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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DO JUIZADO

ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA XXXXXXXXXXXXXXXX


PRIORIDADE PROCESSUAL: MAIOR DE 60 ANOS
JUSTIÇA GRATUITA
XXXXXXXXXXXXXXXXX, brasileira, casada, agricultora aposentada, portadora do RG de Nº
XXXXXXXXX, CPF de Nº XXXXXXXXXXX, residente e domiciliada no XXXXXXXXXXXXXXXXXX,
por meio de sua advogada que esta subscreve, com endereço profissional constante do
instrumento procurató rio em anexo onde recebem as intimaçõ es de estilo, vem, mui
respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro nos Art. 461 § 1, e ss do CPC e art.
42, pará grafo ú nico do CDC, propor a seguinte
Açã o Declarató ria De Inexistência De Débito C/C Pedido De Tutela Antecipada E
Condenaçã o Em Danos Morais
em desfavor de BANCO XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, Sociedade Anô nima Fechada, inscrita
no CNPJ sob o Nº XXXXXXXXXXXXX, com endereço à XXXXXXXXXXXXXXX, Sã o Paulo – SP,
CEP XXXXXX, Tel.: (XX) XXXXXXXX, com base nos fatos e fundamentos a seguir expostos.
I – PREFACIALMENTE
Requer, desde já , a Demandante, a concessã o do benefício da gratuidade judiciá ria, pois nã o
possui condiçõ es de arcar com o encargo financeiro porventura gerado nesta relaçã o
processual, com base no Art. 4º da Lei 1.060/50, o que pode ser evidenciado pelo só fato de
ser beneficiá rio da previdência social, além de ser pessoa idosa que necessita de
alimentaçã o, medicaçã o e cuidados específicos.
Necessá ria, ainda, a observâ ncia da prioridade processual no presente caso, uma vez que a
AUTORA possui mais de sessenta anos, enquadrando-se no conceito de idoso, estabelecido
pela Lei 10.741/03, com a previsã o da referida garantia no Art. 71 do citado diploma legal.
II – DA SITUAÇÃ O FÁ TICA
A Autora é idosa com 77 anos de idade, beneficiá ria de aposentadoria perante a
Previdência Social – INSS.
No dia XXXXXXXXXXXXXXXX a autora dirigiu-se ao INSS do Município de sua residência em
busca de informaçõ es sobre descontos que estã o ocorrendo em sua aposentadoria. Para
sua surpresa, a Autora foi informada, por parte do agente da referida Autarquia
Previdenciá ria, de que havia 1 EMPRÉ STIMO em seu nome em decorrência do contrato que
segue:
• CONTRATO DE Nº XXXXXXXXXXX
• VALOR EMPRESTADO - R$ XXXXXXXXXXX
• QUANTIDADE DE PARCELAS – 60 PARCELAS
• PARCELAS JÁ DESCONTADAS – 23
• VALOR DA PARCELA – R$ XXXXXXX
• TOTAL PAGO AO FIM DO EMPRÉ STIMO – R$ XXXXXXXXXXX
De ver-se que a Autora foi surpreendida com a dita informaçã o, uma vez que nã o realizou o
empréstimo acima citado.
Ademais, mesmo que se considerasse a realizaçã o de contrato por parte da Requerente e da
instituiçã o bancá ria ré, este teria de ser realizado no â mbito da instituiçã o ou mesmo do
INSS, presencialmente ou por assinatura digital, para fins de autorizaçã o da consignaçã o
(Art. 1º, VI, § 7º da IN/INSS/DC 121/2005) o que nã o ocorreu, já que a Autora jamais
compareceu ao XXXXXXX nem ao INSS para que tal contrato fosse realizado.
É notó rio o fato de que a Autora nã o expediu qualquer autorizaçã o direcionada à realizaçã o
de consignaçã o em seu benefício.
Infelizmente esta é uma prá tica comum, vitimando principalmente pessoas idosas e de
pouca instruçã o como a Demandante, onde nã o há a devida fiscalizaçã o por parte de todos
os componentes do sistema de fundo da consignaçã o em benefício previdenciá rio, para a
contençã o e prevençã o de fraude ou crime. Pode ser tomado como base para estas
afirmaçõ es, o nú mero exorbitante de processos judiciais neste sentido.
