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Treinamento em

Eletricidade

Eletricidade Básica de Locomotivas

outubro de 2005
Treinamento Módulo 1 Eletricidade Básica de Locomotivas

ÍNDICE

1. LOCOMOTIVAS DIESEL-ELÉTRICAS ...............................................................2


2. SISTEMA DE ALTA TENSÃO (600V) .................................................................3
2.1 Gerador Principal (GP) ...............................................................................4
2.2 Motor de Tração (MT)..................................................................................6
2.3 Armários Elétricos ......................................................................................7
2.3.1 Contatores de Potência .........................................................................7
2.3.2 Contatores de Reversão ........................................................................9
2.3.3 Contatores de Shunteamento ................................................................9
2.3.4 Cabos Elétricos....................................................................................10
2.3.5 Relé de Terra (GR) ..............................................................................10
2.3.6 Shunt do Amperímetro do Motor de Tração.........................................11
2.3.7 Resistores em geral .............................................................................12
2.3.8 Resistores de Shunteamento...............................................................12
2.4 Resistores de Grade .................................................................................13
2.5 Transdutores e Relés de Deslize de Rodas ............................................14
2.6 Motor do Ventilador dos Resistores de Grade .......................................15
3. SISTEMA DE BAIXA TENSÃO .........................................................................16
3.1 Gerador Auxiliar (GA) ...............................................................................17
3.2 Excitatriz ....................................................................................................18
3.3 Motor da Bomba de Combustível ............................................................19
3.4 Armários Elétricos ....................................................................................20
3.4.1 Painel de Interruptores e Fusíveis .......................................................20
3.4.2 Painel de Controle do Motor Diesel .....................................................20
3.4.3 Módulos ou Cartões Eletrônicos ..........................................................22
3.4.4 Console do Maquinista ........................................................................22
3.4.5 Microprocessador ................................................................................25
3.4.6 Regulador de Tensão (VR) ..................................................................26
3.4.7 Relés de Propósito Geral .....................................................................27
3.4.8 Régua de Terminais.............................................................................28
3.4.9 Fiação elétrica......................................................................................29
3.4.10 Circuito de Faróis.................................................................................29
3.5 Baterias......................................................................................................31
3.6 Circuitos de Conjugação..........................................................................31
3.7 Regulador de carga...................................................................................34
3.8 Motor de Partida........................................................................................34
3.9 Motor da Bomba de Lubrificação de Turbo ............................................35
3.10 Sistema de Média Tensão AC (215Vac – locos GT) ...............................36
4. MODOS DE OPERAÇÃO ..................................................................................37
4.1 Operação em Tração.................................................................................37
4.2 Operação em Dinâmico ............................................................................38
Bibliografia...............................................................................................................40
Equipe de Elaboração.............................................................................................40

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1. LOCOMOTIVAS DIESEL-ELÉTRICAS

As locomotivas Diesel-Elétricas possuem um motor a diesel como fonte de


energia primária para acionar um gerador elétrico, chamado de "gerador principal".
Este gerador transforma a energia mecânica fornecida pelo motor a diesel em
energia elétrica.
A energia elétrica em alta tensão produzida pelo gerador principal é
transmitida através de cabos a um armário elétrico, de onde será distribuída a
motores elétricos, chamados de "motores de tração", que por sua vez convertem a
energia elétrica em energia mecânica para tração.
Veja a seguir um desenho simplificado dos equipamentos de uma locomotiva
modelo G22UB:

De acordo com o modelo de locomotiva, podemos encontrar variações no tipo


e disposição de alguns equipamentos, mas os sistemas básicos são praticamente os
mesmos para todas as locomotivas diesel-elétricas.
A principal divisão dos sistemas elétricos das locomotivas é a que os separa
em Sistema de Alta Tensão e Sistema de Baixa Tensão. Uma das características
mais importantes destes sistemas é que eles operam eletricamente isolados
entre si e da carcaça (Massa) da locomotiva. Quando um dos sistemas está
com baixa isolação (ou "eletricamente conectado") a alguma parte da carcaça

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da locomotiva, dizemos que o sistema em questão está "para massa". Nesta


situação é preciso identificar onde o sistema está com baixa isolação e corrigir
o problema.
A seguir vamos conhecer as características e funcionamento básicos dos
Sistemas de Alta e Baixa Tensão.

