O autor acima informa ainda que, para parte da doutrina, existe distinção entre o
princípio da legalidade e o da reserva legal, sendo que aquele refere-se a quaisquer
dos diplomas elencados pelo art. 59, da CF/88, ao passo que este diz respeito apenas
a leis ordinárias (regra) ou complementares (exceção). Porém, em que pese as
posições em contrário, mesmo adotando-se a expressão “princípio da legalidade” não
se pode ter outro raciocínio se não o de que a criação legislativa em matéria penal
somente será permitida através de leis ordinárias ou complementares.
1
O princípio da individualização das penas segue três fases distintas: cominação,
aplicação e execução, conforme veremos abaixo.
Princípio da culpabilidade
A culpabilidade não afeta apenas o autor do delito, mas toda a sociedade, sendo,
portanto, um fenômeno social. Seu conceito tem, em Direito Penal, um triplo sentido:
1) a culpabilidade como fundamento da pena que refere-se ao fato de ser possível ou
não a aplicação de uma pena ao autor de um fato típico e antijurídico, exigindo-se,
para isso, a capacidade de culpabilidade (imputabilidade), consciência da ilicitude e
exigibilidade de agir conforme o direito;
2) a culpabilidade como elemento da determinação ou medição da pena. Nessa
acepção a culpabilidade funciona não como fundamento da pena, mas como limite
desta, aliada a outros critérios como a importância do bem jurídico, os fins preventivos
etc. Aqui o julgador deverá observar as regras do critério trifásico de aplicação da
pena, previsto no art. 68 do Código Penal;
3) a culpabilidade como conceito contrário à responsabilidade objetiva impedindo que
a responsabilidade penal derive apenas da associação causal entre a conduta e o
resultado de lesão ou perigo ao bem jurídico tutelado.
Princípio da lesividade
Pelo princípio da lesividade, ninguém pode ser punido por aquilo que pensa ou por
seus sentimentos pessoais; não se pode punir condutas que não sejam lesivas a bens
de terceiros, uma vez que não excedem ao âmbito do próprio autor; não se pode punir
o indivíduo por aquilo que ele é, senão por aquilo que ele fez; e, por fim, não se pode
punir aquelas condutas que, embora desviadas, não afetem qualquer bem jurídico de
terceiros.
Princípio da insignificância
A tipicidade penal exige uma ofensa de alguma gravidade aos bens jurídicos
protegidos, pois, nem sempre qualquer ofensa a esses bens ou interesses é suficiente
para configurar o injusto típico (fato típico e ilícito).
Porém, tanto Rogério Greco quanto Cezar Roberto Bitencourt alertam para o fato de
que, uma parte mais radical da doutrina entende que todo e qualquer bem jurídico
3
merece a proteção do Direito Penal, desde que haja previsão legal, não se cogitando
do seu real valor.
Existem condutas que, por sua adequação social, não podem ser consideradas
criminosas, ou seja, as condutas que se consideram socialmente adequadas não
podem constituir delitos e, por isso, não se revestem de tipicidade.
De acordo com Rogério Greco, o princípio da adequação social possui uma dupla
função: 1) restringir o âmbito de abrangência do tipo penal, limitando sua
interpretação, e dele excluindo as condutas consideradas socialmente adequadas e
aceitas; 2) orientar o legislador quando da seleção das condutas que deseja proibir ou
impor e das que não necessitam mais da proteção do Direito Penal, não reprimindo as
ações que sejam consideradas socialmente adequadas e, ao mesmo tempo, retirando
do ordenamento jurídico a proteção sobre aqueles bens cujas condutas já se
adaptaram perfeitamente à evolução da sociedade.
Porém, é preciso esclarecer que o princípio da adequação social não tem o condão de
revogar tipos penais incriminadores. Uma lei somente pode ser revogada por outra,
conforme determina o caput do art. 2º, da Lei de Introdução ao Código Civil.
NORMA PENAL
4
De acordo com o princípio da reserva legal, em matéria penal, pelo fato de lidarmos
com o direito de liberdade dos cidadãos, pode-se fazer tudo aquilo que não esteja
expressamente proibido em lei (art. 5º, XXXIX da CF/88 e art. 1º do CP).
