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NAS DIFERENTES
POPULAÇÕES
PROFESSOR
Dr. Luiz Rodrigo Augustemak de Lima
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
2
Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos
com princípios éticos e profissionalismo, não somente entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil.
para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima A rapidez do mundo moderno exige dos educadores
de tudo, para gerar uma conversão integral das soluções inteligentes para as necessidades de todos.
pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: Para continuar relevante, a instituição de educação
intelectual, profissional, emocional e espiritual. precisa ter pelo menos três virtudes: inovação,
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de coragem e compromisso com a qualidade. Por
graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia,
estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor
campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e do ensino presencial e a distância.
Londrina) e em mais de 500 polos de educação a distância Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
espalhados por todos os estados do Brasil e, também, promover a educação de qualidade nas diferentes áreas
no exterior, com dezenas de cursos de graduação e do conhecimento, formando profissionais cidadãos
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros que contribuam para o desenvolvimento de uma
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. sociedade justa e solidária.
Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de Vamos juntos!
boas-vindas
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
iniciando um processo de transformação, pois quando estes materiais têm como principal objetivo “provocar
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
profissional, nos transformamos e, consequentemente, forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
transformamos também a sociedade na qual estamos em busca dos conhecimentos necessários para a sua
inseridos. De que forma o fazemos? Criando formação pessoal e profissional.
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível e construção do conhecimento deve ser apenas
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
se educam juntos, na transformação do mundo”. fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
Os materiais produzidos oferecem linguagem das discussões. Além disso, lembre-se que existe
dialógica e encontram-se integrados à proposta uma equipe de professores e tutores que se encontra
pedagógica, contribuindo no processo educacional, disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
complementando sua formação profissional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
desenvolvendo competências e habilidades, e trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, acadêmica.
autores
84 Epidemiologia do diabetes melito e da hiper- 172 Análise de risco para o exercício físico durante a
tensão arterial gestação
91 Etiologia, fatores de risco e consequências à saúde 175 Prescrição da atividade física e exercícios durante
a gestação e pós-parto
ASPECTOS CONCEITUAIS PARA A
PRESCRIÇÃO DO EXERCÍCIO FÍSICO EM
POPULAÇÕES ESPECIAIS
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Conceitos e Termos
• Benefícios da Atividade Física
• Estratificação de Riscos para a Atividade Física e Exercícios
• Recomendações gerais para a prática da Atividade Física
• Princípios utilizados na prescrição de Exercício Físico
Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer os conceitos e termos utilizados no campo da
atividade e exercício físico.
• Descobrir os benefícios e da prática regular de atividade
física.
• Utilizar ferramentas para a estratificação dos riscos a
atividade física
• Conhecer as recomendações para a prática de atividade
física em crianças, adolescentes, adultos e idosos.
• Utilizar os princípios básicos da prescrição do exercício
para indivíduos saudáveis.
unidade
I
INTRODUÇÃO
D
esde os estudos realizados na década de 50, a atividade físi-
ca habitual tem se mostrado um potencial comportamen-
to, como parte do estilo de vida, que pode impactar positi-
vamente a vida das pessoas. As evidências, desde então, têm
mostrado que a atividade física e o exercício físico podem prevenir o
desenvolvimento de doenças crônicas, particularmente importantes para
pessoas que fazem parte de grupos especiais. Com o avanço da ciência na
área, a atividade física e exercício foram aplicados de forma semelhante
aos medicamentos em populações com doenças crônicas estabelecidas,
esperando uma “resposta” para determinada “dose”, representando um
tratamento não-farmacológico.
Esta unidade irá tratar inicialmente dos conceitos e termos utiliza-
dos na área de prescrição de exercícios físicos para grupos especiais e
com doenças crônicas. Posteriormente serão tratados, resumidamente, os
benefícios da prática regular de atividade física na população em geral. A
unidade seguirá com a análise da estratificação de risco, principalmente
cardiovascular, necessária à qualquer processo de avaliação e prescrição
de exercícios, isto é, ainda mais importante na atividade profissional com
pessoas em grupos especiais e com doenças crônicas. Você conhecerá as
recomendações atuais de atividade física, endossadas pela Organização
Mundial da Saúde, para a toda a população.
A partir destes conhecimentos básicos, poderemos então, apresen-
tar os parâmetros utilizados na prescrição de exercícios físicos para a
população geral. Isto é importante de ser estabelecido no início da nossa
conversa, pois ao conhecer o processo padrão de prescrição, poderemos
avançar às populações com características especiais, focalizando esforços
e atenção necessários à estas pessoas.
Conceitos
e termos
Vamos iniciar esta unidade apresentando as defini- As doenças crônicas incluem doenças do aparelho
ções operacionais sobre conceitos e terminologias circulatório, respiratório, digestivo, nervoso, infecciosas,
geralmente utilizadas na prescrição de atividades endócrinas, metabólicas e neoplasias (BRASIL, 2013),
físicas para pessoas com condições especiais de saú- como é o caso de indivíduos que vivem com obesida-
de. Primeiramente, é importante entender que uma de, hipertensão, diabetes e/ou dislipidemias. Os grupos
condição especial de saúde é toda e qualquer con- especiais podem não ter limitações presentes, mas pos-
dição que requer orientações e cuidados especiais suem características físicas, fisiológicas e de capacidade
para o planejamento e execução da atividade física, funcional variáveis em função do ciclo da vida, como
exercício físico e esporte. Nesses aspectos podemos gestantes, crianças, idosos etc. (ACSM, 2016).
considerar pessoas que vivem com doenças crônicas A atividade física é determinada como qualquer
ou grupos especiais. movimento corporal produzido pela contração do mús-
14
EDUCAÇÃO FÍSICA
culo esquelético e que eleva o consumo de energia, re- Shephard e Stephens (1994) adicionam novos compo-
sultando em gasto energético acima dos níveis de repou- nentes morfológicos – como a densidade mineral óssea,
so (CASPERSEN et al., 1985). São atividades habituais componentes cardiovasculares (função pulmonar, fun-
que ocorrem no dia-a-dia dentro dos contextos do des- ção cardíaca e pressão arterial) e metabólicos (tolerância
locamento, trabalho, tarefas domésticas e do lazer, como: à glicose, sensibilidade à insulina, metabolismo lipídico
correr num parque, pular corda, jogar futebol com os e características de oxidação de substratos). Isto amplia
amigos entre outros. a compreensão sobre o efeito da atividade física e exercí-
Por sua vez, o exercício físico pode ser apontado cios no processo de saúde-doença das pessoas, tornando
como um subgrupo da atividade física, pois considera a discussão e o planejamento mais abrangentes.
a intencionalidade do movimento. Assim, no exercício É importante entender que a atividade física é com-
físico, o movimento é planejado, estruturado e repetitivo preendida atualmente como um comportamento que
com o objetivo de melhorar ou manter um ou mais com- envolve movimento humano (GABRIEL et al. 2012), po-
ponentes da aptidão física (CASPERSEN et al., 1985). dendo ser analisada em diferentes contextos do dia-dia,
Temos como exemplo o tradicional exercício aeróbio, mas pode ser sistematizada e organizada para atingir um
que reconhecidamente melhora a saúde cardiovascular, objetivo (exercício físico); isto pode resultar melhoria de
e o exercício de força, empregado no treinamento de produtos físicos e fisiológicos (aptidão física), que irá
atletas, para aperfeiçoar o seu rendimento esportivo. Os impactar diretamente a qualidade de vida, saúde e bem
exercícios físicos devem ter descritos no início em um estar dos indivíduos envolvidos, independente da ida-
programa que defina: 1) limiar, ou seja, o limite mínimo de, sexo ou condição especial de saúde (BOUCHARD,
para atingir benefícios a saúde; 2) zona alvo de esforço SHEPHARD e STEPHENS, 1994).
físico; 3) variáveis aplicadas a prescrição do exercício fí- Tendo em vista a aplicação do exercício físico para
sico; 4) demandas e objetivos (ACSM, 2016). pessoas com condições especiais de saúde, o mesmo
Tradicionalmente, aptidão física tem sido definida pode ser compreendido como uma terapia não-medica-
como o conjunto de atributos que as pessoas possuem mentosa ou até mesmo auxiliar, complementando o tra-
ou almejam ter em relação à sua capacidade em desem- tamento medicamentoso contínuo exigido em diferentes
penhar esforço físicos (CARSTENSEN et al., 1985). Este doenças. Para que o exercício físico seja adequadamente
conceito foi aplicado diretamente em relação à saúde e prescrito é importante visualizar a dose-resposta como
ao desenvolvimento de habilidades motoras relaciona- analogia à terapia medicamentosa, ou seja, para o exercí-
das ao esporte. Portanto, a aptidão física relacionada à cio físico a dose corresponde à quantidade, intensidade e
saúde é composta pela potência aeróbica máxima, força frequência de exercício para provocar uma determinada
e resistência muscular, flexibilidade e composição cor- resposta; enquanto a resposta pode ser aguda, subaguda
poral. Enquanto a aptidão física relacionada ao desem- ou crônica, como resultado de um programa de exercí-
penho esportivo, além das variáveis relacionadas à saú- cios físicos (exemplo: redução da pressão arterial sistóli-
de, inclui a velocidade, coordenação, agilidade, potência, ca em repouso) (HOWLEY; FRANKS, 2000).
equilíbrio e tempo de reação (ACSM, 2016). O Colégio Americano de Medicina do Esporte
Numa perspectiva contemporânea da aptidão fí- (American College of Sports Medicine [ACSM] em in-
sica, particularmente relacionada à saúde, Bouchard, glês) organizou as variáveis comumente utilizadas no
15
processo de prescrição de exercício físico, ou seja, na 2016). Embora haja certa variabilidade entre os indiví-
prescrição da “dose” de exercício. Assim, a prescrição duos, nas respostas à um programa de exercícios com
de exercício físico ocorre a partir de princípios que são base no princípio FITT-VP, espera-se que haja benefí-
planejados para guiar a prática profissional, ajustados cios fisiológicos, psicológicos e de saúde (ACSM, 2016).
especificamente para que o indivíduo melhore o condi- Entre as variáveis FITT-VP, grande foco é dado à
cionamento físico e a saúde. Estes princípios “FITT-VP” intensidade, intimamente relacionada à quantidade ou
incluem a frequência, intensidade, tempo, tipo, volume e a dose de atividade física prescrita a um indivíduo. De
progressão e são utilizados para manipular a prescrição, forma geral, pode-se calcular a intensidade da atividade
com base na evidência científica acumulada (ACSM, física e exercício através de três métodos:
1) Utilizando METs
(unidade de equivalente metabólico);
16
EDUCAÇÃO FÍSICA
A tabela 1 apresenta um resumo das recomendações do Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM, 2016),
para a análise da intensidade da atividade física e exercício físico baseada no consumo máximo de oxigênio (VO2
máx), frequência cardíaca máxima (FC máx) e unidade de equivalente metabólico (MET).
Intensidade relativa
Intensidade absoluta*
Intensidade
VO2 R (%) - FCR (%) FCM (%) MET
<20 <50
Muito Leve < 3,2
20 a 39 50 a 63
Leve 3,2 a 5,3
40 a 59 64 a 76
Moderada 5,4 a 7,5
60 a 84 77 a 93
Vigorosa (forte) 7,6 a 10,2
85 a 99 94 a 99
Vigorosa (muito forte) 10,3 a 11,9
Embora os valores expostos na tabela 1 sejam rela- É possível consultar o valor de METs equivalente a
tivamente arbitrários, eles são amplamente usados uma série de atividades físicas e exercícios físicos atra-
na interpretação de atividades físicas e prescrição vés do Compêndio de Atividades Físicas (FARINATTI,
exercícios físicos. A intensidade relativa é definida 2003). Por exemplo, caminhar com o cachorro em um
utilizando-se um percentual da reserva de consumo terreno plano, corresponde a um gasto de 3,0 METs (ati-
máximo de oxigênio do indivíduo ou da reserva da vidade muito leve), já um jogo de futebol competitivo
frequência cardíaca (ACSM, 2016). A intensidade equivale a um gasto metabólico de 10,0 METs (atividade
absoluta expressa a taxa de energia gasta durante o muito vigorosa). Com estes valores em mãos, torna-se
exercício e é medida através da uma unidade cha- possível estimar o gasto calórico total da atividade física
mada MET (do inglês, Metabolic Equivalent Task). e prescrevê-la com maior segurança.
Uma unidade de MET equivale a um consumo de Digamos que você prescreveu uma corrida de 30 mi-
3,5 ml/kg/min de oxigênio, que é o valor médio de nutos na esteira a 8 km/h a um indivíduo de 34 anos, com
repouso em adultos. Assim, quando um indivíduo massa corporal de 75 kg e que, ao consultar o Compêndio
realiza uma atividade física a 3 METs (3 x 3,5 ml/ de Atividades Físicas, encontrou o valor do equivalente me-
kg/min), isto significa dizer que ele teve 3 vezes o tabólico da corrida, igual a 8,0 METs. Para calcular o gasto
consumo de oxigênio em repouso. calórico desta atividade, basta aplicar a seguinte fórmula:
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Gasto calórico = METs x 0,0175 x Tempo (min) x (2001) realizaram uma meta-análise e propuseram uma
Massa Corporal (kg)
Gasto calórico = 8,0 METs x 0,0175 x 30 x 75 equação alternativa para a estimativa da FCM, sendo:
Gasto calórico = 315,0 kcal FCM= 208 - 0,7 * (idade); ou seja um sujeito de 34 anos
teria uma FCM teórica de 184 bpm.
