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CLEBER ATAÍDE

[organizador geral]

André Pedro da Silva | Emanuel Cordeiro da Silva


Sherry Morgana Justino de Almeida
Thaís Ludmila da Silva Ranieri | Valéria Severina Gomes
[organização]

Estudos
linguísticos
ecaminhos
literários
e tendências
VOLUME 2
ARTIGOS DE PROFESSORES
E DE PÓS-GRADUAÇÃO

Apoio:
CONSELHO EDITORIAL:
Alexandre Cadilhe [UFJF]
Ana Cristina Ostermann [Unisinos/CNPq]
Ana Elisa Ribeiro [CEFET-MG]
Carlos Alberto Faraco [UFPR]
Cleber Ataíde [UFRPE]
Clécio Bunzen [UFPE]
Francisco Eduardo Vieira [UFPB]
Irandé Antunes [UFPE]
José Ribamar Lopes Batista Júnior [LPT-CTF/UFPI]
Luiz Gonzaga Godoi Trigo [EACH-USP]
Márcia Mendonça [IEL-UNICAMP]
Marcos Marcionilo [editor]
Vera Menezes [UFMG]
CLEBER ATAÍDE
[organizador geral]
André Pedro da Silva | Emanuel Cordeiro da Silva | Sherry Morgana Justino de Almeida |
Thaís Ludmila da Silva Ranieri | Valéria Severina Gomes
[organização]

ESTUDOS LINGUÍSTICOS
E LITERÁRIOS
caminhos e tendências

VOLUME 2
ARTIGOS DE PROFESSORES
e de
PÓS-GRADUAÇÃO

Apoio:
Capa e diagramação: Telma Custódio

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

E85
Estudos linguísticos e literários [recurso eletrônico] : caminhos e
tendências / organização Cleber Ataíde. - 1. ed. - São Paulo : Pá de
Palavra, 2019.
recurso digital
Formato: ebook
Requisitos do sistema:
Modo de acesso: world wide web
Inclui bibliografia e índice
ISBN 978-85-68326-40-4 (recurso eletrônico)
1. Linguística - Discursos, ensaios, conferências. 2. Literatura -
Discursos, ensaios, conferências. 3. Livros eletrônicos. I. Ataíde, Cleber.
19-60339 CDD: 410
CDU: 81

Meri Gleice Rodrigues de Souza - Bibliotecária CRB-7/6439

Direitos reservados à
PÁ DE PALAVRA
[O selo de autopublicação da Parábola Editorial]
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ISBN: 978-85-68326-40-4
© da edição: Pá de Palavra, São Paulo, outubro de 2019.
Sumário

Apresentação

ARTIGOS DE LINGUÍSTICA

RECONHECIMENTO DAS PALAVRAS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: processamento de