Isso quer dizer que, embora a conduta do agente possa até ser reprovável
socialmente, se não houver um tipo penal incriminador proibindo-a, ele poderá praticá-
la sem que lhe seja aplicada qualquer sanção de caráter penal.
A lei é, portanto, a bandeira maior do Direito Penal. Sem ela proibindo ou impondo
condutas, tudo é permitido.
Norma penal é a proibição e o mandamento que vêm inseridos na lei, sendo uma
espécie do gênero norma jurídica.
Segundo Damásio Evangelista de Jesus, a norma penal pode ser definida em dois
sentidos: Em lato sensu, norma penal é tanto aquela que define fato punível, impondo
abstratamente a sanção, como a que amplia o sistema penal através de princípios
gerais e disposições sobre os limites e ampliação das normas incriminadoras (ex.:
normas sobre exclusão da ilicitude – legítima defesa, estado de necessidade etc.). Em
stricto sensu, a norma penal é a que descreve uma conduta ilícita, impondo uma
sanção.
Alguns autores fazem uma distinção entre a norma e a lei penal. Assim, a norma seria
um princípio de comportamento que serviria para fundamentar a lei, ou, nas palavras
de Luis Régis Prado, norma jurídica e lei “são conceitos diversos. A primeira vem a ser
o prius lógico da lei, sendo esta o revestimento formal daquela”.
Para Damásio de Jesus, entre a norma e a lei penal existe uma relação de continência.
Para ele, a lei penal contém uma norma, que é a proibição da conduta descrita por
aquela. Assim, por exemplo, quando o art. 121 do CP diz “matar alguém”, pena tal,
nesta lei está contida a norma “não matarás”, ou seja, a norma jurídica que define um
comportamento e determina uma penalidade como conseqüência, está proibindo a
conduta.
As normas penais existentes no Código Penal não têm como finalidade única e
exclusiva punir aqueles que praticam as condutas descritas nos chamados tipos
penais incriminadores. Existem normas que, ao invés de conterem proibições ou
mandamentos os quais, se infringidos, levarão à punição do agente, possuem um
conteúdo explicativo, ou mesmo têm a finalidade de excluir o crime ou isentar o réu
de pena. Dessa forma, podemos destacar dois grupos de normas:
a) Nrmas penais incriminadoras – as quais é reservada a função de definir as
infrações penais, proibindo ou impondo condutas, sob ameaça de pena, sendo a
norma penal por excelência, visto que quando se fala em norma penal pensa-se,
5
imediatamente, naquela que proíbe ou impõe condutas sob ameaça de sanção.
São, por isso, consideradas normas penais em sentido estrito,
proibitivas ou mandamentais. A norma penal incriminadora apresenta dois
preceitos: o preceito primário (encarregado de fazer a descrição detalhada e
perfeita da conduta que se quer proibir ou impor) e o preceito secundário,
sancionador ou, simplesmente, sanção (ao qual cabe a tarefa de individualizar a
pena, cominando-a em abstrato).
b) Normas penais não incriminadoras – estas, ao contrário das incriminadoras,
possuem as seguintes finalidades: a) tornar lícitas determinadas condutas; b)
afastar a culpabilidade do agente, erigindo causas de isenção de pena; c)
esclarecer determinados conceitos; d) fornecer princípios gerais para a aplicação
da lei penal.
Como sabemos, o princípio da legalidade (ou da reserva legal, como preferem alguns),
expresso nos arts. 5º, XXXIX da CF/88 e 1º do CP, tem por fim estabelecer que
ninguém pode ser punido penalmente se não houver uma previsão legal criando o tipo
incriminador, ou seja, definindo as condutas proibidas (comissivas ou omissivas), sob
ameaça de sanção, ou seja, é a lei que garante a segurança jurídica de cada indivíduo.
