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MANUAL DE PREVENÇÃO E CONTROLO DA INFEÇÃO:

PRINCÍPIOS BÁSICOS A CONSIDERAR NA PRESTAÇÃO


DE CUIDADOS DE SAÚDE
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Formador: Enf. Sara Ferreira

Junho de 2021
ÍNDICE
Módulo 1 - Noções básicas de Microbiologia ................................................................................... 5

1.1. Introdução à microbiologia ................................................................................................ 5

1.2. Morfologia e estrutura dos microrganismos ...................................................................... 6

1.2.1. Virús ...................................................................................................................... 6

1.2.2. Bactérias ................................................................................................................ 8

1.2.3. Fungos ................................................................................................................. 11

1.2.4. Parasitas .............................................................................................................. 13

1.3. Nutrição de microrganismos ............................................................................................ 14

1.4. Meios de cultura de microrganismos ............................................................................... 16

1.5. Crescimento microbiano .................................................................................................. 17

1.6. Ação de agentes físicos e químicos .................................................................................. 17

Módulo 2-Epidemiologia da infeção - cadeia epidemiológica ........................................................ 25

2.1. Microrganismos e patogenicidade ................................................................................... 25

2.2. Reservatórios ou fontes dos microrganismos .................................................................. 26

2.3. Portas de entrada e de saída dos microrganismos ........................................................... 27

2.4. Vias de transmissão.......................................................................................................... 27

2.5. Hospedeiro e sua suscetibilidade ..................................................................................... 28

2.6. Resistências anti-microbianas .......................................................................................... 29

Módulo 3- Princípios da prevenção e controlo da infeção, medidas e recomendações................. 30

3.1. Os conceitos de doença, infeção e doença infecciosa ..................................................... 30

3.2. Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Infeção associada aos cuidados de


saúde………………………………………………………………………………………………………………………………….30

3.3. O papel das comissões de controlo de infeção nas unidades de saúde........................... 32

3.4. Enquadramento legal do controlo da infeção .................................................................. 33

Módulo 4-Conceitos básicos associados à infeção ......................................................................... 35

4.1. Adquirida na comunidade ................................................................................................ 35

4.2. Nosocomial....................................................................................................................... 35

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4.3. Infeção Cruzada ................................................................................................................ 36

Módulo 5- Exposição a risco biológico ............................................................................................ 37

5.1. Conceito de agente biológico ........................................................................................... 37

5.2. Prevenção na exposição ao risco biológico ...................................................................... 37

5.3. Tuberculose ...................................................................................................................... 39

5.4. Hepatite A, B e C .............................................................................................................. 39

5.5. HIV .................................................................................................................................... 40

Módulo 6-Potenciais alvos da infeção............................................................................................. 42

6.1. O/A Técnico/a Auxiliar de Saúde como potencial hospedeiro e/ou vetor de infeção ...... 42

6.2. Situações de risco potenciadoras da infeção ................................................................... 43

6.3. Os Contextos de prestação de cuidados (institucionalização/comunidade) e


especificidades na área da prevenção e controlo da infeção de forma a prevenir a
transmissão da infeção (disseminação aérea, por gotícula e por contacto; precauções com o
equipamento, transporte e alojamento do utente) ................................................................ 44

6.4. A prevenção das infeções associadas às unidades/ serviços específicos e recomendações


associadas ............................................................................................................................... 47

6.4.1. Isolamento ................................................................................................................ 47

6.4.2. Unidades de utentes imunodeprimidos .................................................................... 49

6.4.3. Pediatria .................................................................................................................... 50

6.4.4. Unidades de cuidados intensivos .............................................................................. 51

6.4.5. Blocos operatórios .................................................................................................... 51

6.4.6. Salas de parto ............................................................................................................ 52

6.4.7. Laboratórios .............................................................................................................. 52

6.4.8. Consultas ................................................................................................................... 53

6.4.9. Outras ........................................................................................................................ 54

Módulo 7- A prevenção das infeções associadas à prestação de cuidados específicos e


recomendações associadas ............................................................................................................. 58

7.1. O utente submetido a intervenção invasiva..................................................................... 58

7.2. O transporte de utentes ................................................................................................... 59

7.3. O transporte de amostras biológicas ............................................................................... 60

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7.4. Os cuidados ao corpo e transporte post-mortem ............................................................ 42

Módulo 8-Precauções básicas e o equipamento de proteção individual ....................................... 63

8.1. Equipamento de proteção individual (qual, quando e como usar) .................................. 63

8.2. Higiene das mãos (conceito, técnicas, procedimentos) ................................................... 65

8.3. Uso adequado e seguro das barreiras protetoras ............................................................ 70

8.4. Cuidados de higiene pessoal ............................................................................................ 72

8.5. Vacinação ......................................................................................................................... 73

8.6. Fardamento ...................................................................................................................... 74

Módulo 9-Tarefas que em relação a esta temática se encontram no âmbito de intervenção do/a
Técnico/a Auxiliar de saúde............................................................................................................. 76

9.1. Tarefas que, sob orientação de um Enfermeiro, tem de executar sob sua supervisão
direta ....................................................................................................................................... 76

9.1. Tarefas que, sob orientação e supervisão de um Enfermeiro de saúde, pode executar
sozinho/a ................................................................................................................................. 77

Bibliografia ...................................................................................................................................... 79

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A alegria que se tem em pensar e aprender faz-nos pensar e aprender ainda mais.

Aristóteles

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Módulo 1- Noções básicas de Microbiologia
1.1. Introdução à microbiologia

A microbiologia é o estudo dos microrganismos (micróbios), organismos tão pequenos que é


necessário um microscópio para estudá-los.

A vista humana é incapaz de perceber objetos com diâmetro inferior a cerca de 0,1
milímetros. As células vivas, unidades biológicas da estrutura e função, estão quase sempre bem
abaixo desse limite de tamanho. Portanto, os menores organismos, aqueles constituídos de uma
só célula, são na maioria, invisíveis à vista humana desarmada.

A microbiologia foca-se principalmente em estudar organismos e agentes tão ou mais


pequenos que 0,1 milímetros, sendo eles:

• Bactérias (a);

• Vírus (b);

• Alguns fungos (c);

• Algumas algas;

• Protozoários (d).

Os microrganismos apresentam benefícios para a sociedade, entre eles:

• Podem ser necessários na produção de pão, queijo, cerveja, iogurte, antibióticos,


vacinas, Vitaminas, Enzimas e muitos outros produtos importantes;

• São uma fonte de nutrientes na base das cadeias e redes alimentares ecológicas;

• São componentes indispensáveis do nosso ecossistema. Eles tornam possíveis os


ciclos do carbono, oxigénio, azoto e enxofre que ocorrem nos sistemas aquático e
terrestre.

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No entanto, os microrganismos também apresentam desvantagens para os humanos, tendo
prejudicado tanto a saúde humana como a sociedade:

• As doenças microbianas indubitavelmente tiveram um papel importante em


eventos históricos, como o declínio do Império Romano e a conquista do Novo
Mundo;

• Em 1347, a peste negra atingiu a Europa brutalmente e apenas em 1351 a praga já


tinha matado 1/3 da população. Durante os 80 anos seguintes, a doença surgiu de
novo e de novo, eventualmente matando 75% da população Europeia. Acredita-se
que este desastre mudou a cultura Europeia, preparando o Renascimento;

• Em 1900, as doenças infeciosas constituíam as principais causas de morte nos


países desenvolvidos e não desenvolvidos. No entanto, nos tempos correntes as
doenças infeciosas apresentam uma maior importância neste facto, em países mais
desenvolvidos.

Entre 1900 e 2000, três fatores mudaram para que tal disparidade nas taxas de mortalidade
causadas por doenças infeciosas baixasse:

1. Por volta dos anos 30/40 chegaram os antibióticos, por descoberta da Penicilina;

2. As vacinas tiveram um impacto tremendo no tratamento de doenças infeciosas;

3. Foram tomadas medidas higiénicas.

Assim, é fácil compreender que países menos desenvolvidos sejam bastante fustigados
pelas doenças infeciosas, sendo estas a principal causa de morte, apresentando um panorama
idêntico ao do observado no início do século XX.

1.2. Morfologia e estrutura dos microrganismos

1.2.1. Vírus

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Os vírus são organismos acelulares que contêm uma pequena
molécula de material genético (DNA ou RNA) e uma cápsula de
proteínas para protegê-lo. Por serem acelulares, alguns cientistas
não os classificam como seres vivos. Mas outros consideram-nos
como vivos, pois podem reproduzir-se. Os vírus são parasitas
obrigatórios, ou seja, precisam de uma célula hospedeira para se
reproduzir.

O processo de reprodução ocorre:

• o vírus aproxima-se da célula (fixação), e injeta o seu material genético dentro dela;

• dentro da célula, as partículas de DNA ou RNA injetados, multiplicam-se;

• novos vírus são formados, com os recursos da própria célula (enzimas, nutrientes, etc);

• a célula morre, libertando os novos vírus que se formaram;

• Este é um processo de vírus bacteriófagos, que destroem as células após a reprodução.

Mas existe outro tipo, que não destrói a célula. Eles só injetam o DNA (ou
RNA) na célula, e então, o material genético mistura-se ao do hospedeiro. Ele
fica lá por muito tempo, sofrendo várias mutações e também se multiplicando,
quando a célula de divide (cissiparidade). E finalmente, por algum "alerta" (não
se sabe como), a parte do material genético viral "acorda" e começa a agir. Isso
pode ser chamado de ciclo lítico. Uma célula hospedeira pode gerar desde
algumas unidades de vírus até centenas de milhares, dependendo da
quantidade de material genético injetado e recursos da célula.

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• Doenças provocadas por vírus

o VIH (Vírus da Imonudeficiência Humana)

o HPV (Vírus do Papiloma Humano)

o Gripe A

o Hepatite B (VHB)

o Herpes labial e genital

o Sarampo

o Rubéola

o Mononucleose (Doença do Beijo)

1.2.2. Bactérias

São organismos unicelulares que diferem de outros seres vivos por serem procariontes, isto
é, as suas células não possuem um núcleo individualizado por uma membrana e elas podem viver
isoladas ou reunidas em colónia.

As bactérias apresentam formas variadas, podendo ser esféricas, cilíndricas ou espiraladas.


Em função dessa variação de formas, são agrupadas assim:
1. Cocos – forma esférica;

2. Bastonetes ou bacilos – forma alargada em bastão;

3. Espirilos – forma espiralada.

Como já referido, as bactérias podem formar colónias, pela reunião de vários indivíduos de
uma mesma espécie que permanecem unidos formando uma unidade funcional. Isso acontece
principalmente com os cocos, mas pode ocorrer com os bacilos, não ocorrendo com os espirilos.

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As bactérias podem ainda se distinguir entre:

• Bactérias comensais que constituem a flora normal de indivíduos saudáveis. Têm um


significativo papel protetor, prevenindo a colonização por microrganismos patogénicos.
Algumas bactérias comensais podem causar infeção, no hospedeiro
imunocomprometido, por exemplo, os Staphylococcus coagulase-negativos da pele
causam infeções em doentes com linha intravascular.

• Bactérias patogénicas têm maior virulência e causam infeção (esporádica ou epidémica)


independentemente do estado do hospedeiro. Por exemplo:

✓ Bacilos anaeróbios Gram-positivos (por ex. Clostridium) causam gangrena.

✓ Cocos Gram-positivos: Staphylococcus aureus (bactérias cutâneas que


colonizam a pele e o nariz tanto dos doentes como do pessoal hospitalar)
causam uma grande variedade de infeções do pulmão, osso, coração e corrente
sanguínea, e são frequentemente resistentes aos antibióticos; também os
Streptococcus beta-hemolíticos são importantes.

✓ Enterobacteriáceas (bacilos gram-negativos): (por ex., Escherichia coli,


Proteus,Klebsiella, Enterobacter, Serratia marcescens) podem colonizar certos
locais, quando as defesas do hospedeiro estão comprometidas (inserção de
catéter, algália, inserção de cânula), e causar infeções graves (local cirúrgico,
pulmão, bacteriemia, infeção peritoneal). Podem, também, ser muito
resistentes.

• Outros microrganismos Gram-negativos tais como a Pseudomonas spp. São


frequentemente isoladas em água e em áreas húmidas. Podem colonizar o aparelho
digestivo de doentes hospitalizados.

• Outras bactérias selecionadas constituem um risco específico em hospitais. Por exemplo,


a espécie Legionella pode causar pneumonia (esporádica ou endémica) através de
inalação de aerossóis contendo água contaminada (ar condicionado, chuveiros, aerossóis
terapêuticos).

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• Estrutura das bactérias

o Membrana celular: fina membrana situada abaixo da parede celular composta por
fosfolipídios que envolvem as proteínas, com a função de delimitação e controle da
passagem de substâncias – permeabilidade seletiva;

o Parede celular: A parede recobre a membrana, e é ela quem confere rigidez, forma e
proteção contra agentes físicos;

o Nucleoide/DNA/material genético: consiste numa única molécula circular de DNA que


determina as características da célula;

o Ribossomas: quando um dos nutrientes essenciais está ausente, as bactérias deixam de


crescer e acumulam os outros nutrientes que são armazenados (e funcionam como reserva
de energia);

o Citoplasma: solução aquosa na qual estão suspensos todos os componentes internos,


contendo substâncias dissolvidas e partículas tais como ribossomas e material nuclear.

o Flagelos: apêndices muito finos, que se exteriorizam através da parede celular, dá


locomoção a algumas células.

o Fímbrias: apêndices filamentosos menores, mais curtos e mais numerosos que os


flagelos e que não formam ondas regulares. Não desempenham papel relativo à mobilidade
mas podem funcionar como mecanismo de aderência às superfícies.

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• Doenças provocadas por Bactérias

o Infeções urinárias (E. coli)

o Bronquite (Pneumococcus)

o Clamídia (Chlamydia trachomatis)

o Meningite bacteriana (Meningococcus)

o Tuberculose (Mycobacterium tuberculosis)

o Cáries dentárias

1.2.3. Fungos

Os fungos são encontrados em praticamente todos os ambientes do


planeta possuem um papel importantíssimo na natureza e têm participado
da vida do homem ora como colaboradores, ora como vilões.

Na Natureza há bastantes tipos de fungos, existem aqueles que são


extremamente prejudiciais para a saúde do Homem, causando inúmeras
doenças e até intoxicações. Há também os que parasitam vegetais e
cadáveres de animais em decomposição. Temos também os que são
utilizados para alimento e até aqueles, dos quais se pode extrair substâncias
para a elaboração de medicamentos.

Estão incluídos neste grupo, organismos de dimensões consideráveis,

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como os cogumelos. Os cogumelos são fungos pluricelulares e visíveis a olho nu. Algumas
espécies são comestíveis, enquanto outras são extremamente tóxicas. Mas também se incluem
muitas formas microscópicas como bolores e leveduras. As leveduras são fungos que se
apresentam sob forma microscópica, sendo formadas por uma única célula (unicelulares).

Diversos tipos de fungos agem nos seres humanos causando várias doenças, por exemplo,
micoses.

Na cadeia alimentar os fungos ocupam a importante posição de decompositores. Os fungos


são organismos heterotróficos, ou seja, não produzem o próprio alimento, dependem da ingestão
de matéria orgânica, viva ou morta, para sobreviver.

Os fungos reproduzem-se por um tipo especial de célula chamada esporo.