variáveis lexicais e ortográficas
Gustavo L. Estivalet
ESTUDO DESCRITIVO-COMPARATIVO DE EDIÇÕES DE OFÍCIOS: as tradições no discurso
jurídico
Adriana dos Santos Silva e Eliana Correia Brandão Gonçalves
ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES DOS ESTUDOS DE ATITUDES LINGUÍSTICAS PARA A
SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA
Mikaylson Rocha da Silva, Almir Anacleto de Araújo Gomes e Rubens Marques de Lucena
O QUE SABEM OS PAIS DE FILHOS (AS) SURDOS (AS) SOBRE BILINGUISMO?
Marcela Gomes Barbosa
LANGUE, PAROLE E CONTEXTO: REFLEXÕES CONTEMPORÂNEAS SOBRE LINGUÍSTICA
SAUSSURIANA E O USO DA LÍNGUA
Amanda Brito de Medeiros Farias e Denilson Pereira de Matos
CONCORDÂNCIA NOMINAL NO SN: UMA ANÁLISE VARIACIONISTA DO FALAR ALAGOANO
Andressa Kaline Luna de Oliveira Marques e Aldir Santos de Paula
A ROTA DE CONSTRUCIONALIZAÇÃO DO QUE NEM: A MUDANÇA LINGUÍSTICA SOB A
PERSPECTIVA DA LINGUÍSTICA FUNCIONAL CENTRADA NO USO
Caio Aguiar Vieira e Valéria Viana Sousa
ANÁLISE DAS ATITUDES LINGUÍSTICAS DE FALANTES DO SERTÃO PARAIBANO EM
RELAÇÃO AO SEU PRÓPRIO FALAR
Priscila Evangelista Morais e Lima
REFLEXÕES SOBRE TUTORIAIS DE YOUTUBE NA PRODUÇÃO DE TCC: uma alternativa aos
manuais de metodologia na abordagem didática da escrita acadêmica?
Antonio Artur Silva Cantuário e Francisco Alves Filho
CONCORDÂNCIA NOMINAL: uma análise variacionista da língua falada em alagoas
Andressa Kaline Luna de Oliveira Marques e Aldir Santos de Paula
CULTURA E LINGUAGEM: da dialética de classes
Laécio Fernandes de Oliveira e Linduarte Pereira Rodrigues
PARÁFRASE EM TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA INFANTOJUVENIL: um estudo
baseado na perspectiva textual interativa
Maria Vaneide de Melo Santana Lopes e Cleber Alves de Ataíde
A PRÁXIS CULTURAL NA IBERO-AMÉRICA: uma análise discursiva acerca da criação do
projeto de integração Ibero-americano
Camila da Silva Lucena
O DESCONTÍNUO NO DISCURSO, O EU COMO OBJETO DE AUTOINVESTIGAÇÃO NA VOZ DE
UMA DEPOENTE
João Victor Costa Torres
O TÍTULO DO TRABALHO
Maria Gomes da Costa Silva e José Jacinto dos Santos Filho (Orientador)
RESUMO ACADÊMICO DO ENSINO MÉDIO: UMA FORMA LINGUÍSTICA OU UMA FORMA DE
REALIZAR LINGUISTICAMENTE OBJETIVOS ESPECÍFICOS EM UMA DADA SITUAÇÃO?
Karla Epiphania Lins de Gois
O FUNCIONAMENTO DISCURSIVO DO ENUNCIADO: intervenção militar já nas redes sociais
Rosiene Aguiar Santos e Gerenice Ribeiro de Oliveira Cortes
OCORRÊNCIA DA HAPLOLOGIA COM SÍLABA PESADA NO PORTMANTEAU: uma análise
perceptual
Emerson Viana Braga e Vera Pacheco
A REPETIÇÃO COMO ESTRATÉGIA PERSUASIVA NO GÊNERO PROPAGANDA ORAL
Max Silva da Rocha e Maria Francisca Oliveira Santos
PLANOS DISCURSIVOS EM ARTIGOS DE OPINIÃO EM PERSPECTIVA FUNCIONAL
Maria Clara Lucena de Lemos
AS FORMAÇÕES IMAGINÁRIAS E O LUGAR QUE OS SUJEITOS-GAGOS OCUPAM NAS
CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO DISCURSO
Claudemir dos Santos Silva e Nadia Pereira da Silva Gonçalves de Azevedo
SENTIDOS DE IMPEACHMENT NA DEFESA DE DILMA ROUSSEFF NO SENADO:
uma análise semântica
Danilo Sobral de Souza, Lívia Cristina de Souza Sigliani e Adilson Ventura
A INTERTEXTUALIDADE NO GÊNERO ANÚNCIO: estratégias argumentativas na construção
de sentidos do texto
Marcos Suel dos Santos
A DISCURSIVIZAÇÃO ESPETACULARIZADA DA POLÍTICA BRASILEIRA EM MEMES:
metáfora, imaginário e efeitos de cinismo
Geisa de Andrade Batista e Gerenice Ribeiro de Oliveira Cortes
O ESPAÇO DA PESQUISA TEÓRICA NA LINGUÍSTICA BRASILEIRA: um breve percurso pela
revista caderno de estudos linguísticos
Jéssica Santos de Oliveira e Márcia Rejane Brilhante Campêlo
A MODELAGEM DOS TRAÇOS LINGUÍSTICOS E COMPUTACIONAIS NA CRIAÇÃO DE
PARSERS: as análises possíveis em sentenças com advérbios altos e baixos
Érico Monteiro da Silva e Marcelo Amorim Sibaldo
A RELUTÂNCIA DO QUERER E A INTRANSITIVIDADE DA LIBERDADE: as identificações com
o gênero em sujeitos transgêneros
Anderson Lins Rodrigues e Berenice da Silva Justino
AQUISIÇÃO VARIÁVEL DE SEQUÊNCIAS TRICONSONANTAIS Ct/d]σC POR APRENDIZES
CAMPINENSES DE INGLÊS COMO L2
Felipe Santos dos Reis
O TRABALHO DE REFLEXÃO FONOLÓGICA REALIZADO POR UMA PROFESSORA
ALFABETIZADORA
José Carlos de França Filho
ENTRE TV E INTERNET: uma proposta de modelo para explicar a participação do público em
programas televisivos
Pedro Paula de Oliveira Vasconcelos
ANÁLISE DO PROCESSO DE ACOMODAÇÃO DIALETAL DE CARIOCAS EM JOÃO PESSOA
Lucas Possatti
ANÁLISE ACÚSTICA DA PRODUÇÃO DA FRICATIVA INTERDENTAL SURDA DO INGLÊS POR
FALANTES BRASILEIROS
Anilda Costa Alves e Rubens Marques de Lucena
ANÁLISE DA F0 DA PRODUÇÃO DOS MARCADORES PROSÓDICOS LEXICAIS SUSSURROU
E GRITOU NA LEITURA DE ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL I DE UMA ESCOLA
PRIVADA DE VITÓRIA DA CONQUISTA – BA
Mércia Rodrigues Gonçalves Pinheiro e Vera Pacheco
ANÁLISE ACÚSTICA DA FALA AUTISTA: o padrão formântico
Renata Oliveira da Silva e Marian Oliveira
ENTRE “ACORDOS” E “NEGOCIAÇÕES”: uma análise do processo de (re)categorização do
conceito de trabalho no discurso governamental
Estevão Eduardo Cavalcante Carmo
GÊNEROS EM CONTEXTO DIGITAL: um protótipo para o gênero videorresenha
Flávia Thaís Alves Britto e Williany Miranda da Silva
OS OPERADORES ARGUMENTATIVOS SOB A ÓTICA DA SEMÂNTICA ARGUMENTATIVA E
ENUNCIATIVA
Maria Eliane Gomes Morais, Maria da Guia Santos de França e Erivaldo Pereira do
Nascimento
A LATERAL PÓS-VOCÁLICA EM CODA SILÁBICA: UM PANORAMA DA VELARIZAÇÃO EM
CONTATO DIALETAL
Ohana Soara Andrade Santos
INSTATEXTO, RESSIGNIFICAÇÃO DO GÊNERO DIGITAL
Kerleiane de Sousa Oliveira, Patrícia Rodrigues Tomaz e José Ribamar Lopes Batista Júnior

