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A Ética para os dias de hoje: reflexões e apontamentos

Ao longo do dia, diante de pessoas, coisas e situações, muitas avaliações ou pré-


conceitos são perpetrados constantemente. Desde que o mundo é mundo é assim. O ser
humano vive sob o maniqueísmo das coisas: o bem e o mal, o certo e o errado, e o que
diferencia cada um tem a ver com a boa índole refletida na boa conduta frente à sociedade,
regida por regras de bem viver que precisam ser respeitadas. Não deve ser confundida com as
leis, mas está relacionada com o sentimento de justiça social. Princípios ou valores morais,
como a ética são peças chave para a harmonização dos grupos, a fim de que haja um
equilíbrio e bom funcionamento social, possibilitando que ninguém saia prejudicado. Pelo
menos é o que diz a teoria. Nesse sentido, ética é um tema recorrente, pois, está atrelada à
vida, ao cotidiano do Homem.
Nos dias de hoje, muitos citam a palavra “ética”, mas, quando perguntados, não
conseguem explicá-la nem defini-la. Por isso, o objetivo deste texto é abordar o conceito
de ética de modo a tornar mais claro seu entendimento a partir de uma reflexão sobre a mesma
nos dias atuais. Em um primeiro momento a ética nos remete a norma, liberdade e
responsabilidade. Falar em ética significa falar de liberdade, pois não há sentido falar de norma
ou de responsabilidade se não partimos da suposição de que o ser humano é realmente livre
para agir, ou pode sê-lo.
A norma nos diz como devemos agir. E, se devemos agir de tal modo, é porque
também podemos não agir deste modo. Isto é, se devemos obedecer, é porque podemos
desobedecer ou somos capazes de desobedecer à norma. Também não haveria sentido falar
de responsabilidade, se o condicionamento ou o determinismo fosse tão completo a ponto de
considerar a resposta como mecânica ou automática.
Por outro lado se afirmarmos que o determinismo é total, não há o que falar de Ética;
pois a Ética refere-se às ações humanas, e, se elas são totalmente determinadas de fora para
dentro, não há espaço para a liberdade, como autodeterminação e, consequentemente, não há
espaço para a Ética.
Para falar sobre um dos ramos da filosofia dedicado aos assuntos morais que norteiam
um meio social, é necessário refletir sobre os dilemas da conduta dos indivíduos, na
contemporaneidade, em todos os âmbitos sociais, a começar na família, na escola, no trabalho
e assim sucessivamente. Pensar nos descaminhos dos seres humanos, refletidos na violência,
na exclusão, no egoísmo e na indiferença pela sorte do semelhante e até mesmo da
sociedade.
Na atualidade a ética abrange uma vasta área, podendo estar relacionada com temas
ligados ao ambiente familiar, escolar, profissional, econômico, social e político. Existem códigos
de ética profissional que indicam como o indivíduo deve se comportar no âmbito da sua
profissão. Nos dias atuais com um mundo cada vez mais globalizado e competitivo, as pessoas
preocupam-se com a ética nos seus negócios mostrando-se cada vez mais eficazes para
competir com sucesso e obter resultados positivos.
Um outro exemplo a ser citado é na arena política onde a sociedade tem exigido cada
vez mais a moralidade de seus agentes e representantes e cada vez mais “condenando” as
ações que saqueiam os cofres públicos tirando do povo o recurso que deveria ser empregados
na prestação de serviços à população (educação, saúde, segurança, infraestrutura).
Na arena política vale destacar a importância que os conceitos de democracia e direitos
humanos assumiram que são também, simultaneamente, de caráter moral: como por exemplo,
a partir da discussão em torno dos conceitos de liberdade, igualdade e justiça social. Mas o
que é certo, o que é errado? Existe uma série de discussões políticas relativas aos direitos de
grupos sociais as quais devem ser percebidas como questões morais: a questão do aborto, por
exemplo, que ocasiona grande polêmica quando posto em pauta, os direitos dos deficientes, a
eutanásia, entre outras questões. São temas complexos que perpassaram o tempo e hoje
resultam em discussões que esbarram no senso ético para a resolução de cada situação em
seu tempo.
Diretamente relacionada ao aspecto político, a ética nos remete também à noção de
cidadania e a vida em comunidade com o objetivo da realização das pessoas. A ética na
cidadania busca refletir sobre o comportamento humano sob o ponto de vista das noções de
bem e de mal, de justo e injusto, abrangendo as normas morais e as normas jurídicas; a ética
na cidadania busca um meio em que as pessoas possam interagir na sociedade obedecendo
tais leis morais para um bom desempenho da comunidade humana.
Crise moral da humanidade
Se nós partirmos do princípio de que ninguém nasce com preceitos morais
internalizados, temos que admitir que é pela educação que o indivíduo tem a chance de
