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AL E M ANH A
"Ich bin ein Berliner!" – "Sou um berlinense!" Essas palavras foram recebidas com júbilo em 26 de junho de 1963: quem as
pronunciava era o então presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, em discurso diante da subprefeitura do bairro de
Schöneberg, onde mais de 1 milhão de pessoas haviam se reunido para escutá-lo.
Berlim Ocidental era como uma ilha de liberdade em meio à Alemanha Oriental, e seus habitantes esperavam do chefe de Estado
norte-americano um compromisso inequívoco de solidariedade. E Kennedy não os decepcionou. "Todos os homens livres, onde
quer que vivam, são cidadãos de Berlim. Por isso, como homem livre, tenho orgulho das palavras "Ich bin ein Berliner!".
O que muita gente não sabe é que, antes de seu discurso em 1963, Kennedy já estivera na
Alemanha. Em 1937, 1939 e 1945, o futuro presidente dos EUA se deparara com um país bem
diferente, primeiro como ditadura nazista, mais tarde como nação derrotada.
As cartas e anotações feitas por Kennedy na época acabam de ser publicadas, pela primeira vez,
em idioma alemão, sob o título Unter Deutschen. Reisetagebücher und Briefe 1937-1945 (Em meio
aos alemães. Diários de viagem e cartas 1937-1945).
Em agosto de 1937, quatro anos depois da ascensão dos nazistas ao poder, dois dinâmicos norte-americanos atravessavam a
fronteira alemã. John F. Kennedy, então com 20 anos de idade, e seu amigo Kirk LeMoyne Billings tinham completado seu primeiro
ano de estudos universitários. Agora, no Ford conversível de Kennedy, que fora transportado de navio, ambos viajavam pela
Europa.
"Hitler parece ser tão apreciado aqui quanto Mussolini na Itália, embora a propaganda seja possivelmente sua arma mais
possante", registrava Kennedy após a chegada em Munique.
Lubrich resume essas primeiras anotações: "Por um lado, Kennedy relata casos com mulheres, idas a bares e coisas semelhantes.
De vez em quando, no entanto, apresenta reflexões sobre a propaganda nacional-socialista e o apoio da população aos nazistas".
Logo, o jovem reconheceu a solidez das posições de Hitler na Alemanha e de Mussolini na Itália. "Não há dúvida que, devido a sua
propaganda eficaz, esses ditadores são mais apreciados em seus próprios países do que no exterior."
Por outro lado, o rapaz de 20 anos ainda não fazia qualquer consideração sobre aonde poderia levar a submissão dos alemães – por
exemplo, desembocando numa guerra. Acima de tudo, era a eficácia da propaganda que o fascinava, ele não tematizava o fato de
que a ditadura hitleriana também vinha se consolidando através do terror contra seus opositores.
Além disso, 1937 era "um ano tranquilo": o regime nazista acabara de impressionar o mundo com os Jogos Olímpicos de 1936,
demonstrando seu suposto espírito pacífico. Kennedy se mostra entusiasmado com os alemães e seu país. Em especial as
autoestradas alemãs inspiram elogios do apreciador dos carros conversíveis. "Estas são as melhores estradas do mundo", comenta.
Em 21 de agosto, o futuro estadista anotava, arrebatado: "Os alemães são realmente bons demais, por isso os outros se unem contra
eles, para se defenderem". Durante seu trajeto, ele muitas vezes procura conversar com os locais. Kennedy e Billings dão caronas a
estudantes, soldados – e, claro, a moças bonitas.
"Chego à conclusão que o fascismo é o regime adequado para a Alemanha e a Itália", registrara o jovem Kennedy em seu diário,
antes mesmo de colocar o pé na Europa. Porém é justo ver nele um admirador do regime nacional-socialista?
A opinião de Oliver Lubrich é firme: "Isso é obviamente besteira. É preciso considerar que se trata de anotações pessoais, que
refletem o processo de conscientização de Kennedy, sem qualquer perspectiva de serem publicadas!".
Kennedy expressa admiração pelo grau de perfeição da propaganda nazista, assim como tantos visitantes estrangeiros nessa época.