Assim, esse indivíduo terá um gasto calórico de 315 kcal O cálculo da FCR representa um avanço compara-
para realizar essa atividade física de corrida. Digamos, po- do a prescrição pela FCM, pois considera que indivídu-
rém, que este mesmo indivíduo deseja reduzir peso cor- os podem apresentar diferentes níveis de FC de repou-
poral e para isso precisamos aumentar o gasto calórico. so – o que pode ser interpretado como diferente níveis
Isso é possível mudando o tipo de atividade física como de aptidão física – sendo esta uma variação importante
um exercício muito vigoroso de remo estacionário (200 e significativa para a prescrição de exercícios, uma vez
W) com a mesma duração de 30 minutos, então teríamos: que, indivíduos com menor FC em repouso possuem
Gasto calórico = METs x 0,0175 x Tempo (min) x Mas-
melhor condicionamento físico, comparados aos que
sa corporal (kg) possuem maiores valores. Por este motivo, a literatura
Gasto calórico = 12,0 METS x 0,0175 x 30 x 75 ressalta que, para a prescrição da intensidade de ativida-
Gasto calórico = 472,5 kcal
des físicas e exercício utilizando o valor de FCR, é neces-
sário levar em conta diferenças individuais em relação à
Com isso, observamos que apenas mudando o tipo da ati- FC de repouso.
vidade houve um aumento da intensidade e, consequen- Para calcularmos a FCR, basta subtrair o valor de
temente, um aumento no gasto energético total para o repouso da FC máxima teórica. Assim, um sujeito de 34
mesmo volume de atividade. Observe que o valor 0,0175 anos com FC máxima de 184 bpm e FC de repouso de
é constante e representa a equivalência de 1 MET em kcal 60 bpm, teria um FCR de 124 bpm. Usando a tabela 1
(Farinatti, 2003). O método para determinar a intensidade e prescrevendo uma atividade física leve, calcularemos
de uma atividade física e exercício utilizando a frequência entre 20-39% deste valor como uma intensidade ótima
cardíaca de reserva (FCR) é muito utilizado nas sessões de de treino, ou seja, entre 25 a 49 bpm, somados aos va-
um programa de condicionamento físico. lores de FC de repouso (60 bpm), o que representaria a
Para isso, é importante levar em conta que os nossos intensidade de 85 a 109 bpm. Assumindo outro exemplo
batimentos cardíacos (bpm/min) aumentam conforme para o mesmo sujeito, a intensidade vigorosa de ativida-
aumenta a intensidade da atividade física (ACSM, 2007). de física de 60 a 84% da FCR (tabela 1), representaria um
Isto significa que o aumento dos batimentos é uma res- esforço de 134 a 164 bpm.
posta cardiovascular às demandas da atividade física. A terceira possibilidade, para calcular a intensi-
Por muito tempo se considerou a equação de Karvo- dade da atividade física e exercício, é utilizarmos o
nen (220 – idade) para se estimar a frequência cardíaca consumo de oxigênio de reserva. Estes valores inter-
máxima (FCM), contudo ela não tem mérito científico mediários do consumo de oxigênio, do repouso ao
e possui erros substanciais de predição. Tanaka et al. máximo, são obtidos ao longo de um teste ergoespi-
18
EDUCAÇÃO FÍSICA
rométrico, ou seja, com análise direta dos gases expi- A partir do VO2 reserva as intensidades de exercício
rados. Ao final de um teste ergoespirométrico ou de físico de muito leve à vigorosa ou máxima podem ser
um teste indireto que permite a predição obtém-se o calculadas da mesma maneira que foi realizada para
consumo máximo de oxigênio (VO2 máx). Assumin- a FCR. Em exemplo, comparativo a FCR do mesmo
do que o VO2 de reserva é relativamente constante de sujeito, os valores de VO2 reserva de intensidade mui-
3,5 ml/kg/min, pode-se subtrair do VO2 máx. . Ainda to leve seriam de 11,0 a 18,2 ml/kg/min e de intensi-
considerando o exemplo anterior, caso o indivíduo dade vigorosa seria de 26,1 a 35,2 ml/kg/min.
tenha um VO2 máximo = 41,2 ml/kg/min. Todas essas estimativas de intensidade relativa são
importantes o controle do exercício físico e para que a
VO2 máximo = (41,2 ml/kg/min – 3,5 ml/
kg/min) integridade física do indivíduo não seja exposta aos ris-
VO2 reserva= 37,7 ml/kg/min cos de eventos súbitos durante a prática da atividade fí-
sica prescrita por você.
19
Benefícios da
atividade física
Os benefícios da prática da atividade física para a saú- demonstrar um efeito protetor sobre diversas comor-
de, independente da faixa etária do indivíduo, estão bidades (ACSM, 2016).
amplamente documentados (WARBURTON et al. Investigações conduzidas a partir de estudos pros-
2006; ACSM, 2016). Pesquisa epidemiológica já de- pectivos apontam que os benefícios da atividade física
monstrou que atividade física insuficiente aliada a realizada no contexto do lazer, está associada ao menor
alimentação inadequada são prejudiciais, sendo a se- risco de desenvolver hipertensão, doenças coronarianas,
gunda causa de morte nos Estados Unidos e a quarta diabetes tipo II, câncer de mama e obesidade (WAR-
no mundo (RODGERS et al. 2004). Em geral, prati- BURTON et al. 2006; ACSM, 2016). O Quadro 1 sumari-
car atividades físicas regularmente diminui o risco de za os principais benefícios relacionados com a atividade
mortalidade por doenças cardiovasculares, além de física, de acordo com a força das evidências disponíveis.
20
EDUCAÇÃO FÍSICA
Evidências Fortes
Sendo assim, percebe-se que os benefícios da ati-
- Mortalidade vidade física são diretamente relacionados ao desfecho
- Doença arterial coronariana
- Infarto do miocárdio analisado. Um estudo recente, que envolveu 1.461 adul-
- Hipertensão arterial sistêmica tos de Curitiba-PR, corrobora com essa ideia. Ao anali-
- Diabetes tipo II sar a relação entre diferentes intensidades de atividade
- Síndrome metabólica
- Câncer do colo física (caminhada, AF moderada e AF vigorosa) com
- Câncer de mama os escores de qualidade de vida, observou-se que existe
- Ganho de peso uma relação específica entre cada intensidade de ativi-
+ Aptidão muscular
+ Aptidão cardiorrespiratória dade física e os domínios da qualidade de vida, como a
- Risco de quedas “vitalidade”, a “saúde mental” e a “função física” (PUCCI
- Função cognitiva et al., 2012). Assim, é plausível pensar que a relação entre
Evidências Fortes a Moderadas a dose e a resposta na melhora dos domínios da qualida-
+ Função física de de vida é específico à intensidade da atividade física.
- Gordura abdominal
Em outro estudo, prospectivo, com 14.343 adultos, foi
- Dislipidemias
encontrada uma relação de dose-resposta entre melhores
Evidências Moderadas
índices de aptidão cardiorrespiratória e o menor risco de
- Fraturas no quadril
- Câncer de pulmão sinais e sintomas de depressão (SUI et al., 2009). Os re-
- Câncer de útero sultados mostraram que homens com aptidão cardior-
+ Promove a manutenção do peso respiratória moderada obtiveram uma redução em 31%
+ Densidade óssea
+ Melhora do sono no risco de depressão e naqueles com elevada aptidão a
- Depressão redução foi de 51%. Entre as mulheres também houve um
- Ansiedade importante efeito protetor de 44% e 54%, para aptidão
Quadro 1. Benefícios da prática regular de atividade física.
Fonte: adaptado de USDHHS, 2008 (http://www.health.gov/paguide- cardiorrespiratória moderada e elevada, respectivamente.
lines/Report/pdf/CommitteeReport.pdf); ACSM, 2016. Demonstrando a dose-resposta, desta vez, entre aptidão
- reduz; + aumenta.
física (produto da atividade física) e saúde mental.
Mesmo que as evidências apontem que uma vida ativa Ainda, estudos indicam que mesmo atividades físi-
traz benefícios à saúde, a relação dose-resposta ainda cas de intensidade leve já produzem benefícios para a
não está bem estabelecida. Parte do motivo ocorre por- saúde. Uma revisão sistemática com 27 ensaios clínicos
que o efeito da atividade física varia conforme o desfe- randomizados demonstrou o potencial da atividade fí-
cho analisado (exemplo: mmHg da pressão arterial ou sica leve no controle de níveis pressóricos em adultos, a
mg/dL da glicemia), o tipo, volume e intensidade da ati- partir da caminhada regular; contudo, também ressalta-
vidade física. As inter relações entre tais componentes -se que os benefício aumentam à medida que a intensi-
da atividade física contribuem para a complexidade das dade da caminhada aumenta (LEE et al., 2010).
análises de dose-resposta. Por exemplo, a atividade física A importância de sabermos sobre a relação de dose-
de intensidade leve (aproximadamente 3 METs) pode -resposta é obter o conhecimento da mínima quantida-
contribuir para a melhora no bem estar geral, porém de de atividade física necessária para atingir benefícios à
pode não ser suficiente para redução do peso corporal. saúde e, assim, prescrever orientações à população geral.
21
A partir das evidências disponíveis, órgãos internacio- Esse conhecimento sobre atividade física e exercí-
nais passaram a orientar a adoção de comportamentos cio físico é especialmente importante para a prática do
ativos e a propor guias de orientação sobre a quantidade profissional de Educação Física com pessoas em condi-
necessária para melhora da saúde em diferentes faixas ções especiais de saúde (com doenças crônicas ou gru-
etárias (ACSM 2016). Atualmente recomenda-se que pos especiais). O Ministério da Saúde recomenda que
adultos acumulem no mínimo 30 minutos de atividade as doenças crônicas requerem intervenções associadas
física de intensidade moderada a vigorosa na maioria à mudanças de estilo de vida, em um processo de cui-
dos dias da semana, de preferência todos os dias. Alter- dado contínuo e que nem sempre leva à cura (BRASIL,
nativamente, os adultos podem realizar 25 minutos de 2013). Portanto, é necessário compreender que o uso da
atividade física de intensidade vigorosa, pelo menos três atividade física e exercício, entre outras habilidades e
vezes na semana. Recomenda-se também que as ativida- competências, para promover saúde e prevenir doenças,
des físicas incluam exercícios de força e de flexibilidade, pode ocorrer de forma primária e secundária, como de-
além dos exercícios aeróbicos (WHO, 2010). monstra o Quadro 2.
22
EDUCAÇÃO FÍSICA
23
24
EDUCAÇÃO FÍSICA
Se planeja tornar-se muito mais ativo do que atualmente, comece respondendo às sete perguntas a seguir. Se sua idade estiver entre
15 e 69 anos, o PAR-Q dirá se você deve consultar um médico antes de começar. Se tiver mais de 69 anos de idade e não está
acostumado a ser muito ativo, consulte seu médico.
o BOM SENSO é o seu melhor guia para responder a essas perguntas. Por favor, leia cada pergunta cuidadosamente e responda
honestamente: marque SIM ou NÃO.
SIM NÃO
1. Seu médico alguma vez já disse que você tem uma doença cardíaca e que você deveria fazer
apenas as atividades físicas recomendadas por ele?
2. Você sente dor no peito quando realiza uma atividade física?
3, No último mês você sentiu dor no peito quando não estava fazendo atividade física?
4. Você perde seu equilíbrio por causa de tonturas ou você já perdeu a consciência alguma vez?
5. Você tem algum problema ósseo ou de articulação (p. ex., nas costas, no joelho ou no quadril)
que poderia piorar por uma alteração na sua atividade física?
6. Seu médico atualmente esté receitando remédios (p.ex., diuréticos) para a sua pressão arterial
ou doença cardíaca?
7. Você sabe de qualquer outro motivo por que você não deveria fazer atividade física?
Não são permitidas modificações. Você é encorajado a fotocopiar o PAR-Q., mas apenas se utilizar o formulário
completo.
Observação: se o PAR-Q estiver sendo dado a uma pessoa antes de sua participação em um programa de atividade física ou
uma avaliação de aptidão, esse trecho pode ser utilizado para propósitos legais ou administrativos.
“Eu li, entendi e completei este questionário. Quaisquer perguntas que tinha foram respondidas até meu esclarecimento.”
NOME:_____________________________________________________________________________ DATA:________________________________________
ASSINATURA:________________________________________________________________________ TESTEMUNHA:_________________________________
ASSINATURA DO PAI:__________________________________________________________________
OU RESPONSÁVEL (para participantes menores de idade)
Observação: essa avaliação de atividade física é válida por um período máximo de 12 meses a partir da data em que
foi completada e se torna inválida se sua condição se alterar e passar a responder SIM a qualquer uma de suas
sete perguntas.
Figura 2. Questionário PAR-Q & YOU em idioma português. / Fonte: ACSM (2016, p. 23).
25
A Triagem Pré-participação é fundamental e não pode colaborar para a conscientização dos praticantes sobre
ser ignorada: a anamnese – palavra de origem grega, que a necessidade de monitoramento da saúde por meio de
significa recordar. Trata-se de um questionário semi-es- exames periódicos, principalmente em indivíduos que
truturado em conhecimentos científicos e que represen- apresentam sintomas ou fatores de risco (SILVA, 2010).
ta uma importante etapa na coleta de informações clíni- A estratificação de risco cardiovascular, como pre-
cas e de hábitos. Os itens essenciais para uma anamnese conizada pelo ACSM (2016), baseia-se num algoritmo
objetiva e eficiente incluem: que se inicia pela identificação de doenças diagnostica-
• Dados pessoais (sexo, idade) das, seguida pela análise de sinais e/ou sintomas e fina-
• Dados cadastrais (endereço, telefone, e-mail) liza-se pela análise de fatores de riscos cardiovasculares.
