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Universidade Federal do ABC – Bacharelado em Ciências e Humanidades

Vitor Schincariol – Introdução ao Pensamento Econômico - 2021.1 QS

Paulo Vitor Nascimento dos Santos 11201922336

Resumo das Aulas

O curso de Introdução ao Pensamento Econômico foi ministrado pelo professor Vitor Schincariol,
que ao apresentar aos alunos as várias teorias econômicas existentes sempre deixou claro seu
posicionamento e sua perspectiva acerca do que está acontecendo no mundo, fazendo alguns
comparativos que de certa forma ajudaram a tangenciar o que há muito tempo foi desenvolvido por
considerados grandes pensadores das ciências econômicas.

Seguindo uma ordem cronológica o professor foi discutindo com os alunos sobre as divergências
entre as teorias econômicas marginalizadas e as que se tornaram dominantes no decorrer da his-
tória e o porquê de se tornarem rejeitados. Começando pelos clássicos que deram origem a ciência
econômica moderna no século XVIII até a economia ecológica na atualidade, que traz à tona pre-
ocupações que até então não haviam.

Na primeira aula de introdução ao conteúdo de fato vimos que não existe neutralidade em nenhum
tipo de ciência, a ciência se forma através de visões conflitantes. A crítica de Blaug a Doxografia:
“olhar para o passado e dizer que as questões atuais fundamentais já eram discutidas”. Ou seja,
uma espécie de anacronismo. Sempre há uma vantagem dos autores posteriores sobre os antigos
pois eles acabam sabendo mais sobre os desdobramentos que ocorrem após determinadas obras.
A forma como se interpreta a economia também tem a ver com a classe social. Ricos e pobres
podem enxergar de formas diferentes, contudo, a classe social não é limitante, pobres muitas vezes
compram a visão da elite ou também se revoltam contra ela. Existem diferentes formas de lançar
seu olhar sobre a economia: Histórica, dialética, materialista, anacrônica, etc...

A posição do autor de economia é Conservadora ou Transformadora, portanto, ou ele irá querer


manter a economia ou fazer alterações através de críticas ao seu sistema atual. Assim sendo, a
ciência Econômica é um curso que necessita desenvolver leis para tentar prever o que irá acontecer
em momentos de crise por isso se diz que é uma ciência racional. Como é sugerido por Friedrich
Engels no seu escrito “Socialismo Utópico”: “Transformações sociais e revoluções políticas, suas
causas devem ser procuradas na economia da época” então é isso que veremos nos parágrafos
seguintes de resumo das explanações de Schincariol, reflexões acerca das teorias de época con-
trapostas com teorias atuais.

Na passagem de séculos XVIII-XIX surge a economia moderna com as Revoluções Industrial e


Francesa, o mundo mudou e as ideias também, a Europa passava pelo iluminismo e assim se
civilizava e urbanizava suas cidades através da industrialização. A razão se tornou a moda na
época, e o racionalismo advindo do iluminismo trouxe à tona o fim da escravidão. Uma oposição
ao mercantilismo. A Inglaterra utiliza do discurso iluminista de livre comercio impedindo a revolução
industrial em outros países e assim neste contexto forma-se o Liberalismo que surge com o ilumi-
nismo de Smith contra a monarquia feudal inglesa, privilégios feudais, contra a instituição religiosa
Católica que não permitia o livre pensamento, de forma revolucionária. Diferentemente do

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liberalismo atual que ataca direitos trabalhistas e impostos que recai sobre pobres, um liberalismo
mais conservador.

Em “A Riqueza das Nações” obra do Iluminismo no campo da economia, Adam Smith investigando
por que as nações enriquecem irá fazer crítica ao mercantilismo e à fisiocracia francesa, com uma
Revolução Industrial que gera divisão social do trabalho levando a especialização aumentando a
produção. Aqui também Smith expõe a Doutrina do Valor Trabalho: divisão do trabalho diminui o
valor trabalho e o valor da mercadoria, enriquecendo o Estado interna e externamente. Além do
mais, observa-se que com o fim do mundo irracional e a entrada no mundo racionalista chega ao
fim na Inglaterra o trabalho improdutivo, a revolução industrial trouxe ao mundo uma nova forma de
trabalho, o trabalho produtivo que produz coisas úteis.

Adam Smith tinha como objetivo estudar a riqueza nacional, coloca o Dinheiro como uma merca-
doria como qualquer outra, porém uma mercadoria que se tornou valiosa por ter características
intrínsecas como por exemplo o ouro e a prata que tem como aspectos a divisibilidade e poder ser
guardada. A mercadoria vale horas trabalhadas, custos e etc. Então tudo é trabalho, tudo é feito
pelo trabalho humano. Produção que gera lucro e salário que é redistribuído entre quem trabalha
muito, trabalha menos e quem não trabalha (aristocracia). Já para neoliberais: capital gera renda,
trabalhadores ganham o que merecem. Adam Smith nos propõe dois tipos de Capital: circulante
(compra e entra na produção) e fixo (dura muito tempo). Apoio ao Livre comercio. Crítica o mercan-
tilismo e a fisiocracia francesa pois a manufatura também é um setor produtivo. Trabalho produtivo
e improdutivo

Já David Ricardo (1772-1823), tem uma doutrina marginalista, doutrina da exploração e foi um
discípulo de Smith. Na sua obra “Princípios de Política Econômica e Taxação” ele irá estudar os
princípios de distribuição do valor mercadoria, que são geralmente de Escassez, ou seja, raras em
que a Produção = valor (esforço) = trabalho humano e o Valor = salário + lucro

Faz critica a aristocracia inglesa proprietária de terras em que pessoas que não trabalham vivem
luxuosamente alugando terras. Sugeriu que o limite da economia é a natureza sendo que tudo que
é matéria prima é extraído dela. Apoia que o Estado não deve auxiliar o povo pois quanto mais
auxilio mais filhos a população vai ter e assim consequentemente menos recursos, um posiciona-
mento Malthusiano.

Na obra “Princípios da Economia Política” Ricardo explora a tendência para queda da taxa de lucro:
a economia capitalista entraria em queda na taxa de acumulação de capital pois aumentaria a pro-
dução de terras agrícolas cada vez menos férteis, aumentando o esforço e consequentemente au-
mentando o salário, diminuindo o lucro ao longo tempo, o que desestimulava o reinvestimento em
acumulo de capital. Queda no salário-lucro leva ao crescimento no desemprego.

