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PROCESSOS

CONSTRUTIVOS

Bianca Funk
Weimer
Revisão técnica:

Shanna Trichês Lucchesi


Mestre em Engenharia de Produção
Professora do curso de Engenharia Civil

P963 Processos construtivos / André Luís Abitante ... [et al.] ;


[revisão técnica: Shanna Trichês Lucchesi]. – Porto
Alegre : SAGAH, 2017.
271 p. : il. ; 22,5 cm.

ISBN 978-85-9502-224-9

1. Engenharia civil. 2. Processos construtivos.

CDU 624

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094

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Construção enxuta
(lean construction)
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer as definições e os conceitos básicos do modelo de


processo da construção enxuta (lean construction), bem como suas
diferenças para o modelo de processo tradicional.
 Elencar os princípios para a gestão de processos da construção enxuta
e o conceito de perdas nesse contexto.
 Identificar as ferramentas aplicáveis ao planejamento e controle da
produção na construção civil.

Introdução
Nos últimos tempos, ocorreram mudanças significativas na indústria
da construção civil, principalmente no que diz respeito ao aumento da
competitividade no ambiente empresarial, à elevação das exigências
dos clientes e às reivindicações, por parte da mão de obra, de melhores
condições de trabalho. Em virtude desses fatos, as empresas têm concen-
trado grandes esforços na área de gestão da produção com o intuito de
aumentar a eficiência dos processos, reduzindo custos e conquistando
o mercado com produtos mais inovadores pela aplicação de uma nova
filosofia de produção: a construção enxuta (lean construction).
Neste capítulo, você vai conhecer a construção enxuta, quais os seus
conceitos básicos e os seus princípios e como essa filosofia gerencial
contribui para a melhoria dos processos construtivos.

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Definições e conceitos básicos da construção


enxuta (lean construction)
A construção enxuta (em inglês, lean construction) é o nome dado a uma
filosofia que vem sendo aplicada nos processos da construção civil, tanto
em nível de projeto e planejamento quanto em nível de execução de obras.
O termo faz referência ao sistema de produção enxuta (lean production) e
é um paradigma gerencial que passou a ser concebido a partir dos anos 1990
com o intuito de adaptar alguns conceitos da área de Gestão da Produção
ao setor de gestão de processos na construção civil. As ideias da produção
enxuta surgiram nos anos 1950, no Japão, a partir de duas filosofias básicas:

 TQM (Total Quality Management)


 JIT (Just in Time)

O Sistema Toyota de Produção foi a sua aplicação mais destacada, por-


tanto seus conceitos e princípios básicos tiveram origem na própria indústria,
especialmente na automotiva. A produção enxuta é baseada na ideia de que a
redução do custo é alcançada pela eliminação dos desperdícios — qualquer
processo que não agregue valor ao produto final.
Contudo, mais recentemente, a produção enxuta vem sendo disseminada
para os demais setores de atividades econômicas. Com relação à indústria
da construção civil, esse momento foi marcado pela publicação de Lauri
Koskela, em 1992, com a posterior criação do IGLC (International Group
for Lean Construction), que é o responsável pela difusão da nova filosofia
em diversos países.

Para saber mais sobre a publicação precursora na disseminação da filosofia da produção


enxuta no setor da construção civil, leia o trabalho “Application of the new production
philosophy in the construction” (KOSKELA, 1992).

As diferenças entre a produção enxuta e a filosofia gerencial tradicional são,


substancialmente, conceituais — sendo que a modificação mais importante é
a introdução de uma maneira diferente de compreender um processo.