Com base no acima exposto é que alguns autores visualizam nas normas penais em
branco heterogêneas uma violação ao princípio da legalidade. Isso ocorreria em
razão do fato de que o complemento das referidas normas é oriundo de outra fonte
que não a lei em sentido estrito e, dessa forma, o conteúdo da norma penal poderia
ser modificado sem que haja uma discussão amadurecida da sociedade a respeito,
como acontece nos projetos de lei que são submetidos a apreciação de ambas as
Casas Legislativas do Congresso Nacional, além do necessário controle exercido pelo
Poder Executivo, que exercita o sistema de freios e contra-pesos.
Dessa forma, nas normas penais em branco heterogêneas, uma determinada conduta
poderia passar a ser considerada crime sem definição por lei.
7
Princípios que Solucionam o Conflito
O conflito aparente de normas poderá ser resolvido com a análise dos seguintes
princípios, que são estabelecidos pela doutrina majoritária:
8
c) Princípio da consunção – fala-se em princípio da consunção nas seguintes
hipóteses: a) quando um crime é meio necessário ou normal fase de preparação ou
de execução de outro crime; b) nos casos de antefato e pós-fato impuníveis.
9
Via de regra, aplica-se o princípio constitucional da irretroatividade in pejus
(irretroatividade da lei mais gravosa), ou seja, a da absoluta impossibilidade de a lei
penal retroagir para, de qualquer modo, prejudicar o agente; a exceção é a
retroatividade in mellius, ou seja, quando a lei vier, também, de qualquer modo,
favorecê-lo, conforme se dessume do inciso XL, do art. 5º, da Constituição Federal de
1988, assim redigido: “A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.”
Tempo do Crime
O Código Penal adotou a teoria da atividade, conforme se verifica em seu artigo 4º.
Assim, o momento da ação ou da omissão será o nosso marco inicial para todo tipo de
raciocínio que se queira fazer em sede de aplicação da lei penal no tempo.
Novatio Legis
10
A lei nova, editada posteriormente à conduta do agente, poderá conter dispositivos
que o prejudiquem ou que o beneficiem. Será considerada uma novatio legis in
pejus se o prejudicar, ou uma novatio legis in mellius se vier a beneficiá-lo.
Pode a lei nova prejudicar o agente ampliando o rol das circunstâncias agravantes,
criando causas de aumento de pena, aumentando o prazo prescricional etc.; poderá
beneficiá-lo quando trouxer causas de diminuição de pena, reduzir os prazos
prescricionais, condicionar as ações penais à representação etc.
A novatio legis in mellius será sempre retroativa, sendo aplicada aos fatos ocorridos
anteriormente à sua vigência, ainda que tenham sido decididos por sentença
condenatória já transitada em julgado. Essa previsão é feita no parágrafo único, do art.
2º do Código Penal. Ex.: art. 88 da Lei 9.099/95.
Abolitio Criminis
É preciso atenção para o fato de que a abolitio criminis só atinge os efeitos PENAIS da
sentença condenatória e não seus efeitos civis.
Considera-se temporária a lei quando esta traz expressamente em seu texto o dia do
início, bem como o do término de sua vigência. Excepcional é aquela editada em
virtude de situações também excepcionais (anormais – por exemplo: guerras,
calamidades públicas etc.), cuja vigência é limitada pela própria duração da aludida
situação que levou à edição do diploma legal.
11
Encerrado o período de sua vigência, ou cessadas as circunstâncias anormais que a
determinaram, tem-se por revogadas as leis temporárias e excepcionais. Porém,
embora revogadas continuarão a ser aplicadas aos fatos ocorridos durante
sua vigência.
Não se pode falar em lex mitior, pois as circunstâncias modais dos tipos são
diferentes. O mesmo entendimento é adotado por Frederico Marques que preleciona
que a lex mitior promulgada após a cessação da vigência de leis excepcionais ou
temporárias não retroagirá porque as situações tipificadas são diferentes. A própria
tipicidade dos fatos cometidos sob seu império inclui o fator temporal como
pressuposto da ilicitude punível ou da agravação da sanção.
Além disso, alguns autores afirmam também que a ultratividade das leis excepcionais
e temporária tem por finalidade impedir o emprego de expedientes tendentes a
impedir a imposição de suas sanções a fatos praticados nas proximidades de seu
termo final ou da cessação das circunstâncias excepcionais que a justificaram.
