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21/09/21, 15:45 Correio da Cidadania

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‘Estamos no campo do imponderável e acho difícil que o aumento
da repressão detenha as manifestações’
Colunistas
Ambiente e
dgpjvaU
Gabriel Brito, da Redação
21/02/2014
Já se pre­pa­rando para a festa da Copa do Mundo e o pro­cesso elei­toral sub­se­quente, o go­verno Cidadania
bra­si­leiro tenta ace­lerar as pautas de en­ri­je­ci­mento das leis pe­nais. Após a morte do ci­ne­gra­fista da
Ban­dei­rantes, San­tiago An­drade, tal in­tenção ficou ainda mais evi­dente, com a ten­ta­tiva de im­pul­si-­ Amyra El Khalili
onar no Con­gresso pro­jeto de lei que ti­pi­fica o ter­ro­rismo.
“Pre­ci­samos deixar bem claro que é com­ple­ta­mente la­men­tável a morte do San­tiago, como são
com­ple­ta­mente la­men­tá­veis todas as ou­tras mortes ocor­ridas em ma­ni­fes­ta­ções, assim como todas Cassiano Terra
as de­mais mortes que ocorrem pela ação vi­o­lenta do Es­tado. Mas que existe uma dis­puta po­lí­tica
sobre o fato é muito claro”, afirmou ao Cor­reio o ad­vo­gado Ro­dolfo Va­lente, que já prestou au­xílio ju-­ Rodrigues
rí­dico a di­versos ma­ni­fes­tantes presos nos úl­timos tempos.
Eduardo
Na con­versa, Va­lente mos­trou não ter dú­vidas de que es­tamos em pleno acir­ra­mento po­lí­tico em re-­
lação ao ano pas­sado. Dessa forma, acre­dita que a re­pressão re­al­mente virá com toda a sua força,
Gudynas
uma vez que o go­verno, em re­lação aos atuais pro­testos, “faz uma aposta no con­ser­va­do­rismo”.
Além disso, o ad­vo­gado também contou como tem sido o tra­balho da­queles que de­fendem os Frei Betto
presos em atos, “pra­ti­ca­mente todos a esmo”.
“O Es­tado age assim co­ti­di­a­na­mente. Por­tanto, já do­mina essa téc­nica da se­le­ti­vi­dade penal. E
também da pró­pria fi­na­li­dade do sis­tema penal, que é con­tin­gen­ciar e con­trolar a po­breza. Quando Fernando Silva
há um mo­mento de as­censão de mo­vi­mentos so­ciais, o mesmo Es­tado Penal se volta contra tais
ma­ni­fes­ta­ções e co­mete exa­ta­mente as mesmas ile­ga­li­dades”, re­sumiu.
A en­tre­vista com­pleta com Ro­dolfo Va­lente, mais uma re­a­li­zada ao lado da we­brádio Cen­tral3, pode Gabriel Brito
ser lida a se­guir.
Cor­reio da Ci­da­dania: Pri­mei­ra­mente, como você en­cara o quadro po­lí­tico bra­si­leiro, com
suas ma­ni­fes­ta­ções de rua, neste início de ano? Con­si­dera que a con­jun­tura de 2013 se
Guilherme
acirrou para o novo ano?
Ro­dolfo Va­lente: Sem dú­vida. Até antes de 2013. A gente já vinha na as­censão do acir­ra­mento,
Delgado
desde a en­trada do Par­tido dos Tra­ba­lha­dores no go­verno até a es­tru­tu­ração de novos mo­vi­mentos
Joana Salém
e a gui­nada à di­reita, cada vez mais, do go­verno deste mesmo par­tido.
No início do ano, sem dú­vida ne­nhuma, com a con­jun­tura de elei­ções e toda a mo­vi­men­tação e ar­ti-­
Vasconcelos
cu­la­ções de con­tes­tação à Copa do Mundo, com o pano de fundo da com­pleta falta de ser­viços pú-­
blicos bá­sicos para a mai­oria da po­pu­lação, es­tamos num nível bas­tante avan­çado em termos de Léo Lince
acir­ra­mento po­lí­tico.
Cor­reio da Ci­da­dania: O que teria a co­mentar sobre a atual co­moção em torno da morte do ci-­
ne­gra­fista San­tiago An­drade, da Rede Ban­dei­rantes, por ora atri­buída aos ma­ni­fes­tantes? Luiz Eça
Con­si­dera que sua morte está sendo dis­pu­tada po­li­ti­ca­mente – a des­peito dos óbitos an­te­ri-­
ores ve­ri­fi­cados de junho pra cá?
Ro­dolfo Va­lente: A dis­puta po­lí­tica é clara e evi­dente. Em pri­meiro lugar, pre­ci­samos deixar bem Luis Fernando
claro que é com­ple­ta­mente la­men­tável a morte do San­tiago, como são com­ple­ta­mente la­men­tá­veis
todas as ou­tras mortes ocor­ridas em ma­ni­fes­ta­ções, assim como todas as de­mais mortes que Novoa Garzon
ocorrem no con­texto da ação vi­o­lenta do Es­tado. Mas que existe uma dis­puta po­lí­tica sobre o fato é
Marcelo
muito claro, e a co­ber­tura, por exemplo, da Globo, é muito sin­to­má­tica.
Em prin­cípio, se­quer é pos­sível afirmar com toda a con­vicção que se ex­pressa por aí que aquele ar-­
Castañeda
te­fato ou rojão foi ati­rado por algum ma­ni­fes­tante. Não há se­quer prova cabal disso. Além do mais,
temos todos os furos da in­ves­ti­gação, feita de ma­neira com­ple­ta­mente aço­dada e obs­cura. Paulo Metri
Há, por­tanto, con­tra­di­ções enormes em torno do fato e a dis­puta po­lí­tica fica ainda mais clara
quando ve­ri­fi­camos os in­te­resses em jogo. Há muitos in­te­resses nos pró­prios atos, e esse ato do
Rio de Ja­neiro foi jus­ta­mente contra o au­mento da ta­rifa, a mesma pauta que fez ex­plodir as ma­ni-­ Paulo
fes­ta­ções de junho de 2013. E há também, sem dú­vida, in­te­resse em abafar as ma­ni­fes­ta­ções e cri-­
mi­na­lizar quem par­ti­cipa delas. A dis­puta po­lí­tica se dá ba­si­ca­mente a partir daí. Tanto é assim que, Passarinho
dias de­pois de acon­tecer o la­men­tável fato da morte do San­tiago, já foi dis­cu­tido no Se­nado, vol-­
tando à ordem do dia, a pauta da ti­pi­fi­cação do ter­ro­rismo. Ramez Philippe

