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Curso: oP6'lPgCA
Maténa: r3t\, - -,,~-r-y-I-f-f-s-s-DJ
Professor:
Da!., ~ ílQê, I 1(; =
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j "( i2i NA. COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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1.1 CONCEITOS
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.lA(~~;Ihirlof', lllf':!:mc.
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CI)n~ahidoque o ';f.r hll!1la:1O .':llfll' C'xnpu!s~I'J11:lIUral,
jP<.:!lltiÍvd nel'c~;<;i,j,ld,' <1<~c :lglupar em sllci<::Jddt:, razãu por que é. denominadu
ens sociale.. Cônscio de SIl<lS limitações, congrega-se em sodedade para perseguir
e concretizar seus objetivos; assim, o ser humano é sacio} natura suo, em decor-
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rência de sua lIatureza.
Daí, a propen.<;iio hl~tn du homem em co!ot:ar () .<;euem cmulIm com o próximo.
i Tal colocar em comum é. o comunicar-se, é a comunicação. Já o latim communicQ-
~ re se associa à ideia de convivência, relação de grupo, sociedade. O objetivo da
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4 CU"" d< ""nUS"';" Jurldícn • [lOlni><o/J!eJ\I'quc.
ConsTitui-Se a sudedade não de cu + cus, mas, de ego + alieI", !lU, para se usar'
um neulogismo de Carlos Otulllmond de Andrade (apud Monteiro, 1991:36), de
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a nalllrcza du criminoso. Um ser 3távÍt"o. r"'prt>(\llzillllo 0$ ferozes instÍlltos d<1
hUaJ3uidade primitiva, dos animais inferion's. A~~:lT1 podemo~ explicilr (o crimi-
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"eumanos",isto~, de cu + humanos. j noso) pelas enonnes mandíbulas, 0%0$ saticlltcs das maçás, Rrcos proeminentes
ç- [),í-se a ('omllnicil~'~O pelo f<llar e só ao homem reserva-se fi ot'lermin,lç?iQ dl: ~ do~Sllpt".lcílios,tamanho exagerado das órhit<!s,olhar sinistro, visão extremamente
falar. Eugênio Coseriu observa que o homem é "um ser falante" ou, melhOl; é "o ilKuçada, nenhuma propensão à calvície, urelhas em <Ilçil,insensibilid.ade à. d~r,
ser falante". naliz tendendo à direita, falta de simetria y.cwl. No comportamento, IIldolcncm
exct'ssiva, incapacidade de ruborizar, p"ix.!iopor orgl;ls - e desejo insano do mill
Comunica-se () homem de forma verbal 011 não verbal; esta (illima acontece pd'J próprio lllil!. Vontade não ilpellllS ue th;!r a vid~ da vítima ITlaStamhém de
de várias formas como; lIlilLilm-lhe o COIPO, rasgar sua C;:lrne,bd,er S(,,1l sangue."
(SO<\f('s, Vcríssimo, Millôr, 1992, p. 93)
P{'\3 mímica Jlude.se conhecer l' 1I'5tr'II~'Jnhn ti.: ;am.1os.mud(Js como ocorreu
Na <:fitica cincmatográfica é comum dizer que o corpo fala por Charles Chaplin em Mogi dus Cruzes (Folha de S. Puulo, 3fl-4.l)3).
e, constantemente, ressalra-se a cxpressividade dos olhos de Beue Davis.
A f3lsi(bde de um depuimento pode rewhl'-st: ;l!'; me:;mo pela tr,ms].Jiraç£i.o,
No rom.:mcc O processo Maurizius, Jakob \Vasermanll f<lia em olhm inrf:'rrngn- •
pda ll<llkkz \lU simples Jllc,vimemo p,djJ'.:braL
livos, olhar inqlliridor. olhar sumbrio e hostil etc.
--- Interessante alertar o profissional do Direito pam o código cultural das ex-
Silbe-se que os olhos IllNeCerilm especial atenção de Machado de Assis, pois
lhe rctratilvam a mltlu€za íntima - boa ou má - das pessoas. Para ficar com apenas
uma obra, enconlram.sc em Dom Casmurro, olhos dOlminhoa)S (Tio Cosmc); olhos
ei/n'osns (Jmtina); olhos ref/etidos (EscoLar); olhos quentes e illttmativos (Sancha); I pressões gestuais.
