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3- A gramática comparada

A época das Gramáticas Comparadas é considerada um importante momento na constituição


da Lingüística enquanto ciência. Surge no século XIX, século com movimentos e perspectivas
bem diferentes dos que aconteceram no século XVII, quando as Gramáticas Gerais surgiram.
Enquanto para os pensadores desta época o que importava era o ideal universal, para aqueles
o que importava era que as línguas se transformam com o tempo (cf. Orlandi, op. cit.). A
preocupação maior era com o aspecto diacrônico das línguas, e com a questão de que elas
evoluem. Não interessava mais o funcionamento da língua (cf. Carvalho, 1997).

Embora só tenha “explodido” no século XIX, a Gramática Comparada teve amplo


desenvolvimento a partir do século XVII. Todavia estes estudos históricos comparados se
orientavam pela vaga ideológica da unidade universal das línguas, fosse por razões bíblicas,
fosse pela crença, - não de todo sem fundamento, - de uma gramática universal, ou mesmo do
pensamento estóico da existência de étimos naturais. Buscou-se encontrar classes de línguas,
ou famílias de línguas, que no decurso das derivações seculares, teriam vindo de unidades
anteriores, e estas de novo de unidades mais remotas.

No século XVIII, Leibniz e Catarina a Grande da Rússia prosseguiram mais detalhadamente o


trabalho de comparação das línguas, visando mostrar uma unidade geral. Catarina a Grande
patrocinou a publicação (1787-1789) de um trabalho do naturalista alemão Peter Simon Pallas
(1741-1811), intitulado Vocabulários Comparativos das Línguas do Mundo Inteiro (Linguarum
Totius Orbis Vocabularia Comparativa). A listagem compara os termos de 51 línguas e dialetos
europeus, com 200 idiomas asiáticos. Pouco antes Lorenzo Hervas e o jesuíta espanhol
Panduro publicaram, de 1778 a 1787, um enciclopédia de 20 tomos - Idea dell'universo - em
que o 17-o trata das "afinidades e diversidades" entre as línguas, comparando 300 línguas,
européias, asiáticas, ameríndias. Declara-se que as afinidades são gramaticais e não lexicais,
o que antecipa conceitos básicos sobre o quais se desenvolveu depois a Lingüística. De 1806 a
1817 são publicadas em Berlim as Mithridades de Johan C. Adelung (1732-1806), com mais de
500 línguas comparadas (cf. Robins, op. cit.).

Na época das Gramáticas Comparadas, o estudo da língua consistia em compará-las para


deduzir princípios gerais de evolução histórica das suas unidades lexicais, gramaticais e
sonoras. Surge entre 1786 e 1816, mostrando as relações de parentesco genético do latim, do
grego, das línguas germânicas, eslavas e célticas com aquelas faladas na antiga Índia (cf.
Carvalho, op. cit.).

A figura mais expressiva da época é a do alemão Franz Bopp (1791-1867). Ele é considerado o
fundador da lingüística comparativa. Seu livro sobre o sistema de conjugação do Sânscrito
abriu novas perspectivas lingüísticas. Segundo Câmara Jr. (op. cit.), Bopp publicou este livro
quando estudava em Paris dedicando-se ao estudo das línguas orientais. Logo concentrou sua
atenção no Sânscrito. Foi, assim, um filólogo do Sânscrito e seu pequeno livro sobre o estudo
comparado dos verbos compreende uma série de traduções do Sânscrito.

Ao tempo de Bopp, a questão da arbitrariedade e da motivação ainda se arrastava. Como,


segundo Benveniste, "a Lingüística nasceu da filosofia grega" (cf. Domingues, 1991), essa
grande questão remonta àqueles tempos clássicos com a discordância entre Platão (linguagem
natural) e os estóicos (linguagem convencional). Uma coisa é certa, nesses momentos iniciais
de estruturação da gramática, seus princípios levavam-na a mais pensar que falar. Essa ênfase
essencialista dominou a gramática até o aparecimento das idéias de Bopp.

Foi então que Bopp preferiu o fenômeno à essência, procurando estudar a língua por si
mesma, através da sua fala. Para conseguir seu intento, ele começou por comparar diversas
línguas tradicionais, procurando descobrir seus pontos de intersecção e suas estruturas mais
remotas. Para isso, o privilégio anterior dos estudos gramaticais, que recaíam sobre o
significado, passou a priorizar o significante e aos poucos a filosofia da escritura foi se
ampliando em lingüística da fala, inaugurando-se assim, com Bopp, uma nova idade na
arqueologia lingüística, a idade da história de que nos fala Benveniste (cf. Domingues: 1991). A
gramática passa a se preocupar mais com o signo, as flexões, as raízes etc.

