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MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL

PROCURADORIA-GERAL ELEITORAL

Manifestação nº 2.593/20-GABVPGE
Processo: RO-El nº 0600818-68.2018.6.25.0000 – ARACAJU/SE
Recorrentes: DIÓGENES JOSÉ DE OLIVEIRA ALMEIDA E OUTRA
Recorridos: ADILSON DE JESUS SANTOS E OUTRA

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Relator: MINISTRO SÉRGIO SILVEIRA BANHOS

ELEIÇÕES 2018. DEPUTADA ESTADUAL E PREFEITO.


RECURSO ORDINÁRIO ELEITORAL. AÇÃO DE

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INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (AIJE).
LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. INEXISTÊNCIA.
TEORIA DA ASSERÇÃO. PRECEDENTES. ABUSO DE
PODER POLÍTICO. ENTRELAÇAMENTO ENTRE AÇÕES DE
GOVERNO MUNICIPAL E ATOS DE CAMPANHA. FALSO
CADASTRAMENTO DA POPULAÇÃO MUNICIPAL NO
PROGRAMA “MINHA CASA MINHA VIDA”. FINALIDADE
ELEITORAL DA MEDIDA. ACERVO PROBATÓRIO
SUFICIENTE PARA DEMONSTRAR O VÍNCULO DA
CONDUTA COM A CAMPANHA ELEITORAL. ABUSO DE
PODER ECONÔMICO. DOAÇÕES À CAMPANHA DA
CANDIDATA POR MEIO DE “LARANJAS”. ORIGEM DOS
RECURSOS NÃO IDENTIFICADA. ILÍCITO COMPROVADO.
GRAVIDADE RECONHECIDA.
— Conforme entende esse Tribunal Superior Eleitoral,
“[é] no momento da propositura da ação, com base na
descrição fática apresentada pelo autor do processo,
que se verifica a regularidade quanto aos aspectos
subjetivos da demanda, por força da teoria da
asserção” (REspe-El nº 50120/MG, Relator Min. Admar
Gonzaga, Relator designado Min. Luís Roberto Barroso,
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

DJE de 26/06/2019).
— No caso, o litisconsórcio foi regularmente observado
pelo autor da ação ao incluir no polo passivo somente
as pessoas a quem se atribuiu a prática de ilícitos
eleitorais.
— Na linha da jurisprudência dessa Corte Superior
Eleitoral, “[n]ão se admite a condenação pela prática de

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abuso do poder econômico ou político com
fundamento em meras presunções quanto ao
encadeamento dos fatos impugnados e ao benefício
eleitoral auferido pelos candidatos” (AgR-REspe-El nº
28634/PE, Relator Min. Og Fernandes, DJE de
23/04/2019).
— Na espécie, o acervo probatório, globalmente

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analisado, demonstra que o falso cadastramento para
recebimento de casas do programa “Minha Casa Minha
Vida” no período crítico eleitoral e o incessante
entrelaçamento entre as ações do governo de Tobias
Barreto/SE e os atos de campanha de Maria Valdina são
suficientes para configurar o abuso de poder político,
na medida em que inequívoco o desvio de finalidade
na ação administrativa com a intenção de promover a
candidatura da deputada estadual.
— A arrecadação de recursos de origem não
identificada, mediante a utilização de "laranjas" para
encobrir os verdadeiros doadores de campanha, pode
configurar, além de captação ilícita de recursos (art.
30-A da Lei nº 9.504/1997), abuso de poder
econômico.
— As provas dos autos descortinam a existência de
simulação nas doações feitas para a campanha de
Maria Valdina, pois se empregou engenhosa
sistemática em que pessoas físicas, após receberem
depósitos não identificados em suas contas-correntes,
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

repassaram esses valores para a candidata.


— A fraude nas doações foi corroborada, sobretudo,
pelos seguintes fatos: a) os valores doados não
condizem com a capacidade econômica dos doadores;
b) os cedentes não comprovaram a origem dos
recursos doados; e c) os recursos depositados nas
contas dos doadores e as transferências realizadas,

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geralmente na mesma data ou em dias muito
próximos, são de idêntico valor ou muito semelhantes.
— A gravidade das circunstâncias resta sobejamente
demonstrada nos autos e tem força suficiente para
violar a normalidade e a legitimidade das eleições,
pois: i) em período crítico eleitoral, houve desvio de
finalidade de programa habitacional por administração

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municipal, cujo Prefeito é marido da candidata ao
Legislativo Estadual, incutindo na população a ideia de
que o mero cadastramento era fato suficiente para o
recebimento de casa própria; ii) durante toda a
campanha eleitoral da candidata a deputado estadual,
houve o emprego de cor e logomarca semelhantes ao
governo municipal, criando a percepção de unidade de
vínculo entre atos de campanha e a administração
municipal; iii) os valores envolvidos na arrecadação
ilícita de recursos são expressivos (R$ 136.207,55,
representando 57,45% da arrecadação da candidata);
iv) a forma da captação irregular de recursos impediu a
Justiça Eleitoral de fiscalizar de forma efetiva o fluxo
monetário da campanha.
- Parecer pelo improvimento do recurso ordinário,
mantendo-se hígido o acórdão recorrido.
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

Egrégio Tribunal Superior Eleitoral,

I. Relatório

Trata-se de recurso ordinário eleitoral, com pedido de efeito


suspensivo, interposto por Diógenes José de Oliveira Almeida, prefeito do

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Município de Tobias Barreto/SE, e por Maria Valdina Silva Almeida, deputada
estadual eleita em 2018, com o objetivo de reformar acórdão do Tribunal
Regional Eleitoral de Sergipe assim ementado (id 38130238):

ELEIÇÕES 2018. AÇÕES DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL


ELEITORAL. QUATRO AIJES. ABUSO DE PODER POLÍTICO,
ECONÔMICO E DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO. ART. 22 DA

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LC 64/1990. DEPUTADO ESTADUAL. APRECIAÇÃO
CONJUNTA. VOTO ÚNICO. ART. 96-B DA LEI Nº 9.504/97.
QUESTÕES PRÉVIAS. AIJE nº 0601496-83. LITISCONSÓRCIO
PASSIVO NECESSÁRIO. NÃO FORMAÇÃO. DECADÊNCIA.
ACOLHIMENTO. AIJE nº 0600818-68, AIJE nº 0601379-92 E
nº 0601576-47. IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO.
REJEIÇÃO. MÉRITO: 1. AÇÕES DO GOVERNO MUNICIPAL.
ATOS DE CAMPANHA DA INVESTIGADA. LIAME ENTRE A
ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL E A CAMPANHA. ABUSO DE
PODER POLÍTICO. CONFIGURAÇÃO. 2. PROGRAMA
ASSISTENCIAL MINHA CASA MINHA VIDA. PERÍODO
ELEITORAL. CHAMAMENTO À POPULAÇÃO. CARÁTER
ELEITOREIRO. ABUSO DE PODER POLÍTICO. OCORRÊNCIA. 3.
FINANCIAMENTO DA CAMPANHA DA INVESTIGADA.
IRREGULARIDADES. ABUSO DE PODER ECONÔMICO.
CONFIGURAÇÃO. 4. DEMAIS IMPUTAÇÕES. ABUSO. NÃO
CONFIGURAÇÃO. AIJE 0601496-83: EXTINÇÃO COM
RESOLUÇÃO DO MÉRITO. AIJE 0601379-92: IMPROCEDÊNCIA
DOS PEDIDOS. AIJE 0600818-68: PROCEDÊNCIA DOS
PEDIDOS. AIJE 0601576-47: PROCEDÊNCIA PARCIAL DOS
PEDIDOS.
QUESTÕES PRÉVIAS: DECADÊNCIA. ACOLHIMENTO.
IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO. REJEIÇÃO.
1. Versando a ação sobre abuso de poder, mediante conduta
praticada por agente diverso do candidato, consolidada é a
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

jurisprudência eleitoral no sentido da obrigatoriedade de


formação de litisconsórcio passivo entre o agente envolvido
no fato e o candidato beneficiário da conduta.
2. Não estando presente nenhum dos pressupostos
previstos no artigo 332 do Código de Processo Civil, não se
revela possível o pleiteado julgamento liminar do pedido.
MATÉRIA DE FUNDO. ABUSO DE PODER POLÍTICO E
ECONÔMICO. OCORRÊNCIA CARACTERIZADA.
3. O simples compartilhamento de fotos publicadas na rede

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social do município, feito pela investigada em suas redes
sociais, não demonstra o caráter eleitoreiro da entrega de
veículos para a Secretaria da Saúde, mormente ela não
estando presente no evento.
4. Não demonstrado que o trio elétrico esteve em
movimento durante a caminhada ou que tenha sido utilizado
para realização de show, não se configura o alegado abuso.
5. Consoante jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, o

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uso indevido dos meios de comunicação social caracteriza-
se por se expor desproporcionalmente um candidato em
detrimento dos demais, ocasionando desequilíbrio na
disputa eleitoral, o que não se evidenciou na espécie.
Precedentes.
6. Não havendo demonstração de que o custeio com
promoção de festividades tenha ocorrido em benefício da
campanha eleitoral da investigada, há que se afastar a
alegação de cometimento de abuso de poder.
7. A simples presença do prefeito investigado, nos atos de
campanha da segunda investigada, por si só, não caracteriza
abuso de poder.
8. A existência de liame entre a administração municipal e a
campanha da segunda investigada, caracterizado pela
similitude entre as logomarcas do município e da campanha
e pela utilização simultânea da mesma cor (azul) – o que
gerou uma semelhança de identificação visual entre elas –,
bem como pelo uso de lema da campanha em postagem na
página do marido-prefeito em rede social, caracteriza abuso
de poder político por incutir no eleitor menos esclarecido a
noção de que a então candidata teria alguma ligação com as
atividades desenvolvidas pela municipalidade e de que sua
escolha seria a mais conveniente para o município.
9. O chamamento generalizado da população para
inscrever-se para "ter sua casa própria", no início do período
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

eleitoral, seguido de conversão em chamamento para


apuração de deficit habitacional, no curso do referido
período, configura abuso do poder político, na medida em
que gera dividendos eleitoreiros em beneficio da esposa-
candidata, mormente quando o esposo-prefeito tinha pleno
conhecimento de que o ente municipal não atendia todos os
requisitos para o financiamento habitacional anunciado –
Programa Minha Casa Minha Vida – e de que o levantamento
do déficit habitacional era atribuição de fundação indicada

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em norma do Ministério das Cidades.
10. A utilização indevida de recursos financeiros pela
segunda investigada, recebendo em sua campanha dinheiro
aportado mediante suspeitas transmissões sucessivas, que
inviabilizam a identificação real da sua origem, ocorrida em
circunstâncias gravíssimas, com aptidão para desequilibrar a
disputa e comprometer seriamente a regularidade do pleito,
configura evidente hipótese de abuso do poder econômico,

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além de impossibilitar o uso de tais recursos na campanha.
CONCLUSÃO: CASSAÇÃO DO MANDATO DA SEGUNDA
INVESTIGADA. INELEGIBILIDADE DO PRIMEIRO E DA SEGUNDA
INVESTIGADA.
11. Extinção do processo, com resolução de mérito, em
relação à AIJE 0601496-83; improcedência dos pleitos
deduzidos na AIJE nº 0601379-92; procedência dos pedidos
formulados na AIJE nº 0600818-68.2018.6.25.0000 e
procedência parcial dos pedidos deduzidos na AIJE nº
0601576-47.2018.6.25.0000, julgando-os procedentes em
relação aos dois primeiros investigados e improcedentes
quanto aos demais demandados, para, nos termos do artigo
22, XIV, da Lei Complementar n° 64/90, cassar o mandato
da segunda investigada, eleita para o cargo de deputado
estadual, e decretar a inelegibilidade dos dois primeiros
investigados, prefeito municipal e deputada estadual eleita,
pelo período de 08 (oito) anos, a contar da data das eleições
de 2018.

Na origem, Adilson de Jesus Santos, candidato a deputado


estadual no pleito de 2018, ajuizou ação de investigação judicial eleitoral
(AIJE nº 0600818-68.2018.6.25.0000) em desfavor dos recorrentes,
atribuindo-lhes a prática de abuso de poder político, sob a alegação de que
o investigado Diógenes José de Oliveira Almeida, na condição de prefeito do
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

Município de Tobias Barreto/SE, promoveu um falso cadastramento da


população municipal no programa habitacional “Minha Casa Minha Vida”,
com o objetivo de alavancar a candidatura da investigada Maria Valdina Silva
Almeida, sua esposa, ao cargo de deputada estadual.

Além dessa demanda, Adilson de Jesus Santos propôs outras


duas ações de investigação judiciais eleitorais contra os mesmos

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investigados, imputando-lhes o cometimento de abuso de poder político e
econômico.

Na primeira ação (AIJE nº 0601379-92.2018.6.25.0000), o


investigante atribuiu aos demandados os seguintes fatos: a) entrega, em
evento realizado por Diógenes Oliveira em pleno período eleitoral, de 5
(cinco) veículos para a população de Tobias Barreto/SE, a fim promover a

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campanha de Maria Valdina — ela, inclusive, teria postado fotografias do ato
em seu perfil na rede social Facebook; e b) realização de visitas e entrega de
panfletos — pelos investigados e dois vereadores do Município de Tobias
Barreto/SE, em horário de expediente — nos povoados “Pau de Colher” e
“Candeias”.

Na segunda ação (AIJE nº 0601496-83.2018.6.25.0000), o


fato apontado como ilícito consistiu na negociação de apoio político entre
Diógenes Oliveira e o vereador Edivan Santos de Santana, em prol da
campanha da investigada Maria Valdina.

Paralelamente a essas três demandas, o Ministério Público


Eleitoral também ajuizou ação de investigação judicial eleitoral (AIJE nº
0601576-47.2018.6.25.0000) em face de Diógenes José de Oliveira Almeida
e Maria Valdina Silva Almeida, assim como de Diógenes José de Oliveira
Almeida Júnior, Luisete de Sousa Neto, Anailton Fernandes Silva
Costa e Gilson Ramos, ao fundamento de que cometeram abuso de poder
econômico e de autoridade, consistentes nos seguintes fatos — muitos deles
coincidentes com os veiculados nas ações propostas por Adilson de Jesus
Santos: a) divulgação da campanha eleitoral de Maria Valdina por Diógenes
Oliveira, utilizando-se indevidamente da máquina pública municipal; b)
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

vinculação da Prefeitura de Tobias Barreto/SE à campanha de Maria Valdina,


o que poderia ser constatado, sobretudo, pelo fato de a candidata ter
escolhido a cor azul para a sua campanha, a mesma que o aludido Município
adota; c) entrega, em evento realizado por Diógenes Oliveira em pleno
período eleitoral, de 5 (cinco) veículos para a população de Tobias
Barreto/SE, a fim alavancar a campanha de Maria Valdina; d) promoção, pelo
prefeito Diógenes Oliveira, de falso cadastramento da população municipal

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no programa habitacional “Minha Casa Minha Vida”, com o objetivo de
promover a candidatura de Maria Valdina; e) negociação de apoio político
entre Diógenes Oliveira e o vereador Edivan Santos de Santana, em benefício
da campanha de Maria Valdina; f) utilização da Rádio Luandê e de trio
elétrico para promoção da campanha de Maria Valdina; g) realização de
visitas e entrega de panfletos — pelos investigados e dois vereadores do
Município de Tobias Barreto/SE, em horário de expediente — nos povoados

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“Pau de Colher” e “Candeias”; h) irregularidade no financiamento de
campanha, pois teria como fonte indireta a prefeitura de Tobias Barreto/SE,
haja vista que muitas doações recebidas provieram de pessoas físicas
integrantes do quadro de pessoal da administração municipal e que não
tinham remuneração mensal compatível com os valores doados.

Apreciando as quatro ações conjuntamente, o Tribunal


Regional Eleitoral de Sergipe, por maioria, proferiu acórdão (id 38130138) no
seguinte sentido: a) extinção da AIJE nº 0601496-83.2018, com resolução de
mérito, em razão da ocorrência de decadência; b) improcedência dos pedidos
deduzidos na AIJE nº 0601379-92.2018; c) procedência dos pedidos da AIJE
nº 0600818-68.2018 e procedência parcial dos pedidos da AIJE nº 0601576-
47.2018.6.25.0000, para, nos termos do art. 22, XIV, da Lei Complementar
n° 64/90, cassar o mandato de deputada estadual da investigada Maria
Valdina e decretar a inelegibilidade dela e de Diógenes Oliveira pelo período
de 08 (oito) anos, a contar da data das eleições de 2018.
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

Os fundamentos que ensejaram a condenação — e que


interessam para o deslinde da controvérsia — podem ser assim sintetizados:

a) as ações do governo de Tobias Barreto/SE se entrelaçaram


com os atos de campanha de Maria Valdina (por exemplo, a
cor utilizada na campanha é a mesma adotada pelo município
e a logomarca da campanha é muito semelhante à do governo

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municipal), o que denota que o prefeito Diógenes Oliveira,
valendo-se da sua condição funcional, buscou beneficiar a
mencionada candidata, em claro abuso de poder político, na
medida em que isso teria induzido “ no eleitorado a ideia de
que ela tem participação nas atividades desenvolvidas pela
municipalidade” (id 38130338, p. 23).

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b) Diógenes Oliveira, ao iludir a população de Tobias
Barreto/SE — em pleno período eleitoral — com um falso
cadastramento para recebimento de casas do programa
“Minha Casa Minha Vida”, agiu com a finalidade de promover a
candidatura de Maria Valdina, o que caracterizou abuso de
poder político; e

c) “a utilização indevida de recursos financeiros pela então


candidata [Maria Valdina], recebendo em sua campanha
dinheiro aportado mediante transmissões sucessivas, que
inviabilizaram a identificação real da sua origem” (id
38130338, p. 55), caracterizou abuso de poder econômico.