• Dados de ocupação (profissão, horário de traba- Portanto, inicialmente o profissional irá buscar
lho, turno) questionar o seu cliente sobre doenças diagnosticadas
• Dados de saúde (tipo sanguíneo, consulta médi- previamente, como as cardiovasculares (doença cardía-
ca nos últimos 6 meses, doenças diagnosticadas) ca, vascular periférica, cerebrovascular), as pulmonares
• Prática de atividade física (frequência e duração (doença pulmonar obstrutiva crônica, asma, doença
da atividade física)
pulmonar intersticial, fibrose cística), as metabólicas
• Sintomas (dor no peito, falta de ar, uso de medi-
(diabetes melito), as renais, hepáticas ou na tireoide.
camentos contínuo)
Em caso de doença diagnosticada, como as anteriores,
• Fatores de fatores de risco para desenvolvimento
o indivíduo é considerado de “risco alto”. No caso de as
de doença cardiovascular (sexo, idade, heredita-
riedade, colesterol, hipertensão, obesidade, dia- doenças estarem ausentes são investigados os seus sinais
betes, fumo, sedentarismo, dislipidemia, hiper- e sintomas, que geralmente demonstram que a doença
tensão arterial sistêmica) podem existir de forma oculta. Para isto, são considera-
• Cirurgia prévia (realizou ou irá realizar alguma?) dos os parâmetros abaixo:
• Limitações ósteo-articulares (lesões, fraturas) • Dor, desconforto (ou outro equivalente angino-
• Limitações músculo-articulares (tipo e localiza- so) no tórax, pescoço, mandíbula, braços ou ou-
ção) tras áreas que se relacionam a isquemia;
• Gravidez • Falta de ar em repouso ou em pequenos esforços;
• Qualidade do sono e horas de sono por noite • Ortopnéia (falta de ar deitado) ou falta de ar no-
turna;
• Síncope (desmaio) ou tontura;
A partir das informações acima, o profissional de Educa-
• Edema maleolar;
ção física poderá ter um panorama abrangente da história
• Palpitação ou taquicardia;
do seu cliente. Através da Triagem Pré-participação, tam-
• Claudicação intermitente;
bém é possível identificar a necessidade de um atestado
• Sopro cardíaco;
médico de liberação para a prática de atividade física, o
• Fadiga excessiva ou falta de ar com atividades
que garante maior segurança ao cliente e ao profissio-
usuais.
nal. Ademais, entende-se que esse procedimento pode
26
EDUCAÇÃO FÍSICA
Na presença de sinais ou sintomas de doença oculta, o da doença. A importância em conhecer os fatores de risco
indivíduo é considerado de “risco alto”. Em caso negativo, está na possibilidade de modificá-los, quando possível, e
há o aprofundamento sobre os fatores de risco. Um fator assim diminuir a ocorrência de determinada doença. Os
de risco em saúde é qualquer situação que aumenta a pos- principais fatores de risco para o desenvolvimento da do-
sibilidade de um indivíduo vir a desenvolver determina- ença cardiovascular elencados pelo ACSM são:
2. Histórico familiar: infarto do miocárdio ou revascularização coronariana ou morte súbita antes dos 55 anos de idade
do pai ou de outro parente de primeiro grau do sexo masculino (irmão ou filho) ou antes dos 65 anos de idade da mãe ou
de outro parente do primeiro grau do sexo feminino (irmã ou filha).
3. Tabagismo: fumantes de cigarros (tabaco, cachimbo, charuto ou cigarro de palha) ou ex-fumantes com menos de seis
meses de interrupção.
4. Hipertensão arterial sistêmica: pressão arterial sistólica ≥ 140 mmHg e/ou a diastólica ≥ 90 mmHg, confirmadas por
mensurações feitas pelo menos em 2 ocasiões diferentes ou indivíduos com hipertensão que fazem uso de medicação
anti-hipertensiva.
5. Dislipidemia: colesterol total ≥ 200 mg/dL ou lipoproteína de baixa densidade (LDL colesterol) ≥ 130 mg/dL ou
lipoproteína de alta densidade (HDL colesterol) < 40 mg/dL ou fazer uso regular de medicação para reduzir o nível do
colesterol. Para esses exames considerar os últimos 12 meses, sem haver mudanças significativas no estilo de vida.
6. Diabetes: glicose sanguínea em jejum alterada ≥ 100 mg/dL, confirmada em pelo menos 2 ocasiões diferentes ou
glicemia mas em uso de medicação hipoglicemiante. Considerar os últimos 12 meses, sem haver mudanças significativas
no estilo de vida.
7. Obesidade: a partir das medidas de massa corporal e estatura, calcular o índice de massa corporal (IMC) pela equação
(IMC = massa corporal / estatura ²). Fator de risco
se o IMC ≥ 30 Kg/m² ou perímetro da cintura > 102 cm (masculino) e > 88 cm (feminino) ou, ainda, razão cintura/quadril ≥
0,95 (masculino) e ≥ 0,86 (feminino).
8. Estilo de vida: refere-se aos hábitos das pessoas, especificamente sobre a participação em programas regulares de
exercícios (≥ 6 meses) ou atendimento às recomendações de pelo menos 30 minutos de atividade física moderada à
vigorosa na maioria dos dias da semana.
27
Os fatores de risco acima mencionados podem ser (alto, médio ou baixo). O ACSM (2016) estabele-
identificados a partir de uma anamnese detalhada. ceu as definições relacionadas ao risco para a rea-
Coletadas estas informações, podemos categorizar lização de exercício físico, conforme registrado na
o nível do risco para prática de exercícios físicos tabela 2.
A estratificação de risco permite que o profissional pos- vidade física, que geralmente vai ser uma atividade de
sa prescrever a intensidade e o volume de atividade física intensidade leve.
de modo individualizado e dentro dos padrões de segu- Para finalizar este tópico, vale destacar a importân-
rança. Deste modo, indivíduos com baixo risco estão cia do Termo de Consentimento para Prática de Ati-
aptos a desenvolver atividades de intensidade moderada vidade Física, onde o aluno dá ciência de que recebeu
e vigorosa; já indivíduos com risco moderado, podem as orientações sobre os riscos e benefícios da atividade
realizar atividades leves e moderadas. Indivíduos com física, mesmo que não isenta a responsabilidade do pro-
alto risco necessitam de uma ampla avaliação médica fissional em prescrever o exercício adequadamente e de
e orientação individualizada sobre o programa de ati- maneira individualizada.
28
EDUCAÇÃO FÍSICA
29
30
EDUCAÇÃO FÍSICA
Princípios utilizados na
prescrição de exercício físico
Em geral um programa de exercício físico deve conside- individualidade biológica, segurança e fatores comporta-
rar os princípios básicos do treinamento desportivo: 1) mentais. O programa também deve considerar o grau de
Sobrecarga que se refere ao “uso cumulativo aumenta a experiência e proficiência do sujeito para realizar as ativi-
capacidade funcional”; 2) Especificidade que reside em dades, bem como as demandas e objetivos do indivíduo
“efeitos específicos ao exercício e músculos envolvidos”; e, em termos gerais, adequado para a promoção da saúde.
3) Variabilidade que consistem em “variação em um ou O processo de sistematização de programas de
mais componentes para manter o estímulo”. Há outros exercícios físicos numa sessão tem diferentes partes
princípios que são considerados como a reversibilidade, a saber:
31
1) AQUECIMENTO:
de 5 a 10 minutos, de intensidade baixa a moderada
(20 a 50% do VO2 máx), de exercícios aeróbicos submáximos;
3) RESFRIAMENTO:
de 5 a 10 minutos, de intensidade moderada;
4) FLEXIBILIDADE (COMPLEMENTAR):
em cerca de 10 minutos, de exercícios de alongamento (ACSM, 2016).
Como já vimos anteriormente, numa sessão de condi- bios de produção de energia predominantes para uma
cionamento físico, os princípios FITT-VP (frequência, diversidade de esportes.
intensidade, tempo, tipo, volume e progressão) são os Os exercícios físicos aeróbios podem ser realizados
parâmetros recomendados pelo ACSM (2016) para a em modos contínuos ou descontínuos. O exercício aeró-
prescrição do exercício físico. bio contínuo é um bloco realizado em intensidades baixas
O exercício físico aeróbio é o tipo de exercício mais a moderadas sem intervalos de descanso. Exercício aeró-
bem documentado na literatura e utilizado para a pres- bio descontínuo (intervalado) consiste em vários blocos
crição. Ele é caracterizado por esforços físicos que sobre- intermitentes de exercício de baixa à alta intensidade in-
carregam o coração e o sistema respiratório, que utilizam tercalados com períodos de descanso. Ambos os tipos de
grandes grupos musculares e que tenham contrações exercícios aeróbios produzem melhorias significativas no
musculares de forma ritmada e contínua (ACSM, 2016). VO2 max, mas a pesquisa sugere que quando o volume de
Obviamente, isto depende de uma integração dos siste- exercício é controlado, o treinamento de intervalo de re-
mas pulmonar, cardiovascular e hematológico para que sistência de alta intensidade (90–95% FCmax; 95% VO2R)
os mecanismos de captação, entrega e oxidação no mús- melhora o VO2 máx mais do que contínuo, intensidade
culo possam utilizados em exercício. A duração maior moderada (70% FCmax; 50% VO2 R) treinamento físico
que ser 30 segundos até 4 horas, torna os sistemas aeró- aeróbico em adultos saudáveis. No entanto, há uma preo-
32
EDUCAÇÃO FÍSICA
cupação com alta intensidade treinamento intermitente é prescrição de um programa geral de condicionamento
a possibilidade esgotamento do exercício, principalmente físico. A prescrição do exercício resistido para o aprimo-
em pessoas com condições especiais de saúde. Há relatos ramento da força tem, principalmente, como parâmetro
que a taxa de abandono de adultos em um programa de de sobrecarga o percentual de 1-RM, sendo que a faixa
treinamento intervalado de alta intensidade (descontí- ideal para a manutenção de força e resistência de força
nua) foi duas vezes maior do que em um programa contí- é de 60 a 84%, essa sobrecarga corresponde entre 8 a 12
nuo de corrida (HEYWARD; GIBSON, 2014). repetições. Entretanto a sobrecarga pode variar depen-
A prescrição de exercício físico aeróbio tem melho- dendo do nível de experiência com exercícios de força e
ra inquestionável de indicadores de saúde da população da idade. Como visto anteriormente, a OMS (2010) re-
geral. Como vimos anteriormente, o ACSM (2016) re- comenda este tipo de atividade física para grandes gru-
comenda que a prescrição possa ocorrer pelo método pos musculares.
do VO2, a frequência cardíaca (máximo ou reserva) ou Os quadros a seguir apresentam os parâmetros FIT-
equivalente metabólico (MET). T-VP para a prescrição de exercícios em crianças e ado-
Os exercícios de força (também chamados de exer- lescentes (Quadro 4), adultos (Quadros 5 e 6) e idosos
cícios resistidos) têm sido extensivamente utilizados na (Quadro 7) baseado em Garber et al., (2011).
Exercícios Aeróbios
Frequência Diária
A maior parte deve ser exercício aeróbico de intensidade moderada à vigorosa.
Intensidade
A intensidade vigorosa deve ser incluída pelos menos 3 vezes na semana.
Tempo ≥ 60 minutos por dia.
Atividades físicas aeróbica agradáveis e adequadas ao desenvolvimento, incluindo caminhada
Tipo
rápida, corrida, natação, dança, ciclismo.
Exercícios de Fortalecimento Muscular
Frequência ≥ 3 dias por semana.
Tempo Parte dos 60 minutos diários ou mais de exercício.
Atividades não estruturadas (brincar em playground, escalar árvore, entre outras) ou estrutura-
Tipo
das (exercícios com pesos, bandas elásticas).
Exercícios de Fortalecimento Ósseo
Frequência ≥ 3 dias por semana.
Tempo Parte dos 60 minutos diários ou mais de exercício.
Tipo Atividades com sobrecarga gravitacional (saltos e impactos) ou tensional (exercícios com pesos).
Quadro 4. Recomendações de exercícios físicos para crianças e adolescentes baseados em evidência.
Fonte: adaptado de ACSM (2016) e Garber et al. (2011).
Programas de exercícios físicos para crianças e ado- mudanças em tamanho e evolução dos sistemas car-
lescentes devem considerar particularidades dos pro- diovascular e neuromuscular e de composição corpo-
cessos de crescimento e desenvolvimento físico, como ral. As atividades físicas devem ter foco multilateral
33
(BOMPA, 2002), ou seja, uma abordagem sequencial ter graus de maturação bastante distintos (atrasado ou
no desenvolvimento de várias habilidades fundamen- adiantado) e, por fim, as principais diferenças fisioló-
tais antes do início de um determinado exercício es- gicas em relação ao adulto devem ser conhecidas, pois
pecífico ou esporte. O grau de maturação biológica é elas impactam na capacidade de desenvolver força,
importante e precede a interpretação da idade crono- sustentar esforços prolongados, limitam esforços em
lógica, pois adolescentes com a mesma idade podem ambientes com climas extremos e geram maior fadiga.
Exercícios Aeróbios
Em termos de progressão do programa de exercício aeró- aumenta a adesão e reduz os riscos de lesão musculoesque-
bios é razoável o progresso gradual do volume com ajuste lética e eventos cardíacos. O Quadro 6 apresenta os parâ-
da duração, frequência e/ou intensidade. Essa abordagem metros de prescrição de exercícios resistidos em adultos.
34
EDUCAÇÃO FÍSICA
A progressão do programa resistido deve ser gradual de flexibilidade é de 10 a 30 segundos para a maioria dos
e mais focada em maior resistência e/ou repetições adultos. Para facilitação neuromuscular proprioceptiva
por séries e/ou aumento da resistência. Os exercícios (FNP) a contração de 3 a 6 segundos, leve a moderada, é
de flexibilidade e neuromusculares (ou funcionais) seguida de flexionamento estático de 10 a 30 segundos.
também impõe sobrecarga ao sistema neuro-muscu- Para o tipo de exercício de flexibilidade recomenda-se
lar, sendo importantes componentes de programas de uma série de exercícios para cada unidade musculo-
exercícios elaborados para idosos e pessoas em com- tendinosa e o flexionamento estático (passivo ou ativo)
plicações crônicas de saúde. dinâmico, balístico ou por FNP são todos efetivos na
O exercício para o aprimoramento da flexibilidade melhora da flexibilidade. O volume razoável é realizar
pode ser realizado por alongamentos balísticos, dinâ- 60 segundo de período total de forçamento para cada
micos lentos, estáticos e por facilitação neuromuscular exercício. Para o padrão recomenda-se a repetição de
proprioceptiva. De acordo com os princípios FITT-VP, cada exercício de flexibilidade 2 a 4 vezes, sendo que o
recomenda-se frequência de ≥ 2 a 3 dias, na semana, sen- exercício de flexibilidade é mais efetivo quando o mús-
do que quando executado diariamente é mais efetivo. A culo está aquecido (ACSM, 2016).
intensidade dos exercícios de alongamento ocorre até o Os exercícios neuromusculares, denominados tam-
ponto que se perceba um enrijecimento ou desconforto bém de exercícios funcionais, consistem de atividades
da unidade muscular em questão. O tempo de exercícios multifacetadas que incluem aspectos neuromotores,
35
Figura 5. Infográfico benefícios atividades físicas para idosos. / Fonte: Adaptado de ACSM, 2016.
36
EDUCAÇÃO FÍSICA
Exercícios Aeróbicos (idosos que não conseguirem realizar, devem ser ativos como puderem)
De forma complementar recomenda-se que sejam realizados exercícios de equilíbrio para a prevenção de quedas em
idosos. Um meta-análise (SHERRINGTON et al., 2011) levantou recomendações da melhor prática para a prevenção
de quedas, como:
37
Figura 6. Infográfico recomendação para prática de atividades físicas de idosos para prevenção de quedas.