Muitos deles ignoravam o lado obscuro do regime – consciente ou inconscientemente – ou só testemunhavam as encenações
perfeitamente coreografadas pela máquina de propaganda.
Em 1939, Kennedy visitou a Alemanha uma segunda vez. Trabalhando como secretário de seu pai, embaixador dos EUA em
Londres, ele percorre o "Terceiro Reich". E, nessa nova posição, conversa com "os líderes nazistas e todos os cônsules" na cidade-
livre de Danzig (atual Gdansk), foco do grave conflito teuto-polonês que se anunciava.
Durante essa nova incursão ao país, outras questões ocupam o jovem Kennedy:
"Como evitar uma guerra? Os alemães ainda podem recuar?", resume o editor
Lubrich.
Tratava-se de um erro de julgamento crasso: em 1º de setembro a Alemanha Jovem John F. Kennedy (dir.) e seu pai Joseph
atacava a Polônia. Como tantos políticos e intelectuais – entre os quais o filósofo
francês Jean-Paul Sartre – Kennedy subestimara inteiramente o ímpeto bélico de Hitler e a agressividade germânica.
Fã de Hitler?
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John F. Kennedy só retornaria ao país quase seis anos mais tarde, em julho de 1945, acompanhando o ministro norte-americano da
Marinha em visita à Alemanha derrotada. "Tudo está destruído", escreve sobre a capital Berlim.
E faz também considerações sobre o Führer morto. Após conhecer a residência de Hitler em Obersalzberg, Kennedy comenta:
"Quem visitou estes dois locais pode perfeitamente imaginar que, apesar do ódio que o cerca hoje, em alguns anos Hitler
despontará como uma das personalidades mais significativas que já existiram".
Kennedy, um admirador do ditador nazista? Mais uma vez, Lubrich é taxativo: "É possível fascinar-se esteticamente, sem aprovar o
conteúdo dessa ditadura. Eu não diria que Kennedy admirava Hitler politicamente. Mas ele também era suscetível à propaganda".
No entanto, como interpretar a frase de Kennedy, em face dos crimes do nazismo contra a humanidade? "É, de fato, peculiar que
ele aparentemente não tenha mostrado mais interesse pela questão. Parece que, aqui, Kennedy reflete antes de forma abstrata
sobre o mito Hitler", justifica o germanista.
Os alemães e a democracia
Em 1945, o político norte-americano também fez considerações sobre os princípios de funcionamento da ditadura hitleriana. Ao
visitar o estaleiro de submarinos em Bremen, ele constatava: "A conformidade dos funcionários públicos alemães mostra quão fácil
seria tomar o poder na Alemanha".
Em suas anotações sobre os alemães, o futuro líder parece estar sempre dividido entre a admiração e a perplexidade. E desconfiado
deles. "Em 1945, Kennedy era muito pessimista, afirmando que seria preciso seguir exercendo controle sobre os alemães, pois eles
não esqueceriam a derrota na guerra", aponta Lubrich.
Entretanto, ao pronunciar, em 26 de junho de 1963, as palavras "Eu sou um berlinense", o júbilo da multidão foi frenético – e o
alívio de Kennedy, grande. Agora, os alemães (ao menos os ocidentais) aclamavam a ele, um político democrata. Ao que tudo
indicava, o processo de democratização tivera êxito.
L E I A M AIS
Com imagem arranhada, Obama visita Berlim pela primeira vez como presidente
Em sua primeira visita a Berlim em 2008, o então candidato democrata Barack Obama foi recebido como rei. Ao visitar a capital alemã pela
primeira vez como presidente, ele deverá ver que não há mais tanta euforia no país. (18.06.2013)
Data 26.06.2013
Assuntos relacionados Oskar Schindler, Atentado contra Hitler, Segunda Guerra Mundial, Nazismo, Arte Degenerada, Estados Unidos, Anne Frank, Auschwitz, Holocausto,
Hitler
Palavras-chave John F. Kennedy, presidente, Estados Unidos, EUA, nazismo, Ich bin ein Berliner, sou um berlinense, 26/06/1963, discurso, hitler, diário, nacional-
socialismo
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