Após infrutíferos aclaratórios (id 38132138), Diógenes Oliveira


e Maria Valdina interpuseram recurso ordinário eleitoral (id 38132738), com
pedido de efeito suspensivo, em cujas razões sustentaram as seguintes
teses:

a) o fato tido como abusivo do poder econômico foi praticado


por terceiros que não integraram a lide na condição de
litisconsortes passivos necessários, de forma que deve ser
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

reconhecida a decadência do direito de ação, na medida em


que o prazo para regularização do polo passivo da demanda —
ou seja, o prazo par ajuizamento da ação — já transcorreu;

b) o alegado entrelaçamento entre as ações do governo de


Tobias Barreto/SE e os atos de campanha de Maria Valdina não
caracterizou abuso de poder político, porque: (i) “inexiste

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proibição legal de uso das cores adotadas por ente público em
campanha eleitoral na sua circunscrição” (p. 17); (ii) “não se
pode aquiescer com a alegação de que o abuso estaria
comprovado pelo fato da candidata ao cargo de deputada
estadual ter feito alusão à administração de seu marido,
prefeito do Município de Tobias Barreto/SE, e aos benefícios
políticos da aliança entre ambos para a região” (p. 17-18),

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tendo em vista que não é ilícito o apoio político entre
correligionários; (iii) não ficou comprovado que a utilização da
cor azul pela candidata em sua campanha teve finalidade
eleitoral; (iv) a gravidade da conduta não foi demonstrada.

c) o cadastramento popular no programa “Minha Casa Minha


Vida” não configurou nenhum ilícito eleitoral, porquanto: (i)
ocorreu com a finalidade de conhecer o déficit habitacional do
Município de Tobias Barreto/SE; (ii) “em nenhum momento foi
informado à população que o cadastro resultaria no
recebimento da casa própria” (p. 30); (iii) “não há notícia nos
autos de comparecimento da candidata a qualquer ato
vinculado ao cadastramento, tampouco a exploração do tema
em sua campanha eleitoral por qualquer meio, seja em
discurso ou mídia social” (p. 30); e (iv) “a ligação entre o
cadastramento popular no programa habitacional Minha Casa
Minha Vida e candidatura da recorrente é feita com base
exclusivamente em presunções estabelecidas à margem de
demonstrações empíricas” (p. 32).
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d) o financiamento da campanha foi regular, na medida em


que: (i) “todos os doadores possuem movimentação bancária
que demonstra a existência de valores passíveis de doação
para a campanha eleitoral” (p. 35); (ii) “o fato de
eventualmente o doador não ter o dinheiro em conta não
significa dizer que a pessoa não dispõe do valor, nem
tampouco é fato impeditivo para realizar a doação” (p. 35); (iii)

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não há impedimento para que ocupantes de cargo em
comissão façam doação; (iv) “durante a audiência para a oitiva
de testemunhas, todos afirmaram que fizeram as doações
voluntariamente sem que houvesse qualquer coação, ameaça
ou imposição por parte dos investigados” (p. 35); (v) os
doadores são “ocupantes de cargos cujos rendimentos brutos
auferidos no ano anterior ao pleito permitiram em todos os

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casos a conclusão de legalidade percentual das doações” (p.
35); e (vi) não há provas da gravidade do fato.

Em suas contrarrazões, Adilson de Jesus Santos pugnou,


preliminarmente, pelo não conhecimento do recurso (id 38132938), ante os
seguintes argumentos: a) o êxito da insurgência demanda o reexame dos
fatos e provas dos autos, providência inviável em tal espécie de recurso; b)
os temas tratados no recurso não foram objeto de prequestionamento. No
mérito, postulou o improvimento do recurso.

Maria das Graças Souza Garcez (admitida no processo como


assistente simples do autor da demanda de origem 1 — id 38126888) também
apresentou contrarrazões (id 38133588), nas quais pleiteou o improvimento
do recurso.

1 A admissão de Maria das Graças Sousa Garcez como assistente simples ocorreu em virtude de ela ser
a primeira suplente da Coligação “Para Renovar Sergipe”, pela qual Maria Valdina concorreu ao cargo de
deputada estadual no pleito de 2018.
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

Em seguida, os autos vieram à Procuradoria-Geral Eleitoral,


para parecer.

II. Pressupostos recursais

O recurso ordinário comporta conhecimento, pois é


tempestivo (id 38132438 e id 38132738), próprio e foi subscrito por

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advogado regularmente constituído (ids 38123888, 38123938, 38127238 e
38132588), tendo sido infirmados todos os fundamentos que amparam o
acórdão impugnado.

Sublinhe-se que “a devolução do recurso ordinário é ampla,


abrangendo tanto matéria de direito — constitucional, federal e local —
quanto matéria de fato2”, de forma que o óbice contido no enunciado nº 24

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da Súmula do Tribunal Superior Eleitoral — suscitado pelo recorrido Adilson
de Jesus Santos — não incide na espécie.

Além do mais, “a exigência de prequestionamento — também


alegada por aquele recorrido — presente nos recursos extraordinário e
especial não existe no recurso ordinário3”.

III. Sobre a alegação de ausência de formação de litisconsórcio passivo


necessário

Os recorrentes, em sede preliminar, aduzem a ocorrência de


decadência do direito de ação, sob o argumento de que os atos tidos como
abusivos do poder econômico foram praticados por terceiros (doadores) que
não integraram a lide na condição de litisconsortes passivos necessários.

Segundo afirmam, “se no acórdão registra-se a existência de


um esquema ilícito de financiamento de campanha — a configurar tese de
abuso de poder — todos aqueles responsáveis pela prática do indigitado ato

2 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil – Volume único. 10ª ed. rev.,
atual. e ampl – Salvador: Ed. Juspodivm: 2018, p. 1711.

3NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Obra citada, p. 1.712.


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ilegal (doadores) deveriam compor o polo passivo da demanda” (id


38132738, p. 13), de forma que, em razão da “deficiência na formação do
litisconsórcio necessário, impõe-se a declaração de nulidade processual,
com a consequente extinção do processo com resolução do mérito por
decadência” (id 38132738, p. 14).

O argumento não deve ser acolhido.

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No caso, os doadores não figuraram, na petição inicial, como
efetivos responsáveis pelo suposto ilícito, tendo a participação de alguns
deles sido evidenciada somente durante a instrução processual, conforme
revela o seguinte trecho do acórdão do julgamento dos embargos de
declaração (id 38132138, p. 7, com grifos acrescidos):

Os embargantes alegaram falta de manifestação sobre

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matéria de ordem pública, uma vez que o acórdão concluiu
pela existência de um esquema ilícito para financiamento da
campanha da então candidata e deixou de incluir no polo
passivo, como litisconsortes necessários, os terceiros que,
na conclusão do julgador, teriam participado
intencionalmente do cometimento do abuso de poder.
Invocaram como precedente a decisão adotada pela Corte,
que extinguiu a AIJE 0601496-83.2018, no mesmo acórdão,
por falta de inclusão do vereador que denunciou a
“negociação de apoio político”, no polo passivo daquela
demanda, e pediram o reconhecimento da ocorrência da
decadência e a extinção do processo.
Ocorre que, embora a inicial faça referência a doações de
vários servidores do município para a mesma candidata, a
suspeita narrada era de possível transferência de recursos
dos cofres da municipalidade para a campanha.
Esses doadores não figuravam inicialmente como efetivos
responsáveis pelo ilícito eleitoral imputado nem era possível
concluir nesse sentido naquela fase embrionária.
A participação de poucos deles – alguns cujos nomes sequer
constam na inicial, como Daniel Amado Batista e Soanes
Ramos Lucas – no esquema irregular de financiamento da
campanha só surgiu com a análise das provas vindas aos
autos durante a instrução.
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

Na época da propositura da ação não havia elementos


suficientes para configurar a participação deles no esquema
ilícito.
E, como bem assentou o ministro Luís Roberto Barroso no
voto proferido nos autos do RESPE 501-20/MG (TSE, sessão
de 09/05/2019), “os elementos subjetivos da demanda
devem ser aferidos, como regra, na data da propositura da
ação e emergem dos fatos jurídicos descritos pelo autor
processual, de acordo com a teoria da asserção.”

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Então, se eles não foram apontados na inicial como
responsáveis pelo ilícito e se então não estava configurada a
participação deles no esquema, não se revelava possível
incluir tais doadores no polo passivo da demanda.

Com efeito, a tese de decadência por não formação de


litisconsórcio passivo necessário deve ser rechaçada, pois é no momento da
propositura da ação, com base na descrição fática apresentada pelo autor do

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processo, que se verifica a regularidade quanto aos aspectos subjetivos da
demanda. Nesse sentido, o seguinte precedente:

DIREITO ELEITORAL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL


ELEITORAL. ELEIÇÕES 2016. AIJE. ABUSO DO PODER
ECONÔMICO. LITISCONSÓRCIO. TEORIA DA ASSERÇÃO.
NULIDADE PROCESSUAL NÃO VERIFICADA. AUSÊNCIA DE
PROVA ROBUSTA. RECURSO PROVIDO.
[…]
II DECADÊNCIA
5. Preliminarmente, discute-se se o aniversariante de
churrasco promovido durante o período de campanha
eleitoral no município deve ser litisconsorte necessário na
ação e se a falta de sua integração à lide acarreta a
decadência.
6. É no momento da propositura da ação, com base na
descrição fática apresentada pelo autor do processo, que se
verifica a regularidade quanto aos aspectos subjetivos da
demanda, por força da teoria da asserção.
7. No caso, o litisconsórcio foi regularmente observado pelo
autor da ação ao incluir no polo passivo tanto aquele a
quem imputou a responsabilidade pelo abuso do poder
econômico como os candidatos beneficiados.
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

8. Posterior conclusão sobre a necessidade de participação


de terceiro que não foi incluído como réu na demanda não
implica decadência.
[…]
12. Recurso especial eleitoral provido4.

Além do mais, é preciso enfatizar que o presente processo se


refere às eleições de 2018 e, por isso mesmo, abre a oportunidade de
revisitação da diretriz jurisprudencial que impõe, à revelia de qualquer

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previsão legal, o litisconsórcio passivo necessário em ações judiciais
eleitorais fundadas em abuso de poder e em uso indevido dos meios de
comunicação social.

Rememore-se, a propósito, que esse Tribunal Superior


Eleitoral recentemente sinalizou o intento de fazê-lo, ao julgar o recurso

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especial eleitoral nº 501-20.2016.6.13.00023, relatado pelo Ministro Luís
Roberto Barroso, de cuja ementa se extrai a seguinte passagem:

Sinalização, em obiter dictum, da necessidade de rever, para


as Eleições 2018, a atual jurisprudência em relação à
obrigatoriedade de formação de litisconsórcio passivo entre
os responsáveis pela prática do ato e os candidatos
beneficiados nas AIJEs por abuso de poder.

Na visão do Ministério Público Eleitoral, a revisão do tema é


indispensável para conferir às ações eleitorais a maior efetividade possível,
sem que se instaure, com isso, ambiente propício à impunidade.

É cediço que o instituto do litisconsórcio necessário tem por


escopo a proteção dos ausentes. Cuida-se, em verdade, de medida destinada
a impedir que o sujeito que não participou de determinada relação jurídica
processual venha a ser atingido pela eficácia da intervenção judicial operada
no conflito ali estabelecido.

O propósito do instituto, nesse diapasão, ganha especial


relevo nos feitos não punitivos, em que negócios jurídicos subjetivamente
4 Recurso Especial Eleitoral nº 50120 - PEDRA BONITA – MG, Relator(a) Min. Admar Gonzaga, Relator(a)
designado(a) Min. Luís Roberto Barroso, DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 26/06/2019, Página
25.
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

complexos são objeto de debate judicial, a evidenciar a existência de uma


relação unitária entre as partes envolvidas.

Nesses casos, não é por coincidência que o litisconsórcio


necessário costuma ser unitário, porquanto a decisão deverá ser proferida de
forma uniforme para as partes envolvidas. Afinal, não se pode anular um
contrato apenas para um dos contratantes. Todos serão afetados.

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Sem embargo, nas ações de natureza punitiva, essa
preocupação desaparece. Isso porque eventual ausente — ou seja, não citado
— não estará sujeito a sofrer as consequências da não formação do
litisconsórcio. A possível existência deste será na modalidade simples, pois,
conquanto os fatos possam ser os mesmos, a participação pessoal de cada
indivíduo, bem como o seu animus e o juízo de gravidade, consubstanciam

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elementos personalíssimos.

Compreensão diversa, se transposta para a seara criminal —


afinal, a mesma razão atrai o mesmo direito —, levaria à inevitável anulação
de inúmeros feitos. Tanto lá quanto aqui impera o princípio da divisibilidade,
a permitir que a persecução seja presidida por ditames pragmáticos e
seletivos, inclusive quanto à responsabilização conjunta, sucessiva ou
exclusiva.

Deduz-se, em resumo, que a razão de ser do instituto do


litisconsórcio passivo necessário consiste em proteger o ausente das
penalidades que, porventura, venham a ser impostas em ação da qual não
participou. Não se presta, portanto, para eximir aquele a quem a falta é
imputada de suportar as sanções dela decorrentes.

A isto se impõe acrescer, ainda, o fato de que não há norma


legal determinando a incidência do instituto, sobretudo quando se
compreende, ao lado da abalizada doutrina de José Jairo Gomes, que não “se
pode falar na existência de 'relação jurídica controvertida' entre o autor do
evento ilícito e os candidatos por este beneficiados5”.
5 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral – 13ª ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Atlas, 2017, p. 687.
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

Tudo isso justifica, amplamente, a premência de se rever a


orientação jurisprudencial que prevaleceu nesse Tribunal Superior Eleitoral
para as eleições de 2016, dispensando-se, em relação a casos alusivos aos
pleitos subsequentes, a necessidade de formação do litisconsórcio passivo
entre beneficiários e responsáveis pelos atos ilícitos.

IV. Mérito

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IV.a) Sobre o abuso de poder político numa percepção restrita, em razão do
entrelaçamento entre as ações do governo municipal e os atos de campanha
de Maria Valdina

Na visão do Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe, as ações do


governo de Tobias Barreto/SE se embaralharam com os atos de campanha de

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Maria Valdina, a revelar que o prefeito Diógenes Oliveira, valendo-se do seu
cargo, buscou beneficiar a mencionada candidata, em claro abuso de poder
político, na medida em que isso induziria “ no eleitorado a ideia de que ela
tem participação nas atividades desenvolvidas pela municipalidade” (id
38130338, p. 23).

A imbricação entre os atos do governo municipal e os atos da


campanha evidencia-se pelos seguintes fatos: a) a candidata adotou para sua
campanha uma das cores utilizadas oficialmente pelo Município (o azul); b) o
prefeito Diógenes Oliveira, em uma postagem em seu perfil na rede social
Facebook, reproduziu o lema da campanha de sua esposa, qual seja, “Juntos
podemos fortalecer nossa gente”; c) “por ocasião de uma visita do
governador Belivaldo à cidade de Tobias Barreto, constata-se a presença, em
uma sala contígua ao gabinete do prefeito — a julgar pelo conjunto de
bandeiras que se avista na sala vizinha —, do governador, do prefeito e da
então pré-candidata (os dois últimos trajando camisa azul, por simples
acaso!), esposa do prefeito” (id 38130338, p. 24); d) a “candidata publicou
em sua página no Facebook informação de que, na assembleia, seguiria o
mesmo rumo da administração do primeiro investigado, passando a ideia de
uma complementariedade entre suas atuações, no tocante à segurança
pública” (id 38130338, p. 24); e e) a logomarca da campanha da candidata é
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

muito semelhante à do governo municipal.

Os recorrentes, contudo, sustentam que o alegado


entrelaçamento entre as ações do governo de Tobias Barreto/SE e os atos de
campanha de Maria Valdina não caracterizou abuso de poder político,
porque: a) “inexiste proibição legal de uso das cores adotadas por ente
público em campanha eleitoral na sua circunscrição” (p. 17); b) “não se pode

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aquiescer com a alegação de que o abuso estaria comprovado pelo fato da
candidata ao cargo de deputada estadual ter feito alusão à administração de
seu marido, prefeito do Município de Tobias Barreto/SE, e aos benefícios
políticos da aliança entre ambos para a região” (p. 17-18), tendo em vista
que não é ilícito o apoio político entre correligionários; c) não ficou
comprovado que a utilização da cor azul pela candidata em sua campanha
teve finalidade eleitoral; d) a gravidade da conduta não foi demonstrada.

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Na ótica desta Procuradoria-Geral Eleitoral, o fato de a
candidata ter utilizado em sua campanha uma das cores oficiais do Município
de Tobias Barreto/SE não configura, por si só, ilicitude, sobremodo se
analisado esse fato isoladamente, na medida em que a legislação não veda
tal prática e a cor é um bem imaterial de ninguém – como anotado nos votos
vencidos proferidos por Marcos Antonio Garapa de Garvalho (id 38130388,
p. 1-2) e pela Juíza Sandra Regina Câmara Conceição (id 38130288, p. 4-5).

Também não se vislumbra irregularidade, a princípio, na


escolha da logomarca da campanha, pois não há como concluir que a
utilização de logomarca semelhante à do governo municipal – de modo
isolado – trouxe qualquer benefício à candidata.