A economia capitalista tem um lado sombrio, menosprezando as tecnologias produzindo alimentos


cada vez de forma mais barata. A escassez de recursos e a extração de recursos da crosta do
planeta Terra gera conflito entre a racionalidade capitalista (acumulo, materialismo e consumismo)
e o racionamento progressivo. Ricardo nos apresenta a Equalização das taxas de lucro que seria
a diferenciação de custos e preços mais dinâmicos que atrai capital levando a uma maior oferta de
mercadorias que consequentemente leva a queda do preço da mercadoria diminuindo à margem

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de lucro. À medida que o tempo passa haverá maior concorrência, diminuindo a margem de lucro
(quanto maior o monopólio, maior o lucro). Quanto menor o esforço/valor para se produzir maior a
riqueza de um país, pois nesses países há tecnologia. A riqueza de um país é dada pela acumula-
ção de capital produtivo e aumento da produtividade desse capital (depende de um processo de
acumulação de capital produtivo).

A Lei de Say diz que não pode haver crises no capitalismo pois nenhum capitalista irá ofertar um
produto que não esteja em demanda. Ricardo concordava com essa ideia de seu contemporâneo
e diz que o aumento da crise em que estão é derivada da queda da renda latifundiária inglesa que
também recebe uma crítica sobre o seu protecionismo e exclusivismo e a forma como a metrópole
interferia no comercio de suas colônias proibindo de comercializar com outros países vendendo
seus produtos mais caros. E a especialização de países no que sabem fazer: defesa do livre co-
mércio mantendo o protecionismo na Europa e suas colônias deveriam se especializar no primeiro
setor. Essa contradição bloqueou a revolução industrial no resto do mundo.

Após 4 aulas de apresentação dos clássicos liberais, Schincariol nos apresentou dois outros auto-
res que se tornaram clássicos comunistas, foi ministrada a aula do pensamento de Marx e Engels,
dois filósofos pais do socialismo científico aquele que pretende organizar os trabalhadores para
tomarem os meios de produção e gerir o Estado. São influenciados por Hegel, os iluministas fran-
ceses como Rousseau, os liberais ingleses (Smith e Ricardo) e o idealismo alemão. A partir da
dialética de Hegel, Marx enxerga o mundo de forma a convergir opositores e cria sua própria dialé-
tica em que destaca a luta de classes e o materialismo. A partir daí, Marx e Engels coloca o capi-
talismo como uma forma de produção a ser sucedida pelo Socialismo, e que o próprio capitalismo
ao acumular propriedades privadas nega a si e cria o seu opositor, o proletariado. O socialismo
como visto anteriormente será para organizar os trabalhadores, é um movimento de maiorias, cri-
ando uma sociedade mais racional e mais evoluída que o capitalismo, devendo ser global podendo-
se chegar até ele de forma diplomática/parlamentar ou revolucionária. Assim Marx através de
Ludwig Feuerbach irá fazer crítica a Hegel e aos seus adeptos. Marx enxerga a história como uma
ciência do homem, então assim decreta o fim do misticismo na história humana, e deus não existe,
pondo fim a religião na ciência. Não que a ciência seja neutra, seja ela econômica ou histórica, o
ser humano quando se debruça para estudar a economia e a história ele está dentro do seu objeto
de estudo, então jamais será neutra, e sim deve ser objetiva. O papel da ciência é buscar procurar
enxergar a realidade atras das aparências, entendida pela razão lógica encontrada pelo cientista e
organizada pelo filosofo. Sua principal obra “O Capital” tem como objetivo fazer uma análise da
sociedade capitalista e criticá-la de forma a dialogar com seu leitor e causa-lo indignação e revolta,
para que trabalhadores se reúnam e acabem com a dominação de um homem sobre o outro.

Marx quis escrever uma obra em que pudesse aplicar a dialética hegeliana materialista sobre a
totalidade. Então ele escreve “O Capital”, sua principal, obra dividida em três volumes em que o
primeiro remete a produção do capital, o segundo à circulação do capital e o terceiro ao processo
global de produção capitalista. Iniciou sua obra definindo o que é mercadoria e como o Capitalismo
transforma tudo em mercadoria, inclusive o dinheiro. O dinheiro é utilizado para gerar mais dinheiro
(D-M-D´) através da mais-valia. Retomando conceitos de Smith e Ricardo, Marx põe em contrapo-
sição trabalho morto e vivo, trabalho simples e complexo, capital fixo e circulante, e investimento
produtivo e consumo improdutivo. Por fim conclui seu primeiro volume com a lei geral de
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acumulação capitalista em que infere que quanto maior for o acúmulo maior será o desemprego
(subdivide desempregados entre os que oscilam e os lumpemproletariados) e um adendo histórico
como a forma colonialista de terras desigual é imprescindível para a formação do capitalismo. Sua
obra é importantíssima pois movimentou a História no século XX, como induz Hobsbawm em “O
Breve Século XX”.

Depois da Escola Marxista nas aulas 5 e 6, é na 7º aula que Schincariol fala sobre a escola Margi-
nalistas, Neoclássicas e Austríacas que apesar de suas diferenças há alguns elementos que são
mútuos às três escolas. Como por exemplo, o liberalismo antimarxista, usam de Ricardo e Smith
para justificar ideais anticomunistas, são escolas de burgueses que focam em atacar os direitos
trabalhistas, porém ignoram os efeitos do imperialismo inglês. São Dedutivistas que analisam a
realidade através de teorias e leis logicas, ao contrário do que acontece na escola histórica que
será Indutivista. Também foi visto as diferenças entre os clássicos e os marginalistas principalmente
ao que se refere ao valor da mercadoria, para essas escolas liberais o valor da mercadoria se dá
pela saciedade e utilidade que o consumidor dá a ela. Quanto mais útil maior o valor empregado.
Outro aspecto em comum entre as três escolas é a metodologia individualista, a remuneração pelas
margens, oferta e demanda, e o monopólio como anomalia no capitalismo. 1ª geração: Carl Men-
ger. 2ª geração: Alfred Marshall. 3ª geração: simpatizantes do nazismo.