2. SISTEMA DE ALTA TENSÃO (600V)

O Sistema de Alta Tensão de uma locomotiva diesel-elétrica é responsável


pela força de tração e do freio dinâmico (eletromagnético) da locomotiva. Sua tensão
nominal é de 600V, em corrente contínua.
O Sistema de Alta Tensão de uma locomotiva diesel-elétrica pode ser dividido
em dois grupos:

I) Equipamentos Eletro-Rotativos: são os equipamentos com um rotor, que


é uma parte que gira no equipamento. Estes são os principais eletro-rotativos de alta
tensão:
- Gerador principal (GP)
- Motores de tração (MT)
- Ventilador do freio dinâmico

II) Equipamentos e Sistemas Eletro-Estacionários: são os que não


possuem rotor, permanecendo estáticos. Podem no entanto possuir partes móveis,
como contatos e eixos parcialmente rotativos. Estes são os principais sistemas e
equipamentos eletro-estacionários de alta tensão:
- Armários Elétricos (circuitos de alta tensão)
- Resistores de Grade
- Transdutores e Relés de deslize de rodas

A seguir apresentamos mais detalhes de cada um destes componentes do


sistema de alta tensão de locomotivas diesel-elétricas.

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2.1 Gerador Principal (GP)

O Gerador Principal é um gerador elétrico que, diretamente ligado ao motor


diesel, converte a potência mecânica recebida em energia elétrica, a qual é aplicada
em motores de tração. A corrente gerada pelo gerador principal pode ser tanto
contínua quanto alternada. Isso depende do tipo de construção do gerador. Os
geradores que geram corrente alternada são chamados de alternadores. Como
a carga do sistema (motores de tração) é de corrente contínua, esta corrente
alternada gerada pelo alternador precisa ser retificada, o que é feito por uma
bancada de diodos.
A seguir podemos visualizar fotos de um gerador principal de corrente
contínua. Neste tipo de gerador, o rotor (parte rotativa) funciona como armadura
(induzido). O estator (parte "estacionária" ou que permanece parada), funciona
como campo. Assim, as bobinas do rotor terão uma corrente que é
eletromagneticamente induzida pela corrente que circula pelas bobinas do estator.

GP CC - Lado do Duto de Ar

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GP CC - Rotor

GP CC - Lado do acoplamento c/ Motor Diesel

A seguir temos fotos de um "alternador", que é um gerador de corrente


alternada. Neste tipo de gerador, o rotor (parte rotativa) funciona como campo. A
parte "estacionária" (estator), que é a parte que permanece parada, funciona como
armadura (induzido).

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2.2 Motor de Tração (MT)


São motores elétricos de corrente contínua que recebem a energia elétrica
produzida pelo gerador principal e a convertem em energia mecânica (tração). Essa
energia do motor é transferida ao rodeiro através do engrenamento entre um pinhão
(acoplado ao eixo do motor) e uma coroa (acoplada ao eixo do rodeiro). Existe uma
relação de engrenamento entre pinhão e coroa que sempre deve ser respeitada, de
acordo com a situação de cada locomotiva. A relação de engrenamento são os
números de dentes do pinhão e da coroa.
O campo do motor de tração está ligado em série com a armadura, para
fornecer um alto torque de partida, que é exigido pela locomotiva.
A rotação do motor pode ser invertida, com a simples operação de inverter o
sentido da corrente através das bobinas de campo. Isso é executado pelos
contactores do armário elétrico da locomotiva.
As escovas dos motores de tração têm grande secção transversal para
minimizar as perdas por trepidação e fadiga, e devem ser inspecionadas e trocadas
de acordo com as manutenções preventivas.