Na esteira do pensamento de Rousseau, Bopp procurou, em línguas mais antigas, nas suas
fontes mais primitivas, as raízes e pontos de intersecção que clareassem a origem dos falares.
Foi assim que surgiu sua Gramática Comparada, comprovando a solidariedade do sistema
lingüístico indo-europeu. Através desse estudo, Bopp concluiu que o Sânscrito, entre as línguas
comparadas, é a que mais se faz presente no conjunto geral, muito mais que o Latim, o Grego
e o Hebraico. A língua sagrada dos hindus é uma espécie de irmã mais velha de todo o sistema
lingüístico estudado na Gramática Comparada.

Entre as conclusões a que Bopp chegou na sua Gramática Comparada, uma delas é que há
três tipos de línguas, relativamente às flexões e afixões. Primeiramente uma língua pode ser
justapositiva, quando agrega os afixos à raiz, como é o caso do Chinês e do Basco. Depois
pode ser flexiva quando flexiona internamente, o radical, como no Sânscrito e no Celta. E
finalmente um somatório dos dois casos anteriores, mistura de flexões e afixações, como
ocorre no Árabe. Outra conclusão é de que o estudo de um sistema lingüístico qualquer pode
dar-se em duas direções: ou começa pela palavra (etimologia), ou pela estrutura (sintaxe)
(Domingues, 1991:339), ou seja, ou pela palavra, tendo a raiz como seu elemento irredutível,
ou pelas relações que ela estabelece. Bopp, portanto, se preocupou com o mistério das raízes.

Com Bopp houve também uma preocupação com o verbo "ser". Ao longo dos tempos, diga-se
na Gramática Geral, esse verbo era privilegiado. Não era verbo de mortais. "Ser" era divino.
Para os mortais os verbos eram outros, principalmente "estar", impregnado de transitoriedade.
Os outros verbos tinham que contar com o auxílio do verbo "ser". Assim, antes de Bopp, dizia-
se "ele é cantante", "ele é dançante", para, depois de Bopp, a Lingüística histórica cravar "ele
canta", "ele dança" (cf. Domingues, 1991). O verbo "ser”, desta forma, perdeu seu pedestal
divinizante e nivelou-se aos outros verbos da Gramática, apesar de, em alguns casos, falantes
posteriores tentarem, vez por outra, fazer uso desse verbo com essa conotação essencialista.

O trabalho de Bopp em esboçar uma primeira gramática comparada de línguas indo-européias


como resultado de suas pesquisas durante a estada em paris, de 1812 a 1816, levou-o ao
contato com sanscritistas e orientalistas parisienses que muito contribuíram para sua pesquisa
e para conclusões surpreendentes. Uma delas é de que as flexões são antigas raízes. É por
isso que ele afirma:

se a língua utilizou, com o gênio previdente que lhe é próprio, signos simples para representar
as idéias simples das pessoas, e se nós vemos que as mesmas noções são representadas da
mesma maneira nos verbos e nos pronomes, podemos concluir que a letra tinha na origem
uma significação e que se manteve fiel a esta (Kristeva, 1969: 280).

Há, no entanto, na gramática de Bopp algumas lacunas impreenchidas. Uma delas responde
pela ausência quase total de estudos fonéticos no seu trabalho. A preocupação dele é em torno
de flexões, raízes e etimologias comparativas. E esse seu penhor se faz presente logo no
prefácio da primeira edição da sua Gramaire Comparée des Langues Indoeuropéennes, de
1933, ao afirmar:

proponho-me fornecer nesta obra uma descrição do organismo das diferentes línguas que
estão nomeadas no título, comparar entre si os fatos da mesma natureza, estudar as leis
físicas e mecânicas que regem estes idiomas, e procurar a origem das formas que exprimem
as relações gramaticais. Resta apenas o mistério das raízes... (Kristeva, op. cit.: 282).

