcionar
E-mail: edvaldo.farias@gmail.com deficiências visuais, motoras, auditivas, à pessoa com deficiência a participação
intelectuais e múltiplas. ativa no meio social.
Gabriella de Oliveira Lopes O Power Soccer é uma modalida- Em posicionamento semelhante,
Graduação em Educação Física pela de paradesportiva que surgiu com o ob- Silva (2004) relata que o esporte é im-
UNESA. Pós-Graduação em Educa- jetivo da inclusão por meio da prática de prescindível na vida de pessoas com de-
ção Física Especial (Faculdade Gama esportes e segundo Barrozo et al. (2012), ficiência ensinando-as a conviver com
e Souza/RJ). Aluna pesquisadora do como tal apresenta um requisito impor- grupos, trabalhar em equipe, aprender
Laboratório de Fisiologia do Exercí- tante para a inclusão social, que é o fato valores humanos, expandir capacidades,
cio (LAFIEX), Experiência na área de de proporcionar a pessoas com graves li- respeitar o próximo, superar desafios,
Educação Física Adaptada e Avaliação mitações motoras tenha preservado seu criar hábitos saudáveis, enquanto Bar-
Morfofuncional. direito de ocupar um lugar na sociedade, rozo (2012) defende a posição de que
E-mail: gabriella.olopes@hotmail.com levando em conta suas limitações, capa- a deficiência existe e não pode ser ne-
Qualidade de vida e bem-estar de praticantes de power soccer usuários de cadeiras de rodas motorizadas
Edvaldo de farias e Gabriella de Oliveira Lopes Dissertar
gada mas, no entanto, toda pessoa com Assim, apresenta-se a seguir uma cânicas, conhecidas como motorizadas,
deficiência tem direito de se integrar à abordagem teórica sobre a modalidade conduzidas por apenas uma das mãos
sociedade nas dimensões da cultura, Power Soccer e suas características, se- através de um joystik. As de baixa com-
esporte, trabalho, educação, e que isso guida de uma análise da literatura sobre a plexidade são as cadeiras conduzidas
deve acontecer em quatro níveis: físico, prática regular de esportes pelas pessoas pelo trabalho manual do próprio usuário
funcional, social e comunitário. com deficiências e os benefícios daí auferi- ou por uma segunda pessoa. Para prote-
De forma concordante, Zuchetto e dos, seguindo-se por uma abordagem das ção dos membros inferiores é adaptado
Castro (2002) afirmam que a prática de variáveis percepção de qualidade de vida as cadeiras um protetor frontal/lateral
esportes, dentre seus benefícios, inclui e percepção de bem-estar, ambas consti- denominado foot guard e os atletas não
alterações físicas, orgânicas, metabóli- tuindo o foco principal desta investigação. podem jogar sem o uso da faixa de segu-
cas, cardiorrespiratórias e musculares, rança de modo a permanecerem fixados
além de gerar ganhos em aspectos como Referencial teórico à cadeira sem oscilações no tronco, uma
melhoria do humor, motivação para vi- Segundo a FIPFA - Federation In- vez que muitos não têm este controle
ver, redução dos níveis de estresse e de- ternationale Powerchair Football Asso- neuromuscular em função da tetraplegia.
senvolvimento de relacionamentos den- ciation, (2010), o Power Soccer, também Kumar et al. (2012) referem que a
tro de diferentes grupos sociais. chamado de Powerchair Football, nasce qualidade de um jogo de Power Soccer,
Diante deste contexto, e conside- na Europa no final da década de setenta, depende da capacidade do atleta de ter
rando a unanimidade quanto ao fato de iniciado pela França e logo a modalida- respostas rápidas, raio de giro, veloci-
que a prática de exercícios e esporte é um de teve seguidores em vários países. Em dade, controle da cadeira ou frenagem,
gerador potencial de ganhos para a vida 2006 foi criada a FIPFA e em 2007 foi percepção de espaço e posicionamento.
das pessoas com algum tipo de deficiên- organizada a 1ª. Copa do Mundo da mo- Sendo assim, o Power Soccer tem a fi-
cia, desde que para isso é necessário que dalidade no Japão, quando participaram nalidade de incluir pessoas com mobili-
sejam feitas as devidas adaptações as oito países. Assim, no cenário paralím- dade reduzida que necessitam de cadei-
suas condições, a presente pesquisa teve pico mundial o Power Soccer está pres- ra de rodas motorizada. Em um mesmo
como objetivo investigar e descrever por tes a se tornar uma modalidade pelo IPC time pode haver jogadores de ambos os
meio da utilização de instrumentos es- – International Paralympic Comittee, sexos sendo o único pré-requisito para
pecíficos a cada uma delas, as variáveis ou seja, em breve será uma modalidade ser atleta ter no mínimo 6 anos de idade.
percepção de qualidade de vida e percep- presente nas paralimpíadas. Em relação à prática regular de
ção de bem-estar de atletas praticantes de Dados obtidos junto ao Instituto esportes por pessoas com algum tipo de
Power Soccer, jogadores da Associação Novo Ser (2013) relatam que o Power deficiência, Interdonato e Greguol (2011)
Brasileira de Futebol para Cadeirantes - Soccer foi introduzido no Brasil no são unânimes ao afirmar que ela é uma
ABFC no Estado do Rio de Janeiro, todos primeiro semestre de 2010 pela ABFC poderosa ferramenta para gerar ganhos
com mobilidade reduzida e usuários de - Associação Brasileira de Futebol de na qualidade de vida e que a temática
cadeira de rodas motorizadas. Cadeiras de Rodas Motorizadas, que re- vem ganhando espaço no âmbito das
A investigação mostra-se rele- presenta o Brasil junto a FIPFA, sendo pesquisas de caráter científico. Trata-se,
vante sob o ponto de vista científico na o primeiro time da América do Sul. O portanto, de uma nova área de mercado
medida em que todas as pesquisas refe- jogo ocorre em uma quadra similar à do que vem ocupando importantes campos
rentes ao Power Soccer, embora em nú- Basquete que a mede 25 m de compri- profissionais e Reid e Prupas (1998), em
mero escasso, encontram-se na literatu- mento e 18 m de largura, a área do gol é uma revisão sistemática de 436 artigos
ra estrangeira e tenham sido realizados de 8 m e a distância entre traves é de 6 (1986-1996), abordando pessoas com e
em ambientes fora do Brasil, o que faz m, sendo os times compostos por 4 joga- sem deficiência, concluíram que o des-
desta pesquisa uma contribuição signi- dores, sendo 3 na linha e 1 no gol. A bola porto adaptado vem crescendo junto a
ficativa para profissionais de Educação tem 33 cm e a baliza é móvel para a se- ciência e tecnologia proporcionando a
Física brasileiros na medida em que se gurança dos atletas em caso de choques. criação de dispositivos cada vez mais so-
mostra como um campo de interven- A cadeira de rodas motorizada, re- fisticados e tecnologicamente avançados
ção profissional muito pouco explorado, curso essencial da modalidade, é contro- para a melhoria da capacidade funcional
embora esteja em franca ascensão no lada por um joystick e são utilizadas duas desse público, trazendo a possibilidade
Brasil, sobretudo no estado do Rio de baterias para manter seu funcionamento, de sucessivas quebras de recordes por
Janeiro, a prática desta modalidade tem sendo o motor regulado para não ultra- atletas com algum tipo de deficiência.
experimentado um crescimento signifi- passar a velocidade de 10 km/h. Barro- Kumar et al. (2012) afirmam que
cativo em clubes e associações que reú- so Neto (1982 apud BERTONCELLO pessoas com mobilidade reduzida en-
nem pessoas com este tipo de deficiên- e GOMES, 2002) relata que as cadeiras contram muitas barreiras para praticar
cia, ao mesmo tempo em que, ao sediar de rodas se apresentam em diferentes esporte devido as suas limitações e,
os Jogos Olímpicos e Paralímpicos 2016, modelos e características e podem ser por conta disso, o desporto adaptado
abre-se a possibilidade de ganhos na vi- classificadas em relação a complexidade tem contribuído enormemente para a
sibilidade desta prática na medida em tecnológica como de alta, média e baixa participação dessas pessoas no âmbi-
que a modalidade é candidata a tornar-se complexidade. As de alta complexidade to esportivo tanto recreacional quanto
uma modalidade paralímpica, na qual o são as eletroeletrônicas, compostas por competitivo. Sob esse ponto de vista,
Brasil certamente tem grandes chances dispositivos elétricos com princípios especificamente o Power Soccer vem
de destacar-se em função dos resultados computacionais e são conduzidas por colaborando muito para a manutenção
e performances obtidos em competições comando de voz ou piscar de olhos. As e aumento da capacidade funcional e
nacionais e internacionais. de média complexidade são eletrome- bem-estar psicológico de seus pratican-