Combinação de Leis
Discute-se se é possível esse tipo de raciocínio, uma vez que, segundo parte da
doutrina, o julgador estaria criando um terceiro gênero de lei, o que lhe seria vedado
(estaria usurpando função do Poder Legislativo – criação de lei).
Princípio da Territorialidade
O art. 5º, caput, do Código Penal determina a aplicação da lei brasileira, sem prejuízo
de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no
território nacional. É a regra da territorialidade. Pela redação do mencionado artigo,
percebe-se que o Brasil não adotou a teoria absoluta da territorialidade, mas sim uma
teoria conhecida como temperada, haja vista que o Estado, mesmo sendo soberano,
em determinadas situações, pode abrir mão da aplicação de sua legislação, em virtude
de convenções, tratados e regras de direito internacional.
O § 1º, do art. 5º do Código Penal considerou, para efeitos penais, como extensão do
território nacional aeronaves e embarcações. Assim, se forem públicas ou estiverem a
serviço do governo brasileiro, serão consideradas como extensão do território
brasileiro onde quer que se encontrem; se forem mercantes ou privadas, serão
consideradas território brasileiro desde que se achem no espaço aéreo correspondente
ou em alto mar, além de, é claro, se pousadas em território brasileiro ou em portos ou
mar territorial nacionais.
Lugar do Crime
Quanto ao lugar do crime, assim como ocorre com o “tempo do crime”, existem três
teorias, a saber:
13
c) Teoria da mista ou ubiqüidade – a teoria mista ou da ubiqüidade adota as duas
posições anteriores e aduz que lugar do crime será o da ação ou da omissão, bem
como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
O nosso Código Penal, no que diz respeito ao lugar do crime, adotou a teoria da
ubiqüidade, conforme se depreende da leitura do seu artigo 6º.
A adoção da teoria da ubiqüidade soluciona problemas que poderiam surgir se, por
exemplo, um indivíduo, na Argentina, enviasse uma carta-bomba a outro no Brasil
que, ao abri-la detonasse o artefato. Se o brasil adotasse a teoria da atividade a
Argentina a do resultado, o agente ficaria impune. Porém, é preciso lembrar que tal
teoria não se destina à definição de competência interna, mas sim à determinação da
competência da justiça brasileira.
Princípio da Extraterritorialidade
Quer isto dizer que, ao contrário de outras legislações que adotaram o chamado
critério tripartido, a exemplo da França e da Espanha, no qual existe diferença entre
crime, delito e contravenção, diferença esta que varia de acordo com a gravidade do
fato e a pena cominada à infração penal, nosso sistema jurídico-penal, da mesma
forma que o alemão e o italiano, or exemplo, fez a opção pelo CRITÉRIO BIPARTIDO,
ou seja, entende, de um lado, os crimes e os delitos como expressões sinônimas e, do
outro, as contravenções penais.
14
Objeto jurídico: É o bem jurídico. Os interesses que devem ser protegidos na
vida em sociedade (exemplo: a vida, a integridade física, a honra, etc.)
Objeto material: É a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta do sujeito
ativo, como o homem vivo no homicídio, a coisa no furto, o documento na falsificação.
Sujeito ativo: O crime é uma ação humana, assim, só o ser humano pode ser
sujeito ativo de crime. A capacidade de ação exige o elemento volitivo, que só o ser
humano pode ter. Sujeito ativo é quem pratica o fato descrito como crime na norma
penal incriminadora. Também é chamado de réu, criminoso, delinqüente, agente, etc.
Sujeito passivo: é o titular do bem jurídico atingido pela conduta criminosa.
Pode ser o ser humano nos crimes contra a pessoa, o Estado nos crimes contra a
Administração Pública, a coletividade nos crimes contra a saúde pública.