Bopp, no entanto, não ficou só por aí, já que em seu outro livro, Sistema de Conjugação do
Sânscrito, em 1816, mesmo se concentrando apenas na língua sagrada dos hindus, ele
apresenta, segundo Foucault (1992) uma série de critérios que caracterizam internamente as
distinções entre as línguas, quais sejam:

proporção entre os diferentes sons utilizados para formar palavras (há línguas de
predominância vocálica e outras de predominância consonântica), privilégio concedido a certas
categorias de palavras (línguas de substantivos concretos, línguas de substantivos abstratos
etc.), maneira de representar as relações (por preposições ou por disciplinações), disposição
escolhida para colocar as palavras em ordem (quer se coloque de início, como os franceses, o
sujeito lógico, quer se dê a primazia às palavras mais importantes, como em latim) (Foucault,
1992:298).

O Sânscrito, ao ser conhecido no Ocidente, foi o ponto de partida dos grandes resultados da
Gramática Comparada. Ofereceu ainda o Sânscrito a vantagem de possuir uma tradição
própria e muito antiga de estudos gramaticais, entrando assim de corpo inteiro na tradição
ocidental. Aliás, Sânscrito quer dizer pura, polida, em oposição a Prácrito (= vulgar, comum),
nome com que se denominam os dialetos ou línguas em que derivou ao longo dos tempos (cf.
Robins, op. cit.).

Panini, nascido cerca do ano 500 a.C., é autor da gramática mais antiga conservada do
Sânscrito e que remonta ao menos ao ano 400 a.C.  Intitulada Doutrina das
Palavras (Sabdanusasana ou Astadhyayi), a gramática, de oito volumes, com quatro mil
aforismos (Sutra), menciona os mestres que o antecederam e que representam uma tradição
de pelo menos 1000 anos a.C. 
Calcula-se que pelos anos 1.500 a.C. os arianos haviam entrado na Índia. Reordenando e
sintetizando sob nova forma doutrinas esparsas dos mestres brâmanes, alguns depois
totalmente perdidos, Panini formulou as regras gerais do Sânscrito.

Também na Índia se levantara cedo a controvérsia entre convencionalistas e naturalistas,


paralela à controvérsia ocidental entre analogistas e anomalistas.  Deu-se também na Índia
mais importância à língua escrita; os textos sagrados induziram naturalmente a isto;
estabelecendo glossários a fim de garantir a interpretação dos textos clássicos. Distinguiram-se
as classes de palavras: distinção entre substantivo e verbo, preposições e particípios. Trataram
os hindus, melhor que os gregos, a fonética, havendo introduzido as noções de raiz, afixo,
flexão, desinência.

    Apesar de haverem os gramáticos hindus precedido os gregos nos estudos da língua,
mantiveram tradição científica autônoma sem influência para fora do seu meio. Foram,
finalmente,  pouco antes de 1.800, descobertos pelos lingüistas do Ocidente, os quais
finalmente estabeleceram uma nova e maior síntese geral, explicativa de todo o contexto das
línguas indo-européias.

Descoberto o Sânscrito pelos lingüistas ocidentais como língua internamente desenvolvida e


estudada, puderam estes lingüistas estabelecer rapidamente uma gramática comparada, com
vistas a uma teoria geral sobre o grupo culturalmente mais importante de idiomas: o indo-
europeu (cf. Robins, op. cit.).

O orientalista britânico William Jones, em 1.786, em discurso na Sociedade Asiática de Calcutá


(Índia), mostrava as semelhanças de forma das línguas clássicas: grego, latim, Sânscrito.
Seguindo o método histórico-comparativo, passaram os lingüistas a reconstruir as raízes indo-
européias, sendo este o primeiro grande resultado da gramática ou filologia comparada, em
que trabalharam, entre outros, os alemães Frederico von Schlegel (1772-1829), Franz Bopp
(1791-1867), Jakob Grimm (1785-1863).

O trabalho de comparação entre línguas vivas, feito pelos gramáticos comparativistas, tinha por
função buscar as regularidades das diferenças entre elas com o propósito de estabelecer um
elemento comum. Os textos, principais documentos dos estágios históricos da língua,
tornaram-se preciosa fonte para o conhecimento de sua evolução. Por conta de nem sempre os
textos poderem ser tidos como autênticos, devido a quaisquer modificações que pudessem ter
sofrido ao longo do tempo, constituiu-se, a partir de então, a crítica textual, atividade a que já
os filósofos de Alexandria tinham se dedicado com o propósito de explicar e proteger da
corrupção textos clássicos da literatura grega (cf. Azeredo, op. cit.).