91
Dissertar Qualidade de vida e bem-estar de praticantes de power soccer usuários de cadeiras de rodas motorizadas
Edvaldo de farias e Gabriella de Oliveira Lopes

tes, que são pessoas com deficiência mo- espaços sociais, épocas e culturas e, por de pesquisas semelhantes localizadas
tora de intensidade severa, que segundo isso, considera que cada pessoa tem sua no Rio de Janeiro, levando os pesqui-
Ferreira et al. (2007), são pessoas que história tal qual descrevem Almeida, sadores a não disporem de referências
apresentam múltiplas limitações, dentre Guttierrez e Marques (2004) ao afirmar anteriores de pesquisas de natureza se-
as quais a mobilidade muito reduzida ou que além da ausência de saúde, existem melhante.
nula como resultado de uma tetraplegia outros aspectos como sentimentos, vida Foram utilizados dois questioná-
de causas diferentes mas com conse- familiar, amorosa, social, ambiental e a rios para a coleta de dados, sendo cada
quências comuns, que são as reduzidas própria existência. um deles voltado a um propósito distin-
capacidades de locomover-se, o que so- Fleck et al. (2000) corroborando a to. Para mensurar a percepção de quali-
mente é possível por meio de uma cadei- Organização Mundial de Saúde - OMS dade de vida foi utilizado o WHOQOL-
ra de rodas motorizada. conceitua qualidade de vida como um bref QUESTIONARE, composto de 26
Por outro lado, Marques et al. processo individual em relação a sua questões distribuídas por 4 domínios: fí-
(2012) citam que existem diferentes vida, na cultura e dos valores no qual sico, psicológico, relações sociais, meio
formas de deficiência e diversos graus vive, seus objetivos, expectativas, pa- ambiente. Este instrumento constitui o
de comprometimento que influenciam drões e preocupações. anexo A. O segundo instrumento foi o
no desempenho de cada pessoa e, por Em se tratando de um conceito Pentáculo do Bem-Estar composto de
conseguinte, de cada atleta ou prati- traduzido por múltiplas variáveis era ne- 15 itens subdivididos nas 5 dimensões:
cante de esportes. Os organizadores cessário tangibilizar estas variáveis em nutrição, estresse, atividade física, com-
de competições paralímpicas ficam termos de mensuração e, pela sua ine- portamento preventivo e qualidade dos
encarregados de encontrar princípios xistência, foi criado um instrumento de relacionamentos. Este instrumento com-
que garantam a igualdade de disputa, aplicabilidade internacional pela própria põe o anexo B.
justa no final das competições e, sen- instituição denominado WHOQOL-100 A pesquisa foi realizada com 15
do assim, são agrupados atletas com (World Health Organization Quality of atletas de ambos os sexos, sendo 14 de-
a mesma categoria ou classes que são Life – 100 perguntas). Por conseguin- les do sexo masculino e 1 do feminino,
definidos de acordo com seus graus de te, e diante da necessidade de um ins- praticantes de Power Soccer com ida-
comprometimento e capacidade de re- trumento mais curto e que demandasse de entre 9 a 47 anos, sendo a média de
alização. Para cada modalidade espor- menos tempo de aplicação e autopreen- idade do grupo pesquisado igual a 26,2
tiva existe uma classificação e, sendo chimento, foi criado o WHOQOL- bref anos, com um desvio padrão de suas
assim, Wu et al. (2000), apontaram três composto de apenas 26 perguntas, mas idades igual a 11,9 anos. Todos têm defi-
condições para que tal classificação que preservava o foco na percepção da ciência motora severa e, por conseguin-
seja feita de modo a preservar o prin- qualidade de vida de seus respondentes. te, mobilidade reduzida, são usuários de
cípio da equidade nas participações em No que diz respeito à percepção cadeiras de rodas motorizadas e prati-
competições entre pessoas com defici- de Bem-Estar enquanto um conceito, cantes de Power Soccer. Estas eram as
ências: atletas com menos comprome- Nahas, Barros, Fracalacci, (2000) con- condições ou critérios de inclusão para
timento, com mais comprometimento e cordam que a partir da metade do século participação da pesquisa.
atletas com deficiência e desempenho XX, assistimos uma transformação na A coleta de dados ocorreu sem-
similares. Para isso é preciso que se- sociedade nunca vista antes, em função pre e imediatamente após os treinos,
jam feitas 2 (duas) formas diferentes de dos avanços tecnológicos promotores de em dois clubes localizados na cidade
classificação: a médica, com base em comodidades e menos dispêndio de ener- do Rio de Janeiro, com a aplicação dos
diagnósticos multiprofissionais da área gia, alimentação no modelo fast food, instrumentos sendo feita pelos próprios
de saúde e a funcional que não interfe- excesso de informações, pouco esforço pesquisadores e mediante a autorização
re somente no diagnóstico médico, mas físico, diminuição do tempo e ofertas verbal explícita dos atletas em função da
também no desempenho do atleta. lazer, muito trabalho, elevados níveis impossibilidade de preenchimento e as-
Para que haja uma competição de estresse e, por conseguinte, várias sinaturas dos Termos de Consentimento
equilibrada profissionais da área da saú- consequências desastrosas para a saúde, Livre e Esclarecido - TCLE, para utili-
de classificam os atletas de acordo com o podendo-se falar mesmo na geração de zação dos resultados apenas para fins
grau de deficiência. Especificamente no efeitos deletérios do desenvolvimento. acadêmico-científicos, com a garantia
caso do Power Soccer, esta classifica- dos pesquisadores de preservação das
ção funcional é composta por dois gru- Metodologia da pesquisa identidades dos sujeitos e instituições.
pos denominados PF1 e PF2. Os atletas Em termos de classificação a
classificados como PF1 são aqueles que pesquisa caracterizou-se, segundo Gil Resultados e discussão
apresentam menor mobilidade e capa- (2008) como um estudo descritivo, de A seguir apresentamos os resul-
cidade funcional enquanto que os clas- campo e exploratória. Descritiva pelo tados gerados a partir da aplicação do
sificados como PF2 apresentam maior fato de propor-se a relatar fenômenos e instrumento WHOQOL-Bref com de-
mobilidade e capacidade funcional. A realidades da forma como acontecem e monstrações gráficas desses resultados
regra no Power Soccer exige a partici- de modo direto. De campo por destinar- como forma de facilitar a visualização e
pação em cada equipe de, no mínimo, 2 -se a conhecer, observar e coletar in- entendimento deles.
(dois) jogadores PF1. formações diretamente na realidade de Primeiramente, na classificação
Em relação a saúde e qualidade de pessoas usuárias de cadeiras de rodas pelos domínios, na dimensão Física
vida, Minayo (2000) relata que saúde não motorizadas com mobilidade reduzida e obteve-se um resultado de 66% de sa-
é só ausência de doenças, pois abrange praticantes do Power Soccer. Finalmen- tisfação, sendo esta dimensão relacio-
outros aspectos como vivências, valores, te, exploratória diante da inexistência nada aos aspectos: dor/desconforto,

