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Módulo 12

VALORIZAÇÃO DOS PRODUTOS


ENDÓGENOS

Curso Profissional: Técnico de Turismo Ambiental e Rural


Disciplina: Ambiente e Desenvolvimento Rural
Ambiente e Desenvolvimento Rural

Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

Índice

Apresentação................................................................................................................3

Objetivos de Aprendizagem...........................................................................................3

1. Identificação dos principais recursos endógenos.........................................................4

1.1. Produtos para consumo em fresco.......................................................................4

1.2. Produtos transformados......................................................................................4

1.3. Consumo humano...............................................................................................5

2. Conhecimentos técnicos dos processos de produção e transformação..........................6

2.1. Produtos da Horta – Exemplos:............................................................................6

2.1.1. Solanáceas......................................................................................................6

2.1.2. Leguminosas....................................................................................................8

2.1.3. Saladas..........................................................................................................10

2.1.4. Couves..........................................................................................................13

2.1.5. Bolbos...........................................................................................................14

2.1.6. Cucurbitáceas: Melancia; melão; pepino..........................................................16

2.1.7. Raízes...........................................................................................................18

2.1.8. Culturas vivazes.............................................................................................19

2.2. Plantas aromáticas e medicinais.........................................................................22

2.3. Cogumelos.......................................................................................................22

2.4. Doces, compotas, conservas..............................................................................23

2.5. Mel...................................................................................................................24

2.6. Pão tradicional..................................................................................................24

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2.7. Azeite e azeitonas.............................................................................................25

2.8. Vinho e outras bebidas alcoólicas.......................................................................26

2.9. Queijos e outros lacticínios................................................................................27

2.10. Enchidos.........................................................................................................28

3. Valorização e promoção dos produtos.......................................................................29

3.1. Regiões Demarcadas.........................................................................................29

3.2. Certificação da qualidade...................................................................................30

3.3. Denominação de origem....................................................................................31

3.4. Identificação do produtor..................................................................................33

4. Técnicas e processos potencializadores do valor dos recursos endógenos da região....35

4.1. Gastronomia.....................................................................................................35

4.2. Enoturismo.......................................................................................................35

4.3. Folclore............................................................................................................36

4.4. Artesanato........................................................................................................37

4.5. Cinegética........................................................................................................37

4.6. Pesca...............................................................................................................38

4.7. “Rotas”: Vinho, azeite........................................................................................39

4.8. Feiras e romarias..............................................................................................40

4.8.1. Museus temáticos...........................................................................................40

4.9. A comercialização de produtos endógenos..........................................................41

4.9.1. O espaço de venda.........................................................................................41

4.9.2. A apresentação dos produtos..........................................................................43

Bibliografia.................................................................................................................45

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Apresentação

O potencial económico e turístico dos produtos endógenos ainda está muito longe de estar
esgotado, importando valorizar todo um conjunto de produtos de origem rural.

Interessa, pois, que o Técnico de Turismo Ambiental e Rural os conheça, saiba como e
onde se produzem e adquira técnicas capazes de os valorizar e promover.

Este módulo deve ser essencialmente prático, permitindo ao aluno participar nos
processos de produção de alguns produtos endógenos na sua região.

Esta participação far-se-á preferencialmente na forma de “Oficinas”, permitindo, desde


logo, ao aluno a perceção de toda a organização necessária à realização de uma tarefa,
assim como ao potencial lúdico/turístico que associará à mesma.

Objetivos de Aprendizagem

 Identificar os principais recursos endógenos;


 Reconhecer a importância da valorização e promoção dos produtos específicos de
cada região;
 Reconhecer os recursos endógenos como mais-valia para o turismo no espaço
rural;
 Realizar ações e desenvolver técnicas que valorizem e promovam esses produtos;
 Valorizar os conhecimentos, produtos e tradições das populações rurais;
 Relacionar os recursos endógenos com o desenvolvimento rural;
 Verificar a importância do turismo no espaço rural para o desenvolvimento rural.

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1. Identificação dos principais recursos endógenos

1.1. Produtos para consumo em fresco

Os produtos agrícolas para consumo em fresco são aqueles cuja produção se destina a
chegar diretamente ao consumidor sem processamento ou transformação,
independentemente de poderem constituir, eles próprios, a matéria-prima para outros
produtos transformados

Aqui se incluem os produtos hortícolas, os frutos, a carne e o leite, bem como outras
produções em menor escala como por exemplo os cogumelos, o mel e as plantas
medicinais e condimentares.

O consumo de frescos tem vindo a aumentar, relativamente aos processados devido à


maior preocupação dos consumidores com a sua saúde e alimentação. Tem-se observado
uma tendência crescente no mercado para produtos frescos e ‘naturais’.

1.2. Produtos transformados

Os produtos endógenos transformados resultam do processamento e/ ou transformação


do produto original, ainda que a matéria-prima seja característica de determinado local ou
região e a sua produção ocorra segundo os parâmetros tradicionais.

Incluem-se neste grupo:


 Os derivados do leite (o queijo e outros lacticínios como o iogurte e a manteiga),
 Os derivados da carne (os enchidos)

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 Os derivados de alguns frutos: azeitona (azeite); da uva (vinho); do medronho


(Aguardente); de outros frutos (licores, compotas, conservas).
 Os derivados de produtos hortícolas, nomeadamente cereais (o pão).

1.3. Consumo humano

A maioria dos produtos endógenos destina-se ao consumo humano, podendo distinguir-se


duas fileiras:
 A Produção com destino direto ao consumo humano consiste na produção agrícola
destinada ao consumo alimentar em fresco ou após transformação.
 A Produção com destino indireto ao consumo humano refere-se aos produtos
agrícolas de origem vegetal utilizados para alimentação dos animais cuja produção
se destine ao consumo alimentar, incluindo a produção de sementes destinada ao
cultivo de plantas com este fim.

A capacidade inovadora dos agricultores permitiu desenvolver produtos a partir de


técnicas produtivas, com base em processos simples e naturais muito apreciados, numa
altura em que a produção em massa, intensiva, com base em processos tecnológicos
muito desenvolvidos, fez baixar os custos, mas encerrando, por vezes, riscos que se
traduzem em crises alimentares.

É nestas alturas que os chamados Produtos Tradicionais reforçam a sua posição no


mercado e conquistam o gosto dos consumidores.

Para tal, os produtos destinados à venda ao consumidor devem obedecer às normas de


comercialização estabelecidas de acordo com a tipologia do produto, serem de qualidade
sã, leal e comercial.

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2. Conhecimentos técnicos dos processos de produção


e transformação

2.1. Produtos da Horta – Exemplos:

2.1.1. Solanáceas

A Família das Solanáceas possui cerca de 90 géneros e mais de 2600 espécies. Muitas
destas espécies são de interesse económico, seja como culturas industriais, culturas
medicinais, culturas ornamentais e especialmente como culturas hortícolas, entre as quais
existem várias de importância significativa como a batata, a beringela, o pimento e o
tomate.

BATATA
Solanum tuberosum L.

Clima
A batata requer um clima fresco. As temperaturas mais favoráveis situam-se entre os 16 a
25ºC. Tem paragem de crescimento abaixo dos 10ºC e, acima dos 30ºC com forte
intensidade luminosa, não se processa a formação dos tubérculos.

A tuberização, especialmente a necessária em produções precoces, exige baixas


temperaturas associadas a dias curtos.
A rama da batata é bastante sensível à geada, mesmo que ligeira. Na instalação das

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variedades mais precoces dever-se-ão escolher terrenos adequadamente expostos a Sul e


bem abrigados.