Com essa comparação, os estudiosos perceberam muitas semelhanças entre as línguas


sânscrita, grega, latina, persa e as línguas germânicas. A essas línguas semelhantes foi dado o
nome de Línguas Indo-Européias.

Os estudiosos dessas línguas, chamados de indo-europeístas, diziam que as semelhanças


nelas encontradas indicavam um grau de parentesco. Poderiam ser consideradas da mesma
família, sendo vistas como transformações naturais de uma mesma língua de origem (o indo-
europeu). Pelo método comparativo, era possível estabelecer a correspondência, sobretudo
gramatical e sonora. Dessa forma, o alvo visado não era mais a língua ideal, mas a proto-
língua (cf. Orlandi, op. cit.).

Jacob Grimm, contemporâneo de Bopp, avançou um pouco mais no estabelecimento do estudo


histórico da linguagem, atendo-se às línguas germânicas da família descoberta por Bopp (cf.
Câmara Jr. op. cit.). Grimm, em seu primeiro livro, tratava dos poetas medievais do alto-
alemão, da maneira que Augusto Schlegel tratara dos poetas medievais do sul da França.
Pouco a pouco, embrenhou-se no estudo da linguagem e seu novo interesse era evidente na
revisão que fez da gramática islandesa de Rask. Por fim, tomou a si a tarefa de escrever uma
gramática comparada das línguas germânicas que haviam tido um tratamento muito superficial
na gramática comparada de Bopp, a qual abrangia todo o campo das línguas indo-européias.

Orlandi (op. cit.) diz que a grande contribuição das Gramáticas Comparadas foi evidenciar que
as mudanças sofridas pelas línguas são regulares, têm uma direção. Não são caóticas como se
pensava. No século XIX, para mostrar a regularidade das mudanças, alguns gramáticos
históricos, os neogramáticos chegaram a enunciar leis para as mudanças da língua: as leis
fonéticas. Por elas, os estudiosos procuravam explicar a evolução da língua.
Eles construíram uma escrita própria para anotar as formas em sua evolução. Colocaram essas
formas como matrizes para o conjunto de formas existentes nas línguas indo-européias, em
relação à inexistente língua-mãe, o indo-europeu. Dessa forma, puderam identificar e organizar
as formas dessa família de línguas.

Por mais que a codificação dessas regularidades tenha sido o foco de muitas controvérsias,
através delas os gramáticos chegaram a formas cada vez mais remotas das línguas, até
reconstruírem formas supostas da hipotética língua de origem (cf. Orlandi, op. cit.).

Considerações Finais

Neste trabalho, tivemos como objetivo apresentar alguns pressupostos teóricos das
gramáticas Especulativa, de Port-Royal e Comparada. Priorizamos a discussão em torno
da Gramática Especulativa e da Gramática Comparada. Achamos que seria válida essa
prioridade por ser esta gramática, segundo nos informa Carvalho (op. cit., 1997), grande
contribuídora para os fundamentos da Lingüística enquanto ciência autônoma, já que Saussure
recebeu toda sua formação acadêmica na época em que o Comparativismo Indo-europeu
dominava os estudos lingüísticos, e por ser aquela a precursora da Gramática de Port-Royal.

Dessa forma, quisemos mostrar a importância da Gramática Especulativa, considerada a


primeira gramática geral feita no mundo, segundo Dom Filipe Robles Dégano, citado por Farré
(op. cit.). Tomás viveu em Erfurt antes de 1350. Era reitor e maestro em artes e dirigia uma
escola de gramática e lógica. A Gramática Especulativa foi escrita na época da escolástica
quando os nominalistas, discutindo o problema dos universais, reagiram contra a metafísica
que negligenciava o sensível e o real. A Gramática especulativa, portanto, responde às
tendências filosóficas da época, sendo uma das conquistas do nominalismo para a filosofia, a
rejeição da idéia de que a filosofia era serva da teologia.