Assim, o ahiJixar dos olhos e o desvi:u Íl,r,istelll<: (i() olhar podem Ser deco-
dific<ldos tanto como timidez excessiva l]UtiIIWjJor :lu~êJlcia de caráter, espírito
olhos policiais (Escobar); olhos oblíquos e de ressuca (Capitu).
Na c1{'balida questão rlo adultério de Capim, entre os <!rgumenros, todos
I mentiroso.
Por 01llro lado, o 'olhar p",rsistente aSSllnlf', tl10 raro, o sentido de dCS~lfioc,
iildkios, emhora ;:Jlgum VCCHH'J11cs, há o olhar de Capitu {ll:t'to do esquife {iç ! lIlUltas ve~.cs, de cinismo.
Escobar. I
O olhar voltado para cima, com a cabet,:a le\'CHlcnte inclinada, principalmente
Frente aos fatos trágicos da vida, desfivelam-sc as máscaras e fmstram-sc as
quando os olhos ficam descobertos pelos óculos posicionados quase na ponta do
dissimulações; é (I que acontece com Capitu. Elafita o defunto com olhos de viúva
nariz, em geral revela um espírito inquisitivo e perspicaz.
e revela, então, que o homem dda, seu marido, de/aeto, era Escobar.
Avalie-se a força do olhar nos versos de Menotti deI Picchia: Empregadas essas expressões no interropltório du réu, em depoimenlos de
testemunhas e nil ação dos profissionais jurídicos, os destinatários dessa comuni-
"Apeçonha da cobra eu CUI"O ... Quem souber cação não verbal irão recebê-la de acordo com o código cultural que interfere nos
cure o veneno que há no olhar de uma mulherl"
usos e costumes de uma sociedade.
As panidas de futebol toTn<lTam-se mais atraentes com a linguagem gestual Bom de di~er que o código cultural implica significações corporais comparti-
!!
dos jogadores. Já na antiga Roma, nos jogos circenses, o imperador, com o polegar lhadas por uma sociedade ou gnlpo social.
levantado ou abaixado, prolatava as sentenças de vida ou de mone.
Na cultur<l brasileira, quando algut:m dewia () olhar durante a conversação
Cesare Lombroso, fundador da Antropologia Criminal, procurava identificar o com o destinatário, expressa mensagem de falsidade, dissimulação e outras sig-
criminoso pelo levantamento de detenninados traços físicos ou pela conformação nificações negativas. Ao contrário disso, quando olha fixan~ente, ()_destinat~ri~
óssea do crânio.
Assim, exprime-se Lombroso em ruamo delinquente:
"Nessa manhã de um soturno dia de dezemhro, não foi apenas uma ideia o
I expressa código cultural de cinismo, arrogância, cntre outras tmpressoes neganvas
da linguagem corporal.
Por isso, cumpre ao profissional jurídico invcstigar as significações cultu~ais.da
que tive, mas um relâmpago de clarividência. Ao ver o crânio do salteador Vihella,
percebi ~ubitalJlente, ilUminado como uma im('n~a planície sob um céu em fogo,
! linguagem corporal para empregá-la adequadamente em seu intllito comunlC(ltiVO
de convencimento.
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•
,
lfá de se dizer, nmlO remate, Que mesmo o calar se é 11m ato de comunicaç.'io.
Eugênio Coseriu considf'ra oca/ar-.I"e como o "ter ddx<ldo.de.falar" ou "o não falar
ainda". É, pois, determinação negaüva de falar, o que constitui, também, nffill
prerrogativa do ser humano.
Tanto o é que os latinos, pelo menos até a época d:íssica, tinham dois verbos
I
I
í
2. Numa projeção cinematográfica: na.exibição de um mme falado em inglts
(não legendado), a comunicação ,!;eráplena, parciéll OH nula depenrknd~
do domínio do código (inglês) por pane do espectador. O mesmo podeI d
ocorrer caso o ator fale extremamente rápido.
3. Numa sala de aula: a comunicação não se fará, me:>mo com o domínk,
para o ato de calar-se: si/ere, para os seres irracionais, e taccrc, para os seres ra- do código, se o referente for bastanle complexo.
cionais,
I,
"connssão tácita", "tlÍcita ratificação". \ semelh<mtc.
