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DISTÚRBIOS CIRCULATÓRIOS

O sistema circulatório é responsável por funções importantes para a


manutenção da saúde e da vida de nossos tecidos:

Bombeamento – o coração é um músculo, de contração forte,


ritmada e involuntária que impulsiona o sangue pelos vasos sangüíneos
Oxigenação e nutrição dos tecidos pelo sangue, que conduz as
hemácias, que contém hemoglobina (molécula que transporta oxigênio)
Distribuição dos hormônios: substâncias químicas que são
produzidas pelas glândulas endócrinas e lançadas na corrente
sangüínea e que promoverão efeitos nos tecidos-alvos
Transporte de refugos do metabolismo – excreção dos tecidos
Termorregulação e equilíbrio hídrico
Transporte de células de defesa (leucócitos ou glóbulos brancos)

No corpo humano, os fluidos circulam por três compartimentos:


INTRACELULAR (dentro e fora das células)
INTERSTICIAL (dentro e fora dos tecidos)
INTRAVASCULAR (dentro e fora dos vasos)

Esta circulação mantém-se em equilíbrio (ou homeostase) e, quando


há desequilíbrio podem se instalar distúrbios circulatórios, presentes em
doença cardiovasculares. Os distúrbios circulatórios que estudaremos
serão os seguintes: edema; hiperemia; hemorragia; choque; trombose;
embolia; isquemia e infarto.

intracelular

homeostase

intersticial intravascular

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Entendendo os distúrbios circulatórios aqui apresentados, você
obterá “ferramentas” para entender as doenças cardiovasculares em
geral.

1. EDEMA
Conceito
Acúmulo de líquido no tecido intercelular (intersticial),
nos espaços ou nas cavidades do corpo.

Entendendo a circulação normal dos fluidos...


Qualquer desequilíbrio na troca normal de fluidos entre vasos e
tecidos pode causar edema. Essa troca normal de fluidos, por sua
vez, depende de quatro fatores principais:

1. Pressão hidrostática dentro dos vasos sangüíneos e espaço


tissular.

2. Drenagem linfática, que regula a quantidade e a qualidade de


líquido tissular.

3. Quantidade de colóides (proteínas) no sangue, conferindo ao


plasma sangüíneo uma pressão osmótica maior do que a pressão
osmótica do líquido tissular, fazendo com que o fluido retorne
para dentro do vaso na extremidade venosa, dentro do processo
de circulação normal.

4. Permeabilidade do endotélio capilar, que interfere no


extravasamento do plasma sangüíneo para os espaços tissulares.

Uma falha qualquer no equilíbrio destes quatro fatores provocará


também um desequilíbrio no volume e na circulação do líquido
tissular.

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Quais situações podem causar edema ?

1) Aumento da pressão hidrostática dentro dos vasos sangüíneos

Se o líquido dentro vaso sangüíneo empurra as paredes desse vaso


com força maior (maior pressão hidrostática), poderá ocorrer maior
extravasamento desse fluido para o espaço tecidual. Uma vez dentro do
tecido, o líquido fica ali retido, pois a força hidrostática maior dentro o
vaso impede que o líquido retorne para a luz do mesmo.

Sabe em que situação esse processo ocorre?

Em pessoas com aterosclerose ...

a a a

Observe da esquerda para a direita o desenvolvimento do


ateroma (a), causando redução da luz da artéria e perda a
elasticidade natural do vaso. Essa situação provoca aumento
da pressão hidrostática dentro da artéria.

ATEROSCLEROSE é uma doença


causada pela deposição de
ATEROMAS na camada íntima das
artérias. Ateromas são placas de
gordura. Acredita-se que sejam
muitas as causas para que ateromas
se formem em um indivíduo, incluindo
a hereditariedade, dieta, o tabagismo,
sedentarismo entre outros.

2) Obstrução da circulação nos vasos linfáticos e veias

Se há redução do volume de saída de fluido dos tecidos, ou seja, da


drenagem desse líquido, pode ocorrer retenção do mesmo nos tecidos
(edema). Para uma circulação adequada, deve haver equilíbrio entre o
volume de líquido que chega e o que sai de um tecido; se a chegada
está normal, mas a saída é impedida, ocorre retenção.