Fonte: adaptado de Sherrington et al. (2011).
Para finalizar este tópico, alguns cuidados e conside- evento cardiovascular. Assim como, a confusão men-
rações devem ser feitos para o processo de prescrição tal, cianose ou palidez, náusea ou vômito, dispnéia,
de exercícios para idosos. Como parte de um grupo queda abrupta da pressão arterial ou mesmo o não
especial o idoso exige grande atenção, especialmente aumento esperado da pressão arterial com o esforço.
em sintomas de tontura, síncope, angina, fadiga inco- Ao observar estes sinais e sintomas é necessário inter-
mum ou dor intolerável que podem ser sugestivos de romper o exercício físico.
38
considerações finais
Nesta unidade vimos que a atividade física e exercício são constructos diferentes,
que consequentemente exigem diferentes abordagens em termos de orientação para
mudanças no estilo de vida e prescrição de forma sistematizada em sessões de trei-
namento. Vimos, também, que ambos provocam alterações benéficas importantes na
aptidão física (melhora da função física), qualidade de vida e bem estar, assim como
o aprimoramento da saúde cardiovascular e metabólica, o que reduz a chance de
doenças crônicas dessa natureza, principalmente em grupos especiais e vulneráveis.
Considerando o potencial do exercício físico como tratamento não farmacológico,
percebe-se a sua utilização em pessoas com doenças crônicas, atuando de forma co-
adjuvante aos tratamento convencionais, o que melhora a qualidade de vida, reduz
os sintomas clínicos e a chance de comorbidades secundárias destas doenças de base.
Em termos práticos, vimos que as recomendações para a prática de atividade física
no dia-a-dia é variável em função da idade do indivíduo, porém é comum que seja
composta de atividades aeróbias e de força. Quando se refere ao exercício físico, vimos
uma analogia de “dose-resposta” semelhante ao uso de medicamentos. Portanto, o
planejamento da “dose” de exercício físico é orientado a partir de princípios básicos
do treinamento físico (sobrecarga, especificidade e variabilidade) e pelas variáveis
FITT-VP (frequência, intensidade, tipo, tempo, volume progressão/padrão). Essa
abordagem não é a única disponível para o uso racional do exercício, mas está bem
consolidada na aplicação em pessoas com doenças crônicas e grupos especiais.
Ao se apropriar destas informações ficará muito mais fácil, prático e baseado em ci-
ência, organizar programas de exercício físico para diferentes populações, sejam elas
especiais ou com doenças crônicas.
39
atividades de estudo
40
atividades de estudo
a. V; V; F; F, V.
b. F; F; V; V, V.
c. V; F; V; V, F.
d. F; F; F; F, V.
e. V; V; V; F, V.
41
atividades de estudo
( ) quando o idoso não conseguir fazer as atividades físicas devido a alguma limita-
ção física ou fisiológica, eles devem abandonar o qualquer programa de atividades
físicas.
( ) para idosos com doenças crônicas deve-se inicialmente entender como as suas
condições de saúde afetam a sua capacidade de realizar atividade física regular de
forma segura.
Assinale a alternativa correta:
a. V; V; F; F, V.
b. F; F; V; V, V.
c. V; F; V; F, V.
d. F; F; F; F, V.
e. V; V; V; V, V.
42
LEITURA
COMPLEMENTAR
43
material complementar
Página oficial da Organização Mundial da Saúde sobre as recomendações de atividade física para popula-
ção em diferentes faixas etárias.
Web: <https://www.who.int/dietphysicalactivity/factsheet_recommendations/en/>
O Exercise is Medicine® uma iniciativa global de saúde gerenciada pelo Colégio Americano de Medicina Es-
portiva (ACSM), incentiva os profissionais da saúde a incluir atividade física em tratamentos de diferentes
pacientes.
Web:<https://www.youtube.com/watch?v=AhvchRSofA4&list=PLH3yLqj49r0-5oEns-q0UkumFdTANUGrI>
44
referências
45
referências
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WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Global Recommendations on Phy-
sical Activity for Health. World Health Organization, 2010.
46
gabarito
47
CONHECENDO, DIAGNOSTICANDO E
TRATANDO O SOBREPESO E OBESIDADE
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Conceitos e Epidemiologia da Obesidade
• Etiologia, Fatores de Risco para a Obesidade e
Consequências à Saúde
• Ferramentas de Diagnóstico do Sobrepeso e Obesidade
• Tratamentos da Obesidade
• Atividade Física e Prescrição do Exercício Físico na
Obesidade
Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer os conceitos e a epidemiologia da obesidade.
• Apresentar a gênese da obesidade e os fatores de risco
envolvidos.
• Utilizar ferramentas para o diagnóstico da obesidade.
• Conhecer as formas de tratamento medicamentos e não
medicamentoso utilizadas na obesidade.
• Utilizar os princípios básicos da prescrição do exercício
físico para pessoas com obesidade.
unidade
II
INTRODUÇÃO
A
obesidade é uma doença crônica presente em muitos países em
todo o mundo. As evidências atuais demonstram que inúmer-
os fatores são responsáveis pela gênese do ganho e excesso de
peso, estes são considerados fatores de risco para o desenvolvi-
mento da obesidade. Além disso, quando o excesso de tecido adiposo está
instalado no organismo, este provoca diversos desequilíbrios que desen-
cadeiam consequências deletérias à saúde, entre elas doenças conheci-
das como hipertensão arterial, diabetes melito e tipos variados de câncer.
Portanto, é necessário que o profissional de educação física seja capaz de
identificar, diagnosticar e tratar o excesso de peso, no sentido de reduzir
as complicações à saúde e qualidade de vida da pessoa obesa.
Esta Unidade irá tratar inicialmente dos conceitos e da epidemiologia
da obesidade demonstrando que a transição nutricional atingiu vários
países no mundo, inclusive o Brasil. Posteriormente, serão tratadas as
questões de etiologia, fatores de risco para a obesidade e consequências
deletérias à saúde. A unidade seguirá com a apresentação de ferramentas
de diagnóstico do sobrepeso e obesidade que permitirá a prática profis-
sional sobre esta doença crônica. Nessa Unidade, você, ainda, conhecerá
os diferentes tratamentos da obesidade, que podem ir além da atuação do
profissional de educação física, mas, que exige o trabalho multidisciplinar
junto aos demais profissionais da saúde.
A partir destes conhecimentos básicos, poderemos então, aprender
que o tratamento do sobrepeso e obesidade não é simplesmente “comer
menos e exercitar-se mais”. Assim, a atividade física e prescrição de exer-
cício físico na obesidade será nosso último tema, no qual serão visitados
conceitos e aplicações apresentadas na Unidade I, além de desenvolver a
compreensão sobre aspectos operacionais e metas de programas de perda
de peso, que podem impactar no sucesso destas intervenções com pes-
soas obesas.
Conceitos e
epidemiologia da obesidade
A obesidade é uma doença crônica, definida como um O sobrepeso e a obesidade, que podemos chamar
acúmulo excessivo de gordura corporal que leva ao de excesso de peso, apresentam consequências im-
comprometimento da saúde, sendo consequência do portantes, desde perda da qualidade de vida até perda
balanço energético positivo (WHO, 2000). O número de de anos de vida e graves doenças crônicas não letais,
indivíduos acometidos tem avançado rapidamente em mas debilitantes: doenças cardiovasculares e cerebro-
diferentes países (MONTEIRO; CONDE, 2000), trans- vasculares, diabetes, hipertensão arterial sistêmica e
formando esta doença em um importante problema de certos tipos de câncer (FERREIRA; MAGALHÃES,
saúde pública e uma epidemia global. A causa do ganho 2006). Além disso, a literatura aponta que a obesidade
de peso e da obesidade é multifatorial, ou seja, estes fa- está associada à doenças mentais, como depressão e
tores atuam em conjunto, a genética, metabolismo, fator ansiedade, que podem ser acentuadas pela discrimi-
social, comportamental e cultura. nação social.
52
EDUCAÇÃO FÍSICA
Do ponto de vista epidemiológico, as taxas de obe- tudo, na análise estratificada por sexo, as maiores frequ-
sidade vêm aumentando em nível vertiginoso ao longo ências de obesidade foram observadas no sexo mascu-
das últimas décadas. Os dados revelam que este cresci- lino em Manaus (27,1%), Cuiabá (25,4%) e Porto Velho
mento foi de 27,5% para adultos e 47,1% para crianças (23,2%) e, no sexo feminino, no Rio de Janeiro (24,6%),
entre 1980 e 2013, em todo o mundo. Em 1980, homens Rio Branco (23,0%) e Recife (22,6%) (BRASIL, 2019).
com excesso de peso representavam 28,8% da população Os custos médicos com a obesidade também são
mundial, enquanto que mulheres representavam 29,8%; preocupantes. Estima-se que 2% a 7% dos orçamentos de
em 2013 estas taxas foram para 36,9% e 38%, respecti- saúde em países desenvolvidos são destinados a obesidade
vamente. Esses aumentos foram observados principal- (WHO, 2000). No Brasil, não é diferente: o impacto econô-
mente em países desenvolvidos, mas também em países mico para o Sistema Único de Saúde (SUS) do sobrepeso e
em desenvolvimento (NG et al., 2014). obesidade, no que se refere aos procedimentos ambulato-
Especificamente no Brasil os níveis são alarmantes. riais, hospitalizações e medicações consomem cerca de 6%
Em adultos, 52,5% para homens e de 58,4% para mu- a 14% do orçamento (BAHIA et al., 2012). Se as despesas
lheres apresentaram excesso de peso (sobrepeso e obe- indiretas fossem incluídas, entre elas os dias de trabalho
sidade); contudo, 11,7% dos homens e 20,6% das mu- perdidos, a incapacidade e o plano de saúde, os números
lheres são obesos (NG et al., 2014). Dados do VIGITEL seriam ainda mais altos (ABESO, 2012, on-line)¹.
(Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doen- O crescimento da obesidade no Brasil encontra-se
ças Crônicas por Inquérito Telefônico) revelaram que a dentro do processo de transformação do panorama ali-
frequência de adultos com excesso de peso (sobrepeso mentar do brasileiro. A urbanização e seu impacto nos
e obesidade) variou entre 47,2% em São Luís e 60,7% padrões alimentares e na atividade física também con-
em Cuiabá. Em termos gerais, a obesidade variou entre tribui para a progresso do excesso de peso e obesidade
15,7% em São Luís e 23,0% em Cuiabá e Manaus, Con- (MONTEIRO; CONDE, 2000).
53
54
INGESTÃO DE ENERGIA Atividade física
umidas
Calorias cons ) Exercício
(alimentação
EDUCAÇÃO FÍSICA
Descrição da Imagem: A figura a representa uma balança desequilibrada, pendendo para o lado esquerdo que contém as inscrições “ingestão de
energia”: calorias consumidas (alimentação), indicando o ganho de peso, e, na figura b, vemos a mesma balança desequilibrada pendendo para a
direita onde a inscrição diz: “gasto energético”: calorias em repouso, atividade física, exercício; indicando a perda de peso..
GANHO DE PESO
GASTO ENERGÉTICO
PERDA DE PESO
GASTO ENERGÉTICO
Calorias em
repouso
Calorias em
repouso
INGESTÃO DE ENERGIA
INGESTÃO DE ENERGIA Atividade física
Atividade física
Calorias cons
umida
umidas Exercício (alimentação s
Calorias cons ) )
(alimentação Exercício
Figura 1. Exemplos do desequilíbrio na relação entre ingestão e gasto calórico, como o ganho de peso (a) e perda de peso (b).
PERDA DE PESO
GASTO ENERGÉTICO
Calorias em
repouso
INGESTÃO DE ENERGIA
Atividade física
Calorias cons
umida
(alimentação s
O debategraph® desenvolve e alimenta um mapa da obesidade desde 2014,
)
Exercício
demonstrando a complexidade dessa doença crônica. Segundo eles, em-
bora a obesidade resulte do balanço energético positivo, existem muitos
fatores comportamentais e sociais que são complexos e que se combinam
para contribuir para as causas da obesidade. O acesso ao mapa da obesida-
de é público e você pode conferir as últimas atualizações sobre este tema
através do link: debategraph.org/obesityFSM
Para acessar, use o seu leitor de QR Code.
55
56
EDUCAÇÃO FÍSICA
• Hipertensão
Comorbidades • Hipertrofia ventricular esquerda com ou sem insuficiência cardíaca
cardiovasculares • Doença cerebrovascular
• Trombose
Essas comorbidades são consequências do excesso de mortalidade prematura muito maior do que seus pares
peso que impacta negativamente a saúde e a qualidade não obesos e que não têm outras doenças (NHLBI, 2000).
de vida. Para o risco global da obesidade na saúde tem As comorbidades quando associadas à obesidade
que se levar em conta a presença de outros fatores de ris- podem aumentar o risco prematuro de mortalidade, são
co. A pessoa que for obesa e apresentar outras doenças eles: hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo II, baixos
de cunho crônico-degenerativos podem ter um risco de níveis de colesterol HDL no sangue (< 35 mg/dL), níveis
57
elevados de colesterol LDL (≥ 160 mg/dL), histórico fa- causa de amputações traumáticas das extremidades infe-
miliar prematuro de doenças crônico degenerativas, ta- riores. Hu et al. (2001) realizou um estudo longitudinal
bagismo e idade (≥ 45 anos nos homens e ≥ 55 anos nas com 84.941 mulheres durante os 16 anos, sendo observa-
mulheres) (NHLBI, 2000). da uma incidência de 3.300 novos casos de diabetes. Neste
Rimm et al. (1995) demonstrou que o risco cardio- estudo, indivíduos que apresentaram um IMC maior que
vascular triplica se um jovem de 19 anos no decorrer de 30 kg/m² tiveram esse risco quadruplicado.
sua vida adulta ganhar mais de 20 kg corporais. Harris Além dessas doenças, ainda têm as cerebrovascula-
et al. (1993) em uma investigação epidemiológica lon- res, como os acidentes vasculares cerebrais (AVC), que
gitudinal, avaliou durante 14 anos mais de 1200 mu- representam a terceira causa de morte nos Estados Uni-
lheres americanas com excesso de peso, e identificou dos da América, sendo que 705 das pessoas que sofrem
que aquelas que perderam menos de 7,7% do seu peso esse evento ficam debilitadas (STEIN; COLDITZ, 2004).
corporal apresentaram uma incidência de doenças car- A associação destes eventos com a obesidade foi repor-
diovasculares muito maior do que seus pares que não tado em algumas pesquisas como em Field et al. (2001),
apresentavam excesso de peso. na qual homens com sobrepeso tiveram duas vezes mais
Em relação à hipertensão arterial e obesidade, Yong chances de ter um acidente desta natureza, sendo o risco
et al. (1993) numa investigação longitudinal ao longo menos evidente nas mulheres.
de 30 anos com homens e mulheres, observou que o A International Agency for Research on Cancer
ganho de peso influenciou em 20% a variabilidade da (Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer) res-
pressão arterial. Ademais, os indivíduos que ganharam ponsabilizou a obesidade como um dos fatores causado-
peso acima dos níveis recomendados apresentaram 40% res de diferentes tipos de câncer, como por exemplo: 9%
de chance de desenvolver hipertensão arterial sistêmica. de câncer de mama em mulheres após a menopausa; 11%
Sarno e Monteiro (2007) em um estudo transversal com de câncer de cólon do útero; 37% de câncer de esôfago;
adultos da cidade de São Paulo identificou que mais de 39% de câncer endometrial (STEIN; COLDITZ, 2004).
