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Volume Unico Maria Luiza M. Abaurre Graduada em Letras pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Mestre em Teoria Literaria pela Unicamp. Membro da banca elaboradora das provas de Redacao, Lingua Portuguesa e Literatura de Lingua Portuguesa do vestibular da Unicamp (1992, 1993, 1995, 1996). Consultora (Lingua Portuguesa) do ENEM/NEP/MEC (2000 a 2002). Marcela Pontara Graduada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Membro, durante 6 anos, da banca de correcao das provas de Redacao, Lingua Portuguesa ¢ Literatura de Lingua Portuguesa dos vestibulares da Unicamp e da Unesp. 508, TTT) Fevereiro de 1922. No elegante Teatro Municipal, a elite assiste assombrada 4 apresentacao de irreverentes e jovens artistas: sua arte redefine de modo ousado os padrdes estéticos em voga. A reacao 4 apresentacao é violenta e imediata. Neste capitulo, saiba tudo 0 que aconteceu e conheca os caminhos da literatura brasileira inaugurados pela Semana de Arte Moderna : = 0-Postal, 1929, dlea sobre tela. Am resenlava 8 nalteza cats polemica no Wee hee OC cio do seculo XX ‘como Tara re capiuto 25 Digitalizado com CamScanner t que vocé deverd saber a0 final deste estudo. 4, aque foia Semana de Arte ‘Moderna. + Qual a importéncia dos manifestos Pau-brasil e Antropéfago. ‘2. Qual foi 0 cardter inovador das obras de Oswald de Andrade. ‘ De que modo o naciona- lismo de Oswald associa a ironia a critica. 3. Como se caracterizam as obras de Mario de Andrade. * Qual a importéncia de Macunaima na definicéo de um novo perfil de “he- 16i" literério brasileiro. 4. Por que a obra de Manuel Bandera abriu noves perspec- tivas para a poesia brasileira. ‘© Como lirismo passa a ser definido a partir de ele- mentos cotidianos. 5. Como se define a prosa de Anténio de Alcéntara Ma- chado. + De que modo a relagéo entre paulistas e imigran- tes italianos retratada pelo autor. Tarsila do Amaral (1886-1973), mais do que criartelas imortas, ‘como Abaporu, abr importantes ‘espacos para a mulher brasileira. Participante ativa da Semana de Arte Moderna, esposa de Oswald de Andrade, Tarsila ajudou a con- ‘eber as bases do nacionalismo ‘tea que nasce em 1922. Reco~ ‘hecida internacionalmente, cola- borou para divuigar a cultura bra: Silira nos meios artisticos euro us, levando consigo formas, Co” Fes e paisagens que, hoje, S80 re conhecidos como simbolos da arte Original inovadora que ela, 20 lado dos jovens modernistas, tor ‘ou realidade, Pereira 4. Observe 0 quadro da abertura. Que eleme! representados nessa obra? 2. 0 quatho recebeu o titulo de Cartdo-posta, ou seja, um cOtee. que registra uma imagem caracteristica de um lugar. Que aspectos 02 atareva brasilery Tasiia do Amaral escolheu como caracterisucor A paisagem pintada por Tarsila do Amaral é uma representacee estili- ee tala Que velaqao 8 artista estabelece entre o titulo da obra, o.censrio escolhido e a forma como foi representado? 3. Reveja o quadro Floresta virgem, do Conde de Clarac, que abriv Capitulo 13. eee brasileira érepresentada pelo Conde de modo muito afe- Tente da aisao de Tarsia. Explique por que, considerando as possivels intencoes de cada obra. 4. 0 uso das cores fortes e 0 modo como os elementos da nature’? oes codes sugerem uma releitura menos formal, mais ale- gre e irreverente. Como isso fica evidente no quadro? ntos da natureza este Cipais caracter Iho apresenta a nova identidade do pais. Brasil Nesta hora de sol puro Palmas para Pedras polidas Claridades Faiscas Cintilagoes Eu ouco o canto cnorme do Brasil! Ll ‘ouco todo o Brasil cantando, zumbindo, gritando, ferando! angam, Redles que se Pal Sereias que apitam, Usinas que rangem, martelam, 3 Ll Rumor de coxithas ¢ planaltos, campainhas, retinchos, aboiados e mugiclos, ile sinos, estouros de Fog Bahia, Congonhas, Sabar Vaias de Bolsas empinando nimeros como papagaios Tumulto de ruas que saracoteiam sob artanha-céus, ores de todas as ragas que a mare tctes, Ouro Preto, ia dos portos joga no sertio! Modernismo no Bras Primeira geracto: cura e inovecgo 509 wy Digitalizado com CamScanner ee LITERATURA EQ Sercia:sienes Ronald de Carvalho (1893- ~1935) formou-se em Direito, mas foi poeta, jornalista,diplo- mata, tradutore ensaista, Estu- dou filosofia e sociolagia em Paris. Como diplomata, percor- reu quase todos os paises da América e da Europa, Em Por- tugal, ligou-se a0 grupo dos poetas Fernando Pessoa e Mé- fio de Sa-Carneiro, partcipan- do da fundacéo da revista lte- Faria Orpheu, que ineugurou 0 Modernismo portugues. Sempre igado aos intelectu- ais da vanguarda modernista, foi quem declamou, na Sema- nade Arte Moderna, o polémi- co poema “Os sapos", de Ma- fuel Bandeira. Morreu aos 42 ‘3nos,vitima de um acidente de automével Bs10 canto 25 Da imagem para o texto Nesta hora de sol puro eu ogo o Brasil Todas as tuas conversas, patria morena, correm pelo ar. A conversa dos fizendeiros nos calezai A conversit dos mineiros nas galerias de our, A.conversa dos operitios nos fornos de aco, A conversa dlos garimpeitos, pencirando as bateias, A-conversi dos eoronéis nas varandas das ro¢as.. Maso que cu ougo, antes de tudo, nesta hora de sol puro Palmas para poliddas tes Brilhos Faiscas Cint Eo canto dos teus bercos, Br il, de todos esses teus bercos, onde dorme, com a boca escorrendo leite, tc, o homem de amanh; CARVALHO, Ronald de, In: BANDEIRA, Manuel (Org). Antalgia dos poets rasiiae fase moderna, Rio de Janeiro: Nova Frontera, 1996. ¥ 1, p. 26, (Fragment). ™ Segundo 0 eu lirco, & possive! determinar a identidade do Brasil por meio de um Unico simbolo? Justifique. Releia 0 trecho abaixo. “Eu ouco todo o Brasil cantando, zumbindo, gritando, vociferando! Redes que se balangam, Sereias que apitam, Usinas que rangem, martelam, arfam, estridulam, ubulam "* Qual é a imagem do Brasil sugerida pelos verbos destacados? Explique. De quem sao as conversas a que o eu litico se refere? Onde elas acontecem? "05 locais das conversas mostram atividades econémicas importantes ara O pals. Quais s8o essas atividades? "0 que a5 atividades demonstram em relacdo ao aspecto econdmico do pais? éncia a participacao dos imigrantes . Explique de que forma isso ¢ feito. 