Outrossim, a postagem do prefeito Diógenes Oliveira em seu


perfil na rede social Facebook, na qual veiculou o lema da campanha de sua
esposa (“Juntos podemos fortalecer nossa gente”), a alusão da candidata em
seu perfil de rede social à administração do marido, bem como o encontro
entre a candidata, o prefeito Diógenes Oliveira e o governador Belivaldo
tampouco, a priori, caracterizam ilícito, pois o apoiamento político entre
cônjuges não é vedado pela legislação.
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

Tendo em vista esse cenário, o entrelaçamento entre as ações


do governo municipal e os atos de campanha da recorrente, quando
analisado isoladamente, não tem força aparente de configurar ilícito eleitoral.

IV.b) Sobre o abuso de poder político numa percepção restrita, em razão do


cadastramento da população de Tobias Barreto/SE no programa “Minha Casa
Minha Vida”

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Segundo os recorrentes, o cadastramento popular no
programa habitacional “Minha Casa Minha Vida” também não caracterizou
abuso de poder político, porque: a) o cadastramento foi realizado com o
objetivo de conhecer o déficit habitacional do Município de Tobias
Barreto/SE, não tendo a população sido informada que o cadastro resultaria
no recebimento da casa própria; b) não há nada que ligue o cadastramento

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da população à campanha eleitoral da candidata.

Compulsando os autos, é dado constatar que o anúncio do


cadastramento da população — ao contrário do que afirmam os recorrentes
— teve, sim, a finalidade de transmitir aos munícipes de Tobias Barreto/SE a
falsa ideia de que seriam contemplados com a casa própria. Isso porque,
segundo se apurou, a administração pública daquela municipalidade, mesmo
ciente da impossibilidade de implementar o programa “Minha Casa Minha
Vida”, veiculou notícia segundo o qual aqueles que fizessem cadastro seriam
agraciados com uma casa do programa habitacional.

Isso foi muito bem analisado pelo Desembargador Diógenes


Barreto, de cujo voto se extrai o seguinte (id 38130338, p. 26-33):

No caso em exame, demonstram os autos que a Prefeitura


de Tobias Barreto lançou convite à população para inscrição
no programa social MCMV (AIJE 0600818-68: IDs 70579 e
70580), nos seguintes termos:
“#ATENÇÃOPOPULAÇÃO...
Não perca essa oportunidade de ter a casa própria! A
partir de amanhã, estarão abertas as inscrições para ter a
sua casa própria. Certifique-se da documentação
necessária e compareça para fazer o seu cadastro. M I N
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

H A C A S A M I N H A V I D A AS SENHAS DIÁRIAS SÃO


LIMITADAS! I N S C R I Ç Õ E S A B E R T A S C A S A P R Ó
P R I A INÍCIO: NESTA QUINTA-FEIRA DIA 09/08” (grifos
acrescidos)
Como se observa, a divulgação inicial não foi para a
realização de cadastro em um futuro empreendimento, foi
para “ter a casa própria”. Proclamou o anúncio feito pelo
ente municipal: “Não perca essa oportunidade de ter a casa
própria!” e “A partir de amanhã, estarão abertas as

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inscrições para ter a sua casa própria.”
É intuitivo e lógico que um anúncio com esse conteúdo, feito
no curso do período eleitoral, vai influenciar positivamente o
conjunto do eleitorado indeciso e gerar dividendos
eleitoreiros para os candidatos apoiados pelo prefeito
municipal, no caso a segunda investigada, sua esposa, então
já escolhida candidata a deputada estadual em convenção.
O início das inscrições "para ter a sua casa própria" foi em

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09/08/2018 e o último dia para a realização das convenções
destinadas à escolhas dos candidatos foi 05/08/2018, de
acordo com a Resolução TSE n° 23.555./2017 (calendário
eleitoral).
Em razão disso, e considerando a iminência do início do
período eleitoral, o órgão ministerial local, no dia
09/08/2018, expediu a Portaria nº 01/2018 para instaurar
Procedimento Preparatório de Inquérito Civil (ID 0601576-
47: ID 532818, pgs. 1/2), havendo sido expedida, em
16/08/2018, a Recomendação nº 02/2018 (AIJE 0601576-
47: ID 532818, pgs. 11/12), documento esse recebido no
mesmo dia pelo primeiro investigado, contendo a orientação
para que este, como prefeito de Tobias Barreto, se
abstivesse,
no período eleitoral, de realizar cadastros para futura
entrega de casas, salvo se o projeto do correspondente
conjunto habitacional já estiver aprovado e com a devida
autorização da Caixa Econômica Federal. (grifos
acrescidos)
Verifica-se do referido procedimento preparatório que, em
audiência realizada no dia 30/08/2018, os procuradores do
município informaram que o programa social MCMV já
estava em andamento e ficou determinado pelo promotor
que a prefeitura deveria esclarecer à população, informando
que não se tratava de inscrição para recebimento de
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

unidades habitacionais, e, sim, para verificar o deficit


habitacional existente na localidade (AIJE 0601576-47: ID
532818, pg. 21).
Por esse motivo, a municipalidade alterou o anúncio
anteriormente lançado nas redes sociais, fazendo postagem
com novo texto em 28/08/2018, a fim de fazer o
chamamento popular para efetivação do cadastro do
programa MCMV (AIJE 0601576-47: ID 827868):
“ # A T E N Ç Ã O P O P U L A Ç Ã O...

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Não perca a oportunidade de realizar o seu cadastro!
Ainda está aberto o Cadastro Habitacional para o
programa Minha Casa Minha Vida do Governo Federal.
Certifique-se da documentação necessária e compareça
para fazer o s e u c a d a s t r o.
As senhas diárias são limitadas! M I N H A C A S A M I N H
A V I D A ABERTO CADASTRO HABITACIONAL
LEVANTAMENTO CADASTRAL PARA ANÁLISE DO DEFICIT

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HABITACIONAL
[…]
O CADASTRO NÃO GARANTE O RECEBIMENTO DE
UNIDADE HABITACIONAL E ESTÁ SENDO REALIZADO COM
BASE NA PORTARIA DE Nº 367 DE 07 DE JUNHO DE 2018
DO MINISTÉRIO DAS CIDADES.” (grifos acrescidos)
Comparando-se esses dois chamados, percebe-se que as
informações são destoantes. No primeiro deles está clara a
oferta de casas, fazendo crer que quem se cadastrasse teria
direito ao recebimento de uma unidade habitacional. Já no
segundo, a informação é outra, ou seja, o cadastro estaria
sendo realizado para análise do deficit habitacional no
município.
Depreende-se, assim, que o primeiro investigado, prefeito
de Tobias Barreto, quis lançar nos cidadãos a ideia falaciosa
de que receberiam uma casa se fizessem o cadastro.
Conquanto tenha havido a modificação da publicação, após
a audiência no Ministério Público local, a ideia motriz já
havia sido lançada na população, a qual, mesmo após o
novo anúncio ainda acreditava que a propaganda divulgada
iria ser cumprida, inclusive porque a modificação só ocorreu
20 (vinte) dias após o início do cadastramento.
[…]
É imperioso registrar que, conforme disposto na
Recomendação nº 02/2018 (AIJE 0601576-47: ID 532818,
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

pgs. 11/12), o órgão local do Ministério Público Eleitoral,


orientou o primeiro investigado a não promover a realização
de cadastro para futura entrega de casas, no período
eleitoral, SALVO se o projeto do correspondente conjunto
habitacional já estivesse aprovado e com a devida
autorização da Caixa Econômica Federal (CEF).
Os anúncios feitos pelo governo municipal, chamando a
população inicialmente para "ter a casa própria" (AIJE
0600818-68: IDs 70579 e 70580) - cujas inscrições

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começaram em 09/09/2018 - e depois para um
"levantamento cadastral para análise do deficit habitacional"
(AIJE 0601576-47: ID 827868), postado em 28/08/18, se
referem a quatro empreendimentos: "Vida Nova", "José Bispo
dos Santos", "Vila Verde" e outro cujo nome o declarante
Danillo Campos dos Santos, secretário municipal, não se
recordou no momento da audiência (AIJE 0600818-68: ID
738918).

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Nos autos, não se vislumbra quaisquer documentos
demonstrando que os projetos referentes a esses
empreendimentos estivessem aprovados ou autorizados
pela CEF; existindo, contudo, um ofício encaminhado pelo
Ministério das Cidades para o Município de Tobias Barreto,
datado de 25/05/2018 (Ofício nº 486/2018/DPH/SNH-
MCIDADES - AIJE 0601576-47: ID 827168), informando que
a proposta do empreendimento “Residencial Vida Nova”
estava desenquadrada.
Esse ofício do Ministério das Cidades demonstra que o
primeiro investigado, desde maio de 2018, já tinha
conhecimento do desenquadramento do "Residencial Vida
Nova" do programa MCMV.
Então, por que em AGOSTO/2018, a população estava sendo
chamada para fazer inscrição nesse empreendimento
(conforme depoimento do secretário municipal Danilo - AIJE
0600818-68:ID 738918)?
Constata-se, ainda, a existência de um ofício expedido pela
municipalidade, no dia 09/08/2018, data em que começou
o cadastramento, para a Caixa Econômica Federal (CEF),
solicitando informações sobre o andamento dos processos
referentes aos quatro empreendimentos abaixo, inclusive o
que já havia sido desenquadrado, "Residencial Vida Nova"
(AIJE 0600818-68: ID 86627; AIJE 0601576-47: ID 827468):
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

- Residencial Vida Nova - APF nº 486622-99 - 300


unidades;
- Residencial Nova Esperança - APF nº 43372954 - 300
unidades;
- Residencial Vila Verde - Teccol Engenharia LTDA - 192
unidades;
- Residencial José Bispo dos Santos - GP Engenharia LTDA
- 260 unidades;
Estranho se mostra esse ofício haver sido encaminhado no

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mesmo dia do início do cadastro, sugerindo uma tentativa
de manipulação da realidade para fazer transparecer que
existiam processos em andamento, relativos a esses
empreendimentos, como quis convencer o declarante
Danillo Campos de Santos em audiência (IDs 738568,
738668, 738818, 738868 e 738918 - AIJE 0600818-68 e
IDs 1795218 e 1795268 - AIJE 0601576-47.2018).
Esqueceu-se o depoente, contudo, que, conforme já

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mencionado, a efetivação de programas sociais em ano
eleitoral só pode ser viabilizada se estiverem autorizados
por lei e já estejam em execução orçamentária no ano
anterior, hipótese que não se enquadra na situação em
discussão.
Ademais, cabe ressaltar que o documento ID 827768 (AIJE
0601576-47), encaminhado pela Caixa Econômica Federal
(CEF), em 15/08/2018, informou à municipalidade que
apenas os projetos abaixo, diversos daqueles nominados no
ofício do governo municipal, estavam autorizados e
poderiam ter suas obras iniciadas.
Conclui-se, com isso, que a municipalidade tinha
conhecimento de que os projetos que estavam sendo
anunciados, até aquela data, não haviam sido aprovados
pela entidade financeira, nesse caso, a Caixa Econômica, e,
mesmo assim, continuou a fazer o cadastro na cidade, em
desacordo com a determinação do Ministério Público local
(AIJE 0601576-47: ID 532818, pgs. 11/12).
Além disso, o fato de constar no e-mail enviado pela CEF ao
município (ID 827768) que os projetos em divulgação não
estavam entre os empreendimentos contratados pelo
Município de Tobias Barreto junto àquela entidade
financeira, mostra que, mesmo sabendo desde a data do
recebimento do e-mail (15/08/18), que tais projetos não
estavam aprovados e autorizados pela Caixa Econômica
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

Federal, o primeiro investigado deixou de atender a


recomendação do Ministério Público Eleitoral (recebida na
prefeitura em 16/08/18 - AIJE 1576-47: ID 532818, pgs. 11
12) e continuou a divulgar a abertura das “inscrições para
ter a sua casa própria”.
[…]

Segundo a maioria dos membros da Corte Regional, esse fato


caracterizou abuso de poder político porque “o prefeito da cidade ao

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anunciar essa falsa promessa, no curso do período eleitoral, oportunidade
em que o nome da segunda investigada, sua esposa, já estava escolhida em
convenção como candidata a deputada estadual, fez com que as pessoas
acreditassem no iminente recebimento da casa própria, restando
demonstrado o caráter eleitoreiro de seu ato, incorrendo em conduta
abusiva” (id 38130338, p. 31-32).

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No entender desta Procuradoria-Geral Eleitoral, para verificar
se o fato é configurador de abuso de poder político deve-se aferir se as
circunstâncias do caso concreto indicam, efetivamente, o desvio de finalidade
de um cargo público (em sentido amplo) para fins de beneficiar determinada
candidatura.

É importante registrar, por oportuno, que o fato de Diógenes


Oliveira ser prefeito e marido de Maria Valdina não elide a necessidade de se
demonstrar que o fato tido como abusivo a beneficiou e teve aptidão para
vilipendiar a legitimidade e a normalidade das eleições, sob pena de se
admitir a prática do ilícito eleitoral com base em mera presunção.

Em outras palavras, os ilícitos praticados por Diógenes Oliveira


na gestão do Município de Tobias Barreto/SE somente podem ser
configurados como abuso de poder político quando direcionados ao
benefício da candidatura de sua esposa, havendo a indispensável
demonstração de liame entre a conduta e a campanha eleitoral.

Ante tais considerações, é certo observar que a prática do


suposto abuso de poder político deve ser aferida numa perspectiva ampla e
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englobante, analisando o desvirtuamento do programa de cadastramento


habitacional e o perene vínculo de entrelaçamento entre as ações do governo
municipal e os atos de campanha da candidata Maria Valdina.

IV.c) Sobre o abuso de poder político numa perspectiva ampla

Em uma perspectiva ampla, é possível afirmar que o desvio de

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finalidade do programa habitacional – mediante a forma do anúncio do
cadastramento da população de Tobias Barreto no “Minha Casa Minha Vida” -
e o efetivo entrelaçamento entre as ações do governo municipal e os atos de
campanha eleitoral de Maria Valdina são fatos configuradores de abuso de
poder político, com aptidão de vulnerar a legitimidade da eleição para o
cargo de deputado estadual no Estado de Sergipe.

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Com efeito, é importante assinalar que o procedimento
empregado pelo município de Tobias Barreto, ao proceder o anúncio de
cadastramento da população, teve a inequívoca intenção de transmitir para a
comunidade local a (falsa) ideia de que todos os cadastrados seriam
automaticamente contemplados com uma casa própria.

No caso em tela, nada obstante a absoluta inviabilidade de


implementação do programa “Minha Casa Minha Vida”, o Município de Tobias
Barreto, por meio do seu Prefeito Municipal (esposo da candidata
representada), veiculou notícia (inverídica) de que as pessoas que fizessem
seu cadastro seriam agraciadas com uma casa do programa habitacional.

Como bem explicitado no voto proferido pelo Desembargador


Diógenes Barreto, a municipalidade adotou o seguinte modus operandi: i)
convidou a população para inscrição no referido programa social, destacando
textualmente: “Não perca essa oportunidade de ter a casa própria! A partir de
amanhã, estarão abertas as inscrições para ter a sua casa própria”; ii) esse
anúncio (sabidamente equivocado e com potencial de induzir em erro a
população local, fazendo-a acreditar que a simples inscrição no cadastro era
garantia de casa própria) ocorreu em 09/08/2018, ou seja, quatro dias após
o término do prazo das convenções destinadas à escolhas dos candidatos
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(portanto, com a candidatura de sua esposa a deputada estadual


devidamente registrada); iii) a retificação da informação somente ocorreu
após recomendação do Ministério Público expedida em 16/08/2018; iv)
embora o prefeito tenha recebido a recomendação no mesmo dia da sua
expedição, o Município somente retificou a informação em 28/08/2018
(através de postagem na rede social); v) a notícia inverídica – indicando que o
cadastramento importaria em uma aquisição automática de moradia –

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perdurou praticamente por 20 dias (no período crítico eleitoral); vi) no
mínimo, um dos empreendimentos cujo anúncio foi feito pela municipalidade
sequer poderia ser objeto de cadastramento, porque o Ministério das
Cidades havia informado ao Município de Tobias Barreto, em 25/05/2018,
que o “Residencial Vida Nova” não estava enquadrado nos requisitos legais;
vii) em 09/08/2018, ou seja, no mesmo dia do anúncio do cadastramento da
população (em descompasso com a realidade fática), o Município expediu

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ofício para a Caixa Econômica Federal solicitando informações sobre o
andamento dos processos referentes aos quatro empreendimentos, inclusive
o já desenquadrado, circunstância que indica a intenção da municipalidade
em formalizar uma aparência de regularidade nesse procedimento; viii) em
15/08/2020, a Caixa Econômica Federal relacionou à municipalidade os
projetos autorizados e cujas obras poderiam ser iniciadas, restando claro que
aqueles anunciados à população local não haviam sido aprovados pelo órgão
competente, nada obstante a municipalidade tenha permanecido divulgando
o anúncio de abertura de “inscrições para ter a sua casa própria” (mesmo
após a recomendação do Ministério Público Eleitoral).

Deve-se destacar que esse fato (cadastramento habitacional com


desvio de finalidade), aparentemente, está desconectado de uma intenção
eleitoral; contudo, em uma apuração mais acurada, é perceptível apontar
uma ação engendrada em vincular esse feito com a campanha eleitoral da
candidata Maria Valdina, caracterizando-se, assim, a figura do abuso de
poder político.

E essa conclusão é factível não apenas porque, como anotado


pela maioria dos membros da Corte Regional, houve o anúncio pelo Prefeito
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Municipal de uma “falsa promessa, no curso do período eleitoral” , induzindo


a população a acreditar no iminente recebimento de casa própria, justamente
quando Maria Valdina “já estava escolhida em convenção como candidata a
deputada estadual” (id 38130338, p. 31-32).