Solo
Adapta-se a quase todos os tipos de solo, mas prefere os de textura arenofranca a franca,
ricos em matéria orgânica (entre 2 a 4%), pH entre 5,5 e 6,5 e com uma condutividade
elétrica 0,6 a 1,0 dS/m determinada no extrato aquoso proporção 1:2 (solo/água).

Plantação
Na plantação da cultura da batata para indústria é, por norma, efetuada em duas épocas
distintas.

A primeira decorre desde finais de Janeiro (em parcelas mais altas, soalheiras e abrigadas,
tendo em vista a obtenção de produções muito precoces, a partir do início de Maio) a
finais de Março (nas restantes parcelas, tendo em vista a colheita a partir de finais de
Maio, princípios de Junho).

A segunda é, geralmente, efetuada durante os meses de Abril a Julho, tendo em vista a


colheita a partir de princípios-meados de Agosto.

Colheita
A colheita deve ser efetuada na época própria de cada variedade devido à influência que
pode exercer na qualidade e poder de conservação dos produtos de colheita. Recomenda-
se que a colheita seja realizada de modo a minimizar a ocorrência de danos mecânicos, os
quais podem danificar completamente o produto final.

Na cultura da batata para consumo em fresco, o tubérculo deve apresentar-se bem


desenvolvido e devidamente encascado. Na altura da colheita o solo deve ter 60-65% de
humidade e a temperatura da polpa do tubérculo deve variar entre os 10-20ºC.

Sempre que se proceda à conservação dos tubérculos, aconselha-se a separação dos


diferentes lotes (produtor/variedade) e à limpeza e eliminação dos tubérculos com

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podridões e pragas.

Armazenar a batata na ausência de luz e baixar a temperatura 1ºC por dia até alcançar a
temperatura adequada (4–8ºC para batata de consumo em fresco) e manter a humidade
relativa entre 85-90%.

Na cultura da batata para indústria, recomenda-se que seja colhida mecanicamente. Para
o efeito, recomenda-se que as acolhedoras estejam bem afinadas, através de
manutenções adequadas, para que a realização desta operação decorra nas melhores
condições.

2.1.2. Leguminosas

A Família das Fabáceas (ervilha, fava, feijão verde), também considerada como sinónimo
de Leguminosas, é uma das mais numerosas entre as famílias das plantas superiores,
agrupando distintos tipos de espécies como árvores, arbustos e plantas herbáceas, de
extensa distribuição mundial.

Muitas delas têm grande importância económica na alimentação humana, sendo ricas em
proteínas e hidratos de carbono. Também são importantes como culturas forrageiras,
florestais, ornamentais, medicinais e industriais.

ERVILHA
Pisum Sativum L.

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Clima
A ervilha prefere zonas de clima temperado e fresco. De todas as espécies hortícolas, é
aquela que germina a temperaturas mais baixas. Com paragem de crescimento aos 5-7ºC,
a temperatura ótima de desenvolvimento situa-se entre os 16 e os 20ºC, com humidade
relativa de 60 a 70%. Em climas frios e húmidos pode ocorrer queda de órgãos florais,
ocasionando quebra de produção.

Solo
A ervilha adapta-se a quase todos os tipos de solo, mas prefere os de textura arenosa a
franca-arenosa, ricos em matéria orgânica (entre 2 a 4%), com pH entre 6,0 e 7,5 e
condutividade elétrica inferior a 1 dS/m determinada no extrato aquoso, proporção 1:2
(solo/água).

Plantação
No caso da ervilha para consumo em fresco, consoante a variedade, recomenda-se que a
sementeira seja realizada em Novembro e em Fevereiro-Março; da ervilha para indústria,
recomenda-se que a sementeira seja realizada de meados de Dezembro a meados de
Fevereiro.

Colheita
A colheita de ervilha para consumo em fresco deve ser efetuada na época própria de cada
variedade, devido à influência que pode exercer na qualidade e poder de conservação dos
produtos de colheita. As vagens devem estar inteiras, sãs, com aspeto fresco, túrgidas,
sem humidade exterior, e sem cheiros estranhos.

A colheita de ervilha para produção de vagens deve ser feita cerca de 65 dias após a
sementeira, quando as ervilhas ainda não estão maduras. Para a produção de grão seco,
a colheita realiza-se 110 a 130 dias após a sementeira.

A ervilha é colhida manualmente, em intervalos de 6 a 10 dias, efetuando-se 3 a 4


colheitas.

A colheita da ervilha para indústria faz-se mecanicamente, quando o grão atingir a

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maturação industrial. O início da colheita é, regra geral, da responsabilidade conjunta da


indústria e do produtor, tendo em consideração o grau tenderométrico do grão,
aconselhando-se a sua realização de meados de Abril a meados de Maio.

2.1.3. Saladas

A Família das Asteráceas (do grego Aster = astro ou estrela) inclui sete espécies de
interesse hortícola, agrupadas em cinco géneros, embora apenas se considere a alface
que, em algumas regiões do País é a cultura hortícolas de maior valor comercial.

As alfaces distribuem-se por dois grandes grupos: as alfaces acéfalas ou romanas, de


folha lisa ou crespa e as alfaces repolhudas ou de cabeça.

ALFACE
Medicago sativa L.

Clima
Consoante as variedades, a alface é uma planta que se pode cultivar durante todo o ano
em estufa e ao ar livre. Embora tolere baixa luminosidade, necessita, para um
desenvolvimento adequado, mais de 10 horas de luz, bem como temperaturas diurnas
entre os 15 e 20ºC e noturnas entre os 8 e 12ºC.

Em climas muito quentes, a alface endurece e adquire um gosto amargo, o repolho é


pouco compacto e verifica-se uma precocidade do espigamento. Nos climas demasiado
frios e húmidos, a alface desenvolve-se lentamente. Em climas temperados, a alface pode

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ser produzida em estufa, com temperaturas ótimas a variar entre os 8 e os 12ºC e


humidade relativa entre 60 e 70%.

Solo
Os solos devem ter textura franco-arenosa, serem ricos em matéria orgânica (entre 2 a
4%), com 40 a 50 cm de profundidade, com pH entre 6,5 e 7,5 e condutividade elétrica
inferior a 0,4 dS/m determinada no extrato aquoso, proporção 1:2 (solo/água).

Plantação
A plantação pode realizar-se durante todo o ano, em estufa, ocorrendo,
preferencialmente, de Setembro a Abril ou de Outubro a Dezembro (plantações de
Outono/Inverno) e ao ar livre de Março a Julho (plantações de Primavera/Verão), com
duração do ciclo cultural dependendo da variedade escolhida.

Na época de Primavera/Verão o ciclo dura, em regra, entre 45 a 60 dias, enquanto que no


Outono/Inverno atinge os 60 a 90 dias.

No entanto, a plantação em estufa pode efetuar-se de Novembro a Fevereiro com colheita


até Março, e ao ar livre, a alface de Outono planta -se a partir de Setembro -Outubro
colhendo-se de Novembro a Dezembro e a alface de Primavera, de Dezembro a Fevereiro
colhendo-se de fins de Fevereiro a Maio. O ciclo da alface de Verão decorre de Abril a
Agosto.

Colheita
O momento da colheita, que pode ter lugar durante todo o ano, é determinante para a
obtenção de um produto de qualidade. As variedades de Primavera/Verão, de produção
ao ar livre, podem ser colhidas após 60 a 75 dias após a sementeira e as variedades de
Outono-Inverno, de produção em estufa, após 90 a 120 dias.

As alfaces devem estar inteiras, sãs, com aspeto fresco, limpas, sem folhas sujas, não
espigadas, túrgidas, sem humidade e sem cheiros estranhos.

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A colheita é feita manualmente, fazendo um corte no caule da planta ao nível da


superfície do solo, sendo eliminadas as folhas basais mais velhas. Depois de limpas, as
plantas são acondicionadas por calibres.