60% da hipertensão poderia ser evitada se as pessoas Ademais, a obesidade tem ligação também com
não apresentassem excesso de peso e valores de períme- algumas outras condições deletérias de saúde, que
tro da cintura acima dos níveis recomendados. necessitam de uma atenção especial, como é o caso
O diabetes mellitus tipo II também é uma comorbi- das osteoartrites, problemas gástricos, alterações no
dade que associada à obesidade aumenta o risco prema- humor, estresse contínuo, anormalidades ginecoló-
turo de morte. A diabetes é reportada pela Organização gicas, dentre outras (NHLIB, 2000; STEIN; COL-
Mundial de Saúde (WHO, 2004) como a principal causa DITZ, 2004). Assim, a obesidade faz parte do grupo
de novos casos de insuficiência renal terminal, aumenta de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT),
de 2 a 4 vezes a chance de ter uma doença ou evento coro- porque possui uma história natural prolongada,
nariano, é a principal causa de novos casos de cegueira em múltiplos fatores de risco, longo curso assintomáti-
adultos de 20 a 74 anos de idade, além de ser a principal co e em geral lento, prolongado e permanente.
58
EDUCAÇÃO FÍSICA
Ferramentas de diagnóstico
do sobrepeso e obesidade
Como vimos anteriormente, o excesso de peso, mais sonância magnética. Estes métodos mais avançados são
pronunciado na obesidade, tem consequências negati- precisos e reprodutíveis, no entanto, inviáveis para apli-
vas na saúde e na qualidade de vida do indivíduo. Por- cação clínica e/ou estudos em bases populacionais, devi-
tanto, diagnosticar o sobrepeso e obesidade de forma do ao seu alto custo. Por isso, o método antropométrico
precoce representa uma contribuição importante para a tem se mostrado eficiente por sua praticidade, acessibi-
atenção à saúde, com potencial em reduzir as comorbi- lidade e facilidade no manuseio com o objetivo de iden-
dades e demais complicações citadas. tificar indivíduos que possuem riscos relativos à saúde.
Nesse sentido, a evolução tecnológica levou ao avan- Para diagnosticar e classificar a obesidade, uti-
ço dos métodos para mensurar a quantidade de gordura lizamos principalmente o índice de massa corporal
corporal, como a tomografia computadorizada e a res- (IMC), que nada mais é do que o cálculo entre massa
59
corporal (kg) e estatura (m)² (IMC = kg/m²). Quando quantidade de gordura corporal, o que interfere dire-
o IMC de um indivíduo encontra-se acima de 30 kg/ tamente na saúde do indivíduo. A Tabela 1 apresenta
m², ele é classificado como obeso. Estudos mostram a classificação do sobrepeso e obesidade em relação
que quanto maior o valor do IMC, maior também a ao valores de IMC.
O IMC é a medida mais utilizada em todo o mundo O perímetro da cintura é utilizado para o diagnóstico da
para conhecer o estado nutricional da população do obesidade abdominal, o que inclui a gordura localizada
indivíduo, devido a sua simplicidade, baixo custo e ra- na região visceral, que é considerada um forte fator de
pidez na tomada de medidas e interpretação. Contudo, risco potencial para a doença cardiovascular, indepen-
esta técnica apresenta algumas limitações, importantes dentemente da gordura corporal total. Estudos apontam
de serem consideradas: que é uma medida de forte relação com métodos que
1. Não mede a gordura corporal ou massa magra. quantificam a gordura corporal a partir de imagens.
Por exemplo, para indivíduos musculosos (fisi- Ainda, a combinação da medida de IMC e do perímetro
culturistas), o IMC pode apontar para um falso- da cintura é superior para predizer o risco relativo à saú-
-positivo, indicando que estão na faixa de sobre-
de, baseado nas proporções de gordura corporal (JANS-
peso ou obesidade;
SEN et al., 2002). Quando combinados, há um aumento
2. Não avalia a distribuição da gordura corporal.
A localização da gordura corporal é importante, substancial na predição de risco a saúde (NHLBI, 1998),
especialmente quando localizada na região cen- aumentando assim a identificação de potenciais falsos-
tral do corpo. -negativos. A interpretação do excesso de gordura para o
aumento do risco à saúde abdominal, pelo perímetro da
cintura, pode ser visualizado na tabela 2 e a combinação
da medida de IMC e do perímetro da cintura na tabela 3.
60
EDUCAÇÃO FÍSICA
Embora o tema da obesidade infantil exige mais espa- do IMC também está associado ao aumento da gordura
ço do que é possível nessa unidade, sabe-se que há um corporal em crianças e adolescentes (ALVES JUNIOR et
aumento consistente da prevalência de obesidade em al., 2017). Para grupos mais jovens sugere-se a utilização
crianças e adolescentes. Portanto, a utilização do IMC da proposta internacional da Organização Mundial da
também pode ser realizado nesse grupo, pois o aumento Saúde, apresentada na tabela 4.
Sobrepeso Obesidade
Idade (anos)
Meninos Meninas Meninos Meninas
15 23,29 23,94 28,30 29,11
15,5 23,60 24,17 28,60 29,29
16 23,90 24,37 28,88 29,43
16,5 24,19 25,54 29,14 29,56
17 24,46 24,70 29,41 29,69
17,5 24,73 24,85 29,70 29,84
18 25,00 25,00 30,0 30,0
Tabela 4. Pontos de corte de Índice de Massa Corporal para adolescentes. / Fonte: Cole et al. (2000).
Como visto anteriormente, a evolução tecnológica comum no contexto clínico, é importante um breve
levou ao avanço dos métodos para mensurar a com- esclarecimento sobre estes, pois comumente estas
posição corporal, especialmente a quantidade de gor- técnicas aparecem em textos científicos e começam a
dura corporal para a precisa análise da obesidade. estar disponíveis para avaliação para prática dos pro-
Embora estas técnicas tenham alto custo e aplicação fissionais de Educação Física.
61
Tratamentos
da obesidade
O tratamento do sobrepeso e obesidade não deve ser dietas que têm como objetivo trazer ao indivíduo quan-
simplesmente uma recomendação para comer menos e tidade menores de calorias, além de quantidades míni-
exercitar-se mais. Trata-se de uma doença crônica e de mas de gordura. Ao passo que dietas com restrição caló-
causa multifatorial, exigindo um tratamento complexo rica tendem a induzir um balanço energético negativo,
e multidisciplinar, envolvendo os elementos: dietético, dietas com uma restrição calórica mais rígida seriam
exercício físico, farmacológico, comportamental através mais eficientes no processo de redução de peso corporal,
da terapia cognitivo-comportamental e mudança no es- contudo necessidades vitamínicas e de sais minerais não
tilo de vida, e em casos de maior gravidade, inclui-se o são atingidas (NHLBI, 1998).
tratamento cirúrgico (ABESO, 2016). Atualmente, o tratamento dietético não se trata ape-
As orientações dietéticas são a primeira linha de en- nas de objetivar o balanço energético negativo. Este deve
frentamento da obesidade, sobretudo as prescrições de ser associado à mudança comportamental, mantendo-se
62
EDUCAÇÃO FÍSICA
por longos períodos e levando em conta que, ao incluir seu elevado IMC e/ou condições clínicas de presença
e/ou excluir alimentos, é fundamental considerar os an- de comorbidades. Nestes casos, os riscos e benefícios
tecedentes socioculturais, a motivação do indivíduo, os devem ser cuidadosamente ponderados antes da inter-
custos e a facilidade na aquisição e preparo. O que de- venção cirúrgica (ABESO, 2009), pois a cirurgia bari-
termina o sucesso em um programa de emagrecimento átrica é um processo agressivo ao organismo. Entre as
em longo prazo é o método, a velocidade de perda de procedimentos disponíveis há a utilização de bandas ou
peso, a fisiologia individual e a mudança comportamen- anéis colocados verticalmente para obstruir a passagem
tal (ABESO, 2016). do alimento para o estômago ou redirecionamento do
A intervenção farmacológica é uma estratégia no alimento por uma via secundária adaptada pelo próprio
tratamento da obesidade, ela é indicada em adultos cirurgião (NHLBI, 1998). Abaixo, podemos verificar os
com IMC > 30 kg/m² ou adultos com IMC > 27 kg/ critérios de indicação para a cirurgia (Quadro 2).
m² na presença de comorbidades (NHLBI, 1998). Esta • Adultos com IMC > 40 kg/m² sem outras morbida-
intervenção sempre está acompanhada de mudança de des.
estilo de vida, que inclui dieta e atividade física. Assim, • Adultos com IMC 35 kg/m2 com uma ou mais mor-
bidades associadas.
o tratamento farmacológico é coadjuvante e deve ser • Adultos com resistência a tratamentos conservado-
individualizado, sob supervisão médica. Não significa res há pelo menos 2 anos.
que seja indicado a todos os indivíduos com sobrepeso • Adultos que aceitem, entendam e estejam motiva-
dos para a cirurgia.
e obesidade, além de ser contraindicado na ausência de • Ausência de contra-indicações.
outros tratamentos não farmacológicos, principalmente Quadro 2. Critérios de indicação para cirurgia bariátrica para adultos
a mudança no estilo de vida (ABESO, 2016). entre 18 e 65 anos. / Fonte: ABESO (2009, p.75).
Os medicamentos comumente utilizados, geralmen- É importante saber que há evidências limitadas para
te, inibem o receptor de alguma enzima ou hormônio recomendação da cirurgia bariátrica aos pacientes com
relacionado ao processo de absorção ou saciedade. Con- IMC inferior a 35 kg/m², nem para indicar tal cirurgia,
tudo, há efeitos deletérios ao organismo como doença especificamente, para o controle glicêmico em diabéti-
valvular do coração, hipertensão pulmonar primária, cos, independentemente do IMC.
aumento da frequência cardíaca, pressão arterial e ain-
da ocorre deficiência na absorção de vitaminas devido a
sua estrutura lipossolúvel (NHLBI, 1998).
O tratamento psicológico consiste na análise do ce-
nário e modificação de transtornos de comportamentos
associados ao estilo de vida, além do encorajamento e
da motivação para manter mudanças em longo prazo,
associado ao suporte social (ABESO, 2016).
O tratamento cirúrgico da obesidade é indicado
quando indivíduo não obteve sucesso em tratamentos
anteriores e mais conservadores ou quando indivíduo
apresenta um grau maior de risco à saúde devido ao
63
64
EDUCAÇÃO FÍSICA
Figura 3. Infográfico benefícios da atividade e do exercício físico em um programa de perda de peso Fonte: o autor.
65
Objetivos Orientações
A duração da atividade física deve ser entre 150 a 250 min./semana, que
Prevenir o ganho de peso
equivale a um gasto calórico entre 1200 a 2000 kcal/semana.
A duração da atividade física deve ser entre 225 a 420 min/semana para
Perda de peso
promover uma perda entre 5 a 7,5 kg.
Manter o peso após atingir a Para manter o peso após uma redução é necessário uma atividade física
meta estipulada entre 200 e 300 min./semana.
Exercício de resistência para a O treinamento de resistência promove a manutenção do peso e principal-
perda de peso mente mantém a massa corporal magra.
Tabela 5. Evidências para orientação e prescrição para atividade física para indivíduos obesos. / Fonte: ACSM (2009, on-line).
Ainda, o ACSM (2009) preconiza que a prescrição da o gasto calórico total com a atividade. Portanto, deve-se
atividade física para indivíduos obesos deve iniciar com ter a clareza de adequada o volume semanal as condi-
uma baixa intensidade e aumentar gradativamente, ções iniciais do indivíduo, considerando seus níveis de
sempre dando ênfase ao volume (duração) e a frequ- motivação no início do programa. Sobretudo, devem-se
ência (sessões) em vez da intensidade, pelo menos no estabelecer metas que possam ser alcançadas pelo in-
início dos programas. Assim, a modalidade primária divíduo obeso, para que o mesmo continue estimulado
deve consistir em atividades aeróbicas realizadas com no programa de exercícios. Não podemos esquecer que
grandes grupos musculares. Indivíduos que tenham a indivíduos obesos correm maior risco de lesões ortopé-
meta de reduzir o peso corporal devem elevar o gasto dicas, assim atividades de baixo impacto (hidroginásti-
energético entre 225 a 420 kcal/semana, considerando cas), podem ser uma alternativa em casos de obesidade
que a progressão deve ser estimulada a fim de aumentar mórbida (ACSM, 2009).
66
EDUCAÇÃO FÍSICA
Vimos que numa sessão de condicionamento físico, os doenças crônicas, como indivíduos obesos. O Quadro 1
princípios FITT-VP (frequência, intensidade, tempo, tipo, indica os princípios FITT-VP utilizados para a prescrição
volume e progressão) são os parâmetros recomendados de exercícios em obesos. Lembre-se de que é importante
pelo ACSM (2016) para a prescrição do exercício físico. Es- utilizar como controle da intensidade a frequência cardíaca
tes mesmos princípios são utilizados em populações com de reserva e a escala de percepção de esforço.
Exercícios Aeróbios
Tipo Principalmente atividades físicas aeróbicas, que envolvam grandes grupos musculares.