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Qualidade de vida e bem-estar de praticantes de power soccer usuários de cadeiras de rodas motorizadas
Edvaldo de farias e Gabriella de Oliveira Lopes Dissertar
energia/fadiga, sono/repouso, mobi-
lidade, atividades da vida cotidiana, Gráfico 1 – Resultados por domínios – Qualidade de Vida WHOQOL-Brief
dependência do uso de medicação/
tratamentos e capacidade para o traba-
lho. Este resultado pode ser considera-
do positivo em função da maior parte
dos pesquisados ter classificado este
domínio como bom ou excelente, mes-
mo considerando o fato dessas pessoas
experimentarem muitas limitações em
seu dia-a-dia, o que certamente in-
fluencia diretamente suas percepções
relacionadas ao aspecto físico.
Em seguida, no domínio psicoló-
gico pode-se verificar um resultado de
78,2% de satisfação, relacionando estas
posições aos aspectos ligados a pensa-
mentos positivos, sem dificuldade em
pensar, aprender, memorizar, concen-
trar-se, além da ausência de sentimentos
negativos, com boa aceitação da própria um fator que pode elevar a autoestima pouso encontramos resultados superiores
Imagem corporal, da aparência e com e aceitação da imagem corporal, que a 60% enquanto na faceta atividade da
aspectos da vida ligados a espiritualida- resultou em uma percepção positiva de vida cotidiana e capacidade para o traba-
de, religião e crenças pessoais; 92,8%, e a autoestima com 85,7%. lho, os resultados posicionaram-se acima
Em relação ao domínio das relações Em relação as facetas novas infor- de 64%, ainda que a reduzida mobilidade
sociais foi encontrado um índice de 60,1% mações e habilidades obteve-se um re- seja uma característica desse público, de-
de satisfação, relacionado diretamente sultado de 89,2%, retratando assim um monstrando assim que, quando estão em
a qualidade das relações interpessoais, resultado também positivo. Em relação domínio de suas cadeiras de rodas se tor-
suporte e apoio social e atividade sexual. à faceta dor e desconforto encontramos nam independentes nas suas atividades.
Já no domínio do ambiente, obte- como resultado um nível alto de satisfa- A faceta qualidade de vida apresen-
ve-se um índice de 73,2% de satisfação ção com 83,9%, indicando que o binô- tou resultados de alta relevância na me-
nesse aspecto, relacionado diretamente mio dor/desconforto não impede estes dida em que dentre os sujeitos avaliados,
a questões como segurança física, sen- sujeitos de realizarem o que precisam em 80,3% demostraram-se satisfeitos com
sação de proteção, qualidade do ambien- seu dia-a-dia, o que pode ser reforçado sua qualidade de vida. Esta distribuição
te no lar e disponibilidade de recursos pelo resultado da faceta energia/fadiga ao longo das diferentes facetas descritas
financeiros. cujos resultados apresentaram índices de acima pode ser visualizada no gráfico 2.
Como resultado geral, encontramos 73,21%. Na faceta mobilidade, sono e re- Em relação aos resultados obtidos
o valor médio de 71,5%, o que indica uma
percepção positiva de qualidade de vida
por estes sujeitos, embora sejam dotados Gráfico 2 – Resultados distribuídos pelas facetas do WHOQOL-Brief
de severas restrições na sua mobilidade.
Este resultado pode ser mais facilmente
visualizado no gráfico 1.
Observando separadamente as
facetas que compõem os domínios do
WHOQOL-Bref, verificou-se como pior
índice de satisfação a dimensão sexual,
com 23,21%, e tal fato explica-se tanto
pela idade de alguns sujeitos (crianças)
como também pela tipologia de sequelas
e respectivos segmentos corporais afeta-
dos dos adultos, o que lhes dificulta uma
vida sexualmente ativa.
No grupo pesquisado apenas
39,2%, necessitam de medicação para a
sua vida diária, mesmo com deficiências
que requerem cuidados especiais. Já nas
facetas ambiente/lar e relações pessoais
todos os respondentes posicionaram-se
acima de 80%, o que sugere a troca de
vivências e experiências entre indiví-
duos com deficiências diferentes como

93
Dissertar Qualidade de vida e bem-estar de praticantes de power soccer usuários de cadeiras de rodas motorizadas
Edvaldo de farias e Gabriella de Oliveira Lopes

pela aplicação do Pentáculo do Bem- Os resultados encontrados pela e proporcionando mais qualidade de
-Estar (NAHAS, 2000) que gera um aplicação desses dois instrumentos indi- vida, além de contribuir na prevenção de
mapa individual que expressa 5 aspec- cam uma satisfação com a qualidade da doenças, desenvolvendo suas potenciali-
tos distintos (nutrição, atividade física, vida dos sujeitos praticantes de Power dades e promovendo a integração social.
comportamento preventivo e relacio- Soccer e que confrontam os estudos de Além disso, Noce et. Al. (2009),
namento social) tivemos a distribuição França et al. (2011), quando, ao realizar também afirmam que pessoas com defi-
descrita a seguir. É importante registrar uma pesquisa com pessoas com lesão ra- ciência deveriam ser estimuladas para a
que os valores médios expressos em quimedular não inseridas em programas prática das atividades físicas e esportivas,
percentuais equivalem a proporção de de esportes ou mesmo exercícios físicos pois quando fazem uso delas passam a ter
preenchimento dos espaços apresenta- de qualquer natureza, por meio da apli- uma percepção corporal mais desenvolvi-
dos na estrela de 5 pontas que é a figura- cação do WHOQOL- Bref, obteve como da, reforçando a autoestima e colaborando
-referência do instrumento, equivalendo resultados nos domínios físico, psicoló- para um bem-estar psicológico e afetivo.
a 100% quando todos os espaços tive- gico, relações sociais e meio ambiente Simim; Melloz; Noce (2009), rela-
rem sido preenchidos. Este preenchi- negativos, justificados pelas limitações tam ainda que a prática do esporte resul-
mento é a tradução gráfica das respos- que este tipo de lesão impõe as pessoas. ta na redução da ansiedade, depressão e
tas apresentadas pelos respondentes em Da mesma forma, Güindüz, Irhan estresse além do aumento do bem-estar
cada uma das 5 dimensões citadas (2008 apud FRANÇA, 2011), em uma físico, psicológico, funcionamento orgâ-
Em relação ao aspecto atividade pesquisa semelhante e realizada na Tur- nico, humor e disposição física.
física, e comparando esses valores com quia, verificaram que a qualidade de Assim é notória a unanimidade
a média de todos os demais aspectos, vida de pessoas com lesão raquimedular entre os autores quanto as contribuições
houve uma diferença negativa com um que não praticavam qualquer tipo de ati- positivas das práticas esportivas na vida
valor de 31,4%, ressaltando que foram vidades física ou esportiva, em todos os de pessoas com algum tipo de deficiên-
encontrados resultados quase nulos em domínios foi fortemente em função do cia, o que foi claramente evidenciado
duas questões, justificadas pela mobili- comprometimento físico e social. pela presente pesquisa.
dade reduzida desses atletas. As conclusões dessas investigações
No aspecto nutrição foram encon- divergem frontalmente do resultado da Conclusão e recomendações
trados 61,1% que mantém uma alimen- presente pesquisa, que constataram uma Estudos relacionados à qualidade de
tação saudável. O resultado seria mais percepção positiva na qualidade de vida vida e ao bem-estar para pessoas com mo-
positivo se os atletas tivessem o acom- e do bem-estar em pessoas com defici- bilidade reduzida retratam de modo geral
panhamento de um nutricionista. ências que limitam sua capacidade fun- resultados insatisfatórios, principalmente
No aspecto comportamento pre- cional, demonstrando com isso que nas pelas limitações físicas, adaptações do
ventivo, 88,8% dos atletas informaram últimas décadas houve um despertar da meio ambiente e relacionamentos sociais
que se preocupam com ações autopre- esfera esportiva quanto a possibilidade de que essas pessoas experimentam. Porém,
ventivas, relacionadas a utilização de incluir pessoas com deficiências na práti- na presente pesquisa, pudemos evidenciar
itens de segurança quando necessárias e ca de esportes ainda que suas limitações um resultado positivo e demonstrativo de
verificação periódica da saúde. sejam severas, e fazendo com que esta in- que a prática do Power Soccer foi um fa-
No relacionamento social, 73,1% serção e prática influencie decisivamente tor positivo para o diferenciado nível de
afirmaram ter uma vida social ativa, que na saúde e desenvolvimento delas. qualidade de vida e bem-estar percebido
é um fator essencial para a socialização Como evidência desta afirmativa, pelos seus praticantes.
desse grupo com a sociedade onde vivem. tanto Duarte, Wener (1995) como tam- Pode-se inferir que a prática desta
O controle do estresse com 74% bém Melo; Lópes (2002) relatam que o modalidade esportiva proporcionou ao
apresentou-se equilibrado entre o lazer e o desporto adaptado é um fator essencial grupo pesquisado a possibilidade de rea-
relaxamento, resultando em um estilo de para a reabilitação de pessoas com defi- lizar “sonhos” como jogar futebol, onde
vida saudável. A síntese destes resultados ciência, nas mais variadas modalidades a interação dos atletas com diferentes
pode ser visualizada no gráfico 3. esportivas, tornando-os mais eficientes tipos de deficiências na mobilidade aca-
baram por causar uma identificação ime-
Gráfico 3 – Resultados obtidos pela aplicação do Pentáculo do Bem-Estar diata, proporcionando com isso níveis de
aceitação além de um aprendizado com
os exemplos de superação que viven-
ciam no dia-a-dia dessa prática, gerando
estímulos, coragem e acima de tudo um
espírito de equipe, características estas
que os esportes coletivos sabidamente
podem desenvolver em seus praticantes.
É importante registrar que mes-
mo para aqueles atletas com alto grau de
comprometimento e que dependem do uso
de balão de oxigênio para sobreviver, são
criadas adaptações em suas cadeiras, para
que tenham o prazer da prática, desen-
volvendo neles uma percepção de sentido
para suas vidas e por conseguinte o resgate

