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“AS POSSIBILIDADES DO ENVELHECER”

1- A PERCEPÇÃO DA VELHICE DEPENDE DO CONTEXTO SÓCIO-CULTURAL E


DO PAPEL ATRIBUÍDO ÀS PESSOAS DESTA IDADE.

Há pelo menos duas maneiras de enxergar os velhos. As duas dependem do lugar que
ocupem os velhos no tipo de sociedade..

Há culturas em que os mais velhos são vistos como guardiões da tradição e do saber; é o
que acontece entre os povos primitivos, de tipo tribal. É o que acontecia também na China e
Japão. Neste caso gozam de especial consideração e respeito, além de autoridade social.. Essa
consideração não deriva de suas posses e riqueza, embora não exclua necessariamente esses dois
fatores.

Há cultura em que são avaliados segundo o status social, suas posses e sua importância
no exercício do poder. Caos sejam poderosos ou gozem de uma posição de respeitabilidade
usufruem os privilégios correspondentes a sua influencia social. Caso pertençam a setores
modestos e pobres são vistos como um peso e um ônus, sofrendo uma notória desconsideração. È
o que acontece com os idosos na sociedade ocidental, notoriamente a partir da ascensão do
capitalismo, sistema que avalia as pessoas segundo seu papel no processo produtivo e na sua
capacidade de gerar riquezas.

Existem os mais diversos problemas sócio-econômicos relacionados com a velhice; um


deles é o aumento progressivo do numero de idosos.
O aumento da longevidade tem gerado um problema demográfico e econômico de grande
magnitude, transformando-se um problema nacional para muitos países pelo número de idosos
que terão nos próximos 20 anos. Calcula-se que nos anos 2025 haverá em muitos países igual
numero de idosos e de jovens. Como financiar a renda dessas pessoas?

A velhice é vista e experimentada pelos idosos segundo alguns fatores que estão
caracterizando esta etapa de suas vidas.

Numa pesquisa realizada foram destacados seis fatores especialmente importantes:

 A situação material, financeira;


 A saúde física e mental;
 A presença de uma família, especialmente o cônjuge;
 Manutenção de algum tipo de atividade;
 Formação religiosa;
 Contatos interpessoais amistosos.

A história pessoal, também é um fator importante, pois todo o presente depende em parte
considerável do passado. Como em outras etapas da vida, saber lidar corretamente comas
adversidades e conflitos da vida depende em boa medida dom potencial criativo da pessoa.

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Saber ou não conviver com a progressiva decadência inerente a esta etapa se relaciona com
o grau de desenvolvimento alcançado pelo individuo.

No sistema capitalista, imperante no Ocidente, em geral a velhice, é vista e sentida com o


um período de privações, de progressiva decadência em todos os planos, de enfermidade, de
solidão, tendo escassas compensações. Esta percepção negativa corresponde à maioria dos idosos
em grau médio (75 e 85 anos) e os anciãos em grau terminal ( depois dos 85 anos).

Os velhos entre 70 e 75 ainda mantém uma visão positiva da vida, mas sempre que estejam
presentes em suas vidas pelo menos três fatores: saúde, presença da família, especialmente,
estabilidade material razoável. Não basta que esses fatores estejam presentes se não tem havido
um desenvolvimento básico nos últimos anos. Eles são fatores coadjuvantes importantes, mas não
são determinantes. Pessoas que apresentar problemática psicológica desde etapas anteriores ou
apresentam traços caracteriais inconvenientes para a convivência e o bem estar pessoa tendem
agravar sua situação, aumentando suas dificuldades.

As pessoas que alcançaram uma certa sabedoria tendem a olhar os aspectos positivos
destacando sua importância e a ver a negatividade – o lado nada amável da vida- com o parte dos
ossos do oficio na arte de viver, sem sentir-se amedrontado pelo seu inevitável assédio.
Quem carrega o fardo das frustrações e das perdas, de conflitos não resolvidos, dificilmente
jogará no lixo esse fardo; quem carrega uma pobre imagem de si e uma visão amarga do ser
humano dificilmente mudará nesta etapa final.

Embora a velhice implica uma gradual decadência biológica existe uma fração
considerável de pessoas que se mostram satisfeitas e bem adaptadas besta etapa.