Na aula 8, foram reforçados alguns conceitos, sobre a Margem em que tudo se é pensado através
dela, que o salário do trabalhador é igual ao que ele produz, sobre o equilíbrio esperado pelos
autores de que a economia sem interferência (seja do estado, greves, sindicatos) irá se autorregular
em um processo natural e o capitalista tem direito moral sobre o lucro pois ele fez o sacrifício de
poupar. É enfatizado como os autores dessa escola marginalista não querem a interferência de
nenhuma forma na economia pois sempre é reforçado o quanto é ruim, principalmente pelo Estado
(a criação de legislações trabalhistas, redução de taxas e juros por exemplo), pois é algo antinatu-
ral. E nada deve ser feito quanto possíveis irregularidades pois na História sempre foi assim, o
desemprego é natural, a inflação etc.

Nas aulas 9 e 10 nos dias 10/03 e 17/03, o tema central foi a teoria da planificação socialista. A
teoria da planificação socialista surge a partir das teorias de Marx só que na Rússia. Pois Marx e
Engels se preocupavam apenas com os trabalhadores e com uma possível revolução socialista na
Europa pois esperava-se que os países que fossem fazer a transição para o socialismo deveriam
ter meios de produção para serem socializados, condições que a Rússia na época não tinha, po-
rém, será implementada pela primeira vez na história e influenciará toda a história do mundo no
século XX e é adotada até os dias de hoje pela maior economia mundial atual que é a China, por
isso a importância de compreende-la. Essa teoria se dá no contexto de transição de uma Rússia
de economia hibrida para uma União Soviética de economia planificada que consiste em naciona-
lização integral das empresas e terras, com uma contínua reforma agrária, formação e investimento
num exército, uma economia que não estava focada no crescimento e sim na industrialização e
desenvolvimento. O Estado ainda existe e ele irá controlar o comércio internacional devido à es-
cassez de recursos e divisas. Planos Quinquenais: projetos de investimentos a longo prazo. Preço
de mercadorias sem lucro embutido, ou seja, venda pelo valor de custo, uma forma de exploração
dos operários e camponeses com excedente indiretamente ligado ao desenvolvimento e industria-
lização dos centros urbanos. Primeiro passo para a teoria desenvolvimentista só que socialista de
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reprimir o consumo e investir na infraestrutura. É feita uma assimilação do socialismo com o cristi-
anismo em questão de alguns ideais como a liberdade e igualdade entre homens e o amor ao
próximo, entre outros. O contexto em que se dá a revolução russa é novamente discutido (Belle
Époque e 1ª Guerra Mundial). Enfim, a planificação socialista na Rússia se dá com a nacionalização
das terras, comércio fechado internacionalmente, organizada sobre a ideia de uma Ditadura dos
Proletariados, distribuindo tarefas entre os países da URSS de forma que todos os ramos da eco-
nomia cresçam juntos, os setores de serviços e entretenimento são considerados improdutivos. As
empresas que mais lucram têm o lucro captado pelo Estado e depois redistribuído de acordo com
o Gosplan. O que vai gerar uma crítica de Hayek que irá dizer que no socialismo as empresas não
têm liberdade para definir preços, o que dificulta um cálculo racional dos custos, a economia soci-
alista é baseada num crescente risco moral. Se o Estado garante o funcionamento das empresas,
a economia será cada vez mais irracional. E será rebatido por Oskar Lange que diz que a economia
socialista deve operar conjuntamente com os setores de bens de consumo, apresentando uma
relativa autonomia no estabelecimento de preços, porém passando preços-base.

Na 11ª aula, o tema central é o Keynesianismo, nesta aula nos é apresentada a escola econômica
Keynesiana que surge como uma terceira opção ao Socialismo e ao Nazismo no século XX. O
keynesianismo surge no contexto da crise de 29 em que John Millard Keynes irá discutir com Mars-
hall e Pigou sobre as problemáticas da visão neoclássica da economia, ele irá partir dessa escola
neoclássica e realizará rupturas significativas que mudarão toda a economia ocidental. Keynes for-
mula sua teoria econômica focada na macroeconomia visando reformar o capitalismo. Na sua prin-
cipal obra Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda de 1936 ele discute com seus contempo-
râneos neoclássicos sobre os problemas nesses ideais. Como por exemplo, a oferta não é igual à
demanda, não existe esse equilíbrio no mercado de bens vide Crise de 29 e não há desemprego
voluntário. Nisso ele deixa sua visão insegura sobre o capitalismo pois não há nada que assegure
que os capitalistas irão investir. Nos é introduzido mais algumas ideias de ruptura de Keynes acerca
dos neoclássicos, como em relação ao salário dos trabalhadores não poder ser diminuído em tem-
pos de crise para a economia voltar a crescer, sobre a poupança não ser boa para a economia pois
se todos pouparem ninguém consome afetando diretamente a demanda efetiva, propensão margi-
nal ao consumo e à poupança, e faz distinção entre taxa de juros e taxa de lucros. O investimento
irá produzir poupança. E também nos foi conferidas as sugestões de políticas de Estado macroe-
conômicas de investimentos.

Na 12ª aula, há uma introdução aos pensamentos do autor Michal Kalecki, que foi um economista,
matemático, indutivista e marxista. Em seus trabalhos, assim como Keynes, fez duras críticas aos
neoclássicos, porém sob uma perspectiva marxista. Desfez pressupostos da economia neoliberal
endossando que a teoria econômica é cíclica e não há um equilíbrio, sempre estará em alta ou em
baixa ao longo do tempo, ou seja, desiquilibrada. Por meio de métodos indutivos analisou o com-
portamento de consumo das famílias criando uma função consumo e também traçou um perfil de
investimento, de variáveis tanto econômicas quanto políticas, gerando uma função investimento.
Nos insere ao conceito de grau de monopólio e à importância da concorrência no preço. Precursor
da economia de desenvolvimento, principal teórico da teoria de planificação socialista.