ORGANIZAÇÃO TÓPICA E ARGUMENTATIVIDADE: o caso das cartas dos sertões do seridó


Márcia Rejane Brilhante Campêlo
O ESPAÇO DA PESQUISA TEÓRICA NA LINGUÍSTICA BRASILEIRA: um breve percurso pela
revista caderno de estudos linguísticos
Jéssica Santos de Oliveira e Márcia Rejane Brilhante Campêlo
PLURALIZAÇÃO DE SUBSTANTIVOS NA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
Rafaela de Medeiros Alves Korossy e Ana Cláudia Barbosa de Lima Barros
OS PROCESSOS EXISTENCIAIS NA UNIDADE RETÓRICA: introdução no texto acadêmico
tese
Cícera Alves Agostinho de Sá
DESCRIÇÃO E AVALIAÇÃO DA QUALIDADE VOCAL DE FALANTES HOMOAFETIVOS DA
CIDADE DE REMÍGIO – PB À LUZ DO VPAS
Rogério Marcelino dos Santos Melo
INSTATEXTO, RESSIGNIFICAÇÃO
DO GÊNERO DIGITAL
Kerleiane de Sousa Oliveira1
Patrícia Rodrigues Tomaz 2
José Ribamar Lopes Batista Júnior3

INTRODUÇÃO
O Instagram é uma das Redes Sociais mais acessadas do mundo, possui
mais de um bilhão de usuários ativos por mês, que a utilizam sob várias pers-
pectivas, desde olhar o Feed, ver Stories, encontrar novos perfis para seguir ou
para conversar. As postagens dessa Rede Social são de natureza visual, mas um
fenômeno que nos chamou a atenção é o número de perfis em que as imagens
são compostas exclusivamente de elementos verbais, ou seja, a palavra é o ele-
mento central desses perfis, tendo em consideração que o verbo, o texto “escri-
to” são a razão preponderante da existência desses perfis convencionamos, por
esse motivo, chamá-los de Instagrams de Texto.
A escolha desses Perfis de Instagrams se deu por possuírem no Feed ape-
nas imagens de frases e mensagens de conteúdo verbal, também pela alta acei-
tabilidade, tendo em vista seu alto poder de circulação, sobretudo pela ruptura
com sua forma/função original proposta inicialmente pela Rede Social, que
consiste no compartilhamento de imagens, porém, em geral o foco são pessoas,
lugares, situações do cotidiano. A prática de compartilhamento de imagens de
textos escritos já vem sofrendo processos de ressignificação, principalmen-
te nessa mídia, a própria Rede Social vem transmutando-se à medida que os
usuários a adaptam e reinventam, como por exemplo, ao utilizarem a marke-
ting de produtos, divulgação de ideais ou causas.
Para o desenvolvimento desse estudo tomamos como base a teoria dos
gêneros proposta por Bakhtin, que analisa o gênero como ação social, nas pro-

1
Mestranda no Programa de Pós-graduação em Letras (PPGEL) da Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail:
kerleiane@outlook.com.
2
Mestranda no Programa de Pós-graduação em Letras (PPGEL) da Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail:-
monitorapatríciatomaz@gmail.com.
3
Professor EBTT da Universidade Federal do Piauí e coordenador do Laboratório de Leitura e Produção Textual
(CTF/UFPI/CNPq). E-mail: ribasninja16@gmail.com.
posições de Bakhtin (2011), Brait (2017), Galli (2010), Miller (2012; 1984),
Cardoso (1997), Recuero (2009) dentre outros.

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As redes sociais são comunidades virtuais que operam em escala mundial
e proporcionam diversos contatos, surgindo como um veículo aperfeiçoado
que tem suas origens em grupos de usuários como Facebook, Twitter, Insta-
gram e outros. A Internet é um meio de divulgação que possibilita exibir ma-
terial audiovisual em tempo real do mesmo modo compartilha praticamente
todo tipo de material em comunidades ou redes sociais.
Segundo Cardoso (1997) a Internet se constitui como um dos espaços da
“nova” experiência da comunicação humana, que se dá numa conexão simultâ-
nea dos atores sociais nela envolvidos numa reconceituação de tempo, espaço
e contexto, que concorda com Galli (2010) ao analisa-la como configuração hi-
pertextual, entendida aqui como a capacidade de retomar e transformar anti-
gas interfaces da escrita.
Nesse sentido a Internet também se torna uma oportunidade de novas ex-
periências de interação, mesmo que com velhas práticas ressignificadas, que
de acordo com Marcuschi (2010, p. 23) possibilitam o surgimento ou reconfi-
guração de gêneros que se dá “nas complexas relações entre um meio, um uso
e a linguagem”

O novo se torna familiar através do reconhecimento de similaridades relevantes; tais similaridades


passam a se constituir como um tipo. Um novo tipo é, então, formado a partir das tipificações já
existentes quando estas não são mais adequadas para determinar uma nova situação. Se uma nova
tipificação prova ser continuamente útil para representar uma determinada conjuntura, ela passa
a fazer parte do estoque de conhecimento e sua aplicação se torna rotina (MILLER, 1984, p. 158).