Em nossa cultura tende-se a enxergar a velhice como um inverno da vida, como uma
etapa de mal estar e deficiências que implicam sofrimento físico e psicológico. Esta idéia parece
verdadeira para uma fração majoritária da população (mais de 50%) sobretudo após os 75 anos,
mas outra porcentagem de 25 a 30% - consegue levar uma vida saudável, satisfatória, bem
adaptada a sua situação, embora experimentem as limitações e sofram algumas deficiências.
Essas pessoas se consideram contentes com sua realizações e suas perspectivas de vida. Uma
outra fração (uns 20%) tendem a oscilar entre períodos de franco desagrado pelos aspectos
menos amáveis desta idade e uma resignação tranqüila e até bem humorada nos períodos mais
afortunados.
O fato de enfatizarmos os aspectos mais problemáticos da senectude não implica ignorar
que nenhuma etapa da vida se impõe de maneira uniforme para todas as pessoas; pelo contrário,
sempre é possível distinguir três ou mais grupos com notórias diferenças entre si.

É provável que mesmo nas melhores fases da vida encontremos os que vêem com
pessimismo e desconfiança a boa colheita, os que celebram os bons frutos e os que consomem os
frutos sem experimentar o seu sabor.

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2- O MODO DE ENFRENTAR OS DESAFIOS E DIFICULDADES DA VELHICE
DEPENDE DO GRAU DE DESENVOLVIMENTO PESSOAL.

O desenvolvimento entendido como um gradual aprimoramento de si nos diversos planos


da existência é o que facilita ou não percorrer uma etapa difícil, de gradual decadência biológica
e de crescentes limitações pessoais.

Os planos a ser aprimorado pelo individuo se relacionam com alguns fatores básicos que
configuram a personalidade. Se estes fatores têm sido devidamente cuidados visando a melhor
adaptação aos desafios e adversidade inerente á vida, então é provável que a pessoa enfrente os
achaques e deficiência da velhice em condições que amenizem seus aspectos mais negativos.

OS FATORES QUE ESTRUTURAM, DIRECIONAM E MOBILIZAM A


PERSONALIDADE.

1. Os fatores caracteriais:

Existem em nós traços e atitudes pró-sociais e pró-egoicas. O ideal é o predomínio dos


traços sócio-cêntricos sobre o ego-cêntricos. Este deve ser um dos objetivos da educação.

O caráter designa as formas constantes de relacionamentos da pessoa com os diversos


objetos que configuram seu mundo e as situações que precisa enfrentar. Determinados traços
caracteriais facilitam o entendimento interpessoal e a adaptação criativas as imposições e
desafios inevitáveis na arte de viver.
Traços acentuadamente egocêntricos – egoísmos, desconsideração, possessividade, arrogância,
falta de escrúpulos, malevolência, prejudicam tanto ao sujeito quanto ao seu próximo.

Não se trata de despojar-se inteiramente de atitudes egocêntricas egoístas, o que parece


pouco provável para a maioria dos humanos. É normal que enxerguemos as coisas desde nossas
perspectivas e conforme o nosso interesse, deixando a melhor parte para nó. Mas estas atitudes
precisam ser moderadas pela compaixão, a solidariedade e a boa vontade.

2. Os fatores de orientação existencial

As crenças: são os pressupostos existenciais que sustentam a pessoa. O tipo de crença que
sustenta uma pessoa revelam aspectos importantes de sua orientação vital.

Há crenças negativas que predispõem ao sujeito para o malogro pessoal “as pessoas não
prestam”, “é preciso levar vantagem em tudo”, “uma bela aparência é tudo na vida”, “quem
está fora do padrão não tem chances”.

Os valores: - revelam suas preferências e escolhas. A conduta e as ações revelam os


verdadeiros valores que a pessoa sustenta, mais que suas belas declarações.

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Valores centralizados em objetivos predominantemente materiais, hedônicos e práticos
são insuficientes para uma orientação de vida que almeje um aprimoramento de si. Ter coisas
usufruir do máximo de conforto, gozar de agrados sensoriais (sexo, comida, diversões, satisfação
de desejos banais) são compreensíveis numa sociedade capitalista que estimula o consumismo e
que considera o sucesso material como maior objetivo de um indivíduo. Contudo, valores
assentados nessas metas não abrem porta para outros planos da existência: para as grandes
conquista do espírito humano: a ciência, a filosofia, as artes, a religião, a política.

É o cultivo de valores implicados no âmbito dessas cinco atividades as que dignificam a


vida, colocando-a num plano ideal de existência.

O projeto de vida: direciona à pessoa para determinados objetivos práticos e ideais,


propondo metas de médio e longo alcance.