9. Depois de falar dos imigrantes e das Tiquezas do pais, o eu lirico a a que esse 6 © “canto dos teus bercos, Brasil, de todos esses cone Pode interpretar o uso do plural nesse verso” rem de amanha é "moreno". 0 ele ue essa tonalidade de 0 sugere sobre 0 povo brasileiro? oe ™ Alem de moreno, o brasilen H 0 € apresenta “ como © "homem de amnania nwo © abtesentado como “confiante para 0 pais. Por quay ©352 !™agem sugere um futuro grandios® Digitalizado com CamScanner i alos Prestes e membros da Coluna ws iados na Bolivia, La Gatba, 1927. ox Quint-fera negra em Nova York em 2 Aout ae 1929, A mulid0 29 Te ‘a Bolsa de Valores da cidade ent'a em Blnico com 0 colapso econdmTcO rn. LITERATURA A Republica Velha chega ao fim ee dos anos 1920, o exército brasileiro vivia uma situacdo desan= re ae era insatisfatorio, os armamentos eram antigos. 0 muitos ¢ aixOs. Os tenentes estavam entre os mals insatisfeitos, pois eram resid as promocées podiam levar anos. Nada indicava que © govern? do Presidente Epitacio Pessoa iria mudar esse panorama. Foi em meio a essa situacao que ocorreram varias revol idas como movimentos tenentistas ou tenentismo pela cativa de tenentes. Em julho de 1922, ocorreu uma revolta Janeiro, promovida por 17 tenentes ¢ um dente da Repablica Epitécio Pessoa. Ela teve origem na publicacdo, antes das eleicdes presidenciais, de duas cartas andnimas pelo Correlo da Manha. ‘Atsibuidas ao candidato do governo Artur Bernardes, as cartas insultavam 9 presidente do Clube Militar e ex-presidente da Republica marechal Hermes da Fonseca, chamado de “sargentio sem compostura” Bernards saiuvitorioso nas eleicdes e sua posse foi marcada para novern” bro. Em junho, o governo sofreu duras criticas de Hermes da Fonseca por sua intervencao na sucessao estadual de Pernambuco. Epitacio Pessoa reagit & 1 ‘nal e determinou 0 fechamento do dia 2 de julho mandou prender o marec! Clube Militar, com base em uma lei que dava poder ao Governo para eliminar “associagées nocivas a sociedade” Trés dias depois, o mavimento tenentista comecou. Durante 24 horas, 05 18 do Forte, como ficaram conhecidos os corottezos, enfrentaram os mais de mil soldados das forcas governistas @ en- eo se entregaram. Dots fassrios confessaram, mais tarde, ser os autores das cartas atribuidas a Artur Bernardes. Fm jlho de 1924, outo grupo de enentes, revindicando mar represen ‘tatividade politica, voto secreto e justia, deu inicio a uma nova revolta em capaulo, Um més depos, diante do avanco das tropas governistas, 0 revol ‘tosos retiraram-se em direcao ao interior. Em outubro, tropas nO Rio Grande do Sul iniciaram outro levante coman- dado pelo capitao Lu Carlos Prestes € encontraram-se com os rebeldes pau- dad Pee naguele momento estavam combatendo em For do Iguacu no Parans. Estava formada a Coluna Prestes. Durante dois anos, Prestes liderou uma coluna de aproximadamente mil homens, percorrendo 0 Brasil por cerca de 20 mil quilémetros para difundir os homers. uconaros comunistas econcemar 0 povo ase revolt contra as reites vegetais”, ou ej2, 05 grandes latifundiarios que controlavam a produ- eee Sprecla © pause detnham 0 poder poltico, A Coluna Prestes nao Spnsegui derrubar 0 Governo, mas a marcha mostrou a crise politica € © cee fide trem ure atuagso pola maisincive si ia, 0 mundo encaminhava-se pare um clapso,concretizado com a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929. O Brasil, que dependia em Grande parte ds exportacoes de cae, sofreu um duro golpe e teve de enfren- Serum perfodo de grande instabilidade econdmica (0 agravamento da crise econémica contribuiu para tornar mais tenso o ine tc ave anit 9 Sev 2098 ra legos de 1930, quando o presi Gente Washington Luts rompel com a politica do “café-com-leite”. Essa poli- fica previa a alternancia entre paulistas e mineiros na Presidéncia do Brasil, gorantindo poder poltco 3 das oligarquias econdmicas: os pecuaristas de Minas € 05 Prfeicutores de S80 Paulo. Em vez de indicar um mineiro, como aie regra, Washington Luis indicou um paulista, Julio Prestes. tas militares, conhe~ participacao signifi no Forte de Copacabana, Rio de civil que queriam depor 0 presi- _Modernsmo 0 Bras, Primera geracto: ousala inovacao S11 Digitalizado com CamScanner a LITERATURA Desenho de Belmonte, de 1923, retrata cena de sao da belle epoqh Anita Catarina Malfatti (1889- ~1964)nasceu em Sao Paulo. Opi italiano, era engenheiro e a mae, norte-americana, pintora, Em 1910, foi para Berlim (Alemanha) estudar na Acaderia Real. Voltou 20 Brasil em 1914, quando real- 20u sua primeira exposiao indivi dual. Em seguida, fot estudar em ‘Nova York UA). La, entrou em Contato com as estéticas cubista e ‘expressonista, que marcaram sua ‘bra, diferenciando-a dos padres acedémicos brasileros da épaca 3 4 ‘Anita Malfatti, A extudante uss, 1915. Oeo sobre tela, 76 x61 cm. 512 cariro25, A insatistagao com o controle paulista do poder url Wderes Politicos g iitares de diferentes estados basics. Formou-se a Alianca Liberal Gey, to Vargas concomeu com Julio estes, que venceu as elecbes Sob acusactes de traude. Comma 0 camino das urnas nao dera certo, Gauchos @ nordestin, tzganizaram uma marcha em diego capital federal Quando la chegaran depuseram o presidente Washington Luis, Terrinava assimn a chamada Repy blica Velha, controlada pelos grandes proprietsrios rura's Getlio Vargas tomou posse “provisoria” em 3 de novemnbro de 1939 Comecava a era Vargas, que se estenderia até 1945. = Sao Paulo: riqueza e industrializacao Desde a vinda da farnilia real para o Brasil, em 1808, 0 Rio de Janeiro era a cidade de maior prestigio politica e social do pats. Sede do Império e, mas tarde, da Republica, o Rio concentrava também boa parte dos interesses eco. némicos, porque funcionava como porta de entrada para as mercadorias im. portadas da Europa e de saida para a exportacao da riqueza nacional Esse cendrio comecou a mudar com a explosao do café no interior de Seo Paulo. Nova fonte de riqueza que brotava das terras roxas do oeste pauista cultivadas muitas vezes pelas maos dos imigrantes, 0 café trouxe, além do desenvolvimento econmico, uma transformacao importante no eixo de po- der do pais. Ele financiou a industrializacao