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Comutador, Porta-escovas e Escovas de Motor de Tração

2.3 Armários Elétricos

Os armários elétricos contêm os contatores elétricos e grande parte dos


equipamentos eletro-estacionários (elétricos não-rotativos) da locomotiva. Eles se
localizam na cabine do maquinista e em compartimentos próximos a ela. Grande
parte dos modelos das locomotivas apresenta apenas um armário elétrico, localizado
dentro da cabine, atrás do maquinista. No entanto, existem também modelos, tal
como as locomotivas C30, que possuem mais de um armário elétrico.
Na verdade, os armários elétricos são formados por sistemas tanto de alta como
de baixa tensão. Dependendo da locomotiva, em um mesmo compartimento são
encontrados circuitos de alta e de baixa tensão, ou então existe uma maior
separação da parte de alta e de baixa, como no caso das locomotivas C30.
Os principais componentes e sistemas de alta tensão encontrados nos armários
elétricos são descritos a seguir.

2.3.1 Contatores de Potência

São dispositivos de manobra que abrem ou fecham os circuitos de


alimentação dos motores de tração, permitindo que a locomotiva tenha força de

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tração. Em dinâmico, contatores de potência permitem a passagem da corrente


elétrica produzida nos motores de tração aos resistores de grade.

Contator de Potência 2 posições GM

Contator de Potência 1 posição GM

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2.3.2 Contatores de Reversão

São dispositivos de manobra que permitem mudar o sentido da corrente


elétrica direcionada aos campos dos motores de tração. Invertendo o sentido da
corrente no campo dos motores, é por conseqüência invertido o sentido da força de
tração que movimenta a locomotiva, ou para frente ou para recuo.

Contator Reversor de locomotiva GM

2.3.3 Contatores de Shunteamento

São dispositivos de manobra que, ao serem fechados no circuito, inserem


resistores em paralelo ao campo dos motores de tração, com o objetivo de diminuir a
tensão sobre o gerador principal.

Contator de Shunteamento GM

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2.3.4 Cabos Elétricos

São condutores elétricos de cobre ou alumínio, revestidos com materiais


isolantes. A maior parte dos cabos do sistema de alta tensão possui diâmetros bem
maiores que os condutores elétricos de baixa tensão, pois conduzem correntes mais
elevadas. No entanto, existem alguns condutores de alta que apresentam diâmetros
similares aos de baixa tensão, por conduzirem corrente baixa.
Os principais cabos de alta tensão são os que transferem a corrente elétrica
produzida pelo gerador principal aos motores de tração, passando pelos contactores
de potência e de reversão instalados no armário elétrico.

Cabos de Potência ligados a Contatores

2.3.5 Relé de Terra (GR)

Relé de travamento eletromecânico que interrompe a produção de energia


elétrica do gerador principal, sempre que ocorrer uma massa positiva ou negativa no
circuito de alta tensão.

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Relé de Terra instalado em locomotiva

2.3.6 Shunt do Amperímetro do Motor de Tração

Resistor de valor de resistência extremamente baixo, que desvia um


percentual muito pequeno e proporcional da corrente total que vai ou vem dos
motores de tração. A corrente desviada é enviada ao amperímetro do motor de
tração, instalado no painel do maquinista.

Shunt do Amperímetro do Motor de tração

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2.3.7 Resistores em geral

O Sistema de Alta Tensão possui resistores com diversas funções. As principais


funções são:
- Permitir regulagem dos limites de tensão e corrente em frenagem dinâmica,
para que os resistores de grade tabalhem dentro de sua faixa nominal.
- Permitir regulagem dos limites de tensão e corrente de trabalho do Gerador
Principal.

2.3.8 Resistores de Shunteamento

São resistores inseridos, pelo fechamento dos contatos dos contatores de


shunteamento, em paralelo ao campo dos motores de tração, com o objetivo de
diminuir a tensão sobre o Gerador Principal. Tem uma aparência similar aos
resistores de grade, com os condutores expostos, do tipo grelha.

