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INTOLERÂNCIA RELIGOSA
Breve Análise no Contexto Brasileiro
Salvador-Ba
2020
Introdução
O Contexto Brasileiro
Colonizado por católicos romanos, o respeito às diferentes formas de culto nunca foi
uma tradição no Brasil. Desde o início o Padre Manoel desconsiderou as práticas dos
nativos e impôs o catolicismo romano, inclusive renomeando o território com um nome
cristão e batizando os nativos. Com a importação dos trabalhadores africanos à força,
novamente o modelo da minimização do credo alheio foi repetido chegando a
criminalizar as práticas de matriz africana. Em 1882 a missão batista teve a coragem de
abrir as portas após a conversão do ex-padre Antônio Teixeira de Albuquerque,
reduzindo assim a dominação católica sobre a capacidade humana de crença no
território nacional. Lembro aqui que minha avó abrigou e protegeu missionários da
Assembleia de Deus, isso em Bomfim de Feira, na década de 1940. Em meados de 1960
meu genitor foi recebido com pedradas em Alagoinhas. Até esta época os padres
perdoavam previamente os capangas que matassem os protestantes e mandava jogar
creolina na calçada a fim de purificar do “sangue maldito”. Vemos até aqui a tradição de
intolerância perpetrada pelos gestores políticos e religiosos, ação imitada pela
população até nossos dias em que a constituição garante a liberdade de culto. Tenho
inclusive um amigo que confessa o ódio a mim antes de sua conversão. Sua confissão se
assemelha à de um ex-traficante que também me confessou odiar minha passagem com
a bíblia na mão, isso na década de 1980. Vemos até aqui uma mescla de conteúdo
conhecido e histórias que não constam em livros didáticos provavelmente por não
interessar aos poderes constituídos. O mesmo ocorre com a tradição dos nativos e
afrodescendentes. A intolerância para com os evangélicos no Brasil sempre foi abafada
pelos governantes católicos. A história é sempre contada pelos vencedores ou
sobreviventes, os vencedores as cunham oficialmente e os sobreviventes pela tradição
oral. O melhor do que conhecemos da história oficial não advém de narrativas de
brasileiros mas de holandeses e franceses.
A intolerância, praticada por um dito ex-traficante, recém-chegado ao
neopentecostalismo no Rio de Janeiro, foi minimizada na ação de um famoso artista
gospel que reuniu pastores para ajudar a recuperar um terreiro de candomblé atingido
pela loucura. Cabe lembrar que o termo recém-chegado substitui propositadamente o
termo convertido, que por sua vez vem de metanóia, termo encontrado no livro de Atos
dos apóstolos. Convertidos ao evangelho não praticam intolerância. O
neopentecostalismo nos dias atuais abusa da liberdade cristã e da tolerância dos cristãos
tradicionais, não ensinando fundamentos apostólicos e, num contexto de analfabetismo
funcional, os evangélicos sequer conhecem o evangelho. Citar as falas de Cristo para os
crentes do Brasil é algo bastante esquisito. Isso causa dependência cognitiva aos pseudo
pastores e a intolerância nas mais diversas formas termina por acontecer.
Há, porém, uma esperança tanto no estudo do evangelho quanto na prática da amizade
civil, como nos recomendou Aristóteles. Na década de 1970 tínhamos uma vizinhança
no condomínio que mesclava todas as crenças numa harmonia muito saudável. Uma ilha
de respeito diferente do que víamos ao redor. A amizade, por exemplo, de lideranças
como Nilson Fannini, pastor batista que era amigo do Papa João Paulo II, abriu portas
junto aos governantes brasileiros entre as décadas de 1970 a 1990 minimizou os
entraves ao evangelho descendente dos protestantes. A amizade de Mãe Menininha do
Gantois com o velho ACM garantiu a sobrevivência dos terreiros no mesmo período.