Daí a neccssidade de um juiz socorrer.:>e de peritos ou intérpn;tes pnr<l dn-
Tanto é verdade que o direto de [) ,H:usado penn<llleccr em silêncio, na esfera
cidação de caso.'; específicos c. g., modus opcnllldi no intenop,atóno ele nmd'ls,
criminal, qUélSC sempre dirccion<l a decisão do jlfl~<ldor mntril ele. i surdos.mudos, analfabelos e estrangeiros.
I
(meio tomunicativo utilizado) e código.
No discurso jurídico, o código traduz-se por vocabulário .cs~e~í~,o e IIOf !~s-
Estabelecido que o texto jurídico é uma forma de comunicação, nele ocorrem tnlturas redacionais próprias para cada modalidade de peça JudlC:l<l.n;1.
os elementos envolvidos no ato comunicalório; deV(' haver, então, um objeto de
comunicação (mensagem) com um colltclÍdo (rdcreme), tnHlsmitido ao receptor
por um emissor, por meio de llJn canal, com seu próprio código.
I! 1.3 FUNÇÕES DA LINGUAGEM
FundamentaI é lembrar que toda l' qualquer forma de cornunic<lção se apoia ;
no binômio emiswH-receptor; não 1J;i (.(>llilll\iGJ~';j(lI"I';I(/I('r"jl. /\ comunicação é,
o<lsicamelltl', um alO de panillw, o que implica, 11<)mínimo, bilareralidade. , o cstudú de K(lrl fliihler sohre <ISfunções da lil\~lwgem, ,HsunlU (1~'~'~:JV1.'lyj.J:,
por Homal1 Jakobson em Linguíslica e col1Hl/licação, aplica-se lambém ao [)lrt:Jlll.
O ato comunicativo não pode ser (lto $olitârio; antes, é um ato solidário entre
Um acusado, em seu depoimento, serve-se. em geral, de uma 1ingllaW'J~' 1I1:'lr-
indivíduos em suas relações sociais, razão por que 1150se pode resolver num ato
individual ou na intersubjetividade. cadamentc sllbjeliva, c"'Tcga,b dos pronomes f~U,mc, mim, minha, Cllí:I1IZ"Ht\O
o emissor; caractE'riza"sc, assim, <Ifunção e//lollva.
Afirma-se que mesmo o ato de não comunteação é comunicação e, nesse caso,
a expressão preso incomunicável deve se~ entendida cum grano saiu. A infonnação jurídica é precisa, ohjetiva, denotativa; fala-se, enlão, de funçfto
referencial. Nada impede, porém, que o texto jurídico se preocu~e, v: g., com <.I
Entendido que a comunicação niío é ato dc um só, mas de todos os elemen.
sonoridade e ritmo das palavras, valorizando a forma da cOlllumcaçao; tClll-St:,
tos dela participantes, verifica-se que a realização do ato comunicatóno apenas
se efetivará, em sua plenitude, quando todos os seus componentes funcionarem assim, a função poética.
adequadamente. A linguagem de dicionários e vocabulários jurídicos está centrada no código
Qualquer falha 110siStema de collliUlicação imp,.dilá a perfeita captação da c a função será mctalÍllguística. , . / . ,..'.. .
mensagem. Ao obstáculo que fecha o circuito ele cumunicação, costuma.sc dar o Sabe-se por outro lado, que o rexto jundICo é, ernll1entemente. IJC1snasOllo,
nome de ruído. Este poderá ser promc<ldo pelo emissor, pelo receptor; pelo cma\. ,
dirige-se, especificamente, .
ao fCí:cptor; dclese aproxuna para con.venc~-Al'mudar
0.1.
Considerem-se os casos: de comportamento para alterar condurasjá estabelecidas, suscitando estlmlllos,
•
impulsos pard. provocar - no r{'(eptor. Daí o nome d e ftm çao
reaçoes - co~aIva. t. tema>
-
1. Numa sessão dejüri: se o juiz não conhecer o cól1igo do acusado e o in. relacionado ao verbo latino cOllari, cujo significado é promover, SUsclta.r, provocar
térprete estiver amente, SUspcllder-sc-á a sessão, pois há ruído impedindo cs[Únulos.
a comunicação. O mesmo omrr~rá se houver quebra de sigilo entre os O discurso persl1asório apresenta duas vertentes: a vcrtenle {'H!! tativil e ;,
jurados. Há interferência negativa no sistema de {'omunicação. vCltente (lutOlit<Íria (inlperativa).