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Resistores de Shunteamento

2.4 Resistores de Grade


São os resistores responsáveis por consumir a energia elétrica produzida
pelos motores de tração durante a frenagem dinâmica. Conforme seu prórpio nome
indica, são resistores do tipo "grade" ou "grelha", que apresentam os condutores de
dissipação de energia expostos. Dependendo do modelo de locomotiva, estes
resistores são resfriados através de dois tipos de ventiladores:
a) Ventilador Elétrico: alimentado através de uma derivação da corrente que
passa por um dos resistores de grade.
b) Ventilador Mecânico: acoplado mecanicamente ao motor diesel.

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Resistores de Grade de Locomotiva C30

2.5 Transdutores e Relés de Deslize de Rodas

A principal função dos transdutores e relés de deslize de rodas é detectar


patinações das rodas sobre os trilhos. Tais patinações podem acarretar danos
graves aos trilhos, rodas e motores de tração, portanto devem ser evitados ao
máximo.
Outra função desses equipamentos é garantir que os motores de tração
estejam trabalhando de maneira "equilibrada", isto é, sem desequilíbrios de corrente
que possam sobrecarregar um ou outro motor da locomotiva, o que pode causar
uma falha grave no motor ou diminuir sua vida útil.

Relé WS

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Transdutor de Corrente

2.6 Motor do Ventilador dos Resistores de Grade

O ventilador elétrico dos resistores de grade do freio dinâmico consiste de


uma ventoinha movida por um motor de corrente contínua. Durante a operação de
freio dinâmico, os motores de tração operam como geradores, e a energia elétrica
gerada é transformada em calor nas "grades" de resistência do freio dinâmico.
Uma parte da corrente elétrica gerada pelos motores é derivada para
movimentar o motor dos ventiladores. O ar atmosférico aspirado pelas laterais da
locomotiva passa pelas grades de resistência do freio dinâmico e é soprado para
cima, já quente. Sobre os ventiladores existem grades para a proteção contra queda
de sujeira que possa danificar suas pás.

Ventilador de Resistores de Grade GM

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3. SISTEMA DE BAIXA TENSÃO

O Sistema de Baixa Tensão é composto por circuitos e equipamentos que


necessitam de uma tensão nominal de 72V CC para sua operação. Podemos dizer
que estes circuitos têm como principais funções o controle e a proteção da
locomotiva e seus equipamentos. De forma mais detalhada, estas são as principais
funções do Sistema de Baixa Tensão:

- controle da partida do motor diesel


- controle da potência da locomotiva
- controle da direção da locomotiva
- controle de areiamento
- controle de refrigeração do motor diesel
- controle de válvulas de freio eletropneumáticas
- proteção contra tensões e correntes excessivas em alguns equipamentos
- proteção contra sobre-aquecimento do motor diesel
- proteção contra "homem-morto"
- comandar e receber comando de locomotivas conjugadas
- iluminação interna (cabine) e externa (faróis)
- avisos sonoros e luminosos
- aquecimento de cabine

Durante a partida da locomotiva, o Sistema de Baixa Tensão é alimentado


pela bateria, em 64-72V CC. Após a partida do motor diesel, o Sistema de Baixa
Tensão passa a ser alimentado pelo Gerador Auxiliar, que também proporciona o
carregamento das baterias, em 72V CC (corrente contínua).

Assim como o Sistema de Alta Tensão, o Sistema de Baixa Tensão de uma


locomotiva diesel-elétrica pode ser dividido em dois grupos:

I) Equipamentos Eletro-Rotativos: possuem um rotor, que é uma parte


girante (rotativa) do equipamento. Estes são os principais eletro-rotativos de baixa
tensão encontrados em nossa frota de locomotivas:

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- Gerador auxiliar (GA)


- Excitatriz
- Motor da bomba de combustível
- Motor de partida

II) Equipamentos e Sistemas Eletro-Estacionários: são os que não


possuem rotor, permanecendo basicamente estáticos. Podem no entanto possuir
partes móveis, como contatos e eixos parcialmente rotativos. Estes são os principais
sistemas e componentes eletro-estacionários de baixa tensão:
- Armários Elétricos (Circuitos de Baixa Tensão)
- Baterias
- Regulador de carga
- Tomadas e Circuitos de Conjugação

A seguir apresentamos mais detalhes de cada um destes componentes do


sistema de baixa tensão de locomotivas diesel-elétricas.