3. Fator motivacional

 Atendimento das necessidades e demandas. Cultivo de interesse: que absorvem e


validam o que a pessoa julga como importante e benéfico para si.

4. Fatores que com figuram a identidade pessoal:

 Fator corporal: cuidado preventivo com a saúde, hábitos e praticas que fomentem
as defesas orgânicas e o sentido de bem estar.

 Fator afetivo: cultivo dos sentimentos positivos, de caráter sócio-cêntricos e de


afirmação adequada de si. Manutenção de um relacionamento afetivo duradouro,
especialmente com um parceiro fixo (cônjuge).

 Fator histórico: familiaridade coma própria história pessoal, com pontes de


sustento nos períodos de rupturas e sem acumulo excessivo de “entulho
psicológico” que pese e deturpe a visão de mundo do sujeito.

5. Fator dos potenciais; preservação de aptidões e capacidades compatíveis com uma


conveniente autonomia físico-material e espiritual.

6. Fatores de integração pessoal: operando em termos normais, embora sem os


rendimentos e prontidão da etapa anterior.

 O eu como coordenador ativo das imposições das programações centralizadas na


esfera do sujeito, e das exigências da realidade.

 A autoconsciência entendida como síntese do grau de compreensão de si e do


mundo.

 A regulação funcional do organismo, que estabelece as bases para a saúde e o


bem estar.

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O grau de desenvolvimento pessoal é um processo complexo; seu aprimoramento é
uma tarefa que poucas pessoas levam a serio, descuidando os mais diversos aspectos. O descuido
resulta, assim num despreparo geral do individuo, deixando-o bastante vulnerável, propenso a
uma previsível e provável falência numa etapa especialmente problemática.
Há traços de caráter que precisam ser estimulados. Certamente a flexibilidade e o
raciocínio para ponderar as coisas é melhor que atitudes rígidas e meramente emocionais. Um
certo senso critico facilita uma melhor analise dos problemas que uma visão ingênua e
convencional.
Sentimentos de simpatia e de solidariedade para com o próximo facilitam um melhor
entendimento interpessoal. Crença e valores consistentes, baseados num conhecimento correto da
realidade e de si mesmo, permitem encarar as decepções e frustrações inevitáveis com
integridade, sem sentir-se esmagado pela má sorte ou pela maldade humana

3- CARACTERIZAÇÃO DA TERCEIRA IDADE EM SEUS ASPECTOS GERAIS

Seguindo a concepção multidimensional da vida humana destacamos as peculiaridades da


existência nesta etapa em cada dimensão.

Dimensão corporal

 Perda do vigor e da vitalidade;


 Diminuição das capacidades funcionais do organismo; queda das defesas, queda
das capacidades sensoriais, etc..
 Sensível diminuição da apetência sexual;
 Aparecimentos dos achaques e de perturbações biofísicas.

Relacionamento Interpessoal

 Dificuldades para relacionar-se com pessoas da geração anterior;


 Tendência a relacionar-se só com pessoas do circulo familiar;
 Diminuição das amizades e menor capacidade para fazerem novas;
 Contatos, tendência ao isolamento e a alienação dos problemas sociais.

Dimensão das atividades (Práxis)

 Desligamentos dos processos destrutivos e das atividades profissionais:


aposentadoria e dificuldade ou impossibilidade de encontrar um novo emprego;
 Movimentação num circulo de rotina, que não preenchem geralmente programas
de resultados rentáveis;Excesso de tempo ocioso. Conseqüentemente, sentimento
de inutilidade.

Dimensão Afetiva

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 Aparecimento de sentimentos negativos em todas as áreas;
 Tendências regressivas e depressivas;
 Freqüente sentimento de solidão e isolamento
 Preocupação com a saúde, situação financeira e a morte;
 Apego à crença religiosa como forma de amparo;

Dimensão dos valores

 Valores cristalizados, geralmente em conflito com os valores da geração anterior;


 Oscilação entre o dogmatismo valorativo e o ceticismo

Dimensão motivacional:

 Atendimentos das necessidades vegetativas de manutenção: alimentação, sono.


Diminuição da sexualidade.
 Aumento da demanda de segurança, afeto e transcendência, inserção grupal.

Dimensão espaço-temporal:

 Progressivo fechamento ao futuro, relativo afastamento do presente e refúgio no


passado. Por falta de possibilidades futuras e por estar num presente pouco
gratificante, tendência para sobrevalorizar o passado.
 Redução progressiva do espaço público e encapsulamento no espaço privado familiar.
Horizonte vital restrito.