Tratando-se de produtos bastante perecíveis, devem ser manuseados cuidadosamente e


colhidos, preferencialmente, nas horas mais frescas do dia para evitar a perda de
turgescência das folhas.

2.1.4. Couves

A Família das Brassicáceas (agriões, couves, mizuna, mostarda, nabo, rabanete, rúcula),
também designadas por Crucíferas, compreende mais de 300 géneros, destacando-se os
géneros Brassica e Raphanus como os mais difundidos e utilizados.

COUVE
Brassica Oleracea L.

Clima
As temperaturas ótimas de crescimento das couves situam-se entre os 15 e 20ºC, sendo
as temperaturas mínima e máxima extremas de 2 e 32ºC. As couves estão bem
adaptadas a climas húmidos. Flutuações bruscas de temperatura ou temperaturas acima
dos 20ºC afetam a compacidade, tamanho e uniformidade das inflorescências das
couves-flor e brócolos.

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De um modo geral, as couves adaptam-se bem a climas com nevoeiros, onde a


humidade relativa atinge os 100%. A camada cerosa das folhas das couves protege a
planta do ataque de agentes patogénicos que, na superfície da folha molhada,
encontrariam condições ótimas de desenvolvimento.

Solo
As couves são plantas que se adaptam a quase todos os tipos de solo, mas preferem, de
um modo geral, os franco a franco-arenosos. Os solos mais arenosos são considerados
os melhores para as variedades precoces e, os mais compactos, para as variedades
tardias.

Os solos devem ter bom poder de retenção de água e boa drenagem, serem ricos em
matéria orgânica (entre 2 a 4%), com pH entre 5,5 e 7,0 e condutividade elétrica inferior
a 0,4 dS/m determinada no extrato aquoso, proporção 1:2 (solo/água).

Plantação
Com possibilidade de adaptação a todas as épocas do ano, podem considerar-se, de um
modo geral, as plantações de Primavera/Verão e as de Outono/ Inverno.

Colheita
A colheita deve ser efetuada na época própria de cada variedade devido à influência que
pode exercer na qualidade e poder de conservação dos produtos de colheita. As plantas
devem estar inteiras, sãs, com aspeto fresco, túrgidas, sem humidade exterior e sem
cheiros estranhos.

2.1.5. Bolbos

A Família das Aliáceas, também considerada como sinónimo de Liliáceas, é uma família
numerosa de plantas monocotiledóneas, a maioria das quais são herbáceas. Nesta família

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incluem-se quase 500 géneros distintos, de distribuição cosmopolita, tais como o alho, a
cebola, o alho-francês e o alho-porro.

Antigamente classificava-se dentro das Liliáceas as espécies do género Allium [alho, alho-
francês (alho-porro), cebola etc.], mas atualmente, estas consideram-se incluídas numa
família separada - a das Aliáceas, enquanto que o espargo e só o género Asparagus
passou a constituir a família das Asparagáceas.

ALHO
Allium sativum L.

Clima
O alho é uma planta bastante rústica no que diz respeito ao clima preferindo, no entanto,
zonas temperadas e frescas. Com dias curtos e temperaturas baixas, as folhas crescem
normalmente em detrimento da formação dos bolbos. Com paragem de crescimento aos
5ºC, a temperatura ótima de desenvolvimento dos bolbos situa-se nos 20ºC, com
humidade relativa do ar elevada.

Na altura da colheita são convenientes temperaturas médias diárias elevadas e humidade


relativa baixa, por forma a permitir uma boa secagem dos bolbos.

Solo
O alho prefere solos de textura arenosa ou franco-arenosa, ricos em matéria orgânica
(entre 2 a 4%), com pH entre 6,0 e 7,0 e condutividade elétrica inferior a 0,4 dS/m
determinada no extrato aquoso, proporção 1:2 (solo/água).Apresenta uma tolerância
moderada à acidez.

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Plantação
Antes da plantação dos bolbilhos ou “dentes”, o armazenamento a temperaturas entre 0 a
5ºC durante cerca de 40 dias, favorece a precocidade da emergência para a formação do
bolbo. A plantação deve ser feita, o mais rapidamente possível, após a separação dos
bolbilhos, dada a sua elevada sensibilidade à desidratação.

Recomenda-se uma densidade de plantação de 25 a 30 plantas/m2. Densidades de


plantação mais elevadas são, normalmente, utilizadas na produção de alho para indústria.
Nas plantações de Outono muito precoces, e quando as condições climáticas não são
favoráveis, poderá ocorrer a formação de haste floral em vez de bolbilhos.

Colheita
A colheita deve ser efetuada na época própria de cada variedade, devido à influência que
pode exercer na qualidade e poder de conservação dos produtos de colheita.

A colheita deve efetuar-se, de meados de Junho a fins de Julho, quando os caules e as


folhas começarem a secar (senescência). As cabeças podem ser arrancadas de forma
manual, mecânica ou parcialmente mecânica.

Recomenda-se que, após a colheita, os bolbos fiquem a secar no campo, durante 3-4 dias,
protegidos do escaldão por restos de folhagem.

2.1.6. Cucurbitáceas: Melancia; melão; pepino

A Família das Cucurbitáceas, compreende, para além do género Cucurbita com cinco
espécies (quatro anuais e uma vivaz), os géneros de plantas anuais Citrullus e Cucumis.

Do género Cucurbita, as espécies com mais expressão no país são: a abóbora ou abóbora-
menina (Cucurbita máxima) e a aboborinha ou curgete (Cucurbita pepo), do género
Citrullus a melancia (Citrullus lanatus) e do género Cucumis, o melão (Cucumis melo) e o
pepino (Cucumis sativus).

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MELANCIA
Citrullus lanatus L.

Clima
Planta sensível às geadas e com resistência média a condições de sequeiro, tem paragem
de crescimento aos 11 a 13ºC. Bastante exigente em luminosidade, a temperatura ótima
de desenvolvimento situa-se entre os 23 a 28ºC, com uma humidade relativa de 60 a
80%.

Solo
A melancia adapta-se a quase todos os tipos de solo, mas prefere os de textura franca a
franca-arenosa, ricos em matéria orgânica (entre 2 a 4%), com pH entre 6,0 e 7,5 e uma
condutividade elétrica 0,4 a 0,6 dS/m determinada no extrato aquoso, proporção 1:2
(solo/água). Apresenta-se medianamente tolerante à salinidade.

Plantação
A plantação inicia-se em meados de Março até fins de Maio e deve ser efetuada quando a
planta tem 2 folhas definitivas.

Recomenda-se a realização de podas, quando a planta tem 5 a 6 folhas, a fim de eliminar


os gomos principais, permitindo o desenvolvimento dos gomos secundários, normalmente
em número de 4 a 5.

Recomenda-se a utilização de polinização natural através de insetos polinizadores –


abelhões (Bombus terrestris L.), por intermédio da colocação de colmeias, no perímetro
da parcela e no início da floração masculina, na ordem de 1 a 2 colmeias/ha.

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Quando a cultura se realiza no cedo, é conveniente utilizar uma manta térmica para evitar
problemas inerentes à ocorrência de geadas e de grandes amplitudes térmicas.

Colheita
A colheita deve ser efetuada na época própria de cada variedade, devido à influência que
pode exercer na qualidade e poder de conservação dos produtos de colheita.

Consoante a variedade, a colheita deve ser feita manualmente, e efetua-se entre 80 a 105
dias após a sementeira, quando os frutos se apresentarem com o desenvolvimento pleno
característico da variedade. O pedúnculo é cortado com uma faca a cerca de 5 cm do
fruto.