• !,
jogam um jogo de contrários e ambas têm, de certa fonna, uma estrutura poli:;- !
sêmica. A Retórica define-se como "a mte de persuadir" e Olltro não é o objetivo 1
da Comunicação. 1.5 NÍVEIS DE LINGUAGEM
N. funções da linguagem encontram seu paralelo nas partes da n::tóric,l <lrIS-
totélica, dispostas num sistema coerente e lógico por Aristóteles, embora tctl!Lam t A eficiência do ato de comunicação
adequado do nível de linguagem.
depenoe, entre outros requisitos, do uso
sido esboçadas por alguns de seus antecessores, como Córax. 1 Enquanto código ou sistema, a língua abre possib~li~ad.es d~ um ~em:número
Vejamos a correspondência das funções da linguagem com as partl:s da lte- i
tórica; • de liSOSque os falantes podem adotar segundo as eXlgellClas sltuaClOnalS da co-
i municação.
(I) Função fiítiea ,. exórdio tt
,
À", variações - sociais ou individuais - que se ohservam na utilização da lin-
O objetivo é o mesmo: despertar a atenção do receptor (auditório). guagem cabe o nome de variantes linguísticas (dialetos).
I
(2) Função emotiva -- __ •. aetio Dá-se o nome de fala, nlveis cle linguagem ou registros. às variaçõ~s qtl~nto
Objetivo; enfatizar o papel do emissor (orador).
(3) Função poética ,. c1oeutio !, ao liSOda linguagem pelo mesmo falante, impostas pela vancclade de sltuaçao.
H<lveJia, assim, trés principais níveis ou registros:
•,
,
!
I
f.. J.inr,wlgem culta (v<lrümtc-padrâo). Em latim, era () sermo urba'lIIs Oll
$I!nno erudilw,. Utiliz<tlll-Il~ <lS classes inrf'lectuús
{:scri:a ", Im-nos, TWoral. E rl",
da sociedade, llI"is na form<l
tlW nos meios diplom<Ític(ls c cicnlifk,)s' nus dis-
I !Una. Quanto mais lIl,Hutinas cssas imerrupçtlcs do vosso dOl'mir,mais Ih<i~dl'vei~
agt'adcccr. .
O amanhecer (lu trahalho há de antecip<tr-se ao amanhecer do dia. Nilo vo~
nlr.~os e SC11l1ÕCS;1I0S tratados jurídicos e nas sessões do tribunal. O vo~ahulário fieis muito de quem cspettaj;\ SOIIl(lScentl"ou sol nado. CUrlOSse fizeram, os dias,
~cu c sã.o ObscIViHlasas normas gramaticais em sua plellinlde. pata que nós os dobr;\s~emus, madrugando. Experimentai, e vereis quanto vai do
deitar tilrde ao acurdar cedo. Sobre a noite o cérebro pende ao $01\0. Antenwtthã,
:'.51:1 itngllõlgcm, mamona os jUl iSlas quando 1I0S difercntl-'S misteres de sua
rende a despertar."
Pl'OfiSSõlCl.Não é mais a lilll-;U<l,l(Clll de Rui Barhosa, ma.s dela se aproxima.
O vocabullÍrio continua scledonado e 1\dequado; (lir-se-ia, até, rirllalizado ou
mesmo buror:ratizado c, por isso, menos variado. Se se escolhessem as "dez mais"
usadas pelos juristas, por certo, figurariam na lista: outrossim, estribar, militar
(verho), supedânco, incontinenTi, dessarte, destarte, tutela, argllir, acoimar.
I
I
( crnb:ugu
(BARBOSA, 1951,1'.36-37)
Alguns termos gozam de predileção especial !,or parte dc ccrlos autores: in-
i J cotidiano.I~: a linguagem do rádio, tclt'visão, meios de cumunicação de massa mnto
na fonna uml quanto na escrita. Emprega-se o vocalml;írio d", Engua comulll l' a
contincnti c supcdânco (Miguel Reale); dessarte (Magalhães Noronha); destarte 11'
t- obe-diênda às di~posiçfies gramaticais é relativa, permilindo-se até ttlf"smo cons-
(W. M. de Barros).
truções próprias da linguagem oral.
Todos timbram em usar um estilo polido, escorreito e gramatical. Há os que
I,I
É claro '1ue, como, aliás, o próprio Cícero disse, nenhum jurista vai usar em
se excedem, mas, acredita-se, são poucos.
c<lsa a mesmól linguagem usada no Fórum.