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Modelo de processo tradicional


O modelo que domina os processos na construção civil é chamado de modelo
de conversão, pois define a produção como um conjunto de ações denominadas
atividades de conversão. Tais atividades transformam insumos (materiais,
informações etc.) em produtos intermediários (estruturas, alvenaria, revesti-
mentos etc.) ou no produto final (edificação).
Um esquema para o modelo de processo tradicional (modelo de conversão)
é mostrado na Figura 1, e suas principais características são apresentadas a
seguir:

 Os processos de produção podem ser subdivididos em mais de um


subprocesso; como exemplo, tem-se a execução da estrutura (viga, pilar),
que é subdividida em execução de formas, colocação da armadura e
concretagem.
 Os esforços para a minimização do custo total de um processo são
focados, usualmente, em esforços de minimização do custo de cada
um dos subprocessos envolvidos separadamente.
 O valor do produto de um subprocesso está vinculado apenas ao valor
(custo) de seus insumos (materiais, equipamento, mão de obra etc.);
por conseguinte, pode-se melhorar o valor de um produto por meio da
utilização de mão de obra mais bem qualificada ou materiais melhores.

Figura 1. Modelo de processo tradicional (modelo de conversão).


Fonte: Isatto et al. (2000).

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Modelo de processo da construção enxuta


O modelo de processo da construção enxuta admite que é por um fluxo de
materiais que um processo é fundamentado. As atividades que compõem
esse processo, desde a matéria-prima até o produto final (edificação), são de:

 Transporte
 Espera
 Processamento (conversão)
 Inspeção

Pelo fato de as atividades de transporte, espera e inspeção não agregarem


valor ao produto final, elas são chamadas de atividades de fluxo. Alguns itens
que são definidos em orçamentos e planos de obra possuem atividades de fluxo
implícitas, e, caso elas não sejam evidenciadas nos modelos de processos (a
exemplo do modelo de conversão), sua percepção fica dificultada, e a gestão
da produção é prejudicada.

O modelo de processo tradicional apresenta apenas as atividades de conversão ou


processamento, ou seja, atividades que agregam valor ao produto.
Já no modelo de processo da construção enxuta, são apresentadas tanto atividades
de processamento quanto atividades de fluxo (que não agregam valor ao produto).

A Figura 2 apresenta um esquema para o modelo de processo da construção


enxuta contendo todas as atividades citadas.

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Figura 2. Modelo de processo da construção enxuta.


Fonte: Adaptada Koskela (1992, p. 15).

Além das atividades de fluxo, há atividades de processamento que também


não agregam valor ao produto. Quando as especificações de um dado produto
não forem atendidas depois da realização de um processo, por exemplo, é
preciso que seja feito o retrabalho, e isso quer dizer que as atividades de
processamento que foram previamente realizadas não agregaram valor.
Nos processos da construção enxuta, a geração de valor é um aspecto muito
importante. O conceito de “valor” está associado à satisfação do cliente, não
estando ligado, diretamente, à execução de um processo. Portanto, apenas
quando as atividades de processamento transformam matéria-prima em pro-
dutos demandados por clientes, diz-se que um processo gera valor.
O modelo de processo da construção enxuta da Figura 2 não só é aplicado
para o caso de fluxo de processos de produção, em que o caráter é físico (fluxo
de materiais), mas também em processos gerenciais, como planejamento e
controle, projeto etc., em que o caráter é informativo (fluxo de informações).
Além do fluxo de materiais, de informações e de montagem, o fluxo de trabalho
demanda atenção especial no gerenciamento, pois ele representa o conjunto
de atividades (trabalhos) realizadas no canteiro de obras pelas equipes ou
máquinas.
É muito importante esclarecer que o modelo de processo tradicional (de
conversão) é eficientemente aplicável em sistemas de produção simples, no
qual o foco se dá em apenas um processo de conversão. Com o aumento da
complexidade nos sistemas de produção, tal modelo tornou-se insuficiente
para representá-los de modo apropriado, pois as atividades de fluxo tiveram
sua parcela aumentada e necessitaram de maior atenção, tornando o modelo
de processo da construção enxuta mais adequado. No entanto, os mercados
mais competitivos fazem com que o nível de exigência dos clientes aumente,
voltando o foco para a gestão dos processos (atividades de conversão).

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Essa nova filosofia de produção, portanto, concebe os processos como


sendo a interação entre as atividades de conversão e as atividades de fluxo,
em que se deve aperfeiçoar as primeiras e minimizar (ou eliminar, quando
possível) as de fluxo.