Os esporos são muito pequenos e podem permanecer suspensos no ar por muito tempo,
sendo carregados pelo vento para lugares bem distantes do fungo que os produziu. Dessa forma,
eles espalham-se pelos mais variados ambientes, mas se desenvolvem melhor quando
encontram condições de pouca luminosidade, boa humidade e muita matéria orgânica.

Apesar de não se locomoverem, a capacidade de dispersão, a velocidade com que se


reproduzem e o rápido crescimento acabam por compensar a imobilidade dos fungos.

Os fungos são seres vivos eucariontes, portanto o núcleo das suas células é delimitado por
uma membrana, podem ser unicelulares ou pluricelulares. As suas células são envolvidas por
uma parede que não é feita de celulose como nos vegetais, e sim de quitina, o mesmo material
que reveste o corpo dos artrópodes (insetos, crustáceos, aracnídeos e outros).

Eles não possuem clorofila, sendo por isso incapazes de realizar a fotossíntese, e, para
conseguirem se desenvolver, dependem do alimento que encontram no local onde se instalam.

Os fungos também são responsáveis pela produção de antibióticos, medicamentos que

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combatem infeções causadas por bactérias.

A penicilina foi o primeiro antibiótico a ser produzido a partir do fungo Penicillium notatum,
descoberto em 1928 pelo Dr. Alexander Fleming.

Outros antibióticos, extraídos de cogumelos ou de bactérias, foram a seguir descobertos,


entre eles estreptomicina, aureomicina, cloromicetina, terramicina, tirotricina, gramicina,
bacitracina.

• Constituição de um fungo pluricelular

O corpo das espécies pluricelulares é formado por duas partes:

✓ O micélio

Corresponde a um emaranhado de filamentos longos e


microscópicos chamados de hifas.

✓ Corpo de frutificação

É a estrutura reprodutiva destes fungos.

Por exemplo, o bolor preto que cresce nos pães velhos, corresponde ao corpo de frutificação.
Já a parte que fica no interior do pão é o micélio.

• Doenças provocadas por Fungos

o Candidíase

o Onicomicose

o Micoses

1.2.4. Parasitas

São organismos que vivem em associação com outros,


dos quais retiram os meios para a sua sobrevivência,
normalmente prejudicando o organismo hospedeiro.
Processo conhecido por parasitismo.

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O efeito de um parasita no hospedeiro pode ser mínimo, sem lhe afetar as funções vitais,
como é o caso dos piolhos, ou pode até provocar a sua morte.

Os parasitas podem classificar-se segundo a parte do corpo do hospedeiro que atacam:

 Ectoparasitas atacam a parte exterior do corpo do hospedeiro;

 Endoparasitas vivem no interior do corpo do hospedeiro;

 Hemoparasita, parasita que vive na corrente sanguínea:

➢ Podem ser transmitidos entre os humanos através do contacto pessoal


ou uso de objetos pessoais;

➢ Podem também ser transmitidos através da água, alimentos, mãos sem


a devida higienização, poeira, solo contaminado com larvas, entre
outros.

• Doenças provocadas por parasitas

o Malária (Plasmodium)

o Toxoplasmose (Toxoplasma gondii)

o Tricomníose (Trichomonas vaginalis)

1.3. Nutrição de microrganismos


Para o crescimento e multiplicação os organismos necessitam de:

Uma fonte de carbono, hidrogénio e oxigénio.

Uma fonte de sais minerais, ferro, enxofre, fósforo, sódio e magnésio.

Uma fonte de energia.

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Existem entre os seres vivos 2 tipos de comportamento que caracterizem as maneiras de
enfrentar o problema de obtenção de alimentos, ou seja sua fonte de energia. O comportamento
AUTOTRÓFICO E HETEROTRÓFICO.

AUTOTRÓFICO – são seres que sintetizam seu próprio alimento, a partir de moléculas
de baixa E. desenvolve-se em meios minerais. FOTOSSÍNTESE E QUIMIOSSINTESE

HETEROTRÓFOS – seres que não conseguem sintetizar seu próprio alimento e o


adquirem do meio onde se encontram. Necessitam de substancias orgânicas para o seu
desenvolvimento. FERMENTAÇÃO E RESPIRAÇÃO.

FOTOSSÍNTESE – é um processo de produção de


alimentos onde ocorre a transformação de substâncias
simples em compostos orgânicos através da luz solar.

QUIMIOSSINTESE – é o processo pelo qual certos organismos sintetizam moléculas orgânicas


utilizando energia proveniente da oxidação de compostos inorgânicos. Estes organismos oxidam
substancias inorgânicas e a energia liberada nesta reação é utilizada na síntese da glicose que
serve então como matéria prima para síntese de outras moléculas orgânicas e como fonte de
energia para as reações celulares.

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FERMENTAÇÃO – A fermentação é um processo de libertação de energia que ocorre sem a
participação do oxigênio. A fermentação compreende um conjunto de reações enzimaticamente
controladas, através das quais uma molécula orgânica é degradada em compostos mais simples,
libertando energia.

RESPIRAÇÃO – consiste no processo de extrato de energia química acumulada nas moléculas


de substâncias orgânicas diversas, tais como hidratos de carbono e lípidos. Nesse processo,
verifica-se a oxidação ou “queima” de compostos orgânicos de alto teor energético
consequentemente, formam-se substâncias de menor conteúdo energético, como CO2 e H2O.

 Respiração aeróbica – quando o aceptor final de hidrogénio produzido pela


oxidação das moléculas orgânicas é o oxigénio.

 Respiração anaeróbica - quando o aceptor final de hidrogénio produzido pela


oxidação das moléculas orgânicas é uma substância inorgânica diferente do
oxigénio. Ex. nitrato, sulfato, carbonato etc.

1.4. Meios de cultura de microrganismos


Um meio de cultura é um substrato nutritivo capaz de permitir a nutrição e o crescimento
dos microrganismos (bactérias, fungos, algas, parasitas) fora do seu ambiente biológico natural,
ou seja, é uma preparação de nutrientes utilizada para o crescimento de microrganismos em
laboratório. Além dos nutrientes, existem condições ambientais para o crescimento microbiano,
como temperatura, pH, humidade, presença ou não de oxigénio (condição aeróbia e anaeróbia),
entre outros.

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Os meios de cultura são classificados de acordo com seu estado físico, podendo ser sólido,
quando possui agentes solidificantes como o ágar; semissólido, quando a consistência de ágar
e/ou gelatina é intermediária, ou líquido, quando não possui solidificantes, caracterizando-se
como caldo.

Podem ser também classificados como:

 Ordinários - para o desenvolvimento de qualquer bactéria;

 Seletivos - específicos para as respetivas bactérias;

 Enriquecidos - quando contêm substâncias que favorecem o crescimento de


determinada bactéria.

1.5. Crescimento microbiano

O crescimento microbiano é normalmente associado ao crescimento de uma população de


células de um dado microrganismo, ou seja, com o aumento do número de células da população.

Grande parte dos microrganismos multiplica-se por fissão binária ou por gemulação, em
resultado do que uma célula dará origem a duas ao fim de um certo tempo, tempo de geração ou
de duplicação.

Durante um ciclo de divisão celular correspondente ao tempo de geração ou duplicação,


todos os componentes celulares mensuráveis (por exemplo, ácidos nucleicos, proteínas, lípidos)
duplicam, acompanhando a duplicação do número de células e da quantidade de biomassa
presente.

1.6. Ação de agentes físicos e químicos

• Controlo Microbiano

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O controlo microbiológico pode ser realizado por:

 Ação microbiostática - inibição (bloqueio) da multiplicação dos microrganismos


(os microrganismos não se multiplicam).

 Ação microbiocida - morte rápida dos microrganismos.

Agente antimicrobiano - é um composto químico, natural ou sintético, que mata um


microrganismo ou inibe o seu crescimento.

 Os agentes antimicrobianos que destroem ou tornam bactérias/ fungos inviáveis


são designados bactericidas ou fungicidas.

 Os agentes que inibem o crescimento bacteriano ou de fungos são


bacteriostáticos ou fungistáticos.

Efeito dos agentes antimicrobianos no crescimento bacteriano:

 Efeito bacteriostático: inibe o crescimento microbiano, mas não ocorre morte


celular (ex: utiliza-se nos desodorizantes);

 Efeito bactericida: ocorre morte das células mas não há lise celular (ex:
penicilina, cefalosporinas,...)

 Efeito bacteriolítico: induz a morte celular por lise celular (ex: penicilina, ...).

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• Agentes de Controlo Microbiano

❑ Agentes Físicos ❑ Agentes Químicos


❑ Calor ❑ Esterilizantes
❑ Baixas Temperaturas ❑ Desinfetantes e antissépticos
❑ Pasteurização
❑ Pressão Osmótica
❑ Radiações
❑ Filtração
❑ Ressecamento
❑ Incineração

➢ Agentes Físicos:

✓ Calor:

Calor Seco: feita em fornos, a maior parte da vidraria empregada em laboratório é


esterilizada deste modo,
feito apenas em materiais
que são sensíveis ao
calor húmido.

Calor Húmido:

▪ Fervura: consiste no aquecimento a 100ºC, após cerca de 15 minutos de fervura pode


matar uma grande quantidade de microrganismos, mas não é eficaz contra endósporos

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bacterianos e alguns vírus. Normalmente este método é utilizado em desinfeções
caseiras, preparação de alimentos, etc.

▪ Autoclavagem: aquecimento a 121ºC durante 15-20 min. Este processo é o mais eficaz,
pois o seu poder de
penetração é maior.
Numa atmosfera húmida
e a uma temperatura
elevada os
microrganismos morrem
quando se dá a
coagulação e
desnaturação das
enzimas e proteínas que
fazem parte da sua
estrutura. Nos laboratórios também é prática corrente a descontaminação de todo o
material infetado, quer do que vai ser colocado posteriormente no lixo, quer do que vai
ser posteriormente reutilizado.

✓ Baixas Temperaturas

A temperaturas de 0 a 7ºC, a taxa metabólica da maioria dos microrganismos é reduzida:


efeito bacteriostático - o crescimento é inibido, mas não ocorre morte celular.

Temperaturas baixas (abaixo do ponto de congelamento) obtidas RAPIDAMENTE tendem a


tornar os micróbios dormentes – não necessariamente os mata.

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O congelamento LENTO é mais nocivo – os cristais de gelo que se formam e crescem
rompem a estrutura celular e molecular dos
microrganismos.

✓ Pasteurização

Consiste em aquecer o produto a uma dada


temperatura, num dado tempo e a seguir, arrefecer
bruscamente. A pasteurização reduz o número de
microrganismos presentes, mas não assegura uma
esterilização.

✓ Pressão osmótica

Uso de altas concentrações de sais e açúcares. Criam um


ambiente hipertónico que ocasiona a saída da água da célula
microbiana. Esse princípio é utilizado na conservação dos
alimentos. Em geral, os fungos e bolores são mais capazes de
crescer em materiais com baixa humidade. Esta propriedade
combinada com capacidade de crescer em condições ácidas é a
razão pela qual as frutas e grãos são deteriorados por fungos.

✓ Radiações

As radiações têm seus efeitos dependentes do comprimento da onda, da intensidade, da duração


e da distância da fonte.

 R. Ionizante -São radiações de elevada energia e poder de penetração. Atuam sobre os


constituintes da célula, nomeadamente DNA e proteínas celulares. Usam-se para
esterilização de material plástico (seringas, placas de Petri, etc.) e de borracha. Ex: raios
gama, raio X.

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 R. Não Ionizante – São radiações de fraca energia e fraco poder de penetração. Atuam a
nível do DNA, impedindo a sua replicação ou alterando-o. Usam-se na desinfeção do ar
de gabinetes, recintos hospitalares (salas de operação), câmaras de fluxo, etc. Estas
radiações são altamente agressivas para a pele e para os olhos, pelo que nunca se deve
trabalhar na sua presença. Ex: Radiação UV.

✓ Filtração

Passagem de soluções ou gases através de filtros.


Aqui são retidos os microrganismos, pode ser usada
na remoção de bactérias e fungos, no entanto,
podem passar a maioria dos vírus.

✓ Ressecamento

AUSÊNCIA DE ÁGUA – os microrganismos não podem crescer ou reproduzir-se, mas podem


permanecer viáveis por anos. Quando a água se encontra presente o seu crescimento é
retomado. Usado para preservar microrganismos em laboratório: Liofilização (vácuo).

✓ Incineração

Utilizado em larga escala para destruição de resíduos hospitalares.

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➢ Agentes Químicos

Fatores que influenciam a sua eficiência

 Tamanho da população;

 Natureza da população;

 Concentração do agente;

 Tempo de exposição;

 Temperatura;

 Condições ambientais:

 pH do meio

 presença de matéria orgânica

1.Esterilizantes

Agentes químicos que eliminam de um objeto ou material biológico todas as formas de vida
microbiana.

• Óxido de etileno - é um gás altamente solúvel em água e violentamente explosivo. Utilizado na


esterilização de material termosensível. A esterilização faz-se em câmaras apropriadas.
Atualmente tem vindo a ser substituído pelo plasma de peróxido e pelo formaldeído a 2% a baixa
temperatura. Estes métodos têm a vantagem de não necessitarem de período de arejamento
exigido pelo óxido de etileno.

• Formaldeído e gluteraldeído

2. Desinfetantes e antissépticos

Os desinfetantes podem ter sobre os microrganismos as seguintes ações:

• Bactericida / Bacteriostático (impedindo a célula de se dividir) / Bacteriolítico (efetuando a


lise da parede da célula);

• Fungicida / Fungistático

• Virucida / Virustático

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• Esporicida

• Compostos fenólicos – inativam as proteínas e podem interagir com o DNA. Muito usados na
descontaminação de instrumentos clínicos.

• Álcool (etanol, propanóis) – coagulam as proteínas e solubilizam lípidos de que resulta a


destruição das membranas celulares.

• Cloro (hipoclorito e compostos N-clorados) – oxidantes que conduzem à destruição da atividade


de proteínas celulares.

• Iodo (tintura de iodo ou iodopovidona) – destruição da atividade de proteínas e enzimas


essenciais por oxidação.

• Peróxido de Hidrogénio (água oxigenada) – oxidante que reage com componentes celulares
essenciais, como os lípidos membranares e DNA.

• Sais metálicos e compostos mercuriais (nitrato de prata, mercurocromo, mertiolato): inativação


das proteínas celulares.

• Detergentes catiónicos (compostos quaternários de amónio - cetrimida): inativam as proteínas


e alteram a membrana citoplasmática.

• Clorexidina: parece ligar-se às superfícies celulares, ocasionando a desorganização estrutural e


funcional da membrana.

• Ozono.

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24
Módulo 2- Epidemiologia da infeção - cadeia epidemiológica

2.1. Microrganismos e patogenicidade


Para que seja possível o aparecimento de infeção é requerido que estejam presentes as
seguintes condições:

1. Número adequado de agentes patogénicos (inoculo microbiano), variável consoante a espécie


e o estado imunitário do hospedeiro.

2. Existência de um reservatório ou fonte onde o microrganismo sobreviva e possa multiplicar-se.

3. Via de transmissão do agente para o hospedeiro.

4. Porta de entrada do hospedeiro específica para o agente patogénico (há especificidade entre
microrganismos e capacidade de desencadear doença em órgãos ou sistemas específicos do
hospedeiro).

5. Que o hospedeiro seja suscetível ao agente microbiano, isto é, que não tenha imunidade ao
agente.

A ocorrência destes sucessivos acontecimentos denominamos “Cadeia da Infeção”.