de Sa0 Paulo, que logo se tornou ‘um dos estados mais ricos e influentes do Brasil glamour da belle époque ainda marcava as ruas do Rio de Janeiro, com seus cafés, lirarias, teatros e festas. O Parasianismo, com seus versos rigidos e suas rimas rebuscadas, reinava soberano no gosto popular. Mesmo o Simboiismo € ‘@U apelo 20s sentidos nao abalavam o prestigio da estetica de Clavo Bila. Pouco a pouco, porém, a vida cultural de So Paulo passou a sentir os efeitos das vanguardas que tomavam a Europa de assalto. Uma mudanga 1 dical nas artes comecava a ser preparada. Coincidindo com o fim da Repibice ‘Velba,-o-Modernismo chegava ao Brasil e = A polémica exposicao de Anita Malfatti Em 1917, a0 voltar dos Estados Unidos, a jovem Anita Malfatti expés algumas de suas obras, que ilustravam a influéncia das vanguardas europe" as no seu estilo. Monteiro Lobato chamou a atencao do publico para 2 ex00- igo, a0 publicar no jornal O Estado de S. Paulo uma dura critica ao trabalho da artista e necessidade de se criar uma arte “moderna”. Para ele, e5s8 arte esquisita poderia ser até produzida por um macaco com um pince! ame rado a0 rabo. Paranoia ou mistificagdo? Tai duas especies dea vida, e ists. Uma con consequiéneia disso fazer otancle pa cos ds grandes mesttes. [.. malmentea natureray e int est posta dos que weem mormaliente mate pura, guardando os eternostitmos Aigo day emiogdes estéticas os processos cise 1A outa especie ‘ pretamena sung & formada pelos que vem 210° Aluz de teorias efémeras, sob asigee? Kas ci € La como furvinculos da cultura exe “ coe Novos precursores duma arte a vir, nada € © que a estucam os psiquiatras em seus tales ihica de escalas rebelde [1 Embora cles se deer mais velho do queaarte a a mistifi Digitalizado com CamScanner ! Fscéndalona exponigso documen dadalsta em Colonia, na qualosvstantesre- ando-se nos i as paredes ; Ff ; nos manicomios est arte dos mani ios. A tinica diferenca reside em qu é sincera clas mais estranhas ‘cebiam uma faca para . , produto ilégico de cérebros transtornados pelas mais Euan 4920__, daria 0s quads Psicoses;¢ fora deles, nas exposicies piiblicas, zabumbadas pela impre! A echnelcnos absorvidas por Sate aeMncceae Bi sma, nem ne a maquete do Manu nhuma légica, sendo mistificagao pura. ‘mento ds bandeira. o ails eae Pare Lebate, 2,04, Sao Paulo: Charles Chapin ana LOBATO, Monti In Mono ata 2 0 Fle 0 cso 0 gato, rs Nowa Calva, 1988, p 116117. (Fra g vat 4g, 08. 2migos da artista organizaram-se para responder ao ataque. Sua estra- : ®* tégia foi tornar mais visiveis para 0 publico as novas tendéncias da arte euro- é Y _ peia. Mério de Andrade publicou, no Jornal do Commercio, texto em que faz uma leitura critica dos principais poetas parnasianos. Intitulado “Mestres do Passado”, esse artigo comeca a revelar os principios que orientarao a arte modernista:rejeigao ao artifcialismo, a “arte pelaarte”, 8s regras limitadoras 1924 _, Grevesno Ro de lane- da criacao, 8 imposicao de um conceito de beleza convencional. sos to €em Séo Pauio, (- Rpolémica iniciada por Lobato, além de contribuir para a organizacao dos novos artistas, também deslocou o eixo cultural do Rio de Janeiro para S40 1922. Formacio do Partido. ‘Paulo. Era lé que se encontrava 0 grupo modernista e de la eles fariam o Roe eaeensing (Clangamento” oficial de suas inovadoras propostas estéticas. ‘80 Paulo sofre bom- bardeioatreodurantea —\ am Poe : _w_waswies Semana de Arte Moderna Stalin assume o poder A 7 1 Ari «SUSE trés noites que fizeram historia ‘Washington Luts assu- Em 1922, comemorava-se o centenario da Independéncia politica do Brasil TE Os intelectuais modernistas viram na data a oportunidade de promover um even- earpiece Ware’ ey to de gala, em que as novas tendéncias estéticas fossem apresentadas. Nasceu erent ate” assim a ideia de realizar uma semana de arte modema. REE 1926 nema sonoro, © grupo, formado por Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida, Me- notti del Picchia, Di Cavalcanti e Mario de Andrade, organizou uma serie de Lindbergh real apr- conferéncias, exposigdes e concertos para divulgar as novas posturas estéticas imei travessia "62 aye eles jé discutiam havia anos. a 1927 eee —wraval de Paulo Prado, importante membro da aristocracia paulistana, arquteto russ, cons garantiu que os bardes do café pagassem a conta da aventura modernista, 1e6.a primaire casamo- © entusiasmado apoio de Graca Aranha deu maior credibilidade a iniciativa -dermista do pals, local: Logo, importantes intelectuais cariocas aderiram ao evento: Sérgio Buarque de Holanda, Heitor Villa-Lobos, Manuel Bandeira (que nao compareceu, mas enviou um poema) foram apenas alguns dos nomes que tomaram parte na Semana de Arte Moderna. = Vaias, relinchos e miados: o espanto do publico Na noite de 13 de fevereiro, a elite paulistana compareceu em peso ao ‘Comega a crcular a Re- Teatro Municipal, alugado por 847 mil réis (algo proximo a R$ 20.000, 00), _ vista de Antropotag. para assist conferéncia de abertura, feta por Graca Aranha, hed " Fleming descobre @ ‘A confusso aconteceu na segunda noite. Menotti del Pichia, peniclina, rovacao da plateia,afmou que os conservadores provavelmen prevjos “um 2 UM, NOS fins assobios de suas vaiag” a tho leu o poema “Os sapos", de Manuel Bandeira, a 3 1928, Teagindo a re- desejavam en- Quando Ronald de Carva- Igitacdo virou confusao, Moder mismo no Bras. Primera geracto used @ novacdo 513. i ee Digitalizado com CamScanner LITERATURA (al O sapo-tanociro, Pamasiano aguado, Diz: — “Meu cancioneiro E bem martelado. © meu verso é bom, Frumento sem joio. Faco rimas com Consoantes de apoio. Clame a sap as c6 mais poesia, 11 Fremont nig select, fra Joiosemientels fxm Aegprescies ond piroversti Randers separa oi im (ago) donee ray (io Vai por cinquenta anos Urrao sapo-boi: . Vede como primo Que Ines deia norma: — "Meu pai foi rei” — “Foil Em comer os hiatos. Reduzi sem danos “Nio foil” — “Foi Que arte! Enuncarimo 4 formas a forma. 