Em verdade, toda a ação empreendida pelo governo municipal de


Tobias Barreto, ao longo do ano eleitoral, em certa medida, sempre

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visualizou servir como uma ferramenta para alavancar os atos de campanha
da candidata a deputada estadual representada.

Assinala-se que são várias as circunstâncias fáticas que


evidenciam uma contínua imbricação entre os atos do governo municipal e
os atos de campanha da representada.

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Nesse sentido, não é por acaso que a candidata adotou, ao longo
de toda a sua campanha eleitoral, não apenas a cor oficial do município de
Tobias Barreto (azul), mas também uma logomarca muito semelhante à do
governo municipal.

Na mesma linha, esse vínculo entre atos da administração


municipal e a campanha da candidata a Deputado Estadual, sempre que
possível, era reforçado das mais variadas formas: i) postagem na rede social
Facebook do Prefeito, reproduzindo o slogan de campanha de sua esposa
(“Juntos podemos fortalecer nossa gente”); ii) postagem da candidata em sua
página de Facebook indicando que, quando eleita, seguiria o mesmo rumo da
administração municipal, passando a ideia de complementariedade entre as
atuações, além da alusão à administração de seu marido e aos benefícios
políticos para a região que adviriam com sua eleição; iii) encontro entre a
candidata, o prefeito Diógenes Oliveira e o governador Belivaldo, no
Município de Tobias Barreto, com os dois primeiros “trajando camisa azul”.

É evidente que inexiste proibição de candidato usar cores


adotadas por ente público na campanha eleitoral e, igualmente, não se
desconhece que azul é uma das cores oficiais do Município de Tobias Barreto
desde 2015. Tampouco não é proscrito o apoio eleitoral entre cônjuges,
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sobremodo em circunscrições diversas.

Entretanto, o ponto em debate, aqui, não é apenas o


aprofundamento de um vínculo associativo entre a administração municipal e
os atos de campanha eleitoral da candidata (o que, em princípio, não é
ilícito), mas sim o fato de essa estratégia ganhar proporção significativa no
período crítico de campanha quando, então, o desvirtuamento do programa

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habitacional é ostensivamente empregado com uma evidente finalidade de
captação do eleitorado.

Em síntese, o aludido vínculo de associação (administração


pública e campanha eleitoral) assume um caráter disfuncional quando a ação
administrativa local é empreendida mediante uma pérfida disseminação de
notícias falsas, transmitindo à população de Tobias Barreto – num período

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absolutamente crítico eleitoral – a ideia de que o recebimento de uma casa
própria é consequência natural de um simples cadastramento oportunizado
pela municipalidade.

Nesse contexto, é intuitivo concluir que ações administrativas


engendradas pelo Município de Tobias Barreto, mais precisamente pelo
prefeito Diógenes Oliveira (esposo da candidata a deputado estadual, Maria
Valdina) - sobretudo no desvirtuamento do programa habitacional de modo
a passar a noção de que o cadastro do interessado era garantidor de um
direito fundamental da maior relevância (moradia) - causaram grande
expectativa em parcela considerável da população local (eleitores), o que
inegavelmente repercutiu na campanha eleitoral de sua esposa para
deputada estadual – tendo em vista o intermitente vínculo de associação
realizado entre a administração municipal e a campanha da representada.

Vale dizer, é lícito reconhecer que o vínculo associativo entre a


administração municipal e a campanha da Deputada Estadual, agregado ao
notório desvio de finalidade do programa habitacional, foram fatores que,
conjugados, representaram inequívoco proveito para a candidatura da
representada.
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Portanto, o conceito jurídico indeterminado do abuso de poder


político, aqui, é construído a partir da conjugação de uma permanente
associação entre a administração pública municipal e a campanha a
Deputada Estadual de Maria Valdina (inclusive pelo uso das cores e
logomarca semelhantes) e, no período crítico eleitoral, uma agressiva
atividade de desvirtuamento de programa habitacional para aliciar o
eleitorado mediante a disseminação intencional e reiterada de notícias falsas.

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Deve-se consignar que esse modus operandi é concretizado com
o claro objetivo de transmitir a impressão de que todo aquele que realizasse
o cadastro junto à municipalidade seria automaticamente contemplado com
uma casa própria foi realizado por uma administração municipal que – para
além de representada pelo cônjuge da Deputada Estadual - tem suas cores e
(com semelhança) logomarca ostensivamente empregadas na campanha

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eleitoral da representada.

Num forçado resumo, é o vínculo associativo da campanha com a


administração municipal qualificado pela disfuncionalidade na divulgação de
programa habitacional que indicam o caráter eleitoreiro dessa conduta,
transmudando-se em abuso de poder político.

Para esse Tribunal Superior Eleitoral, “a caracterização do abuso


de poder político depende da demonstração de que a prática do ato da
administração, aparentemente regular, ocorreu de modo a favorecer algum
candidato, ou com essa intenção, e não em prol da população 6”.

Em sentido semelhante, consignou o Tribunal Superior Eleitoral


que, “para a caracterização do abuso do poder político, faz-se necessária a
demonstração de que o agente haja perpetrado condutas graves, em que se
evidencia que a máquina pública deixa de atender ao interesse público para
servir ao seu interesse eleitoral” (Agravo Regimental em Agravo de
Instrumento nº 32248 - SANTO ANTÔNIO DO JACINTO – MG - Acórdão de
25/06/2018 – Relator Min. Rosa Weber – Publicação: DJE, Data 03/08/2018).

6Recurso Contra Expedição de Diploma nº 642 - SÃO PAULO – SP – j. 19/08/2003 - Relator Min.
Fernando Neves – Publicação: DJ, Volume 1, Data 17/10/2003, Página 129.
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Ora, quando, após o registro da candidatura da esposa do


prefeito para deputado estadual, a administração municipal – sabedora da
inviabilidade de inclusão dos empreendimentos no programa “Minha Casa
Minha Vida”, porquanto devidamente cientificada desse fato pela Caixa
Econômica Federal - realiza uma (inverídica) divulgação de que o
cadastramento realizado assegura automaticamente uma casa própria e,
ainda, promove uma incessante vinculação entre as cores e logomarcas da

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municipalidade e da campanha eleitoral da candidata representada, a figura
jurídica do abuso de poder político ganha espaço de conformação.

E é inegável a gravidade desse fato, sobremodo quando


conjugado com o abuso de poder econômico que também é robustamente
demonstrado nos autos, como se passa a apontar.

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IV.d) Sobre o abuso de poder econômico em razão do recebimento de
recursos de origem não identificada

Consoante relatado, os recorrentes, a fim afastar a


condenação por abuso de poder econômico, sustentam que a campanha de
Maria Valdina não foi irrigada com recursos de origem não identificada,
porque, segundo alegam: a) as movimentações bancárias dos doadores
demonstram que eles possuíam valores passíveis de doação para a
campanha eleitoral; b) o fato de eventualmente o doador não ter o dinheiro
em conta não significa dizer que a pessoa não dispõe do valor, nem
tampouco é fato impeditivo para realizar a doação; c) não há impedimento
para que ocupantes de cargo em comissão façam doação; d) os doadores, em
seus depoimentos, afirmaram que fizeram as doações voluntariamente; e e)
os doadores são “ocupantes de cargos cujos rendimentos brutos auferidos
no ano anterior ao pleito permitiram em todos os casos a conclusão de
legalidade percentual das doações” (p. 35).

Os argumentos, contudo, não merecem acolhida, pois as


provas dos autos — sobretudo os dados obtidos mediante quebra de sigilo
bancário autorizada judicialmente — desnudam que a campanha eleitoral de
Maria Valdina recebeu, sim, o aporte de expressivo volume de recursos de
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origem não identificada, mediante a utilização de “laranjas” para encobrir os


verdadeiros doadores de campanha.

A questão foi examinada pelo Desembargador Diógenes


Barreto de forma bastante verticalizada, sendo imperioso, por isso mesmo,
reproduzir os fundamentos de seu voto (id 38130338, p. 41-56, com grifos
originais):

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Conforme relatado, o MPE sustentou a ocorrência
de irregularidade no financiamento da campanha da
segunda investigada, afirmando que ela teria recebido
doações de diversas pessoas físicas que tem relação laboral
com o governo municipal, muitos delas sem vínculo efetivo,
de valores incompatíveis com a remuneração mensal dos
doadores. Asseriu que o aporte desses doadores, no
montante de R$ 148.207,25, representa 62,52% da

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arrecadação da campanha da então candidata (R$
237.060,15) e que as circunstâncias indicam que recursos
da municipalidade teriam financiado a referida campanha (ID
532018, pgs. 51/76).
De fato, demonstram os autos que, dos 40 doadores da
campanha (ID 532318), 22 integram, ou integraram
recentemente, o quadro de pessoal do poder executivo do
município de Tobias Barreto, além de 3 (três) vereadores e 4
(quatro) servidores comissionados do poder legislativo,
totalizando 29 doadores, o que representa o altíssimo
percentual de 72,50% do total dos financiadores.
Como se verifica na relação abaixo, em vários casos se
observa uma grande incompatibilidade entre o valor doado e
a remuneração mensal líquida do doador.
TABELA 1
SEQ DOADOR CARGO REMUNERAÇÃO DOAÇÃO
(IDs 531968 E LÍQUIDA (R$) (R$)
720368) (ID 532318)

01 Manoel Jobson Secretário Municipal 6.944,41 11.038,45


de Souza Santos

02 VINICIUS Procurador-Geral 6.996,25 9.500,00


RODRIGUES
SILVA

03 RAIMUNDO Secretário Municipal 9.275,52 9.500,00


MARTINS
BARBOSA JUNIOR
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

04 JOSE DOUGLAS Coordenador 3.005,21 9.300,00


ALVES ANDRADE

05 JOSE NILDEON Secretário Municipal 6.944,11 8.500,00


LIMA DE
OLIVEIRA

06 DIOGO LAZARO Secretário Municipal 5.648,24 8.500,00


OLIVEIRA VIEIRA
DA SILVA

07 BRUNO RAMOS Secretário Municipal 6.944,11 8.420,00


VASCONCELOS

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08 EMANUELLY Secretário Municipal 6.944,11 8.269,10
CARVALHO
HORA SILVA

09 AECIO CHAVES Secretário Municipal 6.996,25 8.200,00


DA SILVA

10 ELBERT SANTOS Secretário Municipal 6.944,11 8.000,00


OLIVEIRA

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11 DANILLO Secretário Municipal 6.944,11 8.000,00
CAMPOS DOS
SANTOS

12 ROBERTO Secretário Municipal 7.048,39 7.700,00


OLIVEIRA DO
NASCIMENTO

13 VALDEGRACIO Secretário Municipal 5.905,27 7.000,00


SIMOES ARAUJO

14 PATRICIA SOARES Secretário Municipal 6.944,11 5.000,00


NUNES

15 GILZETE Aux. de 2.857,32 5.000,00


FERREIRA DE Enfermagem
MENEZES

16 CLAILTON Secretário Municipal 5.648,24 5.000,00


BATISTA DOS
SANTOS

17 JOSE BISPO DOS Secretário Municipal 4.027,14 4.780,00


SANTOS FILHO

18 ALLAN VINICIUS Secretário Municipal 6.944,11 2.800,00


SANTOS

19 DIOGENES JOSE Secretário Municipal --- 2.500,00


DE OLIVEIRA
ALMEIDA JUNIOR

20 MARIA VALDINA Secretário Municipal 1.104,00 2.000,00


SILVA ALMEIDA

21 DIOGENES JOSE Prefeito 24.897,29 2.000,00


Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

DE OLIVEIRA
ALMEIDA

22 MARIA NILDA Coordenador 1.409,70 1.000,00


ANJOS DE
SANTANA

23 LUISETE DE VEREADOR 7.089,11 9.650,00


SOUZA NETO

24 LUIS FERREIRA VEREADOR 4.391,10 9.650,00


DA SILVA FILHO

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25 LUIZ CARLOS VEREADOR 7.089,11 8.850,00
DOS SANTOS

26 AGNALDO PEREIR Diretor Geral 4.066,38 4.850,00


A DOS SANTOS Câmara Municipal

27 ALEX ANDRADE Assessor Jurídico 3.590,14 4.700,00


DOS SANTOS Câmara Municipal

28 ROBERTO ALVES Gerente Financeiro 2.600,80 4.500,00


DOS SANTOS Câmara Municipal

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29 OSNI DA SILVA Gerente Legislativo 2.674,19 3.350,00
SANTOS Câmara Municipal

E mais, existem nos autos provas de distorções ainda mais


graves, cujos doadores aparentemente não tem relação com
o município de Tobias Barreto, os quais tiveram o
afastamento do sigilo bancário decretado (IDs 688318 e
778868), a saber:
TABELA 2
SEQ DOADOR OCUPAÇÃO REMUNERAÇÃO DOAÇÃO
LÍQUIDA (R$) (R$)/
DATA
(ID 532318)

01 AGNALDO ALVES Comerciante 954,00 7.000,00 /


DE SOUZA (ID 720768) 30/10
JÚNIOR

02 VINICIUS Empregado da 880,00 2.600,00 /


CHAGAS Revendedora e (ID 720868)
26/10
MONTALVÃO Locadora de
Veículos Tobiense
Ltda.

03 SOANE RAMOS Empregada da FM 1.965,24 2.500,00 /


LUCAS Tobias Barreto
(ID 720918) 10/10
Almeida Reis Ltda.

04 JULIANA FONTES Contrib. individual - 678,00 2.500,00 /


MORAES Ind. & Com. de
(ID 720968) 26/10
Mosquiteiros Ltda.
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

05 JANOEDI RIBEIRO Contrib, individual - 622,00 2.600,00 /


SANTOS J. R. Transportes 26/10
(ID 721018)
EIRELI -
10.650.693/0001-
11

06 DANIEL AMADO Contrib. individual - 678,00 2.500,00 /


DE SOUZA RSL Consultoria
(ID 721068) 19/10
Administrativa Ltda.

07 JOSÉ ADENILTON Empregada da FM 2.188,58 2.000,00 /

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MESSIAS DE Tobias Barreto
(ID 721168) 31/10
ALMEIDA Almeida Reis Ltda
Funcionário do
Estado de Sergipe

08 LIA MARINA 2.800,00 1.000,00 /


SILVA ALMEIDA Empregado - Fundo
(ID 721218) 17/08
Municipal
de Saúde de
Riachão do Dantas
1.000,00 /
23/08

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Depreende-se das informações constantes dos quadros
acima que existe grande incongruência quando se leva em
conta o valor doado e a remuneração líquida dos doadores;
há muitas pessoas doando praticamente tudo o que ganham
no mês ou até mais. É incompreensível que isso ocorra, mas
ocorreu!
Dessa forma, evidenciada a incompatibilidade existente
entre o valor das doações e as condições financeiras dos
doadores, patenteia-se a possibilidade de que recurso de
origem não identificada tenham sido utilizados na campanha
eleitoral da segunda investigada.
Muitos dos doadores relacionados no primeiro quadro já
foram exonerados de suas funções, o que torna a situação
ainda mais estranhável, já que, por ser o vínculo precário,
eles não possuíam nenhuma segurança de que iriam
continuar em seus cargos comissionados e, mesmo assim,
doaram altas quantias para a campanha eleitoral da segunda
investigada.
De acordo com a análise dos documentos juntados aos
autos, em especial aqueles trazidos pelos bancos, em razão
da determinação de levantamento do sigilo bancário,
percebe-se que existiram movimentações estranhas,
verificando-se que houve um depósito na conta do doador,
de valor igual ou muito semelhante ao da doação (Tabela 1),
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antes que ele fizesse a transferência da importância para a


conta da campanha da então candidata, como abaixo se
confere:
TABELA 3
SEQ DOADOR ID DEPÓSITO EM TRANSFERÊNCIA
ESPÉCIE NA CONTA DA CONTA DO
DO DOADOR/DATA DOADOR
PARA
VALDINA/DATA

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01 Manoel Jobson 1325218 10.020,00 / 10/10 10.000,00 / 10/10
de Souza
1.038,45 / 30/10 1.038,45 / 30/10
Santos

02 VINICIUS 1325718 2.953,30 / 06/08 4.000,00 / 17/08


RODRIGUES
SILVA 1.500,00 / 21/09 1.500,00 / 21/09

4.000,00 / 10/10 4.000,00 / 10/10

03 RAIMUNDO 1325618 ------ 3.000,00 / 04/10


MARTINS

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BARBOSA 6.500,00 / 10/10 6.500,00 / 10/10
JUNIOR

04 JOSE DOUGLAS 1325218 9.300,00 / 18/10 9.300,00 / 18/10


ALVES
ANDRADE

05 JOSE NILDEON 1324968 600,00 / 13/08


LIMA DE 3.000,00 / 17/08
OLIVEIRA 2.750,00 / 17/08

------ 5.500,00 / 10/10

06 DIOGO 1325468 1.500,00 / 17/08 1.500,00 / 17/08


LAZARO
OLIVEIRA 2.000,00 / 23/08 2.000,00 / 23/08
VIEIRA DA
SILVA 3.500,00 / 21/09 3.500,00 / 21/09

1.500,00 / 26/10 1.500,00 / 29/10

07 EMANUELLY 1325218 3.000,00 / 24/09 3.000,00 / 25/09


CARVALHO
HORA SILVA

08 AECIO CHAVES 1325218 3.500,00 / 20/08 3.500,00 / 20/08


DA SILVA
4.700,00 / 04/10 4.700,00 / 04/10

09 ELBERT 1325218 1.500,00 / 03/10


3.000,00 / 04/10
SANTOS
1.200,00 / 04/10
OLIVEIRA
5.000,00 / 04/10 5.000,00 / 04/10

10 DANILLO 1325368 1.900,00 / 20/08 4.000,00 / 20/08


Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

CAMPOS DOS 1.800,00 / 20/08 (509,88+3.011,14+


SANTOS 478,98)
ID 1325418

2.000,00 / 18/09

1.900,00 / 18/09 4.000,00 / 18/09

300,00 / 18/09

11 ROBERTO 1325668 3.500,00 / 17/08 3.500,00 / 20/08


OLIVEIRA DO
NASCIMENTO 1.500,00 / 26/09 1.500,00 / 25/09

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2.700,00 / 10/10 2.700,00 / 10/10