Construção enxuta: princípios para a gestão de


processos
A construção enxuta apresenta uma série de princípios que interagem entre
si para que seja realizada a gestão de processos e a consequente melhoria no
sistema de produção. Os princípios apresentados aqui foram sintetizados com
base no trabalho de Koskela (1992):

 Reduzir a parcela de atividades que não agregam valor: é um dos


princípios fundamentais, o qual infere que a eficiência de um processo
é melhorada não só tornando as atividades de conversão mais eficazes,
mas também eliminando as atividades de fluxo, já que não agregam
valor ao produto final; como exemplo, tem-se a exclusão de atividades
de transporte de materiais; deve-se tomar cuidado, pois há muitas
atividades de fluxo que são extremamente necessárias à produção,
como treinamento da mão de obra, inspeções de qualidade, medidas
de segurança etc.
 Aumentar o valor do produto pela consideração das necessidades
dos clientes: com base no conceito de que um processo gera valor,
deve-se reconhecer, com precisão, quais são as necessidades dos clientes
(internos e externos), pelo mapeamento do processo com a identifica-
ção sistemática de clientes e as suas exigências em cada etapa; como
exemplo, tem-se a realização de pesquisas de mercado com potenciais
compradores do empreendimento e, ainda, a solicitação de avaliações
de clientes que já tiveram suas edificações entregues.
 Reduzir a variabilidade: a variabilidade nos processos produtivos pode
estar ligada a: (a) processos anteriores, quando o estado atual depende
dos estados precursores (p. ex., blocos com variações dimensionais); (b)
o próprio processo, na sua execução (p. ex., duração variada de execu-
ção de determinada atividade); e (c) a demanda, com as pretensões dos
clientes (p. ex., mudanças de projeto solicitada por clientes). Há duas
convenientes razões para que se reduza a variabilidade: (1) um produto
uniforme satisfaz mais o cliente, pois sua qualidade está ligada ao que

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foi previamente estabelecido; (2) o aumento da variabilidade irá acrescer


o número de atividades que não agregam valor (atividades de fluxo) e o
tempo de execução do serviço, pois fluxos de trabalho serão interrom-
pidos e não serão tolerados produtos fora das conformidades exigidas
pelos clientes; como exemplo, tem-se a utilização de procedimentos
padrões, com treinamento dos envolvidos, para a execução de instalações
hidrossanitárias com o intuito de minimizar o surgimento de vazamentos.
 Reduzir o tempo de ciclo: fundamentada na filosofia Just in Time, o
tempo de ciclo representa a soma das durações de todas as etapas da
produção de um produto (transporte, espera, processamento e inspeção)
e a sua redução força a eliminação de atividades de fluxo, além de
contribuir para: entrega mais rápida ao cliente, facilitação da gestão
dos processos, aumento do efeito de aprendizagem, mais precisão nas
estimativas de futuras demandas e menor vulnerabilidade do sistema
de produção a mudanças de demanda; como exemplo, tem-se a mais
rápida identificação de possíveis erros que, assim que identificados
nos primeiros lotes da execução de um empreendimento, podem ser
corrigidos nos lotes subsequentes.
 Simplificar pela redução do número de passos ou partes: quanto
maior for o número de partes em um processo, maior será a chance de
existirem atividades que não agreguem valor ao produto, geralmente
ligadas a tarefas auxiliares de preparação e conclusão de um processo;
como exemplo, tem-se a utilização de estruturas pré-moldadas que,
diferentemente das moldadas no local, não irão interromper a execução
da alvenaria e não resultarão em atividades que não agregam valor.
 Aumentar a flexibilidade de saída: consiste em alterar as caracterís-
ticas dos produtos finais de um processo entregue aos clientes sem que
haja a elevação significativa dos custos, mantendo-se a produtividade
elevada; como exemplo, tem-se o adiamento da execução das divisó-
rias internas de gesso acartonado, flexibilizando o produto final sem
comprometer a eficiência do sistema de produção.
 Aumentar a transparência do processo: com processos mais trans-
parentes, os erros ficam mais facilmente visíveis e identificáveis, e as
informações se tornam mais disponíveis, o que facilita o trabalho e pode
ser um meio de envolver a mão de obra na instauração de melhorias;
como exemplo, tem-se a retirada de obstáculos visuais no canteiro
(tapumes, divisórias), utilização de cartazes (sinalizadores e demarca-
dores) e também a exibição dos indicadores de desempenho (nível de
produtividade, número de peças rejeitadas).