Maalouf
https://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=9369:manchete210214&catid=34:manchete 1/3
21/09/21, 15:45 Correio da Cidadania

Agora, o go­verno fe­deral já acena com ou­tros pro­jetos de lei para cri­mi­na­lizar ma­ni­fes­tantes que es-­
tejam com pano no rosto e au­mentar penas para crimes re­la­ci­o­nados, ou pre­ten­sa­mente re­la­ci­o-­ Telma Monteiro
nados, às ma­ni­fes­ta­ções.
Cor­reio da Ci­da­dania: E como você ana­lisa as ini­ci­a­tivas do go­verno, tanto no campo par­la-­
mentar como na ma­neira de lidar com os pro­testos nas ruas, du­rante os atos em si, através
Virgílio Arraes
de seus apa­ratos e também porta-vozes?
Ro­dolfo Va­lente: Penso que o go­verno faz uma aposta po­lí­tica no con­ser­va­do­rismo. Nós es­tamos
Wladimir Pomar
em ano de eleição e o go­verno não quer correr riscos. Como ga­ran­tidor e gestor do ca­pital, e sua
forma po­lí­tica, através do Es­tado, o go­verno age nesse sen­tido. Penso eu que vai se dar mal.
Ex colunistas
Porque as con­tra­di­ções estão cada vez mais claras e es­gar­çadas. É cada vez mais di­fícil sus­tentar a
más­cara do pre­tenso re­pu­bli­ca­nismo e do es­pí­rito de­mo­crá­tico. Cada vez mais, está claro que o in-­ Fábio Luís
tento é de cri­mi­na­lizar e de­sar­ti­cular as ma­ni­fes­ta­ções.
Cor­reio da Ci­da­dania: Como tem sido a vida dos ad­vo­gados que tentam de­fender os ma­ni­fes-­
tantes presos, muitos sa­bi­da­mente a esmo, e como o Es­tado tem tra­tado tais de­tidos? Estão Henrique Júdice
ocor­rendo ame­aças extra-le­gais?
Ro­dolfo Va­lente: O Es­tado já age assim co­ti­di­a­na­mente. Nas pe­ri­fe­rias, contra a ju­ven­tude pobre e
negra, o pa­drão de ação do Es­tado já é esse. Por­tanto, o Es­tado já do­mina a téc­nica da se­le­ti­vi­dade Jorge Almeida