12 VALDEGRACIO 1325218 7.000,00 / 26/10 7.000,00 / 26/10


SIMOES
ARAUJO

13 PATRICIA 1325068 5.000,00 / 16/10 5.000,00 / 16/10


SOARES NUNES

14 GILZETE 1325118 5.000,00 / 31/10 5.000,00 / 31/10

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FERREIRA DE
MENEZES

15 CLAILTON 1325218 360,00 / 24/10 5.000,00 / 26/10


BATISTA DOS
4.530,00 / 25/10
SANTOS
236,00 / 25/10

16 JOSE BISPO 1325218 1.500,00 / 09/10 4.780,00 / 10/10


DOS SANTOS
1.800,00 / 09/10
FILHO
1.500,00 / 10/10

17 ALLAN 1325218 2.800,00 / 18/10 2.800,00 / 19/10


VINICIUS
SANTOS

18 LUISETE DE 1326118 9.650,00 / 25/10 9.650,00 / 25/10


SOUZA NETO

19 LUIS FERREIRA 1325268 9.650,00 / 25/10 9.650,00 / 25/10


DA SILVA
FILHO

20 LUIZ CARLOS 1326168 8.850,00 / 22/10 8.850,00 / 24/10


DOS SANTOS

21 AGNALDO PER 1325818 4.850,00 / 19/10 4.850,00 / 19/10


EIRA
DOS SANTOS

22 ALEX 1325268 4.700,00 / 16/10 4.700,00 / 16/10


ANDRADE DOS
SANTOS

23 ROBERTO 1326318 4.500,00 / 22/10 4.500,00 / 24/10


ALVES DOS
SANTOS
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

24 OSNI DA SILVA 1326218 3.350,00 / 18/10 3.350,00 / 18/10


SANTOS

25 JANOEDI 1325168 2.500,00 / 29/10 2.500,00 / 29/10


RIBEIRO
SANTOS

26 AGNALDO 1325268 7.000,00 / 30/10 7.000,00 / 30/10


ALVES DE
SOUZA JUNIOR

27 SOANE RAMOS 1325268 2.500,00 / 10/10 2.500,00 / 10/10


LUCAS

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28 VINICIUS 1325268 2.600,00 / 26/10 2.600,00 / 26/10
CHAGAS
MONTALVÃO

29 BRUNO RAMOS 1325318 2.500,00 / 20/08 2.500,00 / 20/08


VASCONCELOS
1.950,00 / 05/10 1.920,00 / 05/10

4.000,00 / 26/10 4.000,00 / 26/10

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30 MARIA NILDA 1325518 800,00 / 24/08 1.000,00 / 17/08
ANJOS DE
SANTANA 1325568

31 DANIEL 1325868 2.500,00 / 18/10 2.500,00 / 19/10


AMADO DE
SOUZA

32 JOSÉ 1325918 2.000,00 / 31/10 2.000,00 / 31/10


ADENILTON
MESSIAS DE
ALMEIDA

33 JULIANA 1326068 2.500,00 / 26/10 2.500,00 / 26/10


FONTES
MORAES

Constata-se dessas informações que as doações à


campanha da segunda investigada foram antecedidas de
depósitos em dinheiro da mesma quantia, ou quantia
semelhante, e que isso ocorreu independentemente de a
conta ter saldo positivo ou não.
Impende ressaltar que essas pessoas que receberam
depósitos em suas contas, para depois fazerem a doação,
são (ou eram) servidoras do município de Tobias Barreto.
Todas aquelas que foram ouvidas em juízo alegaram que
foram elas próprias que depositaram as quantias e que o
numerário estava em seu poder e guardado (em espécie) em
suas residências, em uma aparente orquestração de
condutas.
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

Perquiridos, em audiência, sobre o porquê do depósito


prévio em dinheiro quando a sua conta (do doador) possuía
saldo positivo suficiente para efetivar o ato donativo,
responderam os declarantes que não queriam mexer no
dinheiro da poupança ou que estavam fugindo do
pagamento de taxas bancárias.
Exemplificativamente, segue a transcrição das afirmações de
3 (três) depoentes, uma testemunha e dois declarantes:
TESTEMUNHA MANOEL JOBSON (IDs 1794518 e 1794568)

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MPE - O senhor já foi secretário na gestão do Diógenes
agora nessa última gestão?
MANOEL - Já sim.
MPE - Foi secretário de quê?
MANOEL - De agricultura.
MPE - Não é mais?
MANOEL - Não. Fui exonerado em novembro, a pedido.
MPE - Mas está trabalhando em algum lugar agora?

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MANOEL - Trabalho. Sou funcionário efetivo do Ministério
da Saúde.
MPE - Voltou para o Ministério da Saúde?
MANOEL - É que a gente é cedido ao município. Trabalho
lá mesmo.
MPE - Qual era o seu salário?
MANOEL - Líquido... Oito mil e alguma coisa.
(...)
MPE - Você fez alguma doação para a candidata?
MANOEL - Fiz.
MPE - Fez de quanto?
MANOEL - R$ 11.038,00.
MPE - Quando você fez essas doações?
MANOEL - Todas as vezes, em outubro... Agora, foi um
pouco diferente... Não tô lembrado realmente…
MPE - Eu tenho aqui. Você doou dez mil, no dia 10/10,
depois da eleição, e mais R$ 1.038,45, no dia 30, após a
eleição. Por que você resolveu fazer essa doação depois
da eleição, inclusive, assim ... 1.038,45, valor bem
fechadinho. O que foi que aconteceu aqui?
MANOEL - Eu faço política, como eu disse anteriormente,
desde 1990. Quando foi para definir candidaturas, foram
apresentados alguns nomes no grupo e nós fomos pelo
conhecimento que temos na cidade que defendemos o
nome da nossa candidata que inclusive era do meu
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

partido. E nós fizemos um grande esforço e houve uma


concentração de pessoas que queriam ajudar na
campanha. Eu procurei o coordenador da campanha e ele
disse que tava tendo alguma dificuldade financeira para
cumprir alguns compromissos e eu disse que estava
disposto a ajudar ele. Foi no dia que eu doei a ele R$
10.000,00.
MPE - Quem foi que o senhor procurou? Quem era o
coordenador

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MANOEL - Era Júnior, o filho dela.
MPE - Você ganha 8 e você doou 11, mais do que o seu
salário. Como você fez essa doação?
MANOEL - Eu ganho 8 no mês, mas já tinha quase dois
anos de prefeitura.
MPE - Você tinha esse dinheiro guardado?
MANOEL - Eu tenho problema com a Receita Federal, eu
discordo de uma dívida que eles me cobram e houve até

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um bloqueio, em 2017, de minhas contas. Eu falei com o
Secretário de Finanças se era possível ele pagar em
cheque para o dinheiro não entrar na minha conta, pois
eu tinha medo desse bloqueio. Eu sempre sacava os
cheques e tinha o costume de guardar dinheiro em casa.
MPE - Você guarda dinheiro em casa?
MANOEL - É.
MPE - Eu tô aqui com seu extrato bancário e, por
coincidência, nas vésperas dos dois depósitos, houve um
depósito na sua conta de 10.020 e depois houve outro
depósito em sua conta 1.038 acompanhado de R$
227,00, que é o valor do TED e posteriormente, logo
após, um TED para justamente o depósito. De onde veio
esses 10.020, esses 1.038? Porque o senhor falou que
saca, só que eu estou com o seu extrato bancário aqui e
na sua conta salário tem saques de débitos normais,
inclusive praticamente zerada a sua conta aqui. Olhe...
Conta salário: 3.000 e depois vem débito, débito BMG,
débito BMG, débito... Então, esse dinheiro provavelmente
não foi sacado, como você disse, e guardado em casa.
Aqui tem outros, olhe... 3.036, no dia primeiro, débito
1.364, saque 1.330. Esse dinheiro, o senhor tinha ele em
casa?
MANOEL - A senhora está se referindo à conta da Caixa.
Eu sacava os cheques da prefeitura, que era nominal.
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

MPE - E o senhor recebe em que conta?


MANOEL - Da prefeitura é em cheque, vem nominal a
mim, do BANESE e eu vou na agência do BANESE e saco o
dinheiro. Quando eu estava lá…
MPE - É obrigatório ter conta salário. Você é uma
exceção?
MANOEL - Eu tinha conta salário do meu trabalho efetivo.
Da prefeitura, eu pedi ao secretário e, justamente por
essa questão, que eu tenho essa intriga com a Receita

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Federal, eu pedi a eles... então, eu posso pagar a você
com cheque à parte. Faz a folha, lhe pago em cheque e
você assina recibo.
MPE - Esses 3.000 da conta salário era depositado por
quem?
MANOEL - Esse é do Ministério da Saúde.
MPE - Você recebe pelas duas fontes? Então, é 3.000 pelo
Ministério da Saúde mais 8 pela prefeitura? Como é que

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funciona?
MANOEL - Exatamente. Porque a gente é municipalizado,
a gente tá à disposição do município. Tem a liberdade…
MPE - O seu ônus, então, da sua cessão fica com o
próprio Ministério da Saúde?
MANOEL - Exato.
MPE - O senhor tem esse dinheiro em casa?
MANOEL - Esse dinheiro estava em casa.
DECLARANTE VINICIUS RODRIGUES (IDs 1794618 e
1794718)
MPE - O senhor trabalhou quanto tempo na prefeitura?
VINICIUS - Desde o início da gestão até o final de janeiro,
quando assumi a chefia de gabinete da deputada, que
tomou posse no dia 01/02.
MPE - O senhor fazia o quê, lá?
VINICIUS - Era colaborador geral.
MPE - Qual era seu salário lá na prefeitura?
VINICIUS - Era páreo ao de secretário. Acredito eu que
bruto R$ 9.000,00, líquido, salvo engano, algo em torno
de R$ 7.000,00 ou R$ 8.000,00, com décimo, porque lá
era dividido em doze parcelas (1/12).
(...)
MPE - O senhor fez doações para a campanha de Valdiná?
VINICIUS - Sim. Fiz para Valdiná, fiz para Diógenes.
MPE - Qual foi o valor que o senhor fez doação?
Ministério Público Eleitoral
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VINICIUS - Eu não me recordo agora... Algo em torno de 9


ou R$ 10.000,00. Não me recordo precisamente qual foi o
valor.
MPE - o senhor tem aqui no extrato da conta bancária
que o senhor fez uma doação…
VINICIUS - Sei que foram três, precisamente o
valor aproximado a R$ 10.000,00.
MPE - O senhor fez uma doação no dia 17/08 de R$
4.000,00, depois o senhor fez outra no dia 21/09 de R$

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1.500,00 e depois fez uma no dia 10/10 de R$ 4.000,00.
O senhor recebia de 7 a 8 mil, o senhor tinha caixa
suficiente para fazer esse depósito?
VINICIUS - Inclusive na conta Doutora, se a senhora vir a
conta da qual eu transferi a primeira vez, acho que ela
tinha mais de R$ 10.000,00 em conta, que é uma
poupança. Essa não é só a conta que eu movimento, aliás,
essa é só uma poupança. Eu movimento uma conta

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corrente no Banco do Brasil.
MPE - O senhor tinha esse dinheiro?
VINICIUS - Tenho, claro que tenho.
MPE - O senhor tem outra fonte de renda?
VINICIUS - Eu era advogado antes de ser procurador.
MPE - O senhor estava como procurador desde quando?
VINICIUS - Desde janeiro de 2017.
MPE - O senhor vivia só com o salário de Secretário,
nessa época? De janeiro de 2017 até cá o senhor vivia
com o salário de... Procurador?
VINICIUS - E com honorários porque eu ainda, por ser
advogado, se a senhora vir inclusive na conta acredito
que só ela não sei se outras foram quebrados o sigilo,
mas na conta tem honorários entrando. Eu faço saques de
honorários nessa conta do BANESE.
MPE - Aqui consta o seguinte: no seu extrato bancário, a
primeira doação foi feita no dia 17... Teve um depósito
anterior (...). No dia 21/09, o senhor fez um depósito de
R$ 1.500,00 na sua conta. Alguém fez esse depósito, não
está identificado. E logo depois a transferência para a
doação. A mesma coisa no dia 10, R$ 4.000,000 de
depósito em dinheiro e logo depois a transferência. Quem
fez esses depósitos?
VINICIUS - Eu.
MPE - O senhor transferiu da sua conta foi?
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

VINICIUS - Eu deposito, transfiro…


MPE - Por que o senhor não fez transferência eletrônica,
que é muito mais fácil, ou por que o senhor não
transferiu diretamente desta conta onde estava esse
dinheiro para a conta da Valdiná? Por que o senhor
precisou fazer essa jogada? O senhor tá dizendo que
tinha dinheiro em outra conta bancária... Qual era essa
conta bancária?
VINICIUS - Tenho dinheiro em mãos, tenho dinheiro em

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conta... Banco do Brasil, Caixa Econômica, tenho outra
poupança na Caixa Econômica e tenho uma conta
corrente a qual eu movimento, salário, etc, no Banco do
Brasil.
MPE - Por que o senhor não pegou esse dinheiro e
transferiu, vamos supor, da conta do Banco do Brasil para
a conta da Valdiná da campanha, precisou fazer essa
jogada de transferir para uma conta do BANESE para daí

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transferir para a conta de campanha?
VINICIUS - A senhora sabe que tem um custo de um
banco para outro... Eu não me dei esse custo. Era
desnecessário para mim…
MPE - O senhor foi lá para sacar na sua conta?
VINICIUS - Eu tinha dinheiro em mãos, eu movimento, eu
saco, eu não tenho como precisar à senhora…
(...)
MPE - O senhor sacou?
VINICIUS - A primeira doação de 4.000 foi uma
transferência de um dinheiro que eu já tinha na conta, se
a senhora olhar vai ver que eu tinha algo mais de dez mil
e fiz uma transferência de quatro mil.
MPE - A primeira sim, eu tô falando da segunda. A
segunda e a terceira, a de 1.500 e a de 4.000 houve uma
precedência de um depósito em dinheiro para depois uma
transferência. Se o senhor tinha esse dinheiro em outra
conta, por que o senhor não transferiu diretamente da
conta?
VINICIUS - Opção minha. Eu não transfiro de uma outra
conta porque ele tem um custo. É excepcional para isso.
Eu tenho dinheiro em conta. Eu tinha o dinheiro em mãos.
MPE - O senhor tinha quatro mil em mãos no dia?
VINICIUS - Acho um valor irrisório, inclusive. Não sei para
a senhora, para mim…
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(...)
VINICIUS - (...) É comum eu sacar eu ter dinheiro, sacar
para ter em casa... Quando eu falo que é um valor
comum, eu falo que é comum para ter em casa. Se o
senhor for na minha casa hoje, por exemplo, eu tenho em
torno de cinco mil guardado. Eu tenho essa precaução
porque eu já precisei. Eu moro no interior, por exemplo,
que na madrugada eu não tenho médicos. Se meu filho
ficar doente, eu vou sair de vento em popa, dando chute

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ao balde para trazer meu filho a Aracaju? Não. Eu guardo
dinheiro. Eu tenho essa condição financeira e guardo meu
dinheiro no meu escritório, na minha casa, enfim. (...)
DECLARANTE DANILLO CAMPOS (IDs 1795268)
MPE - O senhor, como Secretário, recebe quanto líquido
por mês?
DANILLO - Aproximadamente uns R$ 7.000,00.
MPE - O senhor tem outra fonte de renda?

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DANILLO - Não.
MPE - Fez doações para a campanha de Valdiná?
DANILLO - Fiz.
MPE - De quanto?
DANILLO - Aproximadamente, acho que foi oito mil. Se
eu não me engano, foi oito mil.
MPE - Aqui consta uma doação, no dia 20 de agosto, de
4.000, outra, no dia 18/09, 4.000. Foi mais da metade
de seu salário em cada mês. Como foi a escolha desse
valor, esse dinheiro não fez falta na sua conta?
DANILLO - Eu vinha já fazendo poupança há muito
tempo. Inclusive, acredito que na minha própria conta
poupança venho fazendo economias porque a gente hoje,
principalmente quem tá no interior a instabilidade...
Então você tem que fazer algumas economias e foi
proveniente de economias que eu vinha fazendo já há um
bom tempo.
MPE - Houve algum pedido de doação ou foi alguma coisa
espontânea, inclusive em relação ao valor?
DANILLO - Espontâneo. A gente quer ajudar da forma que
pode e, no momento, o valor que eu podia era esse, e foi
o valor que eu doei.
MPE - Esse dinheiro já estava na sua conta?
DANILLO - Já.
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MPE - E por que aqui na quebra de sigilo, vamos supor,


no dia 18 de agosto, a doação foi feita no próprio dia
18, o senhor recebeu três depósitos: um de 2.000, um de
1.900 e um de 300. Ultrapassa um pouquinho o valor e
logo depois teve a transferência de 4.000.
DANILLO - Mas na conta tinha... Tinha saldo na conta?
MPE - Tinha saldo e ainda teve essas transferências (...).
Quem fez esses depósitos?
DANILLO - Eu mesmo.