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 Focar o controle no processo global: tem como propósito focar as


melhorias nos processos (fluxo de materiais, montagem, informações)
para, após, melhorar as operações (tarefas de pessoas e máquinas), já
que a execução de uma obra é realizada em processos de produção
fragmentados, devendo existir um responsável por realizar o controle
do processo como um todo; como exemplo, tem-se a introdução da
paletização por parte do fornecedor de blocos e, assim, a redução de
custos com carregamento e descarregamento, entregas com hora mar-
cada, estoques etc., sendo bem mais vantajosa do que a paletização
restrita apenas ao canteiro de obras.
 Introduzir a melhoria contínua no processo: componente principal
das filosofias TQM e JIT, esforços de redução de perdas e aumento do
valor agregado na gestão de processos precisam existir continuamente
por trabalho em equipe e gestão participativa; como exemplo, tem-se
a aplicação de ferramentas da qualidade pela equipe responsável pelos
processos de suprimentos, formada por pessoas de vários setores (com-
pras, produção, planejamento e financeiro), a qual realiza o mapeamento
do processo e coleta dados sobre os problemas, discutindo as causas e
propondo correções.
 Manter um equilíbrio entre melhorias nos fluxos e nas conversões:
os processos mais complexos sofrem impactos maiores quando há
melhorias de fluxo, que requerem investimentos baixos e são indicadas
como prioritárias, ao contrário das melhorias nas conversões (processa-
mento), que são indicadas para quando há perdas relativas à tecnologia
empregada, já que seus efeitos são imediatos; como exemplo, tem-se
a execução de paredes de alvenaria com foco na eliminação de perdas
nas atividades de fluxo (transporte, inspeção, estoque) para, então, se
passar à melhoria nas conversões utilizando, em vez de blocos cerâmicos,
divisórias leves ou painéis pré-moldados; volta-se, então, à melhoria
nos fluxos, buscando, assim, a melhoria contínua.
 Fazer benchmarking: o benchmarking nada mais é do que a utilização
de boas práticas de outras empresas, trazendo os aprendizados (externos)
para dentro da própria empresa que, somados aos esforços de melhoria
contínua (internos), tornam a empresa competitiva; como exemplo,
tem-se o conhecimento do setor que controla as perdas de materiais de
uma empresa, identificando suas boas práticas, bem como os fatores
que levaram ao seu desempenho melhorado.

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Perdas na construção civil


Na construção civil, o conceito de perdas é motivo de divergências com relação
ao seu significado. A definição de que perdas são sinônimos de entulhos (resto
de madeira, blocos, concreto, argamassa e outros materiais) nem sempre é
apropriada. Quando se fala na crescente competição no âmbito da construção,
essa definição passa a ser limitada.
Se as perdas fossem entendidas apenas como todo e qualquer material
potencialmente sem valor, seria relativamente simples estimar o custo gerado
pelas perdas em uma obra, bastando multiplicar a quantidade de material
perdido pelo seu valor unitário. Isso resultaria em uma ideia errônea sobre
o potencial de melhorias de uma obra, já que ficaria implícito que uma obra
sem entulho é eficiente e não precisa de aperfeiçoamento.
Para a construção enxuta, o conceito de perdas tem um sentido bem mais
amplo. Perdas estão associadas à agregação de valor, ao consumo de recursos
de qualquer natureza (mão de obra, equipamentos, capital) acima da quantidade
mínima necessária, não apenas ao consumo demasiado de materiais. Sendo o
trabalho dividido em atividades que agregam valor e que não agregam (mas
que são essenciais ao processo), diz-se que as perdas são as atividades que não
agregam valor e que podem ser eliminadas do processo. Assume-se, assim, que
há um nível de perdas que é admissível, podendo apenas ser eliminadas com
mudanças importantes na empresa. Classificam-se, portanto, as perdas em:

 Perdas inevitáveis (naturais): representam o nível aceitável de perdas,


verificado quando o investimento necessário à redução da perda é maior
do que a economia que será gerada.
 Perdas evitáveis: representam as perdas que, quando ocorrem, geram
custos maiores do que os custos para que sejam evitadas.