Nesse aspecto podemos dizer que há uma mudança no comportamento


de alguns perfis da Rede Social Instagram, ao utilizarem a imagem composta
somente por elementos verbais (textos escritos) que tornando-se populares
incentivam outros perfis a agirem de modo semelhante e a tomarem suas ca-
racterísticas para si, a exemplo podemos citar os perfis diários, em que com-
partilham reflexões sobre a vida e a sociedade, perfis cronistas em que há uma
relação entre texto e legenda, mas nos quais a legenda tem um valor mais sig-
nificativo que a imagem da frase do dia.
O que notamos é que esses perfis querem chamar atenção para o verbo, a
palavra, assim mais que uma Rede Social de compartilhamento de imagens, o
Instagram se tornou um lugar para criar conteúdo, para vender produtos, en-
tre eles a palavra, pois as possibilidades de uso da interação são inesgotáveis,
segundo Bakhtin,

a riqueza e a diversidade dos gêneros discursivos são infinitas porque são inesgotáveis as possibi-
lidades da multifacetada atividade humana e porque em cada campo dessa atividade vem sendo
elaborado todo um repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que tal
campo se desenvolve e ganha complexidade (BAKHTIN, 2017, p. 12).

Segundo Galli (2010) a velocidade da evolução tecnológica é uma das


marcas da globalização. Desde seu surgimento, no final da década de 1980, até
hoje, os avanços tecnológicos são responsáveis por auxiliarem na “melhoria”
da qualidade dos serviços, em praticamente todas as áreas do conhecimen-
to, pois permite “rapidez e precisão” de dados. O processamento das infor-
mações na rede mundial de computadores, tem uma linguagem própria, com
termos específicos, que aqueles que a utilizam acabam compreendendo como
um conjunto, assim também como os termos que determinam seu conteúdo e
funcionamento.
Segundo Cardoso (1997) a Internet se constitui como uma das múltiplas
facetas da “nova” experiência da comunicação humana, que se dá numa co-
nexão simultânea dos atores sociais nela envolvidos numa reconceituação de
tempo, espaço e contexto. Sua configuração hipertextual, entendida aqui como
a capacidade de retomar e transformar antigas interfaces da escrita (GALLI,
2010).
O conceito de Rede Social aqui tomado em Recuero (2009) “como um con-
junto de atores e suas relações” em que os perfis são utilizados em espaços para
expressão das redes sociais na Internet pelo compartilhamento de interesses
em comum, poderíamos também utilizar o conceito de mídia social, também
chamado de “new media” que segundo Altermann (2010)

antes se referia ao poder de difundir uma mensagem de forma descentralizada dos grandes meios
de comunicação de massa, agora é traduzido por muitos como: Ferramentas online que são usadas
para divulgar conteúdo ao mesmo tempo em que permitem alguma relação com outras pessoas.
Exatamente como um blog, que ao mesmo tempo dissemina conteúdo e abre espaço para os lei-
tores interagirem. Então estas seriam ferramentas que tem como objetivo o compartilhamento de
conteúdo, sendo as relações o segundo plano.

Nesse sentido podemos dizer que tanto o conceito de Rede Social quanto
o de Mídia Social são cabíveis para a Interface Instagram que aqui convencio-
namos chamar Rede Social.
2. METODOLOGIA
A abordagem trabalhada é caráter qualitativo que perpassa desde a re-
flexão e embasamento teórico até o desenvolvimento e aplicação de questões
práticas o trabalho com os alunos do Ensino Médio. Os perfis que constituem
o corpus deste artigo foram retirados da Rede Social Instagram, foram sele-
cionados oito a partir de pré-requisitos estabelecidos durante a pré-análise.
Inicialmente realizamos o levantamento de perfis de contas da Rede Social
Instagram que possuíssem as características de post de imagens de conteúdo
predominantemente verbal, os quais averiguamos possuir um número extenso
de utilizadores que fazem uso desse tipo de perfil.
A princípio fizemos o levantamento de mais de duzentos perfis com essas
características, assim que atingimos esse número verificamos que a cada dia
surgem perfis novos com esse formato, e que os mesmos já perduram no cibe-
respaço, o que demonstra uma certa estabilidade no meio digital.
O próximo passo foi criar outros critérios para seleção dos perfis para aná-
lise e trabalho em sala de aula, já que preliminarmente havíamos catalogado
perfis predominantemente de imagens de elementos verbais; desse modo os
perfis finais presentes nesse artigo devem ter publicado pelo menos trezentas
postagens; ter mais de 10 mil seguidores no perfil. A partir desses critérios
selecionamos oito perfis para a pesquisa.

