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Maria João Valente Rosa

Paulo Chitas

Portugal: os Números

Ensaios da Fundação
Índice

Nota Introdutória 9

1. População 11
1.1. Portugal na barreira dos 10 milhões 11
1.2. Mães menos jovens e com menos filhos 14
1.3. Vitória sobre a morte precoce 17
1.4. Com mais tempo de vida e mais envelhecidos 19
1.5. Cada vez mais dependentes da imigração para crescer 22

2. O Estado Social 26
2.1. Mais investimento na educação, saúde e protecção social 26
2.2. Educação, Conhecimento e Cultura 29
2.2.1. Escola para todos 29
2.2.2. Educação, a revolução feminina 33
2.2.3. O ensino superior: expansão e vias de
qualificação avançada 35
2.2.4. Investigação e ciência: na rota da excelência 38
2.2.5. Mais próximos dos livros e dos espaços de cultura
e de conhecimento 41
2.3. Saúde 44
2.3.1. A «medicalização» da sociedade 44
2.3.2. Mais recursos humanos numa infra­‑estrutura
reorganizada 46
2.3.3. Diferentes riscos para a vida 49
2.4. Protecção Social 52
2.4.1. A universalização dos direitos sociais 52
2.4.2. Proteger os cidadãos face ao não­‑trabalho 55
2.4.3. Funcionários públicos: um caso à parte 58

3. Trabalho e Rendimentos 62
3.1. Algumas das facetas do emprego e do desemprego 62
3.2. Maiores rendimentos para um menor tempo de trabalho 66
3.3. Emprego: mulheres ainda diferentes 69
3.4. Os altos e baixos da economia 72
3.5. Empresas, um universo em pequena escala 75

4. Justiça 79
4.1. Mais profissionais da justiça e espaços de decisão 79
4.2. O crescente movimento dos tribunais 82
4.3. Uma sociedade menos pacífica ou mais vigilante? 84

5. Famílias e Modos de Vida 88


5.1. As famílias «clássicas» aumentam e encolhem 88
5.2. Menos casamentos, mais divórcios 90
5.3. Melhores habitações, mais consumo 93
5.4. Actividades de diversão e de informação massificam­‑se 97

Notas Finais 101


Nota Introdutória

Se por algum exercício de ficção os portugueses de hoje acordas‑


sem no ambiente do início dos anos 60, sobretudo junto ao litoral e
nas grandes zonas urbanas, sentir­‑se­‑iam bastante desconfortáveis e,
por certo, com uma enorme estranheza em relação a tudo o que
acontecia em seu redor. Era o seu País — mas irreconhecível. Com
efeito, em cinco décadas, o panorama político, social, cultural e
económico de Portugal mudou radicalmente.
Propor uma leitura de Portugal para as últimas cinco décadas,
através de tendências que deixaram marcas nos factos (isto é, em
dados estatísticos), foi o objectivo deste texto.
Sabemos, actualmente, muito mais a propósito do presente e do
passado do que há uns anos. Um desses avanços no conhecimento é
resultado da maior produção de dados estatísticos sobre os mais
variados sectores da sociedade.
A Pordata — base de dados de Portugal Contemporâneo — serviu
de ponto de partida a este ensaio. Neste banco de informação esta‑
tística, acessível a todos através da Internet e em permanente actua‑
lização, encontram­‑se, na forma de séries cronológicas, mais de 750
quadros para diversos temas da sociedade portuguesa, informação
que se inicia, sempre que possível, em 1960 e se prolonga até à ac‑
tualidade. A nossa análise circunscreve­‑se aos dados aqui publicados
até ao final de Abril de 2010. Tratando­‑se de um vasto repositório do
que mais significativo aconteceu no País, abstemo­‑nos de procurar
outro tipo de informação estatística não incluída nesta base de dados.
A ideia deste texto não foi, obviamente, a de reproduzir o conte‑
údo desses vastíssimos quadros, mas sim descortinar tendências
globais da sociedade portuguesa e sobre elas propor uma leitura.
Ensaiámos, portanto, uma interpretação da situação actual do País,
através dos dados estatísticos, lembrando a propósito do seu presen‑
te, do que somos, o seu passado, o que fomos.
Pretende­‑se, assim, destacar e dar a conhecer algumas das tendên‑
cias da nossa vida social, económica e cultural — através de um
texto simples e claro, embora fazendo uso do rigor das estatísticas.
De forma a não pesar demasiado o texto, excluíram­‑se as referências
de carácter metodológico às séries estatísticas, as quais estão dispo‑
níveis em www.pordata.pt.
Tentámos que a interpretação compreendesse um conjunto vasto
de diversos aspectos da sociedade portuguesa. Nesse sentido, o texto
organiza­‑se em torno de cinco grandes temas: População; Estado
Social (no qual se incluem as áreas da Educação, Conhecimento e
Cultura, da Saúde e da Protecção Social); Trabalho e Rendimentos;
Justiça; Famílias e Modos de Vida. Para cada tema, naturalmente
inesgotável, deu­‑se destaque a factos ou tendências que considerá‑
mos marcantes, através de breves textos que exploram a informação
estatística. A viagem para a leitura de Portugal é, assim, feita na
forma de pequenas análises que se propõem em torno de cada tema.
Naturalmente que outras histórias poderiam ser contadas. Esco‑
lhemos as que considerámos mais importantes e, por isso, esperamos
que este livro constitua mais um contributo para o conhecimento e a
reflexão informada sobre a sociedade portuguesa.