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MPE - De que conta o senhor tirou esse dinheiro?
DANILLO - Na verdade, de minha esposa. Ela trabalha
com micropigmentação, faz questão de estética, e aí vez
por outra faz economia em casa e eventualmente quando
junta um montante deposita.
MPE - E esse dinheiro tava guardado em casa?
DANILLO - Sim.
Causa estranheza que, de acordo com os depoimentos

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colhidos, TODOS os doadores ouvidos em juízo possuíam
dinheiro em casa. Frise-se que não se trata de quantia
pequena, principalmente quando se leva em conta que no
nosso país o salário mínimo não chega a R$ 1.000,00. Ao
contrário, há informações de que guardam em suas
residências valores que superam R$ 5.000,00. A testemunha
Manoel Jobson, por exemplo, fez uma doação de R$
10.000,00 no dia 10 de outubro de 2018.
É difícil acreditar em tal alegação quando é amplamente
conhecida a dificuldade que a população possui para fazer
uma pequena economia. Ou mesmo para conseguir pagar
em dia todas as suas próprias contas e, no caso, ainda
sobrar para fazer generosas doações eleitorais.
Verifica-se que o declarante Danillo Campos afirma em seu
depoimento que faz economias e deposita dinheiro na
poupança por causa da instabilidade existente no nosso
país. No entanto, ele confirma que fez duas doações, no
valor de R$ 4.000,00 cada uma, e que tinha esse valor em
casa. O receio da alegada instabilidade não impediu que ele
fosse benevolente e doasse R$ 4.000,00, no dia 20 de
agosto, e mais R$ 4.000,00, no dia 10 de setembro,
quantias essas maiores que a metade de sua remuneração
líquida mensal.
Um fator comum entre os doadores ouvidos em juízo
desperta bastante atenção: todos afirmam ter realizado
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depósito em dinheiro em suas respectivas contas bancárias


antes de fazer a doação para a então candidata porque
costumam guardar dinheiro em casa, em espécie, sob as
mais diversas e inusitadas justificativas (problema com a
Receita Federal, costume de família, negócio com gado,
economia para comprar um apartamento, eventual
emergência com filho etc).
Dois casos, no entanto, se sobressaem: as doações feitas
por Daniel Amado de Souza e por Soane Ramos Lucas.

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Observa-se nos autos que Daniel Amado de Souza é ex-
empregado da BIS Comércio de Móveis EIRELI, cuja última
remuneração mensal foi R$ 678,00 (ID 721068, pg. 2) e tem
uma movimentação bancária atípica: no mês
de outubro/2018, mês em que ocorreram 68% das doações
feitas à campanha da então candidata, a sua conta no
Banese recebeu 5 créditos totalizando R$ 165.300,00 (ID
1325868); montante esse que foi, em sua maioria, utilizado

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mediante saque por caixa, restando no final do mês o saldo
de RS 299,03.
Demonstram os autos que Daniel Amado de Souza doou
para a campanha da segunda investigada o valor de R$
2.500,00, no dia 19/10/2018, e que depositou na conta
de Juliana Fontes Moraes a mesma quantia (R$ 2.500,00), no
dia 26/10/2018 (ID 2154218), que também foi destinada à
campanha da investigada.
Assim, ficou evidenciado um claro indicativo de que a conta
bancária de Daniel Amado de Souza foi utilizada para dar
suporte financeiro para a campanha da segunda investigada,
já que o dono da conta possui remuneração inferior a um
salário mínimo e, mesmo assim, teve um crédito, somente
no mês de outubro de 2018, de mais de R$ 160.000,00,
havendo comprovação inequívoca de que ele (Daniel)
depositou na conta de Juliana Fontes Moraes a importância
de R$ 2.500,00, quantia essa transferida para a conta de
campanha da então candidata.
Se nada houvesse para ser ocultado, por que o dinheiro
precisaria transitar pela conta de Juliana Fontes Moraes?
Nesse caso, durante a instrução, foi autorizado o
compartilhamento das provas relativas à conta de Daniel
com o Ministério Público Federal e com a Polícia Federal (ID
1983868).
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

Após autorização de afastamento de sigilo bancário, restou


comprovado também a existência de vários depósitos que
chegaram à conta de campanha da então candidata por meio
da interposta conta bancária de Soane Ramos Lucas, que,
além de ter feito sua doação, transferiu recursos para os
doadores constantes na tabela abaixo (IDs 2154268 e
2154118).
TABELA 4
SEQ DOADOR VALOR DEPOSITADO TRANSFERÊNCIA

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POR SOANE/DATA DO DOADOR
PARA VALDINA/DATA

01 SOANE RAMOS LUCAS 2.500,00 / 10/10 2.500,00 / 10/10

02 LUIS FERREIRA DA 9.650,00 / 25/10 9.650,00 /25/10


SILVA FILHO

03 ALLAN VINICIUS 2.800,00 / 18/10 2.800,00 /19/10


SANTOS

04 VALDEGRACIO SIMOES 7.000,00 / 26/10 7.000,00 /26/10

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ARAUJO

05 BRUNO RAMOS 4.000,00 / 26/10 4.000,00 /26/10


VASCONCELOS

06 DIOGO LÁZARO 1.500,00 / 26/10 1.500,00 /29/1


OLIVEIRA VIEIRA DA
SILVA

O primeiro detalhe a chamar a atenção, no caso, é


que Soane Ramos Lucas é empregada e tem uma
remuneração mensal de R$ 1.965,24 (IS 720914).
Como se observa nos extratos havidos com a quebra de
sigilo, no mês de outubro/2018 a conta de Soane Ramos
Lucas, na CEF, recebeu 5 créditos, nos valores de R$
23.000,00, 2.500,00, 8.000,00, 9.515,00 e 17.000,00
(totalizando R$ 60.015,00) e teve 5 débitos, nos valores de
R$ 1.500,00, 23.000,00, 2.500,00, 17.515,00, e 17.000,00
(somando R$ 61.515,00), além de alguns de pequena
expressão.
Entre os débitos acima, apenas o de R$ 2.500,00 foi feito via
transferência bancária, os demais foram mediante saque por
caixa.
Outro detalhe que desperta atenção: quem é SOANE RAMOS
LUCAS?
- Consta nos autos que Soane Ramos Lucas é empregada
da FM Tobias Barreto Almeida Reis Ltda (Rádio Luandê)
(ID 720918, pg. 3);
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

- A Rádio Luandê é de propriedade da então candidata e


de seu esposo, conforme por ela declarado em uma
audiência no Ministério Público (AIJE 0601379-92: ID
85074);
- A benemérita Soane Ramos Lucas, apesar de perceber
um salário mensal de R$ 1.965,24, doou para a
campanha da então candidata, proprietária da Rádio
Luandê, diretamente ou por meio de outras pessoas, pelo
menos o montante de R$ 27.450,00, que corresponde a

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13,967 vezes o valor do salário recebido em
outubro/2018 (ID 720918);
- A benemérita Soane Ramos Lucas é pessoa bem
relacionada na administração municipal, pois entre as
pessoas escolhidas para auxiliá-la na tarefa de ajudar na
campanha estão os secretários municipais Allan Vinicius
Santos, Bruno Ramos Vasconcelos e Valdegrácio Simões
Araújo, além do ex-secretário Diogo Lázaro Oliveira

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Vieira da Silva e do empregado da Câmara, Luis Ferreira
da Silva Filho (ID 720468), como se vê na tabela acima.
Como se vê, a doação feita diretamente por Soane Ramos
Lucas, no valor de R$ 2.500,00, já é incompatível com o
salário por ela recebido em outubro/2018, muito mais
inconciliável é o montante que trafegou pela sua contra com
a finalidade de irrigar a campanha da então candidata.
Então, cabe perguntar: de onde saíram os recursos que ela
entregou para o elo seguinte da cadeia, encarregado de
municiar a conta da campanha?
E novamente: Se nada houvesse para ser ocultado, por que o
dinheiro precisaria transitar pela conta dessas interpostas
pessoas?
E mais uma vez se vislumbra a ligação entre o governo
municipal e a campanha da segunda investigada: secretários
municipais recebendo dinheiro por vias transversas e
repassando para a conta da campanha.
Alguns desses "doadores", que coincidentemente "costumam
guardar dinheiro em casa", depuseram em juízo.
O declarante Diogo Lázaro Oliveira Vieira da Silva, ex-
secretário municipal, que se encontra no quadro dos que
receberam dinheiro de Soane Ramos Lucas, ao ser indagado
pelo relator acerca das doações efetuadas, assim se
manifestou (ID 1984118):
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

RELATOR - Qual a razão de você ter feito esse depósito


em dinheiro?
DIOGO - Assim como em 2016, eu procurei a
coordenação da campanha, e me informaram que seria
melhor eu fazer isso para prestar contas e também meu
contador pessoal, que faz a prestação de contas da
Receita Federal, também disse que é melhor eu fazer
assim para comprovar no futuro…
(...)

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RELATOR - E esse dinheiro, você trouxe de algum lugar.
Esse dinheiro, você sacou de alguma conta ou você tinha
o dinheiro em casa?
DIOGO - Geralmente em interior a gente tem dinheiro em
casa (...).
(...)
RELATOR - No dia 29 de outubro, ou seja, depois da
eleição... Você depositou no dia 26 e, no dia 29, você fez

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a transferência para a campanha de Valdiná.
DIOGO - (em silêncio fez sinal assertivo com a cabeça)
RELATOR - Esse valor, o senhor tirou de onde?
(...)
DIOGO - Eu devia ter dinheiro na minha casa, algo como
eu tinha dito em espécie, eu tinha depositado para depois
fazer a transferência. (grifos acrescidos)
Constata-se que o mencionado declarante faltou com a
verdade, com relação a esse depósito, pois, de acordo com
os documentos juntados aos autos, ficou comprovado que o
depósito a que se referiu o relator não foi efetuado por ele,
mas sim por Soane Ramos Lucas (ID 2154118).
Também o declarante Valdegrácio Simões Araújo, secretário
municipal, inquirido sobre o assunto, assim se pronunciou
(ID 1984168):
RELATOR - O senhor recebeu seu salário no dia
04/10/2018, R$ 7.030,07 foram creditados. No dia
26/10, você fez um depósito, em dinheiro, de R$
7.000,00. No dia 26, o senhor enviou esses R$ 7.000,00
provavelmente para a conta de campanha da candidata. o
senhor doou o seu salário inteiro?
VALDEGRACIO - Meu salário inteiro nesse mês, não.
(...)
RELATOR - Corresponde o valor a quase o seu salário
porque tem os R$ 30,00. O senhor fez um depósito?
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

VALDEGRACIO - (assentiu com a cabeça e disse:) e depois


transferi.
RELATOR - Esses 7.000, o senhor tirou de onde?
VALDEGRACIO - De minha casa.
RELATOR - Como assim, tem outro emprego, tem outra
atividade?
VALDEGRACIO - Eu trabalho na prefeitura, sou professor,
estava Secretário da Educação e também tenho uma
esposa que é professora. Nós temos salários e nós

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costumamos tirar nossos salários quando entra e
geralmente a gente deixa em casa por causa das dívidas,
para pegar alguma coisa e eu também tinha dinheiro
porque eu estava economizando para comprar meu
apartamento logo. Então eu tinha dinheiro guardado para
dar entrada no meu apartamento. Foi parte desse
dinheiro que eu peguei e doei. (grifos acrescidos)
Também faltou com a verdade este declarante, pois consta

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dos autos que, naquele dia, Soane Ramos Lucas foi quem
depositou a referida quantia na conta do declarante,
diversamente do que ele afirmou em seu depoimento.
Revela-se, desse modo, com clareza solar, a existência de
um esquema ilícito para financiamento da campanha da
segunda investigada.
E, consoante já exposto anteriormente, a jurisprudência do
TSE possui entendimento de que “a busa
do poder
econômico o candidato que despende recursos
patrimoniais, públicos ou privados, dos quais detém o
controle ou a gestão em contexto revelador de
desbordamento ou excesso no emprego desses recursos em
seu favorecimento eleitoral.” (TSE, AgR em RESPE nº
1622602, Rel. Min. Marcelo Henriques Ribeiro, DJE de
09/02/2012).
Na espécie, demonstram os autos a utilização indevida de
recursos financeiros pela então candidata, recebendo em
sua campanha dinheiro aportado mediante transmissões
sucessivas, que inviabilizaram a identificação real da sua
origem; o que, além de impossibilitar o seu uso na
campanha, ostenta gravidade mais que suficiente para
desequilibrar a disputa e comprometer seriamente a
regularidade do pleito, configurando evidente hipótese de
abuso do poder econômico, levando-se em conta:
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

1) O grande percentual de integrantes da Administração


Pública Municipal entre os doadores (mais de 70%),
ocupantes de cargos comissionados, de índole precária
e de livre admissão e exoneração, em situação de virtual
dependência em relação ao administrador de plantão,
esposo da então candidata, segunda investigada;
2) A incompatibilidade entre os valores doados e a
remuneração mensal de vários doadores, vulnerando a
confiabilidade das alegações de que teriam sido eles

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próprios os depositantes dos valores doados.
3) A existência, em extratos bancários dos doadores da
campanha da segunda investigada, de prévios depósitos
em valores iguais, ou muito semelhantes, àqueles
transferidos para a conta da campanha, sem que ficasse
minimamente demonstrada a origem do dinheiro
depositado, indicando a possibilidade de lavagem de
dinheiro.

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4) A efetivação de depósitos, em contas bancárias de
doadores da campanha da segunda investigada, por
SOANE RAMOS LUCAS, sem nenhuma comprovação da sua
capacidade financeira de movimentar os valores
detectados - mais de R$ 61.000,00, em outubro/2018,
valor incompatível com seu salário mensal de R$
1.965,24 -, indicando que ela teria sido peça de um
esquema fraudulento para diluição de capitais.
5) A efetivação de pelo menos um depósito em conta
bancária de doador da campanha da segunda investigada,
por DANIEL AMADO DE SOUZA, sem nenhuma
comprovação da sua capacidade financeira de
movimentar os valores detectados - mais de R$
160.000,00, em outubro/2018, valor incompatível com
sua remuneração mensal de R$ 678,00 -, indicando que
ele teria sido peça de um esquema fraudulento de
diluição de capitais.
6) A falta de veracidade das afirmações dos declarantes
Diogo Lázaro Oliveira Vieira da Silva e Valdegrácio Simões
Araújo (IDs 1984118 e 1984168), no que se refere à
autoria dos depósitos feitos em suas contas bancárias e
depois transferidos para a conta de campanha da
segunda investigada, revelando clara intenção de
ludibriar este tribunal (IDs 2154268 e 2154118).
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

Ante o exposto, observa-se no caso em exame a existência


de uma vultosa quantia de recursos financeiros direcionada
ao financiamento da candidatura da segunda investigada,
sem possibilidade de identificação de sua origem,
revelando-se abusiva a conduta da então candidata no que
concerne à arrecadação das receitas usadas na sua
campanha.

Conforme se extrai do excerto citado, o acervo probatório

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evidencia a existência de simulação nas doações feitas para a campanha de
Maria Valdina, pois se empregou engenhosa sistemática em que pessoas
físicas (a maioria ligada à Prefeitura de Tobias Barreto/SE por vínculo de
trabalho e sem capacidade financeira para realizar as doações), após
receberem depósitos não identificados em suas contas-correntes,
repassaram esses valores para a candidata.

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Corroboram a fraude nas doações, em suma, os seguintes
fatos: a) os valores doados não refletem a capacidade econômica dos
cedentes; b) os doadores não comprovaram a origem dos recursos doados,
sendo inverossímil a alegação de que os valores estavam guardados em suas
casas, notadamente num país cuja deficiência da segurança pública
praticamente impõe que os dinheiros fiquem depositados em bancos; c) os
recursos depositados nas contas dos doadores e as transferências realizadas,
geralmente na mesma data ou em dias muito próximos, são de idêntico valor
ou muito semelhantes; d) dentre as pessoas que fizeram as doações
controvertidas à campanha da candidata, inúmeras delas integravam a
Administração Pública Municipal e ocupavam cargos comissionados, o que,
embora isoladamente não configure nenhuma ilicitude, indica, dadas as
demais circunstâncias dos autos, que o recorrente, valendo-se de sua
condição funcional, utilizou os mencionados servidores como “laranjas” para
ocultar os verdadeiros doadores da campanha de sua esposa; e) embora
Soane Ramos Lucas (empregada de emissora de rádio pertencente aos
recorrentes) tenha realizado depósitos em contas bancárias de doadores da
campanha da candidata, não há nenhuma comprovação da sua capacidade
financeira para movimentar os valores detectados — mais de R$ 61.000,00,
em outubro de 2018; e f) conquanto Daniel Amado de Souza, um dos
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

doadores da campanha, possua renda mensal inferior a um salário mínimo,


sua conta bancária, no mês de outubro de 2018, recebeu cinco créditos no
valor total de R$ 165.300,00, montante esse que foi, em sua maioria,
utilizado mediante saque por caixa, restando ao final do mês o saldo de
apenas RS 299,03, a indicar que o dinheiro lhe foi direcionado para, em
seguida, ser repassado aos demais doadores de campanha, a fim de que
fizessem as doações.

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No caso vertente, as doações irregulares somaram R$
136.207,55, isto é, 57,45% da arrecadação de campanha da candidata Maria
Valdina (R$ 237.060,15), o que, por si só, revela-se grave e compromete a
igualdade e a legitimidade do certame.