Por este motivo, deixa-se consignado, desde já , o requerimento da Autora no sentido de
INTERVENÇÃ O DO MINISTÉ RIO PÚ BLICO (Art. 82 III, do CPC) na presente demanda, como
custus legis, uma vez que trata de assunto de interesse pú blico, especificamente ofensa ao
Estatuto do Idoso e a classe idosa em geral. Além disso, a prá tica corriqueira de fraude em
empréstimos bancá rios revela ofensa direta à classe consumidora, importando em
interesse pú blico fundador da intervençã o do parquet. Mesmo porque tal intervençã o se
daria no sentido de investigar e apurar a responsabilidade do Banco Réu na possível fraude
contra a AUTORA, bem como evidenciar os autores das fraudes, ou mesmo de estelionato,
se estes existirem, na forma do Art. 171 do CP.
Frente aos fatos narrados, a Requerente vem a juízo em busca de concessã o da devida
tutela jurisdicional nos moldes a seguir apresentados.
III – DOS FUNDAMENTOS DA DEMANDA
1 - INOBSERVÂ NCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS RELATIVAS À DIGNIDADE DA
PESSOA HUMANA (ART. 1º, III, DA CF), PROTEÇÃ O AO CONSUMIDOR (ART 5º, XXXII, DA
CF) E À PROTEÇÃ O DO IDOSO.
Com a complexidade cada vez maior das relaçõ es contratuais, decorrente da evoluçã o das
relaçõ es sociais e dos meios de comunicaçã o, o operador do Direito deve, cada vez mais,
empregar a extensã o dos efeitos das normas constitucionais à s relaçõ es privadas. A
constituiçã o, muito mais que um mecanismo de organizaçã o e limitaçã o do poder estatal,
tornou-se uma fonte essencial de aplicaçã o do Direito Privado, através do reconhecimento
da efetividade dos seus princípios, tidos como espécie do gênero norma, bem como da
supremacia do texto constitucional.
Os vícios apontados na “falsa” relaçã o contratual entre a Autora e a instituiçã o financeira
Ré ultrapassam o campo das normas regulamentares que se mostram patentemente
inobservadas pelo Réu. Muito mais, atingem frontalmente diversas normas constitucionais.
A primeira norma constitucional a ser apontada como objeto de ofensa por ato do Réu é a
dignidade da pessoa humana (Art. 1º, III, da CF), essencialmente no campo relacionado à
pessoa idosa que possui maior relevâ ncia.
A Autora possui como ú nica fonte de renda o benefício de aposentadoria por idade. De ver-
se que requereu tal prestaçã o junto ao INSS diante da impossibilidade de exercício de
qualquer atividade laboral, já que possui idade avançada.
Como se retira do extrato anexado a esta inicial (extrato do sistema DATAPREV - INSS), a
Autora terá debitado R$ XXXXXXXXXXXXXXX do valor do seu benefício ao findar o
pagamento do empréstimo.
De ver-se que os descontos iniciaram-se em XXXXXXXXXXXXXX e serã o efetivados durante
cinco anos, havendo a quitaçã o consignada do empréstimo somente no ano de 2019.
Nã o é difícil perceber a dificuldade para manutençã o de uma pessoa com a percepçã o do
valor referente a um salá rio mínimo, durante um mês, isto no que se refere ao Brasil.
Situaçã o agravada quando se trata de uma pessoa idosa, que necessita de mais cuidados,
maior atençã o e, muitas vezes maiores gastos.
Devemos Excelência ter bastante atençã o, pois, o valor apresentado acima pode parecer
irrisó rio aos olhos da instituiçã o financeira, mas, para uma idosa aposentada que vive só ,
necessita de medicamentos e cuidados especiais devido sua avançada idade, a quantia
subtraída de forma ilícita do seu aposento é grandiosa e causa desfalque no orçamento da
autora.
Neste diapasã o, frisa-se que a dignidade da pessoa humana, vai muito além da manutençã o
da pró pria vida ou sobrevida. Para o completo respeito a este câ none constitucional, é
necessá ria a proteçã o do fundamento da chamada “vida digna”, com a integraçã o de
diversos elementos de natureza física e moral.
Noutro aspecto, o benefício previdenciá rio possui natureza alimentar, pois se trata da ú nica
fonte de renda do beneficiá rio, sob o manto da proteçã o, inclusive, da irrepetibilidade.