construir sua personalidade moral E em uma sociedade competitiva e individualista como a que
vivemos, pode parecer utopia aspirar por valores como a justiça, baseados na reciprocidade e
no compromisso pessoal. Assistimos todos os dias ao retrato de um país que esqueceu esse
“princípio da vida”. Nem é preciso dizer quem mais sofre com esse descompromisso. Nesse
descompasso, patologias sociais como as desigualdades e a corrupção se proliferam ficando
cada vez mais aguçando a crise dos valores morais e sociais. E isso atinge a humanidade, de
modo geral.
A ética supõe-se a necessidade da reflexão sobre valores sociais em meio à crise
estabelecida reduzida ao individualismo e à competitividade, por isso, se torna necessário,
mais do que nunca, uma preocupação com o social. Sim, porque a crise da Humanidade é uma
crise moral. Evidencia-se aqui, a falta de ética nos vários âmbitos. A discussão sobre a justiça
social é também uma discussão moral, admitindo que os valores das ações sociais estejam
deturpados devido à lógica do sistema vigente. Bem e mal, certo e errado, justo e injusto
cederam lugar ao sentimento de sobrevivência, do “salva-se quem puder” ou do interesse
pessoal e particular numa sociedade exploradora, que mascara a liberdade, condição
fundamental para a realização de ações morais.
Ademais, vivemos em uma sociedade globalizada, onde o mundo se tornou uma
grande aldeia global. Em época alguma se atingiu um nível de inter-relacionamento que nos
permitisse falar em um mercado mundial que determina a produção, a distribuição e o consumo
de bens, e em uma cultura da virtualidade real, que liga todos os pontos do globo e influencia
comportamentos. E em meio a esse processo fala-se ainda de uma “ética do mercado”.
Em meio a todos estes aspectos sociais e globais, faz-se necessário que cada ser
humano esteja consciente de que não bastam as reflexões, é preciso mudar conceitos, ter
condutas condizentes com o que harmoniza a sociedade em todos os seus segmentos. Não se
pode desconsiderar que, tanto no âmbito das relações humanas, quanto no político,
econômico, enfim, social, constantemente são feitos julgamentos de forma moral. Basta
observar que um grande espaço nas discussões entre amigos, na família ou no trabalho
abrange aqueles sentimentos que pressupõem juízos morais: indignação, rancor, sentimento
de culpa e vergonha. Também no domínio político julga-se moralmente de forma contínua, e
valeria a pena considerar que aparência teria uma disputa política não conduzida pelo menos
por categorias morais.
Contudo, não há receitas para o agir bem: o compromisso consigo, com os outros, com
as novas gerações exige um estado de alerta constante. Viver sob os moldes da moral não é
tarefa simples nem fácil, mas há a possibilidade de participar de um mundo moral. E o que
podemos tirar de lição é que os problemas éticos presenciados na atualidade não vão se
resolver apenas por tentativas isoladas de educação ou instrução ética dos indivíduos. É
preciso vontade individual e política de alterar as condições sociais geradores das mazelas
sociais como a violência, a corrupção, a exploração, vicissitudes dos que estão à margem da
sociedade. Em outras palavras: não basta “reformar o indivíduo” para “reformar a sociedade”; é
preciso reformar a ambos. Um projeto moral desligado de um projeto político sucumbiria ao
fracasso. Os dois processos caminham juntos, pois formar o ser humano plenamente moral,
ético, só é possível na sociedade que também se esforça para ser justa e democrática, com
direitos igualitários a todos, sem exceção.
E sendo a ética a ciência que estuda o comportamento humano (como o entedia o
filósofo grego Aristóteles) com ênfase tantos nos valores individuais como nos valores do
indivíduo perante a comunidade a qual pertence, faz-se mister exigir de cada um e da
sociedade seriedade e dignidade nos seus atos sejam eles políticos, sociais, culturais,
religiosos ou morais. É sempre importante fazer uma análise de como a ética se faz presente
em nossa vida, nos dias atuais, pois se observa que certos valores que cada indivíduo assimila
no decorrer de sua formação como pessoa, muitas vezes adquiridos em sua família, escola,
enfim, tais valores procuram nos guiar através de nossas escolhas, entre o certo e o errado, o
bem e o mal, possuímos uma liberdade de escolha que nos faz mais responsáveis por nossas
ações e que vem a nos incentivar a colocar em prática nosso respeito e dignidade, levando em
conta o bem comum de todos a nossa volta.
Texto publicado com a colaboração de
Iviane de Melo Pena, Thamia Leal de Oliveira e Juliana Beltrão da Silva (Acadêmicas de Serviço Social da UFAM)
Postado em abr. 2016
https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/lei-da-ficha-limpa/

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