PERFIL PUBLICAÇÕES SEGUIDORES

@trechosdelivros 5.588 3.6 M

@obrigadadenada 1.920 1.7 M

@valorizarei 1.707 1.4 M

@placasincera 339 832 mil

@descrusheiofc 857 440 mil

@amordapiranha 528 186 mil

@1quartodecafe 1.709 30.3 mil

@inwhiteblack 1.780 13,2


Fonte Instagram - acesso em: 08 dez. 2018, às 18h40min.

Um fato que foi de grande surpresa foi alto poder de aceitabilidade desse
tipo de perfil, tanto pelo elevado número de seguidores, quanto pelo grande
número de curtidas e comentários nos posts, e que essas postagens não se res-
tringem apenas à Rede Social Instagram, eles circulam em outras mídias so-
ciais como Facebook e Whatsapp seja por meio de prints ou repostagens.
3. ANÁLISE: TEMA, COMPOSIÇÃO E ESTILO
Segundo Bakhtin (2011) a linguagem é de natureza intersubjetiva, pois,
ao enunciar, o locutor leva em consideração as possíveis réplicas de seus inter-
locutores, de modo que sempre escreve ou se fala para alguém. Dessa forma,
ainda que individual, refletindo a individualidade de quem fala ou escreve, o
estilo é definido, pelas escolhas lexicais, finalidade, pelo outro e pelo gênero,
pelo modo como o enunciador percebe e compreende o seu destinatário, se há
uma atitude responsiva ativa e compreensão responsiva ativa. (BRAIT, 2017).

Cada gênero discursivo apresenta um tema, em função da proposta comunicativa do gênero e da


proposta enunciativa de cada enunciador, o que determina sua forma composicional e seu estilo.
Assim, a forma composicional constituída pela materialidade linguística segue mais ou menos o
formato de cada gênero, mas de modo a atender as necessidades expressivas de cada autor. De
modo semelhante, o estilo e o tema atendem às imposições do gênero, o estilo genérico. Entretan-
to, o estilo não se reduz ao gênero, também apresenta peculiaridades próprias de cada enunciador
(PUZZO, 2015, p. 182).

Nos Instagrams de Texto há um estilo de fácil familiarização, uma lingua-


gem clara e objetiva, perceptível na constituição dos textos, uma certa estabi-
lização no designer das postagens, tipografia utilizada, em linhas gerais refe-
renciando o mundo a partir de reflexões que possam suscitar impressões de
identificação nos seguidores levando-os assimilação dos discursos e experiên-
cias vivenciadas no cotidiano, possuindo, desse então características dialógicas.
As imagens de textos apresentam um elo entre os enunciados, estilo e
estrutura composicional semelhantes, mantendo relações dialógicas entre
si. Os exemplos remontam a temas comuns, falam num tom de proximidade,
muitas vezes afetuoso ou de sarcasmo, com mensagens animadoras do ego e
autoestima.
@descrusheiofc> https://www.instagram.com/descrusheiofc/. Acesso em: 09 dez. 2018.