1 Os termos cognatos. Charge de Belnonte para a revista Dom Quitote, 514 __canmuo2s ANDEIRA, Manuel. Ca Rio de No poema, Bandeira critica severamente a estética parnasiana e, & medida Que os versos foram sendo lidos, a plateia 0s acompanhou com apupos ¢ ssobios, repetindo ruidosamente o refrao “foil, nao foil, foi!” 0 terceiro dia foi marcado pelo incidente com Villa-Lobos. Atormentado Por um calo, 0 miisico ndo conseguiu calcar sapatos que combinassem com a roupa de gala que usava e apresentou-se de casaca e chinelos. Atribuindo Qesto a uma excentricidade “futurista”, boa parte dos presentes sentiu-se ofendida pela atitude do maestro. Ainda em 1922, Mario de Andrade publicou o seu volume de poemas, Pauliceia desvairada. Em 1923, foi a vez de Oswald de Andrade, com o ro- mance Memérias sentimentais de Jodo Miramar. Manuel Bandeira, em 1924, apresentou O ritmo dissoluto. Aos poucos surgiam as obras que tornavam irreversiveis as mudancas anunciadas em fevereiro de 1922 = ee Os sons brasileiros de Villa-Lobos O trenzinho do caipira Lavaio wem com ome Livaia vida a rodar Litvai ciranda e destino Cidade e noite a girar Lavaio trem sem destino Pro dia novo encontrar Correndo vai pela terra Vai pela serra, vai pelo mar Cantando pela serra ao luar Correndo entre as estrelas a voar Luar, no ar, no ar, no ar Heitor vila-Lobos, VILLA-LOBOS, Heitor; GULLAR, Ferreita In A forca que nunca seca Ri de Jancito: BMG, 19% Disponivel em: chutp://www.ampbnet.com br>. Acesso en 23 jn, S005, vere Gravada por Maria Bethania, “O trenzinho do caipira* tem musica de Heitor Ville Lobos e letra do poeta Ferera Gullar. Quca a cancio com seus coleges € depois discuta: ea revela 0 deseo de redescobir © Brasil que marcou ¢ prea geracdo modermista? Por qué? prete: Maria Bethi Digitalizado com CamScanner oy yo ——— -i t—_— LITERATURA ceenn 4 O Projeto literario da primetr a a biografia de Sérgio Buarque geracao modernista -"” j.. 4, ge Holanda, elaboreda para uma oe No ae > : oe roan le em comemoracgo, ott del . \ oo anne conmigen merase qa eum enaa io a -rzadapelo Universidade deCam- formulou um cédigo: formou uma conscigncia, um movimento libertador @ pnas.hidumapassagemqueilustra__INtegrar nosso pensamento e nossa arte na nossa paisagem e no nosso espiri- avaredade de autores estrangeimos 10 dentro da auténtica brasiidade”. Mais uma vez a busca pela identidade | nina Sone Pr. Nacional voltava ao centro do projeto literario de uma geracao. = Bron ad Para cumprir esse projeto, o Moderismo, inspirado pelas propostas icone gupocarioca ol clastas das vanguardas europeias, deu inicio a um questionamento sistematico {ve aaa eee ecautig 425 alors que fundamentayem o gosto nacional. Pode parecer contractor. -f- os le que o questionamento das influéncias estrangeias na cultura brasileira tenha sido yf, Fo) rope eat Wa Grae}. Al apuecan nbn nspado por mounentosartsicos europe. € preciso bra. porn, gue 27 L Mille Lobos, a o 0 re em, que rogtino Jinior, P , __(nvaGao-das vanguardas comecava pela destruicéo dos.valores. do pasado, Era tempo do Brasil governa- Ea crenca na necessidade de destruir esses valores para propor um novo doporAnur Bernardes.Fatavase _©lN@" Para a arte que anima os primeiros modernistas. Assim, ao mest? tem- ‘icpoliia,dearte moderna. ede 2 Que davam seu grito de independénciae se revoltavam contra modelos do §Teratura A fonteliteriria files. P888ado, enfrentavam heroicamente a resistencia de um publico que cultivava [fica cramaisfrancest.[..] Maria 555 modelos como sinénimo de beleza. € i interessava-se por todos, alemies ! e americanos inclusive. Oswald A | (uuSiumpoucepdosiatann, — % OS agentes do discurso Lise Proust, lise poesia de As condigBes de producdo da primeira geracao modernista estéo direta- 4} oléryeClaudl, lisse ogrupode mente lgadas ao fenémeno das vanquardas culturais europelas. Como vimos, j ca (Apolinaire.Cocteats pita Malfatti realizou uma exposicdo de quadros que, ao revelarinfluéncias | Gotlan}eossaneliaticion, ibs eexpesionstaschocu gosto onservador da ete paulstana 1 Bete : Embora o Jornal de Noticias, da Bahia, tenha publicado 0 Manifesto do Fux ete Em ee een Conrad, Thomas 1. percusséo entre os basieros. Foi sé em 1912, ano em que Oswald de Andrade, de volta da sua primeira viagem a Europa, fez republcar o texto, que a divulga- Yeats ilandés Sige Bernard! ¢80.das propostas futurists comecou a inspirar os joven literatos brasileiro. Shan; T.. Elliot. [.] Eos russ, (0 progresso trazido por invencdes como o telégrafo facilitou muito o inter- Tehecor, Dostoiéwsi, ols cambio cultural, porque as novidades artisticas que surgiam nas principais sponfe ens > 655 paulo contasse com saldes atistico-literdrios como a Villa Kyrial, do gau- Acesso ci: 11 jun. 2005. 57° Ts Valle. As reunies,frequentadas tanto por ricos oligarcas quanto por joves talents sem recursos, ram animadas pelas posigdesideologicas or is vezes dvergentes dos participantes. As ideias fervilhavam e fecunda- am a imaginacéo dos novos artistas. Digitalizado com CamScanner ——— LITERATURA Gadi remnia non Beard Os poetas nacionalistas Os manifests Pau-brasile Nhen- _gxu verde-amarelo trazem o inte- res3e pelo nacionalismo paraalinha de frente, Em Martim Cereré(1928), Cassiano Ricardo (1895-1974) ado- ta como tema a natureza brasileira “primitva”, cantando 0 verde, 05 animais da tlorestae 0 folcore. O Fesgate de mitos e 0 so de ono- matopeias contribuern para a des- ‘rg0 da natureza tropical RaulBopp (1898-1984), com Co- bra Norato (1931), explora as len- das da Amaz6nia para desenvober © tema da vagem no tempo e no espaco, Tanto 0 tema desenvoli- 0, a grande wagem de descober ta do pats, quanto 0 apro- Veitamerto de lendas e mi- 3 tos indigenas tomnam Cobra ‘Norato "parente” de Macu- rnaima, de Mario de Andra de, de Martin Corer’, de Cassiano Ricardo. Para Care {os Drummond de Andrade, Cobra Norato foi “possvel- Imente 0 mais brasileiro de © todos 0s Inros de poemas ~ Brasileiros, escritos em qual- quer tempo’ Capa da primeira edigbo de Cobra Noa, de Raul Bor. a" 516___ capris Para divulgar essas ideias e, principalmente, aproveitar a agitagao provoca. da pela Semana de Arte Moderna, foi preciso imaginar novos meios de real. var a Grculagao dos textos, Os primeltos modernistas brasileitos investirary ho lancamento de revistas e fFianifestos As revislas permitiam a apresenta. id das prodcdes lterdtias inspitadas pela nova visio aristica. Os manifestos