Cada grupo muscular principal deverá ser estimulado, preferencialmente em ações multiarticula-
Tipo
res, utilizando equipamentos ou peso corporal.
Repetições 8 a 12 repetições para melhorar força e a potência, na maioria dos adultos.
Séries 2 a 4 séries de exercício resistido para a melhora da força e potência, na maioria dos adultos.
Intervalos de repouso de 2 a 3 minutos entre cada série.
Padrão
Repouso ≥48 horas entre as sessões para qualquer grupo muscular único.
Progressão Progresso gradual de mais repetições por série e / ou aumento de resistência.
Quadro 1. Recomendações de exercícios físicos para indivíduos com sobrepeso e obesidade baseados em evidência Fonte: adaptado de ACSM (2016).
É importante reconhecer outras maneiras de prescrever tabólicos deflagra um meio interessante de quantificar
exercício físico, o gasto energético em equivalentes me- as sessões e o gasto em todo o programa.
67
considerações finais
68
atividades de estudo
69
atividades de estudo
4. Assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F) para as sentenças abaixo sobre a adequa-
da prescrição de exercícios para pessoas obesas:
( ) A influência de comorbidades aumenta a classificação de risco; portanto, a
triagem médica antes do teste de esforço é indispensável.
( ) A maioria das pessoas com peso excessivo não é fisicamente ativa. Isso signi-
fica que a prescrição da carga inicial pode ser alta.
( ) Recomenda-se o uso da bicicleta ergométrica, em vez da esteira ou demais
estratégias alternativas nas quais o indivíduo obeso não transporte seu peso cor-
poral.
70
atividades de estudo
71
LEITURA
COMPLEMENTAR
72
LEITURA
COMPLEMENTAR
duos com alto risco e que estejam em tratamento. No entanto, o alto custo não permite
ser utilizado rotineiramente.
Referências:
ELLIS, Kenneth J. Human body composition: in vivo methods. Physiological Reviews, v.
80, n. 2, p. 649-680, 2000.
73
LEITURA
COMPLEMENTAR
e criar déficit na dieta de 500 a 100 kcal/dia, além de praticar atividade física de intensi-
dade moderada de 30 a 45 minutos, preferencialmente, todos os dias da semana.
Tratamento farmacológico: pode ser coadjuvante às mudanças do estilo de vida, de
modo que para pacientes com o IMC maior que 30 kg/m² ou maior igual 27 kg/m² e
duas comorbidades, os remédios são também recomendados. Indivíduos obesos que
após os seis primeiros meses de intervenção com mudanças no estilo de vida que não
atingiram redução maior que 10% do seu peso corporal são indicados ao tratamento
medicamentoso.
Tratamento cirúrgico (bariátrica): pode ser um coadjuvante em pacientes que apresen-
tam um IMC maior ou igual a 40 kg/m² ou naqueles com o IMC 35 kg/m² e presença de
comorbidades.
Ao assumir que o paciente seguiu o tratamento torna-se necessário o feedback, ou
seja, perguntar ao indivíduo se os objetivos iniciais foram alcançados e interpretar jun-
to a ele a conquista das metas, contextualizando a necessidade de manutenção das
terapias e orientações dietéticas, de atividade física e o monitoramento periódico do
peso, IMC e circunferência da cintura. Contudo, se os objetivos propostos não foram
atingidos é recomendável buscar junto ao participante as razões para esta falha e acon-
selhá-lo novamente definindo novas metas.
Este algoritmo é específico ao sobrepeso e a obesidade, sendo que não pode ser usado
no tratamento de outras doenças. Além disso, exige uma equipe multidisciplinar para o
sucesso do tratamento. Assim, espera-se que os profissionais de Educação Física este-
jam aptos a orientar as atividades físicas habituais do indivíduo obeso e desenvolver os
programas de exercícios físicos para a redução e manutenção do peso corporal.
Referências:
SERDULA, M.K; KHAN, L.K; DIETZ, W.H. Weight loss counseling revisited. JAMA, 2003.
74
material complementar
Página da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), que se
configura numa sociedade multidisciplinar sem fins lucrativos que reúne cerca de 500 associados espalha-
dos por todo o país, das diversas categorias profissionais envolvidas.
Web:< http://www.abeso.org.br/ >
75
referências
76
referências
77
referências
RIMM, E.B. et al. Body size and fat distribution as predictors of coronary heart dise-
ase among middle-aged and older U.S. men. Am J Epidemiol, 141:1117–1127; 1995.
SARNO, F.; MONTEIRO, C.A. Importância relativa do Índice de Massa Corporal e
da circunferência abdominal na predição da hipertensão arterial. Revista de saúde
Pública, 41 (5): 788-796; 2007.
SERDULA, M.K et al. Weight loss counseling revisited. JAMA, 2003.
STEIN, C.J.; COLDITZ, G.A. The epidemic of obesity. J Clin Endocrinol Metab,
Jun;89(6):2522-5; 2004.
TAVARES, T.B. et al. Obesidade e qualidade de vida: revisão de literatura. Rev Med
Minas Gerais 2010; 20(3): 359-366.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Obesity: preventing and managing the glo-
bal epidemic. World Health Organization, 2000.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Global strategy on diet, physical ac-
tivity and health. Geneva, 2004.
YONG, L.C et al. Longitudinal study of blood pressure: changes and determinants
from adolescence to middle age. The Dormont High School follow-up study, 1957–
1963 to 1989–1990. Am J Epidemiol, 138:973–98; 1993.
Referências on-line
1Em:http://www.abeso.org.br/noticia/custos-de-doencas-ligadas-a-obesidade-para-
-o-sus. Acesso em: 3 jun. 2020.
78
gabarito
79
DIABETES MELITO E HIPERTENSÃO AR-
TERIAL: EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTI-
CO, TRATAMENTO E EXERCÍCIO
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Epidemiologia do Diabetes Melito e da Hipertensão Arterial
• Etiologia, Fatores de Risco e Consequências à Saúde
• Diagnóstico do Diabetes Melito e da Hipertensão Arterial
• Tratamentos medicamentosos e não-medicamentosos do
Diabetes Melito e da Hipertensão Arterial
• Prescrição do Exercício Físico para pessoas com Diabetes
Melito e Hipertensão Arterial
Objetivos de Aprendizagem
• Conhecer os conceitos e a epidemiologia do Diabetes
Melito e da Hipertensão Arterial.
• Descobrir a gênese, os fatores de risco e as consequências
do Diabetes Melito e da Hipertensão Arterial.
• Utilizar ferramentas de diagnóstico do Diabetes Melito e da
Hipertensão Arterial.
• Conhecer os tratamentos do Diabetes Melito e da
Hipertensão Arterial.
• Utilizar os princípios básicos da prescrição do exercício
físico para pessoas do Diabetes Melito e da Hipertensão
Arterial.
unidade
III
INTRODUÇÃO
A
nteriormente, conhecemos um pouco mais sobre a obesidade,
desde a sua etiologia até as consequências prejudiciais à saúde,
sendo este um tema em constante construção, pois o excesso
de gordura corporal provoca alterações no metabolismo e na
hemodinâmica da circulação sanguínea. As alterações metabólicas mais
comuns decorrentes do excesso de peso e obesidade são o Diabetes Meli-
to e a Hipertensão Arterial, muito comuns na população em geral, o que
indica a necessidade do Profissional de Educação Física preparar-se para
a sua atuação.
Assim, esta Unidade irá abordar inicialmente os conceitos-chaves e
a epidemiologia do Diabetes Melito e da Hipertensão Arterial, demons-
trando a magnitude e abrangência dessas doenças em adultos. Etiologia,
fatores de risco e as consequências à saúde serão apresentados posterior-
mente, indicando os potenciais de cada uma das doenças, que embora
possam convergir em alguns desfechos conhecidos, tem complicações
particulares que necessitam do nosso olhar. O diagnóstico do diabetes
melito e da hipertensão arterial são normalmente obtidos em medidas
ambulatoriais repetidas, porém o profissional de Educação Física deve
estar por dentro de todos os detalhes para melhor acolher e atender o
indivíduo com estas condições.
Você verá os tipos de tratamento medicamentosos e não-medicamen-
tosos do Diabetes Melito e da Hipertensão Arterial, para compreender
como o profissional de Educação Física pode atuar em equipes multipro-
fissionais, melhorando assim o atendimento desses indivíduos. Por fim,
inerente a nossa profissão, estão os processos de prescrição do exercício
físico para pessoas com Diabetes Melito e Hipertensão Arterial. Embora,
certos parâmetros sejam semelhantes à população geral e, muitos benefí-
cios possam ser atingidos, o desprezo de cuidados essenciais antes e du-
rante as sessões podem trazer consequências negativas indesejadas.
Epidemiologia do diabetes
melito e da hipertensão arterial
84
EDUCAÇÃO FÍSICA
85
Descrição da Imagem: Gráfico de barras indicando a prevalência de adultos homens com DM nas capitais do país, sendo Salvador a capital com
menor incidência e Rio de Janeiro a maior, em porcentagens.
14
12
10
8 8
8 8
7 7 8 8
% 8 7 7 7
7 7
6 6 7 7 7
6 6 6
6 6 6
6 5 5 5
Campo Grande
Distrito Federal
Natal
Salvador
Aracaju
Vitória
Boa Vista
Cuiabá
Recife
João Pessoa
Curitiba
Rio Branco
Palmas
Porto Velho
Teresina
São Luís
São Paulo
Fortaleza
Rio de Janeiro
Maceió
Porto Alegre
Goiânia
Florianópolis
Belém
Belo Horizonte
Macapá
Manaus
Figura 1. Percentual de homens (≥ 18 anos) que referiram diagnóstico médico de diabetes, nas capitais brasileiras e Distrito Federal.
Fonte: Brasil (2019, p. 94).
Descrição da Imagem: Gráfico de barras indicando a prevalência de adultos mulheres com DM nas capitais do país, sendo Rio Branco a capital com
menor incidência e Rio de Janeiro a maior, em porcentagens.
14
12
10
8 8 8 8 8 8
8 7 7 8
% 7 7 7
7 7 7 7
5 6 6 6
6 5
4
4
4
0
Campo Grande
Distrito Federal
Natal
Aracaju
Rio Branco
Palmas
Boa Vista
São Luís
Porto Velho
Teresina
Rio Branco
Salvador
Palmas
São Paulo
João Pessoa
Cuiabá
Vitória
Recife
Fortaleza
Rio de Janeiro
Porto Alegre
Florianópolis
Goiânia
Belo Horizonte
Maceió
Macapá
Manaus
Figura 2. Percentual de mulheres (≥ 18 anos) que referiram diagnóstico médico de diabetes, nas capitais brasileiras e Distrito Federal.
Fonte: Brasil (2019, p. 94).
86
EDUCAÇÃO FÍSICA
Desde a implantação desse sistema, em 2006, destaca-se acidente vascular encefálico, insuficiência cardíaca, do-
o crescimento da prevalência de diabetes ao longo dos ença arterial periférica e renal (ACSM, 2016) e de maior
anos, tanto em mulheres como em homens. As maio- chance de mortalidade (PESCATELLO et al., 2004).
res prevalências são, sistematicamente, encontradas em Na análise do Global Burden Disease Study (Estudo
adultos com mais de 40 anos (ADA, 2010), especialmen- Global de Carga de Doenças) a hipertensão arterial foi
te nos idosos (65 anos ou mais de idade), que possuem responsável por 924.7 mil (intervalo de confiança de 95%:
além do DM outras comorbidades que aumentam o 681.4 a 994.9) mortes em 2017, sendo que esse valor foi
risco cardiovascular. Considerando que o DM repre- 46,6% maior na comparação entre 2007 e 2017 (ROTH
senta um agravo que maximiza o surgimento de outras et al., 2018). As estimativas da OMS destacam que níveis
doenças crônicas, o desenvolvimento de estratégias des- elevados de pressão arterial foram responsáveis por cerca
tinadas a esse grupo especial, torna-se relevante, prin- de 57 milhões de mortes em todo o mundo (WHO, 2009).
cipalmente com ações de prevenção e tratamento, por A prevalência global de HA foi estimada em 1,13 bi-
intermédio de um estilo de vida ativo e saudável. lhão em 2015, com de mais de 150 milhões de hipertensos
na Europa Central e Oriental. Assim, a prevalência geral
HIPERTENSÃO ARTERIAL de HA em adultos é de cerca de 30 a 45%, sendo que a HA
se torna progressivamente mais comum com avanço da
A hipertensão arterial (HA) é caracterizada por níveis idade, chegando a prevalências maior que 60% em pesso-
elevados de pressão arterial sistólica (PAS) e/ou diastóli- as com idade superior a 60 anos (WILLIAMS et al., 2018)
ca (PAD), decorrentes de modificações estruturais e/ou Nos Estados Unidos da América a prevalência ob-
funcionais de órgãos, como coração e rins e, alterações servada por meio da pesquisa NHANES (National He-
metabólicas (SBC, 2016). A pressão arterial é a força alth and Nutrition Examination Survey - Pesquisa Na-
contra as artérias que transportam o sangue do coração cional sobre Exame de Saúde e Nutrição, 2005-2008),
para as células corporais, sendo mediada pelo débito foi de 29,9% e as características associadas às maiores
cardíaco (quantidade de sangue bombeada pelo cora- prevalências de HA foram: homens, adultos mais velhos
ção e frequência de batimentos do coração) e resistência com idade maior ou igual a 65 anos, menor nível de es-
encontrada nas artérias. A definição da pressão arterial colaridade e renda familiar, com diabetes e incapacidade
sistólica (PAS) reside na pressão da artéria no momento para o trabalho (CDC, 2011).
em que o sangue foi bombeado pelo coração, enquanto Como apresentado pela 7ª Diretriz Brasileira de
que a pressão arterial diastólica (PAD) é definida pela Hipertensão Arterial, a prevalência no território brasi-
pressão da artéria no momento em que o coração está leiro de HAS varia de acordo com as características da
relaxado após uma contração. população estudada e do método de avaliação. Picon et
Portanto, a HA é uma condição clínica, que tem ori- al. (2012), realizaram uma meta-análise de 40 estudos
gem multifatorial e se caracteriza pela elevação sustentada transversais e de corte com amostra brasileira de 1980
dos níveis pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg (SBC, 2016). a 2010. Os resultados mostraram uma tendência à dimi-
Pessoas com HA não controlada apresentam maiores nuição da prevalência em 6% nas últimas três décadas,
chances do risco de desenvolver doença cardiovascular, embora ainda se aproxime de 30%.