Segundo o Shopping News (27-9-92, p. 2), os ministros do STF usaram de-
zenove vezes a expressão "recepcionar o recurso" no julgamento do mandado
C. I.inguagem popular. É a linguagem mrrentp-, sem preocupação com
de s~gurança de Col~or contra atos da Câmara Federal. Por essas e por outras, o , regms gramatkais de flexilo, carregada de gírias e de falares regioll<lis.
preSidente do sn; Sldney Sanches, disse:
Não St' há confundi-Ia com abf'fraçõ('s ~réllnatit','lis, Oll erros t'raS50~ enconl 1<1
"--AbOf,I,para melhmar nOS~,1cOJllllnic;lljãocom fi sociedade só (alta e1imi- diçus na n.~alida;.\c ('oltlllTlieati\'a brasileira, tais t.:OllW:
nannos alguns preciosismos da linguagem jurídica."
~ubstituiçã() do sufixo ando por ano - falano em lugar de falando (vício
Calha também citar Ceneviva (Folha de S. Paulo, 2-5-93, p. 4-2): comum na linguagem oral);
. "O direito é uma disciplina cultural, cuja prática se resolve em palavras. Direito redução silábica como própio em lugar de próprio, também bastante
e lmguagem se entrelaçam e se confundem. Algumas vezes - infeli?meme mais empregada na comunicação oraL
do que o necessário - os profissionais da área jurídica ficam t;"ioempolgad;~ com
Por isso mesmo, há urgente necessidade de a política educacionar plallcjar
os fo?os de atti(icio da linguagem que se esquecem do justo e, outras vezes, até
da leI. Nas acrobacias da escrita jurídica, l:hega-se a encontrar formas brilhantes estratégias metodológicas para suprimir o problema, entendendo que, na seara
nas quais a substância pode ser medida em conta-gotas. O defeito _ também com da inclusao social, é direito do cidadão ao uso de linguagem simples, corriqueira,
~esafortunada frequência - surge mesmo em decisões judiciais que atingem a mas rum respeito às regras morfológicas, léxicas e sintáticas.
hberdade c o patrimônio das pessoas."
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A liJ\gl1;I?/'ll1n.'Pf':St'nt~ o pCllsarncnto e funciona cumo ill~lrumcnto mediador o ato comunicativo jmídico, condu i-se, exige a c(jllstru~ão de um di.'iCUTSO
das rd:\çDc~ ,~',wi.1i~. ;\ ..; v,niaçõcs sociocullumis cont rihlll'll1 para diversificações da que POSS<lconVf'llcer o julgador da veracidade do "real" que pretenrle provar. Em
linguagcm, $0 JtflO,~"l1domais graves as dificuldades l~lil razfJo do esforço social razão disso, a linguagem jurídica "a!c-s(; dos princípios da lógico clássica par<l
de uma linguagelll comum, controhlda por normas linguíslicas. organização do penSéll1lCnto.
No mundo jurídito, o ato comunic<ltivo niio pode enfrentar à solta o problema O mundo jurídico prestigi •.•o vocabulário especializado, paTa que o exc('sso de
da diversidadf' linguística de seus uS\l~rios, porque o Direito é uma ciência que palavras plurissignificativas nao dificulte a representação simbólica da linguagem.
disciplina a conduta dH.~pessoas, portanto, o comportamento exterior e objetivo,
c o faz por meio de lima linguagem prescritiva e descriliva.
Assim, quando os interesses se mostram conflitantes ou uma ação humana 1. 7 CONCEITOS BÁSICOS DE LINGUÍSTlCJ\ E
fere os valoH's da norlll3 jurídica, exigindo reparação dos mesmos, forma-se a lide COMUNICJ\ÇÃO JIJRÍDICA
(lilem > li/e> lide = conflito), criando um novo centrmuemo na relação entre
os interlocutores PJT!("t'.~suals:a polêmica. No confronto de posições, a linguagem Em remrltc, bom é explicar (I proces~o comunicativo jurídico, tendo em vi.st,:
torna-se mais pc'c:;uasiva por perseguir o convencimento do julgador que, por sua conceitos linguísticos básicos.
vez, re.sgual'dfl-,s(-'rli-lWfOml<lde sua decisiio, c"'pliGlIldo, na motiv'lção da sentença,
Veja-se:
os mecanismos racionDis pelos quais decide.