funcionavam como espaco de definiao € divulgago dos préprios principiog iode avon, a primeira revista a suri, ainda em malo de 1922, trazia no pre meiro niimero umn editorial-manifesto que destacava seus objetivos: a busca do alual, 0 cullo ao progresso, a incorporacio de novas formas artisticas, como o cinema, ea afirmagao de que a arte nao é uma cépia da realidade. A cla somaram-se Estética (Rio de Janeiro, 1924), A Revista (Minas Gerais, 1925), Terra Roxa e Outras Terras (Sa0 Paulo, 1926) e Verde (Minas Gerais, 1927) ‘A multiplicagao das revistas mostra que a onda modernista ia aos poucos tomando conta do centro politico e econdmico do pats, concentrando-se nas principais capitais da regido Sudeste. A primeira geracao modernista e o publico 0 publico brasileiro nao estava preparado para os eventos da Semana de Arte Moderna, Os ideaisliterarios apreciados pela elite ainda eram bastante conservadores, ditados por mestres como Olavo Bilac. Parte da elite paulista do periodo, que desejava cultivar uma imagem mo- derna, interessou-se pela nova literatura, escrevendo textos em jornais para apoiar 0 grupo de 1922. O defensor mais eloquente foi Paulo Prado, que escreveu varios artigos elogiando os primeiros textos modernistas. apoio econdmico e social da elite permitiu que as propostas de vanguar- da continuassem a florescer, embora nao contassem com 0 apoio do pubio, que nao as entendia. A esse respeito, ¢ interessante notar a diferenca entre a Fecepcao dessas propostas no Brasil e na Franca. Em Paris, quando a primeira ‘exposicéo cubista aconteceu, o estranhamento foi geral. Porém, a efervescén- cia cultural da capital francesa e 0 acesso mais frequente das pessoas a inova- GOes artisticas fizeram com que, em pouco tempo, as vanguardas artisticas deixassem de provocar espanto. No Brasil, a aceitacao da produgdo modernis- ta demorou muito mais para se consolidar junto 20 puiblico. = Manifestos: proposicao de / novos caminhos estéticos Boa parte das propostas da primeira eragao modernista foi apresentada obra imanifestos. O primeiro deles, (Manifesto pau-brasil; foi lanca- do por Oswald de Andrat ia-18-de margo de 1924 nas paginas GO Correo da Manhé. Pros ideal desse manifesto era conciliar a cultura nativa @ a cultura intelectual."O manifesto tamibém propunha “ver com olhos livres”, fazer uso da lingua sem precon- ceitos e resgatar todas as manifestagoes culturais, fos- sem da elite ou do povo. Uma reacao conservadora nasceu com 0 manifesto zu verde-amarelo (também chamado de, Manifes- to do verde-amarelismo ou da Escola da Anta), publicado emrfaio dé 1929, que defendia um estado forte e centra- lizador e a adogdo de um“nacionalismo ufanista-e primiti- vista=8-grUpo, do qual participavam Menotti del Pichia @ Cassiano Ricardo, escolheu a anta como seu simbolo, por Digitalizado com CamScanner I i i ae Mara thine, Gibero Gi, Gal Costs © Caetano Veloso, decada de 1970 LITERATURA sssumiu uma feicdO esse animal ter sido em -amarelisrmo a um totem tupi. © Verde-ami mismo do lider {Rdica, pregando ideas poticas reacionarias, associadas 20 int 'n10 Salgado, uma versio brasileira do fascismo. Tropicalia: a geleia geral antropofagica ‘A abertura da musica “Tropicé- Sobre eabera os aides lia” anuncia o cardter revoluciona- Sob osmeuspésescaminhies 12 ee mnoyimento que agitOu © pont conta cx chaps pais no fim da década de 1960. Li- derada pelos baianos Caetano Ve- Eu onganizo o moximento tose e Gilberto Gil, a Topicalia re- Bn orienta o carnal presentou uma resistencia 20 Na- Ev naga momimento no ee eno da ditadura [planalta central prijitar de 1964. O movimento re- ia fomou a proposts antOporeuica vin para, déglutindo criticamente o. que oe Smosica“internacional oferecia, Set aeneesasce ‘cantar todos os ritmos. Assim, gui- Disponiselem: gira eetricae baido conviviam em elowocoWbr>. _perfeita harmonia nos arranjos OU- mB ng £005. sados das cangdes. Em ome de Andrade lancou o\Manifesto antropéfagoem reacso ao nacionatismre-utanista do grupo da Anta. A proposta, agora, tinha feicao anarquista Valendo-se da antropofagia como uma metafora do que deveria ser cul~_ turatmente assimilado, digerido € superado pata que se alcancasse uma ‘Verdadeira Independencia cultural, Oswald sintetizou a8 conquistas do mo- vimmento modernista-ao mesmo tempo que lancou_um lema para os tempos. === —fututas: “Tupy, or not tupy, that is the question”, paro- diando a Célebre duvida de Hamlet, personagem de Shakespeare, "to be or not to be" (ser ou nao ser) Oswald, mais uma vez provocando polémica, defen- dia que, como antropéfagos, os brasileiros deveriam ado- tar uma postura critica diante das influéncias culturais eu- ropeias, “digerindo” o que interessasse ¢ eliminando_o sto. Coffi &sa proposta, alifmava uma postura nacio- ta diferente de todas as anteriores, que propunham. ~atimmar tudo 0 que fosse estrangeiro para louvar os sim- bbolos da nacionalidade =m Adeus as formulas literarias 0 BletndeAt yin mecein oO [20s Aliberdade do deu identidade a producao dos prinieros modernistas. Ela ¥e manifestou tanto na esco. liha de temas como no aspecto formal assumido pelo tex- to literario. Manuel Bandeira, em “Poética”, Moderns no Bras Primera gerato: cusadae invecao $17 inovagio 547 Digitalizado com CamScanner resumiu de modo exemplar a nova perspectiva estética Tasla do Ara, Abpory, 1928, deo sobre tela tT i © quatro Abopotu (em tup, aba quer dizer "homem* Conv end pony, ue cme) epou o movimento antoptiaga, (7, eseN ¥ LITERATURA Revista de Rniropotasia. Pottica Estou farto do lirismo comedido do fitismo bem comportado Do lirisimo funcionario pablico com livro de ponto expediente stages de apreco ao Sr. diretor [protocoto © ma ra ¢ vai averiguar no dicionério 9 [cunho verniculo de um voc Estou farto do lirismo que Abaixo os puristas Todas as palavras sobretudo os barbarismos universai Todas as construgdes sobretudo as sintaxes de excegio Todos os ritmos sobretudo os inumeriveis “Ri vem no358 comida pulnby? Estou farto do lirismo namorador Numero 1 da Revista de Antropofagia, maio ae 158 Politico Raq iflitico De todo liso que capitula ao que quer que seja fora de simesmo, —! De resto nao é lirismo j Sera contabilidade tabela de