Nã o é por outro motivo que as normas de regulamentaçã o e tratamento do empréstimo
consignado sã o carregadas de dispositivos protetivos da relaçã o contratual, em prol do
contratante, já que, junto ao INSS especialmente, estã o pessoas de pouca instruçã o, idade
avançada, com pouco, ou sem qualquer discernimento.
Nã o é necessá ria uma ampla exposiçã o de fundamentos para que seja verificada a ofensa à
dignidade da pessoa humana no caso em questã o, a simples aná lise dos valores
futuramente descontados do benefício da Autora, se mantida a situaçã o, já demonstra a
impossibilidade do exercício de uma “vida digna”, com a garantia do mínimo de
subsistência, com dignidade.
Neste sentido, em magnífica manifestaçã o do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
Territó rios, no que momentaneamente importa:
(...) 2. "O fornecedor de serviços responde, independentemente de existência de culpa, pela
reparaçã o dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestaçã o dos
serviços, bem como por informaçõ es insuficientes e inadequadas sobre sua fruiçã o e riscos.
o serviço é defeituoso quando nã o fornece a segurança que o consumidor dele pode
esperar, levando em consideraçã o as circunstâ ncias relevantes, entre as quais o modo do
seu fornecimento e o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam (...) 11.
Violaçã o de direito da personalidade. Dignidade da pessoa humana. Abuso de direito. Lucro
desenfreado de empresas sem devida precauçã o no ato de contratar. Dano moral fixado
atendendo aos critérios exigidos, observando-se os critérios da razoabilidade e
proporcionalidade na determinaçã o do" quantum "(cará ter pedagó gico preventivo e
educativo da indenizaçã o, sem gerar enriquecimento indevido), em valor capaz de gerar
efetiva alteraçã o de conduta com a devida atençã o pela empresa. (...)
(87485320088070007 DF 0008748-53.2008.807.0007, relator: Alfeu Machado, data de
julgamento: 01/04/2009, 3ª turma cível, data de publicaçã o: 17/04/2009, DJ-E pá g. 78)
No caso em tela, nã o resta dú vida que o contrato em discussã o ocasionou abalo emocional e
enorme preocupaçã o a Autora, pessoa idosa e, naturalmente, com saú de mais frá gil, que se
viu desamparada diante da situaçã o de descontos em seu benefício previdenciá rio.
Como se nã o bastasse a patente ofensa à dignidade da pessoa humana, há de se reconhecer
a inobservâ ncia das normas relativas à proteçã o do consumidor, especificamente o Có digo
de Defesa do Consumidor - CDC (Lei 8.078/90).
Vale ressaltar que as relaçõ es contratuais entre indivíduos e instituiçõ es financeiras
correspondem à relaçã o de consumo, matéria, inclusive, já sumulada pelo Superior
Tribunal de Justiça (sú mula 297), além de ser matéria já pacífica na jurisprudência pá tria.
Neste ponto é necessá ria a consideraçã o do Art. 14, § 1º do CDC, que consagra a
responsabilidade objetiva do fornecedor dos serviços, levados em consideraçã o alguns
fatores, ipsi literis:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde independentemente da existência de culpa, pela
reparaçã o dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestaçã o dos
serviços, bem como por informaçõ es insuficientes ou inadequadas sobre sua fruiçã o e
riscos.
§ 1º O serviço é defeituoso quando nã o fornece a segurança que o consumidor dele pode
esperar, levando-se em consideraçã o as circunstâ ncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
Nã o é difícil perceber que houve uma prestaçã o defeituosa do serviço, que nem sequer foi
requerida sua prestaçã o por parte da Autora, com falha na segurança do seu “modo de
fornecimento”, nã o sendo verificada de forma correta a possível documentaçã o referente
ao instrumento contratual, se é que ele existe.
A hipossuficiência do consumidor pode ser corroborada pela aná lise das características
pessoais e elementos sociais que integram sua personalidade.
A Autora possui baixa instruçã o e idade elevada, nã o possuindo o conhecimento necessá rio
a respeito do contrato de empréstimo consignado, sendo dever do fornecedor do serviço
informá -la a respeito da possível prestaçã o.
Ademais, antes mesmo de adentrar na aná lise das normas regulamentares específicas do
contrato de empréstimo consignado, necessá rio esclarecer que o fornecedor é proibido de
fornecer qualquer serviço sem que o consumidor o requeira, configurando uma prá tica
abusiva esta atitude (Art. 39 do CDC).