87
Nesse sentido, os resultados do estudo ELSA-Brasil No VIGITEL, com base na pergunta “Algum médico
que incluiu 15.103 servidores públicos de seis capitais já lhe disse que o(a) Sr.(a) tem pressão alta?” foi estimada
brasileiras, foi utilizado para estimar a prevalência de a prevalência de HA em adultos brasileiros. Neste estudo
HA medida objetivamente. No estudo foi encontrado de vigilância foi encontrado a frequência de adultos que
prevalência em 35,8% de HA, sendo que os homens de- referiram diagnóstico médico de HA entre 15,9% em
monstraram maior predomínio comparado às mulheres São Luís e 31,2% no Rio de Janeiro, com variações signi-
(40,1% vs 32,2%). ficativas entre os sexos e regiões brasileiras apresentadas
nas Figuras 3 e 4 (BRASIL, 2019).
Descrição da Imagem: Gráfico de barras indicando a prevalência de adultos homens com HA nas capitais do país, sendo Porto Velho a capital com
menor incidência e Campo Grande a maior, em porcentagens.
40
35
30
27
26 26
24
25 23 23 24
21 22 22
% 20 20 20 21 21 21 21 21 21
19 19 19 19 19 19
20
16
15
15
10
Campo Grande
Teresina
Distrito Federal
Natal
Aracaju
Porto Velho
São Paulo
Vitória
Palmas
Curitiba
Boa Vista
Rio Branco
Fortaleza
Cuiabá
Salvador
São Paulo
Recife
João Pessoa
Rio de Janeiro
Porto Alegre
Florianópolis
Belém
Belo Horizonte
Maceió
Macapá
Manaus
Goiânia
Figura 3. Percentual de homens (≥ 18 anos) que referiram diagnóstico médico de hipertensão arterial (HA), nas capitais brasileiras e Distrito Federal.
Fonte: Brasil (2019, p. 88).
88
EDUCAÇÃO FÍSICA
Descrição da Imagem: Gráfico de barras indicando a prevalência de adultos mulheres com HA nas capitais do país, sendo São Luís a capital com
menor incidência e Rio de Janeiro a maior, em porcentagens.
40
35
35
30
29 29 30
30
26 27 27 27 27
26 26
24 25 25 25
25 23 23 23 23 24
22 22
21
%
20 18 18
16
15
10
Campo Grande
Distrito Federal
Natal
Aracaju
São Luís
Boa Vista
Palmas
Porto Velho
Fortaleza
Curitiba
Rio Branco
Cuiabá
Cuiabá
João Pessoa
São Paulo
Recife
Vitória
Rio de Janeiro
Porto Alegre
Belém
Florianópolis
Goiânia
Belo Horizonte
Belo Horizonte
Maceió
Macapá
Figura 4. Percentual de mulheres (≥ 18 anos) que referiram diagnóstico médico de hipertensão arterial (HA), nas capitais brasileiras e Distrito Federal. Manaus
Fonte: Brasil (2019, p.88).
Embora, essa abordagem seja alvo de críticas e limita- tos socioeconômicos elevados. Contudo, dados do do
ções, o diagnóstico médico referido é utilizado também Sistema Único de Saúde (SUS) demonstram significa-
em outros estudos de abrangência nacional como no tiva redução da tendência de internação por HA, de
Center of Disease of Control and Prevention (Centro 98,1/100.000 habitantes em 2000 para 44,2/100.000
de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Uni- habitantes em 2013. As taxas históricas de hospi-
dos da América. Vale ressaltar que os valores estimados talização por doenças cardiovasculares por região
pelo VIGITEL (BRASIL, 2019) foram semelhantes aos são apresentadas na Figura 5, que mostram a redu-
estudos que realizaram o diagnóstico objetivo a partir ção para HA e manutenção da redução para aciden-
da medida da pressão arterial. tes vascular encefálicos, ainda que indique aumento
As doenças cardiovasculares são responsáveis por das internações por doenças isquêmicas do coração
elevada frequência de internações e promovem cus- (MALACHIAS et al., 2016).
89
Descrição da Imagem: Gráfico de barras indicando taxas de variação das doenças DH, DIC, AVE nas diferentes regiões do país.
2010
Geral 2011
2012
2010
Norte 2011
2012
2010
Nordeste 2011
2012
2010
Sudeste 2011
2012
2010
Sul 2011
2012
2010
Centro-Oeste 2011
2012
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
DH DIC AVE
Figura 5. Evolução da taxa de internações por 10.000 habitantes no Brasil por região entre 2010 e 2012. DH: doenças hipertensivas; DIC: doenças
isquêmicas do coração; AVE: acidente vascular encefálico . / Fonte: SBC (2016).
90
EDUCAÇÃO FÍSICA
91
Fechado aberto
células
O DM1 é também conhecido como diabetes insulino- DM1 ocorre principalmente em crianças, adolescente e
-dependente, devido à necessidade de doses sintéticas e adultos jovens até 30 anos e os principais sinais e sinto-
exógenas de insulina. Isso ocorre porque as células de mas são sede, fome, vontade de urinar em excesso, fadi-
defesa do próprio organismo atacam as células β pan- ga, lentidão no processo de cicatrização de ferimentos e
creáticas em um processo auto-imune, que acarreta a visão turva (MARASCHIN et al., 2010; NIH, 2008).
produção insuficiente de insulina ao indivíduo; entre- O DM2 é a forma mais comum de Diabetes Meli-
tanto, também pode ser de origem idiopática (sem causa to e acomete principalmente adultos e idosos, apesar de
definida ou conhecida) (MARASCHIN et al., 2010). O ser cada vez mais frequente em crianças e adolescentes,
92
EDUCAÇÃO FÍSICA
93
DOENÇA CARDIOVASCULAR
As doenças cardiovasculares são mais precoces e mais frequentes em
indivíduos com DM, como é o caso da hipertensão arterial, que deve
ter seu controle intensificado neste caso. Além disso, a dislipidemia
(elevação de colesterol e triglicerídeos no plasma sanguíneo)
também é outro fator que aparece com mais frequência em
pacientes com DM, o que contribui para a manifestação da doença
arterial coronariana.
RETINOPATIA DIABÉTICA
É a principal forma de cegueira irreversível no Brasil e é classificada
em não-proliferativa e proliferativa. Na sua forma não-proliferativa,
causa visão embaçada devido ao edema macular que pode ser
tratado e o quadro revertido. Após algum tempo, desenvolve-se a
forma proliferativa da doença, que pode desencadear em
hemorragia vítrea, descolamento da retina e glaucoma.
NEFROPATIA DIABÉTICA
O alto nível de açúcar no sangue sobrecarrega a atividade de
filtração dos rins, o que acarreta em perda de moléculas de proteína
na urina, que em outra situação seriam utilizadas pelo organismo. A
evolução desse quadro consiste em síndrome nefrótica e
insuficiência renal, o que leva o indivíduo à necessidade de realizar
hemodiálise e até transplante, em casos mais graves.
NEUROPATIA DIABÉTICA
Trata-se de uma lesão neural devido à glicemia elevada, que pode se
manifestar através de alguns sinais como sensação de queimação,
cãimbras, agulhadas, formigamentos, fraqueza, dor, dificuldade na
percepção do calor e do frio. Estes sinais podem se ocorrer em
repouso, com exacerbação à noite e melhora com movimentos.
PÉ DIABÉTICO
É uma complicação do DM que ocorre a partir de uma ferida ou
machucado que pode evoluir à úlcera devido à neuropatia e má
circulação, no qual em níveis graves, pode levar à amputação de
extremidades.
Figura 6. Infográfico complicações em indivíduos com DM. / Fonte: Adaptado de Brasil (2006).
94
EDUCAÇÃO FÍSICA
95
crônico e elevado de álcool, dislipidemias, diabetes dismo ou hipertireoidismo e doença da artéria aorta
não controlada, sedentarismo e genética (MALA- (CHIANG et al., 2010).
CHIAS et al., 2016; SBC, 2016; CHIANG et al., 2010). Em longo prazo, a HA não controlada danifica os
Todavia, a HA pode originar-se, também, de causas vasos sanguíneos, prejudicando a circulação sistêmi-
secundárias como patologias relacionadas aos rins, ca ofertada aos tecidos e acarreta sérias consequên-
disfunções endócrinas que ocasionam em hipotireoi- cias ao organismo:
Arritmias.
Insuficiência cardíaca.
96
EDUCAÇÃO FÍSICA
Diagnóstico do diabetes
melito e da hipertensão arterial
O diagnóstico do diabetes melito e da hipertensão ar- percebidos pelos indivíduos acometidos e, por isso, é con-
terial é extremamente importante, dada que ambas as siderado uma doença silenciosa. Por este motivo, muitas
condições de agravo à saúde são silenciosas e crônicas, pessoas não sabem que possuem DM, o que pode acarre-
levando muito tempo para manifestar sintomas clíni- tar em complicações graves devido a presença silenciosa
cos relevantes. Portanto, é fundamental aprender como da doença por muito tempo. Neste sentido, consultas e
ocorre o diagnóstico destas doenças crônicas. exames periódicos são fundamentais e capazes de iden-
tificar um estado de risco aumentado para o desenvolvi-
DIABETES MELITO mento de DM2, que é conhecido como pré-diabetes.
Em uma condição de pré-diabetes, os níveis de gli-
Na maioria das vezes, o DM não apresenta muitos sinais cemia são superiores ao normal, mas ainda não repre-
e sintomas evidentes, ou seus sintomas podem não ser sentam valores suficientes para o diagnóstico de DM;
97
contudo, é considerado um sinal de alerta e uma condi- de Diabetes (ADA, 2020) e têm sido utilizados em
ção que ainda pode ser revertida. todo o mundo com o objetivo de prevenir as compli-
Os parâmetros para diagnóstico da pré-diabetes cações decorrentes da doença, utilizando os seguin-
e DM foram definidos pela Associação Americana tes métodos:
Figura 8. Infográfico método para diagnóstico de pré-diabetes e DM. / Fonte: Adaptado de ADA (2020).
Os critérios de diagnóstico de pré-diabetes e DM podem ser verificados no quadro abaixo (quadro 3):
Glicemia em jejum Teste de Tolerância Teste de Hemoglobina Glicemia casual (com
de 8 horas Oral à Glicose Glicada (A1C) sintomas clássicos)*
Glicemia normal ≤ 100 mg/dL ≤ 140 mg/dL ≤ 5,7 % -
≥ 100 mg/dL e ≥ 140 mg/dL e ≥ 5,7 % e
Pré-diabetes -
≤ 125 mg/dL ≤ 199 mg/dL ≤ 6,4 %
Diabetes Melito ≥ 126 mg/dL ≥ 200 mg/dL ≥ 6,5 % ≥ 200 mg/dL
* Glicemia medida a qualquer momento do dia, considerando um paciente com sintomas clássicos de hiperglicemia ou em crise hiperglicêmica.
Quadro 3. Critérios de diagnóstico da diabetes em função dos valores de glicemia (mg/dL), ADA, 2020. / Fonte: Adaptado de ADA (2020).
98
EDUCAÇÃO FÍSICA
PREPARAÇÃO PRÉVIA À MEDIDA DA PRESSÃO ARTE- Se os batimentos persistirem até o nível zero,
RIAL determinar a PAD no abafamento dos sons
11
(fase IV de Korotkoff) e anotar valores da PAS/
Paciente deve estar em repouso 3 a 5 minutos
1 PAD/zero.*
antes da aferição.
Realizar pelo menos duas medições, com
Paciente não deve conversar ou se movimen-
intervalo em torno de um minuto. Medições
tar durante o exame; assim como não deve
2 12 adicionais deverão ser realizadas se as duas
ter realizado exercício físico nos últimos 60
primeiras forem muito diferentes. Caso julgue
minutos.
adequado, considere a média das medidas.
Posicionamento do paciente:
Medir a pressão em ambos os braços na pri-
Sentado, com pernas descruzadas e pés
13 meira consulta e usar o valor do braço onde
apoiados no chão.
foi obtida a maior pressão como referência.
3 Dorso encostado na cadeira e relaxado.
Braço posicionado na altura do coração, Anotar os valores exatos sem “arredondamen-
14
apoiado, com a palma da mão voltada para tos” e o braço em que a PA foi medida.
cima. * Itens realizados exclusivamente na técnica auscultatória. PAS: pressão
arterial sistólica; PAD; pressão arterial diastólica; mmHg: milímetros de
PASSO-A-PASSO DA MEDIDA DA PRESSÃO ARTERIAL
mercurio.
Determinar a circunferência do braço e sele- Quadro 4. Etapas para a Medição da Pressão Arterial
1 cionar o manguito de tamanho adequado ao Fonte: adaptado de MALACHIAS (2016).
braço do indivíduo.
Colocar o manguito sem deixar folgas, 2 a 3 Os valores fisiológicos e normais de PA, conhecidos
2
cm acima da fossa cubital. como condição de normotensão, são medidas menores
Centralizar o meio da parte compressiva do ou iguais a 120/80 mmHg para PAS e PAD, respectiva-
3
manguito sobre a artéria braquial.
mente. Valores considerados aceitáveis são até <130/85
Estimar o nível da PAS pela palpação do pulso
4 mmHg. A Hipertensão Arterial (HA) estágio I é consi-
radial.*
derada quando ≥140/90 mmHg são obtidos em, pelo
Palpar a artéria braquial na fossa cubital e co-
5 locar a campânula ou o diafragma do estetos- menos, três aferições em dias diferentes. A HA estágio 2
cópio sem compressão excessiva.* e 3 possuem valores de PAS e PAD entre 160-179 e 100-
Inflar rapidamente até ultrapassar 20 a 30 109 mmHg e ≥180 e ≥110, respectivamente.