Os Instagrams de Textos possuem algumas características no seu conteúdo


composicional no que diz respeito à estruturação e organização do Feed, como
a estabilidade no modelo de post, perceptível nos exemplos acima, quanto ao
conteúdo temático, com poucas postagens que divergem da proposta de orga-
nização do perfil. Brait (2017) evidencia que a questão do estilo, nesse sentido,
deixa de ser pensada a partir de uma produção tomada na sua individualidade,
como autônoma, enquanto idiossincrasia de um enunciador, mas trabalhada
como linguagem enquanto atividade/ ação, dentro de atividades específicas, a
ideia de esfera de produção, e como decorrência desta a circulação e recepção
e, ainda, a relação entre a enunciação e interação do gênero e o uso, assim como
os temas, a forma composicional e estilo.
Especificamente nos Instagrams de Textos notamos a organização do Feed
dos perfis a partir de cores, geralmente únicas, muitos em tons de cinza, muito
presente, a tipografia da letra de forma em cor contrastante, geralmente preta,
centralizada, com duas a quatro linhas, seguida de assinatura.
@valorizarei>disponível em: https://www.instagram.com/valorizarei/. Acesso em: 09 out. 2018.

A construção composicional do gênero diz respeito à estruturação geral


interna do enunciado e segue um padrão de construções discursivas já estabe-
lecido pela sociedade, podendo o gênero ser “relativamente estável”, para que
haja, segundo Bakhtin (2011), um público leitor capaz de entendê-lo e inter-
pretá-lo. O autor acrescenta que:

[...] o discurso se molda sempre à forma do enunciado que pertence a um sujeito falante e não pode
existir fora dessa forma. Quaisquer que sejam o volume, o conteúdo, a composição, os enunciados
sempre possuem, como unidades da comunicação verbal, características estruturais que lhe são
comuns, e, acima de tudo, fronteiras claramente delimitadas (BAKHTIN, 2011, p. 293).

O processo de construção do enunciado se organiza em função de outros


enunciados construindo um gênero discursivo, definindo o caráter dialógico
do discurso. Nas palavras de Bakhtin, um traço constitutivo do enunciado é o
seu endereçamento a alguém, como autor que percebe qual a força e influência
dos seus destinatários no enunciado, pois “disso dependem tanto a composi-
ção quanto, particularmente o estilo do enunciado”. (2011, p. 301).
4. PROPOSTA DE PRODUÇÃO: OFICINAS
Propomos para alunos do Ensino Médio a realização de Oficinas em três
etapas principais I-Análise, II-Produção e III-Edição e publicação, divididas em
subetapas que dependem da disposição de tempo e recursos necessários para
os encontros de discussão e produção em sala de aula.

4.1 Etapa de Análise


Encontro para discussão quanto aos aspectos composicionais dos Insta-
grams de Texto, leitura, discussão e análise dos perfis que mais chamam a aten-
ção dos alunos, quanto aos temas abordados, organização do Feed e Layout dos
posts.
Um perfil é composto pelo nome de usuário - o @!, e o nome que aparece
em negrito no topo da biografia, aqui também é o lugar é possível colocar um
site ou link acessível que se deseja promover, por isso é comum a expressão -
link na Bio, como podemos observar no perfil de @descrusheiofc, a partir de
questionamentos quanto a escolha do nome de usuário, imagem e descrição
do perfil, número de seguidores e número de pessoas que o perfil segue, desta-
ques, organização e layout/ design do Feed.

@descrusheiofc>disponível em: https://www.instagram.com/descrusheiofc/. Acesso em: 09 dez. 2018.


Nos perfis de Instagrams de textos fica mais perceptível que o foco está
voltado para as postagens das imagens de textos, do conteúdo verbal do que
para o dono do perfil, ou seja para a “palavra” é o centro, há um voltar-se para
a autoria muito presente nesse gênero, uma ressignificação da Rede Social que
cria uma identidade de diálogo, de conversa, um tom de aconselhamento, de
autoafirmação e busca da identidade, reflexões de caráter mais filosófico, prin-
cipalmente aquelas que apresentam chamadas do tipo texto na legenda como
@valorizarei.

@valorizarei> https://www.instagram.com/valorizarei/. Acesso em: 09 dez. 2018.