As estratégias de controlo de infeção eficiente e eficaz têm que ter em conta esta sequência,
prevenindo a transferência dos agentes pela interrupção de uma ou mais das ligações desta
“Cadeia de Infeção”.

Para determinar a abordagem epidemiológica é conveniente ter presente o tipo de história


natural das doenças, pois equaciona medidas diferentes de prevenção e controlo:

• Doença de evolução aguda, rapidamente fatal.

• Doença de evolução aguda, mas de rápida recuperação.

• Doença de evolução subclínica (sem sintomas nem sinais clínicos – só com


repercussão imunológica).

• Doença de evolução crónica (que pode evoluir até à morte se não for tratada ou
quando não existe tratamento eficaz).

• Doença de evolução crónica com períodos assintomáticos alternados com


exacerbações clínicas

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25
O espectro de ocorrência de infeção é também um dado epidemiológico na estratégia a
implementar para a prevenção e controlo.

Temos de considerar neste contexto que a infeção pode ocorrer de forma esporádica, sem
um padrão definido, de forma endémica, isto é, com uma frequência mais ou menos regular em
períodos de tempo definidos e ainda de forma epidémica, também denominada por surtos, em
que surge com aumento significativo de casos em relação ao habitual num período de tempo
determinado.

2.2. Reservatórios ou fontes dos microrganismos


Os microrganismos estão contidos habitualmente num reservatório que se define como o
local onde residem, têm a sua atividade metabólica habitual e se multiplicam (habitat natural).
Em múltiplas situações, estes agentes infeciosos são transferidos deste reservatório para um
outro local denominado fonte, do qual são transferidos depois para o hospedeiro.

Deste modo o reservatório e a fonte de um agente responsável por uma infeção podem ser
os mesmos ou não. Do ponto de vista epidemiológico o conhecimento deste facto é importante.

A fonte dos microrganismos pode ser exógena, portanto exterior ao hospedeiro, endógena,
proveniente da flora indígena do próprio hospedeiro ou ainda secundariamente endógena,
conceito que não é aceite por muitos autores e que se refere aos agentes que provêm do exterior
e que colonizam pele, mucosas ou outro local anatómico do hospedeiro, posteriormente
tornar-se agente de infeção quando atinge um órgão específico para o qual tenha capacidade de
desencadear infeção.

Alguns exemplos de infeções exógenas são aqueles em que o agente é transportado a partir
de líquidos contaminados, através da formação de aerossóis (p.ex. aspiração de secreções) ou a
partir de pessoa colonizada ou infetada que pode emitir gotículas ou contaminar ambientes que
entrem em contacto com outros possíveis hospedeiros suscetíveis (p. ex. transmissão do vírus da
gripe).

No caso das infeções endógenas, o reservatório e a fonte são geralmente coincidentes. Por
exemplo, a pneumonia associada à ventilação é causada por agentes da orofaringe do doente ou
a infeção associada ao cateter vascular é mais frequentemente causada pela flora cutânea ou,
ainda, os agentes da infeção urinária residem geralmente no intestino ou no períneo do próprio
doente.

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26
2.3. Portas de entrada e de saída dos microrganismos

A via de eliminação é a porta de saída do microrganismo. Refere-se à topografia ou material


pelo qual o agente é capaz de deixar seu hospedeiro, com potencial de transmissão para um
suscetível. De grande importância nas infeções hospitalares temos os exsudatos e as descargas
purulentas.

As secreções da boca e vias aéreas são húmidas, são expelidas sob forma de gotículas que
incluem células descamadas e microrganismos colonizantes ou infetantes.

Neste contexto falamos também das fezes. Mais da metade da biomassa das fezes é
composta de microrganismos, além disso as fezes podem servir como mecanismo de transmissão
dos parasitas intestinais através da eliminação de ovos.

Na urina podemos também encontrar os agentes, isto é, agentes das infeções


génito-urinárias ou microrganismos que apresentem uma fase septicémica, como é o caso da
leptospirose e febre tifoide.

O sangue é o meio natural de eliminação de doenças transmitidas por vetores hematófagos,


como a malária e febre amarela, onde também encontramos microrganismos de infeções
sistémicas e dos patógenos transmitidos pelo sangue, como hepatite e HIV.

O leite materno, embora possa ser responsabilizado pela transmissão de patologias como o
HIV em bancos de leite, é juntamente com o suor, via de menor importância no ambiente
hospitalar.

2.4. Vias de transmissão

O mecanismo pelo qual um agente infecioso se propaga e difunde pelo meio ambiente e
atinge hospedeiros suscetíveis constitui a via de transmissão. Esta propagação ou transmissão do
reservatório ou fonte, pode ser direta ou indireta.

Na transmissão direta há o contacto imediato entre uma porta de entrada recetiva do


hospedeiro e o reservatório.

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27
Na transmissão indireta o agente atinge a porta de entrada no hospedeiro através de um
veículo intermediário, por contacto físico com um veículo inanimado, por exemplo equipamento
contaminado, ou com um veículo animado, como as mãos, ou por gotículas, partículas líquidas
com diâmetro superior a 5 mm que devido ao seu peso se depositam rapidamente e geralmente
a uma distância não superior a um metro. A transmissão indireta também se pode realizar por
via aerógena, através de aerossóis, de esporos microbianos, de poeiras contaminadas, entre
outros.

É aceite por toda a comunidade científica que as mãos são o principal veículo de
transmissão. As gotículas constituem uma forma particular de transmissão por contacto, pois,
quando há proximidade excessiva (inferior a um metro), estas partículas podem atingir
diretamente uma porta de entrada dum hospedeiro recetor e também ao depositarem-se no
ambiente a curta distância do emissor, são indiretamente transferidas para o recetor através de
um veículo animado, o principal sendo as mãos dos profissionais prestadores de cuidados de
saúde ou dos próprios doentes.

2.5. Hospedeiro e sua suscetibilidade

Outro dos elementos da cadeia epidemiológica da infeção é o hospedeiro. Para que ocorra
infeção é necessário que o agente entre em contacto com uma porta de entrada específica no
hospedeiro, para a qual o agente tenha afinidade e capacidade de nesse local poder manifestar
os seus mecanismos de infecciosidade, desencadeando o processo infecioso.

Mas para que o microrganismo tenha a possibilidade de manifestar esta capacidade é


necessário que os mecanismos de defesa específicos (p. ex. a imunidade) e não específicos (p. ex.
resposta inflamatória, barreiras mecânicas, presença de flora indígena) sejam ultrapassados pelo
agente infecioso.

Com efeito, a resistência individual à infeção é muito variável, dependendo da idade, do


estado imunitário, da presença de doenças subjacentes ou ainda da prestação de cuidados de
saúde que podem interferir com os mecanismos de defesa do hospedeiro, como são os
procedimentos cirúrgicos, procedimentos invasivos de diagnóstico ou terapêuticos, utilização de
agentes terapêuticos como os antimicrobianos ou quimioterapia para doenças neoplásicas, entre
outros.

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28
Em síntese, para que seja possível surgir um quadro infecioso, o microrganismo tem que ter
acesso a uma porta de entrada que lhe seja favorável, que tenha afinidade para o tecido em
causa e que o inoculo seja suficiente para desencadear a infeção. Para que ocorra a infeção é
necessário que exista um desequilíbrio entre o inoculo e virulência do microrganismo e as
defesas do hospedeiro.

2.6. Resistências anti-microbianas


Muitos doentes recebem fármacos antimicrobianos. Através da seleção e da troca de
elementos genéticos de resistência, os antibióticos promovem a emergência de estirpes
bacterianas multirresistentes; os microrganismos da flora humana normal sensíveis a um dado
antimicrobiano são eliminados, enquanto as estirpes resistentes persistem e podem tornar-se
endémicas no hospital.

A utilização generalizada de antimicrobianos para terapêutica e profilaxia (incluindo na


forma tópica) é a maior determinante da resistência. Alguns agentes antimicrobianos estão a
tornar-se menos eficazes devido a resistências. Quando um antimicrobiano começa a ser mais
amplamente utilizado emerge, eventualmente, a resistência bacteriana a esse fármaco, a qual
pode disseminar-se na instituição.

Várias estirpes de pneumococos, estafilococos, enterococos e BK são atualmente resistentes


à maior parte, ou a todos, os antimicrobianos que eram anteriormente eficazes. Klebsiella e
Pseudomonas aeruginosa multirresistentes são prevalentes em muitos hospitais.

Este problema é especialmente crítico em países em vias de desenvolvimento, onde


antibióticos de segunda linha, mais caros, podem não estar disponíveis ou não existirem recursos
para a sua compra.

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Módulo 3- Princípios da prevenção e controlo da infeção, medidas e
recomendações

3.1. Os conceitos de doença, infeção e doença infeciosa

• Doença

Ocorre quando se verifique uma alteração do estado normal do organismo.

• Infeção

Implica a colonização, multiplicação, invasão ou a persistência dos microrganismos patogénicos


no hospedeiro.

• Doença Infeciosa

Alteração do estado de saúde em que parte ou a totalidade do organismo hospedeiro é incapaz


de funcionar normalmente devido à presença dum organismo ou dos seus produtos.

• Patologia ou patogénese

Modo como se originam e desenvolvem as doenças.

• Patogenicidade

A capacidade do agente invasor em causar doença com suas manifestações clínicas entre os
hospedeiros suscetíveis.

• Virulência

É o grau de patogenicidade de um microrganismo.

3.2. Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Infeção associada aos


cuidados de saúde
O Programa Nacional de Controlo da Infeção (PNCI) foi criado em 14 de Maio de 1999 por
Despacho do Diretor-geral da Saúde no âmbito das suas competências técnico-normativas.

O Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Infeção Associada aos Cuidados de Saúde


(PNCI), foi aprovado por Despacho do Sr. Ministro da Saúde n.º 14178/2007, publicado em Diário
Da República, 2.ª Série, N.º 127, de 4 de Julho de 2007, está sedeado na Direcção-Geral da Saúde,
no Departamento da Qualidade na Saúde e na Divisão de Segurança do Doente.

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30
Objetivo:

• Reduzir as infeções associadas aos cuidados de saúde, evitáveis, através da


implementação de práticas basadas na evidência.

O Grupo Coordenador do PNCI, trabalha em estreita articulação com os Grupos


Coordenadores regionais de Controlo de Infeção, sedeados nas Administrações regionais de
Saúde.

Missão:

• O PNCI tem por missão melhorar a qualidade dos cuidados prestados nas unidades de
saúde, através de uma abordagem integrada e multidisciplinar para a vigilância, a
prevenção e o controlo das infeções associadas aos cuidados de saúde.

Os projetos em desenvolvimento estão dirigidos às seguintes áreas:

• Vigilância epidemiológica;

• Desenvolvimento de normas de boas práticas;

• Consultadoria e apoio.

O Grupo coordenador do PNCI tem dado apoio às Comissões de Controlo e Infeção (CCI),
mediante solicitação das CCI e Conselhos de Administração/Direção. AS CCI são Equipas
multidisciplinares de assessoria técnica do Órgão de Gestão das unidades de saúde com a missão
de planear, implementar e monitorizar o Plano Operacional de Prevenção e Controlo da Infeção,
de acordo com as diretivas nacionais e regionais e as características e especificidades das
unidades de saúde.

Este apoio/consultadoria do grupo coordenador tem sido feito a diversos níveis:

• Visitas aos Hospitais em casos de surtos de infeção, discussão de temáticas


relevantes para as instituições;

• Atividades de formação na área do controlo de infeção – em colaboração com


Hospitais, Administrações regionais de Saúde, Escolas de Enfermagem e Escola
Superior de Tecnologias da Saúde, Escola Nacional de Saúde Pública entre outros;

• Apoio a profissionais na fase académica em cursos de complemento, de


especialização, pós-graduação e mestrado – orientações, tutoria, bibliografia

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31
relevante nos contextos dos diversos cursos;

• Apoio a profissionais que estão em fase de integração nas Comissões de Controlo


de Infeção - colaboração no planeamento dos programas de vigilância
epidemiológica na elaboração de Manuais de normas e formação;

• Apoio às CCI em áreas críticas: cláusulas especiais em cadernos de encargos,


qualidade do ar e sistemas de renovação de ar, entre outros.

Os membros do PNCI estão disponíveis para colaborar com as Unidades de Saúde sempre
que solicitados, em pareceres técnicos, esclarecimento de dúvidas, aconselhamento e
fornecimento de bibliografia relevante. As solicitações e/ou pedidos de colaboração deverão ser
dirigidos formalmente ao Diretor-geral da Saúde.

3.3. O papel das comissões de controlo de infeção nas unidades de saúde

Uma Comissão de Controlo de Infeção proporciona um fórum para a cooperação e


participação multidisciplinar e para a partilha de informação. Esta comissão deve incluir uma
ampla representação de outras áreas relevantes: p. ex., Administração, Médicos, outros
Profissionais de Saúde, Microbiologista Clínico, Farmácia, Aprovisionamento, Serviço de
Instalação e Equipamentos, Serviços Hoteleiros, Departamento de Formação.

A comissão deve reportar diretamente à Administração ou à Direção Médica, a fim de


assegurar a visibilidade e a eficácia do programa. Numa emergência (caso de um surto), esta
comissão deve poder reunir-se prontamente. A comissão tem as seguintes funções:

• Rever e aprovar um programa anual de atividades para a Vigilância Epidemiológica (VE) e


prevenção;

• Rever dados de VE e identificar áreas de intervenção;

• Avaliar e promover a melhoria de práticas, a todos os níveis, de prestação de cuidados de


saúde;

• Assegurar a formação adequada dos profissionais em controlo de infeção e segurança;

• Rever os riscos associados a novas tecnologias e monitorizar o risco de infeção de novos


dispositivos e produtos, antes da aprovação do seu uso;

• Rever e fornecer dados para a investigação de surtos;

• Comunicar e colaborar com outras comissões do hospital com objetivos comuns, tais

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32
como a Comissão de Farmácia e Terapêutica, Comissão de Antibióticos, Comissão de
Higiene e Segurança.

3.4. Enquadramento legal do controlo da infeção

Despacho 14178/2007 DR. II série, 127 de 4 Julho de 2007

Aprova o Programa Nacional de Prevenção e Controlo das Infeções Associadas aos Cuidados
de Saúde (PNCI),e determina que:

1. Seja criada uma rede nacional de registo de IACS (Infeção Associada aos Cuidados de
Saúde);

2. A coordenação nacional do PNCI e da rede nacional de registo de IACS, fique sob a


responsabilidade direta da Direção Geral da Saúde, que apresentará relatório anual ao Ministro
da Saúde;

3. Sejam criadas as Comissões de Controlo de Infeção (CCI) em todas as unidades de


acordo com o enquadramento do Programa ora aprovado e cujo modelo de organização foi
definido em Circular Circular Normativa da DGS, n º 15/10/2007;

4. O licenciamento de novas unidades de saúde tenha em consideração o cumprimento


do Programa ora aprovado;

5. O cumprimento do PNCI fique sob a responsabilidade direta dos órgãos de gestão das
US, (Unidades de Saúde) pelo que será imperativo, em cada uma delas, o desenvolvimento de um
Plano Operacional de Prevenção e Controlo da Infeção (POPCI);

6. A avaliação da execução do PNCI, independentemente das medidas de avaliação


contínua interna, deverá ser efetuada por organismo externo no final do primeiro quinquénio de
vigência do novo Programa.