2.1.7. Raízes

A Família das Apiáceas (aipo, cenoura, coentros, pastinaca, salsa) tem como principal
característica determinante da família, o de ser constituída por plantas aromáticas, com
um odor e sabor de anis, um tanto variável entre as espécies, mas muito típico.

CENOURA
Daucus carota L.

Clima
Planta de dias longos, a cenoura desenvolve-se bem em todos os climas de preferência
com pequenas oscilações de temperatura. As temperaturas ótimas de desenvolvimento
situam-se entre os 15 a 18ºC, com paragem de crescimento aos 6ºC. Com temperaturas
entre os 10 a 15ºC ou acima dos 21ºC, a cenoura apresenta uma coloração pálida e com
temperaturas baixas e fraca humidade a cenoura fica mais alongada.

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Solo
A cenoura adapta-se a quase todos os tipos de solo, mas prefere os de textura arenosa ou
franco-arenosa, ricos em matéria orgânica (entre 2 a 4%), com Ph entre 6,0 e 7,0 e
condutividade elétrica inferior a 0,4 dS/m determinada no extrato aquoso proporção 1:2
(solo/água).

Plantação
A cenoura é semeada no local definitivo e os camalhões deverão ter 0,20 a 0,25 m de
altura e 1,10 a 1,20 m de largura, em 4 a 8 linhas, com um compasso de 0,10 a 0,15 na
linha. A sementeira direta pode ser feita de Fevereiro a Setembro, utilizando-se
semeadores em linha ou em faixa e a densidade de sementeira deve estar de acordo com
a variedade, podendo ser de 120 a 250 sementes/m2.

Colheita
A colheita deve ser efetuada na época própria de cada variedade devido à influência que
pode exercer na qualidade e poder de conservação dos produtos de colheita. As raízes
devem estar inteiras, sãs, com aspeto fresco, sem cheiros estranhos.

Consoante as variedades, o período de maior produção situa-se entre Junho a Novembro.


Em cultura de Primavera, a colheita é feita 3 a 4 meses após a sementeira e, em cultura
de Inverno, após 5 a 7 meses, quando as raízes apresentarem o desenvolvimento
característico da mesma. A colheita pode ser manual ou mecânica.

2.1.8. Culturas vivazes

A Família das Rosáceas caracteriza-se por apresentar plantas dicotiledóneas herbáceas,


arbustivas ou arbóreas, com um elevado número de espécies em toda a superfície do
globo.

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Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

Os morangueiros selvagens ou cultivados pertencem todos ao género Fragaria, sendo uma


das plantas hortícolas mais importantes não só pelo consumo direto dos frutos, como pelo
seu uso em compotas e conservas, sendo ainda considerado como um bom fruto para
congelar.

MORANGOS
Fragaria vesca L.

Clima
O morangueiro é uma planta que se adapta a uma grande variedade de climas, mas a
temperatura ótima de crescimento é de 23 ºC.

Os seus órgãos vegetativos são muito resistentes às geadas mas, pelo contrário, as flores
são muito sensíveis, sendo destruídas a temperaturas inferiores a 0 ºC.

Solo
O morangueiro adapta-se a quase todos os tipos de solo, mas prefere os franco-arenosos,
os argiloarenosos, os franco-argilosos e os franco-argiloarenosos, bem drenados, mas com
humidade e ricos em matéria orgânica.

Prefere, igualmente, os solos ligeiramente ácidos, com valores de pH situados entre 6,0 a
6,5, devendo evitar-se os solos muito argilosos e os solos salinos.

Plantação
O morangueiro pode ser plantado em diferentes épocas do ano, dependendo da
variedade, do clima, do local e do sistema de produção. A plantação é manual e realizada
ao nível da coroa.

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Para os dois sistemas de plantação mais usuais em Portugal, recomenda-se que a


plantação outonal, com plantas frescas provenientes de viveiro de altitude, ocorra durante
os meses de Outubro a Novembro e que a plantação estival, com plantas frigo-
conservadas, ocorra de Março a Agosto, consoante a variedade e o local de produção.

Colheita
A colheita do morango deve ser escalonada e os frutos devem ser colhidos num estado de
maturação adequado, de modo a satisfazer as exigências de qualidade comercial.

A colheita deve ser feita com o maior cuidado, de forma a evitar lesões nos frutos que
reduzem a sua qualidade e favoreçam as infeções. Deve ser feita durante as horas mais
frescas, tentando evitar, tanto quanto possível, as horas de calor mais intenso.

Recomenda-se que os frutos sejam selecionados e colhidos diretamente para a


embalagem definitiva, visando evitar possíveis manipulações a posteriori que poderão
prejudicar a qualidade dos frutos.

Estes devem apresentar-se frescos, inteiros, sem golpes, munidos de cálice, sãos, isentos
de matérias estranhas, livres de humidade, de odor e de sabores estranhos. O seu
acondicionamento deve assegurar uma proteção conveniente do produto.

No campo, devem proteger-se os frutos da exposição solar direta, colocando as caixas à


sombra e em lugar ventilado, devendo entrar no armazém no mesmo dia em que foi
colhida. Recomenda-se que o transporte dos frutos para o armazém se realize, de
preferência, em viatura frigorífica ou de caixa aberta.

2.2. Plantas aromáticas e medicinais

O uso de plantas aromáticas e medicinais remonta à antiguidade. Foram originalmente


utilizadas por instinto, e mais tarde, graças aos avanços em química, determinadas as
suas propriedades terapêuticas, de forma a serem aplicadas na medicina.

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Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

Embora a sua aplicação seja muito vasta, e vá desde condimento alimentar, aplicação
medicinal, cosmética, perfumes, extratos, loções, óleos, tintas, etc.

Hoje ainda se mantém o uso tradicional de plantas medicinais, conhecimento transmitido


por anciões e pessoas ligadas a medicinas naturais e alternativas.

Desta forma, importa conhecer as plantas aromáticas existentes na região, assim como os
usos e costumes a elas associados por parte da população local, de modo a preservar-se
esta sabedoria popular.

Por outro lado o cultivo das plantas aromáticas e medicinais poderá ser no futuro uma
alternativa para as zonas rurais podendo, através de uma estratégia integrada, conduzir à
obtenção de receitas para esses meios.

2.3. Cogumelos

Para além do papel desempenhado nos ecossistemas, os fungos desempenham um papel


importante na alimentação humana.

Os cogumelos silvestres são importantes potenciadores do desenvolvimento de outras


atividades no meio rural e promoção de outros produtos endógenos, através do turismo
gastronómico, do turismo de natureza e na educação ambiental.

Os cogumelos são um excelente alimento que nos últimos anos tem vindo a ganhar
apreciadores. Cada região, de acordo com as suas características naturais possui
determinadas espécies. Este recurso micológico determina uma especialização culinária de
qualidade que constitui um importante produto turístico.

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Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

Algumas espécies são produzidas em cultura (Agaricus bisporus, Agaricus campestris,


Auricularia auricula-judae, Lentinus edodes, Pleurotus ostreatus), mas a maioria dos
cogumelos mais valorizados ainda não se consegue obter desta forma e por isso são
recolhidos no campo e depois comercializados (Amanita caesarea, Boletus edulis,
Cantharellus cibarius, Lactarius deliciosus, Fistulina hepatina).

Em Portugal, existe uma tradição de recolha de cogumelos silvestres, que difere entre
cada região, que passa de geração em geração, e que se destina, quase exclusivamente, a
um consumo próprio.

2.4. Doces, compotas, conservas

Existem diversas formas de conservar a fruta em açúcar para que se possa apreciá-la em
qualquer altura. Feitos com frutas frescas ou secas, inteiras ou em pedaços, cozidas em
calda de água e açúcar e aromatizada com especiarias ou mesmo bebidas alcoólicas, estes
doces são sempre apetecíveis.