3.1 Gerador Auxiliar (GA)


O Gerador Auxiliar, comumente designado pelas iniciais GA, é um gerador
auto-excitado, ou seja, que sempre mantém no seu campo uma excitação residual,
de forma a não depender de excitadores externos.
Duas funções do GA são comuns a todas as locomotivas:
- Carregar a bateria da locomotiva
- Alimentar o Sistema de Baixa Tensão

Outras 2 funções do GA são exclusivas de determinados modelos de


locomotivas:
- Auxiliar mecanicamente a partida do motor diesel
- Alimentar a excitação do gerador principal

Dependendo do modelo de locomotiva, o GA pode estar acoplado


mecanicamente ao motor diesel ou ao gerador principal.

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Existem geradores auxiliares CC (corrente contínua) e CA (corrente


alternada). Os GA de corrente alternada possuem um retificador na saída para
converter a tensão gerada em CC para o Sistema de Baixa Tensão.

Gerador Auxiliar com Ventoinha Acoplada

3.2 Excitatriz

Nas locomotivas C30 e U20, além do gerador auxiliar, existe mais um gerador
elétrico acoplado ao gerador principal, através de pinhão e coroa. Este gerador,
denominado Excitatriz, desempenha as seguintes funções:
- Auxiliar mecanicamente a partida do motor diesel, em conjunto ao GA.
- Alimentar a excitação do Gerador Principal

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Excitatriz de Locomotiva C30

3.3 Motor da Bomba de Combustível

É um motor CC de 64-74V acoplado diretamente à bomba de combustível.


Durante a operação do Motor Diesel, a bomba de combustível é acionada por esse
motor.

Motor de Bomba de Combustível em Locomotiva

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3.4 Armários Elétricos


Existem diversos armários ou compartimentos elétricos nas locomotivas.
Usualmente, o termo "Armário Elétrico" serve para designar o armário que existe
atrás do maquinista, dentro da cabine, que na maior parte da frota é o mais
importante, por conter a maior parte dos componentes eletro-estacionários.
A seguir apresentamos os principais setores e componentes de baixa tensão
dos armários existentes em nossa frota.

3.4.1 Painel de Interruptores e Fusíveis

Este painel localiza-se usualmente no canto esquerdo superior do armário


elétrico interno da cabine. Contém interruptores e fusíveis para diversos circuitos,
como por exemplo de iluminação.

Painel de Interruptores e Fusíveis loco GM

3.4.2 Painel de Controle do Motor Diesel

Contém a chamada "chave de trabalho", que serve para definir o estado de


funcionamento da locomotiva (Partir/Parar/Isolar ou Trabalho). Contém também

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botões, indicadores e avisos que comandam e sinalizam o funcionamento de alguns


sistemas da locomotiva, principalmente ligados ao motor diesel.

Painel de Controle do Motor Diesel – loco GM

Painel de Controle do Motor Diesel – loco C30

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3.4.3 Módulos ou Cartões Eletrônicos

Alguns modelos de locomotiva contêm módulos ou cartões eletrônicos, cada


um com uma função particular para o controle e proteção de circuitos da locomotiva.

Módulos Eletrônicos em locomotiva GT

3.4.4 Console do Maquinista

Localizado ao lado do maquinista, o console contém os circuitos que


permitem ao maquinista conduzir o trem, através de dispositivos da parte externa.
Na parte externa do console estão interruptores, botões, instrumentos e
alavancas (manípulos), através dos quais o maquinista verifica e modifica o estado
dos circuitos de controle da locomotiva.