Nessa Gramática, há influência de Aristóteles, Porfírio e Elio Donato. Aristóteles figura como


sendo um gramático e lógico. Erfurt, baseando-se na obra de Aristóteles “Da Inter pretação”,
conserva as definições clássicas sobre substância acidentes. Para Erfurt, segundo Farré (op.
cit.),

a gramática é a arte que expressa uma aspiração dos objetos racionalmente. O substantivo,
adjetivo, verbo, advérbio não são palavras mais ou menos adequadas para compreendermos:
elas indicam uma determinada apreciação dos objetos. A linguagem é uma estrutura perfeita
que organiza as categorias gramaticais para a compreensão entre os seres humanos. Por isso,
toda gramática se reduz a modos de significar (p.13).
A Gramática Comparada constituiu-se no século XIX, a partir dos trabalhos de Franz Bopp.
Caracterizou-se pela utilização do método comparativo, que consiste em comparar formas
semelhantes de línguas consideradas como sendo da mesma família de línguas. A Lingüística
Comparada, também chamada de Gramática Comparada ou Comparativa, tem como objetivo
estabelecer correspondências entre línguas para poder estabelecer suas relações de
parentesco. Por exemplo, pelo estudo comparado do grego, latim e sânscrito, pode-se chegar à
reconstituição do indo-europeu e assim se estabelece que estas três línguas são aparentadas e
derivam do indo-europeu.

Saussure não poderia ter ficado imune à atmosfera científica que acontecia na época da
Gramática Comparada. Ele viveu em Leipzig e em Berlim, onde manteve contato com os
expoentes da Lingüística Comparatista, dos quais acabou recebendo sólido embasamento e
decisiva influência.

O trabalho da Gramática Comparada foi, sem dúvida, importante. Seu fundador, Franz Bopp,
inovou ao dar as vogais um papel mais importante na linguagem, pois ao valorizar a fala, o lado
sonoro dessa linguagem foi privilegiado, enquanto antes, para a Gramática Geral, a linguagem
nascia quando a letra era reproduzida com o ruído da boca. Ruído é consoante. E ao ser
articulada essa consoante, necessita ela da ajuda do som vocálico. Mesmo uma língua
consonantal como o hebraico, na escrita, ao ser articulada, ela adquire sonorizações, o que
corresponde a sons vocálicos. Foi isso que Bopp constatou que na maior parte das línguas, as
raízes trazem no mínimo uma consoante ao lado de uma vogal, essa vogal podendo ser inicial
ou terminal (cf. Lyons, 1979). Assim, o estudo das raízes das palavras atrelado à análise das
flexões e das derivações fez com que a etimologia deixasse de ser um procedimento
regressivo em direção a uma língua primitiva (Foucault, 1992:304) ou ao primitivo dessa língua
para ser o estudo da diacronia lingüística onde se inclui a sua própria evolução.

Apesar de Saussure ter aparecido no momento em que a Gramática Comparada estava no


auge, o mestre suíço acabou abandonando o estudo histórico-comparativista, conferindo
prioridade à pesquisa descritiva (sincrônica). Até então, todos os lingüistas da escola
comparativista faziam apenas diacronia. Segundo Carvalho (op. cit.), essa diacronia chegava a
ser exagerada, porque era manipulada como um fim em si mesma, ignorando os estudos
sincrônicos.

É o próprio Saussure, no Curso de Lingüística Geral, quem diz que o método


exclusivamente comparativo acarretava todo um conjunto de conceitos errôneos, que não
corresponderiam a nada na realidade, e que seriam estranhos às verdadeiras condições de
toda linguagem. Para os comparativistas, a língua seria uma esfera à parte, um quarto reino na
natureza (cf. Saussure, 1988).
Apesar disso, podemos associar Saussure a Bopp na valorização que ambos deram ao
significante. No seu Curso de Lingüística Geral, de 1916, Saussure revela a sua preocupação
de determinar o valor da Lingüística e de distinguí-la de todas as outras ciências (Cardoso,
1997:66). Começa tratando a língua como sistema e objeto do discurso da Lingüística,
procurando encontrar seu lugar entre os fatos humanos. Saussure procura filiar a Lingüística à
ciência geral dos signos, à Semiologia, colocando-a como parte dessa ciência.

Graças aos neogramáticos, não se viu mais a língua como um organismo que se desenvolve
por si, mas um produto do espírito coletivo dos grupos lingüísticos. Ao mesmo tempo,
compreendeu-se o quanto eram errôneas e insuficientes as idéias da Filologia e da Gramática
Comparada. De acordo com Saussure (op. cit.), por maiores que sejam os serviços prestados
pela escola comparativista, não se pode dizer que ela tenha esclarecido a totalidade da
questão das línguas. Para Saussure, os problemas fundamentais da Lingüística Geral não
foram solucionados. O mestre dizia que ela aguardava uma solução.

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