As plantas aromáticas e medicinais, hortícolas, frutos e bagas do bosque podem ser


aproveitados como produtos excecionais na restauração, na pastelaria, hotelaria ou até
como ideias/base para criação de micro empresas.

O recente crescimento das lojas e produtos gourmet, destinados a um segmento de


consumidores mais sofisticado e exigente, fez renovar o interesse e alargar os circuitos de
comercialização destes produtos, bem como consolidar novas estratégias em termos de
imagem de marca, marketing e promoção.

2.5. Mel

O mel é um produto não transformado, na medida em que se apresenta ao consumidor da


mesma forma que é obtido da natureza. O mel é uma substância viscosa, aromática e

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Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

açucarada, obtida a partir do néctar das flores e/ou exsudados sacarificas que as abelhas
melíferas produzem

Utilizado como adoçante, este produto sempre foi reconhecido pelas suas propriedades
terapêuticas, devido às suas características digestivas, analgésicas, anti-inflamatórias,
antimicrobianas e antissépticas. As características nutricionais e os benefícios medicinais
do mel são muitos e diversos.

O mel é também largamente utilizado na cosmética, em cremes, máscaras de limpeza


facial, tónicos, entre outros, devido às suas qualidades adstringentes e suavizantes.

Para além do mel, na produção apícola, o produtor poderá rentabilizar outros produtos
como a cera, utilizada nas indústrias de cosméticos, medicamentos e velas, a própolis e a
geleia real, nas indústrias de cosméticos e fármacos.

2.6. Pão tradicional

O pão cumpre um papel importantíssimo e destacado no nosso património cultural em


geral e gastronómico em particular. É um elemento sempre presente, mas muitas vezes
por detrás doutros sabores que se destacam numa boa refeição.

A produção de cereais de pão (milho, trigo, centeio) constitui durante séculos a base da
estrutura agrária portuguesa, empregando a maioria da população e construindo a
diversidade das paisagens rurais, que em termos de parlamento e estrutura das
explorações, quer à implementação de construções de apoio (moinhos, eiras, espigueiros).

Em consequência do abandono agrícola e do êxodo rural, estas estruturas e paisagens


foram-se descativando e a indústria de panificação, sofrendo uma mecanização
progressiva.

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Ambiente e Desenvolvimento Rural

Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

Hoje em dia, os modos tradicionais de fazer o pão surgem num contexto de maior
preocupação com a qualidade alimentar, bem como com a descoberta do mundo rural e
dos seus valores de identidade, contribuindo para consolidar a imagem de determinados
territórios, consoante o tipo de pão dominante.

Não apenas como produto final mas também enquanto matéria-prima de um grande
número de iguarias gastronómicas, o pão ressurge sob a mão das novas tendências
culinárias, em que chefes de renome procuram reinventar novas técnicas com raízes
locais, unindo o uso do pão cm outras iguarias como o azeite, o vinho, ou os enchidos.

2.7. Azeite e azeitonas

O Azeite é muito apreciado desde a antiguidade pelo seu valor gastronómico, pelas suas
características químicas, biológicas e organolépticas, mas também porque as suas
propriedades preventivas e terapêuticas fazem dele uma gordura absolutamente
insubstituível.

A produção do azeite em moldes tradicionais, endógenas das regiões mais periféricas (em
particular o Douro e o Alentejo), de climas extremos, feitas em lagares tradicionais,
envolveu ao longo de gerações um conjunto de rituais e técnicas de grande significado
para as identidades locais.

Utilizado desde tempos imemoriais como ingrediente culinário, o Azeite foi “redescoberto”,
tendo-se convertido num dos pilares da cozinha moderna e saudável.

O Azeite Virgem conserva o sabor, o aroma, as vitaminas, os antioxidantes, sendo a única


gordura vegetal que pode ser consumida, diretamente, virgem e crua. O Azeite dá sabor,
aroma e cor, integra os alimentos, personaliza e identifica um prato.

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Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

Dentro dos Azeites que se encontram no mercado podem, ainda, encontrar-se os ”Azeites
com Denominação de Origem Protegida” (DOP), os “Azeites da Agricultura Biológica” e os
“Azeites Elementares ou Monovarietais”.

O azeite tem origem das variedades tradicionais portuguesas de azeitona como a Galega,
a Verdeal, a Cordovil, a Cobrançosa, a Lentisca, a Verdeal Transmontana e a Madural, que
estão na base da sua tipicidade e dos seus "gostos" genuínos.

2.8. Vinho e outras bebidas alcoólicas

A Viticultura é uma atividade tradicional em Portugal desde a sua fundação e, no território


que hoje determina o País, desde há largas centenas de anos.

Portugal, não obstante a sua limitada dimensão geográfica, apresenta um potencial


enorme e variado regionalmente, que passa por diferentes tipos de vinho, formas variadas
de condução da vinha e de paisagens ligadas à vinha, muito belas e diversificadas.

De facto, a vinha marca fortemente muita da nossa paisagem rural e não de uma forma
monótona e uniforme, sendo todas as suas práticas e imaginário associados fortemente
vinculadas aos meios de subsistência locais.

Durante séculos, o vinho foi o mais importante produto do comércio externo de Portugal e
criador de riqueza para as diferentes regiões, pelo que, desde cedo, a sua produção e
comercialização foi regulamentada.

Atualmente, é inegável o seu peso para a economia nacional, pelo que se espera a
introdução de novas técnicas de marketing e promoção, para fazer face a uma
concorrência que hoje surge à escala global, bem como uma aposta na sofisticação das
marcas, dos processos produtivos e da certificação de qualidade.

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Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

2.9. Queijos e outros lacticínios

O queijo resulta da transformação do leite que, por ação de microrganismos, ganha


requintados e característicos sabores, aromas e texturas.

Depois de muitos séculos de evolução, é indiscutível que o queijo se tornou num produto
de consumo de eleição, com cada vez mais apreciadores espalhados pelos quatro cantos
do mundo.

Dos vários tipos de queijo existentes, fabricados com leite de ovelha, vaca, cabra ou de
mistura, a consistência da pasta, o paladar e o grau de gordura, variam de região para
região, de acordo com o microclima e outros fatores geográficos, conferindo-lhes
características físicas e organoléticas únicas, que lhe dão especificidade.

Fazer queijo é uma arte, que surge à mesa como importante elemento da gastronomia da
região e que revela a perícia das mãos que lhe dão forma.

Foram numeradas cerca de 400 espécies de queijo em todo o Mundo e através dos
séculos: cada variedade adquiriu, a pouco e pouco, reputação própria e completam
agradavelmente qualquer refeição.

A autenticidade dos queijos reveste-se de grande importância, pois em muitos países


existe um regulamento sobre o seu fabrico e os seus certificados de origem, caso de
Portugal.

2.10. Enchidos

Os produtos de transformação cárnea apresentam uma grande variedade de sabores,


texturas e formas, como resultado da diversidade das matérias-primas, dos ingredientes e
dos processos de fabrico utilizados.

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Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

O termo ‘salsicharia’ é mundialmente conhecido e engloba todos os produtos de


transformação cárnea. Destes fazem parte não só os enchidos mas também todas as
carnes curadas como os presuntos, as pás e outros. Em Portugal é utilizada,
predominantemente, a carne de porco.

Os ingredientes usados são todos eles naturais e as técnicas de produção são as


ancestrais, desde a alimentação e maneio dos animais, até às operações tecnológicas de
corte, salga, fermentação, cura, fumagem, secagem ao ar ou ao sol, conhecidas e usadas
desde tempos imemoriais.