cossenos secretirio do amante exemplar | [com cem modelos de cartas eas diferentes : [maneiras de agradar ais mulheres, etc. i Quero antes o lirismo dos loucos i O lirismo dos bébedos 7 Olirimo dif e pungeme dos bébedos | O litismo dos clouns de Shakespeare i —Nio quero mais saber do lirismo que nao é libertacao. BANDEIRA, Manuel. Libertinagem. In: Poesia compa era Rio de Janciro: Nova Aguila, 1985.27 I i ! ea Com os modernistas, a expresséo poética alcancou uma liberdade formal jamais vista: v {todos os tamanhos,-com-rimas e sem rimas, estrofes com diferentes ‘iimeros de vemos, tudo era permitido. . dole. ™ Linguagem: o Portugués brasileiro >“. ova postura nacionalis fest da linguagem mano demoe fase oa Re cian : : feTidera @ campanha pelo uso da Tiigua. “brasileira” NOSte- [Projeto literdrio dd primeira tos lterérios, Por isso, opta por escre pram mas eee eee ta Por escrever algumas palavras de modo mas se. elo povo. Em seus livros, encontramos formas como milhor, si, pra, entre outras. ‘Slem.da aproximacso entre fala e ecctita, linguagem da prosa moder" nistatorna-se mais dai As\ongas describes rc a0 luge manticas € Tealstas dao lugar TEBE, "ita eT (eeS886, Cando eflito de fotogramas que ganham movimento quando miontsdor erm Ue" cia" Os romances @ contos, compostos de inuinbias conae com essae, branruma nova forma de expresso: ¢f \ as CAPhTULO 25 ° . LOO eel Descobrimento Oeu lirico reflete a respeito de uma descoberta que 0 comove. \ | Abancado a eserivaninh: » Paulo | Na minha casa da rua Lopes Chaves is eaaTeaane Ty De sopetio senti um fritime por Myo, po Ll Caetano Narins Fiquei trémulo, muito comovido Filho de pais humildes, Mario Com o livro palerma olhando pra mim. paul de Morais Andrade (1893 11945) foi menino rebelde e alu- no dedicado. Chegava a passar rove horas estudando musica, sua maior paixdo. Metédico, sus- Nao vé que me lembrei lino norte, meu Deus! tentava-se com 0 emprego no Na escurieio ativa da noite que cai Papen > Dremitico oe Um homem pilido, magro de cabelo escorrendo nos olhos EE Sio Paul, onde erate 1em pilido, magro de cabelo escorrendo r drStico, com as inumeras aulas particulates de piano e artigos que cexcrevia para diversas publicacoes. Grande intelectual, foi através de sua participagao na organizacdo ANDRADE, Maio de, Cl oj da Semana de Arte Moderna e, posteriormente, dos varios textos lterrios por ele publicados que sganhou notoriedade e respeito. muito longe de mim, Depois de fazer uma pele com a borracha do dia, Faz pouco se deitou, esti dormindo. Esse homem é brasileiro que nem ew. oti. Posias competas Belo Horizonte? io Paulor: Ratiaia/ Edusp, 1987. p. 205, 4. No poema, a descoberta feita pelo eu lirico é apresentada, em pri- meiro luger, pela referéncia a dois espacos distintos. Quais sdo eles? 2. Oeulirico descreve 0 *homem do norte. Como ele o caracteriza? 18 Qual é a profssao do homem do norte? Transcreva 0 verso que indica a atividade dele. De que maneira 0 trabalho desse homem determina a caracterizagao feita pelo eu lirico? 3, Transcreva os versos que indicam as atividades do eu lirico. Que tipo de trabalho esses versos sugerem ser o dele? f Explique por que 2 realidade do eu lirica € diferente da vvida pelo “ho- mem do norte” 1 Por que a descoberta da diferenca entre os dois “mundos” provoca o Espanta e a comocae do eu rico? «a. “Esse homem é brasileiro que nem eu.” 0 verso revela que a des- ce ta feta pelo eu lirico é a do verdadeiro significado da nacio- falidade. Explique por qué. +5. 0 poema poderia se chamar “Descoberta”. O que explica entlo 0 titulo “Descobrimento"? este capitulo traz fatos que i ‘Alinha do tempo deste capi fatos que indicam uma reno- 6. A am relagao as esteticas do passado. Identifique-os e expli que asa de Mario de Andrade, na Rud LORE “haves, no bairro: 3arra Funda, em $30 de que manera eles revelam © Carater “revolucionario” 2 Atuamente Uneone Teg \_ teeee Voltado para a area de criac30| litera. | Modernismo no Brasil. Primeir fi | Modermismo no Pres. Primera geracgo: ousadiae inovacso $19 a Digitalizado com CamScanner EEE LITERATURA Jos6 Oswald de Sousa Andra- | de (1890-1954) nasceu em S30 1 Paulo iho de familia ica. A con- aicdo econémica permitiv quevia- {asse varias vezes 8 Europe, onde entrou em contato com a boémia litera do Velho Mundo e conhe- eu artistas como Jean Cocteau, Blaise Cendrars e Pablo Picasso. Oswald atuou como um dos mentores dos artistas de sua ge ragio, langando dois manifestos (Pau-brasile Antropdfago) que re- I sumiam as novas referencias es- téticas. Teve uma vida pessoal 80 movimentada quanto a cultural. Casou-se oto vezes eteve, entre | a suas esposas, duas “musas” | modemistas:Tasila do Amaral e Patria Galo, a Pagu. W520 carro 25 Oswald de Andrade: irreveréncia e critica ‘Andrade retine todas as caracteristicas que marca. an ao araado period. Esteve poesia, omaNCe, et, cg @, em todos os géneros, deixou registrada a sua vocacso para transgredir, parg luebrar as expectativas e criar polémica ; . Publicou entre outras obras, Os condenados (1922), Memérias sentimen. tais de Jodo Miramar (1924), Pau-Brasil (1925), Primeiro caderno do aluno de ‘poesia Oswald de Andrade (1927), Serafim Ponte Grande (1933), A morta (1937), O rei da vela (1937) e Marco zero (1943-1946). ™ A poesia Em seus|poemas\Oswald de Andrade afirma uma imagem de Brasil mar- cada pelo humor, pela ironia e também por uma critica profunda e um imenso amor ao pais, como atesta 0 lirismo de muitos de seus versos. Uma visio critica da historia do Brasil se manifesta na releitura de textos e eventos do periodo colonial do Brasil. Brasil ‘ Para Trolyr 0 Zé Pereira chegou de caravela E preguntou pro guarani da mata virgem —Sois cristio? —Nio, Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte Teteré teté Quiza Quiza Quecé! La longe a onca resmungava Uu! wal wu! O negro zonzo saido da fornalha ‘Tomou a palavra e respondeu —Sim pela graca de Deus Canhem Baba Canhem Babi Cum Cum! E fizeram 0 Carnaval. ANDRADE, Oswald de. Primeiro eaderno do aluno de Poesia Onwald cle Andrade, Obras compltas de Osa de Andrade. ed. S30 Paulo: Globo, 1904. p. SS eee tom coloquial do poera recria de modo irdnico a chegada dos portugue- = _O