Além disso, é condiçã o indispensá vel para a efetividade do contrato, a prévia aná lise e
entendimento do consumidor a respeito de seu conteú do, sendo dever do fornecedor o
cumprimento deste preceito (Art. 46 do CDC).
Por fim, necessá rio elencar em rol algumas normas pertinentes ao tratamento do idoso na
sociedade, possuindo um cará ter diferenciado diante a sua condiçã o pessoal, presumida
pela idade.
A Lei 10.741/03 (Estatuto do Idoso) prescreve uma série de normas que permitem o
tratamento específico da pessoa idosa na sociedade, com a criaçã o de diversas garantias e
prerrogativas em status de prioridade frente aos demais cidadã os. Algumas dessas normas,
especialmente três delas (Arts. 3º, 5º e 10) nã o podem passar despercebidas neste caso
específico, já que fazem partes das diversas outras que sofreram ofensa em face da situaçã o
fá tica.
O Art. 3º do mencionado estatuto prevê a responsabilidade universal de proteçã o e
respeito ao idoso, em essência a sua dignidade, elencando diversas entidades que possuem
este dever, sem limitaçã o, englobando todo o meio social, inclusive a família, o Estado e os
demais cidadã os, esta prerrogativa é corroborada por meio do Art. 10:
Art. 3o É obrigaçã o da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Pú blico assegurar
ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivaçã o do direito à vida, à saú de, à alimentaçã o, à
educaçã o, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade,
ao respeito e à convivência familiar e comunitá ria.
Art. 10. É obrigaçã o do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o
respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos,
individuais e sociais, garantidos na Constituiçã o e nas leis.
Finalmente, o Art. 5º prevê a responsabilidade das pessoas físicas ou jurídicas por
inobservâ ncia das normas referentes prevençã o de ofensas ao Direito do Idoso, nos termos
do referido Estatuto e da Constituiçã o Federal.
Art. 5o A inobservâ ncia das normas de prevençã o importará em responsabilidade à pessoa
física ou jurídica nos termos da lei.
Como demonstrado, a atitude da empresa ré vai de encontro com todas as normas
utilizadas neste tó pico, especialmente as normas constitucionais que representam a
dignidade da pessoa humana e a proteçã o ao consumidor e ao idoso, bem como os seus
desdobramentos e regulamentaçõ es.
2 – DA OFENSA AOS DISPOSITIVOS NORMATIVOS REGULAMENTADORES DO
EMPRÉ STIMO CONSIGNADO EM FOLHA DE PAGAMENTO DE BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁ RIO. INEXISTÊ NCIA DA RELAÇÃ O CONTRATUAL (IN/INSS/DC Nº 121 - DE 1º
DE JULHO DE 2005 E IN/INSS/PRES Nº 28, DE 16 DE MAIO DE 2008).
Como se nã o bastasse, verifica-se o desrespeito à s normas específicas pertinentes ao
contrato de empréstimo consignado, nos moldes do caso apresentado.
O contrato de empréstimo consignado é, hoje, um dos instrumentos de concessã o de
crédito mais utilizado por indivíduos que percebem benefício previdenciá rio, seja pelo seu
fá cil acesso e quitaçã o, seja pelo nú mero de instituiçõ es financeiras credenciadas para o
oferecimento deste serviço.
Os idosos e rurícolas sã o os principais contratantes dentre os diversos indivíduos que
utilizam este serviço, em especial pela pró pria característica do serviço social de
previdência, que visa especialmente a inclusã o e garantia destas classes na sociedade.
A importâ ncia destas classes é acompanhada pela necessidade de maior atençã o e
fiscalizaçã o do poder pú blico no exercício da atividade financeira por parte das instituiçõ es
habilitadas para tanto.
Mesmo frente a este fator, o nú mero de fraudes e crimes cometidos no uso do contrato de
empréstimo consignado é enorme, sendo um dos principais problemas encontrados entre a
classe idosa e os rurícolas.
O beneficiá rio se tornou um alvo de indivíduos que buscam o enriquecimento ilícito através
de contrato criminoso e inexistente em nome da vítima.
A situaçã o das fraudes e crimes perpetrados contra idosos e rurícolas mostrou-se tã o
preocupante que, em 16 de maio de 2008 – Publicado no DOU em 19 de maio de 2008, o
INSS editou a INSTRUÇÃ O NORMATIVA INSS/PRES Nº 28, que “Estabelece critérios e
procedimentos operacionais relativos à consignaçã o de descontos para pagamento de
empréstimos e cartã o de crédito, contraídos nos benefícios da Previdência Social.”
