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INTRODUÇÃO
O Concílio Vaticano II, através da Constituição sobre a Sagrada Liturgia
Sacrosanctum Concilium consagrou o princípio da renovação permanente e da
necessidade de uma permanente reforma da Sagrada Liturgia, "pois a Liturgia consta de
uma parte imutável, divinamente instituída, e de partes suscetíveis de mudança. Estas,
com o correr dos tempos, podem ou mesmo devem variar, se nelas se introduzir algo que
não corresponda bem à natureza íntima da própria Liturgia, ou se estas partes se
tornarem menos aptas". Os ritos ou a expressão significativa da Liturgia devem adaptar-se
às necessidades de cada tempo para que os mistérios celebrados possam ser
compreendidos e vividos pela Igreja celebrante. A reforma litúrgica não foi encerrada para
sempre.
Assim se compreende que, após a grande reforma promovida pelo Concílio, haja
sempre a necessidade de se retocar os ritos para facilitar a participação frutuosa dos fiéis.
Aqui se trata do centro de toda a Liturgia cristã, a Celebração eucarística ou da
Ceia do Senhor que chamamos Missa. O Missal Romano foi profundamente reformado
pela Constituição Apostólica Missale Romanum de Paulo VI que aprovava a Institutio
Generalis Missalis Romani com o Ordo Missae. Publicou-se, em seguida, a edição típica
do Missale Romanum, em 1970, cuja tradução portuguesa para o Brasil apareceu em 1973.
Passados apenas cinco anos, foi publicada a segunda edição típica do Missal Romano com
pequenas mudanças e alguns acréscimos. Sua tradução com algumas adaptações para o
Brasil apareceu apenas em 1993, onde foram consideradas também as exigências do novo
Código de Direito Canônico.
Mas, de 1975 ao ano de 2000, o Magistério central da Igreja a quem pertence em
primeiro lugar a regulamentação da Sagrada Liturgia, decretou uma série de orientações a
respeito do Missal Romano, que agora foram incorporadas na terceira edição típica da
Instrução Geral sobre o Missal. À luz destas normas da legislação litúrgica posterior à
primeira edição típica do Missal Romano, será reeditada a terceira edição típica de todo o
Missal com repercussão particularmente sobre as rubricas do Ordinário da Missa.
Esperavam-se algumas mudanças mais profundas no Ordinário da Missa,
particularmente referentes ao Rito penitencial e à localização da saudação da paz. Isso não
aconteceu na atual edição típica. Em geral, o novo documento mantém os princípios do
anterior Missal Romano. Trata-se antes de incorporar a legislação já existente e de
adições, de insistências, de pequenas mudanças e acréscimos, especificações que permitem
esclarecer ou enfatizar alguns conceitos e, a meu ver, de alguns retrocessos.
Para muitos, certas mudanças apresentadas na nova Instrução Geral poderão
constituir até novidades.
I. NOVIDADES:
As novidades propriamente ditas são poucas. Eis as mais significativas:
Abolição do altar voltado para a parede. - O Missal Romano ainda permitia o
altar voltado para a parede, sobretudo em igrejas antigas. Agora se exige o altar voltado
para o povo. Assim o altar deverá estar separado da parede, permitindo a locomoção do
celebrante e dos ministros na celebração (cf. n. 299).
A posição do tabernáculo. - O tabernáculo não pode mais estar sobre ou embutido
no altar da celebração eucarística. É de singular importância que o Santíssimo esteja numa
capela reservada, ou no sacrário separado do altar da celebração. Numa capela, esta deverá
estar conectada com a igreja e acessível aos fiéis. Se, ao contrário, se utiliza o sacrário no
lugar da celebração, este não deverá estar no altar onde se celebra a Missa, sendo que a
decisão sobre a colocação do sacrário pertence ao juízo do bispo diocesano (cf. n. 314-
315). Se a Eucaristia se encontra no sacrário, aqui, sinônimo de presbitério, o sacerdote, o
diácono e outros ministros fazem uma genuflexão, quando se aproximam ou abandonam o
altar, salvo durante a celebração da missa. Mas, os que não estão envolvidos na celebração
da missa, deverão fazer a genuflexão, cada vez que passam diante do altar do Santíssimo
Sacramento. Aqui parece tratar-se, do altar do Santíssimo Sacramento e não do
tabernáculo situado atrás do altar. Portanto, o sacerdote, o diácono e todos os ministros só
fazem genuflexão ao Santíssimo ao chegar ao altar no início da Celebração eucarística e
no fim (cf. n. 274).