94
Qualidade de vida e bem-estar de praticantes de power soccer usuários de cadeiras de rodas motorizadas
Edvaldo de farias e Gabriella de Oliveira Lopes Dissertar
da vontade de viver apesar das limitações. canomanual, revista Produção v.12, n.1, 2002.
Na quadra, durante a prática do Power characteristics during power wheelchair soccer,
CARDOSO, V. D. A Reabilitação de pessoas
Soccer, eles vivem um momento de rea- JRRD, volume 49, number 1,2012, pages75-82.
com deficiência através do desporto adaptado.
lização, pois ao dominar suas cadeiras se Ver. Bras. Ciência. Esporte, Florianópolis, MEDINA, A. G.; COELHO, D. B. Aspectos
tornam livres de qualquer auxilio e mos- Santa Catarina – Rio Grande do Sul. v.33, n.2, Biomecânicos e funcionais na prescrição de
tram-se entusiasmos, dedicados, respon- p.529-529(2011). cadeiras de rodas. Escola de Educação Física.
sáveis e perseverantes, assumindo junto CICONELLI, R. M.; FERRAZ, M. B.; SAN- USP. São Paulo, 2007.
com as cadeiras o comando de suas vidas. TOS, W.; MEINÃO, I.; QUARESMA, M. R. MARQUES, R. F. R.; GUTIERREZ, G. L.;
Além disso, ao praticarem uma modalida- Tradução para língua portuguesa e ‘validação do ALMEIDA, M. A. B. A. Investigação sobre
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relacionamentos formando uma família de vida SF-36(Brasil SF-36) v.39, n°3, 1999. paralímpico no Brasil: Os processos de clas-
por extensão para além dos laços familia- DEDINE, F. G.; CAVALCA, K. L. Aplicações sificação de atletas. DOI: 10.4025/reveducfis.
res e tendo como ponto comum o esporte. de metodologia e sistemática de projeto em v23.4.14545. Rev. Educ. Fis./UEM, v. 23, n.
Sugere-se aos órgãos competentes disciplina do Curso de Engenharia Mecânica. 4, p. 515-527, 4. Trim, 2012.
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governamentais ou mesmo da iniciativa Faculdade de Engenhara Mecânica. Departamento Adaptado. Revista Digital, 2002.
privada, dinamizar junto as esferas aca- de projeto Mecânico. Campus Zeferino Vaz- MINAYO, M. C. Qualidade de vida e saúde: um
dêmicas investimentos na área de tecno- UNICAMP. 13083 - 970 - Campinas - SP, 2000. debate necessário. (Ciência & Saúde Coletiva,
logias inclusivas para desenvolvimento DUARTE, E.; WERNER, T. Conhecendo um 5(1): 7-18, 2000).
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especializadas para a prática da moda- Atividade Física e Desportiva para Pessoas CALACCI; V. Pentáculo do Bem-Estar. Revista
Portadoras de Deficiência: Educação à Dis- Atividade Física e saúde, v. 5, n 2, 2000.
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FERREIRA, A.; SILVA, R. L.; BASTOS 2010. Pessoas com Deficiência: Secretaria
Além disso recomendamos ao poder pú-
FILHO, T. F.; SACINELLI FILHO, Mario. Nacional de Direitos Humanos da Presidência
blico, sobretudo legislativo, a criação de Cadeira de rodas robótica com interface de PDA
aprovação de leis de incentivo fiscal para da República (SDH/PR), Secretaria Nacional
comandada por sinais cerebrais. Universidade de Promoção dos Direitos da Pessoa com
a fabricação e venda desses produtos, tal Federal do Espírito Santo. UFES. Vitória, 2007. Deficiência (SNPD), Coordenação-Geral do
qual acontece em países desenvolvidos FIPFA- Féderation Internationale de Powerchair Sistema de informações sobre a Pessoa com
com propósito exclusivamente de pro- Football Association. Association loi 1910, Deficiência. Brasília, 2012.
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objeto de estudo polissêmico: contribuições
JEFFRESS, M. S. “Finally, a Sport for Us!” e convencional. Cinergis, v. 13, n.3. p.1- 10,
da Educação Física e do Esporte. 1.ed Ponta
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diacrônica e sincrônica da cadeira de rodas me-
COOPER, R. A. Pilot study for quantifying driving maio de 2002.

95
Dissertar Qualidade de vida e bem-estar de praticantes de power soccer usuários de cadeiras de rodas motorizadas
Edvaldo de farias e Gabriella de Oliveira Lopes

ANEXO A – WHOQOL-Brief

96
Qualidade de vida e bem-estar de praticantes de power soccer usuários de cadeiras de rodas motorizadas
Edvaldo de farias e Gabriella de Oliveira Lopes Dissertar

97
Dissertar Qualidade de vida e bem-estar de praticantes de power soccer usuários de cadeiras de rodas motorizadas
Edvaldo de farias e Gabriella de Oliveira Lopes

Artigo enviado em 00/00/2008, aceito em 00/00/2008

98
Momento Cultural Dissertar

Uma visão histórica da Escola de Frankfurt


e de sua teoria crítica
A historical overview of the Frankfurt School
and its critical theory
Una visión de la Escuela de Frankfurt
y su teoría critica
O presente artigo busca analisar This paper analyzes the histo- En este artículo se pretende ana-
a evolução histórica da Teoria Crítica rical evolution of the critical theory lizar la evolución histórica de la teoría
elaborada pela Escola de Frankfurt e developed by the Frankfurt School and crítica desarrollada por la Escuela
a força de seu legado na atualidade the strength of its legacy today as a de Frankfurt y la fuerza de su legado
como um referencial teórico meto- theoretical framework for the reasoning hoy en día como un marco teórico
dológico para a fundamentação das of the various thematic works done in metodológico para el razonamiento
diversas temáticas trabalhadas no academia. Its authors, in particular, de los distintos temática trabajado en
meio acadêmico. Seus pensadores, Theodor Adorno, Max Horkheimer el mundo académico. Sus pensadores,
em especial, Theodor Adorno, Max and Walter Benjamin focused in the especialmente Theodor Adorno, Max
Horkheimer e Walter Benjamin se registering negative criticism and Horkheimer y Walter Benjamin se es-
fixaram no registro da crítica negativa, complaint. The thought developed tablecieron en el registro de la crítica
e da denúncia. O pensamento desen- revealed the concern in reviewing negativa y denuncia. El pensamiento
volvido revelava a preocupação em the Marxist references and thereby desarrollado reveló la preocupación
rever os referenciais marxistas e desse know that knowledge (reason) should en la revisión de la referencia marxista
modo o saber (a razão) deveria ser o be the mechanism that would enable y que la manera de saber (la razón)
mecanismo que processaria a emanci- the emancipation of man, breaking debe ser el mecanismo que procesar
pação do homem, rompendo o controle the authoritarian control of religion la emancipación del hombre, rom-
autoritário da religião nas esferas de in the value spheres of societies. The piendo el control autoritario de la
valor das sociedades. O destino não target would not be dictated by external religión en las sociedades esferas de
seria mais ditado por forças externas forces (gods, myths and laws of nature), valor. El destino no sería dictada por
(deuses, mitos e leis da natureza), but by the knowledge subordinated to fuerzas externas (dioses, mitos y las
mas sim pelos saberes subordinados science and technical (positivism) that leyes de la naturaleza), sino por el
à ciência e a técnica (positivismo) que would be embodied in technocratic conocimiento subordinada a la ciencia
seria consubstanciado em ideologia ideology of capitalism and techno y la tecnología (positivismo) que se
tecnocrática pelo capitalismo e em bureaucracy. Nowadays the school encarna en la ideología tecnocrática
tecnoburocracia. Nos dias atuais, a is represented by Habermas, among del capitalismo y tecnoburocracia.Nos
escola encontra-se representada por other sociologists seeking ways to hoy es la escuela Si representada por
Habermas, dentre outros pensadores recreate a new stance of knowledge Habermas, entre otros pensadores que
que procuram recriar caminhos para in the technological social context. buscan formas de recrear una nueva
uma nova postura do conhecimento no posición de conocimiento en el contexto
contexto social tecnológico. social tecnológica.

Palavras-chave: Escola de Frankfurt, Teoria Crítica, Evolu- marck foi quem, em 1871, consolidou o Estado alemão sob a
ção, Conhecimento. hegemonia da Prússia, o que significava predominância do mili-
tarismo e da burocracia.
Autora: A sociedade alemã foi seriamente abalada por movimen-
Christiane do Vale Leitão tos políticos no início do século e a Alemanha assistiu a duas
Professora da Estácio – FIC – Pós-graduada em Sociologia. insurreições operárias: a de novembro de 1918, que proclamou a
E-mail: cristiane.leitao@estacio.onmicrosoft.com República de Weimar e depôs os Hohenzollern do poder, e a de
1923 do levante dos operários de Bremen, que foi sufocado pelo
Introdução Partido Socialista Alemão que, na ocasião, era governo.
O contexto histórico que propiciou a formação da Escola Foi nesse meio de agitação revolucionária que em 1922,
de Frankfurt (Frankfurter Schule) foi marcado por vários acon- numa época de inflação galopante e de tumultos políticos es-
tecimentos em todas as áreas do pensamento humano, tanto nos palhados por grande parte do território, que ocorreu a semana
campos econômico quanto social, e em especial nos cenários de estudos marxistas. Um seminário denominado de Erste Mar-
políticos da Alemanha e da Itália, no início do século XX. xistische Arbeitswoche foi realizado em um hotel em Ilmenau,
O grande líder da unificação da Alemanha Otto Von Bis- na Turíngia, organizado por Felix Weil, com a participação de
Dissertar Uma visão histórica da Escola de Frankfurt e de sua teoria crítica
Christiane do Vale Leitão