Atualmente temos ações de pequeno porte onde, longe do ecumenismo, cidadãos de
diversos credos realizam manifestações de clamor pelo respeito às diferenças. O
ecumenismo tem evidente valor fraternal, mas suprime fundamentos de cada credo
envolvido. Logo não me parece o caminho mais adequado na perspectiva religiosa mas
uma ação política. No estudo do evangelho, também como sugestão pacificadora, os
ânimos são reduzidos aos ensinos do Mestre e dos apóstolos. Afinal o fundamento
ensinado no sermão da montanha não admite perfis intolerantes (Mateus 5:9).
O evangelho
Evangelho significa boas notícias. O fundamento é que todos são pecadores e carentes
da graça, favor imerecido, de Deus (Efésios 2:8). Para resolver o problema Deus enviou
Jesus Cristo e é Ele quem tem todo o mérito (Romanos 11:36). Nenhum evangélico
pode se justificar diante de Deus. O evangelho se divulga pelo anúncio dessa notícia por
parte dos cristãos, mas quem convence é o Espírito Santo (João 16:8). Logo nem o
evangelista tem o crédito das conversões (Atos 2:47). A opção de seguir a Cristo
também é uma habilitação divina, logo o convertido deve se sentir privilegiado (Atos
13:52). Desde o início o evangelho sofreu perseguição, porque apregoa liberdade (João
8:32) e isso incomodou muito os dominadores (Mateus 27:18). Também não há
qualquer menção de construção de templos ou instituições (Romanos 16:5), o que
ocorre por volta do ano 100 com o Imperador Constanino. Um dos erros, além da
institucionalização, foi a reunião dos textos direcionados a Israel com os textos do
evangelho e sua expansão. Isso causou uma série de anacronismos que Lutero tentou
corrigir mas o trabalho é árduo até nossos dias. Num dos eventos dos 500 anos da
reforma protestante, que ocorreu no Hotel Fiesta em Salvador, o Reverendo Josafá
Vasconcelos, presbiteriano muito respeitado e querido pelos demais tradicionais do
Brasil desde a década de 1970, lembrou que necessitamos urgentemente de uma nova
reforma. As distorções se exacerbaram tanto que algumas igrejas remontam o
sacerdócio israelita antigo e outras se assemelham a práticas africanas e hinduístas. O
evangelho original cuida dos pobres (Tiago 1:27) e pratica a simplicidade em sua
liturgia (II Coríntios 11:3).
A organização das igrejas locais é uma demanda pós-evangelismo. É a comunidade que
constrói. Na ordem batista, por exemplo, a igreja mãe sustenta a filha até que esta
possua condições de autogestão e é emancipada para a independência absoluta. A gestão
é democrática e os pastores funcionam como um diretor de universidade, alguns como
síndico de condomínio, sendo assim passíveis de substituição, por diversas razões, ao
sabor da membresia. O regimento diz que a assembleia é soberana. A ordem batista
trabalha como cooperativa, não há qualquer papa nas igrejas tradicionais. No
neopentecostalismo a ordem é inversa onde as filiais sustentam a matriz ad aeternum e
seus líderes funcionam como pirâmide corporativa. Uma imitação do catolicismo
romano. A vantagem dos neopentecostais é, por estarem mais ávidos por prosélitos,
muitas denominações operam como filtros, e os que se emancipam biblicamente,
passam a frequentar as tradicionais. As receitas de prosperidade e triunfalismo
funcionam tanto quanto a meritocracia capitalista. A maioria não permanece, circula em
diversas correntes até se estabilizar em algo menos pirotécnico.
Por conta da pirâmide gospel muitos políticos se aproveitam dos líderes interesseiros e
direcionam seu gado a uma candidatura de interesses. Nas igrejas tradicionais há uma
proibição a tal mistura podendo o pastor perder seu posto. O microfone de uma igreja
mais próxima da reforma protestante, e, portanto, que se considera reformada, jamais é
conferido a não representantes do evangelho para tratar dos interesses absolutos do
evangelho que tem cunho espiritual, ou seja, testemunhos, orações, leituras bíblicas etc.