Circulares Normativas da Direcção-Geral da Saúde - definem o modelo de organização das


Comissões de Controlo de Infeção

1. Operacionalização — autonomia técnica e executiva apoiada pelo Órgão de Gestão

2. Composição — Núcleo Executivo (com administrativo próprio), Representante do Órgão


de Gestão, Núcleo Consultivo, Núcleo dinamizador

3. Funcionamento — Formação da CCI, carga horária, ratio /composição em função do


tipo de unidade de saúde.

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33
4. Atribuições da CCI

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Módulo 4- Conceitos básicos associados à infeção

4.1. Adquirida na comunidade


Qualquer infeção adquirida na comunidade surge em oposição àquelas adquiridas em
instituições de saúde.

Uma infeção seria classificada como adquirida na comunidade se o paciente não esteve
recentemente em instituições de saúde ou não esteve em contato com alguém que esteve
recentemente em instituições de saúde.

Neste sentido, não é considerada infeção hospitalar, uma doença infeciosa adquirida na
comunidade, ou que foi diagnosticada só quando o paciente foi internado através de sinais que
indiquem que o período de incubação daquela doença seja incompatível com a data da sua
admissão no hospital.

4.2. Nosocomial
Infeções Nosocomiais, também chamadas Infeções Hospitalares, e atualmente denominadas
por Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde, são infeções adquiridas durante o internamento
que não estavam presentes ou em incubação à data da admissão. Infeções que ocorrem mais de
48 horas após a admissão são, geralmente, consideradas nosocomiais.

Entende-se, portanto, de uma maneira muito simplificada, por infeção nosocomial como
aquela que é contraída no hospital, provocada pela flora exógena, proveniente do meio ambiente,
pessoal e/ou inerte.

Existem critérios para identificar infeções nosocomiais em locais específicos (p. ex., urinárias,
pulmonares). Estes critérios derivaram dos publicados pelos CDC nos Estados Unidos da América
ou de conferências internacionais e são usadas na vigilância epidemiológica das infeções
nosocomiais.

As infeções nosocomiais podem ser tanto endémicas, como epidémica, sendo as mais
comuns as endémicas. As infeções epidémicas ocorrem durante surtos, definidos como um
aumento inusual, acima da média, de uma infeção específica ou de um microrganismo infetante.

Alterações na administração de cuidados de saúde têm levado a internamentos mais curtos


e a aumento da prestação de cuidados no ambulatório. Foi sugerido que o termo infeção
nosocomial deveria abranger as infeções que ocorrem em doentes tratados em qualquer
instituição de saúde. Infeções adquiridas pelo pessoal do hospital ou de outra instituição de

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35
saúde, ou pelas visitas, também podem ser consideradas infeções nosocomiais.

4.3. Infeção Cruzada


A infeção cruzada é um termo utilizado para referir-se à transferência de microrganismos
de uma pessoa (ou objeto) para outra pessoa, resultando necessariamente em uma infeção.

A transmissão cruzada de infeções pode ocorrer principalmente pelas mãos da equipa ou


por artigos recentemente contaminados pelo paciente, principalmente pelo contato com sangue,
secreção ou excretas eliminados.

O meio ambiente tem importância secundária na cadeia epidemiológica destas infeções,


exceto:

• para as doenças contagiosas por via aérea, como é o caso da tuberculose, que
devem ser devidamente isoladas;

• para patógenos que sobrevivem em ambientes especiais como a Legionella é


necessário ter em atenção, por exemplo, ar condicionado ou reservatórios de água
quente;

• nas reformas feitas sem a devida proteção da área, permitem a disseminação


ambiental de fungos como a Aspergillus;

• e finalmente para casos em que os preceitos básicos de higiene não são seguidos.

Mais raramente ainda, a presença de um profissional disseminador de um microrganismo


ou a utilização de um medicamento contaminado podem levar a um surto de infeção.

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Módulo 5- Exposição a risco biológico

5.1. Conceito de agente biológico


Entende-se por agentes biológicos, os que resultam da ação de agentes animados como
vírus, bacilos, fungos e bactérias, ou microrganismos (bactérias, vírus, fungos), incluindo os
geneticamente modificados, as culturas de células e os endoparasitas humanos e outros
suscetíveis de provocar infeções, alergias ou intoxicações.

O risco ocupacional associado aos agentes biológicos é conhecido desde a década de 1940 e
pode atingir não só os profissionais de saúde, como outros profissionais e ainda todos os
visitantes das unidades de saúde e familiares que coabitam no domicílio dos doentes.

Numa unidade hospitalar, a exposição a agentes biológicos, em particular a microrganismos,


coloca-se com particular incidência nos profissionais de saúde.

As potenciais e principais fontes deste risco são o contacto pessoal com os doentes e o
manuseamento de produtos biológicos: sangue e seus componentes, fezes, exsudados, secreções
e vómitos, bem como os materiais contaminados por estes.

Em ambiente hospitalar, os principais agentes infeciosos com os quais os profissionais de


podem contactar são o vírus da hepatite (A, B e C), o vírus Epstein-Barr, o vírus da
imunodeficiência humana (VIH), o citomegalovírus, espiroquetas e parasitas.

As formas de transmissão a nível hospitalar são idênticas às formas de transmissão de outras


infeções. Assim a exposição a agentes biológicos pode acontecer por várias formas,
nomeadamente, transmissão aérea, contacto cutâneo, contacto fecal-oral, contacto com sangue
ou outros fluidos orgânicos e por via percutânea.

5.2. Prevenção na exposição ao risco biológico


No intuito da prevenção, considerar se as medidas existentes proporcionam uma proteção
adequada e o que poderá ser feito para reduzir os riscos. É possível reduzir a totalidade dos riscos
através do recurso a um agente ou processo diferente?

Se não for possível evitar a exposição, esta deverá ser reduzida ao mínimo através da
limitação do número de trabalhadores expostos e da duração da exposição. As medidas de
controlo deverão ser adaptadas ao processo de trabalho e os trabalhadores deverão estar bem
informados no sentido de cumprirem as práticas seguras de trabalho.

As medidas necessárias à eliminação ou redução dos riscos para os trabalhadores

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37
dependerão de cada risco biológico, existindo, no entanto, um número de ações comuns
possíveis de executar:

• Muitos agentes biológicos são transmitidos através do ar, como é o caso das bactérias
exaladas ou das toxinas de grãos bolorentos. Evitar a formação de aerossóis e de poeiras,
mesmo durante as atividades de limpeza ou manutenção.

• Uma boa higiene doméstica, procedimentos de trabalho higiénicos e a utilização de


sinais de aviso pertinentes são elementos-chave da criação de condições de trabalho
seguras e saudáveis.

• Muitos microrganismos desenvolveram mecanismos de sobrevivência ou resistência ao


calor, à desidratação ou à radiação através, por exemplo, da produção de esporos.

• Adotar medidas de descontaminação de resíduos, equipamento e vestuário, bem como


medidas de higiene adequadas dirigidas aos trabalhadores. Dar instruções sobre a
eliminação com segurança de resíduos, procedimentos de emergência e primeiros
socorros.

Em alguns casos, entre as medidas de prevenção conta-se a vacinação, colocada à disposição


dos trabalhadores.

Outras medidas a considerar incluem:

• Fornecimento de equipamento médico mais seguro, como seringas com agulhas


retrácteis;

• Controlo reforçado dos resíduos médicos;

• Melhoria das condições de trabalho, nomeadamente da iluminação;

• Melhoria da organização do trabalho – por exemplo, mediante a redução da fadiga


(associada, nomeadamente, a turnos longos), que pode prejudicar os trabalhadores –, e
da supervisão destinada a garantir o respeito dos métodos de trabalho;

• Equipamento de proteção individual;

• Imunização contra o vírus da hepatite B;

• Métodos de trabalho seguros (não recolocar as tampas bainha nas agulhas);

• Eliminação segura de objetos cortantes e de outros resíduos clínicos;

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38
• Formação e informação.

5.3. Tuberculose
Desde o início do século XXI que se tem evidenciado a transmissão hospitalar da tuberculose,
o risco de infeção pela mesma e a existência da doença cativa nos profissionais da área da saúde.
Sendo a tuberculose uma doença infectocontagiosa de fácil transmissão (a inoculação do bacilo
faz-se por via aérea), a adoção de programas de avaliação e seguimento dos trabalhadores não se
tem efetivado, sobretudo nos países de alta prevalência, nos quais o risco comunitário é elevado.

O risco de infeção pela bactéria Mycobacterium tuberculosis (tuberculose) entre os


profissionais de saúde está relacionado com os seguintes fatores: prevalência da doença, perfil
dos casos atendidos, área de trabalho, grupo ocupacional, tempo de trabalho na área da saúde e
medidas de controlo adotadas pela instituição.

É nos grandes centros urbanos como Lisboa, Porto e Setúbal que se verifica a maior
concentração de casos, espelho de uma realidade recente: a associação da tuberculose à infeção
pelo VIH/SIDA, para além dos imigrantes, os sem-abrigo e os consumidores de drogas injetáveis,
cuja estatística demonstra também terem risco acrescido.

Assiste-se, por outro lado, a uma prevalência crescente da tuberculose multirresistente, em


consequência da resistência das bactérias aos antibióticos, essencialmente devido ao abandono
do tratamento quando os sintomas da doença diminuem ou desaparecem.

5.4. Hepatite A, B e C
Hepatite designa qualquer degeneração do fígado por causas diversas, sendo as mais
frequentes as infeções pelos vírus tipo A, B e C e o abuso do consumo de álcool ou outras
substâncias tóxicas (como alguns remédios). Enquanto os vírus atacam o fígado quando
parasitam as suas células para a sua reprodução, a cirrose dos alcoólatras é causada pela ingestão
frequente de bebidas alcoólicas - uma vez no organismo, o álcool é transformado em ácidos
nocivos às células hepáticas, levando à hepatite.

Hepatite A: A hepatite A é transmitida por água e alimentos contaminados ou de uma


pessoa para outra. A hepatite A fica incubada entre 10 e 50 dias e normalmente não causa
sintomas, porém quando presentes, os mais comuns são febre, pele e olhos amarelados, náusea
e vômitos, mal-estar, desconforto abdominal, falta de apetite, urina com cor de coca-cola e fezes
esbranquiçadas. A deteção da hepatite A faz-se por exame de sangue e não há tratamento
específico, esperando-se que o paciente reaja sozinho contra a Hepatite A. Apesar de existir
vacina contra o vírus da hepatite A (HAV), a melhor maneira de evitá-la dá-se pelo saneamento

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básico, tratamento adequado da água, alimentos bem cozidos e pelo ato de lavar sempre as
mãos antes das refeições.

Hepatite B e Hepatite C: os vírus da hepatite tipo B (HBV) e tipo C (HCV) são


transmitidos sobretudo por meio do sangue. Usuários de drogas injetáveis e pacientes
submetidos a material cirúrgico contaminado e não-descartável estão entre as maiores vítimas
de hepatite, daí o cuidado que se deve ter nas transfusões sanguíneas, no dentista, em sessões
de depilação ou tatuagem. O vírus da hepatite B pode ser passado pelo contacto sexual,
reforçando a necessidade do uso de proteção. Frequentemente, os sinais das hepatites B e C
podem não aparecer e grande parte dos infetados só acaba por descobrir que tem a doença após
anos e muitas vezes por acaso em testes para esses vírus. Quando aparecem, os sintomas dessas
hepatites são muito similares aos da hepatite A, mas ao contrário desta, a hepatite B e a C podem
evoluir para um quadro crónico e então para uma cirrose ou até cancro no fígado.

5.5. HIV
O VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana) é o agente causador da sida. Este agente
pode ficar incubado no corpo humano por tempo indeterminado, sem que manifeste quaisquer
sintomas. Quando uma pessoa está infetada com o VIH diz-se que é seropositiva.

Uma pessoa VIH-positiva pode não ter sinais da doença, aparentando mesmo um
estado saudável durante um período de tempo que pode durar vários anos. No entanto, essa
pessoa está infetada e, porque o vírus está presente no seu organismo, pode, durante todo esse
tempo, transmiti-lo a outra pessoa.

O que é o sistema imunitário?

O sistema imunitário é uma rede complexa de várias células e moléculas. Um dos


grupos de células do sistema imunitário é constituído por glóbulos brancos e, dentro desta classe,
há um tipo de células designadas linfócitos.

Quais são as formas de transmissão do VIH?

A transmissão sexual é a principal via de transmissão da infeção VIH em todo o mundo.


As secreções sexuais de uma pessoa infetada podem, com grande probabilidade, transmitir o VIH
sempre que exista uma relação sexual com penetração – anal, vaginal ou oral – sem preservativo.
O risco associado ao sexo oral aumenta quando se verificam algumas infeções, nomeadamente
úlceras bocais, gengivas inflamadas, garganta irritada ou gengivas a sangrar após escovagem ou
utilização do fio dentário.

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Outra via de transmissão é o contacto com sangue infetado, pelo que a partilha de
seringas, agulhas, escova de dentes, lâminas de barbear e/ou material cortante com a pessoa
infetada pelo VIH constitui risco de transmissão. Os utensílios e objetos mencionados, depois de
utilizados, devem ser colocados em contentores rígidos com abertura e tampa (pode obtê-los nos
centros de saúde) ou, então, em garrafas de água ou sumo vazias, de material rígido e grosso,
que também são excelentes para este fim. Embora represente um risco menor, não devem ser
partilhados objetos cortantes onde exista sangue de uma pessoa infetada. É o caso, por exemplo,
dos piercings, instrumentos de tatuagem e de furar as orelhas e alguns utensílios de manicura.

Da mãe para o filho durante a gravidez, parto e/ou amamentação. Se a mãe estiver
infetada pode transmitir a infeção ao bebé durante a gravidez, através do seu próprio sangue, ou
durante o parto, através do sangue ou secreções vaginais. Há ainda o risco de contágio durante o
período de aleitamento. Sempre que haja alternativas à amamentação, esta deve ser evitada.

Da saúde da futura mãe dependerá a saúde da criança. Assim, é muito importante que,
antes e durante a gravidez, a mulher seja acompanhada regularmente pelo seu médico
assistente. Todas as mulheres grávidas têm direito a usufruir do Serviço Nacional de Saúde, onde
os serviços de vigilância materna são prestados gratuitamente.

Quando a mãe é seropositiva, as terapêuticas anti-retrovíricas, ministradas durante a


gravidez, permitem a redução do risco do seu bebé nascer infetado.

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Módulo 6- Potenciais alvos da infeção

6.1. O/A Técnico/a Auxiliar de Saúde como potencial hospedeiro e/ou vetor de
infeção
Durante o desenvolvimento do trabalho na área da saúde, tanto no atendimento direto ao
paciente ou nas atividades de apoio, os profissionais de saúde entram em contato com material
biológico. Como material biológico, referimo-nos a sangue, secreções e excreções tipo vómito,
urina, fezes, sémen, leite materno, escarro, saliva e outros fluidos corporais. Estes materiais
biológicos podem estar alojando microrganismos, por isso consideram-se estes fluidos de
pacientes ou os equipamentos e ambiente que estiveram em contacto com eles, como
potencialmente contaminados por germes transmissíveis de doenças. Por não se saber se os
micróbios estão ou não presentes nestes equipamentos, deve-se sempre considerá-los
contaminados. Desta forma, na rotina de trabalho deve-se sempre estar consciente da
importância de proteção ao manipular-se materiais, artigos, resíduos e ambiente sujos de sangue
e/ou secreções.