O ato comunic.ativojurídico não se faz, pois, apenas como linguagem enquanto
língua (eonjuntc, de probabilidades Iinguísticas postas à disposição do usuário),
mas também, e essencialmente, como discurso, assim cntl'ndido o pensamento M
organizado à lu?: das operações do raciocínio, muitas vezes com estruturas prees-
E
(emissor) (m~Jlslli:~m) "
(receplor)
tabelecidas, ~. g., :-JSpeças processuais.
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O ,!lO cOmUn;c;]II\'Ojuríc1im llJO c, porêm, Lógica fi(lnn:ll, como pode supor • ,'ossni o } ,. _
,. : • , 'I.;,((l
<!I l'o~~tliU }
dil'V'iO
uma conclusão i1IH~.,sada. nellSJm":I'\(' (";>:.P!\"~~'-~"
'. OHoma- -""Illil-
e busca a sioló k:a fi bU$GI o
Exemplifique-sI' pdo silogismo nun sequitur: siológica
expressão g p!:nsame:lto
Todo criminoso f(\nda a loja a ser assaltada, antes do crime.
Pedro é crimiotlSn t' rondou a loja X, que foi assaltada.
Logo, f't'dro assaltou a loja X
1.7.1 Quanto ao emissor
I Antes de possuir o pcnsamf'llto,
o emissor deve rea1iz;Jr relações paradig-
A ação criminosa de Pedro é tão somente suposição apoiada em meros indícios
mática.~,011seja, associação livre de ideias (ideia-puxa-ideia),
incluindo opo~ições,
que não têm força condenatória.
pois ninguém possui alguma coisa sem antes adquiri-la.
Embora o estatuto do pensamento jurídico não seja a Lógica Formal, não
Diante de um assunto, o cmis~or deve pensllf livremente, com il!eias SOltâS.
pode prescindir das regras do silogismo lógico. A••partes processuais organizam
QUAnto maior for o vigor c a elasticidAde dessa gináslica mental, mais idcias serao
suas opiniões com representação simbólica que possa ser aplicada ao mundo real,
pensadas.
demonstrando a possibilidade de correspondência entre motivo e resultado.
Possuindo o pensamento, ainda que desorganizado, o emissor busca a ex~
A "realidade" do raciocínio lógico não pode ser afirmada com certeza absoluta
pressão, por meio de rigoroso roteiro onomasiológico (nome dado à atividade de
nem mesmo se presente estiver a rainha das provas: a confissão (confessio est regi~
codifictlção da mensagem) compreendendo as seguintes perguntas:
na probationwn), porque alguém pode ter o animus necandi (intenção de matar),
atirar contra o alvo pretendido e o resultado morte pode não ser consequência a) Quem 5011 eu, emissor? Dependendo do papel social, a codificação deve
direta de SUi!condu la dolosa, exigindo-se prova argumentativa da existência do direcionar a mensagem e selecionar o vocabu1:ino, e. g., a linguagem do
nexo causal aç50/resultado. Promotor de Justiça é diferente da utilizada pelo advogado de defesa.
. ,
!
f
lJ) o que dizer? Eslabelecer com comisb.o, precisão c objetividade as idcias f Veja-se:
11serem codifiCi.ldas, é imprescindívc1 110 disfllrso jurídico. t
c) Para quem? Não perder de "15m fi figUfil do receptor é fUndamental. Seria 1
impertinente ao advugado ('xplicar, ponnenorizarlarnclUc, um COllc~ito
simplista de direito, em sua periçâo dirigida ao Juiz, como se lhe fosse relaçõe.s JJaradiglll<Ílicw
(ideias livres - plano vertical
possível "ensinar o padre-nosso ao vizário".
(1) Qual a finalidade? O emissor nunca pude perder de vista o objetivo co-
r[ de aprofundamento ideol6gico)
!
e) Qual o meio? Quando o profissional df' Direito peticiona, empregando (seleção e escolha das ideias, de acordo com
a língua escrita, deve cuidar esmerad;mlcme da língua-padrão, organi- roleiro onomilsiulógico que serão
zando com precisão lógica seu racioc!nio, com postura diferente daquela e~mltllladas sintática e estilislicamellte)
utilizada perante um Tribunal do Júri, ocasião em que a linguagem afetiva
,
I
Também, deve fixar a ideia central qUe prcwnrle rrabalhar, e. g., a delinquência ~b' mai.s atraente e persuasiva.
omta
infantojuvenil.