Frankfurt ligado, todavia, ao Ministério da Educação e Cultura


da Prússia, que funcionaria em um prédio próprio e receberia
uma dotação anual de cento e vinte mil marcos alemão prove-
niente de seu mecenas, o Sr. Herman Weil.
Em 1929, assumia a direção da escola o jovem filósofo
Max Horkheiner que alterou a linha de pesquisa dos estudos do
Instituto com o objetivo de compreender melhor as relações en-
tre a modernidade, a tecnologia e os problemas sociais. Com
isto, o Instituto ganhou feições de um verdadeiro centro de pes-
quisa, abandonando a sua linha de enfoque anterior, baseada em
uma mera busca pela compilação e descrição histórica dos mo-
vimentos sociais operários.
Esta transformação de orientação faz-se sentir até mesmo
no nome da revista do Instituto que antigamente se chamava Ar-
chiv fuer die Geschichte des sozialismus und der arbeiterbewe-
gung (Arquivo para a história do socialismo e do movimento
operário) e passou a ter um o novo nome de Zeitschrift fuer so-
zialforschung (Revista de Pesquisa Social). A nova publicação
iniciou nos anos de 1932 e permaneceu até meados dos anos de
1941, ininterruptamente.
O meio oficial de divulgação das idéias da Escola passou
Fonte: http://pt.slideshare.net/eddieuepg/teoria-crtica a ser a Revista de Pesquisa Social, que agora não mais abordava
apenas assuntos sobre economia, mas oferecia a seus leitores
alguns intelectuais tais como Karl Korsch, Georg Lukács, Frie- novos ensaios sobre temas multidisciplinares, incluindo, em es-
drich Pollock, Karl August , Wittfogel, dentre outros. pecial, a filosofia.
Motivados pela realização do evento surgiu a ideia de ins- O novo diretor Marx Horkheimer congregou um ec-
titucionalizar um grupo de trabalho composto por intelectuais e lético grupo de intelectuais e pensadores de diversas áreas,
pensadores, cuja formação acadêmica era oriunda de diversas áreas tais como Erich Fromm, Friedrich Pollock, Wittfogel, Gum-
das ciências humanas, tais como a filosofia, sociologia, economia, perz, Adorno, Marcuse, dentre outros. Apresentavam seus
a psicologia, comunicação social e a teologia, para compilação de trabalhos e ideias através de ensaios e não mais por meio
documentação e teorização dos movimentos operários na Europa. de tratados, onde formulavam trabalhos e análises críticas e
Em Fevereiro de 1923, nascia o Institut fuer Sozialfors- denúncias, aos modelos teóricos existentes, não se atrelando
chung (Instituto de Pesquisa Social), originalmente vinculado à a nenhum dogma partidário e claro, não desconsideravam o
Universidade de Frankfurt. O Instituto, recém-fundado, deseja- viés esquerdista de suas pesquisas.
va estudar a história do movimento trabalhista e do socialismo No seu discurso inaugural em 1931, Horkheimer formulou
da época, visando suprir no meio acadêmico alemão uma lacu- um manifesto que afirmava um “novo paradigma” representado
na existente. Para esta realizar tais estudos reuniu socialistas de pela fusão do materialismo histórico com a psicanálise, além da
cátedra (kathedersozialisten), numa época em que os marxistas abertura a outros pensadores como Schopenhauer e Nietzsche.
rejeitavam o trabalho acadêmico. A adoção do nome “Escola de Frankfurt”, foi uma inicia-
tiva de Horkheimer, já nos idos dos anos 1950, e designava o
A Evolução Histórica da Escola de Frankfurt nome que se dá, simultaneamente, a uma teoria social e a um
O Instituto de Pesquisa Social foi fundado em 1923, por grupo de intelectuais e pensadores
Carl Grünberg, historiador e marxólogo, que permaneceu no A Teoria Crítica realizou uma incorporação do pensamento
cargo entre os anos de 1923 até meados de 1930. O primeiro de filósofos “tradicionais”, colocando suas idéias em contrapon-
Diretor tinha como objetivo fazer um levantamento histórico das to com o mundo social e político existente à época, por meio de
lutas do movimento operário no estado alemão. uma busca incessante de modelos teóricos de origem multidisci-
Importante ressaltar que inicialmente cogitou-se o nome de plinar mesclados com trabalhos de campo que lhes permitissem
“Instituto para o Marxismo”, mas optou-se por “Instituto para a entender o que estava ocorrendo naquele momento no mundo,
Pesquisa Social”, em razão do anticomunismo reinante nos meios após a primeira Guerra.
acadêmicos alemães nos anos 1920-1939, e pelo fato de seus Os estudos dos frankfurtianos se orientavam por três eixos
membros e colaboradores não adotarem o espírito e a letra do pen- básicos: a) a dialética da razão iluminista e a crítica da ciência;
samento de Marx e do marxismo da época. Intencionavam formar b) a dupla face da cultura e a discussão da indústria cultural; c) a
uma teoria social que volta - se para a necessidade do esclareci- questão do Estado e suas formas de legitimação.
mento da sociedade quanto às estruturas dominantes instituídas. Os seus pensadores da primeira geração assistiram e vi-
A Escola de Frankfurt foi fundada em 1924, por inicia- venciaram a ascensão do nazismo na Europa e adotaram os fenô-
tiva de Felix Weil, de origem judaica, filho de Herman Weil, menos da cultura como objeto de estudo para entender o tempo
um grande negociante de grãos de trigo na Argentina, que teve presente nos aspectos da dominação/ alienação e emancipação
importante atuação na sua formação, pois ajudava a financiar as em relação aos mecanismos de controle social. Um dos princi-
atividades do Instituto. Este financiamento garantiu autonomia e pais questionamentos buscava entender como os indivíduos se
a sobrevivência nos turbulentos anos que se seguiram no contur- tornavam insensíveis à dor do autoritarismo, negando a sua pró-
bado momento vivido pela sociedade alemã. pria condição de indivíduo ativo no corpo social.
A Escola seria uma espécie de anexo da Universidade de A Idéia fundamental da escola parte do princípio de uma