Demonstrando o montante doado de forma irregular, confira-

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se a seguinte passagem dos memoriais apresentados pelo Ministério Público
Eleitoral nos autos da AIJE nº 0601576-47.2018.6.25.0000 (id 37684238, p.
43-53, com grifos originais):

[…]
Da análise acima, uma situação chama bastante atenção:
houve 36 operações (na tabela acima, são as que estão com
a numeração sublinhada) com depósitos em dinheiro em
valores iguais ou muito próximos aos das "doações"
(normalmente R$ 20,00 a mais, praticamente o valor
referente ao TED - R$ 17,50 - cobrado pelo banco para na
sequência transferir para VALDINÁ) e no mesmo dia (ou em
data muito próxima, talvez porque o depósito deve ter sido
feito no caixa eletrônico e precisou compensar).
Como consequência, o MPE requereu nova quebra visando
identificar que(m) foi(ram) o(s) responsável(is) pelos
depósitos (evidentemente acaso tenha havido a identificação
do depositante, inclusive com o CPF) constantes na quarta
coluna (DEPÓSITO EM ESPÉCIE NA CONTA DO DOADOR) das
36 operações citadas e transcritas acima.
E o resultado da nova quebra CONFIRMOU QUE AS DOAÇÕES
FORAM SIMULADAS, INCLUSIVE PORQUE VÁRIOS DELES
REALIZARAM DOAÇÕES PRÓXIMAS OU ATÉ MESMO
SUPERIORES AOS VENCIMENTOS TOTAIS. Observe-se:
a.1) BANCO BANESE
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

FAVORECIDO SALÁRIO DEPÓSITO TRANSF. DA RESULTADO


/CPF LÍQUIDO / EM ESPÉCIE CONTA DO
VALOR TOTAL NA CONTA DOADOR
DOADO DO PARA
DOADOR VALDINA

1 DIOGO R$ 5.648,24 / R$ 1.500,00 R$ 1.500,00 FOI O


LAZARO R$8.500,00 NO DIA NO DIA PRÓPRIO
OLIVEIRA 17/08 17/08 TITULAR
VIEIRA DA QUEM FEZ A
SILVA DOAÇÃO –
030.770.275 ID

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-8 2.154.168 e
2.153.718

2 ROBERTO R$ 7.048,39 / R$ 3.500,00 R$ 3.500,00 FOI O


OLIVEIRA DO R$ 7.700,00 NO DIA NO DIA PRÓPRIO
NASCIMENTO 17/08 20/08 TITULAR
587.788.965 QUEM FEZ A
-68 DOAÇÃO –
ID
2.154.168 e
2.153.718

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3 BRUNO R$ 6.944,11/ R$ 2.500,00 R$ 2.500,00 FOI O
RAMOS R$ 8.420,00 NO DIA NO DIA PRÓPRIO
VASCONCELO 20/08 20/08 TITULAR
S QUEM FEZ A
695.191.705 DOAÇÃO –
-10 ID
2.153.768

4 DIOGO R$ 5.648,24 / R$ 2.000,00 R$ 2.000,00 FOI O


LAZARO R$8.500,00 NO DIA NO DIA PRÓPRIO
OLIVEIRA 23/08 23/08 TITULAR
VIEIRA DA QUEM FEZ A
SILVA DOAÇÃO –
030.770.275 ID
-8 2.153.918

5 DANILLO R$ 6.944,11 / R$ 2.000,00 R$ 4.000,00 NÃO FOI


CAMPOS DOS R$ 8.000,00 + 1.900,00 NO DIA REMETIDO
SANTOS + 300,00 = 18/08
003.629.465 4.200,00
-90 NO DIA
18/08

6 DIOGO R$ 5.648,24 / R$ 3.500,00 R$ 3.500,00 FOI O


LAZARO R$8.500,00 NO DIA NO DIA PRÓPRIO
OLIVEIRA 21/09 21/09 TITULAR
VIEIRA DA QUEM FEZ A
SILVA DOAÇÃO –
030.770.275 ID
-8 2.153.818

7 VINICIUS R$ 6.996,25 / R$ 1.500,00 R$ 1.500,00 FOI O


RODRIGUES R$ 9.500,00 NO DIA NO DIA PRÓPRIO
SILVA 21/09 21/09 TITULAR
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

025.913.955 QUEM FEZ A


-60 DOAÇÃO –
ID
2.153.818

8 ROBERTO R$ 7.048,39 / R$ 1.500,00 R$ 1.500,00 FOI O


OLIVEIRA DO R$ 7.700,00 NO DIA NO DIA PRÓPRIO
NASCIMENTO 26/09 26/09 TITULAR
587.788.965 QUEM FEZ A
-68 DOAÇÃO –
ID
2.154.018

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9 BRUNO R$ 6.944,11 / R$ 1.950,00 R$ 1.920,00 FOI O
RAMOS R$ 8.420,00 NO DIA NO DIA PRÓPRIO
VASCONCELO 05/10 05/10 TITULAR
S QUEM FEZ A
695.191.705 DOAÇÃO –
-10 ID
2.153.468

10 VINICIUS R$ 6.996,25 / R$ 4.000,00 R$ 4.000,00 FOI O


RODRIGUES R$ 9.500,00 NO DIA NO DIA PRÓPRIO

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SILVA 10/10 10/10 TITULAR
025.913.955 QUEM FEZ A
-60 DOAÇÃO –
ID
2.153.618

11 ROBERTO R$ 7.048,39 / R$ 2.700,00 R$ 2.700,00 FOI O


OLIVEIRA DO R$ 7.700,00 NO DIA NO DIA PRÓPRIO
NASCIMENTO 10/10 10/10 TITULAR
587.788.965 QUEM FEZ A
-68 DOAÇÃO –
ID
2.153.518

12 RAIMUNDO R$ 9.275,52 / R$ 6.500,00 R$ 6.500,00 FOI O


MARTINS R$ 9.500,00 NO DIA NO DIA PRÓPRIO
BARBOSA 10/10 10/10 TITULAR
JUNIOR QUEM FEZ A
009.340.425 DOAÇÃO –
-51 ID
2.153.618

13 AGNALDO NÃO R$ 4.850,00 4.850,00 NO NÃO FOI


PEREIRA DOS INFORMADO NO DIA DIA 19/10 REMETIDO
SANTOS 18/10
091.828.885
-15

14 LUIZ CARLOS NÃO R$ 8.850,00 R$ 8.850,00 NÃO FOI


DOS SANTOS INFORMADO NO DIA NO DIA REMETIDO
- 22/10 24/10
230.939.945
-00

15 LUISETE DE NÃO R$ 9.650,00 R$ 9.650,00 FOI O


SOUZA NETO INFORMADO NO DIA NO DIA PRÓPRIO
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

- 25/10 25/10 TITULAR


860.870.028 QUEM FEZ A
-04 DOAÇÃO –
ID
2.153.968

16 BRUNO R$ 6.944,11 / R$ 4.000,00 R$ 4.000,00 FOI


RAMOS R$ 8.420,00 NO DIA NO DIA DEPOSITAD
VASCONCELO 26/10 26/10 O POR
S SOANE
695.191.705 RAMOS
-10 LUCAS – ID

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2.154.118

17 DIOGO R$ 5.648,24 / R$ 1.500,00 R$ 1.500,00 FOI


LAZARO R$ 8.500,00 NO DIA NO DIA DEPOSITAD
OLIVEIRA 26/10 29/10 O POR
VIEIRA DA SOANE
SILVA RAMOS
030.770.275 LUCAS – ID
-8R$ 2.154.118
5.648,24

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CONCLUSÃO: AS OPERAÇÕES QUE COMPROVAM A
SIMULAÇÃO DE DOAÇÕES E LAVAGEM DE DINHEIRO
(DECORRENTES DE DEPÓSITOS NAS CONTAS DOS
“DOADORES” SEGUIDOS DE “DOAÇÕES” PARA VALDINÁ) E
DEPÓSITOS PELA INTERPOSTA SOANE RAMOS SOMAM O
TOTAL DE R$ 46.300,00 (QUARENTA E SEIS MIL E
TREZENTOS).

a.2) BANCO DO BRASIL


FAVORECIDO SALÁRIO DEPÓSITO TRANSF. DA RESULTADO
/CPF LÍQUIDO / EM ESPÉCIE CONTA DO ACERCA DE
VALOR TOTAL NA CONTA DOADOR QUEM FEZ O
DOADO DO PARA DEPÓSITO
DOADOR VALDINA

1 JOSE NILDEON R$ 6.944,11 / R$ 2.750,00 R$ 3.000,00 INCONCLUSI


L OLIVEIRA R$ 8.500,00 NO DIA NO DIA VO PORQUE
452.796.085 17/08 17/08 O BANCO
-72 APENAS
IDENTIFICA
QUANTO O
VALOR É
ACIMA DE
R$
10.000,00 –
ID
2.153.268

2 PATRICIA R$ 6.944,11 / R$ 5.000,00 R$ 5.000,00 INCONCLUSI


SOARES R$ 5.000,00 NO DIA NO DIA VO PORQUE
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

NUNES 16/10 16/10 O BANCO


654.391.395 APENAS
-91 IDENTIFICA
QUANTO O
VALOR É
ACIMA DE
R$
10.000,00 –
ID
2.153.268

3 JANOEDI NÃO INFORMA R$ 2.500,00 R$ 2.500,00 INCONCLUSI

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RIBEIRO DO NO DIA NO DIA VO PORQUE
SANTOS 29/10 29/10 O BANCO
027.687.055 APENAS
-78 IDENTIFICA
QUANTO O
VALOR É
ACIMA DE
R$
10.000,00 –
ID

http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0CE9D257.9A3FB200.E2EB3478.3DF45DC1


2.153.268

4 GILZETE R$ 2.857,32 / R$ 5.000,00 R$ 5.000,00 INCONCLUSI


FERREIRA DE R$ 5.000,00 NO DIA NO DIA VO PORQUE
MENEZES 31/10 31/10 O BANCO
051.950.985 APENAS
-49 IDENTIFICA
QUANTO O
VALOR É
ACIMA DE
R$
10.000,00 –
ID
2.153.268

a.3) CAIXA ECONÔMICA FEDERAL


FAVORECIDO SALÁRIO DEPÓSITO TRANSF. DA RESULTADO
/CPF LÍQUIDO / EM ESPÉCIE CONTA DO ACERCA DE
VALOR TOTAL NA CONTA DOADOR QUEM FEZ O
DOADO DO PARA DEPÓSITO
DOADOR VALDINA

1 AECIO R$ 6.996,25 / R$ 3.500,00 R$ 3.500,00 FOI O


CHAVES DA R$ 8.200,00 NO DIA NO DIA PRÓPRIO
SILVA 20/08 20/08 TITULAR
015.305.705 QUEM FEZ A
-06 DOAÇÃO –
ID
2.154.268

2 EMANUELLY R$ 6.944,11 / R$ 3.000,00 R$ 3.000,00 FOI O


CARVALHO R$ 8.269,10 NO DIA NO DIA PRÓPRIO
HORA 24/09 25/09 TITULAR
776.369.705 QUEM FEZ A
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

-97 DOAÇÃO –
ID
2.154.268

3 ELBERT R$ 6.944,11 / R$ 5.000,00 R$ 5.000,00 FOI O


SANTOS R$ 8.000,00 NO DIA NO DIA PRÓPRIO
OLIVEIRA 04/10 04/10 TITULAR
024.639.835 QUEM FEZ A
-31 DOAÇÃO –
ID
2.154.268

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4 AECIO R$ 6.996,25 / R$ 4.700,00 R$ 4.700,00 FOI O
CHAVES DA R$ 8.200,00 NO DIA NO DIA PRÓPRIO
SILVA 04/10 04/10 TITULAR
015.305.705 QUEM FEZ A
-06 DOAÇÃO –
ID
2.154.268

5 JOSE B DOS R$ 4.027,14 / R$ R$ 4.780,00 FOI O


SANTOS R$ 4.780,00 1.500,00+1 NO DIA PRÓPRIO
FILHO .80 0,00 (no 10/10 TITULAR

http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0CE9D257.9A3FB200.E2EB3478.3DF45DC1


149.097.905 dia 09/10) QUEM FEZ A
-00 + 1.500,00 DOAÇÃO –
(no dia ID
10/10) = 2.154.268
4.800,00

6 SOANE NÃO R$ 2.500,00 R$ 2.500,00 FOI O


RAMOS INFORMADO NO DIA NO DIA PRÓPRIO
LUCAS 10/10 10/10 TITULAR
713.603.5 QUEM FEZ A
DOAÇÃO –
ID
2.154.268

7 ALEX NÃO R$ 4.700,00 R$ 4.700,00 FOI O


ANDRADE INFORMADO NO DIA NO DIA PRÓPRIO
DOS SANTOS 16/10 16/10 TITULAR
032.340.555 QUEM FEZ A
-05 DOAÇÃO –
ID
2.154.268

8 JOSE R$ 3.005,21 / R$ 9.300,00 R$ 9.300,00 FOI O


DOUGLAS R$ 9.300,00 NO DIA NO DIA PRÓPRIO
ALVES 18/10 18/10 TITULAR
ANDRADE QUEM FEZ A
696.238.055 DOAÇÃO –
-00 ID
2.154.268

9 ALLAN R$ 6.944,11 / R$ 2.800,00 R$ 2.800,00 SOANE


VINICIUS DOS R$ 2.800,00 NO DIA NO DIA RAMOS
SANTOS 18/10 19/10 LUCAS
014.356.625 713.603.5
-39 QUEM FEZ O
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

DEPÓSITO –
ID
2.154.268

10 LUIZ NÃO R$ 9.650,00 R$ 9.650,00 SOANE


FERREIRA DA INFORMADO NO DIA NO DIA RAMOS
S FILHO 25/10 25/10 LUCAS
011.942.788 713.603.5
-50 QUEM FEZ O
DEPÓSITO –
ID
2.154.268

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11 VINICIUS NÃO R$ 9.650,00 R$ 9.650,00 FOI O
CHAGAS INFORMADO NO DIA NO DIA PRÓPRIO
MONTALVAO 25/10 25/10 TITULAR
009.842.635 QUEM FEZ A
-43 DOAÇÃO –
ID
2.154.268

12 VALDEGRACI R$ 5.905,27 / R$ 7.000,00 R$ 7.000,00 SOANE


O SIOMES R$ 7.000,00 NO DIA NO DIA RAMOS

http://www.transparencia.mpf.mp.br/validacaodocumento. Chave 0CE9D257.9A3FB200.E2EB3478.3DF45DC1


ARAUJO 26/10 26/10 LUCAS
664.122.505 713.603.5
-49 QUEM FEZ O
DEPÓSITO –
ID
2.154.268

13 EMANUELLY R$ 6.944,11 / R$ 5.269,10 R$ 5.269,10 FOI O


CARVALHO R$ 8.269,10 NO DIA NO DIA PRÓPRIO
HORA 29/10 29/10 TITULAR
776.369.705 QUEM FEZ A
-97 DOAÇÃO –
ID
2.154.268

14 MANOEL R$ 6.944,11 / R$ 1.038,45 R$ 1.038,45 FOI O


JOBSON R$ 11.038,45 NO DIA NO DIA PRÓPRIO
SOUZA 30/10 30/10 TITULAR
SANTOS QUEM FEZ A
288.091.305 DOAÇÃO –
-53 ID
2.154.268

15 AGNALDO NÃO R$ 7.000,00 R$ 7.000,00 FOI O


ALVES D S INFORMADO NO DIA NO DIA PRÓPRIO
JUNIOR 30/10 30/10 TITULAR
957.555.355 QUEM FEZ A
-15 DOAÇÃO –
ID
2.154.268

16 MANOEL R$ 6.944,11 / R$ R$ 10.000,20 FOI O


JOBSON R$ 11.038,45 10.020,20 NO DIA PRÓPRIO
SOUZA NO DIA 10/10 TITULAR
SANTOS 10/10 QUEM FEZ A
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

288.091.305 DOAÇÃO –
-53 ID
2.154.268

CONCLUSÃO: AS OPERAÇÕES QUE COMPROVAM A


SIMULAÇÃO DE DOAÇÕES E LAVAGEM DE DINHEIRO
(DECORRENTES DE DEPÓSITOS NAS CONTAS DOS
“DOADORES” SEGUIDOS DE “DOAÇÕES” PARA VALDINÁ) E
DEPÓSITOS PELA INTERPOSTA SOANE RAMOS SOMAM O

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TOTAL DE R$ 89.907,55 (OITENTA E NOVE MIL,
NOVECENTOS E SETE REAIS E CINQUENTA E CINCO
CENTAVOS).
[…]
NA VERDADE, A SOMA DE TODOS AS DOAÇÕES SIMULADAS
COMPROVADAS (DIZ-SE COMPROVADAS PORQUE ALGUMAS
OPERAÇÕES NÃO FORAM REMETIDAS PELOS BANCOS,
ESPECIALMENTE O BANCO DO BRASIL) DECORRENTES DE

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LAVAGEM DE DINHEIRO (DEPÓSITOS NAS CONTAS DOS
“DOADORES” SEGUIDOS DE “DOAÇÕES” PARA VALDINÁ E
DEPÓSITOS PELA INTERPOSTA SOANE RAMOS) CHEGA AO
INCRÍVEL IMPORTE DE R$ 136.207,55 (CENTO E TRINTA E
SEIS MIL, DUZENTOS E SETE REAIS E CINQUENTA E CINCO
CENTAVOS), MONTANTE ESSE QUE REPRESENTA 57,45% DE
TODO O VALOR ARRECADADO (R$ 237.060,15). Reitere-se
que esse valor é o que efetivamente está provado nos autos,
mas não se está afastando a possibilidade de que a soma
seja ainda mais vultuosa.
[...]

Além de extraível da expressividade dos valores envolvidos, a


alta reprovabilidade da conduta também é descortinada pelo fato de o
recebimento de doações de recursos de origem não identificada ter
vilipendiado a transparência das contas, na medida em que impediu a Justiça
Eleitoral de fiscalizar o fluxo monetário da campanha da candidata.