Nas 13ª e 14ª aulas, o professor apresenta o que seria a chamada Escola Institucionalista, escola
que lança olhar sobre economia a partir de aspectos interdisciplinares e humanísticos, analisando-
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a através da História, Sociologia, Política, comportamento, costume, instituições estas que estão
para além da economia. Entre os principais autores dessa escola que foram comentados em aula
temos Thorstein Veblen,, Wesley Mitchell, Simon Kuznets, Gunnar Myrdal etc. Veblen faz crítica ao
capitalismo, ao consumo de massas e propõe mudança no sistema social e endossa a importância
das instituições para a economia fazendo analises através da sociologia. Para Veblen a economia
é dinâmica, tem história. Faz crítica a burguesia estadunidense considerando-a ociosa com seu
consumo conspícuo em sua principal obra Teoria da Classe Ociosa. Mitchell endente a economia
de forma interdisciplinar e traça o comportamento do consumo estadunidense através de dados,
sua principal obra é Ciclos Econômicos. Kuznets é o economista conservador que organiza o sis-
tema de contas nacionais dos Estados Unidos por meio dos dados de Valores Agregados. E por
fim Myrdal, economista sueco, teórico da economia institucionalista e do desenvolvimento que irá
romper com ao neoclássico em sua obra Elemento Político da Teoria Econômica, chega nos EUA
e analisa as condições dos afrodescendentes propondo uma reforma social em seu livro Dilema
Americano. Ao receber cargo na ONU se interessa pela economia de desenvolvimento em que se
torna pioneiro fazendo analises interdisciplinares lançando olhar para os países subdesenvolvidos
e emergentes após a Segunda Guerra Mundial contemplados na obra Teoria Econômica e Regiões
Subdesenvolvidas.

Myrdal em seu livro Teoria Econômica e Regiões Subdesenvolvidas surge para questionar e visibi-
lizar os problemas econômicos dos países subdesenvolvidos, enfatizando que não é possível se-
parar os problemas econômicos de questões sociais trazendo a interdisciplinaridade para o campo
econômico, nos traz a preocupação da causação circular cumulativa e do crescimento populacional
nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos também, incentiva os indivíduos de países subde-
senvolvidos e em desenvolvimento a enxergarem a realidade de seus próprios países pois as es-
colas neoclássicas dominantes estão comprometidas com o seu próprio desenvolvimento. E tam-
bém nos é apresentado John Kenneth Galbraith (1908-2006), canadense radicado americano, dou-
tor em economia agrícola, foi responsável pelo controle de preços nos EUA, dissidente do esta-
blishment dos neoclássicos, fará crítica à realidade estadunidense em que destoa bastante da te-
oria, uma sociedade hipertrofiada, em que não há ônibus intermunicipais, sistema de saúde público
e ao mesmo tempo boa parte do orçamento estatal é gasto na defesa, oligopólios empresariais
utilizam da burocracia estatal que os neoclássicos criticam, não faz apelo ao socialismo, para al-
guns Galbraith é um verdadeiro liberal pois se o planejamento econômico é algo que todas as
empresas fazem então o Estado deve fazer também pois é a lógica do estado industrial, Estados
Unidos está se tornando um país de “riqueza particular e pobreza pública”, faz crítica a nova lógica
econômica dos Estados Unidos após segunda guerra que é fazer novas guerras o tempo todo com
outros países utilizando do dinheiro de impostos para custear guerras criadas pelos mesmos, intro-
duzindo o Countervalling Power (poder compensador) que é deixar a sociedade civil atuar para
corrigir os problemas do capitalismo americano, essa mão livre do mercado propagada pelos neo-
clássicos deixa o estado e a coletividade pobres. Lança o livro Economia de Fraudes Inocentes em
que retrata o capitalismo americano dos anos 90 aos anos 2000.

Na 15ª aula no dia 09/04, a escola discutida é a Estruturalista Cepalina, a CEPAL – Comissão
Econômica para a América Latina – foi a primeira escola econômica da América Latina tendo como
principal objetivo a ruptura com as escolas eurocêntricas criando um modelo econômico que agora
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se comprometesse com os interesses latino-americanos baseado na sua estrutura histórica. Par-
tindo de três importantes seguimentos que seriam Friedrich List, Keynes e a escola soviética. A
CEPAL surge no contexto do pós-Segunda Guerra Mundial em que uma nova ordem mundial é
estabelecida: desenvolvidos (inclusos países do 1º mundo capitalista e 2º Mundo dos soviéticos) e
subdesenvolvidos (países do 3º mundo). A partir do momento que surge a denotação de subde-
senvolvidos, o estruturalismo irá se preocupar com a seguinte questão: “Como desenvolver esses
países?” Raúl Prebisch um dos principais idealizadores dessa teoria, discutindo com os neoclássi-
cos, irá estudar os países latino americanos, buscando uma teoria adequada a sua realidade, e
encontra-los da seguinte forma: com uma economia de colonização mantidas por políticas inglesas
e extremamente dependentes do comércio internacional, uma economia que cresce para fora, pa-
íses que ainda estão em processo de industrialização e têm problemas históricos estruturais de-
correntes da colonização. Prebisch defende que esses diagnósticos da América Latina devam ser
obtidos de forma interdisciplinar e indutiva, levando em consideração a História, Demografia, Cul-
tura, alguns aspectos que vão para além da economia. A solução encontrada por Prebisch foi uma
teoria econômica que rompesse com a teoria econômica neoclássica pois somos fruto da expansão
colonial europeia, o que leva a alguns problemas que acabam se tornando recorrentes como a
inflação e o desemprego. Para explicar esses problemas e a existência deles Prebisch e Furtado
irão estudar alguns aspectos econômicos latino americanos que muitas vezes nem dados sobre
havia, como por exemplo a queda nos termos de intercambio na relação de importação e exporta-
ção, disparidade entre oferta de trabalho e densidade de capital que gera o desemprego, a inflação
por problemas estruturais, de oligopólio e dependência do comércio externo. Ou seja, esses pro-
blemas por terem raízes na estrutura colonial acabam se tornando estruturais (emprego estrutural
e inflação estrutural). Logo a melhor maneira de evitar isso é criando um sistema endógeno de
crescimento que absorva a população excedente, aumentando salário e substituindo a exportação,
ao invés do crescimento para fora, um crescimento para dentro.