Planejamento e controle da produção:


princípios e ferramentas
Muitos estudos vêm sendo realizados com a intenção de que os conceitos e
princípios da construção enxuta sejam aplicados em empresas na construção
civil. O planejamento e controle da produção é um meio potencial para que
sejam implantadas as inovações acerca dessa filosofia, pois é nessa etapa que
são tomadas as decisões que contribuem para a redução de atividades que não
agregam valor aos processos produtivos. O planejamento e controle da produção

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(PCP), portanto, é uma das técnicas capazes de introduzir a construção enxuta


em empresas construtoras.
Define-se planejamento como um processo gerencial no qual são estabele-
cidos os objetivos e os procedimentos básicos para atingi-los. O planejamento
só será eficaz se, concomitantemente a ele, for realizado o controle, podendo-
-se afirmar, desse modo, que não há função controle sem planejamento e que
o planejamento é ineficiente sem o controle. O conceito de planejamento e
controle como processo é possível de ser assimilado pelo modelo proposto por
Laufer e Tucker (1987), na Figura 3, que possui 5 etapas principais:

1. Preparação do processo de planejamento.


2. Coleta de informações.
3. Elaboração dos planos.
4. Difusão das informações.
5. Avaliação do processo de planejamento.

Figura 3. Modelo para o processo de planejamento e controle.


Fonte: Laufer e Tucker (1987).

Por serem complexos e possuírem variabilidade, os processos construtivos


têm o PCP dividido em três níveis hierárquicos, e, para cada um deles, as
etapas 2, 3 e 4 serão adaptadas. Os níveis hierárquicos de planejamento são:

 Longo prazo: planejamento tático para etapa de produção inteira; definem-


-se, por exemplo: data de entrega da obra, conclusão das fundações etc.
 Médio prazo: planejamento tático móvel, que serve de elo entre o
longo e o curto prazo, com seu horizonte de planejamento maior do

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que a frequência do replanejamento, ou seja, planejam-se mensalmente


decisões para até 3 meses seguintes.
 Curto prazo: planejamento para o dia a dia da obra, com a definição
das atividades que serão realizadas, o momento da execução e os re-
cursos necessários.

Ferramentas para o controle da produção


Algumas das principais ferramentas utilizadas para o controle da produção na
construção civil serão apresentadas resumidamente. É importante compreender
que uma ferramenta, por si só, não irá gerar resultados caso não seja mane-
jada por uma pessoa habilitada e, caso for usada de modo inadequado, pode
gerar resultados prejudiciais. Além disso, é necessário conhecer o propósito
de cada ferramenta para que o seu uso seja adequado a cada tipo de situação
e saber que muitas delas precisam ser usadas simultaneamente para que um
determinado objetivo seja atingido.
De modo geral, as ferramentas podem pertencer a dois grandes grupos,
de acordo com a sua aplicação:

 Avaliação e diagnóstico: de caráter descritivo, avaliam qualitativa e


quantitativamente os tópicos da produção e dos processos (movimenta-
ção e armazenamento de materiais, segurança, sequência de atividades,
fluxos de pessoas, materiais etc.) e descrevem o contexto dos processos,
identificando problemas mais evidentes e as causas prováveis de obs-
táculos com relação à eficiência e à eficácia da produção.
 Acompanhamento da produção: de uso periódico (em intervalos pre-
definidos), possibilitam avaliar o desempenho ao longo do tempo pela
comparação entre ações e resultados, com identificação de problemas;
basicamente, avaliam a eficiência e a eficácia da produção.

A eficiência mede a relação entre o valor do produto e o custo dos recursos utilizados
para gerá-lo (p. ex., área construída/quantidade de homens-hora gastos).
A eficácia está relacionada ao atendimento das metas que foram estabelecidas
e é apresentada, comumente, em forma de sequência de tarefas e de prazos das
etapas da obra.