Nos últimos anos esta indústria tem vindo a apresentar um apreciável incremento,
expresso no elevado número de estabelecimentos fabris instalados e na variedade de
produtos existentes.

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3. Valorização e promoção dos produtos

3.1. Regiões Demarcadas

O sector dos vinhos foi o que mais contribuiu para a divulgação das designações junto do
público consumidor. Desde há vários anos que vem sendo desenvolvido um profundo
trabalho, visando a melhoria da qualidade dos vinhos em Portugal. Os bons resultados
apresentam-se de forma consistente, fazendo deste sector um dos mais promissores no
âmbito dos produtos agrícolas.

Um vinho, para que possa beneficiar da Denominação de Origem, tem de garantir o


rigoroso controlo do processo de produção em todas as fases, desde a vinha até ao
consumidor.

São diversos os elementos suscetíveis de controlo, cuja responsabilidade se encontra


atribuída, por diploma legal, a cada uma das Comissões Vitivinícolas Regionais. É o estrito
cumprimento da regulamentação aplicável, que garante o direito de usar as seguintes
designações:

Vinho de Qualidade Produzido em Região Determinada (VQPRD)


Esta denominação, no âmbito da UE, é comunitária e por isso aplicável em Portugal.
Encontram-se englobados nesta denominação todos os vinhos DOC e IPR.

Atendendo à grande diversidade de bebidas de teor alcoólico, foi criada a seguinte


sistematização dentro desta designação:
 VLQPRD (Vinho licoroso de qualidade produzido em região determinada);
 VEQPRD (Vinho espumante de qualidade produzido em região determinada);
 VFQPRD (Vinho frisante de qualidade produzido em região determinada).

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Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

Denominação de Origem Controlada (DOC)


Um vinho autorizado a usar esta designação encontra-se obrigatoriamente identificado
com uma região geográfica delimitada e está sujeito a legislação, que identifica as
características dos solos, as castas autorizadas, as práticas de vinificação, o teor alcoólico,
o tempo as condições de estágio, etc.

Indicação de Proveniência Regulamentada (IPR)


Esta designação é utilizada nos vinhos que gozam de características particulares, mas que
têm de cumprir as regras estabelecidas para a produção de vinhos de qualidade, durante
um período mínimo de cinco anos. Só depois de demonstrada a sustentabilidade da
qualidade, ao longo desse período, poderá ser atingida a qualificação DOC.

3.2. Certificação da qualidade

Desde há muito que na terminologia dos portugueses a expressão «produto tradicional»


tem um significado especial, encerrando o conceito de «valor». O facto de um produto ter
inscrito na rotulagem o termo «tradicional» é percebido pelo consumidor como produto de
«sabor especial» e/ou específico de uma região.

É na qualidade da matéria-prima e na forma cuidada como se realiza a preparação, que


reside o valor desses produtos.

Desde a sua origem até à atualidade, esses produtos apenas sofreram uma evolução em
termos de:
 Escala de produção;
 Imposição de normas de qualidade;
 Controlo da produção.

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Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

O que define os produtos tradicionais dos outros produtos é o processo de fabricação, que
também deve respeitar uma legislação específica. Respeitando a produção ancestral, estes
“protegidos” têm toda a sua produção controlada.

Um processo rígido e essencial para garantir o bom nome dos produtos tradicionais
portugueses.

Para que serve a certificação?


 Incentivar a produção agrícola diversificada;
 Proteger os nomes dos produtos contra imitações e utilizações indevidas;
 Promover os produtos característicos de determinados locais;
 Melhorar o rendimento dos agricultores;
 Fixar a população rural;
 Ajudar os consumidores, fornecendo-lhes informações relativas às características
específicas dos produtos.

3.3. Denominação de origem

Os produtos tradicionais são todos aqueles que se designam: Denominações de Origem


Protegidas (DOP), Indicações Geográficas Protegidas (IGP) ou Especialidades Tradicionais
Garantidas (ETG).

O uso das menções DOP, IGP, ETG, etc., mais não é do que o reconhecimento destes
saberes adquiridos ao longo dos séculos.

Um produto com Denominação de Origem Protegida não recebe um prémio, nem um selo
de garantia. Vê, sim, reconhecido oficialmente, o seu estatuto de “sabor tradicional
português”.

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Ambiente e Desenvolvimento Rural

Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

DOP (Denominação de Origem Protegida)


Produto que tem origem no local que lhe dá o nome e que
tem uma forte ligação com essa mesma região, de tal forma
que é possível provar que a qualidade do produto é
influenciada pelos solos, clima, raças animais ou pelas
variedades vegetais e pelo saber fazer das pessoas dessa
área delimitada.

IGP (Indicação Geográfica Protegida)


Produto em que pelo menos uma parte do seu ciclo
produtivo tem origem no local que lhe dá o nome e que tem
uma “reputação” associada a essa mesma região, de tal
forma que é possível ligar algumas das características do
produto aos solos ou ao clima ou às raças ou às variedades
vegetais ou ao saber fazer das pessoas dessa área
delimitada

ETG (Especialidade tradicional garantida):


 Produto agrícola ou género alimentício produzido a partir
das matérias-primas tradicionais, ou com uma composição
tradicional ou um modo de produção e/ou de transformação
que dependa do tipo de produção e/ou de transformação
tradicional e que seja reconhecido como tal, conforme
regulamentarmente previsto, através da obtenção de um
Certificado de Especificidade (CE).

Categorias de produtos protegidos:


 Frutos frescos
 Outros frutos
 Produtos hortícolas
 Salsicharia
 Carne de bovino

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Ambiente e Desenvolvimento Rural

Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

 Carne de caprino
 Carne de ovino
 Carne de suíno
 Queijos
 Outros produtos à base de leite
 Mel
 Azeite

3.4. Identificação do produtor

Um Produto Tradicional com legitimidade, no espaço da UE, apresenta sempre uma


rotulagem normalizada.

Nessa rotulagem constam, obrigatoriamente, as seguintes informações:


 Nome e Denominação (DOP, IGP ou ETG) a que o produto tem direito, conforme o
respetivo registo oficial.
 Nome e morada do produtor.
 Marca de certificação numerada (garante que o produto foi sujeito a um sistema
de controlo ao longo da sua cadeia produtiva, podendo ser rastreado até à sua
origem).
 Logótipo comunitário (é facultativo e, quando utilizado, carece de autorização
específica).

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Ambiente e Desenvolvimento Rural

Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

Exemplo de rótulo

Por se tratar de um sistema cuja criação está suportada por uma legalidade institucional,
quer a nível nacional quer a nível da UE, as marcas de certificação encontram-se,
obrigatoriamente, registadas e são objeto de publicação no Diário da República.

No espaço da UE, a proteção jurídica destes produtos encontra-se garantida contra


eventuais práticas abusivas, que lesem a sua credibilidade, pondo, assim, em causa todo o
sistema construído ao longo de vários anos.

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Ambiente e Desenvolvimento Rural

Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

4. Técnicas e processos potencializadores do valor dos


recursos endógenos da região

4.1. Gastronomia

Portugal é reconhecido pela intensa relação entre a qualidade gastronómica e o fabrico


artesanal e tradicional de alguns alimentos sendo, por isso, indispensável a existência de
uma política de valorização da gastronomia local e respetivo receituário.

A manutenção e divulgação do receituário tradicional pode ser um instrumento importante


para o desenvolvimento rural, dada a incorporação de produtos tradicionais e/ou matérias-
primas locais ou endógenas, pois estes produtos concorrem para a valorização do
património rural/cultural, para a fixação e manutenção de populações locais e para a
estruturação de fileiras locais.