momento, normalmente tratado de modo solene, é apresentado a partir cary Perspectva irreverente. O didlogo entre o indio quarani e o Zé Perea, ou seja, um individuo qualquer, ilustra as mul nia = - lualquer,ilustra as muitas influencias ue contr bulram para a definicas-do carter nacional pete eee de compor um novo retrato do Brasil @ de sua gente se fortaleceu Muitas viagens que 6 escritor fez 0 elo pals. Nos poemas que compdem™ Fe im Cowal alcanca um grande poder de concise, por med de iT gens fortes, reconst6paisagensfsicas e humanasrevestdas de om lama citi Digitalizado com CamScanner LITERATURA Sao josé del rei Bananeiras O Sol 8 ee © cansago da ilusio Igrejas 8 ou pea ona serra de pedra Toe Adecadénda : ANDRADE, Osval e,Poesanrenidas. Onas completa 5. ed, Riode Janciro: Chiao Brasileira, 1978p 14. con POU imagens so suientes para ec, vsualmente, a.cidade mineira, ‘om seurcenério-caracterstco de bananeiras e igrejas. O ultimo verso resume a trajetéria de uma regigo que, com o esgotamento das minas de ouro, vive a deca- Covad de Anaad asa co amare, deci. se retato representa muitas pequenas cages de Minas © do Brasil. bortod brine Oswald também se tornou conhecido pelos poemas-piada, textos curtos em {Que um trocaditho ou jogo verbal mais geo desencadeia o efeito humorstico. ‘Composto de um Unico verso de uma unica palavra, e esse poema exemplifica como a significagéo € construida ami - nos poemas-piada. O leitor, ao mesmo tempo que sorri ag . do trocadilho, percebe 0 questionamento contido no ver- so que define o amor: sO existiria no plano do humor? i: 7 a Sem maiores explicacdes, 0 poema-piada obriga 0 leitor {NDRADE Oa de Pm cng utes parla do ‘pratugzo do sentido Go texto. vee “Nas varias faces da poesia de Oswald de Andrade, percebe-se a habilidade para desencadear efeitos de sen- fido com uma linguagem simples e agil. Essa caracteristi- ca também sera um aspecto definidor da sua prosa. humor = A prosa 0s dois romances escritos por Oswald de Andrade, Memérias sentimentais de Joo Miramar e Serafim Ponte Grande, trouxeram para a literatura brasilei- fa uma estrutura inovadora. Os capitulos curtos formam um imenso mosaico fm que a relidade nacional éflagrada em rapids flashes, ern técnica seme- Inante 8 usada na poesia. 146. Verbo crackar Eu empobreco de repente Tuenriqueces por minha causa (Danes Ble azula para o sertio re ge: Nés entramos em concordata Erateden Vos protests por preferéncia inna li ‘escafedem a massa : a Sé pirata ee Sede trouxas Soespundo™ Abrindo o pala Pessoal sarado ‘onal que eu ives sabido que esse verbo era irregular, ANDRADE, Onvald de, Mendrias sentiments defo Mi 9, ed, Sto Paulo: Gabo, 197. p. 9738, (ragmenesy odes no Be, Pei gerato-owadie e overdo 521 Digitalizado com CamScanner LITERATURA 2 Oca: xia cm sm igurati signiica ago que caninha paraa ina proceso de ecadncia declni. Ale cla term pode significa Tim. Coma poema eo time da série “Rotero de Mina" es € uma ‘utraposbilidade de Feiura do tern oe Le) Aobra-prima de Aleijadinho No Santuario do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, localizado ‘em Congonhas do Campos (MG), est4 0 mais grandioso conjunto de arte barroca da humanidade. $50 ‘Besculturas a0 todo: 66 imagens | em cedro, dispostas em seis ca- pelas, que simbolizam as etapas (05 “Pas505”) da Paixao de Cristo, €05 12 profetas em pedre-sabso. Esse trabalho espléndido, reali- zado no espaco de dez anos, fi- “cou a cargo de um s6 escultor: 0 Aleijadinho, auxiiado apenas por } alguns assistentes. | ‘A conjugagao do verbo “crackar” & uma referéncia irdnica & quebra dy Bolsa de Nova York (conhecida como o crack da Bolsa) e suas consequeincias rho eenario nacional. Memérias sentimentais de Jodo Miramar conta a histori de Joao Miramar, escritor, intelectual provinciano e filo de ricos cafeicultores Considerado urn livio de vanguarda, mantém o humor como lente pela qual a sociedade brasileira 6 examinada de modo impiedoso. A estrutura do roman- Ce, composto de 163 fragmentos, usa elementos da linguager cinematograf. ‘ca Esctita com grande economia de linguagem, a obra é marcada pela presen. cade diferentes géneros, o que se tornou marca registrada da prose do autor J8 Serafim Ponte Grande radicaliza a abordagem feita ern Memérias sent _mentais de Joo Miramar. © enredo se constt6i pelo incessante deslocamenty {geografico da personagem principal, que embarca em um navio cujos tripulan. tes fundariam a sociedade ideal, em permanente estado de transformacdo. 4 historia desafia o leitor: so 203 fragmentos organizados sem logica aparente Personagens aparecem e desaparecem repentinamente, estilo flutua entre rarragao em primeira e terceira pessoas, cartas, diérios intimos, fragmentos apresentados sob forma de texto teatral, poemas, abaixo-assinados, etc. E considerado um romance revolucionério e seu significado nao se limita 0 enredo, nasce principalmente da organizacao dada & obra pelo mais inqui- eto de todos os modernistas da primeira geracao. ve ocaso Por meio de imagens multifacetadas, 0 poema constréi © retrato da arte sacra de Minas e do pais. No anfiteatro de montanh Biblia de pedrasabio Os profetas do Aleijadinho Banhada no ouro das minas Monumentalizam a paisagem As ciipulas brancas dos Passos E os cocares revirados das palmeiras xy eane, oma de Poesasreunides Sio degraus da arte de meu pais ‘Obras comple Rio de jane Onde ninguém mais subiu Ghilizagio Brasileira, 1971 p. 140141 4. Que elementos 0 eu lirico destaca no poema? O que ele pretende enfatizar ao se referira esses elementos? Transcreva as expresses que traduzem essa énfase. 2. O verso “E 0s cocares revirados das palmeiras” estabelece uma rela- 80 de semelhanca entre dois elementos. Identifique esses elemen- tos e explique como se da a semelhanca entre eles. § Esse verso valoriza a cultura indigena? Justifique. 3. Aque se referem, no poema, os “degraus da arte do meu pais"? 8 Qual é, segundo o eu Ico, a expressao maior dessa arte no cenario descito? ™ Como pode ser interpretado 0 verso “Onde ninguém mais subi”? ‘4. Minas Gerais viveu a opuléncia trazida pelo ouro durante 0 Barroco, eriodo que produziu artistas como Aleijadinho. Com base nessas infor- mages, como podem ser entendidos os dois tltimos versos do poema? 