Consciência de si:

 Consciência dilacerada de si pela iminência do fim, pela ausência de possibilidades e


pela degradação geral da existência. Caso exista um desenvolvimento anterior bem
sucedido e um ambiente acolhedor é o momento da sabedoria.

4. Dificuldades típicas da velhice no plano existencial e psicológico. Tarefas a ser


enfrentadas.

1- Dificuldades derivadas do aumento do tempo livre e do ócio.


 Esta dificuldade é especialmente forte em pessoas que programaram suas vidas
segundo o uso do tempo útil no trabalho. Sem saber o que fazer com as oito ou dez
horas livres que a nova situação impõe, a pessoa experimenta esse tempo como horas
vazias.
 Sem um compromisso ativo com as exigências programadas que impunha o trabalho,
o ócio sói a transformar-se mais em um castigo do que numa merecida oportunidade
de usufruir os bons frutos do tempo livre.
 Somente uma fração de idosos cultivou interesses fortes que viessem a ser efetivados
na nova estação.

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 A maioria centralizou seus interesses na profissão ou no ofício; uma vez desligados
dessas atividades ficam como barco a deriva.
 O idoso precisa reinventar sua vida de acordo com maior liberdade que dispõe nesse
estágio; inclusive precisa outorgar-se o direito de levar uma vida puramente
contemplativa, sem fazer nada, o que é muito difícil para os indivíduos que se
condicionaram durante anos a estar sempre ocupado em suas tarefas.
 Uma das tarefas que precisa enfrentar o indivíduo neste período da vida é como
preencher o tempo livre com atividades que o mantenham em contato com o todo
social, e com setores que de uma maneira mais concreta lhes permitam uma forma de
realização e satisfação pessoal.

2- Dificuldades para assumir novos papéis nem sempre isento de conotações


pejorativas – papel de avó, de aposentado, de velho.

 Cada idade impõe novos papéis. Assim como existe o papel de individuo jovem
também existe o papel de pessoa velha. Assumir esse papel não é nada fácil para a
maioria das pessoas.

 Em geral os velhos assumem com facilidade o papel de avós. Contudo se a pessoa


anda pelos 40- 50 anos e nessa idade recebe o primeiro neto , então tem choque
ao ver-se qualificado de avós. Entre os estereótipos que circulam em desfavor
dessa idade está a idéia de igualar a condição de avós com velhice.

 Depois dos 60 anos os netos são uma fonte de alegria. As mulheres tem menos
dificuldades do que os homens parta incorporar esse papel. Para elas os netos
equivalem a recuperar os filhos na época da infância.

 O papel de aposentado já é um tema folclórico. Como a imensa maioria dos


aposentados já está na primeira fase da velhice – início dos 65 anos – ficar fora do
processo de produção é sinônimo de excesso de tempo livre, de proprietário de um
banquinho na praça, de expectador incansável de noticiários televisivos, de
horários rígidos para as refeições.

 O papel de aposentado depende muito dos interesses que se tenham, sejam


conectados com a profissão, sejam oriundos de outra área. Pessoas com interesses
fortes em qualquer área nunca se aposentam. O importante é não tornar
aposentadoria, sinônimo de parada, de estagnação, de caducidade.

3- Dificuldades derivadas das restrições econômicas devido ao encolhimento da


aposentadoria e da quase impossibilidade de encontrar um novo emprego.

 Na América Latina pelo menos dois terços dos velhos pertencem aos setores
proletários. Recebem uma aposentadoria mínima que apenas dá para uma
alimentação básica e de má qualidade. Além do que, todo o sistema de previdência
social mantido pelo estado está em franca falência.

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 Como está aumentando o número de idosos no mundo todo, prevê-se que a
situação material dos idosos continuará agravando-se no futuro.

 Outro grave problema é que a oferta de emprego não aumenta na proporção do


aumento da população em procura de emprego. Ademais, perversidade do sistema,
as empresas não aceitam manter empregados com mais 46-50 anos. Preferem os
jovens por razões quase óbvias. Uma delas é que produzem mais, geralmente a
menos custos.

4- Dificuldades relacionadas com a perda da (do) parceira (o) e dos amigos. Com a
conseqüente aceitação do sentimento de solidão.