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1. População

1.1. Portugal na barreira dos 10 milhões

População residente
Milhões

Foram profundas as alterações de Portugal entre o início dos anos


60 e a actualidade, designadamente: envolvimento, com início em
1961, numa guerra colonial em três frentes — Angola, Moçambique
e Guiné­‑Bissau; colossal surto de emigração até 1973; mudança de
regime político, em 1974; processo de descolonização e de naciona‑
lização de vastos sectores da economia, em 1975; adesão, formaliza‑
da em 1986, do País à então Comunidade Económica Europeia
(hoje União Europeia); reprivatização de alguns sectores da econo‑
mia, nos anos 80 e 90; entrada em circulação de uma nova moeda (o
Euro), em 2002; participação na globalização económica e financei‑
ra mundial, na última década. Estes acontecimentos mudaram a fi‑
sionomia do País.
As marcas destas alterações são evidentes, embora, curiosamente,
entre 1960 e a actualidade o número de residentes em Portugal pou‑
co tenha variado.
Em 1960, Portugal contava com 8,9 milhões de residentes1. Vinte
e cinco anos depois (em 1985), atinge os 10 milhões de residentes,
patamar onde se manteve até hoje. Em 2001, o total de residentes
passou para 10,4 milhões. As estimativas mais recentes do Instituto
Nacional de Estatística (INE) apontam para 10,6 milhões, em 2008.
Assim, entre 1960 e 2008 — período de quase cinco décadas —, a
população teve um aumento de cerca de uma pessoa em cada cinco.
Uma leitura mais atenta da evolução da população de Portugal
permite, apesar de tudo, encontrar variações importantes no número
de residentes. Houve, assim, períodos em que o aumento da popula‑
ção foi relativamente elevado face a outros em que a população
praticamente não variou, ou que chegou mesmo a diminuir.
O período mais marcado pelo decréscimo populacional situou­‑se
entre meados dos anos 60 e meados dos anos 70. Entre 1964 e 1973,
a população portuguesa perdeu cerca de 400 mil residentes. E por‑
quê? Não foi por não haver nascimentos suficientes, pois o seu nú‑
mero foi largamente superior ao total de óbitos (o que significa que
aquilo a que se chama «saldo natural» foi claramente positivo). En‑
tre 1964 e 1973, o número total de nascimentos ultrapassou o de
óbitos em cerca de 970 mil indivíduos (uma média de mais 97 mil
nascimentos que óbitos por ano). O que justificou a diminuição da
população residente foi que muitos portugueses passaram a ir viver
para outros países, ultrapassando largamente o número de estrangei‑
ros que fixaram residência em Portugal. Assim, a população dimi‑
nuiu em virtude daquilo a que se chama o «saldo migratório» (dife‑
rença entre os que entram e os que saem do território nacional) ter
sido fortemente negativo: entre 1964 e 1973, o número de emigran‑

1 Ao longo deste ensaio, privilegiaram­‑se os dados dos recenseamentos sobre a


população (1960, 1970, 1981, 1991 e 2001). Contudo, em certas análises, neste e
noutros capítulos, recorreu­‑se, sempre que necessário para avaliar situações mais
recentes, às estimativas anuais realizadas pelo Instituto Nacional de Estatística.

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tes (os que saíram) ultrapassou o número de imigrantes (os que en‑
traram) em quase um milhão e meio de indivíduos.
Entre 1974 e o início dos anos 80, Portugal recuperou a quebra
populacional observada na fase anterior. Nesse período, chegaram
mesmo a registar­‑se aumentos populacionais anuais muito intensos:
de 1974 a 1976 o número de residentes aumentou em cerca de 600
mil indivíduos. Assim, associado a um número total de nascimentos
que se manteve muito superior ao número de óbitos, o saldo migra‑
tório registou uma inversão muito significativa. Passou, nesse perí‑
odo, de negativo a fortemente positivo, devido ao importante volu‑
me de entradas em Portugal (nomeadamente o regresso de emigran‑
tes — vindos sobretudo da Europa — e da deslocação de portugue‑
ses que viviam nas ex­‑colónias). Apenas entre 1974 e 1975, o núme‑
ro de entradas excedeu o número de saídas em mais de meio milhão
de pessoas.
Após este período de «euforia» demográfica, o crescimento da
população voltou a desacelerar, chegando mesmo a verificar­‑se uma
diminuição do número de residentes entre 1987 e 1991 (em cerca de
62 mil indivíduos). A explicar esta evolução estiveram, por um lado,
a diminuição dos nascimentos e a sua aproximação ao número total
de óbitos: com efeito, entre os anos de 1982 e de 1992, o número de
nascimentos superou o número de óbitos em apenas 332 mil indiví‑
duos (uma média de mais 30 mil nascimentos que óbitos por ano).
Por outro lado, os saldos migratórios voltaram de novo a ser negati‑
vos, embora estes, em termos de grandeza, em nada sejam compará‑
veis com os observados até 1973. Entre 1982 e 1992 saíram (emi‑
grantes) aproximadamente mais 242 mil pessoas do que entraram
(imigrantes), registando­‑se um saldo médio anual negativo de 22 mil
indivíduos.
De 1993 a 2008 entra­‑se numa nova fase de dinâmica demográfi‑
ca. Nesse período, Portugal passou a contar com cerca de mais 640
mil pessoas. A partir de 1993 os saldos migratórios começam a
apresentar­‑se persistentemente positivos (o excesso de entradas no
território em relação às saídas foi, neste período, superior a meio
milhão de indivíduos). Assim, o aumento populacional fez­‑se à cus‑
ta do saldo migratório, dado que o saldo natural se aproximou de
zero (entre 1993 e 2008 o número de nascimentos ultrapassou o
número de óbitos em menos de 100 mil, uma média, portanto, de
apenas mais 6 mil nascimentos que óbitos por ano).

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