DA TIPICIDADE
DA CONDUTA
[
Conceito de Ação (Causalista, Finalista e Social)
15
Com o finalismo de Welzel, a ação passou a ser concebida como o exercício de uma
atividade final. É a ação, portanto, um comportamento humano, voluntário, dirigido
a uma finalidade qualquer. O homem, quando atua, seja fazendo ou deixando de
fazer alguma coisa a que estava obrigado, dirige a sua conduta sempre a determinada
finalidade, que pode ser ilícita (quando atua com dolo) ou lícita (quando não quer
cometer delito algum, mas, por negligência, imprudência ou imperícia, causa um
resultado lesivo).
O agente pode praticar a infração penal fazendo ou deixando de fazer alguma coisa a
que estava obrigado. As condutas, dessa forma, podem ser comissivas (positivas) ou
omissivas (negativas). Nos crimes comissivos, o agente direciona sua conduta a
uma finalidade ilícita (ex.: no homicídio, o agente age querendo a morte da vítima).
Nos crimes omissivos, ao contrário, há uma abstenção de uma atividade que era
imposta pela lei penal ao agente (ex.: art. 135 do CP.
Além de agir de forma positiva ou negativa, o autor da prática do fato pode agir,
também, de duas formas: dolosa (quando quer diretamente o resultado) ou culposa
(quando dá causa ao resultado em virtude de sua imprudência, negligência ou
imperícia). A regra, para o Código Penal, é a de que todo crime seja doloso, somente
sendo punida a conduta culposa quando houver previsão legal expressa nesse sentido,
conforme determina o parágrafo único do art. 18.
Crimes omissivos:
16
2) Impróprios ou comissivos por omissão: Nesses crimes não há apenas um
dever de agir, mas um dever de agir para evitar um resultado. São crimes materiais
(de resultado).
A ação regida pela vontade é sempre uma ação final, isto é, dirigida à consecução de
um fim. Se não houver vontade dirigida a uma finalidade qualquer, não se pode falar
17
em conduta (não existe vontade de nada ou para nada – a vontade é sempre de algo,
tem sempre um conteúdo).
Se o agente não atua dolosa ou culposamente, não há ação. Isso pode acontecer
quando o sujeito se vir impedido de atuar, como nos casos de:
18
Perigo Concreto: É o que precisa ser provado, demonstrando, de fato, a
situação de risco corrido pelo bem. Ex: incêndio (art.250); abandono de recém-nascido
(art. 134), etc.
Perigo Abstrato: É presumido o perigo juris et de jure, não precisa ser
provado, pois a lei contenta-se com a simples prática da ação que pressupõe perigosa.
Ex: porte ilegal de arma (art.10, lei 9437/97); apologia de crime ou criminoso (art. 287)
O crime habitual também não se confunde com a habitualidade no crime. Esta ocorre
quando o agente pratica vários crimes, sendo a habitualidade uma qualidade do
mesmo, não da infração penal como ocorre no crime habitual.
Pelo fato de que, no crime habitual, cada ação separadamente, não constituir crime,
parte da doutrina entende não ser possível o flagrante nesta espécie de delito. Outra
parte entende que, se já houver comprovação da habitualidade através, por exemplo,
de uma investigação prévia, o flagrante pode ser realizado sobre qualquer uma das
ações que compõem a infração.
19
2) Crime complexo em sentido estrito – ao contrário, é formado da reunião de dois ou
mais tipos penais. O legislador apanha a definição legal de crimes e as reúne,
formando uma terceira unidade delituosa. Ex. extorsão mediante seqüestro (art.
159 CP) que se forma da reunião da extorsão (art. 158 CP) + seqüestro (art. 148
CP).
Iter criminis
É o conjunto de fases do delito.
Etapas:
1-Cogitação - Ex: Paulo pensa em matar Maria
2- Atos preparatórios – Ex: Paulo adquire revólver e arma emboscada
3-Atos executórios – Ex: Paulo atira em Maria
20
3-Consumação – Ex: Maria morre
4-Exaurimento – como última fase do iter criminis, e em somente determinadas
infrações penais, temos o chamado exaurimento. É a fase que se situa após a
consumação do delito, esgotando-o plenamente.
Os atos preparatórios são aqueles atos que antecedem a prática criminosa. Estes
também não são puníveis, salvo quando definidos como atos executórios de um outro
delito.
