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AO DOUTO JUIZO DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE

NATAL/RN

Processo n: XXXXX

Caio, já qualificado nos autos em epígrafe, por seu advogado infra-assinado,


com procuração em anexo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, interpor RECURSO DE APELAÇÃO, com base no art. 593, I, do
Código de Processo Penal, requerendo seja recebido o presente recurso com
o devido processamento, já com as razões inclusas, remetendo-se os autos ao
Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte.

Nestes termos,
Pede deferimento,
Natal/RN
Advogado: XXXXXXXXXXXX
OAB: XXXX/XX

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

APELANTE: Caio
APELADO: Ministério Público

Processo n: XXXXXXXXXXXX

RAZÕES DE RECURSO DE APELAÇÃO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO


COLENDA CÂMARA

I- DOS FATOS

Caio, no carnaval de 2015, à época com 20 anos de idade, entrou na casa de


Joana enquanto ela estava sozinha, pois sua família havia viajado para passar
o feriado fora, e mediante grave ameaça obrigou Joana praticar com
ele conjunção carnal e outros atos libidinosos diversos, exigindo à vítima
que não contasse sobre o ocorrido para qualquer pessoa.

No entanto, Joana contou para a sua mãe e ambas foram a delegacia e ela
ofertou representação. Caio, então, foi denunciado como incurso nas penas do
art. 213 do Código Penal, por duas vezes, na forma do art. 71, também do
Código Penal. 

Durante a instrução o apelante confessou o delito praticado. Foi, ainda, juntado


laudo de exame de conjunção carnal confirmando a prática de ato sexual
violento recente com Joana e a Folha de Antecedentes Criminais do acusado,
que indicava a existência de duas condenações, embora nenhuma delas com
trânsito em julgado.

Em alegações finais, o Ministério Público postulou pela procedência da


denúncia em todos os seus termos, e a defesa requereu a aplicação da pena
em seu mínimo legal. 

No dia 25.06.2015 o magistrado proferiu condenatória, condenando Caio à


pena privativa de liberdade de 10 anos e 06 meses de reclusão, a ser cumprida
em regime inicial fechado. Na sentença, para cada crime,  o magistrado
aumentou a pena-base em seis meses pelo fato de Caio possuir maus
antecedentes, já que ostenta em sua FAC duas condenações pela prática de
crimes, e mais 06 meses pelo fato de o acusado ter desrespeitado a liberdade
sexual da mulher, restando a sanção penal da primeira fase em 07 anos de
reclusão, para cada um dos delitos.

Na segunda fase da dosimetria, o magistrado não reconheceu nenhuma


atenuante, e alegou que o réu era maior de 21 anos de idade na época da
sentença, o que não incidiria a atenuante prevista no art. 65, inciso I, do Código
Penal. 

Ao analisar o concurso de crimes, o magistrado considerou a pena de um dos


delitos, já que eram iguais, e aumentou de 1/2 (metade), na forma do art. 71 do
Código Penal, justificando o acréscimo no fato de ambos os crimes praticados
serem extremamente graves. 

Por fim, o regime inicial para o cumprimento da pena foi o fechado, justificando
que, independente da pena aplicada, este seria o regime obrigatório, nos
termos do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90.

II- DO DIREITO

a) Do mérito

a.1) Do crime único

Narram os autos que o apelante praticou com a vítima conjunção carnal e


outros atos libidinosos diversos. Apesar da prática da conjunção carnal e outros
atos libidinosos, tal conduta não se configura dois crimes de estupro. O
apelante cometera um único crime, pois nos termos do art. 213 do Código
Penal, o agente que tem conjunção carnal ou pratica outro ato libidinoso ao
constranger alguém mediante violência ou grave ameaça, pratica estupro. 

No entanto, contrariando a lei, o magistrado condenou o réu por dois crimes de


estupro, na forma do art. 71 do Código Penal. 
Logo, requer não seja reconhecido o concurso de crimes, e seja aplicado o art.
213 do Código Penal uma única vez. 

a.2) Dos maus antecedentes

Nobres julgadores, o magistrado, além de aplicar o concurso de crimes,


agravou a pena-base de cada crime em 06 meses, com a alegação que Caio
possui maus antecedentes, haja vista a sua folha de antecedentes criminais. 