Assim, o Técnico Auxiliar de Saúde como profissional de saúde é um potencial hospedeiro


e/ou vetor de infeção: pode ser infetado ou servir de vetor para levar a infeção a outros doentes,
colegas de trabalho e até para a comunidade.

Segundo as precauções básicas todos os doentes devem ser considerados como


potencialmente infeciosos, assumir que todo o sangue e outros fluidos corporais podem estar
contaminados e assumir que todos os objetos cortantes, usados, estão contaminados.

Assim as estratégias de prevenção, baseadas nas Precauções Básicas, devem constar de:

• Higiene das mãos;

• Boas práticas nos procedimentos invasivos, como utilização de técnica asséptica;

• Limpeza, desinfeção e esterilização dos dispositivos médicos;

• Uso racional de antimicrobianos;

• Administração segura de injetáveis;

• Descontaminação dos equipamentos;

• Higiene ambiental hospitalar;

• Uso racional do equipamento de proteção individual;

• Uso correto e rejeição de cortantes e ou perfurantes;

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• Encaminhamento correto após exposição;

• Correto programa de vacinação;

• Boas práticas no transporte de espécimes;

• Precauções com doentes que estão contaminados;

• Precauções com doentes com infeções epidemiologicamente importantes;

• Isolamento e colocação dos doentes colonizados / infetados conforme a via de


transmissão;

• Higiene respiratória.

Todos os profissionais de saúde devem cumprir as normas e orientações, na sua prática, de


forma a prevenir e reduzir a incidência de infeções. Devem conhecer as precauções básicas de
prevenção e controlo de infeção a serem aplicadas em todas as situações. Da intervenção correta
dos profissionais depende a real prevenção e a segurança dos doentes.

6.2. Situações de risco potenciadoras da infeção


As regras que existem no contexto de prestação de cuidados pretendem prevenir a
transmissão de infeções e proteger os profissionais de saúde. Devem ser aplicadas a todos os
doentes atendidos nas instituições de saúde, independentemente do seu diagnóstico, situação
clínica ou idade.

Estas normas devem ser afixadas em local visível de modo a que possa ser seguida por todo
o pessoal hospitalar. Sendo elas:

A lavagem correta das mãos e/ou a sua desinfeção (consoante os procedimentos a


realizar) é a precaução fundamental.

Usar luvas quando se manipulam fluidos orgânicos (exceto suor), material


contaminado, ao tocar em mucosas ou pele não intacta e lavar as mãos após as retirar.

Usar máscara adequada ao tipo de risco durante procedimentos que possam provocar
aerossóis ou gotículas de fluidos orgânicos. Além da máscara, usar proteção ocular quando se
preveja a ocorrência de salpicos.

Usar bata ou avental para proteger a pele e a roupa sempre que se preveja a sua
contaminação com fluidos orgânicos.

Manipular a roupa suja de modo a prevenir a contaminação do pessoal que a manipula


e do ambiente.

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Proteger com pensos impermeáveis a pele do pessoal que se apresente com soluções
de continuidade.

Manipular os objetos cortantes e perfurantes de forma a prevenir acidentes:

➔ Não recapsular agulhas.

➔ As agulhas não devem ser retiradas das seringas manualmente nem ser dobradas ou
partidas.

➔ Os materiais cortantes e perfurantes usados devem ser colocados em contentores


apropriados, localizados o mais perto possível da área de utilização, devendo ser inutilizados
logo que se encontrem preenchidos até 3/4. Devem ficar afastados de locais onde circulem
crianças e indivíduos com perturbações do comportamento.

Remover os derramamentos de fluidos orgânicos o mais rapidamente possível e limpar


a superfície com água e detergente. Em caso de derramamento de sangue, deve usar-se de
preferência, grânulos de dicloroisocianurato de sódio (NaDCC), ou em alternativa, desinfetar com
hipoclorito de sódio. Ter em atenção que se houver vidros ou outros cortantes, estes terão que
ser retirados previamente com uma pinça e colocados nos recipientes para cortantes e
perfurantes. Devem usar-se luvas durante todo o procedimento e os resíduos devem ser
colocados em saco apropriado para lixo contaminado.

Colocar em quartos individuais, sempre que possível, os doentes com alterações de


comportamento que torne difícil a manutenção dos níveis mínimos de higiene.

6.3. Os Contextos de prestação de cuidados (institucionalização/comunidade) e


especificidades na área da prevenção e controlo da infeção de forma a prevenir a
transmissão da infeção (disseminação aérea, por gotícula e por contacto;
precauções com o equipamento, transporte e alojamento do utente)
Em 1996, o CDC (Center for Diseases Control and Prevention) publicou um novo guia com
três tipos de isolamento em que a forma de transmissão de doenças dependia e baseava-se
essencialmente na porta de entrada no doente, na suscetibilidade do doente e nas vias de
eliminação do agente microbiano pelo doente.

• Isolamento de contacto;

• Isolamento de partículas;

• Isolamento de gotículas.

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O sistema de vigilância epidemiológica representa desde aí, a principal forma de avaliação
das medidas de profilaxia. Embora grande parte das infeções hospitalares sejam de difícil
prevenção e controle, a vigilância dos fatores de risco é importante para a deteção e controle de
complicações clínicas.

Com o objetivo de reduzir o risco de transmissão de microrganismos em instituições de


saúde, a partir de fontes conhecidas ou não, implementaram-se precauções padrão (PP) que
devem ser aplicadas a todos os doentes. As PP incluem o uso de barreiras com o Equipamento de
Proteção Individual (EPI) e devem ser aplicadas sempre que haja contacto com:

• Sangue;

• Todos os fluídos corporais exceto o suor (não sendo necessário observar presença de
sangue macroscópico);

• Perda da continuidade da pele;

• Mucosas.

O sistema de precauções divide-se em duas etapas: a primeira etapa é o Sistema de


Precauções Padrão (SPP) e aplica-se a todos os doentes, independentemente do seu diagnóstico
ou estado analítico; a segunda etapa de precauções é para doentes com infeção conhecida ou
suspeita e são baseadas na transmissão.

São propostas três precauções baseadas na transmissão:

• Precauções contra aerossóis ou partículas;

• Precauções contra gotículas;

• Precauções contra contacto.

As precauções contra aerossóis ou partículas são previstas para reduzir o risco de exposição
e infeção pela via de transmissão aérea, por meio de micro-gotículas dispersas pelo ar. Estas
partículas são inferiores a 5 micra, provêm de gotículas desidratadas que podem permanecer em
suspensão no ar por longos períodos de tempo e podem conter o agente infecioso.

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Os microrganismos transportados desta forma podem ser disseminados para longe, pelas
correntes de ar podendo ser inalados por um hospedeiro suscetível, dentro do mesmo quarto ou
em locais situados a longa distância do doente. Por este motivo, impõe-se ventilação especial
para prevenir esta forma de transmissão. A dimensão destes agentes permite o atingimento
alveolar num indivíduo suscetível.

As precauções contra gotículas reduzem a disseminação de microrganismos maiores que 5


micra. A dimensão do agente permite alcançar as membranas mucosas do nariz, boca ou
conjuntiva de um doente suscetível. As gotículas originam-se sobretudo durante a tosse, o
espirro e em certos procedimentos que envolvam o contacto com os fluídos daí resultantes.

A transmissão de gotículas requer um contacto mais próximo, entre o indivíduo e o recetor,


visto que não permanecem suspensas no ar e geralmente depositam-se em superfícies a curta
distância. Por esse motivo não é necessário promover a circulação do ar ou ter ventilação
especial para prevenir a sua transmissão.

As precauções contra contacto representam o modo mais importante e frequente de evitar a


transmissão de infeções hospitalares e estão divididas em dois subgrupos: contacto direto e
contacto indireto.

O contacto direto envolve o contacto pele a pele e a transferência física, proveniente do


doente infetado ou colonizado por microrganismos, para um hospedeiro suscetível. Esta
transmissão pode ocorrer quando o profissional da saúde realiza procedimentos que envolvam
contacto físico com o doente, como também entre dois doentes, pelo contacto com as mãos.

O contacto indireto envolve a transmissão para um hospedeiro suscetível através de objetos


contaminados tais como instrumentos contaminados, roupas ou luvas que não são trocadas
entre os procedimentos.

As medidas fundamentais para combater o processo de transmissão de doenças em meio


hospitalar envolvem procedimentos padrão e materiais específicos para cada tipo de isolamento.
Na Tabela poder-se-á observar a relação entre os tipos de isolamento, a utilização de
equipamento de proteção individual (EPI) e o espaço físico a ser utilizado em cada doente.

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6.4. A prevenção das infeções associadas às unidades/ serviços específicos e
recomendações associadas
6.4.1. Isolamento

ISOLAMENTO - Estabelecimento de barreiras físicas, de níveis variáveis de modo a limitar ou


mesmo suprimir a transmissão de agentes infeciosos:

• De um doente para outro;

• Dos doentes para os prestadores de cuidados;

• Dos prestadores de cuidados para os doentes

Até há pouco tempo o conceito de isolamento era associado a serviços ou enfermarias


especializadas e, mais tarde, a quartos individuais em serviços hospitalares não específicos.

Neste âmbito existem 2 Tipos de precauções:

– Precauções Básicas ou Padrão

– Precauções de Isolamento Baseadas na Via de Transmissão

As precauções básicas incluem a limitação do contacto do profissional de saúde com


secreções e líquidos biológicos, lesões cutâneas, membranas mucosas e sangue ou fluidos
orgânicos (sémen, secreções vaginais, líquido cefalo-raquidiano, sinovial, pleural, peritoneal,
pericárdico e amniótico) ou outros fluidos contaminados com sangue visível. Os profissionais de
saúde devem utilizar luvas, para cada contacto contaminante, e aventais ou batas, máscara e
proteção ocular, quando se prevê a contaminação da roupa ou da face.

1. As Precauções Básicas englobam:

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• Higiene das mãos - proceder à higiene das mãos logo após o contacto com material
potencialmente infecioso.

• Uso racional de barreiras protetoras, adaptadas aos procedimentos.

• Prevenção de acidentes com corto-perfurantes.

• Vacinação.

• Controlo ambiental: assegurar que todo o equipamento, materiais e roupa contaminada,


são eliminados ou descontaminados depois de cada utilização, afim de prevenir
exposição da pele, mucosas ou vestuário.

2. Precauções conforme via de transmissão:

As principais vias são:

• via aérea – a infeção geralmente ocorre através da via respiratória, em que o agente
infecioso (transportado “núcleos de gotículas”- partículas infeciosas ≤ 5 mícron) pode ser
arrastado por correntes de convecção do ar para os mais diversos locais e inalados por
um hospedeiro suscetível, mesmo que situado em local distante do doente. Como
consequência é necessário especial cuidado com a circulação do ar e ventilação para se
prevenir a transmissão aérea de microrganismo

• gotículas - em que o agente infecioso é transportado por gotículas, “grandes” (>5 mícron)
provenientes de doentes ou portadores, que são emitidas principalmente quando o
indivíduo tosse ou espirra ou fala e durante procedimentos como aspiração de secreções
ou endoscopia. A transmissão via gotículas necessita de um contacto próximo entre
fonte e hospedeiros, porque habitualmente estas não se mantêm muito tempo
suspensas no ar e geralmente só se deslocam por curtas distâncias (1 metro ou menos)
através do ar. Como as partículas não se mantém suspensas, no ar, não são necessários
cuidados especiais com a ventilação.

• contacto - (direto ou indireto) em que a infeção ocorre através do contacto direto entre a
fonte de infeção e o recetor ou indiretamente, através de objetos contaminados. A
transmissão por contacto direto envolve contacto pele a pele e transferência de
microrganismos a um hospedeiro suscetível, de uma pessoa infetada ou colonizada. Essa
situação acontece quando se muda um doente de posição, prestam cuidados de higiene,
ou outros cuidados que requerem o contacto pessoal direto. Este tipo de contacto
também pode ocorrer entre dois doentes, servindo um como fonte e outro como

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hospedeiro suscetível. O contacto indireto envolve contacto de um hospedeiro suscetível
com um objeto contaminado, que serve de intermediário, e que habitualmente se
encontra nas imediações do doente. São exemplo: instrumentos contaminados ou mãos
contaminadas que não foram higienizadas ou ainda luvas que não foram mudadas entre
doentes.

6.4.2. Unidades de utentes imunodeprimidos

Os pacientes imunocomprometidos são aqueles cujos mecanismos normais de defesa


contra infeção estão comprometidos. A maior parte dos microrganismos presentes no
ambiente não são passíveis de causar doença nos indivíduos cujas defesas contra a infeção
estão mantidas. No entanto, de forma oportunista, quaisquer microrganismos podem causar
infeção em doentes imunodeprimidos. O ar assume um papel importante na transmissão da
infeção, sobretudo porque é uma parte do ambiente que é utilizada por todos (doentes,
profissionais, visitas, etc.). Em unidades de doentes imunodeprimidos a colocação de filtros
específicos poderá ser de grande utilidade. É aconselhável a limpeza regular de ralos e
chuveiros. Há ainda a considerar as infeções atribuídas à ingestão de alimentos
contaminados e que podem ser muito graves em doentes imunocomprometidos, pelo que
exigem regras de prevenção que devem ser divulgadas e cumpridas pelos profissionais da
área de alimentação. Estas regras compreendem os cuidados com os alimentos (preparação,
confeção, empratamento e distribuição), cuidados com a higienização de estruturas de
cozinha, copas e refeitórios, cuidados com a higienização da louça e cumprimento das
Precauções pessoais e Básicas.

A lista a seguir apresenta algumas estratégias gerais de PCI que devem ser usadas para
cuidar de pacientes imunodeprressivos a fim de reduzir o seu risco de infeção:
• Certificar-se de que os pacientes receberam todas as imunizações exigidas (Vacinação).
• Obedecer às exigências de higiene das mãos.
• Seguir as diretrizes de isolamento.
• Não administrar unilateralmente a profilaxia antimicrobiana.
• Identificar pacientes com risco de desenvolvimento de pneumonia e usar as melhores
práticas para evitar que ela se desenvolva nesse grupo de alto risco.
• Evitar expor os pacientes a fontes d’água, como bebedouros, pias e galões, e máquinas
de gelo, pois elas podem agir como reservatório de patogénicos.
• Não fornecer alimentos crus, como frutas e vegetais a esses pacientes, pois podem
conter peptógenos (levam a produção da pepsina no suco gástrico- serve para acelerar
o processo de digestão, podendo provocar hipersensibilidade).

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• Proibir ou restringir flores ou plantas em áreas de alto risco ou seguir precauções
rigorosas quando manuseá-las, pois, ela contém flora microbiana.
• Usar as precauções adequadas quando da entrada de visitas. Os visitantes devem ser
avaliados para garantir que não apresentam infeção: visitantes doentes não devem
entrar nem crianças com menos de 12 anos – exceto se tiverem aprovação de um
médico. Além disso, é importante orientar os visitantes sobre seus papéis na
transmissão de infeção e os riscos que representam para os pacientes
imunocomprometidos. Eles devem receber treino sobre o uso de equipamento de
proteção individual (EPI) e lavagem das mãos.
• Não permitir a visitação de animais para pacientes com isolamento por contato.
• Limpar e desinfetar os brinquedos dos pacientes pediátricos imunocomprometidos, pois
representam risco para transmissão de infeção entre pacientes.