Console do Maquinista em loco GM – Vista Parcial

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Os principais dispositivos externos ao console do maquinista são os


seguintes:

- Manípulo Acelerador: serve para definir o ponto de aceleração do motor


diesel. Para cada ponto de aceleração a rotação do motor diesel tem um valor
fixo. Através do manípulo, o maquinista na verdade envia um conjunto de sinais
elétricos a um equipamento denominado Governador, que é o principal
componente de controle da rotação do Motor Diesel. A partir dos sinais elétricos
recebidos, que energizam ou não determinadas bobinas, os mecanismos do
Governador interpretam qual o ponto de aceleração escolhido pelo maquinista, e
fazem com que o motor trabalhe na rotação adequada.

- Manípulo de Freio Dinâmico: serve para ligar e controlar a frenagem


eletromagnética da locomotiva. Existem modelos de locomotivas em que o freio
dinâmico é controlado pelo próprio manípulo acelerador. Essas locos não
possuem o Manípulo de Freio Dinâmico, mas possuem uma alavanca seletora
em que o maquinista faz a opção entre dinâmico ou tração.

- Manípulo Reversor: serve para escolher o sentido de condução da


locomotiva - frente ou ré. Através dele os contatores de reversão são acionados,
invertendo a ligação do campo dos motores de tração.

- Amperímetro do Motor de Tração: indica ao maquinista a corrente em um


dos motores de tração.

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Amperímetro do Motor de Tração

- Painel de interruptores: é um grupo de interruptores com diversas funções


específicas, tais como acionamento dos faróis fracos, habilitação do circuito da
bomba de de combustível, etc.

- Pedal do Homem-morto: através do pedal, o maquinista avisa ao sistema


de vigilância que está acordado. Caso após um determinado tempo o maquinista
não acione o pedal, o sistema pára o trem. O sistema pode ser elétrico ou
pneumático, dependendo da locomotiva.

Pedal do Homem-Morto

- Acionador de areiamento: através dele o maquinista pode forçar o


areiamento nos rodeiros que possuem esse recurso. O areiamento tem como
função aumentar a aderência entre as rodas da locomotiva e os trilhos, corrigindo
e evitando deslizes.

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acionador
de
areiamento

3.4.5 Microprocessador

É um sistema composto por placas eletrônicas com circuitos integrados. O


microprocesador substitui uma série de componentes, principalmente relés de
controle, do armário tradicional. Isso é possível através do microprocessamento da
lógica dos circuitos. As locomotivas G26MP e C30MP possuem microprocessadores.

Microprocessador de Locomtiva G26MP

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3.4.6 Regulador de Tensão (VR)

O Sistema de Baixa Tensão e seus componentes são especificados para


operar em 72V. Essa tensão deve ser mantida o mais constante possível, para que o
sistema como um todo opere corretamente.
O Regulador de Tensão serve para manter constante a tensão de 72V do
Sistema de Baixa Tensão. VR é o nome utilizado para designar o Regulador de
Tensão. A sigla vem das inicias do seu nome em inglês: Voltage Regulator.
O Gerador Auxiliar (GA) é quem alimenta o Sistema de Baixa Tensão. No
entanto, como a rotação do GA varia como a do Motor Diesel, a tensão produzida
por ele também tende a variar, se não for alterada a sua excitação.
O Regulador de Tensão é usado no circuito de excitação do Gerador Auxiliar,
para variar a excitação conforme necessário, buscando manter constante a tensão
de saída, apesar das variações na velocidade da rotação.
Na carcaça do VR, temos um reostato de fenda para se ajustar a tensão na
tensão adequada (entre 72 e 73V).

VR de locomotiva C30

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VR de locomotiva GT

VR de locomotiva G22UB

3.4.7 Relés de Propósito Geral

Os relés de locomotivas são dispositivos eletromecânicos de manobra, que


têm como funções principais o controle e a proteção de circuitos e equipamentos,

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através da abertura e fechamento de seus contatos. Como qualquer relé, a posição


de seus contatos depende de sua bobina estar energizada ou não.
Algumas funções importantes desempenhadas pelos relés:
- Abrir ou fechar circuitos das bobinas de contatores.
- Bloquear situações de falha de componentes.