As ideias serão selecionadas de acordo tom o interesse do receptor, c. g.,
professor de Direito Penal.
1.7.2 Quanto ao receptor (destinatário do discurso)
A proposta temática indica a finalidade textual, e. g., discutir a antecipação, " A direção scmasiológica requer, também, um roteiro paw, da expressão,
Oll não, da maioridade penal. \.i?/, chegar-se ao pen.~arnento do emissOl; julgá-lo e :lv;;ld-Io.
Deve, ainda, o redator empregar a língun culta, indispensável ao discurso O receptor parte das relações sinragllláticas em direção às rel.1.<,õe!ijl<lrtldig-
escrito dissertativo-argumemativo. """'máticas, em tríplice dimensão, de acordo com as opt'.raçiies do mciocinio.
Diante desse roteiro, o emissor buscar<i a expressão, discurso sintaticamente
organizado. f'- / a) aIler > outro (compreensão): é a llrirndw oper"ção de, mciodnio.
Ao roteiro onomasiológico cwnpre organizar as ideias, selecionando e estrutu+ O receptor deve captar literalmente a mensagem do emis!;or com análise gra-
rando aquelas adequadas ao seu pensamento. Este processo de escolha das ideias matical do enunciado.
e da forma de estruturá-las denomina-se relaçõe.<;sintagmáticCLS.
b) ego> eu (interpret<lção srricto sellsu): é <l seRund<! op('raç;io do raciocí-
Assim, o esquema comunicativo tem posição vertical e posição horizontal.
nio.
l
deve julgá-la, com seu posicionamento ou com o auxílio c1cjulgnmentos de outros
emissores, ou, ainda, por meio das duas atividadc$.
•
Co",uniC"~ç'"J"fi,IiC"~ 1 7
No mundo jurídico, pO! muito [empo considerou-se que n IC(;Crtol deveria Nola;
ter o ailer (outro) como ••tividade única e cJ<dusiva da direçi.io semdsio!{)gica, Obs["t"\'e:s{''lue se l'xU"aiu rio texto !eX;ll ~lEi~ íL!l'i,.s,no st'l\tido lirt'ral, c.:UITl
confúllllc o brocardo in clm i.1cessai ill1erprctatio. nelllralídade imClpretativa, S(:tn a opinóo ollj(l~Z;imt'ilto do [{'Cf'IHOl.
Sendo ciMa <l mensagem, oasr<tria compreendê-la, passando-se: para outras
opemçiics do raciocínio apenas se nebulosu O\l incompleto, lógica e sintal icamclIte, 2. Interpretaçãu
fosse o pensamento do emissor.
o nascimento p importanthsimo fato jurídico, pois a comprovação de que ()
Prevalece hoje o elHendilllclLto hemlenêmico de: que a clareza (~lequisito
recém-nascido respirou, ainda que por segundos, significa quc vivcu, aclquirinno,
cssl'llcial do ato cO!llL1nic<ltivodo emissor, que não complcm (l atividade do re- então, personalidade civil. lJaí o avanço dos exames clínicos na constatação de
ceptor, devendo este último, depois rle comprcendcr,juJgar c ilvaliar a mCllsagem circulação do ar no corpo expelido pelo ventre materno.
do emissor.
Quanto aus direitos do o;lsciluro, animadas s~o as teorias e di~cussõcs nJ
c) a/ler/esu > oUlro/eu (crítica): é a operação do r-lciodllio da crítica. doutrina. Prev,llece o entendimento de pcrsonalidade condicional suspensiva, pois
os direitos só terão repercussão jurídica se houver nascimento com vida, qualldo
Não significa, como Sf' diz vulgarmente, ser a crÍlic<l t'llCOnlrar (hofeilOs na se converterá elO peSSO<-l.Os direitos expectativas dessa vid" em formação são
mensagem do emissor. disciplinados em lei, tais como a doação, o reconhecimento paterno, a ~tlcessilo
Criticar é avaliar a validade/eficácia da idcia no mundo concreto, ava- hereditária, a curatela nas hipóteses legais, alimentos para a subsistência materna,
e, por extensão, do nascituro.
liando sua aplicabilidade e efeitos ::=. dimensão pragmática da !J{;mlcnêulica.