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Para cada um desses grupos são apresentadas algumas ferramentas para a


melhoria dos processos produtivos. As ferramentas de análise e diagnóstico
da produção são:

 Diagrama de processo: é o registro de como os processos são realiza-


dos, permitindo sua visualização e análise, a avaliação da relação entre
as atividades de fluxo e o total de atividades do processo e também a
quantificação do tempo, distância e número de pessoas envolvidas no
processo; a Figura 4 apresenta um exemplo de diagrama de processo
para a alvenaria.

Figura 4. Exemplo de diagrama de processo para a alvenaria.


Fonte: Isatto et al. (2000).

 Mapofluxograma: representa as atividades de um processo sobre


plantas ou croquis, permitindo uma visualização espacial do mesmo,
sendo apropriado para estudos de layout; a Figura 5 mostra um exemplo
de mapofluxograma para uma central de formas em que é possível
visualizar os fluxos de materiais e os seus cruzamentos (a simbologia
utilizada é a mesma para o diagrama de processo).

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Figura 5. Exemplo de mapofluxograma para uma central de formas.


Fonte: Isatto et al. (2000).

 Listas de verificação: possibilitam uma avaliação qualitativa imediata


acerca dos processos, os quais podem ser verificados pela marcação de
uma das 3 colunas existentes (“sim”, “não” e “não se aplica”) ao lado
de cada um dos itens que envolve o processo em questão.
 Registro de imagens do processo: feito por imagens ou vídeos, permite
uma avaliação qualitativa dos processos, com a possível identificação
de problemas e/ou soluções, complementando as demais ferramentas.

As ferramentas de acompanhamento da produção são:

 Cartão de produção: mede a produção dos operários ou da equipe


em um determinado tempo, possibilitando o cálculo da produtividade
da mão de obra; como forma de avaliação do progresso físico da obra,
pode ser feito de duas maneiras: controle por período (registra a quan-
tidade semanal de revestimento de argamassa produzido, por exemplo)
e controle por evento (registra o tempo necessário para a montagem de
formas de concreto armado de um pavimento, por exemplo).
 Controle de consumo de materiais: aumenta a transparência dos
processos e disponibiliza informações para que se promova a redução
de perdas na produção; para cada material, deve haver um registro que
controle os estoques no início e no fim de cada etapa, as transferências

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ocorridas (entrada ou saída de materiais da obra) e os desvios para


utilização em outros processos; com o consumo de materiais, é possível
calcular a eficiência do uso desses recursos.
 Last planner: de caráter operacional, tem como propósito formalizar os
planejamentos de curto prazo por uma planilha que contém os seguintes
elementos em cada coluna: o que e onde (quais os serviços e os locais),
quem (as equipes responsáveis pela execução), quando (os dias da
semana em que cada tarefa será realizada), avaliação da eficácia (se as
tarefas foram concluídas ou não) e a razão (causa do não cumprimento
da tarefa); o foco do last planner está na eficácia do projeto, não na
eficiência, como nas outras ferramentas, por isso sua ênfase está na
execução da obra dentro dos prazos, não na otimização dos recursos.

1. Dentre as alternativas, qual delas que não agregam valor ao


apresenta a afirmativa correta produto (atividades de fluxo).
para o porquê de o modelo de d) Por poder ser subdividida em
processo da construção enxuta, em mais processos, os modelos da
comparação ao modelo tradicional, construção enxuta permitem
ser mais apropriado para a que os custos de cada um dos
representação de processos. subprocessos sejam diminuídos,
a) O modelo da construção enxuta o que é mais eficiente do que
contém apenas as atividades avaliar o processo como um todo.
de conversão/processamento, e) As atividades de conversão
por isso se torna mais simples e as atividades de fluxo são
e objetivo de se usar. representadas separadamente
b) Além das atividades de no modelo de processo da
conversão, o modelo da Construção Enxuta, pois a
construção enxuta apresenta interação entre elas torna
também as atividades de fluxo, os processos ineficientes.
o que facilita a transparência 2. A gestão de processos sob a visão da
dos processos e permite que construção enxuta apresenta alguns
elas sejam minimizadas. princípios que melhoram o sistema
c) É possível melhorar o valor de produção se levados em conta.
de um produto apenas com Todas as alternativas apresentam
a melhora dos materiais e da tais princípios, exceto:
mão de obra envolvida no a) Fazer benchmarking, aumentar
processo, não sendo necessária a transparência do processo,
a representação das atividades reduzir a variabilidade.