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A imagem A ilustra o edema pulmonar,
ea
cuja imagem microscópica é vista em B.
Os espaços alveolares (ea) estão
ea preenchidos por restos do líquido do
edema (em rosa).
Fonte:
ea http://www.biovisuals.com/alveolus.html
A B http://pathhsw5m54.ucsf.edu/ctpath/

3) Redução extrema dos colóides sangüíneos

Um exemplo dessa situação são os casos de desnutrição extrema, nos


quais ocorre a formação de um edema característico. Há tão pouca
proteína circulante no sangue, que o plasma se desloca para os tecidos
(onde a pressão osmótica/oncótica é maior) e ali fica retido.

Esse padrão de edema (abdominal) pode ser


visto em um estado de desnutrição profunda
(protéico-calórica) chamado de kwashiorkor.
Imagem disponível em:
http://www.rnw.nl/science/html/fas020910.html

4) Aumento da permeabilidade vascular (endotélio vascular)

Quando um tecido vascularizado é agredido, inicia-se a resposta


inflamatória. Um dos eventos dessa resposta é o aumento do espaço
entre uma célula endotelial e sua vizinha, permitindo a saída das células
de defesa de dentro do vaso para que cheguem ao local agredido
(diapedese leucocitária). Há saída de plasma também pode esses
espaços e retenção do mesmo no espaço tecidual (enquanto a resposta
inflamatória for mantida). Nesse caso, devemos chamar essa retenção de
fluido de edema inflamatório.
.

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O aumento do espaço entre as células
endoteliais permite o extravasamento de
plasma e células para fora do vaso.
Legendas: mast cell: mastócitos
mastócitos; free nerve ending: terminação
nervosa; pain: dor; inflammatory reaction:
resposta inflamatória; pathogens:
patógenos; neutrophil: neutrófilo;
macrophage: macrófago; monocytes:
monócitos; histamine: histamina.

2. HIPEREMIA (CONGESTÃO)

Conceito
Aumento do volume de sangue em uma região por
maior chegada de sangue arterial ou por
diminuição da circulação venosa

1) Hiperemia arterial (ou hiperemia ativa): órgãos e tecido com função


aumentada e inflamação.
Exemplo: a) quando você corre ou faz exercícios físicos, há
necessidade de levar oxigênio à musculatura esquelética dos membros em
atividade. Assim, aumenta o aporte de sangue arterial para suprir a
necessidade do tecido em função. b) um tecido vascularizado que sofre uma
agressão desenvolve uma resposta inflamatória, às custas de eventos
vasculares exsudativos. Assim, é preciso chegar maior volume de sangue ao
local agredido (e de leucócitos), o que ocorre pela vasodilatação arteriolar. É
possível observar em alguns casos, a vermelhidão (eritema ou rubor) de uma
tecido inflamado e isso se deve à hiperemia ativa na área.

2) Hiperemia venosa (ou hiperemia passiva): drenagem venosa insuficiente


devido a doenças primárias ou secundárias na região.
Se o sangue arterial chega de modo normal, mas não há drenagem (saída)
venosa suficiente, ocorre acúmulo ou retenção de líquido no interior dos
vasos sangüíneos. Há uma circulação comprometida.
Exemplo: pessoas com varizes nas pernas podem apresentar congestão
passiva, por falta de drenagem venosa.

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Você sabia?
A imagem ao lado é de uma ESCARA (no
tornozelo), que é uma ulceração causada por
falta de circulação sangüínea adequada
(congestão hipostática). A escara pode ser
uma complicação em pacientes imobilizados
por longo período de tempo e sem cuidados
adequados.

3. TROMBOSE

Fenômeno de formação de trombo intravascular em um indivíduo vivo.

Bem, é lógico que para entender melhor esse conceito, você precisa
saber o que é um trombo:

TROMBO é uma massa formada por


constituintes sangüíneos, aderida à parede
vascular e que se forma durante a vida.

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Como um trombo se forma durante a vida?

Um trombo se forma devido a alterações que geram


desequilíbrio nos mecanismos de coagulação e fibrinolítico.

Mudanças no formato da parede vascular podem causar um


turbilhão no fluxo sanguíneo (como, por exemplo, as placas de ateroma
na ateroesclerose). Células que normalmente são levadas no centro da
corrente sangüínea, são empurradas para as paredes do vaso
(marginação), ocasionando agregação e adesão de plaquetas no local
(início do trombo). Alterações da composição do sangue, como a redução
da atividade fibrinolítica e aumento da viscosidade do sangue, facilitam a
formação do trombo, assim como a redução da velocidade sangüínea.