Ainda no século XX, há algumas escolas que foram criadas e repensadas após uma realidade de
guerras e conflitos que foi este período, como por exemplo a Teoria Pós Keynesiana, teoria econô-
mica keynesiana repensada a longo prazo a partir de uma releitura não ortodoxa de Marx no obje-
tivo de construir uma sociedade de nível de renda mediana ou alta com certo nível de igualdade e
pleno emprego. Politicamente social democrata, trabalhista (britânico) ou voltado para o socialismo
cristão, posicionamento que varia de país para país. Entre os principais autores dessa teoria estão
Joan Robinson, Piero Sraffa, Hyman Minsky, Michal Kalecki etc. Essa teoria discute com os neo-
clássicos que tentam deturpar os ideais keynesianos (neokeynesiano), coloca a demanda como
papel determinante, sem a demanda a economia se estagna. A demanda agregada determinada
pelos hábitos, pelo perfil distributivo de renda, e incerteza dos investidores empresariais, fazendo
da economia capitalista instável pois a maioria das empresas estão concentradas na mão de mino-
rias que vão tomar decisões de acordo com seus interesses, se vão investir ou não. Essa teoria irá
surgir no contexto pós-Segunda Guerra em que neoclássicos estadunidenses irão atacar qualquer
traço de política social que será associado ao comunismo, o que levou o keynesianismo a se rees-
truturar, o pós-keynesianismo. Teoria que tem como ideia central a demanda e a coloca como de-
terminante do desemprego, renda e a inflação, e os preços determinados pelo grau de monopólio,
abandona a ideia neoclássica de equilíbrio, e analisa a economia através da história.

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A Teoria Neoclássica, principal alvo de críticas do professor, nos é apresentada na aula de número
17, é a teoria dominante e que serviu de base para comparativos com outras teorias e que rege o
que conhecemos como economia nos dias atuais, surge nos Estados Unidos país que enriqueceu
muito rapidamente e por isso tem alto nível de otimismo, são positivistas e empiristas do ponto de
vista cientifico e acadêmico o que explica sua tendencia dedutivista, por terem surgido no meio do
capitalismo ignoram a história pré-capitalista, apesar de ricos têm uma baixa propensão intelectual
e senso de coletividade. A teoria econômica neoclássica é reflexo da ideologia de economistas que
representam a classe dominante da sociedade estadunidense. Os neoclássicos fazem uma análise
descritiva (neutra/positivista), têm o salário como remuneração de produtividade e a média salarial
está na produtividade marginal do trabalho, o desemprego possui duas explicações: o desemprego
existe devido as pessoas não acharem o salário adequado, ou seja, as pessoas não trabalham
porque não querem e o valor do salário é muito alto e culmina um sacrifício a empresários contra-
tarem. O Estado para eles deve ser mínimo, apenas administrar as burocracias, deixando todas as
empresas que dão lucro para empresários e não investir na esfera pública. Baseados em Smith, os
neoclássicos acreditam que as nações devem especializar-se vendendo suas mercadorias de mais
abundância com alta produtividade, o que gera uma discrepância entre os países industrializados
e os subdesenvolvidos, pois os primeiros possuem vantagens comparativas, para eles o capital é
apenas uma quantidade e maleável como já discordaram os pós-keynesianos, e que quanto maior
o capital menor a remuneração. Outro conceito neoclássico é o de Equilíbrio, em que tudo leva a
um equilíbrio baseados no ISLM de Hicks, na curva de Phillips e o NAIRU. Assim Friedman na
tentativa de resolver os problemas da alta inflação, diz que se a taxa natural (neoclássicos acredi-
tam que existem uma naturalidade para tudo) de desemprego cair a inflação aumentará. Milton
Friedman é um crítico das obras de Keynes, um verdadeiro intérprete dos ricos americanos, faz
diversos ataques à políticas sociais e acredita que tudo é natural, formula a hipótese da renda
permanente e a teoria monetarista onde faz crítica as políticas fiscais do Estado que levam a um
Efeito Crowed Out e defende o livre mercado. Os principais autores dessa teoria são Milton Fried-
man, Paul Samuelson e Robert Solow. Influenciados por eles, os neokeynesianos buscam mesclar
as teorias de Keynes aos Neoliberais analisando a macroeconomia a partir da microeconomia.

E para finalizar, as duas últimas aulas abordaram duas economias que são temas atuais centrais
da economia e pelo que parece, pelo menos uma delas, senão as duas, irá liderar a economia
mundial nos próximos anos a primeira devido ao seu impacto e rápido desenvolvimento e a segunda
devido a sua importância e os temas que discute, e estas são o Socialismo de Mercado e a Econo-
mia Ecológica.

Enquanto o socialismo soviético irá tentar resolver os problemas sociais e se preparar para a se-
gunda guerra, tem sua revolução originada de um país agrário e periférico baseado num ideal ori-
ginalmente pensado para um país desenvolvido, faz planejamentos a longos prazos (planos quin-
quenais), visando evitar o desperdício de divisas, protegendo os países aliados e etc. Tendo como
principais teóricos Oskar Lange, Gorender e Aleknov o Socialismo de Mercado surge de um rom-
pimento com a URSS, na Iugoslávia, que não queriam intromissão externa em seus assuntos e
também não queriam fechar totalmente seu comércio, irá aplicar um novo modelo econômico, nem
central e nem estatal, irá estatizar os principais meios de produção e permitir a privatização dos
principais meios de consumo, sem nenhuma planificação e nem nacionalização total da economia.
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Um modelo de autonomia operária em que as empresas são controladas pelos conselhos operá-
rios. Interessante ressaltar que a configuração da Iugoslávia é de uma país heterogêneo, pois é
formado pela união de países de culturas diferentes organizado através de uma rotação de repú-
blicas, havendo censuras, proibição de nacionalismos regionais e mantendo um partido único, atra-
vés desses métodos nunca conseguiu eliminar totalmente o desemprego e nem o crescimento de-
sigual nas diferentes regiões como o socialismo soviético.

O Socialismo foi aplicado e repensado de diferentes formas em torno do mundo, ao também romper
com a URSS, a China irá aplicar esse modelo econômico que há hoje. Frustrados em copiar o
modelo soviético, se reorientaram. Retomando o contato com o Ocidente, principalmente com os
Estados Unidos. Com a morte do líder chines Mao Tsé-Tung em 1976, lançam um olhar sore a
Iugoslávia, porém com suas características: aceitando investimentos externos, devolvendo terras
e dividindo entre os camponeses permitindo que estes pudessem produzir e vender de acordo com
o estipulado pelo Estado, vendendo o que sobra pelo valor que quiserem permitindo o lucro ha-
vendo um leve desmonte da legislação socialista. Diferentemente da URSS, a China reconecta a
sua revolução com os camponeses.