V. ALGUMAS RESTRIÇÕES
Pudemos descobrir na nova Instrução Geral sobre o Missal Romano algumas
restrições, que talvez pudéssemos chamar também de retrocessos.
Purificação dos vasos sagrados. - Esta purificação é restrita aos ministros
ordenados e ao acólito instituído: "Os vasos sagrados são purificados pelo sacerdote ou
pelo diácono ou pelo acólito instituído depois da Comunhão ou da Missa, na medida do
possível junto à credência. A purificação do cálice é feita com água, ou com água e vinho,
a serem consumidos por aquele que purifica o cálice. A patena seja limpa normalmente
com o sanguinho" (n. 278). Excluem-se, portanto, os ministros extraordinários da
Comunhão eucarística, que, na prática, ao presidirem celebrações da Palavra de Deus, na
ausência do sacerdote, ou levarem a Sagrada Comunhão aos enfermos, exercem tal
ministério.
Os ministros que auxiliam na distribuição da Sagrada Comunhão. - "Se não
houver (outros presbíteros ou diáconos) e se o número dos comungantes for muito
grande, o sacerdote pode chamar ministros extraordinários para ajudá-lo, ou seja, o
acólito instituído bem como outros fiéis, que para isso foram legitimamente delegados.
Em caso de necessidade, o sacerdote pode delegar fiéis idôneos para o caso particular.
Estes ministros não se aproximem do altar antes que o sacerdote tenha tomado a
Comunhão, recebendo sempre o vaso que contém as espécies da Santíssima Eucaristia a
serem distribuídas aos fiéis, da mão do sacerdote celebrante" (n. 162).
Quais seriam estes ministros? O acólito instituído bem como outros fiéis, que para
isso foram legitimamente delegados, ou somente estes últimos, ou seja, ministros
ocasionais? Parece que são todos eles.
Em Esclarecimentos fornecidos mediante diferentes consultas, fornecidos por
oficiais da Congregação para o Culto Divino, a 28 de julho de 2000, parece que se quer
acentuar aqui o momento da fração do pão: "A fração do Pão Eucarístico é tarefa do
sacerdote e do diácono. Os ministros leigos da Eucaristia não se aproximam do altar
senão depois da comunhão do sacerdote, e sempre recebem a âmbula das mãos do
sacerdote". Parece, pois, que os ministros leigos não são impedidos de buscar, se
necessário, algum cibório no tabernáculo após a saudação da paz, para que ao se
apresentar o Sacramento aos fiéis, já esteja sobre o altar. Neste caso, os ministros
depositam o cibório sobre o altar e se retiram ou pouco para o seu lugar.
Este item certamente constitui um alerta a se evitar o mau costume de se dar a
Comunhão quase que somente de hóstias já consagradas em missas anteriores. Quando se
distribui a Comunhão com hóstias consagradas na mesma missa, como é sumamente
recomendado, é claro que não há necessidade de os ministros se aproximarem antes de o
sacerdote ter comungado.
Gestos e posições do corpo. - Neste ponto temos algo de estranho. Por um lado se
insiste que os gestos e posições do corpo devem expressar claramente o sentido de cada
parte da missa. "Os gestos e posições do corpo tanto do sacerdote, do diácono e dos
ministros, como do povo devem contribuir para que toda a celebração resplandeça pelo
decoro e nobre simplicidade, se compreenda a verdadeira e plena significação de suas
diversas partes e se favoreça a participação de todos. Deve-se, pois, atender às diretrizes
do direito litúrgico e da prática tradicional do Rito Romano e a tudo que possam
contribuir para o bem comum espiritual do povo de Deus, de preferência ao próprio gosto
ou arbítrio" (n. 42a).
1. De joelhos do Santo até o final da Oração eucarística? - Depois, se diz ser
louvável os fiéis, onde for costume, permanecerem de joelhos do Santo até o final da
Oração eucarística: "Onde for costume o povo permanecer de joelhos do fim da
aclamação do Santo até ao final da Oração eucarística, é louvável que ele seja mantido"
(n. 43d).
Estranhamos porque, dentro da tradição litúrgica, a ação de graças se proclama
de pé; a profissão de fé é feita de pé; o anúncio é feito de pé; as aclamações são feitas
de pé. Creio que esta concessão pode levar ao risco de se acentuar o aspecto da adoração
na Missa. Não podemos voltar a acentuar a dimensão da presença real e da Comunhão,
mas a Eucaristia como ação de graça, memorial, do sacrifício da Cruz. A adoração da
Eucaristia tem outro momento, isto é, o culto eucarístico fora da Missa.