6 mmHg o nível estimado da PAS obtido pela Em termos gerais, essa informação é muito impor-
palpação.*
tante para o profissional de Educação Física estabelecer
Proceder à deflação lentamente (velocidade
7 os níveis de intervenção segura com exercício físico ou
de 2 mmHg por segundo).*
mesmo contraindicar qualquer prática de atividade físi-
Determinar a PAS pela ausculta do primeiro
8 som (fase I de Korotkoff) e, após, aumentar ca. No tratamento não medicamentoso da HA a aborda-
ligeiramente a velocidade de deflação.* gem multiprofissional é recomendada sempre que pos-
Determinar a PAD no desaparecimento dos sível e inclui o profissional da educação física, que deve
9
sons (fase V de Korotkoff).* estar apto a trabalhar em equipe, reconhecendo os seus
Auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do limites de atuação e compartilhando informações clíni-
último som para confirmar seu desapareci-
10 cas (SBC, 2016; SILVA et al., 2010).
mento e depois proceder à deflação rápida e
completa.*
99
100
EDUCAÇÃO FÍSICA
e habilidades no monitoramento da glicemia e na mu- bagismo e controle do estresse (psicoterapia, yoga, “tai chi
dança do estilo de vida. O segundo aspecto trata-se da chuan” etc.) (MALACHIAS et al., 2016; KOHLMANN et
prevenção de complicações crônicas, através de inter- al., 1999). Neste sentido, ressalta-se a importância da aten-
venções preventivas metabólicas e cardiovasculares; e ção à saúde numa abordagem multiprofissional.
na detecção e tratamento das complicações crônicas do A partir do momento em que evidencia-se a ne-
DM (BRASIL, 2006; MILECH et al., 2016). cessidade de tratamento medicamentoso para a HA, o
Para tanto, é necessário manter uma alimenta- paciente deve ser orientado quanto à importância do
ção saudável, prática regular de atividades físicas, uso contínuo dessas medicações, bem como o eventu-
evitar o fumo e manter parâmetros clínicos envolvi- al ajuste de doses, troca ou associação de fármacos. Os
dos no cenário adequados : glicemia em jejum, he- anti-hipertensivos comumente utilizados são os diuré-
moglobina glicada, triglicerídeos, colesterol e pres- ticos, inibidores adrenérgicos, vasodilatadores diretos,
são arterial (BRASIL, 2006; MILECH et al., 2016). inibidores da enzima conversora da angiotensina, anta-
gonistas dos canais de cálcio e antagonistas do receptor
HIPERTENSÃO ARTERIAL da angiotensina II.
No III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arte-
O tratamento não medicamentoso da HA tem como rial, realizado em 1998, foi definida a decisão terapêu-
meta a mudança no estilo de vida que propicie a redu- tica para HA baseada na estratificação de risco e nos
ção da pressão arterial; abrange o controle de peso, terapia níveis de pressão arterial, verifique a seguir, na Tabela 1
nutricional, prática de atividades físicas, abandono do ta- (KOHLMANN, 1999):
101
102
EDUCAÇÃO FÍSICA
Os benefícios do exercício físico regular para in- contínua. Devem-se enfatizar as atividades que utili-
divíduos com DM tipo II e pré-diabetes impactam di- zem os grandes grupos musculares de modo rítmico e
retamente no quadro clínico e evolução da doença. Os contínuo. Além disso, devem ser levados em conside-
benefícios incluem a melhora da intolerância à glicose, ração os interesses pessoais e objetivos desejados para
o aumento da sensibilidade à insulina e a diminuição da o programa de exercícios do paciente com DM. Em
hemoglobina glicosilada que tem como reflexo a otimi- termos de progresso do programa, a maximização do
zação da homeostase do metabolismo dos carboidra- gasto energético sempre será grande prioridade; por-
tos (MILECH et. al., 2016). Em indivíduos com DM1 tanto, deve-se aumentar progressivamente a duração
e naqueles com DM2 que utilizam insulina exógena, dos exercícios. Conforme os indivíduos aumentem o
o exercício físico regular impõe adaptações orgânicas seu condicionamento físico, pode ser desejável adi-
que reduz as necessidades de administração de insulina cionar exercícios de maior intensidade para promover
exógena (ACSM, 2016). Além disso, ocorre simultane- adaptações benéficas (ACSM, 2016).
amente a redução dos fatores de risco para doença car- Adicionalmente, o exercício resistido deve ser en-
diovascular como a melhora no perfil lipídico, redução corajado quando não houver contraindicações, como a
da pressão arterial e peso corporal, além da otimização retinopatia e os tratamentos utilizando cirurgia a laser,
da capacidade funcional de pessoas com DM. consideradas complicações comuns nos pacientes com
As recomendações do American College of Sports DM avançada. Embora as orientações sejam semelhan-
Medicine (ACSM) para a prescrição de exercícios físicos tes aos indivíduos saudáveis (frequência em 2 a 3 dias.
aeróbicos e resistidos ao indivíduo com DM se suportam semana-1; exercício de cada grande grupo muscular;
nos princípios FITT (ACSM, 2016). Deve-se lembrar de intensidade 60 a 70% 1-RM; 8 a 12 repetições em 2 a
que os princípios FITT se referem à frequência, intensi- 4 séries), pode ser necessário algumas adaptações in-
dade, tipo, tempo da sessão de exercícios. Um programa dividuais devido a presença de comorbidades. Existem
de exercícios para pessoas com DM deve incluir exer- evidências sugerindo que a combinação dos exercícios
cícios aeróbios e resistidos. A seguir, serão descritos os aeróbicos e resistidos melhora o controle da glicemia
parâmetros da sessão de cada tipo de exercício. comparado às mesmas modalidades aplicadas de forma
Na prescrição de exercícios aeróbicos, a frequên- isolada (ACSM, 2016).
cia de exercícios na semana pode variar de 3 a 7 dias, A prescrição do exercício em pessoas com DM
enquanto que a intensidade corresponde de 40 a <60% exige algumas considerações especiais. A hipoglicemia
do consumo máximo de oxigênio ou da frequência é o problema mais sério e de maior complicação para
cardíaca de reserva (ou 11 a 13 da percepção subjeti- indivíduos com DM que se exercitem, portanto, é uma
va de esforço). Pode ser alcançado um controle melhor preocupação principalmente para indivíduos que ad-
da glicemia com intensidades superiores (>60%), de ministram insulina exógena ou tomam medicamentos
modo que indivíduos em exercícios regulares pode-se hipoglicemiantes que aumentam a secreção da insulina
considerar aumentar a intensidade. O tempo de uma (ACSM, 2016). A hipoglicemia, considerada quando <
sessão de exercício físico é de 20 a 60 minutos, consi- 70 mg.dL-1 é relativa, podem ocorrem quedas rápidas
derando blocos de no mínimo 10 minutos de atividade sem sintomas ou o indivíduo apresentar tremores, fra-
103
queza, suor anormal, nervosismo, ansiedade, formiga- cardíaca e pressão arterial. Nesses casos deve-se: 1) moni-
mento na boca e nos dedos e fome. Os sintomas neuro- torar os sinais e sintomas de hipoglicemia, de isquemia si-
glicopênicos incluem a dor de cabeça, distúrbios visuais, lenciosa (encurtamento da respiração ou dor nas costas);
confusão mental, convulsões e coma. A hipoglicemia 2) monitorar a pressão arterial antes e após o exercício
ainda pode ocorrer de modo atrasado e aparecer em até para administrar a hipotensão e hipertensão associadas
12 horas após o exercício (ACSM, 2016). ao exercício; 3) avaliar a percepção subjetiva de esforço.
Portanto, o monitoramento da glicemia antes da No caso de neuropatia periférica (pé diabético) o cuidado
sessão de exercício e horas após o exercício findar pare- deve ser com os pés para evitar a ulceração durante o exer-
ce ser prudente, ainda mais pela escassez de informações cício, para isto recomenda-se utilizar de calçados e meias
sobre o efeito combinado de exercícios e hipoglicemian- confortáveis. Para indivíduo com nefropatia, embora não
tes. Assim, o ajuste do consumo de carboidratos e / ou haja evidências sobre aceleração da taxa de progresso da
medicamentos antes e após o exercício com base nos va- doença renal em função da intensidade vigorosa, é pru-
lores de glicemia e de intensidade do exercício é neces- dente aplicar intensidades moderadas.
sário para evitar a hipoglicemia. Por todas essas razões Em linhas gerais, a prática regular de exercícios físicos
supracitadas que visam reduzir os eventos de hipoglice- contribui para o controle glicêmico, assim como auxilia
mia, a supervisão dos exercícios por um profissional de para uma maior sensibilidade da insulina nos receptores
Educação Física, qualificado no trabalho com este grupo das células. Associado a um estilo de vida ativo, uma ali-
especial, é fundamental. mentação equilibrada é fundamental, esses aspectos pos-
No outro extremo, a hiperglicemia é uma preocu- sibilitam à manutenção não somente da glicemia corpo-
pação para os indivíduos com DM tipo II que não tem ral, mas, o nível de gordura corporal (ADA, 2010).
controle glicêmico. Os sintomas comuns associados à
hiperglicemia incluem a poliúria (urina frequentemente HIPERTENSÃO ARTERIAL
“adocicada”), fadiga, fraqueza, sede exacerbada e hálito
cetônico. Pessoas com hiperglicemia, desde que se sin- A prática regular de atividade física pode ser benéfi-
tam bem e não apresentem corpos cetônico no sangue ca tanto na prevenção quanto no tratamento da HA,
ou urina, podem se exercitar; porém, deve-se avaliar a reduzindo ainda a morbimortalidade cardiovascular
sua glicemia frequentemente e evitar o exercício vigoro- (MALACHIAS et al., 2016). Ao tratar de pessoas que
so até que percebam um que a glicemia esteja diminuin- possuem diagnóstico de HA a literatura demonstra que
do. A desidratação resultante da poliúria pode prejudi- sessões de exercícios físicos possuem potencial efeito hi-
car a resposta termorregulatória. Indivíduos com DM potensor da pressão arterial, isto sugere que o exercício
tipo II e que apresentaram retinopatia estão em risco de deva ser considerado no manejo destes pacientes.
descolamento da retina e hemorragia vítrea associada ao Classicamente, vários ensaios clínicos controlados
exercício de intensidade vigorosa. Para minimizar este demonstraram um efeito hipotensor dos exercícios ae-
risco pode se utilizar de exercícios que não causem ele- róbios, que podem ser complementados pelos resistidos,
vação significativa da pressão arterial. sobre as reduções de PA, estando indicados para a pre-
A neuropatia autonômica pode causar incompetên- venção e o tratamento da HA (MALACHIAS et al., 2016;
cia cronotrópica a atenuar os incrementos da frequência ACSM, 2016). O exercício físico aeróbico leva a reduções
104
EDUCAÇÃO FÍSICA
da pressão arterial de repouso 5 a 7 mmHg, como efei- tendo em vista a modificação no diâmetro dos vasos e
to agudo e crônico em pessoas com HAS, com reduções associados à diminuição da atividade nervosa simpática
permanecendo em até 22 horas depois do exercício (PES- - que atua na vasoconstrição dos mesmos, considerando
CATELLO et al., 2004). Esses valores também ficam re- esta uma notável adaptação positiva em hipertensos ao
duzidos em cargas submáximas de esforço como uma exercício físico (PESCATELLO et al., 2004).
adaptação orgânica crônica ao exercício (ACSM, 2016). A prescrição do exercício físico pelo ACSM é orien-
O efeito hipotensor do exercício físico aeróbico também tada por princípios que incluem a frequência, intensida-
foi observado em meta-análise de 54 estudos clínicos ran- de, tempo, tipo volume e progressão – princípio FITT
domizados onde se observou uma redução de 3,84 e 2,58 (ACSM, 2016). Para a pessoa com HA, o ACSM reco-
mmHg na PAS e PAD, respectivamente (WHELTON et menda exercícios aeróbicos e de resistidos. O exercício
al., 2002). A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), na aeróbico na maioria, preferencialmente todos, os dias
sua 7ª Diretriz de Hipertensão Arterial recomenda o trei- da semana, sendo que os exercícios resistidos podem
namento aeróbico como forma preferencial de exercício ter frequência de 2 a 3 dias na semana. A intensidade do
para a prevenção e o tratamento da HA. exercício aeróbico deve ser moderada (40 a 60% do con-
Há certa controvérsia sobre os resultados do exercí- sumo máximo de oxigênio ou frequência cardíaca de re-
cio resistido sobre a pressão arterial. Segundo a SBC, o serva; ou de 11 a 13 na percepção subjetiva de esforço).
exercício resistido reduz a pressão arterial de pré-hiper- O exercício resistido pode ser suplementado em inten-
tensos mas não tem em hipertensos (MALACHIAS et sidade de 60 a 80% de 1-RM. O tempo de atividade de
al., 2016) . Porém, poucos estudos randomizados e con- uma sessão deve ser entre 30 a 60 minutos, realizados de
trolados foram desenvolvidos com esse tipo de exercício exercício aeróbico, de forma contínua ou intermitente,
na HA. Numa revisão foi encontrado que o exercício fí- neste último deve-se acumular no mínimo 10 minutos
sico resistido dinâmico e isométrico promoveu redução para atingir o total diário.
na PAS de 1,8 e 10,9 mmHg, respectivamente, enquanto O exercício resistido deve consistir em, pelo menos,
que na PAD reduções semelhantes foram observadas uma série de 8 a 12 repetições para cada um dos princi-
(3,2 e 6,2 mmHg) (CORNELISSEN; SMART, 2013). pais grupos musculares. O exercício aeróbico deve ser
Os mecanismos responsáveis pela redução da pressão o principal tipo, como caminhadas, corridas, ciclismo e
arterial como efeito crônico do exercício aeróbio estão as- natação. O exercício resistido utilizando equipamentos
sociados às modificações estruturais, vasculares e neuro- com carga ou carga livre deve suplementar o programa
-humorais, bem como pela redução síntese de catecolami- de exercícios aeróbicos. A progressão do exercício físi-
nas e da resistência periférica, concomitante ao aumento co aeróbico deve ser gradual no volume com ajustes da
da sensibilidade à insulina e agentes vasodilatadores e ar- duração, frequência e/ou intensidade, porém deve ser
térias (PESCATELLO et al., 2004). A redução da pressão levado em consideração o nível de controle da pressão
arterial de forma sustentada em consequência do exer- arterial, alterações na terapia medicamentosa anti-hi-
cício físico é mediada pelo débito cardíaco e resistência pertensiva, nos efeitos colaterais dos medicamentos, na
periférica; contudo, esse último componente parece ser o presença de doenças em órgãos-alvo e outros comorbi-
responsável primário pela diminuição da pressão arterial, dades e os ajustes devem ser feitos de acordo. A progres-
105