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RESUMO
ABSTRACT
This essay explores the concept of intertextuality, focusing on studies of Bakhtin and Julia
Kristeva, and then it is developed in an analysis of Álvares de Azevedo’s poem É ela! É ela! É
ela! É ela!. This poem establishes a dialogue with texts of Goethe, Shakespeare, Dante and
Petrarch.
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Mestranda em Letras - Área de Concentração em Literatura Brasileira - Centro de Ensino Superior de
Juiz de Fora - CES/JF.
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SECÃO: Artigos Originais
Revista Eletrônica
Fundação Educacional São José
9ª Edição ISSN:2178-3098
1. Introdução
2. Intertextualidade
Para Bakhtin o processo de leitura não pode ser concebido desvinculado da noção de
intertexto, já que o princípio dialógico permeia a linguagem e confere sentido ao discurso,
elaborado sempre a partir de uma multiplicidade de outros textos.
Segundo Julia Kristeva, um texto é uma réplica de outros textos. A linguagem poética
surge como um diálogo de textos lidos pelo escritor.
Umberto Eco afirma: "descobri o que os escritores souberam (e nos disseram muitas e
muitas vezes): os livros sempre falam sobre outros livros, e toda estória conta uma estória que
já foi contada”. (ECO apud Hutcheon, 1988, p. 166)
Oficialmente é Julia Kristeva que compõe e introduz o termo intertextualidade,
primeiramente em 1966, em sua obra A palavra, o diálogo, o romance, e pela segunda vez,
em 1967, na obra O texto fechado, em que precisa a definição de intertextualidade como
"cruzamento num texto de enunciados tomados de outros textos" (KRISTEVA, 1969, p. 115),
"transposição [...] de enunciados anteriores ou sincrônicos" (KRISTEVA, 1969, p. 133).
É a partir da análise e da difusão da obra de Mikhail Bakhtin que Kristeva produz sua
definição: “todo texto se constrói como um mosaico de citações, todo texto é absorção e
transformação de um outro texto”. (KRISTEVA, 1969, p. 145).
De acordo com Philippe Sollers: “Todo texto situa-se na junção de vários textos dos
quais ele é ao mesmo tempo a releitura, a acentuação, a condensação, o deslocamento e a
profundidade". (SOLLERS, 1971, p. 75).
Bakhtin esclarece:
Segundo Barthes:
Para Riffaterre, o texto torna-se "um conjunto de pressuposições de outros textos", daí
a necessidade de compreendê-lo a partir de seu intertexto, então definido como "a percepção
pelo leitor de relações entre uma obra e outra que a precederam ou a seguiram".
(RIFFATERRE apud Compagnom, 1999, p. 113). Estendida ao conjunto do corpus literário, a
noção de intertextualidade reduz, no entanto, seu campo de ação e se torna, assim, um
instrumento decisivo para análise.
Gérard Genette, em sua obra Palimpsestes (1982) define intertextualidade como: "a
presença efetiva de um texto em outro".
Laurent Jenny, em La stratégie de la forme (1976) define intertexto como o texto
"que fala uma língua cujo vocabulário é a soma dos textos existentes".
Schneider afirma que “um texto é feito de fragmentos originais, reuniões singulares,
referências, acidentes, reminiscências, empréstimos voluntários.” (SCHNEIDER, 1985, p.
12).
A intertextualidade pode apresentar-se sob duas formas opostas: a da paráfrase ou a da
paródia.
Na paródia um autor retoma o texto para, de modo geral, satirizá-lo, tratando-o
criticamente com humor, e na paráfrase um autor reescreve o texto sem subvertê-lo, apenas
atualizando-o, conforme o novo contexto histórico-social.
O conceito de paródia tornou-se mais sofisticado a partir de Tynianov, quando ele o
estudou lado a lado com o conceito de estilização.
Para ele:
Segundo Bakhtin:
Faltou-lhe para ser gênio, exclusivamente isso: tempo. Fez vibrar todas as
cordas da lira, do mais ingênuo lirismo ao mais desabusado erotismo. É
zombeteiro e irônico, alegre e triste, vibrante e meigo, sensual e pudico.
Devemos-lhe a introdução do humor na poesia brasileira.
Álvares de Azevedo tinha uma verdadeira obsessão pela leitura e pelo conhecimento
literário. Segundo Luciana Stegagno-Picchio, em História da literatura brasileira:
Álvares de Azevedo, um jovem com uma breve passagem pela vida, tornou-se
imortalizado pelas letras. A fonte de tudo está na leitura dos grandes nomes do romantismo na
época, a maioria em suas línguas de origem. Esse grande conhecimento sobre a literatura
mundial influenciou direta e indiretamente suas obras.
Revista Eletrônica
Fundação Educacional São José
9ª Edição ISSN:2178-3098
Pelos trechos do prefácio, acima citados, Álvares de Azevedo ressalta que na segunda
parte da Lira, estão contidos poemas irônicos, as paródias, e um suposto "satanismo"
encontrado em Noite na Taverna.
A compreensão do significado desse humor em Álvares de Azevedo não é tarefa
difícil, pois Azevedo foi talvez o único poeta romântico brasileiro a deixar registro de uma
teoria sobre a própria criação poética.
Transcreveremos o poema "É ela! É ela! É ela! É ela!" de Álvares de Azevedo para
continuarmos a análise proposta:
roupa, confronta uma imagem angelical de uma musa típica do romantismo com uma cena
prosaica e incompatível com uma mulher idealizada, a imagem de uma mulher lavando
roupas.
Não pude resistir à tentação; fui obrigado a procurá-la. Aqui estou de volta,
Guilherme; vou tomar minha ceia, e te escrever. Que prazer é para mim o
vê-la entre as amoráveis crianças que são os seus irmãos e irmãs. (Goethe, p.
55).
Conclusão
O poema "É Ela! É Ela! É Ela! É Ela!" de Álvares de Azevedo, satiriza a idealização
romântica do amor puro que vence todas as barreiras, até mesmo as barreiras do desnível
social e cultural, o que demonstra que Álvares de Azevedo não fez poemas só de melancolia e
mal de amor, apresentando uma vertente bem humorada, autocrítica e satírica. É um poema
irônico em que Azevedo brinca com o próprio romantismo, ridicularizando-o.
No poema a musa cantada pelo eu-lírico é uma lavadeira desprovida de qualquer
delicadeza ou poeticidade, assim contrariando todas as expectativas de um poema romântico
e, por conseguinte os clichês românticos de representação da mulher pura, ingênua e delicada.
REFERÊNCIAS
ALIGHIERI, Dante. Inferno. In: ______. A divina comédia. Tradução José Pedro Xavier
Pinheiro. São Paulo: Atena , 2003. p.17. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/ texto/eb00002a.pdf>. Acesso em: 19 set.
2011.
AZEVEDO, Álvares de. Lira dos vinte anos. São Paulo: Ciranda Cultural , 2007.
BARTHES, Roland. O prazer do texto. Trad. de J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 1987.
CAVALCANTE, Maria Imaculada. O jogo parodístico na lira dos vinte anos. Revista
Linguagem – Estudos e Pesquisas, Catalão, v. 8-9, 2006.
SANT'ANNA, Affonso Romano de. Paródia, paráfrase & cia. 2. ed. São Paulo: Ática, 1985.