100
Uma visão histórica da Escola de Frankfurt e de sua teoria crítica
Christiane do Vale Leitão Dissertar
crítica ao caráter cientificista das ciências humanas que se basea- (FREITAG, 1988a, p.42).
va em dados e pesquisas empíricas e analíticas (funcionalismo). Também neste período surgiram duas novas obras que
A temática focada na análise da organização dos trabalhadores se tornaram marcos para a pesquisa e a teorização sociológi-
(movimentos sociais operários) visava entender a cultura como cas: The Authoritarian Personality (1950), pesquisa empírica
elemento de transformação da sociedade, utilizando como bali- elaborada por Adorno, Frenkel-Brunswik, Levinson, Sanford,
zas os pressupostos do Marxismo para explicar o funcionamen- Morrow, etc, e Dialética do Esclarecimento (1947). The Autho-
to da sociedade e a formação de classes, e da Psicanálise para ritarian Personality traz marcas nítidas do trabalho desenvolvido
compreender a formação do indivíduo, enquanto elemento que por Horkheimer e Fromm na Europa Studien ueber autoritaet
compõe o corpo social. und familie.
O Diretor Horkheimer preocupado com o crescimento do
nazismo começa a fundar filiais do Instituto, iniciando pela ci- Marx Horkheimer (1895-1973) - Theodor Adorno (1903
dade de Genebra, na Suíça, onde o Instituto passou a ter o nome - 1969)
de Société Internacionale de Recherches Sociales. Em seguida, Max Horkheimer nasceu em 14 de fevereiro de 1895, na
estabeleceu-se em Londres e Paris e transferiu a redação da re- cidade de Stuttgart na Alemanha e faleceu em Nuremberg, no
vista de Leipzig para Paris. dia 07 de julho de 1973. Como todos os intelectuais da Escola de
Em 1933, o governo nazista decretou o fechamento e con- Frankfurt, era judeu de origem, filho de um industrial de nome
fiscou o prédio do Instituto por suas “atividades hostis ao Esta- Mortitz Horkheimer, e por intermédio de seu amigo Friedrich
do”, ocasião em que 60 mil livros foram apreendidos e confis- Pollock, Horkheimer, associou-se em 1923 à criação do Instituto
cados, fato este que acelerou a ideia da transferência da Escola, para a Pesquisa Social.
para a cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, com o apoio Suas formulações, acerca da Razão Instrumental, junto
de Nicolas Murray, diretor da Universidade de Columbia, onde com as teorias de Theodor Adorno e Herbert Marcuse compõem
passou a se chamar Internacional Institute of Social Research, o núcleo fundamental da base teórica da Escola de Frankfurt,
vinculado à Universidade de Columbia. que questionam o impacto da tecnologia na cultura e na vida
Neste período em que o Instituto já se encontrava estabe- do indivíduo. Destaca-se a sua inspiração, na pessoa do filósofo
lecido em Nova Iorque foram concedidas mais de 50 bolsas para alemão Schopenhauer, por quem tinha uma profunda admiração
intelectuais e judeus perseguidos pelo nazismo. e respeito.
A partir deste momento, muitos de seus importantes traba- A razão instrumental submete o trabalho teórico “(...) às
lhos começaram a emergir, ganhando uma recepção favorável na regras gerais da lógica formal, ao princípio da identidade e da
academia inglesa e no cenário intelectual americano. não-contradição, ao procedimento dedutivo e indutivo, à restri-
O grupo que se transferiu, acompanhou o surgimento do ção do trabalho teórico a um campo claramente delimitado...”
que os funcionalistas chamam de “cultura de massa”, com o de- (FREITAG,1988,p.41). O discurso encaminhado pelos frankfur-
senvolvimento de novas tecnologias de comunicação, principal- tianos consiste em criticar essa razão instrumental que se auto-
mente do rádio. nomizou da razão iluminista e submeteu o homem à ditadura da
Os Frankfurtianos foram os pioneiros a contestar o concei- ciência e da técnica tolhendo-lhe a liberdade em benefício da
to de cultura de massa e ainda nos anos 1940, seus pesquisado- racionalização da produção capitalista.
res propõem o conceito de indústria cultural em substituição ao Em meu ensaio “Teoria Tradicional e Teoria Crítica” apontei a
conceito de cultura de massa. diferença entre dois métodos gnosiológicos. Um foi fundamen-
Somente no início dos anos 1950, foi que Horkheimer e tado no Discours de la Méthode [Discurso sobre o Método],
Adorno, dois dos maiores expoentes intelectuais desta corrente cujo jubileu de publicação se comemorou neste ano, e o outro,
conseguem retornar à Alemanha Ocidental, apesar de alguns cole- na crítica da economia política. A teoria em sentido tradicional,
cartesiano, como a que se encontra em vigor em todas as ciências
gas do grupo optarem por permanecer nos Estados Unidos. O Ins- especializadas, organiza a experiência à base da formulação
tituto foi formalmente restabelecido em Frankfurt no ano de 1953. de questões que surgem em conexão com a reprodução da vida
dentro da sociedade atual. Os sistemas das disciplinas contém
Principais Pensadores e suas obras os conhecimentos de tal forma que, sob circunstâncias dadas,
Eram membros integrantes no momento da fundação da são aplicáveis ao maior número possível de ocasiões. A gênese
social dos problemas, as situações reais nas quais a ciência é
Escola de Frankfurt: Max Horkheimer; Theodor W. Adorno, empregada e os fins perseguidos em sua aplicação, são por ela
Herbert Marcuse, Friedrich Pollock, Erich Fromm, Otto Kirch- mesma consideradas exteriores. – A teoria crítica da sociedade,
heimer, Leo Löwenthal, Heidelberg. ao contrário, tem como objeto os homens como produtores de
A “Segunda geração” de teóricos do Instituto incluía em todas as suas formas históricas de vida. As situações efetivas, nas
seus quadros: Jürgen Habermas, Franz Neumann, Oskar Negt, quais a ciência se baseia, não são para ela uma coisa dada, cujo
único problema estaria na mera constatação e previsão segundo
Alfred Schmidt, Albrecht Wellmer, Axel Honneth. as leis da probabilidade. O que é dado não depende apenas da
Outros autores e intelectuais renomados integraram tem- natureza, mas também do poder do homem sobre ele. Os objetos
porariamente as hostes do Instituto tais como Walter Benjamin, e a espécie de percepção, a formulação de questões e o sentido
Siegfried Kracauer, Karl August Wittfogel, Alfred Sohn-Rethel. da resposta dão provas da atividade humana e do grau de seu
No período da emigração, as publicações do Instituto poder.» (Max Horkheimer, Filosofia e Teoria Crítica, 1968, em
Textos Escolhidos, Coleção Os Pensadores, p. 163)
fundaram a Teoria Crítica, que atua na contramão da objeti-
vidade sistêmica outorgada pelo positivismo. Busca reativar a
essência original da razão, resgatando sua capacidade dialética As principais obras de Horkheimer são: a) Materialismo
de redirecionar o processo histórico, por meio de uma relação e Moral, ano de 1933; b) Teoria Tradicional e Teoria Crítica, de
orgânica e interativa entre sujeito e objeto “O sujeito do co- 1937; c) Eclipse da Razão, de 1947; d) Teoria Crítica Ontem e
nhecimento é um sujeito histórico que se encontra inserido em Hoje, no ano de 1970.
um processo igualmente histórico que o condiciona e molda”. A Teoria Crítica representava um caldeirão ideológico, ad-

101
Dissertar Uma visão histórica da Escola de Frankfurt e de sua teoria crítica
Christiane do Vale Leitão

vindo de um país de tradição fortemente filosófica, misturando Walter Benjamin (1892- 1940) e Jürgen Habermas (1929)
teorias marxistas, criticismo, ideias nietzschianas e teorias psi-
canalíticas. - Walter Benjamin
O conceito de Indústria Cultural foi criado na década de Walter Benjamin nasceu na cidade de Berlim, em 15 de
40 por Adorno e Horkheimer e trata da produção da cultura julho de 1892, no seio de uma família judaica. Sua formação
como mercadoria. Apresenta-se como o conjunto das insti- acadêmica foi fortemente inspirada tanto por autores marxistas,
tuições sociais vinculadas à produção e distribuição de bens como Georg Lukács e Bertolt Brecht, como pelo místico judaico
simbólicos, pois a partir do final do século XIX os meios de Gershom Scholem.
comunicação provocaram uma alteração sem precedentes no O Autor é um dos filósofos mais significativos da moderni-
cenário cultural. dade, somente reconhecido enquanto tal após sua trágica morte,
Para Horkheimer e Adorno a cultura tornava-se um pro- durante a fuga das forças nazistas. Em vida, ele era reconhecido
duto que gerava a serialização e a padronização da cultura por enquanto intelectual apenas em seu círculo de pensadores, como
meio de uma racionalidade técnica como racionalidade da do- Ernst Bloch e T. W. Adorno, que tomou a iniciativa de editar
minação. Os produtos culturais são entendidos como produtos toda sua obra postumamente.
feitos para impedir a atividade mental do espectador, são vistos, O seu trabalho constitui um contributo original para a teoria
portanto, como produtos alienantes – cultura da alienação. estética. Em 1940, ano da sua morte, Benjamin escreve a sua úl-
Na Indústria Cultural, o lucro orienta a produção e o es- tima obra, considerada por alguns como o mais importante texto
paço da criação individual do artista é eliminado em virtude da revolucionário desde Marx; por outros, como um retrocesso no
lógica e da produção coletiva. pensamento benjaminiano: as Teses Sobre o Conceito de História.
Dentre as principais obras de Benjamin, destacam-se : a)
- Theodor Adorno A Obra de Arte na era de sua Reprodutibilidade Técnica – 1930;
Theodor Wiesengrund Adorno nasceu em 1903, na cidade b). Paris, Capital do século XIX (inacabada); c) Teses Sobre o
de Frankfurt, filho de pai alemão de origem judaica, e de mãe Conceito de História - 1940; d) A Modernidade e os Modernos;
italiana, uma cantora lírica católica italiana, de quem adotou o e) “Haxixe“; f) Origem do Drama Barroco.
sobrenome Adorno. Na Universidade de Frankfurt, estudou Fi- Nos escritos de Benjamim, o impacto da tecnologia na
losofia, Musicologia, Psicologia, Sociologia e cedo em sua vida vida do indivíduo enfraquece o processo de socialização na me-
intelectual, descobriu a obra de Kant por intermédio de seu ami- dida em que o homem deixa de depender de outros para a pro-
go Kracauer, especialista em sociologia do conhecimento, que dução cultural. Desse modo, o progresso tecnológico – no viés
viria a se notabilizar com a publicação da obra “De Caligari a positivista cria as condições para harmonizar-se com a barbárie.
Hitler,” sobre as relações entre o cinema e o nazismo. O pensamento do Autor está profundamente enraizado na
O autor nasceu e cresceu em um meio de musicistas e tradição romântica alemã e na cultura judaica da Europa Central
amantes de músicas e logo se orientou para a estética musical. e responde a uma conjuntura histórica precisa, a da época das
Entre 1921 e 1932, publicou cerca de cem artigos sobre crítica guerras e das revoluções que vai de 1914 a 1940. E, no entanto,
e estética musical. os temas principais de sua reflexão e, em particular, suas teses
Adorno era um dos que mais desejavam o retorno do Ins- “Sobre o conceito de história” são de uma universalidade admi-
tituto à Frankfurt, mas isso só aconteceu com o fim da Segun- rável: elas nos fornecem ferramentas para compreender reali-
da Guerra, e depois da volta ele se tornou seu diretor-adjunto dades culturais, fenômenos históricos, movimentos sociais em
em 1955, e com a aposentadoria de Horkheimer, foi nomeado o outros contextos, outros períodos e outros continentes. Mas, em
novo diretor da Escola. última análise, isso vale também para toda a teoria crítica.
Dizem os autores Adorno e Horkheimer:
Ultrapassando de longe o teatro de ilusões, o filme não deixa mais - Jürgen Habermas (1929 )
à fantasia e ao pensamento dos espectadores nenhuma dimensão na Jürgen Habermas nasceu na cidade de Düsseldorf, na Ale-
qual estes possam, sem perder o fio, passear e divagar no quadro manha em 18 de Junho de 1929. Licenciou-se em 1954 na Uni-
da obra fílmica permanecendo, no entanto, livres do controle de versidade de Bonn, com uma tese sobre Schelling, intitulada: O
seus dados exatos, e é assim precisamente que o filme adestra Absoluto e a História. Entre os anos de 1956 e 1959, foi assis-
o espectador entregue a ele para se identificar imediatamente
com a realidade. Atualmente, a atrofia da imaginação e da es- tente de Theodor Adorno na Escola de Frankfurt.
pontaneidade do consumidor cultural não precisa ser reduzida a Em 1968, transferiu-se para os Estados Unidos, passando
mecanismos psicológicos. Os próprios produtos (...) paralisam a lecionar na New School for Social Research de Nova York
essas capacidades em virtude de sua própria constituição objetiva e a partir do ano de 1971, dirigiu o Instituto Max Planck, em
(ADORNO & HORKHEIMER, 1997:119). Starnberg, na Baviera. Já em 1983, transferiu-se para a Uni-
versidade Johann Wolfgangvon Goethe, de Frankfurt onde per-
Integram as Principais Obras de Adorno: a) Kierkega- maneceu até aposentar-se em 1994. Continua, até o presente
ard - A construção do estético,1933; b) A Ideia de História momento, muito produtivo, publicando novos trabalhos a cada
Natural ,1932; c) Minima Moralia ,1945; d) Dialética do Es- ano e ainda participa de debates e escreve em jornais, como
clarecimento,1947; e) Dialética Negativa, 1966; f) Teoria Es- cronista político.
tética,1968. Configuram–se como as principais obras de Habermas: a)
A unificação da função intelectual, graças à qual se efetua a Técnica e Ciência como “Ideologia”, [1968] (1994); b) Commu-
dominação dos sentidos, a resignação do pensamento em vista nication and the Evolution of Society [1976] (1995), c) “A Nova
da produção da unanimidade, significa o empobrecimento do Opacidade: A Crise do Estado- Providência e o Esgotamento
pensamento bem como da experiência (Adorno e Horkheimer, das Energias Utópicas”, (1985a); d) O Discurso Filosófico da
1997;110). Modernidade, [1985b] (1990); e) “Tendências de Juridicização”,
(1987); f) The Dialectics of Secularization (2007).