Referida Instruçã o Normativa nã o permite mais que os contratos sejam firmados fora das
agências bancá rias e que as contas favorecidas nã o sejam aquelas de titularidade do
contratante, o que diminuiu, com certeza, o nú mero de “golpes” até entã o facilitados. Esta
atitude do Poder Pú blico mostra a seriedade diante do problema enfrentado.
Como foi narrado anteriormente, a Autora jamais ingressou em qualquer agência do
XXXXXXX ou correspondente deste com a finalidade de firmar o contrato de empréstimo
consignado citado nesta demanda, ou mesmo assinou qualquer documento apresentado
por funcioná rio da instituiçã o.
E assim se afirma – ingressar na instituiçã o – pelo fato de que é exigência legal para a
validade do contrato em discussã o, conforme preceitua o Art. 4º, I da IN/INSS/PRES Nº 28,
de 16 de maio de 2008:
Art. 4º A contrataçã o de operaçõ es de crédito consignado só poderá ocorrer, desde que:
I - a operaçã o financeira tenha sido realizada na pró pria instituiçã o financeira ou por meio
do correspondente bancá rio a ela vinculada, na forma da Resoluçã o Conselho Monetá rio
Nacional nº 3.110, de 31 de julho de 2003, sendo a primeira responsá vel pelos atos
praticados em seu nome;
A manifestaçã o expressa (Art. 3º, III da IN/INSS/PRES Nº 28, de 16 de maio de 2008) do
beneficiá rio é requisito essencial para a validade da consignaçã o, onde sua inobservâ ncia
produz a nulidade do contrato em questã o. Havendo a referida ofensa, acompanhada de
fraude, demonstra-se a inexistência da relaçã o contratual, uma vez que decorre de situaçã o
criminosa. Além disso, o acordo deve ser instruído “mediante contrato firmado e assinado
com apresentaçã o do documento de identidade e/ou Carteira Nacional de Habilitaçã o -
CNH, e Cadastro de Pessoa Física - CPF, junto com a autorizaçã o de consignaçã o assinada,
prevista no convênio”.
Ressalta-se ainda a impossibilidade de autorizaçã o por telefone, onde a gravaçã o de voz
funcione como prova do ato, conforme estabelece o Art. 1º, VI, § 7º da IN/INSS/DC
121/2005.
De todos os lados há inobservâ ncias das regras relativas à consignaçã o, regulamentada
pelas duas instruçõ es normativas citadas. Muito mais que inobservâ ncia a Autora foi vítima
de possível fraude, podendo, inclusive, ser caracterizada a existência de crime de
estelionato (Art. 171 do CP), nã o sendo o objeto de aná lise desta demanda.
Portanto, resta inexistente o débito alegado pela empresa ré, já que proveniente de fraude,
onde a Requerente sequer autorizou a consignaçã o nas parcelas de seu benefício, muito
menos assinou qualquer contrato de empréstimo com a empresa ré.
IV - DOS DANOS MORAIS
Com relaçã o à reparaçã o do dano, tem-se que aquele que, por açã o ou omissã o voluntá ria,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito, ficando obrigado a reparar os prejuízos
ocasionados (Art. 186 e 187 do CC).
No caso exposto, por se tratar de uma relaçã o de consumo, a reparaçã o se dará
independentemente do agente ter agido com culpa, uma vez que nosso ordenamento
jurídico adota a teoria da responsabilidade objetiva (Art. 12 do CDC).
Sendo assim, é de inteira justiça que seja reconhecido a Autora o direito bá sico (Art. 6, VI
do CDC) de ser indenizada pelos danos sofridos, em face da conduta negligente do Réu em
firmar contrato nã o assinado pela Requerente, bem como sem obediência as regras
específicas de contrataçã o estabelecidas na lei e nas INs do INSS, danos esses de natureza
moral que sã o presumidamente reconhecidos, mesmo sem a inscriçã o do Autor em
cadastro restritivo de crédito:
APELAÇÃ O CÍVEL. AÇÃ O DE INDENIZAÇÃ O POR DANOS MORAIS. EMPRÉ STIMO NÃ O
PACTUADO. DESCONTO INDEVIDO DAS PARCELAS EFETUADO DIRETAMENTE NO
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁ RIO PERCEBIDO PELA AUTORA. DÍVIDA INEXISTENTE.