O que se iniciou com a agregação plaquetária, evolui com a


deposição de fibrina (malha de fibrina) e incorporação crescente de
outras células circulantes (que se prendem à malha de fibrina). Dessa
forma, um trombo de forma e se desenvolve, aumentando de tamanho e
obstruindo a passagem de sangue.

O organismo pode combater a formação de um trombo?

Sim! Para isso o organismo contam com um sistema fibrinolítico, que


em condições normais, evita que o sangue coagule dentro do sistema
circulatório.
Para relembrar do sistema fibrinolítico, sugiro a leitura
do capítulo sobre distúrbios circulatórios do Livro
Robbins – Patologia Estrutural e Funcional.

Um trombo se formou! E agora?

Um trombo pode crescer e obstruir os vasos sangüíneos, levando à


morte do tecido local por falta de circulação (isquemia e infarto). Um
trombo pode ser “dissolvido” (devido à ação lítica do sistema fibrinolítico
da hemostasia), sofrer deslocamento ou embolização, calcificar-se
(calcificação distrófica) ou organizar-se (é invadido por capilares e
fibroblastos, sofrendo recanalização).

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4. EMBOLIA

Presença de massa estranha circulante no sistema circulatório


(êmbolo), provocando a obstrução parcial ou total da luz do vaso.

ATENÇÃO: 99% dos êmbolos surgem de trombos que se desprendem


da parede vascular
Os êmbolos pode ser: líquidos, sólidos ou gasosos.
Exemplos:
Líquidos – gotas de gordura, líquido amniótico
Sólidos – trombos (tromboembolia), pedaços de ateromas, parasitas e
bactérias, corpos estranhos, restos de tecidos, massas tumorais.
Gasosos – infusão de ar por acidentes em exames ou injeções,
mudança brusca de pressão atmosférica (aviação, mergulho), que leva ao
borbulhamento sangüíneo.

5. ISQUEMIA

Diminuição do afluxo de sangue em uma região.

Quais as causas da isquemia?

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compressão mecânica da artéria/arteríola
doenças vasculares: trombo, êmbolo, ateroma
doenças angioespáticas

Quais as conseqüências da isquemia?

Depende da intensidade da isquemia, do tempo de sua duração e do


tecido afetado. Assim, a chegada de um volume menor de sangue arterial em
um certo tecido pode leva-lo à atrofia (adaptação celular), lesão reversível e
até mesmo irreversível (morte celular).

6. INFARTO
Morte tecidual devido à falência vascular

Se não chega sangue arterial para suprir as necessidades de um


tecido ou se não há drenagem venosa de um tecido, poderá ocorrer morte
tecidual denominada de infarto.

Podemos dividir o infarto em dois tipos:

Infarto Branco (ou anêmico ou isquêmico)


Nesse caso, a morte tecidual ocorre porque não há afluxo de sangue.
Quando a interrupção ao fluxo arterial ocorre em um vaso, as
ramificações desse vaso também não receberão sangue e por isso, o
infarto branco pode assumir um aspecto piramidal (em pirâmide)

Infarto branco em cérebro (corte


transversal). A linha pontilhada
indica o formato piramidal da
lesão.

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Infarto Vermelho (ou hemorrágico)
Aqui, há drenagem venosa insuficiente e/ou o tecido apresenta
circulação acessória (levando sangue ao tecido morto). É interessante
observar que o infarto vermelho ocorre preferencialmente em tecidos ou
órgãos de consistência frouxa, que permitem acúmulo de sangue.

Infarto vermelho em glândula


adrenal com corte transversal,
revelando conteúdo hemorrágico.

Agora é hora de ...


EXERCÍCIOS !

1. Os idosos sofrem quedas e fraturas com freqüência. Qual o distúrbio


circulatório os idosos correm risco de sofrer em decorrência da
fratura óssea? Justifique sua resposta.
2. Cite 5 fatores de risco para infarto do miocárdio.
3. O que significa o termo “insuficiência cardíaca”?
4. Cite os principais mecanismos de coagulação sangüínea.
5. Por que alguns paciente usam comprimidos de ácido acetil salicílico
(AAS, aspirina, melhoral) para prevenir a formação de trombos?
(Qual o efeito dessa droga, que justifica essa indicação?)
6. Qual o conceito de hipertensão arterial ?
7. Uma das principais causas de edema é: A) necrose tecidual; B)
obstrução do fluxo linfático; C) elevação da pressão osmótica; D)
redução da pressão nas vênulas; E) diminuição da permeabilidade
vascular

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