A mistura governo e credo sempre foi problemática e os tradicionais sabem disso. Os
neopentecostais misturam tudo e causam o transtorno que temos visto, chegando a dizer
que o presidente Bolsonaro é um homem de Deus. Ora, as sagradas escrituras o
condenam no evangelho pela postura e na tradição judaica pela qualificação. Mas o que
denomino gado gospel desconhece o texto que mostra José do Egito separando seus
irmãos para terras mais distantes porque a criação de gado na capital era abominação
para os deuses egípcios. Desconhecem Daniel, profeta, o mais inteligente da corte de
Nabucodonosor, governador de dez províncias babilônicas e mestre dos magos, ou seja,
ministro das religiões, que conteve o capitão da guarda de matar os demais sacerdotes
por conta de um sonho do rei. Daniel também não impôs sua crença ao império mas
deixou o Deus dos Hebreus cuidar disso. O próprio Nabucodonosor exigiu respeito ao
Deus dos Céus de Daniel como o maior de todos. Não podemos deixar de pontuar que a
extinção de outras crenças realizada pelo rei Saul e alguns outros se relacionava ao
contexto Israel. Já os governantes José e Daniel não estavam em sua terra. Isto serve de
alerta para os evangélicos brasileiros que devem lembrar que a pátria dos cristãos não
está neste mundo (Filipenses 3:20). Anualmente, nos congressos de escatologia
realizados na Igreja Batista Filadélfia, em Salvador, um dos preletores Edinaldo
Carvalho, ressalta a importância de destacar o que tem a ver com os cristãos e o que é
apenas para Israel. Um dos versos que finaliza o Antigo Testamento é muito claro nisso
dizendo: “lembrai-vos da lei de Moisés que Deus deu para seu povo Israel” (Malaquias
4:4). O neopentecostalismo mistura catolicismo romano, tradição judaica e tantas
práticas quantas forem necessárias à expansão denominacional e manutenção do status
quo de seus gestores, causando muita confusão aos não frequentadores.
Como já mencionado, a propagação do evangelho se dá no contato pessoal, discipulado
(Mateus 28:19), um pouco do que fazem as Testemunhas de Jeová (Lucas 10:1-24), e o
trato com os outros credos na neutralidade (Atos 17:23). Todo cristão leitor do
evangelho sabe que é o esclarecimento, como sugere Kant, que faz alguém abandonar
uma prática e adotar outra (Atos 19:19), que faz alguém deixar o xintoísmo e passar
para o evangelho, por exemplo.
Alguns dos textos que todo cristão bíblico conhece diz “não por força, mas pelo
Espírito” (Zacarias 4:6) outro diz “não temos que lutar contra carne ou sangue, mas
contra hostes espirituais da maldade nas regiões celestiais” (Efésios 6:12) e outro que
diz “as armas da nossa milícia não são carnais” (II Coríntios 10:4) e outro que diz “o
fruto do Espírito é amor, paz, bondade, mansidão, domínio próprio...” (Gálatas 5:22).
Quem se relaciona com a doutrina de Cristo e seus apóstolos logo compreende que esses
padrões não são negociáveis e quem tenta se afastar disso está obviamente distante de
uma vida legitimamente bíblica e espiritual (Mateus 7:20). Tudo que a igreja romana fez
em nome de Deus contraria as escrituras que ela considera sagradas e foi com esse
mesmo texto que a igreja foi refutada.
O islamismo
Conclusão
A Bíblia Sagrada Open Source – Versão 2.2 - aBíblia Software (C) 2007-2010 Luis
César C. Vasquez - GNU GENERAL PUBLIC LICENSE - Version 2, June 1991 –
disponívem em: https://www.dropbox.com/sh/bhmgo6gts5l66kb/AABGzo4gCFUKo-
xbiSrgpFWca?dl=0
Caio Fábio fala sobre a ida de Kleber Lucas ao Centro de Candomblé e a polêmica
gerada - Porção do Programa Papo de Graça - Caio Fábio - Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Y5DfZPzFVQk
É possível um diálogo religioso que não seja marketing? - Ed René Kivitz - Programa
Democracia na Teia – Disponível em: https://youtu.be/zydO9UgvG9o