NEGLIGÊ NCIA DA INSTITUIÇÃ O FINANCEIRA. DEVER DE INDENIZAR CARACTERIZADO.
DANOS MORAIS PRESUMIDOS. PLEITO DE MINORAÇÃ O DO QUANTUM ARBITRADO A
TÍTULO DE DANOS MORAIS. VALOR ADEQUADO AO GRAU DE CULPA DA APELANTE.
PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE OBSERVADOS. SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
Configura dano moral presumido, passível de indenizaçã o, a atitude negligente da
instituiçã o financeira que desconta do benefício previdenciá rio percebido pela autora,
parcela referente a empréstimo que esta nã o contratou."Comete ilícito, passível de
indenizaçã o por dano moral, estabelecimento bancá rio que desconta do benefício
previdenciá rio do autor, parcela referente a empréstimo consignado nã o contratado pelo
consumidor. Mantém-se o valor dos danos morais arbitrados, quando em consonâ ncia com
à posiçã o econô mica e social das partes, à gravidade de sua culpa e à s repercussõ es da
ofensa, desde que respeitada a essência moral do direito."(Ap. 2007.025411-6, de Lages,
rel. Monteiro Rocha, Quarta Câ mara de Direito Civil, 31/10/2008). O quantum
indenizató rio arbitrado deve traduzir-se em montante que, por um lado, sirva de lenitivo
ao dano moral sofrido, sem importar em enriquecimento sem causa do ofendido; e, por
outro lado, represente advertência ao ofensor e à sociedade de que nã o se aceita a conduta
assumida, ou a lesã o dela proveniente. (TJSP - 415765 SC 2009.041576-5, Relator: Carlos
Adilson Silva. Data de Julgamento: 08/10/2010, Quarta Câ mara de Direito Civil, Data de
Publicaçã o: Apelaçã o Cível n. 2009.041576-5, de Blumenau).
Uma vez reconhecido o dano ocasionado, cabe estipular o quantum indenizató rio que,
levando em consideraçã o o princípio da proporcionalidade e razoabilidade, e ainda todo o
abalo psicoló gico da prejudicada e a capacidade financeira de quem ocasionou o dano, deve
ser fixado como forma de compensar o prejuízo sofrido, além de punir o agente causador e
evitar novas condutas ilícitas, preconizando o cará ter educativo e reparató rio e evitando
uma medida judicial abusiva e exagerada.
Sendo assim, a autora entende ser justo, para recompensar os danos sofridos e servir de
exemplo à empresa ré na prevençã o de novas condutas ilícitas, a quantia de R$
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX.
V – DA CONCESSÃ O DA TUTELA ANTECIPADA
Notó ria a necessidade de concessã o de tutela antecipada, tendo em vista o preenchimento
de todos os seus requisitos, uma vez que é demonstrada prova inequívoca, geradora de
verossimilhança das alegaçõ es, bem como o perigo de dano grave ou de difícil reparaçã o
(Art. 294 do NCPC).
De tã o patente, a demonstraçã o do preenchimento dos requisitos nã o comporta maiores
esforços. O preenchimento do primeiro pressuposto prova inequívoca, já foi
excessivamente demonstrado no decorrer de toda esta petiçã o, ademais todo o alegado
pode ser comprovado de plano, pela via documental, sem necessidade de qualquer dilaçã o
probató ria.
Tal pressuposto se encontra evidenciado através da documentaçã o apresentada em anexo,
demonstrando as datas em que ocorreram os descontos no benefício da Autora.
Observa-se ainda, no presente caso, agressã o frontal a direitos e garantias fundamentais
assegurados pela Constituiçã o Federal, o que, por si só , já justifica o reconhecimento da
verossimilhança. Além disso, o direito da Requerente encontra respaldo na jurisprudência
consolidada pelo Superior Tribunal de Justiça e dos Tribunais de Justiça.
Já no tocante ao segundo requisito, perigo de dano grave ou de difícil reparaçã o, esse se
mostra também atendido, uma vez que, havendo os descontos em decorrência do “falso
empréstimo” junto à empresa Ré, a Requerente terá sua renda mensal diminuída, passando
por situaçã o financeira difícil, sendo necessá ria a vedaçã o de possíveis descontos.