penal. E também da pró­pria fi­na­li­dade ma­te­rial do sis­tema penal, que é con­tin­gen­ciar e con­trolar a
po­breza, ga­ran­tindo as de­si­gual­dades pro­du­zidas e re­pro­du­zidas pelo ca­pital.
Luiz Antonio Magalhães
Quando há um mo­mento de as­censão de mo­vi­mentos so­ciais, como vem acon­te­cendo, so­bre­tudo
de junho pra cá, o mesmo Es­tado Penal se volta contra tais ma­ni­fes­ta­ções e co­mete exa­ta­mente as
mesmas ile­ga­li­dades.
Mateus Alves
Por­tanto, o pa­drão que vemos tanto nas ruas como nas de­le­ga­cias é de pri­sões a esmo. Eu não
diria que muitas, eu diria que pra­ti­ca­mente todas as pri­sões são a esmo. Tanto que ge­ral­mente elas
acon­tecem no final das ma­ni­fes­ta­ções e no mo­mento da dis­persão. Claro que é pra­ti­ca­mente im­pos-­ Osiris Lopes Filho
sível in­di­vi­du­a­lizar qual­quer con­duta ali. Os po­li­ciais sim­ples­mente prendem quem ficou pra trás. E
na de­le­gacia se faz a “dis­tri­buição” dos crimes ao al­ve­drio e bel prazer dos de­le­gados e po­li­ciais.
Eu pes­so­al­mente nunca fui ame­a­çado. O que já acon­teceu é ten­tarem me dar voz de prisão, em ato Waldemar Rossi
pelo trans­porte pú­blico na re­gião do Grajaú. Quando tentei me apro­ximar das pes­soas presas, pe-­
diram para eu sair. Pedi a iden­ti­fi­cação do po­li­cial, ele me deu voz de prisão, mas se­gundos de­pois
de­sistiu. Foi o má­ximo que passei. Ameaça di­reta nunca re­cebi e, quanto a ou­tros ad­vo­gados, sei Consciência Negra

através da im­prensa.
Cor­reio da Ci­da­dania: Di­ante desses fatos, o que você es­pera para os pró­ximos meses, com a
Dicionário da Cidadania
pro­xi­mi­dade da Copa do Mundo, e toda sua blin­dagem, e do pro­cesso elei­toral? Acre­dita que
a morte do ci­ne­gra­fista, e o clima de terror que se pro­cura criar em torno a ela, possam deter
de algum modo a força das ruas? Gabriel Perissé
Ro­dolfo Va­lente: Nós es­tamos no campo do im­pon­de­rável. Sem dú­vida ne­nhuma, é fato que a re-­
pressão vem, e vem na sua má­xima po­ten­ci­a­li­dade. So­bre­tudo na or­ga­ni­zação desse evento de­sas-­
troso que será a Copa do Mundo. Eu acho muito di­fícil tal tipo de re­pressão deter as ma­ni­fes­ta­ções, Elaine Tavares
bem di­fícil mesmo. Pelo con­trário, penso que a es­ca­lada da re­pressão tende a tornar as ma­ni­fes­ta-­
ções ainda mais can­dentes.
Porém, o que acon­te­cerá a partir daí é o im­pon­de­rável. Es­pero que acon­teça o mí­nimo pos­sível de
des­graça. Es­pero que con­si­gamos ter o mí­nimo de pon­de­ração para levar o pro­cesso po­lí­tico adi-­
ante. Mas penso ser di­fícil que as ações do poder pú­blico sejam ca­pazes de dis­su­adir ou de­sar­ti-­
cular as ma­ni­fes­ta­ções.
Clique aqui para ouvir o áudio da en­tre­vista.
Leia também:
Uma se­mana de tiros, ame­aças e ile­ga­li­dade em São Paulo
‘O papo de le­gado da Copa, me­lho­rias em Ita­quera, é um grande en­godo’
Ga­briel Brito é jor­na­lista do Cor­reio da Ci­da­dania.

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