102
Uma visão histórica da Escola de Frankfurt e de sua teoria crítica
Christiane do Vale Leitão Dissertar
Habermas questiona que a razão seja meramente a capa- A Teoria Crítica
cidade de manipular corretamente regras formais. Para se apli- A Teoria Crítica apresenta um espectro de atuação bem
car o conceito de razão à prática e à moral, torna-se necessária amplo e nomeia todas as teorias que se pautam pela negação da
uma concepção mais abrangente: a razão dialógica ou comuni- ordem estabelecida, pelo anti-positivismo, pela busca de uma so-
cativa. Com este debate, Habermas começa a se distanciar dos ciedade mais justa e humana. Quando falamos em Teoria Crítica,
seus mestres e formula uma discussão original: A Teoria da ação referimo-nos ao pensamento de um grupo de intelectuais marxis-
comunicativa – racionalidade comunicativa: mundo vivido e a tas não ortodoxos, alemães, alguns deles filhos de judeus, que, a
concepção sistêmica. partir dos anos 1920, desenvolveram pesquisas e intervenções te-
A Razão subjetiva (dialógica) para Habermas constitui- óricas sobre problemas filosóficos, econômicos, sociais, culturais,
-se no resultado de um diálogo, em que dois indivíduos, atra- estéticos gerados pelo capitalismo de sua época e influenciaram,
vés de argumento, chegam a um acordo. A razão não é mono- de certo modo, o pensamento ocidental particularmente dos anos
lógica, mas dialógica. Esta razão não é inata, transcendental; é 40 aos anos 70 do século passado.
a intersecção de três mundos: o objetivo, o social e o subjetivo A Teoria Crítica representa uma inflexão teórica no pensa-
dos afetos. mento social predominante na primeira metade do século XX.
Como diz Habermas, a ação comunicativa ocorre: Prevalecia, então, o pensamento orientado pela Teoria Positivista,
... sempre que as ações dos agentes envolvidos são coordenadas, fundada por Augusto Comte, e o Idealismo Alemão, defendido
não através de cálculos egocêntricos de sucesso, mas através por Schelling, Fichte e Hegel. A primeira funda-se no empirismo
de atos de alcançar o entendimento. Na ação comunicativa, os – o conhecimento sensível das coisas – perspectiva que toma as
participantes não estão orientados primeiramente para o seu pró- coisas como estas se apresentam, como realidades dadas e sobre
prio sucesso individual, eles buscam seus objetivos individuais as quais não cabem transformações.
respeitando a condição de que podem harmonizar seus planos de
ação sobre as bases de uma definição comum de situação. Assim, Já o Idealismo Alemão, anterior ao Positivismo, tem sua ori-
a negociação da definição de situação é um elemento essencial do gem no cogito ergo sum de René Descartes (“Penso, logo, existo”) e
complemento interpretativo requerido pela ação comunicativa. no primado do pensamento (razão) sobre o conhecimento material e
(1984, p. 285, 286). objetivo. Com raízes no romantismo e na teologia, procura explicar
a sociedade tendo a razão como perspectiva. No viés idealista, a
A Teoria da ação comunicativa permite reconstruir a his- realidade social pode ser criada a partir de ditames razoáveis.
tória da sociedade na medida em que consegue abarcar a sua O termo “Teoria Crítica” se consagrou a partir do artigo de
complexidade. A modernidade tem, ao menos, duas vantagens: Max Horkheimer, em 1937 “Teoria tradicional e teoria crítica”,
1) desenvolveu os meios técnicos para satisfazer todas as ne- escrito no exílio, nos Estados Unidos, em que o autor prefere utili-
cessidades do homem; 2) substituiu as crenças religiosas por zar essa expressão para fugir da terminologia “materialismo histó-
sistemas de normas e valores consensualmente elaborados pelo rico” utilizada pelo marxismo ortodoxo, hegemônico na época, ao
atores do sistema. qual criticava por razões políticas e, sobretudo, por querer mostrar
Para Habermas toda relação comunicativa se insere em um que a teoria de Marx era atual, mas devia se importar em suas
contexto de normas sociais, que interage com a vontade do indi- reflexões com outros aspectos críticos presentes na abordagem da
víduo e refere-se a um terceiro elemento externo. realidade: o filosófico, o cultural, o político, o psicológico e não
Nas palavras de Habermas, se deixar conduzir predominantemente pela análise economicista.
... à medida que o potencial embutido na ação comunicativa é Diz ele, no ensaio “Filosofia e Teoria Crítica”, também de 1937: 
realizado, o núcleo normativo arcaico se dissolve e abre caminho Em meu ensaio “Teoria Tradicional e Teoria Crítica” apontei a
para a racionalização das visões de mundo, para a universalização diferença entre dois métodos gnosiológicos. Um foi fundamen-
da lei e da moralidade e para uma aceleração dos processos de tado no Discours de la Méthode [Discurso sobre o Método],
individuação (1987a, p. 4b). cujo jubileu de publicação se comemorou neste ano, e o outro,
na crítica da economia política. A teoria em sentido tradicional,
cartesiano, como a que se encontra em vigor em todas as ciências
Desta feita, especializadas, organiza a experiência à base da formulação de
... a comunidade religiosa que fez, pela primeira vez, possível questões que surgem em conexão com a reprodução da vida
a cooperação social é transformada em uma comunidade de dentro da sociedade atual. Os sistemas das disciplinas contém
comunicação baseada na pressão para cooperação. A interação os conhecimentos de tal forma que, sob circunstâncias dadas,
guiada pela norma muda sua estrutura à medida que as funções são aplicáveis ao maior número possível de ocasiões. A gênese
de reprodução cultural, integração social, e socialização [ou seja, social dos problemas, as situações reais nas quais a ciência é
a reprodução simbólica do mundo da vida] passam do domínio do empregada e os fins perseguidos em sua aplicação, são por ela
sagrado para aquele da prática comunicativa cotidiana (1987a, p. mesma consideradas exteriores. – A teoria crítica da sociedade,
91)”. Habermas, J. (1987a) The theory of communicative action. ao contrário, tem como objeto os homens como produtores de
Vol 2. Lifeworld and system: A critique of functionalist reason. todas as suas formas históricas de vida. As situações efetivas, nas
“Boston, Beacon Press. quais a ciência se baseia, não são para ela uma coisa dada, cujo
único problema estaria na mera constatação e previsão segundo
as leis da probabilidade. O que é dado não depende apenas da
A racionalidade da comunicação está na prática e seus natureza, mas também do poder do homem sobre ele. Os objetos
efeitos. Comunicar não é apenas trocar informações, mas é agir, e a espécie de percepção, a formulação de questões e o sentido
interferir na ação e modificar atitudes em diferentes escalas. da resposta dão provas da atividade humana e do grau de seu
A Esfera pública é o conjunto dos espaços de discussão poder. (Horkheimer, Filosofia e Teoria Crítica, 1968b, p. 163) 
social onde a partir do livre debate, procura-se um consenso. A
expressão “esfera pública” está diretamente ligada a espaço pú- São características determinantes da referida escola: a) O des-
blico e opinião pública e é regida pelo aparecimento da imprensa prezo pela ação revolucionária física ou material e por uma ação
e desenvolvimento das mídias a partir do século XVIII com a contínua e cultural, devidamente disfarçada de intelectualismo con-
ascensão da burguesia como classe dominante. testatório; b) viés marxista, muito embora fosse uma tentativa de