Exemplos: artigos 291, 238, e 239 do Código Penal. No caso do artigo 291, o agente é
punido não porque falsificou dinheiro, mas porque fabricou aparelho para futuras
falsificações. Esta conduta só é punível, porque está prevista em um tipo penal.
Desde que o desígnio criminoso aparece no foro íntimo da pessoa, como produto da
imaginação, até que se opere a consumação d delito, existe um processo, parte do
qual não se exterioriza, necessariamente, de maneira a ser observado por algum
espectador, excluído o próprio autor. A este processo dá-se o nome de iter criminis ou
“caminho do crime” (“itinerário do crime”), que significa o conjunto de etapas que se
sucedem, cronologicamente, no desenvolvimento do delito.
Consumação
Conforme sua classificação doutrinária, cada crime tem sua particularidade. Assim,
nem todos os delitos possuem o mesmo instante consumativo. A consumação,
portanto, varia de acordo com a infração penal selecionada pelo agente. Podemos,
dessa forma, dizer que ocorre a consumação nos crimes:
a) Materiais, omissivos impróprios e culposos: quando se verifica a produção do
resultado naturalístico, ou seja, quando há modificação no mundo exterior (ex.:
homicídio – art. 121 do CP).
21
b) Omissivos próprios: com a abstenção do comportamento imposto pelo agente
(ex.: omissão de socorro – art. 135 do CP);
c) Mera conduta: com o simples comportamento previsto no tipo, não se exigindo
qualquer resultado naturalístico (ex.: violação de domicílio – art. 150 do CP);
d) Formais: com a prática da conduta descrita no núcleo do tipo, independentemente
da obtenção do resultado esperado pelo agente, que, caso aconteça, será
considerado como mero exaurimento do crime (ex.: extorsão mediante seqüestro –
art. 159 do CP)
e) Qualificados pelo resultado: com a ocorrência do resultado agravador (ex.:
lesão corporal qualificada pelo resultado aborto – art. 129, § 2º, V do CP);
f) Permanentes: enquanto durar a permanência, uma vez que o crime permanente
é aquele cuja consumação se prolonga, perpetua-se no tempo. (ex.: seqüestro e
cárcere privado – art. 148 do CP)
O inciso II, do art. 14 do CP assevera que o crime é tentado quando, “iniciada a sua
execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente”.
A lei penal, com a redação dada ao aludido inciso, limitou a punição dos atos
praticados pelo agente a partir de sua execução, deixando de lado a cogitação e os
atos preparatórios.
Se considerarmos preparatório o ato, com ele não se importará, via de regra, o Direito
Penal, ao passo que, se o interpretarmos como de execução, sobre ele já terá
incidência a lei, podendo-se falar, a partir daí, no mínimo em tentativa.
22
Obs.: havendo dúvida se um ato é preparatório ou executório, deve
prevalecer o princípio do in dubio pro reo, isto é, a dúvida se resolve no
sentido de ser o ato considerado preparatório e, por conseguinte, não
punível.
Espécies de Tentativa
A desistência deve ser voluntária, mas, não precisa ser espontânea. Isto quer
dizer que não importa se a idéia de desistir no prosseguimento da execução criminosa
partiu do agente, ou se foi ele induzido a isso por circunstâncias externas que, se
deixadas de lado, não o impediriam de consumar a infração penal.
Arrependimento Eficaz
DO ARREPENDIMENTO POSTERIOR
CRIME IMPOSSÍVEL
Entende o grande mestre Rogério Greco que, para que ocorra o crime impossível, é
preciso que o agente ingresse na fase dos chamados atos de execução sendo que, a
consumação só não ocorre por circunstâncias alheias à sua vontade, isto porque a
redação inicial do artigo supra expressa que não se pune a tentativa. Por isso é que
o crime impossível é também chamado de tentativa inidônea, inadequada ou quase-
crime.
Segundo Rogério Greco, a diferença entre crime impossível e crime putativo reside no
fato de que, naquele, existe previsão em nosso ordenamento jurídico da infração penal
que o agente pretende praticar. Contudo, por absoluta ineficácia do meio ou por
absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.