Identificar os saberes, costumes e tradições locais, visando a criação e diferenciação de


destinos culturais e turísticos, com incidência na hospitalidade e na gastronomia, enquanto
marcas de distinção de uma oferta particularizada e personalizada, que rejeita a
massificação e indiferenciação dos produtos.

4.2. Enoturismo

Enquanto património cultural e económico, a vinha e o vinho representa para os


Portugueses, tal como para a generalidade das civilizações mediterrânicas, um dos traços
fundamentais da nossa identidade cultural, como povo e nação, que importa preservar e

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Ambiente e Desenvolvimento Rural

Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

valorizar para transmitir às gerações futuras, enquanto elemento diferenciador e


identificador da nossa cultura.

Produções com qualidade e políticas de marketing bem orientadas, talvez sejam alguns
dos ingredientes essenciais ao desenvolvimento futuro desta atividade, eventualmente
aliados a outras complementares, como a do enoturismo.

Uma atividade que, quando bem planeada e orientada com profissionalismo, ao associar,
por exemplo, passeios, visitas, provas e compra de vinhos a serviços paralelos, tais como
a hotelaria e restauração, e a par de vinhas e instalações bem cuidadas, permitirá aos
visitantes, melhor conhecer as regiões, a atividade das suas gentes e as suas
manifestações culturais, o comércio e artesanato, desenvolvendo e gerando riqueza nas
regiões.

4.3. Folclore

O Folclore é um género de cultura de origem popular, que traduz costumes, lendas,


tradições transmitidos por imitação e via oral de geração em geração. Todos os povos
possuem as suas tradições, crenças e superstições, que se transmitem através de lendas,
contos, provérbios e canções.

Esta enorme variedade de manifestações da cultura imaterial ou simbólica, entre as quais


podem ser citadas as danças, a música, a literatura popular, a medicina caseira ou as
ervas medicinais e aromáticas, entre outras, despertam cada vez mais a curiosidade dos
visitantes das aldeias e vilas de Portugal.

Ligadas a um calendário de eventos de animação e recriação histórica e artesanal, podem


constituir um complemento para a oferta de serviços turísticos em meio rural,
nomeadamente quando associadas ao sector gastronómico e agroalimentar.

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Ambiente e Desenvolvimento Rural

Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

4.4. Artesanato

As unidades produtivas existentes são hoje os redutos de uma ancestralidade milenar que
compete a todos nós preservar, encarando o histórico como um exercício de recriação e
reinvenção, atualizando-o à linguagem contemporânea.

Ligados à transformação de recursos endógenos: a lã, as peles, o metal, o barro, a


madeira, e tantos outros, os produtos destinavam-se ao suprimento de necessidades
básicas de sobrevivência das populações, auxiliando as funções de alimentação, vestuário,
iluminação, transportes e outras funções de reprodução social, cultural e até simbólica.

O artesanato merece, assim, especial atenção, uma vez que transmite um modo de saber,
arte e criatividade, na medida em que utiliza métodos ancestrais na criação e reprodução
de peças, transportando-nos a um tempo longínquo que deve ser recordado e preservado,
mantendo desta forma a identidade de um povo.

Com efeito, é necessário que cada região saiba retirar o melhor partido dos seus recursos
naturais, históricos e culturais, captando assim a máxima atenção do visitante,
proporcionando-lhe o maior contacto possível com as tradições e culturas locais, pois,
cada vez mais, o turista procura experiências enriquecedoras.

4.5. Cinegética

O Turismo Cinegético corresponde à atividade desenvolvida por um caçador ou pescador


desportivo, nacional ou estrangeiro, que visita destinos, localidades ou áreas onde é
permitida a prática de caça de fauna silvestre de carácter cinegético ou no seu meio
natural e de pesca.

Para tal, utiliza serviços logísticos e turísticos para facilitar a prática destes desportos, num
contexto de conservação e sustentabilidade da vida silvestre

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Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

O turismo cinegético realiza-se em zonas rurais, oferecendo oportunidades de trabalho e


aprendizagem a comunidades afastadas dos grandes centros, com escassas expectativas
de desenvolvimento.

A atividade cinegética representa uma alternativa para complementar as receitas do sector


agropecuário, que se viu afetado nos últimos anos pelo incremento da concorrência e pela
perda de competitividade dos produtos tradicionais.

4.6. Pesca

De acordo com os objetivos com que é praticada a pesca, esta pode ser desportiva, se
tiver objetivos desportivos, recreativos ou de lazer, ou profissional quando tiver objetivos
comerciais.

A pesca desportiva tem tido um grande incremento nos últimos anos, associado ao cada
vez maior interesse pelas atividades de ar livre e à aproximação ao meio rural,
evidenciando esta evolução que o sector está em franca expansão, sendo neste momento
uma atividade praticada por cerca de 2% da população portuguesa.

Desde sempre a pesca foi uma atividade do Homem, dando identidade a muitas
populações. Pelo prazer de estar com a Natureza, o pescador desportivo criou diversas
técnicas, que utiliza de uma forma competitiva ou para simples lazer.

A pesca lúdica define-se como sendo a captura de espécies marinhas vegetais e animais,
sem fins comerciais, que pode ser exercida de terra firme, ou de uma embarcação
registada no recreio (não profissional) ou na atividade marítimo turística.

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Ambiente e Desenvolvimento Rural

Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

Para além da pesca propriamente dita, há ainda a considerar, num âmbito alargado de
pesca lúdica, a atividade de apanha (lúdica), recolha manual (sem qualquer tipo de
instrumentos), de espécies marinhas vegetais e animais, sem fins comerciais.

4.7. “Rotas”: Vinho, azeite

A modalidade “rotas” tem subjacente a ideia de um turismo alternativo, que permite a


vivência de experiências dinâmicas e participativas, constituindo-se como uma atividade
de lazer mais interativa com os habitantes dos territórios rurais.

Nestas rotas podem-se encontrar propostas interessantes de atividades a realizar no


campo do turismo, do artesanato, da produção e outras, centradas em aspetos do
desenvolvimento social, económico e cultural das comunidades rurais e os seus efeitos são
considerados como elementos catalisadores de extrema importância para a revitalização
destas regiões.

De uma forma geral, as rotas de vinho têm por objetivo estimular o potencial turístico de
cada uma das regiões em causa. Cada rota integra um conjunto de locais organizados em
rede e devidamente sinalizados que, de uma forma ou de outra, possam suscitar o
interesse por parte do turista.

Fazem normalmente parte destas rotas adegas cooperativas, produtores-engarrafadores,


armazenistas e outros comerciantes, associações de cooperativas, associações de
viticultores, restaurantes, enotecas, casas de turismo em espaço rural e outros centros de
interesse vitivinícola.

Os aderentes são para o efeito devidamente vistoriados e certificados, sendo-lhe


reconhecido o mérito de fazerem parte da respetiva rota. Cada visitante pode desenvolver
nestes locais um conjunto variado de atividades, as quais poderão ir da simples visita às

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Ambiente e Desenvolvimento Rural

Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

vinhas ou adegas, passando pela prova e compra de produtos, até à participação em


trabalhos vitícolas vários, como a vindima, pisa em lagar, etc.

4.8. Feiras e romarias

As feiras, onde os agricultores efetuavam a venda do que produziam para subsistirem


economicamente, passaram a funcionar como o principal canal de distribuição dos
produtos tradicionais, quando os agricultores decidiram alargar a sua escala de produção
familiar.

Na medida em que refletem o ciclo agrícola, ano após ano, as feiras associavam-se a
determinados acontecimentos do calendário festivo, de cariz religioso e profano. Destaque
para as romarias, que reuniam milhares de fiéis, nas quais o elemento gastronómico era
parte central.