6.4.3. Pediatria

As infeções hospitalares em pediatria são consideradas como importantes fatores


complicadores do tratamento da criança hospitalizada, uma vez que aumentam a morbidade, a
mortalidade, o tempo de permanência hospitalar, os custos e o sofrimento para a criança e
família. Nestas unidades, como em qualquer local do hospital, existe um perigo considerável de
transmissão de infeções. Uma forma de as prevenir é os pais permanecerem apenas junto do seu
filho, não mexer nas outras crianças e lavar sempre as mãos antes e depois de mexer no próprio
filho.

Prevenção:

• Os quartos privativos devem contar com antessala para lavagem das mãos e
paramentação.

• As salas de recreação devem ser arejadas e limpas, os brinquedos e demais objetos


devem ser adequados ao uso hospitalar e devem sofrer limpeza e desinfeção rotineira.

• Qualquer brinquedo ou objeto que entrar em contato com fluidos corporais deverá ser
limpo imediatamente.

• Brinquedos utilizados em unidades de isolamento devem ser de material lavável, não


corrosivo e atóxico.

• A antissepsia correta das mãos deve ser sempre estimulada.

• Os nebulizadores devem ser de uso individual, devem ser limpos após cada nebulização.

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6.4.4. Unidades de cuidados intensivos

A Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) é uma área onde se prestam cuidados a doentes
com estado de saúde crítico ou que apresentem potencial risco, necessitando de uma vigilância
contínua e intensiva. A UCI é um serviço polivalente que recebe doentes das várias
especialidades. A situação de doença torna as pessoas mais suscetíveis a contrair infeções. E por
isso durante a assistência ao paciente, os profissionais podem contribuir para redução dos índices
de infeção através da adoção de tais precauções. Sendo elas o uso dos equipamentos de
proteção individual (EPIs) e a higienização das mãos.

Considerações Importantes:

- Número reduzido de visitas

- Caso a Assistente Administrativa não se encontre no balcão, os familiares devem tocar à


campainha e falar pelo intercomunicador.

- É fundamental a lavagem das mãos à entrada e saída (visitas).

- Durante o período de visita os familiares devem manter- se apenas no espaço onde se encontra
a cama do familiar/amigo.

6.4.5. Blocos operatórios

Os fatores associados ao risco de infeção podem ser intrínsecos ou extrínsecos. Dos


intrínsecos, destacam-se a idade do doente e as suas condições clínicas, como o seu estado de
nutrição, as suas defesas imunitárias e a existência de patologias associadas. Os fatores
extrínsecos incluem o tempo de internamento, a invasão mecânica para manobras anestésicas, o
processamento de materiais, a preparação da pele e mucosas, a técnica de lavagem asséptica das
mãos, as condições ambientais da sala de operações, a duração da cirurgia, a técnica e habilidade
do cirurgião, a localização da ferida, a colocação de implantes e o número de pessoas na sala.

O número de pessoas presentes na sala tem implicação direta no risco de infeção, uma vez
que, estas constituem a maior fonte de contaminação no BO, quer a equipa cirúrgica, quer o
próprio doente. A pele, as mucosas e os órgãos ocos do doente são reconhecidos como
constituindo uma das principais fontes de microrganismos e, de acordo com a exposição à flora
do doente e consequente aumento do risco.

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Assim, as infeções exógenas são evitáveis, uma vez que têm como origem a implantação de
microrganismos do exterior através, por exemplo, das mãos dos profissionais ou do material e
equipamento contaminado. As mãos contaminadas dos profissionais de saúde são, de facto, o
veículo mais comum na transmissão. Por outro lado, também, o ar condicionado pode ser fonte
de contaminação por desenvolvimento de microrganismos patogénicos, devida a falhas na
manutenção, como limpeza das grelhas e condutas, substituição dos filtros e exames ambientais,
como medição das partículas em suspensão e vigilância microbiológica.

6.4.6. Salas de parto

O parto deve ser realizado com as medidas de segurança com as normas previstas que
incluem rotinas técnicas de limpeza, desinfeção e esterilização, quando aplicável, das superfícies,
instalações, equipamentos e produtos para a saúde. Deve ser realizado com medidas de assepsia
adequadas.

Prevenção Geral:

• Higiene das mãos

• Antissépticos adequados

• Cuidado com procedimentos invasivos

• Cuidados em situações específicas

• Cuidados ambientais

• Antibioterapia racional

• Controle de bactérias multirresistentes

• Adequação de estrutura física

• Adequação de materiais e equipamentos

• Adequação de recursos humanos

6.4.7. Laboratórios

Só é autorizada a entrada no laboratório a pessoal devidamente autorizado.

Sempre que possível, devem ser utilizadas luvas adequadas na manipulação de materiais
que apresentem risco biológico. Contudo, isso não substitui a necessidade da lavagem regular e
correta das mãos por parte dos profissionais do laboratório. As mãos devem ser lavadas após a

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manipulação de materiais de risco biológico e animais, após a utilização dos sanitários, antes de
sair do laboratório.

Os dispositivos contaminados, tais como frascos, tubos de vidro, etc. não devem sair do
laboratório sem antes serem descontaminados mediante a utilização de métodos que provem ser
efetivos.

É obrigatório o uso de vestuário de proteção, luvas e sapatos impermeáveis. As roupas


normais não podem ser usadas por baixo da roupa do laboratório. Estas devem ser vestidas à
saída, após ser tomado um duche. Todas as manipulações que envolvam exposição potencial da
pele e mucosas devem ser convenientemente protegidas mediante, como já referido, o uso de
luvas, óculos de proteção ou viseiras, ou máscaras.

6.4.8. Consultas

A higiene das mãos em serviços de saúde deve ocorrer em cinco momentos:

Sendo também importante que as Unidades de Saúde possuam princípios gerais da


higienização do ambiente e materiais, acondicionamento destes equipamentos e os aspetos
específicos dos protocolos de limpeza consoante as áreas, a fim de prevenirem infeções.

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6.4.9. Outras

Cada Instituição/Unidade (Órgão de Gestão) é responsável por fornecer equipamentos de


proteção individual em qualidade e quantidade suficientes aos procedimentos. É
responsabilidade de cada profissional de saúde selecionar as barreiras protetoras mais
apropriadas em função do contacto previsto.

Para quebrar a cadeia de transmissão da infeção é necessário:

Adequar as barreiras protetoras aos procedimentos;

Cumprir as regras de colocação e remoção das mesmas (retirá-las imediatamente após


os procedimentos e junto do doente; não passar com as barreiras de proteção de um doente
para outro e entre procedimentos assépticos/limpos e sujos, no mesmo doente);

Formar e treinar profissionais e educar os doentes e visitas para a seleção das barreiras,
sua colocação e remoção, a qual é fundamental do ponto de vista da prevenção e controlo da
transmissão cruzada da infeção.

LUVAS

As luvas devem ser usadas para procedimentos invasivos, contacto com locais estéreis, pele
não intacta, membranas mucosas e durante todas as atividades em que haja risco de exposição a
sangue, fluidos orgânicos, secreções e excreções. As luvas estéreis devem ser usadas em
procedimentos que envolvam assepsia (técnicas assépticas) e as não estéreis para procedimentos
em que apenas se pretende proteção dos profissionais. Devem existir luvas de nitrilo ou outro
material similar para contacto com químicos. Para as limpezas devem ser usadas luvas de
borracha.

As luvas disponíveis em todas as áreas clínicas devem obedecer às normas da Comunidade


Europeia.

Devem existir alternativas às luvas de látex para os profissionais com sensibilidade a este; o
Serviço de Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho devem criar condições para que os
profissionais de saúde possam ser avaliados em termos da alergenicidade e as unidades de saúde
possam adquirir luvas específicas.

Usar luvas (limpas, não esterilizadas) quando se manipula sangue, fluidos corporais,
excreções, secreções ou qualquer objeto contaminado; devem ser colocadas luvas
imediatamente antes de tocar em membranas mucosas ou em pele não intacta.

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As luvas devem ser mudadas entre procedimentos no mesmo doente após contacto com
material que possa conter alta concentração de microrganismos.

As luvas devem ser removidas imediatamente após a sua utilização (antes de tocar em
outros doentes, objetos ou superfícies) – quebrar a cadeia de transmissão).

MÁSCARAS E PROTEÇÃO DOS OLHOS E FACE

• Está indicada em procedimentos com a capacidade potencial de produção de salpicos ou


de “aerossóis”, de secreções ou excreções, sangue, outros fluidos corporais.

• As máscaras devem ser selecionadas de acordo com as patologias e o tipo de eficácia de


filtragem necessária de acordo com as mesmas patologias (gotículas, partículas).

BATA

Tem por objetivo proteger os profissionais e doentes, minimizando a contaminação do


fardamento, do vestuário ou da pele.

A bata deve ser limpa, não esterilizada para proteção da pele e para impedir a conspurcação
de roupa e pele durante procedimentos com capacidade potencial de produção de salpicos ou de
aerossóis de sangue, de fluidos corporais, de secreções ou de excreções.

A bata deverá ser removida tão prontamente quanto possível, efetuando-se logo a seguir a
higienização das mãos.

AVENTAL DE PLÁSTICO

Tal como a bata, os aventais de plástico têm por objetivo proteger os profissionais
minimizando a contaminação do fardamento, vestuário e pele. Pode também proteger os
doentes da transmissão cruzada da infeção, na medida em que minimizam a contaminação do
fardamento e quando usados corretamente.

Os aventais de plástico devem ser usados quando existe risco de exposição a sangue, fluidos
orgânicos, secreções e excreções, aquando dos cuidados de higiene aos doentes ou de
procedimentos contaminantes com grande risco de projeção de salpicos e aerossóis e na
utilização de produtos químicos.

CALÇADO

O calçado deve ser:

• antiderrapante, limpo e deve apoiar e cobrir todo o pé, a fim de evitar a contaminação

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com sangue e outros fluidos orgânicos ou lesão com material cortoperfurante;

• removido antes de sair da área específica (p.ex. Bloco Operatório).

Algumas recomendações importantes devem ser seguidas pelos pacientes e seus familiares
para contribuir para a qualidade da assistência e a segurança do cuidado, seja qual for a unidade
de saúde:

• Tornar-se informado sobre a doença, fazendo perguntas relacionadas ao tratamento;

• Envolver um membro da família para estar acompanhando o tratamento;

• Higienizar as mãos sempre que necessário;

• Comunicar à equipe de saúde qualquer alteração relacionada ao cateter ou curativo;

• Solicitar a familiares e amigos a não visitarem caso estejam doentes;

• Evitar tocar olhos, nariz e boca;

• Cobrir nariz e boca com papel descartável quando tossir ou espirrar, desprezando após o
uso;

• Se for fumante, tentar suspender o fumo;

• Vacinar-se.

Resumindo,
Precauções padrão ou de rotina estas caracterizam-se por:

I. Lavar as mãos imediatamente após o contato com material infecioso;

II. Utilizar a técnica “no touch” (sem tocar diretamente) sempre que possível;

III. Usar luvas aquando da manipulação de fluidos corporais e materiais contaminados;

IV. Lavar as mãos ou antissepsia após remoção das luvas;

V. Manusear com cuidado todos os materiais cortantes, assim como a roupa e lixo contaminado;

VI. Certificar que todos os equipamentos, materiais ou roupa que entraram em contacto com o
paciente são descartados, desinfetados ou esterilizados após cada utilização;

VII. Adotar um alto padrão de limpeza;

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VIII. Assegurar que o circuito dos resíduos se faz em segurança.

• Etiqueta respiratória

A etiqueta respiratória é composta por um conjunto de medidas individuais a cumprir por


doentes, visitantes, profissionais de saúde, voluntários e comunidade em geral, destinadas a
conter as secreções respiratórias, de forma a minimizar a transmissão de agentes infeciosos por
via aérea ou através de gotículas:

a. cobrir a boca e o nariz ao espirrar ou tossir;

b. utilizar um toalhete de uso único para conter as secreções respiratórias, o qual deve ser
prontamente eliminado num contentor de resíduos próximo do doente;

c. em alternativa poderá tossir ou espirrar para o braço/manga evitando a dispersão de


partículas, e a consequente contaminação das mãos;

d. higienizar as mãos após contacto com secreções respiratórias; e. evitar tocar nas mucosas
dos olhos, boca ou nariz. Os profissionais de saúde promovem a aplicação de medidas de
etiqueta respiratória junto de todos os utentes, e de todas as pessoas que entram na unidade de
saúde. Devem ainda, ajudar os que necessitam de apoio (ex. idosos, crianças) no seu
cumprimento, fornecendo toalhetes, recipientes para os conter, SABA ou acesso a lavatório. Nos
períodos de maior prevalência de infeções respiratórias na comunidade (sazonalidade), os
profissionais de saúde devem oferecer máscara cirúrgica aos indivíduos sintomáticos que acedam
à unidade de saúde.

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Módulo 7- A prevenção das infeções associadas à prestação de
cuidados específicos e recomendações associadas

7.1. O utente submetido a intervenção invasiva


Os fatores que influenciam a frequência de infeções da ferida cirúrgica são, entre outros:

• A técnica cirúrgica;

• A extensão da contaminação endógena da ferida na altura da cirurgia (p. ex., limpa,


limpa-contaminada);

• Duração da cirurgia;

• Condição de base do doente;

• Ambiente do bloco operatório;

• Microrganismos libertados pela equipa a trabalhar no bloco operatório.

Um programa sistemático para a prevenção das infeções da ferida cirúrgica inclui a prática
da técnica cirúrgica ótima, um ambiente do bloco operatório limpo, com restrição à entrada de
profissionais e vestuário adequado, equipamento estéril, preparação pré-operatória adequada do
doente, utilização apropriada de profilaxia antibiótica pré-operatória e um programa de VE
(vigilância epidemiológica) das feridas cirúrgicas.

A taxa de infeção da ferida cirúrgica pode ser reduzida com um programa de VE padronizado,
com informação de retorno individualizado por cirurgião.

Devem-se minimizar as bactérias presentes no ar e manter as superfícies limpas. Um


programa recomendado para a limpeza e a desinfeção do bloco operatório consiste em:

• Todas as manhãs antes de qualquer operação: limpar todas as superfícies


horizontais;

• Entre procedimentos: limpar e desinfetar as superfícies horizontais e todos os


artigos cirúrgicos (p. ex., mesas, baldes);

• No fim do dia de trabalho: limpeza completa do bloco operatório, usando o produto


recomendado pela CCI;

• Uma vez por semana: limpeza completa da área do bloco operatório, incluindo

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anexos tais como vestiários, salas de técnicas, armários.

Todos os instrumentos usados dentro do campo estéril devem ser estéreis. O doente e
qualquer equipamento que entre na área estéril devem ser cobertos com panos estéreis; estes
devem ser manuseados o menos possível. Uma vez colocado o pano estéril na sua posição, este
não devem ser movidos, já que isso pode comprometer a sua esterilidade.

Para cirurgias de alto-risco selecionadas (p. ex., procedimentos ortopédicos com implantes,
transplantes) podem-se considerar medidas mais específicas para a ventilação no bloco
operatório.

No caso de cirurgias eletivas (sem caráter de emergência), qualquer infeção existente deve
ser identificada e tratada antes da intervenção. A estadia pré-operatória deve ser minimizada.
Nos doentes desnutridos deve ser melhorado o estado de nutrição antes da cirurgia eletiva.

Os doentes devem ser lavados (banho de imersão ou duche) na noite anterior à intervenção,
utilizando um sabão antimicrobiano. Se for necessária a tricotomia, esta deve ser feita por corte
(tesoura ou máquina) ou com creme depilatório, e não com lâmina.