 A solidão está menos apresente nas etapas anteriores. O entusiasmo da juventude


pode compensar a falta de uma turma e a descoberta de que o outro é sempre
outro, o distante inclusive em sua proximidade.

 Na idade da razão pratica as pessoas estão ainda muito ocupadas em suas


obrigações trabalhistas e familiares, de maneira que a solidão apenas circula pelos
interstícios da mente; só em determinadas ocasiões grita sua presença.

 Na velhice a solidão começa alugando um quarto na casa do velho. Não chega a


ser uma solidão metafísica – essa que nos ensina quando estamos só, mesmo sendo
manipulado pelos outros – é uma solidão social. Poderá ocorrer a perda do
parceiro (a), os netos, estão na fase dos 20 anos e na maioria das vezes não estão
interessados em duas gerações anteriores. Os filhos enfronhados em seus próprios
problemas, muitas vezes poucos dispostos a dispensar maior atenção a pessoa que
cumpriram sua missão. Então será necessário remar sozinho rumo ao mar.

5- Dificuldade para estabelecer novos contatos e relação interpessoais, o que suscita


o sentimento de isolamento e alienação

 A demanda de contato e de comunicação interpessoal é inerente à existência; as


duas estão ligadas à demanda de afeto; para sentir que a vida tem sentido maior
precisam ser atendidas nalguma medida.
 Os velhos tendem a perder a abertura e a disposição para interessar-se por outras
pessoas, dois fatores que sempre facilitam os contatos interpessoais.
 Sem o interesse e abertura suficiente para o próximo não prosperam as relações;
tendem a manter-se num plano formal, de mera vizinhança, de ocasionais visitas
de boa vontade.
 Interessar-se pelo próximo é a grande mola da amizade e dos bons contatos. Mas
há indivíduos que mostram escasso interesse por seu próximo e não apenas nesta
idade, mas em todas anteriores. Mais que em termos de amizade se relacionam em
termos de coleguismo, de bons vizinhos. A amizade supõe que entre amigos
exista uma certa intimidade, além de mútua confiança e simpatia.

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 Outro aspecto implica a dificuldade para relacionar-se e compreender a nova
geração, o que o leva a sentir-se um estranho num mundo diferente ao seu tempo.
Em geral existem barreiras intergeracionais.

 Para atenuar o sentimento de isolamento e ter a sensação de contato com a


realidade ambiente os velhos costumam dedicar muito tempo aos noticiários.
Embora possa parecer enfadonho, forma parte da rotina convenientes para manter
uma certa ordem num mundo pessoal que ameaça cada dia sumir no caos.

 Outros procuram contato com algum animal doméstico; o cachorro continua sendo
o grande companheiro quando os amigos desceram numa estação anterior.

6- Dificuldades relacionadas com a falta de uma (um) parceira (o) afetivo-sexual,


falta bem mais notória no homem do que na mulher.

Numa pesquisa realizada: 50% das senhoras desta faixa etária afirma não desejar nem
querer ter relações sexuais – 28% não tem e gostariam de ter. Nos homens as cifras são
diferentes: somente 20% confessam não ter e nem desejar ter – 40% tem um bom
relacionamento – dos 40% restantes: 25% desejaria ter e 15% tem raras vezes.

 A vontade de ter uma parceira é notoriamente mais forte nos homens, sendo eles
os que mais sofrem neste aspecto.

 Certamente a libido neste período é bem menor do que nos estágios anteriores,
mas mesmo assim o homem enxerga a vida com melhor disposição se existe uma
mulher que motive sua abertura para o chamado da espécie e para momentos de
ternura.

7- Dificuldades relacionadas com problemas de saúde e deficiência de energia

 Os achaques da velhice são bem conhecidos. Apresentam-se em todos os sistemas


biológicos: circulatórios digestivo, imunológico, etc.

 Forma parte da caricatura social afirmar que os temas favoritos dos velhos são os
remédios, o hospital, as doenças. É compreensível que em eventuais reuniões
comentem os problemas de saúde que os afetam.

 A preocupação com a saúde tem uma dupla fase: a econômica e psicológica


existencial. A econômica, pelo fato do tratamento de qualquer doença ser muito
caro e poucos tem condições de pagar um plano de saúde que em nosso pais é
muito caro.

 Psicológica e existencial: para a maioria é muito deprimente ser velho e estar


doente. Além do que, a velhice implica uma sensível e gradual perda de energia
vital.