Relé instalado em Armário Elétrico

3.4.8 Régua de Terminais

Também chamada de "Régua de Bornes" ou "TB" (do inglês "Terminal


Board"). As réguas de terminais têm como função interligar circuitos que apresentam
pontos em comum.

Réguas de Terminais e Fiação Elétrica

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3.4.9 Fiação elétrica

São os condutores elétricos que permitem a circulação de corrente entre os


componentes do Sistema de Baixa Tensão. Assim como para os cabos de alta, é
muito importante que as conexões dos terminais da fiação estejam firmes, pois um
mal contato pode acarretar até mesmo a parada de um trem. Observar na figura
anterior os "chicotes" ou conjuntos de fios agrupados, próximos às Réguas de
Terminais.

3.4.10 Circuito de Faróis

Por questão de segurança, toda locomotiva que está na frente de uma


composição necessita sempre estar com os faróis acesos. Por isso, é muito
importante que todo o circuito dos faróis esteja sempre operando corretamente.
O circuito dos faróis é usualmente composto por:
- Faróis propriamente ditos
- Chaves para seleção de Farol Forte ou Farol Fraco
- Interruptores de comando dos faróis
- Chave de comando dos faróis
- Resistores de ajuste da tensão de alimentação dos faróis

Chave de seleção de Farol Forte

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Chave de comando dos faróis

Resistores do Circuito dos Faróis

Faróis frontais

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3.5 Baterias

As baterias de locomotivas têm como função alimentar os circuitos


necessários à partida do motor diesel.

Baterias instaladas em Locomotiva

3.6 Circuitos de Conjugação

Os circuitos de conjugação têm como função permitir que locomotivas


acopladas possam "conversar" entre si. Eles são formados por:
- Circuitos de conjugação internos à locomotiva: são formados pela
fiação e réguas de terminais que tem como função receber e enviar sinais elétricos
até a Tomada de Conjugação, para outra locomotiva.

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Fiação de Conjugação próxima à Tomada de Conjugaçao

- Tomadas de Conjugação: localizadas nas pontas das locomotivas, são as


extremidades da fiação interna de conjugação.

Tomada de Conjugação

- Cabo de conjugação: interligam eletricamente as tomadas de conjugação,


e em conseqüência os circuitos de conjugação internos de duas locomotivas.

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Cabo de Conjugação

Cabo de Conjugação acoplado à Tomada de Conjugação

Quando duas ou mais locomotivas estão acopladas e interligadas


eletricamente através dos Cabos de Conjugação, dizemos que estão em "Tração
Múltipla".
Nessa situação, uma das locomotivas, geralmente a da frente da composição,
comanda eletricamente todas as outras. Diz-se que a locomotiva que comanda é a
Comandante, e as outras são Comandadas.

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3.7 Regulador de carga


O Regulador de Carga é um dispositivo eletro-hidráulico que controla a
potência do gerador principal, incrementando ou removendo excitação sobre o
mesmo. Quem define a posição do regulador de carga é o Governador da
locomotiva.

Regulador de Carga sem tampa Protetora

3.8 Motor de Partida

O motor de partida é um componente exclusivo das GT22 e GT26. Nestas


locomotivas, o motor diesel é equipado com dois motores para partida. Durante a
partida, os pinhões dos motores de partida são acoplados à engrenagem do Motor
Diesel, forncedo-lhe a força inicial (torque) necessária.

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Motores de Partida na Locomotiva

3.9 Motor da Bomba de Lubrificação de Turbo

Este motor é um componente exclusivo das locomotivas GT22 e GT26. É


um motor CC de 64-74V. Fica acoplado diretamente à bomba de óleo lubrificante,
montado do lado de fora do cárter. Sua função é acionar a bomba de óleo
lubrificante dos mancais do turbo. Na partida do motor diesel, a bomba pré-lubrifica
os mancais do turbo alimentador. Na parada do motor diesel, continua funcionando
durante 35 minutos para resfriar os mancais do turbo.