Desse modo, na tentativa de salvaguardar sua condiçã o digna, somente a concessã o de um
provimento antecipado que vise a impedir a efetivaçã o de descontos em seu benefício pelo
Réu poderá evitar maiores percalços a autora.
VI – DA INVERSÃ O DO Ô NUS DA PROVA
Em regra, o ô nus de provar incumbe a quem alega os fatos, no entanto, como se trata de
uma relaçã o de consumo na qual o consumidor é parte vulnerá vel e hipossuficiente (art. 4º,
I do CDC), evidência corroborada pelo fato de que a Autora é pessoa idosa e de pouca
instruçã o, o encargo de provar deve ser revertido ao fornecedor por ser este a parte mais
forte na relaçã o de consumo e detentor de todos os dados técnicos atinentes aos serviços e
produtos adquiridos.
Sendo assim, com fundamento no Art. 6º, VIII do CDC, a Autora requer a inversã o do ô nus
da prova, incumbindo ao réu a demonstraçã o de todas as provas referentes ao pedido desta
peça, principalmente possíveis instrumentos de contrato de empréstimo falsamente
assinados em nome da requerente, para que seja comprovada a fraude na contrataçã o do
empréstimo junto ao Réu.
VII – REQUERIMENTOS E PEDIDOS
Ex positis, frente a todos os fatos e fundamentos expostos, requer a Autora, que se digne
Vossa Excelência a:
a) CONCEDER OS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA, uma vez que a Autora nã o possui
condiçõ es financeiras de arcar com as possíveis despesas do processo, bem como
honorá rios sucumbenciais, na forma da Lei 1.060/50;
b) CONCEDER A TUTELA ANTECIPADA, inaudita altera pars e initio litis, nos moldes do Art.
294 do NCPC, para que seja determinada a abstençã o de qualquer desconto, sob o pretexto
de pagamento de parcelas de empréstimo consignado, do benefício da Autora, junto ao
INSS, até que seja resolvida a discussã o judicial a respeito da inexistência do referido
contrato;
c) designar audiência de conciliaçã o, citando o Réu para o seu comparecimento e, nã o
havendo acordo, querendo, apresente sua defesa, sob pena de incorrer contra si os efeitos
da revelia;
d) INTIMAR o Ministério Pú blico na forma do Art. 82, III do CPC, para que funcione como
custus legis, na presente demanda, uma vez que se trata de ofensa aos direitos inerentes ao
consumidor e se oficie o parquet para que tome ciência da presente demanda e dos
diversos casos de empréstimos consignados fundados em fraude que vem ocorrendo no
Município de XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, objetivando a instauraçã o de Procedimento
Investigató rio direcionado à elucidaçã o dos fatos, processando-se e punindo-se os Autores
das fraudes;
e) DECLARE a inversã o do ô nus da prova (Art. 6º, VIII do CDC), essencialmente para a
juntada do alegado instrumento de contrato de empréstimo consignado por parte do Réu,
uma vez que a Autora nunca teve acesso a qualquer documento deste tipo, além da
comprovaçã o da veracidade da assinatura da Autora;
f) no mérito, que seja DECLARADA A INEXISTÊ NCIA DO DÉ BITO fundado em contrato de
empréstimo consignado inquinado de fraude proposta por terceiro;
g) CONDENAR O RÉ U ao pagamento de indenizaçã o a título de danos morais a Autora,
tendo em vista o grave abalo emocional e situaçã o de nervosismo causada, no valor de R$
XXXXXXXXXXXXXXXX;
g) CONDENAR O RÉ U ao ressarcimento das parcelas já descontadas EM DOBRO com os
devidos juros e atualizaçõ es conforme extratos do INSS em anexo;
h) a CONDENAÇÃ O do Demandado ao pagamento de todas as despesas processuais e de
honorá rios advocatícios na importâ ncia de 15%;
i) incluir na esperada condenaçã o do Réu, a INCIDÊ NCIA DE JUROS E CORREÇÃ O
MONETÁ RIA na forma da lei em vigor, desde sua citaçã o;
Protesta provar o alegado por todos os meios de provas admitidos em Direito, em especial
os documentos acostados a esta peça inaugural e a colheita do depoimento citado em
audiência de instruçã o e julgamento.
É o valor da causa R$ XXXXXXXXXXXXXXXXX.
Nestes Termos,
Pede e Espera Deferimento,
XXXXXXXXX, XX de XXXXXXXXX de XXXXX

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