Na URSS, não houve socialismo de mercado, segue o modelo tradicional de estatização total eco-
nômica e mantendo o emprego de todos. Até que em 1985, com uma política externa hostil com
Thatcher na Inglaterra e Reagan nos EUA dificultando os meios para o socialismo e uma nova
corrida armamentista estadunidense que deixava a URSS acuada e receosa pois já não havia
meios para competir. Gorbatchev, jovem com novas ideias rompendo com a revolução dos velhos
líderes propõe uma reforma do socialismo querendo se aproximar politicamente do social demo-
crata, fazendo o que se conhece hoje por Perestroika, uma abertura econômica porém ao mesmo
tempo houve uma crítica ao governo implantado e deu origem a uma abertura política (Glasnost) e
assim perde-se o controle político e o ambiente externo é hostil e a economia dominante pressiona.
E assim se dá a queda da União Soviética em 1991.

Já a economia ecológica tem como visão dominante do tema a neoclássica pois se adiantou diante
outras Escolas, isso nos anos de 1920 e 1930. Preocupados com a extinção de carvão (principal
fonte de energia da época), os economistas neoclássicos irão se debruçar sobre o problema que a
exploração exacerbada da natureza irá causa no meio ambiente. No caso do carvão, irão analisar
como o uso da tecnologia na extração irá aumenta-la, pois quanto maior e mais rápida a extração
maior a quantidade de matéria prima será demandada. Como solução para o problema da explo-
ração os neoclássicos propõem que privatizem tudo evitando o que eles irão chamar de tragédia
dos comuns, essa tática consiste em privatizar o que é comum para evitar a exploração exacer-
bada, em outras palavras, o capitalismo irá resolver.

A questão ambiental se torna central depois do pós-guerra, a partir do momento que os Estados
Unidos perdem o monopólio da produção industrial, surge então a preocupação com países se
igualando aos Estados Unidos no consumo. Nessa mesma época que aparece a energia nuclear e
com ela a preocupação com o seu uso (visto Hiroshima e Nagasaki), a exploração da natureza
também levou a desastres naturais e desaparecimento de espécies. Até os anos 60, não havia,
além dos neoclássicos, uma escola econômica que se preocupava com o meio ambiente. A partir
daí surgiu uma frente nova que discute com os neoclássicos a respeito do meio ambiente.
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Tendo como um dos principais autores Nicholas Georgescu-Roegen, a Economia Ecológica irá
sugerir uma revolução nas ciências econômicas, de modo a reformar a economia dominante e
todas as outras antes dela (neoclássicos, keynesianos, marxistas etc.),. Roegen irá usar de um
conceito da física para explicar sobre como todas as formas de intervenções do ser humano no
meio ambiente é negativa, a Lei de Entropia, que consiste na matéria não poder ser criada ou
destruída. Insatisfeito com visão neoclássica criando uma economia sem considerar a natureza,
Roegen em 1971 irá lançar The Entropy Law and the Economic Process, que diz que num tempo
zero a entropia (grau de desordem) no mundo energético é menor que no tempo um. Usando como
exemplo o barril de petróleo, que ao ser queimado dispersa pelo espaço toda a sua energia que
antes estava condensada. O autor na sua obra também compactua com a ideia de que o grau de
entropia chegou a níveis irreversíveis, em que qualquer processo econômico aumentará os níveis
entrópicos gastando energia e nem mesmo a energia nuclear pode freá-la.

A escola ecológica é dividida, entre sustentabilidade forte e sustentabilidade fraca, através da ques-
tão: qual o limite da tecnologia na substituição de recursos?, os considerados sustentabilidade forte
são pessimistas e desacreditam dessa ideia, os de sustentabilidade fraca pelo contrário acreditam
que a tecnologia pode substituir tudo. Acusam as outras escolas de Crematística, ou seja, precificar
tudo enquanto a verdadeira economia está relacionada nas trocas energética. Acreditam que a
economia é um sistema aberto que sofre interferência das externalidades, irão se preocupar tam-
bém com a economia a longo prazo, pensando no futuro das gerações posteriores que não teve o
poder de escolha, criticando o mercado, este não revelará preferência das gerações futuras. A
sociedade vive na Era do Petróleo, em que a matéria fóssil é a principal fonte de energia, porém é
uma matéria-prima de estoque e não de fluxo, ou seja é limitada, além disso possui uma alta con-
centração de energia por centímetro, e ao ser manuseado ou descartado de forma inadequada
causa sérios níveis de entropia aumentando-a, fora o consumo exacerbado. A economia ecológica
também diz que países periféricos não podem chegar ao nível econômico estadunidense pois os
níveis de consumo são altíssimos. Por fim, na obra Energy and. Economics Myths, Roegen discute
com físicos, diz que para fins humanos a entropia é irreversível, revela problema de população em
que diz que quanto maior a quantidade de pessoas maior o impacto e quanto maior o nível entrópico
maior será a destruição.

Por fim, é de extrema relevância ressaltar que os temas foram discutidos de forma bastante plural
pois houveram diversas visões sobre os mesmos problemas e a apresentação de diversos autores
acerca do assunto principal de cada escola. Por essas e outras gostaria de agradecer ao professor
Vitor Schincariol pela ótima explanação, pelos altos níveis de discernimento e pela compreensão
nesses tempos pandêmicos tão difíceis.

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Resenha: Chutando a escada – A estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica – Ha-
Joon Chang - 1ª edição – 2004