Antes de ir para o Bloco operatório e após o banho, a roupa da cama deve ser mudada (se
for dado banho antes da cirurgia, deve ser com pelo menos duas horas antes da mesma).

O local onde se vai fazer a incisão deve ser lavado com água e sabão e depois deve ser
aplicado um antisséptico para a pele, do centro para a periferia. A área preparada deve ser
suficientemente ampla para englobar a incisão na sua totalidade e suficiente pele adjacente para
que o cirurgião possa trabalhar sem tocar na pele não preparada.

O doente deve ser coberto com panos estéreis; só devem estar descobertos o campo
operatório e as áreas necessárias para a administração e manutenção da anestesia.

7.2. O transporte de utentes


Regras a considerar:

• Os doentes só devem sair da área/quarto de isolamento, em caso de absoluta


necessidade;

• Sempre que sair do quarto o doente deve usar máscara cirúrgica e pijama lavado. A
roupa da cama deve ser mudada a fim de reduzir a possibilidade de contaminação;

• A saída dos doentes deve ser programada de forma a reduzir ao mínimo os períodos de
espera, por exemplo, a marcação de exames para o final da lista, deslocando-se o doente

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diretamente para o exame sem permanecer na sala de espera. Para o efeito, o serviço de
destino deve ser informado de que o doente vai a caminho;

• Se o doente for transferido de hospital ou de serviço, é importante que os profissionais


que o vão receber sejam avisados previamente e que seja enviada informação escrita
(carta de alta/transferência) do serviço donde o doente provém;

• Se o doente se deslocar de ambulância ou outro carro de transporte, os funcionários


deverão ser informados e instruídos acerca das medidas de proteção/prevenção (uso de
barreiras protetoras, limpeza/desinfeção das superfícies e cuidados com o material e
equipamento);

• Equipamento e superfícies com os quais o doente contacta durante o transporte


(marquesa, cadeira, outro equipamento) devem ser lavados com água e detergente,
seguido de desinfeção por fricção com álcool a 70º. Entre doentes e em situações de
urgência/emergência, pode ser apenas higienizado por fricção com álcool a 70º desde
que não exista matéria orgânica visível. O chão e paredes da ambulância/carro de
transporte devem ser lavados com água e detergente e desinfetados com hipoclorito de
sódio (ver características das superfícies e instruções do fornecedor).

7.3. O transporte de amostras biológicas


Todos os profissionais que manipulem e/ou transportem produtos para análise devem:

• Considerar como contaminados todos os produtos a manipular;

• Colocar os produtos colhidos em sacos fechados que serão posteriormente


introduzidos em contentores inquebráveis e estanques para o transporte em
segurança (não juntar as requisições aos recipientes de colheita dos produtos
biológicos – evitar contaminação das requisições);

• Efetuar o registo em protocolo, de todos os profissionais que manipularam produtos


de doentes com suspeita de gripe, incluindo Técnicos de Laboratório, que no final
deve ser enviado às CCI (Comissão de controlo da infeção) ou ao SSHST (Segurança,
Higiene e Saúde no Trabalho).

A coleta e transporte de amostra representam um ponto crítico devido à qualidade do


trabalho a realizar no Laboratório de Microbiologia. Está em grande parte condicionado a
natureza das amostras e da sua condição de chegada ao laboratório. Se o laboratório não recebe
uma amostra apropriada, não pode dar uma informação de utilidade clínica e em muitos casos

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pode confundir e desviar o clínico do verdadeiro agente etiológico da enfermidade. Os
elementos de todo o processo devem ser claramente expressos, incluindo:

• Local de coleta,

• Volume da amostra,

• Números de amostras,

• Qualidade do mesmo,

• Manuseamento apropriado,

• Forma de transporte etc.

É importante ressaltar que o tratamento correto de amostra é da responsabilidade de todos:


Farmacêuticos, Bioquímicos, Médicos Enfermeiros, Auxiliares, Transportadores, Rececionistas.
Todos devem contribuir para atingir o objetivo comum.

A grande maioria das espécies bacterianas são vulneráveis a demoras no seu


processamento, mudança de temperaturas, humidade, etc. Durante o transporte as bactérias de
rápido crescimento, podem crescer sobre os patogénos mais fastidiosos e de crescimento lento
ou com requerimentos especiais. Todas as amostras devem ser enviadas imediatamente ao
laboratório depois de coletadas. Deve-se instruir bioquímicos, médicos, enfermeiros e
transportadores, da importância do transporte de amostras clínicas.
Nos casos em que o transporte ou o processo demorem, estabelecem-se condições de
temperatura para alguns tipos de amostras clínicas.

7.4. Os cuidados ao corpo e transporte post-mortem


O óbito é constatado pelo médico, e logo após deve-se iniciar a preparação do corpo com as
finalidades de:
• manter o corpo limpo e identificado;
• evitar odores e saída de excreções e sangue;
• dispor o corpo em posição adequada antes da rigidez cadavérica.

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Procedimento:
• Cercar o leito com biombo;
• retirar sondas, drenos e cateteres;
• proceder à limpeza do corpo;
• fazer o tamponamento dos orifícios com algodão e auxílio de uma pinça;
• fixar queixo, pés e mãos com atadura de crepe;
• envolver o corpo no lençol;
• colocar uma etiqueta de identificação sobre o tórax e uma sobre o lençol que o envolve;
• tranferir o corpo para a maca já forrada e cobri-lo;
• encaminhar o corpo para o necrotério;
• fazer as anotações de enfermagem, descrevendo todos os procedimentos realizados
com o paciente desde o início até o término do preparo do corpo;
• entregar os pertences do paciente aos seus familiares;
• solicitar limpeza terminal do leito.

Considerações a seguir:
• Todos os procedimentos com os cadáveres devem ser executados com uso de EPI-
Equipamento de proteção individual (incluindo máscaras, luvas, bata, touca e óculos ou
viseira);
• Pode ser efetuada preparação higiénica do falecido;
• Na exposição do corpo devem ser cumpridas as Precauções Básicas (Higiene das Mãos
Uso de EPI e Higiene e controlo ambiental nas unidades de saúde);
• Os familiares se assim o desejarem podem ver o corpo. Caso o doente tenha falecido no
período de contágio, a família deve usar os EPI atrás referidos;
• Antes da transferência para a morgue (o mais cedo possível), o corpo deve ser selado
num saco específico para colocação de cadáveres;
• Na morgue, minimizar a produção de aerossóis evitando:
✓ Usar serra
✓ Procedimentos com água
✓ Salpicos ao remover tecido pulmonar.
• Devem ser criadas condições nas morgues, para a higienização das mãos dos
profissionais, após retirarem os EPI: lavatório com sabão, toalhetes, dispensador de
solução antisséptica alcoólica e contentor para recolha dos EPI e dos toalhetes de
secagem das mãos;
• No Serviço de Autópsias devem também ser cumpridas as Precauções Básicas.

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Módulo 8- Precauções básicas e o equipamento de proteção individual

8.1. Equipamento de proteção individual (qual, quando e como usar)


Entende-se por equipamento de proteção individual (EPI) todo o equipamento, bem como
qualquer complemento ou acessório, destinado a ser utilizado pelo trabalhador para se proteger
dos riscos, para a sua segurança e para a sua saúde.

O equipamento de proteção individual tem vindo a ganhar importância devido à


necessidade de garantir a segurança de doentes e profissionais, essencialmente desde os anos
oitenta, em que surgiu o conceito das precauções universais, no qual era dado ênfase ao facto de
não ser possível identificar com segurança quais os doentes que constituíam risco, pelo que se
tornava necessário avaliar o risco em função dos procedimentos e o seu potencial para exposição
a sangue e fluidos orgânicos contendo sangue.

O uso de equipamento de proteção faz parte integrante desse conceito assim como do mais
recente conceito de precauções básicas (padrão) que estabelece que determinados tipos de
cuidados devem ser adotados em qualquer doente, independentemente da sua patologia ou do
seu status infecioso.

O uso de EPI constitui-se uma das precauções padrão indicada para reduzir o risco de
transmissão de microrganismos de fontes de infeção, conhecidas ou não, devendo ser adotado
na assistência a todo e qualquer doente e/ou na manipulação de objetos contaminados ou sob
suspeita de contaminação.

A decisão de usar ou não EPI e quais os equipamentos a usar, deve ser baseada numa
avaliação de risco de transmissão de microrganismos ao doente, o risco de contaminação da
roupa, pele ou mucosas dos profissionais com o sangue, líquidos orgânicos, secreções e
excreções do doente.

Dois aspetos importantes relativos aos EPI são a seleção e os requisitos na utilização. A
seleção dos EPI deverá ter em conta os riscos a que está exposto o trabalhador, as condições em
que trabalha, a parte do corpo a proteger e as características do próprio trabalhador. Devem
ainda obedecer aos requisitos: comodidade, robustez, leveza e adaptabilidade.

Estão incluídos na categoria de EPI as luvas, máscaras, batas, aventais, óculos, viseiras,
cobertura de cabelo, calçado, entre outros.

Para que qualquer política relacionada com o uso de EPI tenha eficácia é necessário que os
respetivos equipamentos estejam disponíveis, sejam apropriados às condições de trabalho e risco

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da instituição, sejam compatíveis entre si (quando usados simultaneamente), possam ser limpos,
desinfetados, mantidos e substituídos quando necessário (quando não sejam de uso único) e
cumpram as diretivas comunitárias referentes ao seu desenho, certificação e teste.

Em síntese, os utilizadores dos EPI têm que conhecer e perceber as consequências de uma
exposição sem proteção, a necessidade de se protegerem, as razões pelas quais um equipamento
é utilizado e as vantagens que daí advêm.

Considerações Importantes:

Os EPI devem proporcionar proteção adequada aos profissionais de saúde, de acordo com o
risco associado ao procedimento a efetuar:

1. As luvas devem ser:

a. adequadas ao utilizador e ao procedimento a que se destinam;

b. usadas quando se antecipa a exposição a sangue ou outros fluidos orgânicos;

c. removidas imediatamente após o uso em cada doente e/ou após o procedimento (o seu
uso não substitui em nenhuma circunstância, a higiene das mãos);

d. substituídas, se há perfuração ou rotura;

Pode estar indicado o uso de luvas duplas nos procedimentos de maior risco de exposição a
fluidos orgânicos (p.ex. cirurgias ortopédicas, urológicas ou ginecológicas).

2. Os aventais devem ser:

a. utilizados durante procedimentos que envolvam contacto direto com o doente;

b. utilizados para proteção dos uniformes/fardas quando se considera provável a


contaminação;

c. substituídos no final do procedimento e entre doentes (p.ex.: entre os cuidados de higiene


e a realização de penso de ferida).

3. As batas de manga comprida devem ser:

a. usadas quando existe risco acrescido de salpicos de sangue ou fluidos orgânicos;

b. substituídas no final do procedimento e entre doentes.

4. A proteção ocular/ facial (óculos ou máscara com viseira) deve ser: usada quando existe

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risco de projeção de salpicos de fluidos orgânicos para a face, e, sempre durante
procedimentos geradores de aerossóis (ex entubações traqueais, endoscopias
brônquicas, sessões de balneoterapia);

Os óculos pessoais não conferem proteção ocular adequada.

5. A máscara cirúrgica deve ser:

a. usada quando há risco de salpicos de fluidos orgânicos para a mucosa respiratória;

b. bem ajustada à face (cobrindo totalmente a boca e o nariz) e adequada à finalidade;

c. removida e substituída: - no final do procedimento; - quando a integridade da máscara


estiver comprometida p.ex. acumulação de humidade ou contaminação significativa; - de
acordo com as instruções do fabricante.

6. O calçado deve ser:

a. antiderrapante, limpo e deve apoiar e cobrir todo o pé, a fim de evitar a contaminação
com sangue e outros fluidos orgânicos ou lesão com material cortoperfurante;

b. removido antes de sair da área específica (p.ex. Bloco Operatório).

7. A cobertura do cabelo deve ser:

a. bem ajustada à cabeça e cobrir todo o cabelo;

b. utilizada nas áreas protegidas (bloco operatório, zona limpa da central de esterilização
e cozinha) e durante procedimentos assépticos (p.ex. colocação de cateter vascular
central);

c. utilizada durante procedimentos potencialmente geradores de grande quantidade de


aerossóis e salpicos de fluidos orgânicos (ex. sessões de balneoterapia, partos, autópsias)

d. substituída/eliminada entre sessões ou, se estiver contaminada com fluidos


orgânicos.

8.2. Higiene das mãos (conceito, técnicas, procedimentos)


Quando se fala de precauções básicas para a proteção individual contra a transmissão
nosocomial das infeções, fala-se de adoção de boas práticas na prestação de cuidados, e a
lavagem das mãos surge habitualmente, com grande ênfase, como prática simples e de
indiscutível valor preventivo.

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Em particular, nos profissionais de saúde, as mãos constituem o principal veículo de
transmissão exógena de microrganismos, sendo que raramente estão livres dos mesmos, sejam
eles residentes ou transitórios.

A lavagem das mãos tem uma dupla função na medida em que por um lado, protege o
utente e por outro protege o profissional de saúde de adquirir microrganismos prejudiciais à sua
saúde.

Os “cinco momentos” para a higiene das mãos na prática clínica são os seguintes:

1. Antes do contacto com o doente;

2. Antes de procedimentos limpos/assépticos;

3. Após risco de exposição a fluidos orgânicos;

4. Após contacto com o doente

5. Após contacto com o ambiente envolvente do doente.

De modo a simplificar a interpretação do vasto leque de conceitos sobre higiene das mãos,
são definidos três métodos a utilizar. De acordo com os procedimentos a efetuar, assim a técnica
de higienização a utilizar:

a) Lavagem: higiene das mãos com água e sabão (comum ou com antimicrobiano).

b) Fricção antisséptica: aplicação de um antisséptico de base alcoólica para fricção das mãos (a
sua utilização não necessita de água nem de toalhetes).

c) Preparação pré-cirúrgica das mãos.

Quer seja usado água e sabão com ou sem antisséptico, quer seja usada SABA, é muito
importante cumprir os seguintes princípios:

✓ Retirar joias e adornos das mãos e antebraços antes de iniciar o dia ou turno de
trabalho, guardando-as em local seguro (por exemplo, acondicionado em alfinete
pregado por dentro do bolso da farda);

✓ Manter as unhas limpas, curtas, sem verniz. Não usar unhas artificiais na prestação
de cuidados;

✓ Aplicar corretamente o produto a usar;

✓ Friccionar as mãos respeitando a técnica, os tempos de contactos e as áreas a

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abranger de acordo com os procedimentos a efetuar;

✓ Ter atenção especial aos espaços interdigitais, polpas dos dedos, dedo polegar e
punho;

✓ Secar/deixar secar bem as mãos;

✓ Evitar recontaminar as mãos após a lavagem. Se a torneira for manual não tocar com
as mãos na torneira após a higienização, encerrando a mesma com um toalhete;

✓ Usar regularmente protetores da pele (creme dermoprotetor)

✓ Se surgirem sinais de dermatite, consultar o Médico de Saúde Ocupacional.