Como ficaria a aclamação depois da Consagração? Trata-se de aclamação, anúncio
e testemunho do mistério pascal de Cristo atualizado na Eucaristia. A posição de joelhos
não é posição adequada. A posição apropriada é de pé, posição de alerta, de prontidão, de
anúncio, de testemunho, de profissão de fé. Por isso, apresentam-se três aclamações.
Fazem parte da Oração eucarística. Devem ser proclamadas integralmente. Cada uma
realça um aspecto do mistério da Eucaristia: Na primeira, o anúncio da morte e
ressurreição de Cristo; na segunda, a Eucaristia como Ceia memorial da Salvação; na
terceira, uma prece confiante ao Salvador do mundo, que nos libertou pela Cruz e
ressurreição. Não é hora de adoração do Santíssimo. Nada de acrescentar cantos de
adoração nesta hora. A aclamação normalmente será cantada.
Confiamos que a Conferência dos Bispos a quem compete dispor sobre os gestos e
posições do corpo na missa, também dê uma orientação neste ponto.
2. Comunhão de joelhos? - Quanto ao modo de receber a Comunhão, a Instrução
Geral acolheu o que já fora determinado na Instrução "Inaestimabile Donum", baixada
pela Sagrada Congregação para os Sacramentos e o Culto Divino, em 1980. Os fiéis
comungam de pé ou ajoelhados, conforme a determinação da Conferência dos Bispos: "O
sacerdote toma, então, a patena ou o cibório e se aproxima dos que vão comungar e que
normalmente se aproximam em procissão. Não é permitido aos fiéis receber por si
mesmos o pão consagrado nem o cálice consagrado e muito menos passar de mão em
mão entre si. Os fiéis comungam ajoelhados ou de pé, conforme for estabelecido pela
Conferência dos Bispos. Se, no entanto, comungarem de pé, recomenda-se que, antes de
receberem o Sacramento, façam uma devida reverência, a ser estabelecida pelas mesmas
normas" (n. 160).
Há três coisas a observar. Primeiro, os fiéis normalmente se aproximam em
procissão. A procissão expressa o Povo de Deus em marcha, a caminho da casa do Pai.
Neste caminho, como o povo de Israel, ele é alimentado pelo Pão descido do céu, Jesus
Cristo.
Segundo, os fiéis comungam ajoelhados ou de pé. Conforme a própria Instrução,
"a posição comum do corpo, que todos os participantes devem observar é sinal da
unidade dos membros da comunidade cristã, reunidos para a sagrada Liturgia, pois
exprime e estimula os pensamentos e os sentimentos dos presentes" (n. 42b). Importa,
portanto, que haja unidade que será estabelecida pela Conferência dos Bispos. Aqui não se
deixa liberdade ao indivíduo. O critério não se fundamenta em orientações de nossa
Senhora a partir de supostas visões aparições a quem quer que seja. Nossa Senhora está em
oposição, mas em comunhão com o Magistério da Igreja. Cremos que receber a
Comunhão de pé é mais concernente com a Eucaristia, Memorial eucarístico do Mistério
pascal de Cristo e com Ceia do Senhor. É difícil e um pouco estranho participar de uma
ceia de joelhos. Esta forma de receber a Comunhão parece reforçar a compreensão da
Eucaristia como objeto de adoração que vingou durante muitos séculos.
Terceiro, a reverência ao se comungar de pé. Trata-se de uma recomendação a
ser regulamentada também pela Conferência dos Bispos e não de uma obrigação. Qual
seria esta reverência? A genuflexão parece excluída, pois atrapalharia o bom andamento
da procissão. Inclinação profunda? Se possível, se não fosse na hora mesma de se receber
a hóstia. Parece que bastaria uma simples inclinação de cabeça. Como já ficou dito, a
questão deverá ser regulamentada pela Conferência dos Bispos.
Leituras dialogadas ou "encenadas". - Fica praticamente excluída a proclamação
da Palavra de Deus em forma dialogada ou como que encenada. "Não convém de modo
algum que várias pessoas dividam entre si um único elemento da celebração, por
exemplo, a mesma leitura feita por dois, um após o outro, a não ser se trate da Paixão do
Senhor" (n. 109). Foi justamente a partir do modo de se proclamar a Paixão do Senhor
com papéis diferentes como o cronista, Jesus e intervenção de outras pessoas e do povo,
que se introduziu o costume de proclamar de modo mais vivo como que encenando certos
Evangelhos bem como outras leituras, onde aparece sobretudo o diálogo, permanecendo
ao sacerdote a função de Jesus Cristo. Este hábito é agora de todo desaconselhado.