1. Resumo
Neste livro o autor através da seguinte questão central “Como os países ricos enriqueceram
de fato?” irá discutir sobre as recomendações que os países desenvolvidos fazem aos emer-
gentes para estes alavancarem a suas economias e chegarem ao mesmo patamar, porém
essas recomendações do establishment (de laissez-faire) não seriam tão boas e na verdade
o que esses países estariam fazendo é uma forma de “derrubar a escada” que os levaram
ao topo e manter os emergentes no mesmo lugar dificultando seu acesso.
Dialogando com o economista do século XIX Friedrich List, Chang a partir da visão histórica
de List irá demonstrar como grandes hegemonias econômicas como Grã-Bretanha e Esta-
dos Unidos promovem um Livre Comércio entre os países em desenvolvimento com propa-
gandas de “boa política e governança” quando na verdade isso prejudica o crescimento in-
dustrial e é uma forma de derrubar a escada para esses países emergentes não consegui-
rem subir. Usando como exemplo a própria Inglaterra que durante o século XVIII no auge da
Revolução industrial percebeu que necessitava unir a manufatura, o comércio e a agricultura
para obter um alto grau de civilização, e uma economia livre iria prejudicar seu desenvolvi-
mento em concorrência com outros países europeus que também estavam no processo de
revolução industrial então a Grã-Bretanha irá adotar medidas Protecionistas. Assim como os
Estados Unidos que no século seguinte favoreceram suas indústrias, para Smith eram inci-
pientes e esse protecionismo não iria levar o país a riqueza. Como visto em meados do
século XX com a Ideologia Desenvolvimentista neoclássica sendo disseminada, o protecio-
nismo funcionou, porém, é necessário para esses países não terem concorrência e fazem
do Laissez-Faire um exemplo a ser seguido, como um faço o que eu digo, mas não faça o
que eu faço.
Chang divide sua obra em 4 capítulos sendo o primeiro uma explanação e introdução às
principais ideias que serão abordadas no decorrer do livro, o capítulo 2 irá tratar de políticas
industrial, comercial e tecnológica pois de acordo com o autor são essas que fazem a dife-
rença entre os países mais bem sucedidos no crescimento e na mudança estrutural. O ca-
pítulo 3 foca nas instituições explicando o quais delas são de suma importância e decisivas
no desenvolvimento econômico. O quarto capítulo retoma ao questionamento central da
obra: “os países desenvolvidos estão tentando “chutar a escada” pela qual subiram ao topo,
impedindo as nações em desenvolvimento de adotarem as políticas e instituições que eles
próprios adotaram?” e se alguma das políticas adotadas por eles são realmente boas para
todos. Institucionalista, Chang irá fazer um comparativo entre os países emergentes atuais
e os países atualmente desenvolvidos (PADs) quando estavam em desenvolvimento anali-
sando a história. Chang expõe como o pouco uso do instrumento histórico na análise eco-
nômica de países atualmente desenvolvidos (PADs) colaboram com a disseminação do mito
do sucesso econômico em países emergentes pelos PADs baseado no sucesso britânico na
política industrial de laissez-faire e livre comercio na Revolução Industrial, derrotando sua
rival intervencionista França e se tornando hegemônica. Com o passar do tempo os PADs
mudaram seu posicionamento em relação com a posição que ocuparam na luta competitiva
comercial. Em fase de catching up protegeram a indústria nascente, investiram fortemente
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em tecnologia e infraestrutura e desenvolvimento, espionagem e importação de maquinarias
de países desenvolvidos. Mas quando alcançaram uma posição estável e forte na economia
passaram a propagar o livre comércio, proibindo táticas usadas por PADs outrora para che-
gar na posição onde estavam, sendo essa a forma de chutar a escada. E atualmente os
níveis de diferenças entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento são bem mai-
ores que os PADs nos séculos passados. E os em desenvolvimento são menos protecionis-
tas do que eram os PADs.
No capítulo 3 o autor trata basicamente do surgimento das instituições que hoje são consi-
deradas imprescindíveis e cobradas internacionalmente por órgãos universais (comandados
pelos PADs). E simplesmente, o autor faz um comparativo com o período de industrialização
dos PADs com os países em desenvolvimento atuais e chega-se à conclusão que os países
em desenvolvimento atuais estão bem mais avançados que os PADs quando estavam em
desenvolvimento. O autor também ressalta que as instituições e políticas sociais (de “boa
governança”) foram adotas pelos países hoje altamente desenvolvidos de forma bastante
precarizada, lenta e corruptiva. A democracia, burocracia, bancos, políticas sociais, direitos
de patente, regulamentação do trabalho infantil, feminino etc., foram introduzidos à medida
que os países foram se industrializando, porém de forma gradativa (alguns países houveram
regressão em direitos em certo período), precária e bastante ineficaz ao longo do tempo até
o que conhecemos hoje, que é cobrado e considerado padrão mundial. Hoje o que é cobrado
pelos países desenvolvidos outrora quando estavam em desenvolvimento enfrentou dificul-
dades para ser aceito, legalizado e fiscalizado, o que de certa forma é injusto aos atuais em
desenvolvimento. No último capítulo o autor irá fazer as considerações finais e concluir a
sua obra retomando alguns assuntos discutidos nos outros capítulos, entre eles a cobrança
sobre os países em desenvolvimento para adotarem políticas de boa governança que os
PADs demoraram gerações e um comparativo entre os PADs quando estavam em desen-
volvimento e os atuais países em desenvolvimento.
O desenvolvimento de políticas institucionais é mais resultado do desenvolvimento industrial
do que ao contrário, pois foi no decorrer do tempo e do desenvolvimento econômico que as
políticas sociais e institucionais foram sendo implementadas. Mas isso não quer dizer que
os atuais países em desenvolvimento devam abandonar essas instituições base como o
sufrágio universal, Banco Central etc., pois essas políticas quando bem exploradas conse-
guem trazer benefícios econômicos parecidos aos elevados padrões mundiais como pontua
Chang.
Por fim, o autor apoia uma mistura de políticas verdadeiramente boas e instituições aliadas
ao nível de desenvolvimento de cada país e estimulado pelos atuais já desenvolvidos, per-
mitindo a esses chance de se desenvolverem sendo benéfico para todos. Porém a mentali-
dade dos governos, do establishment internacional de políticas de desenvolvimento pede
que os emergentes estejam sobre padrão num brevíssimo período de tempo com riscos de
embargos, prejudicando-os.