Paulo l.ôbo lembra da possibilidade de a pl'Ssoa pleitear danos morais por
Assim, ninguém interpreta, sem antes compreender. Pode haver a interpreta-
deficiências adquiridas durante sua situação de nascituro, causadas por ação de
ção pura, mas nno a crítica pura, pois criticar pressupõe ter antes inteJpretada a
outrem, particularmente de médicos e hospitais.
mensagem, existindo, porém, a interpretação crítica, na qual as duas operações do
Apesar de o Código Civil de 2002 não admitir expre:>samentc a adoção como
rariucínio siío r~aIiZ<lda.~collcomit,lntemente, na forma, ma.~ com :Hlt{~li(,ridadc
{J fazia {J Código Civil de 1916, {) mesmo jurí:>w opina por essa po.\sibilid:ld,: ,0,;\
ílltC'lplet<Jtiva IliJ forrnlllilçdo do pellsamCltto.
il mesma natureza condicional suspensiva de seus demais direitos em I('i prevIs'
Veja-se exemplo extraído do Código Civil de 2002: tos.
't\rt. 211 A p~rsonalidade civil da pessoa começa do llo'lscim€'n1o
COlO vi{la,lJLas Mais recentemente, ajllrisprudência tem relatado casos de ações processuais
a lei põe a salvo, desde:l (Oncepção, os direitos do nascituro." de investigação de paternidade, tendo o nascitulO legitimidade para n propositura,
representado pela mãe, concedendo-lhe alimentos, que prcservam o estado de
1. Compreensão salÍde da mãe e, ao nascer com vida, o registro civil com sua situação de filiaçio
paterna e direitos dela advindos.
\ Em primeiro lugar, hom " lemhrar que pessoa, em Direito Civil, é o )<Ou.ieito
de .
I
Questão polêmica ocorre na atualidade pelo aumento de fecundação assistida.
..•• direitos e deveres, exercendo, com plenitude, a capacidade ci\'il. Grande pane da doutrina, a respeito do termo concepção, admite o surgimclJto
Em complemento ao sujeito oracional, o legislador refere-se fi pessoa ser
humano, indicando o tempo do surgimento da capacidade de adquiri! direitos e
i do nascituro quando introduzido no ventre matemo. Mas há vozes discordantes.
Basta lembrara Projeto dt: Lei n!l.6.960/2002 que amplia o art. 2ll do Código Civil
de 2002, disciplinando que "a lei põe a salvo os direitos do embrião e do nasci-
./ ,
assumir obrigações: o ncl.~Clmefltocom vida. São precisos, pois, sinai.~vitais para que
o ser humano seja considerado pessoa, física ou natural, com personalidade civil.
A seguir, o Icgis1;l(lor coloca idcia restritiva à anterior, tfazeorlo r:on.~igo pos-
I IUro", entendendo que aquele ainda não foi introduzido no ventre materno, miJS
deve ser protegido pela lei, o que deve ser aceito, pois, antes de tudo, protege-se
a vida humana .
'\:.: '-sihilidade contrári<l àquela exigência, enunciando que a lei põe a salvo m direitos
, do nascituro. I Nota:
Na 1I1/('I/!'-('l(içâv, {) receptor pode ;ln'pliar SU,l Clll,tlililli.,:ão, opinCllldo e 1.7.3 Estrutura do discul'sO comunicativo
5Crmirjollilndl) pi'rante a mensagem do cmissor.
Conforme foi visto, tanto na direç,'io onomasiológic<l quanto na selilasiológicil
p.xist(,nl relações paradigmáticas c sillwgrniÍticas.
3. Crítica
I (1 f:lllissor n~alií'.;l as relaçôes paradigmálicas, em primeiro plano, P., a M~gl1i:,
o art. 2 do Código Civil de 2002 tem como escupo completar o dispositivo
Q t, l;'H.1bekcc relaçücs sillt,lgm(ílica.~.
[ ~j) (~f{'Ct.'P10l:, po;' :~na vez, P:Htc das
allterior que reconheceu a todo ser humano capacidade dvilno tocante a direitos
e deveres, sendo revestido de pt"rsonali(!<Hlf: civil pela lei.
1I<í,porém, questão de suma importância na aplicação da Parte Espcciãl do
!~ relilí,'oes paradlgmatlcas do emIssor.
relações sintagmátic,ls para ,1lcarll~ar as