Motor de Lubrificação do Turbo

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3.10 Sistema de Média Tensão AC (215Vac – locos GT)

Nas locomotivas GT22 e GT26, além dos sistemas de alta e baixa tensão,
temos um terceiro sistema, o de média tensão. A energia deste sistema é gerada por
um alternador auxiliar, que está diretamente acoplado ao gerador principal. Este
sistema é formado pelos seguintes componentes:
- Alternador Auxiliar de Média Tensão
- Armário Elétrico AC de Média Tensão
- Motores dos Ventiladores dos Radiadores
- Motor do Filtro de Inércia

Veja na figura a seguir um esquema básico da localização dos componentes


de média tensão nas locomotivas GT.

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4. MODOS DE OPERAÇÃO

Existem dois modos básicos de operação da locomotiva: "Tração" ou


"Dinâmico". A escolha do modo de operação é feita através dos manípulos do
acelerador e do freio dinâmico, localizados no console do maquinista. Veremos a
seguir uma descrição desses dois modos.

4.1 Operação em Tração

Quando a locomotiva está tracionando, o motor diesel gira a uma determinada


rotação, dependendo do ponto escolhido no manípulo acelerador para tracionar a
composição. Como regra, existem 8 pontos de aceleração.
Esta rotação é transmitida pelo eixo do motor diesel ao gerador principal, que
converte a energia mecânica da rotação em energia elétrica. Esta energia elétrica é
levada até o armário elétrico, que a transmite aos motores de tração, que por sua
vez transformarão esta energia elétrica em energia mecânica e movimentarão a
locomotiva.
O diagrama a seguir mostra os principais equipamentos envolvidos na
operação "em tração" de uma locomotiva genérica.

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Quando em tração, temos o seguinte circuito de alta tensão simplificado:

Observe no esquema anterior que o campo e a armadura do motor de tração


estão ligados em série. Para efeito de simplificação, está representado apenas um
motor de tração.

4.2 Operação em Dinâmico

O Freio Dinâmico tem por finalidade controlar a velocidade dos trens,


principalmente na descida de rampas, permitindo uma menor utilização do freio a ar
de locomotivas e vagões.
Durante a frenagem dinâmica, são feitas ligações elétricas que transformam
os motores de tração em geradores elétricos. A energia elétrica produzida pelos
motores de tração, operando como geradores, é dissipada sob a forma de calor, em
resistores de grade. Surge como conseqüência, no rotor dos motores de tração, uma
força eletromagnética contrária ao movimento da locomotiva. Essa força é
proporcional à energia dissipada nos resistores de grade. Por ser contrária ao
movimento, é uma força de frenagem.

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Veja a seguir o esquema simplificado de ligação dos motores em dinâmico.

Observe no diagrama anterior que:


- A ligação elétrica dos campos dos motores de tração é em série com o
gerador principal
- A armadura (rotor) dos motores de tração é ligada sempre aos pares, como
por exemplo a armadura do motor 1 com a armadura do motor 2. Dessa forma, a
tensão produzida num motor (no rotor de cada motor) é somada com a tensão
produzida no outro motor. A corrente total dos motores de tração é consumida nos
resistores de grade ("REGRIDS").
- Um ventilador elétrico ou mecânico resfria os resistores de grade. No
esquema anterior o ventilador é elétrico, alimentado por uma parte da corrente do
resistor de grade ligado à armadura do motor de tração 2.

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Bibliografia

- Apostilas do Curso de Eletricidade e Eletrônica da SENAI/RFFSA


- Apostila de Interpretação de Diagramas Elétricos da EMD
- Diagramas elétricos de locomotivas

Equipe de Elaboração

Bruno Perin
Gustavo Loyola
Leocádio Langhammer

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