CONCLUSÃO:
Como vimos, as novidades propriamente ditas são poucas. Nesta terceira edição
típica do Missal Romano renovado por decisão do Concílio Vaticano II manteve-se
basicamente a estrutura da Missa aprovada por Paulo VI. Integrou-se no próprio texto da
Instrução o Proêmio acrescentado um pouco depois da edição do "Ordo Missae" devido às
críticas e os ataques contra o Missal reformado. Temos agora uma só numeração. Foi
integrada na Instrução Geral toda a regulamentação da Liturgia da Missa posterior à
primeira edição típica do Missal Romano.
A nossa exposição pode ter deixado a impressão de volta a uma concepção
rubricística e legalista da Liturgia. Creio que não devamos tirar esta conclusão. O
acolhimento desta nova Instrução e edição do Missal Romano deve levar sim à uma
compreensão maior da ritualidade da celebração dos mistérios de Cristo. Rito é rito e
deve ser vivido como tal. Importa descobrir e viver seu sentido simbólico. Os ritos ou
a expressão significativa da Liturgia contêm, ocultam, revelam e comunicam ao
mesmo tempo o mistério de Cristo.
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
I. NOVIDADES
- Abolição do altar voltado para a parede
- A posição do tabernáculo
II. INSISTÊNCIAS E PROIBIÇÕES
- O canto do Ordinário da Missa dialogada com a assembléia
- O canto gregoriano
- O Glória e o Cordeiro de Deus
- O Santo
- A Palavra de Deus
- Proclamação da Palavra de Deus
- A presidência única da Missa
- Vestes litúrgicas
- Comunhão de hóstia consagradas na Missa
- A Sagrada Comunhão recebida só do ministro
- O silêncio
- A Oração eucarística deve ser proferida somente pelo sacerdote
- O "Por Cristo", só do sacerdote
- Intervenções da assembléia durante a Oração eucarística
- O ministro da Santa Comunhão
III. EXPLICITAÇÕES DE ALGUNS RITOS
- Absolvição do Ato penitencial sem força de sacramento
- O Senhor, tende piedade e o Ato Penitencial
- O canto do Próprio da Missa
- O "Aleluia" com valor em si mesmo
- Incensação
- Sinais de veneração
- Posições do corpo
- Sobriedade da saudação da paz
- A maneira de saudar ao Evangelho
- A preparação do altar do sacrifício
1. Ofertório
2. Apresentação das oferendas
3. Canto das oferendas
4. Aclamação
- O rito das oferendas
- Aclamação após a Consagração
- Maneira de apresentar a hóstia e o cálice
1. Após a Consagração
2. Na grande doxologia
3. Antes da Comunhão
- Ornamentação do altar
- Crucifixo e não simples cruz
- A piscina
IV. AMPLIAÇÕES E ACRÉSCIMO
- Silêncio
- O "Asperges"
- A ação do Espírito Santo na Liturgia
- Aclamações na Oração eucarística
- Ministros leigos como acólitos e leitores
- Os coroinhas e as coroinhas
- Procissão de entrada
- Realce dado ao Evangeliário
- Benção com o Evangeliário
- Aclamação à Palavra de Deus
- Preparação do altar por ministro leigo
- A Comunhão na mão
- Comunhão sob as duas espécies
- Ministro ocasional da Sagrada Comunhão
- Missa com assistência de um só ministro
- Purificação dos vasos sagrados
- As leituras da Liturgia da Palavra
- Leituras próprias e apropriadas
- Disposição e ornamentação das igrejas
1. Dedicação das igrejas
2. O altar
3. O ambão
4. Cadeira do sacerdote celebrante ou presidente da celebração
5. Material dos vasos sagrados
6. Dignidade dos livros litúrgicos
7. Os paramentos
V. ALGUMAS RESTRIÇÕES
- Purificação dos vasos sagrados
- Os ministros que auxiliam na distribuição da Sagrada Comunhão
- Gestos e posições do corpo
1. De joelhos do Santo até o final da Oração eucarística?
2. Comunhão de joelhos?
- Leituras dialogadas ou "encenadas"
VI. ADAPTAÇÕES QUE COMPETEM AOS BISPOS E ÁS SUAS CONFERÊNCIAS
- Competências do Bispo diocesano
- Competências da Conferência dos Bispos
- Inculturação da Liturgia