Desta forma, as feiras e romarias, com os produtos associados, consolidaram a imagem


das localidades e regiões de Portugal, pelo que constituem um importante “cartão-de-
visita” com forte efeito multiplicador no turismo e na economia local.

4.8.1. Museus temáticos

Nas últimas décadas surgiram por todo o país estruturas museológicas, articulando a
preocupação em recuperar as práticas e saberes tradicionais, contribuindo para incorporar
os processos da memória na construção (permanente e em mudança) de uma identidade
coletiva fundada no presente e orientada para o futuro.

Estes espaços integram, simultaneamente, uma forte componente de dinamismo


económico e animação local, que as visitas, os percursos e as atividades permitem
desenvolver.

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Ambiente e Desenvolvimento Rural

Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

Hoje, os museus não se inscrevem num esforço de reificar o passado, antes afirmam um
espaço e dinâmicas que contribuem para o presente e para o futuro e nesse sentido,
participam amplamente na reflexão sobre o desenvolvimento rural.

Por isso se torna tão importante dar-lhes vida (bem como a outros elementos do
património rural, tais como pelourinhos, espigueiros, fontes tradicionais, caminhos),
recuperando-os e restituindo-lhes a sua dignidade através da promoção da sua
reutilização, mesmo que, eventualmente, em moldes diferentes daqueles para os quais,
em tempos foram criados.

4.9. A comercialização de produtos endógenos

4.9.1. O espaço de venda

A distribuição tradicional
Perante a proliferação asfixiante das grandes superfícies, a distribuição tradicional teve de
se reorganizar para dar resposta à rápida evolução de todo o sistema de distribuição.

No entanto, apesar de um declínio em termos de partes comerciais (número de


estabelecimentos, número de pessoas, etc.), a distribuição tradicional, tanto ao nível dos
grossistas/distribuidores como ao nível dos diferentes pontos de venda e/ou da
restauração, representa ainda um canal interessante para as pequenas empresas
alimentares.

Há, contudo, que fazer uma avaliação adequada das condições desses pontos de venda,
para que o valor acrescentado daqueles produtos não se perca por fatores exteriores ao
próprio produto.

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Ambiente e Desenvolvimento Rural

Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

Quando se trata de pequenas lojas, é importante que seja analisada a clientela-tipo. Os


Produtos Tradicionais têm que refletir, no respetivo preço, os custos de uma produção
mais onerosa do que a dos produtos concorrentes, produzidos industrialmente, sem os
requisitos exigidos aos Produtos Tradicionais.

É importante levar em consideração outros aspetos nas pequenas lojas. As condições de


conservação, de exposição e o conhecimento do produto por parte dos empregados são
fatores determinantes, pois deles pode depender o sucesso ou a «morte» de um produto
de grande qualidade.

A grande distribuição
A grande distribuição representa uma rede de canais de comercialização em evolução
constante e cujas políticas de marketing, a dimensão e, por conseguinte, os volumes
próprios de cada ponto de venda, bem como a organização interna e o sistema de gestão
das compras, apresentam especificidades:
 Grandes grupos gestores de HIPERMERCADOS – que operam à escala nacional e
internacional e dentro dos quais o papel e o poder das centrais de compras está a
aumentar;
 Locais de importância média – supermercados rurais – que possuem uma certa
margem de decisão em matéria de compras e que se orientam praticamente
sempre para uma política de caracterização e de identificação com o território;
 Pequenas marcas que operam à escala regional.

Uma participação mais cooperante, entre produtores e distribuidores, permitiu obter


vantagens para ambas as partes. Por um lado, os agricultores vêem garantido o
escoamento dos seus produtos em condições previamente acordadas; por outro, as
grandes superfícies conseguem garantir o padrão de qualidade dos produtos que
comercializam, na medida em que têm um melhor controlo do produto desde a produção.

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Ambiente e Desenvolvimento Rural

Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

Para além das vantagens referidas, as grandes superfícies de vendas, pelo facto de serem
visitadas por grandes fluxos de clientes, representam um papel de extrema importância
para a divulgação de produtos, mesmo para os que provêm de pequenos produtores.

Os Produtos Tradicionais podem colher as vantagens associadas a uma ampla divulgação,


ao serem comercializados naquelas superfícies, que são visitadas diariamente por
inúmeros clientes de todas as classes socioeconómicas.

A pressão de venda, exercida sobre os clientes, é praticamente constante por intermédio


das Ações Promocionais específicas e das Campanhas, que ocorrem ao longo do ano,
aproveitando as épocas tradicionalmente festivas.

As feiras temáticas
As inúmeras feiras regionais, que, um pouco por todo o País, se realizam anualmente,
constituem um importante veículo, no sentido de promover o encontro dos Produtos
Tradicionais com grandes massas de público consumidor que, facilmente, são atraídas por
esses eventos.

Esses são também espaços com significativo potencial para divulgar produtos a nível de
empresas, que fazem parte das cadeias de distribuição desses produtos.

4.9.2. A apresentação dos produtos

Quer se trate com os grossistas, que abastecem as lojas, ou diretamente com os


comerciantes e/ou hoteleiros, o desenvolvimento e a manutenção das vendas no sector da
distribuição tradicional exige sempre um grande esforço.

O escoamento do produto em cada estabelecimento é geralmente lento e a concorrência é


rude. Isto faz aumentar os problemas ligados, por exemplo, à logística, aos custos de

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Ambiente e Desenvolvimento Rural

Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

promoção e comerciais e, em certos contextos geográficos, aos riscos da gestão financeira


das vendas.

Para desempenharem adequadamente o seu papel, os produtos devem ser “tratados” de


determinada maneira no ponto de venda. Assim:
 Devem ser expostos de maneira bem visível, recorrendo às necessárias subtilezas
de apresentação (em expositores especiais, por exemplo);
 Deve insistir-se nas suas particularidades (o marketing deverá, por exemplo, fazer
referência à sua origem, à maneira de os consumir, às suas características, etc.) e
por vezes deve propor-se uma prova.

Ainda no que respeita à apresentação dos produtos, o produtor e o fabricante utilizam o


rótulo para promover a marca e o produto embalado. É neste âmbito que um bom rótulo
pode acrescentar valor ao produto.

Por intermédio do impacte visual produzido por intermédio da notoriedade da marca e da


riqueza gráfica do rótulo, o consumidor pode ser induzido a adquirir um determinado
produto.

Os Produtos Tradicionais encontram na rotulagem o meio para se distinguirem dos


restantes, no mercado. É por intermédio da colagem de rótulos especiais ou de inscrições
no rótulo global, referindo as Denominações, que os produtos devidamente legalizados
podem reforçar o seu valor face ao consumidor mais exigente.

As iniciativas dos produtores para incentivar e apoiar esta política da imagem têm,
naturalmente, um papel extremamente importante.

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Módulo 12 – Valorização dos produtos endógenos

Bibliografia

AA VV., Artes e tradições de Portugal, Fundação Calouste Gulbenkian, 1994

AA VV., Produção integrada em hortícolas, Ministério da Agricultura, Direcção-Geral de


Proteção das culturas, 2005 (vários volumes)

AA VV., Produtos Locais, Jornal Pessoas e Lugares, nº 11, Rede Portuguesa LEADER +,
2003

AA VV., Turismo nos territórios rurais, Jornal Pessoas e Lugares, nº 13, Rede Portuguesa
LEADER +, 2003

AA VV., Gastronomia e identidade territorial, Jornal Pessoas e Lugares, nº 26, Rede


Portuguesa LEADER +, 2005

Rodrigues, Gomes, Castelo Branco, Lara, Novos produtos de valor acrescentado , SPI –
Sociedade portuguesa de Inovação, 2005

Webgrafia

Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do território


http://portal.min-agricultura.pt/

Agroportal
http://www.agroportal.pt

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