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8- Temores e dificuldades para lidar e aceitar a proximidade da morte

 É uma verdade elementar dizer que não é fácil lidar com a própria morte,
sobretudo quando sentimos que ela esta se aproximando..
 A maioria das pessoas prefere deixar para a última hora a preocupação com o
episódio final.
 A maioria das culturas a apresenta como algo estranho, temível, geralmente
repelente – a caveira.
 Aceitamos em termos a idéia de que somos mortais, mas não que somos um
ser-para-a-morte.
 De todas as maneiras após os 60 anos a idéia da morte vai tomando corpo e
ganhando espaço na nossa mente.
 A morte tem muitas maneiras de se fazer presente em nosso imaginário.
Provoca muitas imagens, desde as mais terríveis às mais gloriosas. É comum
que suscite os medos associados aos mistérios que sempre envolve todas as
coisas e a própria existência. Pode representar o fim da vida e a passagem para
o nada ou para outra existência. Custa-nos ver o fim como um fenômeno
inteiramente natural, embora racionalmente possamos admitir sua
naturalidade.
 Heidegger ensina que é inerente ao existente humano seu ser-para-a-morte;
saber conviver com a finitude é ser autêntico. Vista esta questão desta
perspectiva poucos são os seres autênticos.
 Os humanos sabem conviver com a morte dos outros; ainda mais, muitos não
parecem importar-se muito com isso. Todos têm consciência de sua condição
mortal, mas sempre encontra um álibi par afastá-la de suas preocupações.
 Somente quando o tempo tem feito os maiores estragos no organismo, depois
dos 90 anos, nos casos mais afortunados, é que começamos a ver a morte como
um alívio dos males do corpo e do cansaço.mesmo em condições deploráveis
não é raro que alguns nonagenários continuem preso ao instinto de
conservação, presente em todas as espécies.
 No plano biológico os aspectos negativos também dependem da constituição
física e do estilo de vida levado nos anos anteriores. Pessoas esportivas, sem
vícios alimentares que impliquem excesso de peso, uso de cigarro de de álcool,
tem mais chances de ser pessoas mais salutares.

9. Possíveis virtudes da velhice

E nossa época, dominada por uma visão tecnológica e computacional do mundo,


pautada por um sistema capitalista implacável, tendemos a pensar a velhice como mera
ante-sala da morte, com escassas compensações. Está é uma visão errada, falsa. Todas as
etapas da vida têm seu lado positivo e negativo. Provavelmente a terceira fase da
senectude seja pouco ou nada amável, mas os 15 anos que vão desde o início desse
estágio, até os 80 anos, há um com período para usufruir da vida. Para isso é preciso ter
alcançado um certo grau de aprimoramento de si – que é igualmente valido para as duas
etapas anteriores, juventude e maturidade.

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Existem algumas virtudes que tornam a senectude um inverso bem temperado, não
apenas porque a lareira continua acesa em casa, mas porque, os dias cinza não embaçam a
visão das coisas nem as noites mais longas ocultam as estrelas.

Fritz Riemann destaca três virtudes que tornam a estação bastante agradável; a
serenidade, uma nova forma de amar e a capacidade de transcender.

 A serenidade é um estado de ânimo que emana de uma atitude de relativo


desprendimento com respeito aos convites e acosso (encalço) das circunstâncias: é
olhar as coisas com simpatia, mas sem maiores ilusões, sem grandes expectativas,
temores, apenas com tranqüilidade. Está atitude supõe conciliação com a própria
finitude.

 A nova capacidade de amar implica renunciar ao nosso narcisismo, a nossa


egolatria - afirma Riemann. Implica também o desprendimento: compartilhar os
bens da vida sem querer sua posse.

 A capacidade de transcender implica alargar os limites do eu para alcançar o


supra-pessoal; esta capacidade pode levar-nos aos sentimentos de unidade e
conexão com o Universo, que nas experiências dos grandes mestres é a fonte de
toda a felicidade.

 É uma pena que poucos intentem alcançar este estágio. Não esqueçamos que boa
parte do que colhemos no presente foi semeado e cultivado com anterioridade.

 Contudo, o que mais observamos nesta fase é o encolhimento do horizonte vital e


a consciência de que se está no limite, na proximidade do fim.

REFERÊNCIAS:

ROMERO, Emílio. Estações no Caminho da Vida. O Desenvolvimento dos Afetos nas


Diversas Etapas da Vida. São José dos Campos:SP. Editora Della Bidia, 2006.

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