2. Comentários
O autor institucionalista Ha-Joon Chang parte de um ponto, que para mim é, extremamente
confortável que é o comparativo histórico, pois ao analisar a história, passado e presente é
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possível sintetizar a situação e refletir acerca dos acontecimentos atuais e senão tentar en-
tender como se chegou a tal situação e tentar prever aonde vamos parar. Utilizando da in-
terdisciplinaridade institucionalista, assim como Galbraith e Myrdal, Chang irá fazer crítica
aos países atualmente desenvolvidos analisando a História. Partindo desse mesmo princí-
pio, irei elucidar minha perspectiva sobre a obra dialogando com o autor convergindo não só
dados econômicos, mas também de natureza internacionalista que conta com tratados polí-
ticos e eventos históricos tão importantes quanto.
O principal evento econômico na história sem sombra de dúvidas foi a Revolução Industrial,
e partindo daí o autor faz um comparativo em como foram se moldando e criando instituições
para proteger as indústrias e as suas mercadorias dos avanços que outros países poderiam
fazer, e vemos que nada mudou, até hoje na nova ordem uni-multipolar há uma competição
para que países se desenvolvam cada vez mais, acumulando recursos, desenvolvendo suas
industrias e criando mecanismos e ideologias cada vez mais complexos que acabam que
por dificultar que países em desenvolvimento e subdesenvolvidos que o adotem se desen-
volvam, há uma forte influência militar externa para que sejam tomadas medidas de laissez-
faire, num curto período de tempo e com riscos de sofrer embargos etc. Assim como acon-
tecem hoje com alguns países da América Latina, como a Venezuela e Cuba pelos EUA,
também aconteceu com a China durante a Guerra do Ópio causada pela Inglaterra, uma
abertura econômica forçada e influenciada pela hegemonia da época. Então apesar de con-
textos diferentes a história é cíclica, não linear como visto nas aulas de Introdução à Econo-
mia, os eventos acabam sempre se repetindo.
São em momentos de crise mundial, como as Grandes Guerras e crises econômicas, que
os países da periferia do sistema internacional começam a se desenvolver, foi assim com os
Estados Unidos nas duas Grandes Guerras Mundiais, e até mesmo antes no século XIX com
a Grã Bretanha em crise por conta do livre comércio e em guerra com China que acabou
levando os Estados Unidos a uma Revolução Industrial, o primeiro país da América a se
industrializar e a partir daí surgiram novos conflitos e colapsos e com eles novas potencias
para disputar, após a Crise de 29 surge uma União Soviética com rápida industrialização,
durante a segunda guerra há a industrialização de alguns países do 3º mundo, como o Brasil,
e durante a Guerra Fria também, porém com o terceiro colapso do capitalismo durante o
século XX há uma estagflação no centro do capitalismo, postos à prova, os países desen-
volvidos, principalmente os Estados Unidos para permanecer hegemônico usou uma tática
jamais vista antes, colocou a sua moeda como mais forte e saiu do tratado de Bretton Woods,
o que foi acatado por praticamente todos os países do ocidente e do oriente médio que, ricos
em petróleo, começou a comprar o dólar investindo no que seria a moeda mais forte. A partir
daí veio com muita força e disseminada a ideologia dominante, principalmente após o des-
manche da União Soviética, dos Neoliberais. Então, países em desenvolvimento e subde-
senvolvidos foram levados pela ideologia dominante estadunidense a abrirem seus comér-
cios, a privatizarem e se especializarem naquilo que ”são bons em produzir” numa divisão
internacional e social do trabalho, que levou países como o Brasil para um processo de
desindustrialização e com forte economia baseada em exportação de comodities, o que ape-
sar de ter sido extremamente positivo no sentido econômico de PIB, não foi no sentido de
desenvolvimento e hoje passamos por uma terrível crise econômica e de desemprego, e
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influenciados pelas políticas neoliberais de “boa governança” dos PADS, na esperança (pelo
menos a propaganda era essa) de recuperar a economia e gerar empregos reformaram as
leis trabalhistas e a previdência, o que não funcionou, visto que não há emprego e as leis
que protegiam e garantiam segurança e estabilidade agora os brasileiros já não podem con-
tar, uma verdadeira precarização das instituições conquistadas.
E como sempre em momentos de crise internacional, nessa terceira crise do capitalismo na
segunda metade do século XX e com a queda da URSS, não podia ser diferente, agora
temos uma China em ascensão que não comprou a ideia neoliberal e apostou na reindustri-
alização e urbanização do seu território, crescendo rapidamente num curto período de
tempo.
Ou seja, a China foi contra às políticas de “boa governança” propostas pelo ocidente capita-
lista e investiu nas consideradas “ruins” que os PADs quando estavam em desenvolvimento
também tomaram só que com um diferencial, a China além de ter uma população imensa,
faz negócio com qualquer país principalmente esses do sul global como o Brasil e da África
que por terem suas economias baseadas no setor primário acabam sustentando a China.
Por fim, lendo o livro que gira em torno da seguinte questão: “Como os países ricos enrique-
ceram de fato?” e analisando a história e perpassando por diversos autores a conclusão que
se chega, principalmente ao final da obra de Chang, é de que na verdade com o início do
capitalismo, os países da Europa se viram no direito de acumularem, explorando outros pa-
íses e até mesmo a sua própria população no início, roubando terras, matérias primas, mãos
de obra e etc., e nesse processo de industrialização se viram na necessidade de acumular
cada vez mais, criando leis e mecanismos para permanecerem como dominantes como pac-
tos coloniais e até mesmo repartição de um continente, conquistando zonas de influência e
domínio, e nesse processo foram criando políticas de desenvolvimento social e instituições
que privilegiem a população, como leis trabalhistas, sufrágio universal, burocracias, sistema
bancários, judiciários, financeiros, a democracia e etc., porém a passos de formiga, de forma
precária, lenta e sem nenhuma imediatez, até mesmo sendo vista com maus olhos, criando
ideologias de livre mercado que eliminem concorrências e privilegiam quem já está domi-
nando isso até os dias atuais, então o que acontecem, esses PADs com uma indústria forte,
caminhando para uma quarta revolução industrial, competindo com a concorrente chinesa,
que não caiu no seu golpe ideológico, em desenvolvimento tecnológico e de mercado (e
agora de saúde), enquanto a periferia, países como o Brasil, se desindustrializa, se especi-
aliza na produção de commodities que exporta se tornando uma neocolônia e fica depen-
dente das metrópoles até mesmo para produzir papel para foto, em síntese é assim que os
países de fato enriqueceram, acumularam tudo que podiam, quando chegaram no auge para
não haver mais concorrência, se sustentaram sobre os países em desenvolvimento, ofere-
cendo e cobrando políticas pobres assim chutando a escada que eles subiram para que
esses emergentes não consigam alcança-los.

3. Bibliografia
CHANG, Ha-Joon. Chutando a escada – A estratégia do desenvolvimento em perspectiva
histórica. São Paulo: Editora Unesp, 2004. 1ª edição
14
HOBSBAWM, Eric (1995). A era dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, pp. 223-
252/pp. 393-420 (Capítulos 8 e 14)
ENGELS, Friedrich (1984). Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico. São Paulo:
Global.
MYRDAL, Gunnar (1957). Teoría económica y regioens subdesarrolladas. Primeira Parte.
México: Fondo de Cultura.

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