Nessa etapa de análise organizaremos os grupos de trabalho, faremos pes-


quisa sobre quais os Instagrams de Texto os alunos mais se identificaram, para
estruturar os croquis dos Instagrams que serão criados pelos grupos, a partir
de ideias de layout, design, tipografia, fraseologia, temáticas, público leitor.
4.2 Produção de Instatextos
A etapa de produção de Instagrams de Textos consiste desde a discussão
quanto a organização das informações da Bio, escolha das cores, a forma de
composição do design e layout das postagens, se manual ou no laboratório,
a forma e data de postagens – diariamente, duas vezes na semana, criação da
Rede Social colaborativa da equipe, organização, edição e publicação das dez
primeiras postagens iniciais.

4.3 Publicação
A publicação na rede Social se dará em culminância das atividades no
evento de lançamento, em que os alunos apresentarão o percurso até a criação
dos perfis de Instagrams de textos, assim como as ideias motivadoras e inspi-
radoras para cada perfil, desde a escolha da imagem, nome, nome de usuário,
cores e o processo envolvendo as temáticas, relação de trabalho em equipe,
chamadas no Stories e enfim as publicações do primeiro post do perfil.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo como base teórica os pressupostos bakhtinianos que concebem o
gênero como fruto da ação social, assim também como Miller que a partir de
critérios pragmáticos definem os gêneros discursivos como espelho da expe-
riência, podemos dizer que na Rede Social Instagram, os perfis de Instagrams
que utilizam imagens com elementos verbais, ressignificam seu uso, tendo por-
tanto um potencial retórico e linguístico que permitem ações simbólicas de
interação.
Os gêneros discursivos, dessa forma, desempenham ações e relações, mol-
dando-se à realidade social. No nosso percurso de análise, identificamos os
Instagrams de textos como tipos relativamente estáveis de enunciados, com
base no conceito de Bakhtin, pois é possível definir o tema, estilo, estrutura
composicional que os constituem como elementos dialógicos presentes no cor-
pus analisado.
Quanto às escolhas lexicais presentes na produção do gênero, observamos
um universo discursivo cuja tema procura evidenciar a superação dos fatos
ocorridos na trajetória cotidiana, num tom de diálogo, reflexão sobre a vida e
relacionamentos, o humor, a linguagem clara e acessível facilmente identifica-
da pelos seguidores. Identificamos que nos perfis de Instagrams de textos, o
foco está nas postagens das imagens de textos de elementos verbais, fraseo-
lógicos, do que para o dono do perfil, em que o texto, o conselho, a risada da
própria situação difícil, a superação, se sobrepõem à imagem.
No que concerne a estrutura composicional e estilo, notamos na organi-
zação do Feed dos perfis analisados, estabilidade do designer, da escolha das
cores, do plano de fundo, em alguns o predomínio do cinza/branco, trazendo
certa nostalgia, com variações do tom, o tipo de letra das postado nas imagens
geralmente se repete, preta, centralizada, com duas a quatro linhas de texto es-
crito, comumente seguida de assinatura, o que demonstra a estabilidade com-
posicional do gênero.
Por fim, a proposta de oficinas práticas de análise e construção de perfis
que se assemelham aos perfis estudados é uma possibilidade de aproximar os
interesses dos alunos com aquilo que buscam na Internet, vendo esta como
lugar de relações de interações e possibilidades.

REFERÊNCIAS
ALTERMANN, Dennis. “Qual a diferença entre redes sociais?” https://www.midiatismo.com.br/qual-a-diferenca-
-entre-redes-sociais-e-midias-sociais. Publicado em 06/09/2010. Acesso em: 05 dez. 2018.
BAKHTIN, M.M. Estética da criação verbal. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
BRAIT, Beth (Org.). Bakhtin: conceitos-chave. 5 ed. São Paulo: Contexto, 2017.
CARDOSO, G. Contribuições para uma sociologia do ciberespaço. Sociologia, problemas e práticas, Lisboa, n.25,
p.51-80, nov. 1997.
GALLI, Fernanda Correa Silveira. Linguagem da internet: um meio de comunicação global. In: MARCUSCHI, L. A. &
XAVIER A. C. Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. 3. ed. São Paulo: Cortez,
2010.
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