5. De que forma a’ valorizagao ‘de elementos da cultura e da arte nacionais, Preocupacao da primeira geracéo modernista, aparece no poema? op Digitalizado com CamScanner a jo, inicio da década de 1940, ro de Andrade em sua casa. S80 Inspiragaéo Sio Paulo! comocio de minha vida, Si 50 de minha vi 1a vida... Siio Paulo! comogio de minha vida. Os meus amores sio flores feitas de original... Galicismo a herrar nos desertos da América! Arlequinal! Luz e bruma. Elegancias sutis sem escindalos, Perfumes de Paris... Arys! Bofetadas liricas no Trianon... es de losangos. ‘are de Andrade PAULICkA DESVAIRADS Capa da primeita edigio da obra Pauliceiadesvairado, de Mario J Andrade; 1922. Forno ¢ inverno momo. LITERATURA Mario de Andrade: : a descoberta do Brasil brasileiro Um dos lideres da primeira gerag3o modernista, Mario de Andrade fol unt apaixonado por Sa0 Paulo, cidade em que morou praticamente toda a sua vida, O oeta projetava nos versos sobre a sua cidade e seu pais a esséncia de sua alma lirica. © poema “Inspiragéo" é uma declaracéo de amor & cidade das frias neblinas. Cinza e ouro.. d uliceka desvairad, ANDRADE, Mario de Poesias compietas, Belo Horizonte/Siv Paulo: Igodoal! Tatiaia/Eaunp, 1987 p88. Homem de grande cultura e conhecimento, atuou como uma especie de “mestre”, que tomava para si a tarefa de articular as discussoes artisticas € promover a reflexdo sobre 0 verdadeiro nacionalismo. Empenhado em pesquisar os elementos mais caracteristicos da identidade nacional, viajou pelo Brasil coletando exemplos de manifestacoes folcloricas € musicais na tentativa de compreender melhor a esséncia do pals. A lingua “brasileira” era outra de suas obsessbes. Chegou a pensar na criaco de uma “ gramatiquinha da lingua brasileira”, que incorporasse os falares regionais & seus neologismos sintaticos. ‘Com uma vide pacata, dedicada @ musica e a literatura, o grande desgosto do poeta era constatar que a geracio modernista de que participou foi relativa- mente omissa no que dizia respeito & criacao de uma arte socialmente engaja- da, pragmitica, capaz de contribuir para 0 aperfeigoamento do ser humano. = Poesia: a liberdade formal e as longas meditacées Em “Prefécio interessantssimo”, texto que introduz os poemas de Paulceia desvareds, Mario de Andrade apresenta a essénca da sua poesia: art + rismo = Goesa, Nessa viséo, 2 ciacBo podtica pode ser igualada a capacidade de se aoe evar pela inspiracao instantanea, que nasce da observacao da vida Nos poemas de Paulieia-desiairada (1822), Losango céqul (1926), Cla do jabut (1921), Remate de males (1930) e Lira paulstana (1946), os verso lives jomimem sensacoes, iis, momentos da vida. O desaio enfrentado pelo poeta cree concliar os sinais recolhidos da vida cotidiana e suas reflexes mais intimas, sca tendancia para associar imagens a sentimentos deu origem, na obra de taro, ds importantssimas meditagBes, poemas longos que mostram como ce Mrorigacia imeiata (0 passeio, 0 espeticulo das pessoas, a paisagem, etc) 2 reansforma em reflexao sobre a vida, a patria, a propria identidade, © auto seg um dia excreveu "Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoental AS sensox thes renascem de simesmas sem repouso” encontrou nesses poemas a forrea egtca para expressar suas indagacoes mais profundas, ee Modemismo no Bs gee: cus einovago $23 y Digitalizado com CamScanner eee a LITERATURA A meditacao sobre o Tieté nus Agua do meu Tieté, a 1, arranhacéus valentes donde saltam s gatos verdes, balhos ¢ fibricas, aemaranhada forma lance Onde me queres levai = Rio que entras pela tert E que me afastas do mar. Luves e gliria 0s punido Em canticos, em priz Ea cidade. Enoite. E tudo € noite. Debaixo do Da Ponte das B i Murmuran [el banzeiro de agua pesa E noite ¢ tudo é noite. Uma ronda de sombras, Soturnas sombras, enchem de noite ti Ete i © peito do rio, que é como sia Onde me queres lev ’ oturna, noite iquida, afogan tal | Asaltas torres do meu coracio exausto. Derepente Rio que fazes terra, ims da tera, bieho da terra, O olio das guas recothe em cheio luzes trém umn susto. Enum mome plende em luzesinume Ruas, ruas, por onde os dinosauros caxingam \do com a tua insisténcia turrona paulista as tempestades humanas da vida, 1 cis, lares,pakicioe nas, [od I ANDRADE, Miro de, Lira plitana, Mesias compl elo orironte/Sio Pao: Ha Ein NT ps MOSH. (Fragen), f 1 cama. : tt Maplende: bala maiko. Considerado 0 testamento postico de Mario de Andrade, "A meditacdo |) FREER cseomtve canta com score o Tieté" foi concluido treze dias antes da sua morte. © poemna usa 35 | i Blau acu, guas do rio que corta a cidade de Sa0 Paulo como uma grande tela onde sso | projetados os principais motivos de sua obra: os amores, os sonhos, as lutase as imagens iluminadas da cidade e da estranha fauna humana que a povoa. i \ Essas reflexdes, a0 mesmo tempo que recuperam momentos da vida do poe | ta, denunciam com amargura “a forma corrupta de vida” que suja o rio. Arti= culadas sob a forma de simbolos — a cidade, 0 rio, a noite —, tais reflexes i definem a poesia de Mario de Andrade ™ Amar, verbo intransitivo: o impiedoso retrato da aristocracia paulistana Os textos em prosa escritos por Mario de Andrade representam um ques- tionamento das estruturas tipicas do romance do século XIX. Em obras como ‘Amar, verbo intransitivo, 0 escritor deixa claro seu desejo de experimentar diferentes organizacées para o texto em prosa, ora eliminando a marcacao de capitulo, ora criando um narrador que, mesmo em terceira pessoa, atua qua- ‘se como uma personagem do livro. (romance apresenta varios quadros da vida de uma familia de novosericos que 5 viva na cidade de Séo Pauio na década de 1920. Felsberto Sousa Costa, o patit- To ae ea ecaa”” Ca da familia, contata Fraulein Elza, professora alema, como tutore do tihes ¢ na aga SN Governanta da casa, Mas, na verdade, ela ¢ uma "professora de amor", eufemis- Frdulen Elza no fime Lito de amor. mo que se refere a funcao de inicarsexualmente os fihos de burqueses cos, 52a canmruio 25 Digitalizado com CamScanner Muraquta proveniente 2 regito 3° Santarém, Para, Tahado getaimente

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