Finalmente, como bem destacado pela Corte de origem, “as


condutas analisadas nos presentes autos compromete bastante a lisura do
pleito eleitoral, pois a segunda investigada, ao captar e aplicar recursos em
sua campanha eleitoral em afronta aos ditames legais, aos quais todos
devem obedecer, coloca-se em posição econômica privilegiada, de maneira a
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

ferir a isonomia do processo eleitoral e a igualdade entre os candidatos” (id


38130338, p. 59).

Assinala-se que o fato em apuração, que em tese configura


captação ilícita de recursos7, também pode ser analisado sob a ótica do
abuso de poder econômico — tal como o fez o Tribunal a quo —, que se
caracteriza “pelo uso exorbitante de recursos patrimoniais, sejam eles

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públicos ou privados, de forma a comprometer a isonomia da disputa
eleitoral e a legitimidade do pleito em benefício de determinada
candidatura8”.

Tal compreensão é reforçada, aliás, pelo entendimento desse


Tribunal Superior Eleitoral no sentido de que “[o] ilícito eleitoral de abuso do
poder é cláusula geral e apresenta conceito jurídico indeterminado, que deve

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ser aferido diante da objetividade das balizas normativas, como a (i)
gravidade da conduta a demonstrar sua relevância jurídica, diante da
desproporcionalidade da utilização do poder econômico frente às
características das eleições, e o (ii) desequilíbrio na disputa eleitoral ou
evidente prejuízo potencial à normalidade e à legitimidade do pleito 9”.

Com efeito, é certo afirmar que o recebimento de recursos de


origem não identificada – para além de se configurar como uma forma de
captação ilícita de recursos10 – também tem a aptidão de, conforme a
proporção de valores auferida, convolar-se em abuso de poder econômico.

7Nesse sentido, o seguinte precedente: “ O uso de ‘laranjas’ para encobrir os verdadeiros doadores de
campanha configura inequívoca arrecadação de recursos de origem não identificada a ensejar a perda
do diploma (art. 30-A da Lei 9.504/97)” (Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 44565 -
ANGRA DOS REIS – RJ, Relator(a) Min. Jorge Mussi, DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 98, Data
27/05/2019, Página 37/38).

8Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 105717 - PUGMIL – TO, Relator(a) Min. Jorge
Mussi, DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 240, Data 13/12/2019, Página 41-42.

9Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 49451 - CASA BRANCA – SP, Relator(a) Min. Og
Fernandes, Relator(a) designado(a) Min. Luis Felipe Salomão, DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo
27, Data 07/02/2020, Página 57-58.
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

Nesse sentido, a doutrina aponta que “pode-se configurar o


abuso de poder econômico, exemplificativamente, no caso de
descumprimento das normas que disciplinam as regras de arrecadação e
prestação de contas de campanha eleitoral”11.

Adite-se que esse Tribunal Superior Eleitoral já reconheceu


abuso de poder econômico na prática de arrecadação de recursos próprios
do candidato, para financiar sua campanha, através de origem não

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identificada, ou seja, pontuou que a arrecadação ilícita de recursos,
viabilizada mediante a simulação de negócio jurídico para ocultar a origem
ilícita do aporte financeiro na campanha, é fato configurador de abuso de
poder econômico (Recurso Especial Eleitoral nº 782-20 - PAULÍNIA - SÃO
PAULO – Rel. Min. Édson Fachin - j. 14.05.2019 – DJe 28.06.2019).

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De acordo com o voto do Ministro Relator Édson Fachin:

“[…] Afinal, como é cediço, os ilícitos decorrentes da


captação ilícita de recursos (art. 30-A da Lei 9.504/97) e do
abuso do poder econômico (art. 22 da Lei Complementar
64/90) são diversos, com requisitos de caracterização bem
delineados.
No entanto, a jurisprudência desta Corte admite que, em
certos contextos fáticos, a captação ilícita de recursos se
transmude em abuso do poder econômico, principalmente
quando se tratar de recursos de especial monta. [...]”

Nesse norte, aliás, já é firme o entendimento desse egrégio


Tribunal Superior Eleitoral:

ELEIÇÕES 2012 - REPRESENTAÇÃO - ABUSO DE PODER


ECONÔMICO - CASSAÇÃO DE REGISTRO - GASTOS
ELEITORAIS - APURAÇÃO - ARTIGO 30-A - AUSÊNCIA DE
PREJUÍZO PARA ANÁLISE DO ABUSO DE PODER -
JULGAMENTO EXTRA PETITA - DECADÊNCIA -

10Nesse sentido, o seguinte precedente: “ O uso de ‘laranjas’ para encobrir os verdadeiros doadores de
campanha configura inequívoca arrecadação de recursos de origem não identificada a ensejar a perda
do diploma (art. 30-A da Lei 9.504/97)” (Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 44565 -
ANGRA DOS REIS – RJ, Relator(a) Min. Jorge Mussi, DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 98, Data
27/05/2019, Página 37/38).

11ZILIO, Rodrigo López. Direito Eleitoral. Salvador: Editora Juspodivm, 2020, p. 652.
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

PREQUESTIONAMENTO - SAQUES EM ESPÉCIE -


POTENCIALIDADE - GRAVIDADE - RESPONSABILIDADE -
APROVAÇÃO DE CONTAS - IRRELEVÂNCIA - AUTOR DO
ABUSO - CANDIDATO BENEFICIÁRIO - RESPONSABILIDADE -
SANÇÃO - REEXAME DE PROVA
[…]
2. Em princípio, o desatendimento às regras de arrecadação
e gastos de campanha se enquadra no art. 30-A da Lei das
Eleições. Isso, contudo, não anula a possibilidade de os fatos

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serem, também, examinados na forma dos arts. 19 e 22 da
Lei Complementar nº 64/90, quando o excesso das
irregularidades e seu montante estão aptos a demonstrar a
existência de abuso do poder econômico. [...].
(Recurso Especial Eleitoral nº 13068 - TRIUNFO – RS -
Acórdão de 13/08/2013 - Relator Min. Henrique Neves Da
Silva - DJE 04/09/2013)

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V. Da gravidade das circunstâncias

Conforme exaustivamente demonstrado, os representados


praticaram atos configuradores de abuso de poder político e de abuso de
poder econômico com o objetivo de alavancar a candidatura de Maria Valdina
ao cargo de Deputada Estadual em Sergipe.

Esses atos, a toda evidência, apresentam o condão de


conspurcar a legitimidade do processo eleitoral nas eleições para o cargo de
deputado estadual na circunscrição do Estado de Sergipe, relevando-se como
adequada e suficiente a aplicação das sanções de cassação do diploma da
candidata representada e de inelegibilidade, pelo prazo de oito anos, para
ambos os representados.

Como anotado pelo Tribunal Superior Eleitoral:

[…] 15. Nas ações que tratam de abuso de poder, como a


AIME e a AIJE, exige-se, além de que o candidato tenha se
beneficiado dele, que as circunstâncias que o caracterizam
tenham gravidade, nos termos do inciso XVI do art. 21 da
Lei das Inelegibilidades.
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

16. "Com a alteração pela LC 135/2010, na nova redação


do inciso XVI do art. 22 da LC 64/90, passou-se a exigir,
para configurar o ato abusivo, que fosse avaliada
a gravidade das circunstâncias que o caracterizam,
devendo-se considerar se, ante as circunstâncias do caso
concreto, os fatos narrados e apurados são suficientes para
gerar desequilíbrio na disputa eleitoral ou evidente prejuízo
potencial à lisura do pleito" (REspe 822-03/PR, Rel. Min.
Henrique Neves da Silva, DJe de 4.2.2015). [...]12

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Analisando conjuntamente os fatos narrados, torna-se certo
afirmar que são suficientes para gerar desequilíbrio na disputa eleitoral, o
que leva à necessidade de manutenção, na íntegra, do acórdão hostilizado.

VI. Sobre o pedido de efeito suspensivo

Os recorrentes, como dito, postularam a concessão de efeito

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suspensivo ao recurso ordinário.

A plausibilidade jurídica do pedido, segundo alegam, está


presente, “posto que restou demonstrado que (i) o Tribunal Regional Eleitoral
de Sergipe deixou de reconhecer a decadência em relação à acusação de
financiamento irregular; (b) a são lícitas e não abusivas as condutas dos
Recorrentes relacionadas à denominada ‘Onda Azul’; (c) não se configurou o
abuso do poder político no programa de cadastramento popular no
programa habitacional Minha Casa Minha Vida; e (d) a inexistência de
comprovação de financiamento irregular de campanha e a não configuração
de abuso do poder econômico” (id 38132738, p. 39).

O perigo da demora, por seu turno, também estaria


caracterizado, pois “o recorrente Diógenes José de Oliveira Almeida — cuja
inelegibilidade foi reconhecida — é candidato à reeleição pelo Município de
Tobias Barreto/SE, razão por que se tem por prudente a concessão da
liminar para atribuir efeito suspensivo ao presente recurso ordinário” (id
38132738, p. 39).

12Recurso Ordinário nº 222952 - MACAPÁ – AP - Acórdão de 06/03/2018 - Relator Min. Rosa Weber –
Publicação: DJE, Data 06/04/2018
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

O pedido em questão, no tocante à deputada Maria Valdina, é


despiciendo, porque, na visão desta Procuradoria-Geral Eleitoral, o efeito
suspensivo de que trata o art. 257, § 2º, do Código Eleitoral alcança tanto os
efeitos da cassação quanto os efeitos da inelegibilidade a ela imposta.

Nesse sentido, eis o seguinte trecho da manifestação deste


órgão ministerial nos autos do RO-El 0608809-63.2018.6.19.0000:

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[...]
Na seara eleitoral, os recursos eleitorais, em regra, não
possuem efeito suspensivo (art. 257, caput, do Código
Eleitoral).
Tal regra, contudo, é excepcionada pelo § 2º do art. 257 do
Código Eleitoral, assim vazado:
Art. 257. […] § 2º O recurso ordinário interposto contra
decisão proferida por juiz eleitoral ou por Tribunal

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Regional Eleitoral que resulte em cassação de registro,
afastamento do titular ou perda de mandato eletivo será
recebido pelo Tribunal competente com efeito
suspensivo.
Conforme se depreende do dispositivo legal citado, o
recurso ordinário (isto é, o recurso não excepcional)
interposto contra decisão proferida por juiz eleitoral ou
Tribunal Regional Eleitoral terá efeito suspensivo sempre
que dela resultar: a) cassação de registro; b) afastamento do
titular; c) perda de mandato eletivo.
Trata-se de efeito suspensivo ope legis, isto é, “que decorre
automaticamente da previsão normativa, não havendo
discricionariedade por parte do julgador ou qualquer
pressuposto para a concessão do referido efeito”.
Uma questão que gera dúvida consiste em definir se o efeito
suspensivo ope legis conferido ao recurso ordinário, nas
hipóteses do art. 257, § 2º, do Código Eleitoral, suspende
também a inelegibilidade decorrente nos casos de
condenação por ilícitos eleitorais.
A leitura apressada do aludido dispositivo normativo pode
conduzir à resposta negativa, na medida em que a redação
legal não faz referência a decisões que aplicam a sanção de
inelegibilidade – circunstância que abriria espaço para a
aplicação do art. 15 da Lei Complementar nº 64/1990, o
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

qual estabelece a regra de reconhecer a inelegibilidade a


partir da condenação colegiada.
Essa exegese, porém, causa certas complexidades: i)
submete uma mesma decisão a regimes jurídicos
diversificados quanto à eficácia dos seus efeitos (art. 257,
§2º, do Código Eleitoral e art. 15 da LC nº 64/1990); ii)
confere concretamente eficácia diferenciada, diante de uma
mesma decisão, para a cassação do diploma (submetendo-o
a um efeito suspensivo ope legis) e para a inelegibilidade

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(permite a geração plena dos seus efeitos); iii) cria uma
situação jurídica paradoxal, ao admitir que a inelegibilidade
– que exige prova de participação subjetiva para a incidência
– tenha eficácia imediata, ao passo que a cassação do
diploma – que permite sua aplicação ao mero beneficiário –
teria sua eficácia obstada.
O art. 257, §2º, do Código Eleitoral, contudo, não faz
ressalvas quanto à extensão do efeito suspensivo, devendo-

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se entender, portanto, que o recurso ordinário, além de
suspender os efeitos da decisão no ponto em que resulta em
cassação de registro, afastamento do titular ou perda de
mandato eletivo, também obsta os efeitos de eventual
inelegibilidade que tenha sido aplicada ao candidato na
mesma decisão. Vale dizer, o que contém o efeito
suspensivo é o próprio recurso direcionado contra a decisão
colegiada do Regional proferida originariamente, e essa
irresignação – que é ordinária – devolve para a Superior
Instância toda a matéria decidida, ou seja, tanto eventual
cassação como, em igual medida, a inelegibilidade (seja
sanção ou efeito anexo).
Ora, se a decisão que resulta em cassação de registro,
afastamento do titular ou perda de mandato eletivo é
exatamente a mesma que impõe a sanção de inelegibilidade,
não há motivo para, em caso de interposição de recurso
ordinário eleitoral, impedir, sem autorização legal, a
suspensão dos efeitos dessa última penalidade, sob pena de
se admitir que um candidato se torne inelegível por força de
uma decisão que tem um óbice de eficácia.
Além do mais, a ideia da regra traduzida pelo art. 257, § 2º,
do Código Eleitoral é condicionar a eficácia da decisão
condenatória proferida originariamente pelo juiz ou tribunal
a uma instância revisora da matéria fática apreciada, ou seja,
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

o efeito suspensivo do recurso é pautado pela proteção do


duplo grau de jurisdição.
Nessa cadeia de raciocínio, a efetividade do duplo grau de
jurisdição somente estará garantida caso se entenda que o
efeito suspensivo do recurso ordinário também susta os
efeitos da inelegibilidade eventualmente imposta.
[...]

Por outro lado, o prefeito Diógenes Oliveira não se beneficia

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do aludido efeito suspensivo amplo, pois o § 2º do art. 257 do Código
Eleitoral — na ótica deste Ministério Público Eleitoral — apenas deve ser
aplicado para suspender a inelegibilidade na hipótese em que o indivíduo,
além da mencionada penalidade, também é condenado à sanção de
cassação, o que não é o caso dos autos, tendo em vista que ao aludido
recorrente somente foi aplicada a sanção de inelegibilidade, já que participou
do abuso de poder político e econômico como terceiro não candidato.

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No ponto, é inequívoco que existem elementos concretos de
participação direta do prefeito Diógenes nos atos de abuso de poder político
e econômico, o que é suficiente para justificar a aplicação da sanção de
inelegibilidade.

Com efeito, "a causa de inelegibilidade decorrente da prática


de abuso do poder econômico, nos moldes do art. 22, XIV, da LC nº 64/90,
requer, para a sua incidência, que o beneficiário pela conduta abusiva tenha
tido participação direta ou indireta nos fatos" (REspe nº 458-67/PI, Rel. Min.
Luiz Fux, DJe de 15.2.2018).

Outrossim, em relação ao terceiro não candidato, a


inelegibilidade surte efeitos imediatos com base no art. 15 da Lei
Complementar nº 64/90, cuja dicção é a seguinte:

Art. 15. Transitada em julgado ou publicada a decisão


proferida por órgão colegiado que declarar a inelegibilidade
do candidato, ser-lhe-á negado registro, ou cancelado, se já
tiver sido feito, ou declarado nulo o diploma, se já expedido.

Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput,


independentemente da apresentação de recurso, deverá ser
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

comunicada, de imediato, ao Ministério Público Eleitoral e ao


órgão da Justiça Eleitoral competente para o registro de
candidatura e expedição de diploma do réu.

Assim sendo, a suspensão da inelegibilidade, em hipóteses


como essa — ainda que o terceiro tenha interposto o recurso com a
candidata, em peça única —, somente pode ocorrer se demonstrada a
plausibilidade da pretensão recursal, nos termos do art. 26-C, caput, da Lei

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Complementar nº 64/90, assim vazado:

Art. 26-C. O órgão colegiado do tribunal ao qual couber a


apreciação do recurso contra as decisões colegiadas a que
se referem as alíneas d, e, h, j, l e n do inciso I do art.

1o poderá, em caráter cautelar, suspender a inelegibilidade


sempre que existir plausibilidade da pretensão recursal e
desde que a providência tenha sido expressamente

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requerida, sob pena de preclusão, por ocasião da
interposição do recurso.
[...]

No caso em foco, as provas convergem, como dito, para o


reconhecimento da prática do abuso de poder político e econômico por
Diógenes Oliveira, de forma que os efeitos de sua inelegibilidade não devem
ser suspensos. Vale dizer, não há plausibilidade jurídica na tese do
recorrente, com aptidão de possibilitar a aplicação da regra do art. 26-C da
LC nº 64/90.

Nesse contexto, não há nada a decidir em relação ao pedido


de efeito suspensivo formulado por Maria Valdina, ao passo que o pedido de
Diógenes Oliveira deve ser indeferido, porquanto evidenciada a ausência de
plausibilidade do seu recurso ordinário no tocante ao abuso de poder
econômico.

VII. Conclusão

Diante do exposto, o Ministério Público Eleitoral manifesta-se


pelo improvimento do recurso ordinário eleitoral, mantendo hígida a decisão
do Tribunal Regional Eleitoral, com a condenação dos representados por
Ministério Público Eleitoral
Procuradoria-Geral Eleitoral

abuso de poder político e econômico e, por consequência, confirmada a


cassação do diploma de deputada estadual de Maria Valdina Silva Almeida,
bem como a declaração de sua inelegibilidade e a de Diógenes José de
Oliveira Almeida.

Brasília, 23 de outubro de 2020.

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RENATO BRILL DE GÓES
Vice-Procurador-Geral Eleitoral

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