No entanto, a folha de antecedentes criminais indica duas condenações sem


sentença transitada em julgado, e nos termos da súmula 444 do Superior
Tribunal de Justiça, é vedada a utilização de ações penais em curso para
gravar a pena-base.  

Requer, com base na súmula 444 do Superior Tribunal de Justiça, seja


afastada a utilização de maus antecedentes como motivo para agravamento de
pena, sendo aplicado, por conseguinte, a pena mínima. 

a.3) Da elementar do crime de estupro

O magistrado agravou a pena do delito em 06 meses com o argumento de que


o réu havia desrespeitado a liberdade da mulher, no entanto, as penas do tipo
penal do art. 213, da Carta Repressiva, já é penalidade pela conduta de
estupro praticada. Assim, o agravamento da pena com o argumento de
desrespeito a liberdade da mulher configura bis in idem. 

Logo, requer o afastamento do agravamento da pena sob o argumento do


desrespeito da liberdade da mulher. 

a.4) Da confissão

Na segunda fase da dosimetria o magistrado não reconheceu nenhuma


atenuante. No entanto, consta dos autos que o réu confessou o delito
praticado, sendo imperioso o reconhecimento da atenuante prevista no art. 65,
inciso III, d, do Código Penal. 

Logo, requer seja aplicada a atenuante da confissão espontânea. 

a.5) Da menoridade relativa

Na segunda fase da dosimetria, o magistrado também não reconheceu a


atenuante da menoridade relativa, sob o argumento que à época da sentença o
réu era maior que 21 anos. No entanto, nos termos do art. 65, inciso I, do
Código Penal, SEMPRE atenuará a pena se o agente era à época dos fatos
menor de 21 anos. 

Logo, requer seja aplicada a atenuante da menoridade relativa. 

a.6) Do regime inicial do cumprimento de pena


Se os nobre julgadores aplicarem a pena mínima ao delito único de estupro
praticado pelo apelante, com o afastamento dos agravamentos da pena e a
aplicação das atenuantes arguidas, a pena aplicada será de 06 anos de
reclusão, pois é a mínima prevista para o crime de estupro. 

Ainda que tal crime seja considerado como hediondo, o regime inicial de
cumprimento de pena, nos termos do art. 33, §2º, b, do Código Penal, deve ser
o semi-aberto, pois reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal a
inconstitucionalidade do §1º, do art. 2º, da Lei 8.072/90. 

Além disso, tem-se o disposto na súmula 440 do Superior Tribunal de Justiça,


que aduz que 'fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o
estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão
da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito'. 

Logo, requer seja estabelecido o regime inicial de cumprimento de pena o


semi-aberto. 

a.7) Da subsidiariedade

Em rara hipótese dos nobres julgadores não reconhecerem que a conduta do


réu não configura crime único, e resolva aplicar a incidência do art. 71, do
Código Penal, reconhecendo o crime continuado, que apliquem pena mínima
aos delitos, com o aumento de pena previsto no referido artigo em sua fração
mínima, qual seja, um sexto. Isto porque é pacificado na doutrina e
jurisprudência que a fração a ser aplicada deve ser pela quantidade de crimes
cometidos e não algum outro critério em abstrato. 

III- DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer seja REFORMADA a sentença do juiz de 1º grau, com o


consequente PROVIMENTO deste recurso, a fim de que: 

a) Requer-se que não seja reconhecido o concurso de crimes, e seja aplicado o


art. 213 do Código Penal uma única vez. 

b) Requer-se que seja afastada a utilização de maus antecedentes como


motivo para agravamento de pena, sendo aplicado, por conseguinte, a pena
mínima. 

c) Requer-se que afaste o agravamento da pena sob o argumento do


desrespeito da liberdade da mulher. 

d) Requer-se que seja aplicada a atenuante da confissão espontânea. 

e) Requer-se que seja aplicada a atenuante da menoridade relativa. 

f) Requer-se que seja estabelecido o regime inicial de cumprimento de pena o


semiaberto.

Subsidiariamente, em caso de reconhecimento de crime continuado, requer:

g) o aumento da pena de um dos crimes na sua fração mínima de um sexto. 

Natal/RN 13/07/2015

Advogado:XXXXXXXXXX
OAB:XXX/XX

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