Técnica da lavagem das mãos (com água e sabão):

• Molhar primeiro as mãos com água, uma vez que reduz o risco de dermatites;

• Aplicar nas mãos a quantidade de produto nas mãos;

• Friccionar as mãos vigorosamente durante pelo menos 15 segundos, cobrindo toda a


superfície das mãos e dedos;

• Enxaguar as mãos com água corrente;

• Secar as mãos rigorosamente;

• Se não dispuser de torneira de comando não manual, utilizar o toalhete usado para
fechar a torneira. Evitar o uso de água quente, porque a exposição frequente à água
quente aumenta o risco de dermatites.

• Secar rigorosamente as mãos com toalhete de uso único. Toalhas de tecido de uso
múltiplo ou utilizadas por múltiplos profissionais de saúde não são recomendadas nas
unidades de prestação de cuidados de saúde.

• As várias formas de apresentação de sabão são aceitáveis (líquido, gel, espuma ou em


barra). Se o sabão em barra é utilizado, colocar o sabão em saboneteiras que permitam
drenar o excesso de água e manter o sabão seco.

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Técnica de fricção das mãos com solução antisséptica de base alcoólica:

• Aplicar o produto na palma de uma das mãos e friccionar, cobrindo toda a superfície das
mãos e dedos, até as mãos ficarem secas.

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Técnica de preparação cirúrgica das mãos

• Remover relógios de pulso, anéis e pulseiras antes de iniciar a preparação cirúrgica das
mãos;

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• Remover relógios de pulso, anéis e pulseiras antes de iniciar a preparação cirúrgica das
mãos;

• Não usar unhas artificiais;

• As cubas de lavagem devem ter um design que reduza o risco de salpicos;

• Lavar as mãos com água e sabão antes da preparação pré-cirúrgica das mãos se
estiverem visivelmente sujas. Remover a sujidade dos leitos unguiais com um estilete de
unhas sob água corrente. Manter as unhas curtas;

• Não é recomendado a utilização de escovas na preparação pré-cirúrgica das mãos;

• Utilizar antisséptico com ação residual, quer seja sabão antimicrobiano, quer solução
antisséptica de base alcoólica, antes de colocar as luvas cirúrgicas;

• Na preparação pré-cirúrgica das mãos com sabão antisséptico, friccionar as mãos e


antebraços pelo período de tempo recomendado pelo fabricante do produto,
usualmente entre 2 – 5 minutos. Longos períodos de fricção (i.é: 10 minutos) não são
necessários;

• Na preparação pré-cirúrgica das mãos com solução antisséptica de base alcoólica com
ação residual, seguir as instruções do fabricante do produto em relação ao tempo de
aplicação. Aplicar o produto sobre as mãos totalmente secas. Não combinar os produtos
(sabão antisséptico e solução antisséptica de base alcoólica) em sequência;

• Durante a preparação pré-cirúrgica das mãos com solução antisséptica de base alcoólica,
usar uma quantidade de produto suficiente de forma a manter as mãos e antebraços
molhados durante o procedimento de preparação cirúrgica das mãos;

• Após aplicar a solução antisséptica de base alcoólica como recomendado, friccionar bem
as mãos e antebraços até secarem completamente, e só então colocar luvas estéreis.

8.3. Uso adequado e seguro das barreiras protetoras


Óculos de proteção ou protetor facial

Agarre sempre a parte posterior do equipamento ou a que está sobre as orelhas para
retirá-las, não tocando na parte exterior estando esta contaminada. Coloque-as em local
apropriado para higienização ou no recipiente de lixo adequado.

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Bata

Deve cobrir integralmente o tronco, do pescoço aos joelhos, e os braços até ao pulso e apertar
atrás. Aperte atrás do pescoço e na cintura.

Importante:

✓ A parte da frente e as mangas estão contaminadas

✓ Coloque-a em local apropriado para higienização.

✓ O avental de plástico ou bata impermeável deve ser utilizado para proteção da


bata/uniforme durante procedimentos que produzam salpicos ou aerossóis de fluidos
corporais, secreções ou excreções devendo ser removidos logo que termine o contacto
contaminante para que não se originem novas contaminações.

Luvas

Utilização de luvas:

✓ Sendo uma das barreiras de proteção mais utilizadas nas instituições de saúde, as luvas
quando usadas indevidamente, podem ser um veículo importante da transmissão de
microrganismos.

Regras Básicas:

✓ Usar sempre que se prevê contacto com produtos biológicos exceto o suor, e em
contacto com pele não íntegra e mucosas.

✓ Escolher o tipo de luvas adequadas ao procedimento e ao utilizador.

✓ Lavar as mãos, antes e depois do procedimento.

Mudar de Luvas:

✓ Entre procedimentos;

✓ Entre o contacto com uma zona contaminada e uma zona limpa, no mesmo doente;

✓ Sempre que no decorrer duma técnica haja rutura das luvas com contaminação das
mãos;

✓ Sempre que no decorrer duma técnica asséptica haja contaminação das luvas.

Objetivos da utilização:

• Para proteção do doente: geralmente implica o uso de luvas esterilizadas.

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• Para proteção do pessoal: implica o uso de luvas não esterilizadas, com o objetivo de
cumprir as “Precauções Básicas”.

• Para proteção simultânea do pessoal e do doente: pode implicar o uso de luvas


esterilizadas ou não, consoante se trate, de uma técnica asséptica ou de uma técnica
limpa.

• Lave as mãos imediatamente a seguir ao tirar qualquer tipo de EPI!

8.4. Cuidados de higiene pessoal


A higiene consiste na prática do uso constante de elementos ou atos que causem benefícios
para os seres humanos. No seu sentido mais comum, podemos dizer que significa limpeza
acompanhada do asseio.

Mais amplo, compreende todos os hábitos e condutas que nos auxiliem a prevenir doenças
e a manter a saúde e o nosso bem-estar, inclusive o coletivo.

Para uma prestação adequada e segura é necessário ter em conta alguns aspetos relativos à
higiene pessoal:

• Qualquer tipo de odor será repelente para os colegas e clientes. Os banhos frequentes
são aconselhados, contudo a utilização de produtos demasiado perfumados deve ser
evitado.

• Os dentes devem ser escovados com regularidade e cuidados através de observações


médicas regulares. O mau hálito deve ser combatido com pastilhas ou sprays
refrescantes.

• Não usar adornos (anéis, brincos, relógio, pulseiras, colares, piercing, etc. – aliança).

• Comunicar situação de doença.

• Promover Saúde Oral.

• Manter pés secos.

• Evitar falar, cantar, tossir ou espirrar sobre os outros ou alimentos.

• Não utilizar utensílios que foram colocados na boca.

• Não mascar pastilhas elásticas ou fumar durante o trabalho.

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• Evitar passar as mãos no nariz, orelhas, cabeça, boca ou outra parte do corpo durante a
prestação de cuidados.

• Assoar o nariz em lenços de papel e posteriormente rejeitar e lavar as mãos.

• Não manusear dinheiro.

• Utilizar equipamento de proteção individual.

• Não enxugar suor com as mãos, panos ou uniforme (mas sim em toalha descartável).

• Evitar maquilhagem e perfumes com cor e/ou odor intenso (utilizar desodorizante sem
cheiro ou com odor suave).

• Colocar haveres pessoais e roupa civil em local adequado (cacifo, vestiário, etc.).

8.5. Vacinação
Os profissionais de saúde estão expostos a diversos agentes biológicos nas suas atividades
diárias, pelo que a proteção adquirida pela vacinação e a monitorização do estado vacinal é
essencial.

Cabe ao empregador, o coordenador sub-regional/diretor da Unidade de Saúde, assegurar,


através dos Serviços de Segurança e Saúde no Trabalho / Serviço de Saúde Ocupacional, dos
Serviços de Saúde:

• A vacinação gratuita dos trabalhadores, quando existam vacinas eficazes contra agentes
biológicos a que os trabalhadores estão ou podem estar expostos no local de trabalho;

• A informação dos trabalhadores sobre as vantagens da prevenção do risco profissional


através da vacinação incluindo as potencialidades e os eventuais inconvenientes da
mesma.

Mesmo quando se cumprem todas as medidas de proteção e de precaução universais, que


fornecem uma proteção significativa contra a transmissão de agentes infeciosos, existem
acidentes que não podem ser totalmente evitados, pelo que a vacinação dos profissionais de
saúde representa claramente um requisito essencial e indispensável para a segurança e saúde do
trabalhador.

Atualmente as vacinas contra a hepatite B, tétano/difteria e gripe são as que revestem maior
importância para os profissionais de saúde, pelo nível elevado de proteção, individual e de grupo,
que asseguram.

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73
O registo dos atos vacinais de cada profissional deverá ser efetuado em suporte informático
que será disponibilizado a todas as Equipas de Saúde Ocupacional.

8.6. Fardamento
O uniforme/farda é o espelho da instituição. Ele não apenas identifica a função do
funcionário, mas também reflete a postura e a imagem da entidade. De maneira subjetiva, o
uniforme transmite ao utente o conceito da instituição em relação à qualidade de seus serviços.

No dia-a-dia de trabalho nas Instituições, surge também a necessidade de utilização de


farda/uniforme, nomeadamente para identificar e proteger os Profissionais e também para
proteger os utentes.

Regras e cuidados a ter com o uniforme:

• Bom estado de limpeza (diária/ SOS).

• Bom estado de conservação.

• Confortável.

• Adequado à tarefa a desempenhar.

• Cores claras.

• Resistente a lavagens frequentes.

• Exclusivos para local de trabalho.

• Vestir/despir em local adequado.

• Calçado confortável, antiderrapante, resistente e fechado (com meias de preferência de


algodão).

• Apanhar primeiro o cabelo e só depois vestir o uniforme.

• Não utilizar panos ou sacos de plástico para proteção do uniforme.

• Não carregar os bolsos do uniforme de canetas, batons, cigarros, isqueiros, relógios, etc.
(apenas o essencial).

• Adaptar/trocar uniforme de acordo com a tarefa (limpeza, prestação de cuidados de


higiene, etc.).

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• Evitar vestir roupa que não pertença ao uniforme, nomeadamente por baixo do mesmo.
Se for necessário usar peças de algodão e de cor branca.

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Módulo 9- Tarefas que em relação a esta temática se encontram no
âmbito de intervenção do/a Técnico/a Auxiliar de saúde

9.1. Tarefas que, sob orientação de um Enfermeiro, tem de executar sob sua
supervisão direta
O papel da Enfermagem consiste na implementação de práticas para o controlo das infeções,
nos cuidados ao doente.

O enfermeiro é responsável por:

• Identificar infeções nosocomiais;

• Investigar o tipo de infeção e o microrganismo causal;

• Participar na formação dos profissionais;

• Fazer a VE das infeções hospitalares;

• Participar na investigação de surtos;

• Desenvolver políticas de controlo de infeção e rever, e aprovar, políticas para os


cuidados dos doentes, que sejam relevantes para o controlo de infeção;

• Assegurar o cumprimento dos regulamentos locais e nacionais;

• Fazer a ligação com a saúde pública ou outras instituições, quando apropriado;

• Fornecer consultadoria especializada a profissionais de saúde, ou a outros


programas do hospital, em assuntos relacionados com a transmissão de infeções.

• Auxiliar na recolha de amostras biológicas e transporte para o serviço adequado, de


acordo com normas e/ou procedimentos definidos

Sob a orientação do enfermeiro, cabe ao técnico auxiliar de saúde:

• Classificar as diferentes áreas do hospital segundo as necessidades de limpeza;

• Desenvolver políticas para a utilização das técnicas de limpeza adequadas: Procedimento,


frequência, produtos a utilizar, etc., para cada tipo de sala, desde a mais contaminada à
mais limpa, e assegurar o cumprimento das políticas;

• Desenvolver políticas para a recolha, transporte e eliminação dos diferentes tipos de


resíduos (p. ex., contentores, frequência);

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• Assegurar que os distribuidores de sabão líquido e de toalhetes de papel são enchidos
regularmente;

• Informar o Serviço de Instalação e Equipamentos sobre qualquer necessidade de


reparação: fendas, defeitos no equipamento sanitário ou elétrico, etc.;

• Cuidar das flores ou plantas das áreas públicas;

• Controlar as infestações (insetos, roedores);

• Fornecer formação apropriada a todos os novos funcionários e, periodicamente, a outros


profissionais, e formação específica sempre que uma nova técnica é introduzida;

• Estabelecer métodos para a limpeza e desinfeção das camas (incluindo colchões,


almofadas);

• Comunicar aos Responsáveis de Serviço, sempre que identificam a necessidade de


renovação, ou de aquisição, de mobiliário novo, incluindo camas especiais para os
doentes, para determinar a facilidade de limpeza;

• Auxiliar na transferência, posicionamento e transporte do utente, que necessita de ajuda


total ou parcial, de acordo com orientações;

• Auxiliar nos cuidados post-mortem, de acordo com orientações;

• Auxiliar o enfermeiro na prestação de cuidados ao utente que vai fazer, ou fez, uma
intervenção cirúrgica.

• Auxiliar o na recolha de amostras biológicas e transporte para o serviço adequado,


de acordo com normas e/ou procedimentos definidos.

9.2. Tarefas que, sob orientação e supervisão de um Enfermeiro de saúde, pode


executar sozinho/a
De acordo com o respetivo perfil profissional, cabem ao Técnico/a auxiliar de saúde as seguintes
tarefas específicas, dentro desta temática:

• Prevenção e controlo da infeção: princípios, medidas e recomendações.

• Aplicar as técnicas de higienização das mãos, de acordo com normas e procedimentos


definidos.

• Aplicar as técnicas de lavagem (manual e mecânica) e desinfeção aos equipamentos do

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serviço.

• Aplicar as técnicas de lavagem (manual e mecânica) e desinfeção a material hoteleiro,


material de apoio clínico e material clínico.

• Aplicar as técnicas de lavagem higienização das instalações e mobiliário da unidade do


utente/serviço.

• Aplicar as técnicas de tratamento de resíduos: receção, identificação, manipulação,


triagem, transporte e acondicionamento.

• Aplicar as técnicas de tratamento de roupa: recolha, triagem, transporte e


acondicionamento.

• Aplicar as técnicas de tratamento, lavagem (manual e mecânica) e desinfeção aos


equipamentos e materiais utilizados na lavagem e higienização das
instalações/superfícies da unidade/serviço.

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Bibliografia
AA VV. Cadernos de saúde, Número especial: Infeção associada à prática de cuidados de saúde,
Ed. Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Católica, 2010

AA VV., Orientação de Boa Prática para a Higiene das Mãos nas Unidades de Saúde: Circular
Normativa, Ed. Direcção-Geral de Saúde

AA VV., Prevenção de infeções adquiridas no hospital: um guia prático, ED. Instituto Nacional de
Saúde Dr. Ricardo Jorge, 2002

ALEIXO, Fernando, Manual de Enfermagem, Ed. Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio., EPE,
2007

ALEIXO, Fernando, Manual do Assistente Operacional, Ed. Centro Hospitalar do Barlavento


Algarvio., EPE, 2008

KEROUAC, Suzanne [et al.] – El pensamento enfermeiro. Barcelona: Masson, 1996. ISBN
84-4580365-4.

LIMA, Jorge, A utilização de equipamentos de proteção individual pelos profissionais de


Enfermagem – práticas relacionadas com o uso de luvas, Dissertação de mestrado, Universidade
do Minho, 2008

LOFF, Ana Margarida – Relações Interpessoais. Enfermagem em Foco. Lisboa: SEP. N.º 13, Ano IV
(Nov./Jan. 1994), p. 56-63.

Sites Consultados
• Ministério da saúde
http://www.min-saude.pt
• Portal da Saúde
http://www.portaldasaude.pt

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