103
Dissertar Uma visão histórica da Escola de Frankfurt e de sua teoria crítica
Christiane do Vale Leitão

reinterpretação do marxismo e da reinterpretação do mundo pelo Filosofia da Arte, UFMG, sob a liderança de Rodrigo Duarte e com
marxismo; c) criticismo e a forte contestação generalizada da cultura a participação de Eduardo Soares Neves Silva e de Verlaine Freitas;
ocidental que cegava as classes e permitia o domínio imperialista; d) n) Estudos sobre Ética e Estética, UFOP, sob a liderança de Douglas
desestabilização de valores profundamente arraigados. Garcia Alves Junior.
Três grandes momentos da teoria crítica: a) Nas reflexões
até 1950 notava–se a orientação dos estudos nos prismas so- Considerações Finais
ciológicos e filosóficos; b) Após o retorno a Frankfurt, com a A escola pregava que certos elementos presentes na civili-
reconstrução do Instituto e já sob a direção de Adorno, a cultura e zação representavam fortes óbices à verdadeira transcendência e
a estética ganham relevância; c) Com o início da década de 70 é à genuína liberdade individual.
Habermas que assume a liderança na busca de fundamentar uma Dessa forma, em teoria, faziam oposição a valores da so-
teoria da ação comunicativa. ciedade ocidental como a noção de moralidade, religião, família,
Há inúmeros pesquisadores na Alemanha e em outros países conceitos variados como estética, Arte, etc.
que continuam a tradição dos primeiros pesquisadores da Escola Através da lente do marxismo observavam a sociedade,
de Frankfurt. Dentre eles podemos citar, na Alemanha, os doutores tecendo a ela sua oposição através da “Teoria Crítica”, visando
Christoph Türcke (Univ. de Leipzig), Andreas Gruschka (Univ. de uma transformação dialética da cultura ocidental, deturpada e
Frankfurt), Detlev Claussen (Univ. de Hannover), Alex Demirovič que leva a humanidade a perder as suas essências.
(Technische Universität Berlim); na Espanha, Jose Antonio Zamora A reinterpretação da sociedade se dava em várias frentes
(CSIC/Madrid), Mateu Cabot (Universitat de les Illes Balears); em de contestação como a crítica: da Arte; ao sistema capitalista; ao
Israel, Ilan Gur Ze’ev (Univ. de Haifa); nos Estados Unidos, Susan consumo e a cultura massiva; à indústria cultural e a coisificação
Buck-Morss (City University of New York – CUNY), Martin Jay do homem através da alienação do ser.
and Douglas Kellner (Univ. of California), entre outros. Por fim, representa uma crítica à sociedade envenenada
No Brasil existem vários grupos de pesquisas que atualmente por um capitalismo perverso, dominado por poderosos que tor-
trabalham com a Teoria Crítica e a Educação, particularmente com nam as pessoas coisas - coisificação, anulando-lhes a capacidade
as contribuições conceituais de Theodor W. Adorno, Walter Benja- de “ser no mundo”, de ser pensante e com consciência de classe.
min e Herbert Marcuse: a) Teoria Crítica e Educação, da UNIMEP, Assim, a Escola de Frankfurt torna-se conhecida por de-
sob a liderança de Bruno Puccie, Belarmino César G. da Costa e senvolver uma “teoria crítica da sociedade”, que é um modo de
com a participação de Nilce Maria A. de Arruda Campos e Luzia fazer filosofia integrando os aspectos normativos da reflexão fi-
Batista de Oliveira Silva; b) Teoria Crítica e Educação da UFSCar, losófica e confrontando-os com as questões sociais, visto que o
sob a liderança de Antônio Álvaro Soares Zuin e Newton Ramos de objetivo é fazer a crítica, buscando o entendimento e promoven-
Oliveira, com participação de Luiz Roberto Gomes; c) Tecnologia, do a transformação da sociedade.
cultura e formação, da UNESP-Araraquara, sob a liderança de Re-
nato Franco e de Luiz Antônio Calmon Nabuco Lastória, com parti- Referências bibliográfias
cipação de Paula Ramos de Oliveira; d) Estética, Mídia e Educação COMTE, A. Curso de filosofia positiva; discurso sobre o espírito posi-
contemporânea, da UEM-Maringá, sob a liderança de Luiz Herme- tivo; discurso preliminar sobre o conjunto do positivismo; catecismo;
negildo Fabiano; e) A Teoria da Educação de Adorno e sua apropria- positivista; seleção de textos de Jose Arthur Giannotti. 2ª ed. São Paulo:
Abril Cultural, 1983.
ção para análise do currículo e de práticas escolares, da PUC-Minas,
sob a liderança de Rita Amélia Teixeira Vilella; f) Teoria Crítica da FREITAG, Barbara. A Teoria crítica: ontem e hoje. 2a. Ed. São Paulo:
Brasiliense, 1988.
Sociedade, Racionalidades e Educação, da UFSC, sob a liderança
__________. Por Habermas e a teoria da Modernidade, por Caderno
de Alexandre Fernandez Vaz; g) Teoria Crítica e Literatura, da UNI- CRH, vol. 8, n° 22 (1995).
CAMP, sob liderança de Fabio Durão; h) Teoria Crítica e Educação, FREITAG, B; Rouanet, S.P - Habermas. São Paulo, Ática, 1980.
da UFLA – Universidade Federal de Lavras, sob a liderança de Lu-
HABERMAS, J. The theory of communicative action. Vol 2. Lifeworld
ciana Azevedo Rodrigues; i) Teoria Crítica como teoria da mudança and sistem: A critique of functionalist reason. Boston, Beacon Press”, 1987.
social: cultura, filosofia, psicanálise, sob a liderança de Robespierre __________. O Discurso filosófico da modernidade. Trad. Ana Maria
de Oliveira, UEM, PR.; j) Teoria Crítica e Filosofia Social, UFU, sob Bernardo e outros. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1990.
a liderança de Rafael Cordeiro Silva; l) Racionalidade e Educação, HORKHEIMER, M., e ADORNO, T. W..- Dialética do Esclarecimen-
UFPel, sob a liderança de Avelino da Rosa Oliveira; m) Estética e to: Fragmentos filosóficos. Trad. Guido Antonio de Almeida. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
Horkheimer, Max e Adorno Theodor - Dialética do Esclarecimento,
Ed. Jorge Zahar, 1988.
MATOS, Olgária. A Escola de Frankfurt: luzes e sombras do Iluminismo.
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PINTO,F. Cabral - Leituras de Habermas.Lisboa. São Paulo: Fora do
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SLATER, Phil. Origem e significado da Escola de Frankfurt. Tradução
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THEODOR, adorno. Educação e Emancipação, Ed. Paz e Terra, 1975.
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 WIGGERSHAUS, Rolf. A Escola de Frankfurt: história, desenvolvimento
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e Vera de Azambuja Harvey (do francês). Rio de Janeiro: DIFEL, 2002.

FONTE: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=240 Artigo enviado em 23/03/2016, aceito em 16/04/2016

104
Formas de participação, normas e política Dissertar
editoriais
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Exemplos de Citação em Referências:


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