Já no crime putativo a situação é diversa, pois, o agente almeja praticar uma infração
que não encontra moldura em nossa legislação. O fato por ele praticado é atípico,
considerado um indiferente penal.
O agente deve ter consciência, isto é, deve saber exatamente aquilo que faz, além de
conhecer os elementos que caractarizam sua ação como típica, para que se lhe possa
atribuir o resultado lesivo a título de dolo. Por exemplo, se alguém durante uma
caçada confunde um homem com um animal e atira nele, matando-o, não atua com
dolo do crime previsto no artigo 121 do CP. Aqui o agente incorre em erro de tipo
previsto no artigo 20 do CP.
26
A vontade é outro elemento sem o qual se desnatura o crime doloso, ou seja, o agente
deve querer, ter a vontade de realizar a conduta típica. Aquele que é coagido
fisicamente a praticar um homicídio não atua com animus necandi (vontade de
matar).
Já a teoria do assentimento diz que atua com dolo aquele que, antevendo como
possível o resultado lesivo com a prática de sua conduta, mesmo não o querendo de
forma direta, não se importa com a sua ocorrência, assumindo o risco de vir a produzi-
lo.
Diz-se direto o dolo quando o agente quer, efetivamente cometer a conduta descrita
no tipo, conforme preceitua a primeira parte do inciso I, do artigo 18 do CP. O agente,
nesta espécie de dolo, pratica sua conduta dirigindo-a finalisticamente à produção do
resultado por ele pretendido inicialmente.
Segundo pare da doutrina, o dolo direto pode ser de primeiro ou de segundo grau.
Aquele é o dolo direto em relação ao fim proposto e aos meios escolhidos; este é o
dolo em relação aos efeitos colaterais, representados como necessários. Exemplo:
Suponhamos que um terrorista queira causar a morte de um determinado Chefe de
Estado e, para isso, coloca uma bomba no avião onde o mesmo viajaria com sua
comitiva. Com a explosão da bomba, morrerão todos os passageiros e tripulantes da
aeronave e não apenas o Chefe de Estado, alvo principal do atentado. Assim, com
relação a este, temos o dolo direto de primeiro grau e com relação àqueles, temos o
dolo direto de segundo grau, pois, o agente sabia que, com a explosão da bomba
todos morreriam.
27
uma pessoa querendo feri-la ou matá-la; o agente que atira contra duas pessoas
querendo matar uma ou outra.
DO TIPO CULPOSO:
De acordo com o art. 18, inciso II, do CP, diz-se culposo o crime “quando o agente deu
causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Porém, esta definição é
insuficiente para que possamos aferir com precisão se determinada conduta praticada
pelo agente pode ou não ser considerada culposa.
Imprudência é a conduta positiva praticada pelo agente que, por não observar seu
dever de cuidado, causa resultado lesivo previsível. É a prática de um ato perigos sem
os cuidados que o caso requer.
28
Negligência, ao contrário da imprudência, é um deixar de fazer aquilo que a diligência
normal impõe.
A culpa imprópria
A previsão da culpa imprópria está na segunda parte do § 1º, do art. 20, do CP. Assim,
haverá esta espécie de culpa (imprópria / por assimilação / por extensão / por
equiparação) quando o agente, embora tendo agido com dolo, nos casos de erro
vencível, nas discriminantes putativas, responde por crime culposo.
Assim, não se pode falar em tentativa quando o agente não dá início aos atos de
execução dirigidos à consumação de determinada infração penal por ele
29
finalisticamente pretendida. O iter criminis é um instituto destinado aos crimes dolosos
e não aos culposos. Não se cogita, não se prepara e não se executa um crime culposo.
CRIME PRETERDOLOSO:
Além das duas modalidades de crimes expressamente reguladas pelo nosso Código
Penal, quais sejam: dolosa e culposa, a doutrina e a jurisprudência reconhecem a
existência de uma terceira, que costuma designar como crime preterdoloso ou crime
qualificado pelo resultado.
30