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b) Reduzir as atividades que não realizado concomitantemente


agregam valor, a variabilidade a ele.
e o tempo de ciclo. d) O controle é um processo
c) Introduzir a melhoria gerencial no qual se
contínua, aumentar a estabelece o planejamento.
transparência do processo e) O planejamento é eficiente
e a flexibilidade de saída. sem o controle.
d) Focar o controle no processo 5. Sobre a ferramenta de
global, reduzir número de acompanhamento da
passos/partes, aumentar produção last planner, é
as atividades de fluxo. correto afirmar que:
e) Aumentar o valor do produto a) Permite a visualização
de acordo com as necessidades espacial de um processo pela
do cliente, equilibrar melhorias representação das atividades
nos fluxos e nas conversões. sobre croquis e plantas da obra.
3. Com relação às perdas na construção b) Torna viável a avaliação
civil, é possível classificá-las em dois qualitativa dos processos
tipos: perdas _______, consideradas por meio da marcação de
admissíveis, e perdas _______, que colunas com “sim”, “não” e
geram custos ________ do que os “não se aplica” ao lado dos
custos de prevenção. As palavras que itens referentes a eles.
preenchem corretamente as lacunas c) É representado por uma planilha
são, respectivamente: com uma série de elementos
a) inevitáveis; evitáveis; menores (o que, onde, quem quando
b) evitáveis; naturais; maiores etc.) acerca de uma tarefa
c) naturais; inevitáveis; menores programada, cujo foco está
d) evitáveis; inevitáveis; maiores na eficácia do planejamento
e) naturais; evitáveis; maiores e controle da produção.
4. Os princípios da construção enxuta d) Registra a forma que os
são adequados para o planejamento processos são realizados e
e controle da produção, pois é permite sua visualização e
nessa fase que é tomada a maioria análise, sendo possível avaliar
das decisões que podem reduzir as a importante relação entre as
atividades que não agregam valor atividades de fluxo e o total de
aos processos. Sobre o planejamento atividades de um processo.
e o controle, a afirmativa que melhor e) Promove a redução de perdas
define a relação entre eles é: na produção pelo aumento da
a) Um não pode existir sem o outro. transparência dos processos
b) A função controle existe e contém os registros que
sem o planejamento. controlam os estoques de
c) O planejamento será eficaz materiais e os desvios para a
quando o controle for utilização em outros processos.

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270 Construção enxuta (lean construction)

ISATTO, E. L. et al. Lean construction: diretrizes e ferramentas para o controle de perdas


na construção civil. Porto Alegre: SEBRAE/RS, 2000.
KOSKELA, L. Application of the new production philosophy to construction. Stanford:
Stanford University, 1992. Disponível em: <https://cife.stanford.edu/sites/default/
files/TR072.pdf>. Acesso em: 19 set. 2017.
LAUFER, A.; TUCKER, R. L. Is construction planning really doing its job? A critical
examination of focus, role and process. Construction Management and Economics,
London, v. 5, n. 3, p. 243-266, maio 1987.

Leituras recomendadas
PÁDUA, R. C. Implementação de práticas de Lean Construction em uma obra residencial
em Goiânia: estudo de caso. 2014. 61 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação
em Engenharia Civil) – Escola de Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás,
Goiânia, 2014.
PERETTI, L. C. et al. Aplicação dos princípios da construção enxuta em construtoras
verticais: estudo de casos múltiplos na região metropolitana de São Paulo. In: EN-
CONTRO NACIONAL ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
EM ADMINISTRAÇÃO, 37. 2013, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2013.
Disponível em: <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/2013_EnANPAD_GOL681.
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Processos construtivos_U4_C18.indd 270 06/10/2017 14:54:42


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